2. Ozimpio Sousa
Ozimpio
Andar!
Corramos!
Com 25 poesias
Ozimpio Dias de Sousa é
mineiro, nascido em Monte Carmelo, Minas Gerais.
De família de gente simples
é o filho caçula de quatro
irmãos que tiveram a sorte
de serem trazidos pelos pais
para estudar na cidade.
O gosto pelas artes se manifestou na infância do poeta. Músico desde os 10 anos,
tocou nas bandas de música da sua cidade e começou a escrever muito cedo. Ganhou concursos de redação na sua região e evidenciou
ainda criança outra grande paixão, a comunicação e o jornalismo.
Ele é o criador do jornal da sua cidade, Jornal Notícia Regional, fundado no ano 2000. Hoje edita o jornal e um site homônimo.
Possui também uma revista de variedades, chamada Link, de circulação regional.
Compositor, já teve suas músicas premiadas em festivais da
canção como Festimoca e Canta Coró e tantas outras canções gravadas por artistas em vários estados brasileiros.
Formado em Letras pela FUCAMP-MG em 2009, hoje reside em
Brasília onde prepara material para um doutorado em literatura pela
UNB.
Andar! Corramos! - Ozimpio
3. “Pedras?
Com as que me atiraram vim me construindo
Com as que ainda faltam me porei de pé”
“Antídoto
Estou morrendo aos pouquinhos
E de um remédio eu preciso
Que só existe em seus lábios
E que se chama sorriso”
“Hoje é bom o quanto basta. Ainda que eu creia que o melhor
está no porvir não espero, no entanto, a alegria futura. Antes,
brindo com o bem que tenho agora. Quando o futuro melhor
chegar há de me encontrar comemorando as felicidades que eu
já tinha, ora bolas.”
Recortes da
Folha do Reino
“A diferença é que antigamente a comparação era com a
vida dos artistas e celebridades e hoje é com a dos amigos,
parentes e vizinhos na internet. A inveja é a mesma, essa não
muda.”
“Para o ano novo
Se você estiver só
Que ganhe um amor verdadeiro
Que ganhe um amor só, mas inteiro
Se este ano foi um nó
Uma uruca, um entrevero...
Que o novo seja alegria, saúde, paz, fantasia,
Festa e muito dinheiro!”
“Em Monte Carmelo, Cerrado Mineiro, Brasil, uma chuva fina
cuida de amainar o calor do verão, lava as ruas calmamente
preparando as passarelas para o desfile noturno das conterrâneas”
“Um espírito maligno se apossou da minha impressora com
o firme propósito de perpetrar em mim um infarto. Agora
determino, em nome do Windows 7, que ela seja livre de todo
vírus, todo cartucho desalinhado, todo papel embolado e que
funcione imediatamente. Sai!”
Andar! Corramos! - Ozimpio
4. “Natal em flor
Enfim, de qual valor me queixaria?
Do quê sentiria falta?
Só me furtaram o bem que eu sentia
Em nunca ter trancado a porta”
Ninguém prestava atenção
Por nada eu estava vendo
A rama deu um botão
Eu vi ele florescendo
Trouxe alma ao meu coração
O amor singelo crescendo
Fui um pouco José então
Que assistiu Jesus nascendo”
“De ano novo
Aposte no ano novo, isso não é ridículo
Ridículo seria não crer em nada
Quando a vida essencialmente é risco
Viver é aventura e aposta
Pensar é buscar lógica para isso
Nenhum profeta nos deixou resposta
Antes, encheram-nos de pergunta e abismo
Não vejo mais razão na física de Einstein
Do que nos estudos da minha avó
Para o jogo do bicho”
“Veja um homem como eu: controlado. Mulher para me ter só
com receita azul”
“Ser derrotado com a consciência tranquila dói e passa. Já a
mentira amarga sempre, até na vitória.”
“Quem cospe no cinzeiro suja o rosto”
“Epitáfio:
Quedei-me aqui inconformado
Caguei-me sempre da morte chegar
E se houver outras vidas e mundos
Estou lá buscando meios de voltar”
“Só fui saber o que é propriedade
Quando encontrei minha casa arrombada
Dou graças ao desapego que tenho
Obstante não levarem nada
Andar! Corramos! - Ozimpio
Andar! Corramos! - Ozimpio
5. Andar! Corramos! (para os manifestantes de hoje)
Poesia Misturada
- Andar! corramos!
- Para onde?
- Que importa, corramos!
- Mas quem são estes
Correndo?
- Somos nós, eu e você
Que lá vamos, olha...
- Não, não os conheço,
Por que se revoltam?
- Não sei, mas por que
A gente não se revolta?
- Não sei, deveríamos?
- Aquela multidão
Se parece comigo
E com a minha revolta
- Mas não têm líderes,
A quem seguimos?
