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IDENTIDADE VIRTUAL NA ERA DO COMPARTILHAMENTO
Michelle C. Ferraz Freitas1

RESUMO

Este artigo propõe uma reflexão teórica sobre o fenômeno do compartilhamento nas redes
sociais online relacionado ao processo de construção identitária no ambiente virtual. A
proposta parte do entendimento de que as redes sociais na internet funcionam como “espaços
de integração, lugares de fala, construídos pelos atores de forma a expressar os elementos de
sua personalidade ou individualidade” (RECUERO, 2009, p. 26) e de que o social em rede é
caracterizado por circuitos informativos interativos movidos pelo compartilhamento, processo
tratado neste artigo como elemento vital para a manutenção dessas redes sociais.
Considerados os números que apontam para uma verdadeira fenomenalização do processo de
compartilhamento – cerca de 70 terabytes de dados são dispensados nas redes sociais
semanalmente – e o fato de que a partilha de conteúdo no ambiente online acontece
essencialmente de forma espontânea, o objetivo deste artigo é cruzar referenciais teóricos que
sustentem ou refutem as hipóteses sobre o que os indivíduos buscam ao compartilhar. A
discussão retoma pontos de uma pesquisa realizada pela autora deste artigo, em 2009, sobre a
construção da identidade virtual, e considera conceitos de pós-modernidade, identidade e
virtualização.
Palavras-chave: Identidade virtual. Compartilhamento. Redes sociais.

ABSTRACT
This article purpose a theoretical reflection about the share phenomenon at social network
related to the process of identity construction on virtual environment. The proposal comes to
the understanding that the social network on internet works like “spaces of integration, places
of speech, constructed by actors in a way to express the elements of their personality and
individuality” (RECUERO, 2009, p. 26) and that the social in network is characterized by

1

Jornalista, aluna do MBA em Mídias Sociais e Gestão da Comunicação Digital do Centro Universitário UNA –
Belo Horizonte – MG – email: ferrazjol@gmail.com
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informative circuits moved by the sharing, process treat on this article as vital element to the
maintenance of these social networks. Taking in consideration the numbers that point out to a
real phenomenalization of the sharing process – about 70 data terabytes are expended weekly
on social network – and the fact that the content share online happens essentially in a
spontaneous way, the aim of this article is to match theoretical references that sustain or rebut
the hypothesis about what the individuals search when they share. The discussion brings back
points of a research realized by the author of this article, in 2009, about the construction of
virtual identity, and consider concepts of post-modernity, identity and virtualization.
Keywords: Virtual identity. Sharing. Social network.
3

INTRODUÇÃO

As redes sociais virtualizaram-se. Consequentemente, as relações. Desde o advento da
CMC (comunicação global mediada por computadores), sistema de comunicação que,
conforme explica Castells, é caracterizado por uma “capacidade de inclusão e abrangência de
todas as expressões culturais” (CASTELLS, 1999, p. 396), os nós e conexões entre os
indivíduos já não se detêm à realidade palpável, transpondo-se, para além dessa dimensão, a
uma esfera cujas traduções são feitas através dos bits. Trata-se do que Castells denominou
“comunidade virtual”, “uma rede eletrônica de comunicação interativa autodefinida,
organizada em torno de um interesse ou finalidade compartilhados, embora algumas vezes a
própria comunicação se tranforme no objetivo” (CASTELLS, 1999, p. 385 apud
MACHADO; TIJIBOY, 2005, p. 3).
Essa transposição das relações à dimensão virtual deve ser observada a partir do
entendimento de que, conforme argumenta Recuero (2009), “[...] não é suficiente falar em
‘redes sociais na internet’ levando em conta apenas os fatores estritamente tecnológicos da
questão, ou seja, esquecendo as pessoas que interagem umas com as outras [...]” (RECUERO,
2009, p. 13). Conforme se verá adiante, a autora explica que as redes sociais virtualizadas
funcionam como representações dos atores sociais.
Com base nessa percepção, vale pensar a esfera virtual como espaço para a formação
de identidades construídas, reconstruídas ou desconstruídas a partir da forma como os
indivíduos se projetam nas redes sociais: existe alguma relação entre aquilo que é
compartilhado nessas redes e a formação das identidades no contexto on? Que relação seria
esta? Por que as pessoas compartilham?
Na busca por explicações para o problema de pesquisa, serão consideradas hipóteses
trabalhadas pela autora deste artigo em um estudo realizado em 2009 sobre a construção da
identidade virtual. A pesquisa, intitulada Identidades descartáveis: um estudo sobre a
construção da identidade virtual através do aplicativo BuddyPoke, traçou a relação identitária
estabelecida entre a realidade palpável e a esfera virtual a partir do uso de um aplicativo que
possibilitava a criação de um avatar que reproduzia ações, expressões e sentimentos humanos.
O estudo realizado em 2009 possibilitou a confirmação de quatro proposições sobre a
formação da identidade virtual, três das quais serão retomadas neste artigo: os indivíduos
4

compartilham em uma tentativa de se fazerem traduzidos; o compartilhamento se dá a partir
de um desejo dos indivíduos de transposição de um estado atual a um estado ideal; o
compartilhamento se estabelece a partir de uma necessidade e tentativa de sociabilidade.
É importante enfatizar que este artigo não propõe uma discussão finalizada para o
problema de pesquisa, mas se apoia na busca e no cruzamento de referenciais teóricos que
sustentem ou refutem as hipóteses levantadas. Trata-se de um trabalho de pesquisa que
relaciona conceitos de pós-modernidade – ponto de partida para a discussão –, identidade e
virtualização.
5

UM PASSEIO PELO PÓS-MODERNO

Antes de traçar a relação entre a formação da identidade no ambiente on e o fenômeno
do compartilhamento nas redes sociais virtualizadas, é importante considerar o conceito de
pós-modernidade, ponto de partida para a contextualização do problema de pesquisa abordado
neste artigo.
O pós-modernismo, segundo Lyotard, significaria um “discurso estético de vanguarda,
que procura superar as limitações das convenções tradicionais ao procurar novas estratégias
para o projeto de descrever e interpretar a inteligência” (EDGAR e SEDGWICK, 2003, p.
25). Conforme explica Baudrillard, o pós-moderno estaria erigido sobre a “falta de unidade”:

Afirma-se, pois, que na cultura pós-moderna o sujeito se desintegrou num fluxo de
euforia intensa, fragmentada e desconexa, e que o eu pós-moderno descentrado [...] já
não possui a profundidade, a substancialidade e a coerência que eram os ideais e às
vezes a realização do eu moderno (BAUDRILLARD, 1983c; JAMESON, 1983, 1991
apud KELLNER, 2001, p.298).

Santos (2000) aponta o amadurecimento do conceito a partir do alastramento, dentre
outros campos, “no cotidiano programado pela tecnociência (ciência + tecnologia invadindo o
cotidiano com desde alimentos processados até microcomputadores)”. Ao tratar sobre a pósmodernidade, o autor faz referência ao hedonismo (valores calcados no prazer de usar bens e
serviços), ao niilismo (o nada, o vazio, a ausência de valores e de sentido para a vida) e ao
simulacro (imitação, espectro).
Para Santos, a sociedade pós-moderna estaria experimentando a presença cada vez
mais forte do que ele chama de “fantasma pós-moderno”, sendo a tecnologia responsável pela
programação do dia a dia. Nesse contexto, o autor destaca dois seres: a “criança radiosa”,
aquele “indivíduo hedonista integrado à tecnologia, narcisista com identidade móvel,
flutuante”, e o “androide melancólico”, “o consumidor programado e sem história,
indiferente, átomo estatístico na massa, boneco da tecnociência”.
Kellner (2001) explica que, se por um lado a pós-modernidade “aumenta a liberdade
individual de agir sobre a própria identidade e de mudar drasticamente a própria vida”, por
outro “pode tornar a vida totalmente fragmentada e desconexa, sujeita aos caprichos da moda
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e à sutil doutrinação da propaganda e da cultura popular” (KELLNER, 2001, p. 330). No
entanto, no lugar da total fragmentação do sujeito, proposta por Santos (2000), Kellner
refletirá sobre as possibilidades de reconstrução que esse sujeito encontra no pós-moderno. O
autor defende que é no bojo da modernidade que a consciência de si passa a ser reconhecida.

