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A Representação do Eu na
Vida Cotidiana
Erving Goffman
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I
CAPÍTULO VI
- Representações
- A Arte de Manipular a Impressão
Capítulo I
- Representações
- Crença no Papel que o Indivíduo está Representando
- Fachada
- Realização Dramática
- Idealização
- Manutenção do Controle Expressivo
- Representação Falsa
- Mistificação
- Realidade e Artifícios
Capítulo VI
- A Arte de Manipular a
Impressão
- Atributos e Práticas Defensivas
1-Lealdade Dramatúrgica
2-Disciplina Dramatúrgica
3-Circunspecção Dramatúrgica
- Práticas Protetoras
- O Tato com Relação ao Tato
INTRODUÇÃO
Introdução
- A vida em sociedade é constituída por
interações sociais, nas quais as comunicações
são estabelecidas pelas expressões
transmitidas e emitidas (efetivamente) pelos
atores e público reciprocamente, sejam
verdadeiras ou falsas.
- É a partir daí que se definem os papéis
sociais, nas mais variadas áreas da vida social.
Introdução
“A interação (i. e., interação face a face) pode ser
definida, em linhas gerais, como a influência
recíproca dos indivíduos sobre as ações uns dos
outros, quando em presença física imediata. Uma
interação pode ser definida como toda interação
que ocorre em qualquer ocasião, quando, num
conjunto de indivíduos, uns se encontram na
presença imediata de outros.” (encontro) - fls 23.
Introdução
“Quando um indivíduo ou ator desempenha o mesmo movimento
para o mesmo público em diferentes ocasiões há a
probabilidade de surgir um relacionamento social. Definindo
papel social como a promulgação de direitos e deveres ligados a
uma determinada situação social, podemos dizer que um papel
social envolverá um ou mais movimentos, e que cada um destes
pode ser representado pelo ator numa série de oportunidades
para o mesmo tipo de público ou para um público formado pelas
mesmas pessoas.” - folhas 24.
Introdução
- O livro trata das expressões emitidas, de forma
não-verbal e não-intencional, ainda que a
comunicação tenha sido “arquitetada”; bem como
do caráter moral das “projeções” (definição
projetada da situação inicial e continuada) e de
técnicas empregadas socialmente para que se
mantenham essas projeções, sem rupturas
definicionais, e suas possibilidades.
Introdução
- A informação a respeito do indivíduo define
a situação, e é ou não confirmada pelos fatos
decisivos.
- Expressividade do indivíduo = passar
impressão. Compreende: a expressão que
transmite (ostensiva) e a que emite
(involuntárias), e que ajudam o público a tirar
suas conclusões a respeito do indivíduo.
Introdução
- O indivíduo atua para controlar a definição da
situação que os outros venham a formular,
tentando conduzí-la de acordo com seus
interesses.
- Assimetria fundamental no processo de
comunicação = o indivíduo tem consciência do
fluxo da comunicação transmitida, mas a platéia
tem também o da comunicação emitida.
Introdução
-O observador leva vantagem sobre o ator, ao
verificar a comunicação emitida, ainda que o
indivíduo tente manipular seu comportamento
involuntário, de modo que no jogo de
informação, no ciclo de
encobrimento/descobrimento, revelações
falsas/redescobertas, a assimetria acaba
sendo restabelecida.
Introdução
- Os “outros” projetam de maneira efetiva
uma definição da situação mediante sua
resposta e linha de ação, normalmente de
forma “idealisticamente” harmoniosa.
- Há uma divisão no trabalho definicional,
onde cada um conduz a relação na área de sua
maior experiência = modus vivendi
interacional.
Introdução
- Fatos perturbadores ameaçam a interação e
geram uma anomia, que rompe com o caráter
moral das projeções.
- Para evitar as rupturas definicionais os
participantes empregam práticas preventivas
e corretivas.
- Práticas defensivas - individuais
- Práticas protetoras ou “diplomacia”- coletiva
CAPÍTULO I
REPRESENTAÇÕES
Capítulo I - Representações
“O livro se ocupa dos problemas
dramatúrgicos do participante ao representar
a atividade perante os outros. As questões
que envolvem a montagem e a direção da
peça são às vezes triviais, mas muito gerais.
Parecem ocorrer em todo lugar da vida social,
oferecendo uma dimensão definida para a
análise sociológica formal.” - folhas 23
Capítulo I - Representações
- Representação - “toda atividade de um indivíduo
que se passa num período caracterizado por sua
presença contínua diante de um grupo particular de
observadores e que tem sobre estes alguma
influência.” - folhas 29
- É a atuação do indivíduo, solicitando da platéia
que o levem a sério no seu papel, que colaborem e
correspondam executando seus papéis como público
REPRESENTAÇÕES
CRENÇA NO PAPEL QUE INDIVÍDUO ESTÁ
REPRESENTANDO
Capítulo I - Representações
Crença no Papel que o Indivíduo está
Representando
- O ator sincero acredita piamente no papel
que desempenha. O ator cínico, por motivos
vários, está a desempenhar um papel que sabe
não ser verdadeiro (defesa, profissão, status,
etc.). São os extremos de um contínuo que
oscila num ciclo da descrença à crença e vice-
versa, podendo haver um ponto de transição,
de auto-ilusão.
REPRESENTAÇÕES
FACHADA
Capítulo I - Representações
Fachada
- Fachada Social - “parte do desempenho do
indivíduo que funciona regularmente de forma
geral e fixa com o fim de definir a situação
para os que observam a representação”.
“É, portanto, o equipamento expressivo de
tipo padronizado intencional ou
inconscientemente empregado pelo indivíduo
durante a sua representação.” - folhas 29
Capítulo I - Representação
Fachada
“A execução de uma prática apresenta, através de
sua fachada, algumas exigências um tanto abstratas
em relação à audiência, que provavelmente lhe são
apresentadas durante a execução de outras
práticas. Isto constitui um dos modos pelos quais
uma representação é ‘socializada’, moldada e
modificada para se ajustar à compreensão e às
expectativas da sociedade em que é apresentada.”
Capítulo I - Representações
Fachada
- Partes padronizadas da Fachada Social:
1) Cenário
2) Fachada Pessoal: se divide em dois estímulos:
a) aparência
b) maneira
Capítulo I - Representações
Fachada
- Cenário - parte cênica do equipamento
expressivo (normalmente fixo e pré-existente)
no qual se desenrola a ação humana
executada diante, dentro ou acima dele
(consultório, clube, país) e somente em
circunstâncias excepcionais acompanha os
atores (funerais, p. ex.).
Capítulo I - Representações
Fachada
- Fachada Pessoal - outros itens de equipamento
expressivo que de modo mais íntimo identificamos
com o próprio ato, e que esperamos que o sigam
onde quer que vá; alguns de seus veículos de
transmissão podem ser mais fixos e variar pouco
dentro de certo espaço de tempo (raça) outros são
mais transitórios e móveis (expressão facial),
podendo variar numa representação. -folhas 31
Capítulo I - Representações
Fachada
- Fachada Pessoal - formada por dois estímulos:
aparência (revela a posição social do ator e seu
estado ritual temporário) e maneira (informa sobre
o papel de interação que o ator pretende
desempenhar na situação que se aproxima). Espera-
se uma compatibilidade confirmadora entre uma e
outra. Respeitadas as diferenças congruentes entre
ator e público (cada um no seu papel).
Capítulo I - Representações
Fachada
- Espera-se também coerência entre ambiente,
aparência e maneira = tipo ideal; de modo que as
exceções é que atraem o atenção e os estudiosos.
- Na relação entre suas várias partes (cenário e
fachada pessoal) é importante salientar uma
significativa característica da informação que
transmite: seu caráter abstrato e sua generalidade.
Capítulo I - Representações
Fachada
- Traduzindo: várias práticas (representações)
diferentes podem usar a mesma fachada, por
mais singulares e especializadas que sejam.
- A tendência de apresentar uma grande
quantidade de práticas diferentes partindo de
um pequeno número de fachadas é consequência
natural da organização social, facilitando a
situação definicional dos envolvidos.
Capítulo I - Representações
Fachada
- O observador é encorajado a realçar as
semelhanças abstratas da fachada e assim
coloca a situação numa ampla categoria em
torno da qual lhe é fácil mobilizar sua
experiência anterior, podendo se orientar
numa grande variedade de situações, com o
mínimo de informação. Pequeno vocabulário
de fachada = grande variedade de situações.
Capítulo I - Representações
Fachada
- Fachadas institucionalizadas = representação
coletiva e um fato, por direito próprio.
- Papel social estabelecido = fachada estabelecida.
Ambos devem ser mantidos.
- Papel novo e/ou não estabelecido = escolha entre
fachadas já existentes; entre os equipamentos de
sinais que possui. Acaba-se escolhendo o “mais”,
mesmo que inadequado, por medo de errar.
