Este trabalho apresenta o projeto da revista DiscoBrindo como produto no âmbito de jornalismo cultural, desenvolvida pelas alunas Dalila Carneiro e Marcela Servano, do Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), sob a orientação do professor Fabrício Marques. A publicação insere-se no contexto das discussões em torno da Indústria Cultural e do jornalismo de revista, e tem como objetivo levar o leitor a “descobrir” fatos relacionados com a história do Brasil a partir de discos como Construção, de Chico Buarque.
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Trabalho de Conclusão de Curso Impresso.
1. IRANDUNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS, JORNALISMO E SERVIÇO SOCIAL
CURSO DE JORNALISMO
DALILA CARNEIRO
MARCELA SERVANO
REVISTA DISCO(BRINDO):
Projeto gráfico-editorial de uma publicação voltada
para o diálogo entre a música e a história
Produto Jornalístico
Mariana
2013
2. DALILA CARNEIRO
MARCELA SERVANO
REVISTA DISCO(BRINDO):
Projeto gráfico-editorial de uma publicação voltada
para o diálogo entre a música e a história
Memorial descritivo de produto
jornalístico apresentado ao curso
de Jornalismo da Universidade
Federal de Ouro Preto, como
requisito parcial para obtenção
do título de Bacharel em
Jornalismo
Orientador: Fabrício Marques
Mariana
2013
SALVAS
4. AGRADECIMENTOS
Agradecemos primeiramente a Deus, a quem devemos tudo que somos.
Ao nosso orientador, Professor Doutor Fabrício Marques, pela paciência,
sugestões, por ter acreditado na realização desta pesquisa, confiado em nossas
ideais e, principalmente, por ter nos mostrado o caminho a ser seguido.
À nossa família que em todos os momentos difíceis tem intercedido junto a
Deus, pelo nosso sucesso e felicidade.
À Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e ao Instituto de Ciências Sociais
Aplicadas (ICSA) pelo ensino público de qualidade e pela oportunidade de
crescimento pessoal. Aos professores do curso de jornalismo por sua dedicação,
carinho e paixão pela profissão.
Aos colaboradores: Simião Castro, Maria Aparecida Pinto, Josanne Guerra
Simões, Andréa Sannazzaro, Fernanda Rodrigues, Hianna Sette, Luiza Barufi,
Roberto Júnior, Elizabeth Camilo, Milena Terrell, Beatriz Lino, Alana
Assunção, Vilma Gonçalves, Márcia Rodrigues, Camila Alsan, Laiz Souza,
Flávia Souza e Tirza Setta, que com boa vontade, ajudaram a tornar esse projeto
possível.
Às entrevistadas Regina Zappa e Rejane Márcia de Freitas Oliveira, por
acrescentarem informações essenciais ao projeto.
Aos colegas e amigos de sala. Em especial aos que fizeram parte da segunda
turma (09.1) e a todos que contribuíram para a conclusão desse trabalho.
5. "A felicidade é como a pluma. Que o vento vai levando pelo ar. Voa tão leve, mas tem a
vida breve. Precisa que haja vento sem parar”.
Tom Jobim e Vinicius de Moraes
6. RESUMO
Este trabalho apresenta o projeto da revista DiscoBrindo como produto no âmbito de
jornalismo cultural, desenvolvida pelas alunas Dalila Carneiro e Marcela Servano, do
Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), sob a orientação
do professor Fabrício Marques. A publicação insere-se no contexto das discussões em
torno da Indústria Cultural e do jornalismo de revista, e tem como objetivo levar o leitor
a “descobrir” fatos relacionados com a história do Brasil a partir de discos como
Construção, de Chico Buarque.
Palavras-Chave: Indústria Cultural; música, jornalismo cultural; revista; Chico
Buarque; história do Brasil.
7. ABSTRACT
“This paper presents the design of the magazine DiscoBrindo, cultural journalism's
product developed by students of Journalism Course at Universidade Federal de Ouro
Preto (UFOP), Marcela Servano and Dalila Carneiro, under the guidance of the teacher
Fabricio Marques. The publication comes within the context of discussions of Cultural
Industry and magazine journalism, it aims to get the reader to "discover" facts
concerning the history of Brazil from disks as Construction, Chico Buarque”.
Key-Words: Cultural Industry, cultural journalism, magazine, Chico Buarque, Brazil's
history.
8. LISTA DE ILUSTRAÇÕES
ILUSTRAÇÃO 1 - Exemplo da fonte Garamond
...........................................................
26
ILUSTRAÇÃO 2 - Exemplo da fonte
Helvetica..............................................................
26
ILUSTRAÇÃO 3 - Exemplo da fonte Calisto
MT...........................................................
27
ILUSTRAÇÃO 4 - Capa da 2ª edição da revista
Ácaro...................................................
27
ILUSTRAÇÃO 5 - Capa do disco
“Construção”.............................................................
29
ILUSTRAÇÃO 6 – Esboço da seção
“Clip”....................................................................
31
9. LISTA DE ANEXOS
ANEXO I – Projeto gráfico
DiscoBrindo........................................................................
41
ANEXO II – Expediente
DiscoBrindo............................................................................
42
ANEXO III – Texto da seção Passagem de Som
............................................................
44
ANEXO IV – Texto da seção Casa Edison
.....................................................................
45
ANEXO V – Texto da seção Perfil
..................................................................................
47
ANEXO VI – Texto da seção Single
................................................................................
52
ANEXO VII – Texto da seção Encarte
...........................................................................
56
ANEXO VIII – Texto da seção Discografia
...................................................................
57
ANEXO IX – Texto da seção
Biz....................................................................................
64
10. SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................ 10
2 JUSTIFICATIVA............................................................................................................. 12
3 OBJETIVO....................................................................................................................... 13
4 INDÚSTRIA CULTURAL ............................................................................................. 14
4.1 Cultura de Massa X Cultura Superior.......................................................................... 15
4.2 Revista, revista de vanguarda e Indústria Cultural....................................................... 16
5 JORNALISMO CULTURAL......................................................................................... 18
5.1 Jornalismo Cultural e Revista ...................................................................................... 19
6 JORNALISMO DE REVISTA....................................................................................... 21
6.1 Revistas no Brasil e sua tradição cultural..................................................................... 23
6.2 Revista ......................................................................................................................... 23
6.3 Revista e suas concorrentes no cenário nacional.......................................................... 24
7 PLANO DE TRABALHO............................................................................................... 26
7.1 Projeto Gráfico............................................................................................................. 27
7.2 Editorias........................................................................................................................ 30
7.3 Disco “Construção” de Chico Buarque........................................................................ 30
8 DESCRIÇÃO DO PRODUTO........................................................................................ 33
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................................
REFERÊNCIAS..................................................................................................................
ANEXO ...............................................................................................................................
36
38
41
11. 1. INTRODUÇÃO
Este trabalho prático apresenta uma revista voltada para a música brasileira e
tem como função associar o discurso jornalístico à música. Fazendo um resgate de disco
que marcaram época na música popular brasileira. Para analisar essa relação,
trabalhamos o jornalismo cultural por meio das suas vertentes, “pela postura do
Jornalismo Cultural, devemos considerá-lo como um espaço público da produção
intelectual, cabendo uma reflexão de que nem jornalismo é, ora sendo entendido como
produção, ora como a própria criação” (Basso, 2006.p.1). O primeiro número é um
especial sobre o disco Construção (1971) de Francisco Buarque de Hollanda, álbum
lançado em plena ditadura militar e que faz duras críticas ao sistema político e social da
época.
No trabalho, abordamos o papel informativo que a música pode exercer. Quando
Chico lançou o disco, os meios de comunicação sofriam censura do Governo e não
podiam divulgar notícias de cunho político, social e até mesmo culturais. Exemplo às
más condições de trabalho, que o compositor trata em suas canções como na faixa título
do LP, que crítica o sistema capitalista e seu tratamento desumano em relação ao
proletariado. A produção é composta por hinos de insurgência ao regime que apontam
para a conjuntura histórica de uma época e para o direito de voz de uma nação. Em Deu
lhe pague, há um desabafo em forma de ensaio literário em que o artista afronta o
sistema agradecendo por tudo aquilo. Samba de Orly canta o exílio abertamente em
forma de narrativa. A música Cordão fornece no nome uma metáfora que remete à
palavra união em caráter otimista enquanto Cotidiano é uma crônica sobre como a
repressão afetava a vida diária das pessoas. O lirismo e o eu feminino de Chico Buarque
estão presentes nas belíssimas Desalento, Olha Maria e Valsinha que apresentam
críticas menos ferozes à sociedade. Um perfil jornalístico marca Minha História ao
abordar-se um homem ferido pela vida. Fechando o álbum, Acalanto, que poderia ser
entendida como uma simples cantiga de minar, se o artista, no período, se tornasse pai
estando exilado na Itália.
O desenvolvimento da pesquisa fundamenta-se a partir de referências
bibliográficas da pesquisadora Heloísa de Araújo Valente (2003) no livro Canção da
Mídia. Na obra, trata-se a música como bem cultural eternizado pela mídia, de fácil
penetração nas distintas classes sociais uma vez que se encontra inserida e consolidada
na cultura de massas. Valente também fala sobre o caráter renovador que assinala a
12. música, pois mesmo com o passar dos anos, narrativa é interpretada e reinterpretada por
diferentes gerações. Naquela época, as canções de Chico Buarque transmitiam ao
público uma mensagem sobre a situação do Brasil, que vivia sob uma ditadura militar.
Hoje, quem as ouve pode ter outra ideia sobre elas. Por isso um produto como a revista
DiscoBrindo é tão relevante, já que faz um resgate da história, da memória e da
ideologia que o país convivia no período que o disco foi lançamento.
A proposta deste trabalho é mostrar como a música pode contribuir para um
resgate da memória coletiva de determinados períodos históricos do país. Assim como o
jornalismo, ela também poderá ter um caráter informativo. E na ditadura militar quando
a grande imprensa era controlada e até mesmo apoiava o regime, cabia à música de
Chico e outros artistas informarem e contestar o sistema de governamental com canções
de protesto.
13. 2. JUSTIFICATIVA
Escolhemos Chico Buarque para ser nosso objeto de pesquisa, porque somos
admiradoras de seu trabalho como compositor e formador de opinião. Chico é tido
como um artista da elite, mas suas composições e opiniões políticas provam o contrário,
pois nunca deixou de retratar as pessoas comuns em suas canções. Durante o período
militar ele foi um dos principais artistas que retratou essa população que vivia sob o
signo da ditadura. Oprimida, alienada, desinformada e refém de um sistema totalitário.
Na prática, este trabalho pretende demonstrar que, na época do período militar, a música
também atuava como fonte de informação – pois os artistas, entre outras categorias,
municiavam a população de dados e novas abordagens sobre as atrocidades que estavam
ocorrendo no país. Bons exemplos são canções como Construção, Deus lhe Pague e
Cordão, que fazem parte do álbum Construção (1971), do escritor, compositor e cantor
Chico Buarque de Hollanda, transformado em objeto a análise da presente pesquisa.
Para proporcionar essa discussão, desenvolveu-se um produto no âmbito do
jornalismo cultural: uma revista. A escolha relacionou-se com as características
específicas deste veículo de comunicação. Um dos preceitos do jornalismo cultural é a
linguagem clara, que aproxima o leitor das informações. Evidentemente, a música
assume, no trabalho, um caráter jornalístico, aliando-se ao entretenimento.Demostra-se
que, através da música, é possível vislumbrar elementos jornalísticos como crônicas,
ensaios, perfis e grande reportagem.