Em vez de desaparecer na sociedade pós-moderna, a identidade está simplesmente
sujeita a novas determinações e a novas forças, ao serem oferecidas novas
possibilidades, novos estilos, novos modelos e novas formas. (KELLNER, 2001, p.
330)

Apesar da instabilidade, resultado das novas aberturas para a reestruturação da
identidade pessoal, Kellner considera que as possibilidades de reconstrução oferecidas pela
pós-modernidade elevam o indivíduo à condição de sujeito, fornecendo um caminho de
escolha e criação “à medida que as possibilidades de vida mudam e se expandem ou se
contraem” (KELLNER, 2001, p.296).
A partir dessas considerações, vale refletir sobre o processo que relaciona indivíduo e
pós-modernidade na construção da identidade.

DA IDENTIDADE PÓS-MODERNA

Nos inúmeros estudos que sugerem uma definição para o que vem a ser identidade,
residem correntes conceituais bastante divergentes entre si. Alguns estudos culturais
defendem que a identidade é construída de forma autônoma, independente dos fatores
externos. Nos escritos de Descartes do século XVII, o sujeito aparece dotado dessa
capacidade de independência, constituindo ele uma “fonte autônoma de significado e razão”
(EDGARD e SEDGWICK, 2003, p. 169).
O questionamento à ideia de sujeito autônomo, no entanto – que reflete bem um
pensar tradicional –, surge no século XVIII, com David Hume. Para o filósofo escocês, o
centro de toda a personalidade não passaria de um “feixe de impressões sensoriais mudando
continuamente à medida que o indivíduo tivesse novas experiências ou lembrasse das antigas”
(id., p.169).
7

O sujeito de Hume está muito próximo à concepção de sujeito sociológico apresentada
por Stuart Hall, em A identidade cultural na pós-modernidade. O autor delineia três
concepções de identidade, a saber: “o sujeito iluminismo”, “o sujeito sociológico” e “o sujeito
pós-moderno”.
O primeiro possuía, segundo o autor, uma identidade unificada e estável, imune aos
fatores sociais externos. A noção de “sujeito sociológico”, por sua vez, em consonância com a
visão de sujeito levantada por Hume, considera a concepção “interativa” da identidade e do
eu, proposta por G.H. Mead, C.H. Cooley e os interacionistas simbólicos (apud Hall, 2001),
segundo a qual “a identidade é formada na ‘interação’ entre o eu e a sociedade”. O núcleo
interior do sujeito, a partir desse pensamento, seria formado “na relação com ‘outras pessoas
importantes para ele’, que mediavam para o sujeito, os valores, sentidos e símbolos – a cultura
– dos mundos que ele/ela habitava” (HALL, 2001, p.11)
Em uma reinterpretação de Freud sobre a formação da identidade a partir da relação
entre o indivíduo e o “outro”, Lacan defende que “a autoconsciência surge apenas como um
estágio-espelho [...]. Aqui a criança reconhece seu reflexo como um reflexo de si. Ela,
portanto, passa a se conhecer, não diretamente, mas através da imagem do espelho” (id., p.
171). Assim, a identidade permaneceria, conforme explica Hall (2001), sempre “incompleta”,
estando “sempre ‘em processo’, sempre ‘sendo formada’”. Um processo que começa,
conforme sugere Riesman et. al (apud Kellner, 2001), na modernidade, quando o indivíduo
identifica novas possibilidades de ser.

[...] à medida que o número de possíveis identidades aumenta, é preciso obter
reconhecimento para assumir uma identidade socialmente válida. Na modernidade há
também uma estrutura de interação de papéis, normas, costumes e expectativas
socialmente definidos e disponíveis; precisamos escolhê-los e reproduzi-los para
obtermos identidade num processo complexo de reconhecimento mútuo. Dessa
maneira, na modernidade o outro é um constituinte da nossa identidade; por
conseguinte, nos últimos tempos é bem comum a personagem determinada pelo
“outro”; ela depende dos outros para o reconhecimento e, portanto, para o
estabelecimento de sua identidade pessoal. (Riesman et al., 1950 apud Kellner, 2001,
p.296)

Segundo Hall, esse processo produziria o que ele chama de “sujeito pós-moderno”,
aquele que não tem uma identidade fixa, essencial, permanente. “A identidade torna-se uma
‘celebração móvel’: formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais
8

somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam” (HALL, 1987
apud HALL, 2001).

A identidade plenamente unificada, completa, segura e coerente é uma fantasia. Ao
invés disso, à medida em que (sic) os sistemas de significação e representação cultural
se multiplicam, somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e
cambiante de identidades possíveis, com cada uma das quais poderíamos nos
identificar – ao menos temporariamente. (HALL, 2001, p.13)

Assim, o indivíduo, imerso na pós-modernidade, passaria por um processo de
desagregação que justificaria o que Hall chama de descontinuidades. As sociedades da
modernidade tardia “são atravessadas por diferentes divisões e antagonismos sociais que
produzem uma variedade de diferentes ‘posições de sujeito’ – isto é, identidades – para os
indivíduos” (HALL, 2001, p.17).
Consideradas todas essas concepções, é interessante pensar, com base na proposta
deste artigo, como a identidade se constrói e de que forma o sujeito se apresenta quando as
relações sociais já não se estruturam genuinamente em um espaço determinado e físico,
sendo, antes, extraídas dos contextos locais. Santaella faz referência à ação da comunicação
eletrônica sobre o sujeito, concluindo que a ideia de “eu fixo” já não se sustenta.

A emergência da cultura social e seus sistemas de comunicação mediados
eletronicamente transformam o modo como pensamos o sujeito, prometendo também
alterar a forma de sociedade (...). A figura do eu, fixo no tempo e no espaço, capaz de
exercer controle cognitivo sobre os objetos circunstantes não mais se sustenta. A
comunicação eletrônica sistematicamente remove os pontos fixos, as fundações que
eram essenciais às teorias modernas. (SANTAELLA, 2004, p. 126 apud FELICE,
2008, p. 46)

Giddens (apud Hall, 2001) chamará esse fenômeno de “desalojamento do sistema
social”: o indivíduo virtualizou-se.
9

VIRTUALIZAÇÃO

A passagem das tecnologias analógicas para as digitais, conforme afirma Felice
(2008), “comporta a alteração do processo de repasse das informações, alterando a direção
dos fluxos comunicativos e, sobretudo, a posição e a identidade dos sujeitos interagentes”
(FELICE, 2008, p. 44). Tal fenômeno pode ser entendido como “virtualização”: a realidade
palpável ganha nova dimensão, onde os indivíduos não mais se detêm ao espaço e ao tempo
convencionais, constituindo-se enquanto nós de uma realidade traduzida em bits.
Castells (1996) trabalha o conceito de “virtualidade real”, que considera a completa
imersão da realidade no ambiente virtual:

[...] a realidade é inteiramente capturada, completamente imersa em um ambiente
virtual de imagens, em um mundo de simulação no qual as aparências [...] tornam-se
experiência (CASTELLS, 1996, p. 431 apud MICONI in FELICE, 2008, p. 158).

Imerso na virtualidade, o indivíduo, segundo McLuhan (2001), experimentaria as
potencialidades de sua extensão tecnológica enquanto “um organismo que agora usa o cérebro
fora do crânio e os nervos fora de seu abrigo”. E, no processo de troca e incorporação entre o
humano e o virtual, o homem, mais que contemplar, utilizar ou perceber essa extensão de si
mesmo, passaria não apenas a adotá-la, mas a ser transformado por ela. Pensamento
encontrado também em De Kerckhove:

A nossa realidade psicológica não é mais uma coisa ‘natural’. Depende parcialmente
da forma como nosso ambiente, incluindo as próprias extensões tecnológicas, nos
afeta (DE KERCKHOVE, 1997, p. 33 apud FELICE, 2008, p. 47).

