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SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
Governo do Estado do Maranhão
Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia,
Ensino Superior e Desenvolvimento Tecnológico
Universidade Estadual do Maranhão - UEMA
Núcleo de Tecnologias para Educação - UemaNet
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
Cleide Aparecida Faria Rodrigues
Márcia Derbli Schafranski
Rita de Cássia da Silva Oliveira
São Luís
2010
Governadora do Estado do Maranhão
Roseana Sarney Murad
Reitor da uema
Prof. José Augusto Silva Oliveira
Vice-reitor da Uema
Prof. Gustavo Pereira da Costa
Pró-reitor de Administração
Prof. José Bello Salgado Neto
Pró-reitor de Planejamento
Prof. José Gomes Pereira
Pró-reitor de Graduação
Prof. Porfírio Candanedo Guerra
Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação
Prof. Walter Canales Sant’ana
Pró-reitora de Extensão e Assuntos Estudantis
Profª. Grete Soares Pflueger
Chefe de Gabinete da Reitoria
Prof. Raimundo de Oliveira Rocha Filho
Edição:
Universidade Estadual do Maranhão - UEMA
Núcleo de Tecnologias para Educação - UemaNet
Coordenador do UemaNet
Prof. Antonio Roberto Coelho Serra
Coordenadora Pedagógica
Profª. Maria de Fátima Serra Rios
Coordenadora do Curso de Pedagogia, a distância:
Profª. Heloísa Cardoso Varão Santos
Coordenadora da Produção de Material Didático UemaNet:
Camila Maria Silva Nascimento
Responsável pela Produção de Material Didático UemaNet:
Cristiane Costa Peixoto
Revisão:
Liliane Moreira Lima
Lucirene Ferreira Lopes
Diagramação:
Josimar de Jesus Costa Almeida
Luis Macartney Serejo dos Santos
Tonho Lemos Martins
Capa:
Luciana Vasconcelos
Universidade Estadual do Maranhão
Núcleo de Tecnologias para Educação - UemaNet
Campus Universitário Paulo VI - São Luís - MA
Fone-fax: (98) 3257-1195
http://www.uemanet.uema.br
e-mail: comunicacao@uemanet.uema.br
O conteúdo deste fascículo foi cedido à Universidade
Estadual do Maranhão - UEMA pela Universidade Estadual
de Ponta Grossa - PR, que autorizou sua reprodução
com atualizações: revisão de linguagem, capa, cores e
diagramação de uso exclusivo do Núcleo de Tecnologias
para Educação - UemaNet.
R696s Rodrigues, Cleide Aparecida Faria
Sociologia da educação 1./ Cleide Aparecida
Faria Rodrigues, Márcia Derbli Schafranski e Rita
de Cássia da Silva Oliveira. Ponta Grossa: Ed.UEPG,
2009.
163 p. il.
Licenciatura em Pedagogia - Educação a
distância.
1. Sociologia da educação. 2. Sociologia e
sociedade. 3. Sociedade e economia. 4. Estado,
política e sociedade. I. Schafranski, Márcia Derbli.
II. Oliveira, Rita de Cássia da Silva. III.T.
CDD : 370.193
João Carlos Gomes
Reitor
Carlos Luciano Sant’ana Vargas
Vice-reitor
Pró-Reitoria de Assuntos Administrativos
Ariangelo Hauer Dias
Pró-Reitoria de Graduação
Graciete Tozetto Góes
Divisão de Educação a Distância e de Programas Especiais
Maria Etelvina Madalozzo Ramos - Chefe
Núcleo de Tecnologia e Educação Aberta e a Distância
Leide Mara Schmidt - Coordenadora Geral
Cleide Aparecida Faria Rodrigues - Coordenadora
Pedagógica
Sistema Universidade Aberta do Brasil
Hermínia Regina Bugeste Marinho - Coordenadora
Geral
Cleide Aparecida Faria Rodrigues - Coordenadora
Adjunta
Elenice Parise Foltran - Coordenadora de Curso
Colaborador Financeiro
Luiz Antonio Martins Wosiak
Colaboradora de Planejamento
Silviane Buss Tupich
Colaboradores em EAD
Dênia Falcão de Bittencourt
Jucimara Roesler
Colaboradores de Informática
Carlos Alberto Volpi
Carmen Silvia Simão Carneiro
Adilson de Oliveira Pimenta Júnior
Juscelino Izidoro de Oliveira Júnior
Osvaldo Reis Júnior
Kin Henrique Kurek
Thiago Luiz Dimbarre
Thiago Nobuaki Sugahara
Colaboradores de Publicação
Maria Beatriz Ferreira - Revisão
Sozângela Schemin da Matta - Revisão
Edson Gil Santos Jr. - Diagramação
Eloise Guenther - Diagramação
Luan Dione Rein - Diagramação
Paulo Henrique de Ramos - Ilustração
Colaboradores Operacionais
Edson Luis Marchinski
Joanice Kuster de Azevedo
João Márcio Duran Inglêz
Maria Clareth Siqueira
Mariná Holzmann Ribas
Todos os direitos reservados ao Ministério da Educação
Sistema Universidade Aberta do Brasil
Ficha catalográfica elaborada pelo Setor de Processos Técnicos BICEN/UEPG.
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA
Núcleo de Tecnologia e Educação Aberta e a Distância - NUTEAD
Av. Gal. Carlos Cavalcanti, 4748 - CEP 84030-900 - Ponta Grossa - PR
Tel.: (42) 3220-3163
www.nutead.uepg.br
2010
APRESENTAÇÃO INSTITUCIONAL
Prezado estudante,
Inicialmente queremos dar-lhe as boas-vindas à nossa instituição e
ao curso que escolheu.
Agora, você é um acadêmico da Universidade Estadual de Ponta
Grossa (UEPG), uma renomada instituição de ensino superior que
tem mais de cinquenta anos de história no Estado do Paraná, e
participa de um amplo sistema de formação superior criado pelo
Ministério da Educação (MEC) em 2005, denominado Universidade
Aberta do Brasil (UAB).
O Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB) não propõe
a criação de uma nova instituição de ensino superior, mas
sim, a articulação das instituições públicas já existentes,
possibilitando levar ensino superior público de qualidade aos
municípios brasileiros que não possuem cursos de formação
superior ou cujos cursos ofertados não são suficientes para
atender a todos os cidadãos.
Sensível à necessidade de democratizar, com qualidade, os cursos
superiores em nosso país, a Universidade Estadual de Ponta Grossa
participou do Edital de Seleção UAB nº 01/2006-SEED/MEC/2006/2007
e foi contemplada para desenvolver seis cursos de graduação e quatro
cursos de pós-graduação na modalidade a distância.
Isso se tornou possível graças à parceria estabelecida entre o
MEC, a CAPES e as universidades brasileiras, bem como porque
a UEPG, ao longo de sua trajetória, vem acumulando uma rica
tradição de ensino, pesquisa e extensão e se destacando também
na educação a distância.
A UEPG é credenciada pelo MEC, conforme Portaria nº 652, de 16
de março de 2004, para ministrar cursos superiores (de graduação,
sequenciais, extensão e pós-graduação lato sensu) na modalidade
a distância.
Os nossos programas e cursos de EaD apresentam elevado padrão de
qualidade e têm contribuído, efetivamente, para a democratização
dosaberuniversitário,destacando-seotrabalhoquedesenvolvemos
na formação inicial e continuada de professores. Este curso não
será diferente dos demais, pois a qualidade é um compromisso da
Instituição em todas as suas iniciativas.
Os cursos que ofertamos, no Sistema UAB, utilizam metodologias,
materiais e mídias próprios da educação a distância que, além de
facilitarem o aprendizado, permitirão constante interação entre
alunos, tutores, professores e coordenação.
Este curso foi elaborado pensando na formação de um professor
competente, no seu saber, no seu saber fazer e no seu fazer saber.
Também foram contemplados aspectos éticos e políticos essenciais
à formação dos profissionais da educação.
Esperamos que você aproveite todos os recursos que oferecemos
para facilitar o seu processo de aprendizagem e que tenha muito
sucesso na trajetória que ora inicia.
Mas, lembre-se: você não está sozinho nessa jornada, pois fará
parte de uma ampla rede colaborativa e poderá interagir conosco
sempre que desejar, acessando nossa Plataforma Virtual de
Aprendizagem (MOODLE) ou utilizando as demais mídias disponíveis
para nossos alunos e professores.
Nossa equipe terá o maior prazer em atendê-lo, pois a sua
aprendizagem é o nosso principal objetivo.
EQUIPE DA UAB/UEPG
APRESENTAÇÃO
Prezado estudante,
A disciplina Sociologia da Educação se configura no Curso de
Pedagogia como uma possibilidade de oferecer aos estudantes
(futuros professores) conhecimento sobre a complexidade da
realidade com a qual terão que enfrentar no desempenho das suas
atividades profissionais.
Oportunizará o estudo da dimensão social dos sujeitos, da sua
ligação à sociedade e, sobretudo, da dialética que se estabelece
entre estas instâncias, permitindo a análise sociológica do processo
didático-pedagógico.
Contamos com a participação da equipe de professores: Cleide
Aparecida Faria Rodrigues, Márcia Derbli Schafranski e Rita de
Cásia da Silva Oliveira da Universidade Estadual de Ponta Grossa e
do professor especialista da UEMA responsável pela mediação da
disciplina.
Neste módulo contemplamos conteúdos indispensáveis à formação
pedagógica para que você, caro estudante, compreenda e
analise as funções da educação e da escola na estrutura social
e as mudanças na sociedade, ampliando, assim, a visão sobre
a realidade e a sua responsabilidade social como profissional da
educação, podendo atuar de maneira crítica e competente face
a realidade do fenômeno educativo em suas múltiplas relações
econômicas, ético-políticas e sociais.
Você terá oportunidade de produzir conhecimentos, participando
do processo de transformação da educação brasileira, exercendo a
docência de modo competente.
Lembramos que você não está sozinho nesta caminhada, pois uma
ampla rede de profissionais estará a disposição para interagir com
você.
Desejamos sucesso e bons momentos de estudo!
EQUIPE DA UEMANET
PALAVRAS DAS PROFESSORAS
OBJETIVO E EMENTA
UNIDADE 1
SOCIOLOGIA: a ciência da sociedade .................................... 19
Conceito e Objeto de Estudo ...................................... 21
O Surgimento da Sociologia: fundamentos históricos e
epistemológicos .................................................... 25
Paradigmas sociológicos: contribuições de Durkheim,
Weber e Marx ...................................................... 37
UNIDADE 2
A ORDEM ECONÔMICA DA SOCIEDADE ................................. 65
O Conceito de Trabalho ........................................... 67
O Trabalho ao longo da História: diferentes concepções ......... 71
Os Diferentes modos de Produção ............................... 77
O Trabalho na Sociedade Globalizada: desafios no século XXI .... 97
O Trabalho e a Educação .......................................... 101
UNIDADE 3
ESTADO, POLÍTICA E SOCIEDADE ....................................... 107
Estado: sociedade política e sociedade civil ................... 111
As Teorias do Estado ............................................... 117
SUMÁRIO
O Século XX e as mudanças na concepção e nas funções do
Estado .............................................................. 133
PALAVRAS FINAIS .................................................. 153
REFERÊNCIAS ...................................................... 155
NOTAS SOBRE AS AUTORAS ....................................... 159
PENSE ATIVIDADES ATENÇÃO
ÍCONES
Orientação para estudo
Ao longo desta apostila, serão encontrados alguns ícones utilizados
para facilitar a comunicação com você.
Saiba o que cada um significa.
SUGESTÃO DE FILMES SAIBA MAIS REFERêNCIAS
OBJETIVOS E EMENTA
Objetivos
•	 Desenvolver atitude científica diante da realidade social e
educacional.
•	 Analisar a contribuição dos autores clássicos ao surgimento e
desenvolvimento da Sociologia.
•	 Refletir sobre a importância do trabalho na vida individual e na
organização social.
•	 Caracterizar os paradigmas teóricos que norteiam o pensamento
sociológico atual.
•	 Analisar a relação Estado-sociedade a partir de um referencial
teórico e crítico.
•	 Compreender a importância da ciência sociológica na formação
do educador.
Ementa
•	 Contexto histórico e epistemológico em que surge a Sociologia.
Os autores clássicos da Sociologia: Durkheim, Marx e Weber. Os
métodos de investigação e principais temáticas abordadas pelos
clássicos. O trabalho nas diferentes sociedades. Concepções
teóricas de Estado. A globalização e o Estado contemporâneo.
PALAVRAS DAS PROFESSORAS
A teoria em si só não transforma o mundo. Pode
contribuir para a sua transformação, mas para isso
tem que sair de si mesma, e em primeiro lugar
tem que ser assimilada pelos que vão ocasionar,
com seus atos reais, efetivos, tal transformação
(VASQUEZ, 1968).
Prezado estudante,
A partir deste momento você está convidado a refletir conosco
sobre questões importantes relacionadas à sociedade, as quais
repercutem na educação e na prática pedagógica do professor,
uma vez que esta prática não se dá no vazio, mas está diretamente
relacionada a um contexto histórico e cultural específico, sugerindo
que estejamos atentos aos condicionantes de ordem econômica,
política e social que exercem influência sobre a educação e sobre
o trabalho docente.
Pelo fato de analisar a sociedade sob o prisma dos diversos olhares
que as diferentes perspectivas analíticas ensejam, a Sociologia
possibilita uma ampliação da compreensão da realidade social e
educacional. Daí a sua importância nos cursos de formação de
professores.
Podemos afirmar que o trabalho docente guarda relações diretas
com a estrutura e com a organização social e, em consequência,
com os processos decorrentes. Assim sendo, a formação do
professor precisa estar ancorada em sólidos conhecimentos
sobre a realidade social, para que possamos ter maior clareza
de propósitos e dar um direcionamento às nossas ações, mesmo
reconhecendo os condicionantes históricos, sociais e culturais que
interferem em nosso trabalho.
Portanto, os conhecimentos oriundos da ciência sociológica, ao
propiciarem a reflexão, problematização e discussão da realidade,
nos fornecem categorias de análise úteis à compreensão da
dinâmica da vida social como um todo e do fenômeno educativo
em particular, podendo também levar-nos a desenvolver atitudes
que incitem a mudança.
-Então, pronto(a) para iniciar seus estudos?
Cleide Aparecida Faria Rodrigues
Márcia Derbli Schafranski
Rita de Cássia da Silva Oliveira
Sociologia: a ciência da sociedade
Márcia Derbli Schafranski
1
unidade
Objetivos dESTA unidade:
Caracterizar a
Sociologia como ciência,
discorrendo sobre suas
principais atribuições;
Analisar o contexto
histórico-social que
propiciou o surgimento
e o desenvolvimento da
Sociologia;
Compreender a
organização social
como determinante das
relações dos homens
entre si, mediatizados
pelo mundo;
Analisar a sociedade sob
a ótica do paradigma
do consenso e sob a
ótica do paradigma do
conflito.
ROTEIRO DE ESTUDOS
•	 Conceito e objeto de estudo
•	 O surgimento da Sociologia: fundamentos históricos e
epistemológicos
•	 Paradigmas sociológicos: as contribuições de Durkheim, de
Weber e de Marx Márcia Derbli Schafranski
20
PARA INÍCIO DE CONVERSA
Prezado estudante,
Nesta unidade você terá a oportunidade de melhor analisar e com-
preender a vida social, a partir dos acontecimentos históricos que
deram origem ao desenvolvimento da sociedade capitalista. Pode-
rá entender que a Sociologia se insere como ciência extremamente
necessária à formação do profissional da educação à medida que
lhe oferece subsídios teóricos capazes de levá-lo a melhor situar-se
diante do contexto social e educacional, estabelecendo os vínculos
entre o modelo de organização social vigente e a educação.
Também compreenderá que, desde a sua formação, essa ciência
buscou não apenas refletir sobre a sociedade, mas, também, im-
plementar estratégias de ação que permitissem interferir nos ru-
mos da civilização.
Os sociólogos, sejam eles conservadores ou revolucionários, antigos
ou atuais, procuram fazer do conhecimento sociológico um instru-
mento de ação, quer seja para manter quer seja para transformar
a sociedade existente.
Você terá, pois, a oportunidade de conhecer as ideias de diferentes
teóricos que contribuíram para a constituição e consolidação dessa
ciência, e de compreender que existem diferentes maneiras de se
analisar e de se posicionar diante da sociedade e da educação.
Aprenderá também que esse posicionamento se relaciona
diretamente com a concepção de escola e de trabalho pedagógico
dos profissionais da educação
Bom trabalho!
20
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | unidade 1 21
CONCEITO E OBJETO DE ESTUDO
O que é Sociologia?
Em linhas gerais, existem muitas definições para explicar o
significado da Sociologia. No sentido etimológico, sociologia
significa estudo da sociedade. O vocábulo é formado pela palavra
de origem latina socius (sociedade) e pela palavra grega logia
(estudo).
Conforme Broom e Seznick (1979, p.2):
A Sociologia é uma das Ciências Sociais. Seu
objetivo mais amplo é descobrir a estrutura básica
da sociedade humana, identificar as principais
forças que mantêm os grupos unidos ou que os
enfraquecem e verificar que condições transformam
a vida social.
21
O filósofo grego Aristóteles enunciou o princípio
básico da Sociologia afirmando que:
“O HOMEM É UM ANIMAL SOCIAL”
(Aristóteles – 384-322 a.C).
22
Quais as principais ideias implícitas nessa definição?
A Sociologia é uma ciência, ou seja, envolve um conjunto de
conhecimentos sistemáticos, organizados sobre a sociedade. A
ciênciaprocuradescobrirosfatostaiscomosão,independentemente
do seu valor emocional. Baseia-se na observação e na pesquisa e
não em sentimentos e crenças subjetivas a respeito dos fenômenos.
- O objeto de estudo da Sociologia é a sociedade humana, sua
estrutura básica, a coesão e a desintegração dos grupos, bem
como a transformação social. Portanto, seu objeto de estudo
não envolve as ações individuais, mas as interações humanas, ou
seja, o homem convivendo com seus semelhantes.
- Existem diferentes modos de enfocar o estudo da sociedade.
Um deles enfatiza a adesão à ordem social existente, e o outro
enfatiza a dinamicidade do social e os fatores que podem
contribuir para a sua transformação.
Charon (1999) afirma que compete à Sociologia responder três
perguntas básicas a respeito do ser humano:
O que somos?
Somos seres inacabados, adotamos as regras, os princípios
morais, os valores da sociedade em que vivemos, construindo a
nossa personalidade em contato com nossos semelhantes. Alguns
autores, como Chales Cooley e George Mead, destacam que a
própria natureza humana é aprendida, por meio das interações
sociais que desenvolvemos. Como essa interação ocorre por
toda a vida, estamos constantemente nos modificando e nos
socializando à medida que convivemos com outras pessoas e
situações.
O que mantém coesa a sociedade?
Qual a natureza da ordem social?
22
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | unidade 1 23
Ao mesmo tempo em que vamos sendo socializados, vamos
interiorizando os costumes, os valores, as normas, os padrões
de comportamento da sociedade. A ordem é mantida graças aos
agentes socializadores, como a família, as escolas, a religião,
os meios de comunicação etc. No entanto, como veremos
posteriormente, alguns sociólogos vieram a demonstrar que a
manutenção da ordem nem sempre visa ao bem da coletividade,
mas, em muitos casos, visa a adequar as pessoas para a aceitação
de regras que convêm aos grupos dominantes da sociedade.
Por que existem desigualdades entre os homens?
Alguns pensadores consideram que os homens são naturalmente
desiguais em talentos, habilidades, enfim, atribuem as diferenças
sociais a fatores de ordem individual. Os filósofos gregos, por
exemplo, em sua maioria, consideravam os homens como
naturalmente desiguais e diziam que a harmonia social seria
obtida à medida que cada indivíduo desempenhasse uma atividade
conforme suas aptidões. É nesse sentido que Platão em sua obra
“República” diz que a sociedade justa aceitaria a divisão entre
trabalhadores, guerreiros e filósofos, segundo suas aptidões.
Participavam da vida política da polis grega (cidade-estado) os
homens livres, sendo excluídos os escravos, as mulheres e crianças.
Outros estudiosos, no entanto, vêm demonstrar que a desigualdade
entre os homens não depende apenas dos atributos individuais,
mas, é socialmente produzida. Autores como Thomas More
(1478-1535) e Tommaso Campanella (1568-1639), em suas obras,
imaginavam uma sociedade onde as desigualdades sociais não se
fizessem presentes. Mais recentemente, o pensamento socialista,
opondo-se ao ideário capitalista, defende que as desigualdades
entre os homens guardam relações com a forma como se dão
as interações entre os homens na sociedade dividida em classes
sociais. Como veremos, essa questão será devidamente discutida
na Seção 3 desta unidade de estudo.
23
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 25
O SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA:
fundamentos históricos e epostemológicos
Antecedentes históricos
A sociologia pode ser entendida como uma das manifestações
do pensamento moderno. Ela não é fruto das ideias de alguns
pensadores, mas é produto de uma nova forma de pensar a
natureza e a sociedade.Asua formação constitui um acontecimento
complexo para o qual concorreram circunstâncias históricas e
intelectuais e intenções práticas.
Que circunstâncias foram essas?
O surgimento da Sociologia guarda relações com as transformações
ocorridas na sociedade europeia a partir do século XVII. A revolução
científica iniciada por Issac Newton (1642-1752), que formulou a
lei da gravitação universal, abriu caminho para o estudo racional do
universo e das leis que o regem e trouxe a crença no cientificismo,
O emprego sistemático
da razão, do livre exame
da realidade – traço que
caracterizava os pensadores
do século XVII, os chamados
racionalistas – representou
grande avanço para
libertar o conhecimento
do controle teológico, da
tradição, da “revelação” e,
consequentemente, para
a formulação de uma nova
atitude intelectual diante
dos fenômenos da natureza
e da cultura (MaRTINS,
1990, p.18).
26
opondo-se às explicações de ordem religiosa ou metafísica.
A nova forma de conhecer a natureza, na qual a observação e
a experimentação são elementos fundamentais, influenciou
estudiosos de outros campos, que passaram a acreditar que, se era
possível estudar cientificamente o universo, também seria possível
estudar cientificamente a sociedade, formulando leis explicativas
para os fenômenos sociais.
Também, no final do século XVII, a burguesia comercial, formada
essencialmente por comerciantes e banqueiros, sustenta ativo o
comércio entre os países europeus e estende seu raio de atuação,
comprando e vendendo mercadorias a todos os pontos do mundo.
O capital mercantil gradativamente se estende também à produção
manufatureira, levando ao desenvolvimento de um novo processo
produtivo em contraposição ao das corporações de ofício.
O desenvolvimento da manufatura fez com que houvesse um
interesse cada vez maior pelo aperfeiçoamento das técnicas de
produção, tendo em vista o aumento dos lucros. Surge então
o processo denominado maquinofatura, quando o trabalho
anteriormente realizado com as mãos ou com as ferramentas passa
a ser desenvolvido por meio de máquinas, o que vem a elevar o
volume da produção de mercadorias.
