O documento descreve a história do Rádio Clube Português na década de 1930 baseada em artigos publicados na revista Antena entre 1965-1969. Inclui detalhes sobre o apoio da estação aos nacionalistas de Franco durante a Guerra Civil Espanhola, assim como sobre a programação e desenvolvimento da estação durante esse período.
1. História do Rádio Clube Português (1)
Posted on 11/01/2012 by Rogério Santos
A revista Antena (1965-1969), propriedade do Rádio Clube Português (RCP), a
estação de rádio privada portuguesa mais importante na década de 1960,
publicou em quase vinte números a história da emissora, em especial as
primeiras décadas. Maior ênfase seria colocada na participação da estação
quanto ao apoio aos sublevados de Francisco Franco na guerra civil de Espanha
(1936-1939), tomando nítido partido por um dos lados do conflito. Essa história
do RCP começaria no número 4, de 15 de abril de 1965, de que aqui deixo
reproduzidas as quatro páginas (pp. 41-44) (vou procurar editar todos os artigos
como foram publicados na revista ao longo dos próximos tempos).
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5. História do Rádio Clube Português (2)
Posted on 15/01/2012 by Rogério Santos
No número 5 de 1 de maio de 1965, a revista Antena publicava o segundo artigo
sobre a história do Rádio Clube Português. Os anos de 1934 e 1935 da vida da
estação eram analisados. A questão da publicidade (em 1934, as autoridades
tinham proibido a publicidade no RCP, assim como nas outras emissoras
privadas, o que gerou um movimento favorável às estações, com a criação de
uma liga de associados do RCP, voltando a emissora a ter publicidade nos seus
programas no ano de 1936), a inauguração do emissor em onda curta, a nova
programação (que incluia reportagens de eventos como o casamento real inglês)
e espetáculos no estúdio da estação são os principais elementos recordados no
texto, que ocupa três páginas.
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9. História do Rádio Clube Português (3)
Posted on 21/01/2012 by Rogério Santos
O número de 15 de maio de 1965 da revista Antena inseria o terceiro capítulo da
história do Rádio Clube Português. Dois assuntos tratados: a visita de Salazar à
estação e o incêndio que deflagrou nas instalações em 14 de setembro de 1935. A
visita do primeiro-ministro teve um tratamento específico, prova da relação
próxima dos responsáveis da estação com Salazar. Lê-se no texto: “Cerca das
10,30 desse dia [17 de março de 1935], um automóvel estacionara junto ao
portão do Clube. Alguém, metido num fato preto, saira da viatura e, de mãos
enfiadas nos bolsos, ficara alguns momentos parado, olhando o edifício e a
cerca. Os que se encontravam dentro do edifício verificaram, com surpresa,
tratar-se do sr. Prof. Dr. Oliveira Salazar. Houve como que uma corrida aos
telefones, a fim de chamar os directores da emissora que mais perto residiam,
pois nada fazia antever tal visita. A presença do ilustre Chefe do Governo
Português, nas instalações do Rádio Clube, foi breve mas minuciosa. Inúmeros
foram os esclarecimentos e prontamente dados. Nada ficou por ver. [...] a visita
terminou com esta dedicatória escrita pelo próprio Prof. Dr. Oliveira Salazar no
livro de honra do Clube: «O Estado deve aproveitar os ensinamentos da
concorrência particular»”.