Tais extensões tecnológicas, conforme aponta Castells (1999), constituiriam uma
representação simbólica do indivíduo. O autor explica que todas as formas de comunicação
são baseadas na produção e consumo de sinais, não havendo, portanto, “separação entre
‘realidade’ e representação simbólica”.
10

Em todas as sociedades, a sociedade tem existido em um ambiente simbólico e atuado
por meio dele. Portanto, o que é historicamente específico ao novo sistema de
comunicação organizado pela integração eletrônica de todos os modos de
comunicação, do tipográfico ao sensorial, não é a indução à realidade virtual, mas a
construção da virtualidade real (CASTELLS, 1999, p. 395)

A partir da linha de raciocínio do autor, é interessante pensar na atuação dos sujeitos
nas comunidades virtualmente instituídas. Felice (2008) fala sobre “um processo de
comunicação que se define na interação fluida e criativa entre informações, circuitos e
inteligências” (FELICE, 2008, p. 46). O social em rede é caracterizado por circuitos
informativos interativos movidos pelo compartilhamento, a mola propulsora da sociedade em
rede.

REDES SOCIAIS E COMPARTILHAMENTO

A partir dos conceitos de visão interacionista sobre o processo constitutivo da
identidade, bem como do processo de virtualização, sejam consideradas, então, as relações e
os espaços que permitem o desabrochar dessas relações – aqui, tomadas por inter – nos
contextos sociais. Com o entendimento de que o indivíduo se constrói a partir do intercâmbio
entre o que lhe é interno e o “lado de fora”, é importante considerar que as redes sociais
desempenham um importante papel na construção das identidades, pois elas – as redes –
propiciam a interação entre diferentes atores.
Fritjof Capra (2005) mostra que, em todas as instâncias da vida, o padrão em rede se
revela “um dos padrões de organização mais básicos de todos os sistemas vivos”. “Em todos
os níveis de vida – desde as redes metabólicas das células até as teias alimentares dos
ecossistemas –, os componentes e os processos dos sistemas vivos se interligam em forma de
rede” (CAPRA, 2005, p.93). O autor explica que “as redes sociais são, antes de mais nada,
redes de comunicação que envolvem a linguagem simbólica, os limites culturais, as relações
de poder e assim por diante” (CAPRA, 2005, p.93,94).
Raquel Recuero (2009) aponta dois elementos constituintes das redes sociais: as
pessoas e suas conexões. Sendo assim, uma rede “é uma metáfora para observar os padrões de
conexão de um grupo social, a partir das conexões estabelecidas entre os diversos atores”
11

(RECUERO, 2009, p. 24). A autora explica que “[...] as conexões em uma rede social são
constituídas dos laços sociais, que, por sua vez, são formados através da interação social entre
os atores” (RECUERO, 2009, p. 30).
Na internet, o conceito de rede social faz referência às relações de compartilhamento
na comunicação mediada por computador. Manuel Castells (1999) explica que uma nova
cultura da comunicação começa a tomar forma a partir do alastramento da CMC
(comunicação global mediada por computadores), no início dos anos 90. O novo sistema de
comunicação em rede, segundo o autor, é caracterizado por “sua capacidade de inclusão e
abrangência de todas as expressões culturais” (CASTELLS, 1999, p. 396).

É precisamente devido à sua diversificação, multimodalidade e versatilidade que o
novo sistema de comunicação é capaz de abarcar e integrar todas as formas de
expressão, bem como a diversidade de interesses, valores e imaginações, inclusive a
expressão de conflitos sociais. (CASTELLS, 1999, p. 396)

As redes sociais na internet funcionam como “espaços de integração, lugares de fala,
construídos pelos atores de forma a expressar os elementos de sua personalidade ou
individualidade” (RECUERO, 2009, p. 26). E é nesse contexto que o compartilhamento surge
como elemento vital para a manutenção dessas redes, desempenhando um importante papel no
ciclo de vida das comunidades virtuais.

É esse ambiente fértil que reforça, por meio do acesso e da autoprodução e
compartilhamento de informações, o debate, o desenvolvimento expressivo das
múltiplas opiniões, a participação e a representação, não do tipo personalística ou
profissional, mas enquanto auto-representação, ocasionando a criação de grupos
organizados em torno de interesses comuns, que manifestam e constituem redes de
debate e interação com outros grupos e instituições além das fronteiras nacionais em
direção a ‘processos abertos de colaboração popular’ (TORRES in FELICE, 2008, p.
244).

A questão do compartilhamento torna-se ainda mais relevante se considerados os
números que fazem do processo um verdadeiro fenômeno. Uma pesquisa de 2011 realizada
pela empresa europeia inSites Consulting em mais de 30 países revelou que cerca de 70% da
12

população online, o equivalente a 1 bilhão de pessoas, usam redes sociais atualmente2. Outro
estudo, o Social Media Sharing Trends Of The Past 5 Years3, divulgado em outubro de 2011
pela Unruly Media, mostrou que, em uma semana normal, as redes sociais partilham 70
terabytes de dados, sendo que, nos últimos cinco anos, 1,78 trilhão de páginas geradas por
dados compartilhados em redes sociais foram visualizadas.
Diariamente, as redes geram uma média de 2,56 bilhões de páginas visualizadas em
todo o mundo. E o número de informações compartilhadas tem aumentado vertiginosamente.
O Twitter4, por exemplo, teve um aumento de mais de 35% no volume de partilhas desde seu
lançamento. Quando analisado o crescimento do número de informações compartilhadas, em
comparação de base anual, o Facebook5 Send lidera com um aumento de 756%, seguido do
Tumblr6, com um aumento de 523%, Google +17, com 418%, PingFM8, com 272%, e
LinkedIn9, com aumento de 243%.
Dada a importância do compartilhamento para a manutenção das redes sociais
virtualizadas e considerado o fato de que a partilha de conteúdo no ambiente online acontece
essencialmente de forma espontânea, retome-se o problema de pesquisa deste artigo: qual é a
relação estabelecida entre o fenômeno do compartilhamento e a construção da identidade
virtual?

COMPARTILHAMENTO E IDENTIDADE
Indivíduos traduzidos

Uma das hipóteses que relaciona compartilhamento e construção identitária no
ambiente virtual diz respeito à tentativa dos indivíduos de se fazerem traduzidos. Ao tratar do
mito de Narciso, Marshall McLuhan diz que “os homens logo se tornam fascinados por
qualquer extensão de si mesmos em qualquer material que não seja o deles próprios”
2

Pesquisa disponível em <http://www.slideshare.net/stevenvanbelleghem/social-media-around-the-world-2011>
Pesquisa disponível em <http://www.unrulymedia.com/blog/2011/10/20/infographic-social-media-sharingtrends-of-the-past-5-years.html>
4
<https://twitter.com/>
5
<http://www.facebook.com/>
6
<https://www.tumblr.com/>
7
<www.google.com/+>
8
<http://ping.fm/>
9
<http://www.linkedin.com/>
3
13

(McLUHAN, 2001, p.59). Esse fascínio, segundo afirma o autor, está relacionado ao fato de
que as extensões, em certo grau, conseguem traduzir o indivíduo. McLuhan baseia tal
pensamento em fatos que têm “intrigado os psiquiatras”: “Ao telefone, a criança neurótica
demonstra tendência a perder seus traços neuróticos. [...] Alguns gagos perdem a gagueira
quando falam em língua estrangeira” (McLUHAN, 2001, p.76). Exemplos que ilustram a
questão dos meios enquanto tradutores do homem.
McLuhan defende que “podemos traduzir a nós mesmos cada vez mais em outras
formas de expressão que nos superam” (McLUHAN, 2001, p.77). O autor diz que “na era da
eletricidade, nós mesmos nos vemos como traduzidos mais e mais em termos de informação,
rumo à extensão tecnológica da consciência” (McLUHAN, 2001, p.77). Ou seja, o sujeito
incompreendido poderia, a partir de sua extensão tecnológica, fazer-se compreendido.
A busca pela tradução pode ser constatada em uma pesquisa de 2011 divulgada pelo
The New York Times, intitulada The Psychology of Sharing. O estudo, que envolveu
entrevistas e observação de comportamentos e formas de compartilhar, revelou que “68%
share to give people a better sense of who they are and what they care about”10. Ou seja,
através do compartilhamento de conteúdo, as pessoas se sentem traduzidas, à medida que
oferecem ao outro uma “melhor noção de quem são”.

