Trabalho apresentado no IX SOPCOM na Universidade de Coimbra - Portugal.
Trata-se de uma análise do conteúdo veiculado nos telejornais goianos JA1 e JMD, que tangencia o tema CIDADANIA.
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Um cidadão para chamar de meu – a busca dos telejornais goianos pela legitimação de seu papel social na luta pela audiência
1. UM CIDADÃO PARA CHAMAR DE MEU – A busca dos
telejornais goianos pela legitimação de seu papel social na luta pela
audiência.
QUEIROZ, Marcos Marinho M.
Mestrando no PPGCOM da Universidade Federal de Goiás – UFG
Professor – Faculdade de Informação e Comunicação – FIC/UFG
Professor – Escola de Comunicação – PUC – Goiás – Brasil
CO-AUTOR: MEDEIROS, Magno.
2. Resumo
Esta é uma investigação sobre a atuação dos telejornais goianos como representantes da população
desassistida pelo poder público, sobrepondo-se ao papel que deveria ser exercido pelos mandatários
políticos eleitos pelos cidadãos para lutarem por suas demandas. Fez-se uma análise do formato dos
telejornais JA1 e JMD, veiculados pelas duas principais emissoras de televisão do Estado de Goiás,
observando a divisão dos quadros e meios de interação oportunizados aos telespectadores-cidadãos.
Posteriormente procedeu-se uma quantificação das matérias relativas ao tema cidadania, no programa
JA1, a fim de verificar o espaço dado aos assuntos que deveriam ser de incumbência dos
representantes políticos, mas podem estar sendo usados como elemento ressignificador do papel dos
telejornais.
3. Introdução
As mudanças ocorridas nos meios de comunicação, em grande parte motivadas pela emergência da
internet no século XXI, alteraram significativamente a relação entre os espectadores e suas fontes de
informação mediada, com ênfase para os telejornais. Sem a primazia da notícia, surrupiada pela
capacidade infinita de cobertura dos não jornalistas - aqueles que de posse de smartphones pululam
imediatamente nas cenas dos acontecimentos dispostos a produzir sua própria “versão” dos fatos e
postá-las nas mídias sociais -, as estruturas informativas tradicionais não mais podem ser
consideradas a principal fonte de informação dos membros das sociedades hodiernas, o que lhes
obriga a ressignificar seu papel midiático a fim de manter a audiência.
4. Jornalismo – cidadão?
Surgem então as iniciativas de aproximação entre telejornais, personificados por seus apresentadores
e apresentadoras carismáticos, e os cidadãos subjugados pelos governos que não lhes atendiam às
carências básicas. Lançando mão de suas estruturas tecnológicas, e números de audiência, as
emissoras colocam-se frente aos executivos municipais e estadual em busca de intermediar e resolver
os apelos recebidos de seus companheiros e companheiras espectadores.
5. Cidadania:
Direitos & Deveres - Marshall (1967), Carvalho (2002) e Meksenas (2002)
Consumo – Canclini (2006)
Reconhecimento & Pertença – Cortina (2005)
Subcidadania:
Souza (2012) e Tuzzo (2014)
O cidadão é aquele que está na sociedade economicamente privilegiada e pode pagar pela cidadania, comprando saúde,
educação, segurança, lazer, por exemplo, ou seja, a cidadania é comprada, é privada, disponível e acessível para quem
pode pagar por ela. Assim, cidadania tem a ver com o privado e a busca da cidadania tem a ver com o que é público.
Cidadania é a plenitude de existência do rico e a busca constante do pobre. (TUZZO, 2014, p.177)
6. Mídia & Política:
Ainda que não seja previsto na atividade dos comunicadores a ação de governar, é fato que sua
atuação influencia sobremaneira nos meios e métodos como isso será feito. Como afirma Rubim
(2000), através de exposição ou omissão, críticas ou elogios, sugestões, entrevistas combinadas ou
incursões surpresa, a ação da mídia é poderosa tanto na construção como desconstrução da imagem
do ator político.
O caráter de representação também parece reivindicado pela mídia. Seus aparatos sociotecnológicos reiteradas vezes se
afirmam como “porta-vozes” da população ou da sociedade, buscando assumir uma “representação virtual”, na acepção
de Burke, porque sem mandato é simbólica, em consonância com a natureza desses meios de produção e difusão.
