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DRAMATURGIA DA IMPROVISAÇÃO
construção efêmera da cena teatral
Mariana Muniz
Professora do Programa de Pós-graduação em
Artes e da Graduação em Teatro da
Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG.
Resumo: O presente artigo propõe uma re lexão sobre o papel do ator nos processos de criação cênica na
contemporaneidade. Tanto em processos colaborativos, como na prática da improvisação diante do público,
o ator é dono o material cênico, realizando escolhas que determinam um trajeto para sua criação. Neste
contexto, a improvisação surge como uma importante proposta metodológica, fazendo-se necessária sua
relação com a dramaturgia.
Palavras-chave: criação cênica; improvisação; dramaturgia atoral.
Abstract: This paper proposes a consideration about the actor´s role on contemporary processes of scenic
creation. In rehearsals (theatrical researches) based on collective and/or improvisation practices, the actor has the decision power over his work. He chooses what will be part of his artistic itinerary. As a result,
improvisation turns into methodology in this scenario making performance and dramaturgy engage in a
relationship.
Keywords: scenic creation; improvisation; actor´s dramaturgy.

O

entendimento

do

contemporaneidade

ator

na

passa

por

a encenação e a dramaturgia (GUINSBURG,
2006, p. 253).

considerá-lo sujeito ativo da criação

Nesses processos, o ator colabora com

teatral, onde os limites da autoria são tênues

material cênico previamente elaborado por

e as relações de produção de inem-se, muitas

ele em proposições que, na grande maioria

vezes, por uma concepção horizontal das

das vezes, partem de improvisações mais ou

diversas funções de um espetáculo. Sendo

menos pré-determinadas. No caso do processo

assim, a tríade comum à realização de um

colaborativo, a relevância destas propostas se

espetáculo teatral, diretor-ator-dramaturgo,

revela no embate entre as diversas funções,

apesar de manter seus lugares, afazeres e

tendo a cena como elemento balizador das

conhecimentos

articulam-se

discussões (ABREU, 2003). Nesse contexto,

transdisciplinarmente abrindo-se à intensa

a qualidade de uma cena particular e

colaboração

pro issionais

também a sua coerência com a concepção

envolvidos em cada uma das áreas de criação.

dos colaboradores determinariam a decisão

No Processo Colaborativo, na Criação Coletiva,

(manutenção, transformação ou exclusão) em

e em outros processos a ins, a função do ator

torno do resultado espetacular. A eleição da

expande seus limites originais e alcança outras

cena como o balizador das discussões travadas

áreas do espetáculo cênico, principalmente

entre os diversos artistas colaboradores não

especí icos,
dos

diversos

• João Pessoa, Vol. 1, n. 2, 89-96, jul./dez. de 2010

89
•
INSTRUMENTOS E MÉTODOS

Mariana Muniz

corresponde a recusar aspectos subjetivos

su icientes e necessárias que esclareçam o que

da leitura. A cena pode até apresentar maior

é dramaturgia. No entanto, perceberemos, no

tendência à objetividade devido ao seu caráter

breve histórico que apresentamos a seguir,

material, no entanto, o olhar sempre será

algumas possibilidades de caracterização deste

subjetivo. Decorre daí um embate criativo e

conceito.2

produtivo, atribuindo mais aspectos do que

O termo dramaturgia tem passado por

o desejado para uma “suposta” objetividade.

diversas transformações ao longo da História

Ainda assim, a improvisação, e eventualmente

do Teatro. Na concepção aristotélica, é pensada

sua “ ixação” em cena, se torna um dos

como composição de uma ação, ou seja,

principais recursos metodológicos para a

estruturação dos diversos componentes do

proposição em processos deste gênero.

drama: tempo, espaço, personagem, linguagem,

Também nas manifestações cênicas

entre outros. No séc. XVIII, com o aparecimento

contemporâneas vemos a grande presença

da Dramaturgia de Hamburgo, de Lessing, sua

da improvisação não apenas como processo,

concepção foi ampliada. Lessing in luencia

mas, também, como resultado apresentado a

determinantemente a posterior função de

público (MUNIZ, 2005). Desde o happening, até

dramaturgista presente a partir do século

a performance, passando pela improvisação-

XX. A partir dele, a dramaturgia não se atém

como-espetáculo1, o ator (ou performer)

exclusivamente à função de autor teatral, mas

é chamado a construir dramatúrgica e

amplia-se àquele que articula teoricamente

cenicamente o espetáculo (ou a performance)

os

no momento mesmo de sua apresentação.

teatral, questiona, indaga, aponta falhas e

Este procedimento, assim como o Processo

possibilidades, tira do eixo o que se encontra

Colaborativo, exige do ator um domínio das

estagnado e contribui para a construção da

ferramentas técnicas, sensíveis e expressivas

cena, independente da escritura da mesma.

do teatro em suas mais diversas competências,

Ampliam-se, portanto, as possibilidades de

dentre elas, destaca-se a dramaturgia como

colaboração deste pro issional no processo de

elemento de composição da cena.

criação teatral.

diversos

elementos

da

produção

Deixemos claro, desde já, que tomamos

Bertolt Brecht introduziu o épico na

como dramaturgia um conceito impossível

cena teatral e rompeu com a identi icação

de de inição, uma vez que não existe a

e causalidade das ações por meio do efeito

possibilidade,

de

de distanciamento presente na encenação,

encontrar as condições ao mesmo tempo

interpretação dos atores e na concepção

na

contemporaneidade,

2
1

90

Termo que diz referência à prática da
improvisação diante do público a partir das
propostas de Keith Johnstone, Robert Gravel, Del
Close, entre outros.