De um estado atual a um estado ideal

Outra hipótese que relaciona o fenômeno do compartilhamento à construção da
identidade virtual diz respeito a uma provável aspiração por um novo status quo, diferente do
atual e não necessariamente possível. A conjectura pode ser analisada a partir de duas
variáveis: o indivíduo se projeta nas redes sociais em busca de uma nova realidade, possível,
mas distante, ou de uma realidade intangível, possível apenas no mundo virtual.
Através do compartilhamento, o sujeito buscaria uma forma de se reconstruir,
escondendo-se atrás da interface digital. O conteúdo compartilhado faria referência a um
estado considerado ideal, não estabelecendo, necessariamente, uma relação fidedigna com a

10

“68% compartilham para dar às pessoas uma melhor noção de quem são e para mostrar com o que se
preocupam” (tradução nossa)
14

identidade do indivíduo no ambiente off - “quantos avatares cabem dentro de uma única
pessoa?”. Uma tendência intrinsecamente pós-moderna.

Ele (o deslocamento) desarticula as identidades estáveis do passado, mas também abre
a possibilidade de novas articulações: a criação de novas identidades, a produção de
novos sujeitos e o que ele (Laclau) chama de “recomposição da estrutura em torno de
pontos nodais particulares de articulação” (LACLAU, 1990, p.40 apud HALL, 2001,
p.18).

Conforme explica Recuero (2009), o distanciamento característico da comunicação
mediada por computador proporciona o “anonimato sobre muitas formas, já que a relação
entre o corpo físico e a personalidade do ator já não é imediatamente dada a conhecer”
(RECUERO, 2009, p. 37), o que proporciona “uma maior liberdade aos atores envolvidos na
relação, que podem reconstruir-se no ciberespaço” (RECUERO, 2009, p. 38, grifo nosso).
Através do compartilhamento e amparados pelas interfaces digitais, os indivíduos se
projetariam de acordo com a impressão que desejam causar ao outro, assumindo, desta forma,
uma nova identidade.

Em busca da sociabilidade

A busca pela sociabilidade é outra hipótese levantada para o problema de pesquisa
discutido neste artigo. Uma vez entendido o processo interacionista que ampara a construção
da identidade, é possível supor que os indivíduos compartilham conteúdo nas redes sociais em
busca de interação com outros usuários. A própria relação entre o “eu” e o “outro” – segundo
conjecturas de Lacan trabalhadas por Hall (2001) – dá conta de uma necessidade que se
instalará em qualquer ambiente, ainda que seja o virtual.
De acordo com a pesquisa The Psychology of Sharing, de 2011, “78% share
information online because it lets them stay connected to people they may not otherwise stay
15

in touch with”11. O compartilhamento, neste caso, atuaria como reforçador e ao mesmo tempo
constituinte de vínculos.

[...] a sociedade informacional seria uma forma específica de organização social em
que a geração, o processamento e a transformação das informações tornam-se fonte
fundamental de sociabilidade (FELICE, 2008, p. 48).

Na busca pela sociabilidade, os indivíduos compartilhariam, também, com o objetivo
de estabelecer elos de interação com pessoas que possuem interesses semelhantes. É o que
comprova a pesquisa supracitada, que afirma que “73% share information because it helps
them connect with others who share their interests”12. Esta linha de raciocínio envolve, ainda,
os ciclos de mobilização nas redes sociais. O compartilhamento, dentro de um contexto social
virtualizado, funcionaria como uma ferramenta de engajamento. É o que mostra a mesma
pesquisa com a constatação de que “84% share because it is a way to support causes or issues
they care about”.
Assim, seja pela simples interação ou para fins de agrupamento e mobilização, os
indivíduos fariam do compartilhamento uma ferramenta de criação de vínculos.

11

“78% compartilham informações porque isso lhes permite ficarem conectados a pessoas com as quais não
teriam contato de outra forma” (tradução nossa)
12
“73% compartilham informações porque isso os ajuda a mater contato com outras pessoas que compartilham
dos mesmos interesses” (tradução nossa)
16

CONCLUSÃO

As correntes teóricas abordadas neste artigo, bem como os dados apresentados pelas
pesquisas usadas como referência, evidenciam alguns elementos que servem de base para a
sustentação das hipóteses levantadas para o problema de pesquisa. A análise realizada sugere
que os indivíduos compartilham nas redes sociais, ora para se fazerem traduzidos, ora para
atingirem outro status quo, ora em busca de sociabilidade.
Alguns pontos da pesquisa deixam claro que a projeção nas redes sociais não
necessariamente representa um reflexo coerente da realidade, mas acaba por erigir, pelo
simulacro, uma identidade idealizada, pensada a partir da relação estabelecida entre o “eu” e o
“outro”.
Em cada proposição, é possível observar como o olhar desse “outro” torna-se
determinante para a construção da identidade, tal como acontece na realidade palpável. A
diferença entre o on e off, então, fica por conta da possibilidade que os indivíduos encontram
no ambiente virtual de se esconderem atrás das interfaces digitais por eles criadas.
17

REFERÊNCIAS

CAPRA, Fritjof. As conexões ocultas: ciência para uma vida sustentável. 5ª reimpr da 1ª. ed.
de 2002 – São Paulo: Cultrix, 2005. Disponível em < http://books.google.com/books?hl=ptBR&lr=&id=lC42rd54nWcC&oi=fnd&pg=PA7&dq=citado+as+conexões+ocultas+2002&ots
=-VQmEVQV-p&sig=8az4cgGHTXaXlvUnpXI5YfWztP4#PPA4,M1>. Último acesso em 6
de janeiro de 2012.
CASTTELS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
EDGAR, Andrew, SEDGWICK, Peter. Teoria cultural de A a Z: conceitos-chave para
entender o mundo contemporâneo. São Paulo: Contexto, 2003.
FELICE, Massmo Di. Das tecnologias da democracia para as tecnologias da colabração. In:
FELICE, Massimo Di (Org.). Do público para as redes: a comunicação digital e as novas
formas de participação social. – 1. Ed. – São Caetano do Sul, SP: Difusão Editora, 2008.
FERRAZ, Michelle. Identidades descartáveis: um estudo sobre a construção da identidade
virtual através do aplicativo Buddy Poke. Belo Horizonte: 2009.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós modernidade. – 5. ed. – Rio de Janeiro: DP&A,
2001.
KELLNER, Douglas. A cultura da mídia – estudos culturais: identidade e política entre o
moderno e o pós-moderno. Bauru, SP: Edusc, 2001.
RECUERO, Raquel. Redes sociais na internet. Porto Alegre: Sulina, 2009.
SANTOS, Jair Ferreira dos. O que é pós-moderno. São Paulo: Brasiliense, 2000.
MCLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação como extensões do homem. 11. ed. – São
Paulo: Cultrix, 2001.
MICONI, Andrea. Ponto de virada: a teoria da sociedade em rede. In: FELICE, Massimo Di
(Org.). Do público para as redes: a comunicação digital e as novas formas de participação
social. – 1. Ed. – São Caetano do Sul, SP: Difusão Editora, 2008.
TORRES, Juliana Cutolo. Cyborgcracia: entre a gestão digital dos territórios e as redes
sciais digitais. In: FELICE, Massimo Di (Org.). Do público para as redes: a comunicação
digital e as novas formas de participação social. – 1. Ed. – São Caetano do Sul, SP: Difusão
Editora, 2008.

Artigo da internet
MACHADO, Joicemegue Ribeiro, TIJIBOY, Ana Vilma. Redes sociais virtuais: um espaço
para
efetivação
da
aprendizagem
cooperativa.
Disponível
em
<http://www.inf.ufes.br/~cvnascimento/artigos/a37_redessociaisvirtuais.pdf>. Último acesso
em 6 de janeiro de 2012.
18

Pesquisas
Social Media Around the Word – Disponível em
<http://www.slideshare.net/stevenvanbelleghem/social-media-around-the-world-2011>.
Último acesso em 6 de janeiro de 2012.
Infographic Social Media Sharing Trends Of The Past 5 Years – Disponível em
<http://www.unrulymedia.com/blog/2011/10/20/infographic-social-media-sharing-trends-ofthe-past-5-years.html>. Último acesso em 6 de janeiro de 2012.
The Psychology of Sharing – Disponível em <http://nytmarketing.whsites.net/mediakit/pos/>.
Último acesso em 6 de janeiro de 2012.