REPRESENTAÇÕES
REALIZAÇÃO DRAMÁTICA
Capítulo I - Representações
Realização Dramática
“A atividade do indivíduo tem de tornar-se
significativa para os outros, ele precisa mobilizá-la
de modo tal que expresse, durante a interação, o
que ele precisa transmitir e, às vezes, numa fração
de segundo.” - Em algumas posições sociais a
dramatização não apresenta problemas, pois os
números essenciais são perfeitamente aptos a
transmitir as qualidades e atributos pretendidos
pelo ator. - folhas 36/37
Capítulo I - Representações
Realização Dramática
Fl.38“Em muitos casos, contudo, a dramatização do
trabalho de um indivíduo constitui um problema.”
“O problema de dramatizar o próprio trabalho
implica em mais do que simplesmente tornar
visíveis os custos invisíveis.”
“... se a pessoa incumbida dele quisesse dramatizar
a natureza de seu papel deveria desviar
considerável quantidade de energia para esse fim.”
Capítulo I - Representações
Realização Dramática
- Os indivíduos se encontram muitas vezes em face
do dilema: expressão x ação. Ou desempenham com
talento suas aptidões profissionais ou “representam
bem” que estão exercendo com talento suas
aptidões. Por isso há quem delegue oficial e
especificamente a função dramática a um
especialista. - folhas 39
Capítulo I - Representações
Realização Dramática
- Mudando a ótica para o grupo ou classe que
apresentam uma dramatização vê-se que seus
membros tendem a empenhar-se primordialmente
em certas práticas, enfatizando menos as outras
que executam, conforme a esfera social em que se
apresentem. - representação coletiva
- Grupos com hábitos aristocráticos x classe média -
independe do status social - virtuoses, com técnicas
REPRESENTAÇÕES
IDEALIZAÇÃO
Capítulo I - Representações
Idealização
- No processo social de representação (execução de
práticas através de uma fachada para uma
audiência) a idealização é um dos aspectos da
socialização dessa representação, envolvendo ator,
platéia e suas práticas reciprocamente - interação.
É uma tendência que os atores têm a oferecer a
seus observadores uma impressão que é idealizada
de várias maneiras diferentes, acerca da situação.
Capítulo I - Representações
Idealização
- A noção de que uma representação apresenta uma
concepção idealizada da situação é muito comum.
- Assim, quando o indivíduo se apresenta diante dos
outros, seu desempenho tenderá a incorporar e
exemplificar os valores oficialmente reconhecidos
pela sociedade e até realmente mais do que o
comportamento do indivíduo como um todo.
- folhas 40/41
Capítulo I - Representações
Idealização
“Na medida em que uma representação
ressalta os valores oficiais comuns da
sociedade em que se processa, podemos
considerá-la, à maneira de Durkheim e
Radcliffe-Brown, como uma cerimônia, um
rejuvenescimento e reafirmação expressivos
dos valores morais da comunidade.” - folhas
41
Capítulo I - Representações
Idealização
- O ator cuida de dissimular ou desprezar as
atividades, fatos e motivos incompatíveis com
a versão idealizada de sua pessoa e de suas
realizações, ou incute na platéia a crença de
estar relacionado com ela de um modo mais
ideal do que o que ocorre na realidade -
folhas 51.
Capítulo I - Representações
Idealização
- Fonte rica de dados sobre a representação de
desempenhos idealizados é a literatura sobre
mobilidade social: a mobilidade ascendente implica
na representação de desempenhos adequados e os
esforços para subir e para evitar descer exprimem-
se em termos dos sacrifícios feitos para a
manutenção da fachada; os símbolos de status são
os mais importantes equipamentos de sinais de $$.
Capítulo I - Representações
Idealização
- Representação de classe aristrocrática - costumes,
ritos, crenças # símbolos do status que demonstram
riqueza material - brâmanes.
- Idealização Negativa - negros, mulheres,
lavradores, imigrantes, mendigos, etc.
- Impressões Ideais - dar a expressão a padrões
ideais na representação implica em abandonar ou
esconder ações que não sejam compatíveis c/ eles.
Capítulo I - Representações
Idealização
- Consumo secreto - além de prazeres e
poupanças secretas pode o ator ocultar:
atividades incompatíveis com a noção da
atividade que ele espera o público tenha a
respeito de si (tabacarias, parlamento,
compradores de empresas, RP, promoters) -
local de trabalho e atividade oficial =
escudo/concha.
Capítulo I - Representações
Idealização
- Atividades ocultas - assim como o consumo
secreto, o ator, na sua representação de um ideal,
oculta erros que são corrigidos a tempo, mantendo
a impressão de “infalibilidade” (médicos, juízes).
- Produto final, acabado, polido - a apresentação
oculta o pouco esforço demandado para completar
o objeto ou as longas e cansativas horas de
trabalho, conforme seja da conveniência do ator.
Capítulo I - Representações
Idealização
- Discrepância entre aparência e realidade
total:
- trabalho sujo, legal ou ilegal (maltrato a
animais);
- renúncia à qualidade em prol de manter a
aparência - ordem x maus tratos (polícia,
asilos) = relação custo x benefício x ideais a
serem sacrificados (dos menos visíveis);
Capítulo I - Representações
Idealização
- retórica de treinamento - para manter a
impressão de compatibilidade sagrada entre
homem e atividade que exerce (“dom”,
“vocação”) e valorizar sua posição no mercado
(universidades, entidades de classe); implica
não só o conhecimento, como a lavagem
cerebral e atributos físicos e religiosos,
processos seletivos (ainda que fictícios).
Capítulo I - Representações
Idealização
- Os indivíduos frequentemente alimentam a
impressão de que a prática regular que estão
representando no momento é sua única prática ou,
pelo menos, a mais essencial; e a platéia, por sua
vez, admite, muitas vezes, que o personagem
projetado diante dela é tudo que há no indivíduo
que executa a representação. - link com a platéia
- Prática protetora = segregação do auditório
Capítulo I - Representações
Idealização
- “Os atores tendem a alimentar a impressão de
que o atual desempenho de sua rotina e seu
relacionamento com a platéia habitual têm caráter
especial e único. A natureza rotineira da
representação é escondida (o próprio ator não
percebe até que ponto sua representação é
realmente rotineira) e os aspectos espontâneos da
situação são reforçados.” - folhas 52
Capítulo I - Representações
Idealização
- Serviço Personalizado - há uma prática protetiva,
a “anuência” tácita da platéia: “como atores no
papel de clientes, com muito tato mantemos este
efeito personalizante, tentando dar a impressão de
que não ‘compramos’ o serviço e não pensaríamos
em obtê-lo em outro lugar.” - folhas 53
-médicos, acolhimento de amigos… Gostamos de
nos sentir especiais; ator e público se aproveitam
REPRESENTAÇÕES
MANUTENÇÃO DO CONTROLE EXPRESSIVO
Capítulo I - Representações
Manutenção do Controle Expressivo
- A platéia aceita os sinais que o ator transmite ou
pode não compreendê-los, ou atribuir-lhes
significado diverso, em especial aos gestos
involuntários; por isso, o ator procura transmitir o
máximo de sinais, para definir a situação pelo todo.
- As discrepâncias podem comprometer em todo ou
em parte a representação, causando uma ruptura da
situação definicional.
Capítulo I - Representações
Manutenção do Controle Expressivo
- Três grupos de gestos involuntários adquiriram
condição simbólica coletiva em nossa sociedade,
de tão catastróficos que podem ser:
- Perda momentânea do controle muscular (pum);
- Demonstrar preocupação demais ou de menos,
com a interação (gaguejar, riso incontido);
- A representação sofre por uma incorreta direção
dramática (cenário não funciona ou é equivocado).
Capítulo I - Representações
Manutenção do Controle Expressivo
- Grau de cuidado expressivo dos detalhes nas
representações deve manter a coerência; mudam
de grau de acordo com a necessidade as
representações (relações filiais - China; cenas que
envolvem personagens eminentes-realeza; funeral);
- Cada protagonista terá de observar
cuidadosamente a própria conduta, para não
oferecer ao oponente um ponto vulnerável;
Capítulo I - Representações
Manutenção do Controle Expressivo
“Como atores, somos frequentemente mais
conscientes dos padrões que deveríamos ter
aplicado à nossa atividade, mas não o fizemos,
do que os padrões que irrefletidamente
utilizamos. … como estudiosos, devemos estar
preparados para examinar a dissonância…” -
folhas 57
Capítulo I - Representações
Manutenção do Controle Expressivo
“...a impressão de realidade criada por uma representação é
uma coisa delicada, frágil, que pode ser quebrada por
minúsculos contratempos” - folhas 58
- Coerência expressiva - põe em destaque uma decisiva
discrepância entre nosso eu demasiadamente humano e nosso eu
socializado, exigindo: uma burocratização do espírito - para
inspirar confiança de executar uma representação perfeitamente
homogênea a todo tempo; e disciplina social - que mantém a
máscara de atitude mantida firme no lugar por dentro. Não
podemos nos dar ao luxo dos nossos “altos e baixos”
REPRESENTAÇÕES
REPRESENTAÇÃO FALSA
Capítulo I - Representações
Representação Falsa
“Quando indagamos se uma impressão adotada é verdadeira
ou falsa, na verdade queremos saber se o ator está ou não
autorizado a desempenhar o papel em questão, e não estamos
interessados primordialmente na representação real em si
mesma.” - folhas 60
- Quanto mais competente o ator, maior a ameça de sermos
enganados e de enfraquecer em nosso espírito a ligação moral
entre a autorização legítima para representar um papel e a
capacidade e representá-lo. - folhas 61.