(RUBIM, 2000, p.77)
7. Caminho metodológico:
A fim de suportar os questionamentos quanto à relação entre mídia e política no contexto da
cidadania goiana, apresentados neste artigo, optou-se por analisar dois telejornais transmitidos pelas
principais empresas midiáticas do Estado de Goiás: JA1 - Tv Anhanguera (afiliada Rede Globo) e
JMD - Tv Serra Dourada - TVSD (afiliada SBT).
AC – Análise de Conteúdo
Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter por procedimentos sistemáticos e objetivos de
descrição do conteúdo das mensagens indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos
relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) dessas mensagens. (BARDIN, 2011, p. 48)
8. JMD – Jornal do Meio Dia: o jornalístico é apresentado de segunda à sábado no horário de 11:52h às
13h. No site da emissora há a seguinte descrição: Comunitário, interativo e desde 1991 sempre
presente nos grandes acontecimentos do Estado de Goiás. O Jornal do Meio Dia é feito com
personalidade para dar voz ao telespectador. Com Jordevá Rosa e Luciana Finholdt, você fica
sabendo dos principais fatos do dia, denuncia problemas e cobra soluções. A participação popular é
a grande marca do telejornal.
Canais de interação: Site, telefone, e-mail e twitter.
9. Quadros:
• Repórter Cidadão – O telespectador envia vídeos e fotos com curiosidades, flagrantes diversos e denúncias.
• Show de Bola – Apresentado por um experiente comentarista esportivo, aborta temas polêmicos da crônica esportiva atual de forma leve
e bem-humorada.
• Aqui Você faz a Notícia – O telespectador é quem faz a notícia, ele chama o JMD para mostrar um problema e pede uma solução para os
responsáveis
• Promessa é Divida – O poder público promete a resolução de um problema e na data especificada a produção do JMD verifica se foi
resolvido ou não
• Oferta de empregos – O JMD oferece ao telespectador informações sobre as vagas de emprego disponíveis no mercado goiano.
• Bem Viver – O tema reflete a necessidade premente da sociedade de redescobrir o prazer de viver bem e ter qualidade de vida acima de
tudo.
• Desaparecidos – Mostra apelo de pessoas que perderam contato com a família, focado no reencontra de pai, mãe e irmãos. (Vai ao ar
apenas às terças-feiras)
• Espaço Cultura – A programação de eventos da cidade, com as mais variadas opções de lazer, seja do cinema, teatro, festas ou shows da
cidade. (Vai ao ar apenas às sextas-feiras)
• INSS – Contamos com a presença de um superintendente do INSS que responde a dúvidas sobre aposentadorias, pensões e perícias
médicas. (Vai ao ar apenas às sextas-feiras)
10. JA1 – Jornal Anhanguera 1ª edição: o programa vai ao ar de segunda à sábado entre 12h e 12:52h.
Geralmente possui um apresentador em estúdio, atualmente a jornalista Lilian Lynch, que interage
com repórteres e convidados via links ao vivo e/ou presencialmente no estúdio. Normalmente
dividido em 4 blocos de duração variável, o programa transcorre entre factuais, matérias e séries de
matérias temáticas produzidas pela equipe de jornalismo.
Canais de interação: E-mail, Telefone, Aplicativo QVT
11. Quadros:
• Tv Trabalho - temas relativos às oportunidades de emprego -;
• “Apitou começou” – matérias sobre esportes;
• Programão – Dicas e agenda cultural (sexta-feira)
• JA comunidade – apresenta o cotidiano de bairros que carecem da atuação do poder público;
• O bairro que eu quero – mostra ações de moradores em prol de melhorias para o bairro em que residem, mas
também demandas desses moradores;
• Quero ver na Tv (QVT)* – um quadro que expõe participações dos telespectadores abordando vários temas
como: reclamações, problemas sociais, curiosidades e cotidiano. Este quadro possui um aplicativo próprio por
onde os telespectadores podem enviar conteúdos e sugestões de pautas.