No século XVIII, o surgimento da máquina a vapor trouxe profundas
alterações no processo produtivo, assegurando as bases para a
expansão da indústria, com a utilização cada vez maior de trabalho
assalariado, desenvolvido sob condições desumanas de exploração.
Veja, agora, como se estruturaram as relações de trabalho a partir
da revolução industrial.
A partir da Revolução Industrial o trabalho assalariado tornou-se
fundamental no sistema fabril, ocorrendo a exploração da mão-
de-obra feminina e infantil.
O quase desaparecimento dos pequenos proprietários rurais, dos
artesãos independentes, a imposição de prolongadas horas de
trabalho, tiveram um efeito traumático sobre milhões de seres
humanos ao modificar radicalmente suas formas tradicionais de vida.
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 27
Segundo Martins (1990, p.11-12):
A revolução industrial significou algo mais que a
introdução da máquina a vapor e dos sucessivos
aperfeiçoamentos de métodos produtivos. Ela
representou o triunfo da indústria capitalista,
capitaneada pelo empresário capitalista que foi
pouco a pouco concentrando as máquinas, as terras
e as ferramentas sob seu controle, convertendo
grandes massas humanas em simples trabalhadores
despossuídos.
Como consequências desse processo, citam-se o aumento da
prostituição, dos suicídios, do alcoolismo, do infanticídio, da
criminalidade, da violência, principalmente nos centros urbanos
industrializados, que passavam por um vertiginoso crescimento
demográfico, sem possuir, no entanto, uma estrutura de moradias,
serviços sanitários, atendimento à saúde, capazes de acolher a
população que se deslocava do campo.
Deste modo, ao mesmo tempo em que aumentou a produtividade
com o desenvolvimento da divisão social do trabalho, a Revolução
Industrial também se manifestou com a miséria de milhares de
trabalhadores desempregados, sendo que crianças, mulheres e
homens eram obrigados a cumprir uma jornada de trabalho de até
12 horas diárias, privados de seus direitos políticos e sociais.
Os efeitos catastróficos desta Revolução para a classe trabalhadora
geraram sentimentos de revolta traduzidos externamente na
forma de destruição de máquinas, sabotagens, explosão de
oficinas, roubos e outros crimes, que deram lugar à criação de
associações livres e sindicatos que permitiram o diálogo de classes
organizadas, cientes de seus interesses com os proprietários dos
instrumentos de trabalho.
Essa situação da classe operária levou à formação dos primeiros
sindicatos, à elaboração do pensamento socialista e ao surgimento
de inúmeros movimentos, levantes e revoltas de trabalhadores,
que marcaram toda a vida europeia no século XIX.
a Revolução Industrial
determinou o aparecimento
do proletariado e o
papel histórico que
ele desempenharia na
sociedade capitalista.
28
O pensamento dos filósofos iluministas franceses no século XVIII
se opunha aos fundamentos da sociedade feudal, aos privilégios
de sua classe dominante e às restrições que esta classe impunha
aos interesses econômicos e políticos da burguesia. Propunham a
valorização da razão, considerada o mais importante instrumento
para se alcançar qualquer tipo de conhecimento, a valorização do
questionamento, da investigação e da experiência como forma de
conhecimento tanto da natureza quanto da sociedade.Apregoavam
a crença nos direitos naturais que todos os indivíduos possuem em
relação à vida, à liberdade, à posse de bens materiais.
Como ideólogos da burguesia, os iluministas consideravam as
instituições existentes injustaseirracionais,criticandoamonarquia
absolutista, que assegurava privilégios a uma pequena camada
da população constituída por quinhentas pessoas, quando nesse
momento a França possuía vinte e três milhões de habitantes.
O que é o Iluminismo?
O Iluminismo é o movimento cultural que se desenvolveu
na Inglaterra, Holanda e França, nos séculos XVII e XVIII.
Nessa época, o desenvolvimento intelectual, que vinha
ocorrendo desde o Renascimento, deu origem a ideias de
liberdade política e econômica, defendidas pela burguesia. Os
filósofos e economistas que difundiam essas ideias julgavam-
se propagadores da luz e do conhecimento, sendo, por isso,
chamados de iluministas. O Iluminismo trouxe consigo grandes
avanços que, juntamente com a Revolução Industrial, abriram
espaço para a profunda mudança política determinada pela
Revolução Francesa. O precursor desse movimento foi o
matemático francês René Descartes (1596-1650), considerado
o pai do racionalismo. Em sua obra “Discurso do método”,
ele recomenda, para se chegar à verdade, que se duvide de
tudo, mesmo das coisas aparentemente verdadeiras. A partir
da dúvida racional pode-se alcançar a compreensão do mundo,
e mesmo de Deus.
Você sabia que...
...outro fator importante
na consolidação da ordem
social capitalista foi o
Iluminismo?
Conheça, então,
algumas ideias dos
filósofos iluministas que
contribuíram para a
consolidação da sociedade
burguesa.
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | unidade 1 29
Com a Revolução Francesa ocorrida em 1789 e que teve por lema
os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade consolida-se a
sociedade capitalista. A burguesia, ao tomar o poder em 1789,
insurgiu-se definitivamente contra os fundamentos da sociedade
feudal, ao construir um Estado que assegurasse sua autonomia
diante da Igreja e que incentivasse e protegesse a empresa
capitalista.
Que transformações ocorreram na sociedade a partir da
Revolução Francesa?
Em menos de um ano, a velha estrutura e o Estado monárquico
estavam liquidados, inclusive abolindo radicalmente a antiga
forma de sociedade e suas tradicionais instituições, seus arraigados
costumes e hábitos, promovendo sensíveis alterações na economia,
na política e na vida cultural.
Nesse contexto se situam a abolição das corporações e dos grêmios
e a promulgação de legislação que limitava os poderes patriarcais
na família, fragilizando os abusos da autoridade do pai e
forçando-o a uma divisão igualitária da propriedade. Confiscaram-
se propriedades da Igreja, suprimiram-se os votos monásticos, e
a educação ficou sob a responsabilidade do Estado. Acabaram-se
antigos privilégios de classe, e surgiu o incentivo e o amparo ao
empresário.
Você sabia que a primeira Declaração dos Direitos do Homem e
do Cidadão foi votada no dia 2 de outubro de 1789?
Essa declaração sintetizou em dezessete artigos e um preâmbulo
os ideais libertários e liberais da primeira fase da Revolução
Francesa. Pela primeira vez são proclamados as liberdades e
os direitos fundamentais do Homem (ou do homem moderno, o
homem segundo a burguesia) de forma ecumênica, visando abarcar
toda a humanidade. Promulgada pela ONU (Orgnização das Nações
Unidas).
Fonte: http://upload.wikimedia.
org/wikipedia/commons/9/95/
Declaration_des_Droits_
de_l%27Homme_et_du_Citoyen_
de_1793.jpg
DeclaraçãodosDireitosdoHomemedoCidadão
30
Cumpre destacar que, embora idealizada e dirigida pela burguesia,
a Revolução Francesa só se tornou vitoriosa porque teve como
aliados trabalhadores urbanos e camponeses pobres, que também
estavam insatisfeitos com a exploração da nobreza feudal.
Ao assumir os rumos da sociedade, a burguesia apregoava
a necessidade de garantir o direito “natural”, “sagrado”,
“inalienável” e “inviolável” da propriedade privada. Caberia ao
indivíduo fazer de sua propriedade o que achasse melhor, desde
que não prejudicasse outros, porque, assim, poderia desenvolver
ao máximo suas potencialidades.
Porém, ao estabelecer a propriedade privada dos meios de
produção, não garantiu à maioria da população das sociedades
modernas o acesso à propriedade dos meios de subsistência.
Assim, o surgimento da sociologia reflete as transformações
e contradições do mundo moderno. A procura de explicações
para as modificações estruturais, ocorridas com o advento da
nova sociedade, gerou a construção do pensamento sociológico,
decorrente da necessidade de o homem situar-se diante das
transformações históricas vigentes.
O positivismo de Augusto Comte
As importantes transformações sociais ocorridas e suas conse-
quências despertaram a necessidade de investigação. O
surgimento da Sociologia tem como pano de fundo a existência
de uma burguesia que se distanciara de seu projeto de igualdade
e fraternidade e que, crescentemente, se comportava no plano
político de forma menos liberal e mais conservadora, utilizando
intensamente os seus aparatos repressivos e ideológicos para
assegurar a sua dominação.
Na terceira década do século XIX acirram-se na sociedade francesa
as crises econômicas e a luta de classes. Assim, este estado de
crise e desorganização levou Augusto Comte (1798-1857) a criar a
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 31
Sociologia, visando entender a sociedade para poder reorganizá-la.
Para ele, as ideias religiosas haviam perdido sua força, não sendo
capazes, portanto, de contribuir para a reorganização da sociedade.
Filósofo francês considerado o pai da Sociologia. Foi amigo do
socialista utópico Saint-Simon que o influenciou na criação de uma
ciência social e de uma política científica. Partindo de uma crítica
científica da teologia e entre 1851 e 1854 publica o “Sistema de
política positiva” ou “Tratado de sociologia” que institui a religião
da humanidade. Tendo se proclamado “Grande Sacerdote da
Humanidade”, em 1847 instituiu um “calendário positivista” no qual
os santos foram substituídos pelos grandes pensadores da história.
Para reorganizar a sociedade seria necessário restabelecer a ordem,
criando um conjunto de crenças comuns a todos os homens. Comte
sustentava ainda o estabelecimento de princípios norteadores do
conhecimento humano por meio de leis imutáveis, conforme as
ciências físico-naturais.
Assim, o funcionamento da sociedade obedeceria a diretrizes
predeterminadas para promover o bem-estar do maior número
possível de indivíduos. Desse modo, a Sociologia foi inicialmente
por ele denominada de “Física Social”, devendo utilizar em suas
investigações o mesmo método sistemático daquelas ciências.
Em suas pesquisas, ele salientou a necessidade de se evitarem as
crises sociais ou, se possível, de prevê-las. Basicamente, a ciência
conduziria à previdência, a qual daria subsídios à ação.
Um aspecto característico das ideias de Comte é a sua preocupação
com a complementaridade necessária entre a ordem e o progresso
para que possa haver equilíbrio na nova sociedade. Assim deveria
ser, criando um conjunto de crenças comuns a todos os homens,
visando a reverter a situação de desorganização social vivenciada
pelas sociedades europeias e a alcançar gradativamente o progresso.
Para Comte, o método científico é o único válido para se chegar ao
conhecimento. Reflexões ou juízos que não podem ser comprovados
pelo método científico, como os postulados da metafísica, não
levam ao conhecimento e não têm valor.
Isidore auguste Marie
François Xavier Comte
(1798-1857)
Você sabia que...
Comte considerava
perniciosas as ideias dos
iluministas, aos quais
chamava de “doutores
de guilhotina”, por
terem contribuído para a
desorganização da sociedade
então existente, gerando a
“desintegração social” e a
desunião entre os homens.
32
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O Positivismo no Brasil: O
lema da bandeira brasileira
é de inspiração positivista:
“Ordem e Progresso”. a
frase original, formulada
por Comte era: “o amor por
princípio, a ordem por base
e o progresso por fim”. a
adoção desse lema se deve
à influência de Benjamim
Constant que era adepto do
positivismo.
Você já ouviu falar na Lei dos três Estados? Esta lei foi formulada
por Augusto Comte.
Segundo a Lei dos Três Estados as sociedades humanas passam por
três estágios de evolução histórica. O primeiro é o teológico, no
qual os fenômenos são apresentados como sendo produzidos pela
ação de seres sobrenaturais que interferem arbitrariamente no
mundo.
O segundo é o metafísico, no qual os fenômenos são engendrados
por forças abstratas.
O último estágio é o positivo, em que o ser humano desiste de
procurar as causas íntimas dos fenômenos para, através da
observação e do método científico, estabelecer as leis gerais que
os regem. O estado positivo, portanto, corresponde à maturidade
do espírito humano que não é mais enganado por explicações
vagas, uma vez que pode alcançar o real, o certo e o preciso.
Assim, opondo-se à concepção do direito natural e do pacto
social e às doutrinas teológicas, Augusto Comte preconizava o
emprego de novos métodos no exame científico dos problemas
sociais, substituindo as interpretações metafísicas e preconizando
o estabelecimento da autoridade e da ordem pública contra os
abusos do individualismo do liberalismo.
O que é o liberalismo?
O liberalismo é uma doutrina ou corrente do pensamento
político que defende a maximização da liberdade individual
mediante o exercício dos direitos e da lei. O liberalismo defende
uma sociedade caracterizada pela livre iniciativa integrada
num contexto definido. Tal contexto geralmente inclui um
sistema de governo democrático, o primado lei, a liberdade
de expressão e a livre concorrência econômica. O liberalismo
rejeita diversos axiomas fundamentais que dominaram vários
sistemas anteriores de governo político, tais como o direito
divino dos reis, a hereditariedade e o sistema de religião
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | unidade 1 33
oficial. Os princípios fundamentais do liberalismo incluem a
transparência, os direitos individuais e civis, especialmente o
direito à vida, à liberdade, à propriedade, um governo baseado
no livre consentimento dos governados e estabelecido com base
em eleições livres; igualdade de todos os cidadãos diante da lei.
Do ponto de vista social, Comte afirma que a sociedade dever ser
dividida em classes, em dirigentes e dirigidos, como forma de se
manter em harmonia na convivência social. Essa visão mostra que
ele considerava a sociedade como um organismo heterogêneo,
cujas partes deveriam trabalhar solidárias para o bem de todos.
Conforme Martins (1990, p. 44), nos trabalhos de Comte:
[...] sociologia e positivismo aparecem intimamente
ligados, uma vez que a criação desta ciência marcaria
o triunfo final do positivismo no pensamento
humano.
Monumento a Augusto Comte, localizado na Praça da Sorbonne
Fonte: www.igrejapositivistabrasil.org.br/pari.html
34
Assim, a ciência da sociedade deve contribuir para que, através
da descoberta de leis gerais, invariáveis que regem a sociedade, o
Estado possa providenciar ações no sentido de reorganizar a ordem
social. Para Comte, a Harmonia é a lei natural invariável que deve
reger tanto a sociedade como a natureza.
A ideia central dessa corrente positiva de pensamento sobre o
conceito e o método em sociologia está, portanto, fundamentada
nas seguintes premissas essenciais:
• a sociedade pode ser epistemologicamente assimilada à
natureza, isto é, as leis que regem a natureza são as mesmas
da sociedade e, portanto, o método que serve para descobrir
essas leis não é diferente do método que se aplica nas ciências
naturais: o mesmo caráter de observação “neutra”, objetiva e
desligada dos fenômenos;
• a sociedade é regida por leis naturais, isto é, leis invariáveis,
independentes da vontade e da ação humana, tal como a lei da
gravidade ou do movimento da terra em torno do sol. Reina na
sociedade uma harmonia semelhante à natureza, uma espécie
de harmonia natural, tendendo sempre os fenômenos para o
equilíbrio;
• a sociedade deve ser organizada respeitando-se suas leis
naturais que levam à constante evolução do espírito humano.
Aos segmentos da sociedade, como os do proletariado e das
mulheres, caberia educar os seus espíritos no sentido de que
compreendessem que os fenômenos sociais são fruto de leis
naturais e, portanto, inevitáveis, cabendo, pois, uma atitude
científica de sábia resignação.
Considerando que o positivismo enfatiza a ordem e a harmonia
social, quais seriam os pressupostos da educação segundo
Augusto Comte?
Veja a seguir como Comte se posiciona em relação a essa questão.
Epistemologia é o estudo
crítico dos princípios,
hipóteses e resultado das
ciências já constituídas,
que visa determinar os
fundamentos lógicos, valor e
o alcance de seus Objetivos.
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | unidade 1 35
Alémdeumareformulaçãogeraldasciênciasedaorganizaçãosocio-
política, Comte projetou uma nova ordem espiritual, inspirada
na hierarquia e na disciplina da Igreja Católica. Sua doutrina se
distanciava, porém, da teologia cristã, que ele rejeitava por se
basear no sobrenatural e não no materialismo científico. Ele via
a humanidade como uma entidade una que denominou Grande
Ser e preconizou a construção de templos positivistas, onde a
humanidade e não a divindade seria venerada.
Tendo a ordem como valor supremo, era fundamental para Comte
que os membros de uma dada sociedade aprendessem desde cedo
a importância da obediência e da hierarquia, as quais seriam
função prioritária da escola.
Segundo ele, a evolução do indivíduo segue um trajeto semelhante
à evolução das sociedades. Assim, na infância passa-se por uma
espécie de estado teológico, quando a criança tende a atribuir a
forças sobrenaturais os acontecimentos de sua vida. A maturidade
do espírito seria encontrada na ciência.
Por isso, a escola de inspiração positivista prioriza os estudos
científicos colocando os estudos literários em segundo plano.
Comte acreditava ainda que todos os seres humanos possuem
instintos egoístas e altruístas. Compete à educação desenvolver
nos educandos o sentimento de solidariedade e o altruísmo, em
detrimento do egoísmo. O objetivo mais nobre da vida consiste em
dedicar-se a outras pessoas.
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 37
PARADIGMAS SOCIOLÓGICOS: contribuições
de Durkheim, Weber e Marx
Embora inicialmente atrelada ao positivismo de Augusto Comte, a
Sociologia não segue apenas uma orientação teórico-metodológica
para a explicação da realidade social, pois, conforme o
posicionamento dos teóricos, as relações sociais, as desigualdades
e a mudança podem ser explicadas de maneira distinta.
O Paradigma do Consenso, estruturado a partir das ideias de
Comte, enfatiza os aspectos integrativos da sociedade e considera
os indivíduos unidos por valores comuns, o que gera um consenso
espontâneo na sociedade.
Conforme já vimos anteriormente, esse paradigma enfatiza a
ordem, a coesão, o equilíbrio da sociedade e acredita que cada
uma das partes (indivíduos, grupos e instituições) deve funcionar
adequadamente para não prejudicar o funcionamento e a harmonia
do organismo social como um todo.
Nessa perspectiva a educação é tida como fator de integração
à sociedade constituída, sem que se questione sua estrutura e
organização. A educação cumpre um papel instrucional devendo
adequar a força de trabalho às necessidades do sistema capitalista.
Por sua vez, as desigualdades sociais são explicadas em termos de
diferenças e méritos individuais.
O estudo da sociedade pode
ser realizado segundo dois
paradigmas ou modelos
de análise, conforme
a orientação teórico/
metodológica adotada pelo
cientista social. São eles: o
Paradigma do Consenso e o
Paradigma do Conflito.
38
Como o Paradigma do Conflito se posiciona em relação a essas
questões?
O Paradigma do Conflito, conforme o nome indica, enfatiza os
processos dissociativos da sociedade, acredita que os grupos sociais
se encontram em permanente conflito e denuncia as relações de
dominação entre os grupos e classes sociais. Para este paradigma,
o consenso existente na sociedade é imposto pelos grupos que
detêm o poder.
Enfatiza, também,o significado político e social da educação e dos
processos educativos que se desenvolvem na escola, os mecanismos
utilizados pelo sistema capitalista para poder se perpetuar e a
possibilidade da educação poder contribuir para a transformação
da sociedade.
PARADIGMAS SOCIOLÓGICOS
CARACTERÍSTICAS CONSENSO CONFLITO
Concepção de sociedade
Uma unidade baseada na
ordem moral
Um sistema de forças em
desequilíbrio e conflito
permanente
Base da coesão social Consenso espontâneo
Consenso ideológico. Força e
poder
Ênfase Integração Conflito e mudança
Principal preocupação
Aspectos normativos e
formais da sociedade
Mudança social e análise do
poder
Função da educação
Integração, manutenção
do consenso
Estabelecimento e
manutenção da dominação
O Paradigma do consenso - a contribuição de DURKHEIM
Conforme você pode constatar, o pensador francês Augusto Comte
é considerado o “fundador” da Sociologia. No entanto, Émile
Durkheim é quem irá sistematizar esta nova ciência. Durkheim e
seus colaboradores emanciparam a sociologia da filosofia social,
colocando-a como disciplina científica rigorosa. Sua preocupação
foi definir o método e as aplicações desta nova ciência.
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 39
Émile Durkheim (1858-1917)
Fonte: www.bolender.com/
Sociological%20Theory/Durkheim
Nasceu em Épinal, no noroeste da França. Viveu numa família
muito religiosa, pois seu pai era um rabino. Porém, não seguiu o
caminho da família, optando por uma vida secular. Desde jovem, foi
um opositor da educação religiosa e defendia o método científico
como forma de desenvolvimento do conhecimento.
Formou-se em Filosofia, no ano de 1882. Cinco anos após sua
formatura, foi trabalhar na Universidade de Bourdeaux na França,
como professor de pedagogia e ciência social. Neste período,
começaram seus estudos sobre Sociologia.
O Positivismo, que pusera os filósofos diante de uma realidade
social a ser especulada, transformou-se, em Durkheim, numa
real postura empírica, centrada naqueles fatos que poderiam ser
observados, mensurados e relacionados através de dados coletados
diretamente pelo cientista.
Procurando garantir à Sociologia um método tão eficiente
quanto o desenvolvido pelas ciências naturais, Durkheim definiu
o tipo de acontecimentos sobre os quais o sociólogo deveria se
debruçar e os aconselhava a encarar os fatos sociais como coisas,
fenômenos exteriores, que deveriam ser medidos, observados e
comparados independentemente do que os indivíduos pensassem
ou declarassem a seu respeito.
Ex: São exemplos de fatos sociais: regras de convivência, regras
jurídicas, morais, religiosas, sistemas financeiros, costumes,
tradições etc. Devido ao caráter impositivo desses fatos, os
indivíduos são levados a se comportar de acordo com as regras
preestabelecidas pelas gerações anteriores. Caso isso não ocorra o
indivíduo pode ser sancionado com punições que vão desde o riso,
a zombaria, a exclusão do grupo, e até mesmo, em casos mais
graves ser acionado judicialmente.
Por outro lado, ao observar os fatos sociais vigentes na sociedade
o indivíduo pode ser deferido com sentimentos de aprovação,
medalhas, honrarias etc.
Foi Durkheim quem
delimitou com clareza o
objeto e o método de estudo
da Sociologia, elaborando
um conjunto coordenado
de conceitos e de técnicas
de pesquisa que, embora
norteados por princípios
das ciências naturais,
guiavam o cientista para
o discernimento de um
objeto de estudo próprio e
dos meios adequados para
interpretá-lo.
40
Fatos sociais são maneiras de sentir, pensar e agir padronizadas
e socialmente sancionadas. Esse conceito nos permite perceber
que os fatos sociais apresentam algumas características. Quais
seriam elas?
Características dos fatos sociais
• Coercitividade - relacionada com a força dos padrões culturais
dos grupos que os indivíduos integram. Esses padrões culturais
são de tal maneira fortes, que obrigam os indivíduos a cumpri-los.
