1. O documento trata da mineração em Minas Gerais no século 21, especificamente da consolidação de posições na mineração no estado.
2. Aborda o cenário internacional e brasileiro da mineração, os investimentos no setor, fatores que influenciam a competitividade e apresenta análises sobre os principais minérios produzidos no estado como ferro, ouro, zinco e nióbio.
3. Também discute a importância das pequenas e médias mineradoras para a geração de empregos
Conferência SC 2024 | De vilão a herói: como o frete vai salvar as suas vendas
Volume 5 Mineracao
1. MINAS GERAIS DO SÉCULO XXI
CONSOLIDANDO POSIÇÕES NA MINERAÇÃO
VOLUME V
2. MINAS GERAIS DO SÉCULO XXI
VOLUME V
CONSOLIDANDO POSIÇÕES
NA MINERAÇÃO
Banco de
Desenvolvimento de
Minas Gerais
3. BANCO DE DESENVOLVIMENTO DE MINAS GERAIS S.A. - BDMG
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não refletindo necessariamente a opinião do BDMG.
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Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais
Minas Gerais do Século XXI / Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais.
B213m
2002 Belo Horizonte: Rona Editora, 2002.
10 v. : il. -
Conteúdo: v.1 - O Ponto de Partida. v. 2 - Reinterpretando o Espaço Mineiro.
v. 3 - Infra-Estrutura: sustentando o desenvolvimento. v. 4 - Transformando o
Desenvolvimento na Agropecuária. v. 5 - Consolidando Posições na
Mineração. v. 6 - Integrando a Indústria para o Futuro. v. 7 - Desenvolvimento
Sustentável: apostando no futuro. v. 8 - Investindo em Políticas Sociais. v. 9 -
Transformando o Poder Público: a busca da eficácia. v. Especial – Uma Visão do Novo
Desenvolvimento
1. Condições econômicas – Minas Gerais. 2. Desenvolvimento econômico –
Minas Gerais. I. Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais. II. BDMG. III. Título
CDU: 338.92(815.1)
Catalogação na publicação: Biblioteca BDMG
4 Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
5. VOLUME 5
CONSOLIDANDO POSIÇÕES
NA MINERAÇÃO
Autor do Volume
Germano Mendes de Paula
(Doutor e Professor do Instituto de Economia da
Universidade Federal de Uberlândia - UFU)
Coordenação do Projeto
Tadeu Barreto Guimarães
Marco Antônio Rodrigues da Cunha
Marilena Chaves
Coordenadores Técnicos do Volume
Juliana Rodrigues de Paula Chiari
(D.PE/BDMG)
Bernardo Tavares de Almeida
(D.PE/BDMG)
6.
7. SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................................ 13
1. CENÁRIO INTERNACIONAL .................................................................................................................................. 15
1.1. Mineração: um negócio heterogêneo .................................................................................................................... 15
1.2. A importância econômica da mineração .............................................................................................................. 16
1.3. Fusões e aquisições na mineração mundial ......................................................................................................... 18
1.4. Evolução dos gastos com exploração mineral no mundo ................................................................................ 21
2. CENÁRIO BRASILEIRO E DE MINAS GERAIS ................................................................................................ 27
2.1. Breve revisão histórica da mineração brasileira .................................................................................................. 27
2.2. Reservas minerais: Brasil e Minas Gerais ............................................................................................................. 29
2.3. Desempenho da produção mineral na década de 1990:
Brasil e Minas Gerais ............................................................................................................................................... 32
3. INVESTIMENTOS NA MINERAÇÃO BRASILEIRA E DE MINAS GERAIS ....................................... 39
3.1. A questão do investimento na mineração ........................................................................................................... 39
3.2. Evolução dos investimentos na mineração brasileira ........................................................................................ 40
3.3. Distribuição geográfica dos investimentos na mineração brasileira ............................................................... 42
3.4. Investimentos na mineração em Minas Gerais ................................................................................................... 44
4. A DIMENSÃO SISTÊMICA DA COMPETITIVIDADE NA MINERAÇÃO ............................................ 47
4.1. Regimes de tributação na mineração latino-americana ..................................................................................... 47
4.2. Tributação da mineração no Estado de Minas Gerais ....................................................................................... 49
4.3. Financiamento e fundos minerais ......................................................................................................................... 51
4.4. Conhecimento da geologia brasileira .................................................................................................................... 52
4.5. Mineração e meio ambiente ................................................................................................................................... 54
5. FERRO ................................................................................................................................................................................... 61
5.1. Mercados consumidores .......................................................................................................................................... 61
5.2. Tendências da demanda .......................................................................................................................................... 62
5.3. Reservas mundiais .................................................................................................................................................... 63
5.4. Reservas brasileiras .................................................................................................................................................. 64
5.5. Produção mundial .................................................................................................................................................... 64
5.6. Produção brasileira .................................................................................................................................................. 65
5.7. Balança comercial brasileira ................................................................................................................................... 66
5.8. Processo de consolidação ....................................................................................................................................... 67
5.9 O Caso MBR ............................................................................................................................................................. 70
5.10. A Situação das pequenas mineradoras ................................................................................................................. 70
5.11. Preços ......................................................................................................................................................................... 72
5.12. Perspectivas .............................................................................................................................................................. 72
8. 6. OURO ...................................................................................................................................................................................... 75
6.1. Mercados consumidores .......................................................................................................................................... 75
6.2. Tendências da demanda .......................................................................................................................................... 75
6.3. Reservas mundiais .................................................................................................................................................... 75
6.4. Reservas brasileiras .................................................................................................................................................. 76
6.5. Produção mundial .................................................................................................................................................... 76
6.6. Produção brasileira .................................................................................................................................................. 77
6.7. O caso Mineração Morro Velho ............................................................................................................................ 79
6.8. Balança comercial brasileira ................................................................................................................................... 80
6.9. Processo de consolidação ....................................................................................................................................... 80
6.10. Preços ......................................................................................................................................................................... 82
6.11. Perspectivas .............................................................................................................................................................. 83
7. ZINCO .................................................................................................................................................................................... 85
7.1. Mercados consumidores .......................................................................................................................................... 85
7.2. Tendências da demanda .......................................................................................................................................... 86
7.3. Reservas mundiais .................................................................................................................................................... 86
7.4. Reservas brasileiras .................................................................................................................................................. 87
7.5. Produção mundial .................................................................................................................................................... 87
7.6. Produção brasileira .................................................................................................................................................. 87
7.7. Balança comercial brasileira ................................................................................................................................... 88
7.8. Escala de produção .................................................................................................................................................. 89
7.9. Os casos CMM e Paraibuna de Metais ................................................................................................................. 89
7.10. Preços ......................................................................................................................................................................... 90
7.11. Perspectivas .............................................................................................................................................................. 91
8. NÍQUEL ................................................................................................................................................................................ 93
8.1. Mercados consumidores .......................................................................................................................................... 93
8.2. Tendências da demanda .......................................................................................................................................... 93
8.3. Reservas mundiais .................................................................................................................................................... 94
8.4. Reservas brasileiras .................................................................................................................................................. 94
8.5. Produção mundial .................................................................................................................................................... 94
8.6. Tecnologia HPAL ..................................................................................................................................................... 94
8.7. Produção brasileira .................................................................................................................................................. 95
