Este documento descreve a abordagem empírico-experimental das teorias da comunicação. Esta abordagem estudou a eficácia persuasiva dos meios de comunicação em situações de campanha, considerando factores como a credibilidade da fonte e a integralidade das argumentações. Verificou-se que as pessoas resistem à persuasão se discordarem do conteúdo ou não estiverem interessadas, derrubando a ideia dos meios como manipuladores onipotentes.
2. A ABORDAGEM
EMPÍRICO-EXPERIMENTAL
A abordagem experimental, paralelamente à abordagem
empírica de campo, conduz ao abandono da teoria
hipodérmica. Ou seja as aquisições de uma proposta
teórica estão ligadas às da outra.
Ambas se desenvolveram após os anos 40.
Contudo na primeira abordagem a comunicação é vista
como “toda poderosa”.
3. Esta nova corrente significa a revisão do processo
comunicativo entendido como uma relação mecanicista e
imediata entre estímulo e resposta.
A abordagem deixa de ser global, incidindo sobre todos os
meios de comunicação, e passa a apontar para o estudo da
sua eficácia persuasiva óptima e para a explicação do
insucesso das tentativas de persuasão.
5. COMPREENSÃO DOS LIMITES
Na altura desenvolvia-se o modelo de two-steps, e
começavam a ser feitos testes para determinar os
limites de capacidade de persuasão da
comunicação de massas.
Foi surpresa o facto de as populações não
obedecerem de modo mecanicista às sugestões
veiculadas pelos órgãos de comunicação como
previra a teoria das balas mágicas: “as pessoas
decidiam se deviam ou não escutar, e quando
escutavam a comunicação podia não provocar
qualquer efeito ou efeitos opostos ao previsto”.
6. PONTOS DE ANÁLISE
Hovland analisou até que ponto a credibilidade
de uma fonte poderá influenciar as mudanças de
opinião.
Os investigadores debruçaram-se sobre o
problema de saber se o facto de um argumento
“pró” ser colocado antes de um argumento “anti”
o torna mais eficaz.
Muitos foram os estudos, e nada ficou
determinado.
7. Na tentativa de perceber o insucesso e em que
condições uma podia ser persuasiva…
Foi surpresa o facto de as populações não
obedecerem de forma mecânica e passiva às
sugestões veiculadas pelos órgãos de
comunicação como previa a TH:
“as pessoas decidiam por si se deviam ou não escutar. E mesmo
quando escutavam, a comunicação podia não provocar
qualquer efeito ou efeitos opostos ao previsto (…) Os
investigadores eram obrigados a (…) compreenderem
os indivíduos e o contexto da audiência”.
Raymond Bauer – “Audiência Obstinada”
8. Verificou-se que as pessoas mais instruídas são mais
passíveis de ser convencidas se a mensagem incluir os
dois lados de uma questão. No caso das classes mais
baixas, a mensagem é mais eficaz se incluir apenas um
dos argumentos.
9. IDENTIFICAÇÃO
Os estudos detectaram o mecanismo da atenção
selectiva. Os estudiosos perceberam que as
pessoas tendem a expor-se e a aceitar
informações que estão de acordo com as suas
opiniões, e rejeitar ou deturpar as mensagens que
colidam com as suas atitudes.
10. SOBRE A PERSUASÃO
As campanhas de persuasão são bem acolhidas
quando as pessoas concordam com o conteúdo.
Quando discordam, tentam esquecer a
mensagem. – esta descoberta foi fundamental
para os estudos da comunicação.
11. “Desde o momento em que existem diferenças
individuais nas características da personalidade
dos elementos do público, é natural que se
presuma a existência, nos efeitos, de variações
correspondentes a essas diferenças individuais”
De Fleur, 1970 apud Wolf, 2006, p. 34
12. AS ORIENTAÇÕES DA TEORIA
É representada pelos estudos sobre as características do
destinatário que intervêm na obtenção do efeito;
E é representada pelas pesquisas sobre organização
óptima das mensagens com finalidades persuasivas.
13. O QUE ALTERA
A intervenção das variáveis destrói o
imediatismo e a uniformidade dos efeitos como
também mede a sua amplitude pelo papel
desempenhado pelos destinatários.
O esquema causa-efeito da Teoria Hipodérmica
sobrevive, mas inserido num quadro de análise
que se vai complicando e alargando. Este tipo de
teoria estuda os efeitos dos mass media numa
situação de campanha (eleitoral, propagandista,
publicitária) que tem alguns sinais particulares.
