2. Acabei de completar 60 anos. A minha mulher ofereceu-me uma clínica de uma semana num dos melhores ginásios. Estou em excelente forma mas achei boa idéia diminuir a minha "barriguinha". Fiz a marcação dessa semana no ginásio. A personal trainer que me vai seguir chama-se Catarina, tem 26 anos, é monitora de aeróbica e modelo. Recomendaram-me que escrevesse um diário para documentar o meu progresso, que transcrevo a seguir .
3. Com muita dificuldade levantei-me às 6 da manhã. O esforço valeu a pena. A monitora parece uma deusa grega: loira, olhos azuis, grande sorriso, lábios carnudos e corpo escultural. Primeiro mostrou-me todos os aparelhos de ginástica. Comecei pela bicicleta. Ao fim de 5 minutos mediu as minhas pulsações e ficou alarmada porque estavam muito aceleradas. Mas não era da bicicleta: era por causa dela, por estar vestida com uma malha de lycra justíssima que lhe moldava as formas todas. Gostei do exercício. Ela consegue dar-me imensa motivação. Começo a sentir uma dor constante na barriga de tanto a encolher. Segunda-feira
4. Tomei o pequeno almoço e fui para o ginásio. A monitora estava melhor que nunca. Comecei por levantar uma barra de metal. Depois ela atreveu-se a pôr pesos!!! Tinha as pernas fracas mas consegui completar UM QUILÓMETRO na passadeira. O sorriso arrebatador que a monitora me deu no fim da manhã convenceu-me de que todo este exercício vale a pena... É uma vida nova para mim. Terça-feira
5. A única forma de conseguir escovar os dentes foi segurar na escova com os cotovelos apoiados no lavatório e mexer a cabeça de um lado para o outro. Conduzir também não foi fácil: estender os braços para meter as mudanças foi um esforço digno de Hércules. Dói-me o peito. As plantas dos pés doem de cada vez que carrego nos pedais. Fisicamente diminuído, estacionei o carro no lugar reservado para deficientes, até porque só consigo andar a coxear. A monitora estava com a voz um pouco aguda. Quando grita incomoda-me muito. Quando me pôs um arnês para fazer escalada todo o corpo me doeu. Para que merda alguém inventa um aparelho para fazer escalada quando isso ficou obsoleto desde a invenção dos elevadores? A monitora disse-me que este exercício me ia ajudar a ficar em forma, ou a gozar a vida... ou uma dessas merdas de promessas. Quarta-feira
6. A monitora estava à minha espera com os seus dentes de vampiro horríveis. Cheguei meia-hora atrasado: foi o tempo que demorei para conseguir calçar os sapatos. A desgraçada pôs-me a trabalhar com os pesos. Quando se distraíu, fui-me refugiar na casa de banho. A gaja mandou um outro monitor ir buscar-me. Como castigo pôs-me na máquina de remar... Estou todo fodido. Quinta-feira
7. Odeio essa desgraçada. Estúpida, magra, anémica, chata e feminista sem cérebro! Se houvesse uma parte do meu corpo que eu pudesse mexer sem sentir uma dor excruciante, partia ao meio a puta que pariu essa sacana. Quiz que eu trabalhasse os meus trícipetes... EU NEM SABIA O QUE ERA ESSA PORRA DOS TRÍCIPETES, CARALHO!!! E se não bastasse colocar-me pesos nos braços, pôs-me aquelas merdas das barras... Desmaiei na bicicleta. Acordei numa maca. Uma nutricionista, uma idiota com cara de mal fodida, deu-me uma seca sobre alimentação saudável. Sexta-feira
8. A filha da puta deixou-me uma mensagem no telemóvel com a sua vozinha de lésbica assumida a perguntar por que é que eu não apareci. Só de ouvir aquela vozinha fiquei com ganas de partir o telemóvel, mas não tive forças para o levantar. Carregar nas teclas do comando da televisão para fazer zapping está a ser um esforço tremendo... Sábado
9. Não me consigo levantar. Pedi a um amigo meu para agradecer a Deus por mim na missa por ter sobrevivido a esta semana que felizmente já acabou. Rezei para que no ano que vem a desgraçada da minha mulher me dê qualquer coisa um pouco mais divertida, como um tratamento dentário de canal, um cateterismo ou até mesmo um exame à próstata. Domingo