III Congresso Internacional sobre as Migrações - PROGRAMA
Comunidade Brasileira em Portugal
1. www.acidi.gov.pt A JANELA INTERCULTURAL
_
Bi
ACIDI
rev I s tA N º 9 0
MAIO
CÔNSUL-GERAL
DO BRASIL:
“OS BRASILEIROS GOSTAM DE
PORTUGAL”
CARLOS VIANNA:
“A MAIORIA DA COMUNIDADE
ESTÁ PARA FICAR”
BRASILEIROS
A MAIOR COMUNIDADE
IMIGRANTE EM PORTUGAL
2. eDItOrIAl
A comunidade brasileira constitui um valioso contributo
para o enriquecimento cultural e económico do país,
influenciando profundamente o nosso quotidiano.
O contributo da comunidade
brasileira em Portugal
Continuando a abordagem iniciada no número anterior, dedicamos este número do BI ao contributo da comuni-
dade brasileira residente no nosso país.
Sendo, actualmente, a comunidade estrangeira com maior expressão numérica em Portugal, representando 25% da
totalidade dos cidadãos estrangeiros residentes em território nacional (SEF 2009), a comunidade brasileira constitui
um valioso contributo para o enriquecimento cultural e económico do país, influenciando profundamente o nosso
quotidiano.
País irmão, partilhando uma história comum durante mais de trezentos anos, o Brasil foi destino de cerca de um
milhão e duzentos mil emigrantes portugueses ao longo do século XX. Inverte-se, agora, neste início do século
XXI, o fluxo migratório, sendo Portugal a acolher tão significativa comunidade, precisamente numa fase da história
nacional em que o contributo empreendedor dos imigrantes se revela um estímulo para a necessidade de mudança,
contrariando o pessimismo de quem tem pela frente novas dificuldades a vencer.
A comunidade brasileira tem dado exemplo de grande criatividade, implementando novas actividades que não
existiam nos hábitos dos portugueses. Basta citar a multiplicidade de actividades físicas praticadas em ginásios
dispersos por todo o país, que motivaram os portugueses para uma salutar preocupação com o tratamento do seu
corpo e melhoria da sua saúde.
Também na área da comunicação o contributo da comunidade brasileira se revelou marcante nas alterações veri-
ficadas na sociedade portuguesa. Aproveitando a partilha de uma língua comum (embora em português “com
açúcar”) e uma intensa experiência de ligação ao público, que representa um universo populacional cerca de vinte
vezes superior à população portuguesa, um número significativo de profissionais brasileiros da comunicação social
e marketing que integram a comunidade brasileira residente em Portugal implementaram um novo estilo de lin-
guagem comunicacional que foi rapidamente introduzido na sociedade portuguesa, tornando-se um exemplo de
prática intercultural relevante.
Mas talvez o mais destacado contributo cultural da comunidade brasileira seja a alegria que trouxe na vivência do
dia-a-dia e que não deixa indiferente nenhum cidadão nacional. Esse entusiasmo e espírito positivo, mesmo perante
as adversidades, servirá sem dúvida de exemplo para o futuro que ambicionamos.
Fica assim expressa a nossa homenagem a todos os cidadãos brasileiros que connosco têm partilhado o esforço na
construção de um Portugal rico na diversidade, respeitador da diferença e unido na Ordem e Progresso.
rosário Farmhouse
Alta-Comissária para a Imigração e Diálogo Intercultural
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3. BRASILEIROS
introduÇÃo A MAIOR COMUNIDADE IMIGRANTE EM PORTUGAL
A comunidAde brAsileirA
em PortugAl
Q
uem são, e quantos são, os cidadãos brasilei- temos frequentemente notícias de brasileiros que regressam ao
ros residentes em Portugal? De acordo com o seu país. Será que esta comunidade está em debandada? Quem
Anuário Estatístico do Instituto Nacional de conhece estas realidades assegura que nada poderia estar mais
Estatística, referente a 2009, os cidadãos imi- longe da realidade. Se alguns saem por uns motivos, outros
grantes em Portugal, em situação regular, totalizaram 451.742 chegam por outros às vezes bem diversos, atenuando a redução
indivíduos, com destaque para o grupo com nacionalidade dos efectivos desta comunidade. Os brasileiros, afirma quem
brasileira, que contava 115.742 cidadãos. sabe, estão para ficar e gostam de viver em Portugal.
Trata-se, sem dúvida, da maior comunidade imigrante resi-
dente em Portugal. Estes são, contudo,
dados estáticos, que não têm em conta
eventuais situações de irregularidade, o
incessante fluxo de entradas e saídas e
ainda questões de identidade com uma
complexidade que vai bem mais além
do que a mera informação contida em
documentos oficiais.
Tanto o Cônsul-Geral do Brasil em
Portugal, o Embaixador Renan Paes
Barreto, como o Presidente da Casa
do Brasil, Carlos Vianna, sublinham
que os imigrantes brasileiros têm uma
marcada propensão para a aquisição da
nacionalidade portuguesa e uma parce-
la significativa inicia esse processo assim
que a Lei lhes permite. Isso significa,
frequentemente, que a distinção entre
ser brasileiro e ser português se torna
ténue. Muitos são, identitariamente, ambas as coisas, tiveram
ao longo da vida mais do que uma nacionalidade, casam entre
si, sentem-se em casa, tanto num lado, como no outro do Os brAsIleIrOs sãO A MAIOr
Atlântico. Trata-se de uma situação que se repete ao inver-
so - afinal de contas, aquilo que já acontecia há mais de um COMuNIDADe IMIgrANte resIDeNte
século, quando um português que vivesse no Brasil se tornava eM POrtugAl
“brasileiro” para toda a vida mesmo quando regressava à sua
terra de origem.
Com o Brasil a tornar-se uma grande potência mundial, com
um assinalável crescimento económico, e Portugal em crise,
3
4. eNtrevIstA
Cônsul-Geral do Brasil:
“os brAsileiros gostAm de PortugAl”
o cônsul-gerAl
do brAsil em lisboA
renan Paes Barreto é, aCtualmente, o Cônsul-Geral do Brasil em lisBoa.
emBaixador de Carreira, esteve destaCado em luGares Como londres,
nova iorque, Guatemala e Chile. o seu Pai, tamBém diPlomata, foi
iGualmente Cônsul em lisBoa entre 1954 e 1958, o que lhe Permitiu viver
em lisBoa entre os CinCo e os dez anos de idade e Conservar amiGos de
toda a vida na CaPital PortuGuesa. Por isso, refere que foi Com emoção
que, mais de 50 anos dePois, reGressou ao mesmo edifíCio anteriormente
oCuPado Pelo Pai, que já é sede do Consulado do Brasil há CerCa de 120
anos.
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5. BRASILEIROS
A MAIOR COMUNIDADE IMIGRANTE EM PORTUGAL
Como se pode caracterizar a comuni-
dade brasileira em Portugal?
Segundo os dados do Serviço de
Estrangeiros e Fronteiras (SEF) de
Dezembro de 2008, havia cerca de 106
mil brasileiros legalizados em Portugal.
Mas, desde Dezembro de 2008, já pas-
sou algum tempo. No decurso de 2009 e
2010, a comunidade aumentou bastante,
segundo informações não só do consula-
do, mas também admitidas pelo SEF. Eu
diria - e agora é uma estimativa - que a
comunidade brasileira em Portugal pode
estar na faixa dos 250, ou 260 mil bra-
sileiros. Temos regiões muito povoadas,
como a região de Lisboa e arredores, a
região de Setúbal e do Algarve, onde há
muitos brasileiros. Temos também uma
comunidade no Norte de Portugal e
nas Ilhas. Temos consulados honorários Há uMA grANDe PerCeNtAgeM DA COMuNIDADe
na Madeira e Açores, onde também há brAsIleIrA eM POrtugAl que teM DuPlA
milhares de brasileiros.
NACIONAlIDADe
Os diferentes momentos trouxeram
uma imigração diferente...
