Apresentação feita na Escola do GED Niterói com seus setores em Iguaba no dia 09 de Agosto de 2014.
Frei Betto (textos)
Ir. Eunice Wolff (ilustrações)
Pe. Dutra (diagramação final)
1. 10 mandamentos da
Relação entreFÉ e
POLÍTICA
Frei Betto (textos)
Ir. Eunice Wolff (ilustrações)
Pe. Dutra (diagramação final)
2.
3. 1. Sem respirar ninguém vive,
pois necessitamos
do oxigênio contido no ar.
Também não se pode viver
sem beber água.
A maior parte de nosso corpo
é formada por água,
como no planeta Terra no qual habitamos.
Como o ar, a água contém oxigênio.
Ela é uma mistura de dois gases:
o oxigênio e o hidrogênio.
Por isso é líquida e não gasosa como o ar.
4. Assim são
a Fé e
a Política.
As duas contém
o mesmo “oxigênio”: o Espírito de Deus
que tudo anima na direção do Reino.
E, assim, como as duas visam libertar,
também podem servir para dominar,
como a fé dos fariseus
ou a política dos opressores.
5. Fé e política não são a mesma coisa.
• A fé é o oxigênio que o Senhor nos dá.
• Como diz o apóstolo Paulo,
por ela captamos a presença de Deus
no qual somos, existimos e nos movemos.
• Assim como o ar nos dá vida,
a fé nos faz participantes da vida de Deus.
• Por ela somo integrados
à comunidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
• A política é uma ferramenta de construção do Reino
diferente da fé.
• Ela tem algo que não é próprio da fé:
o “hidrogênio” das análises da realidade
e das estratégias de luta.
6. Portanto, este é o 1º mandamento:
A fé e a política
destinam-se ao mesmo objetivo
de realizar o projeto de Deus na história.
Mas não são a mesma coisa,
são diferentes.
Para reflexão
em Grupo:
1. Qual o projeto de Deus na
história?
2. Como a fé e a política
podem ajudar esse projeto?
7. 2. Não há água sem oxigênio.
Se alguém tirar o oxigênio da água
ela deixa de ser matéria líquida,
vira gás de oxigênio e gás de hidrogênio.
Assim,
não há fé
sem
política.
8. A fé é um dom encarnado
• No céu não teremos fé, pois veremos o Pai face a face.
• Toda vivência de fé
é vivência de uma comunidade politicamente situada.
• Quando a comunidade cristã afirma que só faz religião
e que não se mistura fé com política
é porque ela não sabe o que diz,
ou está mentindo para encobrir com a fé
os seus reais interesses políticos.
• Toda comunidade cristã aparentemente apolítica
só favorece a política dominante:
Passa cheque em branco
aos políticos que se encontram no poder.
9. •Jesus, em razão da sua fé,
morreu assassinado
como prisioneiro político.
•Como Jesus, o cristão deve viver sua fé
no compromisso libertador
com os oprimidos.
•Seja qual for o modo de o cristão
viver este compromisso evangélico,
ele sempre terá consequências políticas.
10. Portanto, este é o 2º mandamento:
A vivência da fé
é necessariamente política.
Ela pode sacralizar a opressão
ou iluminar a libertação
Você conhece algum fato
que sirva de exemplo
para as duas realidades?
Para reflexão
em Grupo:
11. 3. O ar que respiramos não custa nada.
É de graça. Assim é a fé:
– é dom de Deus.
Para respirar, basta ter
as narinas abertas.
Para acolher a fé, basta ter
ouvidos e coração abertos
a Deus, ao próximo, ao amor.
Pela fé participamos
do projeto de Deus
na história humana.
A água não é de graça.
Custa dinheiro, exigem-se técnicos e ciência para obtê-la.
Assim é a política, não é dom de Deus, é um aprendizado.
Exige conhecimento
de suas regras, de sua história, de seu programa, de seus objetivos.
Pela política, participamos do projeto humano
de construção de uma sociedade melhor.
12. Portanto, este é o 3º Mandamento
A Fé é um dom
que nos vem de Deus,
através da Igreja,
da comunidade dos que creem.
A Política é uma ferramenta
que exige aprendizado.
É arriscado improvisar a política.
Para reflexão
em Grupo: Como aprender política?
13. 4. O ar que respiramos
e a água que bebemos
podem ficar poluídos.
Perdem a pureza
e ficam contaminados
por micróbios
e bactérias
quando não são
bem tratados.
Assim acontece com a fé e a política.
