O documento discute a importância das relações afetivas e do cuidado na construção de laços sociais. Aborda temas como autoconhecimento, aceitação do outro, comunicação, convivência e a necessidade de um "olhar do coração" para revitalizar as relações interpessoais. Aponta sintomas de uma crise civilizacional marcada pelo descuido com os mais vulneráveis e destaca a ternura e o cuidado como essenciais para superar essa crise.
9. Relações Afetivas
Jean-Yves Leloup
propõe que nossa
atenção para com o
outro contemple um
“olhar do coração”
que o revivifique e o
ajude a sair
engrandecido desse
encontro.
10. Relações Afetivas
Através do “olhar
que revivifica”
incorporamos ao
nosso modo de ser
diferentes maneiras
de pensar, de sentir
e de agir .
11. Relações Afetivas
Através de seus relacionamentos o homem
se revitaliza, cresce, aprende, troca, ama e
se reconhece como ser humano.
14. “A vida consiste de relacionamentos que só têm
verdadeiro significado se contemplam um processo
de auto-revelação. Dessa forma, é importante
reconhecer a si próprio no relacionamento com o
outro. Depois disso o relacionamento se torna um
movimento
no
qual
você
se
descobre
gradativamente e, essa descoberta representa o
passo inicial de sua transformação”.
(Krishnamurti)
15. “Se olharmos para nossos relacionamentos
atuais, veremos que eles se constituem num
processo de formação de resistências de uns
contra os outros, num muro por cima do qual
olhamos o outro, mas nos conservamos atrás
dele, quer seja um muro psicológico, material,
econômico ou nacional.”
16. O que nos separa dos
outros é o anteparo de
proteção que criamos
ao nosso redor, para
evitar o sofrimento, o que
nos conduz a um
isolacionismo cujo
resultado
experimentamos todos
os dias em nossa
sociedade.
19. COMUNICAÇÃO AFETIVA
Ao longo da vida
aprendemos pouco
sobre como comunicar
ao outro o que está
acontecendo conosco;
pelo contrário, somos
estimulados a tentar
esconder nossos
sentimentos em relação
a quase tudo o que nos
acontece.
20. COMUNICAÇÃO AFETIVA
Nos tornamos dissimulados.
Falamos mas não comunicamos o
que estamos sentindo, pois não
corresponde à nossa verdade
interna.
21. COMUNICAÇÃO AFETIVA
Vivemos num círculo vicioso de
comunicações subliminares que nos
expõem a situações desfavoráveis para
a criação de vínculos que promovam o
comprometimento mútuo.
23. CONVIVÊNCIA
É um acontecimento básico e social,
repousa em múltiplos conhecimentos
que devemos adquirir à medida que
nos desenvolvemos como seres
humanos, pois em diferentes tempos
e culturas o homem sempre se
organizou para viver junto.
24. CONVIVÊNCIA
Envolve dois ou mais indivíduos que
desejam (ou precisam) viver em
comum, com familiaridade,
construindo intimidade.
26. Há um descuido e um descaso
manifesto pelo destino dos pobres
e marginalizados da humanidade,
flagelados pela fome crônica, mal
sobrevivendo da tribulação de
doenças,outrora
erradicadas
e
atualmente
retornando
com
redobrada virulência
27. Há um descuido e um descaso imenso pela sorte
dos desempregados e aposentados, sobretudo
dos milhões de excluídos do processo de
produção, tidos como descartáveis e zeros
econômicos. Esses nem sequer ingressam no
exército de reserva do capital. Perderam o
privilégio de serem explorados a preço de um
salário mínimo e de alguma seguridade social.
28. Há um descuido e um
abandono crescente da
sociabilidade
nas
cidades. A maioria dos
habitantes sentem-se
desenraizados
culturalmente
e
alienados socialmente.
Predomina a sociedade
do
espetáculo,
do
simulacro
e
do
entretenimento.
