Palestra apresentada pela Profª Drª Elisa Campos Machado (DEPB-UNIRIO) no dia 28/05/2010, durante o I Seminário de Biblioteconomia e Ciência da Informação da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo.
1. REDE BRASIL DE BIBLIOTECAS
COMUNITÁRIAS - RBBC
1º. Seminário de Biblioteconomia e Ciência da
Informação - FaBCI/FESP
Elisa Machado
Escola de Biblioteconomia
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
São Paulo, 28 de maio de 2010.
2. REDE BRASIL DE BIBLIOTECAS
COMUNITÁRIAS - RBBC
Realidade da Biblioteca Pública e da Biblioteca
Comunitária no Brasil.
Biblioteconomia e a Ciência da Informação
frente a essa realidade.
Rede Brasil de Bibliotecas Comunitárias -
RBBC.
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3. A realidade da Biblioteca Pública
no Brasil
1º. Censo Nacional das Bibliotecas Públicas Municipais.
79% municípios possuem BP abertas e a média empréstimos por mês é de
296 livros.
12% abrem aos sábados e 1% aos domingos; 24% funcionam a noite.
91% não oferece serviços para pessoas com necessidades especiais e 88%
não oferece atividades de extensão.
84% dirigentes são mulheres, com 41,2 anos em média; 3% com ensino
fundamental, 40% ensino médio e 57% ensino superior; 52% não tem
“capacitação em biblioteca”.
17% dos funcionários são formados em Biblioteconomia.
3,8 é média de computadores por biblioteca, sendo que 36% não possui
computador e 35% apenas 1 computador.
55% não tem acesso a internet e 71% não disponibilizam o acesso para seus
usuários.
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4. A realidade da Biblioteca Pública
no Brasil
Está realidade carrega um histórico processo de falta
de investimentos o que resultou num grande déficit
para a área.
A situação está começando a mudar. Hoje já temos
investimentos reais – a começar pelo próprio Censo.
Até bem pouco tempo o atual Sistema Municipal de
Bibliotecas Públicas de São Paulo era praticamente a
nossa única referência. Hoje já temos outros sistemas
municipais e estaduais que poderiam servir de
referência, ou que estão caminhando nesse sentido.
A sociedade esta muito mais informada e consciente da
necessidade de mudar essa situação.
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5. Nesse contexto...
[...] surgem cheias de energia, iniciativas de
constituição de espaços de leitura e acesso ao livro,
denominados por seus idealizadores como
bibliotecas comunitárias, ligadas ou não a
organizações comunitárias, articuladas ou não a
outras instâncias, respondendo a uma necessidade
percebida por um grupo e alavancada pelo esforço
coletivo da própria comunidade.
(ALMEIDA, MACHADO, 2006)
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6. Para entender a Biblioteca
Comunitária no Brasil
Levantamento de 350 experiências – 2006/2007
Sudeste/Norte/Nordeste/Centro-Oeste/Sul.
A maioria localizada em zonas rurais, pequenos municípios – áreas
consideradas de exclusão.
33,42 % zonas urbanas, 66,57 % zonas rurais/pequenos municípios.
BC Ler é Preciso da Coopamare; de Copacabana; Paulo Coelho; Criança
Esperança.