Está temática já foi trabalhada por diversos pesquisadores como Jéssica Klöppel,
que classifica a música como uma fonte primária de informação “já que na sua estrutura
reúne as ideias e as criações do próprio compositor. Apesar, de conter informações
reunidas que o compositor tenha inspirado ou queira passar para seus ouvintes, acaba
modificando um pouco a informação inicial, até pela sonoridade que a composição deve
ter para ser transformada em canção”. Moriel Cotta defende que a música é um
instrumento que utilizamos para nos expressarmos. “Está ligado a natureza humana
expressar sua cultura e registrá-la de diversas maneiras através das artes, documentos e
também da música. Com o passar do tempo novos estilos musicais são criados, porém,
certas formas musicais surgiram em um determinado período e continuaram existindo
através de outros, mesmo que perdendo certas características e transformando-se
conforme o estilo geral” (COTTA, 1998, p. 155)
14. Neste projeto prático estamos propondo a junção do entretenimento com a
informação. O resultado desse trabalho acadêmico visa o benefício social, pois além de
relembrarmos fatos históricos de nosso país, vamos instigar a visão crítica da cultura
musical que circulava naquele momento. Com isso, espera-se ampliar o debate em torno
das linguagens, narrativas e elementos do jornalismo. Para que agreguem no
aprendizado crítico e na compreensão de suas letras e no contexto que foram criadas.
15. 3. OBJETIVO
A revista foi idealizada para tratar de temas no contexto musical que envolva a
história do país. Visada sob a prática do gênero próximo ao jornalismo
opinativo e cultural, sendo aberta para o diálogo tanto com o leitor quanto com
as fontes.
O principal objetivo é fazer com que a publicação acrescente culturalmente um
debate sobre o disco que por ela será analisado, sem perder as características do
dinamismo e do entretenimento. Com a publicação pretendeu-se aproximar o
jornalismo da música e discutir como ela pode ser uma fonte de conhecimento e
informação, pois através do gênero musical também formamos opinião e
podemos estudar e refletir sobre o período histórico que estamos vivendo.
A música pode ser trabalhada em conjunto com o jornalismo, propiciando
discussão e debate sobre determinado assunto. Nesta publicação, o objeto de
debate é o período militar.
Foram analisados os aspectos que norteiam a história do Brasil, em
concomitância com sua narrativa musical, ou seja, o que a música pode
expressar dentro da conjuntura social, política, econômica e histórica de
determinado período. Para isso, avaliamos, através de pesquisas e entrevistas,
qual a importância lingüística e informativa que as músicas do disco apresentam.
Com o objetivo de delimitar o objeto de estudo, as músicas estão inseridas em
um determinado álbum musical.
Assim, foi feita avaliação das dez músicas que fazem parte do LP, partindo da
pergunta o que motivo Chico Buarque a compor Construção? Para responder
tais questionamentos buscamos referências bibliográficas que tratem do tema,
fizemos entrevistas com estudiosos do assunto e personagens que vivenciaram
aquele tempo.
16. Visamos promover, nessa publicação, o acréscimo cultural Procurou-se originar
a discussão em torno das narrativas que a música expressava e expressa usando
cinco gêneros textuais (narrar, expor, argumentar, instruir e relatar).
Para contá-las: ensaio fotográfico, quadrinhos, crônicas, matérias e grande
reportagem. Temos como finalidade a elaboração de uma revista voltada para
colecionadores.
A publicação foi elaborada em formato colecionável e volta-se para o público
alvo que preza por estes modelos. Por isso, buscou-se desenvolver um produto
que possa criar a identidade visual, já que possui o formato de LP antigo.
Através de seu design gráfico, agradando aqueles que a adquirirem e
estimulando a compra de edições subsequentes, não somente pelo conteúdo, mas
sim pelo conjunto que a publicação representa. Após o término deste trabalho de
conclusão de curso, almeja-se apresentar o projeto a uma editora (não
determinada) para dar sequência às publicações.
17. 4 INDÚSTRIA CULTURAL
Para abordar os assuntos selecionados e aprofundar a temática ao leitor, de forma que
o mesmo entenda que a leitura pretende não somente informar, mas sim, colaborar para
seu entendimento crítico e educativo, faz-se necessários estudos conceituais sobre a
Indústria Cultural.
A Indústria Cultural é definida por Coelho (1983, p.29) como fruto de uma
sociedade industrializada. Ele explica que o quadro caracterizador é: “revolução
industrial, capitalismo liberal, economia de mercado, sociedade de consumo.”
(COELHO, 1983, p. 12). Faz com que os produtos culturais, antes restritos a uma
pequena parte da sociedade e caracterizado por sua particularidade, agora se tornem
passíveis de reprodução, o que facilita o acesso a um público maior. Em decorrência
desse fato, os produtos culturais foram diferenciados entre dois campos: Arte e Indústria
Cultural. Esta publicação visa trabalhar com uma intersecção entre ambos, pois, apesar
de se tratar de uma publicação de vanguarda, tem como paradoxo a necessidade de
inserir-se na Indústria Cultural para se divulgar.
A invenção dos tipos móveis de imprensa, feita por Gutemberg no século XV, pode
ser considerada como o marco inicial da cultura de massa. Diferentemente do que
acontecia antes com os copistas, a instituição da prensa permitiu que o texto fosse
reproduzido diversas vezes. Segundo Coelho
nessa linha, alguns preferem dizer que a cultura de massa surge com os
primeiros jornais. Outros exigem, para caracterizar essa cultura, além dos
jornais, a presença de produtos como o romance de folhetim – que destilava
em episódios, e para amplo público, uma arte fácil que se servia de esquemas
simplificadores para traçar um quadro da vida na época. (1980, p. 9)
Essa configuração, que toma forma especialmente no século XVIII, ocorre no
período da Revolução Industrial e da economia de mercado, uma sociedade que, a partir
desse momento, está inserida no âmbito de consumo de bens. Nesse contexto, está à
sociedade do capitalismo liberal que se caracteriza pelo, “ o uso crescente da máquina e
a submissão do ritmo humano de trabalho ao ritmo da máquina; a exploração do
trabalhador; a divisão do trabalho” (COELHO, 1980, p.10).
Em consequência deste processo, é deliberado o surgimento de dois traços: a
coisificação e a alienação. A arte, agora, não seria exclusiva, poderia ser vendida como
uma coisa, como um produto em que se requer o consumo sem necessariamente sua
18. apreciação e exclusividade. Assim, o ser humano se torna um ser alienado, pois não se
evidencia o pensamento crítico em relação a sua coexistência inserida na sociedade de
consumo, como exemplificam Adorno e Horkheimer:
Os interessados adoram explicar a indústria cultural em termos
tecnológicos. Aparticipação de milhões em tal indústria imporia
métodos de reprodução que, por seu turno, fazem com que
inevitavelmente, em numerosos locais, necessidades iguais sejam
satisfeitas com produtos estandardizados (ADORNO, 2009, p.8).
O processo acontece porque a indústria cultural tem como uma de suas vertentes
a padronização do seu público consumidor. Na maioria das vezes, é ela quem define o
que eles vão consumir. Para Adorno isso, consequentemente, acaba-se influenciando a
forma da sociedade pensar e o público esquece-se de contestar o que lhe é oferecido.
O princípio básico consiste em lhe apresentar tanto as necessidades como
tais, que podem ser satisfeitas pela indústria cultural, quanto por outro lado
organizar antecipadamente essas necessidades de modo que o consumidor a
elas se prenda, sempre e apenas como eterno consumidor, como objeto da
indústria cultural. Esta não apenas lhe inculca que no engano se encontra a
sua realização, como ainda lhe faz compreender que, de qualquer modo se
deve contentar com o que é oferecido (ADORNO, 2009, p. 38).
A segmentação da indústria cultural nos deixa à mercê dos meios de
comunicação de massa, que acabam por definir o que é relevante ou não para
consumirmos. Iniciativas desse tipo acabam por “tirar” o espaço de produtos ditos mais
eruditos ou superiores, já que o mercado capitalista irá procurar apenas o que a indústria
do consumo impõe. “Na realidade, é por causa desse círculo de manipulação e
necessidades derivadas que a unidade do sistema torna-se cada vez mais impermeável”
(ADORNO, 2009, p. 9). Segundo Adorno, as pessoas, de forma involuntária, são
levadas a aceitar tais imposições, pois a maioria delas deseja ser inserida e fazer parte de
um determinado grupo. “A vida no capitalismo tardio é um rito permanente de
iniciação. Todos devem mostrar que se identificam sem a mínima resistência como
poderes aos quais estão submetidos” (ADORNO, 2009, p.55). Logo, esta conjuntura
conduz o ser humano a um embate entre o ser e o ter.
4.1 Cultura de Massa X Cultura Superior
Na caracterização da Indústria Cultural é necessário entender a diferenciação
existente entre cultura superior e cultura de massa. Coelho cita a definição de Dwight
19. MacDonald para introduzir a discussão. Segundo o autor, existem três formas de
manifestação cultural:
Superior, média e de massa (subentendo-se por cultura de massa, uma cultura
„inferior‟). A cultura média, do meio, é designada também pela expressão
midcult, que remete ao universo dos valores pequeno-burgueses; e a cultura
de massa não é por ele chamada de massculture mas sim, pejorativamente, de
masscult – uma vez que, para ele, não se trataria nem de uma cultura, nem de
massa (COELHO, 1980, p. 14).
Na cultura superior, segundo Coelho, há produtos canonizados pela crítica erudita; ele
cita como exemplos as composições de Beethoven, os romances de Proust e Joyce e a
arquitetura de Lloyd Wright. Para o autor, a definição de masscult não é tão simples. Ele
afirma que muitos produtos que foram consumidos em uma determinada ocasião ou
tempo são frutos da cultura de massa e sua atuação na produção industrial. Atualmente,
esses produtos não são vistos da mesma forma.
Deve- se lembrar que freqüentemente, na história, a passagem de um produto
cultural da categoria inferior para outra superior é apenas questão de tempo.
É o caso do jazz, que saiu dos bordéis e favelas negras para as platéias
brancas dos teatros municipais da vida (ah, sim, a cultura dita como superior
também se preocupa, e como!, com berços e raças) (COELHO, 1980, p. 18)
O midcult é classificado pelo autor como uma cultura intermediária, associada
aos novos ricos, que agora teriam capital para investir em cultura. É considerada como
“filha bastarda” da cultura de massa, pois traduz e facilita o entendimento de elementos
ditos da cultura superior.
4.2 Revistas, revista de vanguarda e Indústria Cultural
Como podemos considerar, dentro dessa perspectiva, as revistas? Antes de tudo,
é preciso perceber que há revistas de diversas configurações de conteúdo (ou seja,
ideológicas). Há publicações de cunho conservador, mais tradicional; outras, voltadas
para o consumo (de idéias ou de produtos); ainda, há aquelas, de perfil mais avançado,
voltadas para um segmento específico, um nicho exclusivo não contemplado de forma
direta pela Indústria Cultural. A esse último grupo poder-se-ia alinhar a, que pode ser
caracterizada como uma revista de vanguarda, entretanto sua notoriedade depende da
Indústria Cultural. Esse paradoxo existe devido a sua inserção entre dois campos: o da
Indústria Cultural (na medida em que de certo modo ela é formatada visualmente como
um produto “sedutor”, para atrair seu público) e o da arte (pelo fato de trazer textos e
reflexões que normalmente não estariam presentes em produtos exclusivos da cultura de
20. massas, de apelo popular ou mesmo tradicionais). Não é possível delimitar somente um
público específico, pois a divulgação da revista depende dos meios midiáticos e, por
consequência, o leitor não teria acesso se não tivesse meios para receber o conteúdo.
Nesse aspecto, podemos constatar que a revista define seu público-alvo, primeiramente
em sua linha editorial, em seguida faz a divulgação da revista, em outros meios de
comunicação, visando atingir esse público que ela é voltada. Um exemplo clássico de
divulgação de magazines é a Capricho, com propaganda e slogan sempre jovens,
delimitando, seus assinantes.
21. 5. JORNALISMO CULTURAL
Na construção da revista DiscoBrindo, trabalhamos o jornalismo cultural e sua
interação com os diversos produtos midiáticos, em especial com o formato revista.
Segundo Daniel Pizza as revistas consolidaram o Jornalismo Cultural, uma vez que
através delas o gênero se popularizou e passou a ser mais respeitado. Delas saíram
grandes escritores e jornalistas, abrindo espaço para a criação de um novo gênero: o
jornalismo literário1
.