Sobre as diferenças entre de inição e
caracterização dentro da Lógica Proposicional ver:
AZAMBUJA, Abílio. Lógica e Argumentação. http://
abilioazambuja.sites.uol.com.br/49logprop.html.
Acesso em 12/12/2009.
• João Pessoa, Vol. 1, n. 2, 89-96, jul./dez. de 2010
Dramaturgia da improvisação

personagem é levado a escolher enquanto
sujeito da história e não ser apenas uma
marionete do destino. O diretor/dramaturgo
alemão modi icou profundamente a maneira
de encenar os clássicos teatrais por meio

INSTRUMENTOS E MÉTODOS

Brecht, obedece a uma ordem dialética. O ator/

•

processo criativo. Esta democratização,
que in luenciará as gerações vindouras,
caracteriza-se por uma abertura essencial a possibilidades de colaboração
variadas: as contaminações formais,
intrínsecas à própria gênese da performance instalam-se irreversivelmente e
a participação activas dos atores, quer
através das técnicas de improvisação
quer dos métodos de criação coletiva.
(PAIS, 2004, p.43).

dramatúrgica do espetáculo. A cena, em

da adaptação dos textos, atualizando-os. Os
diversos elementos constitutivos da encenação

Lehmann (2007) introduz o conceito

reformulam e dão sentido ao espetáculo,

de teatro pós-dramático na análise da cena

estabelecendo novas relações entre a cena, o

contemporânea. Sua teoria baseia-se na tese

texto e o momento presente. Segundo Pais:

de que o teatro contemporâneo se estabelece

“Apesar de manter uma certa primazia na

para além do dramático, ou seja, para além

medida em que se mantém como elemento-

da ação. A dramaturgia contemporânea e sua

base do espectáculo, o texto da dramaturgia

estrutura são pensadas em direções opostas às

brechtiana vê-se desobrigado de uma autoria

concepções aristotélicas de unidade de ação e

intocável, passando a ser apropriado por outra

seu desdobramento em ações correlatas. A cena

voz que nele projecta a sua visão” (2004, p.37).

atual conjuga diversos elementos oriundos

Nas performances e happenings das

das grandes transformações vanguardistas

décadas 1960/1970 estabelece-se uma ruptura

do século XX, que impossibilitam uma relação

profunda com a supremacia do texto teatral e,

logocêntrica com o espetáculo e estabelecem

consequentemente, da autoria. A cena passa

outros pontos de comunicação e expressão

a ser estruturada a partir do performer e o

para além do entendimento do enredo ou

vínculo com o público se dá, prioritariamente,

fábula.

pelo

sinestésico,

reivindicando

o

De fato, a categoria adequada para o
novo teatro não é a de ação, mas a de
estado e situação. O teatro nega intencionalmente, ou ao menos relega
a segundo plano, a possibilidade de
“desdobramento do enredo” que lhe é
própria na linguagem de arte temporal.
Isso não exclui uma dinâmica particular que mobiliza no âmbito do estado
– poder-se-ia chamá-la, por distinção
com a dinâmica dramática, de dinâmica cênica. (LEHMANN, 2007, p. 113)

estabelecimento de lógicas múltiplas na
concepção/recepção do evento cênico. Há uma
rejeição ao texto como pilar da autoridade
logocêntrica. Assim, a igura do dramaturgo se
dilui, tendo o performer ocupado a autoria da
sua própria produção.
Destronando o primado do texto e polemizando a hierarquia de funções no
processo criativo encimada pelo autor
e pelo encenador, a performance desenvolve estratégias alternativas de estruturação dramatúrgica: ela procura
uma democratização dos materiais e do

A cena contemporânea caracteriza-se
pela pluralidade de concepções e articulações
da dramaturgia e da função do dramaturgo.

• João Pessoa, Vol. 1, n. 2, 89-96, jul./dez. de 2010

91
•
INSTRUMENTOS E MÉTODOS

Mariana Muniz

No Brasil vivenciamos uma crescente diluição

coleção Theatre and Performance Practices

do conceito de autor teatral e da primazia

sob o título “Dramaturgy and Performance”.

do texto sobre outros fatores da encenação.

Tentando chegar a um terreno comum, ainda

Mas, é interessante observar como em outras

que instável, da caracterização de dramaturgia,

culturas, talvez construídas em bases mais

mesmo

verbais do que a nossa, a igura do dramaturgo

performance, a irmam os autores:

mantém-se como centro da produção teatral
contemporânea. Em um artigo intitulado “Um
mapa da dramaturgia contemporânea: uma
perspectiva britânica”, o crítico inglês Michael
Billington a irma a primazia da igura do autor
como mola propulsora da produção teatral
inglesa atual, apesar de destacar a crescente
presença de outros modos de produção cênica
e de relação com o público e com o texto.
Apesar do reconhecimento do interesse que
essas novas produções geram, principalmente
em platéias jovens, o crítico inglês rea irma
sua crença na superioridade textual:
Sou totalmente a favor das experiências
e ico contente de ver as novas companhias estarem rede inindo a natureza
do teatro. No entanto, também acredito piamente na primazia daquilo que
chamamos de “teatro baseado no texto” e no fato de que uma peça é capaz
de atingir, por intermédio da palavra,
um nível de complexidade intelectual e
emocional raramente alcançado de outra forma. De qualquer maneira, existe
espaço para todas as vertentes. Porém,
em parte pela nossa história, e em parte
por sermos uma cultura tão verbal, não
consigo imaginar que na Grã-Bretanha
o autor venha algum dia a ser destituído de supremacia. (BILLINGTON, 2008,
p.75).

Cathy Turner e Synne K. Behrndt
lançaram-se a di ícil tarefa da descrição de
dramaturgia na performance. O resultado
destas pesquisas foi lançado em 2008 na
92

quando

aplicada

à

questão

da

A ‘dramaturgia’ de uma peça ou performance pode também ser descrita como
‘composição’, ‘estrutura’, ‘fabricação’.
Onde o termo ‘dramaturgia’ é usado
para descrever uma atividade – ‘fazendo dramaturgia’ (...) esta atividade concerne um engajamento com o trabalho
de composição. ‘Fazendo dramaturgia’
usualmente implica uma discussão
sobre estratégias composicionais e
efeitos. (...). As palavras, fazendo dramaturgia, formando dramaturgia ou
trabalho dramatúrgico podem implicar, todas, em um engajamento com o
atual processo prático de estruturação
do trabalho, combinado com a análise
re lexiva que acompanha este tipo de
processo. (TURNER & BEHRNDT, 2008,
p. 03)

Continuando este raciocínio, Turner e
Behrndt tratam de desvincular o conceito de
dramaturgia da necessária presença de um
dramaturgo, a irmando a impossibilidade da
existência de qualquer trabalho cênico no
qual não existam estruturas ou estratégias de
composição. Segundo os autores:
Está claro que pode haver composição,
análise performática e performance
sem, necessariamente, o envolvimento de um dramaturgo. Nós podemos,
ainda, discutir o termo ‘dramaturgia’
isoladamente do pro issional ‘dramaturgo’. Se nós não izermos esta distinção, estaremos dizendo que trabalhos
sem dramaturgo têm uma dramaturgia
inadequada ou até mesmo inexistente:
isto seria uma a irmação tola. Na verdade, é impossível uma peça não ter
dramaturgia, assim como é impossível
que não tenha estrutura ou estratégias

