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A Cidade e as Serras 
Eça de Queirós
"O Realismo deve ser perfeitamente do seu 
tempo, tomar a sua matéria na vida 
contemporânea. Deste princípio, que é basilar, 
que é a primeira condição do Realismo, está 
longe a nossa literatura. A nossa arte é de todos 
os tempos, menos do nosso." 
"O Realismo representou, para nós, o 
restabelecimento do equilíbrio interior.
O Romance de Espaço 
Cidade X Serras 
Confinamento X Liberdade 
Tédio X Vontade 
Pessimismo X Otimismo 
É necessária a mudança de lugar para que 
haja a mudança de hábitos
O foco narrativo: 1ª pessoa – Zé Fernandes 
(deuteragonista). 
Obs: A narrativa acontece pelo filtro da 
subjetividade. 
O protagonista: Jacinto - o desejo de 
contemporaneidade. 
“Este delicioso Jacinto fizera então vinte e três 
anos, e era um soberbo moço em quem 
reaparecera a força dos velhos Jacintos rurais.”
O Perfil de Jacinto 
“Não teve sarampo e não teve lombrigas. As letras, 
a Tabuada, o Latim entraram por ele tão facilmente 
como o sol por uma vidraça.” 
“Sem coração bastante forte para conceber um 
amor forte, e contente com esta incapacidade que 
o libertava (...).” 
“(...)indiferente ao Estado e ao Governo do 
Homens, nunca lhe conhecemos outra ambição 
além de compreender bem as Ideias Gerais; (...)”
“Reparei então que o meu amigo emagrecera: e 
que o nariz se lhe afilara mais entre duas rugas 
muito fundas, como as dum comediante cansado. 
Os anéis do seu cabelo lanígero rareavam sobre a 
testa, que perdera a antiga serenidade de mármore 
bem polido. Não frisava agora o bigode, murcho, 
caído em fios pensativos. Também notei que 
corcovava.”
O Perfil de Jacinto 
"Espalhava pela mesa um olhar já farto. Nenhum 
prato, por mais engenhoso, o seduzia; (...)” 
“E sobretudo me impressionava o seu horror pela 
multidão (...)”
Zé Fernandes contracena o tempo todo com 
Jacinto > participa ativamente da transformação do 
protagonista.
O choque: NATUREZA x CIVILIZAÇÃO 
“Este Príncipe concebera a ideia de que o 
homem só é superiormente feliz quando é 
superiormente civilizado.” 
Suma Ciência X Suma Potência 
Suma Felicidade 
“Claro é portanto que nos devemos cercar da 
Civilização nas máximas proporções para gozar 
nas máximas proporções a vantagem de viver.”
Anticlericalismo 
“A religião é o desenvolvimento suntuoso de um 
instinto rudimentar, comum a todos os brutos, o 
terror. Um cão lambendo a mão do dono, de 
quem lhe vem o osso ou o chicote, já constitui 
toscamente um devoto. 
Mas o telefone! O fonógrafo! 
- Aí tens tu, o fonógrafo, Zé Fernandes, me faz 
verdadeiramente sentir a minha superioridade de 
ser pensante e me separa do bicho.
A imagem depreciativa do campo 
“Toda a intelectualidade, nos campos, se 
esteriliza, e só resta a bestialidade. Nesses 
reinos crassos do Vegetal e do animal duas 
únicas funções se mantêm vivas, a nutritiva e a 
procriadora. (...) Ao cabo duma semana rural, de 
todo o seu ser tão nobremente composto só 
restava um estômago e por baixo um falo! A 
alma? Sumida sob a besta.
A influência naturalista 
“Amei aquela criatura. Amei aquela criatura com Amor, 
com todos os Amores que estão no Amor, o Amor 
divino, o Amor humano, o Amor bestial, como Santo 
Antonino amava a Virgem, como Romeu amava Julieta, 
como um bode ama uma cabra.” 
“(...) todo ele chupado, tisnado, com maus dentes, 
sobraçando uma enorme pasta sebenta, e 
dardejando, de entre a alta gola duma peliça 
puída, como da abertura dum covil, dois olhinhos 
torvose de rapina.”
O adultério consentido 
“-Estamos separados, cada um vive como lhe 
apetece, é excelente! Mas em tudo há medida e 
forma... 
Ela tem o meu nome, não posso consentir que em 
Paris, com conhecimento de todo o Paris, seja a 
amante do trintanário. Amantes da nossa roda, vá! 
Um lacaio, não!... Se quer dormir com os criados 
que emigre para o fundo da província, para a sua 
casa de Corbelle. E lá até com os animais!...”