Quem continuou a desempenhar papel fundamental no Jornalismo Cultural
foram as revistas, incluindo na categoria os tablóides literários semanais ou
quinzenais. Em todo momento de muita agitação intelectual e artística do
século XX, em toda cidade que vivia efervescência cultural, a presença de
diversas revistas – com ensaios, resenhas, críticas, reportagens, perfis,
entrevista, além da publicação de contos e poemas – era ostensiva”[...]
Podemos dizer que as revistas consolidaram o jornalismo Cultural, pois foi
através delas que ele se popularizou e passou a se mais respeitado. Delas
saíram grandes escritores e jornalistas, criaram novos gêneros dentro do
jornalismo (PIZA, 2009, p. 19).
Uma das principais características desse jornalismo especializado é difundir
produtos culturais utilizando os meios de comunicação de massa. Para Muniz Sodré,
essa atuação se dá no campo normativo, que ele designa de
um espaço próprio e distintivo de um modo específico de relacionamento
com o sentido e o real, isto é, com aquilo que possibilita a delimitação de
uma cultura. O emprego deste conceito implica numa tática de determinação.
O campo designa, normativamente, os atos obrigatórios num determinado
regime simbólico e exclui os elementos não pertinentes, as predicações que
não devem ser feitas aos objetos (SODRÉ apud OLIVEIRA, 2002, p. 160).
No Brasil, o campo cultural se fortalece a partir do século XIX, com a chegada
da família real ao país. Este fato aumentou o número de jornais e principalmente de
revistas sobre produção cultural. Grande parte das publicações dedicava-se a fatos
referentes à Europa, como peças teatrais e concertos de ópera. Depois, se passou a
1
O termo jornalismo literário conserva uma polêmica, pois muitos especialistas e pesquisadores o
criticam, preferindo a expressão “jornalismo e literatura”. O fato é que há um tipo de jornalismo que se
utiliza de recursos literários para se efetivar. Desse modo, vamos utilizar a expressão “jornalismo
literário” nesse sentido.
22. investir em publicações literárias (novelas, contos, poemas e folhetins), algo que
consequentemente atraiu o público interessado nesses gêneros literários.
Para estudiosos, o Jornalismo Cultural só passou a ter uma “relevância” no país
a partir da década de 1920, com os modernistas, com suas obras genuinamente
brasileiras. Nesse período, para consolidar o gênero, no país, surge a figura do crítico
cultural, que opina sobre o que deve ser lido e ouvido. Segundo Piza (2009), o crítico de
cultura coloca a grande massa em contato com os produtos culturais, que estão no
mercado para serem consumidos. Todavia não é sua função julgar se algo é bom ou
ruim, mas, verificar se a produção cultural é relevante para os que o consomem. Porém,
ele o crítico nunca deve esquecer que a palavra final sempre será do público; é ele quem
determina se quer ou não consumir o produto.
O jornalismo que faz parte dessa história de ampliação do acesso a produtos
culturais, desprovidos de utilidade prática imediata, precisa saber observar
esse mercado sem preconceitos ideológicos, sem parcialidade política. Por
outro lado, como a função jornalística é selecionar aquilo que reporta (editar,
hierarquizar, comentar, analisar), influir sobre os critérios de escolha dos
leitores, fornecerem elementos e argumentos para sua opinião, a imprensa
cultural tem o dever do senso crítico, da avaliação de cada obra cultural e das
tendências que o mercado valoriza por jornalismo Cultural deve avaliar os
produtos culturais sem preconceitos e inserir a crítica levando em conta qual
a importância do produto para o público que irá consumi-lo. A crítica não
pode dar juízo de valor para o que será apresentado. O público é que deve
escolher se quer ver ou não o produto (PIZA, 2009, p 45).
Outro período importante para o Jornalismo Cultural no Brasil foi o regime
militar. Devido a seu estilo de escrita mais leve, literário e às vezes opinativo, esta
vertente foi usada como “arma” pelos jornalistas e outras figuras públicas para criticar o
Governo Militar. Nesta época, houve um aumento considerável de jornais e revistas da
chamada imprensa alternativa como as O Pasquim e Lampião. Na concepção de Renata
Parente (2012), o gênero jornalístico foi uma opção diante da censura que a ditadura
impunha.
Importante destacar também que o jornalismo cultural participou do
momento da ditadura militar com táticas para burlar a censura, formando
intelectuais e ajudando assim na instituição do campo cultural. Inclusive, foi
nesse período que se desenvolveram formatos de comunicação alternativa,
publicações que a princípio tinham como objetivo combater o regime militar
e a censura imposta por ele e que ao longo das décadas foi se reconfigurando
e ganhando outros formatos, com denominações como popular e comunitária
(PARENTE, 2012, p. 11).
23. Hoje, a editoria se tornou uma das áreas mais exploradas pelo jornalismo, em
jornais, revistas, rádio e televisão. Reinventou-se com portais de internet e blogs que o
exploram com certa exaustão. Mesmo assim, continua sendo um dos gêneros mais bem
sucedidos e trabalhados dentro do jornalismo.
5.1 Jornalismo Cultural e Revista DiscoBrindo
Mesmo com todas as mudanças sofridas, as revistas ainda continuam a ser um
campo muito forte de atuação do jornalismo cultural, especialmente nos países do
Brics,2
devido à identidade que criam com seus leitores, em consequência da escrita
mais criativa ou da edição gráfica. Baseado nisso, esta será a especialização com que
trabalharemos na Revista por nos possibilitar uma escrita criativa e utilização de
elementos literários.
Outro fator que contribuiu para a escolha desse jornalismo especializado foi sua
utilização crítica para denunciar o Regime Militar, além do fato de que vamos
analisamos o disco Construção (1971), de Chico Buarque, um artista que contribuiu
artisticamente para a história do país. Segundo Piza, não é porque o artista não é
conhecido ou idolatrado em fora de seu país, que ele deixa de ser importante para a
cultura do lugar.
Se você retoma como exemplo Chico Buarque, um grande autor de canções
que tem respeito internacional, ele não é exatamente “famoso” fora do Brasil
– e isso não importa muito. Sua criação tem uma força expressiva para o
brasileiro que dificilmente terá para o estrangeiro. Não é porque uma obra
não “viaja” bem que seu valor artístico será necessariamente maior ou menor
(PIZA, 2009, p. 60).
Durante a ditadura militar, o jornalismo cultural foi utilizado para burlar a
censura, ajudando a desenvolver as ideias da imprensa alternativa, que buscava no
gênero uma forma de crítica ao regime, mas usando uma linguagem diferenciada para
que os militares não “percebessem” que se tratava de atuações contestadoras ou
subversivas, O Pasquim, jornal onde o próprio Chico Buarque escrevia suas crônicas
quando estava exilado na Itália, é um exemplo de veículo de comunicação alternativa.
Devido a esses fatores optamos por trabalhar com este gênero jornalístico que de
alguma forma, contribuiu para denunciar e divulgar informações sobre a ditadura
militar.
2
Grupo econômico formado pelos países: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Na nota de rodapé
vocês devem explicar o que é Brics, o conceito. A formatação da nota é justificada.
24. 6. JORNALISMO DE REVISTA
Poucos meios de comunicação possuem uma relação tão sentimental com seu
público quanto às revistas. O leitor cria uma relação de carinho, respeito e confiança
com a publicação e, quem tem o costume de lê-las, é porque concorda com suas crenças
e ideologias. Por isso as pessoas que assinam uma determinada revista, estão inseridas
na maioria das vezes em grupo social. Marília Scalzo define as revista como “um
veículo de comunicação, um produto, um negócio, uma marca, um objeto, um conjunto
de serviços, uma mistura de jornalismo e entretenimento” (SCALZO, 2011, p. 12).
Um dos fatores que contribui para os leitores criarem uma relação de confiança
com as revistas é o baixo índice de erro que elas apresentam, pois se comparamos as
revistas com as outras mídias, o imediatismo não é “fundamental”, pois ela valoriza a
apuração e o aprofundamento de dados. “A revista semanal preenche os vazios
informativos deixados pelas coberturas dos jornais, rádio e televisão” (VILLAS BOAS,
1996, p. 9). Devido a esses fatores, o tempo de produção de matérias de revista é maior
ao dead line de outros meios como o rádio, por exemplo. Nestas, publicações também
há uma liberdade para à mudança de foco nas reportagens, já que a apuração costuma
ser mais aprofundada, e o próprio leitor cobra esse isto delas.
Ainda hoje, a palavra escrita é o meio mais eficaz para se transmitir informações
complexas. Quem quer informações com profundidade deve, obrigatoriamente,
buscá-las em letras de forma. Quem quer saber mais tem que ler. O escritor
colombiano Gabriel García Márquez é autor de uma frase lapidar, que serve
especialmente para as revistas. “Melhor notícias não é a que se dá primeiro, mas
a que se dá melhor” (SCALZO, 2011, p. 13).
Trata-se de um veículo amplificador, capaz de reproduzir tudo que as outras
mídias já noticiaram de uma forma mais explicativa, sua apuração é mais detalhada, a
escrita é algo mais leve se comparado aos jornais diários. Evitando assim, que o leitor
leia a mesma “notícia” de novo, pois a essência do estilo magazine é procurar que os
leitores interpretem e analisem as consequências dos fatos.
A matéria de revista é geralmente uma reportagem descompromissada com o
factual e com os acontecimentos rotineiros, objetivando muito mais uma
interpretação dos fatos e a análise de suas consequências, pois raramente pode ou
procura oferecer novidades no sentido do que é assegurado pelas emissoras de
televisão, de rádio e pelos jornais (LUSTOSA, 1996, p. 104).
A revista na maioria das vezes porta-se como uma “amiga” íntima do leitor. Um
dos fatores que mais contribuem para isso é a segmentação que faz parte de sua
25. essência. O fato de uma revista ser segmentada diz muito a respeito de seus leitores,
podemos de certa maneira inseri-las em determinado grupos sociais, como é o caso dos
leitores das revistas Capricho e Veja. A primeira tem um público formado por
adolescentes entre 13 a 17 anos. Já os leitores da segunda são paulistas de classe A e B.
Por isso quem for escrever ou escreve para revistas que tem um público- alvo definido
deve dominar e pesquisar muito bem sobre as matérias que serão escritas, pois
certamente seus leitores já têm um conhecimento prévio do assunto. As revistas
necessitam entrar em contato frequentemente com seus clientes, utilizam cartas,
telefones e e-mails. Isso ajuda na relação entre quem escreve e o público. Saber o
comportamento do leitor quando se lê a revista pode contribuir muito para o futuro da
publicação, já que através dessa estratégia uma nova linha editorial pode ser
consolidada ou descartada. Segundo Scalzo o jornalista não pode perder a oportunidade
de observar um leitor folheando a revista em cuja redação trabalha
Revista une e funde entretenimento, educação,serviços e interpretação dos
acontecimentos. Possui menos informação no sentido clássico(as notícias
quentes) e mais informação pessoal(aquela que vai ajudar seu leitor no
cotidiano, em sua vida prática). Isso não quer dizer que não busquem
exclusividade no que vão apresentar a seus leitores ou que não façam
jornalismo. A questão é: o que é o jornalismo de revista? Enquanto o jornal
ocupa o espaço público do cidadão, e o jornalista que escreve em jornal
dirige-se sempre a uma platéia heterogênea,muitas vezes sem rosto, a revista
entra no espaço privado,na intimidade, na casa dos leitores (SCALZO, 2011
p. 14).
A linguagem de uma revista deve ser acessível para seus leitores, evitar termos
técnicos em revistas segmentadas, mesmo que o leitor tenha conhecimento do assunto, é
fundamental para um melhor entendimento e interesse da reportagem. Deve-se buscar
fazer textos criativos e sempre se lembrar de que revista é jornalismo e não literatura.
