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P O R T A A BE R T A

Motrivivência            Ano XX,           Nº 31, P. 293-300 Dez./2008


    Para que Filosofia da Educação Física
  Escolar? Para além de uma paráfrase das
      Teses de Hans-Georg Flickinger

                                                              Márcia Morschbacher1
                                                            Leandra Costa da Costa1
                                                        Miriam Preissler de Oliveira1
                                                             Wenceslau Leães Filho2



                                Resumo         Abstract
      Neste artigo construímos, a partir       This present work, from the Flickinger
          do texto de Flickinger (2004),       (2004), we reflect on the possibility
     uma tentativa de refletir acerca da       of building a Philosophy of Physical
   relevância da Filosofia da Educação         Education Classes in which subjects
     à prática pedagógica da Educação          adopt a stance reflected and reasoned
Física Escolar. A partir da necessidade        actions critically. Thus, we present
      de que a Filosofia da Educação se        eight thesis with the aim of stimulat-
faça presente na condição de subsídio          ing discussion related to this subject.
  aos sujeitos a uma postura refletida e       We believe that the pedagogical prac-
  a ações criticamente fundamentadas,          tice of Physical Education Classes is
 apresentamos oito teses com o intuito         able to transcend constraints that limit
       de suscitar o debate relacionado        the act of teaching a curriculum com-
         a esta temática. Consideramos,        ponent in school and build a Philoso-
    portanto, que a prática pedagógica         phy of Physical Education Classes.
   da Educação Física Escolar, atenta à
     sua especificidade, permeada pela         Keywords: Philosophy. Education.
      Filosofia da Educação, seja capaz        Physical Education Classes.
    de transcender condicionantes que
       limitam o agir pedagógico deste

1 Acadêmicas do curso de Especialização em Educação Física Escolar: CEFD/ UFSM
2 Orientador do trabalho e Professor Assistente do DDI/CEFD/UFSM
294


   componente curricular na escola,                 Filosofia da Educação Física Escolar
bem como construir uma Filosofia da                 que contribua para incentivar o
          Educação Física Escolar.                  debate em torno da identificação
                                                    dos paradigmas autênticos da prá-
    Palavras-Chave: Filosofia; Educação;            tica pedagógica da Educação Física
               Educação Física Escolar.
                                                    Escolar.
                                                              Assim, neste trabalho re-
                                                    fletimos acerca desta temática elen-
Introdução                                          cando algumas teses que considera-
                                                    mos eminentes no cenário atual da
           Através da leitura do texto              Educação Física Escolar, suscitadas
de Hans-Georg Flickinger “Para que                  a partir dos debates oriundos do
filosofia da educação? Onze teses”,                 componente curricular “Filosofia
publicado no ano de 2004 no livro                   da Educação e da Educação Física
“Sobre Filosofia e Educação: subje-                 Escolar” do curso de Especialização
tividade-intersubjetividade na fun-                 em Educação Física Escolar da Uni-
damentação da práxis pedagógica”3,                  versidade Federal de Santa Maria.
podemos visualizar importantes
contribuições bem como reflexões                    Para que filosofia da educa-
referentes à filosofia e às teorias da
educação, ao agir pedagógico e à                    ção?
sua fundamentação teórica. Neste
artigo desenvolvemos análises                                 Flickinger (2004) apresen-
que, fundamentadas em Flickinger                    ta em seu texto instigantes perspecti-
(2004), ressaltam a necessidade da                  vas acerca da relevância da Filosofia
tomada de consciência com relação                   da Educação ao agir pedagógico
a uma postura refletida no agir peda-               docente. A partir de algumas teses,
gógico para esclarecer problemas,                   o autor reflete sobre a função da
impasses e equívocos como tam-                      reflexão filosófica no âmbito educa-
bém, qualificar a ação docente.                     cional, compreendida na condição
           Diante deste contexto,                   de subsídio à postura refletida dos
urge a necessidade dos educadores                   sujeitos da educação.
repensarem sobre a importância                                Esta postura, concebida
da Filosofia da Educação e a pos-                   como elemento constitutivo do agir
sibilidade da construção de uma                     pedagógico, possibilitaria, no enten-