• João Pessoa, Vol. 1, n. 2, 89-96, jul./dez. de 2010
afirma em um artigo intitulado “Dramaturgia e

Se por um lado, o teatro pós-dramático é

Decisões (a serem tomadas pelos improvisadores em cena) 4 que atingem o
tema, o argumento, o manejo do espaço,
o tempo, o ritmo, o estilo da improvisação... Tal nível de atenção investida naquilo que está sendo contado em como
vai sendo contado, também dá base para
sentir quando é o momento propício ao
surgimento de novos acontecimentos em
cena, o momento de alcançar o clímax ou
o momento de chegar ao final de uma improvisação (CORTES, 2006, p.14).

improvisação Teatral”:

uma das principais tendências da dramaturgia
atual, a cena Brechtiana e, inclusive, a
dramaturgia centrada nos desdobramentos
do drama moderno continuam presentes na
produção teatral contemporânea. Não é nosso
objetivo julgar ou escolher uma única maneira
de trabalho com o material dramatúrgico. Seja
como composição da ação e do enredo, seja

A partir das citações acima, podemos

como articulação da cena, seja a adaptação
do texto, seja como dinâmica cênica ou
outras formas que venhamos a conhecer, a
dramaturgia demanda escolhas e estratégias
e é questão candente na contemporaneidade.
E o ator é, cada vez mais, chamado a discutir,
caso

da

quais os improvisadores estão trabalhando
dentro do universo da improvisação-comoespetáculo. Início, meio e im, argumento,
tema, estilo, acontecimento, clímax, inal são
palavras que nos remetem diretamente a uma

ocupar e transitar por este lugar.
No

identi icar as noções dramatúrgicas com as

improvisação-como-

espetáculo, vê-se com curiosidade como a
radicalização de uma proposta de criação
efêmera frente ao público baseia-se numa
concepção de dramaturgia centrada na noção
de con lito, unidade de ação, início, meio e im,
ainda que a cena e a imagem sejam fatores

concepção aristotélica ou dramática centrada
na ação, no con lito e em seus desdobramentos.
Para

os

conhecedores

do

percurso

da

improvisação iniciado por Johnstone e Viola
Spolin, entre outros, merece destaque o
avanço na percepção da técnica exposto por
Cortes5, uma vez que, frente ao sim a tudo, à

determinantes. Bernard Sahlins, importante

espontaneidade como única possibilidade de

colaborador do Second City3, afirma: “Eu defino

expressão livre, retomamos a possibilidade da

a cena como uma unidade dramática curta, com

escolha. Passado um momento de treinamento

início, meio e final” (SAHLINS, 2004, p.19).
Borja

Cortes,

improvisador

do

4
5

Impromadrid, um dos grupos europeus mais
importantes da improvisação-como-espetáculo,

3

Um dos mais antigos grupos de improvisaçãocomo-espetáculo residente nos EUA e no Canadá.
• João Pessoa, Vol. 1, n. 2, 89-96, jul./dez. de 2010

Parêntese da autora.
É importante frisar que esta discussão não foi
apontada exclusivamente pelo improvisador
espanhol, tendo sido campo das mais variadas
publicações na área e também de debates
e espetáculos nos seguintes festivais de
improvisação: FESTIM (Madrid – 2005), I Festival
Internacional de Improvisação Jogando no Quintal
(São Paulo – 2006), II Festival Internacional de
Improvisação Jogando no Quintal (São Paulo –
2007), FIMPRO (BH-2008), entre outros.
93

INSTRUMENTOS E MÉTODOS

de composição. (TURNER & BEHRNDT,
2008, p. 03-04)

•

Dramaturgia da improvisação
•
INSTRUMENTOS E MÉTODOS

Mariana Muniz

no qual o improvisador deve, realmente, dizer

e compreender são implicações necessárias

sim a suas primeiras idéias e impulsos, a fim

ao ator durante o ato improvisacional,

de desbloquear a criatividade e entrar no fluxo

independentemente

necessário à criação, devemos nos enveredar no

ou da relação com cada um destes pontos

terreno das escolhas.

mencionados. É possível optar pela não-

Escolher, selecionar é criar um trajeto

comunicação,

pela

da

estética

escolhida

não-compreensão6,

no

na criação, construir uma estrutura, trata-

entanto, esta opção está vinculada a uma

se, portanto, de uma ação dramatúrgica. No

relação forma/conteúdo daquela improvisação

entanto, parece que há apenas uma concepção

especí ica e, portanto, de ine-se como sua

da prática e da estrutura dramatúrgicas e sua

estrutura dramatúrgica.

possibilidade de aplicação na improvisação

Na improvisação, a interlocução entre

diante do público. Faz-se necessário ampliar

cena e dramaturgo radicaliza-se uma vez

esta

outras

que o ator transforma-se no cerne da criação

metodologias e pensamentos da dramaturgia

teatral, sendo ele o responsável pelas escolhas

na improvisação teatral e na criação atoral.

estruturantes daquilo que é levado a público.

concepção

e

experimentar

A construção improvisada da cena

Isso não quer dizer a ausência de uma direção

requer escolhas necessárias à expressão da

prévia ou de um dramaturgista que contribui

criatividade. Segundo Ostrower:

para a concepção do espetáculo, seu estilo,

Criar é, basicamente, formar. É poder
dar uma forma a algo novo. Em qualquer que seja o campo de atividade,
trata-se, nesse “novo”, de novas coerências que se estabelecem para a mente
humana, fenômenos relacionados de
modo novo e compreendidos em termos novos. O ato criador abrange, portanto, a capacidade de compreender; e
esta, por sua vez, a de relacionar, ordenar, con igurar, signi icar. (OSTROWER,
2008, p.09).

suas escolhas gerais, independentes de cada
improvisação. Muitas vezes, o dramaturgista e
diretores são responsáveis por treinamentos e
exercícios especí icos à solução de problemas
cênico-dramatúrgicos

das

improvisações

durante o processo de criação do espetáculo,
e, também, durante a etapa de apresentação a
público. No entanto, sem negar a importância
destas funções, na improvisação o ator é dono