8.8. Balança comercial brasileira ................................................................................................................................... 96
8.9. Escala de produção .................................................................................................................................................. 96
8.10. O caso Mineração Serra da Fortaleza ................................................................................................................... 97
8.11. Preços ......................................................................................................................................................................... 98
8.12. Perspectivas .............................................................................................................................................................. 99
9. NIÓBIO ................................................................................................................................................................................ 101
9.1. Mercados consumidores ........................................................................................................................................ 101
9.2. Tendência da demanda .......................................................................................................................................... 101
9.3. Reservas mundiais .................................................................................................................................................. 102
9.4. Reservas brasileiras ................................................................................................................................................ 102
9.5. Produção mundial .................................................................................................................................................. 103
9.6. Produção e exportação brasileira de ferronióbio ............................................................................................. 103
9.7. O segmento de óxido de nióbio .......................................................................................................................... 104
9.8. O caso CBMM ........................................................................................................................................................ 104
9.9. Novos entrantes na indústria mundial de nióbio ............................................................................................. 105
9.10 Preços ....................................................................................................................................................................... 106
9.11. Perspectivas ............................................................................................................................................................ 107
9. 10. FOSFATO ............................................................................................................................................................................. 109
10.1. Mercados consumidores ........................................................................................................................................ 109
10.2. Tendências da demanda ........................................................................................................................................ 109
10.3. Reservas mundiais .................................................................................................................................................. 109
10.4. Reservas brasileiras ................................................................................................................................................ 109
10.5. Produção mundial .................................................................................................................................................. 110
10.6. Produção brasileira ................................................................................................................................................ 111
10.7. Balança comercial brasileira ................................................................................................................................. 112
10.8. Processo de consolidação ..................................................................................................................................... 112
10.9. O caso Fosfértil ...................................................................................................................................................... 113
10.10. Preços ....................................................................................................................................................................... 114
10.11. Perspectivas ............................................................................................................................................................ 114
11. CALCÁRIO (CIMENTO) .............................................................................................................................................. 115
11.1. Mercados consumidores ........................................................................................................................................ 115
11.2. Tendências da demanda ........................................................................................................................................ 115
11.3. Reservas mundiais e brasileiras ............................................................................................................................ 116
11.4. Produção mundial .................................................................................................................................................. 116
11.5. Produção brasileira ................................................................................................................................................ 117
11.6. Balança comercial brasileira ................................................................................................................................. 117
11.7. Processo de consolidação ..................................................................................................................................... 117
11.8. O caso Camargo Corrêa ........................................................................................................................................ 119
11.9. Preços ....................................................................................................................................................................... 119
11.10. Perspectivas ............................................................................................................................................................ 120
12. PEQUENAS E MÉDIAS MINERADORAS .......................................................................................................... 123
12.1. A importância das pequenas e médias mineradoras ......................................................................................... 123
12.2. Geração de empregos formais na mineração em Minas Gerais ..................................................................... 126
12.3. Taxonomia das estratégias de inserção competitiva das pequenas
e médias mineradoras em Minas Gerais ............................................................................................................. 130
12.4. Minerais industriais ................................................................................................................................................ 134
12.5. Agregados para construção civil .......................................................................................................................... 137
12.6. Rochas ornamentais e de revestimento ............................................................................................................. 138
12.7 Diamantes e gemas ................................................................................................................................................ 140
12.8. Água mineral ........................................................................................................................................................... 142
13. VISÃO DE FUTURO E PROPOSIÇÕES DE POLÍTICA ................................................................................. 147
13.1. Grandes mineradoras ............................................................................................................................................. 147
13.2. Micro, pequenas e médias mineradoras .............................................................................................................. 149
14. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................................................... 152
10.
11. MINAS GERAIS DO SÉCULO XXI
VOLUME V
CONSOLIDANDO POSIÇÕES
NA MINERAÇÃO
CAPÍTULO 1
O CENÁRIO INTERNACIONAL
12.
13. BDMG
40 anos
Introdução
A história da atividade mineradora em Minas Gerais se confunde com a própria trajetória
da atividade no País. Sendo o maior produtor mineral do Brasil, o Estado respondeu, em 1999,
por 34% da produção mineral nacional. É bem verdade que a participação de Minas na atividade
mineradora do País regrediu em relação ao ano de 1975, quando o Estado alcançou 59% do valor
da produção mineral brasileira. Mas durante toda a década de 90, Minas manteve sua participação
média no valor da produção mineral nacional em patamar superior a 30%. Do ponto de vista
econômico, a extração de ferro é a atividade mineral mais representativa para a economia estadual,
atingindo, no ano de 2000, 69,8% do valor da produção mineral.
Minas Gerais desempenha papel proeminente nas reservas medidas nacionais de metais
ferrosos, com destaque para o lítio (100%), o berílio (98%), o zinco (89%), o titânio (87%), o
nióbio (73%), o chumbo (67%), o ferro (59%) e o ouro (48%). Em relação aos minerais não-
metálicos, merecem destaque as reservas de enxofre e ocre (100% do total brasileiro), agalmatolito,
ardósia, bário, grafita e quartzo/cristal (acima de 90%), além de rocha fosfática (61%) e de calcário
(18%), e pedras britadas (15%). No âmbito das gemas e diamantes, em 2000, Minas representava
96% das reservas medidas brasileiras de diamantes e 91% das de gemas.
Uma característica marcante da mineração é sua natureza eminentemente heterogênea, não
apenas em termos dos diferentes segmentos da atividade, mas também pela grande diversidade
das empresas que exploram as reservas minerais, coexistindo desde um global player até um
microempreendimento. Assim, generalizações são extremamente difíceis, e qualquer análise deve
ser individualizada, levando em consideração as características dos diversos segmentos de atividade.
De fato, este documento elabora dois tipos de abordagem. A primeira dedica-se ao exame de sete
substâncias minerais (ferro, ouro, zinco, níquel, nióbio, fosfato e calcário), responsáveis por 88%
da produção mineral estadual no ano de 2000, e cuja exploração concentra-se em empresas de
grande porte. A segunda abordagem dedica-se às demais substâncias minerais, para as quais existem
dificuldades para obtenção de dados fidedignos, pois são exploradas em sua maioria por empresas
de pequeno e médio porte.
Este volume está organizado em treze capítulos. O primeiro dedica-se a vários assuntos
relevantes à mineração no mundo, tais como: o caráter heterogêneo e a importância econômica da
atividade; o intenso processo de fusões e aquisições; a evolução recente dos investimentos em
exploração mineral. O segundo capítulo resgata um breve histórico da mineração brasileira, para
depois discutir a posição brasileira nas reservas mundiais, bem como a de Minas Gerais no contexto
brasileiro. Este capítulo é finalizado com a análise do desempenho da produção mineral ao longo
da década de 1990, em Minas Gerais, tendo o País como padrão de referência.
O capítulo 3 aborda a questão dos investimentos na atividade mineradora. Procura-se, por
exemplo, escrutinar a evolução das inversões na mineração brasileira, sua distribuição geográfica
e também a trajetória dos investimentos na mineração em Minas Gerais. O capítulo seguinte é
dedicado à chamada dimensão sistêmica da competitividade, passando por temas relativos a
tributação, financiamento, conhecimento da geologia brasileira e meio ambiente.
Os capítulos 5 a 11 discutem a situação atual e prospectiva das principais substâncias
minerais do Estado, a saber: ferro, ouro, zinco, níquel, nióbio, fosfato e calcário (cimento). No ano
2000, o valor da produção conjunta desses sete minerais foi equivalente a 88% do total de Minas
13
Capítulo 1 - O cenário internacional
14. Gerais, ratificando sua importância econômica. Para cada mineral, foram abordados os seguintes
BDMG
40 anos
aspectos: a) os principais mercados consumidores; b) as tendências de demanda; c) as reservas
mundiais; d) as reservas brasileiras; e) a produção mundial; f) a produção brasileira; g) a balança
comercial brasileira; h) a escala de produção e/ou o processo de consolidação; i) os investimentos
de uma empresa importante no Estado; j) a trajetória recente de preços. Por fim, a última seção
relativa a cada substância mineral sumaria as perspectivas mundiais, brasileiras e de Minas Gerais.
