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GRAFISMO INDÍGENA 
UM PROJETO ENVOLVENTE DO INÍCIO AO FIM 
Trabalho desenvolvido em duas classes de 3º ano de Ensino Fundamental I, 
turmas da manhã e tarde. 
CARACTERÍSTICAS GERAIS DAS CLASSES: 
Nº DE ALUNOS: 40 
MENINOS: 16 
MENINAS: 24 
FAIXA ETÁRIA: 8 ANOS 
TODOS ALFABETIZADOS 
JUSTIFICATIVA: 
O presente projeto traz abordagens antropológicas relacionadas às origens dos 
povos, das civilizações, da disseminação cultural, da evolução deste “ser” cultural 
e de seu espaço na sociedade. 
Segundo a Doutora em Educação, Sônia Kramer a escola hoje tem um papel 
fundamental que nos deixa um questionamento reflexivo: “O que é básico na 
escola básica?”. Para ela, a riqueza da escola está em sua heterogeneidade e que 
esta não pode ser vista como um obstáculo. Proporcionar ao aluno, o acesso ao 
conhecimento científico, cultural, artístico é vital e “básico”. Assim, o indivíduo 
toma consciência de quem ele é, de onde ele veio, para onde vai e de que forma 
vai. 
Se os sujeitos têm uma estrutura de identidade social e cultural bem definida, pode 
de fato ser um agente transformador do meio em que vive.
É importante que o educador auxilie e favoreça a criação de “ambientes” 
propagadores de cultura, identidade social, étnica e de convivência integrada entre 
diferentes formas de pensamento e costumes, onde possa haver possibilidade de 
coexistência entre grupos sociais, religiosos, políticos e dando aos sujeitos o que é 
seu de direito. 
A prática da cidadania tem suas bases no respeito à diversidade e na auto-afirmação 
como povo multi-étnico que somos. 
Para Kramer, a escola é o espaço adequado e ideal para a construção dos seres 
que farão parte de uma sociedade com atitudes éticas que sabem de onde vêm e 
o que querem. Assim sendo, têm condições de caminhar em direção à busca de 
justiça social de forma ativa. 
Com relação aos aspectos artísticos, surgem diálogos com relação à produção 
cultural. A criança manifesta-se através da produção artística, transmitindo seu 
universo, seu conhecimento, sua visão de mundo, suas interpretações e portanto, 
produtora de cultura. Somos seres produtores de cultura. 
Lux Vidal em seu livro, “Grafismo Indígena”, aborda questões antropológicas do 
índio brasileiro, através de estudos sobre a linguagem, expressão artística e 
estrutura social destes povos. Trata da formação cultural indígena desde a pré-história 
e sua evolução até hoje. 
Embora o enfoque do livro seja a apresentação da produção artística indígena em 
suas diversas modalidades e destaca então o grafismo, o trabalho é permeado por 
discussões antropológicas que dão significado à linguagem artística e auxiliam na 
sua interpretação. 
Rico em ilustrações e textos explicativos, Vidal proporciona ao leitor, uma 
extraordinária viagem pelo Brasil indígena. 
Como base do trabalho, estão as orientações metodológicas do material didático 
utilizado para as aulas de artes. 
Maristher Motta Bello, autora do material de artes da Editora Positivo, traz uma 
proposta abrangente sobre o conceito de arte e sua relação com o cotidiano da 
criança de forma a situá-la no tempo e no espaço, associando-a às suas origens e 
evolução. 
As abordagens de Grafismo iniciam pela pré-história e o início da linguagem 
gráfica humana como forma e necessidade de comunicar-se, deixar suas 
impressões registradas para as futuras gerações. De modo contextualizado, 
mostra à criança que temos uma origem e que em cada parte do mundo, temos 
diferentes comportamentos e crenças e por isso, tantas formas de expressões 
artísticas. 
Bello, quando abre o capítulo de Grafismo Indígena, situa a criança no universo 
cultural do povo indígena. A criança tem a possibilidade de descobrir como eram e 
são as estruturas familiares deste povo, como os costumes se perpetuaram 
através dos tempos e que as ações cotidianas estão diretamente ligadas a esta 
visão cultural. 