Formar

em

cumplicidade,

no

seu

universo de possibilidades técnicas, estéticas
e políticas, pode ser uma de inição efêmera
do termo dramaturgia na contemporaneidade.
Relacionar,

ordenar,

con igurar,

signi icar

é estabelecer parâmetros para a escolha
da estruturação dos diversos elementos de
forma/conteúdo de um processo de criação.
Dar forma, expressar, comunicar, apreender
94

6

É discutível a efetividade da “não-compreensão”,
pois a comunicação é uma via de mão dupla
e a percepção de quem assiste pode, ou não,
atribuir diversos conteúdos a formas diversas,
intervindo nesta percepção elementos culturais,
pessoais e emocionais. A relação entre signi icado
e signi icante é mediada pelo Eu, e, portanto,
não é possível ser totalmente controlada e nem
partir da ausência de elementos inconscientes
ou subconscientes. No entanto, também é
verdade que não existe criação sem a presença
da consciência e da necessidade humana de
ordenação a partir de escolhas, casuais, ou não.
• João Pessoa, Vol. 1, n. 2, 89-96, jul./dez. de 2010
primeiro resultado foi montado e apresentado

público na construção conjunta da cena.

o espetáculo de improvisação Sobre Nós,

Podemos, portanto, comprovar uma

estreado no FIMPRO – Festival Internacional

tendência do teatro contemporâneo em trazer

de Improvisação Teatral, em 2008, em

o ator ao centro da criação teatral, fazendo-o

Belo Horizonte. Trata-se de um espetáculo

relacionar-se com os diversos elementos

composto

e funções desta criação. Desta forma, é

de cinqüenta minutos a partir de história

fundamental re letir sobre uma formação

contada pelo público na entrada do teatro. A

capaz de constituir atores conhecedores das

cada noite, contam-se diferentes histórias e

técnicas e linguagens especí icas de cada

surge um espetáculo totalmente distinto. Em

função e sua articulação transdisciplinar.

seu processo de montagem, optou-se pelo

No caso da dramaturgia, a urgência em

por

uma

única

improvisação

aprofundamento em técnicas e ferramentas

articulá-la à prática teatral advém da escassa

dramatúrgicas

em

uma

presença de uma formação especí ica na

fragmentada e, muitas vezes, cíclica. O

área e de sua importância na construção da

treinamento dos improvisadores por meio da

cena improvisada.

Como aliar a escrita

escrita de cenas teatrais foi de fundamental

cênica à prática atoral no contexto da

importância para capacitá-los para este tipo de

formação do ator através da improvisação?

improvisação.

Esta é a pergunta central que motiva parte das

Assim,

acreditamos

construção

necessário

atuais pesquisas realizadas no NACE/UFMG

continuar re letindo e pesquisando sobre a

– Núcleo de Pesquisa Transdisciplinar em

articulação entre dramaturgia e improvisação

Artes Cênicas, envolvendo professores, pós-

na busca de procedimentos metodológicos

graduandos, bolsistas de Iniciação Cientí ica

que realmente capacitem o ator a ocupar

e pesquisadores voluntários. Nas pesquisas

uma

práticas e teóricas desenvolvidas até agora,

cênica. A introdução de um estudo teórico-

alguns

apontados,

prático da escrita cênica no processo de

deslocando a prática da improvisação de

criação de um espetáculo ou na formação do

seu caráter formativo e aproximando-a a

ator vai além de um simples encadeamento

concepção do ator-dramaturgo, ou seja, aquele

de

que cria seu próprio material, realiza suas

realizadas

escolhas e constrói dramaturgicamente a cena

necessário um pensamento dramatúrgico

no momento mesmo de sua apresentação ao

articulado com a necessidade de composição

público.

cênica improvisada, tanto na construção

questionamentos

são

função

estilos,

transdisciplinar

ferramentas
por

grandes

e

na

criação

possibilidades

dramaturgos.

É

A possibilidade da escolha, ainda no

colaborativa de espetáculos a serem ixados

terreno da espontaneidade, é uma das apostas

como na improvisação diante do público.

que tem sido feita nestas pesquisas. Como

A improvisação, portanto, aparece como

• João Pessoa, Vol. 1, n. 2, 89-96, jul./dez. de 2010

95

INSTRUMENTOS E MÉTODOS

do jogo, cabe a ele mediar a relação com o

•

Dramaturgia da improvisação
•
INSTRUMENTOS E MÉTODOS

Mariana Muniz

importante

aliada

metodológica

destas

práticas.

CORTES, Borja. Dramaturgia da Improvisação.
In: A Chuteira – revista sobre palhaço e
improvisação. Ano I, n°1, 2006. P. 14-16

Artigo recebido em 7 de março de 2010.
Aprovado em 15 de abril de 2010.

GUINSBURG, Jacó et al. (org). Dicionário de
Teatro Brasileiro: temas, formas e conceitos. São
Paulo: Perspectiva, 2006.

Referências Bibliográ icas

LEHMANN, Hans-Thies. Teatro Pós-dramático.
São Paulo: Cosac & Naify, 2007.

ABREU, Luís Alberto. “Processo Colaborativo:

MUNIZ, Mariana. La improvisación como

relatos e re lexões sobre uma experiência de

espectáculo: principales experimentos y técnicas

criação”. In: Cadernos da Escola Livre de Teatro.

aplicadas a la formación del actor-improvisador.

Ano 1, n° 0, março de 2003.

Tese Doutoral. Alcalá de Henares: Universidad

ARAÚJO, Antônio. A gênese da Vertigem:

de Alcalá, 2005.

processo de construção de Paraíso Perdido.

OSTROWER, Faiga. Criatividade e Processos de

Dissertação de Mestrado. São Paulo: ECA-USP,

Criação. Petrópolis: Vozes, 2008.

2002.
PAIS, Ana. O Discurso da Cumplicidade.
ARISTÓTELES et al. A Poética Clássica. São

Dramaturgias Contemporâneas. Lisboa: Colibri,

Paulo: Cultrix, 2005.

2004.

AZAMBUJA, Abílio. Lógica e Argumentação. In:

SHALINS, Bernard. Where we came from: a

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html. Acesso em 12/12/2009.