O capítulo 12 focaliza a questão das pequenas e médias mineradoras. Busca-se ressaltar
sua importância como instrumento de política regional e de inclusão social. Uma análise agregada
e qualitativa evidencia as perspectivas de crescimento, as principais estratégias de inserção
competitiva e o nível do impacto ambiental verificado em relação às substâncias minerais nas
quais as mineradoras de menor porte se fazem mais presentes. Nesse capítulo, destacam-se os
agregados para a construção civil, as rochas ornamentais e de revestimento, os diamantes e gemas,
e a água mineral. O último capítulo retoma as principais conclusões do estudo e formula propostas
de política, para grandes mineradoras, de um lado, e para micro, pequenas e médias mineradoras,
de outro.
Para a elaboração de volume, além das referências bibliográficas citadas ao final do
documento, foram realizadas entrevistas com vários especialistas e junto a empresas e instituições,
a quem o autor agradece a valiosa contribuição. Porém os conceitos formulados, opiniões e críticas
encontradas no presente texto, salvo as manifestadas pelos autores citados nominalmente, são de
inteira responsabilidade do autor. Este agradece a Kelly Silva Mascarenhas e Angélica Álvares
Ferreira, pelo competente trabalho de assistência de pesquisa. O autor também se beneficiou do
suporte fornecido pelos centros de informações da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) e do
Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS).
14 Minas Gerais do Século XXI - Volume V - Consolidando posições na mineração
15. BDMG
40 anos
1. Cenário internacional
1.1. Mineração: um negócio heterogêneo1
A mineração apresenta enorme diversidade, dificultando sobremaneira generalizações.
Quaisquer análises e propostas de política para o setor devem, assim, levar em consideração as
características dos diversos segmentos da atividade.
Existem pelo menos 80 commodities minerais. A maioria desses são minerais metálicos, embora
existam importantes minerais não-metálicos. Um grupo especial dos não-metálicos é conhecido
como metalóide (por exemplo, silício e selênio), por possuir algumas propriedades metálicas. Alguns
minerais vêm sendo utilizados há alguns milhares de anos, sendo que o registro do uso do cobre
remonta a 7000 a.C. Em compensação, alguns metais, como titânio, tântalo, nióbio, molibdênio e
zircônio, começaram a ser utilizados comercialmente há apenas 50 anos.
As principais classes de minerais são:
• minerais metálicos (ferrosos, não-ferrosos e preciosos);
• minerais energéticos;
• minerais industriais e para construção;
• diamantes e gemas preciosas.
Os minerais podem ser também divididos de acordo como sua forma prioritária de
comercialização:
• minerais com valor unitário suficientemente elevado, para serem vendidos no mercado
global (por exemplo, ouro, diamante, cobre e alumínio);
• minerais com valor unitário suficientemente elevado, para serem comercializados em
mercados regionais; ou seja, embora sejam verificados fluxos de exportação e importação,
sua comercialização não é verdadeiramente global (calcário);
• minerais com baixo valor unitário, o que limita sua comercialização, principalmente ao
âmbito doméstico (areia e brita).
Na TAB. 1, observa-se a grande diversidade em termos do volume produzido e do preço
médio de venda entre alguns minerais. Os agregados ou materiais para construção (como areia e
brita) constituem-se, de longe, nos minerais com os maiores volumes de produção, ultrapassando
15 bilhões de toneladas por ano. No contexto dos minerais metálicos ferrosos, destaca-se o minério
de ferro (com produção de aproximadamente 1 bilhão de toneladas), o mesmo acontecendo com
o alumínio no que tange aos minerais metálicos não-ferrosos. Por outro lado, apenas 162 toneladas
de platina e outros metais raros são produzidos anualmente no mundo.
As duas primeiras seções deste capítulo baseiam-se no estudo intitulado Breaking New Ground: Mining, Minerals, and Sustainable
1
Development, elaborado no âmbito do projeto The Mining, Minerals and Sustainable Development, ou simplesmente MMSD. Ele foi
desenvolvido pelo International Institute for Environment and Development (IIED), sob encomenda do World Business Council for
Sustainable Development (WBCSD), tendo sido divulgado em abril de 2002.
15
Capítulo 1 - O cenário internacional
16. Os preços dos minerais e metais são também bastante variados. Os preços médios da platina,
BDMG
40 anos
no ano 2000, aproximaram-se de US$ 17 milhões por tonelada, enquanto os do carvão e rocha
fosfática atingiram US$ 40 por tonelada. Numa visão mais abrangente, os produtos siderúrgicos
podem ser considerados as commodities minerais mais importantes em termos do volume de vendas
anuais, seguidos pelo carvão. Esses foram os dois únicos minerais ou metais cujas vendas
ultrapassaram US$ 100 bilhões no ano 2000. Cobre, alumínio, zinco, ouro e ferro, por exemplo,
estavam no patamar de 10 a 100 bilhões de dólares de vendas anuais, ao passo que as da fluorita
foram de US$ 565 milhões.
TABELA 1
PRODUÇÃO E PREÇOS DE COMMODITIES MINERAIS SELECIONADAS, 2000
PRODUÇÃO EM 2000 PREÇO VALOR ANUAL DE VENDAS
COMMODITIES MINERAIS
(mil de toneladas) (US$ / tonelada) (US$ milhões)
Produtos Siderúrgicos 762.612,0 300 228.784
Carvão 3.400.000,0 40 136.000
Alumínio Primário 24.461,0 1.458 35.664
Cobre Refinado 14.676,0 1.813 26.608
Ferro* 950.290,0 25 23.757
Ouro 2,6 8.677.877 22.337
Zinco Refinado 8.922.0 1.155 10.305
Níquel Primário 1.107,0 8.642 9.566
Rocha Fosfática 141.589,0 40 5.664
Molibdênio 543,0 5.732 3.114
Platina 0,2 16.920.304 2.734
Chumbo Primário 3.038,0 454 1.379
Titânio 6.580,0 222 1.461
Fluorita 4.520,0 125 565
FONTE: IIED / WBCSD, 2002, p. 36, a partir de dados da CRU International.
NOTA: * estimado pelo autor, utilizando informações da UNCTAD.
1.2. A importância econômica da mineração
Apesar da ressalva anterior quanto à dificuldade de tecer comentários genéricos sobre a
mineração mundial, constata-se uma gradual migração da produção mineral para os chamados
países em desenvolvimento. Isto decorre, em grande medida, da existência de depósitos que podem
ser explorados com baixos custos. As maiores dificuldades (mesmo que seja apenas em relação ao
tempo) enfrentadas para a obtenção de licenças ambientais para desenvolver projetos minerais
em países mais industrializados, combinado com custos salariais maiores, também favorecem
essa tendência. A extensão dessa migração varia consideravelmente entre os diferentes minerais.
Ela já avançou mais rápido para alguns metais do que para minerais industriais e materiais de
construção. Reitera-se, dessa forma, o padrão de que metais são mais transacionáveis em escala
internacional do que os minerais industriais e os agregados para a construção civil.
Naturalmente, a importância econômica da mineração, em termos de geração de empregos
e renda, bem como nas exportações totais de uma nação, numa comparação internacional é variada.
Alguns países são extremamente dependentes da mineração no que tange às exportações. Por
exemplo, em 1999, 71% das exportações da Guiné foram decorrentes de minerais (considerando
16 Minas Gerais do Século XXI - Volume V - Consolidando posições na mineração
17. apenas os não-energéticos). Valores significativos também são encontrados em outros países
BDMG
40 anos
africanos, asiáticos e sul-americanos. Neste continente, a representatividade das exportações
minerais (não-energéticos) alcançou 43% no Chile, 40% no Peru e 23% na Bolívia.