3     DALBOSCO, Claudio; TROMBETTA Gerson Luís; LONGHI, Solange Maria. Sobre filosofia e
      educação: subjetividade-intersubjetividade na fundamentação da práxis pedagógica. Passo Fundo:
      UPF Editora, 2004.
Ano XX, n° 31, dezembro/2008                                                  295


dimento do autor, a compreensão            teses. Estas servem de referência às
dos elementos que permeiam a prá-          análises engendradas com a fina-
tica pedagógica para além de uma           lidade de legitimar a necessidade
racionalidade oculta pretensamente         e a importância da construção de
constituída, que se manifesta ante a       uma Filosofia da Educação Física
insuficiente e/ou ausente reflexão         Escolar, principalmente no que se
referente à educação.                      refere ao processo formativo dos
            Deste modo, a partir de        professores que atuam/atuarão com
onze teses, Flickinger (2004) amplia       o componente curricular Educação
o escopo da Filosofia da Educação          Física na escola.
situando-a como elemento imprescin-                  Hodiernamente, amal-
dível à criticidade do agir pedagógico.    gamou-se certa concepção prove-
Neste viés, o autor cogita sobre a         niente de um senso comum pre-
possibilidade de que a Filosofia da        tensamente configurado em torno
Educação pudesse tornar-se elemento        de qualquer ação relacionada à
inerente à formação docente e ao pró-      Filosofia (seja ela referida à Edu-
prio agir pedagógico, o que tornaria       cação, à Educação Física, ou outra
supérflua a sua inclusão ao currículo      instância): um teorizar desgastante
formativo. Portanto, neste entendi-        e sem significação aos sujeitos, pau-
                                           tado principalmente, pelo maçante
mento, a requerida postura refletida
                                           e mecânico estudo do pensamento
estaria presente em todo o processo
                                           filosófico de diferentes sujeitos em
formativo docente e não restrito a
                                           distintos períodos históricos.
uma exígua carga horária. Ainda,
                                                     Compreendemos que a
“filosofar-se-ia” cotidianamente e não
                                           Filosofia pode se constituir enquanto
somente na aula de Filosofia (Geral,
                                           dimensão à compreensão da estrutu-
da Educação ou outra nuance possí-         ração das ações humanas em cada
vel) como pré-requisito à aprovação        época e mesmo, contemporaneamen-
nesta (s) cadeira (s) universitária (s).   te, considerando-se que os sujeitos
                                           não foram constituídos (e constituem-
As teses de Flickinger acerca              se) de modo dissociado em relação
da filosofia da educação: te-              aos demais. Todavia, a permanência
cendo reflexões                            nesta perspectiva limita, consideravel-
                                           mente, a consolidação de incumbên-
                                           cias outras que a supracitada – porque
         Preliminarmente, tecemos          outros componentes curriculares o
alguns comentários acerca das              fariam de modo efetivo.
razões pelas quais Hans-Georg Fli-                   Esclarecemos que não
ckinger desenvolveu as suas onze           se trata de compreender e inter-
296


pretar em um processo insosso e          sentar algumas teses elaboradas a
descomprometido, mas que, de             partir do contexto atual da Educação
outro modo, desencadeiem-se ini-         Física Escolar, as quais emergem
ciativas críticas e emancipadas aos      do conhecimento produzido no
sujeitos, possibilitando superar as      componente curricular Filosofia
amarras pretensamente impostas.          da Educação e da Educação Física
Postulamos que a Filosofia coloca-       Escolar do Curso de Especialização
se enquanto possibilidade de auto-       em Educação Física Escolar da Uni-
reflexão/reflexão; o que, ademais,       versidade Federal de Santa Maria.
propicia importantes conseqüências
aos sujeitos em seu ser, estar e agir,   1a. TESE
a partir do desenvolvimento das
condições demandadas a níveis de                   Uma filosofia da Educação
consciência crítico-reflexiva em re-     Física Escolar contribuiria para uma
lação a si mesmos e ao mundo.            postura crítica do contexto sócio-his-
          É notória a carga de in-       tórico desta, levando a conhecer as
fluxos aos quais os sujeitos estão       influências da cultura e da sociedade
expostos e que, tacitamente, lhes        que incidem sobre ela. Haveria por
tolhe a sua capacidade autônoma da       parte dos professores uma reflexão
criticidade. A Filosofia, dessa forma    constante do fazer pedagógico, onde
se tornou conformada em função           repensando sua prática, conseqüen-
das expectativas sociais impostas a      temente, levaria a considerar os di-
esta, seguramente, em sentido opos-      ferentes contextos de sua inserção e
to ao seu potencial emancipatório.       o “se movimentar” estaria carregado
Contudo, assim como Flickinger           de significados para os sujeitos en-
(2004), consideramos necessário          volvidos nessa prática.
que a Filosofia transcenda estes con-
dicionantes e (re) tome para si a sua    2a. TESE
condição à adoção, por parte dos
sujeitos, de uma postura refletida,
                                                  A postura crítica levaria
consciente das ações humanas e dos
                                         aos professores repensar suas ações
aspectos que as perpassam.
                                         pedagógicas e verificar que a partir
                                         das constantes mudanças do mun-
Para que filosofia da educa-             do. Há a necessidade de uma forma-
ção física escolar?                      ção contínua, para poder entender
                                         o contexto sócio-histórico-cultural,
         Tentamos aqui, a partir         problematizando o real, o local
do texto de Flickinger (2004), apre-     como elemento do processo de en-
Ano XX, n° 31, dezembro/2008                                             297