Uma política voltada contra o povo pode poluir a fé.
E uma fé desencarnada,
legalista, contrária aos direitos dos necessitados,
contamina a política.
14. Portanto, este é o 4º mandamento:
Uma política
contrária aos direitos do povo
faz da fé expressão
de uma religião “ópio do povo”.
Esta “religião” só ajuda aos interesses dos opressores.
Para reflexão
em Grupo:
1. Como a Religião tem ajudado os
opressores?
2. Como tem ajudado os oprimidos,
excluídos?
15. 5. A água não pode existir
sem união do oxigênio
com o hidrogênio.
Mas, o ar que respiramos
não necessita
e não contém quase
nenhum hidrogênio.
Porém, o que seria da nossa vida
se não houvesse o sol?
O sol é um imenso
balão de hidrogênio em combustão,
isto é, uma bola de fogo,
um milhão de vezes maior do que a terra.
16. • Assim, a política pode ser bem feita
por quem não tem fé.
• E nem sempre os que têm fé
fazem política bem feita.
• O Concílio Vaticano II
reconhece a autonomia da política.
• Autônomo é o que tem movimento próprio.
• Um ateu pode fazer uma política justa,
favorável aos oprimidos.
Porém...
17. Porém, a fé é o sol
que desponta no horizonte da política.
Isso não significa que deve haver “política cristã”.
Deve haver uma política justa,
democrática, voltada para a maioria.
Uma política assim, inevitavelmente
deverá se encontrar com as verdades da fé.
Aliás, isso já acontece
a cada vez que a política realiza na sociedade
os valores evangélicos: libertação dos pobres
e construção da sociedade fraterna.
18. Portanto, este é o 5º mandamento:
A Política é autônoma,
não depende da fé.
Mas, uma política popular caminha necessariamente
na direção do horizonte apontado pela fé.
1. Você participa de algum movimento
que não seja da Igreja? Qual?
2. Como a fé o(a) ajuda nesta
participação?
Para reflexão
em Grupo:
19. 6. O ar enche os pulmões
e envia oxigênio
para alimentar o nosso organismo.
Mas, o ar não serve para lavar as mãos.
A água limpa o corpo mas, não serve para respirar.
Sem balão de oxigênio, o mergulhador morre
afogado no fundo do mar.
Assim, a fé não tem receitas
para resolver administrativamente problemas
como a dívida externa, a reforma agrária,
a moradia ou a saúde pública...
Isto é tarefa da política.
20. A fé mostra o sentido da política: dar vida a todos.
Mas, o jeito de dar vida
depende da linha da política.
Se for uma política injusta, poucos terão vida
às custas da morte de muitos,
como ocorre no capitalismo.
A política é a estrada
e a fé o mapa da estrada.
Sem mapa, fica difícil
construir uma estrada
que conduza ao Reino.
Sem estrada,
o mapa fica só no papel.
21. Portanto, este é o 6º mandamento:
Fé e política
são coisas diferentes
que se completam
na prática da vida.
Para
reflexão
em grupo:
Contar fatos que ilustrem
esse mandamento.
22. 7. Para ser puros e saudáveis, o ar e a água precisam ser
tratados.
Por isso, os hospitais oferecem oxigênio puro aos pacientes.
E, nas casas, a água deve ser fervida ou filtrada,
antes de ser tomada.
Do mesmo jeito, a fé exige
participação na comunidade, para ser evangélica.
E a política exige participação nas lutas populares
e o estudo dos problemas sociais, para ser consequente.
23. Portanto, este é o 7º mandamento:
A fé é “tratada” na Igreja,
onde é celebrada, anunciada e refletida.
A política é melhor “tratada”
nos movimentos populares, sindicais e nos partidos
que assumem os direitos dos oprimidos e excluídos.
Para refletir
em grupo:
1. Qual a importância da participação
na Igreja e na política?
2. Por que há conflitos, quando uma pessoa
quer participar de ambos?
24. 8. Todo mundo respira o ar,
mas nem todos tomam banho diariamente
e do mesmo jeito.
Assim, na Igreja os cristãos têm na fé
o ar comum que todos respiram.
Mas, na hora de levar para a prática os valores da fé,
nem todos agem do mesmo jeito e na mesma direção.
25. • A água é sempre a mesma,
o jeito de usá-la é que varia.
• Assim, é preciso não exigir na política,
o mesmo consenso que há na Igreja em torno da fé.
• Quando o cristão ingressa na esfera da política,
não deve esperar que todos
estejam mais ou menos de acordo,
como parece acontecer na comunidade eclesial.