A visita de Salazar precisa de ser contextualizada. Por um lado, a Emissora
Nacional, a estação do Estado, estava a emitir ainda experimentalmente. O
presidente da comissão instaladora da estação, António Joyce, seria substituído
pelo capitão Henrique Galvão, em junho de 1935. Salazar sabia já da
necessidade de colocar um homem de grande confiança no poder da Emissora
Nacional (Galvão viria a rebelar-se contra ele em 1961 com o desvio do paquete
Santa Maria). Por outro lado, o Rádio Clube Português, liderado pelo capitão
Botelho Moniz, fazia a apologia do governo e do poder de Salazar, com um
discurso nacionalista e patriótico, através de conferências de propaganda
nacional organizadas pela própria estação durante 1935. Em 1936, Botelho
Moniz participou em comícios anticomunistas no Campo Pequeno (Lisboa) e
Coliseu (Porto), apoiou a constituição da Legião Portuguesa e envolveu-se na
Guerra Civil de Espanha, dando notícias favoráveis a Franco (ver Rogério
Santos, 2005, As vozes da rádio, 1924-1939). Os capítulos 6, 7, 8, 9 (onde se
relataria a destruição das instalações da Rádio causada pelo rebentamento de
uma bomba, relacionada com a sua ligação a um dos lados da guerra
espanhola), 11, 13 e 14 da história da estação contariam alguns episódios desta
relação com a Falange espanhola.
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12. História do Rádio Clube Português (4)
Posted on 24/01/2012 by Rogério Santos
O incêndio nas instalações do Rádio Clube Português em 14 de setembro de
1935 levou a uma onda de apoio, formando-se uma comissão pró-rádio. O texto
do número 7, de 1 de junho de 1965, de Antena destacava quatro elementos na
reanimação da estação. Uma das atividades seria um espetáculo a 4 de
novembro do mesmo ano, com um concerto da Orquestra Sinfónica da
Emissora Nacional e da Orquestra Aldrabófona de Lisboa (que atuaria depois
em emissões em direto do RCP). Depois, o número de sócios do RCP atingia
7200, com apoios financeiros desses associados a somar a outros donativos. Em
terceiro lugar, CT1GL, designação do RCP, voltava a transmitir, a 26 de
novembro, dois anos depois da primeira emissão experimental. O texto não
identifica a “melodia fresca [que] saiu daqueles escombros, levando já uma nova
alma”. Finalmente, na assembleia geral de 9 de fevereiro de 1936 anunciavamse duas boas novas: um emissor de 30 kW e a permissão para voltar a ter
publicidade na programação. A visita de Salazar ao RCP em 17 de março de 1935
acelerara a resolução de um problema surgido algum tempo antes. Como escrito
acima, a Orquestra Aldrabófona tocaria com frequência na rádio: formada por
26 músicos, “magros e gordos, altos e baixos, morenos e rosados, carecas e com
cabeleiras para todos os gostos”, dirigida pelo maestro Aldrabowsky e com
instrumentos como “um piano, dois harmónios, umas quatro violas, outras
tantas guitarras, um pífaro, vários berimbaus e o resto constava, quase na
totalidade, de harmónicas de boca”.
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18. História do Rádio Clube Português (6 a 8)
Posted on 16/02/2012 by Rogério Santos
A revista Antena de 1 e 15 de julho e 1 de agosto de 1965 continuou a publicar a
história do Rádio Clube Português (capítulos 6 a 8). São três textos que ilustram
a participação da estação ao lado das tropas de Francisco Franco na Guerra Civil
de Espanha (1936-1939), em especial o seu fundador e presidente, capitão Jorge
Botelho Moniz. O texto explica a orientação política, embora a negando: “a
Direção de Rádio Clube Português resolveu, unanimente, aproveitar as
circunstâncias para realizar a primeira experiência internacional de uma grande
reportagem radiofónica de interesse público. Nunca, até então, a rádio tivera
oportunidade de efetuar coisa semelhante”. Quem escreveu isto foi o próprio
Botelho Moniz, numa palestra lida aos microfones em 18 de julho de 1957, e que
o autor dos textos da história da emissora transcreveu e que se prolongou nos
dois episódios seguintes (que ficam aqui em conjunto). Botelho Moniz colocarase, “quase desde a primeira hora, ao lado das tropas nacionalistas”, com a
estação a acompanhar “a par e passo as suas progressões, os seus combates, os
seus sacrifícios e os seus triunfos”. A História fazia-se de um dos lados do
combate.
