O documento discute a argumentação e filosofia na Grécia Antiga. Aborda os sofistas, que ensinavam retórica em troca de dinheiro, e os filósofos como Sócrates e Platão, que se opunham aos sofistas e buscavam a verdade. Também discute como a retórica pode ser usada para persuasão ou manipulação da opinião pública.
2. ARGUMENTAÇÃO E FILOSOFIA
Filosofia, Retórica e democracia
A vida pública ateniense assentou na
democracia e na exigência de uma
participação ativa dos seus
cidadãos, razão pela qual a retórica se
desenvolveu.
A retórica assumiu-se como uma forma
de colocar os problemas, de os
esclarecer e de os resolver.
O poder da palavra passará a ser um
meio de persuasão de que cada orador
se servia para a adesão do auditório.
4. OS SOFISTAS
Os sofistas eram professores itinerantes que
instruíam os jovens e faziam conferências, em
que mostravam a sua eloquência em troca de
dinheiro.
Os sofistas ensinavam as artes da palavra: a
arte de discutir (dialéctica) e arte de persuadir
(retórica).
Protágoras Górgias Pródico Hípias
5. OS SOFISTAS
Destinavam o seu ensino a todos os que
desejassem "adquirir a superioridade necessária
ao triunfo na arena política".
No entanto os seus alunos provinham
habitualmente das classes mais elevadas.
6. OS SOFISTAS
Para os Sofistas (Górgias e Protágoras), o bem a
verdade e a justiça são conceitos subjetivos e
relativos.
Por isso mesmo, ensinam aos seus alunos
técnicas de discurso, sem qualquer preocupação
pelo conteúdo das teses em disputa. O
importante era convencer e sair vencedor.
“O Homem é a medida de todas as coisas”
(Protágoras)
7. OS SOFISTAS
“Os sofistas apresentaram-se como profissionais do
saber, mestres na técnica do discurso. (…)
Apesar de todos os cidadãos livres terem acesso aos
sofistas, estes voltavam-se sobretudo para aqueles que
pretendiam uma formação política, isto é, para aqueles que nas
assembleias públicas seriam os responsáveis pela elaboração das
leis do Estado. Não defendiam nenhuma doutrina específica nem
formavam um grupo com identidade teórica ou político-
ideológica. O que possuíam em comum era o facto de recusarem
qualquer valor que se apresentasse como absoluto. Fora isto
eram hábeis argumentadores e dominavam por completo a
técnica da palavra. Em vez de serem mestres da verdade, eram
mestres da oratória e da dialéctica.”
L.A.Roza, “Palavra e Verdade”
10. OS FILÓSOFOS
Contra a Retórica e contra os sofistas vão acabar
por se insurgir os filósofos, encabeçados por Platão e
Sócrates.
Para os filósofos, a retórica está ao serviço de
interesses particulares, desrespeitando a verdade.
A retórica não é uma arte, mas uma forma de
atividade empírica que tem por fim produzir no
auditório um sentimento de agrado e de prazer.
Platão designa a essa atividade empírica adulação.
11. OS FILÓSOFOS
Uma vez que não está comprometida com a
verdade objetiva, o poder persuasivo da retórica
pode facilmente transformar-se em manipulação.
Platão opõe o verdadeiro conhecimento, procurado
pelo filósofo, ao pseudo-saber da retórica sofista,
que através do recurso à lisonja da palavra,
negligencia a verdade.
12. OS FILÓSOFOS
«Um famoso sofista, ao voltar de uma viagem de
conferências pela Ásia Menor, encontrou Sócrates
na Ágora perguntando a um sapateiro “Que é isto, o
sapato?” e interpelou-o, indagando: “Ainda estás
aí, Sócrates, dizendo a mesma coisa sobre a mesma
coisa?” Sócrates encarou-o e retorquiu: “É o que eu
sempre faço. Tu, porém, que és um
sofista, certamente nunca dizes a mesma coisa
sobre a mesma coisa”.
