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PLANO DE GESTÃO PARA O USO SUSTENTÁVEL DA TAINHA, Mugil liza
Valenciennes, 1836, NO SUDESTE E SUL DO BRASIL.
Brasília, abril de 2015
MINISTÉRIO DA PESCA E AQUICULTURA –
MPA
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE –
MMA
PLANO DE GESTÃO PARA O USO SUSTENTÁVEL DA TAINHA, Mugil liza
Valenciennes, 1836, NO SUDESTE E SUL DO BRASIL.
SUMÁRIO
1. APRESENTAÇÃO ..................................................................................................... 10
2. ANTECEDENTES...................................................................................................... 11
3. ASPECTOS INSTITUCIONAIS NA GESTÃO DOS RECURSOS
PESQUEIROS NO BRASIL...................................................................................... 15
3.1. BASE LEGAL PARA A GESTÃO DO USO SUSTENTÁVEL DOS RECURSOS
PESQUEIROS.............................................................................................................. 15
3.2. BASE LEGAL DA GESTÃO AMBIENTAL.............................................................. 18
3.3. BASE LEGAL DA ESTRUTURA DO PODER EXECUTIVO.................................. 19
3.4. A PROPRIEDADE E O ACESSO AO USO DOS RECURSOS PESQUEIROS NO
BRASIL........................................................................................................................ 21
4. UNIDADE DE GESTÃO............................................................................................ 22
5. PLANO DE GESTÃO DA PESCA DA TAINHA (Mugil liza)............................... 23
5.1. DIAGNÓSTICO DA PESCA DA TAINHA (Mugil liza)............................................ 23
5.1.1. CARACTERIZAÇÃO DA ESPÉCIE (Mugil liza) ...................................................... 24
5.1.1.1. Sistemática e Distribuição............................................................................................. 24
5.1.1.2. Aspectos Ecossistêmicos .............................................................................................. 25
5.1.1.3. Dinâmica Populacional ................................................................................................. 27
5.1.1.3.1. Ciclo de Vida ................................................................................................................ 27
5.1.1.3.1.1. Migração e Reprodução ................................................................................................ 27
5.1.1.3.1.2. Recrutamento ................................................................................................................ 29
5.1.1.3.1.3. Crescimento .................................................................................................................. 30
5.1.2. CARACTERIZAÇÃO DA PESCA DE TAINHA ....................................................... 32
5.1.2.1. A Pesca Artesanal de Tainha nas Regiões Sudeste e Sul do Brasil.............................. 33
5.1.2.1.1. Espírito Santo................................................................................................................ 35
5.1.2.1.1.1. Aspectos socioeconômicos ........................................................................................... 35
5.1.2.1.1.2. Regiões de pesca........................................................................................................... 36
5.1.2.1.1.3. Petrechos empregados na captura de tainha.................................................................. 36
5.1.2.1.2. Rio de Janeiro ............................................................................................................... 36
5.1.2.1.2.1. Aspectos socioeconômicos ........................................................................................... 36
5.1.2.1.2.2. Regiões de pesca........................................................................................................... 36
5.1.2.1.2.3. Petrechos empregados na captura de tainha.................................................................. 37
5.1.2.1.3. São Paulo ...................................................................................................................... 38
5.1.2.1.3.1. Aspectos socioeconômicos ........................................................................................... 38
5.1.2.1.3.2. Regiões de pesca........................................................................................................... 40
5.1.2.1.3.3. Petrechos empregados na captura de tainha.................................................................. 41
5.1.2.1.4. Paraná............................................................................................................................ 43
5.1.2.1.4.1. Aspectos socioeconômicos ........................................................................................... 43
5.1.2.1.4.2. Regiões de pesca........................................................................................................... 44
5.1.2.1.4.3. Petrechos empregados na captura de tainha.................................................................. 44
5.1.2.1.5. Santa Catarina ............................................................................................................... 46
5.1.2.1.5.1. Aspectos socioeconômicos ........................................................................................... 46
5.1.2.1.5.2. Regiões de pesca de tainha ........................................................................................... 46
5.1.2.1.5.3. Petrechos empregados na captura de tainha.................................................................. 48
5.1.2.1.6. Rio Grande do Sul......................................................................................................... 50
5.1.2.1.6.1. Aspectos socioeconômicos ........................................................................................... 50
5.1.2.1.6.2. Regiões de pesca de tainha ........................................................................................... 52
5.1.2.1.6.3. Petrechos empregados na captura de tainha.................................................................. 52
5.1.2.2. A Pesca Industrial de Tainha nos Estados das Regiões Sudeste e Sul.......................... 53
5.1.2.2.1. Aspectos socioeconômicos ........................................................................................... 54
5.1.2.2.2. Modalidade/Petrecho (Tecnologia de Pesca)................................................................ 61
5.1.2.2.2.1. Frota de Traineira/Cerco autorizada/permissionada ..................................................... 61
5.1.2.2.2.2. Frota de Emalhe autorizada/permissionada .................................................................. 66
5.1.2.2.3. Tecnologia de pesca...................................................................................................... 66
5.1.3. PRODUÇÃO DE TAINHA.......................................................................................... 69
5.1.3.1. Bases de Dados Estatísticos.......................................................................................... 69
5.1.3.2. Produção Nacional e Regional de Mugilídeos.............................................................. 73
5.1.3.3. Produção de Tainha (Mugil liza) nas Regiões Sudeste e Sul........................................ 76
5.1.3.3.1. Produção Artesanal de Tainha por Estado nas Regiões Sudeste e Sul ......................... 78
5.1.3.3.1.1. Espírito Santo................................................................................................................ 80
5.1.3.3.1.2. Rio de Janeiro ............................................................................................................... 81
5.1.3.3.1.3. São Paulo ...................................................................................................................... 82
5.1.3.3.1.4. Paraná............................................................................................................................ 84
5.1.3.3.1.5. Santa Catarina ............................................................................................................... 85
5.1.3.3.1.6. Rio Grande do Sul......................................................................................................... 90
5.1.3.3.2. Produção Industrial de Tainha por Estado nas Regiões Sudeste e Sul ......................... 92
5.1.3.3.2.1. Rio de Janeiro ............................................................................................................... 93
5.1.3.3.2.2. São Paulo ...................................................................................................................... 94
5.1.3.3.2.3. Santa Catarina ............................................................................................................... 95
5.1.3.3.2.4. Rio Grande do Sul......................................................................................................... 98
5.1.4. SISTEMAS DE MONITORAMENTO E CONTROLE DA PESCA........................ 101
5.1.4.1. Programa de Rastreamento de Embarcações Pesqueiras por Satélite – PREPS......... 101
5.1.4.1.1. Densidade de pesca da frota de cerco durante a safra da tainha ................................. 101
5.1.4.2. Mapas de Bordo da pesca de tainha pela frota de cerco ............................................. 106
5.1.4.2.1. Características gerais da pesca de tainha pela frota de cerco...................................... 109
5.1.4.2.2. Características das embarcações e tamanho das redes................................................ 111
5.1.4.2.3. Características da pescaria .......................................................................................... 114
5.1.4.2.4. Características ambientais da área de operação.......................................................... 116
5.1.4.2.5. Índices de produção de tainha..................................................................................... 118
5.1.5. VULNERABILIDADES ............................................................................................ 121
5.1.5.1. Fase inicial do ciclo de vida........................................................................................ 122
5.1.5.2. Fase juvenil do ciclo de vida....................................................................................... 124
5.1.5.2.1. O exemplo da Lagoa dos Patos/RS............................................................................. 125
5.1.5.3. Fase adulta do ciclo de vida........................................................................................ 128
5.1.5.4. Comportamento populacional da espécie (hiperestabilidade) .................................... 132
5.1.5.5. Relacionada aos aspectos socioeconômicos ............................................................... 135
5.1.6. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA REGULAMENTAÇÃO DA PESCA DA TAINHA
NO SUDESTE E SUL................................................................................................ 140
5.1.7. CONSIDERAÇÕES E CONCLUSÕES..................................................................... 146
5.1.7.1. FATORES AMBIENTAIS ......................................................................................... 146
5.1.7.2. FATORES BIOLÓGICOS.......................................................................................... 147
5.1.7.2.1. Sistemática e Distribuição........................................................................................... 147
5.1.7.2.2. Reprodução ................................................................................................................. 148
5.1.7.2.3. Recrutamento .............................................................................................................. 149
5.1.7.2.4. Crescimento ................................................................................................................ 150
5.1.7.3. A PESCA NO BRASIL .............................................................................................. 151
5.1.7.4. A PESCA DA TAINHA ............................................................................................. 152
5.1.7.4.1. A pesca artesanal......................................................................................................... 152
5.1.7.4.2. A pesca industrial........................................................................................................ 155
6. PROGNÓSTICO....................................................................................................... 158
6.1. POSSÍVEIS CENÁRIOS, FRENTE AO DIAGNÓSTICO APRESENTADO.......... 158
6.2. OBJETIVO GERAL................................................................................................... 161
6.2.1. Objetivos Específicos.................................................................................................. 161
6.2.1.1. ASPECTOS ECOSSISTÊMICOS.............................................................................. 161
6.2.1.1.1. META 01 – Identificação e mapeamento dos impactos antrópicos nas principais
áreas de alimentação e crescimento............................................................................ 161
6.2.1.1.2. META 02 – Avaliação do nível de alteração das áreas de criadouros, de reprodução
e de transição entre os ambientes marinho-costeiros (desembocadura estuarino-
lagunares).................................................................................................................... 162
6.2.1.1.3. META 03 – Mitigação dos impactos antrópicos, distintos da pesca, sobre as áreas
estuarino-lagunares e marinho-costeiras. ................................................................... 162
6.2.1.2. ASPECTOS SÓCIO-CULTURAIS............................................................................ 163
6.2.1.2.1. META 01 – Favorecimento da aproximação dos cardumes de tainhas às praias....... 163
6.2.1.2.2. META 02 – Estabelecimento do limite de esforço, em número de pescadores ou
barcos ou petrechos de pesca, por área (estuarino-lagunar, beira de praia, costeira e
de plataforma) privilegiando os métodos de menor impacto e maior benefício
social........................................................................................................................... 163
6.2.1.2.3. META 03 – Valorização das regras informais de gestão da pesca tradicional de
tainha, através da formalização de seus territórios e práticas empregadas................. 164
6.2.1.3. ASPECTOS ECONÔMICOS..................................................................................... 165
6.2.1.3.1. META 01 – Manutenção e recuperação da rentabilidade econômica da pesca legal
de tainha, associada à redução de esforço de pesca.................................................... 165
6.2.1.3.2. META 02 – Aprimoramento e acompanhamento de instrumentos de incentivos
econômicos, associados à gestão do uso sustentável de recursos pesqueiros. ........... 166
6.2.1.3.3. META 03 – Controle da cadeia produtiva da tainha e de seus subprodutos. ............. 166
6.2.1.4. ASPECTOS BIOLÓGICO-PESQUEIROS................................................................ 167
6.2.1.4.1. META 01 – Proteção da tainha dentro das áreas estuarino-lagunares (criadouros)... 168
6.2.1.4.2. META 02 – Garantir o sucesso da migração reprodutiva e da desova sobre a
plataforma................................................................................................................... 172
6.2.1.5. ASPECTOS LEGAIS ................................................................................................. 176
6.2.1.5.1. META 01 - Elaboração de minuta e publicação de novo marco legal para a pesca de
tainha nas regiões Sudeste e Sul................................................................................. 177
6.2.2. Programa de Pesquisa e Monitoramento..................................................................... 177
6.2.2.1. Pesquisas prioritárias para a Gestão:........................................................................... 177
6.2.2.2. Outros Estudos Relevantes: ........................................................................................ 179
6.2.3. Programa de Educação Ambiental.............................................................................. 180
6.2.4. Programa de Fiscalização ........................................................................................... 181
6.3. Avaliação .................................................................................................................... 183
6.4. Participação da sociedade ........................................................................................... 183
6.5. Cronograma de Execução ........................................................................................... 183
7. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA......................................................................................... 184
ANEXO I .................................................................................................................................... 211
ANEXO II .................................................................................................................................... 232
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Informações sobre o comprimento total mínimo (Min), máximo (Máx) médio (Méd), moda,
L50 e L100 da tainha M. liza em diferentes regiões do sudeste e sul do Brasil.................................... 32
Tabela 2: Característica da atividade de pesca artesanal, de acordo com diferentes critérios. BE:
baía/estuário; P: praia; AC: água costeira; C: comunitária: I: individual; V: venda; S: subsistência; E:
emalhe; AP: arrasto de praia; C: cerco; AR: armadilha; T: tarrafa. ...................................................... 33
Tabela 3: Resumo da movimentação financeira das ovas de tainha exportadas entre os anos de 2006 e
2013. ...................................................................................................................................................... 60
Tabela 4: Critérios de acesso e respectivas normativas para concessão de autorização para a pesca de
tainha com a modalidade de cerco, nos anos de 2009 a 2013. .............................................................. 62
Tabela 5: Número de embarcações autorizadas para a pesca de tainha com emalhe costeiro, por estado
e por arqueação bruta............................................................................................................................. 66
Tabela 6: Produção nacional, regional e por estado de mugilídeos (t), entre 1980 e 2010. Valores por
estado apresentados entre 1990 e 1994; 2008 a 2010 são estimativas. ................................................. 75
Tabela 7: Produção de mugilídeos (t), regional e unidade da federação, por segmento (industrial e
artesanal) entre 1980 e 2010. Os valores apresentados entre 2008 e 2010 são estimativas baseadas na
produção nacional.................................................................................................................................. 77
Tabela 8: Captura descarregada (kg) e número de descargas (N° Desc.) com tainha M. liza por arte de
pesca da frota artesanal, realizadas em São Paulo entre os anos 2009 e 2013. Informações referentes ao
ano 2013 incluem somente as descargas realizadas até o mês de setembro deste mesmo ano. ............ 83
Tabela 9: Frequência de atividade de pesca de embarcações de cerco autorizadas à captura de tainha,
dentro e fora da área proibida à atividade, durante o período de 15 de maio a 02 de julho, nos anos de
2011 e de 2012..................................................................................................................................... 103
Tabela 10: Número total de Mapas de Bordo, barcos e lances com captura de tainha, para todas as
embarcações de cerco, entre os anos de 2008 e 2012.......................................................................... 106
Tabela 11: Número de embarcações de cerco que apresentaram Mapas de Bordo com a captura de
tainha, classificadas pela arqueação bruta (AB), e percentual em relação ao total de traineiras
autorizadas à pesca da espécie............................................................................................................. 108
Tabela 12: Número total de lances com captura de tainha, em cada área Latitudinal, entre os anos de
2008 e 2012. ........................................................................................................................................ 109
Tabela 13: Características médias das embarcações de cerco e tamanho das redes utilizadas na captura
de tainha, para cada setor Latitudinal, entre os anos de 2008 e 2012.................................................. 113
Tabela 14: Características médias da pesca de tainha realizada por embarcações de cerco, para cada
setor Latitudinal, entre os anos de 2008 e 2012. ................................................................................. 115
Tabela 15 (a e b): Características ambientais registradas durante a pesca de tainha por embarcações de
cerco, para cada setor Latitudinal, entre os anos de 2008 e 2012........................................................ 118
Tabela 16: Médias dos índices de produção de tainha pela frota de cerco, registradas em Mapas de
Bordo, para cada setor Latitudinal, entre os anos de 2008 e 2012. ..................................................... 120
Tabela 17: Relação empregada para estimar o número de ovócitos existentes em 100 t de ovas de
tainha. .................................................................................................................................................. 129
Tabela 18: Exercício para demonstração do impacto hipotético da retirada de 100 t de ovas de tainha,
considerando diferentes percentuais de sucesso de fertilização no ambiente natural. ........................ 129
Tabela 19: Estimativa da biomassa total de tainhas para a produção do volume de ovas exportadas e
declaradas pela Receita Federal, considerado o peso médio da ova igual a 0,195 kg e o peso médio das
tainhas fêmeas de 1,908 kg.................................................................................................................. 130
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Comprimento total médio, mínimo e máximo da tainha Mugil liza capturada com tarrafa no
canal dos molhes de Laguna, entre os dias 03/04/2012 e 12/06/2012 (n=405)..................................... 31
Figura 2: Média percentual (1990-1997) das capturas de tainha........................................................... 38
Figura 3: Captura por Unidade de Esforço, em kg/hora de pesca, da tainha Mugil liza capturada pela
frota artesanal de emalhe de superfície (praia e estuário) do litoral sul do Estado de São Paulo, entre os
anos de 1998 e 2013. Informações referentes ao ano 2013 incluem somente as descargas realizadas até
o mês de setembro deste mesmo ano..................................................................................................... 39
Figura 4: Desenho esquemático da estrutura do cerco-fixo utilizado na pesca da tainha no litoral sul de
São Paulo. .............................................................................................................................................. 41
Figura 5: Litoral de Santa Catarina mostrando os pontos de desembarque da tainha e as regiões de
pesca – sul, centro e norte...................................................................................................................... 47
Figura 6: Pontos de desembarque da tainha na Ilha de Santa Catarina monitorados pela FEPESC. .... 48
Figura 7: Percentual médio (2003-2012) das capturas mensais de tainha por região (sul, centro e
norte)...................................................................................................................................................... 49
Figura 8: Preços médios de primeira comercialização no período de 2002 a 2013. ............................. 56
Figura 9: Produção (kg) de tainha nas regiões Sudeste e Sul associada ao custo médio (R$) de
comercialização no CEAGESP, deste pescado por ano. ....................................................................... 56
Figura 10: Produção anual de ovas de tainha pelas quatro indústrias de Santa Catarina...................... 58
Figura 11: Volume de exportação de ovas e moelas de tainha no período de 2007 a 2013, em
toneladas. ............................................................................................................................................... 58
Figura 12: Quantidades (t) das exportações brasileiras do grupo NCM 03038000 - fígados, ovas e
sêmen, de peixes, congelados................................................................................................................ 59
Figura 13: Comparativo da produção informada pelas empresas processadoras de Santa Catarina e os
dados oficiais de exportação de Santa Catarina, segundo o MDIC para o grupo NCM 03038000 -
fígados, ovas e sêmen, de peixes, congelados. ...................................................................................... 59
Figura 14: Valores médios por quilograma das exportações brasileiras de ovas e moelas................... 60
Figura 15: Comparação entre o número de embarcações com descargas registradas em Santa Catarina
no período de 2000 a 2013 e o total de embarcações autorizadas no período de 2009 a 2013 para a
pesca da tainha no Sudeste e Sul. .......................................................................................................... 62
Figura 16: Participação dos estados na composição da frota de cerco autorizada para a pesca da tainha
nos anos de 2009, 2011 e 2013.............................................................................................................. 63
Figura 17: Características da frota de cerco autorizada para a pesca da tainha em 2013, sendo A
porcentagem de barcos por estado; B – Composição da frota por ano de construção; C – Composição