sino-aprendizagem e assim, qualifi-     e na técnica esportiva pressupõem o
car sua prática docente. Formação       educando como uma “tábula rasa”,
esta, que traga um conhecimento         que aprende a partir da repetição de
não fragmentado, não específico,        movimentos sem sentido para ele,
mas um conhecimento de “partes”         algo externo, imposto. Partindo de
que levam ao entendimento de um         uma reflexão filosófica, os professo-
todo. Perceber-se-ia o ser humano       res de Educação Física Escolar esta-
enquanto sujeito em constante           riam em constantes adaptações de
“trans-formação” e ao mesmo tem-        suas práticas pedagógicas de acordo
po que ensina, aprende.                 com o contexto vivido, reavaliando
                                        e qualificando-as, para que dessa
3ª. TESE                                forma as ações tenham sentido para
                                        os sujeitos em formação, levando
          Outro aspecto passível é      a apontar a importância que a
a possibilidade de que tal postura      educação física tem ao estar inse-
refletida possibilite que os sujeitos   rida no contexto escolar. Há aqui
pensem acerca do real papel da          a intencionalidade e a concepção
Educação Física Escolar e da pró-       de mundo e sujeito do professor e,
pria instituição escolar ante a so-     estas, devem estar coerentes com
ciedade que se desenvolve a vastos      seu fazer pedagógico. Nos velhos
passos. Partindo do pressuposto de      e repetidos modelos há uma limi-
que a prática pedagógica é perme-       tação do conhecimento, pois os
ada pela consciência política e que     movimentos já estão pré-definidos
abster-se de tal debate denota certa    e as aulas são fechadas.
postura, considera-se relevante o
posicionamento e consequente            5a. TESE
agir pedagógico em consonância
com determinadas concepções                      A padronização dos movi-
(ou “temas fundamentais” (KUNZ,         mentos e das técnicas comumente
1998; 2004)) cujas perspectivas         utilizadas pelos professores em
coadunam com um projeto social          suas aulas exclui àqueles que não
outro que este posto.                   conseguem executá-las de forma
                                        “correta”. A reflexão levaria a estes
4a. TESE                                profissionais perceber o sentido
                                        que a educação física tem ao estar
         A influência dos modelos       inserida no contexto escolar. Leva-
tradicionais de ensino, baseados        ria também a considerar a subjeti-
nos métodos higienistas, militaristas   vidade dos sujeitos e que estes “tais
298


