Já imaginou vinte milhões de morcegos a voar sobre a sua cabeça? É o que acontece junto à maior colónia de morcegos do mundo. https://www.mundodosanimais.pt/
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Fotografia: USFWS Headquarters
A Maior Colónia de
Morcegos do Mundo
Texto Carlos Gandra
I
magine vinte milhões de morcegos a cobrir os céus so-
bre a sua cabeça. Todas as noites. Durante todo o Verão.
A maior concentração de mamíferos do mundo. É o que
acontece no Texas, nos arredores de San Antonio, onde
se situa uma caverna chamada Bracken Cave.
12. MUNDO DOS ANIMAIS
D
e Março a Outubro,
um número estimado
de vinte milhões de
morcegos pertences
à espécie Tadarida brasiliensis
sai todas as noites para procu-
rar insetos. O que para alguns
é um espetáculo digno do me-
lhor que a natureza nos ofere-
ce, para outros é uma situação
mais parecida com um filme de
terror, até porque os morcegos
não são exatamente os animais
mais populares entre os seres
humanos.
A contagem não é precisa pois
não existe nenhum método infa-
lível de contabilizar os animais
que saem da caverna, contudo,
dada a dimensão da “nuvem”
que formam nos céus e as vá-
rias horas que chegam a demo-
rar para sair da caverna, indica
que podem ser inclusivamente
mais de 20 milhões de morce-
gos a viver ali.
A caverna é propriedade da Bat
Conservation International, que
trabalha no sentido de proteger
todo o habitat circundante, pelo
que o acesso à caverna é muito
restrito.
Os morcegos começam a che-
gar no final de Fevereiro, vindos
do México, continuando a che-
gar durante os meses de Março
e Abril. Em Junho, já com a co-
lónia completa, as mamãs mor-
cego começam a dar à luz os
seus bebés, um filhote cada.
As mães ficam em poleiros se-
parados dos filhos, mas conse-
guem encontrá-los diversas ve-
zes por dia para cuidar deles, o
que é incrível dado chegarem
a existir centenas de bebés por
metro quadrado.
Os pequenotes aprendem a
voar entre a quarta e a quinta
semana e em meados de Ju-
lho, juntam-se às suas mães
nas saídas noturnas, tornando
o grupo muito maior e capaz de
ser visto a vários quilómetros
de distância.
Os morcegos começam a sair
da caverna cerca de uma hora
antes do pôr do Sol, “anuncia-
dos” por umas centenas de mor-
cegos que começam a guinchar
(vocalização típica dos mor-
cegos) perto da entrada. Eles
saem em espiral de forma a
14. MUNDO DOS ANIMAIS
ganhar altitude e evitar colisões
com outros morcegos, dividin-
do-se depois em grupos mais
pequenos.
A observação da saída dos
morcegos deve ser feita da for-
ma mais silenciosa possível.
Barulhos de qualquer espécie
podem assustar os morcegos e
alterar a sua rotina, bem como
a rotina dos predadores oca-
sionais que também aguardam
a saída da caverna, como fal-
cões, corujas e serpentes.
Os turistas que queiram obser-
var a saída dos morcegos ape-
nas podem conversar sussur-
rando, mesmo uma conversa
em voz normal pode assustar
os animais ao ponto de inter-
romperem a sua saída.
As mães morcego tem um ape-
tite particularmente voraz. Um
grupo destas dimensões pode-
rá consumir 250 toneladas de
insetos, todas as noites. Escu-
sado será dizer que é difícil al-
guém se cruzar com um mos-
quito nas redondezas.
16. MUNDO DOS ANIMAIS
Este dado reafirma a importân-
cia de manter este local imacu-
lado: imagine como seria a vida
das pessoas no Texas com to-
das estas toneladas de insetos
à sua volta e dentro das suas
casas – seguramente mais as-
sustador que ver morcegos no
céu, mesmo para quem não
gosta deles.
A caverna tem cerca de 185
metros de comprimento e 18
metros de diâmetro. O solo
dentro da caverna estende-se
por cerca de 30 metros subter-
râneos, cobertos de numerosos
escaravelhos, que se alimen-
tam do que os morcegos, nas
paredes e no tecto, deixam cair.
Os gases produzidos por estes
insetos tornam o ar irrespirável
ao ser humano, que corre risco
de vida se entrar sem máscara
de oxigénio.
Em Novembro, os morcegos
deixam a caverna e regressam
ás suas cavernas no México,
onde passam todo o Inverno,
em habitats que já existiam
muito antes da descoberta da
América.
Em Portugal temos a maior co-
lónia de criação de morcegos
conhecida na Europa, no Alto
Alentejo (no Parque Natural da
Serra de São Mamede, na anti-
ga mina de chumbo da Cova da
Moura, bem como outras grutas
calcárias) que abriga entre 15
a 20 mil morcegos. A Bulgária
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tem a maior colónia de hiberna-
ção da Europa, com cerca de
60 mil morcegos.
Apesar destas numerosas co-
lónias, muitas espécies de
morcegos, incluindo os nossos
morcegos cavernícolas, estão
ameaçados. Descubra mais sobre morcegos em:
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