da frota por comprimento total; e D – Composição da frota por Arqueação Bruta. ............................. 64
Figura 18: Médias de arqueação bruta (AB) de todas as embarcações de cerco autorizadas à captura da
tainha no período de 2009 a 2013; = média e = intervalo de confiança; tabela com a significância,
calculada pelo Teste de Kruskal-Wallis, a 95% para as diferenças entre as médias anuais.................. 64
Figura 19: Variação do número de embarcações com descargas registradas em Santa Catarina no
período de 2000 a 2012. ........................................................................................................................ 65
Figura 20: Variação na frequência de operações de descarga registradas em Santa Catarina no período
de 2000 a 2012....................................................................................................................................... 65
Figura 21: Comprimentos médios para o comprimento das redes construídas em Itajaí no período de
1993 a 2011. .......................................................................................................................................... 67
Figura 22: Evolução da produção artesanal de tainha (M. liza), demonstrando as diferentes bases de
dados, por unidade da federação (a-f), entre 1980 e 2013. Em vermelho, a linha de tendência de
produção da espécie gerada a partir do banco de dados selecionado. ................................................... 71
Figura 23: Evolução da produção industrial de tainha (Mugil liza), demonstrando as diferentes bases
de dados, por unidade da federação (a-d), entre 1980 e 2012. Em vermelho, a linha de tendência de
produção da espécie gerada a partir do banco de dados selecionado. ................................................... 72
Figura 24: Diferença entre a base de dados nacional e àquelas selecionadas entre 1980 e 2010.......... 73
Figura 25: Produção nacional, por região e categorias (artesanal e industrial) de mugilídeos (t), entre
1980 e 2010. .......................................................................................................................................... 74
Figura 26: Produção total de tainha (Mugil liza) (t) por estado, entre 1980 e 2010............................. 76
Figura 27: Produção total de tainha (Mugil liza) (t), por segmento (artesanal e industrial), nas regiões
Sudeste e Sul, entre 1980 e 2011........................................................................................................... 78
Figura 28: Produção artesanal de tainha (M.liza) (t), por estado nas regiões Sudeste e Sul, entre 1980 e
2010. ...................................................................................................................................................... 79
Figura 29: Evolução da produção de tainha no Espírito Santo, entre os anos de 1980 e 2012. Linha de
tendência em vermelho.......................................................................................................................... 80
Figura 30: Capturas mensais de tainha no estado do Espírito Santo no ano de 2011. .......................... 81
Figura 31: Evolução da produção artesanal em comparação com a total de tainha, no estado do Rio de
Janeiro, entre os anos de 1980 e 2012. Linha de tendência em vermelho............................................. 82
Figura 32: Evolução da produção artesanal em comparação com a total de tainha, no estado do São
Paulo, entre os anos de 1980 e 2013. Informações referentes ao ano 2013 incluem somente as
descargas realizadas até o mês de setembro deste mesmo ano. Linha de tendência em vermelho. ...... 83
Figura 33: Evolução da produção artesanal de tainha no estado do Paraná, entre os anos de 1980 a
2010. Linha de tendência em vermelho................................................................................................. 84
Figura 34: Evolução da produção artesanal em comparação com a total de tainha, no estado de Santa
Catarina, entre os anos de 1980 a 2013. Linha de tendência em vermelho........................................... 86
Figura 35: Capturas totais anuais (t.) de tainha M. liza, pela frota artesanal de Santa Catarina, entre os
anos de 2003 e 2012. Linha de tendência (pontilhado). ........................................................................ 87
Figura 36: Capturas totais anuais (t) pela frota artesanal entre os anos de 2003 e 2012 e linha de
tendência (pontilhado) nas três diferentes regiões de pesca da tainha M. liza em Santa Catarina. ....... 88
Figura 37: Percentual de distribuição das capturas para os anos de 2003 a 2012. ................................ 89
Figura 38: Capturas médias anuais das regiões de pesca da tainha Mugil liza, entre 2003 e 2012
realizadas pelo segmento artesanal em Santa Catarina (± intervalo de confiança de 95%).................. 89
Figura 39: Evolução da produção de tainha (t.) artesanal entre os anos de 1945 a 2011, em comparação
com a total, a partir de 1970, no estado do Rio Grande do Sul. Linha de tendência da pesca artesanal,
em vermelho. ......................................................................................................................................... 91
Figura 40: Produção industrial de tainha (M.liza) (t) desembarcada nas regiões sueste e Sul, no período
de 1980 e 2012....................................................................................................................................... 92
Figura 41: Evolução da produção industrial de tainha (t) no estado do Rio de Janeiro (eixo da
esquerda), em relação à produção total industrial (eixo da direita), entre os anos de 1980 e 2012,
destacando em vermelho, a tendência de evolução no estado............................................................... 93
Figura 42: Evolução da produção industrial de tainha (t) no estado de São Paulo (eixo da esquerda),
em relação à produção industrial total (eixo da direita), entre os anos de 1980 e 2012, destacando em
vermelho, a tendência de evolução no estado........................................................................................ 94
Figura 43: Evolução da produção industrial de tainha (t) no estado de Santa Catarina, em relação à
produção industrial total, entre os anos de 1980 e 2012, destacando em vermelho, a tendência de
evolução no estado................................................................................................................................. 95
Figura 44: Composição de espécies nos desembarques (t) de traineiras registrados em Santa Catarina
no período de 2000 a 2010. ................................................................................................................... 96
Figura 45: Captura Mensal (t) de tainha (M. liza) pela frota industrial catarinense entre 1995 e 2012.97
Figura 46: Proporção mensal dos desembarques de tainha provenientes da frota industrial de cerco,
nos períodos de 1995 a 2008 e 2009 a 2012, relacionado a publicação da INI IBAMA 171/2008, que
determina a abertura da safra de pesca da tainha em 15 de maio.......................................................... 98
Figura 47: Evolução da produção industrial de tainha (t) no estado do Rio Grande do Sul (eixo da
esquerda), em relação à produção total industrial (eixo da direita), entre os anos de 1980 e 2012,
destacando em vermelho, a tendência de evolução no estado............................................................... 99
Figura 48: Desembarques da pesca industrial de tainha no Rio Grande do Sul, de 1995 a 2011, por
modalidade de pesca.............................................................................................................................. 99
Figura 49: Composição dos desembarques da frota industrial de cerco no Rio Grande do Sul, entre
1997 e 2011. ........................................................................................................................................ 100
Figura 50: Proporção mensal dos desembarques de tainha provenientes da frota industrial de cerco,
nos períodos de 1995 a 2008 e 2009 a 2012, no Rio Grande do Sul................................................... 100
Figura 51: Mapas indicando as áreas proibidas para a pesca de tainha por traineiras com mais de 10
AB, sendo: (a) no Rio Grande do Sul e, (b) nos demais estados da região Sudeste/Sul. .................... 102
Figura 52: Densidade de atividade pesqueira de embarcações de cerco autorizadas à captura de tainha
na região Sudeste/Sul, no período de 15 de maio a 02 de julho nos anos de 2011 e de 2012 (12
semanas de monitoramento). ............................................................................................................... 104
Figura 53: Frequência de embarcações de cerco autorizadas e não autorizadas para a captura de tainha
no percentual de embarcações, Mapas de Bordo e lances com captura da espécie, assim como na sua
produção, entre os anos de 2008 e 2012.............................................................................................. 107
Figura 54: Localização dos setores Latitudinais utilizados nas análises espaciais.............................. 109
Figura 55: Frequência de lances com captura de tainha, em cada setor latitudinal, de acordo com o
estado de origem e de destino dos cruzeiros de pesca, entre os anos de 2008 e 2012......................... 110
Figura 56: Características das embarcações de cerco e tamanho das redes utilizadas na captura de
tainha, nos anos de 2008 a 2012 e resultados do Teste de Kruskal-Wallis; losangos = média; linhas
tracejadas = intervalo de confiança (95%); linhas contínuas = valores máximo e mínimo. ............... 112
Figura 57: Características da pesca de tainha realizada por embarcações de cerco, nos anos de 2008 a
2012, e resultado do Teste de Kruskal-Wallis; losangos = média; linhas tracejadas = intervalo de
confiança (95%); linhas contínuas = valores máximo e mínimo......................................................... 115
Figura 58: Características ambientais registradas durante a pesca de tainha por embarcações de cerco,
nos anos de 2008 a 2012, e resultado do Teste de Kruskal-Wallis; losangos = média; linhas tracejadas
= intervalo de confiança (95%); linhas contínuas = valores máximo e mínimo. ................................ 117
Figura 59: Índices de produção e número de lances da pesca de tainha pela frota de cerco, nos anos de
2008 a 2012, e resultado do Teste de Kruskal-Wallis; losangos = média; linhas tracejadas = intervalo
de confiança (95%); linhas contínuas = valores máximo e mínimo.................................................... 119
Figura 60: Variação na abundância de juvenis de Mugil liza dentro do estuário da Lagoa dos Patos.123
Figura 61: Número total anual de frentes frias que passaram por Laguna (SC) entre os anos de 1997 e
2012. .................................................................................................................................................... 132
10
1. APRESENTAÇÃO
A tainha Mugil liza, Valenciennes, 1836, é uma espécie de ambientes costeiros marinhos e
estuarinos, que forma densos cardumes durante sua migração reprodutiva. No litoral Sudeste e Sul
brasileiro a espécie é um recurso tradicional das frotas artesanais. No Espírito Santo existem registros
da pesca com rede de cerco na Baía do Espírito Santo, em Camburí (MONJARDIM, 2002). No litoral
do RJ as capturas ocorrem em Itaipú - Niterói (TUBINO et al. 2007; MONTEIRO-NETTO et al.
2008) e nas Baías de Guanabara (JABLONSKI et al., 2006) e Sepetiba (ALBIERI, 2009). No litoral
norte de São Paulo, na Ilha de São Vicente, a tainha é capturada com o arrasto de praia (FAGUNDES
et al., 2007), e no litoral sul com redes de emalhe e cerco-fixo (MENDONÇA, 2007). No litoral do
Paraná e Santa Catarina os pescadores utilizam o arrasto de praia, tarrafa, caceio e emalhe,
principalmente na migração reprodutiva do outono (MEDEIROS, 2002; CHAVES & ROBERT, 2003;
PINA & CHAVES, 2005). No litoral gaúcho a tainha é pescada principalmente na Lagoa dos Patos
(REIS & D’INCAO, 2000; OKAMOTO et al., 2006, VIEIRA et al., 2008) e Lagoa do Peixe, onde
representava 76,4% da captura total (LOEBMANN & VIEIRA, 2005). A captura da tainha também é
realizada pela frota industrial que atua nas regiões Sudeste e Sul, principalmente com cerco
(traineiras) (UNIVALI, 2010). Neste último caso, como espécie alternativa, com permissão
complementar, ou ainda, pela frota de emalhe de superfície, como espécie-alvo.
Considerando que: (i) a tainha tem grande importância socioeconômica para diferentes grupos
de usuários; (ii) é relevante para a segurança alimentar das comunidades artesanais do litoral
brasileiro; (iii) existem disputas pelo recurso; (iv) há inúmeras vulnerabilidades tanto naturais, quanto
de natureza antrópica que afetam negativamente o equilíbrio populacional desta espécie; e (v) há
necessidade de aperfeiçoar as medidas de ordenamento pesqueiro estabelecidas, fatos que justificam a
importância de estruturação de um Plano de Gestão para o uso sustentável da tainha (Mugil liza), no
Sudeste e Sul do Brasil, em observação ao estabelecido pelo Decreto nº 6.981, de 13 de outubro de
2009. Conforme dispõe o referido, as diretrizes para uso dos recursos pesqueiros serão estabelecidas
pelo Plano de Gestão do uso sustentável dos recursos pesqueiros, que compreenderá o diagnóstico,
objetivos, metas, pontos de referência, ações, medidas de gestão e indicadores, para a unidade de
gestão considerada.
Para tanto, foi instituído pelo MPA, em conjunto com o MMA, o Grupo Técnico de Trabalho da
Tainha – GTT - Tainha, oficializado pela Portaria Interministerial MPA/MMA nº 1, de 28 de junho de
2012, alterada pelas Portarias Interministeriais MPA-MMA nº 4 de 8 de agosto de 2013 e nº 5 de 30
de dezembro de 2013, com a competência de elaborar uma proposta de Plano de Gestão para a espécie
nas regiões Sudeste e Sul do Brasil. Contudo, os trabalhos do GTT Tainha não foram finalizados
dentro do prazo de vigência.
11
O presente Plano levou em consideração os trabalhos do GTT, especialmente as contribuições
dos especialistas Patrícia Sunye, Rodrigo Medeiros, Laura Villwork de Miranda e Jocemar Tomasino
Mendonça, no que diz respeito à estrutura e propostas de conteúdo do diagnóstico, além das
contribuições de colaboradores, como Sérgio Stoiev e Roberto Wahrlich. Contudo, o diagnóstico deste
Plano de Gestão, especialmente no que tange aos seus últimos capítulos (vulnerabilidades,
considerações finais e conclusões), foi finalizado pelos analistas ambientais que compuseram o GTT-
Tainha: Ana Maria Torres Rodrigues, José Dias Neto e Gabriel Rebouças, contando com a
colaboração da oceanógrafa Daniela S. Occhialini (CEPSUL). Esses técnicos também elaboraram a
proposta de Prognóstico (cenários possíveis e medidas de gestão) que serviu de base para as
discussões técnicas entre o MMA e o MPA, que por sua vez levaram ao Prognóstico do Plano. Assim
sendo, apesar da importante contribuição de alguns dos membros do GTT Tainha, a participação no
mesmo não significa autoria ou concordância com todos os conteúdos do diagnóstico e principalmente
com o prognóstico.
2. ANTECEDENTES
De acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação - FAO, a
intensa exploração pesqueira tem conduzido nas últimas décadas, a uma crise da atividade em todo o
mundo, evidenciada pela sobrexplotação de 29,9 % dos estoques pesqueiros de interesse comercial
(FAO, 2012). Esta situação levou a comunidade internacional a efetuar esforços e a pactuar normas
para a conservação e exploração racional das zonas costeiras, mares e oceanos, plataformas
continentais e grandes fundos marinhos, dentre os quais, destacam-se: a "Convenção das Nações
Unidas sobre o Direito do Mar", o Capítulo 17 da "Agenda 21", a "Convenção da ONU sobre
Diversidade Biológica", dos quais o Brasil não apenas é parte, como contribuiu ativamente na sua
formulação, demonstrando grande interesse sobre a matéria (ROSSI-WONGTSCHOWSKI et al.
2006).
Entre as iniciativas decorrentes da ratificação pelo Brasil em 1988, da "Convenção das Nações
Unidas sobre o Direito do Mar" (Montego Bay, 1982, internalizada pelo Decreto nº 1.530/95), merece
destaque o novo conceito de espaço marítimo o de Zona Econômica Exclusiva (ZEE), que atribui ao
Brasil direitos exclusivos de soberania desta área, para fins de exploração e aproveitamento,
conservação e gestão dos recursos naturais, vivos ou não vivos, introduzido pela, e incorporado à
legislação nacional. Os direitos concedidos são acompanhados de deveres e responsabilidades, como
os de promoção da gestão sustentável de uso dos recursos pesqueiros, com vistas a sua conservação,
para as presentes e futuras gerações, conforme preconizado no artigo nº 225 da Constituição Federal
de 1988 e pela Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável da Aquicultura e da Pesca (Lei nº
11.959 de 29 de junho de 2009).
12
O artigo 3º da supramencionada Política Pública, estabelece que a atividade pesqueira deva ser
gerida, a partir da conciliação do equilíbrio entre o princípio da sustentabilidade dos recursos
pesqueiros e a obtenção de melhores resultados econômicos e sociais. Para tanto, o Estado deve
calcular, autorizar ou estabelecer os regimes de acesso. Contudo, Isaac, et al. (2006), avaliaram que a
condição atual da maioria dos estoques pesqueiros no Brasil é consequência de um modelo de livre
acesso, de excessivos investimentos em tecnologia, sobrecapitalização das empresas e subsídios
governamentais, responsáveis pela manutenção do excesso de capacidade de pesca e, portanto, do
esgotamento dos estoques e degradação ambiental.
As ações que visam o controle da atividade pesqueira encontram-se legalmente previstas, como
a definição da captura total permissível, esforço de pesca sustentável, períodos de defeso, temporadas
de pesca, tamanhos de captura, áreas interditadas ou reservas, artes, aparelhos, métodos e sistemas de
pesca e cultivo, capacidade de suporte dos ambientes, necessárias ações de monitoramento, controle e
fiscalização da atividade, proteção de indivíduos em processo de reprodução ou recomposição de
estoques, que no caso da tainha, têm especial relevância dentro das medidas as serem especificadas
por este Plano de Gestão.
A constatação de que inúmeras vulnerabilidades provenientes de causas naturais e antrópicas
vinham afetando o equilíbrio populacional da espécie aumentou as preocupações com a
sustentabilidade da utilização da tainha como recurso pesqueiro, levando em 2004 o Ministério do
Meio Ambiente (MMA) a oficializar seu enquadramento como espécie sobrexplotada ou ameaçada de
sobrexplotação, incluindo-a no anexo II da Instrução Normativa MMA nº 5, de 21 de maio de 2004.
Desde então, um prazo de cinco anos ficou estabelecido, a partir da data de publicação da
supramencionada normativa, para que fossem definidos e implementados Planos de Gestão, sob a
coordenação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(IBAMA), com a participação dos órgãos estaduais, da comunidade científica e da sociedade civil
organizada, para as espécies listadas no referido anexo II, dentre as quais a tainha (Mugil liza e M.
platanus), sem prejuízo do aprimoramento das medidas de ordenamento existentes.
Alterações no quadro das competências institucionais do governo federal, quanto às
responsabilidades pela gestão de recursos pesqueiros, especialmente, a partir de 2009 com a criação do
Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), associadas às pressões relacionadas aos interesses
divergentes entre conservação e produção, retardaram o processo de definição e implementação dos
Planos de Gestão em construção, e o prazo estabelecido não foi cumprido.
A fim de minimizar, especialmente, o impacto da atividade pesqueira em mar aberto durante o
período de migração reprodutiva da tainha no Sudeste e Sul, em atenção ao estabelecido à época, na
revogada Lei nº 7.679 de 23 de novembro de 1988, tema atualmente previsto no artigo 3º; item XI da
Lei nº 11.959 de 29 de junho de 2009, e enquanto não se avançava na elaboração do Plano de Gestão
da tainha, o IBAMA promoveu duas (2) reuniões técnicas em 2007. Na oportunidade, debates foram
13
mantidos com representantes dos setores produtivo, técnico e outras instâncias de governo e
informações científicas sobre o recurso pesqueiro foram resgatadas, com a finalidade de subsidiar o
estabelecimento de um novo regramento para exploração da espécie. A medida acordada foi publicada
em 2008, por meio da Instrução Normativa IBAMA nº 171/2008.
Entretanto, apesar das medidas estabelecidas pela supramencionada normativa terem sido
amplamente debatidas e que todo o processo esteja bem documentado, os objetivos do ordenamento
da pesca da tainha foram reiteradamente frustrados e materializados nas sucessivas suspensões de
aplicação de seus dispositivos centrais. Em 2011, a divulgação do Acórdão TCU nº 496/2011 reforçou
as exigências previstas na citada normativa, quanto ao cumprimento dos limites de esforço de pesca
aplicado sobre a espécie em migração reprodutiva. Entretanto, pressões políticas contrárias ao seu
cumprimento lograram novamente sucesso e levaram à suspensão do referido Acórdão. Contudo,
ainda no final deste ano (2011), uma Sentença Judicial resultante da Ação Civil Pública nº 5001964-
45.2011.404.7101/RS, movida pelo Ministério Público Federal de Rio Grande/RS (MPF/RS)
determinou o cumprimento dos termos da IN IBAMA nº 171/2008, até que fosse finalizado o Plano de
Gestão para a tainha, cujo prazo de elaboração concedido, se encerra em 2014. Logo, a proximidade
da finalização do prazo concedido para elaboração e implantação do Plano de Gestão, caso não seja
cumprido, poderá colocar em risco a continuidade da atividade pesqueira, a partir de 2015. Assim,
após divulgação da decisão da Sentença Judicial, o processo foi retomado, sob a responsabilidade
conjunta do MPA e MMA, sob a coordenação do primeiro, sendo os trabalhos iniciados pelo Grupo
Técnico instituído em novembro de 2012, com a reunião de instalação e definição de como as
atividades seriam conduzidas ao longo de sua validade.
Ainda de acordo com a supramencionada Sentença Judicial, durante os trabalhos do GTT Tainha
permaneceria válida a Instrução Normativa IBAMA nº 171/2008. Porém em 2013, a semelhança do
ocorrido no ano de 2012 o MPA publicou nova regulamentação definindo critérios para seleção das
traineiras que seriam autorizadas para a temporada de pesca daquele ano. O MMA entendeu que
aspectos relevantes estabelecidos pela IN IBAMA Nº171/2008 não foram considerados e que o GTT
Tainha deveria ter sido ouvido, o que não aconteceu. Em tempo, a pedido dos membros integrantes do
GTT-tainha, a coordenação, encaminhou solicitação pedindo vistas à minuta de normativa
(Memorando nº 23 de 210/3/2013 CGPC/DPI/SEMOC/MPA-GTT- Tainha MPA-MMA). Entretanto, a
solicitação foi negada mediante a justificativa de que as questões abrangentes na minuta de normativa
não integravam a temática relativa ao objeto de criação do GTT-Tainha, e que os critérios e
procedimentos de acesso às licenças de pesca, respeitado o ordenamento conjunto, era competência
exclusiva da Secretaria de Monitoramento e Controle - SEMOC (Memorando nº 74 SEMOC/MPA, de
27/03/2013), sendo a IN MPA nº 2 publicada em 10 de abril de 2013.
Em decorrência, o MPF/RS entendeu que tanto Sentença Judicial, como a IN IBAMA nº
171/2008, vinham sendo descumpridas desde 2012, oportunidade em que apresentou notificação
14
argumentando que as instruções normativas publicadas pelo MPA continham vício formal, afrontando
o artigo 27, XXIV, parágrafo 6º, da Lei nº 10.683/2003, que exige que as normas, critérios, padrões e
medidas de ordenamento do uso sustentável dos recursos pesqueiros devam ser fixados pelo
Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) e pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), em conjunto,
e sob a coordenação do primeiro. Esse entendimento convergiu com o posicionamento técnico emitido
pelo MMA em 2012, de que a IN MPA 01/2012, embora predominantemente regulamentasse o
permissionamento, continha dispositivos inerentes ao ordenamento pesqueiro (Nota Técnica
MMA/SBF/GBA nº 018/2012). O MPF/RS ainda alegou que os critérios de seleção de barcos
definidos pelas Instruções Normativas que dão preferência à embarcação mais nova e com maior
arqueação bruta (AB), significa a exacerbação de tal poder de pesca, quando a finalidade da
determinação judicial era o de reduzir o esforço da pesca de cerco direcionada às agregações
reprodutivas de tainha. Em decorrência em uma Decisão Judicial de Cumprimento, foi fixada multa
contra a União.
Contudo, intermediados pela Advocacia Geral da União (AGU), em 12/09/2013, foi lavrado um
Termo de Conciliação entre MPA e MMA (TC nº 13 CCAF-CGU-AGU/2013), que suspendeu a multa
e os dois ministérios se comprometeram a elaborar, conjuntamente, as regras de acesso e de seleção
das embarcações de cerco para a pesca complementar da tainha para a temporada de 2014, o que não
ocorreu novamente, com a publicação da IN MPA nº 06/2014.
Outras ações caminharam em paralelo, como a avaliação e validação do estado de conservação
da tainha (M. liza) no Brasil, em que a espécie foi categorizada como Quase Ameaçada (NT). O
trabalho interinstitucional, sob a coordenação do Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade (ICMBio), autarquia vinculada ao MMA, foi executado com a contribuição de vários
especialistas, incluindo pesquisadores visitantes da Argentina e Uruguai, por se tratar da avaliação de
um recurso de ocorrência compartilhada com os países vizinhos. O processo de análise aplicou os
critérios da União Internacional para Conservação da natureza (IUCN). Como justificativa para a
mencionada categorização destacaram a exploração da espécie tanto pela pesca artesanal, quanto pela
frota industrial, especialmente, a partir da última década, quando a tainha tornou-se um importante
alvo durante o período reprodutivo, devido ao alto interesse comercial para exportação de suas
gônadas. Este quadro foi considerado uma das ameaças significativas à sobrevivência da espécie.