• Exterioridade - esta característica está ligada ao fato de que os
padrões da cultura são exteriores aos indivíduos, ou seja, vêm
do exterior e são independentes das suas consciências.
• Generalidade – os fatos sociais existem não para um indivíduo
específico, mas para a coletividade. Podemos perceber a
generalidade pela propagação das tendências dos grupos pela
sociedade, por exemplo.
COMO DURKHEIM EXPLICA ESSE FATO?
Durkheim atribui esse fato ao que denomina consciência coletiva.
Sua teoria sociológica buscou demonstrar que os fatos sociais
têm existência própria e independente daquilo que pensa e faz
cada indivíduo em particular. Assim, embora todos possuam suas
“consciências individuais”, seus modos próprios de se comportar e
de interpretar a vida, no interior de qualquer grupo ou sociedade,
existem formas padronizadas de conduta e de pensamento.
Assim, a consciência coletiva não se baseia na consciência dos
indivíduos singulares ou de grupos específicos, mas está espalhada
por toda a sociedade. Ela revela o tipo da sociedade, que não seria
apenas o produto das consciências individuais, mas algo diferente,
que se imporia aos indivíduos e perduraria através das gerações.
a consciência coletiva
representa a forma moral
vigente na sociedade e
está espalhada por toda a
sociedade impondo-se aos
indivíduos. Ela aparece
como regras fortes e
estabelecidas que delimitam
o valor atribuído aos atos
individuais. Ela define
o que, numa sociedade,
é considerado moral ou
imoral, adequado ou
inadequado.
Provavelmente você já deve
ter passado por situações
em que não concorda com
certas convenções impostas
pela sociedade, mas, mesmo
assim, se sente obrigado a
segui-las. Lembre algumas
dessas situações vivenciadas
por você e sobre os motivos
que o levaram a agir da
maneira imposta pela
sociedade.
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | unidade 1 41
Uma vez identificados e caracterizados os fatos sociais, a
preocupação de Durkheim dirigiu-se para a conduta necessária
ao cientista, a fim de que seu estudo tivesse realmente bases
científicas.
Você já percebeu que os positivistas valorizam a objetividade no
estudo dos fenômenos sociais. Assim sendo, que atitude deve
ser adotada pelo sociólogo ao analisar a realidade social para
que seus estudos tenham caráter científico?
Para Durkheim, como para todos os positivistas, não haveria
explicação científica se o pesquisador não mantivesse certa
distância e neutralidade em relação aos fatos, resguardando a
objetividade de sua análise. É preciso que o sociólogo deixe de lado
seus valores e sentimentos pessoais em relação ao acontecimento
a ser estudado, pois eles nada têm de científico e podem distorcer
a realidade dos fatos.
Durkheim e a ordem social
Durkheim compartilhava com Comte a preocupação com a
ordem social. No período de suas pesquisas, as constantes crises
econômicas, o desemprego e a miséria entre os trabalhadores
estavam contribuindo para que o socialismo ganhasse força.
Porém ele não concordava com as teorias socialistas que davam
enfoque especial aos fatos econômicos considerando-os a raiz
da crise social. Sustentava a ideia de que os problemas não se
resumiam à natureza econômica, mas sim à fragilidade da moral
vigente.
Uma solução adotada por ele para restabelecer a ordem seria a
criação de novas ideias morais a fim de resgatar a consciência
do dever, possibilitar relações estáveis entre os homens e, por
conseguinte, neutralizar a crise econômica.
42
A divisão social do trabalho
Demonstrando otimismo em relação ao industrialismo, Durkheim
afirmava que a divisão do trabalho, ao invés de gerar conflitos, trazia
maior solidariedade entre os homens. As tarefas especializadas,
ao tornarem os indivíduos interdependentes, contribuíam para
aumentar a produtividade.
Para ele, são resultados da divisão do trabalho social:
1)	 aumento da força produtiva;
2) 	 aumento da habilidade do trabalho;
3) rápido desenvolvimento intelectual e material das sociedades;
4) 	 integração e estruturação da sociedade mantendo a coesão
social e tornando seus membros interdependentes;
5) 	 equilíbrio, harmonia e ordem devido à necessidade de união
pela semelhança e pela diversidade;
6) 	 intensificação da solidariedade social.
Para Durkheim, a solidariedade social é a grande responsável pela
coesão surgida entre os indivíduos que, unidos, lutam contra as
ameaças externas.
A solidariedade, ou seja, o conjunto de laços que efetivamente
prendem os elementos ao grupo, pode ser de dois tipos:
solidariedade mecânica e solidariedade orgânica.
A solidariedade mecânica é típica das sociedades simples,
constituídasporumsistemadesegmentoshomogêneosesemelhantes
entre si. Os membros da sociedade em que domina a solidariedade
mecânica estão unidos pela tradição, por laços de parentesco.
A solidariedade orgânica, resultante da divisão social do
trabalho, é fruto das diferenças profissionais. Essas diferenças
unem os indivíduos pela necessidade de troca de serviços e pela
sua interdependência.
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 43
Para Durkheim, a Sociologia
tem por finalidade não só
explicar a sociedade como
encontrar remédios para
a vida social. a sociedade,
como todo organismo,
apresentaria estados normais
e patológicas, isto é,
saudáveis e doentios.
Por intermédio da instrução pública, consegue-se que o indivíduo,
construindo sua consciência comum e social, supere a si mesmo,
libertando-se de visões puramente egoístas e de interesses
materiais imediatistas.
Segundo esse autor, um fato social pode ser considerado como
normal quando se encontra generalizado pela sociedade ou quando
desempenha alguma função importante para sua adaptação ou sua
evolução.
Assim, Durkheim afirma que o crime, por exemplo, é normal não
só por ser encontrado em qualquer sociedade, em qualquer época,
como também por representar a importância dos valores sociais
que repudiam determinadas condutas como ilegais e as condenam
a penalidades.
A generalidade de um fato social, isto é, sua unanimidade, é
garantia de normalidade na medida em que representa o consenso
social, a vontade coletiva ou o acordo de um grupo a respeito de
uma determinada questão.
Partindo do princípio de que o objetivo máximo da vida social
é promover a harmonia da sociedade consigo mesma e com as
demais sociedades, e que essa harmonia é conseguida através
do consenso social, a “saúde” do organismo social se confunde
com a generalidade dos acontecimentos e com a função destes
na preservação dessa harmonia, desse acordo coletivo que se
expressa sob a forma de sanções sociais.
Quando um fato põe em risco a harmonia, o acordo, o consenso e,
portanto, a adaptação e evolução da sociedade, estamos diante de um
acontecimento de caráter ruim e de uma sociedade doente. Portanto,
normal é aquele fato que não extrapola os limites dos acontecimentos
mais gerais de uma determinada sociedade e que reflete os valores e
as condutas aceitas pela maior parte da população.
Do que foi exposto conclui-se que Durkheim se propôs à tarefa de
realizar uma teoria da investigação sociológica. E foi o primeiro
sociólogo que conseguiu atingir seu objetivo, em condições difíceis
e com um êxito que só pode ser contestado quando se toma uma
44
posição diferente em face das condições, limites e ideais de
explicação científica na Sociologia.
Durkheim afirmava que a sociedade industrial estava submersa
em um estado de anomia. Você sabe o que significa essa
afirmação?
A anomia, conforme Durkheim implica na ausência de regras
claramente estabelecidas que pudessem reger e controlar a conduta
dos indivíduos. A partir daí, em uma de suas teses, sustentava que
o estado de anomia incidia diretamente no crescente número de
suicídios.
Para Durkheim, a sociologia deveria ter ainda por objetivo comparar
as diversas sociedades. Constituiu assim o campo da morfologia
social, ou seja, a classificação das espécies sociais.
Durkheim considerava que todas as sociedades haviam evoluído
da forma social mais simples, igualitária, reduzida a um único
segmento onde os indivíduos se assemelhavam aos átomos. Desse
ponto de partida, foi possível uma série de combinações, das quais
se originaram outras espécies sociais identificáveis no passado e
no presente, tais como os clãs e as tribos.
Embora preocupado com as leis gerais capazes de explicar a
evolução das sociedades humanas, Durkheim ateve-se também às
particularidades da sociedade em que vivia e aos mecanismos de
coesão dos pequenos grupos, à formação de sentimentos comuns
resultantes da convivência social.
Distinguiu diferentes instâncias da vida social e seu papel na
organização social, como a educação, a família e a religião.
Pode-se dizer que, com Durkheim, já se delineava uma apreensão
da Sociologia em que se relacionava harmonicamente o geral e
o particular numa busca que ainda não expressava a noção de
totalidade.
Uma vez que a teoria sociológica de Durkheim enfatiza a ordem,
a integração do indivíduo à sociedade, qual seria a função da
educação segundo esse autor?
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 45
Durkheim e a educação
A educação é considerada por Durkheim como um fato social, uma
vez que se impõe coercitivamente, independentemente da vontade
individual. A ação educativa permitirá uma maior integração do
indivíduo à sociedade e também lhe permitirá desenvolver uma
forte identificação com o sistema social do qual faz parte.
Assim sendo, o trabalho dos adultos é fundamental para que a
criança incorpore os princípios da sociedade da qual faz parte. A
educação consiste na socialização metódica das novas gerações e
visa integrar o ser individual, constituído pelos estados mentais
que se realacionam apenas conosco mesmos, com o sistema de
ideias que exprime a maneira de ser dos grupos dos quais fazemos
parte.
Veja, agora, como Durkheim conceitua a educação:
A educação é a ação exercida, pelas gerações adultas, sobre
as gerações que não se encontram ainda preparadas para a
vida social; tem por objeto suscitar e desenvolver, na criança,
certo número de estados físicos, intelectuais e morais,
reclamados pela sociedade política, no seu conjunto, e pelo
meio especial a que a criança particularmente se destine
(DURKHEIM, 1978, p. 41).
Considerando as sociedades em diferentes lugares e épocas
históricas, pode-se observar que cada uma delas possui um sistema
de educação que se impõe aos indivíduos. Assim, se compararmos a
educação ateniense (grega) com a educação romana da antiguidade,
verifica-se que enquanto em Atenas procurava-se formar espíritos
delicados, prudentes, capazes de admirar o belo e os prazeres
da especulação, em Roma, buscava-se formar homens de ação,
apaixonados pela glória militar.
Durkheim considera a
sociedade determinante na
formação da personalidade
individual e na sua
integração ao meio social.
assim, é uma ilusão
acreditar que podemos
educar nossos filhos como
queremos, pois existem
costumes aos quais somos
obrigados a nos conformar,
pois, caso contrário podemos
gerarconsequencias sérias
na vida de nossos filhos.
Você concorda com essa
afirmação?
46
No entanto, é possível observar que numa mesma sociedade e época
histórica a educação apresenta também um caráter diferenciado,
donde conclui-se que a educação tem um caráter uno e um caráter
múltiplo.
Durkheim procurou demonstrar que não podemos escapar de uma
formação voltada para o bem-estar da sociedade em que vivemos,
e que, se nos desviarmos deste caminho, poderemos causar muito
desconforto à criança e até a sua marginalização e exclusão do meio
social, pelas dificuldades que ela enfrentaria se não conhecesse e
se não adaptasse aos valores e necessidades da sociedade em que
estará inserida. Assim, a educação deve funcionar como elemento
adaptador e normalizador da integração do indivíduo à sociedade.
Analisando a dinâmica da sociedade capitalista, Durkheim atribui
um papel fundamental ao Estado que, como “cérebro social” e
órgão acima dos interesses individuais, deve responsabilizar-
se por orientar e supervisionar a educação, levando-a a cumprir
suas finalidades sociais. Assim, compete à escola, por meio de
suas normas e conteúdos, inculcar nos indivíduos os valores que
contribuam para a harmonia da sociedade.
O Paradigma do Conflito: a contribuição de Karl Marx
Conforme você pode constatar, os positivistas tinham uma visão
otimista em relação à sociedade capitalista. No entanto, Karl Marx
não compartilhava com suas ideias, vendo a sociedade capitalista
sob uma ótica pessimista. Marx centrava suas análises nos processos
de exploração e dominação da classe burguesa sobre a classe
proletária. Conheça agora algumas ideias essenciais do pensamento
marxista.
Marx nasceu numa família judia de classe média em Trier, sul
da Alemanha. Em 1835, com dezessete anos Marx ingressou na
Universidade de Bonn para estudar Direito, mas, já no ano seguinte,
transferiu-se para a Universidade de Berlim, onde a influência
O caráter uno da educação
diz respeito às maneiras
comuns de agir e pensar,
pelo fato dos indivíduos
estarem inseridos num
mesmo contexto social. Ex:
como brasileiros falamos a
mesma língua, temos uma
história comum, estamos
sujeitos às mesmas leis.
O caráter múltiplo da
educação se refere ao
aspecto diferenciador da
educação, mesmo que os
indivíduos estejam inseridos
no mesmo contexto. Ex:
na sociedade de castas,
como a indiana, a educação
variava de uma casta para a
outra, o mesmo ocorrendo
na sociedade estamental da
Idade Média. atualmente,
nas sociedades capitalistas,
a educação, embora sendo
um direito de todos e um
dever do Estado, também
se apresenta diferenciada,
guardando relações com o
sistema de estratificação
social vigente.
Karl Marx (1818-1883)
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 47
de Hegel era bastante sentida. Doutorou-se em Jena em 1841,
com uma tese sobre as “Diferenças da filosofia da natureza em
Demócrito e Epicuro”. Nesse mesmo ano, concebeu a ideia de um
sistema que combinasse o materialismo de Ludwig Feuerbach com
a dialética idealista de Hegel. Impedido de seguir uma carreira
acadêmica, tornou-se, em 1842, redator-chefe da Gazeta Renana.
Com o fechamento do jornal pelos censores do governo prussiano,
em 1843, Marx emigra para a França. Casa-se com Jenny von
Westphalen em 1843. Desse casamento, Marx teve cinco filhos:
Franziska, Edgar, Eleanor, Laura e Guido. Franziska, Edgar e Guido
morreram na infância, provavelmente pelas péssimas condições
financeiras a que a família estava submetida.
ParaMarxeseucolaboradorFriederichEngels,afunçãodaSociologia
não poderia se limitar apenas a solucionar os problemas sociais
para restabelecer a ordem e o bom funcionamento da sociedade,
como imaginavam os positivistas, mas deveria contribuir para
realizar mudanças radicais na sociedade, unindo teoria e ação,
ciência e os interesses da classe proletária.
A formação teórica do socialismo marxista constituiu uma
complexa operação intelectual e crítica de assimilação das três
principais correntes do pensamento europeu do século passado – o
socialismo, a dialética e a economia política.
Anteriormente ao socialismo marxista, existiu o socialismo
utópico, cujos principais expoentes foram Owen e Saint-Simon.
Porém, na visão de Marx e Engels, embora os socialistas utópicos
tivessem elaborado uma crítica à sociedade burguesa, eles não
apresentaram meios para mudar efetivamente a realidade social.
Segundo Marx e Engels, os socialistas utópicos não apresentam
nenhuma iniciativa histórica e nenhum movimento político que
lhes sejam próprios. Idealistas, não reconhecem quais seriam as
condições materiais da emancipação. Ainda consideram que eles
eram moralistas, pois pretendiam reformar a sociedade pela força
do exemplo, acreditando que as experiências em pequenas escalas
poderão se frutificar e se expandir, por meios pacíficos.
O Marxismo interpreta
a vida social conforme a
dinâmica da luta de classes
e prevê a transformação das
sociedades de acordo com
as leis do desenvolvimento
histórico de seu sistema
produtivo.
48
Segundo Gomes (1989, p.36), são pontos principais do pensamento
marxista:
a) Os fatores econômicos são os deteminantes fundamentais da
estrutura e da mudança. A organização social envolve três
aspectos: as forças materiais de produção como base, ou
seja, os métodos através dos quais o homem assegura sua
subsistência, relacionando-se com a natureza: as relações de
produção, que envolvem relações e direito de propriedade
bem como as relações entre os homens: as superestruturas
legais e políticas e as ideias e formas de consciência social.
b) A história é a história da luta de classes: as classes sociais são
os grupos mais importantes da sociedade e se encontram em
oposição, com base em sua posição econômica e em fatores
divergentes.
c) A cultura das sociedades de classe é caracterizada pela
ideologia, ou seja, as ideias estão intimamente condicionadas
pelo meio de produção. A classe que controla os meios de
produção controla também os meios de produção e difusão
intelectual, inclusive a educação.
O núcleo do pensamento de Marx é sua interpretação do homem
e começa com a necessidade de sobrevivência humana. A história
se inicia com o próprio homem que, na busca da satisfação de
necessidades, trabalha sobre a natureza. À medida que realiza
esse trabalho, o homem se descobre como ser produtivo e passa a
ter consciência de si e do mundo. Percebe-se então que “a história
é o processo de criação do homem pelo trabalho humano.
A teoria econômica marxista procura explicar como o modo de
produção capitalista propicia a acumulação contínua de capital,
e sua resposta está na confecção das mercadorias. Elas resultam
da combinação de meios de produção (ferramentas, máquinas e
matéria-prima) e do trabalho humano.
No marxismo, a quantidade de trabalho socialmente necessária
para produzir uma mercadoria é o que determina o seu valor. A
ampliação do capital ocorre porque o trabalho produz valores
Segundo Marx a
infraestrutura, modo
como denominava a base
econômica da sociedade,
determina a superestrutura
que é dividida em ideológica
(ideias políticas, religiosas,
morais, filosóficas) e
política (Estado, polícia,
exército, leis, tribunais).
Portanto, a visão que
temos do mundo e a nossa
psicologia são reflexo da
base econômica de nossa
sociedade. as ideias que
surgiram ao longo da
história se explicam pelas
sociedades nas quais seus
mentores estavam inseridos.
Elas são oriundas das
necessidades das classes
sociais daquele tempo.
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | unidade 1 49
superiores ao dos salários (que é a força de trabalho). Esse
diferencial, que irá se tornar um conceito fundamental da teoria
de Marx, é considerado a fonte dos lucros e da acumulação
capitalista.
Para Marx cada capitalista divide seu capital em duas partes: uma
para adquirir insumos (máquinas, matérias-primas) e outra para
comprar força de trabalho.Aprimeira, chamada capital constante,
somente transfere o seu valor ao produto final; a segunda, chamada
capital variável, ao utilizar o trabalho dos assalariados, adiciona
um valor novo ao produto final. É este valor adicionado, que é
maior que o capital variável (daí o nome “variável”: ele se expande
no processo de produção), que é repartido entre capitalista e
trabalhador. O capitalista entrega ao trabalhador uma parte do
valor que este último produziu, sob forma de salário, e se apropria
do restante sob a forma de mais-valia.
Na verdade, o trabalhador produz mais do que foi calculado, ou
seja, a força de trabalho cria um valor superior ao estipulado
inicialmente. Esse trabalho excedente não é pago ao trabalhador
e serve para aumentar cada vez mais o capital. Insere-se, neste
ponto, a questão da alienação - o produtor não se reconhece no
que produz; o produto surge como um poder separado do produtor.
O produto surge então como algo separado, como uma realidade
soberana – o fetichismo da mercadoria. Mas o que faz com que
o homem não perceba? A resposta, de acordo com Marx, está na
ideologia dominante, que procura sempre retardar e disfarçar as
contradições politicamente. Portanto, a luta de classes só pode ter
como objetivo a supressão dessa extorsão e a instituição de uma
sociedade na qual os produtores seriam senhores de sua produção.
Supondo que um operário leve 2 horas para fabricar um par de
sapatos. Nesse período produz o suficiente para pagar o seu
trabalho. Porém ele permanece mais tempo na fábrica, produzindo
mais de um par de sapatos e recebendo o equivalente à confecção
de apenas um. Numa jornada de 8 horas, por exemplo, são
produzidos quatro pares. O custo de cada par continua o mesmo,
assim como o salário do proletário.
50
Com isso ele trabalha 6 horas de graça, reduzindo o custo e
aumentando o lucro do patrão. Esse valor a mais é apropriado pelo
capitalista e constitui o que Marx chama de Mais–Valia Absoluta.
Além do operário permanecer mais tempo na fábrica, o patrão
pode aumentar a produtividade com a aplicação de tecnologia.
Com isso o operário aumenta a produtividade, porém seu salário
não aumenta. Surge a Mais-Valia Relativa.
Conheça,agora,umpoucomaisdomaterialismohistóricoedialético.
O Materialismo histórico
A história do homem é a história da luta de classes. Para Marx a
evolução histórica se dá pelo antagonismo irreconciliável entre
as classes sociais de cada sociedade. Foi assim na escravista
(senhores de escravos - escravos), na feudalista (senhores feudais
- servos) e assim é na capitalista (burguesia - proletariado).
Entre as classes de cada sociedade há uma luta constante por
interesses opostos, eclodindo em guerras civis declaradas ou não.
Na sociedade capitalista, a que Marx e Engels analisaram mais
intrinsecamente, a divisão social decorreu da apropriação dos
meios de produção por um grupo de pessoas (burgueses) e outro
grupo expropriado possuindo apenas seu corpo e capacidade de
trabalho (proletários). Estes são, portanto, obrigados a trabalhar
para o burguês. Os trabalhadores são economicamente explorados,
e os patrões obtêm o lucro através da mais-valia.
O Materialismo dialético
Tem por pressuposto fundamental o fato de que o mundo não é uma
realidade estática, mas é dinâmica, pois, no contexto dialético,
também o espírito não é consequência passiva da ação da matéria,
podendo reagir sobre aquilo que o determina. Isso significa que a
consciência, mesmo sendo determinada pela matéria e estando
historicamente situada, não é pura passividade: o conhecimento
do determinismo liberta o homem por meio da ação deste sobre o
Os dois elementos
principais do marxismo
são o materialismo
dialético, para o qual
a natureza, a vida e a
consciência se constituem
de matéria em movimento
e evolução permanente,
e o materialismo
histórico, para o qual o
modo de produção é a
base determinante dos
fenômenos históricos
e sociais, inclusive as
instituições jurídicas e
políticas, a moralidade, a
religião e as artes.
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | unidade 1 51
mundo, possibilitando inclusive a ação revolucionária. Assim, Marx
se denominava um materialista, não idealista. O Materialismo
Histórico e o Materialismo Dialético podem, grosso modo, serem
tomados por termos intercambiáveis, sendo o primeiro mais
adequado ao se tratar de “coisas humanas” e o segundo adequado
para aspectos não-humanos universais.
A alienação
Na análise do pensamento marxista é importante destacar também
o conceito de alienação. Para Marx, a divisão social do trabalho
não gerou maior solidariedade entre os homens, mas contribuiu
para a sua alienação. Ou seja, o capitalismo tornou o trabalhador
alienado, isto é, separou-o de seus meios de produção (suas
terras, ferramentas, máquinas etc), que passaram a pertencer à
classe dominante, a burguesia.