- Não importa, seguimos
Porque estávamos dormentes
- E o perigo?
- Não importa
- E o sentido?
- Está no caminho,
Vem comigo?
- Vou sim
Andar! Corramos!
Andar! Corramos! - Ozimpio
6. Atrapalho-me com as palavras
Sei que atrapalho-me com as palavras
Sofro tanto
Trombo com elas pelos caminhos
São sombras
Diferentes como soam
Ganham tanto teor
Recebem estranho espírito
É vela, eu a velo, içar velas...
Qual o sentido?
Termos variáveis
Se escritos, ouvidos,
havido
Atrapalho-me com as palavras
Essas espaçonaves
Como as observo
Insólitas e livres
Em seu infinito
Bradam dez mil homens armados
Que os rumores de uma guerra são sentidos
E a imagem que me desconcerta a alma
Tem seu cheiro entorpecente
Ouço dez mil bombas explodindo
A dor do aço trespassando o espírito
Ora tomado de um anelo quente
Varrerão a sombra dos presságios
Que bons ou maus vão dissipar-se mesmo
Para depois condensar no vácuo
Onde estarei, vítima irrevogável
Eterno dono de um amor imenso
Ela é um pouquinho do que resta
Molécula dividida de um sonho autentico
Da magia restrita dos duendes
Da alegria oscilante das festas
Ela... é um pouquinho do que resta
A partícula que remonta o todo
Que o Demais sem ela não é nada
De um passado absoluto e remoto
Que perdido em minha alma
Martiriza
O vento utópico da eterna namorada
Somente nela concretiza
O fogo ardendo no conflito dessas várzeas
Me atinge o peito a cada segundo
Vai me ferindo sem deixar marcas
Enchendo-me dessa calma catastrófica
Se equilibrando nos abalos sísmicos
De vez em sempre eu contrato um guia
Que me leve bem longe dessa mágoa
E atravessamos planícies de deserto
Que sempre findam à porta de tua casa
Apago teu nome um milhão de vezes
Que continua escrito, cravado nessas páginas
Bem como por mágica o bom se faz sisudo
Eu permaneço grávido desse medo
E amenamente ateio fogo em tudo
As fagulhas que recaem sobre o solo
Traço por traço desenham o teu rosto
Andar! Corramos! - Ozimpio
Andar! Corramos! - Ozimpio
7. E como a fênix a emergir das cinzas
Vejo teu nome escrito ali de novo
Posso com um sopro livrar-me dessas cinzas
Força ainda me resta de sobejo
Poderia acabar com tudo isso
Mas vou sair atrás de ti
Agora mesmo
Deus menino
Olho correndo o menino
Pulando, vez outra, quer tocar o céu
Não sabe que não pode
Acredita
Entusiasmado por um pássaro
Amigo seu
- É lá que Deus mora
- É seu pai. Lhe disseram...
Embora lhe encantasse o infinito
Antes disso
Era o contrário precipício
Azul que escolheu
O pé, lhe feriu um espinho
Doeu
Mas como são os meninos
Disse um ai e sorriu
-Daqui a pouco lhe alcanço
Levantou e correu
Viu nascer um carneirinho
Viu um filhote no ninho
Viu um poço e bebeu
Viu tanta gente
De todo tipo
Mas, enfim, cresceu
Em horas penso
Que era Jesus
Esse menino meu
Os evangelhos não contam
Quando ele era menino
Mas ele nem se preocupava
Andar! Corramos! - Ozimpio
Andar! Corramos! - Ozimpio
8. Ele já conhecia
Os espinhos, a estrada
Conhecia o Pai que lhe amava
Que lhe diria um dia
- Menino. Qualquer menino é Deus
Posso pintar? Ou Índigo
Azul, azul, raso
Vai meu dedo deixando
Rastro
Branco
Dois dedos
E outros
Rastros brancos
Azulejos
Imagino amarelo
Vejo Vermelho
Faz toda tinta
O que penso
Tinta aquarela
Escorre mesmo
Nem dura
Um século
Fugaz tintura
Fumaça branca
Resoluta
Resolvemos
Resolvemos
Andar! Corramos! - Ozimpio
Andar! Corramos! - Ozimpio
9. Horário de visita
Flor do deserto
Quase ninguém ficou sabendo
Que outro dia estive internado
Fui queixar-me a um doutor
Que descobriu meu coração inchado
Flor do deserto és forte,
És triste
Flor do deserto, sublime
Flor da alma
Flor do deserto és miragem
Ou existes?