Outro fator importante é que o jornalista não pode “ter preguiça” de revisar seu texto
inúmeras vezes. “Sempre que possível, ainda que você tenha levado em conta todas as
sugestões apresentadas até aqui, desconfie do seu texto. Nunca acredite no seu primeiro
rascunho” (VILLAS BOAS, 1996, p.25)
Uma boa revista tem de ter foco e isso passa por um plano editorial organizado e
objetivo. Porém, com o passar dos anos ele deve ser mutável, reavaliado ou por que não
reinventado, pois os leitores mudam e também anseiam por mudança. Um bom plano
editorial ajuda a revista, pois dá um ar de missão clara e concisa para a publicação. Esse
26. planejamento visual passa por muitos cuidados gráficos e editorias com a “Capa”:
muitas pessoas se lembram- se mais de uma capa do que do próprio conteúdo da matéria
Uma boa revista precisa de uma capa que a ajude a conquistar leitores e os
convença a levá-la para casa. “Capa”, como diz o jornalista Thomaz Souto
Corrêa, “é feita para vender revista”. Por isso, precisa ser o resumo
irresistível de cada edição, uma espécie de vitrine para o deleite e a sedução
do leitor (SCALZO, 2011, p. 67).
Todos esses cuidados que se deve tomar ao publicar uma revista, futuramente
contribui para sua longevidade e fidelização com seus leitores.
6.1 Revistas no Brasil e sua tradição cultural
O jornalismo de revista começa no Brasil com a chegada da família Real. Este
fato contribuiu muito para o crescimento da imprensa no país. Pode-se dizer que esse
estilo de jornalismo, foi fundamental também para a divulgação do jornalismo Cultural
no país, pois ambos tiveram início no mesmo período.
Outra característica importante das revistas brasileiras é a sua tradição
cultural, desde o nascedouro. Basta verificar o importante papel das revistas
culturais no jornalismo brasileiro. O aspecto cultural das revistas também se
define pelo fato de que elas sempre foram um pouso natural para escritores e
intelectuais. Foi em uma revista, O Cruzeiro, que, em 1929, Guimarães Rosa
publicou seu primeiro conto. A primeira fase da revista Senhor, de 1959 a
1964, também é destacada como momento de excelência no setor de
periódicos impressos (MARQUES, 2011, p.2).
O fato de as revistas no Brasil estarem alinhadas ao universo cultural contribui
para uma maior segmentação na área e inúmeras publicações tiveram seu plano editorial
enraizados neste gênero. Aconteceu principalmente após a Semana de Arte Moderna de
1922. Várias revistas foram criadas a partir desse período, como a Klaxon. Primeiro
periódico modernista do Brasil, lançada em 15 de maio de 1922, é marcada pelo
sarcasmo e pela ironia característica dos jovens que elaboraram a ideologia modernista.
Entres os organizadores da revista estavam Oswald de Andrade, Guilherme Almeida e
Mário de Andrade. Foram publicados nove números da revista. De 1924 a 1925, no Rio
de Janeiro surgiu a revista Estética, dirigida por Prudente de Moraes e Sérgio Buarque
de Holanda, além de contar com colaboradores da Klaxon. Com apenas três edições
publicadas, manteve uma postura independente em relação ao modernismo, que
descreviam não como uma escola de arte, e sim, um estado de espírito.
27. 6.2 Revista
A revista Discobrindo investe na segmentação, pois se trata de uma publicação
musical que pode ser inserida também no meio cultural. A proposta é trabalhar com
discos que influenciaram a sociedade brasileira de forma ideológica, social e crítica. O
primeiro número é um especial do disco Construção, 1971, de Chico Buarque de
Holanda, lançado no ano da ditadura militar. O álbum tem forte apelo comercial e
relevância para a história recente do país, pois várias músicas criticam o regime militar.
Em uma pesquisa realizada no ano de 2010 pela revista Rolling Stone, o disco foi eleito
o terceiro melhor da história do Brasil, pois além de fazer experimentações artísticas o
cantor faz uma narrativa de como está sendo seu exílio voluntário na Itália, onde o disco
foi gravado.
Se Chico revela a história do Brasil e o faz sob ângulos insuspeitados, como
não admitir que o artista ensina os brasileiros a se reconhecerem brasileiros?
Ao amarrar os abismos da subjetividade de cada um, Chico, conscientemente
ou não, deixa de ser um intérprete, no sentido preciso do termo, e assume a
condição de formador desse sentimento comum, dito sentimento nacional,
que amalgama os diferentes e contrapostos integrantes da comunidade
brasileira (PINTO, 2007, p. 2).
A revista é voltada para o público especializado em música e história, é artigo
para colecionador. Para reforçar essa ideia, apostou-se no design que lembre um LP, do
antigo e quase extinto vinil, possibilitando a primeira vista para os leitores um visual
nostálgico dos antigos discos produzido no Brasil. Reforçando assim a identidade
musical da revista, no qual conteúdos escritos e visuais criam uma unidade.
6.3 Revista Disco(Brindo) e suas concorrentes no cenário nacional
As concorrentes da revista serão revistas segmentadas da área de música
(Rolling Stone), cultura (Bravo, Cult e Piauí) e coleções lançadas por jornais como
Folha de S. Paulo, o conteúdo tratado visa o diálogo da música e da cultura, mas tem
como objetivo principal o direcionamento para coleção/série.
A revista direciona-se para colecionadores e admiradores de música, pessoas que
apresentem conhecimento prévio do assunto. Oferecemos aspectos inovadores para os
leitores, pois buscamos entender todo o processo de construção de um disco e de como
ele influenciou ideologicamente uma época. Uma revista nesses moldes ainda não existe
no mercado nacional, a maioria apenas faz um especial sobre o assunto de no máximo
28. seis páginas em suas edições. Nossa publicação é uma alternativa para quem gosta de
saber sobre histórias relacionadas às canções antigas. “A palavra “alternativa” vem de
alter, que sugere alterações, mudanças. Significa algo que se contrapõe a interesses ou
tendências dominantes” (BARROS, 2005, p. 1).
A principal diferença entre a revista DiscoBrindo para suas concorrentes é o
investimento em inovação: no mercado editorial: nosso projeto pode ser tanto uma
revista como uma coleção ou suplemento que pode fazer parte de um jornal ou uma
revista. Outro diferencial da é o design, que lembra um vinil antigo. Com isso
pretendemos deixar o leitor curioso, pois o visual é um atrativo que desperta a sua
curiosidade, motivando a vontade de descobrir o que a revista tem a lhe oferecer.
29. 7. PLANO DE TRABALHO
A edição apresentada é um protótipo, que visa a ser oferecido a uma editora
como uma série ou coleção. O conteúdo segue a temática musical e, a partir dela,
define-se um disco que teve influência na história do país em questões econômicas,
políticas, culturais, ideológicas e sociais.
É destinada aos admiradores de música e história do Brasil, definindo-se como
público alvo a faixa etária de 20 a 45 anos. Contudo, é importante que o leitor possua
um conhecimento prévio sobre o assunto, a intenção aqui proposta é de descoberta, e
não de explicação, ou seja, vamos debater o assunto sob uma nova perspectiva e
adicionar informações que, de certo modo, estão intrínsecas.
Nesse contexto, o projeto em questão está ligado ao jornalismo especializado,
ou, sendo mais específico, ao jornalismo cultural. Sobre essa prática, o autor Sérgio
Luiz Gadini propõe a seguinte definição:
Compreende-se por Jornalismo Cultural os mais diversos produtos e
discursos midiáticos orientados pelas características tradicionais do
jornalismo (atualidade, universalidade, interesse, proximidade, difusão,
objetividade, clareza, dinâmica, singularidade, etc) que ao pautar assuntos
ligados ao campo cultural, instituem, refletem/projetam (outros) modos de
pensar e viver dos receptores, efetuando assim uma forma de produção
singular do conhecimento humano no meio social onde o mesmo é
produzido, circula e é consumido. (GADINI, 2004, p. 1)
Para Ivan Tubau (apud VILLA, 2000, p. 2), “Jornalismo Cultural é a forma de
conhecer e difundir os produtos culturais de uma sociedade através dos meios de
comunicação de massa”. A revista se propõe a essa função, auxiliar de forma
informativa e, em casos específicos, opinativa, o conhecimento da música no seu âmbito
histórico e literal.
A linguagem usada nessa publicação é informativa. Os temas aqui tratados
visam como o próprio nome da revista sugere o descobrimento. O leitor será informado
e, ao mesmo tempo, atualizado sobre fatos decorridos. Nesse protótipo, por exemplo, as
músicas do disco Construção são explicadas de acordo com o que estava ocorrendo na
época. Para isso, estudiosos, relatos de meios de comunicação e pessoas que
vivenciaram o período serão considerados como fontes para a construção da publicação.
Somente na seção Biz será permitido o uso de literalidade, por ser a seção da revista
dedicada ao viés opinativo.
30. 7.1 Projeto Gráfico
O nome da publicação remete ao descobrimento e à música. Partindo dessa
significação, é necessário que o projeto gráfico remeta ao mesmo sentido. Apostamos
num design criativo, que coloque o leitor como um “descobridor” durante a leitura das
editorias que compõem a revista. O objetivo é fazer com que, ao folhear as páginas, as
técnicas e estratégias da área de planejamento visual aplicadas no projeto gráfico da
publicação sejam capazes de informar e entreter com seu dinamismo, re-configurando a
leitura no intuito de surpreender e “prender” o leitor ao conteúdo.
Adotamos um grid de seis colunas, para que o espaço em branco na página tenha
um valor significativo e, a partir dele, seja possível a criação gráfica de outros
elementos na página, possibilitando a manipulação do texto. Para favorecer o fluxo de
leitura, o texto é sempre alinhado à esquerda. A fonte adotada para os textos das seções
é a Garamond. A escolha se deve ao aspecto serifado que a fonte tipográfica apresenta,
segundo Sousa (2002), a característica da Garamond produz maior legibilidade e cansa
menos a vista do leitor.
Figura 1: Exemplo da fonte Garamond
Fonte: <http://www.fontscape.com/explore?70Q> Acesso em 13 de março 2013.
Padronizamos a fonte Helvetica para o título das seções e o número das páginas.
Definimos o tamanho 70 pontos para os números e 30 pontos para a seção. São
localizadas no lado superior esquerdo das páginas pares e superior direito das ímpares
(O que são localizadas?). A Helvetica , assim como a Arial, é encontrada no grupo das
que não possuem serifas. Seu traço contrastado auxilia a leitura e a destaca como fonte
referencial, já uma vez que será usada somente para denominar a seção e o número.
Conforme Sousa (2002), esse tipo gráfico foi desenhado com consistência, apresentado
31. formas e proporções que permitem a fácil distinção de cada caractere dos demais (fator
denominado legibilidade).
Figura 2: Exemplo da fonte Helvetica
Fonte:<www.linotype.com> Acesso em:
A escolha da fonte Calisto MT para a seção Set List, se refere ao aproveitamento
gráfico que ela proporciona para leituras impressas.
Calisto é um Tipo cuja característica principal reside no facto de produzir
uma mancha de texto bem equilibrada e neutra (pouco contrastada), ao
mesmo tempo em que a sua estrutura robusta o adéqua também para
aplicação em títulos. A forma ligeiramente caligráfica das letras e as
proporções clássicas deste Tipo dão “limpeza” e elegância a qualquer página.
O Calisto é um Tipo gracioso e interessante, que se revela particularmente
útil quando usado em livros, jornais e revistas (SOUSA, 2002, p. 42).
Figura 3: Exemplo da fonte Calisto MT
Fonte: <http://www.laseraccents.com/font_samples_page5.htm > Acesse em 13 março 2013.
No intuito de proporcionar para cada matéria a identidade condizente com a
temática trabalhada, não há definição prévia para as fontes dos títulos, pois a abordagem
será norteada pelo texto.