Na caracterização, teríamos talvez de
fazer uma ou duas subdivisões porque
os estudiosos sobre o assunto dividem O que atraiu os que chegaram mais terem uma boa intercomunicação com
em três ondas a emigração brasileira para recentemente? os clientes. Esse teria sido um atractivo,
Portugal. Uma, seria a histórica, durante Isso teve a ver com a entrada do euro além do atractivo natural entre brasileiros
os séculos XVII, XVIII, XIX e XX, até em circulação, uma moeda altamente e portugueses pela própria história, pela
aos anos 1980. Até então, o número de valorizada. O brasileiro fazia o cálculo facilidade da língua, pelo clima, pelas
brasileiros não era muito grande e, mui- e via que um euro valia três ou quatro relações familiares. Há uma grande per-
tas vezes, até eram designados como bra- reais. Os salários recebidos em Portugal, centagem da comunidade brasileira em
sileiros os portugueses que moravam no quando faziam as contas, eram absoluta- Portugal que tem dupla nacionalidade.
Brasil e voltavam. Depois, com a entrada mente incríveis. À medida que Portugal
de Portugal na Comunidade Europeia, foi consolidando a sua posição dentro da Fala-se agora de um movimento
com todas as consequências que daí deri- Europa, os portugueses também come- inverso de regresso ao Brasil...
vam, houve um momento em que vieram çaram a deixar de querer fazer certos tra- Nem o Brasil nem Portugal têm dados
profissionais capacitados do Brasil para balhos, como acontece em todos os paí- oficiais sobre isso porque ainda há bra-
Portugal: publicitários, jornalistas, execu- ses desenvolvidos. Então vieram muitos sileiros a chegar a Portugal mas, sobre-
tivos, os famosos dentistas. Essa segunda brasileiros para a construção civil, para tudo, vindos de outros países da Europa.
leva teria vindo entre os anos 80 e 90. restaurantes, lojas... Oiço dizer também Muitos brasileiros que tenham estado
E já no alvorecer do novo século, veio a que os brasileiros têm características posi- num país europeu e tenham perdido o
chamada “terceira onda”. tivas, no sentido de serem simpáticos, emprego voltam directamente para o
5
6. sil tem no mundo. Nós oferecemos um
número amplo de serviços. Com esta úl-
AlguNs brAsIleIrOs estãO vOltANDO. OutrOs
tima leva de imigração, muita gente pro-
vIerAM PArA POrtugAl COM POuCO DINHeIrO cura o consulado para se orientar sobre
MAs COM PrOjeCtOs e vONtADe De trAbAlHAr diversos factores da sua vida, muitos que
nós podemos ajudar e, outros até, que
não podemos. O sector de informações
Brasil. Outros não, pois o imigrante tem Esta comunidade brasileira vai deixar do consulado é muito procurado. Existe
um sonho. Alguns desses brasileiros que uma marca em Portugal? também o sector de assistência consular,
perderam seus empregos noutros países Nesta globalização actual das comunica- que envolve a assessoria jurídica. Temos
europeus passam por Portugal porque, ções, dos transportes, da electrónica, to- um advogado que procura ajudar mas
seja por relações de família, seja por redes dos os países recebem comunidades dos que, diante da grandeza da comunidade,
sociais, seja por causa das afinidades cul- outros e, inclusive, existem vias mistas. não pode dar conta integralmente de to-
turais e linguísticas, ainda pensam que Portugal é um exemplo disso, recebe e ao dos os estágios dos problemas. Para além
talvez possam conseguir aqui alguma mesmo tempo tem portugueses saindo. do advogado, temos três funcionários na
oportunidade. As coisas são complexas. Seguramente área da assistência consular. Depois, há os
que o Brasil nunca deixará de ter uma documentos: temos uma média de qua-
Há então fluxos de entrada e de saída? comunidade em Portugal. Os brasileiros se 100 passaportes por dia, para além do
Há fluxos de entrada e de saída. Não gostam de Portugal. Existe uma comuni- documento de viagem pelo qual um bra-
tenho números oficiais sobre o assunto dade nas altas classes, que nós chamamos sileiro pode regressar ao Brasil. Há ainda
mas o meu feeling pessoal é que está de “brasileiros de Cascais”. Há muitos os atestados de antecedentes criminais, as
havendo uma saída líquida nos últimos brasileiros empresários, gente que tem autenticações, as validações... E é preciso
meses. Não é muito antiga, não é desde dinheiro e, por diversas razões, mora em não esquecer que há milhares de brasilei-
que os jornais começaram a falar da crise Portugal e gosta muito de Portugal. E há, ros que estudam em Portugal e querem
- porque uma coisa são as manchetes sobretudo, essa “terceira onda”, de uma que os diplomas sejam reconhecidos no
dos jornais, outra é o que acontece no classe menos alta, em que alguns estão Brasil. Portanto, a questão de autentica-
mundo real. Eu diria que nos últimos voltando. Outros vieram para Portugal ção de documentos, ou consularização
seis meses aumentou e está havendo uma com pouco dinheiro mas com projectos e de documentos, é enorme. De toda a
saída de brasileiros maior do que uma vontade de trabalhar. Há tempos, a revista rede consular do Brasil no mundo, o que
chegada. Se se mantiver essa tendência, Visão entrevistava brasileiros que tinham maior número de actos notariais produz é
chegaremos a um momento em que a aberto barbearias, restaurantes, etc., tal o consulado do Brasil em Lisboa.
nossa comunidade aqui em Portugal vai como os portugueses e os italianos que
diminuir. foram para o Brasil e enriqueceram. Há
brasileiros que estão enriquecendo aqui.
Há teMPOs, A revIstA
Mesmo diminuindo, a comunidade
continuará grande... Há uma tendência para os brasileiros vIsãO eNtrevIstAvA
Continuará grande e a saída é muito se naturalizarem Portugueses? brAsIleIrOs que
moderada, não é uma saída maciça. Vi há Sim, até porque são os que mais podem.
pouco uma entrevista feita por uma rede É por isso que eu digo que estimo entre tINHAM AbertO
brasileira de televisão a uma mulher que 20 e talvez até 30 por cento o grupo de bArbeArIAs,
tinha perdido o emprego em Portugal brasileiros que potencialmente pode ter
restAurANtes,
mas não queria ir embora, por enquanto. ou que tem dupla nacionalidade.
Os factores muito citados pelos brasilei- etC., tAl COMO Os
ros que pretendem ficar em Portugal são Quais são os principais serviços POrtugueses e Os
os filhos já estarem acostumados, a qua- consulares a que a comunidade
lidade do ensino nas escolas, a facilidade brasileira em Portugal recorre?
ItAlIANOs que FOrAM
do idioma, a pessoa ter alguma relação Devido à grandeza da comunidade, este PArA O brAsIl
afectiva, a segurança, o clima. é um dos grandes consulados que o Bra-
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7. BRASILEIROS
oPiniÂo A MAIOR COMUNIDADE IMIGRANTE EM PORTUGAL
PAíses e PessoAs
mAriA XAvier
soCióloGa e ProGramadora da Casa
da amériCa latina em lisBoa
E
m 2007 era publicada, pelo o outro, os portugueses. Percebi, nos re-
ACIDI, a tese que escrevi so- latos que ouvi, uma discriminação com
bre processos identitários de múltiplas faces, ora contra a mulher, es-
brasileiros em Portugal, com o tigmatizada sob o rótulo de “fácil”, ora
título Redescobrindo o Brasil. Naquele contra o mais pobre, convidado a voltar
ano, os brasileiros já eram a maior comu- à origem e a não fazer parte do país prós-
nidade estrangeira no País. Refiro, de pas- pero e promissor que era então Portugal, ao País, promete ajuda.
sagem, algumas das conclusões a que o es- num reflexo nítido da macroeconomia Estaremos a viver um momento de vira-
tudo me levou: os emigrantes brasileiros mundial. gem na relação entre os dois países? Volto
escolhiam Portugal relativamente a out- Hoje, quatro anos depois, assisto na Uni- ao plano das subjectividades e pergunto-
ros destinos pela facilidade de entrada no versidade de Salamanca ao Simpósio In- me se esta inversão de posições terá efei-
País, por partilharem a mesma língua, pe- ternacional dedicado ao tema: “BRICs: tos na vida dos brasileiros que continuam
los ganhos com a diferença cambial e pela Brasil Potência Emergente”. Especialistas em Portugal. Percebendo uma crescente
existência de amigos ou familiares cá es- de várias universidades do mundo pro- auto-estima nacional, procuro a relação
tabelecidos. Encontraram lugar no mer- curam entender a “fórmula” de um país entre factores macro e a escala micro.