Algumas experiências merecem ser destacadas. Na África do Sul, por exemplo, as exportações
de produtos minerais (incluindo os energéticos) correspondem a 31% do total das vendas externas
do país e geram cerca de 6,5% do Produto Interno Bruto (PIB). No Brasil, esses valores são
estimados, respectivamente, em 32% e 8,5% (TAB. 2)2. Ainda na América do Sul, a mineração
representa 3,6% do PIB na Bolívia, 10,3% no Chile e 5,5% no Peru. Embora os Estados Unidos
possuam o maior setor mineral do mundo, menos de 0,5% do PIB provém diretamente da extração
mineral. É essencial destacar que essas estimativas são apenas indicativas, pois não necessariamente
compartilham dos mesmos critérios para sua elaboração. A bem da verdade, nem sempre os critérios
utilizados são explicitados, inviabilizando eventuais ajustes. Acredita-se que, para os vários países
que constam da TAB. 2, inclusive o Brasil, estão sendo considerados não apenas a produção
mineral propriamente dita, mas também o primeiro estágio da transformação industrial, como
produtos siderúrgicos, por exemplo.
TABELA 2
IMPORTÂNCIA RELATIVA DA MINERAÇÃO EM PAÍSES SELECIONADOS, 1999*
PARTICIPAÇÃO RELATIVA PARTICIPAÇÃO RELATIVA
PAÍSES
NAS EXPORTAÇÕES TOTAIS (%) NO PRODUTO INTERNO BRUTO (%)
África do Sul 31 6,5
Austrália 45 9,0
Bolívia 32 3,6
Brasil 32 8,5
Canadá 14 3,7
Chile 44 10,3
Estados Unidos ... < 0,5
Peru 45 5,5
FONTE: Elaboração própria a partir de dados de IIED / WBCSD, 2002, p. 45-47.
NOTA: * incluem-se minerais energéticos; os critérios para elaboração de estimativas para cada país podem ser diferentes.
Uma grande peculiaridade da mineração, em termos de geração de emprego e renda, é que
se trata de uma atividade temporária. Diferentemente da agricultura e da indústria de transformação
que, a princípio, são atividades que podem perdurar indefinidamente ao longo do tempo, na
mineração as reservas se exaurem. Assim, é essencial levar em consideração a dimensão das
reservas, o tempo provável para a sua exaustão e analisar como comunidades que se desenvolveram
baseadas na atividade de mineração superaram as dificuldades oriundas da paralisação da extração
mineral após sua exaustão.
Pinheiro (2002, p. 5) aponta que, ao se levar em conta a primeira etapa de transformação industrial, a indústria mineral alcança
2
participação de 8,3% do PIB (cerca de US$ 46 bilhões). Portanto, pelo menos no caso brasileiro, a estimativa considera algum
estágio de processamento industrial. Machado (2002, p. 3), por sua vez, aponta que o valor total da produção mineral
brasileira, em 2000, incluindo petróleo e gás natural, foi de US$ 9,3 bilhões. Todavia, o valor da primeira transformação de
produtos minerais (cimento, ferro-gusa, aço e sua ligas, metais, produtos semimanufaturados e químicos) atingiu US$ 50,5
bilhões no mesmo ano.
17
Capítulo 1 - O cenário internacional
18. 1.3. Fusões e aquisições na mineração mundial
BDMG
40 anos
Um dos traços marcantes da mineração mundial vem sendo o intenso processo de
consolidação, em especial nos segmentos de minerais metálicos. De fato, segundo Ericsson (2002,
p. 16), o total das fusões e aquisições (F&A), com valores conhecidos, durante o período 1995-
2001, superou US$ 150 bilhões (TAB. 3). Registre-se ainda que, nos anos de 1998 e 2001, esses
valores foram, respectivamente, de US$ 26 e US$ 41 bilhões. De acordo com o mesmo autor, a
ciclabilidade das atividades de F&A na mineração é parcialmente relacionada à evolução dos
preços dos metais, que apresentaram valores deprimidos tanto em 1998 quanto em 2001. Assim,
constatar-se-ia uma forte correlação entre queda de preços e o aumento das transações patrimoniais
na mineração mundial. Além de questões estritamente econômicas, deve-se apontar que alterações
institucionais também são importantes na explicação do volume de F&A na mineração, em
particular: a) as mudanças políticas na África do Sul; b) as privatizações ocorridas nos países em
desenvolvimento e nas ex-economias socialistas.
TABELA 3
FUSÕES E AQUISIÇÕES NA MINERAÇÃO MUNDIAL, 1995-2001
VOLUME DE FUSÕES E PARTICIPAÇÃO DA MINERAÇÃO NO
NÚMERO DE
AQUISIÇÕES NA MINERAÇÃO TOTAL MUNDIAL DE
TRANSAÇÕES*
MUNDIAL (US$ BILHÕES) FUSÕES E AQUISIÇÕES (%)
1995 47 16,5 1,8
1996 82 12,5 1,2
1997 91 18,5 1,2
1998 88 25,7 1,1
1999 100 19,1 0,6
2000 80 18,7 ...
2001 81 40,9 ...
FONTE: Ericsson, 2000; 2002.
NOTA: * transações acima de US$ 10 milhões
A TAB. 3 também indica o número total de transações ocorridas na mineração e a importância
relativa do setor no contexto de todas as F&A mundiais. Observa-se que, excetuando o ano de
1995, contabilizou-se pelo menos 80 transações relevantes na mineração mundial. Esses
indicadores, a exemplo do que acontece com outros levantamentos de F&A, são, na verdade,
subestimados. Ericsson (2002, p. 17) destaca que, para várias transações, os valores monetários
não foram divulgados. Isto decorre tanto de cláusulas que proíbem o disclosure (divulgação pública)
dos valores envolvidos nas operações, quanto de empresas, que por possuírem capital fechado
não se vêem obrigadas a apresentar detalhes das transações. De todo modo, a mineração vem
sendo responsável por apenas de 0,6% a 1,8% de todas as mudanças patrimoniais globais, em
termos de valores financeiros.
Ressalte-se que pelo menos uma grande fusão no setor foi vetada por autoridades antitruste.
No início de 2000, a proposta de fusão entre Alcan, Pechiney e Algroup, que provavelmente seria
a maior transação do setor mineral, na década de 1990, não foi aprovada pela União Européia.
Estima-se que o valor dessa transação alcançaria US$ 17 bilhões (Ericsson, 2000, p. 40). Em
função disso, a principal mudança patrimonial do setor, desde 1995, foi a fusão da BHP (Austrália)
com a Billiton (Reino Unido), dando origem a BHP Billiton. A TAB. 4 mostra informações desta
e de mais nove megatransações na mineração mundial, avaliadas em pelo menos US$ 3 bilhões.
18 Minas Gerais do Século XXI - Volume V - Consolidando posições na mineração
19. Três desses casos podem ser considerados reestruturações patrimoniais internas: as transações
BDMG
40 anos
envolvendo a Anglo American e a De Beers; a RTZ e a CRA; a Anglo American e a Anglogold.
Dentre as empresas adquiridas nessas dez megatransações, quatro eram diversificadas, três
especializadas em alumínio, uma em diamante, outra em níquel e a última em ouro. Apenas uma
transação foi decorrente de privatização: a da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), em 19973.
TABELA 4
PRINCIPAIS FUSÕES E AQUISIÇÕES NA MINERAÇÃO MUNDIAL, 1995-2001
VALOR
ADQUIRENTE ADQUIRIDA ATUAÇÃO ANO (US$ milhões)
1 BHP Billiton Diversificada 2001 14.500
2 Anglo American De Beers Diamante 2001 11.400
3 Alcoa Reynolds Alumínio 1999 4.600
4 Alcan Algroup Alumínio 2000 4.400
5 RTZ CRA Diversificada 1995 4.000
6 Alcoa Alumax Alumínio 1998 3.800
7 Anglo American Minorco Diversificada 1998 3.700
8 Inço Voisey's Bay Níquel 1995 3.300
9 Consórcio CVRD Diversificada 1997 3.150
10 Anglo American Anglogold Ouro 1998 3.100
FONTE: Ericsson, 2002.