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BILLINGTON, Michael. Mapa da dramaturgia

Northwestern University Press, 2004, p. 18-23.

contemporânea: uma perspectiva britânica.

TURNER, Cathy; BEHRNDT, Synne. Dramaturgy

In: Itaú Cultural. Próximo ato: questões da

and Performance. In: Theatre & Performance

teatralidade contemporânea. São Paulo: 2008,

Practices. New York: Palgrave, 2008.

Almanac

of

improvisation.

Illinois:

p. 72-81.

96

• João Pessoa, Vol. 1, n. 2, 89-96, jul./dez. de 2010

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A improvisação como processo de criação cênica

  • 1. DRAMATURGIA DA IMPROVISAÇÃO construção efêmera da cena teatral Mariana Muniz Professora do Programa de Pós-graduação em Artes e da Graduação em Teatro da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. Resumo: O presente artigo propõe uma re lexão sobre o papel do ator nos processos de criação cênica na contemporaneidade. Tanto em processos colaborativos, como na prática da improvisação diante do público, o ator é dono o material cênico, realizando escolhas que determinam um trajeto para sua criação. Neste contexto, a improvisação surge como uma importante proposta metodológica, fazendo-se necessária sua relação com a dramaturgia. Palavras-chave: criação cênica; improvisação; dramaturgia atoral. Abstract: This paper proposes a consideration about the actor´s role on contemporary processes of scenic creation. In rehearsals (theatrical researches) based on collective and/or improvisation practices, the actor has the decision power over his work. He chooses what will be part of his artistic itinerary. As a result, improvisation turns into methodology in this scenario making performance and dramaturgy engage in a relationship. Keywords: scenic creation; improvisation; actor´s dramaturgy. O entendimento do contemporaneidade ator na passa por a encenação e a dramaturgia (GUINSBURG, 2006, p. 253). considerá-lo sujeito ativo da criação Nesses processos, o ator colabora com teatral, onde os limites da autoria são tênues material cênico previamente elaborado por e as relações de produção de inem-se, muitas ele em proposições que, na grande maioria vezes, por uma concepção horizontal das das vezes, partem de improvisações mais ou diversas funções de um espetáculo. Sendo menos pré-determinadas. No caso do processo assim, a tríade comum à realização de um colaborativo, a relevância destas propostas se espetáculo teatral, diretor-ator-dramaturgo, revela no embate entre as diversas funções, apesar de manter seus lugares, afazeres e tendo a cena como elemento balizador das conhecimentos articulam-se discussões (ABREU, 2003). Nesse contexto, transdisciplinarmente abrindo-se à intensa a qualidade de uma cena particular e colaboração pro issionais também a sua coerência com a concepção envolvidos em cada uma das áreas de criação. dos colaboradores determinariam a decisão No Processo Colaborativo, na Criação Coletiva, (manutenção, transformação ou exclusão) em e em outros processos a ins, a função do ator torno do resultado espetacular. A eleição da expande seus limites originais e alcança outras cena como o balizador das discussões travadas áreas do espetáculo cênico, principalmente entre os diversos artistas colaboradores não especí icos, dos diversos • João Pessoa, Vol. 1, n. 2, 89-96, jul./dez. de 2010 89
  • 2. • INSTRUMENTOS E MÉTODOS Mariana Muniz corresponde a recusar aspectos subjetivos su icientes e necessárias que esclareçam o que da leitura. A cena pode até apresentar maior é dramaturgia. No entanto, perceberemos, no tendência à objetividade devido ao seu caráter breve histórico que apresentamos a seguir, material, no entanto, o olhar sempre será algumas possibilidades de caracterização deste subjetivo. Decorre daí um embate criativo e conceito.2 produtivo, atribuindo mais aspectos do que O termo dramaturgia tem passado por o desejado para uma “suposta” objetividade. diversas transformações ao longo da História Ainda assim, a improvisação, e eventualmente do Teatro. Na concepção aristotélica, é pensada sua “ ixação” em cena, se torna um dos como composição de uma ação, ou seja, principais recursos metodológicos para a estruturação dos diversos componentes do proposição em processos deste gênero. drama: tempo, espaço, personagem, linguagem, Também nas manifestações cênicas entre outros. No séc. XVIII, com o aparecimento contemporâneas vemos a grande presença da Dramaturgia de Hamburgo, de Lessing, sua da improvisação não apenas como processo, concepção foi ampliada. Lessing in luencia mas, também, como resultado apresentado a determinantemente a posterior função de público (MUNIZ, 2005). Desde o happening, até dramaturgista presente a partir do século a performance, passando pela improvisação- XX. A partir dele, a dramaturgia não se atém como-espetáculo1, o ator (ou performer) exclusivamente à função de autor teatral, mas é chamado a construir dramatúrgica e amplia-se àquele que articula teoricamente cenicamente o espetáculo (ou a performance) os no momento mesmo de sua apresentação. teatral, questiona, indaga, aponta falhas e Este procedimento, assim como o Processo possibilidades, tira do eixo o que se encontra Colaborativo, exige do ator um domínio das estagnado e contribui para a construção da ferramentas técnicas, sensíveis e expressivas cena, independente da escritura da mesma. do teatro em suas mais diversas competências, Ampliam-se, portanto, as possibilidades de dentre elas, destaca-se a dramaturgia como colaboração deste pro issional no processo de elemento de composição da cena. criação teatral. diversos elementos da produção Deixemos claro, desde já, que tomamos Bertolt Brecht introduziu o épico na como dramaturgia um conceito impossível cena teatral e rompeu com a identi icação de de inição, uma vez que não existe a e causalidade das ações por meio do efeito possibilidade, de de distanciamento presente na encenação, encontrar as condições ao mesmo tempo interpretação dos atores e na concepção na contemporaneidade, 2 1 90 Termo que diz referência à prática da improvisação diante do público a partir das propostas de Keith Johnstone, Robert Gravel, Del Close, entre outros. Sobre as diferenças entre de inição e caracterização dentro da Lógica Proposicional ver: AZAMBUJA, Abílio. Lógica e Argumentação. http:// abilioazambuja.sites.uol.com.br/49logprop.html. Acesso em 12/12/2009. • João Pessoa, Vol. 1, n. 2, 89-96, jul./dez. de 2010