Desta forma, a criança é capaz de mobilizar seus conhecimentos acerca de sua 
própria história e contexto familiar, de modo a perceber que existem diferentes 
modos de viver e que influenciam também a nossa cultura. A criança elabora 
questionamentos e comparações de sua realidade hoje, com a realidade de 
gerações passadas e de outros povos. 
Este contexto de debate se faz necessário na contemporaneidade, uma vez que 
há necessidade de reflexão que promova a ação dos sujeitos em direção à 
construção da sua identidade social, cultural, étnica e principalmente de sua auto-estima.
OBJETIVOS GERAIS: 
Promover uma discussão acerca da diversidade étnica, social e cultural no Brasil e 
no mundo. 
Estabelecer uma relação entre a produção cultural, expressão, linguagem e a arte. 
Perceber a formação social de um grupo, seus hábitos e sua integração com o 
mundo que o cerca. A relação do homem com o seu habitat, com seu grupo, 
utilizando dos recursos de que dispõe para a sua sobrevivência. 
Compreender as relações de tempo, espaço e cultura e sua influência na 
identidade social do povo brasileiro. 
OBJETIVOS ESPECÍFICOS: 
Trazer o grupo para uma reflexão sobre o “diferente” e o “igual”. 
Levantar questões comportamentais pertinentes à diversidade social e cultural no 
Brasil. 
Levar a criança a perceber que faz parte deste contexto social e que carrega 
heranças desta diversidade. 
Promover debate sobre a importância de se cultivar a própria história a fim de 
construir identidade cultural e respeito às diferentes manifestações e hábitos de 
uma comunidade ou grupo social. 
Estabelecer um vínculo entre a cultura e a produção artística de um povo. 
Mostrar como os povos indígenas viviam, vivem e como produzem sua arte. 
Dar a criança, a possibilidade de vivenciar e experimentar empiricamente, as 
etapas de construção do grafismo indígena de forma a concretizar o estudo e 
contextualizar a produção artística. 
Levar à uma mudança atitudinal em relação ao grupo/classe, grupo familiar, grupo 
social em que vive, de modo com ética e respeito ao que é “diferente” dela. 
FATOR DE MOTIVAÇÃO/MOBILIZAÇÃO: 
Múltiplas possibilidades de desenvolvimento do tema, importância das abordagens 
antropológicas, históricas, sociais, culturais e a experimentação artística 
concretizando a vivência do processo de criação dos grafismos. 
Exercício da linguagem gráfica como modo de expressão e de manifestação 
cultural. 
DESENVOLVIMENTO: 
O tema inicial surgiu a partir da arte e dos estudos relacionados à arte indígena 
brasileira. 
Com base no livro de Lux Vidal e no material de apoio das apostilas utilizadas para 
o ensino de artes, o processo se deu de forma a integrar o grupo de crianças ao 
universo cultural e social das comunidades indígenas brasileiras, desde os 
períodos mais remotos da história.
A classe já havia trabalhado em seus conteúdos, com as suas respectivas 
professoras titulares, as características das diversas famílias em diferentes tempos 
históricos. Tanto famílias urbanas, quanto residentes na área rural. Usos e 
costumes, hierarquia familiar, comportamentos sociais e hábitos cotidianos. O que 
foi de estrema importância para o projeto, uma vez que as crianças já acrescidas 
de alguns conhecimentos prévios puderam exercer com propriedade comentários 
relativos à vida das famílias indígenas. 
Num primeiro momento, as crianças foram levadas ao campus da escola, num dia 
ensolarado e agradável. Sentamos embaixo das árvores, numa roda e começamos 
a “investigar” o que os livros trariam de novidades. As ilustrações dos objetos, dos 
grafismos, das crianças desenhando, das crianças brincando, das mamães 
preparando os alimentos e pintando a pele de seus pequenos causou curiosidade 
e provocou um dominó de questionamentos. 
As crianças perguntavam a todo instante sobre a ausência de vestes nos povos 
indígenas. Algo inconcebível no ponto de vista das crianças. 