Outros aspectos considerados foram os declínios populacionais em algumas regiões, como na
Lagoa dos Patos (RS), principal área “fonte” de tainha no Brasil. Para lá, se estimou declínios acima
de 90% das capturas, no período entre 1970 a 2004. Apesar de não existirem dados precisos, foram
avaliadas, ainda, as consequências da pressão da atividade pesqueira sobre as diferentes
subpopulações, levando-se em conta os declínios observados e a proporção de distribuição da espécie,
concentrada no sul do Brasil. Tal avaliação permitiu a inferência de que o declínio no tamanho
populacional esteja próximo a 30%, considerando o tempo de três gerações, estimado em 22 anos.
15
Assim, o enquadramento na categoria de Quase Ameaça (NT) deveu-se ao declínio populacional
inferido para a espécie aproximar-se dos limiares da categoria Vulnerável (VU) sob o critério IUCN
A2bd.
Os especialistas envolvidos com a avaliação do estado de conservação da tainha ressaltaram que
a manutenção da pesca intensa e em grande escala pode levar a espécie, em um futuro próximo, a uma
categoria de ameaça, caso medidas efetivas e adequadas de ordenamento não sejam implementadas,
sendo este alerta mais um importante subsídio aos gestores, para a imediata adoção das propostas
deste Plano de Gestão. Na oportunidade, consideraram que as medidas, atualmente aplicadas, podem
não ser suficientes para manter a atividade em níveis sustentáveis, mesmo com aportes de indivíduos
originários de outras áreas fora do Brasil, como da Argentina e Uruguai (ICMBio, 2013).
3. ASPECTOS INSTITUCIONAIS NA GESTÃO DOS RECURSOS
PESQUEIROS NO BRASIL
A base legal e de competências para a gestão do uso sustentável dos recursos pesqueiros, para
a gestão ambiental, bem como a propriedade dos recursos pesqueiros no Brasil, serão abordadas a
seguir.
3.1. BASE LEGAL PARA A GESTÃO DO USO SUSTENTÁVEL DOS RECURSOS
PESQUEIROS
A base legal para a gestão do uso sustentável dos recursos pesqueiros no Brasil encontra-se
definida na Lei n° 11.959, de 29 de junho de 2009, que dispõe sobre a Política Nacional de
Desenvolvimento Sustentável da Aquicultura e da Pesca, que regula a atividade pesqueira, revoga a
Lei n° 7.679, de 23 de novembro de 1988 e dispositivos do Decreto-Lei nº 221, de 28 de fevereiro de
1967, e dá outras providências. Esta Política Pública foi formulada, dentre outros, com os objetivos de
promover:
I – o desenvolvimento sustentável da pesca e da aquicultura como fonte de alimentação,
emprego, renda e lazer, garantindo o uso sustentável dos recursos pesqueiros, bem como a
otimização dos benefícios econômicos decorrentes, em harmonia com a preservação e a
conservação do meio ambiente e da biodiversidade;
II – o ordenamento, o fomento e a fiscalização da atividade pesqueira;
III – a preservação, a conservação e a recuperação dos recursos pesqueiros e dos ecossistemas
aquáticos;
IV – o desenvolvimento socioeconômico, cultural e profissional dos que exercem a atividade
pesqueira, bem como de suas comunidades.
16
Como aspecto importante a destacar, a definição do termo “ordenamento pesqueiro”, citado no
inciso XII, do art 2º, como o conjunto de normas e ações que permitem administrar a atividade
pesqueira, e que deve estar pautado no uso sustentável dos recursos pesqueiros e baseado no melhor
conhecimento disponível sobre os componentes biológico-pesqueiros, ecossistêmicos, econômicos e
sociais. Em outras palavras, o desenvolvimento da pesca deve compatibilizar a exploração econômica
aos objetivos da conservação e à recuperação da biodiversidade aquática e dos ecossistemas marinho-
costeiros, em consonância com os demais instrumentos legais vigentes, incluindo os acordos
internacionais dos quais o Brasil é signatário, tais como:
I - A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, na qual existem disposições
relevantes sobre a conservação e o uso dos recursos vivos marinhos e com os impactos
ambientais da atividade pesqueira, que em seu artigo 61 trata das medidas de conservação dos
recursos vivos marinhos na Zona Econômica Exclusiva (ZEE), mediante a aplicação do
ordenamento da pesca, e cujo principal objetivo é o de manter ou restaurar as populações das
espécies-alvo das pescarias nos níveis que possam produzir o rendimento máximo sustentável e
que, ao adotar tais medidas, os países costeiros deverão considerar os efeitos da pesca sobre as
espécies associadas com a espécie-alvo da pescaria (as espécies capturadas acidentalmente), de
modo a evitar que as populações dessas espécies sejam reduzidas a níveis abaixo daqueles que
ameacem sua reprodução.
II - A Resolução da Assembléia Geral das Nações Unidas sobre Descartes e “Bycatch” nas
pescarias e seu impacto sobre o uso sustentável dos recursos vivos marinhos.
III - O Código de Conduta para a Pesca Responsável (da FAO), que sinaliza para que as medidas
de ordenamento assegurem a conservação de outras espécies que habitam o ecossistema ou que
sejam associadas ou dependentes das espécies-alvo da pescaria. Nesse sentido, a ocorrência de
capturas acidentais de tartarugas e mamíferos marinhos, ou mesmo da fauna associada ao fundo,
que não possui valor comercial e é muitas vezes descartada nas pescarias de arrasto de
camarões, deve ser objeto de preocupação quando do estabelecimento de medidas de
ordenamento dessas pescarias.
Em várias partes do Código de Conduta, citações sobre o assunto são encontradas, tais como no
art 6°, referente aos princípios gerais, que cita: “6.1. Onde existam adequadas artes e práticas de
pesca seletivas e ambientalmente seguras, deverão ser reconhecidas e consideradas como prioridade
ao se estabelecer medidas de conservação e ordenamento aplicáveis às pescarias. Os estados e os
usuários dos ecossistemas aquáticos deveriam reduzir ao mínimo o desperdício das capturas, tanto
das espécies que são o objeto da pesca como das que não o são, de peixes e outras espécies, assim
como os efeitos sobre as espécies associadas ou dependentes, a captura incidental de espécies não
utilizadas e de outros recursos vivos”.
O item 7.6.9 recomenda “... que os Estados adotem medidas apropriadas para reduzir ao
mínimo os desperdícios, os descartes, as capturas realizadas por artes de pesca perdidas ou
abandonadas, a captura de espécies que não são objeto de pesca, tanto de peixes, como de espécies
distintas das dos peixes, e os efeitos negativos nas espécies associadas ou dependentes, em particular
17
as espécies que estejam em risco de extinção...”, e que deveriam fomentar, na medida do possível, o
desenvolvimento e a utilização de artes e técnicas de pesca seletivas, rentáveis e inofensivas para o
meio ambiente.
Sobre a seletividade das artes de pesca, o item 8.5 cita que: “Os Estados deveriam exigir que as
artes, os métodos e as práticas de pesca sejam, na medida do possível, suficientemente seletivos para
reduzir ao mínimo os desperdícios, os descartes, as capturas de espécies que são objeto de pesca,
tanto de peixes como de outras espécies, e os efeitos sobre as espécies associadas ou dependentes.”
IV - A Declaração e o Plano de Ação de Kioto, aprovados pela Conferência Internacional sobre
a Contribuição da Pesca Sustentável para a Segurança Alimentar, inclui recomendações aos
Estados que ampliem os esforços para: (a) estimar os volumes de peixes, tartarugas, aves e
mamíferos marinhos e outros organismos vivos marinhos que são acidentalmente capturados e
rejeitados nas operações de pesca; (b) avaliar os efeitos sobre tais populações ou espécies; (c)
adotar ações para minimizar os desperdícios e os descartes, inclusive, na medida do que seja
viável, promover o desenvolvimento e a utilização de métodos e de técnicas de pesca seletivas,
ambientalmente seguras e rentáveis; e (d) trocar informações sobre tecnologias e métodos que
minimizem os desperdícios e os descartes.
V - A Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) corresponde a um dos principais acordos
ambientais multilaterais que resultaram da Conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento – Rio 92. A CDB visa promover entre os países membros a
conservação, o uso sustentável e a repartição de benefícios de espécies, ecossistemas e recursos
genéticos, refletindo não apenas uma concepção conservacionista, mas também voltada para a
valorização da importância econômica e social da conservação e do uso sustentável da
biodiversidade.
Entre as decisões ligadas à conservação da biodiversidade marinha, aprovadas ao longo das
Conferências das Partes (COP) da CDB, destacam-se: o Mandato de Jacarta sobre Biodiversidade
Marinha e Costeira (COP 2, em 1995) e o Programa de Trabalho para sua implementação (aprovado
na COP 4, em 1998); o Programa de Trabalho sobre Áreas Protegidas (COP 7, em 2004), que incluiu a
determinação de estabelecer, até 2012, sistemas nacionais e regionais de áreas protegidas marinhas
abrangentes, eficazes e representativos ecologicamente; a aprovação de critérios científicos para a
identificação de áreas marinhas sensíveis (COP 9) e a aprovação da definição, até 2012, de “áreas
biológica e ecologicamente sensíveis” prioritárias para a conservação dos oceanos em escala global
(COP 10).
A COP 10, realizada em Nagoya em 2010, aprovou como parte do Plano Estratégico 2011-2020
da CDB um conjunto de 20 metas conhecido como as Metas de Aichi. Essas Metas representam a
renovação dos compromissos internacionais assumidos pelo Brasil relativos à conservação da
biodiversidade. No que tange à gestão e ao uso sustentável de recursos pesqueiros, e extremamente
relevante como referência para o Plano de Gestão da Tainha, destaca-se a Meta 6: “Até 2020 todos os
estoques de peixes, invertebrados e plantas aquáticas devem ser geridos e explorados legalmente, de
maneira sustentável e aplicando a abordagem ecossistêmica, de maneira a evitar a sobrepesca, com
18
planos e medidas de recuperação em vigor para todas as espécies sobrepescadas, com a pesca
praticada sem impactos adversos significativos sobre espécies ameaçadas e ecossistemas vulneráveis,
e os impactos da pesca sobre os estoques, as espécies e os ecossistemas devem estar dentro dos
limites de segurança ecológica” (MMA, 2012).
3.2. BASE LEGAL DA GESTÃO AMBIENTAL
A Lei n° 6.938, de 31 de agosto de 1981 dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente,
que dentre outros, trata do licenciamento das atividades que utilizam os recursos ambientais, tais como
os pesqueiros. A mencionada lei define:
“DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE”
Art 2º - A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e
recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao
desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da
dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios:
I - ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio ambiente
como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso
coletivo;
......................................
III - planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais;
IV - proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas;
V - controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras;
.........................................
VII - acompanhamento do estado da qualidade ambiental;
VIII - recuperação de áreas degradadas;
IX - proteção de áreas ameaçadas de degradação;
......................................
Art 3º - Para os fins previstos nesta lei, entende-se por:
I - meio ambiente – o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física,
química e biológica que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas;
II - degradação da qualidade ambiental – a alteração adversa das características do meio
ambiente;
III – poluição – a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou
indiretamente:
..........................
b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;
c) afetem desfavoravelmente a biota;
IV – poluidor – a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou
indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental;
V - recursos ambientais – a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os
estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora.
“DOS OBJETIVOS DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE:”
Art 4º - A Política Nacional do Meio Ambiente visará:
19
I - a compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade do
meio ambiente e do equilíbrio ecológico;
II - a definição de áreas prioritárias de ação governamental, relativa à qualidade e ao equilíbrio
ecológico, atendendo aos interesses da União, dos estados, do Distrito Federal, dos territórios e
dos municípios;”
....................................
São relevantes, ainda, especialmente quanto ao mérito, os seguintes instrumentos legais:
- Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998: Lei de Crimes Ambientais e Decreto nº 6.514/2009
que a regulamenta, e;
- Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000: institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação
e o Decreto n° 4.340, de 22 de agosto de 2002 e alterações posteriores, que a regulamenta.
- Instrução Normativa MMA nº 5, de 21 de maio de 2004, que definiu a Lista Nacional das
Espécies de Invertebrados Aquáticos e Peixes Sobrexplotadas ou Ameaçadas de Sobrexplotação
(anexo II). A referida normativa aponta, ainda, como aspecto institucional que motivou a elaboração
do Plano de Gestão, a definição do IBAMA, como instituição responsável por sua elaboração, para ao
assegurar com sua implementação o uso sustentável dos recursos pesqueiros, busca a reversão do
“status” de uso dessas espécies.
3.3. BASE LEGAL DA ESTRUTURA DO PODER EXECUTIVO
Quanto aos aspectos relativos à estruturação do Estado brasileiro, a referência principal é a Lei
n° 10.683, de 28 de maio de 2003, que dispõe sobre a organização da Presidência da República e dos
Ministérios, e dá outras providências, que foi alterada pela Lei n° 11.958, de 29 de junho de 2009, que
dispõe sobre a transformação da Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca da Presidência da
República (SEAP/PR), em Ministério da Pesca e Aquicultura; entre outras providências.
Os instrumentos legais mencionados definem as competências dos Ministérios do Meio
Ambiente e da Pesca e Aquicultura (art 27, incisos XV e XXIV), merecendo também menção especial
o § 6º que estabelece as atribuições conjuntas sobre o uso sustentável dos recursos pesqueiros entre
esses ministérios, conforme transcritos a seguir:
O art 27, XV e XXIV define como competências dos Ministérios:
XV - Ministério do Meio Ambiente:
a) política nacional do meio ambiente e dos recursos hídricos;
b) política de preservação, conservação e utilização sustentável de ecossistemas, biodiversidade
e florestas;
c) proposição de estratégias, mecanismos e instrumentos econômicos e sociais para a melhoria
da qualidade ambiental e do uso sustentável dos recursos naturais;
d) políticas para integração do meio ambiente e produção;
e) políticas e programas ambientais para a Amazônia Legal;
20
f) zoneamento ecológico-econômico;”
................................................................................
XXIV - Ministério da Pesca e Aquicultura: (incluído pela Lei nº 11.958, de 2009)
a) política nacional pesqueira e aquícola, abrangendo produção, transporte, beneficiamento,
transformação, comercialização, abastecimento e armazenagem;
b) fomento da produção pesqueira e aquícola;
c) implantação de infraestrutura de apoio à produção, ao beneficiamento e à comercialização do
pescado e de fomento à pesca e aquicultura;
d) organização e manutenção do Registro Geral da Pesca;
e) sanidade pesqueira e aquícola;
f) normatização das atividades de aquicultura e pesca;
g) fiscalização das atividades de aquicultura e pesca no âmbito de suas atribuições e
competências;
h) concessão de licenças, permissões e autorizações para o exercício da aquicultura e das
seguintes modalidades de pesca no território nacional, compreendendo as águas continentais e
interiores e o mar territorial da Plataforma Continental, da Zona Econômica Exclusiva, áreas
adjacentes e águas internacionais, excluídas as Unidades de Conservação federais e sem prejuízo
das licenças ambientais previstas na legislação vigente:
1) pesca comercial, compreendendo as categorias industrial e artesanal;
2) pesca de espécimes ornamentais;
3) pesca de subsistência;
4) pesca amadora ou desportiva;
i) autorização do arrendamento de embarcações estrangeiras de pesca e de sua operação,
observados os limites de sustentabilidade estabelecidos em conjunto com o Ministério do Meio
Ambiente;
j) operacionalização da concessão da subvenção econômica ao preço do óleo diesel instituída
pela Lei no 9.445, de 14 de março de 1997;
l) pesquisa pesqueira e aquícola; e
m) fornecimento ao Ministério do Meio Ambiente dos dados do Registro Geral da Pesca
relativos às licenças, permissões e autorizações concedidas para pesca e aquicultura, para fins de
registro automático dos beneficiários no Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente
Poluidoras e Utilizadoras de Recursos Ambientais.
.................................................................................................
§ 6º Cabe aos Ministérios da Pesca e Aquicultura e do Meio Ambiente, em conjunto e sob a
coordenação do primeiro, nos aspectos relacionados ao uso sustentável dos recursos pesqueiros:
I - fixar as normas, critérios, padrões e medidas de ordenamento do uso sustentável dos
recursos pesqueiros, com base nos melhores dados científicos e existentes, na forma de
regulamento; e
II - subsidiar, assessorar e participar, em interação com o Ministério das Relações Exteriores,
de negociações e eventos que envolvam o comprometimento de direitos e a interferência em
interesses nacionais sobre a pesca e aquicultura.”
Importante ainda destacar o Decreto nº 6.981, de 13 de outubro de 2009, que regulamentou o
artigo 27, § 6º, inciso I, da Lei nº 10.683, de 2003, dispõe sobre a atuação conjunta dos ministérios da
Pesca e Aquicultura e do Meio Ambiente, nos aspectos relacionados ao uso sustentável dos recursos
pesqueiros, posteriormente, também regulamentado pela Portaria Interministerial MPA e MMA nº 2,
21
de 13 de novembro de 2009, que entre vários aspectos define que (a) as atividades sob
responsabilidade do MMA, no Sistema de Gestão Compartilhada, que poderão ser executadas pelo
IBAMA e o ICMBio; (b) o Sistema de Gestão Compartilhada que será composto por, Comitês,
Câmaras Técnicas e Grupos de Trabalho; (c) os Comitês são instâncias consultivas e de
assessoramento para a definição de normas, critérios e padrões relativos ao ordenamento do uso
sustentável dos recursos pesqueiros; (d) os Comitês e os Colegiados são paritários entre representantes
do Estado e da Sociedade Civil; (e) os Comitês deverão ser formados de acordo com a unidade de
gestão; (f) os Comitês serão assessorados por Subcomitês Científico, Subcomitê de Acompanhamento
e Câmaras Técnicas; (g) o perfil dos componentes dos Subcomitês e Câmaras Técnicas será definido;
e (h) os Planos de Gestão para o uso sustentável dos recursos pesqueiros devem ser elaborados por
Comitês, considerando a unidade de gestão e contemplando todas as medidas ou ações de longo prazo,
considerando, ainda, sempre que possível, o enfoque ecossistêmico, podendo ser revisado
periodicamente.
No tocante, especificamente, ao mérito do Decreto e aos desdobramentos para este Plano, cabe
evidenciar que: (a) apresenta a definição de Plano de Gestão como documento-base que estabelece as
diretrizes para o uso dos recursos pesqueiros em uma unidade de gestão; (b) define unidade de gestão;
(c) institui o sistema de Gestão Compartilhada do uso sustentável dos recursos pesqueiros, com o
objetivo de subsidiar a elaboração e a implementação das normas, critérios, padrões e medidas de
ordenamento; (d) afirma que “na ausência ou insuficiência de dados científicos, deverá ser aplicado o
princípio da precaução”; (e) estabelece que “as normas, critérios, padrões e medidas para a gestão do
uso sustentável dos recursos pesqueiros serão estabelecidos em atos conjunto dos ministros do MPA e
MMA, com base nos subsídios gerados pelo sistema de gestão compartilhada”; (f) institui a Comissão
Técnica de Gestão Compartilhada dos Recursos Pesqueiros (CTGP), órgão consultivo e coordenador
das atividades do sistema de gestão compartilhada; (g) a coordenação e o apoio administrativo
necessário para os trabalhos da CTGP são do MPA; (h) prevê que ato conjunto do MPA e do MMA
poderá constituir comitês, câmaras técnicas e grupos de trabalho vinculados à CTGP; entre outros
aspectos.
Como atos decorrentes do conjunto de leis, anteriormente relacionadas, existem vários decretos
que as regulamentam e normas específicas que disciplinam as ações e os padrões que a sociedade deve
seguir quando da apropriação e do uso dos recursos pesqueiros.
3.4. A PROPRIEDADE E O ACESSO AO USO DOS RECURSOS PESQUEIROS NO
BRASIL
No Brasil, até 1988, historicamente, os recursos pesqueiros eram considerados, juridicamente,
como de propriedade comum (res nullius). Apesar de tal situação jurídica, o Estado brasileiro exercia
tutela sobre tais bens, controlando o acesso e regulando as condições de pesca para as principais
22
espécies (MARRUL-FILHO, 2003). Tal situação se modificou, substancialmente, a partir da
promulgação da Constituição Federal de 1988, com a mudança de “status” jurídico dos recursos
ambientais que passaram a ser considerados como de bens a serem preservados em prol da
coletividade, conforme definido no artigo nº 225. Igualmente importante para esta análise, é o artigo nº
20 da nossa Lei Fundamental, que define como bens da União, entre outros, os recursos naturais da
Plataforma Continental, da Zona Economicamente Exclusiva e o Mar Territorial, explicitando a ampla
tutela do Estado sobre esses bens, no contexto da necessidade de conservação em prol do interesse da
sociedade.
À visão contida nos artigos 20 e 225 da Constituição Federal, com relação aos recursos
ambientais, cabe integrar a definição de meio ambiente apresentada no artigo 3º da Lei nº 6.938/81
(DIAS-NETO, 2003) e a definição de fauna silvestre contida no artigo 29 da Lei nº 9.605/98. Dentre
os aspectos abordados, fica evidenciado que os recursos pesqueiros se constituem em patrimônio
público, sob tutela do Estado, sendo o direito de explorá-los economicamente, uma concessão do
Poder Público, que deve estar limitado pelas normas que visam proteger os direitos da coletividade.
Por sua vez, a já abordada Lei nº 11.959/09, em seu artigo 24 estabelece que: “Toda pessoa
física ou jurídica, que exerça atividade pesqueira, bem como a embarcação de pesca, devem estar
previamente inscritas no Registro Geral da Atividade Pesqueira (RGP), bem como no Cadastro
Técnico Federal (CTF), na forma da legislação específica”. Define ainda, que todo pescador
(profissional ou amador) deverá ter licença para realizar a atividade (art. 25), assim como toda
embarcação deverá estar autorizada pelo órgão público federal competente (art. 26).