Desse modo, para poder sobreviver, o trabalhador é obrigado a
alugar sua força de trabalho à classe burguesa, recebendo um
salário por esse aluguel. Como há mais pessoas que empregos,
ocasionando excesso de procura, o proletário tem de aceitar, pela
sua força de trabalho, um valor estabelecido pelo seu patrão. Caso
ache que é pouco, ou que está sendo explorado, o patrão estala
os dedos e milhares de outros aparecem em busca do emprego.
Portanto, é aceitar ou morrer de fome. Com a alienação nega-se
ao trabalhador o poder de discutir as políticas trabalhistas, além
de serem excluídos das decisões gerenciais.
Considerando as relações de exploração da sociedade capitalista
e o antagonismo entre as classes sociais, veja a seguir como
Marx analisa a educação.
Marx e a educação
Marx acreditava que na sociedade capitalista a educação faz parte
da superestrutura e é um instrumento de dominação e controle,
usado pelas classes dominantes. Por isso, as ideias passadas pela
52
escola à classe dos trabalhadores (que Marx denominava de classe
proletária) criam uma falsa consciência, que a faz aceitar as ideias
dos grupos dominantes e a impede de perceber os interesses de
sua classe. Assim, para ele, não pode existir educação livre ou
universal enquanto existirem classes sociais.
Assim, Marx não via com bons olhos uma educação oferecida pelo
Estado-Nação burguês, capitalista, basicamente por desacreditar
no currículo que ela traria e na forma como seria ensinado. Ele
defende a educação intelectual, física e técnica, denominada de
“onilateral” (múltipla), a que difere da visão de educação integral,
porque esta tem uma conotação moral e afetiva, imprópria para o
ambiente escolar.
O que disse a este
homem ?
QueTabalhasse
mais depressa.
Quanto lhe
paga?
20 Reais por dia.
A onde vai buscar o
dinheiro para lhe pagar?
Vendo a mercadoria E quem faz a
mercadoria ?
Ele!
E quanta mercadoria
Faz ele por dia ?
Num valor de 240
Reais.
Então não é você que lhe paga,
mas é ele que lhe paga 220
Reais por dia para que lhe diga
que trabalhe mais depressa.
Hum !
Mas sou eu o
proprietário
das máquinas.
e como consequiu
essas máquinas ?
Vendi a
mercadoria
e comprei as
máquinas
E quem fez a
mercadoria?
CUIDADO!!
Eles Podem Ouvir!!
sacou?!
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | unidade 1 53
A contribuição de Max Weber
Embora tenha recebido influência do pensamento marxista, Weber
não concorda que é o princípio da economia que domina todas as
esferas da vida social, sendo inclusive o fator determinante da
estratificação social. Para ele somente a análise detalhada da rea-
lidade poderia definir os fatores que o estão gerando.
Max Weber nasceu na cidade de Erfurt, na Alemanha, numa família
de burgueses liberais. Desenvolveu estudos de direito, filosofia,
história e sociologia. Filho de uma família de classe média alta,
com o pai advogado, Weber encontrou em sua casa uma atmosfera
intelectualmente estimulante. Trabalhou na Universidade de
Berlim como livre-docente, ao mesmo tempo em que era assessor
do governo. Cinco anos depois, escreveu sua tese de doutoramento
sobre a história das companhias de comércio durante a Idade Média.
A seguir escreveu a tese “A História das Instituições Agrárias”.
Casou-se, em 1893, com Marianne Schnitger e, no ano seguinte,
tornou-se professor de economia na Universidade de Freiburg,
transferindo-se, em 1896, para a de Heidelberg.
Weber não via nenhum atrativo no socialismo, o qual, segundo
ele, poderia acentuar os aspectos negativos da racionalização.
Influenciado por Nietzsche, a sua visão sociológica dos tempos
modernos era melancólica e pessimista; uma postura de resignação
diante da realidade social.
Dentro das coordenadas metodológicas que se opunham à
assimilação das ciências sociais aos quadros teóricos das ciências
naturais, Max Weber concebe o objeto da sociologia como,
fundamentalmente, “a captação da relação de sentido” da ação
humana. Em outras palavras, conhecer um fenômeno social seria
extrair o conteúdo simbólico da ação ou ações que o configuram.
O que é ação social segundo Weber?
Por ação social, Weber entende “aquela cujo sentido pensado
pelo sujeito ou sujeitos é referido ao comportamento dos outros;
orientando-se por ele o seu comportamento”. Tal colocação do
Max Weber (1864-1920)
54
O método compreensivo,
defendido por Weber,
consiste em entender o
sentido que as ações de
um indivíduo contêm e não
apenas o aspecto exterior
dessas mesmas ações. Se,
por exemplo, uma pessoa dá
a outra um pedaço de papel,
esse fato, em si mesmo, é
irrelevante para o cientista
social. Somente quando
se sabe que a primeira
pessoa deu o papel para a
outra como forma de saldar
uma dívida (o pedaço de
papel é um cheque) é que
se está diante de um fato
propriamente humano, ou
seja, de uma ação carregada
de sentido. O fato em
questão não se esgota em
si mesmo e aponta para
todo um complexo de
significações sociais, na
medida em que as duas
pessoas envolvidas atribuem
ao pedaço de papel a função
do servir como meio de troca
ou pagamento; além disso,
essa função é reconhecida
por uma comunidade maior
de pessoas.
problema de como abordar o fato significa que não é possível
propriamente explicá-lo como resultado de um relacionamento
de causas e efeitos (procedimento das ciências naturais), mas
compreendê-lo como fato carregado de sentido, isto é, como
algo que aponta para outros fatos e somente em função dos quais
poderia ser conhecido em toda a sua amplitude.
O principal objetivo de Weber é compreender o sentido que cada
pessoa dá à sua conduta e perceber assim a sua estrutura inteligível
e não a análise das instituições sociais como dizia Durkheim.
Assim, propõe que se deve compreender, interpretar e explicar
respectivamente, o significado, a organização e o sentido, assim
como evidenciar irregularidade das condutas.
Com este pensamento, Weber não possuía a ideia de negar
a existência ou a importância dos fenômenos sociais, dando
relevância à necessidade de entender as intenções e motivações
dos indivíduos que vivenciam essas situações sociais. Ou seja, a
sua ideia é que no domínio dos fenômenos naturais só se podem
aprender as regularidades observadas por meio de proposições de
forma e natureza matemática. É preciso explicar os fenômenos
por meio de proposições confirmadas pela experiência, para poder
ter o sentimento e compreendê-las.
Você sabe dizer que tipos de ação social as pessoas desenvolvem?
Segundo Weber, a captação desses sentidos contidos nas ações
humanas não poderia ser realizada por meio, exclusivamente,
dos procedimentos metodológicos das ciências naturais, embora
a rigorosa observação dos fatos (como nas ciências naturais) seja
essencial para o cientista social.
A teoria weberiana distingue quatro tipos de ação social:
• A ação racional com relação a um objetivo é determinada por
expectativas no comportamento, tanto de objetos do mundo
exterior como de outros homens, e utiliza essas expectativas
como condições ou meios para alcance de fins próprios
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | unidade 1 55
racionalmente avaliados e perseguidos. É uma ação concreta
que tem um fim específico. Por exemplo: o engenheiro que
constrói uma ponte.
• 	 A ação racional com relação a um valor é aquela definida
pela crença consciente no valor - interpretável como ético,
estético, religioso ou qualquer outra forma - absoluto de uma
determinada conduta. O ator age racionalmente aceitando
todos os riscos, não para obter um resultado exterior, mas para
permanecer fiel à sua honra, qual seja, à sua crença consciente
no valor. Por exemplo, um capitão que afunda com o seu navio.
• 	 A ação afetiva é aquela ditada pelo estado de consciência ou
humor do sujeito. É definida por uma reação emocional do
ator em determinadas circunstâncias e não em relação a um
objetivo ou a um sistema de valor, por exemplo, a mãe quando
bate em seu filho por ele se comportar mal.
• 	 A ação tradicional é aquela ditada pelos hábitos, costumes,
crenças transformadas numa segunda natureza. Para agir
conforme a tradição o ator não precisa conceber um objeto,
ou um valor nem ser impelido por uma emoção, pois obedece
a reflexos adquiridos pela prática. Ex: durante muito tempo
acreditou-se que a mulher era menos inteligente do que o
homem, sem questionar-se cientificamente a veracidade desse
fato.
As soluções encontradas por Weber para os intrincados problemas
metodológicos que ocuparam a atenção dos cientistas sociais do
começo do século XX permitiram-lhe lançar novas luzes sobre vários
problemas sociais e históricos e fazer contribuições extremamente
importantes para as ciências sociais.
Particularmente relevantes foram seus estudos sobre a sociologia
da religião, mais exatamente suas interpretações sobre as relações
entre as ideias e atitudes religiosas, por um lado, e as atividades e
organização econômica correspondentes, por outro.
Com os trabalhos de Weber foi possível elaborar uma verdadeira
teoria geral capaz de confrontar-se com a de Marx.
56
A primeira ideia que ocorreu a Weber na elaboração dessa teoria
foi a de que, para conhecer corretamente a causa ou causas
do surgimento do capitalismo, era necessário fazer um estudo
comparativo entre as várias sociedades do mundo ocidental e as
outras civilizações, principalmente as do Oriente, onde nada de
semelhante ao capitalismo ocidental tinha aparecido.
Depois de exaustivas análises nesse sentido, Weber foi conduzido
à tese de que a explicação para o fato deveria ser encontrada na
íntima vinculação do capitalismo com o protestantismo.
Assim, de modo simplificado, pode-se dizer que as relações
entre a cultura protestante e o “espírito do capitalismo” estão
relacionadas principalmente com a doutrina da predestinação e
da comprovação — entendidas aqui, respectivamente, como a
ideia de que Deus decretou o destino dos homens desde a criação
e a ideia de que certos sinais da vida cotidiana podem indicar
quais são os eleitos por Deus.
Conquanto, para os católicos, há certos elementos atenuantes que
permitem ao crente cometer certos deslizes, para os protestantes,
sobretudo os calvinistas, a exigência de uma comprovação de que
se é eleito impõe vastas restrições à liberdade do fiel, de modo
a levar a uma total racionalização da vida. Essa racionalização,
entendida como uma “ascese intramundana”, isto é, uma visão de
mundo que propõe a iluminação através da santificação de cada ato
particular do cotidiano —, abre um campo para o enaltecimento do
trabalho, visto como a marca da santificação. É essa característica
que permite a articulação entre a ética protestante, por um lado,
e o espírito do capitalismo, por outro.
Weber, assim como Durkheim, considera que existe uma separação
entre ciência e ideologia. Para ele também há uma separação entre
política e ciência, pois a esfera da política é irracional, influenciada
pela paixão, e a esfera da ciência é racional, imparcial e neutra.
O homem político apaixona-se pela luta, tem um princípio
de responsabilidade, de pensar as consequências dos atos. O
político, entende, por direção do Estado, a correlação de força
e a capacidade de impor sua vontade a demais pessoas e grupos
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 57
políticos. É luta pelo poder dentro do Estado. Já o cientista deve
ser neutro, amante da verdade e do conhecimento científico; não
deve emitir opiniões e sim pensar segundo os padrões científicos,
deve fazer ciência por vocação. Se o cientista apaixonar-se pelo
objeto de sua investigação não será nem imparcial nem objetivo.
Para Weber, a administração burocrática apresenta algumas
características básicas (racionais) que devem proporcionar sua
eficiência. Dentre elas podem-se citar:
- Na organização burocrática, a fonte de poder são as leis -
isso tende a evitar o arbítrio pessoal, na medida em que os
funcionáriois devem submissão às leis (normas, portarias) e
não às pessoas. Isso dá maior estabilidade ao funcionário, pois
a autoridade é inerente ao cargo e não à pessoa que o ocupa.
- A organização burocrática é hierarquizada - a atribuição de
responsabilidades é acompanhada de uma divisão hieráquica
do poder que visa a um maior controle das atividades realizadas
pelos membros da organização. Os ocupantes de posições
superiores controlam os que estão em posições inferiores
ou apenas aqueles que estão em posições imediatamente
inferiores.
- As posições são ocupadas em função do mérito de seus
ocupantes – com isso se pretende que as posições da hierarquia
sejam ocupadas pelos mais capazes e não por critérios de
amizade, parentesco ou afinidade com os chefes.
- Cada uma das posições possui competência específica - a
hierarquização das posições implica delimitação de tarefas,
direitos e deveres. Cada posição na escala hierárquica tem
sua função específica. Com isso se pretende determinar
responsabilidades e garantir a execução das tarefas.
- Distinção entre o público e o privado – durante muitos séculos
era comum que os funcionários obtivessem benefícios pessoais
em decorrência do cargo que ocupavam. A isso se denomina
patrimonialismo, em que o cargo é considerado como parte
do patrimônio do funcionário. A administração burocrática cria
Weber também é
conhecido pelo seu estudo
da burocratização da
sociedade, presente na
formação dos Estados
modernos e do capitalismo
em que a formação
de ambos exigia uma
administração estável,
disciplinada e racional.
Com o corpo burocrático,
o Estado poderia cumprir
eficientemente seu objetivo
precípuo, que é administrar
a vida pública de uma
nação; e a empresa poderia
cumprir o seu, que é o de
gerar lucros.
58
uma série de regimentos e normas para obrigar os funcionários
a distinguirem claramente que o prestígio, o poder e os recursos
inerentes ao cargo existem para o bom funcionamento da
organização e não devem ser usados em benefício pessoal.
Qual a contribuição de Weber para a educação?
Weber e a educação
Weber não dedicou um artigo e nem um capítulo de livro à
educação, embora tenha feito referências esparsas ao tema no
decurso de sua produção acadêmica. Para Weber a educação é um
elemento que contribui para a seleção social e possui finalidades
distintas de acordo com o tipo de dominação existente numa
determinada sociedade.
Assim, cultura e educação são analisadas por ele como mecanismos
que contribuem para manutenção de uma situação de dominação
– seja mediante o costume, a dominação tradicional, o aparato
racional-legal, a dominação burocrática, ou pela influência
pessoal, dominação carismática.
Convém ressaltar que a dominação ocorre em diferentes instituições,
inclusive na escola. A esse respeito, o autor esclareceu que:
O âmbito da influência com caráter de dominação
sobre as relações sociais e os fenômenos culturais
é muito maior do que parece à primeira vista. Por
exemplo, é a dominação que se exerce na escola
que se reflete nas formas de linguagem oral e
escrita consideradas ortodoxas. Os dialetos que
funcionam como linguagem oficial das associações
políticas autocéfalas, portanto, de seus regentes,
vieram a ser formas ortodoxas de linguagem oral
e escrita e levaram às separações ‘nacionais’ (por
exemplo, entre a Alemanha e a Holanda). Mas
a dominação exercida pelos pais e pela escola
estende-se para muito além da influência sobre
aqueles bens culturais (aparentemente apenas)
formais até a formação do caráter dos jovens e
com isso dos homens (WEBER, 1997 p.172).
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | unidade 1 59
Weber atribui um importante papel às famílias no processo de
socialização das crianças. Em Economia e Sociedade, o autor, ao se
referir às formas de criação dos direitos subjetivos, fez uma menção
à importância da família na educação dos jovens e das crianças.
Ele enfatizou que o repúdio ao divórcio nas classes médias estava
relacionado às dificuldades que a desagregação familiar traz para
a educação das crianças e jovens.
Com o refinamento da cultura, tornam-se cada vez maiores as
exigências dos indivíduos quanto ao cuidado dos filhos por parte dos
casais. Dessa forma, o autor torna explícito que a sua abordagem
da educação não se restringe ao âmbito da escola.
Considera que a obtenção de vantagens econômicas leva os indivíduos
a circunscrever a educação a um grupo reduzido de pessoas, pois,
quanto mais reduzido o grupo de uma associação que lhe possibilite
legitimações e conexões economicamente aproveitáveis, maior é o
prestígio social dos seus membros.
No capitalismo, cuja dominação possui um caráter racional-legal
por meio do qual a burocracia assume sua maior expressão, há a
necessidade de funcionários especializados. “Toda a burocracia
busca aumentar a superioridade dos que são profissionalmente
informados, mantendo secretos os seus conhecimentos e intenções”
(WEBER, 1997, p. 269).
Nas burocracias, os títulos educacionais são símbolos de prestígio social
e utilizados muitas vezes como vantagem econômica. Na atualidade, o
diploma teria o mesmo valor que a ascendência familiar, no passado.
A educação é justamente um dos recursos utilizados pelas pessoas
que ocupam posições de maior privilégio e poder para manterem
e/ou melhorarem seu status, sendo que os diplomas e certificados
desempenhamumcaráterseletivo,monopolizandoposiçõesvantajosas.
Síntese
A Sociologia é uma das Ciências Sociais e tem por objeto de estudo a
sociedade humana, sua estrutura básica, a coesão e a desintegração
60
dos grupos, bem como a transformação social. Seu objeto de estudo
não envolve, pois, as ações individuais, mas as interações humanas,
o homem convivendo com seus semelhantes.
- 	 A Sociologia surgiu como resultado da tentativa de compreensão
das novas situações sociais geradas pela nascente sociedade
capitalista. Ela é fruto da dupla revolução que se realizou na
Europa: a Revolução Industrial e a Revolução Francesa.
- 	 Existem diferentes modos de enfocar o estudo da sociedade. Um
deles, representado pelo Paradigma do Consenso, que enfatiza
a adesão à ordem social existente, e o outro, representado pelo
Paradigma do Conflito, que enfatiza a dinamicidade do social e
os fatores que podem contribuir para a sua transformação.
- 	 Augusto Comte, considerado o criador da Sociologia e adepto
do Paradigma do Consenso, tinha por objetivo reorganizar
a sociedade pelo restabelecimento da ordem, criando um
conjunto de crenças comuns a todos os homens. Para ele,
a escola deve priorizar os estudos científicos, colocando os
estudos literários em segundo plano. Acreditava que todos
os seres humanos possuem instintos egoístas e altruístas,
devendo a educação desenvolver nos educandos o altruísmo e
o sentimento de solidariedade em detrimento do egoísmo.
- 	 Émile Durkheim, também vinculado ao Paradigma do Consenso,
definiu como objeto da Sociologia os fatos sociais, considerados
como coisas, ou seja, realidades exteriores, que deveriam ser
medidos, observados e comparados independentemente do
que os indivíduos pensassem ou declarassem a seu respeito.
A educação é considerada por Durkheim como fato social,
uma vez que se impõe coercitivamente aos indivíduos,
independentemente da vontade individual. A função da
educação, para esse sociólogo, é propiciar a maior integração
do indivíduo à sociedade, permitindo-lhe desenvolver uma
forte identificação com o sistema social do qual faz parte.
- 	 Karl Marx, cujas ideias o situam no Paradigma do Conflito,
possuía uma visão pessimista do sistema capitalista e
denunciou os processos de exploração e dominação da classe
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 61
burguesa sobre a classe proletária. Para Marx, a educação é um
instrumento de dominação e de controle usado pelas classes
dominantes. Assim, para ele, não pode existir educação livre
ou universal enquanto existirem classes sociais.
- Max Weber discorda de Marx quando este afirma que é o
princípio da economia que domina todas as esferas da vida
social. Weber opõe-se ainda às coordenadas metodológicas que
preconizavam a assimilação das ciências sociais aos quadros
teóricos das ciências naturais. Para ele, o objeto da sociologia
consiste fundamentalmente na captação da relação de sentido
da ação humana. Importantes são seus estudos sobre a religião
e sobre a burocratização da sociedade, presente na formação
dos Estados modernos e do capitalismo. Para Weber, a
educação é um elemento que contribui para a seleção social e
possui finalidades distintas de acordo com o tipo de dominação
existente numa determinada sociedade.
Conceitue Sociologia e explique o objetivo dessa
ciência.
Qual a relação entre as Revoluções Francesa e Industrial
e o surgimento da Sociologia?
Explique de que maneira a ordem social instituída pelo
capitalismo trouxe modificações nas relações que se
estabelecem entre os indivíduos.
Quais as principais diferenças entre as teorias de
Durkheim e de Karl Marx?
Sintetize a contribuição de Weber para a Sociologia.
1
2
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4
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62
Articulando
Converse com uma professora das séries iniciais do ensino
fundamental de uma escola pública e pergunte-lhe sobre as
situações de conflito vivenciadas no cotidiano da sala de aula
e a que ela atribui essas situações. Investigue também como
essas situações têm sido resolvidas. Transcreva a resposta da
professora, relacionando-a a algumas noções tratadas neste
capítulo.
DURKHEIM, E. Educação e sociologia. 11. ed. São Paulo:
Melhoramentos, 1978.
MARTINS,C.B.Oqueésociologia.26.ed.SãoPaulo:Brasiliense,1990.
MARX, K. O capital. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1971.
WEBER, M. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São
Paulo: Pioneira, 1967.
TEMPOS MODERNOS
Focaliza a vida urbana nos Estados Unidos nos anos 30,
imediatamente após a crise de 1929, quando a depressão
atingiu toda sociedade norte americana, levando grande parte
da população ao desemprego e à fome. A figura central do filme
é Carlitos, o personagem clássico de Chaplin que, ao conseguir
emprego numa grande indústria, transforma-se em líder grevista,
conhecendo uma jovem por quem se apaixona. O filme focaliza a
vida na sociedade industrial caracterizada pela produção com base
no sistema de linha de montagem e especialização do trabalho. É
uma crítica à “modernidade” e ao capitalismo representado pelo
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | unidade 1 63
modelo de industrialização, no qual o operário é engolido pelo
poder do capital e perseguido por suas ideias “subversivas”. Na
segunda parte do filme são tratadas as desigualdades entre a vida
dos pobres e das camadas mais abastadas, mostrando que a mesma
sociedade capitalista, que explora o proletariado, alimenta todo
conforto e diversão da burguesia.
A ordem econômica da sociedade
2
unidade
ObjetivoS dESTA unidade:
Analisar a evolução
da concepção de
trabalho nas sociedades
humanas;
Identificar os diferentes
modos de produção
surgidos ao longo da
história das sociedades
humanas;
Compreender o
trabalho na sociedade
contemporânea;
Refletir sobre as
relações de trabalho na
sociedade globalizada;
Analisar a relação entre
trabalho e educação.
ROTEIRO DE ESTUDOS
•	 O conceito de trabalho
•	 O trabalho ao longo da história: diferentes concepções
•	 Os diferentes modos de produção
•	 O trabalho na sociedade globalizada: desafios no século XXI
•	 O trabalho e a educação
Rita de Cássia da Silva Oliveira
66
PARA INÍCIO DE CONVERSA
Você já deve ter refletido sobre o trabalho e certamente percebeu
que, ao longo da existência humana, o conceito de trabalho sofreu
alterações conforme a maneira como o homem se relaciona com a
atividade que desenvolve ou como a sociedade se organiza.
A relação entre o trabalho e o homem é tão antiga quanto a
história da humanidade. Para muitos estudiosos é essa relação
a responsável pelas profundas mudanças sociais, destacando as
descobertas científicas e tecnológicas que provocaram novas
formas de organização e produção.