O logo da revista faz uso do princípio do contraste para que fique clara a ideia de
“música” e “descoberta”. Willians (2010) discorre: “Cria-se o contraste quando dois
elementos são diferentes. Se eles diferirem um pouco, mas não muito, não acontecerá o
contraste e sim um conflito”. Deste modo, a função contrastada aqui proposta salienta o
leitor de duas palavras. O disco (vinil) e o descobridor. Buscamos essa identidade
32. visual através da diferenciação das letras em maiúsculas e minúsculas. Além da
utilização desse recurso gráfico, ao final de cada seção um vinil é usado como marcador
de fim de página, proporcionalmente, terá o mesmo tamanho da fonte. Esse recurso
estético possui a finalidade de reafirmar a linha editorial da revista, que trata de música.
Seu formato é de um LP, inspirado na revista Ácaro. A publicação é retirada de
dentro de uma capa externa (semelhante ao vinil), para que desta forma, o design
gráfico contribua na intenção de adentrar a leitura do conteúdo ao universo musical e
histórico, o LP não se refere a uma mídia musical da atualidade. A publicação
apresenta-se em 28 páginas, no formato 210x210 mm, com impressão colorida CMYK,
em papel couché.
Figura 4: Capa da 2ª edição da revista Ácaro
Fonte: <http://imagens.extra.com.br/Control/ArquivoExibir.aspx?IdArquivo=6160715> Acesso em: 13 de
março de 2013
7.2 Editorias
A revista é composta por nove editorias fixas, cujo ponto norteador do projeto
editorial é a temática musical. Todas as seções têm um nome relacionado a elementos
que remetem a música. As seções contidas são divididas em:
Passagem de Som é o momento em que uma banda ou um músico está se
preparando para o show. Na revista, é o editorial faz uma introdução rápida do que a
publicação vai oferecer ao leitor. Explica sua temática e sua importância histórica para o
país;
Set List, faz referência à escolha de música em um play list. Trata-se do sumário
da publicação;
Casa Edison, fala exclusivamente sobre o contexto histórico que a publicação
trata. O nome faz referência à primeira gravadora brasileira, fundada em 1900, ou seja,
33. o nome da sessão faz menção à história e quais as motivações que levaram o artista a
compor o álbum.
Single, na linguagem das gravadoras, seria uma canção viável comercialmente.
A seção traz a da matéria de capa. O objetivo é conseguir a entrevista com o cantor que
personifica a temática da publicação (Chico Buarque). Caso não seja possível, realiza-se
um apanhado midiático de publicações para traçar a motivação e os objetivos do artista
ao escrever e cantar as músicas. Nessa seção, também se aborda a vida do cantor até o
lançamento do disco.
Encarte (que remete à fotografia de disco, CD´s e DVD´s) no protótipo é o
ensaio fotográfico da canção Cotidiano. Escolhemos porque a música é uma das mais
comentadas e trabalhadas em diversos artigos acadêmicos. Retratá-la em fotos é uma
alternativa metafórica para sair do cotidiano.
Discografia (história em disco da vida musical de artista) está seção é uma
compilação de fatos que já foram publicados na mídia sobre o álbum, o que
especialistas e estudiosos falaram de Construção, ou seja, as músicas são analisadas sob
o ponto de vista científico, abordando seu significado junto ao contexto histórico.
Trechos da música são inseridos na análise. São analisadas as dez músicas do álbum.
Perfil conta a história de uma pessoa que viveu a época da ditadura militar,
linkando com o álbum do cantor. Essa seção tem como foco o personagem que viveu o
período, queremos nesta editoria resgatar as memórias e saber a opinião do entrevistado
sobre o que aconteceu na época. Um perfil jornalístico do personagem, o nome tem
referência nas coleções de perfis musicais lançados pelas gravadoras.
Biz: seção publicada na última página da revista. É escrita por um colaborador e
seu cunho é opinativo. Nesse número específico, trata-se de uma crônica escrita pela
bacharel em Jornalismo pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Maria
Aparecida Pinto.
Clip: uma história em quadrinhos da música Acalanto ilustrada na contracapa da
revista. A música é uma canção de ninar é associada ao mundo infantil. Crianças na
maioria das vezes gostam de ler esse tipo de historinhas. Os Videoclipes no mundo da
música servem para divulgar o trabalho do artista na indústria fonográfica.
7.3 Disco “Construção” de Chico Buarque
Como já foi mencionado, nesta publicação abordamos como objeto de pesquisa
o disco Construção. Francisco Buarque de Holanda, mais conhecido como Chico
34. Buarque, nasceu no dia 19 de julho de 1944, no Rio de Janeiro. A carreira na música é
iniciada em 1964 com uma apresentação musical no colégio Santa Cruz. No mesmo
ano, ele compõe a música Tem mais samba, feita sob encomenda para o
musical Balanço de Orfeu. Nos anos seguintes, sua carreira é traçada no âmbito da
Bossa Nova ao lado de artistas como Vinicius de Moraes Checar grafia do nome, Elis
Regina, João Gilberto, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Nara Leão.
Lançado em 1971, Construção foi o quinto disco gravado pelo compositor. A
época de seu lançamento, o Brasil estava no regime militar e, nesse período, a censura
era iminente a qualquer tipo de crítica ao governo e/ou estado. A autora Adélia Bezerra
afirma:
A censura se instala nos teatro, televisão, cinema, nas universidades:
eliminação quase que total de germinar uma cultura crítica. O Brasil passa a
viver sob a égide da „Doutrina da Segurança Nacional‟ – em nome da qual se
viveu como nunca um clima de tanta insegurança. É o clima de Acorda,
Amor, de Julinho da Adelaide e Leonel de Paiva (pseudônimos de Chico para
driblar a censura, num certo período); traduz a situação tal que o cidadão
comum prefere o ladrão a polícia (MENESES, 1982, p. 72).
O disco funcionou como forma de intervenção naquela época, pois cabia a Chico
Buarque o papel de informar às pessoas sobre o que estava acontecendo, seja através de
metáforas como em Acalanto – que utiliza o verso “dorme minha pequena, não vale a
pena acordar” para dizer: melhor dormir que acordar e ver o que está acontecendo. Ou
em composições mais diretas, como em Deus Lhe Pague, em que o intérprete utiliza da
ironia para criticar a situação repressiva em que os brasileiros viviam durante o regime.
Ele “agradecesse” ao governo por permitir ao cidadão não realizar atos básicos, como
respirar, já que o regime controlava cada passo dado pela população.
Canções como Construção, Cotidiano e Cordão também possuem letras com
referências diretas à ditadura militar. A primeira – Construção – pode ser encarada
como um ensaio em que o personagem (um trabalhador) só consegue atrapalhar o
trânsito ao morrer na grande cidade. Como se a vida dos trabalhadores não valesse nada.
A segunda e terceira, respectivamente, são crônicas contra o Estado. Uma é pessimista
em relação à população – que, seguindo uma mesma rotina, não faz nada para mudar.
Pode ser tratada também como uma crítica aos grandes jornais da época – que,
diferentemente da imprensa alternativa, diziam aquilo que os militares queriam, sem
confrontá-los. A outra canção – Cordão – apresenta uma visão mais positiva, pois
mostra que, se houver união, é possível vencer aquela conjuntura. Samba de Orly narra
35. à experiência do artista no exílio. Essa música foi composta junto com Vinicius de
Moraes e Toquinho – tendo sido a mais censurada do disco. Os autores tiveram que
cortar e modificar diversos trechos.
O lirismo característico de Chico Buarque aparece em Olha Maria, composta
com Tom Jobim, Valsinha e Desalento, em parceria com Vinicius de Moraes. Esta
última carrega uma espécie de desabafo: ter deixado de fazer tantas coisas devido a uma
causa. Em uma entrevista a revista Rolling Stones (Edição 61 - Outubro de 2011), Chico
Buarque disse que gostava de fazer músicas de protesto contra o governo, quando a
imprensa não o fazia. Hoje, não gosta de escrever músicas criticando o governo, porque
a mídia faz críticas em todos os meios de comunicação possíveis. Então não cabe a ele
mais esse papel de contestador.
36. 8. DESCRIÇÃO DO PRODUTO
Para enriquecer o conteúdo apresentado na revista, entrevistamos, pesquisamos e
tivemos a colaboração de diversos profissionais para aprimorar a parte de história do
Brasil e da obra de Chico Buarque. O projeto gráfico da revista foi elaborado
obedecendo-se ao planejamento inicial proposto no capítulo anterior. Buscamos no
design ritmo e identificação musical, seguindo orientações da professora de
Planejamento Visual da Universidade Federal de Ouro Preto, Lucilia Borges. Para
finalizar a arte e formatar o trabalho para ser enviado à gráfica, contratamos o designer
Roberto Júnior. Para a capa da revista, propomos a releitura da capa original do disco
Construção. Usamos como inspiração, as cores, aspectos e disposições dos elementos.
Trabalhamos essa proposta no programa Adobe Photoshop CS5, que permite o uso de
efeitos artísticos.
Figura 5: Capa do disco “Construção”
Fonte: <http://blog.opovo.com.br/discografia/files/2012/11/CHICO_1.jpg> Acesso em: 13 de março 2013
O expediente foi colocado na contracapa. Passagem de Som é a seção que abre a
revista. Tem como objetivo fazer um breve resumo do que a publicação vai trazer para o
leitor. Em seguida, há o Set List,. A Casa Edison contou com a colaboração da
historiadora Josanne Guerra Simões. Formada pela Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG), mestre em Relações Sociais de Dominação, atualmente, trabalha como
Assessora Técnica do Núcleo de História Oral do Programa de Educação patrimonial do
Trem da Vale. A historiadora indicou fontes de pesquisa bibliográfica para a elaboração
da matéria. A graduanda em História pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP),
Andréa Sannazzaro, também foi colaboradora, indicando sites e artigos científicos
relativos à temática analisada.
37. Rejane Márcia Freitas de Oliveira à entrevistada da seção Perfil. Foi escolhida
para contar a sua versão como espectadora do regime militar brasileiro. Na época, era
estudante de História na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Participou de
movimentos estudantis, protestos e teve amigos presos e torturados. A entrevista foi
feita no seu apartamento em Belo Horizonte, Minas Gerais.
Single, por se tratar da matéria principal, nossa ideia era entrevistar o cantor para
falar sobre o disco e o quão ele foi importante na sua carreira. Várias tentativas foram
feitas através de e-mails e telefonemas para sua assessoria mais todas não obtiveram
sucesso. Então utilizamos trechos da entrevista feita por e-mail com a escritora Regina
Zappa, estudiosa da vida e obra de Chico Buarque e professora da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ). Zappa escreveu diversos livros sobre o cantor e trabalhou
mais de vinte anos no Jornal do Brasil. Ela falou sobre sua impressão referente ao
disco. Seus livros foram base para traçarmos um perfil do artista. Buscamos
informações nas revistas Realidade, Rolling Stones e no jornal Estadão que já
publicaram informações sobre o disco. Fizemos um perfil da vida de Chico Buarque até
Construção sem entrevistá-lo.
Na seção Encarte, foi feito um ensaio fotográfico pelo jornalista Simião Castro,
formado na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Escolhemos esse colaborador,
pois tivemos oportunidade de conhecer seu trabalho de perto, como colegas. Suas
fotografias já estiveram em duas capas do jornal Lampião - jornal laboratório do curso
de Jornalismo da UFOP - e um ensaio fotográfico para a Curinga, revista laboratorial do
curso de jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto. Informamos que o ensaio
seria sobre a música Cotidiano. Não foi delimitado número de fotos, nem disposições
lhe demos total liberdade para realizar o ensaio como achasse mais adequado de acordo
com sua visão de fotojornalista. Ele apresentou 19 fotos, o objetivo foi contar a história
da música em diferentes tempos, com diferentes casais.