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23. História do Rádio Clube Português (9)
Posted on 26/02/2012 by Rogério Santos
O Rádio Clube Português sofreria um atentado à bomba na noite de 20 de
janeiro de 1937. O envolvimento da estação na Guerra Civil de Espanha
acarretava inimigos. O emissor ficaria restabelecido no dia seguinte.
Nesse ano, continua o texto publicado na revista Antena, de 15 de Agosto de
1965, realizou-se uma festa por iniciativa da Casa de Entre Douro e Minho
dedicada à Telefonia Sem Fios (TSF). Numa alocução proferida na altura, dissese que a rádio era “um poderosíssimo instrumento de expansão inteletual, cujo
desenvolvimento constitui índice no progresso de um país”. Participaram a
totalidade ou quase totalidade das estações de então: Emissora Nacional, Rádio
Hertz, Rádio Renascença, Rádio Luso, Rádio Peninsular, Rádio S. Mamede,
Clube Radiofónico de Portugal, Rádio Condes, Rádio Sonora, Rádio Hertziana,
Rádio Graça, Rádio Colonial e Rádio Clube Português.
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26. História do Rádio Clube Português (10)
Posted on 26/03/2012 by Rogério Santos
Noticiário sobre automobilismo, espetáculos em direto de fados e guitarradas e
de uma cantora espanhola, recital de violino e piano – assim se diversificava a
programação do Rádio Clube Português em 1937 (Antena, 1 de setembro de
1965). Por outro lado, a estação promovia subscrições, como durante as
inundações no Ribatejo em abril desse ano, e apelos para a campanha de dádiva
de sangue. Além disso, as suas emissões chegavam à Terra Nova onde
labutavam navios bacalhoeiros portugueses.
27. História do Rádio Clube Português (11)
Posted on 11/04/2012 by Rogério Santos
A revista Antena, propriedade do Rádio Clube Português, inseria o episódio 11
no seu número de 15 de setembro de 1965. A história cristalizaria na década de
1930, período de apoio a uma das fações da guerra em Espanha por parte dos
dirigentes da estação. Daí, o tom nacionalista dos textos e a exaltação de feitos
28. na recordação de 1937, como se pode retirar da leitura do texto abaixo
reproduzido: manobras de outono por parte do exército português, primeiro dia
desportivo da mulher (com a participação de equipas espanholas), apelo ao
apoio às populações do país vizinho. Mas lembrar-se-iam as emissões de quartafeiras a cargo da orquestra da rádio sob o cuidado de Samuel Miguens. Música
ligeira e jazz eram dois tipos de música escutada na estação.
29. História do Rádio Clube Português (12)
Posted on 12/04/2012 by Rogério Santos
A 1 de outubro de 1965, a revista Antena publicava o artigo 12º da história do
Rádio Clube Português, ainda dedicado a 1937. Desta vez, coube a honra à
Orquestra Rádio, dirigida por René Bohet, simultaneamente violinista e diretor
da Orquestra do S. Luís-Cine. Bohet introduziu uma nota de jazz numa das
músicas tocadas pela orquestra da estação. Mas o artigo deu igual destaque a
uma nova rubrica (fados e guitarradas), no sentido de atrair ouvintes de estratos
mais populares, e ao número de filiados na estação, num total de 13500.
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31. História do Rádio Clube Português (13)
Posted on 25/05/2012 by Rogério Santos
A revista Antena, propriedade do Rádio Clube Português, editava no seu
número 16, correspondente a 15 de outubro de 1965, o capítulo 13 da história
daquela estação. Os anos revisitados eram 1937 e 1938, aliás tema de capítulos
anteriores. O envolvimento direto na cobertura da guerra civil de Espanha por
um dos lados dos contendores era um tópico central do texto. O último
parágrafo destacaria essa aposta, com a entrevista feita e radiodifundida à
fundadora de uma associação ligada aos falangistas (de Franco) e o pano de
fundo de apoio, a “consagração internacional do RCP”. Aumento dos sócios da
estação, entrada em funcionamento de um novo emissor de 30 kW e
alargamento do quadro de pessoal como resposta a uma nova estrutura de
programas – eis os outros elementos principais do artigo.