A visita ao 202 
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Relógio das capitais 
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A domesticação da natureza
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“Todo um aparador porém vergava sob o luxo 
redundante, quase assustador de águas - águas 
oxigenadas, águas carbonatadas, águas 
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outras ainda, em garrafas bojudas, com tratados 
terapêuticos impressos em rótulos.”
O contraponto de Zé Fernandes 
“Homem pensa ter na Cidade a base de toda a sua 
grandeza e só nela tem a fonte de toda a sua 
miséria. (...) Na Cidade findou a sua liberdade 
moral; cada manhã ela lhe impõe uma 
necessidade, e cada necessidade o arremessa 
para uma dependência; pobre e subalterno, a sua 
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rastejar, aturar; e rico e superior como um Jacinto, 
a Sociedade logo o enreda em tradições, 
preceitos, etiquetas, cerimônias, praxes, ritos, (…)
(...) Mas o que a cidade mais deteriora no homem 
é a Inteligência, (...) Nesta densa e pairante 
camada de Ideias e Fórmulas que constitui a 
atmosfera mental das Cidades, o homem que a 
respira, nela envolto, só pensa todos os 
pensamentos já pensados, só exprime todas as 
expressões já exprimidas: (...) 
E aqui tem o belo Jacinto o que é a bela Cidade!” 
Zé Fernandes: a desvalorização impiedosa dos 
valores urbanos.
A crise de Jacinto e suas consequências: 
• Leituras: Eclesiastes e Schopenhauer. 
• A indiferença à civilização e seus bens. 
• Cai no pessimismo e no tédio. 
“Foi então que o meu Príncipe começou a ler 
apaixonadamente, desde o Eclesiastes até 
Schopenhauer, todos os líricos e todos os 
teóricos do pessimismo.”
"Ele desembrulhou os pés do meu paletó, cofiou o 
bigode e, veio sem pressa, à vidraça que eu abrira, 
conhecer a sua terra. 
_ Então é Portugal, hein?… Cheira bem. 
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A sineta tilintou languidamente. E o comboio deslizou, 
com descanso, como se passeasse para seu regalo 
sobre as duas fitas de aço, assobiando e gozando a 
beleza da terra e do céu."
“- Meu filho, olha que eu não passo dum pequeno 
proprietário. Para mim não se trata de saber se a 
terra é linda, mas se a terra é boa. Olha o que diz 
a Bíblia! ““Trabalharás a Quinta com o suor do teu 
rosto! E não diz ““contemplarás a Quinta com o 
enlevo da tua imaginação!”
"Ele agora, bom sabedor das coisas da lavoura, 
percorria a quinta, em sólidas palestras agrícolas…” 
O saber teórico é substituído pelo saber 
prático
“(…) o resultado da ação do ar, da água, da comida, do 
exercício físico e, principalmente, do afastamento do 
ambiente doentio da cidade” 
Paulo Franchetti
O reducionismo à biologia 
“- Com efeito, há aqui falta de mulher, com M grande. 
Mas essas senhoras aí das casas dos arredores... 
Não sei, mas estou pensando que se devem parecer 
com legumes. Sãs, nutritivas, excelentes para a 
panela - mas, enfim, legumes.”
“Mas, à porta, que de repente se abriu, apareceu 
minha prima Joaninha, corada do passeio e do 
vivo ar, com um vestido claro um pouco aberto no 
pescoço, que fundia mais docemente, numa larga 
claridade, o esplendor branco da sua pele, e o 
louro ondeado dos seus cabelos (...)” 
“E foi assim que Jacinto, nessa tarde de 
Setembro, na Flor da Malva, viu aquela com 
quem casou em Maio, na capelinha de azulejos, 
quando o grande pé de roseira se cobrira todo de 
rosas.”
O encontro com a Natureza 
“Na Natureza nunca eu descobriria um contorno 
feio ou repetido! Nunca duas folhas de hera, que, 
na verdura ou recorte, se assemelhassem! Na 
Cidade, pelo contrário, cada casa repete 
servilmente a outra casa; todas as faces 
reproduzem a mesma indiferença ou a mesma 
inquietação; as ideias têm todas o mesmo valor, 
(...); e até o que há mais pessoal e íntimo, a 
Ilusão, é em todos idêntica (...) ... a mesmice – 
eis o horror das Cidades!
Jacinto 
morte ressurreição 
(cidade) (campo) 
A solução não está na adaptação da vida 
bucólica, mas na mudança de perspectiva sobre a 
vida.
A Literatura 
Expressar o desconforto 
As Personagens 
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desumanizado
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A tese: afirmação do valor da ciência. 
Antítese: afirmação de uma vida simples. 