*aplicativo QVT, disponível para smartphones de sistemas operacionais Android e IOS e que podem ser descarregados
gratuitamente nos aparelhos, afim do envio dos materiais (fotos, vídeos, textos)
12. Categorização 1 – Temáticas trabalhadas
Temas JMD Participação total JA1 Participação total
Violência Factual 1/10 Factual 1/6
Demanda Social
(subcidadania)
Fixo 6/10 Fixo 4/6
Entretenimento/
Cultura
Fixo 1/10 Fixo 1/6
Cenário político Factual 1/10 Factual 1/6
Esporte Fixo 1/10 Fixo 1/6
13. AC: JA1 – Semana 26 a 31/10
Quantidade de matérias – 71
Assuntos:
Temas Quantidade Percentual total
Violência - Crimes 14 19,72%
Meio-ambiente 2 2,82%
Entretenimento/ Cultura 4 5,63%
Atuação política 1 1,41%
Amenidades 13 18,31%
Esporte 2 2,82%
Subcidadania* 31 43,66%
Saúde pública 1 1,41%
Educação 1 1,41%
Outros 2 2,82%
*Assuntos referentes às
demandas, carências e críticas
da população ao poder
público.
14. Considerações finais
Segundo a análise da amostra selecionada é inequívoca a tendência do telejornal em se posicionar como representante das
demandas e carências dos cidadãos. 43,66% das matérias abordam assuntos onde é evidenciada alguma inação do poder
público, críticas à gestão municipal ou ausência de acesso aos direitos básicos concernentes à cidadania.
Não há da parte do telejornal alguma cobertura sobre as atividades parlamentares ou do executivo em prol dos cidadãos. Uma
única matéria pôde ser relacionada à temática política, mas tratava de um crime de improbidade cometido por um prefeito de
uma cidade do interior.
A omissão do telejornal sobre a atuação dos atores políticos, somada ao único recorte negativo da figura de um mandatário, a
nós reforça a premissa de que pode existir uma ação deliberada que vise descredibilizar os atores políticos, e por outro lado
atribuir um papel positivo ao trabalho da emissora, através do jornalístico, alçando-a ao posto de representante, advogada e
amiga dos cidadãos, capaz de lhes garantir o acesso àquilo que o poder público lhes nega ou se omite.
15. Referências:
BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Trad. Luís Antero Reto e Augusto Pinheiro. ed. 1. São Paulo: Edições 70, 2011.
BOBBIO, Norberto. Liberalismo e Democracia. Trad. Marco Aurélio Nogueira. São Paulo: Brasiliense, 2000.
CANCLINI, Néstor G. Consumidores e Cidadãos. Trad. Maurício Santana Dias. 7ª ed. Rio de Janeiro: Editora URFJ, 2008.
CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil. São Paulo: Civilização Brasileira, 2002.
COHN, Gabriel. Sociologia da Comunicação: teoria e ideologia. Petrópolis: Vozes, 2014.
CORTINA, Adela. Cidadãos do mundo: uma teoria da cidadania. São Paulo: Edições Loyola, 2005.
MARSHALL, T. H. Cidadania, Classe Social e Status. Trad. Meton Porto Gadelha. Rio de Janeiro: ZAHAR Editores, 1967.
MEKSENAS, Paulo. Cidadania, Poder e Comunicação. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 2002.
ROCHA, Décio; DEUSDARÁ, Bruno. Análise de Conteúdo e Análise do Discurso: aproximações e afastamentos na (re)construção de uma
trajetória. Alea: Estudos Neolatinos, Rio de Janeiro, v. 7, n. 2, p.305-322, 01 jul. 2005. Semestral.
RUBIM, Antonio Albino Canelas. Comunicação e política. São Paulo, Hacker Editores, 2000.
SANTOS, Goiamérico Felício Carneiro dos. Ágora virtual: Espaços de Emancipação Política, ou Lugares de Consumo?. In: BONILHA,
Kátia Raquel; SATLER, Lara Lima (Org.). Século XXI: a Publicidade sem fronteiras?. Goiânia: Editora Puc Goiás, 2011. p. 175-192.
SOUZA, Jesse. A construção social da subcidadania: para uma sociologia política da modernidade periférica. 2ª ed. Belo Horizonte:
Editora UFMG, 2012.
TUZZO, Simone Antoniaci. O Lado Sub da Cidadania a Partir de Uma Leitura Crítica da Mídia. In: PAIVA, Raquel; TUZZO, Simone
Antoniaci (Org.). Comunidade, Mídia e Cidade: Possibilidades comunitárias na cidade de hoje. Goiânia: Fic/ Ufg, 2014. Cap. 8. p. 151-180.
(Rupturas metodológicas para uma leitura crítica da mídia).