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33. História do Rádio Clube Português (14)
Posted on 22/06/2012 by Rogério Santos
1938 continuou no horizonte da história do Rádio Clube Português, no décimo
quarto capítulo publicado na revista Antena, de 1 de novembro de 1965. No final
do primeiro mês do ano, a Falange visitou o Rádio Clube, retribuindo o apoio
político dado ao grupo de Franco. O articulado é objetivo, sem margem para
dúvidas: “Rádio Clube Português ao tomar lugar no conflito espanhol fê-lo não
ao serviço da Espanha, mas sim ao serviço de Portugal”. O diretor da estação, o
capitão na reserva Jorge Botelho Moniz, disse, ao receber os espanhóis
revoltosos: “Ganha a batalha da rádio, cabe agora a vez aos soldados”. Na sua
juventude, Moniz fora chefe de gabinete de Sidónio Pais, o presidente da
República rapidamente assassinado.
A programação da estação, então ainda a funcionar na Parede, muito antes de se
mudar para a rua de Sampaio e Pina, aqui em Lisboa, mereceu também
destaque: a transmissão de uma ópera, a Carmen de Bizet, a que se seguiram Os
Palhaços, de Ruggero Leoncavallo, e Rigoletto, de Giuseppe Verdi. Havia leitura
prévia dos libretos. Troupe Gounot e Orquestra Rádio também operavam nessa
estética antiga, experiência que mudaria depressa, com a introdução da música
ligeira a partir do Centro de Preparação de Artistas da Emissora Nacional, no
final da década de 1940.
34. História do Rádio Clube Português (15)
Posted on 18/11/2012 by Rogério Santos
35. Como se fazia a atualização discográfica nas estações de rádio em finais da
década de 1930? Por dois processos habituais: a compra de cópias por viajantes
de avião a outros países, incluindo os comissários de bordo dessas aeronaves; a
aquisição em lojas da especialidade em Lisboa e no Porto. O texto número 15 da
história do Rádio Clube Português (Antena, nº 18, 15 de novembro de 1965)
pormenoriza orquestras (casos de Paul Whiteman, Duke Ellington e outras) e
radialistas, como Luís Aranda, como os fornecedores de nova música.
36.
37. Em 1938, continua o mesmo artigo, começaram as palestras (programas de
duração de cinco minutos em média) de temas agrícolas, em especial a
campanha do trigo, que o governo de então promoveu, no sentido de aumentar
a produção cerealífera até abastecer na totalidade o consumo interno, o que
nunca conseguiu. O artigo narra ainda dois acontecimentos: a festa da jovem
Mimi Extremadouro, artista dos programas infantis, e o começo de um
programa dominical sobre temas variados (arte, literatura e desporto).
História do Rádio Clube Português (16)
Posted on 08/01/2013 by Rogério Santos
38.
39. O texto 16 da história do Rádio Clube Português, de 1 de Dezembro de 1965
(revista Antena, propriedade daquela estação de rádio), manteve o foco no ano
de 1938. Aí foram destacados os programas religiosos, a transmissão de
concerto de música de câmara do Teatro da Trindade, feita por linha telefónica
de Lisboa para a Parede, onde estavam os estúdios da rádio, o teatro radiofónico
com o entusiasmo de Manuel Lereno.
Uma referência grande no texto foi dada ao novo emissor de 30 kW (no texto,
quilovátios) da CT1GL, o indicativo de então de Rádio Clube Português. Lê-se no
texto: “a mais perfeita sob o ponto de vista técnico, a mais potente das
emissoras peninsulares e uma das mais potentes da Europa”. Custo: mil e
duzentos contos, valor elevado se atentarmos a que as rendas de casas em
Lisboa andariam entre cem e cento e vinte escudos, continua o texto. Os
rendimentos da estação provinham das quotas dos seus sócios (e também da
publicidade, que a estação já tinha sido autorizada a fazer publicidade).