  • 3. Dramaturgia da improvisação personagem é levado a escolher enquanto sujeito da história e não ser apenas uma marionete do destino. O diretor/dramaturgo alemão modi icou profundamente a maneira de encenar os clássicos teatrais por meio INSTRUMENTOS E MÉTODOS Brecht, obedece a uma ordem dialética. O ator/ • processo criativo. Esta democratização, que in luenciará as gerações vindouras, caracteriza-se por uma abertura essencial a possibilidades de colaboração variadas: as contaminações formais, intrínsecas à própria gênese da performance instalam-se irreversivelmente e a participação activas dos atores, quer através das técnicas de improvisação quer dos métodos de criação coletiva. (PAIS, 2004, p.43). dramatúrgica do espetáculo. A cena, em da adaptação dos textos, atualizando-os. Os diversos elementos constitutivos da encenação Lehmann (2007) introduz o conceito reformulam e dão sentido ao espetáculo, de teatro pós-dramático na análise da cena estabelecendo novas relações entre a cena, o contemporânea. Sua teoria baseia-se na tese texto e o momento presente. Segundo Pais: de que o teatro contemporâneo se estabelece “Apesar de manter uma certa primazia na para além do dramático, ou seja, para além medida em que se mantém como elemento- da ação. A dramaturgia contemporânea e sua base do espectáculo, o texto da dramaturgia estrutura são pensadas em direções opostas às brechtiana vê-se desobrigado de uma autoria concepções aristotélicas de unidade de ação e intocável, passando a ser apropriado por outra seu desdobramento em ações correlatas. A cena voz que nele projecta a sua visão” (2004, p.37). atual conjuga diversos elementos oriundos Nas performances e happenings das das grandes transformações vanguardistas décadas 1960/1970 estabelece-se uma ruptura do século XX, que impossibilitam uma relação profunda com a supremacia do texto teatral e, logocêntrica com o espetáculo e estabelecem consequentemente, da autoria. A cena passa outros pontos de comunicação e expressão a ser estruturada a partir do performer e o para além do entendimento do enredo ou vínculo com o público se dá, prioritariamente, fábula. pelo sinestésico, reivindicando o De fato, a categoria adequada para o novo teatro não é a de ação, mas a de estado e situação. O teatro nega intencionalmente, ou ao menos relega a segundo plano, a possibilidade de “desdobramento do enredo” que lhe é própria na linguagem de arte temporal. Isso não exclui uma dinâmica particular que mobiliza no âmbito do estado – poder-se-ia chamá-la, por distinção com a dinâmica dramática, de dinâmica cênica. (LEHMANN, 2007, p. 113) estabelecimento de lógicas múltiplas na concepção/recepção do evento cênico. Há uma rejeição ao texto como pilar da autoridade logocêntrica. Assim, a igura do dramaturgo se dilui, tendo o performer ocupado a autoria da sua própria produção. Destronando o primado do texto e polemizando a hierarquia de funções no processo criativo encimada pelo autor e pelo encenador, a performance desenvolve estratégias alternativas de estruturação dramatúrgica: ela procura uma democratização dos materiais e do A cena contemporânea caracteriza-se pela pluralidade de concepções e articulações da dramaturgia e da função do dramaturgo. • João Pessoa, Vol. 1, n. 2, 89-96, jul./dez. de 2010 91
  • 4. • INSTRUMENTOS E MÉTODOS Mariana Muniz No Brasil vivenciamos uma crescente diluição coleção Theatre and Performance Practices do conceito de autor teatral e da primazia sob o título “Dramaturgy and Performance”. do texto sobre outros fatores da encenação. Tentando chegar a um terreno comum, ainda Mas, é interessante observar como em outras que instável, da caracterização de dramaturgia, culturas, talvez construídas em bases mais mesmo verbais do que a nossa, a igura do dramaturgo performance, a irmam os autores: mantém-se como centro da produção teatral contemporânea. Em um artigo intitulado “Um mapa da dramaturgia contemporânea: uma perspectiva britânica”, o crítico inglês Michael Billington a irma a primazia da igura do autor como mola propulsora da produção teatral inglesa atual, apesar de destacar a crescente presença de outros modos de produção cênica e de relação com o público e com o texto. Apesar do reconhecimento do interesse que essas novas produções geram, principalmente em platéias jovens, o crítico inglês rea irma sua crença na superioridade textual: Sou totalmente a favor das experiências e ico contente de ver as novas companhias estarem rede inindo a natureza do teatro. No entanto, também acredito piamente na primazia daquilo que chamamos de “teatro baseado no texto” e no fato de que uma peça é capaz de atingir, por intermédio da palavra, um nível de complexidade intelectual e emocional raramente alcançado de outra forma. De qualquer maneira, existe espaço para todas as vertentes. Porém, em parte pela nossa história, e em parte por sermos uma cultura tão verbal, não consigo imaginar que na Grã-Bretanha o autor venha algum dia a ser destituído de supremacia. (BILLINGTON, 2008, p.75). Cathy Turner e Synne K. Behrndt lançaram-se a di ícil tarefa da descrição de dramaturgia na performance. O resultado destas pesquisas foi lançado em 2008 na 92 quando aplicada à questão da A ‘dramaturgia’ de uma peça ou performance pode também ser descrita como ‘composição’, ‘estrutura’, ‘fabricação’. Onde o termo ‘dramaturgia’ é usado para descrever uma atividade – ‘fazendo dramaturgia’ (...) esta atividade concerne um engajamento com o trabalho de composição. ‘Fazendo dramaturgia’ usualmente implica uma discussão sobre estratégias composicionais e efeitos. (...). As palavras, fazendo dramaturgia, formando dramaturgia ou trabalho dramatúrgico podem implicar, todas, em um engajamento com o atual processo prático de estruturação do trabalho, combinado com a análise re lexiva que acompanha este tipo de processo. (TURNER & BEHRNDT, 2008, p. 03) Continuando este raciocínio, Turner e Behrndt tratam de desvincular o conceito de dramaturgia da necessária presença de um dramaturgo, a irmando a impossibilidade da existência de qualquer trabalho cênico no qual não existam estruturas ou estratégias de composição. Segundo os autores: Está claro que pode haver composição, análise performática e performance sem, necessariamente, o envolvimento de um dramaturgo. Nós podemos, ainda, discutir o termo ‘dramaturgia’ isoladamente do pro issional ‘dramaturgo’. Se nós não izermos esta distinção, estaremos dizendo que trabalhos sem dramaturgo têm uma dramaturgia inadequada ou até mesmo inexistente: isto seria uma a irmação tola. Na verdade, é impossível uma peça não ter dramaturgia, assim como é impossível que não tenha estrutura ou estratégias • João Pessoa, Vol. 1, n. 2, 89-96, jul./dez. de 2010