Na prática, pode-se dizer que nas últimas décadas tem predominado no Brasil o sistema de
acesso limitado ou regulado pelo Estado, sendo importante destacar que tanto as embarcações
pesqueiras quanto o pescador devem estar habilitados e legalizados (DIAS-NETO, 2003).
4. UNIDADE DE GESTÃO
A Unidade de Gestão aqui considerada é a pesca de tainha (Mugil liza), nas suas diversas
modalidades (artesanal e industrial) e ambientes (estuarino-lagunar e marinho), realizada nas regiões
Sudeste e Sul, e considerando a existência de duas subpopulações para a espécie nesta unidade de
gestão: (i) uma que ocorre do Rio Grande do Sul, até o limite norte de São Paulo (estoque sul) e; (ii)
outra que se distribui desde o Rio de Janeiro até o norte do país (estoque norte), conforme
demonstrado pelos estudos conduzidos por May et al., 2013.
No caso da subpopulação norte, somente a pesca nos estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo
serão incluídos neste Plano. Portanto, as recomendações da presente proposta de Plano de Gestão
contemplam, distintamente, os dois estoques e as suas diferentes pescarias nos seus respectivos
ambientes.
23
Outra proposta específica de Plano de Gestão deverá ser elaborada, posteriormente, para as
pescarias de tainhas do estoque norte, que ocorrem no litoral das regiões Norte e Nordeste.
5. PLANO DE GESTÃO DA PESCA DA TAINHA (Mugil liza)
Os dados, informações e análises apresentadas no diagnóstico a seguir, nortearam o
estabelecimento do prognóstico (objetivos, pontos de referência, metas, ações e medidas de gestão),
que integram este Plano de Gestão para a espécie Mugil liza, principal alvo, entre os mugilídeos, das
capturas comerciais (artesanal e industrial) no Sudeste e Sul do Brasil.
5.1. DIAGNÓSTICO DA PESCA DA TAINHA (Mugil liza)
Diagnosticar uma pescaria que apresenta relevância econômica possibilita expor em tempo aos
gestores, um quadro da situação atual do recurso, para que sejam adotadas medidas corretivas aos
problemas identificados e adequações de uso às potencialidades específicas. O diagnóstico decorre,
geralmente, da identificação de problemas, sendo um instrumento indispensável de gestão, uma
técnica gerencial de primeira ordem, que apresenta uma visão global da situação e define um roteiro
geral ser seguido.
Dentre alguns dos problemas identificados relacionados à pesca da tainha estão a sobrepesca, a
degradação de seus “habitats”, os conflitos entre usuários, o valioso mercado de exportação de ovas,
dentre outros, ou seja, administrar o direito de acesso ao recurso e seu uso em bases sustentáveis,
envolve negociações, acordos, estudos, controle, em outras palavras, relações humanas. Marrul-Filho
(2003) descreveu as relações entre seres humanos, espaços geográficos e os recursos que exploram,
como, fundamentalmente, "relações sociais”. Segundo o autor, elas não são simples e necessitam de
estruturas reguladoras que as permitam reproduzirem-se. Assim, o ordenamento da atividade, como
um sistema resultante de uma combinação complexa, que avalia e integra os efeitos das dinâmicas
ambientais, sociais, econômicas, tecnológicas e políticas, com vista ao uso sustentável do recurso, é
parte fundamental do Plano de Gestão, dentre outras ações não menos importantes.
Este diagnóstico inicia fazendo uma caracterização da espécie, apresenta sua sistemática e
distribuição, aborda aspectos ecossistêmicos dos ambientes que habita, sua dinâmica populacional,
dentre outros. Na sequência, a pesca de tainha no Brasil foi contextualizada, abrangendo sua
caracterização por segmento e estado da federação. Primeiramente, foi descrita a pesca artesanal,
seguida pela industrial, sendo que as análises deste segundo grupo consideraram questões de forma
regionalizada (SE-S), uma vez que a frota opera em todo o litoral, acompanhando a migração dos
cardumes.
O desenvolvimento da atividade produtiva, destacada por segmento, abordou a importância da
pesca de mugilídeos, vulgarmente, denominadas como “tainhas” no Brasil, os aspectos relacionados à
24
produção nacional, regional e por estado no Sudeste e Sul. Nos dois últimos casos (regional e
estadual), especificamente, para a Mugil liza, espécie-alvo deste Plano de Gestão.
Posteriormente, foram abordadas as medidas de monitoramento e controle praticadas e as
principais vulnerabilidades que afetam a espécie e seus usuários, considerando tanto os aspectos
naturais, como os antrópicos, numa visão interdisciplinar, que permeia inúmeras áreas do
conhecimento, como a economia, sociologia e antropologia, identificando as possíveis razões de
agravamento dos problemas identificados e da potencializarão dos riscos para a recuperação da
população de Mugil liza e para os usuários que dependem deste recurso pesqueiro (vulnerabilidades).
Por fim, foram tecidas considerações e conclusões, a partir das informações contidas no diagnóstico,
como orientação ao prognóstico.
Apesar das dificuldades e das lacunas de conhecimento que permanecem, o trabalho foi exitoso
e para atender as deficiências e complementações requeridas sobre o tema, recomenda-se, fortemente
aos gestores, que realizem investimentos continuados em monitoramento, pesquisa com metodologia
padronizada e controle, voltados aos estudos e levantamentos ainda demandados. Em especial, no que
tange a avaliação de estoques, coleta e sistematização de dados de pesca e movimentação da frota, por
meio dos Programas de Observadores de Bordo, de Rastreamento de Embarcações Pesqueiras por
Satélite (PREPS), Mapas de Bordo e Controle de Desembarques, para que as informações geradas
estejam disponíveis para subsidiar as futuras adequações à presente proposta.
Pelo exposto, as informações apresentadas neste diagnóstico são suficientemente robustas para
orientar o aprimoramento das medidas de gestão (propostas do prognóstico) para o uso sustentável da
tainha (Mugil liza) no Sudeste e Sul do Brasil.
5.1.1. CARACTERIZAÇÃO DA ESPÉCIE (Mugil liza)
5.1.1.1. Sistemática e Distribuição
Nomes comuns por região/língua: tainha, cambiro, chaveta, cacetão, saúna, tainha-de-entrada,
tainha-de-rio, tainha-de-pau, tapiara, tapugi, virote (português); mullet (inglês); lisa (espanhol).
A tainha é um peixe da família Mugilidae (MENEZES, 1983), possui 14 gêneros (THOMPSON,
1997), porém, no litoral Sudeste e Sul ocorre apenas espécies do gênero Mugil. As espécies
eurihalinas e euritérmicas exibem ampla distribuição, tanto em águas costeiras marinhas, como
estuarinas tropicais e subtropicais de todo o mundo (MENEZES, 1983; SECKENDORFF &
AZEVEDO, 2007, apud HERBST, 2013). Desde 2007, estudos realizados por Fraga et al. (2007)
apresentaram indícios da ocorrência de apenas uma espécie de tainha na região sudeste e sul. Heras et
al. (2009) concluíram que Mugil platanus e Mugil liza são a mesma espécie, com parentesco próximo,
mas diferente de Mugil cephalus. De acordo com Menezes et al. (2010) há apenas uma espécie de
25
tainha existente na região do Mar do Caribe e na costa Atlântica da América do Sul, sendo Mugil liza
o nome válido.
Estudos de genética populacional foram conduzidos pelo Projeto Tainha (coordenado pela
FURG, com parceria do Instituto de Pesca/SP e UNIVALI). Em uma das pesquisas realizadas e
divulgadas por Mai et al. (2014), análises do tecido extraído próximo à nadadeira caudal de
exemplares de tainha, utilizaram marcadores microssatélites e forneceram a primeira evidência
molecular da existência de grupos distintos de populações de Mugil liza ao longo da costa sul-
americana do Atlântico. As amostras foram coletadas entre maio a setembro de 2011, de cinquenta
exemplares da espécie, em cada um dos quatro locais da costa atlântica brasileira e um da costa
argentina (Niterói/RJ e o outro, inclui os peixes de Ubatuba/SP, Laguna/SC e Rio Grande/RS e da
Baía de Samboronbom/Lavalle, Província de Buenos Aires, Argentina), totalizando a avaliação em
250 exemplares. A identificação de um possível obstáculo para o fluxo de genes nesta região,
proporciona uma base para compreender melhor as características da história de vida da espécie e
interpretar a variação genética inerente ao complexo, em termos de espécies adaptativas
(WHITFIELD et al., 2012). Moritz (1994) indica como critério para definir "Unidades de Gestão"
para fins de conservação, monitoramento populacional e estudos demográficos, a utilização desta
divergência significativa de freqüências alélicas em loci nuclear ou mitocondrial. Assim, deve-se
considerar o Rio de Janeiro (e as populações setentrionais) separadamente de populações do sul de M.
Liza, para monitorar o status do recurso. Ainda, para a concepção de plano de gestão, sugere-se que o
processo seja ampliado extra fronteiras nacional, para incluir a Argentina e o Uruguai.
Assim, este Plano de Gestão considerou Mugil liza como a única espécie, e acatou a
recomendação da supramencionada pesquisa, apresentando ações e medidas de gestão para os
estoques sul e norte, respectivamente, restando ao Estado brasileiro articular a futura ampliação de
gestão compartilhada do recurso com os países vizinhos.
5.1.1.2. Aspectos Ecossistêmicos
Condições ambientais como temperatura, salinidade, correntes marítimas, vento e precipitação
podem afetar a disponibilidade da tainha em função de mudanças no padrão migratório (SADOWSKI;
ALMEIDA DIAS, 1986; VIEIRA; SCALABRINI, 1991; MIRANDA; CARNEIRO, 2007; VIEIRA et
al. (2008); GONZÁLEZ CASTRO et al. (2009a).
Processos de enriquecimento no outono na plataforma sul do Brasil estão associados à chegada
de massas de água sub-antárticas modificadas pelas águas oriundas da Bacia do Prata (PIOLA et al.,
2000), cujo deslocamento sul-norte influencia a migração das tainhas. Processos de concentração de
alimento podem ser controlados pela intensidade do vento, pois, quando muito intensos dispersam as
agregações de partículas de alimento. Processos de retenção estão associados a ventos de quadrante
sul, que retêm as larvas próximas à região costeira pelo transporte em direção à costa (BAKUN;
26
PARRISH, 1991). O sucesso da desova das tainhas depende, então, da ocorrência destes fatores, cujas
variações interanuais devem ser conhecidas e avaliadas.
O estímulo para a saída dos estuários, corrida da tainha, é uma combinação de fatores
meteorológicos e oceanográficos. A passagem de sistemas frontais na região promove a virada dos
ventos que são predominantes de nordeste, para a direção sudoeste (RODRIGUES et al., 2004;
STECH, 1990), conhecido localmente como “rebojo”. Com isso, o transporte de águas superficiais
sobre a plataforma se inverte, e o fluxo passa a ser em direção à costa (onshore). Com isso, as águas
salgadas e frias da plataforma entram nas regiões estuarinas, e a tainha sai no contra fluxo.
Supõe-se que em anos de águas de temperatura mais elevada, como consequência da fraca
penetração das águas subantárticas e das frentes frias, a saída das tainhas de dentro do estuário possa
ocorrer com menor intensidade. Conforme descrito por Herbst (2013), uma vez fora dos estuários, a
migração sobre a plataforma continua em estreita relação com as frentes frias e os padrões de direção
de vento, comportamento conhecido pelos pescadores. Com ventos de sul a espécie se desloca para
norte e em direção à costa, enquanto que com ventos de nordeste ela cessa seu deslocamento e se torna
disponível aos pescadores artesanais. Se o vento nordeste se intensificar, pode inclusive ocorrer uma
regressão para pontos mais ao sul.
Eventos de El Niño estão associados com o aumento da precipitação média no sul do Brasil
(GRIMM et al., 1998; GRIMM et al., 2000). Excesso de chuvas provocadas por El Niño sobre a bacia
de drenagem (201.626 km2
) da Lagoa dos Patos aumenta fluxo de água doce na lagoa (10.360 km2
),
resultando no transporte da pluma dos estuários por vários quilômetros na área marinha costeira
adjacente (GARCIA, 1996; MOLLER et al., 2001). Assim, a precipitação elevada resultante do efeito
El Niño, contribui para a redução da salinidade na Lagoa dos Patos, principal local de onde as tainhas
saem em direção ao oceano para a desova, no Brasil (VIEIRA et al., 2008), exercendo forte influência
negativa sobre o recrutamento juvenil e a dinâmica de migração reprodutiva da tainha neste estuário
(GARCIA et al., 2001).
Moraes, et al. (2012), verificaram que apesar das condições ambientais predominantes nos
últimos 05 anos para o Estuário da Lagoa dos Patos (ELP) favorecessem o recrutamento de M. liza, foi
observada uma tendência de queda na abundância de juvenis (CPUE), sendo a situação possivelmente
explicada como uma decorrência do aumento do esforço de pesca observado nos últimos anos sobre o
recurso.
27
5.1.1.3. Dinâmica Populacional
5.1.1.3.1. Ciclo de Vida
A tainha (Mugil liza) é uma espécie catádroma que passa a maior parte de seu ciclo de vida em
ambientes estuarinos (estuários de planície, baías e lagoas costeiras) e inicia o processo de migração
reprodutiva para o oceano no outono, para desovar no inverno.
5.1.1.3.1.1. Migração e Reprodução
Após a desova, as larvas e pré-juvenis de tainha retornam para os estuários, que são usados
como ambientes de criação e alimentação. Os juvenis de tainha permanecem no estuário até a idade de
primeira maturação, quando realizam a primeira migração reprodutiva (BIZERIL; COSTA, 2001).
A tainha adulta que não foi capturada, também retorna aos estuários. A partir de entrevistas
realizadas por Herbst (2013), para a maioria dos pescadores, a tainha retorna para seus locais de
procedência em agosto e setembro. Alguns mencionaram que elas podem retornar até março.
González Castro, et al. (2009) observaram que no fim de setembro ou início de outubro até dezembro,
a tainha começa a se alimentar e migrar para lagoa Mar Chiquita (Argentina). Lemos et al. (2014)
informaram que de janeiro até agosto, a grande maioria de tainhas capturadas pelos artesanais no Rio
Grande do Sul, exibiam o tamanho superior ao de primeira maturação da espécie, mas alertam que em
Santa Catarina, durante a primeira metade do ano, os indivíduos imaturos são abundantes nas capturas.
A corrida da tainha se caracteriza pelo deslocamento de grandes cardumes de machos e fêmeas
da espécie por longas distâncias, partindo das áreas de criadouro até as áreas de desova (VIEIRA;
SCALABRIN, 1991), sugerindo ainda, que a reprodução acontece em águas com 19ºC a 21°C, ao
longo da rota migratória, na profundidade próxima aos 50 m, sendo as larvas e juvenis em um
movimento passivo para o sul, são levadas de volta, pelas correntes litorâneas de superfície, por
aproximadamente 2-4 meses após a desova. Dados dos Mapas de Bordo, entretanto, informam que a
profundidade média da coluna d´água, onde foram realizados os lances com captura de tainha, esteve
em torno dos 34 m em 2009 e por volta de 26 m, em 2012.
Para Garbin, et al. (2013), embora a área de desova ainda não esteja claramente identificada,
posições e movimentos das embarcações de cerco que pescam tainha, apontam como uma provável
área de desova, entre maio e junho, o norte do estado de Santa Catarina. Lemos, et al. (2014.)
descreveram que mais do que 50% dos exemplares analisados estavam imaturos nos meses de verão
(November, December, January and February). Em junho, 42% das fêmeas estavam no estágio (D)
“hyaline stage”, e 51% dos machos se encontravam no estágio “maduro” (C), indicando ser este, o
principal mês de desova da espécie, subpopulação sul de M.liza, conforme indicado pelo estudo. Ainda
segundo os autores, análises histológicas das gônadas de indivíduos capturados em julho, frente ao
litoral do Paraná pela frota industrial de cerco, demonstraram que 50% das fêmeas já estavam no
28
estágio (E), “desovado”, e entre agosto e fevereiro, não foram encontradas fêmeas com gônadas
maduras.
A análise da variação do índice gônado-somático (IGS) realizada por Schroeder, et al. (2012)
demonstrou a ocorrência de desovas em meados de julho no litoral paranaense em 2011. Em 2012,
similar ao ano anterior, o IGS diminuiu do sul em direção ao sudeste do Brasil, demonstrando que
áreas preferenciais de desova devem ter sido ao norte de Santa Catarina, a partir do mês de julho,
quando foram observadas fêmeas em maturação avançada.
As gônadas das fêmeas de peixes, via de regra, alcançam grandes proporções quando maturas,
podendo pesar mais do que 20% do peso corporal. A tainha pode produzir até 5 milhões de óvulos
dependendo do tamanho do peixe, sendo que para cada quilograma em peso, estima-se a
disponibilidade aproximada de 1,5 milhões de óvulos (BENETTI; NETTO, 1983). Segundo Lemos, et
al. (2014), a fecundidade variou 818.992 a 2.869.767 oócitos (média = 1.624.551) em peixes que
mediam entre 426 e 660 milímetros LT.
Albieri (2009) realizou uma descrição das fases de desenvolvimento gonadal da tainha, a partir
de avaliação de exemplares oriundos da Baía de Sepetiba no Rio de Janeiro. Com base no Índice
Gonadossomático (GSI) e na sequência de desenvolvimento ovocitário observado através de estudos
histológicos, os resultados sugeriram que o período reprodutivo ocorre entre Maio e Agosto com pico
em Julho.
Alarcon (2002) observou que a desova de tainha é do tipo total, com fecundidade média de 2,7
milhões de ovos. Ramagosa et al. (2000) concluíram que a desova é do tipo total e sincrônica e que os
exemplares maiores podem produzir cerca de 2,3 milhões de ovos. Vazzoler (1996) considerou que a
desova sincrônica se caracteriza pela maturação do conjunto de todas as células ovocitárias que são
eliminadas de uma só vez.
Em condições normais, os reprodutores expelem no mar seus produtos sexuais (espermatozóides
e óvulos), ocorrendo fecundação externa, o que reduz o percentual de sucesso de fertilização
(BENETTI; NETTO, 1983). Por isso, seria importante estimar a taxa de fertilização, que segundo
Godinho (2007) é o percentual de número de ovos viáveis (ovos embrionados) em relação à
quantidade total de ovócitos produzidos.
Depois da desova, as características abióticas do ambiente marinho são determinantes para os
ovos sobreviverem (SPARRE & VENEMA, 1997). Segundo Bakun (1996) existem três grandes
processos que se combinam para promover condições favoráveis de desova de espécies pelágicas
costeiras: (i) processo de enriquecimento do meio; (ii) processo de concentração do alimento
produzido; (iii) processos de retenção ou de transporte de ovos e larvas em ou para áreas favoráveis.
Além das questões abióticas existem ainda questões como a qualidade dos gametas e os
parâmetros que influenciam diretamente as taxas de fertilização, como motilidade espermática
(TVEDT, et al., 2001) e a relação espermatozóide/ovócito (BOMBARDELLI, et al. 2006).
29
5.1.1.3.1.2. Recrutamento
Informações preliminares sobre o recrutamento da tainha foram estudadas, a partir do
acompanhamento mensal em quatro (04) pontos do litoral Sul do Brasil, entre maio 2011 e maio 2012
(monitoramento e coleta): (i) interior da Lagoa dos Patos/RS, (ii) Cassino, Rio Grande/RS, (iii)
Tramandaí/ norte RS e, (iv) Laguna/ sul SC. Estes dados demonstraram que a espécie apresenta
crescimento alométrico negativo, ou seja, têm taxas de crescimento diferenciadas para duas
características mensuráveis. A Lagoa dos Patos (32∘ S), no sul do Brasil. é considerada a principal
área de criadouro para M. liza (VIEIRA, 1991; VIEIRA & SCALABRIN, 1991; VIEIRA et al., 2008).
Os arrastos de praia mensais, na zona de arrebentação da área compreendida entre Laguna e
Chuí, no mesmo período, registraram a ocorrência de recrutas ao longo de todo o ano, sendo que nesta
região, as maiores abundâncias ocorreram, especialmente, em frente à Lagoa dos Patos. Segundo as
observações, recrutas permanecem durante até um ano, em mar aberto, na zona de rebentação do
estuário, “surf zone” (pré-recrutamento), aguardando boas condições (alta salinidade) para entrarem.
Em anos de El Niño, o recrutamento é fraco (VIEIRA, et al. 2012).
Do momento da fecundação até o estágio juvenil ou pré-recruta, as tainhas precisam sobreviver
a dois (2) processos de recrutamento distintos. O primeiro recrutamento refere-se à chegada das larvas
provenientes da plataforma até a zona de praia próxima às lagoas costeiras (recrutamento à zona de
arrebentação). Os pré-recrutas chegam à zona de arrebentação com a ajuda de um fluxo das águas
superficiais em direção à costa, promovido pelo vento predominante de S/SW, típico dos meses de
inverno (BAKUN; PARRISH, 1990). O segundo processo refere-se ao deslocamento dos pré-recrutas
desde a praia até a entrada no estuário (recrutamento ao estuário).
A idade média destes indivíduos nessa fase seria, aproximadamente, de dois meses após a safra
em Santa Catarina, entre agosto e setembro, quando ocorre a marcação de um anel juvenil nos otólitos,
com aproximadamente 22 mm de comprimento total (GARBIN, et al., 2014). Entretanto, foi
verificado que esse fato não ocorre com a mesma intensidade à frente de outros estuários do litoral sul,
sendo a Lagoa dos Patos o principal berçário para espécie no Brasil.