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IDENTIDADE VIRTUAL NA ERA DO COMPARTILHAMENTO

  • 1. 1 IDENTIDADE VIRTUAL NA ERA DO COMPARTILHAMENTO Michelle C. Ferraz Freitas1 RESUMO Este artigo propõe uma reflexão teórica sobre o fenômeno do compartilhamento nas redes sociais online relacionado ao processo de construção identitária no ambiente virtual. A proposta parte do entendimento de que as redes sociais na internet funcionam como “espaços de integração, lugares de fala, construídos pelos atores de forma a expressar os elementos de sua personalidade ou individualidade” (RECUERO, 2009, p. 26) e de que o social em rede é caracterizado por circuitos informativos interativos movidos pelo compartilhamento, processo tratado neste artigo como elemento vital para a manutenção dessas redes sociais. Considerados os números que apontam para uma verdadeira fenomenalização do processo de compartilhamento – cerca de 70 terabytes de dados são dispensados nas redes sociais semanalmente – e o fato de que a partilha de conteúdo no ambiente online acontece essencialmente de forma espontânea, o objetivo deste artigo é cruzar referenciais teóricos que sustentem ou refutem as hipóteses sobre o que os indivíduos buscam ao compartilhar. A discussão retoma pontos de uma pesquisa realizada pela autora deste artigo, em 2009, sobre a construção da identidade virtual, e considera conceitos de pós-modernidade, identidade e virtualização. Palavras-chave: Identidade virtual. Compartilhamento. Redes sociais. ABSTRACT This article purpose a theoretical reflection about the share phenomenon at social network related to the process of identity construction on virtual environment. The proposal comes to the understanding that the social network on internet works like “spaces of integration, places of speech, constructed by actors in a way to express the elements of their personality and individuality” (RECUERO, 2009, p. 26) and that the social in network is characterized by 1 Jornalista, aluna do MBA em Mídias Sociais e Gestão da Comunicação Digital do Centro Universitário UNA – Belo Horizonte – MG – email: ferrazjol@gmail.com
  • 2. 2 informative circuits moved by the sharing, process treat on this article as vital element to the maintenance of these social networks. Taking in consideration the numbers that point out to a real phenomenalization of the sharing process – about 70 data terabytes are expended weekly on social network – and the fact that the content share online happens essentially in a spontaneous way, the aim of this article is to match theoretical references that sustain or rebut the hypothesis about what the individuals search when they share. The discussion brings back points of a research realized by the author of this article, in 2009, about the construction of virtual identity, and consider concepts of post-modernity, identity and virtualization. Keywords: Virtual identity. Sharing. Social network.
  • 3. 3 INTRODUÇÃO As redes sociais virtualizaram-se. Consequentemente, as relações. Desde o advento da CMC (comunicação global mediada por computadores), sistema de comunicação que, conforme explica Castells, é caracterizado por uma “capacidade de inclusão e abrangência de todas as expressões culturais” (CASTELLS, 1999, p. 396), os nós e conexões entre os indivíduos já não se detêm à realidade palpável, transpondo-se, para além dessa dimensão, a uma esfera cujas traduções são feitas através dos bits. Trata-se do que Castells denominou “comunidade virtual”, “uma rede eletrônica de comunicação interativa autodefinida, organizada em torno de um interesse ou finalidade compartilhados, embora algumas vezes a própria comunicação se tranforme no objetivo” (CASTELLS, 1999, p. 385 apud MACHADO; TIJIBOY, 2005, p. 3). Essa transposição das relações à dimensão virtual deve ser observada a partir do entendimento de que, conforme argumenta Recuero (2009), “[...] não é suficiente falar em ‘redes sociais na internet’ levando em conta apenas os fatores estritamente tecnológicos da questão, ou seja, esquecendo as pessoas que interagem umas com as outras [...]” (RECUERO, 2009, p. 13). Conforme se verá adiante, a autora explica que as redes sociais virtualizadas funcionam como representações dos atores sociais. Com base nessa percepção, vale pensar a esfera virtual como espaço para a formação de identidades construídas, reconstruídas ou desconstruídas a partir da forma como os indivíduos se projetam nas redes sociais: existe alguma relação entre aquilo que é compartilhado nessas redes e a formação das identidades no contexto on? Que relação seria esta? Por que as pessoas compartilham? Na busca por explicações para o problema de pesquisa, serão consideradas hipóteses trabalhadas pela autora deste artigo em um estudo realizado em 2009 sobre a construção da identidade virtual. A pesquisa, intitulada Identidades descartáveis: um estudo sobre a construção da identidade virtual através do aplicativo BuddyPoke, traçou a relação identitária estabelecida entre a realidade palpável e a esfera virtual a partir do uso de um aplicativo que possibilitava a criação de um avatar que reproduzia ações, expressões e sentimentos humanos. O estudo realizado em 2009 possibilitou a confirmação de quatro proposições sobre a formação da identidade virtual, três das quais serão retomadas neste artigo: os indivíduos
  • 4. 4 compartilham em uma tentativa de se fazerem traduzidos; o compartilhamento se dá a partir de um desejo dos indivíduos de transposição de um estado atual a um estado ideal; o compartilhamento se estabelece a partir de uma necessidade e tentativa de sociabilidade. É importante enfatizar que este artigo não propõe uma discussão finalizada para o problema de pesquisa, mas se apoia na busca e no cruzamento de referenciais teóricos que sustentem ou refutem as hipóteses levantadas. Trata-se de um trabalho de pesquisa que relaciona conceitos de pós-modernidade – ponto de partida para a discussão –, identidade e virtualização.
  • 5. 5 UM PASSEIO PELO PÓS-MODERNO Antes de traçar a relação entre a formação da identidade no ambiente on e o fenômeno do compartilhamento nas redes sociais virtualizadas, é importante considerar o conceito de pós-modernidade, ponto de partida para a contextualização do problema de pesquisa abordado neste artigo. O pós-modernismo, segundo Lyotard, significaria um “discurso estético de vanguarda, que procura superar as limitações das convenções tradicionais ao procurar novas estratégias para o projeto de descrever e interpretar a inteligência” (EDGAR e SEDGWICK, 2003, p. 25). Conforme explica Baudrillard, o pós-moderno estaria erigido sobre a “falta de unidade”: Afirma-se, pois, que na cultura pós-moderna o sujeito se desintegrou num fluxo de euforia intensa, fragmentada e desconexa, e que o eu pós-moderno descentrado [...] já não possui a profundidade, a substancialidade e a coerência que eram os ideais e às vezes a realização do eu moderno (BAUDRILLARD, 1983c; JAMESON, 1983, 1991 apud KELLNER, 2001, p.298). Santos (2000) aponta o amadurecimento do conceito a partir do alastramento, dentre outros campos, “no cotidiano programado pela tecnociência (ciência + tecnologia invadindo o cotidiano com desde alimentos processados até microcomputadores)”. Ao tratar sobre a pósmodernidade, o autor faz referência ao hedonismo (valores calcados no prazer de usar bens e serviços), ao niilismo (o nada, o vazio, a ausência de valores e de sentido para a vida) e ao simulacro (imitação, espectro). Para Santos, a sociedade pós-moderna estaria experimentando a presença cada vez mais forte do que ele chama de “fantasma pós-moderno”, sendo a tecnologia responsável pela programação do dia a dia. Nesse contexto, o autor destaca dois seres: a “criança radiosa”, aquele “indivíduo hedonista integrado à tecnologia, narcisista com identidade móvel, flutuante”, e o “androide melancólico”, “o consumidor programado e sem história, indiferente, átomo estatístico na massa, boneco da tecnociência”. Kellner (2001) explica que, se por um lado a pós-modernidade “aumenta a liberdade individual de agir sobre a própria identidade e de mudar drasticamente a própria vida”, por outro “pode tornar a vida totalmente fragmentada e desconexa, sujeita aos caprichos da moda