  • 5. afirma em um artigo intitulado “Dramaturgia e Se por um lado, o teatro pós-dramático é Decisões (a serem tomadas pelos improvisadores em cena) 4 que atingem o tema, o argumento, o manejo do espaço, o tempo, o ritmo, o estilo da improvisação... Tal nível de atenção investida naquilo que está sendo contado em como vai sendo contado, também dá base para sentir quando é o momento propício ao surgimento de novos acontecimentos em cena, o momento de alcançar o clímax ou o momento de chegar ao final de uma improvisação (CORTES, 2006, p.14). improvisação Teatral”: uma das principais tendências da dramaturgia atual, a cena Brechtiana e, inclusive, a dramaturgia centrada nos desdobramentos do drama moderno continuam presentes na produção teatral contemporânea. Não é nosso objetivo julgar ou escolher uma única maneira de trabalho com o material dramatúrgico. Seja como composição da ação e do enredo, seja A partir das citações acima, podemos como articulação da cena, seja a adaptação do texto, seja como dinâmica cênica ou outras formas que venhamos a conhecer, a dramaturgia demanda escolhas e estratégias e é questão candente na contemporaneidade. E o ator é, cada vez mais, chamado a discutir, caso da quais os improvisadores estão trabalhando dentro do universo da improvisação-comoespetáculo. Início, meio e im, argumento, tema, estilo, acontecimento, clímax, inal são palavras que nos remetem diretamente a uma ocupar e transitar por este lugar. No identi icar as noções dramatúrgicas com as improvisação-como- espetáculo, vê-se com curiosidade como a radicalização de uma proposta de criação efêmera frente ao público baseia-se numa concepção de dramaturgia centrada na noção de con lito, unidade de ação, início, meio e im, ainda que a cena e a imagem sejam fatores concepção aristotélica ou dramática centrada na ação, no con lito e em seus desdobramentos. Para os conhecedores do percurso da improvisação iniciado por Johnstone e Viola Spolin, entre outros, merece destaque o avanço na percepção da técnica exposto por Cortes5, uma vez que, frente ao sim a tudo, à determinantes. Bernard Sahlins, importante espontaneidade como única possibilidade de colaborador do Second City3, afirma: “Eu defino expressão livre, retomamos a possibilidade da a cena como uma unidade dramática curta, com escolha. Passado um momento de treinamento início, meio e final” (SAHLINS, 2004, p.19). Borja Cortes, improvisador do 4 5 Impromadrid, um dos grupos europeus mais importantes da improvisação-como-espetáculo, 3 Um dos mais antigos grupos de improvisaçãocomo-espetáculo residente nos EUA e no Canadá. • João Pessoa, Vol. 1, n. 2, 89-96, jul./dez. de 2010 Parêntese da autora. É importante frisar que esta discussão não foi apontada exclusivamente pelo improvisador espanhol, tendo sido campo das mais variadas publicações na área e também de debates e espetáculos nos seguintes festivais de improvisação: FESTIM (Madrid – 2005), I Festival Internacional de Improvisação Jogando no Quintal (São Paulo – 2006), II Festival Internacional de Improvisação Jogando no Quintal (São Paulo – 2007), FIMPRO (BH-2008), entre outros. 93 INSTRUMENTOS E MÉTODOS de composição. (TURNER & BEHRNDT, 2008, p. 03-04) • Dramaturgia da improvisação
  • 6. • INSTRUMENTOS E MÉTODOS Mariana Muniz no qual o improvisador deve, realmente, dizer e compreender são implicações necessárias sim a suas primeiras idéias e impulsos, a fim ao ator durante o ato improvisacional, de desbloquear a criatividade e entrar no fluxo independentemente necessário à criação, devemos nos enveredar no ou da relação com cada um destes pontos terreno das escolhas. mencionados. É possível optar pela não- Escolher, selecionar é criar um trajeto comunicação, pela da estética escolhida não-compreensão6, no na criação, construir uma estrutura, trata- entanto, esta opção está vinculada a uma se, portanto, de uma ação dramatúrgica. No relação forma/conteúdo daquela improvisação entanto, parece que há apenas uma concepção especí ica e, portanto, de ine-se como sua da prática e da estrutura dramatúrgicas e sua estrutura dramatúrgica. possibilidade de aplicação na improvisação Na improvisação, a interlocução entre diante do público. Faz-se necessário ampliar cena e dramaturgo radicaliza-se uma vez esta outras que o ator transforma-se no cerne da criação metodologias e pensamentos da dramaturgia teatral, sendo ele o responsável pelas escolhas na improvisação teatral e na criação atoral. estruturantes daquilo que é levado a público. concepção e experimentar A construção improvisada da cena Isso não quer dizer a ausência de uma direção requer escolhas necessárias à expressão da prévia ou de um dramaturgista que contribui criatividade. Segundo Ostrower: para a concepção do espetáculo, seu estilo, Criar é, basicamente, formar. É poder dar uma forma a algo novo. Em qualquer que seja o campo de atividade, trata-se, nesse “novo”, de novas coerências que se estabelecem para a mente humana, fenômenos relacionados de modo novo e compreendidos em termos novos. O ato criador abrange, portanto, a capacidade de compreender; e esta, por sua vez, a de relacionar, ordenar, con igurar, signi icar. (OSTROWER, 2008, p.09). suas escolhas gerais, independentes de cada improvisação. Muitas vezes, o dramaturgista e diretores são responsáveis por treinamentos e exercícios especí icos à solução de problemas