14. SITUAÇÕES DE CAMPANHA
Tem objectivos específicos e foi projectada para
os atingir; é intensiva e desfruta de uma vasta
cobertura;
O sucesso pode ser avaliado;
É promovida por instituições ou entidades
dotadas de um certo poder e autoridade;
Os seus argumentos devem ser vendidos ao
público, para quem são novos, mesmo que se
baseiem em esquemas de valores partilhados
15. OS FACTORES RELATIVOS
À AUDIÊNCIA
“Pressupor uma correspondência perfeita
entre a natureza e a quantidade do
material apresentado numa campanha
informativa e a sua absorção por parte do
público é uma perspectiva ingénua,
porque a natureza real e o grau de
exposição do público ao material também
são determinados por características
psicológicas da audiência.”
Hyman, 1947
16. PRESSUPOSTOS SOBRE A
AUDIÊNCIA
(QUE INFLUENCIAM O SUCESSO DA
MENSAGEM)
Interesse em obter informação.
Exposição selectiva
Percepção selectiva
Memorização selectiva
17. OS FACTORES LIGADOS À
MENSAGEM
(QUE INFLUENCIAM O SUCESSO DA
MENSAGEM)
A credibilidade do comunicador
A ordem da argumentação
A integralidade das argumentações
A explicitação das conclusões
18. Carl Hovland
Os estudos da persuasão mais significativos foram levados
a cabo por Carl Hovland (director do Departamento
de psicologia na Univ. de Yale) para a Divisão de
Informação e Educação do Exército Americano.
“Experiências de laboratório” em larga escala – grupos
colocados em situação de laboratório – situações
criadas…
19. Situações de campanha
A teoria estudou os efeitos dos mass media em
situação de campanha (eleitoral,
propagandística, publicitária, educativa…), que
tem alguns aspectos particulares:
Tem objectivos específicos e foi projectada para os atingir;
é intensiva e desfruta de uma vasta cobertura;
O sucesso pode ser avaliado;
É promovida por instituições ou entidades dotadas de um
certo poder e autoridade;
Os seus argumentos devem ser “vendidos” ao público
20. Este contexto confere carácter administrativo à teoria
Objectivo: - fornecer dados úteis para aumentar
a eficácia da mensagem
- ponto de vista pressuposto era o dos efeitos
pretendidos e planeados pelo emissor
(interesses económicos, políticos…)
21. Os factores ligados
à mensagem
Principais características que influenciam de
forma decisiva a absorção da mensagem:
a)A credibilidade do comunicador
b)A integralidade das argumentações
22. CREDIBILIDADE DO COMUNICADOR
Quem comunica a mensagem é importante, pois a
audiência tende a aceitar melhor os argumentos emitidos
por fontes consideradas credíveis.
A aceitação da mensagem será tanto maior, quanto mais
credível for a fonte.
A credibilidade passa a ser vista como um factor
comunicacional por excelência, podendo adulterar ou
inverter, em casos extremos, os significados da
mensagem comunicada, dependendo de quem a
comunica.
23. Hovland analisou até que ponto a credibilidade de
uma fonte poderá influenciar a aceitação de uma
mensagem, mudanças de opinião…
Apresentação de infos provenientes de emissor credível e
menos credível a 2 grupos distintos de indivíduos
(mesmo artigo sobre a bomba atómica assinado por
cientista americano e outro soviético: o 1º recebeu maior
aceitação)
Conclusão: mensagens com os mesmos
argumentos mas atribuídas a fontes diferentes
registavam maior grau de
concordância/mudança de opiniões se o
comunicador fosse + credível.
24. A INTEGRALIDADE DAS ARGUMENTAÇÕES
Os investigadores debruçaram-se sobre a questão
de saber se uma mensagem com apresentação de
apenas um argumento sólido de uma determinada
questão controversa, a torna mais ou menos mais
eficaz do que apresentação de vários…
Conclusão: verificou-se, por exemplo, que as pessoas mais
instruídas são mais passíveis de ser convencidas se a
mensagem incluir os dois lados de uma questão (por dar
mais credibilidade à mensagem). No caso das classes mais
baixas, a mensagem é mais eficaz se incluir apenas um dos
argumentos.