O trabalho caracteriza o homem em seu processo de formação
enquanto sujeito inserido em uma sociedade. Porém, as diferentes
relações que o homem estabelece com o seu trabalho nem sempre
propiciam a ele uma sensação de liberdade e realização; ao
contrário, por muitas vezes o fazem se sentir oprimido, explorado
e alienado intelectual, política e socialmente.
Neste texto procura-se esclarecer o conceito de trabalho e
as diferentes concepções a ele atribuídas ao longo da história.
Também são abordados os diferentes modos de produção e os
processos do trabalho.
É feita uma análise sobre a alienação que sofre o trabalhador
na sociedade capitalista. Por último destaca-se o trabalho na
sociedade globalizada e o papel da escola e, em especial, do
professor na contemporaneidade.
O trabalho constitui um tema relevante na sociedade
contemporânea, à medida que envolve e interessa a todos os
homens.
Leia com atenção e reflita sobre o tema.
Boa aprendizagem!
sociologia da educação | unidade 2 67
O CONCEITO DE TRABALHO
A palavra trabalho origina-se do vocábulo latino tripaliare, do
substantivo tripalium – instrumento de tortura. Assim, tripalium
era um aparelho de tortura formado por três paus, que servia
para manter presos os animais que ofereciam resistência ao por
ferradura.
Também era usado para prender os condenados humanos. Deriva
daí uma concepção negativa, à medida que se associa trabalho à
tortura, sofrimento, exploração, pena, labuta e constrangimento.
Entretanto, a essa visão negativa de trabalho se sobrepõe a ideia
de que através do trabalho, o homem transforma a natureza, se
humaniza, transforma a si e ao mundo em que vive.
“Toda atividade desenvolvida pelo ser humano – seja ela física ou
mental – é considerada trabalho. Dele resultam bens e serviços.
É trabalho tanto a atividade do operário de uma indústria como
a do arquiteto que projeta os bens a serem produzidos por essa
indústria. Assim, tanto a atividade manual como a atividade
intelectual são trabalhos, desde que tenham resultado a
obtenção de bens e serviços” (OLIVEIRA, 2001, p.97).
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Sociologia da Educação

  • 2.
  • 3. Governo do Estado do Maranhão Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia, Ensino Superior e Desenvolvimento Tecnológico Universidade Estadual do Maranhão - UEMA Núcleo de Tecnologias para Educação - UemaNet SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO Cleide Aparecida Faria Rodrigues Márcia Derbli Schafranski Rita de Cássia da Silva Oliveira São Luís 2010
  • 4. Governadora do Estado do Maranhão Roseana Sarney Murad Reitor da uema Prof. José Augusto Silva Oliveira Vice-reitor da Uema Prof. Gustavo Pereira da Costa Pró-reitor de Administração Prof. José Bello Salgado Neto Pró-reitor de Planejamento Prof. José Gomes Pereira Pró-reitor de Graduação Prof. Porfírio Candanedo Guerra Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação Prof. Walter Canales Sant’ana Pró-reitora de Extensão e Assuntos Estudantis Profª. Grete Soares Pflueger Chefe de Gabinete da Reitoria Prof. Raimundo de Oliveira Rocha Filho Edição: Universidade Estadual do Maranhão - UEMA Núcleo de Tecnologias para Educação - UemaNet Coordenador do UemaNet Prof. Antonio Roberto Coelho Serra Coordenadora Pedagógica Profª. Maria de Fátima Serra Rios Coordenadora do Curso de Pedagogia, a distância: Profª. Heloísa Cardoso Varão Santos Coordenadora da Produção de Material Didático UemaNet: Camila Maria Silva Nascimento Responsável pela Produção de Material Didático UemaNet: Cristiane Costa Peixoto Revisão: Liliane Moreira Lima Lucirene Ferreira Lopes Diagramação: Josimar de Jesus Costa Almeida Luis Macartney Serejo dos Santos Tonho Lemos Martins Capa: Luciana Vasconcelos Universidade Estadual do Maranhão Núcleo de Tecnologias para Educação - UemaNet Campus Universitário Paulo VI - São Luís - MA Fone-fax: (98) 3257-1195 http://www.uemanet.uema.br e-mail: comunicacao@uemanet.uema.br O conteúdo deste fascículo foi cedido à Universidade Estadual do Maranhão - UEMA pela Universidade Estadual de Ponta Grossa - PR, que autorizou sua reprodução com atualizações: revisão de linguagem, capa, cores e diagramação de uso exclusivo do Núcleo de Tecnologias para Educação - UemaNet.
  • 5. R696s Rodrigues, Cleide Aparecida Faria Sociologia da educação 1./ Cleide Aparecida Faria Rodrigues, Márcia Derbli Schafranski e Rita de Cássia da Silva Oliveira. Ponta Grossa: Ed.UEPG, 2009. 163 p. il. Licenciatura em Pedagogia - Educação a distância. 1. Sociologia da educação. 2. Sociologia e sociedade. 3. Sociedade e economia. 4. Estado, política e sociedade. I. Schafranski, Márcia Derbli. II. Oliveira, Rita de Cássia da Silva. III.T. CDD : 370.193 João Carlos Gomes Reitor Carlos Luciano Sant’ana Vargas Vice-reitor Pró-Reitoria de Assuntos Administrativos Ariangelo Hauer Dias Pró-Reitoria de Graduação Graciete Tozetto Góes Divisão de Educação a Distância e de Programas Especiais Maria Etelvina Madalozzo Ramos - Chefe Núcleo de Tecnologia e Educação Aberta e a Distância Leide Mara Schmidt - Coordenadora Geral Cleide Aparecida Faria Rodrigues - Coordenadora Pedagógica Sistema Universidade Aberta do Brasil Hermínia Regina Bugeste Marinho - Coordenadora Geral Cleide Aparecida Faria Rodrigues - Coordenadora Adjunta Elenice Parise Foltran - Coordenadora de Curso Colaborador Financeiro Luiz Antonio Martins Wosiak Colaboradora de Planejamento Silviane Buss Tupich Colaboradores em EAD Dênia Falcão de Bittencourt Jucimara Roesler Colaboradores de Informática Carlos Alberto Volpi Carmen Silvia Simão Carneiro Adilson de Oliveira Pimenta Júnior Juscelino Izidoro de Oliveira Júnior Osvaldo Reis Júnior Kin Henrique Kurek Thiago Luiz Dimbarre Thiago Nobuaki Sugahara Colaboradores de Publicação Maria Beatriz Ferreira - Revisão Sozângela Schemin da Matta - Revisão Edson Gil Santos Jr. - Diagramação Eloise Guenther - Diagramação Luan Dione Rein - Diagramação Paulo Henrique de Ramos - Ilustração Colaboradores Operacionais Edson Luis Marchinski Joanice Kuster de Azevedo João Márcio Duran Inglêz Maria Clareth Siqueira Mariná Holzmann Ribas Todos os direitos reservados ao Ministério da Educação Sistema Universidade Aberta do Brasil Ficha catalográfica elaborada pelo Setor de Processos Técnicos BICEN/UEPG. UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA Núcleo de Tecnologia e Educação Aberta e a Distância - NUTEAD Av. Gal. Carlos Cavalcanti, 4748 - CEP 84030-900 - Ponta Grossa - PR Tel.: (42) 3220-3163 www.nutead.uepg.br 2010
  • 6.
  • 7. APRESENTAÇÃO INSTITUCIONAL Prezado estudante, Inicialmente queremos dar-lhe as boas-vindas à nossa instituição e ao curso que escolheu. Agora, você é um acadêmico da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), uma renomada instituição de ensino superior que tem mais de cinquenta anos de história no Estado do Paraná, e participa de um amplo sistema de formação superior criado pelo Ministério da Educação (MEC) em 2005, denominado Universidade Aberta do Brasil (UAB). O Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB) não propõe a criação de uma nova instituição de ensino superior, mas sim, a articulação das instituições públicas já existentes, possibilitando levar ensino superior público de qualidade aos municípios brasileiros que não possuem cursos de formação superior ou cujos cursos ofertados não são suficientes para atender a todos os cidadãos. Sensível à necessidade de democratizar, com qualidade, os cursos superiores em nosso país, a Universidade Estadual de Ponta Grossa participou do Edital de Seleção UAB nº 01/2006-SEED/MEC/2006/2007 e foi contemplada para desenvolver seis cursos de graduação e quatro cursos de pós-graduação na modalidade a distância. Isso se tornou possível graças à parceria estabelecida entre o MEC, a CAPES e as universidades brasileiras, bem como porque
  • 8. a UEPG, ao longo de sua trajetória, vem acumulando uma rica tradição de ensino, pesquisa e extensão e se destacando também na educação a distância. A UEPG é credenciada pelo MEC, conforme Portaria nº 652, de 16 de março de 2004, para ministrar cursos superiores (de graduação, sequenciais, extensão e pós-graduação lato sensu) na modalidade a distância. Os nossos programas e cursos de EaD apresentam elevado padrão de qualidade e têm contribuído, efetivamente, para a democratização dosaberuniversitário,destacando-seotrabalhoquedesenvolvemos na formação inicial e continuada de professores. Este curso não será diferente dos demais, pois a qualidade é um compromisso da Instituição em todas as suas iniciativas. Os cursos que ofertamos, no Sistema UAB, utilizam metodologias, materiais e mídias próprios da educação a distância que, além de facilitarem o aprendizado, permitirão constante interação entre alunos, tutores, professores e coordenação. Este curso foi elaborado pensando na formação de um professor competente, no seu saber, no seu saber fazer e no seu fazer saber. Também foram contemplados aspectos éticos e políticos essenciais à formação dos profissionais da educação. Esperamos que você aproveite todos os recursos que oferecemos para facilitar o seu processo de aprendizagem e que tenha muito sucesso na trajetória que ora inicia. Mas, lembre-se: você não está sozinho nessa jornada, pois fará parte de uma ampla rede colaborativa e poderá interagir conosco sempre que desejar, acessando nossa Plataforma Virtual de Aprendizagem (MOODLE) ou utilizando as demais mídias disponíveis para nossos alunos e professores. Nossa equipe terá o maior prazer em atendê-lo, pois a sua aprendizagem é o nosso principal objetivo. EQUIPE DA UAB/UEPG
  • 9. APRESENTAÇÃO Prezado estudante, A disciplina Sociologia da Educação se configura no Curso de Pedagogia como uma possibilidade de oferecer aos estudantes (futuros professores) conhecimento sobre a complexidade da realidade com a qual terão que enfrentar no desempenho das suas atividades profissionais. Oportunizará o estudo da dimensão social dos sujeitos, da sua ligação à sociedade e, sobretudo, da dialética que se estabelece entre estas instâncias, permitindo a análise sociológica do processo didático-pedagógico. Contamos com a participação da equipe de professores: Cleide Aparecida Faria Rodrigues, Márcia Derbli Schafranski e Rita de Cásia da Silva Oliveira da Universidade Estadual de Ponta Grossa e do professor especialista da UEMA responsável pela mediação da disciplina. Neste módulo contemplamos conteúdos indispensáveis à formação pedagógica para que você, caro estudante, compreenda e analise as funções da educação e da escola na estrutura social e as mudanças na sociedade, ampliando, assim, a visão sobre a realidade e a sua responsabilidade social como profissional da educação, podendo atuar de maneira crítica e competente face a realidade do fenômeno educativo em suas múltiplas relações econômicas, ético-políticas e sociais.
  • 10. Você terá oportunidade de produzir conhecimentos, participando do processo de transformação da educação brasileira, exercendo a docência de modo competente. Lembramos que você não está sozinho nesta caminhada, pois uma ampla rede de profissionais estará a disposição para interagir com você. Desejamos sucesso e bons momentos de estudo! EQUIPE DA UEMANET
  • 11. PALAVRAS DAS PROFESSORAS OBJETIVO E EMENTA UNIDADE 1 SOCIOLOGIA: a ciência da sociedade .................................... 19 Conceito e Objeto de Estudo ...................................... 21 O Surgimento da Sociologia: fundamentos históricos e epistemológicos .................................................... 25 Paradigmas sociológicos: contribuições de Durkheim, Weber e Marx ...................................................... 37 UNIDADE 2 A ORDEM ECONÔMICA DA SOCIEDADE ................................. 65 O Conceito de Trabalho ........................................... 67 O Trabalho ao longo da História: diferentes concepções ......... 71 Os Diferentes modos de Produção ............................... 77 O Trabalho na Sociedade Globalizada: desafios no século XXI .... 97 O Trabalho e a Educação .......................................... 101 UNIDADE 3 ESTADO, POLÍTICA E SOCIEDADE ....................................... 107 Estado: sociedade política e sociedade civil ................... 111 As Teorias do Estado ............................................... 117 SUMÁRIO
  • 12. O Século XX e as mudanças na concepção e nas funções do Estado .............................................................. 133 PALAVRAS FINAIS .................................................. 153 REFERÊNCIAS ...................................................... 155 NOTAS SOBRE AS AUTORAS ....................................... 159
  • 13. PENSE ATIVIDADES ATENÇÃO ÍCONES Orientação para estudo Ao longo desta apostila, serão encontrados alguns ícones utilizados para facilitar a comunicação com você. Saiba o que cada um significa. SUGESTÃO DE FILMES SAIBA MAIS REFERêNCIAS
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  • 15. OBJETIVOS E EMENTA Objetivos • Desenvolver atitude científica diante da realidade social e educacional. • Analisar a contribuição dos autores clássicos ao surgimento e desenvolvimento da Sociologia. • Refletir sobre a importância do trabalho na vida individual e na organização social. • Caracterizar os paradigmas teóricos que norteiam o pensamento sociológico atual. • Analisar a relação Estado-sociedade a partir de um referencial teórico e crítico. • Compreender a importância da ciência sociológica na formação do educador. Ementa • Contexto histórico e epistemológico em que surge a Sociologia. Os autores clássicos da Sociologia: Durkheim, Marx e Weber. Os métodos de investigação e principais temáticas abordadas pelos clássicos. O trabalho nas diferentes sociedades. Concepções teóricas de Estado. A globalização e o Estado contemporâneo.
  • 16.
  • 17. PALAVRAS DAS PROFESSORAS A teoria em si só não transforma o mundo. Pode contribuir para a sua transformação, mas para isso tem que sair de si mesma, e em primeiro lugar tem que ser assimilada pelos que vão ocasionar, com seus atos reais, efetivos, tal transformação (VASQUEZ, 1968). Prezado estudante, A partir deste momento você está convidado a refletir conosco sobre questões importantes relacionadas à sociedade, as quais repercutem na educação e na prática pedagógica do professor, uma vez que esta prática não se dá no vazio, mas está diretamente relacionada a um contexto histórico e cultural específico, sugerindo que estejamos atentos aos condicionantes de ordem econômica, política e social que exercem influência sobre a educação e sobre o trabalho docente. Pelo fato de analisar a sociedade sob o prisma dos diversos olhares que as diferentes perspectivas analíticas ensejam, a Sociologia possibilita uma ampliação da compreensão da realidade social e educacional. Daí a sua importância nos cursos de formação de professores. Podemos afirmar que o trabalho docente guarda relações diretas com a estrutura e com a organização social e, em consequência, com os processos decorrentes. Assim sendo, a formação do professor precisa estar ancorada em sólidos conhecimentos sobre a realidade social, para que possamos ter maior clareza de propósitos e dar um direcionamento às nossas ações, mesmo reconhecendo os condicionantes históricos, sociais e culturais que interferem em nosso trabalho.
  • 18. Portanto, os conhecimentos oriundos da ciência sociológica, ao propiciarem a reflexão, problematização e discussão da realidade, nos fornecem categorias de análise úteis à compreensão da dinâmica da vida social como um todo e do fenômeno educativo em particular, podendo também levar-nos a desenvolver atitudes que incitem a mudança. -Então, pronto(a) para iniciar seus estudos? Cleide Aparecida Faria Rodrigues Márcia Derbli Schafranski Rita de Cássia da Silva Oliveira
  • 19. Sociologia: a ciência da sociedade Márcia Derbli Schafranski 1 unidade Objetivos dESTA unidade: Caracterizar a Sociologia como ciência, discorrendo sobre suas principais atribuições; Analisar o contexto histórico-social que propiciou o surgimento e o desenvolvimento da Sociologia; Compreender a organização social como determinante das relações dos homens entre si, mediatizados pelo mundo; Analisar a sociedade sob a ótica do paradigma do consenso e sob a ótica do paradigma do conflito. ROTEIRO DE ESTUDOS • Conceito e objeto de estudo • O surgimento da Sociologia: fundamentos históricos e epistemológicos • Paradigmas sociológicos: as contribuições de Durkheim, de Weber e de Marx Márcia Derbli Schafranski
  • 20. 20 PARA INÍCIO DE CONVERSA Prezado estudante, Nesta unidade você terá a oportunidade de melhor analisar e com- preender a vida social, a partir dos acontecimentos históricos que deram origem ao desenvolvimento da sociedade capitalista. Pode- rá entender que a Sociologia se insere como ciência extremamente necessária à formação do profissional da educação à medida que lhe oferece subsídios teóricos capazes de levá-lo a melhor situar-se diante do contexto social e educacional, estabelecendo os vínculos entre o modelo de organização social vigente e a educação. Também compreenderá que, desde a sua formação, essa ciência buscou não apenas refletir sobre a sociedade, mas, também, im- plementar estratégias de ação que permitissem interferir nos ru- mos da civilização. Os sociólogos, sejam eles conservadores ou revolucionários, antigos ou atuais, procuram fazer do conhecimento sociológico um instru- mento de ação, quer seja para manter quer seja para transformar a sociedade existente. Você terá, pois, a oportunidade de conhecer as ideias de diferentes teóricos que contribuíram para a constituição e consolidação dessa ciência, e de compreender que existem diferentes maneiras de se analisar e de se posicionar diante da sociedade e da educação. Aprenderá também que esse posicionamento se relaciona diretamente com a concepção de escola e de trabalho pedagógico dos profissionais da educação Bom trabalho! 20
  • 21. SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | unidade 1 21 CONCEITO E OBJETO DE ESTUDO O que é Sociologia? Em linhas gerais, existem muitas definições para explicar o significado da Sociologia. No sentido etimológico, sociologia significa estudo da sociedade. O vocábulo é formado pela palavra de origem latina socius (sociedade) e pela palavra grega logia (estudo). Conforme Broom e Seznick (1979, p.2): A Sociologia é uma das Ciências Sociais. Seu objetivo mais amplo é descobrir a estrutura básica da sociedade humana, identificar as principais forças que mantêm os grupos unidos ou que os enfraquecem e verificar que condições transformam a vida social. 21 O filósofo grego Aristóteles enunciou o princípio básico da Sociologia afirmando que: “O HOMEM É UM ANIMAL SOCIAL” (Aristóteles – 384-322 a.C).
  • 22. 22 Quais as principais ideias implícitas nessa definição? A Sociologia é uma ciência, ou seja, envolve um conjunto de conhecimentos sistemáticos, organizados sobre a sociedade. A ciênciaprocuradescobrirosfatostaiscomosão,independentemente do seu valor emocional. Baseia-se na observação e na pesquisa e não em sentimentos e crenças subjetivas a respeito dos fenômenos. - O objeto de estudo da Sociologia é a sociedade humana, sua estrutura básica, a coesão e a desintegração dos grupos, bem como a transformação social. Portanto, seu objeto de estudo não envolve as ações individuais, mas as interações humanas, ou seja, o homem convivendo com seus semelhantes. - Existem diferentes modos de enfocar o estudo da sociedade. Um deles enfatiza a adesão à ordem social existente, e o outro enfatiza a dinamicidade do social e os fatores que podem contribuir para a sua transformação. Charon (1999) afirma que compete à Sociologia responder três perguntas básicas a respeito do ser humano: O que somos? Somos seres inacabados, adotamos as regras, os princípios morais, os valores da sociedade em que vivemos, construindo a nossa personalidade em contato com nossos semelhantes. Alguns autores, como Chales Cooley e George Mead, destacam que a própria natureza humana é aprendida, por meio das interações sociais que desenvolvemos. Como essa interação ocorre por toda a vida, estamos constantemente nos modificando e nos socializando à medida que convivemos com outras pessoas e situações. O que mantém coesa a sociedade? Qual a natureza da ordem social? 22
  • 23. SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | unidade 1 23 Ao mesmo tempo em que vamos sendo socializados, vamos interiorizando os costumes, os valores, as normas, os padrões de comportamento da sociedade. A ordem é mantida graças aos agentes socializadores, como a família, as escolas, a religião, os meios de comunicação etc. No entanto, como veremos posteriormente, alguns sociólogos vieram a demonstrar que a manutenção da ordem nem sempre visa ao bem da coletividade, mas, em muitos casos, visa a adequar as pessoas para a aceitação de regras que convêm aos grupos dominantes da sociedade. Por que existem desigualdades entre os homens? Alguns pensadores consideram que os homens são naturalmente desiguais em talentos, habilidades, enfim, atribuem as diferenças sociais a fatores de ordem individual. Os filósofos gregos, por exemplo, em sua maioria, consideravam os homens como naturalmente desiguais e diziam que a harmonia social seria obtida à medida que cada indivíduo desempenhasse uma atividade conforme suas aptidões. É nesse sentido que Platão em sua obra “República” diz que a sociedade justa aceitaria a divisão entre trabalhadores, guerreiros e filósofos, segundo suas aptidões. Participavam da vida política da polis grega (cidade-estado) os homens livres, sendo excluídos os escravos, as mulheres e crianças. Outros estudiosos, no entanto, vêm demonstrar que a desigualdade entre os homens não depende apenas dos atributos individuais, mas, é socialmente produzida. Autores como Thomas More (1478-1535) e Tommaso Campanella (1568-1639), em suas obras, imaginavam uma sociedade onde as desigualdades sociais não se fizessem presentes. Mais recentemente, o pensamento socialista, opondo-se ao ideário capitalista, defende que as desigualdades entre os homens guardam relações com a forma como se dão as interações entre os homens na sociedade dividida em classes sociais. Como veremos, essa questão será devidamente discutida na Seção 3 desta unidade de estudo. 23
  • 24.
  • 25. SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 25 O SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA: fundamentos históricos e epostemológicos Antecedentes históricos A sociologia pode ser entendida como uma das manifestações do pensamento moderno. Ela não é fruto das ideias de alguns pensadores, mas é produto de uma nova forma de pensar a natureza e a sociedade.Asua formação constitui um acontecimento complexo para o qual concorreram circunstâncias históricas e intelectuais e intenções práticas. Que circunstâncias foram essas? O surgimento da Sociologia guarda relações com as transformações ocorridas na sociedade europeia a partir do século XVII. A revolução científica iniciada por Issac Newton (1642-1752), que formulou a lei da gravitação universal, abriu caminho para o estudo racional do universo e das leis que o regem e trouxe a crença no cientificismo, O emprego sistemático da razão, do livre exame da realidade – traço que caracterizava os pensadores do século XVII, os chamados racionalistas – representou grande avanço para libertar o conhecimento do controle teológico, da tradição, da “revelação” e, consequentemente, para a formulação de uma nova atitude intelectual diante dos fenômenos da natureza e da cultura (MaRTINS, 1990, p.18).