cênico-dramatúrgicos das improvisações durante o processo de criação do espetáculo, e, também, durante a etapa de apresentação a público. No entanto, sem negar a importância destas funções, na improvisação o ator é dono Formar em cumplicidade, no seu universo de possibilidades técnicas, estéticas e políticas, pode ser uma de inição efêmera do termo dramaturgia na contemporaneidade. Relacionar, ordenar, con igurar, signi icar é estabelecer parâmetros para a escolha da estruturação dos diversos elementos de forma/conteúdo de um processo de criação. Dar forma, expressar, comunicar, apreender 94 6 É discutível a efetividade da “não-compreensão”, pois a comunicação é uma via de mão dupla e a percepção de quem assiste pode, ou não, atribuir diversos conteúdos a formas diversas, intervindo nesta percepção elementos culturais, pessoais e emocionais. A relação entre signi icado e signi icante é mediada pelo Eu, e, portanto, não é possível ser totalmente controlada e nem partir da ausência de elementos inconscientes ou subconscientes. No entanto, também é verdade que não existe criação sem a presença da consciência e da necessidade humana de ordenação a partir de escolhas, casuais, ou não. • João Pessoa, Vol. 1, n. 2, 89-96, jul./dez. de 2010
  • 7. primeiro resultado foi montado e apresentado público na construção conjunta da cena. o espetáculo de improvisação Sobre Nós, Podemos, portanto, comprovar uma estreado no FIMPRO – Festival Internacional tendência do teatro contemporâneo em trazer de Improvisação Teatral, em 2008, em o ator ao centro da criação teatral, fazendo-o Belo Horizonte. Trata-se de um espetáculo relacionar-se com os diversos elementos composto e funções desta criação. Desta forma, é de cinqüenta minutos a partir de história fundamental re letir sobre uma formação contada pelo público na entrada do teatro. A capaz de constituir atores conhecedores das cada noite, contam-se diferentes histórias e técnicas e linguagens especí icas de cada surge um espetáculo totalmente distinto. Em função e sua articulação transdisciplinar. seu processo de montagem, optou-se pelo No caso da dramaturgia, a urgência em por uma única improvisação aprofundamento em técnicas e ferramentas articulá-la à prática teatral advém da escassa dramatúrgicas em uma presença de uma formação especí ica na fragmentada e, muitas vezes, cíclica. O área e de sua importância na construção da treinamento dos improvisadores por meio da cena improvisada. Como aliar a escrita escrita de cenas teatrais foi de fundamental cênica à prática atoral no contexto da importância para capacitá-los para este tipo de formação do ator através da improvisação? improvisação. Esta é a pergunta central que motiva parte das Assim, acreditamos construção necessário atuais pesquisas realizadas no NACE/UFMG continuar re letindo e pesquisando sobre a – Núcleo de Pesquisa Transdisciplinar em articulação entre dramaturgia e improvisação Artes Cênicas, envolvendo professores, pós- na busca de procedimentos metodológicos graduandos, bolsistas de Iniciação Cientí ica que realmente capacitem o ator a ocupar e pesquisadores voluntários. Nas pesquisas uma práticas e teóricas desenvolvidas até agora, cênica. A introdução de um estudo teórico- alguns apontados, prático da escrita cênica no processo de deslocando a prática da improvisação de criação de um espetáculo ou na formação do seu caráter formativo e aproximando-a a ator vai além de um simples encadeamento concepção do ator-dramaturgo, ou seja, aquele de que cria seu próprio material, realiza suas realizadas escolhas e constrói dramaturgicamente a cena necessário um pensamento dramatúrgico no momento mesmo de sua apresentação ao articulado com a necessidade de composição público. cênica improvisada, tanto na construção questionamentos são função estilos, transdisciplinar ferramentas por grandes e na criação possibilidades dramaturgos. É A possibilidade da escolha, ainda no colaborativa de espetáculos a serem ixados terreno da espontaneidade, é uma das apostas como na improvisação diante do público. que tem sido feita nestas pesquisas. Como A improvisação, portanto, aparece como • João Pessoa, Vol. 1, n. 2, 89-96, jul./dez. de 2010 95 INSTRUMENTOS E MÉTODOS do jogo, cabe a ele mediar a relação com o • Dramaturgia da improvisação
  • 8. • INSTRUMENTOS E MÉTODOS Mariana Muniz importante aliada metodológica destas práticas. CORTES, Borja. Dramaturgia da Improvisação. In: A Chuteira – revista sobre palhaço e improvisação. Ano I, n°1, 2006. P. 14-16 Artigo recebido em 7 de março de 2010. Aprovado em 15 de abril de 2010. GUINSBURG, Jacó et al. (org). Dicionário de Teatro Brasileiro: temas, formas e conceitos. São Paulo: Perspectiva, 2006. Referências Bibliográ icas LEHMANN, Hans-Thies. Teatro Pós-dramático. São Paulo: Cosac & Naify, 2007. ABREU, Luís Alberto. “Processo Colaborativo: MUNIZ, Mariana. La improvisación como relatos e re lexões sobre uma experiência de espectáculo: principales experimentos y técnicas criação”. In: Cadernos da Escola Livre de Teatro. aplicadas a la formación del actor-improvisador. Ano 1, n° 0, março de 2003. Tese Doutoral. Alcalá de Henares: Universidad ARAÚJO, Antônio. A gênese da Vertigem: de Alcalá, 2005. processo de construção de Paraíso Perdido. OSTROWER, Faiga. Criatividade e Processos de Dissertação de Mestrado. São Paulo: ECA-USP, Criação. Petrópolis: Vozes, 2008. 2002. PAIS, Ana. O Discurso da Cumplicidade. ARISTÓTELES et al. A Poética Clássica. São Dramaturgias Contemporâneas. Lisboa: Colibri, Paulo: Cultrix, 2005. 2004. AZAMBUJA, Abílio. Lógica e Argumentação. In: SHALINS, Bernard. Where we came from: a http://abilioazambuja.sites.uol.com.br/49logprop. very brief history of revue. In: The Second html. Acesso em 12/12/2009. City. BILLINGTON, Michael. Mapa da dramaturgia Northwestern University Press, 2004, p. 18-23. contemporânea: uma perspectiva britânica. TURNER, Cathy; BEHRNDT, Synne. Dramaturgy In: Itaú Cultural. Próximo ato: questões da and Performance. In: Theatre & Performance teatralidade contemporânea. São Paulo: 2008, Practices. New York: Palgrave, 2008. Almanac of improvisation. Illinois: p. 72-81. 96 • João Pessoa, Vol. 1, n. 2, 89-96, jul./dez. de 2010