  • 6. 6 e à sutil doutrinação da propaganda e da cultura popular” (KELLNER, 2001, p. 330). No entanto, no lugar da total fragmentação do sujeito, proposta por Santos (2000), Kellner refletirá sobre as possibilidades de reconstrução que esse sujeito encontra no pós-moderno. O autor defende que é no bojo da modernidade que a consciência de si passa a ser reconhecida. Em vez de desaparecer na sociedade pós-moderna, a identidade está simplesmente sujeita a novas determinações e a novas forças, ao serem oferecidas novas possibilidades, novos estilos, novos modelos e novas formas. (KELLNER, 2001, p. 330) Apesar da instabilidade, resultado das novas aberturas para a reestruturação da identidade pessoal, Kellner considera que as possibilidades de reconstrução oferecidas pela pós-modernidade elevam o indivíduo à condição de sujeito, fornecendo um caminho de escolha e criação “à medida que as possibilidades de vida mudam e se expandem ou se contraem” (KELLNER, 2001, p.296). A partir dessas considerações, vale refletir sobre o processo que relaciona indivíduo e pós-modernidade na construção da identidade. DA IDENTIDADE PÓS-MODERNA Nos inúmeros estudos que sugerem uma definição para o que vem a ser identidade, residem correntes conceituais bastante divergentes entre si. Alguns estudos culturais defendem que a identidade é construída de forma autônoma, independente dos fatores externos. Nos escritos de Descartes do século XVII, o sujeito aparece dotado dessa capacidade de independência, constituindo ele uma “fonte autônoma de significado e razão” (EDGARD e SEDGWICK, 2003, p. 169). O questionamento à ideia de sujeito autônomo, no entanto – que reflete bem um pensar tradicional –, surge no século XVIII, com David Hume. Para o filósofo escocês, o centro de toda a personalidade não passaria de um “feixe de impressões sensoriais mudando continuamente à medida que o indivíduo tivesse novas experiências ou lembrasse das antigas” (id., p.169).
  • 7. 7 O sujeito de Hume está muito próximo à concepção de sujeito sociológico apresentada por Stuart Hall, em A identidade cultural na pós-modernidade. O autor delineia três concepções de identidade, a saber: “o sujeito iluminismo”, “o sujeito sociológico” e “o sujeito pós-moderno”. O primeiro possuía, segundo o autor, uma identidade unificada e estável, imune aos fatores sociais externos. A noção de “sujeito sociológico”, por sua vez, em consonância com a visão de sujeito levantada por Hume, considera a concepção “interativa” da identidade e do eu, proposta por G.H. Mead, C.H. Cooley e os interacionistas simbólicos (apud Hall, 2001), segundo a qual “a identidade é formada na ‘interação’ entre o eu e a sociedade”. O núcleo interior do sujeito, a partir desse pensamento, seria formado “na relação com ‘outras pessoas importantes para ele’, que mediavam para o sujeito, os valores, sentidos e símbolos – a cultura – dos mundos que ele/ela habitava” (HALL, 2001, p.11) Em uma reinterpretação de Freud sobre a formação da identidade a partir da relação entre o indivíduo e o “outro”, Lacan defende que “a autoconsciência surge apenas como um estágio-espelho [...]. Aqui a criança reconhece seu reflexo como um reflexo de si. Ela, portanto, passa a se conhecer, não diretamente, mas através da imagem do espelho” (id., p. 171). Assim, a identidade permaneceria, conforme explica Hall (2001), sempre “incompleta”, estando “sempre ‘em processo’, sempre ‘sendo formada’”. Um processo que começa, conforme sugere Riesman et. al (apud Kellner, 2001), na modernidade, quando o indivíduo identifica novas possibilidades de ser. [...] à medida que o número de possíveis identidades aumenta, é preciso obter reconhecimento para assumir uma identidade socialmente válida. Na modernidade há também uma estrutura de interação de papéis, normas, costumes e expectativas socialmente definidos e disponíveis; precisamos escolhê-los e reproduzi-los para obtermos identidade num processo complexo de reconhecimento mútuo. Dessa maneira, na modernidade o outro é um constituinte da nossa identidade; por conseguinte, nos últimos tempos é bem comum a personagem determinada pelo “outro”; ela depende dos outros para o reconhecimento e, portanto, para o estabelecimento de sua identidade pessoal. (Riesman et al., 1950 apud Kellner, 2001, p.296) Segundo Hall, esse processo produziria o que ele chama de “sujeito pós-moderno”, aquele que não tem uma identidade fixa, essencial, permanente. “A identidade torna-se uma ‘celebração móvel’: formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais
  • 8. 8 somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam” (HALL, 1987 apud HALL, 2001). A identidade plenamente unificada, completa, segura e coerente é uma fantasia. Ao invés disso, à medida em que (sic) os sistemas de significação e representação cultural se multiplicam, somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possíveis, com cada uma das quais poderíamos nos identificar – ao menos temporariamente. (HALL, 2001, p.13) Assim, o indivíduo, imerso na pós-modernidade, passaria por um processo de desagregação que justificaria o que Hall chama de descontinuidades. As sociedades da modernidade tardia “são atravessadas por diferentes divisões e antagonismos sociais que produzem uma variedade de diferentes ‘posições de sujeito’ – isto é, identidades – para os indivíduos” (HALL, 2001, p.17). Consideradas todas essas concepções, é interessante pensar, com base na proposta deste artigo, como a identidade se constrói e de que forma o sujeito se apresenta quando as relações sociais já não se estruturam genuinamente em um espaço determinado e físico, sendo, antes, extraídas dos contextos locais. Santaella faz referência à ação da comunicação eletrônica sobre o sujeito, concluindo que a ideia de “eu fixo” já não se sustenta. A emergência da cultura social e seus sistemas de comunicação mediados eletronicamente transformam o modo como pensamos o sujeito, prometendo também alterar a forma de sociedade (...). A figura do eu, fixo no tempo e no espaço, capaz de exercer controle cognitivo sobre os objetos circunstantes não mais se sustenta. A comunicação eletrônica sistematicamente remove os pontos fixos, as fundações que eram essenciais às teorias modernas. (SANTAELLA, 2004, p. 126 apud FELICE, 2008, p. 46) Giddens (apud Hall, 2001) chamará esse fenômeno de “desalojamento do sistema social”: o indivíduo virtualizou-se.
  • 9. 9 VIRTUALIZAÇÃO A passagem das tecnologias analógicas para as digitais, conforme afirma Felice (2008), “comporta a alteração do processo de repasse das informações, alterando a direção dos fluxos comunicativos e, sobretudo, a posição e a identidade dos sujeitos interagentes” (FELICE, 2008, p. 44). Tal fenômeno pode ser entendido como “virtualização”: a realidade palpável ganha nova dimensão, onde os indivíduos não mais se detêm ao espaço e ao tempo convencionais, constituindo-se enquanto nós de uma realidade traduzida em bits. Castells (1996) trabalha o conceito de “virtualidade real”, que considera a completa imersão da realidade no ambiente virtual: [...] a realidade é inteiramente capturada, completamente imersa em um ambiente virtual de imagens, em um mundo de simulação no qual as aparências [...] tornam-se experiência (CASTELLS, 1996, p. 431 apud MICONI in FELICE, 2008, p. 158). Imerso na virtualidade, o indivíduo, segundo McLuhan (2001), experimentaria as potencialidades de sua extensão tecnológica enquanto “um organismo que agora usa o cérebro fora do crânio e os nervos fora de seu abrigo”. E, no processo de troca e incorporação entre o humano e o virtual, o homem, mais que contemplar, utilizar ou perceber essa extensão de si mesmo, passaria não apenas a adotá-la, mas a ser transformado por ela. Pensamento encontrado também em De Kerckhove: A nossa realidade psicológica não é mais uma coisa ‘natural’. Depende parcialmente da forma como nosso ambiente, incluindo as próprias extensões tecnológicas, nos afeta (DE KERCKHOVE, 1997, p. 33 apud FELICE, 2008, p. 47). Tais extensões tecnológicas, conforme aponta Castells (1999), constituiriam uma representação simbólica do indivíduo. O autor explica que todas as formas de comunicação são baseadas na produção e consumo de sinais, não havendo, portanto, “separação entre ‘realidade’ e representação simbólica”.