  • 26. 26 opondo-se às explicações de ordem religiosa ou metafísica. A nova forma de conhecer a natureza, na qual a observação e a experimentação são elementos fundamentais, influenciou estudiosos de outros campos, que passaram a acreditar que, se era possível estudar cientificamente o universo, também seria possível estudar cientificamente a sociedade, formulando leis explicativas para os fenômenos sociais. Também, no final do século XVII, a burguesia comercial, formada essencialmente por comerciantes e banqueiros, sustenta ativo o comércio entre os países europeus e estende seu raio de atuação, comprando e vendendo mercadorias a todos os pontos do mundo. O capital mercantil gradativamente se estende também à produção manufatureira, levando ao desenvolvimento de um novo processo produtivo em contraposição ao das corporações de ofício. O desenvolvimento da manufatura fez com que houvesse um interesse cada vez maior pelo aperfeiçoamento das técnicas de produção, tendo em vista o aumento dos lucros. Surge então o processo denominado maquinofatura, quando o trabalho anteriormente realizado com as mãos ou com as ferramentas passa a ser desenvolvido por meio de máquinas, o que vem a elevar o volume da produção de mercadorias. No século XVIII, o surgimento da máquina a vapor trouxe profundas alterações no processo produtivo, assegurando as bases para a expansão da indústria, com a utilização cada vez maior de trabalho assalariado, desenvolvido sob condições desumanas de exploração. Veja, agora, como se estruturaram as relações de trabalho a partir da revolução industrial. A partir da Revolução Industrial o trabalho assalariado tornou-se fundamental no sistema fabril, ocorrendo a exploração da mão- de-obra feminina e infantil. O quase desaparecimento dos pequenos proprietários rurais, dos artesãos independentes, a imposição de prolongadas horas de trabalho, tiveram um efeito traumático sobre milhões de seres humanos ao modificar radicalmente suas formas tradicionais de vida.
  • 27. SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 27 Segundo Martins (1990, p.11-12): A revolução industrial significou algo mais que a introdução da máquina a vapor e dos sucessivos aperfeiçoamentos de métodos produtivos. Ela representou o triunfo da indústria capitalista, capitaneada pelo empresário capitalista que foi pouco a pouco concentrando as máquinas, as terras e as ferramentas sob seu controle, convertendo grandes massas humanas em simples trabalhadores despossuídos. Como consequências desse processo, citam-se o aumento da prostituição, dos suicídios, do alcoolismo, do infanticídio, da criminalidade, da violência, principalmente nos centros urbanos industrializados, que passavam por um vertiginoso crescimento demográfico, sem possuir, no entanto, uma estrutura de moradias, serviços sanitários, atendimento à saúde, capazes de acolher a população que se deslocava do campo. Deste modo, ao mesmo tempo em que aumentou a produtividade com o desenvolvimento da divisão social do trabalho, a Revolução Industrial também se manifestou com a miséria de milhares de trabalhadores desempregados, sendo que crianças, mulheres e homens eram obrigados a cumprir uma jornada de trabalho de até 12 horas diárias, privados de seus direitos políticos e sociais. Os efeitos catastróficos desta Revolução para a classe trabalhadora geraram sentimentos de revolta traduzidos externamente na forma de destruição de máquinas, sabotagens, explosão de oficinas, roubos e outros crimes, que deram lugar à criação de associações livres e sindicatos que permitiram o diálogo de classes organizadas, cientes de seus interesses com os proprietários dos instrumentos de trabalho. Essa situação da classe operária levou à formação dos primeiros sindicatos, à elaboração do pensamento socialista e ao surgimento de inúmeros movimentos, levantes e revoltas de trabalhadores, que marcaram toda a vida europeia no século XIX. a Revolução Industrial determinou o aparecimento do proletariado e o papel histórico que ele desempenharia na sociedade capitalista.
  • 28. 28 O pensamento dos filósofos iluministas franceses no século XVIII se opunha aos fundamentos da sociedade feudal, aos privilégios de sua classe dominante e às restrições que esta classe impunha aos interesses econômicos e políticos da burguesia. Propunham a valorização da razão, considerada o mais importante instrumento para se alcançar qualquer tipo de conhecimento, a valorização do questionamento, da investigação e da experiência como forma de conhecimento tanto da natureza quanto da sociedade.Apregoavam a crença nos direitos naturais que todos os indivíduos possuem em relação à vida, à liberdade, à posse de bens materiais. Como ideólogos da burguesia, os iluministas consideravam as instituições existentes injustaseirracionais,criticandoamonarquia absolutista, que assegurava privilégios a uma pequena camada da população constituída por quinhentas pessoas, quando nesse momento a França possuía vinte e três milhões de habitantes. O que é o Iluminismo? O Iluminismo é o movimento cultural que se desenvolveu na Inglaterra, Holanda e França, nos séculos XVII e XVIII. Nessa época, o desenvolvimento intelectual, que vinha ocorrendo desde o Renascimento, deu origem a ideias de liberdade política e econômica, defendidas pela burguesia. Os filósofos e economistas que difundiam essas ideias julgavam- se propagadores da luz e do conhecimento, sendo, por isso, chamados de iluministas. O Iluminismo trouxe consigo grandes avanços que, juntamente com a Revolução Industrial, abriram espaço para a profunda mudança política determinada pela Revolução Francesa. O precursor desse movimento foi o matemático francês René Descartes (1596-1650), considerado o pai do racionalismo. Em sua obra “Discurso do método”, ele recomenda, para se chegar à verdade, que se duvide de tudo, mesmo das coisas aparentemente verdadeiras. A partir da dúvida racional pode-se alcançar a compreensão do mundo, e mesmo de Deus. Você sabia que... ...outro fator importante na consolidação da ordem social capitalista foi o Iluminismo? Conheça, então, algumas ideias dos filósofos iluministas que contribuíram para a consolidação da sociedade burguesa.
  • 29. SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | unidade 1 29 Com a Revolução Francesa ocorrida em 1789 e que teve por lema os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade consolida-se a sociedade capitalista. A burguesia, ao tomar o poder em 1789, insurgiu-se definitivamente contra os fundamentos da sociedade feudal, ao construir um Estado que assegurasse sua autonomia diante da Igreja e que incentivasse e protegesse a empresa capitalista. Que transformações ocorreram na sociedade a partir da Revolução Francesa? Em menos de um ano, a velha estrutura e o Estado monárquico estavam liquidados, inclusive abolindo radicalmente a antiga forma de sociedade e suas tradicionais instituições, seus arraigados costumes e hábitos, promovendo sensíveis alterações na economia, na política e na vida cultural. Nesse contexto se situam a abolição das corporações e dos grêmios e a promulgação de legislação que limitava os poderes patriarcais na família, fragilizando os abusos da autoridade do pai e forçando-o a uma divisão igualitária da propriedade. Confiscaram- se propriedades da Igreja, suprimiram-se os votos monásticos, e a educação ficou sob a responsabilidade do Estado. Acabaram-se antigos privilégios de classe, e surgiu o incentivo e o amparo ao empresário. Você sabia que a primeira Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão foi votada no dia 2 de outubro de 1789? Essa declaração sintetizou em dezessete artigos e um preâmbulo os ideais libertários e liberais da primeira fase da Revolução Francesa. Pela primeira vez são proclamados as liberdades e os direitos fundamentais do Homem (ou do homem moderno, o homem segundo a burguesia) de forma ecumênica, visando abarcar toda a humanidade. Promulgada pela ONU (Orgnização das Nações Unidas). Fonte: http://upload.wikimedia. org/wikipedia/commons/9/95/ Declaration_des_Droits_ de_l%27Homme_et_du_Citoyen_ de_1793.jpg DeclaraçãodosDireitosdoHomemedoCidadão
  • 30. 30 Cumpre destacar que, embora idealizada e dirigida pela burguesia, a Revolução Francesa só se tornou vitoriosa porque teve como aliados trabalhadores urbanos e camponeses pobres, que também estavam insatisfeitos com a exploração da nobreza feudal. Ao assumir os rumos da sociedade, a burguesia apregoava a necessidade de garantir o direito “natural”, “sagrado”, “inalienável” e “inviolável” da propriedade privada. Caberia ao indivíduo fazer de sua propriedade o que achasse melhor, desde que não prejudicasse outros, porque, assim, poderia desenvolver ao máximo suas potencialidades. Porém, ao estabelecer a propriedade privada dos meios de produção, não garantiu à maioria da população das sociedades modernas o acesso à propriedade dos meios de subsistência. Assim, o surgimento da sociologia reflete as transformações e contradições do mundo moderno. A procura de explicações para as modificações estruturais, ocorridas com o advento da nova sociedade, gerou a construção do pensamento sociológico, decorrente da necessidade de o homem situar-se diante das transformações históricas vigentes. O positivismo de Augusto Comte As importantes transformações sociais ocorridas e suas conse- quências despertaram a necessidade de investigação. O surgimento da Sociologia tem como pano de fundo a existência de uma burguesia que se distanciara de seu projeto de igualdade e fraternidade e que, crescentemente, se comportava no plano político de forma menos liberal e mais conservadora, utilizando intensamente os seus aparatos repressivos e ideológicos para assegurar a sua dominação. Na terceira década do século XIX acirram-se na sociedade francesa as crises econômicas e a luta de classes. Assim, este estado de crise e desorganização levou Augusto Comte (1798-1857) a criar a
  • 31. SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 31 Sociologia, visando entender a sociedade para poder reorganizá-la. Para ele, as ideias religiosas haviam perdido sua força, não sendo capazes, portanto, de contribuir para a reorganização da sociedade. Filósofo francês considerado o pai da Sociologia. Foi amigo do socialista utópico Saint-Simon que o influenciou na criação de uma ciência social e de uma política científica. Partindo de uma crítica científica da teologia e entre 1851 e 1854 publica o “Sistema de política positiva” ou “Tratado de sociologia” que institui a religião da humanidade. Tendo se proclamado “Grande Sacerdote da Humanidade”, em 1847 instituiu um “calendário positivista” no qual os santos foram substituídos pelos grandes pensadores da história. Para reorganizar a sociedade seria necessário restabelecer a ordem, criando um conjunto de crenças comuns a todos os homens. Comte sustentava ainda o estabelecimento de princípios norteadores do conhecimento humano por meio de leis imutáveis, conforme as ciências físico-naturais. Assim, o funcionamento da sociedade obedeceria a diretrizes predeterminadas para promover o bem-estar do maior número possível de indivíduos. Desse modo, a Sociologia foi inicialmente por ele denominada de “Física Social”, devendo utilizar em suas investigações o mesmo método sistemático daquelas ciências. Em suas pesquisas, ele salientou a necessidade de se evitarem as crises sociais ou, se possível, de prevê-las. Basicamente, a ciência conduziria à previdência, a qual daria subsídios à ação. Um aspecto característico das ideias de Comte é a sua preocupação com a complementaridade necessária entre a ordem e o progresso para que possa haver equilíbrio na nova sociedade. Assim deveria ser, criando um conjunto de crenças comuns a todos os homens, visando a reverter a situação de desorganização social vivenciada pelas sociedades europeias e a alcançar gradativamente o progresso. Para Comte, o método científico é o único válido para se chegar ao conhecimento. Reflexões ou juízos que não podem ser comprovados pelo método científico, como os postulados da metafísica, não levam ao conhecimento e não têm valor. Isidore auguste Marie François Xavier Comte (1798-1857) Você sabia que... Comte considerava perniciosas as ideias dos iluministas, aos quais chamava de “doutores de guilhotina”, por terem contribuído para a desorganização da sociedade então existente, gerando a “desintegração social” e a desunião entre os homens.
  • 32. 32 No mapa mundi, localize O Positivismo no Brasil: O lema da bandeira brasileira é de inspiração positivista: “Ordem e Progresso”. a frase original, formulada por Comte era: “o amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim”. a adoção desse lema se deve à influência de Benjamim Constant que era adepto do positivismo. Você já ouviu falar na Lei dos três Estados? Esta lei foi formulada por Augusto Comte. Segundo a Lei dos Três Estados as sociedades humanas passam por três estágios de evolução histórica. O primeiro é o teológico, no qual os fenômenos são apresentados como sendo produzidos pela ação de seres sobrenaturais que interferem arbitrariamente no mundo. O segundo é o metafísico, no qual os fenômenos são engendrados por forças abstratas. O último estágio é o positivo, em que o ser humano desiste de procurar as causas íntimas dos fenômenos para, através da observação e do método científico, estabelecer as leis gerais que os regem. O estado positivo, portanto, corresponde à maturidade do espírito humano que não é mais enganado por explicações vagas, uma vez que pode alcançar o real, o certo e o preciso. Assim, opondo-se à concepção do direito natural e do pacto social e às doutrinas teológicas, Augusto Comte preconizava o emprego de novos métodos no exame científico dos problemas sociais, substituindo as interpretações metafísicas e preconizando o estabelecimento da autoridade e da ordem pública contra os abusos do individualismo do liberalismo. O que é o liberalismo? O liberalismo é uma doutrina ou corrente do pensamento político que defende a maximização da liberdade individual mediante o exercício dos direitos e da lei. O liberalismo defende uma sociedade caracterizada pela livre iniciativa integrada num contexto definido. Tal contexto geralmente inclui um sistema de governo democrático, o primado lei, a liberdade de expressão e a livre concorrência econômica. O liberalismo rejeita diversos axiomas fundamentais que dominaram vários sistemas anteriores de governo político, tais como o direito divino dos reis, a hereditariedade e o sistema de religião
  • 33. SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | unidade 1 33 oficial. Os princípios fundamentais do liberalismo incluem a transparência, os direitos individuais e civis, especialmente o direito à vida, à liberdade, à propriedade, um governo baseado no livre consentimento dos governados e estabelecido com base em eleições livres; igualdade de todos os cidadãos diante da lei. Do ponto de vista social, Comte afirma que a sociedade dever ser dividida em classes, em dirigentes e dirigidos, como forma de se manter em harmonia na convivência social. Essa visão mostra que ele considerava a sociedade como um organismo heterogêneo, cujas partes deveriam trabalhar solidárias para o bem de todos. Conforme Martins (1990, p. 44), nos trabalhos de Comte: [...] sociologia e positivismo aparecem intimamente ligados, uma vez que a criação desta ciência marcaria o triunfo final do positivismo no pensamento humano. Monumento a Augusto Comte, localizado na Praça da Sorbonne Fonte: www.igrejapositivistabrasil.org.br/pari.html
  • 34. 34 Assim, a ciência da sociedade deve contribuir para que, através da descoberta de leis gerais, invariáveis que regem a sociedade, o Estado possa providenciar ações no sentido de reorganizar a ordem social. Para Comte, a Harmonia é a lei natural invariável que deve reger tanto a sociedade como a natureza. A ideia central dessa corrente positiva de pensamento sobre o conceito e o método em sociologia está, portanto, fundamentada nas seguintes premissas essenciais: • a sociedade pode ser epistemologicamente assimilada à natureza, isto é, as leis que regem a natureza são as mesmas da sociedade e, portanto, o método que serve para descobrir essas leis não é diferente do método que se aplica nas ciências naturais: o mesmo caráter de observação “neutra”, objetiva e desligada dos fenômenos; • a sociedade é regida por leis naturais, isto é, leis invariáveis, independentes da vontade e da ação humana, tal como a lei da gravidade ou do movimento da terra em torno do sol. Reina na sociedade uma harmonia semelhante à natureza, uma espécie de harmonia natural, tendendo sempre os fenômenos para o equilíbrio; • a sociedade deve ser organizada respeitando-se suas leis naturais que levam à constante evolução do espírito humano. Aos segmentos da sociedade, como os do proletariado e das mulheres, caberia educar os seus espíritos no sentido de que compreendessem que os fenômenos sociais são fruto de leis naturais e, portanto, inevitáveis, cabendo, pois, uma atitude científica de sábia resignação. Considerando que o positivismo enfatiza a ordem e a harmonia social, quais seriam os pressupostos da educação segundo Augusto Comte? Veja a seguir como Comte se posiciona em relação a essa questão. Epistemologia é o estudo crítico dos princípios, hipóteses e resultado das ciências já constituídas, que visa determinar os fundamentos lógicos, valor e o alcance de seus Objetivos.
  • 35. SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | unidade 1 35 Alémdeumareformulaçãogeraldasciênciasedaorganizaçãosocio- política, Comte projetou uma nova ordem espiritual, inspirada na hierarquia e na disciplina da Igreja Católica. Sua doutrina se distanciava, porém, da teologia cristã, que ele rejeitava por se basear no sobrenatural e não no materialismo científico. Ele via a humanidade como uma entidade una que denominou Grande Ser e preconizou a construção de templos positivistas, onde a humanidade e não a divindade seria venerada. Tendo a ordem como valor supremo, era fundamental para Comte que os membros de uma dada sociedade aprendessem desde cedo a importância da obediência e da hierarquia, as quais seriam função prioritária da escola. Segundo ele, a evolução do indivíduo segue um trajeto semelhante à evolução das sociedades. Assim, na infância passa-se por uma espécie de estado teológico, quando a criança tende a atribuir a forças sobrenaturais os acontecimentos de sua vida. A maturidade do espírito seria encontrada na ciência. Por isso, a escola de inspiração positivista prioriza os estudos científicos colocando os estudos literários em segundo plano. Comte acreditava ainda que todos os seres humanos possuem instintos egoístas e altruístas. Compete à educação desenvolver nos educandos o sentimento de solidariedade e o altruísmo, em detrimento do egoísmo. O objetivo mais nobre da vida consiste em dedicar-se a outras pessoas.
  • 36.
  • 37. SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 37 PARADIGMAS SOCIOLÓGICOS: contribuições de Durkheim, Weber e Marx Embora inicialmente atrelada ao positivismo de Augusto Comte, a Sociologia não segue apenas uma orientação teórico-metodológica para a explicação da realidade social, pois, conforme o posicionamento dos teóricos, as relações sociais, as desigualdades e a mudança podem ser explicadas de maneira distinta. O Paradigma do Consenso, estruturado a partir das ideias de Comte, enfatiza os aspectos integrativos da sociedade e considera os indivíduos unidos por valores comuns, o que gera um consenso espontâneo na sociedade. Conforme já vimos anteriormente, esse paradigma enfatiza a ordem, a coesão, o equilíbrio da sociedade e acredita que cada uma das partes (indivíduos, grupos e instituições) deve funcionar adequadamente para não prejudicar o funcionamento e a harmonia do organismo social como um todo. Nessa perspectiva a educação é tida como fator de integração à sociedade constituída, sem que se questione sua estrutura e organização. A educação cumpre um papel instrucional devendo adequar a força de trabalho às necessidades do sistema capitalista. Por sua vez, as desigualdades sociais são explicadas em termos de diferenças e méritos individuais. O estudo da sociedade pode ser realizado segundo dois paradigmas ou modelos de análise, conforme a orientação teórico/ metodológica adotada pelo cientista social. São eles: o Paradigma do Consenso e o Paradigma do Conflito.
  • 38. 38 Como o Paradigma do Conflito se posiciona em relação a essas questões? O Paradigma do Conflito, conforme o nome indica, enfatiza os processos dissociativos da sociedade, acredita que os grupos sociais se encontram em permanente conflito e denuncia as relações de dominação entre os grupos e classes sociais. Para este paradigma, o consenso existente na sociedade é imposto pelos grupos que detêm o poder. Enfatiza, também,o significado político e social da educação e dos processos educativos que se desenvolvem na escola, os mecanismos utilizados pelo sistema capitalista para poder se perpetuar e a possibilidade da educação poder contribuir para a transformação da sociedade. PARADIGMAS SOCIOLÓGICOS CARACTERÍSTICAS CONSENSO CONFLITO Concepção de sociedade Uma unidade baseada na ordem moral Um sistema de forças em desequilíbrio e conflito permanente Base da coesão social Consenso espontâneo Consenso ideológico. Força e poder Ênfase Integração Conflito e mudança Principal preocupação Aspectos normativos e formais da sociedade Mudança social e análise do poder Função da educação Integração, manutenção do consenso Estabelecimento e manutenção da dominação O Paradigma do consenso - a contribuição de DURKHEIM Conforme você pode constatar, o pensador francês Augusto Comte é considerado o “fundador” da Sociologia. No entanto, Émile Durkheim é quem irá sistematizar esta nova ciência. Durkheim e seus colaboradores emanciparam a sociologia da filosofia social, colocando-a como disciplina científica rigorosa. Sua preocupação foi definir o método e as aplicações desta nova ciência.
  • 39. SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 39 Émile Durkheim (1858-1917) Fonte: www.bolender.com/ Sociological%20Theory/Durkheim Nasceu em Épinal, no noroeste da França. Viveu numa família muito religiosa, pois seu pai era um rabino. Porém, não seguiu o caminho da família, optando por uma vida secular. Desde jovem, foi um opositor da educação religiosa e defendia o método científico como forma de desenvolvimento do conhecimento. Formou-se em Filosofia, no ano de 1882. Cinco anos após sua formatura, foi trabalhar na Universidade de Bourdeaux na França, como professor de pedagogia e ciência social. Neste período, começaram seus estudos sobre Sociologia. O Positivismo, que pusera os filósofos diante de uma realidade social a ser especulada, transformou-se, em Durkheim, numa real postura empírica, centrada naqueles fatos que poderiam ser observados, mensurados e relacionados através de dados coletados diretamente pelo cientista. Procurando garantir à Sociologia um método tão eficiente quanto o desenvolvido pelas ciências naturais, Durkheim definiu o tipo de acontecimentos sobre os quais o sociólogo deveria se debruçar e os aconselhava a encarar os fatos sociais como coisas, fenômenos exteriores, que deveriam ser medidos, observados e comparados independentemente do que os indivíduos pensassem ou declarassem a seu respeito. Ex: São exemplos de fatos sociais: regras de convivência, regras jurídicas, morais, religiosas, sistemas financeiros, costumes, tradições etc. Devido ao caráter impositivo desses fatos, os indivíduos são levados a se comportar de acordo com as regras preestabelecidas pelas gerações anteriores. Caso isso não ocorra o indivíduo pode ser sancionado com punições que vão desde o riso, a zombaria, a exclusão do grupo, e até mesmo, em casos mais graves ser acionado judicialmente. Por outro lado, ao observar os fatos sociais vigentes na sociedade o indivíduo pode ser deferido com sentimentos de aprovação, medalhas, honrarias etc. Foi Durkheim quem delimitou com clareza o objeto e o método de estudo da Sociologia, elaborando um conjunto coordenado de conceitos e de técnicas de pesquisa que, embora norteados por princípios das ciências naturais, guiavam o cientista para o discernimento de um objeto de estudo próprio e dos meios adequados para interpretá-lo.