(fonte: Diógenes Laércio)
13. SOFISTAS FILÓSOFOS
(Górgias – Protágoras) (Sócrates - Platão)
Faziam-se pagar pelo seu ensino. Não cobravam pelo seu ensino e
consideravam os sofistas como
mercadores da verdade.
Consideravam-se sábios. Pretendiam ser O filósofo é aquele que busca a verdade
capazes de dissertar sobre todos os temas e numa atitude de douta-ignorância. “Só
de responder a qualquer pergunta. sei que nada sei” (Sócrates).
Defendiam o relativismo: A verdade é Condenavam o relativismo sofístico e
relativa, subjetiva. O verdadeiro é o que acreditavam na possibilidade de se
parece a cada um. ascender à verdade absoluta e universal.
Ensinavam a retórica como técnica de Tinham como método o diálogo
persuasão pela palavra e com forma de (dialética).
alcançar o poder através da manipulação.
Através deste, cada um podia descobrir
O que interessava era convencer o auditório dentro de si próprio a verdade que já
fazendo-o crer na tese proposta. havia contemplado no mundo inteligível.
Privilegiam a opinião (doxa) que gera a Privilegiam a sabedoria (Sofia) que leva
crença. ao verdadeiro conhecimento
15. DECLÍNEO DA RETÓRICA
Na Grécia antiga a aplicação da retórica foi
alvo de divisão entre sofistas e filósofos.
Mais tarde, acabou por degenerar num
discurso vazio, cheio de floreados e de figuras de
estilo, que frequentemente escondiam a ausência
ou pobreza de ideias.
16. REABILITAÇÃO DA RETÓRICA
Nas últimas décadas, alguns autores tentaram
devolver à retórica a importância que teve no passado,
retirando-lhe a carga negativa.
Surgiu assim uma Nova Retórica, protagonizada por
autores como Toulmin, Habermas, ou Perelman,
empenhados em associar a retórica à argumentação, e
em conferir-lhe um carácter ético.
Esses autores apostam, nomeadamente num certo
modelo retórico, imitando o modelo de argumentação
judicial.
17. REABILITAÇÃO DA RETÓRICA
Mas não é só nos tribunais que a eloquência e a
oratória se mantêm importantes nos nossos dias.
Os auditórios modernos – ligados ao ensino, à
formação, a iniciativas profissionais, científicas e
outras – multiplicaram-se e isso torna pertinente a arte
de se saber falar em público e de se ser persuasivo.
19. PERSUASÃO E MANIPULAÇÃO
A persuasão deve ter uma componente ética,
devido ao respeito pela pessoa do outro.
Quando isso não acontece, transforma-se em
manipulação.
A manipulação ignora os legítimos interesses do
auditório.
Manipular equivale a manejar, a tratar as pessoas
como se fossem objetos.
20. PERSUASÃO E MANIPULAÇÃO
Manipula aquele que quer
vencer-nos sem nos convencer.
Seduz-nos para aceitarmos, mas
não nos dá razões para o
fazermos.
Não apela à nossa inteligência
nem respeita a nossa liberdade.
Quer dominar pessoas e grupos
e dirigir a sua conduta,
reduzindo-os a uma massa
acrítica.
A palavra é a sua arma.
21. PERSUASÃO MANIPULAÇÃO
É o bom uso da retórica. Há autores que chamam à persuasão É o mau uso da retórica. Há autores que chamam à
"retórica branca" ou persuasão racional. manipulação "retórica negra" ou persuasão irracional.
Tenta levar-se um auditório a aderir a uma tese ou a uma ação. Há uma imposição, tentando evitar a reflexão e a liberdade de
decisão dos ouvintes.
Não se impõe nada, dá-se liberdade aos ouvintes para refletirem
e decidirem individualmente. O manipulador procura usar a seu favor as limitações da
racionalidade do auditório.