História do Rádio Clube Português (17)
Posted on 15/01/2013 by Rogério Santos
No nº 20, de 22 de Dezembro de 1965, a revista Antena publicava o episódio 17
da história do Rádio Clube Português. Se, no texto anterior, houve uma
referência ligeira ao teatro radiofónico, neste episódio a alusão ao teatro na
40. rádio foi mais profunda. Nele, enumeram-se os nomes de Ana Spranger,
Meniche Lopes, Margarida Franco, Artur Moura, Rui Furtado, Jaime Santos,
António Cruz e Azevedo Moreira, dirigidos por Manuel Lereno. O teatro
radiofónico alcançava um número elevado de ouvintes, mesmo que fosse
transmitido a horas tardias.
Outro tópico do texto era o das empresas editoras de discos e o das lojas que os
comercializavam. Lê-se no texto: “oferecer aos ouvintes portugueses música de
Portugal não era coisa fácil”. Mas, de norte ao sul, o povo cantava e dançava um
repertório de música folclórica quase desconhecido dos outros, comenta o
mesmo texto. Ainda em 1938, um ano de fortes memórias para o autor destes
episódios da história da emissora, o carro de som fez gravações de música
regional que animou, durante algum tempo, os programas da estação.
O texto exalta a renovação desse tipo de música, com a formação de novos
ranchos folclóricos, como acção directa dos programas do Rádio Clube
Português. Esta era, contudo, uma emanação do poder político, com as
campanhas do Secretariado Nacional de Informação sob a direcção de António
Ferro. No centenário, comemorado em 1940, o esforço alargava-se à Emissora
Nacional, de que se notabilizou Armando Leça, já aqui lembrado.
História do Rádio Clube Português (18)
Posted on 21/03/2013 by Rogério Santos
No número 21 da revista Antena (1 de janeiro de 1966), era impresso o 18º
capítulo da história do Rádio Clube Português. Seria o último, pois durante o
resto da existência da publicação (até 15 de Outubro de 1968) nunca mais saiu
aquela rubrica.
41. O Rádio Clube Português vivia o ano de 1938. Então, na vizinha Espanha, a
guerra civil estava a chegar ao fim, mas uma igualmente trágica guerra ia
começar, agora abrangendo a Europa toda. Mas, o autor do texto evitou referirse ao acontecimento no país ao lado, como o fez abundamente em anteriores
episódios, e debruçou-se sobre as questões económicas da estação.
42. Um défice de 48 contos seria inscrito no relatório de 1937, um valor muito
elevado na época (receitas: 398 contos; despesas: 446 contos).
Um novo emissor de 30 kW começava a trabalhar em Outubro de 1938 (1296
contos). As emissões ainda não eram diárias, mas, pelo menos aos sábados, a
voz da estação da Parede atingia toda (ou quase toda) a Europa.
Um aspecto interessante: o arranque das retransmissões de música de dança de
uma sala do Casino do Estoril. Ali, diz o texto, actuava um pianista excepcional
de jazz, Jimmy Campbell. Na história da rádio em Portugal, pelo menos até ao
começo da década de 1960, era normal as estações transmitirem directamente
música de dança de salas-concerto.
43. Rádio Clube Português – quase cem programas de rádio em 1968
Posted on 10/02/2012 by Rogério Santos
Em três números sucessivos, no início de 1968, a revista Plateia mostrou as
principais caras da programação do Rádio Clube Português (para ler melhor,
com ampliação, clicar em cima das imagens). Na longa lista de programas, a
maior parte deles deviam-se a produtores independentes, que procuravam criar
estilos característicos e ter locutores próprios.
Alguns dos programas marcaram a história da rádio em Portugal: Onda do
Otimismo, Talismã, Diário do Ar, Jornal dos Espetáculos, Programa à Gô-Gô,
Companheiros da Alegria, Clube do Disco, Clube das Donas de Casa,
Parodiantes de Lisboa, PBX, Encontro no Ar. O que mais me marcou foi Em
Órbita. Sonarte, Produções Gilberto Cotta e Parodiantes de Lisboa eram alguns
dos produtores dos programas do Rádio Clube Português. Um dispositivo
habitual da época, em especial nos programas de ondas médias, era a existência
de um par de locutores por emissão, habitualmente um homem e uma mulher.