padrões” não tem sentido neste con-    da, ampliaria os conteúdos desen-
texto. A escola não tem a intenção     volvidos, aprofundando discussões
de formar atletas, por esta razão o    e aprendizagens, propiciando a
movimento deve ser ativo, criativo     criticidade nos sujeitos sobre suas
e pensante e não algo externo ao       práticas corporais.
corpo. O movimento adapta-se aos
sujeitos e não ao contrário.           7a. TESE
          As possibilidades do se-
movimentar humano compreen-                      A dualidade corpo/mente
didas como elementos da cultura        tão arraigada às concepções e ações
de movimento ampliam a prática         dos professores, leva a uma frag-
pedagógica da Educação Física          mentação do ser humano. Existem
Escolar para incumbências outras       disciplinas escolares para a mente
do que a mera e pretensa instru-       e a Educação Física Escolar para o
                                       corpo e esta forma posta é percebi-
mentalização motora. Conceber as
                                       da claramente no contexto escolar,
diversas manifestações do se-movi-
                                       pois “o lugar do corpo é no pátio
mentar humano sob a perspectiva
                                       da escola”. A reflexão rebateria
da cultura de movimento permite
                                       este sentido da dualidade, pois
tanto compreendê-las na condição
                                       não existe corpo sem mente, ou ao
de construções sociais e históricas
                                       contrário. Existem mecanismos pen-
quanto ressignificá-las em conso-      sados que levam ao se-movimentar,
nância com os sujeitos que a partir    toda a ação é consciente, pensada.
delas se expressam.                    A “hiperatividade” dos alunos nas
                                       tais “disciplinas mentais” se dá a
6a. TESE                               partir de um “silenciamento” de
                                       seus corpos.
          A Educação Física Escolar
compreendida como componente           8a. TESE
curricular, cuja incumbência peda-
gógica é a tematização da cultura de            A sociedade adapta-se ao
movimento, tem a função de “situar     sistema econômico e de regulação
o corpo no contexto sócio-históri-     ao qual estamos atrelados e este
co”. Isso remete a uma quebra do       padroniza conceitos e ações dos
paradigma da “esportivização” da       indivíduos. A reflexão possibilitaria
educação física, que está fortemente   um questionamento dessa idéia de
atrelado aos currículos escolares. O   corpo enquanto mercadoria ou bem
professor, com uma postura refleti-    de consumo.
Ano XX, n° 31, dezembro/2008                                                                   299


Conclusão                                                     Alijada de tal exercício crí-
                                                   tico-reflexivo, a prática pedagógica
           Conforme explicitamos                   da Educação Física Escolar e, preci-
anteriormente, consideramos que a                  puamente, os seus autores docentes
construção de uma Filosofia da Edu-                tendem a ficar presos a uma racio-
cação Física Escolar possa permear a               nalidade acrítica e suplantadora que
prática pedagógica desta, implicando               não lhes é própria (racionalidade
em transcender a concepção usual                   meramente instrumental).
constituída em torno do que vem a ser                         Outro aspecto a ser men-
Filosofia e suas incumbências, situan-             cionado refere-se à necessidade
do os sujeitos diante da necessidade               de que os sujeitos desprendam-se
de uma postura refletida em relação às             progressivamente de algumas de
práticas educativas deste componente               suas convicções e adotem uma
curricular e ao seu “sendo” enquanto               postura de constante auto-reflexão,
sujeitos multidimensionais4.                       permitindo-lhes afastarem-se de
           A reflexão acerca dos as-               si mesmos para reavaliar as suas
pectos microestruturais5 (cotidiano de             ações, arriscando os seus pontos de
uma aula de Educação Física Escolar)               vista arraigados, dialogando e ques-
e também macroestruturais6 (condi-
                                                   tionando perspectivas de outrem e
cionantes políticos e econômicos) se
                                                   as suas. O que acarreta significativas
relacionam intimamente às diversas
                                                   mudanças e evoluções à consti-
teorias educacionais e propostas pe-
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dagógicas que coexistem no espaço
escolar, não somente neste compo-                  enquanto componente curricular e
nente curricular, em específico. No                da prática pedagógica docente.
âmbito das práticas pedagógicas e de
suas intenções formativo-educacio-
nais, tal postura possibilita relevantes           Referências
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sentido de transformá-las em conso-                BRACHT, Valter et al. Pesquisa em
nância com os princípios oriundos                    ação: educação física na escola.
desta reflexão docente.                              2. ed. Ijuí: Ed. Unijuí, 2005.

4   Toma-se esta expressão de Edgar Morin (2000) que, a exemplo de outros autores, criticam a
    insuficiência do conceito de unidimensionalidade do ser humano, ou a supremacia de uma
    dimensão em detrimento de outra (s). Para tanto, os sujeitos são seres biológicos, culturais,
    sociais, históricos (dentre outras dimensões em que, insistentemente, ousam dividi-los) de modo
    indissociado e complexo.
5   Termo e conceito retirados de Bracht et al. (2005).
6   Termo e conceito retirados de Bracht et al. (2005).
300