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“A arte oferece-nos a única possibilidade de 
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(Eça de Queirós)

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  • 1. A Cidade e as Serras Eça de Queirós
  • 2. "O Realismo deve ser perfeitamente do seu tempo, tomar a sua matéria na vida contemporânea. Deste princípio, que é basilar, que é a primeira condição do Realismo, está longe a nossa literatura. A nossa arte é de todos os tempos, menos do nosso." "O Realismo representou, para nós, o restabelecimento do equilíbrio interior.
  • 3. O Romance de Espaço Cidade X Serras Confinamento X Liberdade Tédio X Vontade Pessimismo X Otimismo É necessária a mudança de lugar para que haja a mudança de hábitos
  • 4. O foco narrativo: 1ª pessoa – Zé Fernandes (deuteragonista). Obs: A narrativa acontece pelo filtro da subjetividade. O protagonista: Jacinto - o desejo de contemporaneidade. “Este delicioso Jacinto fizera então vinte e três anos, e era um soberbo moço em quem reaparecera a força dos velhos Jacintos rurais.”
  • 5. O Perfil de Jacinto “Não teve sarampo e não teve lombrigas. As letras, a Tabuada, o Latim entraram por ele tão facilmente como o sol por uma vidraça.” “Sem coração bastante forte para conceber um amor forte, e contente com esta incapacidade que o libertava (...).” “(...)indiferente ao Estado e ao Governo do Homens, nunca lhe conhecemos outra ambição além de compreender bem as Ideias Gerais; (...)”
  • 6. “Reparei então que o meu amigo emagrecera: e que o nariz se lhe afilara mais entre duas rugas muito fundas, como as dum comediante cansado. Os anéis do seu cabelo lanígero rareavam sobre a testa, que perdera a antiga serenidade de mármore bem polido. Não frisava agora o bigode, murcho, caído em fios pensativos. Também notei que corcovava.”
  • 7. O Perfil de Jacinto "Espalhava pela mesa um olhar já farto. Nenhum prato, por mais engenhoso, o seduzia; (...)” “E sobretudo me impressionava o seu horror pela multidão (...)”
  • 8. Zé Fernandes contracena o tempo todo com Jacinto > participa ativamente da transformação do protagonista.
  • 9. O choque: NATUREZA x CIVILIZAÇÃO “Este Príncipe concebera a ideia de que o homem só é superiormente feliz quando é superiormente civilizado.” Suma Ciência X Suma Potência Suma Felicidade “Claro é portanto que nos devemos cercar da Civilização nas máximas proporções para gozar nas máximas proporções a vantagem de viver.”
  • 10. Anticlericalismo “A religião é o desenvolvimento suntuoso de um instinto rudimentar, comum a todos os brutos, o terror. Um cão lambendo a mão do dono, de quem lhe vem o osso ou o chicote, já constitui toscamente um devoto. Mas o telefone! O fonógrafo! - Aí tens tu, o fonógrafo, Zé Fernandes, me faz verdadeiramente sentir a minha superioridade de ser pensante e me separa do bicho.
  • 11. A imagem depreciativa do campo “Toda a intelectualidade, nos campos, se esteriliza, e só resta a bestialidade. Nesses reinos crassos do Vegetal e do animal duas únicas funções se mantêm vivas, a nutritiva e a procriadora. (...) Ao cabo duma semana rural, de todo o seu ser tão nobremente composto só restava um estômago e por baixo um falo! A alma? Sumida sob a besta.
  • 12. A influência naturalista “Amei aquela criatura. Amei aquela criatura com Amor, com todos os Amores que estão no Amor, o Amor divino, o Amor humano, o Amor bestial, como Santo Antonino amava a Virgem, como Romeu amava Julieta, como um bode ama uma cabra.” “(...) todo ele chupado, tisnado, com maus dentes, sobraçando uma enorme pasta sebenta, e dardejando, de entre a alta gola duma peliça puída, como da abertura dum covil, dois olhinhos torvose de rapina.”
  • 13. O adultério consentido “-Estamos separados, cada um vive como lhe apetece, é excelente! Mas em tudo há medida e forma... Ela tem o meu nome, não posso consentir que em Paris, com conhecimento de todo o Paris, seja a amante do trintanário. Amantes da nossa roda, vá! Um lacaio, não!... Se quer dormir com os criados que emigre para o fundo da província, para a sua casa de Corbelle. E lá até com os animais!...”
  • 14. A visita ao 202 Elevador Biblioteca Relógio das capitais Conferençofone A domesticação da natureza
  • 15. As águas “Todo um aparador porém vergava sob o luxo redundante, quase assustador de águas - águas oxigenadas, águas carbonatadas, águas fosfatadas, águas esterilizadas, águas de sais, outras ainda, em garrafas bojudas, com tratados terapêuticos impressos em rótulos.”