25. Os factores relativos à audiência
As características psicológicas dos receptores, que
interferem com os efeitos pretendidos (mecanismos de
defesa), foram agrupadas em 4:
a) O Interesse em obter informação
b) A exposição selectiva
c) A interpretação selectiva
d) A memorização selectiva
26. INTERESSE EM OBTER INFORMAÇÃO
O êxito de uma campanha depende do interesse
que o público manifesta pelo assunto e a
quantidades de interessados…
O interesse e a motivação varia segundo os indivíduos,
mas… quanto mais exposta uma pessoa é a um
determinado tema, mais o seu interesse aumenta e, maior é
a motivação para saber mais acerca dele.
Conclusão: ligação entre motivação e aquisição de
conhecimentos, relacionada com a possibilidade de
ser exposto a certas mensagens( pessoas sem acesso
à informação são menos interessadas)
27. ATENÇÃO/EXPOSIÇÃO SELECTIVA
As pessoas tendem a expor-se às com. de massas e
a aceitar informações que estão de acordo com as
suas atitudes, opiniões e interesses, e rejeitar ou
deturpar as mensagens que são diferentes.
Conclusão: as campanhas de persuasão surtem maior efeito
naqueles que concordam com o conteúdo. Tendem a reforçar
ideias preexistentes, e não a “plantar” novas ideias.
Ex: campanha contra tabaco – captadas plenamente por não
fumadores. Fumadores criam defesa para subvalorizar
mensagem…
28. PERCEPÇÃO SELECTIVA – COMPREENSÃO
Os indivíduos adaptam o significado das mensagens
aos
seus valores, opiniões, podendo mesmo distorcer a
mensagem, ou compreendê-la de forma oposta ao
original
comunicado.
Joseph Klapper: “O público não se expõe à rádio, à tv ou ao jornal
num estado de nudez psicológica; pelo contrário, apresenta-
se revestido e protegido por predisposições já existentes,
por processos selectivos e por outros factores”.
Ex.: Estudo de E. Cooper e M. Jahoda 1947 – campanha de luta contra
preconceitos étnicos - ideias anti-racistas – O Senhor Preconceito
(episódios de desenhos animados): recusa de compreensão, in
Santos, p.35.
29. MEMÓRIA SELECTIVA
Os aspectos que estão de acordo com as atitudes e
opiniões próprias são memorizados num grau mais
elevado do que outros, e essa tendência acentua-se à
medida que vai decorrendo o tempo de exposição à
mensagem.
A memória vai seleccionando e fixando os elementos com os quais os
indivíduos concordam em detrimento dos contrários e culturalmente
mais distantes.
Quanto maior, mais prolongada for a exposição, maior será essa
característica.
30. Em suma:
As campanhas de persuasão são bem acolhidas quando
as pessoas concordam com o conteúdo, ou já
foram sensibilizados para os temas propostos.
Quando discordam, tentam esquecer a
mensagem e a deturpar.
É difícil mudar de opinião quanto a um assunto
em relação ao qual a atitude está firmemente
estabelecida.
É por causa disso que muitas campanhas falham e que os
efeitos não são omnipotentes como supunha a T.H.
31. Esta descoberta foi fundamental para osEsta descoberta foi fundamental para os
estudos da comunicação.estudos da comunicação.
As pessoas podiam e resistiam às campanhas de
persuasão…
Derrubou o mito dos media como manipuladoresDerrubou o mito dos media como manipuladores
supremossupremos
Os mass média passaram a ser encarados apenas
como um dos factoresum dos factores que contribuem para
a formação da opinião.
32. Conclusão
Quadro de análise mais alargado, quebrando a ideia de
linearidade do processo (ao considerar que os efeitos não são
directos e que pode haver falhas)
Redimensiona a capacidade indiscriminada dos media
manipularem o público, explicitando barreiras psicológicas
individuais.
No entanto, o facto de existirem mecanismos de defesa não significa que
os média não possam exercer
PERSUASÃOPERSUASÃO
“A persuasão opera através de percursos complicados, mas as
comunicações de massa exercem-na” ( Wolf: 39)
33. O modelo tem, portanto, algumas semelhanças com
teoria hipodérmica:
Concepção da com. massas segundo esquema de causa e
efeito acaba por sobreviver de certa forma…
Desde que reunidas determinadas condições os média
podem persuadir e provocar os efeitos pretendidos
(desde que atentem nas características do público ).
Não considera as relações interpessoais/contexto social