Capítulo I - Representações
Representação Falsa
- A definição social de personificação não é algo
muito coerente - obedece a um grau de relevância
quanto ao que é falso (um defeito, uma condição
social, etc.), podendo até haver uma simpatia em
relação ao ator que personifica determinado
personagem, de acordo com seus motivos (nobres),
intenções e condições pessoais (sexo, idade); e
variações no tempo, espaço e contexto.
Capítulo I - Representações
Representação Falsa
“Quanto maior a quantidade de assuntos e de
partes ativas que caem no domínio do papel ou do
relacionamento, maior será a probabilidade,
parece, de existirem pontos de segredos.”
“E uma falsa impressão mantida por um indivíduo
em qualquer de suas práticas pode ser uma ameça
ao relacionamento ou papel inteiro do qual a
prática é apenas uma parte.” - folhas 65
Capítulo I - Representações
Representação Falsa
“A consideração sociológica decisiva, pelo menos
para este trabalho, é simplesmente que as
impressões alimentadas pelas representações
cotidianas estão sujeitas a ruptura. Desejaremos
saber que espécie de impressão de realidade pode
destroçar a impressão alimentada de realidade, e
que realidade pode realmente ser deixada a outros
estudiosos.” - folhas 66
REPRESENTAÇÕES
MISTIFICAÇÃO
Capítulo I - Representações
Mistificação
- Percepção = forma de contato e participação
- Controle sobre o que é percebido = controle sobre o contato
feito
- Limitação e a regulação do que é mostrado = limitação e
regulação do contato
- Fracasso na regulação da informação percebida pela platéia
= ruptura da situação definicional
- Fracasso na regulação do contato = contaminação ritual do
ator. - folhas 67
REPRESENTAÇÕES
REALIDADE E ARTIFÍCIOS
Capítulo I - Representações
Realidade e Artifícios
- De modo geral, há dois modelos de bom senso: o
da representação falsa e o da verdadeira,
entendendo-se a primeira como algo
completamente ensaiado e a segunda como algo
completamente espontâneo; mas, no dia a dia, o
ator, sincero ou não, bom ou não, representa e
convence sua platéia, com base na troca de
informações recíprocas (“deixas” e “pontas”).
Capítulo I - Representações
Realidade e Artifícios
“Uma condição, uma posição ou um lugar social não
são coisas materiais que são possuídas e, em
seguida, exibidas; são um modelo de conduta
apropriada, coerente, adequada e bem articulada.
Representando com facilidade ou falta de jeito,
com consciência ou não, com malícia ou boa-fé,
nem por isso deixa de ser algo que deva ser
encenado e retratado e que precise ser realizado.”
CAPÍTULO VI
A ARTE DE MANIPULAR A IMPRESSÃO
Capítulo VI - A Arte de Manipular a
Impressão
O ator deve ter atributos necessários para o
trabalho de representar, com sucesso, um
personagem e esses atributos se expressam em
técnicas de manipulação da impressão para evitar
as rupturas da representação, como, p. ex. a
responsabilidade com a qual deve evitar “gestos
involuntários” e “intromissões inoportunas”,
chamados de “faux pas” (gafe ou rata, e mancada).
Capítulo VI - A Arte de Manipular a
Impressão
- Há casos em que a ruptura é
presumivelmente estratégica e o “faux pas” é
intencional, para criar uma nova cena, que
implique numa súbita redistribuição e troca de
posições dos membros da equipe anterior em
duas novas equipes. - “fazer uma cena” é um
risco assumido, para desvirtuar-se o foco de
outra cena.
Capítulo VI - A Arte de Manipular a
Impressão
- Quando ocorre um desses incidentes, a realidade
mantida pela representação ficará enfraquecida, e
os participantes podem se descontrolar, mostrando
sinais de nervosismo que, na maioria dos casos, são
um aspecto do indivíduo que representa um
personagem e não um aspecto do personagem que
ele projeta, deixando transparecer uma imagem do
homem que se acha por trás da máscara.
A ARTE DE MANIPULAR A IMPRESSÃO
ATRIBUTOS E PRÁTICAS DEFENSIVAS
Capítulo VI - A Arte de Manipular a Impressão
Atributos e Práticas Defensivas
- A fim de evitar que aconteçam incidentes e o
embaraço consequente, será necessário que todos
os participantes da interação, bem como aqueles
que não participam, possuam certos atributos e os
expressem em práticas para salvar o espetáculo: as
medidas defensivas, as medidas protetoras e
medidas usadas pelos atores para que a platéia e
estranhos possam usar medidas protetoras.
ATRIBUTOS E PRÁTICAS DEFENSIVAS
LEALDADE DRAMATÚRGICA
Capítulo VI - A Arte de Manipular a Impressão
ATRIBUTOS
- Lealdade Dramatúrgica
- Obrigação moral de manter os segredos da equipe
“no matter what”; de não dar seu próprio “show”
aproveitando-se da fachada da equipe; não usar seu
tempo de representação para denunciar sua equipe;
aceitar papéis menores; representar com
entusiasmo; revestir-se da sua própria
representação até o ponto necessário para impedir
de dar uma impressão vazia ou de soar falso.
Capítulo VI - A Arte de Manipular a Impressão
ATRIBUTOS
- Lealdade Dramatúrgica
- O maior problema é evitar que os atores
criem um “link” emocional com a platéia e
revele as consequências da impressão que lhe
está sendo dada. Para tanto, como técnicas:
deve-se criar uma elevada solidariedade
dentro da equipe; estabelecendo a platéia
como “time” adversário, apesar de cortês e
mudar o público periodicamente.
ATRIBUTOS E PRÁTICAS DEFENSIVAS
DISCIPLINA DRAMATÚRGICA
Capítulo VI - A Arte de Manipular a Impressão
ATRIBUTOS
- Disciplina Dramatúrgica
- O ator para ficar livre para enfrentar as
contingências da representação deve: manter o
distanciamento; não se deixar arrastar pelo seu
espetáculo; evitar “faux pas”; ter versatilidade e
rapidez de raciocínio; ter presença de espírito;
manter o autocontrole e autodomínio, suprimindo
seus sentimentos espontâneos, dominando voz e
expressões faciais e corporais.
ATRIBUTOS E PRÁTICAS DEFENSIVAS
CIRCUNSPECÇÃO DRAMATÚRGICA
Capítulo VI - A Arte de Manipular a Impressão
ATRIBUTOS
- Circunspecção Dramatúrgica
- Prever e planejar - determinar com
antecipação qual a melhor linha de ação;
- Cuidado e honestidade - sem exageros;
- Aproveitar as oportunidades de descontração
- Aproveitar a pouca probabilidade de ser
posto à prova, para apresentar fatos nus com
toda a alma, revestindo-o de toda dignidade;
Capítulo VI - A Arte de Manipular a Impressão
ATRIBUTOS
- Circunspecção Dramatúrgica
- Técnicas para dirigir as impressões:
1) Escolher membros leais e disciplinados para a
equipe;
2) Adquirir uma idéia clara sobre a extensão da
lealdade e disciplina em que pode repousar por
parte de seus membros como um todo;
3) Selecionar a espécie de platéia que cause o
mínimo de dificuldades;
Capítulo VI - A Arte de Manipular a Impressão
ATRIBUTOS
- Circunspecção Dramatúrgica
4) Limitar o tamanho da equipe e da platéia,
tanto quanto possível (pois há representações
que demandam numerosa platéia ou número
de atores) e do tempo da apresentação;
5) Afastar-se dos fatos - se a representação for
muito minuciosa, tem que ser apresentada
com muita segurança por quem domina a
realidade.
Capítulo VI - A Arte de Manipular a Impressão
ATRIBUTOS
- Circunspecção Dramatúrgica
6) Adaptar a representação às condições de
informações sob as quais deve ser apresentada e
levar em conta a informação que o público possuir a
seu respeito;
7) Levar em consideração o acesso da audiência a
fontes de informação exteriores à interação; e às
internas, ajustando a apresentação ao caráter dos
apoios e tarefas envolvidos;
Capítulo VI - A Arte de Manipular a Impressão
ATRIBUTOS
- Circunspecção Dramatúrgica
8) Tomar cuidado em situações nas quais
poderão ocorrer para o ator importantes
consequências como resultado de sua conduta;
9) Tomar cuidado com as interações frente a
frente (equipe x equipe), selecionando os
companheiros de equipe, preparando-se de
antemão.