cado de trabalho, consoante o momento que reduziu a pobreza aumentando o A potência emergente reflectir-se-á em
de chegada, em actividades mais e menos consumo interno e que foi o último a en- comportamentos emergentes com a afir-
qualificadas. Aos dentistas e publicitários trar e o primeiro a sair da crise de 2008, mação de uma nova identidade? Ficam as
dos anos 1980-1990 sucederam-se as em- com uma taxa de crescimento económico perguntas enquanto penso, em particular,
pregadas domésticas e os empregados de de fazer inveja a qualquer país europeu. naqueles brasileiros a quem se disse um
mesa, figuras que passaram a fazer parte O estatuto de potência é reconhecido dia para voltarem “para a sua terra”.
da vida quotidiana portuguesa, além por Barack Obama naquela que foi a sua Ainda por cá?
dos futebolistas com lugar garantido nos primeira viagem à América Latina, em
clubes nacionais. Março de 2011. As expectativas crescem Lisboa, 13 de Abril de 2011
Chamei a atenção, na minha investiga- com a realização do Mundial de 2012,
ção, para os efeitos imperceptíveis que no Rio de Janeiro, e das Olimpíadas de
uma mudança de mundos poderia im- 2016. O Brasil afirma o seu lugar na cena
eM 2007 erA PublICADA,
plicar em termos subjectivos, destacando mundial. No capítulo da emigração, a
dificuldades que sentiriam no plano das potência fez-se sentir através de políticas PelO ACIDI, A tese
relações interpessoais e transformações de vinculação recentemente instituídas, que esCrevI sObre
nos comportamentos que se tornavam, a fazendo cada brasileiro da diáspora sentir
pouco e pouco, menos espontâneos. Um a presença de um Estado forte. A palavra PrOCessOs IDeNtItárIOs
destes efeitos era a consciência de uma retorno predomina nas agendas políticas De brAsIleIrOs eM
identidade nacional – “ser-se brasileiro” e científicas da especialidade. Em relação
POrtugAl, COM O títulO
– que se sentia agora no contacto com a Portugal, Dilma Rousseff, em viagem
reDesCObrINDO O brAsIl
7
8. eNtrevIstA
“a maioria dos Brasileiros
vAi ficAr em PortugAl”
cArlos viAnnA
Carlos vianna fala, em entrevista,
soBre os Brasileiros em PortuGal
e as aCtividades da Casa do Brasil,
da qual é diriGente. na sua oPinião,
ultraPassadas as Grandes questões
da reGularização, o Grande
ProBlema desta Comunidade
Continua a ser uma questão de
imaGem.
Como se poderia caracterizar zar-se portugueses. É uma tendência da cas, habilitações literárias, idades. Mas
actualmente a comunidade brasileira imigração brasileira buscar a nacionali- a minha percepção é que os que che-
em Portugal? dade, buscar tudo o que signifique maior garam nos últimos cinco anos, social-
Caracterizar 150 mil pessoas não é fácil. legalização. mente e em termos de instrução, são
Entre algumas características, hoje há bastante semelhantes aos daquela a que
mais mulheres do que homens, 55 por Tem havido mudanças na composição chamávamos a “nova vaga” - as pessoas
cento dos imigrantes brasileiros são da comunidade recentemente? que chegaram de 1997 a 2003, quando
mulheres e vieram muitas mulheres Os brasileiros em Portugal continuam veio muita gente. Nota-se também um
sozinhas. Os brasileiros em Portugal, sendo uma miscelânea muito grande número muito grande de estudantes.
de uma maneira geral, têm um nível a nível de origens sociais e geográfi- Só na Universidade de Coimbra, que é
social modesto mas não são pobres - os
pobres brasileiros não imigraram. Foi a
gente modesta que imigrou. Na Casa do PArA O IMIgrANte brAsIleIrO que CONsegue
Brasil trabalhamos em nome de 150 mil uMA CertA estAbIlIDADe, POrtugAl é MuItO
brasileiros, dos quais uns 20 a 30 mil já
são nacionalizados portugueses, quer por
AtrAeNte POr ser, COMPArADO COM O brAsIl,
parentesco, quer por naturalização. Os uM PAís De brANDOs COstuMes
brasileiros lançaram-se muito a naturali-
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9. BRASILEIROS
A MAIOR COMUNIDADE IMIGRANTE EM PORTUGAL
a universidade portuguesa mais popu- filhos porque nós não temos isso no Há um sentimento misto da parte da
lar no Brasil, são 1500. Em Portugal Brasil. A questão da violência é um pro- sociedade portuguesa em relação aos
inteiro serão 3000, 4000 estudantes bra- blema sério no Brasil. Aqui, as pessoas brasileiros. Por um lado, de admiração
sileiros, o que é uma percentagem muito conseguem ter uma vida mais tranquila, por um espírito mais alegre mas também
significativa no conjunto de brasileiros com mais estabilidade. uma rejeição dessa extroversão. A pes-
e representa uma certa elite cultural soa mais melancólica, mais introvertida,
que vem para Portugal, sobretudo para Os brasileiros que estão em Portugal tende a não gostar do extrovertido mais
pós-graduação. Sempre houve estudantes vão deixar uma marca na sociedade alegre. E há, nitidamente, conflitos de
brasileiros em Portugal mas este número portuguesa? reacção ao comportamento dos brasilei-
é uma novidade em relação há cinco Já deixaram. As pessoas não notam mas já ros. Houve também episódios negativos
ou dez anos atrás. Outra mudança assi- deixaram a nível, por exemplo, de hábi- emblemáticos, como o assalto ao banco,
nalável é o “baby boom”. Já nasceram tos culinários. Nos restaurantes portu- levando à famosa associação entre crime
muitas crianças filhas de brasileiros ou de gueses há comida brasileira e compra-se e imigração. Este é um problema na
casais mistos, que são uma minoria, mas picanha e feijão preto em qualquer lugar. sociedade portuguesa, embora em outros
uma minoria muito significativa. Quando a Casa do Brasil foi fundada, países seja muito mais visível. O que não
por exemplo, era muito difícil encon- se pode é acusar o brasileiro de choque
Existe neste momento um grande trar uma caipirinha em Lisboa. Também cultural. Há extroversão, alegria, música,
fluxo de saída? mudaram a música que se ouve e mesmo mas não há propriamente um choque de
Há muita gente que está indo embora. a que se produz em Portugal. Entre os civilizações, como querem crer que há
Eu acho que nos últimos anos pelo imigrantes brasileiros, alguns milhares em outros países europeus.
menos entre três e cinco mil pessoas são músicos. Podem até ter outras pro-
foram embora, se não forem mais porque fissões, mas estão aí tocando de norte A Casa do Brasil já lutou por diversas
isso é muito difícil de medir. a sul do país. A presença do Brasil em causas. Quais são actualmente as
Portugal aumentou exponencialmente. grandes causas?