FLICKINGER, Hans-Georg. Para           FUNÇÕES, TENDÊNCIAS
   que filosofia da educação? Onze     E PROPOSTAS PARA A
   teses. In: DALBOSCO, Cláudio        EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR,
   Almir; TROMBETTA, Gerson            1998, Santa Maria. Anais... Santa
   Luís; LONGHI, Solange Maria.        Maria: CEFD-UFSM, 1998. p.
   Sobre filosofia e educação:         114-119.
   subjetividade-intersubjetividade   MORIN, Edgar. Os sete saberes
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   pedagógica. Passo Fundo: UPF        futuro. Tradução de Catarina
   Editora, 2004.                      Eleonora F. da Silva e Jeanne
KUNZ, Elenor. Educação Física:         Sawaya; revisão de Edgard de
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   Ed. Unijuí, 2004.                   Cortez; Brasília, DF: UNESCO,
KUNZ, Elenor. Educação física          2000.
   escolar: seu desenvolvimento,
   problemas e propostas. In:
   SEMINÁRIO BRASILEIRO EM                 Recebido: 05/fevereiro/2010.
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Filosofia da Educação Física Escolar

  • 1. P O R T A A BE R T A Motrivivência Ano XX, Nº 31, P. 293-300 Dez./2008 Para que Filosofia da Educação Física Escolar? Para além de uma paráfrase das Teses de Hans-Georg Flickinger Márcia Morschbacher1 Leandra Costa da Costa1 Miriam Preissler de Oliveira1 Wenceslau Leães Filho2 Resumo Abstract Neste artigo construímos, a partir This present work, from the Flickinger do texto de Flickinger (2004), (2004), we reflect on the possibility uma tentativa de refletir acerca da of building a Philosophy of Physical relevância da Filosofia da Educação Education Classes in which subjects à prática pedagógica da Educação adopt a stance reflected and reasoned Física Escolar. A partir da necessidade actions critically. Thus, we present de que a Filosofia da Educação se eight thesis with the aim of stimulat- faça presente na condição de subsídio ing discussion related to this subject. aos sujeitos a uma postura refletida e We believe that the pedagogical prac- a ações criticamente fundamentadas, tice of Physical Education Classes is apresentamos oito teses com o intuito able to transcend constraints that limit de suscitar o debate relacionado the act of teaching a curriculum com- a esta temática. Consideramos, ponent in school and build a Philoso- portanto, que a prática pedagógica phy of Physical Education Classes. da Educação Física Escolar, atenta à sua especificidade, permeada pela Keywords: Philosophy. Education. Filosofia da Educação, seja capaz Physical Education Classes. de transcender condicionantes que limitam o agir pedagógico deste 1 Acadêmicas do curso de Especialização em Educação Física Escolar: CEFD/ UFSM 2 Orientador do trabalho e Professor Assistente do DDI/CEFD/UFSM
  • 2. 294 componente curricular na escola, Filosofia da Educação Física Escolar bem como construir uma Filosofia da que contribua para incentivar o Educação Física Escolar. debate em torno da identificação dos paradigmas autênticos da prá- Palavras-Chave: Filosofia; Educação; tica pedagógica da Educação Física Educação Física Escolar. Escolar. Assim, neste trabalho re- fletimos acerca desta temática elen- Introdução cando algumas teses que considera- mos eminentes no cenário atual da Através da leitura do texto Educação Física Escolar, suscitadas de Hans-Georg Flickinger “Para que a partir dos debates oriundos do filosofia da educação? Onze teses”, componente curricular “Filosofia publicado no ano de 2004 no livro da Educação e da Educação Física “Sobre Filosofia e Educação: subje- Escolar” do curso de Especialização tividade-intersubjetividade na fun- em Educação Física Escolar da Uni- damentação da práxis pedagógica”3, versidade Federal de Santa Maria. podemos visualizar importantes contribuições bem como reflexões Para que filosofia da educa- referentes à filosofia e às teorias da educação, ao agir pedagógico e à ção? sua fundamentação teórica. Neste artigo desenvolvemos análises Flickinger (2004) apresen- que, fundamentadas em Flickinger ta em seu texto instigantes perspecti- (2004), ressaltam a necessidade da vas acerca da relevância da Filosofia tomada de consciência com relação da Educação ao agir pedagógico a uma postura refletida no agir peda- docente. A partir de algumas teses, gógico para esclarecer problemas, o autor reflete sobre a função da impasses e equívocos como tam- reflexão filosófica no âmbito educa- bém, qualificar a ação docente. cional, compreendida na condição Diante deste contexto, de subsídio à postura refletida dos urge a necessidade dos educadores sujeitos da educação. repensarem sobre a importância Esta postura, concebida da Filosofia da Educação e a pos- como elemento constitutivo do agir sibilidade da construção de uma pedagógico, possibilitaria, no enten- 3 DALBOSCO, Claudio; TROMBETTA Gerson Luís; LONGHI, Solange Maria. Sobre filosofia e educação: subjetividade-intersubjetividade na fundamentação da práxis pedagógica. Passo Fundo: UPF Editora, 2004.