A ARTE DE MANIPULAR A IMPRESSÃO
PRÁTICAS PROTETORAS
Capítulo VI - A Arte de Manipular a Impressão
PRÁTICAS PROTETORAS
- Tato com relação ao lugar - prática do controle do
acesso à região do fundo e à região da fachada =
(não expor os bastidores e não desmistificar o
cenário) - tossindo antes de entrar, p. ex.
- Tato com relação aos fatos - Discrição; desatenção
discreta; que variam conforme a cultura e a época -
indiferença civil p. ex.;
- Tato do auditório - etiqueta seguida pela platéia
Capítulo VI - A Arte de Manipular a Impressão
PRÁTICAS PROTETORAS
- Tato no trato com o ator - as linhas que
separam as equipes podem deslocar-se ligeira e
momentaneamente de modo que ator e platéia
são coniventes perante terceiros (inspeções e
auditorias); evitando-se situações embaraçosas
aos atores principiantes. Essa cumplicidade
deixa a interação posta a nu, mas logo que
possível é restituído o “status quo”.
A ARTE DE MANIPULAR A IMPRESSÃO
O TATO COM RELAÇÃO AO TATO
Capítulo VI - A Arte de Manipular a Impressão
O TATO COM RELAÇÃO AO TATO
- Se o público usar de tato em favor do ator,
este deve agir de modo a tornar possível a
execução desta ajuda, com especial disciplina
e circunspecção.
- O ator deve ser sensível às insinuações e
estar disposto a aceitá-las, pois é assim que a
platéia pode avisá-lo de que seu espetáculo é
inaceitável e deve modificá-lo rapidamente.
Capítulo VI - A Arte de Manipular a Impressão
O TATO COM RELAÇÃO AO TATO
- Se o ator tiver de não representar
devidamente os fatos, de algum modo, deve
fazer isso de acordo com a etiqueta adequada
às falsas representações; não deve colocar-se
numa posição da qual mesmo a desculpa mais
tola e o público mais amigo não possam livrá-
lo.
Capítulo VI - A Arte de Manipular a Impressão
O TATO COM RELAÇÃO AO TATO
- Os incidentes e acidentes de percurso
podem desnudar um ator solitário envolvido
numa opressiva preocupação com sua
produção; na sua aparência nua que não é
socializada, de quem está pessoalmente
empenhado em uma tarefa difícil e
traiçoeira. - folhas 215
Capítulo VI - A Arte de Manipular a Impressão
O TATO COM RELAÇÃO AO TATO
Por momentos, é possível que todos nos tornemos
para nós próprios a pior pessoa que podemos
imaginar que os outros sejam capazes de imaginar
que somos.E na medida em que o indivíduo mantém
diante dos outros um espetáculo no qual ele mesmo
não acredita, pode vir a experimentar uma forma
especial de alienação de si mesmo e uma forma
especial de cautela em relação aos outros. - fls.216
Capítulo VI - A Arte de Manipular a Impressão
O TATO COM RELAÇÃO AO TATO
“Eis alguns dos elementos dramatúrgicos da
situação humana: problemas de encenação em
comum; preocupação pela maneira como as
coisas são vistas; sentimentos de vergonha
justificados e injustificados; ambivalência
com relação a si mesmo e ao seu público.” -
folhas 217
FIM
Nathalia Chalub Prezotti
Teoria Sociológica
PPGSD - UFF
2014.1

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A Vida Social como Teatro

  • 1. A Representação do Eu na Vida Cotidiana Erving Goffman
  • 2. INTRODUÇÃO CAPÍTULO I CAPÍTULO VI - Representações - A Arte de Manipular a Impressão
  • 3. Capítulo I - Representações - Crença no Papel que o Indivíduo está Representando - Fachada - Realização Dramática - Idealização - Manutenção do Controle Expressivo - Representação Falsa - Mistificação - Realidade e Artifícios
  • 4. Capítulo VI - A Arte de Manipular a Impressão - Atributos e Práticas Defensivas 1-Lealdade Dramatúrgica 2-Disciplina Dramatúrgica 3-Circunspecção Dramatúrgica - Práticas Protetoras - O Tato com Relação ao Tato
  • 6. Introdução - A vida em sociedade é constituída por interações sociais, nas quais as comunicações são estabelecidas pelas expressões transmitidas e emitidas (efetivamente) pelos atores e público reciprocamente, sejam verdadeiras ou falsas. - É a partir daí que se definem os papéis sociais, nas mais variadas áreas da vida social.
  • 7. Introdução “A interação (i. e., interação face a face) pode ser definida, em linhas gerais, como a influência recíproca dos indivíduos sobre as ações uns dos outros, quando em presença física imediata. Uma interação pode ser definida como toda interação que ocorre em qualquer ocasião, quando, num conjunto de indivíduos, uns se encontram na presença imediata de outros.” (encontro) - fls 23.
  • 8. Introdução “Quando um indivíduo ou ator desempenha o mesmo movimento para o mesmo público em diferentes ocasiões há a probabilidade de surgir um relacionamento social. Definindo papel social como a promulgação de direitos e deveres ligados a uma determinada situação social, podemos dizer que um papel social envolverá um ou mais movimentos, e que cada um destes pode ser representado pelo ator numa série de oportunidades para o mesmo tipo de público ou para um público formado pelas mesmas pessoas.” - folhas 24.
  • 9. Introdução - O livro trata das expressões emitidas, de forma não-verbal e não-intencional, ainda que a comunicação tenha sido “arquitetada”; bem como do caráter moral das “projeções” (definição projetada da situação inicial e continuada) e de técnicas empregadas socialmente para que se mantenham essas projeções, sem rupturas definicionais, e suas possibilidades.
  • 10. Introdução - A informação a respeito do indivíduo define a situação, e é ou não confirmada pelos fatos decisivos. - Expressividade do indivíduo = passar impressão. Compreende: a expressão que transmite (ostensiva) e a que emite (involuntárias), e que ajudam o público a tirar suas conclusões a respeito do indivíduo.
  • 11. Introdução - O indivíduo atua para controlar a definição da situação que os outros venham a formular, tentando conduzí-la de acordo com seus interesses. - Assimetria fundamental no processo de comunicação = o indivíduo tem consciência do fluxo da comunicação transmitida, mas a platéia tem também o da comunicação emitida.
  • 12. Introdução -O observador leva vantagem sobre o ator, ao verificar a comunicação emitida, ainda que o indivíduo tente manipular seu comportamento involuntário, de modo que no jogo de informação, no ciclo de encobrimento/descobrimento, revelações falsas/redescobertas, a assimetria acaba sendo restabelecida.
  • 13. Introdução - Os “outros” projetam de maneira efetiva uma definição da situação mediante sua resposta e linha de ação, normalmente de forma “idealisticamente” harmoniosa. - Há uma divisão no trabalho definicional, onde cada um conduz a relação na área de sua maior experiência = modus vivendi interacional.
  • 14. Introdução - Fatos perturbadores ameaçam a interação e geram uma anomia, que rompe com o caráter moral das projeções. - Para evitar as rupturas definicionais os participantes empregam práticas preventivas e corretivas. - Práticas defensivas - individuais - Práticas protetoras ou “diplomacia”- coletiva
  • 16. Capítulo I - Representações “O livro se ocupa dos problemas dramatúrgicos do participante ao representar a atividade perante os outros. As questões que envolvem a montagem e a direção da peça são às vezes triviais, mas muito gerais. Parecem ocorrer em todo lugar da vida social, oferecendo uma dimensão definida para a análise sociológica formal.” - folhas 23
  • 17. Capítulo I - Representações - Representação - “toda atividade de um indivíduo que se passa num período caracterizado por sua presença contínua diante de um grupo particular de observadores e que tem sobre estes alguma influência.” - folhas 29 - É a atuação do indivíduo, solicitando da platéia que o levem a sério no seu papel, que colaborem e correspondam executando seus papéis como público
  • 18. REPRESENTAÇÕES CRENÇA NO PAPEL QUE INDIVÍDUO ESTÁ REPRESENTANDO
  • 19. Capítulo I - Representações Crença no Papel que o Indivíduo está Representando - O ator sincero acredita piamente no papel que desempenha. O ator cínico, por motivos vários, está a desempenhar um papel que sabe não ser verdadeiro (defesa, profissão, status, etc.). São os extremos de um contínuo que oscila num ciclo da descrença à crença e vice- versa, podendo haver um ponto de transição, de auto-ilusão.
  • 21. Capítulo I - Representações Fachada - Fachada Social - “parte do desempenho do indivíduo que funciona regularmente de forma geral e fixa com o fim de definir a situação para os que observam a representação”. “É, portanto, o equipamento expressivo de tipo padronizado intencional ou inconscientemente empregado pelo indivíduo durante a sua representação.” - folhas 29
  • 22. Capítulo I - Representação Fachada “A execução de uma prática apresenta, através de sua fachada, algumas exigências um tanto abstratas em relação à audiência, que provavelmente lhe são apresentadas durante a execução de outras práticas. Isto constitui um dos modos pelos quais uma representação é ‘socializada’, moldada e modificada para se ajustar à compreensão e às expectativas da sociedade em que é apresentada.”