Vários dos apresentadores, já desaparecidos, chegaram a vedetas na televisão
(RTP): Fialho Gouveia, Gomes Ferreira, Jorge Alves, Maria Helena d’Eça Leal,
Fernando Curado Ribeiro.
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46. Teatro radiofónico em 1949
Posted on 29/04/2012 by Rogério Santos
Na véspera de Natal de 1949, a Rádio Peninsular (Lisboa) emitia um programa
de teatro radiofónico, de autoria de António Guedes de Amorim (1901-1979).
Nascido na Régua, passaria pelo Porto, como empregado do comércio, e
estabelecer-se-ia em Lisboa, como jornalista de O Século e O Século Ilustrado,
romancista, nomeadamente de Aldeia das Águias (1939, prémio Ricardo
Malheiros da Academia das Ciências de Lisboa) e Os Barcos descem o Rio
(1945), e biógrafo, caso do livro Francisco de Assis, Renovador da Humanidade
(1960). As curtas biografias que encontrei referem-se à obra literária de António
Guedes de Amorim como tendo dois períodos, um com acento neo-realista ou
marxista, sobre a pobreza, a marginalidade e o real social e quotidiano do
submundo (Press.net do Douro), o outro com um pendor religioso, a partir de
1960.
Noite sem Pecado, emitido pela Rádio Peninsular, apresentou quatro
personagens: Maria Augusta, o filho Luís, a empregada Ricardina e a vizinha
Piedade. Maria Augusta estava doente (tuberculosa) e esperava notícias do
marido ausente em África para onde fora ganhar a vida mas já há muito que não
enviava cartas. O autor mostra um quadro de miséria, que nem o emprego do
filho num banco consegue debelar. Não havia dinheiro, Maria Augusta tinha
dívidas na mercearia, no talho, etc., à empregada (criada), que gastara todos os
seus parcos bens na ajuda na casa, já se deviam alguns meses de vencimento.
Nessa véspera de Natal, Luís trazia cinco contos (cinco mil escudos) que
resultara de um engano em depósito feito por um antigo sócio do seu pai. A mãe
condenou o filho e obrigou-o a devolver o dinheiro. Quase em simultâneo, o
carteiro trazia uma carta do marido de Maria Augusta, com um cheque de dez
contos e a dizer que a sua vida profissional estava melhor.
Uma das estações dos Emissores Associados de Lisboa, a Rádio Peninsular,
antecipava-se à própria Emissora Nacional a emitir teatro radiofónico, que
ensaiava nessa altura As Pupilas do Senhor Reitor, de Júlio Dinis. No seu livro
O Teatro Invisível (2006), Eduardo Street refere-se a esta produção da
Emissora Nacional como uma superprodução. Se sabemos que a transmissão da
Emissora foi um êxito, não nos chegou uma informação tão precisa da
transmissão da Rádio Peninsular. Mas certamente que foi também um êxito,
47. dado que a peça de António Guedes de Amorim foi publicada na revista Rádio
Nacional, propriedade da Emissora Nacional, nas edições de 28 de janeiro e 4 e
18 de fevereiro de 1950. Não sei quem a interpretou, mas imagino os sons: um
violino a tocar Avé Maria, de Schubert, uma campainha da porta, a tosse de
Maria Augusta, o caminhar das personagens dentro do quarto onde permanecia
a doente.
A Rádio Peninsular tornar-se-ia uma emissora reputada a emitir em Lisboa. Em
1969, a Casa da Imprensa atribuiria ao programa 1-8-0, de Aurélio Carlos
Moreira e Paulo Medeiros, da Rádio Peninsular, o prémio de melhor programa
do ano. A estação, com todas as estações dos Emissores Associados de Lisboa e
também as estações dos Emissores Norte Reunidos (Porto) e o Rádio Clube
Português, desapareceria com a nacionalização das rádios decidida
politicamente em março de 1975.