O processo de F&A na mineração possui várias implicações, com destaque para: a) a
alteração da posição relativa das empresas no ranking mundial; b) o incremento nos índices de
concentração em cada segmento; c) os impactos negativos sobre os gastos com exploração mineral.
No que se refere ao primeiro aspecto, as TAB. 5 e 6 apresentam, respectivamente, o ranking das
maiores mineradoras de 1994 a 2001, pelo critério do valor da produção. As informações foram
separadas em duas tabelas, porque a base de dados do período 1994-1997 refere-se à mineração
ocidental, portanto, excluindo ativos minerais localizados nos então chamados países de economia
centralizada (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, China e países da Europa Central, como
Polônia). Já as informações para o biênio 2000-2001 referem-se à mineração mundial.
TABELA 5
AS DEZ MAIORES EMPRESAS DA MINERAÇÃO OCIDENTAL PELO CRITÉRIO
DO VALOR DA PRODUÇÃO, 1994 E 1997*
1994 1997
% %
EMPRESA EMPRESA
1 ANGLO AMERICAN 8,5 ANGLO AMERICAN 8,0
2 RTZ 5,4 RIO TINTO 5,5
3 ESTADO DO BRASIL** 2,9 BHP 4,3
(Continua...)
O “Consórcio Brasil”, liderado pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), foi o vencedor do leilão de privatização da CVRD,
3
em maio de 1997. Integrado ainda por fundos de pensões (Previ, Petros, Fundação CESP e Funcef) e instituições financeiras
(Opportunity e Nations Bank), ele arrematou 42% das ações ordinárias da CVRD por US$ 3,338 bilhões (MELLO, 2000, p. 94).
19
Capítulo 1 - O cenário internacional
20. TABELA 5 (Continuação)
BDMG
40 anos
AS DEZ MAIORES EMPRESAS DA MINERAÇÃO OCIDENTAL PELO CRITÉRIO
DO VALOR DA PRODUÇÃO, 1994 E 1997*
1994 1997
% %
EMPRESA EMPRESA
4 BHP 2,8 CVRD 3,3
5 ESTADO DO CHILE** 2,4 ESTADO DO CHILE** 2,5
6 GENCOR 1,9 PHELPS DODGE 1,6
7 ESTADO DA MALÁSIA** 1,4 NORANDA 1,6
8 FREEPORT MCMORAN 1,3 FREEPORT MCMORAN 1,5
9 BARRICK GOLD 1,3 ASARCO 1,4
10 PHELPS DODGE 1,2 CYPRUS AMAX 1,3
TOTAL 29,2 TOTAL 31,0
FONTE: Daffós, 1997; Roskill, 1999.
NOTA: * exclui minerais energéticos
** Estado do Brasil (principalmente CVRD), Estado do Chile (Codelco e Enami) e
Estado da Malásia (principalmente Malaysia Mining).
TABELA 6
AS DEZ MAIORES EMPRESAS DA MINERAÇÃO MUNDIAL PELO CRITÉRIO
DO VALOR DA PRODUÇÃO, 2000 E 2001*
2000 2001
% %
EMPRESA EMPRESA
1 ANGLO AMERICAN 6,2 ANGLO AMERICAN 6,1
2 RIO TINTO 4,3 RIO TINTO 4,3
3 BHP BILLITON 2,5 BHP BILLITON 3,4
4 CVRD 2,3 CVRD 2,9
5 NORILSK NICKEL 2,1 NORILSK NICKEL 2,1
6 CODELCO 1,9 CODELCO 1,9
7 PHELPS DODGE 1,4 NEWMONT** 1,9
8 GRUPO MEXICO 1,3 PHELPS DODGE 1,4
9 NEWMONT 1,3 BARRICK 1,4
10 ... … GRUPO MEXICO 1,3
TOTAL 23,3 TOTAL 26,7
FONTE: Ericsson, 2002.
NOTA: * exclui minerais energéticos.
** já considerando a aquisição da Normandy pela Newmont.
As TAB. 5 e 6 mostram, categoricamente, a relevância das grandes mineradoras nessa
atividade. Cabe destacar que mais de 1/4 da produção mundial encontra-se sob controle das
dez maiores empresas. Considerando o ano de 2001, as cinco primeiras são diversificadas, ao
passo que as demais estão concentradas em um mineral, como cobre (Codelco, Phelps Dodge e
Grupo México) e ouro (Newmont e Barrick). Cabe também ressaltar que o número de empresas
estatais, no contexto das dez maiores, regrediu de três (em 1994) para apenas uma (em 2001).
A bem da verdade, a concentração no âmbito de cada segmento mineral é bem maior do
que se pode depreender das TAB. 5 e 6. Como se constata na TAB. 7, a participação da líder de
mercado ultrapassa 12% no cobre, ouro e zinco, chegando a praticamente 18% no ferro e 31,5%
20 Minas Gerais do Século XXI - Volume V - Consolidando posições na mineração
21. no estanho. Considerando esses mesmos segmentos, em todos eles, a participação conjunta das
BDMG
40 anos
dez maiores ultrapassa 55%, atingindo quase 80% no caso do estanho. Num passado recente,
ferro e ouro, os dois mais relevantes minerais de Minas Gerais, vêm passando por um intenso
processo de F&A em âmbito mundial, tema que será retomado nos capítulos 5 e 6, respectivamente.
Uma última implicação do processo de F&A na mineração mundial refere-se à diminuição dos
gastos com exploração mineral, tema discutido na próxima seção.
TABELA 7
CONCENTRAÇÃO DE MERCADO EM MINERAIS SELECIONADOS, 2001
PARTICIPAÇÃO DAS PARTICIPAÇÃO DAS
MINERAL MAIOR EMPRESA (%)
3 MAIORES (%) 10 MAIORES (%)
Estanho 31,5 65,6 79,3
Ferro 17,8 39,7 67,3
Cobre 14,9 35,4 74,6
Ouro 12,3 29,9 57,4
Zinco 12,3 30,1 57,1
FONTE: Ericsson, 2002.
1.4. Evolução dos gastos com exploração mineral no mundo
Os dados com alocação para exploração mineral – para minerais metálicos não-ferrosos –
são tradicionalmente estimados pela consultoria canadense Metals Economics Group. Segundo
ela, as F&A acabam desestimulando investimentos em exploração mineral, pois os valores conjuntos
despendidos após as transações são menores do que os verificados quando as empresas eram
separadas. No mesmo sentido, Roskill (1999, p. 3) aponta que:
O crescimento das atividades de F&A se torna, inclusive, mais significativo quando se
compara com o declínio atual nos gastos de exploração mineral (...) F&A é um mecanismo
que permite evitar a custosa, arriscada e demorada fase de exploração de uma nova mina.
Quanto mais os corpos minerais são profundos e localizados em regiões remotas, mais
arriscada é esta fase. Assim, F&A se tornam mais atrativas para as empresas que podem
arcar com isto. (tradução livre do autor)4
A TAB. 8 mostra os dispêndios mundiais com exploração mineral segundo a Metals
Economics Group. Observa-se que o ápice de dispêndios ocorreu em 1997 (US$ 5,1 bilhões),
tendo regredido desde então para US$ 3,5 bilhões em 1998, US$ 2,6 bilhões em 2000 e ainda
US$ 2,2 bilhões em 2001.