Seleção de 29 experiências
Motivos;
Atores principais;
Participação, articulação e sustentabilidade;
Estrutura e organização;
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7. Bibliotecas Comunitárias como
prática social no Brasil
1. BVL de Macapá – Macapá/AP 16. BVL da Comunidade Boca da Mata –
2. BC Maria das Neves Prado – Nova Soure/BA Pacaraima/RR
3. BC T Bone – Brasília/DF 17. BVL da Comunidade Santa Rosa –
4. BVL da Comunidade Santa Tereza – Pacaraima/RR
Mirinzal/MA 18. BC Zumaluma – Embu/SP
5. BC Poços de Caldas – Poços de Caldas/MG 19. B Confraria dos Parceiros de Guararema –
6. BVL da Comunidade de Bengui – Belém/PA Guararema/SP
7. BC Ler é Preciso de Magé – Magé/RJ 20. BC Prof. Waldir de Souza Lima – Itu/SP
8. BC Ler é Preciso Diuner Mello – Paraty/RJ 21. B Solidária – São José dos Campos/SP
9. BC Emmanuel – Rio de Janeiro/RJ 22. BC Casulo – São Paulo/SP
10. BC do Espaço Criança Esperança – Rio de 23. BC Cultura Jovem – São Paulo/SP
Janeiro/RJ 24. BC dos Garis – São Paulo/SP
11. BC Ler é Preciso de Copacabana – Rio de 25. BC de Heliópolis – São Paulo/SP
Janeiro/RJ 26. BC Ler é Preciso da Coopamare – São
12. BC Paulo Coelho – Rio de Janeiro/RJ Paulo/SP
13. BC Paulo Freire – Rio de Janeiro/RJ 27. BC Livro-Pra-Quê-Tê-Quero – São Paulo/SP
14. BC Tobias Barreto – Rio de Janeiro/RJ 28. BC Prestes Maia – São Paulo/SP
15. BVL da Comunidade de Caracaraí – 29. BC Solano Trindade – São Paulo/SP
Caracaraí/RR
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8. Bibliotecas Comunitárias como prática
social no Brasil: resultados
Motivos
Carência de bibliotecas públicas e escolares e conseqüente
dificuldade de acesso à leitura e ao livro.
Necessidade de melhorar os níveis de leitura, educação e
cultura de um determinado grupo.
Consciência da sua posição no espaço social e luta para
transformar a estrutura estabelecida.
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9. Bibliotecas Comunitárias como prática
social no Brasil: resultados
Atores
Cidadãos comuns, grupos de jovens, organizações da
sociedade civil.
Das 29 experiências:
7 surgiram a partir de iniciativas individuais (professor,
pedreiro, açougueiro, catador de lixo, fazendeiro, bibliotecário,
ex-seminarista);
15 a partir da ação de agentes coletivos externos à
comunidade (Associação Vaga Lume; Instituto Ecofuturo;
Instituto de Cidadania Empresarial e etc.);
7 de agentes coletivos internos à comunidade (movimentos
sociais: MST, Posses, grupos de jovens).
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20. Nas periferias das zonas urbanas...
os jovens aparecem como os protagonistas centrais. Por meio
de seu engajamento nas questões culturais e educacionais, os
jovens demonstram que têm muito a ensinar com suas redes
sociais, práticas inovadoras e regras de convivência.
Para os jovens as bibliotecas comunitárias são espaços de
liberdade.
As experiências lideradas por jovens são evidentemente mais
abertas à ação participativa do que as experiências
capitaneadas por ações individuais ou por entidades do Terceiro
Setor.
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21. Bibliotecas comunitárias como prática
social no Brasil: resultados
Participação
Diferentes formas de ação:
participação como meio x participação como fim.
Diferentes formas de entender a participação;
Das 29 experiências 14 evidenciam maior nível de
participação;
Quanto mais forte o sentimento de comunidade, mais
natural é o processo participativo.
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22. Bibliotecas comunitárias como prática
social no Brasil: resultados
Muitas delas são o resultado de programas idealizados por
organizações do Terceiro Setor, que contam com a aprovação da
Lei de Incentivo à Cultura, ou seja, são espaços criados com
dinheiro obtido por meio de isenção fiscal. Dinheiro público
administrado com autorização, mas sem a participação do
Estado.
Parece-nos que a situação das poucas bibliotecas públicas e
escolares no país geram o que Oliveira (1999, p. 57) chama de
“desnecessidade do público”. Faz com que a elite empresarial,
que se vê politicamente auto-suficiente em relação a um Estado
burocrático e ineficaz, apresente seus projetos de responsabilidade
social voltados para a criação de bibliotecas comunitárias como
respostas ao problema.
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23. Bibliotecas comunitárias como prática
social no Brasil: resultados
URGÊNCIA
Regulamentação = Políticas Públicas
para as Bibliotecas
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24. Bibliotecas comunitárias como prática
social no Brasil: considerações
Políticas públicas: princípios básicos
o respeito à diversidade, à pluralidade cultural e às redes de
sociabilidade locais;
o respeito e valorização das estratégias criativas, complexas
e heterogêneas das comunidades;
o respeito e a valorização do espaço público;
o estímulo à participação como processo;
a construção de sinergia entre ações e projetos;
a valorização às políticas locais.