  • 23. Capítulo I - Representações Fachada - Partes padronizadas da Fachada Social: 1) Cenário 2) Fachada Pessoal: se divide em dois estímulos: a) aparência b) maneira
  • 24. Capítulo I - Representações Fachada - Cenário - parte cênica do equipamento expressivo (normalmente fixo e pré-existente) no qual se desenrola a ação humana executada diante, dentro ou acima dele (consultório, clube, país) e somente em circunstâncias excepcionais acompanha os atores (funerais, p. ex.).
  • 25. Capítulo I - Representações Fachada - Fachada Pessoal - outros itens de equipamento expressivo que de modo mais íntimo identificamos com o próprio ato, e que esperamos que o sigam onde quer que vá; alguns de seus veículos de transmissão podem ser mais fixos e variar pouco dentro de certo espaço de tempo (raça) outros são mais transitórios e móveis (expressão facial), podendo variar numa representação. -folhas 31
  • 26. Capítulo I - Representações Fachada - Fachada Pessoal - formada por dois estímulos: aparência (revela a posição social do ator e seu estado ritual temporário) e maneira (informa sobre o papel de interação que o ator pretende desempenhar na situação que se aproxima). Espera- se uma compatibilidade confirmadora entre uma e outra. Respeitadas as diferenças congruentes entre ator e público (cada um no seu papel).
  • 27. Capítulo I - Representações Fachada - Espera-se também coerência entre ambiente, aparência e maneira = tipo ideal; de modo que as exceções é que atraem o atenção e os estudiosos. - Na relação entre suas várias partes (cenário e fachada pessoal) é importante salientar uma significativa característica da informação que transmite: seu caráter abstrato e sua generalidade.
  • 28. Capítulo I - Representações Fachada - Traduzindo: várias práticas (representações) diferentes podem usar a mesma fachada, por mais singulares e especializadas que sejam. - A tendência de apresentar uma grande quantidade de práticas diferentes partindo de um pequeno número de fachadas é consequência natural da organização social, facilitando a situação definicional dos envolvidos.
  • 29. Capítulo I - Representações Fachada - O observador é encorajado a realçar as semelhanças abstratas da fachada e assim coloca a situação numa ampla categoria em torno da qual lhe é fácil mobilizar sua experiência anterior, podendo se orientar numa grande variedade de situações, com o mínimo de informação. Pequeno vocabulário de fachada = grande variedade de situações.
  • 30. Capítulo I - Representações Fachada - Fachadas institucionalizadas = representação coletiva e um fato, por direito próprio. - Papel social estabelecido = fachada estabelecida. Ambos devem ser mantidos. - Papel novo e/ou não estabelecido = escolha entre fachadas já existentes; entre os equipamentos de sinais que possui. Acaba-se escolhendo o “mais”, mesmo que inadequado, por medo de errar.
  • 32. Capítulo I - Representações Realização Dramática “A atividade do indivíduo tem de tornar-se significativa para os outros, ele precisa mobilizá-la de modo tal que expresse, durante a interação, o que ele precisa transmitir e, às vezes, numa fração de segundo.” - Em algumas posições sociais a dramatização não apresenta problemas, pois os números essenciais são perfeitamente aptos a transmitir as qualidades e atributos pretendidos pelo ator. - folhas 36/37
  • 33. Capítulo I - Representações Realização Dramática Fl.38“Em muitos casos, contudo, a dramatização do trabalho de um indivíduo constitui um problema.” “O problema de dramatizar o próprio trabalho implica em mais do que simplesmente tornar visíveis os custos invisíveis.” “... se a pessoa incumbida dele quisesse dramatizar a natureza de seu papel deveria desviar considerável quantidade de energia para esse fim.”
  • 34. Capítulo I - Representações Realização Dramática - Os indivíduos se encontram muitas vezes em face do dilema: expressão x ação. Ou desempenham com talento suas aptidões profissionais ou “representam bem” que estão exercendo com talento suas aptidões. Por isso há quem delegue oficial e especificamente a função dramática a um especialista. - folhas 39
  • 35. Capítulo I - Representações Realização Dramática - Mudando a ótica para o grupo ou classe que apresentam uma dramatização vê-se que seus membros tendem a empenhar-se primordialmente em certas práticas, enfatizando menos as outras que executam, conforme a esfera social em que se apresentem. - representação coletiva - Grupos com hábitos aristocráticos x classe média - independe do status social - virtuoses, com técnicas
  • 37. Capítulo I - Representações Idealização - No processo social de representação (execução de práticas através de uma fachada para uma audiência) a idealização é um dos aspectos da socialização dessa representação, envolvendo ator, platéia e suas práticas reciprocamente - interação. É uma tendência que os atores têm a oferecer a seus observadores uma impressão que é idealizada de várias maneiras diferentes, acerca da situação.
  • 38. Capítulo I - Representações Idealização - A noção de que uma representação apresenta uma concepção idealizada da situação é muito comum. - Assim, quando o indivíduo se apresenta diante dos outros, seu desempenho tenderá a incorporar e exemplificar os valores oficialmente reconhecidos pela sociedade e até realmente mais do que o comportamento do indivíduo como um todo. - folhas 40/41
  • 39. Capítulo I - Representações Idealização “Na medida em que uma representação ressalta os valores oficiais comuns da sociedade em que se processa, podemos considerá-la, à maneira de Durkheim e Radcliffe-Brown, como uma cerimônia, um rejuvenescimento e reafirmação expressivos dos valores morais da comunidade.” - folhas 41
  • 40. Capítulo I - Representações Idealização - O ator cuida de dissimular ou desprezar as atividades, fatos e motivos incompatíveis com a versão idealizada de sua pessoa e de suas realizações, ou incute na platéia a crença de estar relacionado com ela de um modo mais ideal do que o que ocorre na realidade - folhas 51.
  • 41. Capítulo I - Representações Idealização - Fonte rica de dados sobre a representação de desempenhos idealizados é a literatura sobre mobilidade social: a mobilidade ascendente implica na representação de desempenhos adequados e os esforços para subir e para evitar descer exprimem- se em termos dos sacrifícios feitos para a manutenção da fachada; os símbolos de status são os mais importantes equipamentos de sinais de $$.
  • 42. Capítulo I - Representações Idealização - Representação de classe aristrocrática - costumes, ritos, crenças # símbolos do status que demonstram riqueza material - brâmanes. - Idealização Negativa - negros, mulheres, lavradores, imigrantes, mendigos, etc. - Impressões Ideais - dar a expressão a padrões ideais na representação implica em abandonar ou esconder ações que não sejam compatíveis c/ eles.
  • 43. Capítulo I - Representações Idealização - Consumo secreto - além de prazeres e poupanças secretas pode o ator ocultar: atividades incompatíveis com a noção da atividade que ele espera o público tenha a respeito de si (tabacarias, parlamento, compradores de empresas, RP, promoters) - local de trabalho e atividade oficial = escudo/concha.
  • 44. Capítulo I - Representações Idealização - Atividades ocultas - assim como o consumo secreto, o ator, na sua representação de um ideal, oculta erros que são corrigidos a tempo, mantendo a impressão de “infalibilidade” (médicos, juízes). - Produto final, acabado, polido - a apresentação oculta o pouco esforço demandado para completar o objeto ou as longas e cansativas horas de trabalho, conforme seja da conveniência do ator.
  • 45. Capítulo I - Representações Idealização - Discrepância entre aparência e realidade total: - trabalho sujo, legal ou ilegal (maltrato a animais); - renúncia à qualidade em prol de manter a aparência - ordem x maus tratos (polícia, asilos) = relação custo x benefício x ideais a serem sacrificados (dos menos visíveis);
  • 46. Capítulo I - Representações Idealização - retórica de treinamento - para manter a impressão de compatibilidade sagrada entre homem e atividade que exerce (“dom”, “vocação”) e valorizar sua posição no mercado (universidades, entidades de classe); implica não só o conhecimento, como a lavagem cerebral e atributos físicos e religiosos, processos seletivos (ainda que fictícios).