Em Discografia, tratou-se de uma compilação (pesquisa) de textos que falam do
disco e tem como objetivo interpretar as músicas do álbum. Essa seção foi colocada
próximo ao final da publicação intencionalmente. O leitor se informa, primeiramente,
do contexto histórico, das motivações do cantor, conhece a carreira do cantor e,
finalmente, compreende as letras sob o ponto de vista crítico. O livro Desenho Mágico
de Adélia Bezerra foi usado como base para essa seção. Utilizamos também como
referência o site do crítico musical pernambucano Luiz Américo Lisboa Junior além de
uma entrevista do professor de literatura do Colégio Anglo, Fernando Marcílio, ao
38. portal Terra em outubro de 2011, que explicava como a música de Chico Buarque ajuda
a entender a ditadura militar. Recorremos ao blog Virtuália – O Manifesto do escritor,
Jeocazz Lee- Meddi - Prêmio de Literatura Joaquim Câmara Filho pelo livro Fatal a
hora Azul, para complementar as informações. A jornalista Maria Aparecida Pinto,
formada na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), foi à colaboradora da seção
Biz. Assim como o Simião, conhecemos seu trabalho de perto. Como aluna, sempre se
destacou no âmbito do jornalismo opinativo e literário. Ela escreveu uma crônica sobre
as canções do álbum, fazendo uma leitura que mescla a contemporaneidade das
composições e os indícios políticos e históricos.
Clip é a última seção da revista. Com base na música Acalanto elaboramos o
esboço do quadrinho. Na ilustração, a música foi associada a uma canção de ninar. A
história se constrói com uma mãe colocando seu bebê para dormir antes de sair para
protestar pelos seus direitos. Na sequência, é presa e não retorna mais para casa. O
último quadrinho mostra a imagem do neném dormindo e sonhando com a mãe,
elucidando a ideia do trecho da música que diz: não vale a pena acordar. O esboço foi
mandado para a desenhista Tirza Setta, que o usou de base para sua ilustração.
Figura 6: Esboço da seção “Clip”. Fonte: Elaboração das autoras
39. 9. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A revista DiscoBrindo nasceu do propósito de informar e entender os diferentes
períodos históricos e ideológicos do país, utilizando disco que marcaram época na
MPB. O projeto editorial também demonstra as várias formar de passar informação,
visando um debate dos temas que estão presentes nas canções. A escolha do disco
Construção deu-se pelo fato de acreditamos que ele foi um forte instrumento
informativo e de protesto em uma época que a imprensa sofria forte censura no país.
Partindo desse ponto, usamos as músicas do álbum para contar a história da ditadura
militar e de Chico Buarque de uma forma diferente. Em nosso projeto a música do disco
analisado atua como fonte de informação, formadora de opinião, auxiliando o
jornalismo em seus preceitos.
Usamos na seção Casa Edison a informação cronológica do que estava se
passando naquela época. Assim, o leitor se depara com as motivações, o “por quê?” de o
disco ser um protesto contra o sistema. Essa seção tem a função de relembrar os fatos
históricos, que motivaram o compositor a escrever o disco, a editoria é necessária para o
entendimento crítico da publicação. Ao ler as seções seguintes, a publicação passa a ser
instrumento de descobrimento, pois são linguagens e leituras inéditas sobre um tema já
conhecido.
Além de poder desenvolver o processo de produção editorial em todas as etapas,
nós (autoras) podemos trabalhar o desenvolvimento criativo e, através do trabalho,
colocamos a teoria acadêmica na prática profissional. Dessa maneira, o produto
resultante não só cumpriu com sua função de trabalho acadêmico, como também
contribuiu para a formação profissional, caso tenhamos a decisão de seguir nesse ramo
do jornalismo.
A edição gráfica foi um ponto desafiador no trabalho. Queríamos mostrar
através dela, a junção do jornalismo verbal e não verbal. Trabalhamos para que as
edições sempre estivessem em ritmo com o conteúdo, colocando o leitor em todo
momento como um “descobridor”. A leitura não está vinculada a matérias
especificamente e sim ao conjunto todo que o projeto gráfico propõe.
Espera-se que, assim, a revista DiscoBrindo possa trazer contribuições
significativas para pesquisas no âmbito de jornalismo cultural e informativo no país.
Para aqueles que aspirarem à reprodução de uma ideia, saibam identificar a
possibilidade de confrontar as várias formas de se veicular a informação.
40. Como pesquisadoras e estudantes de jornalismo acreditamos que a música
contribui para o aprendizado das pessoas, tendo fácil penetração na mídia e atua na
memória coletiva dos cidadãos. Através dela a história pode ser reescrita e recontada.
No campo jornalístico a música exerce a função crítica e, em determinados casos,
contestadora como é o caso do disco que trabalhamos na revista, dando-lhe uma visão
jornalística e informativa.
Confiamos que essa publicação possa ser passada para uma editora e ser
veiculada com uma tiragem mais expressiva. Teremos como desafio, trazer nas
próximas edições novos discos e novas linguagens, seguindo o critério de sempre inovar
para o leitor se depare com um novo descobrimento.
41. REFERÊNCIAS
ADORNO, Theodor; HORKHEIMER, Max. A indústria cultural: o iluminismo como
mistificação das massas. In: Indústria cultural e sociedade. São Paulo: Paz e Terra,
2009.
AZUBEL, Larissa Lauffer Reinhardt. Jornalismo de Revista: um olhar complexo,
Intercom, 2012.
BARROS, Patrícia Marcondes de. A Imprensa Alternativa da Contracultura no
Brasil (1968-1974): alcances e desafios. UNESP-FCLA, 2005.
CAVALCANTI, Paulo. 100 maiores músicas brasileiras. In: Revista Rolling Stone,
São Paulo: Editora Spring Comunicações, edição nº 37, outubro de 2009.
COHN, Sérgio. Revistas de invenção: 100 revistas de cultura do modernismo à
atualidade. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2011.
COELHO, Teixeira. O Que é Indústria Cultural. São Paulo: Editora Brasiliense,
1981.
GADINI, Sérgio Luiz. Grandes estruturas editoriais dos cadernos culturais:
Principais Características do Jornalismo Cultural nos Diários Brasileiros. Trabalho
apresentado no II Encontro da Sociedade Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo.
Salvador: Novembro, 2004.
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época. Disponível em: <http://virtualiaomanifesto.blogspot.com.br/2007/11/construo-o-
grito-sussurrado-de-uma-poca.html.> Acesso em: 10 de abril de 2013.
LESSA, Luísa G. Análise estilístico-sintática da canção “valsinha” de Vinícius de
Moraes e Chico Buarque de Hollanda. Disponível em:
<http://www.filologia.org.br/revista/54/006.pdf.> Acesso em: 03 de maio de 2013.
LUSTOSA, E. O Texto da Notícia. Brasília: Universidade de Brasília, 1996.
MARQUES, Fabrício Oliveira. Cápsula do Tempo: A revista no contexto digital.
SBPJOR, 2011.
42. MENESES, Adélia Bezerra de. Desenho Mágico: Poesia e Política em Chico Buarque.
São Paulo: Ateliê Editorial, 1982.
PASQUALE NETO, C. A construção de Construção. Disponível em:
http://blog.educacional.com.br/blog_pasquale/2010/05/09/a-construcao-de-construcao/.
Acesso em: 10 de abril. 2013.
NOLASCO, Leonardo. Lendo e ouvindo Chico Buarque – Canções no feminino /
masculino. Disponível em:
<http://www.revistagenero.uff.br/index.php/revistagenero/article/viewFile/67/45.>
Acesso em: 5 de maio de 2013.
OLIVEIRA, Paulo Cesar Miguez de. A Organização da Cultura na “Cidade Da
Bahia”. Disponível em:<
www.cult.ufba.br/arquivos/tese_de_doutorado_paulo_miguez_facom_ufba_2002.pdf.>
Acesso em: 16 de março de 2013.
PARENTE, Renata Escarião. A constituição do campo cultural e a emergência do
jornalismo cultural no Brasil. Intercom – Fortaleza, CE – 3 a 7/9/2012.
PIZA, Daniel. Jornalismo Cultural. São Paulo: Contexto, 2009.
PINTO, Fabiane Batista. A contribuição de Chico Buarque para a construção do
passado nacional. ABRALIC, 2007.
COSTA, Moriel Adriano da. Moriel Adriano da Costa: entrevista [fev. 2013].
Entrevistadoras: Jéssica Vilvert Klöppel e Renata Stein de Souza. Florianópolis : [s.n.],
2013. Arquivo em formato WAV. Entrevista concedida para a pesquisa.
Basso, Eliane Fátima Corti: Jornalismo Cultural: uma análise sobre o
campo.Universidade Anhembi Morumbi – São Paulo e Universidade Municipal de São
Caetano do Sul. 2006
RIBEIRO, Hamilton. Chico põe nossa música na linha. In: Revista Realidade. São
Paulo: Editora Abril, edição nº 71, páginas 16-24, fevereiro de 1972.
SCALZO, Marília. Jornalismo de revista. São Paulo: Contexto, 2009.
SOUSA, Miguel. Guia de Tipos. 5º ano do Curso Superior de Tecnologia e Artes
Gráficas do Instituto Politécnico de Tomar: Outubro, 2002.
SPESSOTO, Toninho. Os 100 melhores discos da música brasileira. In: Revista
Rolling Stone. São Paulo: Editora Spring Comunicações, edição nº13, página 111,
outubro de 2007.
TERRON, Paulo. Revista Rolling Stone. Entrevista Chico Buarque. São Paulo: Editora
Spring Comunicações, edição nº61, outubro de 2011.
43. VILLAS BOAS, Sérgio. O estilo Magazine: o texto em revista. São Paulo, Summus,
1996.
VILLA, María J. Una aproximacíon teórica al periodismo cultural. In: Revista Latina
de Comunicación Social. Nov 2000, n 35 La Laguna (Tenerife). Disponível em:<
http://www.ull.es/publicaciones/latina/argentina2000/09villa.htm.>
WILLIAMS, Robin. Design para quem não é designer: noções básicas e planejamento
visual. São Paulo: Callis, 1995.
ZAPPA, Regina. Chico Buarque: Paratodos. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2000.
______ Chico Buarque: Cidade Submersa. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2006.
______ O cancioneiro Chico Buarque: Biografia e Obras Escolhidas. Rio de Janeiro:
Tom music, 2004.
______ Para seguir minha jornada: Chico Buarque. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
2011.
44. ANEXO I
Projeto gráfico usado na revista DiscoBrindo
Seção Fonte usada para
título / tamanho /
entrelinha
Fonte usada
para
subtítulo /
tamanho /
entrelinha
Fonte
usada para
Intertítulo
/ tamanho
/
entrelinha
Efeito usado no
programa
Photoshop
Número
de
Páginas
Capa CordialUPC / 40
pts / 5 pts
CordialUPC
/ 30 pts
- Tratamento de
foto (cor,
tonalidade e
temperatura)
1
Expediente CordialUPC / 30 Garamond /
17 pts / 1 pt
- Tratamento de
foto (cor,
tonalidade e
temperatura)
1
Passagem de
Som
Helvética / 20 pts /
2 pts
- - Tratamento de
foto (cor,
tonalidade e
temperatura)
1
Set List Helvética Segoe Script - Tratamento de
foto (cor,
tonalidade e
temperatura)
2
Casa Edison DouglasAdamsHan
ds / 25 pts / 5 pts
Halcyonia
Superwide /
30 pts
- Tratamento de
foto (cor,
tonalidade e
temperatura)
2
Perfil Helvética / 40 pts /
2 pts
Helvética/
25 pts
Garamond /
18 pts
- 6
Single Helvética / 40 pts /
2 pts
Helvética /
25 pts
- Tratamento de
foto (cor,
6
46. ANEXO II
Seção: Expediente
A Revista DiscoBrindo é o trabalho de conclusão de curso das alunas Dalila Carneiro e
Marcela Servano do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto sob a
orientação do Professor Doutor Fabrício Marques.
Editor e Jornalista Responsável
Fabrício Marques – 04663/JPMG
Projeto Gráfico
Dalila Carneiro
Marcela Servano
Editores
Dalila Carneiro
Marcela Servano
Repórteres
Dalila Carneiro
Marcela Servano
Colunista
Maria Aparecida Pinto
Diagramadores
Dalila Carneiro
Marcela Servano
Finalização de Arte e Capa
Roberto Cica Jr.