  • 40. 40 Fatos sociais são maneiras de sentir, pensar e agir padronizadas e socialmente sancionadas. Esse conceito nos permite perceber que os fatos sociais apresentam algumas características. Quais seriam elas? Características dos fatos sociais • Coercitividade - relacionada com a força dos padrões culturais dos grupos que os indivíduos integram. Esses padrões culturais são de tal maneira fortes, que obrigam os indivíduos a cumpri-los. • Exterioridade - esta característica está ligada ao fato de que os padrões da cultura são exteriores aos indivíduos, ou seja, vêm do exterior e são independentes das suas consciências. • Generalidade – os fatos sociais existem não para um indivíduo específico, mas para a coletividade. Podemos perceber a generalidade pela propagação das tendências dos grupos pela sociedade, por exemplo. COMO DURKHEIM EXPLICA ESSE FATO? Durkheim atribui esse fato ao que denomina consciência coletiva. Sua teoria sociológica buscou demonstrar que os fatos sociais têm existência própria e independente daquilo que pensa e faz cada indivíduo em particular. Assim, embora todos possuam suas “consciências individuais”, seus modos próprios de se comportar e de interpretar a vida, no interior de qualquer grupo ou sociedade, existem formas padronizadas de conduta e de pensamento. Assim, a consciência coletiva não se baseia na consciência dos indivíduos singulares ou de grupos específicos, mas está espalhada por toda a sociedade. Ela revela o tipo da sociedade, que não seria apenas o produto das consciências individuais, mas algo diferente, que se imporia aos indivíduos e perduraria através das gerações. a consciência coletiva representa a forma moral vigente na sociedade e está espalhada por toda a sociedade impondo-se aos indivíduos. Ela aparece como regras fortes e estabelecidas que delimitam o valor atribuído aos atos individuais. Ela define o que, numa sociedade, é considerado moral ou imoral, adequado ou inadequado. Provavelmente você já deve ter passado por situações em que não concorda com certas convenções impostas pela sociedade, mas, mesmo assim, se sente obrigado a segui-las. Lembre algumas dessas situações vivenciadas por você e sobre os motivos que o levaram a agir da maneira imposta pela sociedade.
  • 41. SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | unidade 1 41 Uma vez identificados e caracterizados os fatos sociais, a preocupação de Durkheim dirigiu-se para a conduta necessária ao cientista, a fim de que seu estudo tivesse realmente bases científicas. Você já percebeu que os positivistas valorizam a objetividade no estudo dos fenômenos sociais. Assim sendo, que atitude deve ser adotada pelo sociólogo ao analisar a realidade social para que seus estudos tenham caráter científico? Para Durkheim, como para todos os positivistas, não haveria explicação científica se o pesquisador não mantivesse certa distância e neutralidade em relação aos fatos, resguardando a objetividade de sua análise. É preciso que o sociólogo deixe de lado seus valores e sentimentos pessoais em relação ao acontecimento a ser estudado, pois eles nada têm de científico e podem distorcer a realidade dos fatos. Durkheim e a ordem social Durkheim compartilhava com Comte a preocupação com a ordem social. No período de suas pesquisas, as constantes crises econômicas, o desemprego e a miséria entre os trabalhadores estavam contribuindo para que o socialismo ganhasse força. Porém ele não concordava com as teorias socialistas que davam enfoque especial aos fatos econômicos considerando-os a raiz da crise social. Sustentava a ideia de que os problemas não se resumiam à natureza econômica, mas sim à fragilidade da moral vigente. Uma solução adotada por ele para restabelecer a ordem seria a criação de novas ideias morais a fim de resgatar a consciência do dever, possibilitar relações estáveis entre os homens e, por conseguinte, neutralizar a crise econômica.
  • 42. 42 A divisão social do trabalho Demonstrando otimismo em relação ao industrialismo, Durkheim afirmava que a divisão do trabalho, ao invés de gerar conflitos, trazia maior solidariedade entre os homens. As tarefas especializadas, ao tornarem os indivíduos interdependentes, contribuíam para aumentar a produtividade. Para ele, são resultados da divisão do trabalho social: 1) aumento da força produtiva; 2) aumento da habilidade do trabalho; 3) rápido desenvolvimento intelectual e material das sociedades; 4) integração e estruturação da sociedade mantendo a coesão social e tornando seus membros interdependentes; 5) equilíbrio, harmonia e ordem devido à necessidade de união pela semelhança e pela diversidade; 6) intensificação da solidariedade social. Para Durkheim, a solidariedade social é a grande responsável pela coesão surgida entre os indivíduos que, unidos, lutam contra as ameaças externas. A solidariedade, ou seja, o conjunto de laços que efetivamente prendem os elementos ao grupo, pode ser de dois tipos: solidariedade mecânica e solidariedade orgânica. A solidariedade mecânica é típica das sociedades simples, constituídasporumsistemadesegmentoshomogêneosesemelhantes entre si. Os membros da sociedade em que domina a solidariedade mecânica estão unidos pela tradição, por laços de parentesco. A solidariedade orgânica, resultante da divisão social do trabalho, é fruto das diferenças profissionais. Essas diferenças unem os indivíduos pela necessidade de troca de serviços e pela sua interdependência.
  • 43. SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 43 Para Durkheim, a Sociologia tem por finalidade não só explicar a sociedade como encontrar remédios para a vida social. a sociedade, como todo organismo, apresentaria estados normais e patológicas, isto é, saudáveis e doentios. Por intermédio da instrução pública, consegue-se que o indivíduo, construindo sua consciência comum e social, supere a si mesmo, libertando-se de visões puramente egoístas e de interesses materiais imediatistas. Segundo esse autor, um fato social pode ser considerado como normal quando se encontra generalizado pela sociedade ou quando desempenha alguma função importante para sua adaptação ou sua evolução. Assim, Durkheim afirma que o crime, por exemplo, é normal não só por ser encontrado em qualquer sociedade, em qualquer época, como também por representar a importância dos valores sociais que repudiam determinadas condutas como ilegais e as condenam a penalidades. A generalidade de um fato social, isto é, sua unanimidade, é garantia de normalidade na medida em que representa o consenso social, a vontade coletiva ou o acordo de um grupo a respeito de uma determinada questão. Partindo do princípio de que o objetivo máximo da vida social é promover a harmonia da sociedade consigo mesma e com as demais sociedades, e que essa harmonia é conseguida através do consenso social, a “saúde” do organismo social se confunde com a generalidade dos acontecimentos e com a função destes na preservação dessa harmonia, desse acordo coletivo que se expressa sob a forma de sanções sociais. Quando um fato põe em risco a harmonia, o acordo, o consenso e, portanto, a adaptação e evolução da sociedade, estamos diante de um acontecimento de caráter ruim e de uma sociedade doente. Portanto, normal é aquele fato que não extrapola os limites dos acontecimentos mais gerais de uma determinada sociedade e que reflete os valores e as condutas aceitas pela maior parte da população. Do que foi exposto conclui-se que Durkheim se propôs à tarefa de realizar uma teoria da investigação sociológica. E foi o primeiro sociólogo que conseguiu atingir seu objetivo, em condições difíceis e com um êxito que só pode ser contestado quando se toma uma
  • 44. 44 posição diferente em face das condições, limites e ideais de explicação científica na Sociologia. Durkheim afirmava que a sociedade industrial estava submersa em um estado de anomia. Você sabe o que significa essa afirmação? A anomia, conforme Durkheim implica na ausência de regras claramente estabelecidas que pudessem reger e controlar a conduta dos indivíduos. A partir daí, em uma de suas teses, sustentava que o estado de anomia incidia diretamente no crescente número de suicídios. Para Durkheim, a sociologia deveria ter ainda por objetivo comparar as diversas sociedades. Constituiu assim o campo da morfologia social, ou seja, a classificação das espécies sociais. Durkheim considerava que todas as sociedades haviam evoluído da forma social mais simples, igualitária, reduzida a um único segmento onde os indivíduos se assemelhavam aos átomos. Desse ponto de partida, foi possível uma série de combinações, das quais se originaram outras espécies sociais identificáveis no passado e no presente, tais como os clãs e as tribos. Embora preocupado com as leis gerais capazes de explicar a evolução das sociedades humanas, Durkheim ateve-se também às particularidades da sociedade em que vivia e aos mecanismos de coesão dos pequenos grupos, à formação de sentimentos comuns resultantes da convivência social. Distinguiu diferentes instâncias da vida social e seu papel na organização social, como a educação, a família e a religião. Pode-se dizer que, com Durkheim, já se delineava uma apreensão da Sociologia em que se relacionava harmonicamente o geral e o particular numa busca que ainda não expressava a noção de totalidade. Uma vez que a teoria sociológica de Durkheim enfatiza a ordem, a integração do indivíduo à sociedade, qual seria a função da educação segundo esse autor?
  • 45. SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 45 Durkheim e a educação A educação é considerada por Durkheim como um fato social, uma vez que se impõe coercitivamente, independentemente da vontade individual. A ação educativa permitirá uma maior integração do indivíduo à sociedade e também lhe permitirá desenvolver uma forte identificação com o sistema social do qual faz parte. Assim sendo, o trabalho dos adultos é fundamental para que a criança incorpore os princípios da sociedade da qual faz parte. A educação consiste na socialização metódica das novas gerações e visa integrar o ser individual, constituído pelos estados mentais que se realacionam apenas conosco mesmos, com o sistema de ideias que exprime a maneira de ser dos grupos dos quais fazemos parte. Veja, agora, como Durkheim conceitua a educação: A educação é a ação exercida, pelas gerações adultas, sobre as gerações que não se encontram ainda preparadas para a vida social; tem por objeto suscitar e desenvolver, na criança, certo número de estados físicos, intelectuais e morais, reclamados pela sociedade política, no seu conjunto, e pelo meio especial a que a criança particularmente se destine (DURKHEIM, 1978, p. 41). Considerando as sociedades em diferentes lugares e épocas históricas, pode-se observar que cada uma delas possui um sistema de educação que se impõe aos indivíduos. Assim, se compararmos a educação ateniense (grega) com a educação romana da antiguidade, verifica-se que enquanto em Atenas procurava-se formar espíritos delicados, prudentes, capazes de admirar o belo e os prazeres da especulação, em Roma, buscava-se formar homens de ação, apaixonados pela glória militar. Durkheim considera a sociedade determinante na formação da personalidade individual e na sua integração ao meio social. assim, é uma ilusão acreditar que podemos educar nossos filhos como queremos, pois existem costumes aos quais somos obrigados a nos conformar, pois, caso contrário podemos gerarconsequencias sérias na vida de nossos filhos. Você concorda com essa afirmação?
  • 46. 46 No entanto, é possível observar que numa mesma sociedade e época histórica a educação apresenta também um caráter diferenciado, donde conclui-se que a educação tem um caráter uno e um caráter múltiplo. Durkheim procurou demonstrar que não podemos escapar de uma formação voltada para o bem-estar da sociedade em que vivemos, e que, se nos desviarmos deste caminho, poderemos causar muito desconforto à criança e até a sua marginalização e exclusão do meio social, pelas dificuldades que ela enfrentaria se não conhecesse e se não adaptasse aos valores e necessidades da sociedade em que estará inserida. Assim, a educação deve funcionar como elemento adaptador e normalizador da integração do indivíduo à sociedade. Analisando a dinâmica da sociedade capitalista, Durkheim atribui um papel fundamental ao Estado que, como “cérebro social” e órgão acima dos interesses individuais, deve responsabilizar- se por orientar e supervisionar a educação, levando-a a cumprir suas finalidades sociais. Assim, compete à escola, por meio de suas normas e conteúdos, inculcar nos indivíduos os valores que contribuam para a harmonia da sociedade. O Paradigma do Conflito: a contribuição de Karl Marx Conforme você pode constatar, os positivistas tinham uma visão otimista em relação à sociedade capitalista. No entanto, Karl Marx não compartilhava com suas ideias, vendo a sociedade capitalista sob uma ótica pessimista. Marx centrava suas análises nos processos de exploração e dominação da classe burguesa sobre a classe proletária. Conheça agora algumas ideias essenciais do pensamento marxista. Marx nasceu numa família judia de classe média em Trier, sul da Alemanha. Em 1835, com dezessete anos Marx ingressou na Universidade de Bonn para estudar Direito, mas, já no ano seguinte, transferiu-se para a Universidade de Berlim, onde a influência O caráter uno da educação diz respeito às maneiras comuns de agir e pensar, pelo fato dos indivíduos estarem inseridos num mesmo contexto social. Ex: como brasileiros falamos a mesma língua, temos uma história comum, estamos sujeitos às mesmas leis. O caráter múltiplo da educação se refere ao aspecto diferenciador da educação, mesmo que os indivíduos estejam inseridos no mesmo contexto. Ex: na sociedade de castas, como a indiana, a educação variava de uma casta para a outra, o mesmo ocorrendo na sociedade estamental da Idade Média. atualmente, nas sociedades capitalistas, a educação, embora sendo um direito de todos e um dever do Estado, também se apresenta diferenciada, guardando relações com o sistema de estratificação social vigente. Karl Marx (1818-1883)
  • 47. SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 47 de Hegel era bastante sentida. Doutorou-se em Jena em 1841, com uma tese sobre as “Diferenças da filosofia da natureza em Demócrito e Epicuro”. Nesse mesmo ano, concebeu a ideia de um sistema que combinasse o materialismo de Ludwig Feuerbach com a dialética idealista de Hegel. Impedido de seguir uma carreira acadêmica, tornou-se, em 1842, redator-chefe da Gazeta Renana. Com o fechamento do jornal pelos censores do governo prussiano, em 1843, Marx emigra para a França. Casa-se com Jenny von Westphalen em 1843. Desse casamento, Marx teve cinco filhos: Franziska, Edgar, Eleanor, Laura e Guido. Franziska, Edgar e Guido morreram na infância, provavelmente pelas péssimas condições financeiras a que a família estava submetida. ParaMarxeseucolaboradorFriederichEngels,afunçãodaSociologia não poderia se limitar apenas a solucionar os problemas sociais para restabelecer a ordem e o bom funcionamento da sociedade, como imaginavam os positivistas, mas deveria contribuir para realizar mudanças radicais na sociedade, unindo teoria e ação, ciência e os interesses da classe proletária. A formação teórica do socialismo marxista constituiu uma complexa operação intelectual e crítica de assimilação das três principais correntes do pensamento europeu do século passado – o socialismo, a dialética e a economia política. Anteriormente ao socialismo marxista, existiu o socialismo utópico, cujos principais expoentes foram Owen e Saint-Simon. Porém, na visão de Marx e Engels, embora os socialistas utópicos tivessem elaborado uma crítica à sociedade burguesa, eles não apresentaram meios para mudar efetivamente a realidade social. Segundo Marx e Engels, os socialistas utópicos não apresentam nenhuma iniciativa histórica e nenhum movimento político que lhes sejam próprios. Idealistas, não reconhecem quais seriam as condições materiais da emancipação. Ainda consideram que eles eram moralistas, pois pretendiam reformar a sociedade pela força do exemplo, acreditando que as experiências em pequenas escalas poderão se frutificar e se expandir, por meios pacíficos. O Marxismo interpreta a vida social conforme a dinâmica da luta de classes e prevê a transformação das sociedades de acordo com as leis do desenvolvimento histórico de seu sistema produtivo.
  • 48. 48 Segundo Gomes (1989, p.36), são pontos principais do pensamento marxista: a) Os fatores econômicos são os deteminantes fundamentais da estrutura e da mudança. A organização social envolve três aspectos: as forças materiais de produção como base, ou seja, os métodos através dos quais o homem assegura sua subsistência, relacionando-se com a natureza: as relações de produção, que envolvem relações e direito de propriedade bem como as relações entre os homens: as superestruturas legais e políticas e as ideias e formas de consciência social. b) A história é a história da luta de classes: as classes sociais são os grupos mais importantes da sociedade e se encontram em oposição, com base em sua posição econômica e em fatores divergentes. c) A cultura das sociedades de classe é caracterizada pela ideologia, ou seja, as ideias estão intimamente condicionadas pelo meio de produção. A classe que controla os meios de produção controla também os meios de produção e difusão intelectual, inclusive a educação. O núcleo do pensamento de Marx é sua interpretação do homem e começa com a necessidade de sobrevivência humana. A história se inicia com o próprio homem que, na busca da satisfação de necessidades, trabalha sobre a natureza. À medida que realiza esse trabalho, o homem se descobre como ser produtivo e passa a ter consciência de si e do mundo. Percebe-se então que “a história é o processo de criação do homem pelo trabalho humano. A teoria econômica marxista procura explicar como o modo de produção capitalista propicia a acumulação contínua de capital, e sua resposta está na confecção das mercadorias. Elas resultam da combinação de meios de produção (ferramentas, máquinas e matéria-prima) e do trabalho humano. No marxismo, a quantidade de trabalho socialmente necessária para produzir uma mercadoria é o que determina o seu valor. A ampliação do capital ocorre porque o trabalho produz valores Segundo Marx a infraestrutura, modo como denominava a base econômica da sociedade, determina a superestrutura que é dividida em ideológica (ideias políticas, religiosas, morais, filosóficas) e política (Estado, polícia, exército, leis, tribunais). Portanto, a visão que temos do mundo e a nossa psicologia são reflexo da base econômica de nossa sociedade. as ideias que surgiram ao longo da história se explicam pelas sociedades nas quais seus mentores estavam inseridos. Elas são oriundas das necessidades das classes sociais daquele tempo.
  • 49. SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | unidade 1 49 superiores ao dos salários (que é a força de trabalho). Esse diferencial, que irá se tornar um conceito fundamental da teoria de Marx, é considerado a fonte dos lucros e da acumulação capitalista. Para Marx cada capitalista divide seu capital em duas partes: uma para adquirir insumos (máquinas, matérias-primas) e outra para comprar força de trabalho.Aprimeira, chamada capital constante, somente transfere o seu valor ao produto final; a segunda, chamada capital variável, ao utilizar o trabalho dos assalariados, adiciona um valor novo ao produto final. É este valor adicionado, que é maior que o capital variável (daí o nome “variável”: ele se expande no processo de produção), que é repartido entre capitalista e trabalhador. O capitalista entrega ao trabalhador uma parte do valor que este último produziu, sob forma de salário, e se apropria do restante sob a forma de mais-valia. Na verdade, o trabalhador produz mais do que foi calculado, ou seja, a força de trabalho cria um valor superior ao estipulado inicialmente. Esse trabalho excedente não é pago ao trabalhador e serve para aumentar cada vez mais o capital. Insere-se, neste ponto, a questão da alienação - o produtor não se reconhece no que produz; o produto surge como um poder separado do produtor. O produto surge então como algo separado, como uma realidade soberana – o fetichismo da mercadoria. Mas o que faz com que o homem não perceba? A resposta, de acordo com Marx, está na ideologia dominante, que procura sempre retardar e disfarçar as contradições politicamente. Portanto, a luta de classes só pode ter como objetivo a supressão dessa extorsão e a instituição de uma sociedade na qual os produtores seriam senhores de sua produção. Supondo que um operário leve 2 horas para fabricar um par de sapatos. Nesse período produz o suficiente para pagar o seu trabalho. Porém ele permanece mais tempo na fábrica, produzindo mais de um par de sapatos e recebendo o equivalente à confecção de apenas um. Numa jornada de 8 horas, por exemplo, são produzidos quatro pares. O custo de cada par continua o mesmo, assim como o salário do proletário.
  • 50. 50 Com isso ele trabalha 6 horas de graça, reduzindo o custo e aumentando o lucro do patrão. Esse valor a mais é apropriado pelo capitalista e constitui o que Marx chama de Mais–Valia Absoluta. Além do operário permanecer mais tempo na fábrica, o patrão pode aumentar a produtividade com a aplicação de tecnologia. Com isso o operário aumenta a produtividade, porém seu salário não aumenta. Surge a Mais-Valia Relativa. Conheça,agora,umpoucomaisdomaterialismohistóricoedialético. O Materialismo histórico A história do homem é a história da luta de classes. Para Marx a evolução histórica se dá pelo antagonismo irreconciliável entre as classes sociais de cada sociedade. Foi assim na escravista (senhores de escravos - escravos), na feudalista (senhores feudais - servos) e assim é na capitalista (burguesia - proletariado). Entre as classes de cada sociedade há uma luta constante por interesses opostos, eclodindo em guerras civis declaradas ou não. Na sociedade capitalista, a que Marx e Engels analisaram mais intrinsecamente, a divisão social decorreu da apropriação dos meios de produção por um grupo de pessoas (burgueses) e outro grupo expropriado possuindo apenas seu corpo e capacidade de trabalho (proletários). Estes são, portanto, obrigados a trabalhar para o burguês. Os trabalhadores são economicamente explorados, e os patrões obtêm o lucro através da mais-valia. O Materialismo dialético Tem por pressuposto fundamental o fato de que o mundo não é uma realidade estática, mas é dinâmica, pois, no contexto dialético, também o espírito não é consequência passiva da ação da matéria, podendo reagir sobre aquilo que o determina. Isso significa que a consciência, mesmo sendo determinada pela matéria e estando historicamente situada, não é pura passividade: o conhecimento do determinismo liberta o homem por meio da ação deste sobre o Os dois elementos principais do marxismo são o materialismo dialético, para o qual a natureza, a vida e a consciência se constituem de matéria em movimento e evolução permanente, e o materialismo histórico, para o qual o modo de produção é a base determinante dos fenômenos históricos e sociais, inclusive as instituições jurídicas e políticas, a moralidade, a religião e as artes.
  • 51. SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | unidade 1 51 mundo, possibilitando inclusive a ação revolucionária. Assim, Marx se denominava um materialista, não idealista. O Materialismo Histórico e o Materialismo Dialético podem, grosso modo, serem tomados por termos intercambiáveis, sendo o primeiro mais adequado ao se tratar de “coisas humanas” e o segundo adequado para aspectos não-humanos universais. A alienação Na análise do pensamento marxista é importante destacar também o conceito de alienação. Para Marx, a divisão social do trabalho não gerou maior solidariedade entre os homens, mas contribuiu para a sua alienação. Ou seja, o capitalismo tornou o trabalhador alienado, isto é, separou-o de seus meios de produção (suas terras, ferramentas, máquinas etc), que passaram a pertencer à classe dominante, a burguesia. Desse modo, para poder sobreviver, o trabalhador é obrigado a alugar sua força de trabalho à classe burguesa, recebendo um salário por esse aluguel. Como há mais pessoas que empregos, ocasionando excesso de procura, o proletário tem de aceitar, pela sua força de trabalho, um valor estabelecido pelo seu patrão. Caso ache que é pouco, ou que está sendo explorado, o patrão estala os dedos e milhares de outros aparecem em busca do emprego. Portanto, é aceitar ou morrer de fome. Com a alienação nega-se ao trabalhador o poder de discutir as políticas trabalhistas, além de serem excluídos das decisões gerenciais. Considerando as relações de exploração da sociedade capitalista e o antagonismo entre as classes sociais, veja a seguir como Marx analisa a educação. Marx e a educação Marx acreditava que na sociedade capitalista a educação faz parte da superestrutura e é um instrumento de dominação e controle, usado pelas classes dominantes. Por isso, as ideias passadas pela
  • 52. 52 escola à classe dos trabalhadores (que Marx denominava de classe proletária) criam uma falsa consciência, que a faz aceitar as ideias dos grupos dominantes e a impede de perceber os interesses de sua classe. Assim, para ele, não pode existir educação livre ou universal enquanto existirem classes sociais. Assim, Marx não via com bons olhos uma educação oferecida pelo Estado-Nação burguês, capitalista, basicamente por desacreditar no currículo que ela traria e na forma como seria ensinado. Ele defende a educação intelectual, física e técnica, denominada de “onilateral” (múltipla), a que difere da visão de educação integral, porque esta tem uma conotação moral e afetiva, imprópria para o ambiente escolar. O que disse a este homem ? QueTabalhasse mais depressa. Quanto lhe paga? 20 Reais por dia. A onde vai buscar o dinheiro para lhe pagar? Vendo a mercadoria E quem faz a mercadoria ? Ele! E quanta mercadoria Faz ele por dia ? Num valor de 240 Reais. Então não é você que lhe paga, mas é ele que lhe paga 220 Reais por dia para que lhe diga que trabalhe mais depressa. Hum ! Mas sou eu o proprietário das máquinas. e como consequiu essas máquinas ? Vendi a mercadoria e comprei as máquinas E quem fez a mercadoria? CUIDADO!! Eles Podem Ouvir!! sacou?!