  • 47. Capítulo I - Representações Idealização - Os indivíduos frequentemente alimentam a impressão de que a prática regular que estão representando no momento é sua única prática ou, pelo menos, a mais essencial; e a platéia, por sua vez, admite, muitas vezes, que o personagem projetado diante dela é tudo que há no indivíduo que executa a representação. - link com a platéia - Prática protetora = segregação do auditório
  • 48. Capítulo I - Representações Idealização - “Os atores tendem a alimentar a impressão de que o atual desempenho de sua rotina e seu relacionamento com a platéia habitual têm caráter especial e único. A natureza rotineira da representação é escondida (o próprio ator não percebe até que ponto sua representação é realmente rotineira) e os aspectos espontâneos da situação são reforçados.” - folhas 52
  • 49. Capítulo I - Representações Idealização - Serviço Personalizado - há uma prática protetiva, a “anuência” tácita da platéia: “como atores no papel de clientes, com muito tato mantemos este efeito personalizante, tentando dar a impressão de que não ‘compramos’ o serviço e não pensaríamos em obtê-lo em outro lugar.” - folhas 53 -médicos, acolhimento de amigos… Gostamos de nos sentir especiais; ator e público se aproveitam
  • 51. Capítulo I - Representações Manutenção do Controle Expressivo - A platéia aceita os sinais que o ator transmite ou pode não compreendê-los, ou atribuir-lhes significado diverso, em especial aos gestos involuntários; por isso, o ator procura transmitir o máximo de sinais, para definir a situação pelo todo. - As discrepâncias podem comprometer em todo ou em parte a representação, causando uma ruptura da situação definicional.
  • 52. Capítulo I - Representações Manutenção do Controle Expressivo - Três grupos de gestos involuntários adquiriram condição simbólica coletiva em nossa sociedade, de tão catastróficos que podem ser: - Perda momentânea do controle muscular (pum); - Demonstrar preocupação demais ou de menos, com a interação (gaguejar, riso incontido); - A representação sofre por uma incorreta direção dramática (cenário não funciona ou é equivocado).
  • 53. Capítulo I - Representações Manutenção do Controle Expressivo - Grau de cuidado expressivo dos detalhes nas representações deve manter a coerência; mudam de grau de acordo com a necessidade as representações (relações filiais - China; cenas que envolvem personagens eminentes-realeza; funeral); - Cada protagonista terá de observar cuidadosamente a própria conduta, para não oferecer ao oponente um ponto vulnerável;
  • 54. Capítulo I - Representações Manutenção do Controle Expressivo “Como atores, somos frequentemente mais conscientes dos padrões que deveríamos ter aplicado à nossa atividade, mas não o fizemos, do que os padrões que irrefletidamente utilizamos. … como estudiosos, devemos estar preparados para examinar a dissonância…” - folhas 57
  • 55. Capítulo I - Representações Manutenção do Controle Expressivo “...a impressão de realidade criada por uma representação é uma coisa delicada, frágil, que pode ser quebrada por minúsculos contratempos” - folhas 58 - Coerência expressiva - põe em destaque uma decisiva discrepância entre nosso eu demasiadamente humano e nosso eu socializado, exigindo: uma burocratização do espírito - para inspirar confiança de executar uma representação perfeitamente homogênea a todo tempo; e disciplina social - que mantém a máscara de atitude mantida firme no lugar por dentro. Não podemos nos dar ao luxo dos nossos “altos e baixos”
  • 57. Capítulo I - Representações Representação Falsa “Quando indagamos se uma impressão adotada é verdadeira ou falsa, na verdade queremos saber se o ator está ou não autorizado a desempenhar o papel em questão, e não estamos interessados primordialmente na representação real em si mesma.” - folhas 60 - Quanto mais competente o ator, maior a ameça de sermos enganados e de enfraquecer em nosso espírito a ligação moral entre a autorização legítima para representar um papel e a capacidade e representá-lo. - folhas 61.
  • 58. Capítulo I - Representações Representação Falsa - A definição social de personificação não é algo muito coerente - obedece a um grau de relevância quanto ao que é falso (um defeito, uma condição social, etc.), podendo até haver uma simpatia em relação ao ator que personifica determinado personagem, de acordo com seus motivos (nobres), intenções e condições pessoais (sexo, idade); e variações no tempo, espaço e contexto.
  • 59. Capítulo I - Representações Representação Falsa “Quanto maior a quantidade de assuntos e de partes ativas que caem no domínio do papel ou do relacionamento, maior será a probabilidade, parece, de existirem pontos de segredos.” “E uma falsa impressão mantida por um indivíduo em qualquer de suas práticas pode ser uma ameça ao relacionamento ou papel inteiro do qual a prática é apenas uma parte.” - folhas 65
  • 60. Capítulo I - Representações Representação Falsa “A consideração sociológica decisiva, pelo menos para este trabalho, é simplesmente que as impressões alimentadas pelas representações cotidianas estão sujeitas a ruptura. Desejaremos saber que espécie de impressão de realidade pode destroçar a impressão alimentada de realidade, e que realidade pode realmente ser deixada a outros estudiosos.” - folhas 66
  • 62. Capítulo I - Representações Mistificação - Percepção = forma de contato e participação - Controle sobre o que é percebido = controle sobre o contato feito - Limitação e a regulação do que é mostrado = limitação e regulação do contato - Fracasso na regulação da informação percebida pela platéia = ruptura da situação definicional - Fracasso na regulação do contato = contaminação ritual do ator. - folhas 67
  • 64. Capítulo I - Representações Realidade e Artifícios - De modo geral, há dois modelos de bom senso: o da representação falsa e o da verdadeira, entendendo-se a primeira como algo completamente ensaiado e a segunda como algo completamente espontâneo; mas, no dia a dia, o ator, sincero ou não, bom ou não, representa e convence sua platéia, com base na troca de informações recíprocas (“deixas” e “pontas”).
  • 65. Capítulo I - Representações Realidade e Artifícios “Uma condição, uma posição ou um lugar social não são coisas materiais que são possuídas e, em seguida, exibidas; são um modelo de conduta apropriada, coerente, adequada e bem articulada. Representando com facilidade ou falta de jeito, com consciência ou não, com malícia ou boa-fé, nem por isso deixa de ser algo que deva ser encenado e retratado e que precise ser realizado.”
  • 66. CAPÍTULO VI A ARTE DE MANIPULAR A IMPRESSÃO
  • 67. Capítulo VI - A Arte de Manipular a Impressão O ator deve ter atributos necessários para o trabalho de representar, com sucesso, um personagem e esses atributos se expressam em técnicas de manipulação da impressão para evitar as rupturas da representação, como, p. ex. a responsabilidade com a qual deve evitar “gestos involuntários” e “intromissões inoportunas”, chamados de “faux pas” (gafe ou rata, e mancada).
  • 68. Capítulo VI - A Arte de Manipular a Impressão - Há casos em que a ruptura é presumivelmente estratégica e o “faux pas” é intencional, para criar uma nova cena, que implique numa súbita redistribuição e troca de posições dos membros da equipe anterior em duas novas equipes. - “fazer uma cena” é um risco assumido, para desvirtuar-se o foco de outra cena.
  • 69. Capítulo VI - A Arte de Manipular a Impressão - Quando ocorre um desses incidentes, a realidade mantida pela representação ficará enfraquecida, e os participantes podem se descontrolar, mostrando sinais de nervosismo que, na maioria dos casos, são um aspecto do indivíduo que representa um personagem e não um aspecto do personagem que ele projeta, deixando transparecer uma imagem do homem que se acha por trás da máscara.
  • 70. A ARTE DE MANIPULAR A IMPRESSÃO ATRIBUTOS E PRÁTICAS DEFENSIVAS
  • 71. Capítulo VI - A Arte de Manipular a Impressão Atributos e Práticas Defensivas - A fim de evitar que aconteçam incidentes e o embaraço consequente, será necessário que todos os participantes da interação, bem como aqueles que não participam, possuam certos atributos e os expressem em práticas para salvar o espetáculo: as medidas defensivas, as medidas protetoras e medidas usadas pelos atores para que a platéia e estranhos possam usar medidas protetoras.
  • 72. ATRIBUTOS E PRÁTICAS DEFENSIVAS LEALDADE DRAMATÚRGICA
  • 73. Capítulo VI - A Arte de Manipular a Impressão ATRIBUTOS - Lealdade Dramatúrgica - Obrigação moral de manter os segredos da equipe “no matter what”; de não dar seu próprio “show” aproveitando-se da fachada da equipe; não usar seu tempo de representação para denunciar sua equipe; aceitar papéis menores; representar com entusiasmo; revestir-se da sua própria representação até o ponto necessário para impedir de dar uma impressão vazia ou de soar falso.
  • 74. Capítulo VI - A Arte de Manipular a Impressão ATRIBUTOS - Lealdade Dramatúrgica - O maior problema é evitar que os atores criem um “link” emocional com a platéia e revele as consequências da impressão que lhe está sendo dada. Para tanto, como técnicas: deve-se criar uma elevada solidariedade dentro da equipe; estabelecendo a platéia como “time” adversário, apesar de cortês e mudar o público periodicamente.
  • 75. ATRIBUTOS E PRÁTICAS DEFENSIVAS DISCIPLINA DRAMATÚRGICA
  • 76. Capítulo VI - A Arte de Manipular a Impressão ATRIBUTOS - Disciplina Dramatúrgica - O ator para ficar livre para enfrentar as contingências da representação deve: manter o distanciamento; não se deixar arrastar pelo seu espetáculo; evitar “faux pas”; ter versatilidade e rapidez de raciocínio; ter presença de espírito; manter o autocontrole e autodomínio, suprimindo seus sentimentos espontâneos, dominando voz e expressões faciais e corporais.