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51.
52.
53.
54. Observação (colocada em 1 de maio de 2012, pelas 15:28): ainda antes de 1949,
a Emissora Nacional e as estações privadas passaram diálogos radiofónicos e
55. folhetins radiofónicos, que queriam dizer conversas a dois e episódios
sucessivos de uma história, respetivamente. A linguagem habitual na época não
fazia uma distinção fina de diálogo, de folhetim e, mesmo, de teatro radiofónico.
A separação defendida no texto acima dá conta de um novo estilo, de uma nova
roupagem, de um novo significado do conceito de teatro radiofónico, na
sequência de Eduardo Street.
Maria Carlota Álvares da Guerra
Posted on 13/05/2012 by Rogério Santos
“O jornal era a maior parte da vida de meu pai”
(Artur Portela, filho de Artur Portela). “Houve quem se apaixonasse pela voz,
outros pelo olhar. Em todos os horários recebeu cartas de amor, ele que nos
perdoe a inconfidência” (Miriam Alves e Oriana Alves, filhas de Fernando
Alves).
Jornalistas. Pais e Filhos, da editora Fronteira do Caos (2011), é um livro em
que os filhos jornalistas escrevem sobre os pais jornalistas, proposta simples
para escrever um livro. Contei 18 jornalistas retratados, que incluem João Alves
da Costa, Manuel Flórido, Silva Costa, Appio Sottomayor, Fialho de Oliveira,
Amadeu José de Freitas, Rui Cunha Viana, Nuno Brás e outros.
Fico com o relato de João Paulo Guerra, que eu me habituei a ler e ouvir, sobre a
sua mãe: Maria Carlota Álvares da Guerra (1921-2002), em texto intitulado “O
Romance da Tua Vida Ainda por Escrever” (pp. 33-39). Maria Carlota Álvares
da Guerra – como gostava que a chamassem, assim mesmo, pelo nome
completo – era professora primária (regente), divorciada, com dois filhos a criar
56. (João Paulo e Maria do Céu, atriz fundadora do teatro Barraca, aqui em Lisboa).
O dinheiro era escasso, pelo que ela se decidiu concorrer a um lugar de chefe de
redação da Crónica Feminina (1956). Esta revista não era sufragista nem
feminista, escreve o autor-jornalista, mas pôs as mulheres das classes populares
a ler histórias, casos e segredos, ocupações e consultórios por um preço baixo,
um escudo e cinquenta centavos, o que a levou até aos 150 mil exemplares por
edição semanal. Quando a Agência Portuguesa de Revistas faliu, a jornalista viuse desempregada sem qualquer indemnização.
Maria Carlota Álvares da Guerra passou também pela rádio, caso da Rádio
Renascença, com o programa Nova Vaga, e do Rádio Clube Português. O filho
não escreve muito sobre esta longa ligação, pelo que vale a pena tentarmos
estabelecer uma curta biografia dela, a partir de uma entrevista dada a Luís
Garlito em 21 de março de 1995 (programa A Minha Amiga Rádio, Arquivo da
RTP, AHC 2658):
57. “Resolvi fazer um programa na Rádio Renascença que se chamava A Hora da
Mulher. Era um programa semanal. Convidei o meu amigo Joaquim Pedro para
fazer o programa comigo. Tratava de tudo que se relacionava com a mulher. [...]
Depois, a minha saudosa amiga Bertha Rosa Limpo, que tinha uns produtos de
beleza, no tempo de O Livro do Pantagruel, convidou-me para fazer um
apontamento na 23ª Hora. Aí é que foi o grande boom. Eu fiz uma coisa muito
58. bonita e ainda hoje penso que era muito bonita. Escrevia um apontamento,
dirigia em cada noite uma crónica a uma mulher que eu tinha na cabeça, a uma
senhora que estava em casa porque tinha torcido um pé e estava muito
aborrecida porque não sabia o que havia de fazer à vida e eu falava com ela, uma
senhora que tinha um filho em África onde andava aos tiros e que andava muito
triste, como também estive em dada altura, uma senhora que não tinha
emprego. Enfim, fiz um trabalho que ainda hoje acho que valeu a pena fazer.