Estudos sobre a ictiofauna em estuários do Paraná mostraram uma forte abundância de tainhas
na região interna (SPACH et al. 2010). A mesma situação foi confirmada por Cassiano Monteiro
(com. pess., 2013), que destacou algumas diferenças entre a concentração de juvenis durante o ano
todo no Rio de Janeiro, em relação ao descrito para a Lagoa dos Patos/RS, atentando para a raridade
da presença de juvenis na zona de arrebentação dos estuários fluminenses. Estudos na Baía de
Sepetiba (SILVA & ARAÚJO, 2000) também mostraram uma maior abundância de juvenis de tainha
nas porções interna do estuário.
De acordo com Garbin et al. (2014), a curva de captura linearizada baseada em dados de
composição etária para 2011, apresentou média de idade de recrutamento para a pesca de 6 anos.
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Plano de gestão sustentável da tainha

  • 1. PLANO DE GESTÃO PARA O USO SUSTENTÁVEL DA TAINHA, Mugil liza Valenciennes, 1836, NO SUDESTE E SUL DO BRASIL. Brasília, abril de 2015 MINISTÉRIO DA PESCA E AQUICULTURA – MPA MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE – MMA
  • 2. PLANO DE GESTÃO PARA O USO SUSTENTÁVEL DA TAINHA, Mugil liza Valenciennes, 1836, NO SUDESTE E SUL DO BRASIL.
  • 3. SUMÁRIO 1. APRESENTAÇÃO ..................................................................................................... 10 2. ANTECEDENTES...................................................................................................... 11 3. ASPECTOS INSTITUCIONAIS NA GESTÃO DOS RECURSOS PESQUEIROS NO BRASIL...................................................................................... 15 3.1. BASE LEGAL PARA A GESTÃO DO USO SUSTENTÁVEL DOS RECURSOS PESQUEIROS.............................................................................................................. 15 3.2. BASE LEGAL DA GESTÃO AMBIENTAL.............................................................. 18 3.3. BASE LEGAL DA ESTRUTURA DO PODER EXECUTIVO.................................. 19 3.4. A PROPRIEDADE E O ACESSO AO USO DOS RECURSOS PESQUEIROS NO BRASIL........................................................................................................................ 21 4. UNIDADE DE GESTÃO............................................................................................ 22 5. PLANO DE GESTÃO DA PESCA DA TAINHA (Mugil liza)............................... 23 5.1. DIAGNÓSTICO DA PESCA DA TAINHA (Mugil liza)............................................ 23 5.1.1. CARACTERIZAÇÃO DA ESPÉCIE (Mugil liza) ...................................................... 24 5.1.1.1. Sistemática e Distribuição............................................................................................. 24 5.1.1.2. Aspectos Ecossistêmicos .............................................................................................. 25 5.1.1.3. Dinâmica Populacional ................................................................................................. 27 5.1.1.3.1. Ciclo de Vida ................................................................................................................ 27 5.1.1.3.1.1. Migração e Reprodução ................................................................................................ 27 5.1.1.3.1.2. Recrutamento ................................................................................................................ 29 5.1.1.3.1.3. Crescimento .................................................................................................................. 30 5.1.2. CARACTERIZAÇÃO DA PESCA DE TAINHA ....................................................... 32 5.1.2.1. A Pesca Artesanal de Tainha nas Regiões Sudeste e Sul do Brasil.............................. 33 5.1.2.1.1. Espírito Santo................................................................................................................ 35 5.1.2.1.1.1. Aspectos socioeconômicos ........................................................................................... 35 5.1.2.1.1.2. Regiões de pesca........................................................................................................... 36 5.1.2.1.1.3. Petrechos empregados na captura de tainha.................................................................. 36 5.1.2.1.2. Rio de Janeiro ............................................................................................................... 36 5.1.2.1.2.1. Aspectos socioeconômicos ........................................................................................... 36 5.1.2.1.2.2. Regiões de pesca........................................................................................................... 36 5.1.2.1.2.3. Petrechos empregados na captura de tainha.................................................................. 37 5.1.2.1.3. São Paulo ...................................................................................................................... 38 5.1.2.1.3.1. Aspectos socioeconômicos ........................................................................................... 38 5.1.2.1.3.2. Regiões de pesca........................................................................................................... 40 5.1.2.1.3.3. Petrechos empregados na captura de tainha.................................................................. 41 5.1.2.1.4. Paraná............................................................................................................................ 43 5.1.2.1.4.1. Aspectos socioeconômicos ........................................................................................... 43 5.1.2.1.4.2. Regiões de pesca........................................................................................................... 44 5.1.2.1.4.3. Petrechos empregados na captura de tainha.................................................................. 44 5.1.2.1.5. Santa Catarina ............................................................................................................... 46 5.1.2.1.5.1. Aspectos socioeconômicos ........................................................................................... 46 5.1.2.1.5.2. Regiões de pesca de tainha ........................................................................................... 46 5.1.2.1.5.3. Petrechos empregados na captura de tainha.................................................................. 48 5.1.2.1.6. Rio Grande do Sul......................................................................................................... 50 5.1.2.1.6.1. Aspectos socioeconômicos ........................................................................................... 50 5.1.2.1.6.2. Regiões de pesca de tainha ........................................................................................... 52 5.1.2.1.6.3. Petrechos empregados na captura de tainha.................................................................. 52 5.1.2.2. A Pesca Industrial de Tainha nos Estados das Regiões Sudeste e Sul.......................... 53 5.1.2.2.1. Aspectos socioeconômicos ........................................................................................... 54 5.1.2.2.2. Modalidade/Petrecho (Tecnologia de Pesca)................................................................ 61 5.1.2.2.2.1. Frota de Traineira/Cerco autorizada/permissionada ..................................................... 61 5.1.2.2.2.2. Frota de Emalhe autorizada/permissionada .................................................................. 66
  • 4. 5.1.2.2.3. Tecnologia de pesca...................................................................................................... 66 5.1.3. PRODUÇÃO DE TAINHA.......................................................................................... 69 5.1.3.1. Bases de Dados Estatísticos.......................................................................................... 69 5.1.3.2. Produção Nacional e Regional de Mugilídeos.............................................................. 73 5.1.3.3. Produção de Tainha (Mugil liza) nas Regiões Sudeste e Sul........................................ 76 5.1.3.3.1. Produção Artesanal de Tainha por Estado nas Regiões Sudeste e Sul ......................... 78 5.1.3.3.1.1. Espírito Santo................................................................................................................ 80 5.1.3.3.1.2. Rio de Janeiro ............................................................................................................... 81 5.1.3.3.1.3. São Paulo ...................................................................................................................... 82 5.1.3.3.1.4. Paraná............................................................................................................................ 84 5.1.3.3.1.5. Santa Catarina ............................................................................................................... 85 5.1.3.3.1.6. Rio Grande do Sul......................................................................................................... 90 5.1.3.3.2. Produção Industrial de Tainha por Estado nas Regiões Sudeste e Sul ......................... 92 5.1.3.3.2.1. Rio de Janeiro ............................................................................................................... 93 5.1.3.3.2.2. São Paulo ...................................................................................................................... 94 5.1.3.3.2.3. Santa Catarina ............................................................................................................... 95 5.1.3.3.2.4. Rio Grande do Sul......................................................................................................... 98 5.1.4. SISTEMAS DE MONITORAMENTO E CONTROLE DA PESCA........................ 101 5.1.4.1. Programa de Rastreamento de Embarcações Pesqueiras por Satélite – PREPS......... 101 5.1.4.1.1. Densidade de pesca da frota de cerco durante a safra da tainha ................................. 101 5.1.4.2. Mapas de Bordo da pesca de tainha pela frota de cerco ............................................. 106 5.1.4.2.1. Características gerais da pesca de tainha pela frota de cerco...................................... 109 5.1.4.2.2. Características das embarcações e tamanho das redes................................................ 111 5.1.4.2.3. Características da pescaria .......................................................................................... 114 5.1.4.2.4. Características ambientais da área de operação.......................................................... 116 5.1.4.2.5. Índices de produção de tainha..................................................................................... 118 5.1.5. VULNERABILIDADES ............................................................................................ 121 5.1.5.1. Fase inicial do ciclo de vida........................................................................................ 122 5.1.5.2. Fase juvenil do ciclo de vida....................................................................................... 124 5.1.5.2.1. O exemplo da Lagoa dos Patos/RS............................................................................. 125 5.1.5.3. Fase adulta do ciclo de vida........................................................................................ 128 5.1.5.4. Comportamento populacional da espécie (hiperestabilidade) .................................... 132 5.1.5.5. Relacionada aos aspectos socioeconômicos ............................................................... 135 5.1.6. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA REGULAMENTAÇÃO DA PESCA DA TAINHA NO SUDESTE E SUL................................................................................................ 140 5.1.7. CONSIDERAÇÕES E CONCLUSÕES..................................................................... 146 5.1.7.1. FATORES AMBIENTAIS ......................................................................................... 146 5.1.7.2. FATORES BIOLÓGICOS.......................................................................................... 147 5.1.7.2.1. Sistemática e Distribuição........................................................................................... 147 5.1.7.2.2. Reprodução ................................................................................................................. 148 5.1.7.2.3. Recrutamento .............................................................................................................. 149 5.1.7.2.4. Crescimento ................................................................................................................ 150 5.1.7.3. A PESCA NO BRASIL .............................................................................................. 151 5.1.7.4. A PESCA DA TAINHA ............................................................................................. 152 5.1.7.4.1. A pesca artesanal......................................................................................................... 152 5.1.7.4.2. A pesca industrial........................................................................................................ 155 6. PROGNÓSTICO....................................................................................................... 158 6.1. POSSÍVEIS CENÁRIOS, FRENTE AO DIAGNÓSTICO APRESENTADO.......... 158 6.2. OBJETIVO GERAL................................................................................................... 161 6.2.1. Objetivos Específicos.................................................................................................. 161 6.2.1.1. ASPECTOS ECOSSISTÊMICOS.............................................................................. 161 6.2.1.1.1. META 01 – Identificação e mapeamento dos impactos antrópicos nas principais áreas de alimentação e crescimento............................................................................ 161
  • 5. 6.2.1.1.2. META 02 – Avaliação do nível de alteração das áreas de criadouros, de reprodução e de transição entre os ambientes marinho-costeiros (desembocadura estuarino- lagunares).................................................................................................................... 162 6.2.1.1.3. META 03 – Mitigação dos impactos antrópicos, distintos da pesca, sobre as áreas estuarino-lagunares e marinho-costeiras. ................................................................... 162 6.2.1.2. ASPECTOS SÓCIO-CULTURAIS............................................................................ 163 6.2.1.2.1. META 01 – Favorecimento da aproximação dos cardumes de tainhas às praias....... 163 6.2.1.2.2. META 02 – Estabelecimento do limite de esforço, em número de pescadores ou barcos ou petrechos de pesca, por área (estuarino-lagunar, beira de praia, costeira e de plataforma) privilegiando os métodos de menor impacto e maior benefício social........................................................................................................................... 163 6.2.1.2.3. META 03 – Valorização das regras informais de gestão da pesca tradicional de tainha, através da formalização de seus territórios e práticas empregadas................. 164 6.2.1.3. ASPECTOS ECONÔMICOS..................................................................................... 165 6.2.1.3.1. META 01 – Manutenção e recuperação da rentabilidade econômica da pesca legal de tainha, associada à redução de esforço de pesca.................................................... 165 6.2.1.3.2. META 02 – Aprimoramento e acompanhamento de instrumentos de incentivos econômicos, associados à gestão do uso sustentável de recursos pesqueiros. ........... 166 6.2.1.3.3. META 03 – Controle da cadeia produtiva da tainha e de seus subprodutos. ............. 166 6.2.1.4. ASPECTOS BIOLÓGICO-PESQUEIROS................................................................ 167 6.2.1.4.1. META 01 – Proteção da tainha dentro das áreas estuarino-lagunares (criadouros)... 168 6.2.1.4.2. META 02 – Garantir o sucesso da migração reprodutiva e da desova sobre a plataforma................................................................................................................... 172 6.2.1.5. ASPECTOS LEGAIS ................................................................................................. 176 6.2.1.5.1. META 01 - Elaboração de minuta e publicação de novo marco legal para a pesca de tainha nas regiões Sudeste e Sul................................................................................. 177 6.2.2. Programa de Pesquisa e Monitoramento..................................................................... 177 6.2.2.1. Pesquisas prioritárias para a Gestão:........................................................................... 177 6.2.2.2. Outros Estudos Relevantes: ........................................................................................ 179 6.2.3. Programa de Educação Ambiental.............................................................................. 180 6.2.4. Programa de Fiscalização ........................................................................................... 181 6.3. Avaliação .................................................................................................................... 183 6.4. Participação da sociedade ........................................................................................... 183 6.5. Cronograma de Execução ........................................................................................... 183 7. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA......................................................................................... 184 ANEXO I .................................................................................................................................... 211 ANEXO II .................................................................................................................................... 232
  • 6. LISTA DE TABELAS Tabela 1: Informações sobre o comprimento total mínimo (Min), máximo (Máx) médio (Méd), moda, L50 e L100 da tainha M. liza em diferentes regiões do sudeste e sul do Brasil.................................... 32 Tabela 2: Característica da atividade de pesca artesanal, de acordo com diferentes critérios. BE: baía/estuário; P: praia; AC: água costeira; C: comunitária: I: individual; V: venda; S: subsistência; E: emalhe; AP: arrasto de praia; C: cerco; AR: armadilha; T: tarrafa. ...................................................... 33 Tabela 3: Resumo da movimentação financeira das ovas de tainha exportadas entre os anos de 2006 e 2013. ...................................................................................................................................................... 60 Tabela 4: Critérios de acesso e respectivas normativas para concessão de autorização para a pesca de tainha com a modalidade de cerco, nos anos de 2009 a 2013. .............................................................. 62 Tabela 5: Número de embarcações autorizadas para a pesca de tainha com emalhe costeiro, por estado e por arqueação bruta............................................................................................................................. 66 Tabela 6: Produção nacional, regional e por estado de mugilídeos (t), entre 1980 e 2010. Valores por estado apresentados entre 1990 e 1994; 2008 a 2010 são estimativas. ................................................. 75 Tabela 7: Produção de mugilídeos (t), regional e unidade da federação, por segmento (industrial e artesanal) entre 1980 e 2010. Os valores apresentados entre 2008 e 2010 são estimativas baseadas na produção nacional.................................................................................................................................. 77 Tabela 8: Captura descarregada (kg) e número de descargas (N° Desc.) com tainha M. liza por arte de pesca da frota artesanal, realizadas em São Paulo entre os anos 2009 e 2013. Informações referentes ao ano 2013 incluem somente as descargas realizadas até o mês de setembro deste mesmo ano. ............ 83 Tabela 9: Frequência de atividade de pesca de embarcações de cerco autorizadas à captura de tainha, dentro e fora da área proibida à atividade, durante o período de 15 de maio a 02 de julho, nos anos de 2011 e de 2012..................................................................................................................................... 103 Tabela 10: Número total de Mapas de Bordo, barcos e lances com captura de tainha, para todas as embarcações de cerco, entre os anos de 2008 e 2012.......................................................................... 106 Tabela 11: Número de embarcações de cerco que apresentaram Mapas de Bordo com a captura de tainha, classificadas pela arqueação bruta (AB), e percentual em relação ao total de traineiras autorizadas à pesca da espécie............................................................................................................. 108 Tabela 12: Número total de lances com captura de tainha, em cada área Latitudinal, entre os anos de 2008 e 2012. ........................................................................................................................................ 109 Tabela 13: Características médias das embarcações de cerco e tamanho das redes utilizadas na captura de tainha, para cada setor Latitudinal, entre os anos de 2008 e 2012.................................................. 113 Tabela 14: Características médias da pesca de tainha realizada por embarcações de cerco, para cada setor Latitudinal, entre os anos de 2008 e 2012. ................................................................................. 115 Tabela 15 (a e b): Características ambientais registradas durante a pesca de tainha por embarcações de cerco, para cada setor Latitudinal, entre os anos de 2008 e 2012........................................................ 118 Tabela 16: Médias dos índices de produção de tainha pela frota de cerco, registradas em Mapas de Bordo, para cada setor Latitudinal, entre os anos de 2008 e 2012. ..................................................... 120 Tabela 17: Relação empregada para estimar o número de ovócitos existentes em 100 t de ovas de tainha. .................................................................................................................................................. 129 Tabela 18: Exercício para demonstração do impacto hipotético da retirada de 100 t de ovas de tainha, considerando diferentes percentuais de sucesso de fertilização no ambiente natural. ........................ 129 Tabela 19: Estimativa da biomassa total de tainhas para a produção do volume de ovas exportadas e declaradas pela Receita Federal, considerado o peso médio da ova igual a 0,195 kg e o peso médio das tainhas fêmeas de 1,908 kg.................................................................................................................. 130
  • 7. LISTA DE FIGURAS Figura 1: Comprimento total médio, mínimo e máximo da tainha Mugil liza capturada com tarrafa no canal dos molhes de Laguna, entre os dias 03/04/2012 e 12/06/2012 (n=405)..................................... 31 Figura 2: Média percentual (1990-1997) das capturas de tainha........................................................... 38 Figura 3: Captura por Unidade de Esforço, em kg/hora de pesca, da tainha Mugil liza capturada pela frota artesanal de emalhe de superfície (praia e estuário) do litoral sul do Estado de São Paulo, entre os anos de 1998 e 2013. Informações referentes ao ano 2013 incluem somente as descargas realizadas até o mês de setembro deste mesmo ano..................................................................................................... 39 Figura 4: Desenho esquemático da estrutura do cerco-fixo utilizado na pesca da tainha no litoral sul de São Paulo. .............................................................................................................................................. 41 Figura 5: Litoral de Santa Catarina mostrando os pontos de desembarque da tainha e as regiões de pesca – sul, centro e norte...................................................................................................................... 47 Figura 6: Pontos de desembarque da tainha na Ilha de Santa Catarina monitorados pela FEPESC. .... 48 Figura 7: Percentual médio (2003-2012) das capturas mensais de tainha por região (sul, centro e norte)...................................................................................................................................................... 49 Figura 8: Preços médios de primeira comercialização no período de 2002 a 2013. ............................. 56 Figura 9: Produção (kg) de tainha nas regiões Sudeste e Sul associada ao custo médio (R$) de comercialização no CEAGESP, deste pescado por ano. ....................................................................... 56 Figura 10: Produção anual de ovas de tainha pelas quatro indústrias de Santa Catarina...................... 58 Figura 11: Volume de exportação de ovas e moelas de tainha no período de 2007 a 2013, em toneladas. ............................................................................................................................................... 58 Figura 12: Quantidades (t) das exportações brasileiras do grupo NCM 03038000 - fígados, ovas e sêmen, de peixes, congelados................................................................................................................ 59 Figura 13: Comparativo da produção informada pelas empresas processadoras de Santa Catarina e os dados oficiais de exportação de Santa Catarina, segundo o MDIC para o grupo NCM 03038000 - fígados, ovas e sêmen, de peixes, congelados. ...................................................................................... 59 Figura 14: Valores médios por quilograma das exportações brasileiras de ovas e moelas................... 60 Figura 15: Comparação entre o número de embarcações com descargas registradas em Santa Catarina no período de 2000 a 2013 e o total de embarcações autorizadas no período de 2009 a 2013 para a pesca da tainha no Sudeste e Sul. .......................................................................................................... 62 Figura 16: Participação dos estados na composição da frota de cerco autorizada para a pesca da tainha nos anos de 2009, 2011 e 2013.............................................................................................................. 63 Figura 17: Características da frota de cerco autorizada para a pesca da tainha em 2013, sendo A porcentagem de barcos por estado; B – Composição da frota por ano de construção; C – Composição da frota por comprimento total; e D – Composição da frota por Arqueação Bruta. ............................. 64 Figura 18: Médias de arqueação bruta (AB) de todas as embarcações de cerco autorizadas à captura da tainha no período de 2009 a 2013; = média e = intervalo de confiança; tabela com a significância, calculada pelo Teste de Kruskal-Wallis, a 95% para as diferenças entre as médias anuais.................. 64 Figura 19: Variação do número de embarcações com descargas registradas em Santa Catarina no período de 2000 a 2012. ........................................................................................................................ 65 Figura 20: Variação na frequência de operações de descarga registradas em Santa Catarina no período de 2000 a 2012....................................................................................................................................... 65 Figura 21: Comprimentos médios para o comprimento das redes construídas em Itajaí no período de 1993 a 2011. .......................................................................................................................................... 67