O orador procura ajudar a ultrapassar as limitações da
racionalidade do auditório. Há uma relação vertical, desigual, em que os ouvintes são
usados como instrumentos ao serviço do manipulador.
Há uma relação de igualdade entre orador e ouvintes, estes são
respeitados por aquele. Os objetivos são escondidos ou apresentam-se de forma
confusa para não suscitar reflexão, não há transparência.
Os objectivos da argumentação estão definidos e são claros, há
transparência. O manipulador tenta evitar o espírito crítico, anulando ao
máximo a autonomia dos ouvintes e a sua capacidade de
Fomenta-se o espírito crítico e a autonomia de cada um. avaliação da situação.
O orador vê os ouvintes como seres iguais a si e aceita a decisão O manipulador vê os ouvintes como seres inferiores, que ele
deles. usa em proveito próprio.
A persuasão é moralmente aceitável porque há um uso racional A manipulação é moralmente inaceitável porque há má-fé e
da palavra e "o outro" é visto como um outro "eu". desrespeito pelos outros, os quais são considerados como
meios ao serviço de alguém com objetivos ocultos.
22. PERSUASÃO E MANIPULAÇÃO
Desenvolver o espírito crítico e uma análise atenta
dos argumentos é um modo de enfrentar estratégias
de manipulação.
O pensamento crítico implica:
Avaliar a consistência dos argumentos;
Escrutinar as crenças e os preconceitos que são
muitas vezes aceites sem fundamento racional.
24. RETÓRICA E OPINIÃO PÚBLICA
Na política, quer nos regimes democráticos quer
nos regimes totalitários, a retórica é usada para
formar, controlar e manipular a opinião pública.
Do mesmo modo, quer os meios de comunicação
social quer a publicidade adoptam procedimentos
retóricos para captar a atenção dos seus
auditórios.
26. FATORES INDIVIDUAIS
Como os seres humanos têm tendência gregária
(pertencer a um grupo) e gostam de partilhar
crenças, opiniões e valores, estão predispostos a
aceitar o que lhes facilite a sua integração social.
27. FATORES SOCIAIS
Cada grupo ou classe social tem um conjunto de
estereótipos e preconceitos que se traduz em
atitudes e comportamentos considerados normais,
entre os membros desse grupo, e que são como
que cartões de identificação, ou passwords,
necessários para que se estabeleça a comunicação.
28. EMOÇÕES COLETIVAS
Quando as pessoas estão em multidão, o nível
de capacidade crítica e de discernimento racional
diminui, porque as mensagens emotivas se
comunicam mais rapidamente e são mais fortes.
Isto cria uma empatia que permite a difusão de
ideias simples (não analisadas pelo auditório) e que
facilita o controlo e a manipulação da multidão.
29. LÍDERES DE OPINIÃO
Os líderes de opinião são pessoas que, pela sua
autoridade, prestígio ou carisma, influenciam a
constituição de representações coletivas e orientam
os comportamentos das pessoas.
30. MEIOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
É conhecida a força
dos meios de
comunicação social para
condicionar e manipular
as emoções do auditório
através de artigos de
opinião, filmes, documen
tários e outros
programas.
31. MEIOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
O poder político
procura controlar
os meios de
comunicação
social,
reconhecendo a
capacidade
persuasiva das
suas mensagens.
32. DISCURSO PUBLICITÁRIO
Na nossa sociedade, a
retórica é aplicada na
atividade publicitária
(quer no marketing
comercial, quer no
político), que usa
sobretudo mensagens
visuais e auditivas.
«Vale mais uma imagem
mil que palavras».
(Ditado chinês)
33. DISCURSO PUBLICITÁRIO
A publicidade utiliza
a sedução,
provocando carências
e despertando o
desejo de as
satisfazer. Recorre a
símbolos, imagens,
valores e associações
semânticas.