[...] Havia um poema nesse livro [Toi et Moi, de Paul Géraldy] que me tocou
particularmente. [...] Saiu-me [o título] Quando os Corações se Encontram. As
pessoas julgavam que eram os corações dos namorados, mas eram os corações
das pessoas umas com as outras. [...] Foi título de livro e da crónica na 23ª
Hora. O Joaquim Pedro arranjou um indicativo musical que era um sonho, uma
coisa do Mantovani, e ele fazia questão de anunciar o título do apontamento, da
crónica. Aquilo que foi para o ar teve um grande êxito. Quando chegou ao fim do
contrato, a Bertha Rosa Limpo quis recomeçar. Tive de fazer mais crónicas e tive
muito gosto e felicidade. Tornou-se um bocado difícil porque o João Martins
quis um apontamento para o programa dele, de manhã, que se chamou Passo a
Passo, Dia a Dia [...]. Tornava-se difícil fazer trinta crónicas mensais para a 23ª
Hora mais trinta para o Passo a Passo, Dia a Dia. E depois veio o senhor
Gilberto Cotta, do Talismã, que também quis crónicas. Eu disse: não posso fazer
mais do que dia sim dia não, porque fico sem graça nenhuma”.
Maria Carlota Álvares da Guerra publicou as suas crónicas Quando os Corações
se Encontram (1965) e Lisboa Cada Dia (1967) e traduziu muitas obras,
incluindo Francesco Alberoni.
(recorte pertencente à revista Rádio e Televisão, 4 de maio de 1963)
A Força do Destino na Rádio Graça
Posted on 24/11/2012 by Rogério Santos
“Lembro-me de ir à loja de fazendas da minha avó materna e, por cima da sua
máquina de costura, onde fazia os arranjos necessários às peças de vestuário das
clientes, haver um calendário feito por ela, a lápis, com os nomes dos folhetins,
as horas e os postos que os emitiam. Este fenómeno começara em 1955, com a
emissão de um folhetim na Rádio Graça e Rádio Clube Português, que tinha por
título A Força do Destino, mas que ficou popularmente conhecido pelo folhetim
da «coxinha» ou do Tide. O folhetim era de origem sul-americana
59. posteriormente adaptado à realidade portuguesa, por haver falta de escritores
nacionais que se dedicassem a este estilo. A linha da narrativa passava pela
história simples de Margarida, uma jovem «coxinha» que andava de muletas,
amorosa e triste, apaixonada pelo médico Humberto Figueirola, casado com
uma mulher má, de nome Raquel e prima de Margarida. No final, após
inúmeras peripécias, Raquel morre e Margarida casa com o médico, de quem
tem uma filha, contribuindo assim para a reabilitação de todas as «coxinhas» do
país” (do blogue Cem Palavras, texto que segue de muito perto o que escreveu
Matos Maia no livro Telefonia).
“LG (Luís Garlito): Como é que vocês começaram a fazer teatro na rádio?
“LSF (Lily Santos Frias): Era na Rádio Graça. Tínhamos a parte de teatro
radiofónico. Eu fiz vários teatros: eu fiz o Frei Luís de Sousa, também.
“RI (Ricardo Isidro): Nasceu um dia a ideia de se fazer teatro porque havia lá
pessoas capazes de fazer com um bocadinho de habilidade.
“LG: Aí a Lily Santos e o Ricardo Isidro eram uns jovens…
“RI: Protagonizámos quase sempre. Fizemos…
“LSF: Eu comecei a trabalhar na rádio tinha nove anos. Comecei a trabalhar…
primeiro recitava, depois comecei a cantar” (Entrevista com Lily Santos,
Ricardo Isidro e Octávio Frias, por Luís Garlito, em 28 de setembro de 1993,
Arquivo da RTP AHD 14919).