29. Há o descuido e descaso pela dimensão
espiritual do ser humano, pelo espírito de
gentileza que cultiva a lógica do coração
e do enternecimento por tudo o que
existe e vive.
30. Há um descuido e um descaso na salvaguarda
de nossa casa comum, o planeta Terra. Solos
são envenenados, ares são contaminados,
águas são poluídas, florestas são dizimadas,
espécies de seres vivos são exterminadas,
pondo em risco a continuidade do experimento
da espécie homo sapiens e demens.
32. A ternura vital é sinônimo de cuidado
essencial. A ternura é o afeto que
devotamos às pessoas e o cuidado que
aplicamos às situações existenciais.
33. É um conhecimento
que vai além da
razão, pois mostra-se
como inteligência
que intui, vê fundo e
estabelece
comunhão.
34. A ternura é o cuidado sem obsessão:
inclui também o trabalho, não como
mera produção utilitária, mas como
obra que expressa a criatividade e a
auto-realização da pessoa.
35. Ela não é efeminação e renúncia
de rigor no conhecimento.
É um afeto que, à sua maneira,
também conhece.
36. Na verdade só conhecemos bem
quando nutrimos afeto e nos sentimos
envolvidos com aquilo que queremos
conhecer.
37. A carícia constitui uma das
expressões máximas do
cuidado. A carícia é
essencial
quando
se
transforma numa atitude,
num modo de ser que
qualifica a pessoa em sua
totalidade, na psique, no
pensamento, na vontade,
na
interioridade,
nas
relações que estabelece.
38. O órgão da carícia é, fundamentalmente, a mão: a
mão que toca, a mão que afaga, a mão que
estabelece relação, a mão que acalenta, a mão
que traz quietude.
Mas a mão não é simplesmente mão. É a pessoa
humana que através da mão e na mão revela um
modo-de-ser-carinhoso.
39. A carícia toca o profundo do ser humano, lá
onde se situa seu centro pessoal. Para que a
carícia
seja
verdadeiramente
essencial
precisamos afagar o eu profundo e não apenas
o ego superficial da consciência.
40. Como a ternura, a carícia
exige
total
altruísmo,
respeito
pelo
outro
e
renúncia a qualquer outra
intenção que não seja a da
experiência de querer bem
e de amar.
O afeto não existe sem a carícia, a ternura e o
cuidado. Assim como a estrela precisa de aura
para brilhar, assim o afeto precisa da carícia
para sobreviver. É a qualidade da carícia que
impede o afeto de ser mentiroso, falso ou dúbio.
41. Hoje, na crise do projeto
humano, sentimos a falta
clamorosa de cuidado em toda
a parte. Suas ressonâncias
negativas se mostram pela má
qualidade
de
vida,
pela
penalização
da
maioria
empobrecida da humanidade,
pela degradação ecológica e
pela exaltação exarcebada da
violência
42. Não busquemos o caminho de cura fora
do ser humano. O ethos está no próprio
ser humano, entendido em sua plenitude
que inclui o infinito. Ele precisa voltar-se
sobre si mesmo e redescobrir sua
essência que se encontra no cuidado.
43. O diálogo é este encontro dos homens, mediatizados pelo
mundo, para pronunciá-lo, não se esgotando, portanto, na
relação eu-tu. Esta é a razão por que não é possível o
diálogo entre os que querem a pronúncia do mundo e os
que não a querem; entre os que negam aos demais o
direito de dizer a palavra e os que se acham negados
deste direito. É preciso primeiro que, os que assim
encontram negados no direito primordial de dizer a
palavra, reconquistem esse direito, proibindo que este
assalto desumanizante continue. Se é dizendo a palavra
com que, “pronunciando” o mundo, os homens o
transformam, o diálogo se impõe como caminho pelo qual
os homens ganham significação enquanto homens. Por
isto, o diálogo é uma exigência existencial.
Paulo Freire