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25. Nosso grande desafio
Superar as situações de desvantagem da nossa população em
relação à cultura e à educação.
Entendemos que a luta pela ampliação do número de
bibliotecas e pela melhoria dos serviços também exige a
mobilização da sociedade.
Os bibliotecários e os cientistas da informação não
conseguirão mudar a situação atual sozinhos. O Estado por
sua vez, não dá conta sozinho.
Precisamos do envolvimento da sociedade e de um Estado
regulador para mudar essa situação.
Daí a necessidade de criar espaços para o diálogo.
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26. Assim surgiu a RBBC
Objetivos:
discutir e refletir sobre os princípios que regem a gestão
autônoma desses espaços;
estabelecer vínculos e criar articulações entre os diversos
agentes e esferas envolvidas nesse processo;
estimular a participação da sociedade no processo de
construção de políticas públicas de qualidade para a área de
bibliotecas no Brasil;
reunir e compartilhar informações sobre as práticas empregadas
na formação e disponibilização de acervos locais, especialmente
voltados para grupos em desvantagem social.
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27. Rede Brasil de Bibliotecas
Comunitárias - RBBC
A RBBC que começou como uma ação sociocultural de um grupo
pequeno de pessoas e está adquirindo contornos de um
movimento social em defesa das bibliotecas no país.
Se pensarmos pelo lado conceitual, estamos lidando com uma
rede social, na Internet, que possibilita estabelecer relações
pessoais, ou profissionais, com indivíduos que não se conhecem,
mas que tem interesses comuns.
Esse ambiente de encontro permite o fortalecimento entre os elos
da rede, sendo que sua construção é impulsionada pelas
contribuições feitas pelos membros que a fomentam, pois “se trata
de compartilhar interesses e necessidades mediante um sistema
aberto e dinâmico” (GONZÁLEZ-GÁLVEZ e REY-MARTÍN, 2009,
p.15).
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28. Rede Brasil de Bibliotecas
Comunitárias - RBBC
Tendo em vista que estamos lidando com comunidades que, em sua
maioria, são considerados grupos em desvantagem social, a aplicação
dos conceitos propostos pela Informática Comunitária são
fundamentais: “campo interdisciplinar, relativo ao desenvolvimento e
gerenciamento de sistemas de informação concebidos com e por
comunidades para resolver os seus problemas” (MACLEVER, 2005, p.65)
Nesse sentido, consideramos que estamos tratando de um vertente da
Biblioteconomia que podemos chamar de “Biblioteconomia
Comunitária” = um campo interdisciplinar que fomenta processos
participativos para a construção de projetos sociais que tragam
mudanças significativas para determinadas comunidades em relação ao
acesso à informação e à leitura.
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29. RBBC: passo a passo
1. Definição dos princípios: ampliação dos debates e discussões
sobre bibliotecas comunitárias no país; estimulo a participação
democrática dos membros; respeito a diversidade e pluralidade
cultural dos diversos grupos envolvidos; valorização de
estratégias criativas; e, estabelecimento de sinergia entre as
ações, os projetos e as pessoas envolvidas.
2. Escolha da plataforma: interface social Ning
facilidade de uso e acesso
foco no assunto – interesse temático x usuário
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30. RBBC: passo a passo
3. Estabelecimento das formas de relacionamento e
compartilhamento de informação, assim como formas de
controle e acesso à RBBC (níveis de autonomia e de restrição).
4. Eleição de dois administradores responsáveis por monitorar o
desempenho da rede.
A partir de intervenções sistemáticas é possível garantir a qualidade das
informações que circulam na rede e, sedimentar o foco no tema de interesse
do grupo.
E, por meio do Google Analytics, verificar dados sobre o número diário de
visitas, tempo médio dos usuários no site, estatísticas de penetração da rede
no Brasil, com a localização geográfica dos seus membros. A partir desses
dados técnicos será possível também o delineamento de novos serviços que
poderão ser utilizados na rede.