  • 10. 10 Em todas as sociedades, a sociedade tem existido em um ambiente simbólico e atuado por meio dele. Portanto, o que é historicamente específico ao novo sistema de comunicação organizado pela integração eletrônica de todos os modos de comunicação, do tipográfico ao sensorial, não é a indução à realidade virtual, mas a construção da virtualidade real (CASTELLS, 1999, p. 395) A partir da linha de raciocínio do autor, é interessante pensar na atuação dos sujeitos nas comunidades virtualmente instituídas. Felice (2008) fala sobre “um processo de comunicação que se define na interação fluida e criativa entre informações, circuitos e inteligências” (FELICE, 2008, p. 46). O social em rede é caracterizado por circuitos informativos interativos movidos pelo compartilhamento, a mola propulsora da sociedade em rede. REDES SOCIAIS E COMPARTILHAMENTO A partir dos conceitos de visão interacionista sobre o processo constitutivo da identidade, bem como do processo de virtualização, sejam consideradas, então, as relações e os espaços que permitem o desabrochar dessas relações – aqui, tomadas por inter – nos contextos sociais. Com o entendimento de que o indivíduo se constrói a partir do intercâmbio entre o que lhe é interno e o “lado de fora”, é importante considerar que as redes sociais desempenham um importante papel na construção das identidades, pois elas – as redes – propiciam a interação entre diferentes atores. Fritjof Capra (2005) mostra que, em todas as instâncias da vida, o padrão em rede se revela “um dos padrões de organização mais básicos de todos os sistemas vivos”. “Em todos os níveis de vida – desde as redes metabólicas das células até as teias alimentares dos ecossistemas –, os componentes e os processos dos sistemas vivos se interligam em forma de rede” (CAPRA, 2005, p.93). O autor explica que “as redes sociais são, antes de mais nada, redes de comunicação que envolvem a linguagem simbólica, os limites culturais, as relações de poder e assim por diante” (CAPRA, 2005, p.93,94). Raquel Recuero (2009) aponta dois elementos constituintes das redes sociais: as pessoas e suas conexões. Sendo assim, uma rede “é uma metáfora para observar os padrões de conexão de um grupo social, a partir das conexões estabelecidas entre os diversos atores”
  • 11. 11 (RECUERO, 2009, p. 24). A autora explica que “[...] as conexões em uma rede social são constituídas dos laços sociais, que, por sua vez, são formados através da interação social entre os atores” (RECUERO, 2009, p. 30). Na internet, o conceito de rede social faz referência às relações de compartilhamento na comunicação mediada por computador. Manuel Castells (1999) explica que uma nova cultura da comunicação começa a tomar forma a partir do alastramento da CMC (comunicação global mediada por computadores), no início dos anos 90. O novo sistema de comunicação em rede, segundo o autor, é caracterizado por “sua capacidade de inclusão e abrangência de todas as expressões culturais” (CASTELLS, 1999, p. 396). É precisamente devido à sua diversificação, multimodalidade e versatilidade que o novo sistema de comunicação é capaz de abarcar e integrar todas as formas de expressão, bem como a diversidade de interesses, valores e imaginações, inclusive a expressão de conflitos sociais. (CASTELLS, 1999, p. 396) As redes sociais na internet funcionam como “espaços de integração, lugares de fala, construídos pelos atores de forma a expressar os elementos de sua personalidade ou individualidade” (RECUERO, 2009, p. 26). E é nesse contexto que o compartilhamento surge como elemento vital para a manutenção dessas redes, desempenhando um importante papel no ciclo de vida das comunidades virtuais. É esse ambiente fértil que reforça, por meio do acesso e da autoprodução e compartilhamento de informações, o debate, o desenvolvimento expressivo das múltiplas opiniões, a participação e a representação, não do tipo personalística ou profissional, mas enquanto auto-representação, ocasionando a criação de grupos organizados em torno de interesses comuns, que manifestam e constituem redes de debate e interação com outros grupos e instituições além das fronteiras nacionais em direção a ‘processos abertos de colaboração popular’ (TORRES in FELICE, 2008, p. 244). A questão do compartilhamento torna-se ainda mais relevante se considerados os números que fazem do processo um verdadeiro fenômeno. Uma pesquisa de 2011 realizada pela empresa europeia inSites Consulting em mais de 30 países revelou que cerca de 70% da
  • 12. 12 população online, o equivalente a 1 bilhão de pessoas, usam redes sociais atualmente2. Outro estudo, o Social Media Sharing Trends Of The Past 5 Years3, divulgado em outubro de 2011 pela Unruly Media, mostrou que, em uma semana normal, as redes sociais partilham 70 terabytes de dados, sendo que, nos últimos cinco anos, 1,78 trilhão de páginas geradas por dados compartilhados em redes sociais foram visualizadas. Diariamente, as redes geram uma média de 2,56 bilhões de páginas visualizadas em todo o mundo. E o número de informações compartilhadas tem aumentado vertiginosamente. O Twitter4, por exemplo, teve um aumento de mais de 35% no volume de partilhas desde seu lançamento. Quando analisado o crescimento do número de informações compartilhadas, em comparação de base anual, o Facebook5 Send lidera com um aumento de 756%, seguido do Tumblr6, com um aumento de 523%, Google +17, com 418%, PingFM8, com 272%, e LinkedIn9, com aumento de 243%. Dada a importância do compartilhamento para a manutenção das redes sociais virtualizadas e considerado o fato de que a partilha de conteúdo no ambiente online acontece essencialmente de forma espontânea, retome-se o problema de pesquisa deste artigo: qual é a relação estabelecida entre o fenômeno do compartilhamento e a construção da identidade virtual? COMPARTILHAMENTO E IDENTIDADE Indivíduos traduzidos Uma das hipóteses que relaciona compartilhamento e construção identitária no ambiente virtual diz respeito à tentativa dos indivíduos de se fazerem traduzidos. Ao tratar do mito de Narciso, Marshall McLuhan diz que “os homens logo se tornam fascinados por qualquer extensão de si mesmos em qualquer material que não seja o deles próprios” 2 Pesquisa disponível em <http://www.slideshare.net/stevenvanbelleghem/social-media-around-the-world-2011> Pesquisa disponível em <http://www.unrulymedia.com/blog/2011/10/20/infographic-social-media-sharingtrends-of-the-past-5-years.html> 4 <https://twitter.com/> 5 <http://www.facebook.com/> 6 <https://www.tumblr.com/> 7 <www.google.com/+> 8 <http://ping.fm/> 9 <http://www.linkedin.com/> 3
  • 13. 13 (McLUHAN, 2001, p.59). Esse fascínio, segundo afirma o autor, está relacionado ao fato de que as extensões, em certo grau, conseguem traduzir o indivíduo. McLuhan baseia tal pensamento em fatos que têm “intrigado os psiquiatras”: “Ao telefone, a criança neurótica demonstra tendência a perder seus traços neuróticos. [...] Alguns gagos perdem a gagueira quando falam em língua estrangeira” (McLUHAN, 2001, p.76). Exemplos que ilustram a questão dos meios enquanto tradutores do homem. McLuhan defende que “podemos traduzir a nós mesmos cada vez mais em outras formas de expressão que nos superam” (McLUHAN, 2001, p.77). O autor diz que “na era da eletricidade, nós mesmos nos vemos como traduzidos mais e mais em termos de informação, rumo à extensão tecnológica da consciência” (McLUHAN, 2001, p.77). Ou seja, o sujeito incompreendido poderia, a partir de sua extensão tecnológica, fazer-se compreendido. A busca pela tradução pode ser constatada em uma pesquisa de 2011 divulgada pelo The New York Times, intitulada The Psychology of Sharing. O estudo, que envolveu entrevistas e observação de comportamentos e formas de compartilhar, revelou que “68% share to give people a better sense of who they are and what they care about”10. Ou seja, através do compartilhamento de conteúdo, as pessoas se sentem traduzidas, à medida que oferecem ao outro uma “melhor noção de quem são”. De um estado atual a um estado ideal Outra hipótese que relaciona o fenômeno do compartilhamento à construção da identidade virtual diz respeito a uma provável aspiração por um novo status quo, diferente do atual e não necessariamente possível. A conjectura pode ser analisada a partir de duas variáveis: o indivíduo se projeta nas redes sociais em busca de uma nova realidade, possível, mas distante, ou de uma realidade intangível, possível apenas no mundo virtual. Através do compartilhamento, o sujeito buscaria uma forma de se reconstruir, escondendo-se atrás da interface digital. O conteúdo compartilhado faria referência a um estado considerado ideal, não estabelecendo, necessariamente, uma relação fidedigna com a 10 “68% compartilham para dar às pessoas uma melhor noção de quem são e para mostrar com o que se preocupam” (tradução nossa)