  • 3. Ano XX, n° 31, dezembro/2008 295 dimento do autor, a compreensão teses. Estas servem de referência às dos elementos que permeiam a prá- análises engendradas com a fina- tica pedagógica para além de uma lidade de legitimar a necessidade racionalidade oculta pretensamente e a importância da construção de constituída, que se manifesta ante a uma Filosofia da Educação Física insuficiente e/ou ausente reflexão Escolar, principalmente no que se referente à educação. refere ao processo formativo dos Deste modo, a partir de professores que atuam/atuarão com onze teses, Flickinger (2004) amplia o componente curricular Educação o escopo da Filosofia da Educação Física na escola. situando-a como elemento imprescin- Hodiernamente, amal- dível à criticidade do agir pedagógico. gamou-se certa concepção prove- Neste viés, o autor cogita sobre a niente de um senso comum pre- possibilidade de que a Filosofia da tensamente configurado em torno Educação pudesse tornar-se elemento de qualquer ação relacionada à inerente à formação docente e ao pró- Filosofia (seja ela referida à Edu- prio agir pedagógico, o que tornaria cação, à Educação Física, ou outra supérflua a sua inclusão ao currículo instância): um teorizar desgastante formativo. Portanto, neste entendi- e sem significação aos sujeitos, pau- tado principalmente, pelo maçante mento, a requerida postura refletida e mecânico estudo do pensamento estaria presente em todo o processo filosófico de diferentes sujeitos em formativo docente e não restrito a distintos períodos históricos. uma exígua carga horária. Ainda, Compreendemos que a “filosofar-se-ia” cotidianamente e não Filosofia pode se constituir enquanto somente na aula de Filosofia (Geral, dimensão à compreensão da estrutu- da Educação ou outra nuance possí- ração das ações humanas em cada vel) como pré-requisito à aprovação época e mesmo, contemporaneamen- nesta (s) cadeira (s) universitária (s). te, considerando-se que os sujeitos não foram constituídos (e constituem- As teses de Flickinger acerca se) de modo dissociado em relação da filosofia da educação: te- aos demais. Todavia, a permanência cendo reflexões nesta perspectiva limita, consideravel- mente, a consolidação de incumbên- cias outras que a supracitada – porque Preliminarmente, tecemos outros componentes curriculares o alguns comentários acerca das fariam de modo efetivo. razões pelas quais Hans-Georg Fli- Esclarecemos que não ckinger desenvolveu as suas onze se trata de compreender e inter-
  • 4. 296 pretar em um processo insosso e sentar algumas teses elaboradas a descomprometido, mas que, de partir do contexto atual da Educação outro modo, desencadeiem-se ini- Física Escolar, as quais emergem ciativas críticas e emancipadas aos do conhecimento produzido no sujeitos, possibilitando superar as componente curricular Filosofia amarras pretensamente impostas. da Educação e da Educação Física Postulamos que a Filosofia coloca- Escolar do Curso de Especialização se enquanto possibilidade de auto- em Educação Física Escolar da Uni- reflexão/reflexão; o que, ademais, versidade Federal de Santa Maria. propicia importantes conseqüências aos sujeitos em seu ser, estar e agir, 1a. TESE a partir do desenvolvimento das condições demandadas a níveis de Uma filosofia da Educação consciência crítico-reflexiva em re- Física Escolar contribuiria para uma lação a si mesmos e ao mundo. postura crítica do contexto sócio-his- É notória a carga de in- tórico desta, levando a conhecer as fluxos aos quais os sujeitos estão influências da cultura e da sociedade expostos e que, tacitamente, lhes que incidem sobre ela. Haveria por tolhe a sua capacidade autônoma da parte dos professores uma reflexão criticidade. A Filosofia, dessa forma constante do fazer pedagógico, onde se tornou conformada em função repensando sua