A par do fluxo de saída, continua a Estou convencido de que a maioria dos O grande combate da Casa do Brasil é
haver um fluxo de entrada? brasileiros vai ficar em Portugal e vai ter uma luta de carácter ideológico e cultural
É evidente que uma comunidade que netos portugueses, como eu já tenho. pela afirmação da comunidade na socie-
já tem 150 mil pessoas atrai mais gente dade combatendo os preconceitos. A luta
porque a imigração é muito molecular, A questão da imagem dos brasileiros é pela legalização, que marcou muito a
funciona muito por efeito de chamada um problema que persiste?
individual, de parentes e amigos. Mas, Estamos neste momento a preparar um
sendo muito comum o brasileiro recém- projecto, em parceria com outras enti-
chegado passar na Casa do Brasil, pode- dades, sobre a imagem da mulher bra- O grANDe COMbAte
mos dizer que tem havido bem menos sileira. Nestes 20 anos, criou-se uma DA CAsA DO
chegadas desde há três ou quatro anos imagem negativa da mulher brasileira,
atrás. que persiste e está muito entranhada
brAsIl é uMA
na sociedade portuguesa. Uma das ini- lutA De CAráCter
O que continua a atrair os brasileiros ciativas em que a Casa do Brasil está IDeOlógICO e
que permanecem em Portugal? empenhada é no estabelecimento de uma
Para o imigrante brasileiro que conse- série de parcerias para combater esta ima- CulturAl PelA
gue uma certa estabilidade, Portugal é gem. É um problema delicado porque a AFIrMAçãO DA
muito atraente por ser, comparado com o sociedade europeia trabalha mal com a
COMuNIDADe
Brasil, um país de brandos costumes. Isso questão da sensualidade e há uma série de
é uma realidade: É um país muito menos hipocrisias que confundem sensualidade NA sOCIeDADe,
violento, mais organizado enquanto com outras coisas. É um problema que se COMbAteNDO Os
Estado, as pessoas têm saúde pública, agravou nos últimos anos, como se pode
têm Educação... São coisas muito valo- ver na publicidade e na imprensa, e é um PreCONCeItOs
rizadas, principalmente para quem tem problema que nos preocupa.
9
10. eNtrevIstA
actuação das associações de imigrantes, é
permanente mas não tem neste momento Casa do Brasil de Lisboa
a importância que teve em outras épocas,
pois a grande maioria da comunidade www.casadobrasil.info
brasileira está legalizada. As dificuldades Rua Luz Soriano, 42
com a burocracia não terminaram mas 1200-248 Lisboa
essa luta passou para um outro patamar. Telefone: 213 400 000
E ainda bem, porque as grandes questões
Horário: dias úteis
dos imigrantes não devem ter a ver com
das 15h00 às 21h00
a legalização mas, sim, com outras coisas,
como a integração. Para nós, a grande
questão, a par de uma actividade perma-
nente de apoio, é a questão da imagem,
da afirmação de uma comunidade mais
estável e que passa pelo voto, pela ques-
tão política, embora a comunidade se
interesse pouco por essa questão.
Tem defendido o direito de voto dos
imigrantes...
O País está com muitos problemas e isso
exige uma mudança constitucional. Mas
há sensibilidade por parte dos partidos
para acabar com a exigência da reciproci-
dade nas eleições autárquicas. Nós somos
a favor de que o imigrante de longa dura-
ção tenha direito a votar também para a
Assembleia da República. Penso que isso,
mais cedo ou mais tarde, vai acabar acon- lidade por naturalização. Seria também a Câmara Municipal de Lisboa, foi o
tecendo. Note-se que enquanto o eleitor interessante ligar a isso a questão polí- resultado de uma luta de muitos anos e
português é obrigado a recensear-se, o tica, o interesse ou desinteresse político representa o reconhecimento dos serviços
imigrante não e isso me parece muito do imigrante brasileiro em relação a prestados por esta associação à sociedade
mau. É uma forma de, administrativa- Portugal. portuguesa, de uma forma constante e
mente, afastar os imigrantes desse direito. muito activa.
Por outro lado, uma parte significativa A nova sede da Casa do Brasil Para além dos serviços de atendimento já
da comunidade brasileira vai adquirindo A nova sede da Casa do Brasil, situada no anteriormente existentes, o novo espaço
o direito de voto através da obtenção da Bairro Alto, em Lisboa, foi oficialmente permite a realização de uma série de
nacionalidade. A minha previsão é que inaugurada no dia 23 de Setembro de novas actividades, como eventos acadé-
daqui a cinco ou dez anos talvez a maior 2010. Para Carlos Vianna, esta sede, micos, exposições e festas da comuni-
parte da comunidade brasileira tenha conseguida através de um protocolo com dade.
adquirido a nacionalidade portuguesa.
O que valeria a pena investigar sobre A MINHA PrevIsãO é que DAquI A CINCO Ou Dez
a comunidade brasileira? ANOs tAlvez A MAIOr PArte DA COMuNIDADe
Uma coisa interessante é essa questão da
nacionalidade. Nunca foi feita, que eu
brAsIleIrA teNHA ADquIrIDO A NACIONAlIDADe
saiba, uma pesquisa com esse universo POrtuguesA
dos brasileiros que obtiveram a naciona-
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11. BRASILEIROS
A MAIOR COMUNIDADE IMIGRANTE EM PORTUGAL
Por oCasião da Primeira visita ofiCial da Presidente do Brasil
HomenAgens A lulA dA silvA
Dilma Rousseff esteve na cerimónia de
doutoramento honoris causa de Lula
da Silva, em Coimbra. Questionada
pelos jornalistas sobre se o Brasil poderá
ajudar Portugal a ultrapassar a crise
no mês de março, o ex-Presidente do Brasil, lula da silva, foi distinGuido
económica, respondeu: “O Brasil poderá
em PortuGal Com o Prémio norte-sul e um doutoramento “honoris
ajudar Portugal como Portugal ajudou o
Causa” da universidade de CoimBra, este último na Presença de dilma Brasil economicamente”.
roussef.
L
uís Inácio Lula da Silva, ex-Pre- O Centro Norte-Sul (CNS) é o único or- Mário Soares, Peter Gabriel, Stéphane
sidente do Brasil, foi uma das ganismo internacional com sede em Lis- Hessel, Graça Machel, a rainha da Jordâ-
personalidades internacionais boa. Na origem da sua criação estiveram nia e Jorge Sampaio.
distinguidas com o prestigiado os esforços do então primeiro-ministro No decurso da sua estadia em Portugal,
Prémio Norte-Sul, juntamente com a português, Aníbal Cavaco Silva, e de um o ex-Presidente do Brasil foi ainda dis-
presidente do International Crisis Group, membro da Assembleia Parlamentar do tinguido pela Universidade de Coimbra
Louise Arbour, numa cerimónia que de- Conselho da Europa, Olafur Grimmsom, com o grau de doutor honoris causa, no
correu na Sala do Senado da Assembleia actualmente Presidente da República da dia 30 de Março. Na cerimónia partici-
da Republica, no dia 29 de Março. Islândia. O CNS foi criado com o ob- param, além da Presidente do Brasil, Dil-
Lula da Silva foi homenageado pelo dina- jectivo de proporcionar um quadro para ma Rousseff, o Presidente da República,
mismo que imprimiu às relações Sul-Sul a cooperação europeia em matéria de Cavaco Silva, e o seu homólogo de Cabo
e por ter conduzido uma política externa sensibilização da opinião pública para as Verde, Pedro Pires.
apostada em promover, à escala global, a questões de interdependência e solidarie- Lula da Silva afirmou na cerimónia que
luta contra a pobreza, o desenvolvimento dade mundiais, em conformidade com os entendia este doutoramento honoris cau-
económico e a equidade social. O antigo princípios do Conselho da Europa. sa como uma homenagem ao povo bra-
chefe de Estado foi activista político des- No ano passado, este prémio foi atribu- sileiro, pela revolução económica e social
de os 19 anos de idade, fundador do Par- ído ao ex-presidente da União Soviética realizada no Brasil nos últimos oito anos.
tido dos Trabalhadores e a sua distinção Mikhail Gorbatchev e à deputada do Em Portugal, já tinha sido anteriormente
relaciona-se com a acção desenvolvida Kuweit, Rola Dashti. Nas edições ante- agraciado com a grã-cruz da Ordem Mili-
ao longo dos oito anos em que ocupou o riores, distinguiu personalidades tão di- tar da Torre e Espada e o grande colar da
mais alto cargo da nação brasileira versas como Bob Geldof, Simone Weil, Ordem da Liberdade.