• Assim como a água pode conter
vermes, sal ou cloro,
a política tem ideologias, tendências,
grupos de pressão
e ambições pessoais ou de grupos.
26. • Na política, cada uma de suas esferas
– a dos movimentos populares,
a sindical
ou a partidária –
têm seu jeito próprio,
sua especificidade,
seus critérios,
sua linguagem própria.
• Quem passa
de uma esfera a outra,
sem estar atento
a essas diferenças,
acaba “quebrando a cara”!
Movimentos
Populares
Área
sindical
Área
partidária
27. Portanto, este é o 8º Mandamento
Não devemos confundir a esfera
da explicitação religiosa da fé, a Igreja,
com as esferas políticas.
Mas, embora diferentes,
são complementares.
Para reflexão
em grupo:
Como, na sua participação,
fé e política
se complementam?
28. 9. Se o rio fica sujo, poluído,
o oxigênio da água diminui e os peixes morrem asfixiados.
A água do rio necessita da pureza do oxigênio
para preservar a vida.
Assim acontece com a política:
ela precisa dos valores evangélicos para não ficar poluída.
29. • Valores como direitos dos necessitados, vida
para todos, partilha de bens,
poder como serviço... e outros.
• Sem esses valores, a política vira politicagem
e a corrupção mata o projeto da vida.
• Isso não significa que a política
deva ser feita em nome da fé.
• Ela deve ser feita em nome
do amor, da verdade e da justiça
aos oprimidos e excluídos.
30. Portanto, este é o 9º mandamento:
A fé cristã contém valores
que criticam e norteiam
a atividade política.
Para reflexão
em grupo:
1. Quais são esses valores?
2. Eles conseguem, de fato,
atingir e nortear a atividade política?
31. 10. Para ser pura,
a água exige
cuidados
ou tratamento.
Assim,
para ser popular
a política exige
mediações (meios):
• vinculação com a luta popular,
• reflexão e análise dos problemas,
• teoria política,
• conhecimento da história das forças políticas, etc...
32. ● O ar é à vontade.
● Mas, se a pessoa não faz exercícios, não anda,
o pulmão começa a diminuir e fica atrofiado.
● A pessoa fica sem resistência.
● O mesmo acontece com a vida de fé:
se não participamos
▪ da comunidade,
▪ dos sacramentos,
▪ da leitura da Bíblia,
▪ das celebrações e orações...,
a nossa fé vai ficando fraca, atrofiada.
33. Portanto, este é o 10º mandamento:
A política é tanto mais popular
quanto mais a gente se encontra
ligado à luta do povo.
A fé é tanto mais evangélica
quanto mais a gente se liga ao Deus da vida,
através da comunidade cristã.
Para reflexão
em grupo:
Vamos dizer como cada um
se sente ligado à luta do povo
e à construção do projeto
do Deus da vida.
34. Sem essas amarras
ao grande navio da libertação,
o nosso bote fica à deriva,
solto entre as ondas do
imprevisto
e acaba perdendo o rumo.
36. «Envolver-se na política é uma
obrigação para um cristão!»
...disse o Papa Francisco, ao responder perguntas,
colocadas por algumas das nove mil crianças e jovens
de escolas e movimentos Jesuítas
com quem se encontrou no Vaticano (1º de agosto/2014).
37. • Os cristãos não podem «se fazer de
Pilatos, lavar as mãos»:
•«Devemos nos envolver na política,
porque a política é uma das formas
mais elevadas da caridade,
visto que procura o bem comum»,
frisou Francisco.
38. «Os leigos cristãos
devem trabalhar na política.
Dir-me-ão: não é fácil.
Mas também não o é tornar-se padre.
A política pode estar demasiado suja,
mas está suja porque os cristãos
não se implicaram
com o espírito evangélico.
É fácil atirar culpas... mas eu, que faço?
Trabalhar para o bem comum
é dever de cristão!»
39.
40. EVANGELII GAUDIUM:
“A Alegria do Evangelho”, nº 205
• Peço a Deus que cresça o número de políticos
capazes de entrar num autêntico diálogo
que vise efetivamente sanar as raízes profundas
e não a aparência dos males do nosso mundo.
A política, tão manchada, é uma sublime vocação,
é uma das formas mais preciosas da caridade,
porque busca o bem comum.
• Rezo ao Senhor para que nos conceda
mais políticos, que tenham verdadeiramente a peito
a sociedade, o povo, a vida dos pobres.