  • 16. O contraponto de Zé Fernandes “Homem pensa ter na Cidade a base de toda a sua grandeza e só nela tem a fonte de toda a sua miséria. (...) Na Cidade findou a sua liberdade moral; cada manhã ela lhe impõe uma necessidade, e cada necessidade o arremessa para uma dependência; pobre e subalterno, a sua vida é um constante solicitar, adular, vergar, rastejar, aturar; e rico e superior como um Jacinto, a Sociedade logo o enreda em tradições, preceitos, etiquetas, cerimônias, praxes, ritos, (…)
  • 17. (...) Mas o que a cidade mais deteriora no homem é a Inteligência, (...) Nesta densa e pairante camada de Ideias e Fórmulas que constitui a atmosfera mental das Cidades, o homem que a respira, nela envolto, só pensa todos os pensamentos já pensados, só exprime todas as expressões já exprimidas: (...) E aqui tem o belo Jacinto o que é a bela Cidade!” Zé Fernandes: a desvalorização impiedosa dos valores urbanos.
  • 18. A crise de Jacinto e suas consequências: • Leituras: Eclesiastes e Schopenhauer. • A indiferença à civilização e seus bens. • Cai no pessimismo e no tédio. “Foi então que o meu Príncipe começou a ler apaixonadamente, desde o Eclesiastes até Schopenhauer, todos os líricos e todos os teóricos do pessimismo.”
  • 19. "Ele desembrulhou os pés do meu paletó, cofiou o bigode e, veio sem pressa, à vidraça que eu abrira, conhecer a sua terra. _ Então é Portugal, hein?… Cheira bem. _ Está claro que cheira bem, animal! A sineta tilintou languidamente. E o comboio deslizou, com descanso, como se passeasse para seu regalo sobre as duas fitas de aço, assobiando e gozando a beleza da terra e do céu."
  • 20. “- Meu filho, olha que eu não passo dum pequeno proprietário. Para mim não se trata de saber se a terra é linda, mas se a terra é boa. Olha o que diz a Bíblia! ““Trabalharás a Quinta com o suor do teu rosto! E não diz ““contemplarás a Quinta com o enlevo da tua imaginação!”
  • 21. "Ele agora, bom sabedor das coisas da lavoura, percorria a quinta, em sólidas palestras agrícolas…” O saber teórico é substituído pelo saber prático
  • 22. “(…) o resultado da ação do ar, da água, da comida, do exercício físico e, principalmente, do afastamento do ambiente doentio da cidade” Paulo Franchetti
  • 23. O reducionismo à biologia “- Com efeito, há aqui falta de mulher, com M grande. Mas essas senhoras aí das casas dos arredores... Não sei, mas estou pensando que se devem parecer com legumes. Sãs, nutritivas, excelentes para a panela - mas, enfim, legumes.”
  • 24. “Mas, à porta, que de repente se abriu, apareceu minha prima Joaninha, corada do passeio e do vivo ar, com um vestido claro um pouco aberto no pescoço, que fundia mais docemente, numa larga claridade, o esplendor branco da sua pele, e o louro ondeado dos seus cabelos (...)” “E foi assim que Jacinto, nessa tarde de Setembro, na Flor da Malva, viu aquela com quem casou em Maio, na capelinha de azulejos, quando o grande pé de roseira se cobrira todo de rosas.”
  • 25. O encontro com a Natureza “Na Natureza nunca eu descobriria um contorno feio ou repetido! Nunca duas folhas de hera, que, na verdura ou recorte, se assemelhassem! Na Cidade, pelo contrário, cada casa repete servilmente a outra casa; todas as faces reproduzem a mesma indiferença ou a mesma inquietação; as ideias têm todas o mesmo valor, (...); e até o que há mais pessoal e íntimo, a Ilusão, é em todos idêntica (...) ... a mesmice – eis o horror das Cidades!
  • 26. Jacinto morte ressurreição (cidade) (campo) A solução não está na adaptação da vida bucólica, mas na mudança de perspectiva sobre a vida.
  • 27. A Literatura Expressar o desconforto As Personagens Buscam um sentido para a existência num mundo desumanizado
  • 28. Jacinto A tese: afirmação do valor da ciência. Antítese: afirmação de uma vida simples. Síntese: fusão dos elementos díspares.
  • 29. “A arte oferece-nos a única possibilidade de realizar o mais legítimo desejo da vida – que é não ser apagado de todo pela morte. A Arte é tudo porque só ela tem a duração – e tudo o resto é nada!” (Eça de Queirós)