O texto literal é: “The increase in M&A activity becomes even more significant when compared to the present decline in
4
exploration expenditure (…) M&A is a way of avoiding the costly, risky and long exploration phase of a mine project. The
deeper and more remotely new orebodies are located, the riskier this phase becomes and M&A will become more attractive to
companies that can afford them”.
21
Capítulo 1 - O cenário internacional
22. TABELA 8
BDMG
40 anos
GASTOS MUNDIAIS COM EXPLORAÇÃO MINERAL POR REGIÃO, 1996-2001 (US$ MILHÕES)
REGIÕES 1996 1997 1998 1999 2000 2001
América Latina 963 1.170 814 719 662 576
Austrália 666 673 495 495 405 349
Canadá 461 436 308 310 348 333
África 418 663 494 377 293 277
Estados Unidos 343 365 243 252 235 158
Pacífico/Sudeste Ásia 415 440 266 196 199 133
Resto do Mundo 259 283 210 213 197 175
TOTAL* 3.525 4.030 2.830 2.562 2.339 2.001
TOTAL ESTIMADO 4.600 5.100 3.500 2.800 2.600 2.200
FONTE: Elaboração própria, a partir de dados de várias informações divulgadas pela Metals Economics Group.
NOTA: * o número de empresas é variável entre os anos.
É importante enfatizar cinco questões metodológicas em relação a essas informações.
Primeiro, trata-se de dados relativos ao orçamento de exploração mineral. De acordo com a CEPAL
(1999, p. 60), não existem estatísticas conhecidas que mostrem os gastos efetivamente realizados.
Contudo, ela enfatiza que a amostra da Metals Economics Group é bastante confiável, sendo
provável que as inversões efetivas se situem em níveis próximos das cifras baseadas nos orçamentos
em exploração mineral.
Segundo, no total estão incluídos os investimentos em descoberta de depósitos, em
quantificação de recursos, estudos de viabilidade e definição de reservas e em pesquisa de reservas
adicionais para minas em lavra (Weiss, 2001, p. 4). Terceiro, esses dados, como mencionado
anteriormente, são relativos tão-somente a minerais metálicos não-ferrosos. Apesar disso, podem
ser interpretados como uma proxy (aproximação) da evolução dos gastos com exploração mineral
como um todo.
Quarto, a Metals Economics Group apresenta dois totais, sendo que o menor corresponde
ao orçamento de exploração mineral das empresas analisadas (em 2001, da ordem de US$2 bilhões),
e o maior, à soma do anterior com uma estimativa dos gastos de empresas que não discriminam a
rubrica exploração mineral. Por último, o número de companhias com gastos relevados em
exploração mineral altera-se ano a ano, tendo variado de 182 (em 1998), 223 (em 1996), 279 (em
1997) e 679 (em 2001). Como o número de companhias pesquisadas aumentou ao longo do
tempo, a diferença entre os dois totais decresceu de 23% em 1996 para 10% no ano 2001. Assim,
ao se levar em conta que o número de firmas investigadas cresceu, a queda no gasto total com
exploração mineral se torna ainda mais proeminente.
Durante todos os anos de 1996 a 2001, a América Latina foi a região contemplada com os
maiores gastos em exploração mineral, segundo a Metals Economics Group. Verifica-se que a
participação relativa do continente se manteve, em geral, entre 27% e 29%. O mesmo se observa
com a Austrália, cuja relevância vem-se mantendo entre 17% e 19%. A África, após aumentar sua
participação de 12% em 1996 para 16% em 1997, foi regredindo até atingir 14% no ano de 2001.
Weiss (2001, p. 4), também se utilizando de dados da Metals Economics Group, aponta
que os investimentos em exploração de minerais no Brasil teriam atingido US$ 123,5 milhões no
ano 2000. Esse valor corresponderia a 5,3% do total mundial. Na América Latina, o País seria
superado pelo Chile (US$ 144 milhões) e Peru (US$ 139 milhões), mas estaria à frente de México
22 Minas Gerais do Século XXI - Volume V - Consolidando posições na mineração
23. (US$ 96 milhões), Argentina (US$ 69 milhões), Bolívia (US$ 15 milhões), Equador (US$ 10 milhões)
BDMG
40 anos
e Venezuela (US$ 6 milhões). CEPAL (1999, p. 62) também destaca que, para o ano de 1998, a
CVRD foi responsável por 37% dos investimentos em exploração mineral no Brasil.
BNDES (1999a, pp. 7-8) analisa os gastos em exploração mineral do ponto de vista da
nacionalidade da empresa. Considerando o período 1996-98, as empresas canadenses foram
responsáveis por 28,5% dos dispêndios totais, seguidas das australianas (24,5%), norte-americanas
(16,8%), européias (14,2%), africanas (8,7%), latino-americanas (4,7%) e asiáticas (2,3%). Assim,
enquanto a América Latina é o lugar preferencial nos gastos em exploração mineral, as empresas
sediadas na região são responsáveis por menos de 5% dos dispêndios totais, denotando uma
estratégia pouco agressiva, ao menos em minerais metálicos não-ferrosos.
Em suma, três são as características básicas da mineração mundial: a) uma grande diversidade
em termos de volume movimentado, do valor unitário e do alcance da comercialização entre os
minerais, o que se reflete também na heterogeneidade da importância econômica da atividade
mineral entre os países; b) um intenso processo de alterações patrimoniais, reforçando a participação
de mercado das empresas líderes; c) uma retração no volume despendido em exploração mineral.
23
Capítulo 1 - O cenário internacional
24. BDMG
40 anos
24 Minas Gerais do Século XXI - Volume V - Consolidando posições na mineração
25. MINAS GERAIS DO SÉCULO XXI
VOLUME V
CONSOLIDANDO POSIÇÕES
NA MINERAÇÃO
CAPÍTULO 2
O CENÁRIO BRASILEIRO
E DE MINAS GERAIS
26.
27. BDMG
40 anos
2. Cenário brasileiro e de Minas Gerais
2.1. Breve revisão histórica da mineração brasileira
A história da mineração de Minas Gerais se confunde com a própria trajetória da atividade
no País. Não é objetivo desta seção elaborar uma digressão profunda sobre este tema, que, aliás,
já foi tratado com propriedade por vários autores. Ao contrário, esta sucinta revisão pretende tão-
somente relembrar alguns traços mais marcantes deste longo percurso.
Durante o período colonial, Minas Gerais vivenciou não apenas o rush do ouro, mas também
o dos diamantes. De acordo com Martins & Brito (1989, p. 13), produzia-se pouco ouro no Brasil
até 1690. Contudo, na última década do século XVII, centenas de jazidas de aluvião começaram
a ser descobertas, em rápida sucessão, nos córregos e ribeirões nas vizinhanças de Ouro Preto,
Mariana, Sabará e Caeté, causando o primeiro grande rush minerador da história do Brasil. Na
avaliação de Machado & Figueirôa (2000, p. 25), o clímax da mineração de ouro no Brasil, nos
séculos passados, ocorreu entre 1739 a 1779, com a notória liderança de Minas Gerais. Durante o
período colonial, estima-se que o Estado tenha produzido de 2/3 a 3/4 do ouro do país.
É bem verdade que se verificaram rushes de ouro em outros Estados. No caso da Bahia, o
ápice da atividade de extração nos depósitos de ouro ocorreu entre 1718 e 1730. Em Goiás, as
descobertas iniciais concentraram-se na década de 1720. Nesse estado, a produção atingiu seu
clímax na década de 1750. Adicionalmente, em Mato Grosso, o ouro foi descoberto em 1719,
sendo que a duração do boom foi ainda menor do que em Goiás. De fato, apesar da riqueza das
primeiras jazidas, a produção mostrava sinais de declínio já em 1723. Se não bastasse, muitas
situações adversas ocorreram durante a corrida do ouro em Mato Grosso, como malária, febre
amarela e massacres de aventureiros promovidos pelos índios paiaguás e guaicurus (Martins &
Brito, 1989, p. 13-19; Machado & Figueirôa, p. 24-25).