  • 8. Figura 22: Evolução da produção artesanal de tainha (M. liza), demonstrando as diferentes bases de dados, por unidade da federação (a-f), entre 1980 e 2013. Em vermelho, a linha de tendência de produção da espécie gerada a partir do banco de dados selecionado. ................................................... 71 Figura 23: Evolução da produção industrial de tainha (Mugil liza), demonstrando as diferentes bases de dados, por unidade da federação (a-d), entre 1980 e 2012. Em vermelho, a linha de tendência de produção da espécie gerada a partir do banco de dados selecionado. ................................................... 72 Figura 24: Diferença entre a base de dados nacional e àquelas selecionadas entre 1980 e 2010.......... 73 Figura 25: Produção nacional, por região e categorias (artesanal e industrial) de mugilídeos (t), entre 1980 e 2010. .......................................................................................................................................... 74 Figura 26: Produção total de tainha (Mugil liza) (t) por estado, entre 1980 e 2010............................. 76 Figura 27: Produção total de tainha (Mugil liza) (t), por segmento (artesanal e industrial), nas regiões Sudeste e Sul, entre 1980 e 2011........................................................................................................... 78 Figura 28: Produção artesanal de tainha (M.liza) (t), por estado nas regiões Sudeste e Sul, entre 1980 e 2010. ...................................................................................................................................................... 79 Figura 29: Evolução da produção de tainha no Espírito Santo, entre os anos de 1980 e 2012. Linha de tendência em vermelho.......................................................................................................................... 80 Figura 30: Capturas mensais de tainha no estado do Espírito Santo no ano de 2011. .......................... 81 Figura 31: Evolução da produção artesanal em comparação com a total de tainha, no estado do Rio de Janeiro, entre os anos de 1980 e 2012. Linha de tendência em vermelho............................................. 82 Figura 32: Evolução da produção artesanal em comparação com a total de tainha, no estado do São Paulo, entre os anos de 1980 e 2013. Informações referentes ao ano 2013 incluem somente as descargas realizadas até o mês de setembro deste mesmo ano. Linha de tendência em vermelho. ...... 83 Figura 33: Evolução da produção artesanal de tainha no estado do Paraná, entre os anos de 1980 a 2010. Linha de tendência em vermelho................................................................................................. 84 Figura 34: Evolução da produção artesanal em comparação com a total de tainha, no estado de Santa Catarina, entre os anos de 1980 a 2013. Linha de tendência em vermelho........................................... 86 Figura 35: Capturas totais anuais (t.) de tainha M. liza, pela frota artesanal de Santa Catarina, entre os anos de 2003 e 2012. Linha de tendência (pontilhado). ........................................................................ 87 Figura 36: Capturas totais anuais (t) pela frota artesanal entre os anos de 2003 e 2012 e linha de tendência (pontilhado) nas três diferentes regiões de pesca da tainha M. liza em Santa Catarina. ....... 88 Figura 37: Percentual de distribuição das capturas para os anos de 2003 a 2012. ................................ 89 Figura 38: Capturas médias anuais das regiões de pesca da tainha Mugil liza, entre 2003 e 2012 realizadas pelo segmento artesanal em Santa Catarina (± intervalo de confiança de 95%).................. 89 Figura 39: Evolução da produção de tainha (t.) artesanal entre os anos de 1945 a 2011, em comparação com a total, a partir de 1970, no estado do Rio Grande do Sul. Linha de tendência da pesca artesanal, em vermelho. ......................................................................................................................................... 91 Figura 40: Produção industrial de tainha (M.liza) (t) desembarcada nas regiões sueste e Sul, no período de 1980 e 2012....................................................................................................................................... 92 Figura 41: Evolução da produção industrial de tainha (t) no estado do Rio de Janeiro (eixo da esquerda), em relação à produção total industrial (eixo da direita), entre os anos de 1980 e 2012, destacando em vermelho, a tendência de evolução no estado............................................................... 93 Figura 42: Evolução da produção industrial de tainha (t) no estado de São Paulo (eixo da esquerda), em relação à produção industrial total (eixo da direita), entre os anos de 1980 e 2012, destacando em vermelho, a tendência de evolução no estado........................................................................................ 94
  • 9. Figura 43: Evolução da produção industrial de tainha (t) no estado de Santa Catarina, em relação à produção industrial total, entre os anos de 1980 e 2012, destacando em vermelho, a tendência de evolução no estado................................................................................................................................. 95 Figura 44: Composição de espécies nos desembarques (t) de traineiras registrados em Santa Catarina no período de 2000 a 2010. ................................................................................................................... 96 Figura 45: Captura Mensal (t) de tainha (M. liza) pela frota industrial catarinense entre 1995 e 2012.97 Figura 46: Proporção mensal dos desembarques de tainha provenientes da frota industrial de cerco, nos períodos de 1995 a 2008 e 2009 a 2012, relacionado a publicação da INI IBAMA 171/2008, que determina a abertura da safra de pesca da tainha em 15 de maio.......................................................... 98 Figura 47: Evolução da produção industrial de tainha (t) no estado do Rio Grande do Sul (eixo da esquerda), em relação à produção total industrial (eixo da direita), entre os anos de 1980 e 2012, destacando em vermelho, a tendência de evolução no estado............................................................... 99 Figura 48: Desembarques da pesca industrial de tainha no Rio Grande do Sul, de 1995 a 2011, por modalidade de pesca.............................................................................................................................. 99 Figura 49: Composição dos desembarques da frota industrial de cerco no Rio Grande do Sul, entre 1997 e 2011. ........................................................................................................................................ 100 Figura 50: Proporção mensal dos desembarques de tainha provenientes da frota industrial de cerco, nos períodos de 1995 a 2008 e 2009 a 2012, no Rio Grande do Sul................................................... 100 Figura 51: Mapas indicando as áreas proibidas para a pesca de tainha por traineiras com mais de 10 AB, sendo: (a) no Rio Grande do Sul e, (b) nos demais estados da região Sudeste/Sul. .................... 102 Figura 52: Densidade de atividade pesqueira de embarcações de cerco autorizadas à captura de tainha na região Sudeste/Sul, no período de 15 de maio a 02 de julho nos anos de 2011 e de 2012 (12 semanas de monitoramento). ............................................................................................................... 104 Figura 53: Frequência de embarcações de cerco autorizadas e não autorizadas para a captura de tainha no percentual de embarcações, Mapas de Bordo e lances com captura da espécie, assim como na sua produção, entre os anos de 2008 e 2012.............................................................................................. 107 Figura 54: Localização dos setores Latitudinais utilizados nas análises espaciais.............................. 109 Figura 55: Frequência de lances com captura de tainha, em cada setor latitudinal, de acordo com o estado de origem e de destino dos cruzeiros de pesca, entre os anos de 2008 e 2012......................... 110 Figura 56: Características das embarcações de cerco e tamanho das redes utilizadas na captura de tainha, nos anos de 2008 a 2012 e resultados do Teste de Kruskal-Wallis; losangos = média; linhas tracejadas = intervalo de confiança (95%); linhas contínuas = valores máximo e mínimo. ............... 112 Figura 57: Características da pesca de tainha realizada por embarcações de cerco, nos anos de 2008 a 2012, e resultado do Teste de Kruskal-Wallis; losangos = média; linhas tracejadas = intervalo de confiança (95%); linhas contínuas = valores máximo e mínimo......................................................... 115 Figura 58: Características ambientais registradas durante a pesca de tainha por embarcações de cerco, nos anos de 2008 a 2012, e resultado do Teste de Kruskal-Wallis; losangos = média; linhas tracejadas = intervalo de confiança (95%); linhas contínuas = valores máximo e mínimo. ................................ 117 Figura 59: Índices de produção e número de lances da pesca de tainha pela frota de cerco, nos anos de 2008 a 2012, e resultado do Teste de Kruskal-Wallis; losangos = média; linhas tracejadas = intervalo de confiança (95%); linhas contínuas = valores máximo e mínimo.................................................... 119 Figura 60: Variação na abundância de juvenis de Mugil liza dentro do estuário da Lagoa dos Patos.123 Figura 61: Número total anual de frentes frias que passaram por Laguna (SC) entre os anos de 1997 e 2012. .................................................................................................................................................... 132
  • 10. 10 1. APRESENTAÇÃO A tainha Mugil liza, Valenciennes, 1836, é uma espécie de ambientes costeiros marinhos e estuarinos, que forma densos cardumes durante sua migração reprodutiva. No litoral Sudeste e Sul brasileiro a espécie é um recurso tradicional das frotas artesanais. No Espírito Santo existem registros da pesca com rede de cerco na Baía do Espírito Santo, em Camburí (MONJARDIM, 2002). No litoral do RJ as capturas ocorrem em Itaipú - Niterói (TUBINO et al. 2007; MONTEIRO-NETTO et al. 2008) e nas Baías de Guanabara (JABLONSKI et al., 2006) e Sepetiba (ALBIERI, 2009). No litoral norte de São Paulo, na Ilha de São Vicente, a tainha é capturada com o arrasto de praia (FAGUNDES et al., 2007), e no litoral sul com redes de emalhe e cerco-fixo (MENDONÇA, 2007). No litoral do Paraná e Santa Catarina os pescadores utilizam o arrasto de praia, tarrafa, caceio e emalhe, principalmente na migração reprodutiva do outono (MEDEIROS, 2002; CHAVES & ROBERT, 2003; PINA & CHAVES, 2005). No litoral gaúcho a tainha é pescada principalmente na Lagoa dos Patos (REIS & D’INCAO, 2000; OKAMOTO et al., 2006, VIEIRA et al., 2008) e Lagoa do Peixe, onde representava 76,4% da captura total (LOEBMANN & VIEIRA, 2005). A captura da tainha também é realizada pela frota industrial que atua nas regiões Sudeste e Sul, principalmente com cerco (traineiras) (UNIVALI, 2010). Neste último caso, como espécie alternativa, com permissão complementar, ou ainda, pela frota de emalhe de superfície, como espécie-alvo. Considerando que: (i) a tainha tem grande importância socioeconômica para diferentes grupos de usuários; (ii) é relevante para a segurança alimentar das comunidades artesanais do litoral brasileiro; (iii) existem disputas pelo recurso; (iv) há inúmeras vulnerabilidades tanto naturais, quanto de natureza antrópica que afetam negativamente o equilíbrio populacional desta espécie; e (v) há necessidade de aperfeiçoar as medidas de ordenamento pesqueiro estabelecidas, fatos que justificam a importância de estruturação de um Plano de Gestão para o uso sustentável da tainha (Mugil liza), no Sudeste e Sul do Brasil, em observação ao estabelecido pelo Decreto nº 6.981, de 13 de outubro de 2009. Conforme dispõe o referido, as diretrizes para uso dos recursos pesqueiros serão estabelecidas pelo Plano de Gestão do uso sustentável dos recursos pesqueiros, que compreenderá o diagnóstico, objetivos, metas, pontos de referência, ações, medidas de gestão e indicadores, para a unidade de gestão considerada. Para tanto, foi instituído pelo MPA, em conjunto com o MMA, o Grupo Técnico de Trabalho da Tainha – GTT - Tainha, oficializado pela Portaria Interministerial MPA/MMA nº 1, de 28 de junho de 2012, alterada pelas Portarias Interministeriais MPA-MMA nº 4 de 8 de agosto de 2013 e nº 5 de 30 de dezembro de 2013, com a competência de elaborar uma proposta de Plano de Gestão para a espécie nas regiões Sudeste e Sul do Brasil. Contudo, os trabalhos do GTT Tainha não foram finalizados dentro do prazo de vigência.
  • 11. 11 O presente Plano levou em consideração os trabalhos do GTT, especialmente as contribuições dos especialistas Patrícia Sunye, Rodrigo Medeiros, Laura Villwork de Miranda e Jocemar Tomasino Mendonça, no que diz respeito à estrutura e propostas de conteúdo do diagnóstico, além das contribuições de colaboradores, como Sérgio Stoiev e Roberto Wahrlich. Contudo, o diagnóstico deste Plano de Gestão, especialmente no que tange aos seus últimos capítulos (vulnerabilidades, considerações finais e conclusões), foi finalizado pelos analistas ambientais que compuseram o GTT- Tainha: Ana Maria Torres Rodrigues, José Dias Neto e Gabriel Rebouças, contando com a colaboração da oceanógrafa Daniela S. Occhialini (CEPSUL). Esses técnicos também elaboraram a proposta de Prognóstico (cenários possíveis e medidas de gestão) que serviu de base para as discussões técnicas entre o MMA e o MPA, que por sua vez levaram ao Prognóstico do Plano. Assim sendo, apesar da importante contribuição de alguns dos membros do GTT Tainha, a participação no mesmo não significa autoria ou concordância com todos os conteúdos do diagnóstico e principalmente com o prognóstico. 2. ANTECEDENTES De acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação - FAO, a intensa exploração pesqueira tem conduzido nas últimas décadas, a uma crise da atividade em todo o mundo, evidenciada pela sobrexplotação de 29,9 % dos estoques pesqueiros de interesse comercial (FAO, 2012). Esta situação levou a comunidade internacional a efetuar esforços e a pactuar normas para a conservação e exploração racional das zonas costeiras, mares e oceanos, plataformas continentais e grandes fundos marinhos, dentre os quais, destacam-se: a "Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar", o Capítulo 17 da "Agenda 21", a "Convenção da ONU sobre Diversidade Biológica", dos quais o Brasil não apenas é parte, como contribuiu ativamente na sua formulação, demonstrando grande interesse sobre a matéria (ROSSI-WONGTSCHOWSKI et al. 2006). Entre as iniciativas decorrentes da ratificação pelo Brasil em 1988, da "Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar" (Montego Bay, 1982, internalizada pelo Decreto nº 1.530/95), merece destaque o novo conceito de espaço marítimo o de Zona Econômica Exclusiva (ZEE), que atribui ao Brasil direitos exclusivos de soberania desta área, para fins de exploração e aproveitamento, conservação e gestão dos recursos naturais, vivos ou não vivos, introduzido pela, e incorporado à legislação nacional. Os direitos concedidos são acompanhados de deveres e responsabilidades, como os de promoção da gestão sustentável de uso dos recursos pesqueiros, com vistas a sua conservação, para as presentes e futuras gerações, conforme preconizado no artigo nº 225 da Constituição Federal de 1988 e pela Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável da Aquicultura e da Pesca (Lei nº 11.959 de 29 de junho de 2009).
  • 12. 12 O artigo 3º da supramencionada Política Pública, estabelece que a atividade pesqueira deva ser gerida, a partir da conciliação do equilíbrio entre o princípio da sustentabilidade dos recursos pesqueiros e a obtenção de melhores resultados econômicos e sociais. Para tanto, o Estado deve calcular, autorizar ou estabelecer os regimes de acesso. Contudo, Isaac, et al. (2006), avaliaram que a condição atual da maioria dos estoques pesqueiros no Brasil é consequência de um modelo de livre acesso, de excessivos investimentos em tecnologia, sobrecapitalização das empresas e subsídios governamentais, responsáveis pela manutenção do excesso de capacidade de pesca e, portanto, do esgotamento dos estoques e degradação ambiental. As ações que visam o controle da atividade pesqueira encontram-se legalmente previstas, como a definição da captura total permissível, esforço de pesca sustentável, períodos de defeso, temporadas de pesca, tamanhos de captura, áreas interditadas ou reservas, artes, aparelhos, métodos e sistemas de pesca e cultivo, capacidade de suporte dos ambientes, necessárias ações de monitoramento, controle e fiscalização da atividade, proteção de indivíduos em processo de reprodução ou recomposição de estoques, que no caso da tainha, têm especial relevância dentro das medidas as serem especificadas por este Plano de Gestão. A constatação de que inúmeras vulnerabilidades provenientes de causas naturais e antrópicas vinham afetando o equilíbrio populacional da espécie aumentou as preocupações com a sustentabilidade da utilização da tainha como recurso pesqueiro, levando em 2004 o Ministério do Meio Ambiente (MMA) a oficializar seu enquadramento como espécie sobrexplotada ou ameaçada de sobrexplotação, incluindo-a no anexo II da Instrução Normativa MMA nº 5, de 21 de maio de 2004. Desde então, um prazo de cinco anos ficou estabelecido, a partir da data de publicação da supramencionada normativa, para que fossem definidos e implementados Planos de Gestão, sob a coordenação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), com a participação dos órgãos estaduais, da comunidade científica e da sociedade civil organizada, para as espécies listadas no referido anexo II, dentre as quais a tainha (Mugil liza e M. platanus), sem prejuízo do aprimoramento das medidas de ordenamento existentes. Alterações no quadro das competências institucionais do governo federal, quanto às responsabilidades pela gestão de recursos pesqueiros, especialmente, a partir de 2009 com a criação do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), associadas às pressões relacionadas aos interesses divergentes entre conservação e produção, retardaram o processo de definição e implementação dos Planos de Gestão em construção, e o prazo estabelecido não foi cumprido. A fim de minimizar, especialmente, o impacto da atividade pesqueira em mar aberto durante o período de migração reprodutiva da tainha no Sudeste e Sul, em atenção ao estabelecido à época, na revogada Lei nº 7.679 de 23 de novembro de 1988, tema atualmente previsto no artigo 3º; item XI da Lei nº 11.959 de 29 de junho de 2009, e enquanto não se avançava na elaboração do Plano de Gestão da tainha, o IBAMA promoveu duas (2) reuniões técnicas em 2007. Na oportunidade, debates foram
  • 13. 13 mantidos com representantes dos setores produtivo, técnico e outras instâncias de governo e informações científicas sobre o recurso pesqueiro foram resgatadas, com a finalidade de subsidiar o estabelecimento de um novo regramento para exploração da espécie. A medida acordada foi publicada em 2008, por meio da Instrução Normativa IBAMA nº 171/2008. Entretanto, apesar das medidas estabelecidas pela supramencionada normativa terem sido amplamente debatidas e que todo o processo esteja bem documentado, os objetivos do ordenamento da pesca da tainha foram reiteradamente frustrados e materializados nas sucessivas suspensões de aplicação de seus dispositivos centrais. Em 2011, a divulgação do Acórdão TCU nº 496/2011 reforçou as exigências previstas na citada normativa, quanto ao cumprimento dos limites de esforço de pesca aplicado sobre a espécie em migração reprodutiva. Entretanto, pressões políticas contrárias ao seu cumprimento lograram novamente sucesso e levaram à suspensão do referido Acórdão. Contudo, ainda no final deste ano (2011), uma Sentença Judicial resultante da Ação Civil Pública nº 5001964- 45.2011.404.7101/RS, movida pelo Ministério Público Federal de Rio Grande/RS (MPF/RS) determinou o cumprimento dos termos da IN IBAMA nº 171/2008, até que fosse finalizado o Plano de Gestão para a tainha, cujo prazo de elaboração concedido, se encerra em 2014. Logo, a proximidade da finalização do prazo concedido para elaboração e implantação do Plano de Gestão, caso não seja cumprido, poderá colocar em risco a continuidade da atividade pesqueira, a partir de 2015. Assim, após divulgação da decisão da Sentença Judicial, o processo foi retomado, sob a responsabilidade conjunta do MPA e MMA, sob a coordenação do primeiro, sendo os trabalhos iniciados pelo Grupo Técnico instituído em novembro de 2012, com a reunião de instalação e definição de como as atividades seriam conduzidas ao longo de sua validade. Ainda de acordo com a supramencionada Sentença Judicial, durante os trabalhos do GTT Tainha permaneceria válida a Instrução Normativa IBAMA nº 171/2008. Porém em 2013, a semelhança do ocorrido no ano de 2012 o MPA publicou nova regulamentação definindo critérios para seleção das traineiras que seriam autorizadas para a temporada de pesca daquele ano. O MMA entendeu que aspectos relevantes estabelecidos pela IN IBAMA Nº171/2008 não foram considerados e que o GTT Tainha deveria ter sido ouvido, o que não aconteceu. Em tempo, a pedido dos membros integrantes do GTT-tainha, a coordenação, encaminhou solicitação pedindo vistas à minuta de normativa (Memorando nº 23 de 210/3/2013 CGPC/DPI/SEMOC/MPA-GTT- Tainha MPA-MMA). Entretanto, a solicitação foi negada mediante a justificativa de que as questões abrangentes na minuta de normativa não integravam a temática relativa ao objeto de criação do GTT-Tainha, e que os critérios e procedimentos de acesso às licenças de pesca, respeitado o ordenamento conjunto, era competência exclusiva da Secretaria de Monitoramento e Controle - SEMOC (Memorando nº 74 SEMOC/MPA, de 27/03/2013), sendo a IN MPA nº 2 publicada em 10 de abril de 2013. Em decorrência, o MPF/RS entendeu que tanto Sentença Judicial, como a IN IBAMA nº 171/2008, vinham sendo descumpridas desde 2012, oportunidade em que apresentou notificação
  • 14. 14 argumentando que as instruções normativas publicadas pelo MPA continham vício formal, afrontando o artigo 27, XXIV, parágrafo 6º, da Lei nº 10.683/2003, que exige que as normas, critérios, padrões e medidas de ordenamento do uso sustentável dos recursos pesqueiros devam ser fixados pelo Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) e pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), em conjunto, e sob a coordenação do primeiro. Esse entendimento convergiu com o posicionamento técnico emitido pelo MMA em 2012, de que a IN MPA 01/2012, embora predominantemente regulamentasse o permissionamento, continha dispositivos inerentes ao ordenamento pesqueiro (Nota Técnica MMA/SBF/GBA nº 018/2012). O MPF/RS ainda alegou que os critérios de seleção de barcos definidos pelas Instruções Normativas que dão preferência à embarcação mais nova e com maior arqueação bruta (AB), significa a exacerbação de tal poder de pesca, quando a finalidade da determinação judicial era o de reduzir o esforço da pesca de cerco direcionada às agregações reprodutivas de tainha. Em decorrência em uma Decisão Judicial de Cumprimento, foi fixada multa contra a União. Contudo, intermediados pela Advocacia Geral da União (AGU), em 12/09/2013, foi lavrado um Termo de Conciliação entre MPA e MMA (TC nº 13 CCAF-CGU-AGU/2013), que suspendeu a multa e os dois ministérios se comprometeram a elaborar, conjuntamente, as regras de acesso e de seleção das embarcações de cerco para a pesca complementar da tainha para a temporada de 2014, o que não ocorreu novamente, com a publicação da IN MPA nº 06/2014. Outras ações caminharam em paralelo, como a avaliação e validação do estado de conservação da tainha (M. liza) no Brasil, em que a espécie foi categorizada como Quase Ameaçada (NT). O trabalho interinstitucional, sob a coordenação do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), autarquia vinculada ao MMA, foi executado com a contribuição de vários especialistas, incluindo pesquisadores visitantes da Argentina e Uruguai, por se tratar da avaliação de um recurso de ocorrência compartilhada com os países vizinhos. O processo de análise aplicou os critérios da União Internacional para Conservação da natureza (IUCN). Como justificativa para a mencionada categorização destacaram a exploração da espécie tanto pela pesca artesanal, quanto pela frota industrial, especialmente, a partir da última década, quando a tainha tornou-se um importante alvo durante o período reprodutivo, devido ao alto interesse comercial para exportação de suas gônadas. Este quadro foi considerado uma das ameaças significativas à sobrevivência da espécie. Outros aspectos considerados foram os declínios populacionais em algumas regiões, como na Lagoa dos Patos (RS), principal área “fonte” de tainha no Brasil. Para lá, se estimou declínios acima de 90% das capturas, no período entre 1970 a 2004. Apesar de não existirem dados precisos, foram avaliadas, ainda, as consequências da pressão da atividade pesqueira sobre as diferentes subpopulações, levando-se em conta os declínios observados e a proporção de distribuição da espécie, concentrada no sul do Brasil. Tal avaliação permitiu a inferência de que o declínio no tamanho populacional esteja próximo a 30%, considerando o tempo de três gerações, estimado em 22 anos.