“-Como pode isso? Eles não sentiam vergonha? Não sentiam frio? Olha só, os 
peitos das mulheres... estão de fora, ui, ui, ui!” 
Os cochichos constantes, comentários insistentes e ares de indignação visíveis 
possibilitaram uma conversa mais abrangente sobre os hábitos culturais deste 
povo. 
Observavam atentamente as fotos comparando à sua realidade. Curiosamente 
apareceu uma foto onde meninas brincavam com suas bonecas, assim como 
também nossas crianças o fazem naturalmente. O detalhe observado, além das 
meninas estarem sem roupas, foi o fato de as bonecas terem pinturas semelhantes 
às pinturas corporais utilizadas pelo grupo indígena. Então fizemos o exercício de 
saber como nossas meninas brincam com suas bonecas. A descoberta do grupo 
rumou para o que em geral se considera a imitação do mundo adulto. As meninas 
disseram que cortam os cabelos de suas bonecas, algumas até relataram em alto 
e bom tom: 
“-Fiz chapinha na minha boneca, mas o cabelo dela grudou todinho.” 
Confessaram já ter passado batom e esmalte em suas bonecas novinhas... Mas, o 
que é isso senão a transformação de comportamentos, imitação dom universo
cultural ao qual estamos atrelados e inseridos como sujeitos ativos. As crianças 
ainda mais, por seu estado de busca constante de respostas. 
Conversamos também sobre hábitos alimentares e sua influência na nossa 
alimentação, o enriquecimento de nosso vocabulário em função da derivação de 
palavras indígenas. Abordagem das diversas povoações indígenas brasileiras, 
espalhadas em todo o território nacional e suas reminiscências hoje. 
Ficaram evidentes as heranças culturais percebidas pelas crianças. Surgiram 
depoimentos sobre as descendências das crianças e sobre como em uma sala de 
aula existem tantas diferenças, tantas origens, tantos sotaques, ao passo que 
somos todos brasileiros. 
Sempre com olhares atentos, opinavam e formulavam suas hipóteses com 
segurança, pois estavam à vontade com o tema. Possuíam um repertório próprio e 
condições plenas de argumentação, uma vez que já haviam estudado diferentes 
famílias anteriormente nos conteúdos de história. 
Em seguida, focamos a arte propriamente dita, com suas particularidades e 
significados. 
As crianças puderam perceber as diferenças e semelhanças entre suas produções 
artísticas e as das crianças indígenas e admiraram-se ao descobrir que lá, os 
pequenos começam a desenhar desde a mais tenra idade. Outro fator importante a 
destacar é o fato de que as crianças são ensinadas e conduzidas pelos membros 
mais velhos das tribos e que estes são respeitados em sua hierarquia como forma 
de valorização da sabedoria da experiência, preservação da cultura do povo, 
organização social das comunidades e como indivíduos “cuidadores” das crianças. 
Todos são responsáveis pelas crianças da comunidade. As crianças são 
protegidas e a mulher é respeitada em seu papel de mãe, genitora, guerreira e 
alicerce do lar. 
Tantas informações, tanta curiosidade proporcionaram um aprendizado gostoso e 
integral sobre o assunto. 
Descobrir que aqueles desenhos têm seu significado e que não são apenas 
simples desenhos, mas são uma forma de comunicação foi radiante. Sabendo 
disto já das aulas sobre a pré-história, ficavam atônitos em saber o que significaria 
isso ou aquilo, tentando a todo instante, formular suas hipóteses sobre o formato 
dos grafismos. O olho de águia, as asas das borboletas, a pele dos animais, as 
texturas das folhas, a imersão no mundo natural. É poético? Sim, é. Mas é mais do 
que isso. As crianças foram percebendo o imenso apreço e respeito pela natureza. 
Perceberam que os índios cuidam, valorizam aquela que lhes dá o sustento da 
vida e que é dela a origem dos seus grafismos de sua arte, como uma reverência à 
“mãe natureza”. Olhem a importância deste discurso. Principalmente nos dias 
atuais, sobretudo nas urgências em preservar a água e todos os demais elementos 
da natureza. 