Flor do deserto
De beleza, assim, tão calma
Ri para o cirurgião e sua inocência
- Deste peito meu é analfabeto
Mas me colocou em paciência
Com suas ditaduras de médico
Descobri fugir no horário de visitas
Que não recebi visita alguma mesmo
Misturo-me, e saio em meio aos turistas
Que vêm prestigiar o mal alheio
Quando vai o horário me reinterno
Pois já estive muito por aí passeando
Das visitas minhas não fico sabendo
Ocupo este meu horário especulando
Acabei, sem querer, sendo moderno
Com esta solução que fui tramando
Sou, que sei, o único interno
Que não é visitado, pois que está visitando
Andar! Corramos! - Ozimpio
Flor do deserto, a tempo e fogo
Tu resistes
Flor do deserto. Deserto
De vida morta
És sublime, porém forte
Tu resistes
A sua forma, nesse
Vão de nada, corta
Flor do deserto, diamante
Concebido
Tal qual princesa no deserto
Solitário
Mirar-te ao longe
É milagre recebido
Peça que Deus perdeu
Do próprio relicário
Andar! Corramos! - Ozimpio
10. O dia da mãe
Foi uma mulher só que nos amou
Antes de nos conhecer - A mãe
Mãe não escolhe o filho
Filho não escolhe a mãe
É um casamento arranjado
Por Deus ou pelo acaso...
Certo que é o amor definitivo
Maior, ideal e primitivo
Quais todos os outros tentarão imitar
Ainda que não consigam
Mãe, que tem tão pouca rima
Lembro meu pai que nunca
Conheceu mãe
Mas que sempre chora neste dia
Em que todos lembram: Tive mãe.
Sei que não chora por não tê-la visto
Nem por carência ou maltrato...
Sei que lamenta de ter a certeza
Que o amor de mãe
É o amor de fato
Não há, quero crer, amor perdido
Que por mais que te amole ou arranhe
Possa provocar igual vazio
Ao que tem quem perdeu o amor de mãe
Há filhos sem pai por toda parte
Mas não há um, sequer, que não tem mãe
Mesmo que não a tenha conhecido
Mesmo que sofra e apanhe
Talvez legítimo ou adotivo
Que seja o bem que gera, cria, ou que acompanhe
Sobra sobre qualquer ser, ser um filho
Que certo tem, ter vindo de uma mãe
Penso haver amor entre outros mundos
Sendo que filhos se perdem de suas mães
E seguem pela vida procurando
Água que os proteja e que os banhe
Dizem que a mulher que procuramos
Para que nos conquiste, nos ganhe
Tem de ser a mais próxima cópia
Do ideal chamado amor de mãe
Talvez seja por isso que nunca achamos
Fruta deste sabor, quem colha ou apanhe
Andar! Corramos! - Ozimpio
Andar! Corramos! - Ozimpio
11. Coragem
Ridículo
A coragem não desafia, enfrenta
Não provoca, ouve
Não reage, pensa
Vence e recolhe-se
Perde e não se vinga
A coragem toma conselho
Com o medo
Sem explodir, não sucumbe
É humilde
É útil
É amiga
Que não parece muito ser poeta
Que ninguém respeita este tipo de gente
Que fazer poemas não desperta
Consideração verdadeiramente
Que quase todo moleque é poeta
E arrisca versos apaixonadamente
Mas perde esta inspiração com a época
Em que se descobre ridículo e reticente
E para quem a época não passa
E para quem permanece doente
E para quem continua em versos
Aos vinte, trinta, quarenta e sempre?
Não foge
Protege a justiça
Treme na batalha
E não recua
Põe a prêmio o amor
Arrisca a vida
Que tarefa dura essa
Reconheço assustadoramente
Que conservei em min a pecha
Achando-me poeta ridiculamente
Desafia a morte
Compraz-se com a lida
Nem valentes, nem covardes
Quem agiu com coragem
Quase sempre duvidou
Que a tinha
Andar! Corramos! - Ozimpio
Andar! Corramos! - Ozimpio
12. Ponderas
Eu branco
Ante o transeunte
Que te insulta
Ora tem neste imbróglio
O evangelho
Depurado no crisol
Que em verdade
Distancia-te da coragem
E do cemitério
Sabe aquelas janelas,
as paredes, os muros, as coisas
Estão todos brancos novamente
Caiei tudo de novo e me pus
na rede
É valente
O que jaz sob essa lápide
Como é comum sepultarmos
Normalmente
Gente que viveu
Como nós mesmos
Sem se vender
Flor ou semente
“A lo lejos”
Meu encanto, quais pincéis são estes
Que é você ir passando para
As flores surgirem de repente
Um que sofreu
Verdadeiramente
Outro que se perdeu
Em desespero
O da solução
O inteligente
Aquele que
Sentiu em alto relevo
O que o outro não viu
Não viu
Ou guardou em segredo
Nem precisa eu ficar pensando