  • 14. 14 identidade do indivíduo no ambiente off - “quantos avatares cabem dentro de uma única pessoa?”. Uma tendência intrinsecamente pós-moderna. Ele (o deslocamento) desarticula as identidades estáveis do passado, mas também abre a possibilidade de novas articulações: a criação de novas identidades, a produção de novos sujeitos e o que ele (Laclau) chama de “recomposição da estrutura em torno de pontos nodais particulares de articulação” (LACLAU, 1990, p.40 apud HALL, 2001, p.18). Conforme explica Recuero (2009), o distanciamento característico da comunicação mediada por computador proporciona o “anonimato sobre muitas formas, já que a relação entre o corpo físico e a personalidade do ator já não é imediatamente dada a conhecer” (RECUERO, 2009, p. 37), o que proporciona “uma maior liberdade aos atores envolvidos na relação, que podem reconstruir-se no ciberespaço” (RECUERO, 2009, p. 38, grifo nosso). Através do compartilhamento e amparados pelas interfaces digitais, os indivíduos se projetariam de acordo com a impressão que desejam causar ao outro, assumindo, desta forma, uma nova identidade. Em busca da sociabilidade A busca pela sociabilidade é outra hipótese levantada para o problema de pesquisa discutido neste artigo. Uma vez entendido o processo interacionista que ampara a construção da identidade, é possível supor que os indivíduos compartilham conteúdo nas redes sociais em busca de interação com outros usuários. A própria relação entre o “eu” e o “outro” – segundo conjecturas de Lacan trabalhadas por Hall (2001) – dá conta de uma necessidade que se instalará em qualquer ambiente, ainda que seja o virtual. De acordo com a pesquisa The Psychology of Sharing, de 2011, “78% share information online because it lets them stay connected to people they may not otherwise stay
  • 15. 15 in touch with”11. O compartilhamento, neste caso, atuaria como reforçador e ao mesmo tempo constituinte de vínculos. [...] a sociedade informacional seria uma forma específica de organização social em que a geração, o processamento e a transformação das informações tornam-se fonte fundamental de sociabilidade (FELICE, 2008, p. 48). Na busca pela sociabilidade, os indivíduos compartilhariam, também, com o objetivo de estabelecer elos de interação com pessoas que possuem interesses semelhantes. É o que comprova a pesquisa supracitada, que afirma que “73% share information because it helps them connect with others who share their interests”12. Esta linha de raciocínio envolve, ainda, os ciclos de mobilização nas redes sociais. O compartilhamento, dentro de um contexto social virtualizado, funcionaria como uma ferramenta de engajamento. É o que mostra a mesma pesquisa com a constatação de que “84% share because it is a way to support causes or issues they care about”. Assim, seja pela simples interação ou para fins de agrupamento e mobilização, os indivíduos fariam do compartilhamento uma ferramenta de criação de vínculos. 11 “78% compartilham informações porque isso lhes permite ficarem conectados a pessoas com as quais não teriam contato de outra forma” (tradução nossa) 12 “73% compartilham informações porque isso os ajuda a mater contato com outras pessoas que compartilham dos mesmos interesses” (tradução nossa)
  • 16. 16 CONCLUSÃO As correntes teóricas abordadas neste artigo, bem como os dados apresentados pelas pesquisas usadas como referência, evidenciam alguns elementos que servem de base para a sustentação das hipóteses levantadas para o problema de pesquisa. A análise realizada sugere que os indivíduos compartilham nas redes sociais, ora para se fazerem traduzidos, ora para atingirem outro status quo, ora em busca de sociabilidade. Alguns pontos da pesquisa deixam claro que a projeção nas redes sociais não necessariamente representa um reflexo coerente da realidade, mas acaba por erigir, pelo simulacro, uma identidade idealizada, pensada a partir da relação estabelecida entre o “eu” e o “outro”. Em cada proposição, é possível observar como o olhar desse “outro” torna-se determinante para a construção da identidade, tal como acontece na realidade palpável. A diferença entre o on e off, então, fica por conta da possibilidade que os indivíduos encontram no ambiente virtual de se esconderem atrás das interfaces digitais por eles criadas.
  • 17. 17 REFERÊNCIAS CAPRA, Fritjof. As conexões ocultas: ciência para uma vida sustentável. 5ª reimpr da 1ª. ed. de 2002 – São Paulo: Cultrix, 2005. Disponível em < http://books.google.com/books?hl=ptBR&lr=&id=lC42rd54nWcC&oi=fnd&pg=PA7&dq=citado+as+conexões+ocultas+2002&ots =-VQmEVQV-p&sig=8az4cgGHTXaXlvUnpXI5YfWztP4#PPA4,M1>. Último acesso em 6 de janeiro de 2012. CASTTELS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999. EDGAR, Andrew, SEDGWICK, Peter. Teoria cultural de A a Z: conceitos-chave para entender o mundo contemporâneo. São Paulo: Contexto, 2003. FELICE, Massmo Di. Das tecnologias da democracia para as tecnologias da colabração. In: FELICE, Massimo Di (Org.). Do público para as redes: a comunicação digital e as novas formas de participação social. – 1. Ed. – São Caetano do Sul, SP: Difusão Editora, 2008. FERRAZ, Michelle. Identidades descartáveis: um estudo sobre a construção da identidade virtual através do aplicativo Buddy Poke. Belo Horizonte: 2009. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós modernidade. – 5. ed. – Rio de Janeiro: DP&A, 2001. KELLNER, Douglas. A cultura da mídia – estudos culturais: identidade e política entre o moderno e o pós-moderno. Bauru, SP: Edusc, 2001. RECUERO, Raquel. Redes sociais na internet. Porto Alegre: Sulina, 2009. SANTOS, Jair Ferreira dos. O que é pós-moderno. São Paulo: Brasiliense, 2000. MCLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação como extensões do homem. 11. ed. – São Paulo: Cultrix, 2001. MICONI, Andrea. Ponto de virada: a teoria da sociedade em rede. In: FELICE, Massimo Di (Org.). Do público para as redes: a comunicação digital e as novas formas de participação social. – 1. Ed. – São Caetano do Sul, SP: Difusão Editora, 2008. TORRES, Juliana Cutolo. Cyborgcracia: entre a gestão digital dos territórios e as redes sciais digitais. In: FELICE, Massimo Di (Org.). Do público para as redes: a comunicação digital e as novas formas de participação social. – 1. Ed. – São Caetano do Sul, SP: Difusão Editora, 2008. Artigo da internet MACHADO, Joicemegue Ribeiro, TIJIBOY, Ana Vilma. Redes sociais virtuais: um espaço para efetivação da aprendizagem cooperativa. Disponível em <http://www.inf.ufes.br/~cvnascimento/artigos/a37_redessociaisvirtuais.pdf>. Último acesso em 6 de janeiro de 2012.
  • 18. 18 Pesquisas Social Media Around the Word – Disponível em <http://www.slideshare.net/stevenvanbelleghem/social-media-around-the-world-2011>. Último acesso em 6 de janeiro de 2012. Infographic Social Media Sharing Trends Of The Past 5 Years – Disponível em <http://www.unrulymedia.com/blog/2011/10/20/infographic-social-media-sharing-trends-ofthe-past-5-years.html>. Último acesso em 6 de janeiro de 2012. The Psychology of Sharing – Disponível em <http://nytmarketing.whsites.net/mediakit/pos/>. Último acesso em 6 de janeiro de 2012.