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12. eNtrevIstA
“diGo aos meus amiGos
PArA virem PArA lisboA”
ao mesmo tempo uma vida urbana num
JuvA bAtellA
centro cultural que, na minha opin-
ião, é bem mais potente do que o Rio
juva Batella nasCeu em 1970, no de Janeiro. Gosto da maneira de ser
dos portugueses, gosto do som da fala
rio de janeiro, e frequentou o
dos portugueses, acho o país bonito, as
Curso de jornalismo da PontifíCia minhas filhas estão aqui, grande parte
universidade CatóliCa, onde dos meus amigos está aqui... Claro que
fez tamBém um mestrado e um sei que a economia não vai bem. Quando
eu cheguei, em 2004, o país era um e,
doutoramento em literatura.
agora, é outro.
traBalhou Como jornalista “de
forma PerifériCa, nunCa a sério” Como tem sido a sua experiência
e Começou a esCrever romanCes enquanto brasileiro em Portugal?
de fiCção Para Crianças e jovens, No início, sentia-me um bocadinho
mal... Foi a época daqueles cartazes do
PuBliCando oito livros no Brasil
Partido Nacional Renovador contra a
e um em PortuGal. tendo sido imigração. Depois, percebi que a atitude
Casado durante 19 anos Com uma O que o faz querer viver em Portugal? em relação aos homens e em relação às
Talvez a minha experiência mais directa mulheres é um pouco diferente. Algumas
PortuGuesa, e Com o rio de janeiro
seja a do homem na rua, do sujeito que brasileiras sofreram esse tipo de discrimi-
a tornar-se uma Cidade inseGura,
sai de manhã e vê a cidade a funcionar. nação. É um modo de olhar, um filtro
veio viver Para santo amaro de Vê as ruas limpas, vê que o telefone que se põe e que é difícil tirar. Com o
oeiras, nos arredores de lisBoa, funciona, que o autocarro funciona, não tempo, comecei a perceber que a minha
em 2004. e daqui não Pensa sair tão se sente em perigo no meio da rua, vive atitude em relação às pessoas, a simpatia,
uma vida comunitária num lugar que o modo como eu puxo uma conversa e
Cedo Porque se aPaixonou Por esta
não é propriamente Lisboa - é Oeiras encadeio um assunto seriam definidores
terra e PerCeBeu desde o iníCio mas, ao mesmo tempo, ao pé de Lisboa. para se estabelecer, ou não, o início de
“Como as Coisas funCionam” em É possível viver uma vida comunitária e uma estereotipagem que levaria a uma
PortuGal.
Para saBer mais soBre este esCritor
gOstO DA MANeIrA De ser DOs POrtugueses,
Brasileiro vale a Pena Consultar o
gOstO DO sOM DA FAlA DOs POrtugueses, ACHO
seu BloGue em: httP://BlaGuedojuva.
BloGsPot.Com
O PAís bONItO, As MINHAs FIlHAs estãO AquI,
grANDe PArte DOs Meus AMIgOs está AquI
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13. BRASILEIROS
A MAIOR COMUNIDADE IMIGRANTE EM PORTUGAL
eM POrtugAl, eM PrINCíPIO, tuDO é “NãO”, e é
PreCIsO lutAr POr uM “sIM”; O brAsIl é O PAís
DO “sIM” MAs DePOIs, quANDO se AvANçA MAIs
uM bOCADINHO, vê-se que NãO é tãO sIMPles
AssIM
discriminação. E, aos poucos, fui relax- algumas pessoas, entre elas a profes- uma estrutura de negócios. Esse era um
ando, a um tal ponto que hoje não me sora Vânia Chaves, da Universidade de outro português, o mau da fita, o vilão
sinto mais um brasileiro em Portugal. Lisboa, que me falou de um projecto que escravizava os outros. Havia também
Também não me sinto um português, muito grande, um dicionário crítico de o português licenciado, que vai para o
estou naquilo a que o discurso académico todos os personagens portugueses da Brasil à procura de uma carreira como
chama um “entrelugar”. Eu estou num literatura brasileira e um dicionário críti- jurista. É um humanista, um homem
entrelugar entre o Brasil e Portugal. E é co de todos os personagens brasileiros simples mas sofisticado intelectualmente,
um lugar muito interessante. da literatura portuguesa. Então a Vânia que o escritor José de Alencar trata com
Chaves me entregou o século mais difícil deferência, por exemplo, e é um grande
Portugal continua a ser atractivo para de todos, o século XIX da literatura personagem do romance As Minas de
os brasileiros? brasileira, quando muita coisa foi pro- Prata, o dr. Vaz Caminha.
O Brasil está a crescer e o Brasil agora duzida e praticamente toda ela orientada
é atractivo. Já não se pode dizer que o para Portugal. Estamos a falar de 170 Essa visão que os brasileiros têm dos
Brasil é um país do terceiro mundo. romances e eu diria que, em 90 por cento portugueses perdurou no tempo?
Mas, ao mesmo tempo, quando se está há personagens portugueses. Tenho de Essa pergunta é complexa. Muitos
no Leblon, no Rio de Janeiro, onde olhar para todos esses romances e ver de brasileiros desconhecem que se formou
cresci, vêem-se as ruas não muito lim- que modo os escritores brasileiros viam uma nata de intelectuais portugueses
pas, os autocarros a não funcionar bem, os personagens portugueses, o que é uma a pensar as questões sociais contem-
as pessoas avançando nos semáforos, a forma de se dizer de que modo os escri- porâneas. Além disso, digo aos meus
inexistência do conceito de passadeira tores brasileiros viam o português. amigos brasileiros para virem para Lisboa,
como zona segura para o peão. Esse tipo onde acontecem mais coisas, mais shows,
de coisa não se muda com a economia. Há um estereótipo do português da mais exposições, mais danças, mais docu-
O cidadão português a andar na rua, época? mentários. Os meus amigos pegam nos
numa cidade grande como Lisboa, está Às vezes flagramos o escritor a fazer uma suplementos literários portugueses, como
muito mais inserido num nível de civili- estereotipagem até mesmo mal feita,
dade urbanística do que um cidadão do preconceituosa, porque a estereotipagem
Rio de Janeiro. Mesmo estando Portugal pode ser feita de muitas formas e ser
quebrado financeiramente, e o Brasil em um instrumento de trabalho necessário estOu NAquIlO que O
ascenção, estas são coisas antigas e estrut- para um determinado ponto da análise.
urais, que não se mudam de repente. Encontramos o português que vem dos DIsCursO ACADéMICO
campos do Norte, rude, praticamente CHAMA uM
Neste momento, investiga a forma analfabeto, que entra num barco e vai
como os portugueses eram vistos na “eNtrelugAr” eNtre
para o Brasil, e se submete a fazer tra-
literatura brasileira... balhos que os brasileiros não queriam brAsIl e POrtugAl.
Poder-se-ia resumir assim. É um pro- fazer. Esse português é ridicularizado, e é uM lugAr MuItO
jecto que faz parte de um projecto muito hostilizado. Depois, também há o por-
maior. Quando pensei em fazer um tuguês que era um senhor de posses e
INteressANte
pós-doutoramento aqui, conversei com da cidade, que vai para o Brasil e monta
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14. É por isso que diz que Portugal
é como um videogame em que
diminuem os níveis de dificuldade?
Isso tem a ver com a situação do Rio
de Janeiro na época em que eu saí de
lá. Em 2004, estava muito violento. Eu
estava numa cidade em que o nível de
dificuldade do videogame era 9,8 e fui
para Oeiras, onde o nível de dificuldade
é de 2,1! O grande acontecimento, na
época em que eu cheguei, em 2004, foi
o roubo dos carneirinhos de plástico de
uma senhora que tinha um presépio em
frente à sua casa! Não se falava de outra
coisa nas redondezas...
De que trata o seu romance publicado
em Portugal?