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31. RBBC: passo a passo
5. Estabelecimento da estrutura
Página principal; Minha página; Membros; Fotos; Vídeos; Fórum; Eventos
6. Formas de divulgação
Entrevista na CBN
Envio de mensagens convite para pessoas e grupos
EREBDs
7. Sustentabilidade:
projetos de extensão interinstitucional;
busca de patrocínio.
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32. RBBC – panorama atual
período de 30/11/09 a 02/05/10
Abrangência nacional: Das 4.046 visitas realizadas à rede entre
no período, evidencia-se que a maior parte é feita do território
nacional, 3.909 visitas, o restante, 137 visitas, partiram de 23
países localizados na África, América, Ásia e Europa.
As 3.909 visitas do território nacional, partiram de 146 cidades
brasileiras, sendo que a maioria da cidade do Rio de Janeiro,
com 1.014 (25,94%), seguida de São Paulo, com 983 (25,15%),
Niterói, com 185 (4,74%), Recife (3,71%), Brasília, 98 (2,58%),
Santo André, 83 (2,12%) e Belo Horizonte, 80 (2,05%). As
outras 139 cidades respondem por menos de 2% das visitas.
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33. RBBC – panorama atual
período de 30/11/09 a 02/05/10
Fóruns: 36 todos com foco no tema central da rede.
Mais populares: Apresentação dos Membros, Encontro de Bibliotecas
Comunitárias, Políticas Públicas para Bibliotecas, Estudos acadêmicos sobre
bibliotecas comunitárias.
Membros: 463 pessoas, entre jovens e adultos
Acervo de 312 fotos e 19 vídeos.
Baixo índice de intervenções dos administradores.
Criação de boletins com informes sobre destaques na RBBC e dicas
de uso das ferramentas.
Primeiros resultados
Constituição de uma rede social formada por pessoas que tem interesse em
melhorar as condições de acesso à informação e à leitura no país.
Enriquecimento do debate: mais informação disponível.
Organização de encontros presenciais;
Utilização das TICs como ferramenta para viabilizar a rede
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34. REDE BRASIL DE BIBLIOTECAS
COMUNITÁRIAS - RBBC
Nos instalamos de maneira segura em
nossas teorias e idéias, e estas não têm
estrutura para acolher o novo.
Entretanto, o novo brota sem parar.
Edgard Morin
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35. Referências
ALMEIDA, Maria Christina Barbosa; MACHADO, Elisa Campos. Biblioteca comunitária em pauta. In:
ENCONTROS COM A BIBLIOTECA, 2006, São Paulo. Bibliotecas comunitárias e populares: diálogo
com a universidade, São Paulo: Itaú Cultural, 2006. Disponível em:
<http://www.itaucultural.org.br/index.cfm?cd_pagina=2405> Acesso em: 04 jan. 2007.
CENSO Nacional das Bibliotecas Públicas: estudo quantitativo: principais resultados. 2010.
CULTURA em números: anuário de estatísticas culturais 2009. Brasília: Minc, 2009.
MACHADO, Elisa Campos. Bibliotecas comunitárias como prática social no Brasil. São Paulo: Escola
de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, 2008. [Tese de doutorado – Programa de
Pós-Graduação em Ciência da Informação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de
São Paulo].
MCLEVER Jr., W. (2005). Uma informática comunitária para a sociedade da informação. In
MARQUES DE MELO, J. SATHLER, L. Direitos à comunicação na Sociedade da Informação (pp. 64-
102). São Bernardo do Campo: UNESP.
OLIVEIRA, Francisco de. Privatização do público, destituição da fala e anulação da política: o
totalitarismo neoliberal. In: OLIVERIA, Francisco; PAOLI, Maria Célia (Org.). Os sentidos da
democracia: políticas do dissenso e hegemonia global. Petrópolis: Vozes, 1999. p. 55-82.
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36. REDE BRASIL DE BIBLIOTECAS
COMUNITÁRIAS - RBBC
http://rbbconexoes.ning.com
Obrigada!
Elisa Machado
emachado2005@gmail.com
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