  • 15. 15 Assim, o enquadramento na categoria de Quase Ameaça (NT) deveu-se ao declínio populacional inferido para a espécie aproximar-se dos limiares da categoria Vulnerável (VU) sob o critério IUCN A2bd. Os especialistas envolvidos com a avaliação do estado de conservação da tainha ressaltaram que a manutenção da pesca intensa e em grande escala pode levar a espécie, em um futuro próximo, a uma categoria de ameaça, caso medidas efetivas e adequadas de ordenamento não sejam implementadas, sendo este alerta mais um importante subsídio aos gestores, para a imediata adoção das propostas deste Plano de Gestão. Na oportunidade, consideraram que as medidas, atualmente aplicadas, podem não ser suficientes para manter a atividade em níveis sustentáveis, mesmo com aportes de indivíduos originários de outras áreas fora do Brasil, como da Argentina e Uruguai (ICMBio, 2013). 3. ASPECTOS INSTITUCIONAIS NA GESTÃO DOS RECURSOS PESQUEIROS NO BRASIL A base legal e de competências para a gestão do uso sustentável dos recursos pesqueiros, para a gestão ambiental, bem como a propriedade dos recursos pesqueiros no Brasil, serão abordadas a seguir. 3.1. BASE LEGAL PARA A GESTÃO DO USO SUSTENTÁVEL DOS RECURSOS PESQUEIROS A base legal para a gestão do uso sustentável dos recursos pesqueiros no Brasil encontra-se definida na Lei n° 11.959, de 29 de junho de 2009, que dispõe sobre a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável da Aquicultura e da Pesca, que regula a atividade pesqueira, revoga a Lei n° 7.679, de 23 de novembro de 1988 e dispositivos do Decreto-Lei nº 221, de 28 de fevereiro de 1967, e dá outras providências. Esta Política Pública foi formulada, dentre outros, com os objetivos de promover: I – o desenvolvimento sustentável da pesca e da aquicultura como fonte de alimentação, emprego, renda e lazer, garantindo o uso sustentável dos recursos pesqueiros, bem como a otimização dos benefícios econômicos decorrentes, em harmonia com a preservação e a conservação do meio ambiente e da biodiversidade; II – o ordenamento, o fomento e a fiscalização da atividade pesqueira; III – a preservação, a conservação e a recuperação dos recursos pesqueiros e dos ecossistemas aquáticos; IV – o desenvolvimento socioeconômico, cultural e profissional dos que exercem a atividade pesqueira, bem como de suas comunidades.
  • 16. 16 Como aspecto importante a destacar, a definição do termo “ordenamento pesqueiro”, citado no inciso XII, do art 2º, como o conjunto de normas e ações que permitem administrar a atividade pesqueira, e que deve estar pautado no uso sustentável dos recursos pesqueiros e baseado no melhor conhecimento disponível sobre os componentes biológico-pesqueiros, ecossistêmicos, econômicos e sociais. Em outras palavras, o desenvolvimento da pesca deve compatibilizar a exploração econômica aos objetivos da conservação e à recuperação da biodiversidade aquática e dos ecossistemas marinho- costeiros, em consonância com os demais instrumentos legais vigentes, incluindo os acordos internacionais dos quais o Brasil é signatário, tais como: I - A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, na qual existem disposições relevantes sobre a conservação e o uso dos recursos vivos marinhos e com os impactos ambientais da atividade pesqueira, que em seu artigo 61 trata das medidas de conservação dos recursos vivos marinhos na Zona Econômica Exclusiva (ZEE), mediante a aplicação do ordenamento da pesca, e cujo principal objetivo é o de manter ou restaurar as populações das espécies-alvo das pescarias nos níveis que possam produzir o rendimento máximo sustentável e que, ao adotar tais medidas, os países costeiros deverão considerar os efeitos da pesca sobre as espécies associadas com a espécie-alvo da pescaria (as espécies capturadas acidentalmente), de modo a evitar que as populações dessas espécies sejam reduzidas a níveis abaixo daqueles que ameacem sua reprodução. II - A Resolução da Assembléia Geral das Nações Unidas sobre Descartes e “Bycatch” nas pescarias e seu impacto sobre o uso sustentável dos recursos vivos marinhos. III - O Código de Conduta para a Pesca Responsável (da FAO), que sinaliza para que as medidas de ordenamento assegurem a conservação de outras espécies que habitam o ecossistema ou que sejam associadas ou dependentes das espécies-alvo da pescaria. Nesse sentido, a ocorrência de capturas acidentais de tartarugas e mamíferos marinhos, ou mesmo da fauna associada ao fundo, que não possui valor comercial e é muitas vezes descartada nas pescarias de arrasto de camarões, deve ser objeto de preocupação quando do estabelecimento de medidas de ordenamento dessas pescarias. Em várias partes do Código de Conduta, citações sobre o assunto são encontradas, tais como no art 6°, referente aos princípios gerais, que cita: “6.1. Onde existam adequadas artes e práticas de pesca seletivas e ambientalmente seguras, deverão ser reconhecidas e consideradas como prioridade ao se estabelecer medidas de conservação e ordenamento aplicáveis às pescarias. Os estados e os usuários dos ecossistemas aquáticos deveriam reduzir ao mínimo o desperdício das capturas, tanto das espécies que são o objeto da pesca como das que não o são, de peixes e outras espécies, assim como os efeitos sobre as espécies associadas ou dependentes, a captura incidental de espécies não utilizadas e de outros recursos vivos”. O item 7.6.9 recomenda “... que os Estados adotem medidas apropriadas para reduzir ao mínimo os desperdícios, os descartes, as capturas realizadas por artes de pesca perdidas ou abandonadas, a captura de espécies que não são objeto de pesca, tanto de peixes, como de espécies distintas das dos peixes, e os efeitos negativos nas espécies associadas ou dependentes, em particular
  • 17. 17 as espécies que estejam em risco de extinção...”, e que deveriam fomentar, na medida do possível, o desenvolvimento e a utilização de artes e técnicas de pesca seletivas, rentáveis e inofensivas para o meio ambiente. Sobre a seletividade das artes de pesca, o item 8.5 cita que: “Os Estados deveriam exigir que as artes, os métodos e as práticas de pesca sejam, na medida do possível, suficientemente seletivos para reduzir ao mínimo os desperdícios, os descartes, as capturas de espécies que são objeto de pesca, tanto de peixes como de outras espécies, e os efeitos sobre as espécies associadas ou dependentes.” IV - A Declaração e o Plano de Ação de Kioto, aprovados pela Conferência Internacional sobre a Contribuição da Pesca Sustentável para a Segurança Alimentar, inclui recomendações aos Estados que ampliem os esforços para: (a) estimar os volumes de peixes, tartarugas, aves e mamíferos marinhos e outros organismos vivos marinhos que são acidentalmente capturados e rejeitados nas operações de pesca; (b) avaliar os efeitos sobre tais populações ou espécies; (c) adotar ações para minimizar os desperdícios e os descartes, inclusive, na medida do que seja viável, promover o desenvolvimento e a utilização de métodos e de técnicas de pesca seletivas, ambientalmente seguras e rentáveis; e (d) trocar informações sobre tecnologias e métodos que minimizem os desperdícios e os descartes. V - A Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) corresponde a um dos principais acordos ambientais multilaterais que resultaram da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento – Rio 92. A CDB visa promover entre os países membros a conservação, o uso sustentável e a repartição de benefícios de espécies, ecossistemas e recursos genéticos, refletindo não apenas uma concepção conservacionista, mas também voltada para a valorização da importância econômica e social da conservação e do uso sustentável da biodiversidade. Entre as decisões ligadas à conservação da biodiversidade marinha, aprovadas ao longo das Conferências das Partes (COP) da CDB, destacam-se: o Mandato de Jacarta sobre Biodiversidade Marinha e Costeira (COP 2, em 1995) e o Programa de Trabalho para sua implementação (aprovado na COP 4, em 1998); o Programa de Trabalho sobre Áreas Protegidas (COP 7, em 2004), que incluiu a determinação de estabelecer, até 2012, sistemas nacionais e regionais de áreas protegidas marinhas abrangentes, eficazes e representativos ecologicamente; a aprovação de critérios científicos para a identificação de áreas marinhas sensíveis (COP 9) e a aprovação da definição, até 2012, de “áreas biológica e ecologicamente sensíveis” prioritárias para a conservação dos oceanos em escala global (COP 10). A COP 10, realizada em Nagoya em 2010, aprovou como parte do Plano Estratégico 2011-2020 da CDB um conjunto de 20 metas conhecido como as Metas de Aichi. Essas Metas representam a renovação dos compromissos internacionais assumidos pelo Brasil relativos à conservação da biodiversidade. No que tange à gestão e ao uso sustentável de recursos pesqueiros, e extremamente relevante como referência para o Plano de Gestão da Tainha, destaca-se a Meta 6: “Até 2020 todos os estoques de peixes, invertebrados e plantas aquáticas devem ser geridos e explorados legalmente, de maneira sustentável e aplicando a abordagem ecossistêmica, de maneira a evitar a sobrepesca, com
  • 18. 18 planos e medidas de recuperação em vigor para todas as espécies sobrepescadas, com a pesca praticada sem impactos adversos significativos sobre espécies ameaçadas e ecossistemas vulneráveis, e os impactos da pesca sobre os estoques, as espécies e os ecossistemas devem estar dentro dos limites de segurança ecológica” (MMA, 2012). 3.2. BASE LEGAL DA GESTÃO AMBIENTAL A Lei n° 6.938, de 31 de agosto de 1981 dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, que dentre outros, trata do licenciamento das atividades que utilizam os recursos ambientais, tais como os pesqueiros. A mencionada lei define: “DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE” Art 2º - A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios: I - ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo; ...................................... III - planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais; IV - proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas; V - controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras; ......................................... VII - acompanhamento do estado da qualidade ambiental; VIII - recuperação de áreas degradadas; IX - proteção de áreas ameaçadas de degradação; ...................................... Art 3º - Para os fins previstos nesta lei, entende-se por: I - meio ambiente – o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas; II - degradação da qualidade ambiental – a alteração adversa das características do meio ambiente; III – poluição – a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: .......................... b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; IV – poluidor – a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental; V - recursos ambientais – a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora. “DOS OBJETIVOS DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE:” Art 4º - A Política Nacional do Meio Ambiente visará:
  • 19. 19 I - a compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico; II - a definição de áreas prioritárias de ação governamental, relativa à qualidade e ao equilíbrio ecológico, atendendo aos interesses da União, dos estados, do Distrito Federal, dos territórios e dos municípios;” .................................... São relevantes, ainda, especialmente quanto ao mérito, os seguintes instrumentos legais: - Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998: Lei de Crimes Ambientais e Decreto nº 6.514/2009 que a regulamenta, e; - Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000: institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação e o Decreto n° 4.340, de 22 de agosto de 2002 e alterações posteriores, que a regulamenta. - Instrução Normativa MMA nº 5, de 21 de maio de 2004, que definiu a Lista Nacional das Espécies de Invertebrados Aquáticos e Peixes Sobrexplotadas ou Ameaçadas de Sobrexplotação (anexo II). A referida normativa aponta, ainda, como aspecto institucional que motivou a elaboração do Plano de Gestão, a definição do IBAMA, como instituição responsável por sua elaboração, para ao assegurar com sua implementação o uso sustentável dos recursos pesqueiros, busca a reversão do “status” de uso dessas espécies. 3.3. BASE LEGAL DA ESTRUTURA DO PODER EXECUTIVO Quanto aos aspectos relativos à estruturação do Estado brasileiro, a referência principal é a Lei n° 10.683, de 28 de maio de 2003, que dispõe sobre a organização da Presidência da República e dos Ministérios, e dá outras providências, que foi alterada pela Lei n° 11.958, de 29 de junho de 2009, que dispõe sobre a transformação da Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca da Presidência da República (SEAP/PR), em Ministério da Pesca e Aquicultura; entre outras providências. Os instrumentos legais mencionados definem as competências dos Ministérios do Meio Ambiente e da Pesca e Aquicultura (art 27, incisos XV e XXIV), merecendo também menção especial o § 6º que estabelece as atribuições conjuntas sobre o uso sustentável dos recursos pesqueiros entre esses ministérios, conforme transcritos a seguir: O art 27, XV e XXIV define como competências dos Ministérios: XV - Ministério do Meio Ambiente: a) política nacional do meio ambiente e dos recursos hídricos; b) política de preservação, conservação e utilização sustentável de ecossistemas, biodiversidade e florestas; c) proposição de estratégias, mecanismos e instrumentos econômicos e sociais para a melhoria da qualidade ambiental e do uso sustentável dos recursos naturais; d) políticas para integração do meio ambiente e produção; e) políticas e programas ambientais para a Amazônia Legal;
  • 20. 20 f) zoneamento ecológico-econômico;” ................................................................................ XXIV - Ministério da Pesca e Aquicultura: (incluído pela Lei nº 11.958, de 2009) a) política nacional pesqueira e aquícola, abrangendo produção, transporte, beneficiamento, transformação, comercialização, abastecimento e armazenagem; b) fomento da produção pesqueira e aquícola; c) implantação de infraestrutura de apoio à produção, ao beneficiamento e à comercialização do pescado e de fomento à pesca e aquicultura; d) organização e manutenção do Registro Geral da Pesca; e) sanidade pesqueira e aquícola; f) normatização das atividades de aquicultura e pesca; g) fiscalização das atividades de aquicultura e pesca no âmbito de suas atribuições e competências; h) concessão de licenças, permissões e autorizações para o exercício da aquicultura e das seguintes modalidades de pesca no território nacional, compreendendo as águas continentais e interiores e o mar territorial da Plataforma Continental, da Zona Econômica Exclusiva, áreas adjacentes e águas internacionais, excluídas as Unidades de Conservação federais e sem prejuízo das licenças ambientais previstas na legislação vigente: 1) pesca comercial, compreendendo as categorias industrial e artesanal; 2) pesca de espécimes ornamentais; 3) pesca de subsistência; 4) pesca amadora ou desportiva; i) autorização do arrendamento de embarcações estrangeiras de pesca e de sua operação, observados os limites de sustentabilidade estabelecidos em conjunto com o Ministério do Meio Ambiente; j) operacionalização da concessão da subvenção econômica ao preço do óleo diesel instituída pela Lei no 9.445, de 14 de março de 1997; l) pesquisa pesqueira e aquícola; e m) fornecimento ao Ministério do Meio Ambiente dos dados do Registro Geral da Pesca relativos às licenças, permissões e autorizações concedidas para pesca e aquicultura, para fins de registro automático dos beneficiários no Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras e Utilizadoras de Recursos Ambientais. ................................................................................................. § 6º Cabe aos Ministérios da Pesca e Aquicultura e do Meio Ambiente, em conjunto e sob a coordenação do primeiro, nos aspectos relacionados ao uso sustentável dos recursos pesqueiros: I - fixar as normas, critérios, padrões e medidas de ordenamento do uso sustentável dos recursos pesqueiros, com base nos melhores dados científicos e existentes, na forma de regulamento; e II - subsidiar, assessorar e participar, em interação com o Ministério das Relações Exteriores, de negociações e eventos que envolvam o comprometimento de direitos e a interferência em interesses nacionais sobre a pesca e aquicultura.” Importante ainda destacar o Decreto nº 6.981, de 13 de outubro de 2009, que regulamentou o artigo 27, § 6º, inciso I, da Lei nº 10.683, de 2003, dispõe sobre a atuação conjunta dos ministérios da Pesca e Aquicultura e do Meio Ambiente, nos aspectos relacionados ao uso sustentável dos recursos pesqueiros, posteriormente, também regulamentado pela Portaria Interministerial MPA e MMA nº 2,
  • 21. 21 de 13 de novembro de 2009, que entre vários aspectos define que (a) as atividades sob responsabilidade do MMA, no Sistema de Gestão Compartilhada, que poderão ser executadas pelo IBAMA e o ICMBio; (b) o Sistema de Gestão Compartilhada que será composto por, Comitês, Câmaras Técnicas e Grupos de Trabalho; (c) os Comitês são instâncias consultivas e de assessoramento para a definição de normas, critérios e padrões relativos ao ordenamento do uso sustentável dos recursos pesqueiros; (d) os Comitês e os Colegiados são paritários entre representantes do Estado e da Sociedade Civil; (e) os Comitês deverão ser formados de acordo com a unidade de gestão; (f) os Comitês serão assessorados por Subcomitês Científico, Subcomitê de Acompanhamento e Câmaras Técnicas; (g) o perfil dos componentes dos Subcomitês e Câmaras Técnicas será definido; e (h) os Planos de Gestão para o uso sustentável dos recursos pesqueiros devem ser elaborados por Comitês, considerando a unidade de gestão e contemplando todas as medidas ou ações de longo prazo, considerando, ainda, sempre que possível, o enfoque ecossistêmico, podendo ser revisado periodicamente. No tocante, especificamente, ao mérito do Decreto e aos desdobramentos para este Plano, cabe evidenciar que: (a) apresenta a definição de Plano de Gestão como documento-base que estabelece as diretrizes para o uso dos recursos pesqueiros em uma unidade de gestão; (b) define unidade de gestão; (c) institui o sistema de Gestão Compartilhada do uso sustentável dos recursos pesqueiros, com o objetivo de subsidiar a elaboração e a implementação das normas, critérios, padrões e medidas de ordenamento; (d) afirma que “na ausência ou insuficiência de dados científicos, deverá ser aplicado o princípio da precaução”; (e) estabelece que “as normas, critérios, padrões e medidas para a gestão do uso sustentável dos recursos pesqueiros serão estabelecidos em atos conjunto dos ministros do MPA e MMA, com base nos subsídios gerados pelo sistema de gestão compartilhada”; (f) institui a Comissão Técnica de Gestão Compartilhada dos Recursos Pesqueiros (CTGP), órgão consultivo e coordenador das atividades do sistema de gestão compartilhada; (g) a coordenação e o apoio administrativo necessário para os trabalhos da CTGP são do MPA; (h) prevê que ato conjunto do MPA e do MMA poderá constituir comitês, câmaras técnicas e grupos de trabalho vinculados à CTGP; entre outros aspectos. Como atos decorrentes do conjunto de leis, anteriormente relacionadas, existem vários decretos que as regulamentam e normas específicas que disciplinam as ações e os padrões que a sociedade deve seguir quando da apropriação e do uso dos recursos pesqueiros. 3.4. A PROPRIEDADE E O ACESSO AO USO DOS RECURSOS PESQUEIROS NO BRASIL No Brasil, até 1988, historicamente, os recursos pesqueiros eram considerados, juridicamente, como de propriedade comum (res nullius). Apesar de tal situação jurídica, o Estado brasileiro exercia tutela sobre tais bens, controlando o acesso e regulando as condições de pesca para as principais
  • 22. 22 espécies (MARRUL-FILHO, 2003). Tal situação se modificou, substancialmente, a partir da promulgação da Constituição Federal de 1988, com a mudança de “status” jurídico dos recursos ambientais que passaram a ser considerados como de bens a serem preservados em prol da coletividade, conforme definido no artigo nº 225. Igualmente importante para esta análise, é o artigo nº 20 da nossa Lei Fundamental, que define como bens da União, entre outros, os recursos naturais da Plataforma Continental, da Zona Economicamente Exclusiva e o Mar Territorial, explicitando a ampla tutela do Estado sobre esses bens, no contexto da necessidade de conservação em prol do interesse da sociedade. À visão contida nos artigos 20 e 225 da Constituição Federal, com relação aos recursos ambientais, cabe integrar a definição de meio ambiente apresentada no artigo 3º da Lei nº 6.938/81 (DIAS-NETO, 2003) e a definição de fauna silvestre contida no artigo 29 da Lei nº 9.605/98. Dentre os aspectos abordados, fica evidenciado que os recursos pesqueiros se constituem em patrimônio público, sob tutela do Estado, sendo o direito de explorá-los economicamente, uma concessão do Poder Público, que deve estar limitado pelas normas que visam proteger os direitos da coletividade. Por sua vez, a já abordada Lei nº 11.959/09, em seu artigo 24 estabelece que: “Toda pessoa física ou jurídica, que exerça atividade pesqueira, bem como a embarcação de pesca, devem estar previamente inscritas no Registro Geral da Atividade Pesqueira (RGP), bem como no Cadastro Técnico Federal (CTF), na forma da legislação específica”. Define ainda, que todo pescador (profissional ou amador) deverá ter licença para realizar a atividade (art. 25), assim como toda embarcação deverá estar autorizada pelo órgão público federal competente (art. 26). Na prática, pode-se dizer que nas últimas décadas tem predominado no Brasil o sistema de acesso limitado ou regulado pelo Estado, sendo importante destacar que tanto as embarcações pesqueiras quanto o pescador devem estar habilitados e legalizados (DIAS-NETO, 2003). 4. UNIDADE DE GESTÃO A Unidade de Gestão aqui considerada é a pesca de tainha (Mugil liza), nas suas diversas modalidades (artesanal e industrial) e ambientes (estuarino-lagunar e marinho), realizada nas regiões Sudeste e Sul, e considerando a existência de duas subpopulações para a espécie nesta unidade de gestão: (i) uma que ocorre do Rio Grande do Sul, até o limite norte de São Paulo (estoque sul) e; (ii) outra que se distribui desde o Rio de Janeiro até o norte do país (estoque norte), conforme demonstrado pelos estudos conduzidos por May et al., 2013. No caso da subpopulação norte, somente a pesca nos estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo serão incluídos neste Plano. Portanto, as recomendações da presente proposta de Plano de Gestão contemplam, distintamente, os dois estoques e as suas diferentes pescarias nos seus respectivos ambientes.