  • 77. ATRIBUTOS E PRÁTICAS DEFENSIVAS CIRCUNSPECÇÃO DRAMATÚRGICA
  • 78. Capítulo VI - A Arte de Manipular a Impressão ATRIBUTOS - Circunspecção Dramatúrgica - Prever e planejar - determinar com antecipação qual a melhor linha de ação; - Cuidado e honestidade - sem exageros; - Aproveitar as oportunidades de descontração - Aproveitar a pouca probabilidade de ser posto à prova, para apresentar fatos nus com toda a alma, revestindo-o de toda dignidade;
  • 79. Capítulo VI - A Arte de Manipular a Impressão ATRIBUTOS - Circunspecção Dramatúrgica - Técnicas para dirigir as impressões: 1) Escolher membros leais e disciplinados para a equipe; 2) Adquirir uma idéia clara sobre a extensão da lealdade e disciplina em que pode repousar por parte de seus membros como um todo; 3) Selecionar a espécie de platéia que cause o mínimo de dificuldades;
  • 80. Capítulo VI - A Arte de Manipular a Impressão ATRIBUTOS - Circunspecção Dramatúrgica 4) Limitar o tamanho da equipe e da platéia, tanto quanto possível (pois há representações que demandam numerosa platéia ou número de atores) e do tempo da apresentação; 5) Afastar-se dos fatos - se a representação for muito minuciosa, tem que ser apresentada com muita segurança por quem domina a realidade.
  • 81. Capítulo VI - A Arte de Manipular a Impressão ATRIBUTOS - Circunspecção Dramatúrgica 6) Adaptar a representação às condições de informações sob as quais deve ser apresentada e levar em conta a informação que o público possuir a seu respeito; 7) Levar em consideração o acesso da audiência a fontes de informação exteriores à interação; e às internas, ajustando a apresentação ao caráter dos apoios e tarefas envolvidos;
  • 82. Capítulo VI - A Arte de Manipular a Impressão ATRIBUTOS - Circunspecção Dramatúrgica 8) Tomar cuidado em situações nas quais poderão ocorrer para o ator importantes consequências como resultado de sua conduta; 9) Tomar cuidado com as interações frente a frente (equipe x equipe), selecionando os companheiros de equipe, preparando-se de antemão.
  • 83. A ARTE DE MANIPULAR A IMPRESSÃO PRÁTICAS PROTETORAS
  • 84. Capítulo VI - A Arte de Manipular a Impressão PRÁTICAS PROTETORAS - Tato com relação ao lugar - prática do controle do acesso à região do fundo e à região da fachada = (não expor os bastidores e não desmistificar o cenário) - tossindo antes de entrar, p. ex. - Tato com relação aos fatos - Discrição; desatenção discreta; que variam conforme a cultura e a época - indiferença civil p. ex.; - Tato do auditório - etiqueta seguida pela platéia
  • 85. Capítulo VI - A Arte de Manipular a Impressão PRÁTICAS PROTETORAS - Tato no trato com o ator - as linhas que separam as equipes podem deslocar-se ligeira e momentaneamente de modo que ator e platéia são coniventes perante terceiros (inspeções e auditorias); evitando-se situações embaraçosas aos atores principiantes. Essa cumplicidade deixa a interação posta a nu, mas logo que possível é restituído o “status quo”.
  • 86. A ARTE DE MANIPULAR A IMPRESSÃO O TATO COM RELAÇÃO AO TATO
  • 87. Capítulo VI - A Arte de Manipular a Impressão O TATO COM RELAÇÃO AO TATO - Se o público usar de tato em favor do ator, este deve agir de modo a tornar possível a execução desta ajuda, com especial disciplina e circunspecção. - O ator deve ser sensível às insinuações e estar disposto a aceitá-las, pois é assim que a platéia pode avisá-lo de que seu espetáculo é inaceitável e deve modificá-lo rapidamente.
  • 88. Capítulo VI - A Arte de Manipular a Impressão O TATO COM RELAÇÃO AO TATO - Se o ator tiver de não representar devidamente os fatos, de algum modo, deve fazer isso de acordo com a etiqueta adequada às falsas representações; não deve colocar-se numa posição da qual mesmo a desculpa mais tola e o público mais amigo não possam livrá- lo.
  • 89. Capítulo VI - A Arte de Manipular a Impressão O TATO COM RELAÇÃO AO TATO - Os incidentes e acidentes de percurso podem desnudar um ator solitário envolvido numa opressiva preocupação com sua produção; na sua aparência nua que não é socializada, de quem está pessoalmente empenhado em uma tarefa difícil e traiçoeira. - folhas 215
  • 90. Capítulo VI - A Arte de Manipular a Impressão O TATO COM RELAÇÃO AO TATO Por momentos, é possível que todos nos tornemos para nós próprios a pior pessoa que podemos imaginar que os outros sejam capazes de imaginar que somos.E na medida em que o indivíduo mantém diante dos outros um espetáculo no qual ele mesmo não acredita, pode vir a experimentar uma forma especial de alienação de si mesmo e uma forma especial de cautela em relação aos outros. - fls.216
  • 91. Capítulo VI - A Arte de Manipular a Impressão O TATO COM RELAÇÃO AO TATO “Eis alguns dos elementos dramatúrgicos da situação humana: problemas de encenação em comum; preocupação pela maneira como as coisas são vistas; sentimentos de vergonha justificados e injustificados; ambivalência com relação a si mesmo e ao seu público.” - folhas 217
  • 92. FIM Nathalia Chalub Prezotti Teoria Sociológica PPGSD - UFF 2014.1

Notas do Editor

  1. - Só no mundo da interação social os “objetos” a respeito dos quais os “outros” fazem inferências facilitarão ou impedirão, intencionalmente, este processo inferencial. - folhas 13
  2. - O mundo, na verdade, é uma reunião - folhas 41 (idealização). A vida social é um encontro.
  3. - Movimento = prática = padrão de ação preestabelecido que se desenvolve durante a representação, e que pode ser apresentado ou executado em outras ocasiões.
  4. - Moral = caráter promissório da atividade do indivíduo e a retribuição do público, com a confiança. Diz respeito ao que cada participante deve esperar do outro de acordo com as imagens projetadas na situação definicional (indivíduo - grupo e vice-versa) # valores morais
  5. - Informação = conduta e aparência - Fatos decisivos = confissão, atos involuntários -Primeiras impressões definem essas situações e por isso são importantes no contexto da vida social e mais difíceis de serem alteradas.
  6. - De acordo com a tradição de seu grupo, ou posição social, ou de um papel pessoal/profissional - Informação falsa na expressão transmitida = fraude -Informação falsa na expressão emitida = dissimulação
  7. - O público observa o observador não observado. -“Tomando um participante particular e seu desempenho como um ponto de referência básico, podemos chamar aqueles que contribuem com os outros desempenhos de platéia, observadores ou co-participantes.” - fls. 23/24
  8. - Um consenso operacional de conteúdo é estabelecido para cada tipo de “cenário”, embora a forma seja a mesma - um acordo real quanto às pretensões de qual pessoa, referentes a quais questões, serão acatadas, até quando, e quanto a se evitar um conflito aberto de definições da situação.
  9. - Tato na maneira de receber as impressões passadas pelo indivíduo; brincadeiras, jogos, anedotas, fantasias sobre rupturas ou “quase” rupturas e suas consequências ou como foram contornadas = práticas protetoras que dosam as pretensões e expectativas projetadas, servem de recursos catárticos para as ansiedades e como sanções.
  10. - Começa o estudo das representações examinando a própria crença do indivíduo na impressão de realidade que tenta dar àqueles entre os quais se encontra.
  11. - Uma das características gerais da representação: “a atividade orientada para tarefas de trabalho tende a converter-se em atividade orientada para a comunicação” - folhas 65.
  12. - Pessoa = máscara, máscara que é o nosso mais verdadeiro eu, aquilo que gostaríamos de ser; papel que o indivíduo representa; papel que nos esforçamos por chegar a viver: “É nesses papéis que nos conhecemos uns aos outros e é nesses papéis que nos conhecemos a nós mesmos.”
  13. Desempenho - toda atividade de um determinado participante, em dada ocasião, que sirva para influenciar, de algum modo, qualquer um dos outros participantes. Tomando um participante em particular e seu desempenho como um ponto de referência básico, podemos chamar aqueles que contribuem com os outros desempenhos de platéia, observadores ou co-participantes. - folhas 23/24.
  14. - Folhas 40 - Prática = movimento; fachada = cenário + fachada pessoal; representação = desempenho de um papel, espetáculo em benefício de outros.