Em 2009, publiquei em Portugal o meu
primeiro romance, O Verso da Língua,
um romance sobre a língua portuguesa,
tendo como pano de fundo o acordo
ortográfico. Faço uma grande sátira do
acordo usando as figuras da língua portu-
guesa. Estas discutem o acordo ortográ-
o Y, do jornal Público, ou a revista guas e as pessoas enfrentando os seus fico, algumas são contra, algumas são a
Actual, do semanário Expresso, e dizem- problemas. Ali mesmo, sentado no chão, favor, e há uma intriga policial em que
me que esta cidade está a mil por hora! porque não havia espaço, comecei a o ponto final, que seria supostamente o
É possível ver os portugueses a abordar montar o que seria um texto acerca do símbolo do consenso, é raptado...
assuntos de uma forma muito frontal, SEF. Consegui publicar esse texto no
assuntos que os brasileiros não estão a Jornal de Letras e fiz uma espécie de
enfrentar. Tive dois exemplos desde que brincadeira com a burocracia portuguesa,
aqui vivo: o referendo popular sobre enumerando os tipos de documentos de
o aborto e a votação plenária sobre o que ia precisar. Afinal, não precisei nem
casamento entre homossexuais. Onde é de metade porque o meu caso era muito
que está o conservadorismo? Isso já não simples. Depois tive outras experiências
existe, os portugueses estão muito mais à com a burocracia e elaborei uma pseudo-
frente nas discussões, muito mais moder- teoria sobre o jeito de ser português e
nos do que os brasileiros. brasileiro, que pode ser assim resumida:
em Portugal, em princípio, tudo é “não”,
No seu blogue, relata o confronto e é preciso lutar por um “sim”; no Brasil,
com a burocracia portuguesa... há aquele jeito aberto de ser, é o país
Tive a minha experiência no Serviço do “sim”, tudo é em princípio possível
de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), que mas, depois, quando se avança mais um
achei que iria ser fácil e depois, quando bocadinho, vê-se que não é tão simples
cheguei lá, vi que não seria. Fiquei assim.
muito impressionado com aquilo tudo.
A quantidade de pessoas, as várias lín-
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15. BRASILEIROS
Perfil A MAIOR COMUNIDADE IMIGRANTE EM PORTUGAL
“os PortuGueses
mágico Andrély
sÃo um bom Público”
o máGiCo andrély veio do Brasil
Para exerCer a sua Profissão
O
em PortuGal. o suCesso da
Mágico Andrély nasceu lançado pelo programa da SIC “Portugal sua PartiCiPação no ProGrama
perto do Rio de Janeiro, tem Talento”. Tem sido interessante e está
televisivo “PortuGal tem talento”
na cidade de Mesquita, valendo a pena. Passei de artista anónimo
em 1976, e iniciou-se na a ser alguém que não passa desapercebi- Permitiu-lhe, ao fim de dez anos,
magia de uma forma muito comum en- do. Sinto que posso valorizar mais o meu valorizar e PotenCiar o seu
tre os mágicos: “Quando somos crianças, trabalho como mágico, aproveitando traBalho.
ganhamos um jogo de magia, desses que o veículo de comunicação forte que é a
vendem no supermercado. Depois, a televisão para poder divulgar e valorizar
maioria das crianças deixa de lado o jogo mais ainda aquilo que faço”.
de magia. Eu não, continuei brincando e
me tornei mágico”. Os POrtugueses
Andrély começou a ser mágico no Rio de
Janeiro, por volta dos dez anos, realizan- sãO uM bOM PúblICO
do o seu primeiro show com as magias Andrély pode ser contratado para
que esse jogo continha e para divertir as qualquer tipo de evento que necessite de
outras crianças. Quando tinha 16 anos, uma animação e tem diferentes aborda-
apresentou-se como mágico num circo gens consoante o ambiente em que actua:
perto de casa e pediram-lhe para fazer um desde a magia de proximidade, em que
teste. Foi o primeiro trabalho como pro- aborda os diversos grupos com números
fissional, ao que se seguiram outros em de cartas ou um espectáculo de palco em
locais nocturnos, já com 18 anos. que poderá fazer uma mulher levitar ou
desaparecer, se o local tiver condições, Na
sua opinião, os portugueses são um pú-
A OPOrtuNIDADe blico mais fácil do que os brasileiros: “O
DO “POrtugAl teM brasileiro é mais desconfiado. O portu-
tAleNtO” guês não, consegue ver a magia de outra
Há dez anos atrás, a situação no Brasil forma, pelo lado cultural, não está tão
preocupado com o segredo, com a forma sonhos por alcançar. Há não muito tem-
estava muito má em termos de trabalho
como a coisa é feita, prefere desfrutar o po, já com dupla nacionalidade brasileira
e, como todos os artistas brasileiros, An-
espectáculo e ser entretido”. O número e portuguesa, “estava com muita vontade
drély tinha o sonho de uma carreira in-
pelo qual é mais conhecido tem sido a de voltar a viver no Brasil”. Agora, acha
ternacional. Foi nessa altura que surgiu
aparição das pombas. Mas no “Portugal que é preciso aproveitar o mediatismo
a oportunidade de trabalhar em Lisboa,
tem Talento” fez uma mulher desaparecer que conseguiu com o sucesso na tele-
numa loja que vendia artigos de magia.
e aparecer de novo no seu lugar, o que foi visão. “Acho que ainda vou ficar em Por-
Passou a ter dois trabalhos, o de vendedor
um grande sucesso. tugal mais alguns anos”, conclui.
e o de mágico nos tempos livres, até que
surgiu uma oportunidade a não perder. O mágico considera-se um imigrante
bem sucedido, embora ainda com muitos Mais informações: www.andrely.com
“Dez anos depois de vir para Lisboa, fui
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16. rede Claii
interCulturalidade nas esColas do
ConCelho de alenquer
um testemunHo dA escolA básicA
do 1.º ciclo de Alenquer
Artigo elAborAdo Por AnA filiPA monteiro,
técnicA do clAii de Alenquer
“quadrado a quadrado…Construímos a interCulturalidade” foi o nome do
desafio que o Centro loCal de aPoio à inteGração de imiGrantes (Claii) de
alenquer, resultante da ParCeria entre a Câmara muniCiPal de alenquer e o
aCidi, ProPôs às turmas do 4.º ano do 1.º CiClo dos estaBeleCimentos de ensino
da rede PúBliCa do ConCelho, no final do ano Passado.
A
iniciativa inseriu-se no âmbito do projecto de ensino do concelho de Alenquer foi também mais um
“Alenquer Acolhe”, ao abrigo da II Edição da dos motivos que conduziu a Câmara Municipal, através do
Promoção da Interculturalidade a nível Municipal, CLAII, a mobilizar as escolas públicas do concelho em torno
financiada pelo Fundo Europeu para a Integração de uma iniciativa que consistiu na construção de uma história
de Nacionais de Países Terceiros (FEINPT), em parceria com enquadrável no livro ilustrado Migrando, de Mariana Chiesa
o Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural Mateos.
(ACIDI), pretendendo contribuir de uma forma directa para Este livro foi concebido pela autora argentina com apenas duas
a educação intercultural, em articulação com as escolas. Deste mensagens iniciais (uma de cada lado, já que o livro permite
modo, pretendeu-se, na sala de aula, contribuir para a des- uma dupla leitura, na lógica de quem parte e de quem acolhe) e
construção de eventuais ideias um conjunto de ilustrações que
preconcebidas face à popula- deixam ao leitor o desafio de
ção imigrante, fomentando os construir a sua própria história.
valores da interculturalidade e Foi, pois, este o desafio que se
tendo em vista a formação das colocou às 11 turmas das sete
gerações mais jovens, enquan- escolas envolvidas no concurso
to cidadãos que respeitam a e que, de formas muito diversas
diferença de culturas numa e criativas, deram lugar a men-
sociedade cada vez mais plural, sagens que configuram boas
cosmopolita e globalizada. práticas de diálogo intercultu-
A constatação do crescente ral na interacção positiva entre
aumento do número de alunos imigrantes e autóctones.
de diferentes nacionalidades a
frequentar os estabelecimentos
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17. claii
1º PréMIO
2º PréMIO
3º PréMIO
testeMuNHO DA PrOFessOrA De que modo é que a escola se revê na qualidade de
ANA guAPO, DOCeNte DA turMA parceiro privilegiado na relação com o CLAII, tendo
em vista uma integração ainda mais plena e efectiva dos
veNCeDOrA - turMA Ae DA esCOlA
imigrantes no concelho?