Fotógrafos
Dalila Carneiro
Marcela Servano
Simião Castro
Ilustração da seção Clip
TirzaSetta
Endereço
Rua do Catete 166, Centro, CEP 35420-000
48. ANEXO III
Seção: Passagem de Som
Título: Palavra Cantada
Página: 1ª página
Vamos equalizar o som e o ritmo da música que compõe nossas histórias. Não
está entendendo? Pois bem, é tão divertido quanto parece. As canções cantadas em
protestos marcaram época. Agora, temos o prazer de escutá-las e refletir um pouco mais
sobre a história do nosso país.
A revista DiscoBrindo tem essa missão com você, leitor. Contaremos fatos
históricos por meio de músicas que trilharam o nosso enredo. Nesse primeiro número,
vamos compreender como o disco Construção, de Chico Buarque, foi um importante
marco cultural durante o período da ditadura militar do Brasil.
Falaremos de história e música com detalhes talvez não reparados por você. São
novos aspectos, caras e formas que vão despertar o imaginário musical. Mergulhe no
ritmo que essa leitura vai lhe proporcionar. Bom show!
Dalila e Marcela
49. ANEXO IV
Seção: Casa Edison
Título: Motivações de Chico
Páginas: 4 - 5
O que fazer quando o governo deixa uma sociedade censurada? Para Chico
Buarque, a resposta é fácil: “Música”. Ele e outros artistas brasileiros se mobilizaram e
fizeram da arte uma forma de protesto e representação popular. Eles ajudaram a definir
o rumo da história do país e a lutar pelo direito à liberdade de expressão.
Nesse período, a música foi usada para informar e encher os pulmões daqueles
que protestavam. Mais que um registro histórico, Chico foi um dos artistas que deu
ritmo e voz para aquele momento.
Entendam quais foram suas motivações.
1964 - Em 31 de março, o golpe político-militar, que foi apoiado por vários
setores da sociedade brasileira, depõe João Goulart da Presidência da República. A
destituição foi resultado da postura favorável do presidente a conquistas populares,
inaceitáveis para a elite e para a classe média naquela ocasião. O Ato Institucional nº 1
suspende os direitos políticos de centenas de pessoas. O general Castelo Branco assume
a presidência.
1965 - Os partidos políticos existentes são extintos e instala-se o bipartidarismo,
com a Aliança Renovadora Nacional (Arena), de apoio ao governo, e o MDB
(Movimento Democrático Brasileiro), da oposição.
Durante o seu governo Castelo proibiu atividades políticas dos estudantes;
decretou o AI-2; ajudou a redigir e assinou a Lei de Segurança Nacional, que instituiu a
noção de “guerra interna”; fechou o Congresso Nacional e decretou uma Lei de
Imprensa restritiva.
1967 - O marechal Costa e Silva assume a Presidência da República. Líderes da
oposição organizam uma frente ampla contra o governo militar.
1968 – A oposição é reprimida com violência. O Ato Institucional nº 5 marca o
endurecimento do regime, agora abertamente ditatorial. Inicia-se uma fase
completamente distinta da anterior. O artigo Versões e controvérsias sobre 1964 e a
ditadura militar do professor de História do Brasil da Universidade Federal do Rio de
50. Janeiro – UFRJ, Carlos Fico no artigo, afirma que “a tortura e o extermínio foram
oficializados como práticas autorizadas de repressão pelos oficiais-generais e até mesmo
pelos generais-presidentes”.
1969 – O presidente Costa e Silva é afastado devido a problemas de saúde. Uma
junta militar assume provisoriamente o governo. A alta oficialidade das Forças Armadas
escolhe o general Garrastazu Médici para presidente.
1970 - A oposição ao regime se torna mais intensa, com guerrilhas na cidade e
no campo. Os militares reagem com violência. Nos "porões" da ditadura, passam a
ocorrer mortes, desaparecimentos e torturas.
O historiador e professor titular de História Contemporânea da Universidade
Federal Fluminense - UFF, Daniel Aarão Reis, salienta no artigo Ditadura, Anistia e
Reconciliação que o período dos militares no governo, desde o início, sempre suscitou
oposições. Estas se multiplicariam, principalmente nos últimos anos da década de 1970,
tornando-se então difícil encontrar alguém que apoiasse „explicitamente‟ o regime que
se extinguiria somente em 1984.
Dentre esses pretextos e uma vontade de fazer a diferença para a sociedade
desinformada, Chico produziu Construção em 1970. Essas foram suas motivações. Ele
usou sua voz e sensibilidade para compor canções que, para uma sociedade
desinformada, foi um meio de saber o que se passava.
Até hoje, suas canções são usadas como referências em estudos e pesquisas
acadêmicas.
Fonte: http://www.brasilrecente.com
http://histfacil.blogspot.com.br/
51. ANEXO V
Seção: Perfil
Título: “Ela não entrega os pontos...”
Bigode: Estudante em tempos de ditadura, Rejane sorriu, chorou e não se
arrependeu. Assim como Chico, fez tudo por amor.
Páginas: 6 - 11
Mulher, nascida em uma família pobre com pouco estudo, na sociedade machista
de 1944. Acima de qualquer expectativa, Rejane Márcia Freitas de Oliveira (69) mudou
a trajetória comum das mulheres daqueles tempos. Estudou, se graduou em História e
fez à diferença para a nação.
Devido a problemas financeiros, cresceu no meio de jovens universitários. Por
sugestão e ajuda de um pediatra amigo da família, sua mãe montou uma pensão que
vivia repleta de jovens estudantes. Esse ambiente a inspirou a buscar novas
oportunidades, a ter novos olhares do futuro.
Sempre foi uma aluna aplicada. Tinha as melhores notas e vontade de estudar
que só multiplicava com o passar do tempo. Ansiava o curso de medicina, mas ao final
do 2º ano científico, a vontade de construir uma família ao lado de seu marido Francisco
José de Oliveira (74) , foi maior do que ser médica. A dedicação às duas funções seria
insustentável. Portanto resolveu cursar História. Concluiu o curso e fez mestrado em
Ciência Política. Foi professora dos colégios Loyola, Pitágoras, Santo Antônio, Estadual
Central, Anexo da Lagoinha, Sagrada Família e Anexo Santo Antônio. Trabalhou
ministrando o curso de atualização para professores e auxiliou na reforma do Programa
de Educação de História do Estado. Em 1987, montou a Companhia de História, que
oferecia curso de história para interessados pela disciplina. O projeto se destacou e
Rejane foi chamada para dar entrevista no programa Sem censura, da emissora TV
Brasil. Foi entrevistada também pelos jornais diários Globo, Estado de Minas e Jornal
do Brasil. Contudo, o trabalho era expressamente por prazer, não lhe rendia lucros
financeiros, depois de um determinado tempo, tornou-se inviável.
Em 1988, foi convidada para ser professora da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG), época em que não era necessário concurso para lecionar. Não aceitou.
Achava que era fruto do ensino público e se alcançara o nível de pós-graduação era
devido ao estudo no Grupo Escolar Afonso Pena, no Estadual Central e na UFMG. Ela
52. sentia-se na obrigação de devolver o aprendizado que obtivera, salientando a
importância de atuar no Ensino Fundamental e Ensino Médio, níveis que necessitam
dessa atenção, não sendo professora de universidade.
O amor à profissão lhe rendeu o Prêmio de Melhor Professora de História do
Pitágoras e, até os dias atuais, tem encontros mensais e anuais com seus alunos.
Subtítulo: Não foi uma história inventada...
No calendário, o primeiro dia do mês de abril é “festejado” como o dia da
mentira. Nesta data, costumamos passar trotes em nossos familiares e amigos, porém
para a professora Rejane, o dia em questão lhe faz lembrar-se de outra coisa. O ano era
1964, a data: 1º de abril, o local: o Instituto João Pinheiro, em Belo Horizonte, lugar
que abriga jovens de baixa renda. Rejane, então professora da instituição, presencia a
chegada de viaturas do exército na porta do prédio por volta das cinco horas da tarde,
quase anoitecendo. Pedia-se que o prédio fosse evacuado, pois seria transformado em
quartel. Segundo a professora, as crianças, em sua maioria menores de idade,, foram
jogadas como migrantes, sem saber para onde ir. Os produtos artesanais e as peças de
cristais que elas produziam tiveram que ser encaixotados pelos funcionários. Rejane que
ainda guarda com carinho duas taças de cristal feitas no instituto, diz que perdeu seus
alunos e que naquele momento também havia percebido que estava perdendo sua
liberdade.
Na mesma semana da invasão do João Pinheiro, a professora passou por outro
trauma. Ela era caloura do curso de História da Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG), estudava no período diurno, entrava às sete da manhã e chegava dez minutos
mais cedo para revisar o conteúdo. Suas aulas eram ministradas no oitavo andar da
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich). Na época, o prédio não era
moderno como o atual, não havia rampa nem elevadores. Rejane diz estava na sala
lendo “quando a porta é chutada, aparecem dois homens fardados com fuzis nas mãos,
mandando a gente descer, dizendo que o prédio seria ocupado pelo exército. Os
militares escoltaram os alunos andar por andar até a saída e fizeram uma barreira com
armas na mão para quem estivesse do lado de fora não entrar”.
As atividades ficaram suspensas por uma semana na universidade. Para Rejane,
o susto e o medo de quem viveu aquele momento foi grande, estavam estampados nas
faces das pessoas. “Muitos nunca tinham visto um fuzil de perto, e algumas pessoas
53. tiveram pesadelos com os gritos dos soldados de Vai, vai logo, balançando as suas
armas”. Este fato fez com que a professora, que namorava um sargento, e seus amigos
mudasse sua visão sobre os militares. Antes eram vistos como figuras simpáticas, que
promoviam bailes animados na capital mineira. Após toda a violência que presenciaram,
os soldados tornaram-se inimigos, algo que, segundo ela, envolveu um misto de
sentimentos que variavam do medo e da raiva à perplexidade com relação a atitude dos
militares.
O clima na faculdade era péssimo com a presença de policiais nas dependências
da instituição, os protestos eram frequentes, assim como as prisões de alunos e
professores acusados de serem subversivos e comunistas. Os docentes que não foram
presos foram cassados ou demitidos. Diante desse cenário, Rejane e o então namorado
Francisco José de Oliveira, estudante de direito, entram para o grupo de resistência da
UFMG e se juntam a Juventude Operária Católica (JOC) na luta contra o golpe.
Francisco que era sargento do Centro de Preparação de Oficiais da Reserva (Cpor) em
Belo Horizonte, foi aconselhado por um coronel a deixar o exército para não ser preso.
Ele que era militar para custear os estudos, nasceu em uma família humilde do Mato
Grosso do Sul, abandona a carreira de militar e parte para militância.
O casal passa a participar de reuniões clandestinas promovidas, na maioria das
vezes pelos cursos de Medicina e Direito, os mais engajados da Universidade no
período. Segundo Rejane, participavam de passeatas frequentes e costumavam distribuir
jornais com informações sobre a ditadura, que a grande mídia não noticiava. A
publicação não tinha nome definido, era impressa em mimeógrafo e distribuída dentro
do campus universitário, em escolas, igrejas e sindicatos. Segundo a professora, esses
setores participavam da luta com mais engajamento por serem politizados e saberem
que aquele governo não era legítimo.
Em 1967, os dois se casam, a madrinha do matrimônio foi à atual ministra da
Secretaria de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci de Oliveira. Também
militante Eleonora exilou-se, com o marido Ricardo, em consequência das ameaças de
tortura. O casal passa a lua-de-mel em Lins, interior de São Paulo, não por acaso. Lá
Rejane e seus colegas de curso encontram-se com estudantes de História da
Universidade de São Paulo (USP), eles tem planos de reativar o Centro de Estudos
Históricos das duas universidades que foram fechados pelo regime ditatorial. Ao
regressar a Belo Horizonte, ela e a amiga e colega de sala Maria Lúcia Torres (69), que
fazia parte da Juventude Universitária Católica (JUC) retomam as atividades do Centro
54. de Estudos. Rejane que havia sido nomeada presidente do órgão, diz “que me orgulho
muito de ter participado disso, pois conseguir reativar algo que os militares fecharam foi
uma grande vitória”.