  • 23. 23 Outra proposta específica de Plano de Gestão deverá ser elaborada, posteriormente, para as pescarias de tainhas do estoque norte, que ocorrem no litoral das regiões Norte e Nordeste. 5. PLANO DE GESTÃO DA PESCA DA TAINHA (Mugil liza) Os dados, informações e análises apresentadas no diagnóstico a seguir, nortearam o estabelecimento do prognóstico (objetivos, pontos de referência, metas, ações e medidas de gestão), que integram este Plano de Gestão para a espécie Mugil liza, principal alvo, entre os mugilídeos, das capturas comerciais (artesanal e industrial) no Sudeste e Sul do Brasil. 5.1. DIAGNÓSTICO DA PESCA DA TAINHA (Mugil liza) Diagnosticar uma pescaria que apresenta relevância econômica possibilita expor em tempo aos gestores, um quadro da situação atual do recurso, para que sejam adotadas medidas corretivas aos problemas identificados e adequações de uso às potencialidades específicas. O diagnóstico decorre, geralmente, da identificação de problemas, sendo um instrumento indispensável de gestão, uma técnica gerencial de primeira ordem, que apresenta uma visão global da situação e define um roteiro geral ser seguido. Dentre alguns dos problemas identificados relacionados à pesca da tainha estão a sobrepesca, a degradação de seus “habitats”, os conflitos entre usuários, o valioso mercado de exportação de ovas, dentre outros, ou seja, administrar o direito de acesso ao recurso e seu uso em bases sustentáveis, envolve negociações, acordos, estudos, controle, em outras palavras, relações humanas. Marrul-Filho (2003) descreveu as relações entre seres humanos, espaços geográficos e os recursos que exploram, como, fundamentalmente, "relações sociais”. Segundo o autor, elas não são simples e necessitam de estruturas reguladoras que as permitam reproduzirem-se. Assim, o ordenamento da atividade, como um sistema resultante de uma combinação complexa, que avalia e integra os efeitos das dinâmicas ambientais, sociais, econômicas, tecnológicas e políticas, com vista ao uso sustentável do recurso, é parte fundamental do Plano de Gestão, dentre outras ações não menos importantes. Este diagnóstico inicia fazendo uma caracterização da espécie, apresenta sua sistemática e distribuição, aborda aspectos ecossistêmicos dos ambientes que habita, sua dinâmica populacional, dentre outros. Na sequência, a pesca de tainha no Brasil foi contextualizada, abrangendo sua caracterização por segmento e estado da federação. Primeiramente, foi descrita a pesca artesanal, seguida pela industrial, sendo que as análises deste segundo grupo consideraram questões de forma regionalizada (SE-S), uma vez que a frota opera em todo o litoral, acompanhando a migração dos cardumes. O desenvolvimento da atividade produtiva, destacada por segmento, abordou a importância da pesca de mugilídeos, vulgarmente, denominadas como “tainhas” no Brasil, os aspectos relacionados à
  • 24. 24 produção nacional, regional e por estado no Sudeste e Sul. Nos dois últimos casos (regional e estadual), especificamente, para a Mugil liza, espécie-alvo deste Plano de Gestão. Posteriormente, foram abordadas as medidas de monitoramento e controle praticadas e as principais vulnerabilidades que afetam a espécie e seus usuários, considerando tanto os aspectos naturais, como os antrópicos, numa visão interdisciplinar, que permeia inúmeras áreas do conhecimento, como a economia, sociologia e antropologia, identificando as possíveis razões de agravamento dos problemas identificados e da potencializarão dos riscos para a recuperação da população de Mugil liza e para os usuários que dependem deste recurso pesqueiro (vulnerabilidades). Por fim, foram tecidas considerações e conclusões, a partir das informações contidas no diagnóstico, como orientação ao prognóstico. Apesar das dificuldades e das lacunas de conhecimento que permanecem, o trabalho foi exitoso e para atender as deficiências e complementações requeridas sobre o tema, recomenda-se, fortemente aos gestores, que realizem investimentos continuados em monitoramento, pesquisa com metodologia padronizada e controle, voltados aos estudos e levantamentos ainda demandados. Em especial, no que tange a avaliação de estoques, coleta e sistematização de dados de pesca e movimentação da frota, por meio dos Programas de Observadores de Bordo, de Rastreamento de Embarcações Pesqueiras por Satélite (PREPS), Mapas de Bordo e Controle de Desembarques, para que as informações geradas estejam disponíveis para subsidiar as futuras adequações à presente proposta. Pelo exposto, as informações apresentadas neste diagnóstico são suficientemente robustas para orientar o aprimoramento das medidas de gestão (propostas do prognóstico) para o uso sustentável da tainha (Mugil liza) no Sudeste e Sul do Brasil. 5.1.1. CARACTERIZAÇÃO DA ESPÉCIE (Mugil liza) 5.1.1.1. Sistemática e Distribuição Nomes comuns por região/língua: tainha, cambiro, chaveta, cacetão, saúna, tainha-de-entrada, tainha-de-rio, tainha-de-pau, tapiara, tapugi, virote (português); mullet (inglês); lisa (espanhol). A tainha é um peixe da família Mugilidae (MENEZES, 1983), possui 14 gêneros (THOMPSON, 1997), porém, no litoral Sudeste e Sul ocorre apenas espécies do gênero Mugil. As espécies eurihalinas e euritérmicas exibem ampla distribuição, tanto em águas costeiras marinhas, como estuarinas tropicais e subtropicais de todo o mundo (MENEZES, 1983; SECKENDORFF & AZEVEDO, 2007, apud HERBST, 2013). Desde 2007, estudos realizados por Fraga et al. (2007) apresentaram indícios da ocorrência de apenas uma espécie de tainha na região sudeste e sul. Heras et al. (2009) concluíram que Mugil platanus e Mugil liza são a mesma espécie, com parentesco próximo, mas diferente de Mugil cephalus. De acordo com Menezes et al. (2010) há apenas uma espécie de
  • 25. 25 tainha existente na região do Mar do Caribe e na costa Atlântica da América do Sul, sendo Mugil liza o nome válido. Estudos de genética populacional foram conduzidos pelo Projeto Tainha (coordenado pela FURG, com parceria do Instituto de Pesca/SP e UNIVALI). Em uma das pesquisas realizadas e divulgadas por Mai et al. (2014), análises do tecido extraído próximo à nadadeira caudal de exemplares de tainha, utilizaram marcadores microssatélites e forneceram a primeira evidência molecular da existência de grupos distintos de populações de Mugil liza ao longo da costa sul- americana do Atlântico. As amostras foram coletadas entre maio a setembro de 2011, de cinquenta exemplares da espécie, em cada um dos quatro locais da costa atlântica brasileira e um da costa argentina (Niterói/RJ e o outro, inclui os peixes de Ubatuba/SP, Laguna/SC e Rio Grande/RS e da Baía de Samboronbom/Lavalle, Província de Buenos Aires, Argentina), totalizando a avaliação em 250 exemplares. A identificação de um possível obstáculo para o fluxo de genes nesta região, proporciona uma base para compreender melhor as características da história de vida da espécie e interpretar a variação genética inerente ao complexo, em termos de espécies adaptativas (WHITFIELD et al., 2012). Moritz (1994) indica como critério para definir "Unidades de Gestão" para fins de conservação, monitoramento populacional e estudos demográficos, a utilização desta divergência significativa de freqüências alélicas em loci nuclear ou mitocondrial. Assim, deve-se considerar o Rio de Janeiro (e as populações setentrionais) separadamente de populações do sul de M. Liza, para monitorar o status do recurso. Ainda, para a concepção de plano de gestão, sugere-se que o processo seja ampliado extra fronteiras nacional, para incluir a Argentina e o Uruguai. Assim, este Plano de Gestão considerou Mugil liza como a única espécie, e acatou a recomendação da supramencionada pesquisa, apresentando ações e medidas de gestão para os estoques sul e norte, respectivamente, restando ao Estado brasileiro articular a futura ampliação de gestão compartilhada do recurso com os países vizinhos. 5.1.1.2. Aspectos Ecossistêmicos Condições ambientais como temperatura, salinidade, correntes marítimas, vento e precipitação podem afetar a disponibilidade da tainha em função de mudanças no padrão migratório (SADOWSKI; ALMEIDA DIAS, 1986; VIEIRA; SCALABRINI, 1991; MIRANDA; CARNEIRO, 2007; VIEIRA et al. (2008); GONZÁLEZ CASTRO et al. (2009a). Processos de enriquecimento no outono na plataforma sul do Brasil estão associados à chegada de massas de água sub-antárticas modificadas pelas águas oriundas da Bacia do Prata (PIOLA et al., 2000), cujo deslocamento sul-norte influencia a migração das tainhas. Processos de concentração de alimento podem ser controlados pela intensidade do vento, pois, quando muito intensos dispersam as agregações de partículas de alimento. Processos de retenção estão associados a ventos de quadrante sul, que retêm as larvas próximas à região costeira pelo transporte em direção à costa (BAKUN;
  • 26. 26 PARRISH, 1991). O sucesso da desova das tainhas depende, então, da ocorrência destes fatores, cujas variações interanuais devem ser conhecidas e avaliadas. O estímulo para a saída dos estuários, corrida da tainha, é uma combinação de fatores meteorológicos e oceanográficos. A passagem de sistemas frontais na região promove a virada dos ventos que são predominantes de nordeste, para a direção sudoeste (RODRIGUES et al., 2004; STECH, 1990), conhecido localmente como “rebojo”. Com isso, o transporte de águas superficiais sobre a plataforma se inverte, e o fluxo passa a ser em direção à costa (onshore). Com isso, as águas salgadas e frias da plataforma entram nas regiões estuarinas, e a tainha sai no contra fluxo. Supõe-se que em anos de águas de temperatura mais elevada, como consequência da fraca penetração das águas subantárticas e das frentes frias, a saída das tainhas de dentro do estuário possa ocorrer com menor intensidade. Conforme descrito por Herbst (2013), uma vez fora dos estuários, a migração sobre a plataforma continua em estreita relação com as frentes frias e os padrões de direção de vento, comportamento conhecido pelos pescadores. Com ventos de sul a espécie se desloca para norte e em direção à costa, enquanto que com ventos de nordeste ela cessa seu deslocamento e se torna disponível aos pescadores artesanais. Se o vento nordeste se intensificar, pode inclusive ocorrer uma regressão para pontos mais ao sul. Eventos de El Niño estão associados com o aumento da precipitação média no sul do Brasil (GRIMM et al., 1998; GRIMM et al., 2000). Excesso de chuvas provocadas por El Niño sobre a bacia de drenagem (201.626 km2 ) da Lagoa dos Patos aumenta fluxo de água doce na lagoa (10.360 km2 ), resultando no transporte da pluma dos estuários por vários quilômetros na área marinha costeira adjacente (GARCIA, 1996; MOLLER et al., 2001). Assim, a precipitação elevada resultante do efeito El Niño, contribui para a redução da salinidade na Lagoa dos Patos, principal local de onde as tainhas saem em direção ao oceano para a desova, no Brasil (VIEIRA et al., 2008), exercendo forte influência negativa sobre o recrutamento juvenil e a dinâmica de migração reprodutiva da tainha neste estuário (GARCIA et al., 2001). Moraes, et al. (2012), verificaram que apesar das condições ambientais predominantes nos últimos 05 anos para o Estuário da Lagoa dos Patos (ELP) favorecessem o recrutamento de M. liza, foi observada uma tendência de queda na abundância de juvenis (CPUE), sendo a situação possivelmente explicada como uma decorrência do aumento do esforço de pesca observado nos últimos anos sobre o recurso.
  • 27. 27 5.1.1.3. Dinâmica Populacional 5.1.1.3.1. Ciclo de Vida A tainha (Mugil liza) é uma espécie catádroma que passa a maior parte de seu ciclo de vida em ambientes estuarinos (estuários de planície, baías e lagoas costeiras) e inicia o processo de migração reprodutiva para o oceano no outono, para desovar no inverno. 5.1.1.3.1.1. Migração e Reprodução Após a desova, as larvas e pré-juvenis de tainha retornam para os estuários, que são usados como ambientes de criação e alimentação. Os juvenis de tainha permanecem no estuário até a idade de primeira maturação, quando realizam a primeira migração reprodutiva (BIZERIL; COSTA, 2001). A tainha adulta que não foi capturada, também retorna aos estuários. A partir de entrevistas realizadas por Herbst (2013), para a maioria dos pescadores, a tainha retorna para seus locais de procedência em agosto e setembro. Alguns mencionaram que elas podem retornar até março. González Castro, et al. (2009) observaram que no fim de setembro ou início de outubro até dezembro, a tainha começa a se alimentar e migrar para lagoa Mar Chiquita (Argentina). Lemos et al. (2014) informaram que de janeiro até agosto, a grande maioria de tainhas capturadas pelos artesanais no Rio Grande do Sul, exibiam o tamanho superior ao de primeira maturação da espécie, mas alertam que em Santa Catarina, durante a primeira metade do ano, os indivíduos imaturos são abundantes nas capturas. A corrida da tainha se caracteriza pelo deslocamento de grandes cardumes de machos e fêmeas da espécie por longas distâncias, partindo das áreas de criadouro até as áreas de desova (VIEIRA; SCALABRIN, 1991), sugerindo ainda, que a reprodução acontece em águas com 19ºC a 21°C, ao longo da rota migratória, na profundidade próxima aos 50 m, sendo as larvas e juvenis em um movimento passivo para o sul, são levadas de volta, pelas correntes litorâneas de superfície, por aproximadamente 2-4 meses após a desova. Dados dos Mapas de Bordo, entretanto, informam que a profundidade média da coluna d´água, onde foram realizados os lances com captura de tainha, esteve em torno dos 34 m em 2009 e por volta de 26 m, em 2012. Para Garbin, et al. (2013), embora a área de desova ainda não esteja claramente identificada, posições e movimentos das embarcações de cerco que pescam tainha, apontam como uma provável área de desova, entre maio e junho, o norte do estado de Santa Catarina. Lemos, et al. (2014.) descreveram que mais do que 50% dos exemplares analisados estavam imaturos nos meses de verão (November, December, January and February). Em junho, 42% das fêmeas estavam no estágio (D) “hyaline stage”, e 51% dos machos se encontravam no estágio “maduro” (C), indicando ser este, o principal mês de desova da espécie, subpopulação sul de M.liza, conforme indicado pelo estudo. Ainda segundo os autores, análises histológicas das gônadas de indivíduos capturados em julho, frente ao litoral do Paraná pela frota industrial de cerco, demonstraram que 50% das fêmeas já estavam no
  • 28. 28 estágio (E), “desovado”, e entre agosto e fevereiro, não foram encontradas fêmeas com gônadas maduras. A análise da variação do índice gônado-somático (IGS) realizada por Schroeder, et al. (2012) demonstrou a ocorrência de desovas em meados de julho no litoral paranaense em 2011. Em 2012, similar ao ano anterior, o IGS diminuiu do sul em direção ao sudeste do Brasil, demonstrando que áreas preferenciais de desova devem ter sido ao norte de Santa Catarina, a partir do mês de julho, quando foram observadas fêmeas em maturação avançada. As gônadas das fêmeas de peixes, via de regra, alcançam grandes proporções quando maturas, podendo pesar mais do que 20% do peso corporal. A tainha pode produzir até 5 milhões de óvulos dependendo do tamanho do peixe, sendo que para cada quilograma em peso, estima-se a disponibilidade aproximada de 1,5 milhões de óvulos (BENETTI; NETTO, 1983). Segundo Lemos, et al. (2014), a fecundidade variou 818.992 a 2.869.767 oócitos (média = 1.624.551) em peixes que mediam entre 426 e 660 milímetros LT. Albieri (2009) realizou uma descrição das fases de desenvolvimento gonadal da tainha, a partir de avaliação de exemplares oriundos da Baía de Sepetiba no Rio de Janeiro. Com base no Índice Gonadossomático (GSI) e na sequência de desenvolvimento ovocitário observado através de estudos histológicos, os resultados sugeriram que o período reprodutivo ocorre entre Maio e Agosto com pico em Julho. Alarcon (2002) observou que a desova de tainha é do tipo total, com fecundidade média de 2,7 milhões de ovos. Ramagosa et al. (2000) concluíram que a desova é do tipo total e sincrônica e que os exemplares maiores podem produzir cerca de 2,3 milhões de ovos. Vazzoler (1996) considerou que a desova sincrônica se caracteriza pela maturação do conjunto de todas as células ovocitárias que são eliminadas de uma só vez. Em condições normais, os reprodutores expelem no mar seus produtos sexuais (espermatozóides e óvulos), ocorrendo fecundação externa, o que reduz o percentual de sucesso de fertilização (BENETTI; NETTO, 1983). Por isso, seria importante estimar a taxa de fertilização, que segundo Godinho (2007) é o percentual de número de ovos viáveis (ovos embrionados) em relação à quantidade total de ovócitos produzidos. Depois da desova, as características abióticas do ambiente marinho são determinantes para os ovos sobreviverem (SPARRE & VENEMA, 1997). Segundo Bakun (1996) existem três grandes processos que se combinam para promover condições favoráveis de desova de espécies pelágicas costeiras: (i) processo de enriquecimento do meio; (ii) processo de concentração do alimento produzido; (iii) processos de retenção ou de transporte de ovos e larvas em ou para áreas favoráveis. Além das questões abióticas existem ainda questões como a qualidade dos gametas e os parâmetros que influenciam diretamente as taxas de fertilização, como motilidade espermática (TVEDT, et al., 2001) e a relação espermatozóide/ovócito (BOMBARDELLI, et al. 2006).
  • 29. 29 5.1.1.3.1.2. Recrutamento Informações preliminares sobre o recrutamento da tainha foram estudadas, a partir do acompanhamento mensal em quatro (04) pontos do litoral Sul do Brasil, entre maio 2011 e maio 2012 (monitoramento e coleta): (i) interior da Lagoa dos Patos/RS, (ii) Cassino, Rio Grande/RS, (iii) Tramandaí/ norte RS e, (iv) Laguna/ sul SC. Estes dados demonstraram que a espécie apresenta crescimento alométrico negativo, ou seja, têm taxas de crescimento diferenciadas para duas características mensuráveis. A Lagoa dos Patos (32∘ S), no sul do Brasil. é considerada a principal área de criadouro para M. liza (VIEIRA, 1991; VIEIRA & SCALABRIN, 1991; VIEIRA et al., 2008). Os arrastos de praia mensais, na zona de arrebentação da área compreendida entre Laguna e Chuí, no mesmo período, registraram a ocorrência de recrutas ao longo de todo o ano, sendo que nesta região, as maiores abundâncias ocorreram, especialmente, em frente à Lagoa dos Patos. Segundo as observações, recrutas permanecem durante até um ano, em mar aberto, na zona de rebentação do estuário, “surf zone” (pré-recrutamento), aguardando boas condições (alta salinidade) para entrarem. Em anos de El Niño, o recrutamento é fraco (VIEIRA, et al. 2012). Do momento da fecundação até o estágio juvenil ou pré-recruta, as tainhas precisam sobreviver a dois (2) processos de recrutamento distintos. O primeiro recrutamento refere-se à chegada das larvas provenientes da plataforma até a zona de praia próxima às lagoas costeiras (recrutamento à zona de arrebentação). Os pré-recrutas chegam à zona de arrebentação com a ajuda de um fluxo das águas superficiais em direção à costa, promovido pelo vento predominante de S/SW, típico dos meses de inverno (BAKUN; PARRISH, 1990). O segundo processo refere-se ao deslocamento dos pré-recrutas desde a praia até a entrada no estuário (recrutamento ao estuário). A idade média destes indivíduos nessa fase seria, aproximadamente, de dois meses após a safra em Santa Catarina, entre agosto e setembro, quando ocorre a marcação de um anel juvenil nos otólitos, com aproximadamente 22 mm de comprimento total (GARBIN, et al., 2014). Entretanto, foi verificado que esse fato não ocorre com a mesma intensidade à frente de outros estuários do litoral sul, sendo a Lagoa dos Patos o principal berçário para espécie no Brasil. Estudos sobre a ictiofauna em estuários do Paraná mostraram uma forte abundância de tainhas na região interna (SPACH et al. 2010). A mesma situação foi confirmada por Cassiano Monteiro (com. pess., 2013), que destacou algumas diferenças entre a concentração de juvenis durante o ano todo no Rio de Janeiro, em relação ao descrito para a Lagoa dos Patos/RS, atentando para a raridade da presença de juvenis na zona de arrebentação dos estuários fluminenses. Estudos na Baía de Sepetiba (SILVA & ARAÚJO, 2000) também mostraram uma maior abundância de juvenis de tainha nas porções interna do estuário. De acordo com Garbin et al. (2014), a curva de captura linearizada baseada em dados de composição etária para 2011, apresentou média de idade de recrutamento para a pesca de 6 anos.