básICA DO 1.º CIClO De AleNquer Sendo a escola ponto de passagem obrigatório para os filhos de
imigrantes que vivem entre nós, ela é, sem dúvida, um parceiro
Qual a importância destes projectos/actividades no seio privilegiado e fundamental para a integração plena e efectiva
da comunidade escolar? destes cidadãos, já que a escolaridade é um passo fundamental
Portugal constituiu-se, nas últimas décadas, como um para a integração em qualquer sociedade.
destino de imigração e as nossas escolas, pela diversidade de
origens dos alunos que as frequentam, reflectem bem isso. Que outras iniciativas seriam interessantes poder realizar
Assim, o concurso “Quadrado a quadrado… construímos a com a comunidade escolar?
interculturalidade” foi uma iniciativa extremamente oportuna Qualquer actividade que contribua para a educação plena da
para a escola, já que serviu de mote para um trabalho cidadania dos nossos alunos tem todo o interesse, uma vez que
estimulante e criativo em que se envolveu toda a turma, este é um dos objectivos primordiais da escola. Desta forma,
permitindo uma abordagem mais profunda da temática da exposições, workshops, convívios, concursos, espaços de diá-
interculturalidade. logo e troca de experiências culturais entre os elementos da
Esta actividade e outras com as mesmas intenções e objecti- comunidade educativa (dirigidos em especial aos educadores,
vos, que se destinam aos nossos alunos, revestem-se da maior alunos e suas famílias) serão actividades de grande interesse.
importância, na medida em que contribuem para uma educa-
ção que privilegia e desenvolve a vivência da interculturalidade
entre as novas gerações.
17
18. AssOCIAtIvIsMO IMIgrANte
assoCiações de imiGrantes
AssinAturA de Protocolos de APoio
finAnceiro
o alto Comissariado Para a imiGração e diáloGo
interCultural (aCidi) assinou 39 ProtoColos de aPoio
finanCeiro Com as assoCiações de imiGrantes, no
dia 22 de março, no âmBito do ProGrama de aPoio
ao assoCiativismo imiGrante 2011 (Paai 2011), no valor
GloBal de 772.381,81 euros.
E
sta cerimónia, que decorreu no auditório do Centro
Nacional de Apoio ao Imigrante (CNAI) de Lisboa,
contou com as presenças do ministro da Presidência,
Pedro Silva Pereira, da Alta-Comissária para a
Imigração e Diálogo Intercultural, Rosário Farmhouse, bem
como dos embaixadores das comunidades imigrantes mais
representativas em Portugal.
O Programa de Apoio ao Associativismo Imigrante (PAAI)
para o ano de 2011 estrutura o apoio concedido às associações
de imigrantes em quatro linhas prioritárias de intervenção e
uma de apoio específico:
1. Eixo de Apoio à Integração Plena e Igualdade de
Oportunidades – iniciativas de apoio à plena integração 3. Eixo de Apoio a Práticas de Reconhecido Mérito –
dos imigrantes na sociedade através de projectos dirigidos iniciativas que possuem características particularmente
aos imigrantes e suas famílias, que facilitem o acesso a inovadoras e de qualidade reconhecida;
bens e serviços fundamentais para o exercício de direitos e
deveres na sociedade portuguesa; 4. Eixo de Apoio à Capacitação Associativa (Apoio
Estrutural) – consiste no apoio à aquisição de bens ou
2. Eixo de Apoio à Valorização da Diversidade e da serviços transversais e indispensáveis ao dia-a-dia do
Interculturalidade – iniciativas que tenham em vista a trabalho associativo, que capacitem as associações das
mudança de mentalidades, a prevenção de atitudes dis- ferramentas necessárias para a execução das actividades a
criminatórias e a promoção de competências de diálogo desenvolver;
intercultural; iniciativas de divulgação da cultura do país
de origem, como contributo para a construção de um 5. Eixo de Apoio Específico – Apoio à Participação na 16ª
modelo intercultural de sociedade; Conferência Internacional Metropolis.
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19. Das 50 candidaturas anuais apresentadas foram aprovadas Geograficamente, o montante aprovado distribui-se da seguin-
39, num montante global de 772.381,81 euros, dos quais te forma:
754.156,81 euros para apoio directo às 163 actividades
Região N.º de Associações Valor
que integram os projectos (Eixos 1, 2, 3 e 4) e 18.225,00 Norte 5 €77.261,86
euros para o Eixo 5. Centro 5 €64.043,00
Amadora 5 €109.715,99
O montante aprovado reparte-se pelos diferentes eixos do Lisboa 9 €183.395,51
PAAI 2011, de acordo com o quadro que se segue: Loures 2 €46.975,00
Lisboa e Vale do Tejo Oeiras 2 €50.675,00
Eixo N.º de Actividades Valor Setúbal 2 €51.021,85
1 87 €488.064,58 Sintra 2 €49.045,00
2 73 €170.783,02 Outros 3 €45.511,72
3 3 €5.500,00 Alentejo 1 €25.675,00
4 - €89.809,21 Algarve 2 €50.089,88
5 - 18.225,00 € Ilhas (Madeira) 1 €18.972,00
TOTAL 163 €772.381,81 TOTAL 39 €772.381,81
Quanto às metas a atingir, estima-se um total de 104.561 des-
tinatários, a realização de 808 sessões de informação/sensibili-
zação, seminários, workshops e outros eventos, a produção de
629 materiais de informação/sensibilização e o envolvimento
de 350 entidades parceiras.
19
20. escolhas
sPortinG CluBe
de PortuGal
Comemora no
estádio josé de
alvalade
os dez Anos
do ProgrAmA
escolHAs
O
jogo com a Académica foi o palco escolhido
para esta celebração. No dia 9 de Abril, foram
convidados especiais no Estádio José de Alvalade
três mil e quinhentos jovens do Escolhas e seus
familiares que vieram até Lisboa de todo o país para assistir à
partida que acabou com a vitória do Sporting por 2-0.
Esta experiência, proporcionada pelo Sporting Solidário,
foi organizada também pelos Dinamizadores Comunitários,
jovens que fazem a ponte entre os vários projectos e os bairros e
que foram desafiados, no âmbito das suas funções, a organizar
a logística desta deslocação massiva a partir das várias comuni-
dades onde o Escolhas intervém.
Para Sofia Peyssonneau Nunes, coordenadora do projecto
“Crescer com Escolhas”, de Mafra, o estádio “é um cenário que
estes jovens costumam ver na televisão, mas não têm possibili-
dade de ver na realidade. A sua vinda fortalece não só a relação
que têm com o desporto, mas também os laços que têm uns Helder Postiga, do Sporting, disputa a bola em
com os outros e com o projecto”. Entre os jovens e crianças Alvalade com Luís Nunes, da Académica
presentes, a palavra “felicidade” era uma das mais ouvidas.
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21. CICDR
luta Contra a disCriminação raCial
iniciAtivAs dA cicdr
no âmBito das Comemorações alusivas ao
dia internaCional de luta Pela eliminação da FUTEBOL CONTRA O RACISMO
disCriminação raCial (21 de março), o aCidi, através da Junta-te a nós!
Comissão Para a iGualdade e Contra a disCriminação PRESIDÊNCIA DO CONSELHO DE MINISTROS
acidi
Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural, I.P.
raCial (CiCdr), lançou um Conjunto de iniCiativas que
Pretenderam sensiBilizar a oPinião PúBliCa Para a luta FutebOl CONtrA O rACIsMO
Contra a disCriminação raCial.
Em articulação com a Secretaria de Estado da Juventude e
do Desporto e da Liga Portuguesa de Futebol, nos jogos do
Campeonato da Liga de Futebol da jornada 24 nos dias 19,
20 e 21 de Março, os jogadores entraram em campo exibindo
uma faixa com o seguinte apelo: “Futebol Contra o Racismo!
Junta-te a nós”.
O objectivo foi chamar a atenção para esta temática, decisiva
no quadro de uma educação para a cidadania e em que as ins-
tituições desportivas têm vindo a assumir um papel relevante.