Nos séculos passados, diamantes e gemas foram bastante representativos no âmbito da
mineração de Minas Gerais, em particular, e da brasileira, em geral. Machado & Figueirôa (2000,
pp. 25-28) apontam que a “era do diamante brasileiro” durou de 1730 a 1870, quando a África do
Sul assumiu a liderança do mercado mundial. Embora haja (pelo menos) três versões acerca do
descobrimento de diamantes em solos brasileiros, concretamente em fevereiro de 1730, as regiões
produtoras de diamantes, na então colônia de Tejuco (posteriormente Diamantina, Minas Gerais),
foram declaradas de propriedade da Coroa. Por volta de 1740, tornou-se conhecida a existência de
jazimentos em Goiás e, em 1746, em Mato Grosso. Nesse estado, chegou a haver um pequeno
rush à época da descobertas, mas a produção não correspondeu às expectativas iniciais (Martins &
Brito, 1989, p. 32). Durante o domínio português, a produção brasileira anual média de diamantes
passou de 20 mil quilates (na década de 1730) para 52 mil quilates (entre 1741 e 1772), reduzindo-
se posteriormente para 27 mil quilates (entre 1773-1806) e ainda para 12 mil quilates (entre 1807
e 1822) – ver Machado & Figueirôa (2000, p. 28).
Seja no caso do ouro ou de diamantes, presenciaram-se corridas clássicas, causando vários
problemas não apenas durante o auge da produção, mas também após a exaustão dos recursos minerais.
Pode-se afirmar que o principal legado deixado pela mineração, no período colonial, em Minas Gerais,
foi a ocupação do território. Grandes cidades do período colonial prosperaram ao lado das minas,
como Ouro Preto, Diamantina, Sabará e Serro. A produção mineral abriu estradas, implantou núcleos
urbanos, unificou o território e criou uma estrutura administrativa própria. Entre 1700 e 1808, a
população estimada de Minas Gerais cresceu de 30 mil para 433 mil habitantes (Alves, 1998).
27
Capítulo 2 - O cenário brasileiro e de Minas Gerais
28. Durante o Império, a produção mineral brasileira, cujo volume foi bastante inferior ao do
BDMG
40 anos
período colonial, continuou concentrada em ouro e diamantes, notavelmente no Estado de Minas
Gerais. Registre-se que, nas décadas de 1820 e 1830, foram formadas na Inglaterra seis companhias
para explorar jazidas auríferas em Minas Gerais (Martins & Brito, 1989, p. 48). Dentre elas, destaca-
se a St. John D’el Rey Mining Company, que, apesar de ter passado por várias alterações patrimoniais,
continua em operação, atualmente sob a denominação de Mineração Morro Velho. É bem verdade
que o sucesso dessa empresa constituiu uma exceção, pois, conforme Machado & Figueirôa (2000,
p. 30) apontam, no restante, o desempenho das empresas mineradoras inglesas no Brasil (leia-se
em Minas Gerais) foi medíocre, tendo resultado em 14 falências.
A mineração brasileira no século XX foi marcada especialmente pelo ferro. Antes de examinar
esse mineral, é necessário relembrar a importância do manganês. Durante todo esse século, o
Brasil foi um importante exportador de manganês de alto teor, para fabricação de ferro-ligas,
inicialmente em Minas Gerais, depois no Amapá. A exploração de manganês da Morro da Mina,
em Conselheiro Lafaiete (Minas Gerais), iniciou-se em 1894 (Martins & Brito, 1989, p. 94). Todavia,
a produção em larga escala somente foi atingida a partir de 1920, quando a Morro da Mina foi
vendida à empresa siderúrgica norte-americana United States Steel. A produção foi basicamente
destinada ao abastecimento das usinas da empresa nos Estados Unidos. A Mineração Morro da
Mina foi, até 1961, responsável por grande parte da produção brasileira de manganês, tendo sido,
nessa data, superada pela mina da Serra do Navio (localizada no Amapá) – ver Alves (1998).
No que tange à mineração de ferro, vale lembrar que os primeiros altos-fornos construídos
no País datam do início do século XIX, em São João de Ipanema (Sorocaba, São Paulo) e na
Fábrica do Morro do Pilar (Minas Gerais). A primeira corrida de ferro-gusa em alto-forno ocorreu,
no Brasil, em 1814. Ainda naquele século, destacou-se a usina construída pelo engenheiro francês
Jean de Monlevade. Guimarães (1987, p. 45) afirma, porém, que todas as tentativas de produção
de aço involuíram até seu total fechamento, por volta de 1860. Alguns anos mais tarde, mais
precisamente em 1876, foi criada a Escola de Minas de Ouro Preto, que, além de formar os
primeiros metalurgistas brasileiros, contribuiu para a introdução de novas técnicas no incipiente
ramo de atividade.
Ainda no que se refere à mineração de ferro, os primeiros anos do século XX foram marcados
pela constituição da Itabira Iron Ore Co., de capitais ingleses e organizada por Percival Farquar,
que adquiriu os direitos das minas de ferro de Itabira e de participação na Estrada de Ferro Vitória-
Minas (EFVM). Também foram importantes os esforços de Artur da Silva Bernardes, tanto na
condição de Presidente do Estado de Minas Gerais quanto de Presidente da República, em
desenvolver a siderúrgica nacional, durante a década de 1920 (Martins & Brito, 1989, p. 83-85).
Foi, inclusive, nessa época que o grupo luxemburguês Arbed investiu na então Cia. Siderúrgica
Mineira, cuja denominação foi alterada para Cia. Siderúrgica Belgo-Mineira5.
A produção de ferro somente ganhou fôlego após a década de 1940. Foi necessário que os
Acordos de Washington garantissem a transferência da propriedade das minas de Itabira do governo
inglês para o brasileiro. Com isso, possibilitou-se a criação da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD),
em 1942. Na ocasião, o País exportava apenas 31 mil toneladas de minério de ferro por ano; dez anos
mais tarde, 1,5 milhão de toneladas (Martins & Brito, 1989, p. 94); atualmente, 160 milhões de toneladas.
Existe uma controvérsia sobre as razões que motivaram os investimentos do grupo Arbed na siderurgia brasileira. Pelaéz (1970,
5
p. 195), por exemplo, argumenta que o objetivo era obter, com o tempo, concessões de jazidas de ferro, que inicialmente haviam
beneficiado grupos ingleses e norte-americanos. Santos (1986, p. 185-189) apresenta uma outra interpretação: que o objetivo era
evitar a exportação maciça de minérios de ferro pela Itabira Iron, ao se demonstrar a viabilidade de uma siderurgia brasileira à base
de carvão vegetal. Com isso, evitar-se-ia a concorrência dessa virtual exportação com as vendas de minério que o Arbed fazia a
partir de suas minas na Lorena.
28 Minas Gerais do Século XXI - Volume V - Consolidando posições na mineração
29. Na década de 1960, promoveu-se uma acentuada liberalização do setor mineral brasileiro à
BDMG
40 anos
participação do capital estrangeiro. Isto é usualmente considerado como um fator decisivo para o
surto de desenvolvimento de grandes projetos, tais como: Minerações Brasileiras Reunidas (MBR),
Samitri e Ferteco (minério de ferro), Alcoa (alumínio), Companhia Brasileira de Mineração e
Metalurgia (CBMM, nióbio) e Sama (amianto) – ver BDMG (1989, p. 26).