Pouco tempo depois, a professora descobre que seria mãe de seu primeiro filho,
sonho que ela sempre teve. Mesmo grávida continua participando de atos contra o
Governo e quando estava no sexto mês de gestação a faculdade de Direito da UFMG é
invadida por integrantes do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), que
trancam as pessoas no campus por cerca de vinte e quatro horas. Quando os
companheiros de cárcere se deram conta que havia uma grávida no local, ficaram
apreensivos. Rejane conta que teve um menino que desceu pendurado em uma corta até
o primeiro andar para roubar comida do restaurante para ela. A cena, segundo ela, foi
épica. Quando o prédio foi evacuado, não era nem seis horas da manhã, mas seus pais já
estavam a sua espera com um olhar amedrontado ao lado do bispo e o reitor da
universidade. Hoje, a professora dá risada dessa situação, mas, no dia, achou a cena
ridícula “como uma pessoa que está lutando pela situação do país pode ser resgatada por
papai e mamãe que nunca participaram de nada?”
Com o nascimento do primeiro filho, o casal não participa de maneira efetiva do
movimento, pois com uma criança para cuidar, a militância torna-se mais difícil e
arriscada. Eles, então, passam a abrigar procurados políticos em sua residência e
fornecem ajuda financeira para que estas pessoas possam buscar a solução no exílio ou
na clandestinidade. Entre os que ficaram escondidos na casa deles estão, a hoje, ministra
Eleonora e o marido Ricardo, a amiga Márcia do centro de estudos históricos e José
Carlos da Mata Machado, líder da Ação Popular Marxista-Leninista (APML), que foi
preso e assassinado pela ditadura em 1973 nas dependências do Destacamento de
Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI) no
Recife. O jovem era filho de Edgar da Mata Machado (jornalista, jurista, filósofo e
político). O nome do militante é lembrado no Território Livre Zé Carlos da Mata-
Machado na Faculdade de Direito da UFMG, espaço dedicado à discussão e à
manifestação política.
O tempo passa. A família aumenta, agora, são três filhos (Roberto, Francisco e
Márcia). É época do milagre econômico, período de forte crescimento do país, Rejane
ministra aulas de educação moral e cívica no Colégio Estadual Central, na capital
mineira, uma vez que as aulas de história haviam sido proibidas pelo Governo. Segundo
a docente, a proibição facilitou a manipulação sobre as pessoas, pois os meios de
55. comunicação como jornais, televisão e revistas, além de serem muito caros para a
realidade dos brasileiros no período, não informavam à população corretamente, devido
à censura do regime.
Ela lembra que não participou diretamente do Período de Anistia e das Diretas
Já, em decorrência do trabalho e dos filhos, mas em 1984 montou a “Companhia da
história”, curso itinerante de história em que o tema era '1964'. A iniciativa que
percorreu o Brasil proporcionava aulas sobre o período aos interessados no assunto. O
sucesso do curso surpreendeu a professora, ela conta quemuitas pessoas ficaram
descobrindo, no curso, que viveram uma ditadura militar e não sabiam. Rejane
concedeu entrevistas para vários veículos de comunicação como TV Cultura, TV
Alterosa, Jornaldo Brasil, Estado de Minas e O Globo falando da experiência que viveu
na ditadura e de como o curso ajudava a entender aquele momento histórico.
Para Rejane, mesmo com a democracia, o país ainda não criou uma consciência
política e uma definição melhor sobre o que é direita e esquerda e qual o papel dos
partidos políticos. Ela afirma ser uma esquerdista que gosta de discutir e debater
política, sim. “Depois da abertura política houve diversas manifestações como os Caras
Pintadas e essas mais recentes, mas eu não vejo engajamento político, falta foco, falta
discussão, falta debate, não existe protesto sem liderança, sem governo, sem partido”.
A ex-militante e professora de História aposentada, Rejane atualmente vê com
bons olhos a criação da Comissão da Verdade, acredita que não vai haver punição para
os culpados, já que a grande maioria está morta e idosa. Contudo, as pessoas terão a
possibilidade de saber o que aconteceu quem foi morto, onde foi enterrado. “Temos os
direito de saber a história, para que ela seja reescrita em linha de papel. É um direito e
dever nosso saber a verdade”, afirma Rejane. Ainda que a verdade demore a aparecer ou
não apareça, não cabe a ninguém dizer que ditadura militar foi uma história inventada
no Brasil.
56. ANEXO VI
Seção: Single
Título: A desconstrução de Chico Buarque
Bigode: ele não pensa em poder parar
Páginas: 12 - 17
Francisco Buarque de Hollanda, mais conhecido como Chico Buarque, é filho da
pianista e pintora Maria Amélia Cesário Alvim e do renomado historiador e jornalista
Sérgio Buarque de Holanda, um dos intelectuais mais respeitados do Brasil. Ainda
jovem, Chico já demonstrava que havia herdado o talento do pai, não para pesquisar a
história do país, e sim, contá-la em forma de poesia e música. Muito desse talento se
deu pelo convívio com Vinicius de Moraes, amigo de seu pai. Suas primeiras
composições foram Canção dos Olhos e Anjinho, quando ele tinha apenas dezessete
anos e cursava o ensino médio no Rio de Janeiro. Antes de ingressar na carreira
artística, Chico morou na Itália, já que seu pai havia sido convidado para lecionar na
Universidade de Roma. Retornando ao Brasil em 1963 para estudar Arquitetura e
Urbanismo, na Universidade de São Paulo (USP), abandonou o curso no segundo ano
para se dedicar a música.
Nesse período, meados dos anos sessenta, o Brasil vivia uma época de
efervescência cultural e política. O mundo passava por intensas transformações, com o
surgimento de movimentos estudantis, revoluções comportamentais, ascensão da
televisão e golpes militares na América Latina. Paralelamente a isto, no Brasil, surge o
fenômeno dos grandes festivais de música popular brasileira que parava o país,
revelando grandes nomes da MPB como o próprio Chico. O cantor se tornou uma das
figuras mais importantes do período com várias músicas premiadas. Em 1966, a música
Banda na voz de Nara Leão, ficou com o primeiro lugar. Chico venceu também o
festival de 1968 com Sabiá cantando ao lado de Tom Jobim.
Os festivais de música se tornaram um alento contra a ditadura militar. Muitos
artistas participavam deles para protestar contra o regime. Chico Buarque, um desses
artistas, possuiu diversas canções censuradas, sendo um dos compositores mais
perseguidos pelo Departamento de Ordem Política e Social (Dops). Entre as músicas
proibidas pela censura estavam Apesar de Você e Cálice. A jornalista e professora
57. Regina Zappa, autora de quatro livros sobre o cantor (Chico Buarque - Para todos,
Cancioneiro Chico Buarque – Biografia e Obras Escolhidas e Para seguir minha
jornada) diz que as músicas têm o poder de atingir a todos de uma maneira simples e
popular. “A palavra na música do Chico é poderosa porque tem força ao falar de
diversas situações, mas ao mesmo tempo suas letras são simples e poéticas. Dessa
forma, é uma música popular, no melhor significado da palavra popular”, afirma Zappa.
Em 1969, ameaçado pelo governo, Chico Buarque parte para um exílio
voluntário na Itália, mas nem por isso deixa de se preocupar com o Brasil e a situação
que o país vive. Passa a escrever crônicas para o jornal O Pasquim em que relata as
diferenças entre brasileiros e italianos e de como sente falta de sua terra natal,
principalmente do futebol. Retorna ao Brasil meses depois, e se depara com um cenário
ufanista, criado pelo governo, em que o sloganBrasil ame-o ou deixo-o estava
espalhado por toda parte. O país vivia o “milagre econômico” com altas taxas de
crescimento.
É nesse panorama que Chico Buarque lança o disco Construção, em 1971, que
representa um divisor em sua carreira, no qual se percebe um artista maduro e mais
ousado. O hoje escritor Jeocaz Lee-Meddi era militante político na época do lançamento
do disco. Ele afirma: “Construção foi lançado em um dos períodos mais negros da
ditadura militar, o governo do general Emílio Garrastazu Médici. É quase um grito
contido e dilacerado de um tempo que parecia cada vez mais distante em volta da
democracia. Um tempo que gente era torturada e desaparecia nos porões obscuros do
regime militar. Um grito de coragem em canções que transitavam entre o protesto
social, a angústia existencialista e o lirismo romântico. Trazia um Chico Buarque mais
maduro e definitivo, numa época dura e transitória”.
O disco teve tamanha popularidade que alguns meses depois do seu lançamento
a revista Realidade - uma das mais importantes da época, (número 71, fevereiro de
1972), estampou a foto do músico na capa com a manchete Chico Buarque: a razão do
sucesso. O título da matéria era: Chico põe nossa música na linha, em que se elogiava o
álbum e o considerava simplesmente o melhor disco feito nos últimos vinte anos no
país. A matéria também destaca dois “problemas” que Construção acarretou para a
gravadora Phillips. O primeiro é que a gravadora não deu conta da procura pelo
disco.Construção criou problemas industriais nunca antes vividos pela Phillips. A
demanda de mil discos por dia, nas primeiras semanas, levou a fábrica a contratar duas
gravadoras concorrentes para prensá-los, obrigou o pessoal a trabalhar em turnos de 24
58. horas por dia e o futebol de sábado, rotina de vários anos dos empregados e artistas,
ficou suspenso durante quase dois meses.
Já o segundo foi o fato de Chico Buarque superar Roberto Carlos em vendagem
de discos por algumas semanas. “E um fato novo se deu no mercado. Dezembro é o mês
em que Roberto Carlos (campeão absoluto de venda de elepês no Brasil há quase seis
anos) lança o seu disco anual e tradicionalmente subverte a parada de sucessos, indo de
pronto para o primeiro lugar é lá permanecendo, incontestável, por quase seis meses.
Dessa vez, Roberto encontrou uma construção pela frente e teve dificuldade para
desbancá-la no Rio, enquanto continuava perdendo em São Paulo durante todo o
primeiro mês. Ao final da corrida, Roberto venderá mais discos do que o Chico, pois
sua procura é quase uniforme em todo o país, enquanto Chico é consumido em quase
80% no eixo Rio - São Paulo (Realidade, nº71).
Para a jornalista Regina Zappa, o sucesso do disco se deu pelo experimentalismo
de Chico Buarque, que já havia feitos diversas músicas de protesto, como Roda Viva,
Pedro Pedreiro, Apesar de Você e Cálice, mas em Construção foi diferente, pois se
trata de um disco inteiro em que a maioria das músicas foi composta quando ele estava
no exílio, indo a desencontro com o ufanismo do “milagre econômico” pregado pelo
Governo, mostrando que mesmo longe estava consciente e preocupado com os
problemas do país. Segundo Regina, a partir de Construção Chico traçou um caminho
mais político e compôs músicas como Cordão (de duplo sentido), Deus lhe pague, a
irônica Construção, um protesto em forma de poesia. O disco foi um susto para quem
estava acostumado ao lirismo e à poesia do Chico. “Foi um soco no estômago. Foi
mesmo um marco”.
Esse “soco” ao qual Regina Zappa se refere permanece atual, quando o assunto é
música, já que o LP Construção sempre aparece nas listas de melhores discos do Brasil.
Ele foi eleito pela revista Rolling Stone (Outubro de 2007, edição nº 13, página 111),
como o terceiro melhor disco brasileiro de todos os tempos, perdendo apenas para
Acabou Chorare, de 1972, dos Novos Baianos, e Tropicalia ou Panis et Circencis de
1968, que conta com a participação de vários artistas, como Mutantes, Gilberto Gil e
Caetano Veloso. Mas na edição 37, de outubro de 2009, da mesma revista a canção
Construção, ficou em primeiro lugar como melhor música brasileira de todos os
tempos. Segundo o editor da revista, Paulo Cavalcanti, Construção foi uma música que
mexeu com o emocional das pessoas. Trata-se de uma crônica sobre a vida e a morte de
um trabalhador. Um dos setores que mais se expandiam com o propalado crescimento