O presidente da UEFA, Michel Platini, quando o Comité
Executivo da UEFA aprovou as directivas que definem a
forma como os árbitros devem proceder perante actos graves
de racismo dentro dos estádios, lembrou que a política desta
estuDO OI instituição em relação ao racismo é de tolerância zero. Também
o Presidente da FIFA, Joseph Blatter afirmou, em comunica-
DIsCursOs DO rACIsMO eM POrtugAl do oficial, que o futebol, sendo o desporto mais popular do
No Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação mundo, tem o poder de combater o racismo.
Racial, 21 de Março, o ACIDI, através da CICDR, promoveu
um seminário de debate sobre esta temática, integrando
painéis que versaram sobre as Leis da Discriminação Racial
em Portugal, o Combate à Xenofobia e Racismo no Local
de Trabalho e ainda um painel com o título “Racismo em
Portugal: Mito ou realidade?”.
O seminário, que teve lugar no Centro de Informação Urbana
de Lisboa, incluiu ainda a apresentação e discussão do estudo
do Observatório da Imigração Discursos do Racismo em
Portugal de Edite Rosário, Tiago Santos e Sílvia Lima.
Edite Rosário explicou que este trabalho surgiu como resulta-
do de um projecto europeu Living Together, em que se procu-
rou fazer uma análise dos discursos dos participantes através de
grupos de discussão, ou “focus groups”. O principal objectivo
da investigação foi uma análise das intervenções dos partici-
pantes nesses grupos de discussão, realizados num ambiente
informal, ao nível dos argumentos usados habitualmente nos
discursos sobre o racismo.
21
22. Bolsa de formadores
módulo sobre diálogo
inter-religioso
O
Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural (ACIDI)
está a alargar a oferta da Bolsa de Formadores a novas áreas, entre as
quais o diálogo inter-religioso. Para divulgação do novo módulo de
formação sobre esta temática, realizou-se uma sessão no Auditório do
Centro Nacional de Apoio ao Imigrante (CNAI), em Lisboa, no dia 10 de Março.
Neste âmbito, foram também lançados um desdobrável sobre diálogo inter-religioso
e o cartaz, para jovens, da Carta da Compaixão.
Este módulo dirige-se sobretudo a instituições, directa ou indirectamente implicadas
no processo de acolhimento e integração dos imigrantes: associações, organizações
não-governamentais, instituições de solidariedade social, autarquias, hospitais, tribu-
nais, escolas, entre outras.
Para reflexão e debate sobre o novo módulo, foram convidados representantes das
diversas comunidades religiosas, assim como jovens e outras personalidades ligadas à
temática do diálogo inter-religioso.
Abdool Vakil Ashok Hansraj Tiago Aragão
Comunidade Islâmica Comunidade Hindu Aliança Evangélica
Este encontro foi excelente, foi das boas É fundamental haver esta noção da É importante haver este tipo de iniciati-
coisas que tenho visto fazer. Foi muito importância do diálogo inter-religioso, vas para termos uma maior compreensão
interessante falar-se do conteúdo dos que não pretende dialogar a essência e incentivo ao diálogo. Portanto, penso
manuais escolares. Conheço a experiên- de cada uma das religiões mas, sim, a que foi extremamente útil e interessan-
cia inglesa nas escolas secundárias, onde coexistência entre as várias comunidades te termos assistido a esta apresentação.
têm uma disciplina designada Religious religiosas e entre as várias sociedades civis Sabemos também que foi apenas uma
Studies (Estudos Religiosos). Há um e religiosas, para poderem aprender a amostra daquilo que se está a querer
manual muito interessante, com a descri- incutir o respeito pelo outro. O módulo implementar com uma formação mais
ção e explicação das várias religiões, para de formação está no bom caminho. É prolongada. Há necessidade de um maior
que todos estejam sensibilizados sobre o evidente que haverá muita matéria a diálogo entre as partes e de nos ouvirmos
que são. Penso que também deveríamos consubstanciar mas o mais importante é uns aos outros. Gostaria que num futuro
fazer isso. Não seria a antiga Moral e criar estas sinergias para que, com o con- próximo isso pudesse realizar-se.
Religião, nem a catequese, mas nas esco- tributo dos vários parceiros, seja possível
las deveríamos sensibilizar os jovens para criar uma convivência sã e serena entre os
as outras religiões, para nos conhecermos povos e as comunidades.
mutuamente.
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23. ideias de neGóCio
EntrEga dE Prémios
breves
O Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural realizou, a 15
de Abril, a Sessão Pública de Assinatura de Protocolos com as instituições
parceiras que irão dinamizar a nível local o Projecto Promoção do
Empreendedorismo Imigrante – PEI’03, acumulando esta sessão com a
actividade que findou o PEI’02: entrega dos Prémios CIN – Concurso de Ideias
de Negócio aos três finalistas.
O 1º prémio, no valor de cinco mil euros, foi entregue a Tatiana Popova A sessão contou com a presença da Alta-Comissária, Rosário Farmhouse, e
(ideia de negócio: chapas infravermelhas de aquecimento). O s2º prémio, no enquadrou-se na 3ª edição do Projecto de Promoção do Empreendedorismo
valor de dois mil e quinhentos euros, foi entregue a Yaroslav Grishkin e Igor Imigrante, iniciativa lançada em 2009 pelo ACIDI e co-financiada pelo Fundo
Grishkin (ideia de negócio: fabricação e venda de vassouras para saunas). O Europeu para a Integração dos Nacionais de Países Terceiros (FEINPT), tendo
3º e último prémio, no valor de mil euros, foi entregue a Olga Seredenko (ideia como objectivo fomentar atitudes empreendedoras junto das comunidades
de negócio: fabricação de produtos alimentares). imigrantes, com especial enfoque naquelas que residem em bairros de maior
Foram atribuídas duas menções honrosas, a Oleksandr Dovgan, com o vulnerabilidade.
projecto Studio Airbrushing, e a Angela Luyet, com o projecto Teatro Laboral.
seminário
doEntEs dE Junta médica
O ACIDI organizou o seminário Doentes de Junta Médica – Sinergias para
Responder Melhor, com o intuito de promover a reflexão e o diálogo em torno
da problemática dos doentes de junta médica ao abrigo dos acordos com os
PALOP. Mobilizando todos os intervenientes e trocando experiências nesta
área procuraram-se, em conjunto, soluções para ultrapassar as dificuldades. de Serviço de Cardiologia do Centro Hospitalar de Coimbra e Presidente
Esta iniciativa, que decorreu a 31 de Março na Fundação Calouste da organização não-governamental para o desenvolvimento Cadeia de
Gulbenkian, contou com a presença da Alta-Comissária para a Imigração e Esperança, do director do Gabinete de Saúde Internacional do Hospital de
Diálogo Intercultural, Rosário Farmhouse, da responsável pela Consulta de S. João, Filipe Basto e Paulo Telles de Freitas, administrador do Instituto
Cooperação Internacional do Hospital de Santa Marta, Anabela Paixão, Luís Marquês de Valle Flor.
Varandas, responsável pela Consulta de Cooperação Internacional Pediátrica O seminário teve uma grande afluência e os debates finais possibilitaram aos
do Hospital D. Estefânia, do médico voluntário no Hospital de Cumurra, intervenientes apresentar as suas próprias vivências e esclarecer algumas
Guiné-Bissau, José Manuel Furtado, António Leitão Marques, director questões.
agenda agenda
EVENTO DESCRIÇÃO DATA LOCAL HORA
Acidi Junto das Comunidades Acidi Junto das Comunidades em Setúbal 3 e 4 Maio Bairro da Bela Vista
Semana da Responsabilidade Social –
Semana da Responsabilidade Social Workshop “A Diversidade como factor de 10 Maio Fundação Cidade de Lisboa 9h30
sustentabilidade
Observatório da Imigração Jornadas do Observatório da Imigração 16 Maio Fundação Calouste Gulbenkian 9h30
Fundação Portuguesa das
Prémio de Jornalismo Prémio de Jornalismo pela Diversidade Cultural 20 Maio 18h00
Comunicações
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