prática, conseqüen- das expectativas sociais impostas a temente, levaria a considerar os di- esta, seguramente, em sentido opos- ferentes contextos de sua inserção e to ao seu potencial emancipatório. o “se movimentar” estaria carregado Contudo, assim como Flickinger de significados para os sujeitos en- (2004), consideramos necessário volvidos nessa prática. que a Filosofia transcenda estes con- dicionantes e (re) tome para si a sua 2a. TESE condição à adoção, por parte dos sujeitos, de uma postura refletida, A postura crítica levaria consciente das ações humanas e dos aos professores repensar suas ações aspectos que as perpassam. pedagógicas e verificar que a partir das constantes mudanças do mun- Para que filosofia da educa- do. Há a necessidade de uma forma- ção física escolar? ção contínua, para poder entender o contexto sócio-histórico-cultural, Tentamos aqui, a partir problematizando o real, o local do texto de Flickinger (2004), apre- como elemento do processo de en-
  • 5. Ano XX, n° 31, dezembro/2008 297 sino-aprendizagem e assim, qualifi- e na técnica esportiva pressupõem o car sua prática docente. Formação educando como uma “tábula rasa”, esta, que traga um conhecimento que aprende a partir da repetição de não fragmentado, não específico, movimentos sem sentido para ele, mas um conhecimento de “partes” algo externo, imposto. Partindo de que levam ao entendimento de um uma reflexão filosófica, os professo- todo. Perceber-se-ia o ser humano res de Educação Física Escolar esta- enquanto sujeito em constante riam em constantes adaptações de “trans-formação” e ao mesmo tem- suas práticas pedagógicas de acordo po que ensina, aprende. com o contexto vivido, reavaliando e qualificando-as, para que dessa 3ª. TESE forma as ações tenham sentido para os sujeitos em formação, levando Outro aspecto passível é a apontar a importância que a a possibilidade de que tal postura educação física tem ao estar inse- refletida possibilite que os sujeitos rida no contexto escolar. Há aqui pensem acerca do real papel da a intencionalidade e a concepção Educação Física Escolar e da pró- de mundo e sujeito do professor e, pria instituição escolar ante a so- estas, devem estar coerentes com ciedade que se desenvolve a vastos seu fazer pedagógico. Nos velhos passos. Partindo do pressuposto de e repetidos modelos há uma limi- que a prática pedagógica é perme- tação do conhecimento, pois os ada pela consciência política e que movimentos já estão pré-definidos abster-se de tal debate denota certa e as aulas são fechadas. postura, considera-se relevante o posicionamento e consequente 5a. TESE agir pedagógico em consonância com determinadas concepções A padronização dos movi- (ou “temas fundamentais” (KUNZ, mentos e das técnicas comumente 1998; 2004)) cujas perspectivas utilizadas pelos professores em coadunam com um projeto social suas aulas exclui àqueles que não outro que este posto. conseguem executá-las de forma “correta”. A reflexão levaria a estes 4a. TESE profissionais perceber o sentido que a educação física tem ao estar A influência dos modelos inserida no contexto escolar. Leva- tradicionais de ensino, baseados ria também a considerar a subjeti- nos métodos higienistas, militaristas vidade dos sujeitos e que estes “tais
  • 6. 298 padrões” não tem sentido neste con- da, ampliaria os conteúdos desen- texto. A escola não tem a intenção volvidos, aprofundando discussões de formar atletas, por esta razão o e aprendizagens, propiciando a movimento deve ser ativo, criativo criticidade nos sujeitos sobre suas e pensante e não algo externo ao práticas corporais. corpo. O movimento adapta-se aos sujeitos e não ao contrário. 7a. TESE As possibilidades do se- movimentar humano compreen- A dualidade corpo/mente didas como elementos da cultura tão arraigada às concepções e ações de movimento ampliam a prática dos professores, leva a uma frag- pedagógica da Educação Física mentação do ser humano. Existem Escolar para incumbências outras disciplinas escolares para a mente do que a mera e pretensa instru- e a Educação Física Escolar para o corpo e esta forma posta é percebi- mentalização motora. Conceber as da claramente no contexto escolar, diversas manifestações do se-movi- pois “o lugar do corpo é no pátio mentar humano sob a perspectiva da escola”. A reflexão rebateria da cultura de movimento permite este sentido da dualidade, pois tanto compreendê-las na condição não existe