  15. - Excepcionalmente podem se contradizer - a aparência e a maneira (p. ex., Príncipe Harry)
  16. - Partes da fachada pessoal = veículos de transmissão de sinais - distintivos da função ou categoria, vestuário, sexo, idade, raça, altura, aparência, atitude, linguagem, expressão facial e corporal, etc.
  17. - Estado ritual temporário - atividade social formal ou recreativa, p. ex.; uma nova fase no ciclo da vida ou das estações - Maneira - arrogante, humilde
  18. - Por mais especializada e singular que seja uma prática, sua fachada social, com algumas exceções, tenderá a reivindicar fatos que podem ser igualmente reivindicados e defendidos por outras práticas algo diferentes. - folhas 32.
  19. Prática - padrão de ação preestabelecido que se desenvolve durante a representação, e que pode ser apresentado ou executado em outras ocasiões = movimento. - folhas 24
  20. - Outra característica geral da representação: “a fachada atrás da qual a prática é apresentada servirá para outras práticas um pouco diferentes e, assim talvez não seja perfeitamente ajustada a qualquer delas em particular” - folhas 65.
  21. - São nos papéis novos e/ou na escolha das fachadas que as dificuldades se apresentam, devido ao receio de inadequação e consequentes rupturas na situação definicional.
  22. - Mais uma característica geral da representação: “o autocontrole exerce-se de modo a manter um consenso atuante”. - folhas 65.
  23. - Atividades que ninguém vê, portanto, não pensam nelas e não as valorizam, mas são fundamentais e dispendiosas.
  24. - Advogado na Justiça x advogados em casa ou como convidado numa festa. - Aristocracia aqui é uma categoria de artistas, que fazem da sua atuação rigorosa, espetáculos; não necessariamente uma classe social.
  25. - É característica geral da representação: “uma impressão idealizada é oferecida acentuando-se certos fatos e ocultando-se outros”. - folhas 65
  26. “A prática leva à perfeição” - “Não basta ser, tem que parecer ser”
  27. “Além disso, tanto quanto a tendência expressiva das representações venha a ser aceita como realidade, aquela que é no momento aceita como tal terá algumas das características de uma celebração”. Deve-se estar onde a realidade está acontecendo. “O mundo, na verdade, é uma reunião.” - folhas 41.
  28. - Uma vez obtido o equipamento conveniente de sinais e adquirida a familiaridade na sua manipulação, este equipamento pode ser usado para embelezar e iluminar com estilo social favorável as representações diárias do indivíduo.- folhas 41
  29. - Farmacêuticos, eclesiásticos, médicos, diretores de empresa - Escândalos que denunciam as fraudes - encenação: TJ/ES
  30. - O indivíduo tem tantas individualidades sociais quantos são os grupos que frequenta e lhe interessam.
  31. - Ponto de transição entre a sinceridade e o cinismo do ator - o ponto de auto-ilusão que o autor menciona às folhas 28(?) = “Verificamos que o indivíduo pode tentar induzir o auditório a julgá-lo e à situação de um modo particular, procurando este julgamento como um fim em si mesmo e, contudo, pode não acreditar completamente que mereça a avaliação de sua personalidade que almeja ou que a impressão de realidade por ele alimentada seja válida.
  32. - pseudo-gemeinschaft = pseudo-comunidade/comunhão
  33. - Sinédoque - metonímia na qual se exprime uma parte por um todo ou um todo por uma parte, o singular pelo plural, o autor pela obra, a capital pelo país, etc.
  34. - Música conveniente ao ritual - Revisão de cartas oficiais
  35. - Mais uma característica geral da representação: “o ator mantém a coerência expressiva tomando mais cuidado em prevenir-se contra os mínimos desacordos do que o público poderia imaginar levando em conta o propósito manifesto da interação”. - folhas 65
  36. “Como diz Santayana, o processo de socialização não apenas transfigura, mas também fixa: ‘Mas, quer a fisionomia que adotamos seja alegre ou triste, ao tomá-la e acentuá-la definimos nosso temperamento supremo predominante. Daí em diante, enquanto continuarmos sob o feitiço deste autoconhecimento, não viveremos, apenas, mas atuaremos;...” - folhas 58.
  37. - Ex-condenados redimidos, moças “defloradas”; médicos; “mentiras inocentes”; “charlatanices”, “hábitos” - Falsas impressões passadas por ambiguidade, omissões, insinuações, que as técnicas de comunicação permitem também influenciam no contexto do que é tido como uma “falsa representação” ou personificação, influenciando leis de responsabilização civil e criminal e códigos de ética..
  38. - Essas características gerais da representação, já mencionadas, agem como coações da interação, burocratizando o espírito, de modo que a representação de uma atividade diferirá da própria atividade e por conseguinte inevitavelmente a representará falsamente. - folhas 66
  39. - “Para muitos acontecimentos sociológicos pode nem mesmo ser necessário decidir qual a mais real, se a impressão criada ou a que o ator tenta impedir que o público perceba”; “... Por causa destas contigências dramáticas compartilhadas podemos estudar com proveito as representações completamente falsas para aprender alguma coisa a respeito das que são inteiramente honestas.” - folhas 66/67.
  40. - As restrições ao contato e a manutenção da distância social fornecem um meio pelo qual o temor respeitoso pode ser gerado e mantido na platéia; que se mantém em estado de mistificação com relação ao ator; com reverente temor pela sagrada integridade atribuída ao ator; como proteção ou ameaça que uma inspeção apurada destruiria em relação à impressão escolhida pelo autor e cuja revelação o envergonharia - mantém sua autoridade
  41. - Aquelas informações trocadas que estabelecem a situação definicional; a assimetria entre ator e público
  42. - folhas 74
  43. - Gafe - quando o ator destrói a imagem de sua própria equipe - Mancada - quando o ator destrói a imagem de sua personalidade projetada pela outra equipe.
  44. - Debate político; julgamentos criminais; lavar a roupa suja em público; quando alguém “rouba a cena”; quando se “tira proveito da situação”, por saber da vulnerabilidade alheia (exigindo algo em troca, inovando a cena) ou criando um link para cooptar a platéia a se tornar parte integrante da sua equipe
  45. - Incidentes - formas através das quais se dão rupturas da representação (gestos involuntários, intromissões inoportunas, “faux pas” e cenas)
  46. - Atributos dos atores - lealdade, disciplina e circunspecção - Medidas defensivas - usadas pelos atores para salvar seu próprio espetáculo - Medidas protetoras - usadas pela platéia e pelos estranhos para ajudar os atores a salvar seu espetáculo
  47. - Crianças, empregados x aparadores
  48. - Um por todos, todos por um! - Ética dos “fora da lei” - Gerentes
  49. - Cara de paisagem - a resposta emocional verdadeira deve ser dissimulada - Trotes, iniciações - são testes para a disciplina do ator que, se se sair bem, é acolhido pela equipe e adquire autoconfiança
  50. - “Em outras palavras, no interesse da equipe deve-se exigir dos atores que sejam prudentes e circunspectos ao representar o espetáculo, preparando-se antecipadamente para prováveis contingências e explorando as oportunidades restantes.” - folhas 200 - Instalações da Marinha em Ilhas do Pacífico
  51. - Professores, enfermeiras, solidariedade conjugal, círculos protetores
  52. - Exército; - Quando os indivíduos são peças do cenário (séquitos); - Quanto mais curta for a apresentação, mais chances de uma “falsa” apresentação ser mantida com êxito (voz telefônica, polidez inglesa, visita para um lanche) - Profissionais com especialidades específicas sobre as quais têm domínio e só um erro crasso será capaz de destruir a impressão criada.
  53. - Prostitutas mais “maduras” - Quando a platéia conhece o ator, menor probabilidade das contigências alterarem o modo de encarar o ator; em contrapartida, a falta de informação torna toda informação colhida durante a interação decisiva, exigindo representações cuidadosas.
  54. - Entrevista de trabalho - Estabelecer uma agenda completa antes do acontecimento; criar e seguir um protocolo (quem entra primeiro, quem senta aonde…); ensaiar toda a prática; esboçar de antemão para a platéia a linha da resposta que deve tomar com relação à representação (como numa missa)
  55. - Há uma tendência discreta do público e dos estranhos de agirem de forma protetora, e ajudarem os atores a defenderem seu próprio espetáculo e depois de admitidos na representação, em manter a discrição (simulando atenção, evitando interrupções, fingindo não perceber uma gafe ou aceitando uma desculpa qualquer como justificativa) ou mesmo em colaborar para achar uma “saída” de uma situação de ruptura.
  56. - No tato do auditório ou no tato com o ator, as platéias podem simplesmente pretender agradar o ator, ou podem querer tirar proveito da situação, visando algo em troca (prostitutas), podendo, por vezes, se tornarem mais complicados do que a representação para a qual são uma resposta.
  57. - Conversas próximas a estranhos - não se fala nada comprometedor, mas se fala de fatos semiconfidenciais como retribuição de confiança. - O famoso “manda dizer que não estou”.
  58. - Chapéu x peruca; ironia