  • 53. SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | unidade 1 53 A contribuição de Max Weber Embora tenha recebido influência do pensamento marxista, Weber não concorda que é o princípio da economia que domina todas as esferas da vida social, sendo inclusive o fator determinante da estratificação social. Para ele somente a análise detalhada da rea- lidade poderia definir os fatores que o estão gerando. Max Weber nasceu na cidade de Erfurt, na Alemanha, numa família de burgueses liberais. Desenvolveu estudos de direito, filosofia, história e sociologia. Filho de uma família de classe média alta, com o pai advogado, Weber encontrou em sua casa uma atmosfera intelectualmente estimulante. Trabalhou na Universidade de Berlim como livre-docente, ao mesmo tempo em que era assessor do governo. Cinco anos depois, escreveu sua tese de doutoramento sobre a história das companhias de comércio durante a Idade Média. A seguir escreveu a tese “A História das Instituições Agrárias”. Casou-se, em 1893, com Marianne Schnitger e, no ano seguinte, tornou-se professor de economia na Universidade de Freiburg, transferindo-se, em 1896, para a de Heidelberg. Weber não via nenhum atrativo no socialismo, o qual, segundo ele, poderia acentuar os aspectos negativos da racionalização. Influenciado por Nietzsche, a sua visão sociológica dos tempos modernos era melancólica e pessimista; uma postura de resignação diante da realidade social. Dentro das coordenadas metodológicas que se opunham à assimilação das ciências sociais aos quadros teóricos das ciências naturais, Max Weber concebe o objeto da sociologia como, fundamentalmente, “a captação da relação de sentido” da ação humana. Em outras palavras, conhecer um fenômeno social seria extrair o conteúdo simbólico da ação ou ações que o configuram. O que é ação social segundo Weber? Por ação social, Weber entende “aquela cujo sentido pensado pelo sujeito ou sujeitos é referido ao comportamento dos outros; orientando-se por ele o seu comportamento”. Tal colocação do Max Weber (1864-1920)
  • 54. 54 O método compreensivo, defendido por Weber, consiste em entender o sentido que as ações de um indivíduo contêm e não apenas o aspecto exterior dessas mesmas ações. Se, por exemplo, uma pessoa dá a outra um pedaço de papel, esse fato, em si mesmo, é irrelevante para o cientista social. Somente quando se sabe que a primeira pessoa deu o papel para a outra como forma de saldar uma dívida (o pedaço de papel é um cheque) é que se está diante de um fato propriamente humano, ou seja, de uma ação carregada de sentido. O fato em questão não se esgota em si mesmo e aponta para todo um complexo de significações sociais, na medida em que as duas pessoas envolvidas atribuem ao pedaço de papel a função do servir como meio de troca ou pagamento; além disso, essa função é reconhecida por uma comunidade maior de pessoas. problema de como abordar o fato significa que não é possível propriamente explicá-lo como resultado de um relacionamento de causas e efeitos (procedimento das ciências naturais), mas compreendê-lo como fato carregado de sentido, isto é, como algo que aponta para outros fatos e somente em função dos quais poderia ser conhecido em toda a sua amplitude. O principal objetivo de Weber é compreender o sentido que cada pessoa dá à sua conduta e perceber assim a sua estrutura inteligível e não a análise das instituições sociais como dizia Durkheim. Assim, propõe que se deve compreender, interpretar e explicar respectivamente, o significado, a organização e o sentido, assim como evidenciar irregularidade das condutas. Com este pensamento, Weber não possuía a ideia de negar a existência ou a importância dos fenômenos sociais, dando relevância à necessidade de entender as intenções e motivações dos indivíduos que vivenciam essas situações sociais. Ou seja, a sua ideia é que no domínio dos fenômenos naturais só se podem aprender as regularidades observadas por meio de proposições de forma e natureza matemática. É preciso explicar os fenômenos por meio de proposições confirmadas pela experiência, para poder ter o sentimento e compreendê-las. Você sabe dizer que tipos de ação social as pessoas desenvolvem? Segundo Weber, a captação desses sentidos contidos nas ações humanas não poderia ser realizada por meio, exclusivamente, dos procedimentos metodológicos das ciências naturais, embora a rigorosa observação dos fatos (como nas ciências naturais) seja essencial para o cientista social. A teoria weberiana distingue quatro tipos de ação social: • A ação racional com relação a um objetivo é determinada por expectativas no comportamento, tanto de objetos do mundo exterior como de outros homens, e utiliza essas expectativas como condições ou meios para alcance de fins próprios
  • 55. SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | unidade 1 55 racionalmente avaliados e perseguidos. É uma ação concreta que tem um fim específico. Por exemplo: o engenheiro que constrói uma ponte. • A ação racional com relação a um valor é aquela definida pela crença consciente no valor - interpretável como ético, estético, religioso ou qualquer outra forma - absoluto de uma determinada conduta. O ator age racionalmente aceitando todos os riscos, não para obter um resultado exterior, mas para permanecer fiel à sua honra, qual seja, à sua crença consciente no valor. Por exemplo, um capitão que afunda com o seu navio. • A ação afetiva é aquela ditada pelo estado de consciência ou humor do sujeito. É definida por uma reação emocional do ator em determinadas circunstâncias e não em relação a um objetivo ou a um sistema de valor, por exemplo, a mãe quando bate em seu filho por ele se comportar mal. • A ação tradicional é aquela ditada pelos hábitos, costumes, crenças transformadas numa segunda natureza. Para agir conforme a tradição o ator não precisa conceber um objeto, ou um valor nem ser impelido por uma emoção, pois obedece a reflexos adquiridos pela prática. Ex: durante muito tempo acreditou-se que a mulher era menos inteligente do que o homem, sem questionar-se cientificamente a veracidade desse fato. As soluções encontradas por Weber para os intrincados problemas metodológicos que ocuparam a atenção dos cientistas sociais do começo do século XX permitiram-lhe lançar novas luzes sobre vários problemas sociais e históricos e fazer contribuições extremamente importantes para as ciências sociais. Particularmente relevantes foram seus estudos sobre a sociologia da religião, mais exatamente suas interpretações sobre as relações entre as ideias e atitudes religiosas, por um lado, e as atividades e organização econômica correspondentes, por outro. Com os trabalhos de Weber foi possível elaborar uma verdadeira teoria geral capaz de confrontar-se com a de Marx.
  • 56. 56 A primeira ideia que ocorreu a Weber na elaboração dessa teoria foi a de que, para conhecer corretamente a causa ou causas do surgimento do capitalismo, era necessário fazer um estudo comparativo entre as várias sociedades do mundo ocidental e as outras civilizações, principalmente as do Oriente, onde nada de semelhante ao capitalismo ocidental tinha aparecido. Depois de exaustivas análises nesse sentido, Weber foi conduzido à tese de que a explicação para o fato deveria ser encontrada na íntima vinculação do capitalismo com o protestantismo. Assim, de modo simplificado, pode-se dizer que as relações entre a cultura protestante e o “espírito do capitalismo” estão relacionadas principalmente com a doutrina da predestinação e da comprovação — entendidas aqui, respectivamente, como a ideia de que Deus decretou o destino dos homens desde a criação e a ideia de que certos sinais da vida cotidiana podem indicar quais são os eleitos por Deus. Conquanto, para os católicos, há certos elementos atenuantes que permitem ao crente cometer certos deslizes, para os protestantes, sobretudo os calvinistas, a exigência de uma comprovação de que se é eleito impõe vastas restrições à liberdade do fiel, de modo a levar a uma total racionalização da vida. Essa racionalização, entendida como uma “ascese intramundana”, isto é, uma visão de mundo que propõe a iluminação através da santificação de cada ato particular do cotidiano —, abre um campo para o enaltecimento do trabalho, visto como a marca da santificação. É essa característica que permite a articulação entre a ética protestante, por um lado, e o espírito do capitalismo, por outro. Weber, assim como Durkheim, considera que existe uma separação entre ciência e ideologia. Para ele também há uma separação entre política e ciência, pois a esfera da política é irracional, influenciada pela paixão, e a esfera da ciência é racional, imparcial e neutra. O homem político apaixona-se pela luta, tem um princípio de responsabilidade, de pensar as consequências dos atos. O político, entende, por direção do Estado, a correlação de força e a capacidade de impor sua vontade a demais pessoas e grupos
  • 57. SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 57 políticos. É luta pelo poder dentro do Estado. Já o cientista deve ser neutro, amante da verdade e do conhecimento científico; não deve emitir opiniões e sim pensar segundo os padrões científicos, deve fazer ciência por vocação. Se o cientista apaixonar-se pelo objeto de sua investigação não será nem imparcial nem objetivo. Para Weber, a administração burocrática apresenta algumas características básicas (racionais) que devem proporcionar sua eficiência. Dentre elas podem-se citar: - Na organização burocrática, a fonte de poder são as leis - isso tende a evitar o arbítrio pessoal, na medida em que os funcionáriois devem submissão às leis (normas, portarias) e não às pessoas. Isso dá maior estabilidade ao funcionário, pois a autoridade é inerente ao cargo e não à pessoa que o ocupa. - A organização burocrática é hierarquizada - a atribuição de responsabilidades é acompanhada de uma divisão hieráquica do poder que visa a um maior controle das atividades realizadas pelos membros da organização. Os ocupantes de posições superiores controlam os que estão em posições inferiores ou apenas aqueles que estão em posições imediatamente inferiores. - As posições são ocupadas em função do mérito de seus ocupantes – com isso se pretende que as posições da hierarquia sejam ocupadas pelos mais capazes e não por critérios de amizade, parentesco ou afinidade com os chefes. - Cada uma das posições possui competência específica - a hierarquização das posições implica delimitação de tarefas, direitos e deveres. Cada posição na escala hierárquica tem sua função específica. Com isso se pretende determinar responsabilidades e garantir a execução das tarefas. - Distinção entre o público e o privado – durante muitos séculos era comum que os funcionários obtivessem benefícios pessoais em decorrência do cargo que ocupavam. A isso se denomina patrimonialismo, em que o cargo é considerado como parte do patrimônio do funcionário. A administração burocrática cria Weber também é conhecido pelo seu estudo da burocratização da sociedade, presente na formação dos Estados modernos e do capitalismo em que a formação de ambos exigia uma administração estável, disciplinada e racional. Com o corpo burocrático, o Estado poderia cumprir eficientemente seu objetivo precípuo, que é administrar a vida pública de uma nação; e a empresa poderia cumprir o seu, que é o de gerar lucros.
  • 58. 58 uma série de regimentos e normas para obrigar os funcionários a distinguirem claramente que o prestígio, o poder e os recursos inerentes ao cargo existem para o bom funcionamento da organização e não devem ser usados em benefício pessoal. Qual a contribuição de Weber para a educação? Weber e a educação Weber não dedicou um artigo e nem um capítulo de livro à educação, embora tenha feito referências esparsas ao tema no decurso de sua produção acadêmica. Para Weber a educação é um elemento que contribui para a seleção social e possui finalidades distintas de acordo com o tipo de dominação existente numa determinada sociedade. Assim, cultura e educação são analisadas por ele como mecanismos que contribuem para manutenção de uma situação de dominação – seja mediante o costume, a dominação tradicional, o aparato racional-legal, a dominação burocrática, ou pela influência pessoal, dominação carismática. Convém ressaltar que a dominação ocorre em diferentes instituições, inclusive na escola. A esse respeito, o autor esclareceu que: O âmbito da influência com caráter de dominação sobre as relações sociais e os fenômenos culturais é muito maior do que parece à primeira vista. Por exemplo, é a dominação que se exerce na escola que se reflete nas formas de linguagem oral e escrita consideradas ortodoxas. Os dialetos que funcionam como linguagem oficial das associações políticas autocéfalas, portanto, de seus regentes, vieram a ser formas ortodoxas de linguagem oral e escrita e levaram às separações ‘nacionais’ (por exemplo, entre a Alemanha e a Holanda). Mas a dominação exercida pelos pais e pela escola estende-se para muito além da influência sobre aqueles bens culturais (aparentemente apenas) formais até a formação do caráter dos jovens e com isso dos homens (WEBER, 1997 p.172).
  • 59. SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | unidade 1 59 Weber atribui um importante papel às famílias no processo de socialização das crianças. Em Economia e Sociedade, o autor, ao se referir às formas de criação dos direitos subjetivos, fez uma menção à importância da família na educação dos jovens e das crianças. Ele enfatizou que o repúdio ao divórcio nas classes médias estava relacionado às dificuldades que a desagregação familiar traz para a educação das crianças e jovens. Com o refinamento da cultura, tornam-se cada vez maiores as exigências dos indivíduos quanto ao cuidado dos filhos por parte dos casais. Dessa forma, o autor torna explícito que a sua abordagem da educação não se restringe ao âmbito da escola. Considera que a obtenção de vantagens econômicas leva os indivíduos a circunscrever a educação a um grupo reduzido de pessoas, pois, quanto mais reduzido o grupo de uma associação que lhe possibilite legitimações e conexões economicamente aproveitáveis, maior é o prestígio social dos seus membros. No capitalismo, cuja dominação possui um caráter racional-legal por meio do qual a burocracia assume sua maior expressão, há a necessidade de funcionários especializados. “Toda a burocracia busca aumentar a superioridade dos que são profissionalmente informados, mantendo secretos os seus conhecimentos e intenções” (WEBER, 1997, p. 269). Nas burocracias, os títulos educacionais são símbolos de prestígio social e utilizados muitas vezes como vantagem econômica. Na atualidade, o diploma teria o mesmo valor que a ascendência familiar, no passado. A educação é justamente um dos recursos utilizados pelas pessoas que ocupam posições de maior privilégio e poder para manterem e/ou melhorarem seu status, sendo que os diplomas e certificados desempenhamumcaráterseletivo,monopolizandoposiçõesvantajosas. Síntese A Sociologia é uma das Ciências Sociais e tem por objeto de estudo a sociedade humana, sua estrutura básica, a coesão e a desintegração
  • 60. 60 dos grupos, bem como a transformação social. Seu objeto de estudo não envolve, pois, as ações individuais, mas as interações humanas, o homem convivendo com seus semelhantes. - A Sociologia surgiu como resultado da tentativa de compreensão das novas situações sociais geradas pela nascente sociedade capitalista. Ela é fruto da dupla revolução que se realizou na Europa: a Revolução Industrial e a Revolução Francesa. - Existem diferentes modos de enfocar o estudo da sociedade. Um deles, representado pelo Paradigma do Consenso, que enfatiza a adesão à ordem social existente, e o outro, representado pelo Paradigma do Conflito, que enfatiza a dinamicidade do social e os fatores que podem contribuir para a sua transformação. - Augusto Comte, considerado o criador da Sociologia e adepto do Paradigma do Consenso, tinha por objetivo reorganizar a sociedade pelo restabelecimento da ordem, criando um conjunto de crenças comuns a todos os homens. Para ele, a escola deve priorizar os estudos científicos, colocando os estudos literários em segundo plano. Acreditava que todos os seres humanos possuem instintos egoístas e altruístas, devendo a educação desenvolver nos educandos o altruísmo e o sentimento de solidariedade em detrimento do egoísmo. - Émile Durkheim, também vinculado ao Paradigma do Consenso, definiu como objeto da Sociologia os fatos sociais, considerados como coisas, ou seja, realidades exteriores, que deveriam ser medidos, observados e comparados independentemente do que os indivíduos pensassem ou declarassem a seu respeito. A educação é considerada por Durkheim como fato social, uma vez que se impõe coercitivamente aos indivíduos, independentemente da vontade individual. A função da educação, para esse sociólogo, é propiciar a maior integração do indivíduo à sociedade, permitindo-lhe desenvolver uma forte identificação com o sistema social do qual faz parte. - Karl Marx, cujas ideias o situam no Paradigma do Conflito, possuía uma visão pessimista do sistema capitalista e denunciou os processos de exploração e dominação da classe
  • 61. SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | UNIDADE 1 61 burguesa sobre a classe proletária. Para Marx, a educação é um instrumento de dominação e de controle usado pelas classes dominantes. Assim, para ele, não pode existir educação livre ou universal enquanto existirem classes sociais. - Max Weber discorda de Marx quando este afirma que é o princípio da economia que domina todas as esferas da vida social. Weber opõe-se ainda às coordenadas metodológicas que preconizavam a assimilação das ciências sociais aos quadros teóricos das ciências naturais. Para ele, o objeto da sociologia consiste fundamentalmente na captação da relação de sentido da ação humana. Importantes são seus estudos sobre a religião e sobre a burocratização da sociedade, presente na formação dos Estados modernos e do capitalismo. Para Weber, a educação é um elemento que contribui para a seleção social e possui finalidades distintas de acordo com o tipo de dominação existente numa determinada sociedade. Conceitue Sociologia e explique o objetivo dessa ciência. Qual a relação entre as Revoluções Francesa e Industrial e o surgimento da Sociologia? Explique de que maneira a ordem social instituída pelo capitalismo trouxe modificações nas relações que se estabelecem entre os indivíduos. Quais as principais diferenças entre as teorias de Durkheim e de Karl Marx? Sintetize a contribuição de Weber para a Sociologia. 1 2 3 4 5
  • 62. 62 Articulando Converse com uma professora das séries iniciais do ensino fundamental de uma escola pública e pergunte-lhe sobre as situações de conflito vivenciadas no cotidiano da sala de aula e a que ela atribui essas situações. Investigue também como essas situações têm sido resolvidas. Transcreva a resposta da professora, relacionando-a a algumas noções tratadas neste capítulo. DURKHEIM, E. Educação e sociologia. 11. ed. São Paulo: Melhoramentos, 1978. MARTINS,C.B.Oqueésociologia.26.ed.SãoPaulo:Brasiliense,1990. MARX, K. O capital. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1971. WEBER, M. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Pioneira, 1967. TEMPOS MODERNOS Focaliza a vida urbana nos Estados Unidos nos anos 30, imediatamente após a crise de 1929, quando a depressão atingiu toda sociedade norte americana, levando grande parte da população ao desemprego e à fome. A figura central do filme é Carlitos, o personagem clássico de Chaplin que, ao conseguir emprego numa grande indústria, transforma-se em líder grevista, conhecendo uma jovem por quem se apaixona. O filme focaliza a vida na sociedade industrial caracterizada pela produção com base no sistema de linha de montagem e especialização do trabalho. É uma crítica à “modernidade” e ao capitalismo representado pelo
  • 63. SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO | unidade 1 63 modelo de industrialização, no qual o operário é engolido pelo poder do capital e perseguido por suas ideias “subversivas”. Na segunda parte do filme são tratadas as desigualdades entre a vida dos pobres e das camadas mais abastadas, mostrando que a mesma sociedade capitalista, que explora o proletariado, alimenta todo conforto e diversão da burguesia.
  • 64.
  • 65. A ordem econômica da sociedade 2 unidade ObjetivoS dESTA unidade: Analisar a evolução da concepção de trabalho nas sociedades humanas; Identificar os diferentes modos de produção surgidos ao longo da história das sociedades humanas; Compreender o trabalho na sociedade contemporânea; Refletir sobre as relações de trabalho na sociedade globalizada; Analisar a relação entre trabalho e educação. ROTEIRO DE ESTUDOS • O conceito de trabalho • O trabalho ao longo da história: diferentes concepções • Os diferentes modos de produção • O trabalho na sociedade globalizada: desafios no século XXI • O trabalho e a educação Rita de Cássia da Silva Oliveira
  • 66. 66 PARA INÍCIO DE CONVERSA Você já deve ter refletido sobre o trabalho e certamente percebeu que, ao longo da existência humana, o conceito de trabalho sofreu alterações conforme a maneira como o homem se relaciona com a atividade que desenvolve ou como a sociedade se organiza. A relação entre o trabalho e o homem é tão antiga quanto a história da humanidade. Para muitos estudiosos é essa relação a responsável pelas profundas mudanças sociais, destacando as descobertas científicas e tecnológicas que provocaram novas formas de organização e produção. O trabalho caracteriza o homem em seu processo de formação enquanto sujeito inserido em uma sociedade. Porém, as diferentes relações que o homem estabelece com o seu trabalho nem sempre propiciam a ele uma sensação de liberdade e realização; ao contrário, por muitas vezes o fazem se sentir oprimido, explorado e alienado intelectual, política e socialmente. Neste texto procura-se esclarecer o conceito de trabalho e as diferentes concepções a ele atribuídas ao longo da história. Também são abordados os diferentes modos de produção e os processos do trabalho. É feita uma análise sobre a alienação que sofre o trabalhador na sociedade capitalista. Por último destaca-se o trabalho na sociedade globalizada e o papel da escola e, em especial, do professor na contemporaneidade. O trabalho constitui um tema relevante na sociedade contemporânea, à medida que envolve e interessa a todos os homens. Leia com atenção e reflita sobre o tema. Boa aprendizagem!
  • 67. sociologia da educação | unidade 2 67 O CONCEITO DE TRABALHO A palavra trabalho origina-se do vocábulo latino tripaliare, do substantivo tripalium – instrumento de tortura. Assim, tripalium era um aparelho de tortura formado por três paus, que servia para manter presos os animais que ofereciam resistência ao por ferradura. Também era usado para prender os condenados humanos. Deriva daí uma concepção negativa, à medida que se associa trabalho à tortura, sofrimento, exploração, pena, labuta e constrangimento. Entretanto, a essa visão negativa de trabalho se sobrepõe a ideia de que através do trabalho, o homem transforma a natureza, se humaniza, transforma a si e ao mundo em que vive. “Toda atividade desenvolvida pelo ser humano – seja ela física ou mental – é considerada trabalho. Dele resultam bens e serviços. É trabalho tanto a atividade do operário de uma indústria como a do arquiteto que projeta os bens a serem produzidos por essa indústria. Assim, tanto a atividade manual como a atividade intelectual são trabalhos, desde que tenham resultado a obtenção de bens e serviços” (OLIVEIRA, 2001, p.97).