corpo sem mente, ou ao de construções sociais e históricas contrário. Existem mecanismos pen- quanto ressignificá-las em conso- sados que levam ao se-movimentar, nância com os sujeitos que a partir toda a ação é consciente, pensada. delas se expressam. A “hiperatividade” dos alunos nas tais “disciplinas mentais” se dá a 6a. TESE partir de um “silenciamento” de seus corpos. A Educação Física Escolar compreendida como componente 8a. TESE curricular, cuja incumbência peda- gógica é a tematização da cultura de A sociedade adapta-se ao movimento, tem a função de “situar sistema econômico e de regulação o corpo no contexto sócio-históri- ao qual estamos atrelados e este co”. Isso remete a uma quebra do padroniza conceitos e ações dos paradigma da “esportivização” da indivíduos. A reflexão possibilitaria educação física, que está fortemente um questionamento dessa idéia de atrelado aos currículos escolares. O corpo enquanto mercadoria ou bem professor, com uma postura refleti- de consumo.
  • 7. Ano XX, n° 31, dezembro/2008 299 Conclusão Alijada de tal exercício crí- tico-reflexivo, a prática pedagógica Conforme explicitamos da Educação Física Escolar e, preci- anteriormente, consideramos que a puamente, os seus autores docentes construção de uma Filosofia da Edu- tendem a ficar presos a uma racio- cação Física Escolar possa permear a nalidade acrítica e suplantadora que prática pedagógica desta, implicando não lhes é própria (racionalidade em transcender a concepção usual meramente instrumental). constituída em torno do que vem a ser Outro aspecto a ser men- Filosofia e suas incumbências, situan- cionado refere-se à necessidade do os sujeitos diante da necessidade de que os sujeitos desprendam-se de uma postura refletida em relação às progressivamente de algumas de práticas educativas deste componente suas convicções e adotem uma curricular e ao seu “sendo” enquanto postura de constante auto-reflexão, sujeitos multidimensionais4. permitindo-lhes afastarem-se de A reflexão acerca dos as- si mesmos para reavaliar as suas pectos microestruturais5 (cotidiano de ações, arriscando os seus pontos de uma aula de Educação Física Escolar) vista arraigados, dialogando e ques- e também macroestruturais6 (condi- tionando perspectivas de outrem e cionantes políticos e econômicos) se as suas. O que acarreta significativas relacionam intimamente às diversas mudanças e evoluções à consti- teorias educacionais e propostas pe- tuição da Educação Física Escolar dagógicas que coexistem no espaço escolar, não somente neste compo- enquanto componente curricular e nente curricular, em específico. No da prática pedagógica docente. âmbito das práticas pedagógicas e de suas intenções formativo-educacio- nais, tal postura possibilita relevantes Referências influxos às práticas educativas no sentido de transformá-las em conso- BRACHT, Valter et al. Pesquisa em nância com os princípios oriundos ação: educação física na escola. desta reflexão docente. 2. ed. Ijuí: Ed. Unijuí, 2005. 4 Toma-se esta expressão de Edgar Morin (2000) que, a exemplo de outros autores, criticam a insuficiência do conceito de unidimensionalidade do ser humano, ou a supremacia de uma dimensão em detrimento de outra (s). Para tanto, os sujeitos são seres biológicos, culturais, sociais, históricos (dentre outras dimensões em que, insistentemente, ousam dividi-los) de modo indissociado e complexo. 5 Termo e conceito retirados de Bracht et al. (2005). 6 Termo e conceito retirados de Bracht et al. (2005).
  • 8. 300 FLICKINGER, Hans-Georg. Para FUNÇÕES, TENDÊNCIAS que filosofia da educação? Onze E PROPOSTAS PARA A teses. In: DALBOSCO, Cláudio EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR, Almir; TROMBETTA, Gerson 1998, Santa Maria. Anais... Santa Luís; LONGHI, Solange Maria. Maria: CEFD-UFSM, 1998. p. Sobre filosofia e educação: 114-119. subjetividade-intersubjetividade MORIN, Edgar. Os sete saberes na fundamentação da práxis necessários à educação do pedagógica. Passo Fundo: UPF futuro. Tradução de Catarina Editora, 2004. Eleonora F. da Silva e Jeanne KUNZ, Elenor. Educação Física: Sawaya; revisão de Edgard de ensino & mudanças. 3. ed. Ijuí: Assis Carvalho. 2. Ed. São Paulo: Ed. Unijuí, 2004. Cortez; Brasília, DF: UNESCO, KUNZ, Elenor. Educação física 2000. escolar: seu desenvolvimento, problemas e propostas. In: SEMINÁRIO BRASILEIRO EM Recebido: 05/fevereiro/2010. PEDAGOGIA DO ESPORTE: Aprovado: 09/abril/2010.