Esta breve recapitulação não seria completa sem citar o Projeto Ferro Carajás, da CVRD. A
reserva de minério de ferro de Carajás foi descoberta em 1967. Todavia, somente em 1978, um
ano após a retirada da siderúrgica norte-americana United States Steel do projeto, é que se iniciou
sua viabilização, com a construção de um trecho ferroviário de 82 quilômetros de São Luiz em
direção à mina (Marques, 1992, p. 21). O Projeto Ferro Carajás começou a operar em fevereiro de
1985, atingindo a capacidade nominal de 35 milhões de toneladas anuais em 1987, sendo
praticamente todo voltado às exportações. O custo do investimento total do Ferro Carajás foi de
US$ 3,5 bilhões. Em linhas gerais, esse projeto permitiu à CVRD consolidar-se como líder mundial
da exportação de minério de ferro.
2.2. Reservas minerais: Brasil e Minas Gerais
O objetivo desta seção é apresentar um panorama do volume de reservas minerais, do
Brasil e, em particular, de Minas Gerais. Antes, contudo, parece ser apropriado diferenciar recursos
de reservas. Os recursos são segmentados, em ordem crescente de confiança geológica, em inferidos,
indicados e medidos. Após as avaliações apropriadas terem sido executadas e concluir-se que, sob
condições econômicas e técnicas realistas, justifica-se a exploração, a parte minerável dos recursos
medidos e indicados é conhecida como reserva. As reservas minerais são, também, divididas, em
ordem crescente de confiança geológica, técnica e econômica, em reservas provadas e prováveis.
Em primeiro lugar, cabe apontar os minerais em relação aos quais o Brasil possui uma
posição de destaque no contexto internacional. O País detém as maiores reservas do mundo de
nióbio e tantalita; as segundas maiores de caulim e grafita; as terceiras maiores de alumínio,
talco e vermiculita; as quartas maiores de estanho e magnesita; e as quintas maiores de ferro e
manganês (QUADRO 1).
QUADRO 1
POSIÇÃO BRASILEIRA NAS RESERVAS MUNDIAIS
POSIÇÃO MINERAL PARTICIPAÇÃO %
1º Nióbio 90,0
Tantalita 45,2
2º Caulim 28,2
Grafita 21,0
3º Alumínio 7,8
Talco 19,0
Vermiculita 8,1
4º Estanho 6,8
Magnesita 5,2
5º Ferro 6,5
Manganês 1,0
FONTE: DNPM
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Capítulo 2 - O cenário brasileiro e de Minas Gerais
30. Em segundo lugar, a TAB. 9 mostra a relevância do Estado no contexto brasileiro, seja pelo
BDMG
40 anos
critério de quantidade de minério, seja pelo de minério contido. Tendo em vista os propósitos
deste diagnóstico, preferiu-se analisar prioritariamente as chamadas reservas medidas. Essa opção
decorreu do fato de que, para as reservas medidas, dispõe-se de informações relativas à quantidade
de minério, ao teor médio e, por conseqüência, à quantidade de minério contido. Minas Gerais
desempenha papel proeminente em termos de reservas medidas de metais ferrosos, pelo critério
do minério contido, em: lítio (100% do total brasileiro, de ambligonita e espodumênio), berílio
(98%), zinco (89%), titânio (87%, de anatásio), nióbio (73%, de pirocloro), chumbo (67%), ferro
(59%) e ouro (48%). Merece também destaque a participação do Estado nas reservas de monazita
(16%) e manganês (15%). Por outro lado, destaca-se que em três importantes minerais metálicos
a participação estadual nas reservas brasileiras é bastante reduzida: alumínio/bauxita (4%), níquel
(2,5%) e cobre (praticamente nula).
TABELA 9
PARTICIPAÇÃO RELATIVA DE MINAS GERAIS NAS RESERVAS BRASILEIRAS MEDIDAS
DE SUBSTÂNCIAS MINERAIS METÁLICAS, 2000 (PERCENTUAL)
MINÉRIO AJUSTADO PELO
MINERAL QUANTIDADE DE MINÉRIO
TEOR CONTIDO
Alumínio (Bauxita) 4,90 3,79
Berílio (Berilo) 98,23 98,41
Cádmio 100,00 -
Chumbo 59,02 67,34
Cobalto 3,06 1,85
Cobre 0,10 0,05
Cromo (Cromita) 6,25 6,12
Estanho (Cassiterita) 0,64 0,18
Ferro 61,22 58,54
Lítio (Ambligonita) 100,00 100,00
Lítio (Espodumenio) 100,00 100,00
Lítio (Lepidolita) 71,90 93,07
Lítio (Petalita) 100,00 9,09
Manganês 21,48 14,73
Monazita 4,96 15,85
Nióbio (Col.-Tant.) 0,00 0,00
Nióbio (Pirocloro) 79,18 73,11
Níquel 2,41 2,51
Ouro 24,15 47,65
Prata 7,27 0,25
Tântalo (Col.-Tant.) 0,00 0,00
Terras-Raras 99,93 -
Titânio (Anatasio) 90,25 87,20
Titânio (Ilmenita) 2,05 6,91
Titânio (Rutilo) 0,00 0,00
Tungstênio 0,00 0,00
Vanádio 0,00 0,00
Zinco 64,96 88,68
Zircônio 0,07 4,29
FONTE: DNPM
30 Minas Gerais do Século XXI - Volume V - Consolidando posições na mineração
31. A TAB. 10, por sua vez, apresenta as mesmas informações para os minerais não-metálicos.
BDMG
40 anos
Em função da natureza desses minerais, parece adequado analisar mais detidamente a importância
relativa de Minas Gerais, pelo critério de quantidade de minério. O Estado apresenta uma posição
de destaque em: enxofre e ocre (100% do total brasileiro), agalmatolito, ardósia, bário, grafita e
quartzo/cristal (acima de 90%). Porém, em termos daqueles minerais mais relevantes
economicamente, é fundamental citar que Minas Gerais detém 61% das reservas medidas brasileiras
de rocha fosfática, 18% das de calcário e 15% das de pedras britadas.
A importância relativa de Minas Gerais no âmbito das reservas medidas de gemas e diamantes
é mostrada na TAB. 11. No ano 2000, a participação estadual foi equivalente a 96% das reservas
nacionais de diamantes e a 91% das de gemas.
TABELA 10
PARTICIPAÇÃO RELATIVA DE MINAS GERAIS NAS RESERVAS BRASILEIRAS MEDIDAS
DE SUBSTÂNCIAS MINERAIS NÃO-METÁLICAS, 2000 (PERCENTUAL)
MINÉRIO AJUSTADO PELO
MINERAL QUANTIDADE DE MINÉRIO
TEOR CONTIDO
Agalmatolito 99,51 -
Amianto 0,00 0,00
Ardósia 95,36 -
Areia e Cascalho 4,83 -
Areia Industrial 5,36 -
Argila Comercial 14,46 -
Argilas Refratárias 16,44 -
Bário (Barita) 94,51 81,14
Bauxita Refratária 37,58 25,17
Bentonita 0,20 -
Calcário 18,44 -
Calcita 0,00 -
Caulim 0,53 -
Cianita 35,85 -
Conchas Calcárias 0,00 -
Diatomita 0,00 -
Dolomito 19,91 -
Enxofre 100,00 -
Feldspato 33,14 -
Filito 9,66 -
Fluorita e Criolita 0,24 0,21
Gipsita 0,00 -
Gnaisse Ornamental 4,58 -
Grafita 91,36 87,71
Granito Ornamental 22,84 -
Leucita e Nefelina/Sienito 6,83 -
Magnesita 0,00 -
Magnesita Ornamental 0,00 -
Mármore Ornamental 7,61 -
Mica 80,38 -
Ocre 100,00 100,00
(Continua...)
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Capítulo 2 - O cenário brasileiro e de Minas Gerais