Põe neles sempre um verde diferente
Fiz de propósito esperando
Que venha colori-los mesmamente
Só sei rir vendo teus cabelos
Estampando minhas roupas,
cadernos e pertences
Mais feliz de ver quando
Seus olhos ficam todos verdes
Andar! Corramos! - Ozimpio
Andar! Corramos! - Ozimpio
13. Lá vai procissão do enterro
Para o crer dos que resistem,
Alimento
É Eleutério que vai lá
Sendo
Para o querer de todos
Monumento
Pavilhão que aliviará
Por alguns dias
A dor de quem ainda vive
Vivendo
Lá vai procissão do enterro
Vai levando Eleutério
Ele mesmo
Quando nasceu não sabia
Seu lugar, sua família
Eleutério não sabia
Nada do seu enterro
Vão lhe plantar esperando
Não que renasça um dia
Mas que tua morte perpetue neles
Sua egoísta ignorância
Mas também Eleutério
Nascia ali, agora mesmo
E pra ele ainda havia
Toda dúvida
A consciência que não soube
Embora crendo
Era só Eleutério que lá ia
Nascendo
Nasceu para renascer um dia
“Não se importe Eleutério
Disso que está por aí sofrendo
Tudo é para que você,
Um dia
Mesmo desavisado, consiga
Alcançar teu implacável crescimento
Será promissória
Que liquidará
Sem medo
No paraíso que aguarda
O que restar do teu padecimento”
Levam-na agora,
sua fé
Irão sepultá-la
À tarde no cimento
Farão dela,
Andar! Corramos! - Ozimpio
Andar! Corramos! - Ozimpio
14. Calma
Mesmamente
Não faça com pressa
Não se perca
Ou, afinal, que loucura é esta?
Antes pé ante pé com firmeza
Que espatifar-se a mil nestes caminhos
Tanto que escrevi desde que lembro-me
Fui burilando as palavras que tinha
E no ter não ter do meu vocabulário
Estive encaixando outras palavras minhas
Vai com fé na trilha da incerteza
Esperar o quê? De quem?
Você nasceu de alguém
Mas sozinho
O que se apavora erra
E caminho errado
Ainda é caminho
Melhor desvenda a estrada
O que mais tropeça
Boa companhia tem mais valor
Para quem conhece a dor
De ser sozinho
Andar! Corramos! - Ozimpio
Senti-me sempre nisso envergonhado
Em comparando-me com os poetas que lia
Meus reis, ídolos, meus clássicos
Nem chamar de poemas meus versos poderia
Sabendo disso ainda escrevi poemas
Certo que não eram dignos de nada
Até perceber um dia tristemente
Que como os poemas que eu não publicava
Os versos dos reis que admirava
Eram tão desconhecidos mesmamente
Andar! Corramos! - Ozimpio
15. Hora de dormir
A última dama da ilha
É a cidade adormecida
Não sabe nada ainda
Suas ruas guardaram o silêncio
Sem saber da minha vinda
No escuro do abandono eu andei por elas
Eu vi sua face desconhecida
Fizeram esta noite para que eu dormisse
Mas não julguei tão tarde ainda
Então procurei pelos lugares abertos
Desertos abertos, com vida
Fui ter com quem, também
Não soube encontrar a avenida
Que a todos conduz, por certo
Ao sono – o ensaio da partida
A morte ao avesso
Dormir não é morte nem vida
Apenas um luxo ao corpo que descansa
Para uma cabeça que não desliga
Posso contar a história
Que bem aceitaria este título:
A última dama da ilha
Andar! Corramos! - Ozimpio
Talvez um dia seja um livro
Talvez um dia seja um filho
Sendo que é um corcel galopando
Uma tribo selvagem pilhando
Neste peito náufrago e perdido
Seria a novela de quando encontrei
A dama com vinte filhas
De como uma a uma as amei
Até duas a duas
E mais
Seria a epopeia perdida
Do homem que acorda ferido
Voando em Pégaso ancestral
Estando vinte vezes traído
E lamentando não ter tido
A última dama, a dama fatal
Andar! Corramos! - Ozimpio
16. O mais lindo alguém que pode haver
Porque é tão difícil entender
O que os olhos cansam de mostrar
O que o destino cansa de dizer
E a gente não cansa de procurar
O que sempre está tão perto de você
Sem depender de sorte ou de azar
Arranja sempre um jeito de se esconder
Da felicidade que quer
Quer te encontrar
O mais lindo alguém que pode haver
Não está no outdoor nem na TV
O mais perfeito amor que pode achar
Não está no cinema nem é pop star
Tem um amor esperando para te ter
Basta abrir seu coração e se entregar
À pessoa que te aceita como é
E ainda te quer
Que sabe te entender
E Perdoar
Andar! Corramos! - Ozimpio
Andar! Corramos! - Ozimpio