Não é necessário dizer que o grupo, diante de tanta informação substancial, 
transformou suas fisionomias de curiosidade a espanto em segundos. Não é 
necessário ressaltar que toda esta informação foi questionada à exaustão pelas 
crianças, ávidas por saber, por saciar sua curiosidade e sede de conhecimento. 
Este processo de conversa foi gradativo e na medida que surgiam novas 
perguntas, novos diálogos eram estabelecidos e maturados. 
Em meio à natureza, buscaram objetos como folhas, pinhas, galhos secos, cascas 
secas ou qualquer tipo de elemento natural que encontrassem. Com uma regra 
primordial: não valiam objetos arrancados da natureza, só os que já estavam pelo 
chão e trazidos pelo vendo ou derrubados pelas árvores.
Cada criança juntou o que podia e o que mais lhe chamou atenção. Já na coleta, 
procuravam traços e desenhos em seus objetos. Alguns enchiam suas blusas e 
seus bolsos de folhinhas, pedrinhas e pinhas, temendo perder tudo pelo caminho. 
Tudo foi acomodado em uma caixa e guardado no atelier para a próxima aula... 
A semana demorava a passar, pelos corredores me perguntavam o tempo todo: 
“-Quando teremos aula de novo?” 
E quando chegava o dia, os olhares atentos, silenciosos, mas muito curiosos 
aguardavam a ordem do dia. 
A primeira fase do trabalho prático fora recolher os objetos. Na segunda fase, a 
tarefa foi observar atentamente cada objeto e buscar neles as expressões das 
linhas, das texturas, relevos, superfícies, desenhos, possíveis formas geométricas 
e suas cores. Num papel, deveriam esboçar seus primeiros traços de grafismo, 
sem preocupação de espaço, tamanho, nem com relação ao uso do papel. Cada 
um em sua mesa olhava bem de perto seu objeto e tentava arrancar-lhe 
expressões. No papel, os traços surgiam. Foi maravilhoso observar o nascimento 
do grafismo, genuíno, puro e em sua essência pelas crianças.
folha 
folha da foto acima
materiais diversos 
associação com elementos primitivos, busca de formas de animais 
pinha 
Esta primeira etapa do desenho, ainda sugeria certa insegurança e aos poucos, o 
grupo foi exercitando a abstração. Este conceito não é facilmente assimilado por 
eles. Mas o exercício contínuo e as seguidas visualizações e consultas aos livros 
foi o trampolim da criação magna, O GRAFISMO de cada um. 
Quando terminavam de rabiscar a folha, imediatamente iniciavam mais 
experimentos no verso desta. Utilizei duas aulas inteirinhas para esta prática.
Mais adiante, de posse de um papel mais resistente e sofisticado, o grupo iniciou a 
atividade de criação de puro abastracionismo. Cada um, deveria criar suas barras 
de grafismo, baseados nos exercícios anteriores, nos objetos coletados e em tudo 
o que já havíamos estudado sobre o assunto. Desta vez, os desenhos seriam 
coloridos. Optamos por usar duas cores, o preto e o vermelho.
chamou-me a atenção o estilo da pintura
Tive a oportunidade de levar algumas amostras de “urucum” para a sala e explicar-lhes 
os usos da planta. 
Todos os trabalhos foram tomando forma e cores. Quanto mais desenhavam, mais 
se admiravam com a própria produção. 
Este processo é de suma importância nas práticas artísticas, pois a criança passa 
de sujeito observador a sujeito autor, criador de sua própria obra. Fortalece sua 
auto-estima e auto-confiança. Neste momento, a criança se encaixa em seu grupo 
como produtora de arte, de cultura, de “textos” que embora não literários, são a 
mais pura expressão de suas vivências anteriores. Discurso que é literalmente 
reforçado pela Doutora em Educação, Sônia Kramer. 
Cada etapa do desenvolvimento deste trabalho foi cuidadosamente elaboraço e 
vivenciado pelo grupo, provando que quanto mais o tema se aproximar da 
realidade da criança, de sua experiência cotidiana, mais lhe fará sentido, mais 
despertará seu interesse e avidez pelo conhecimento. A teoria se transforma em 
realidade significativa. 
Com o projeto chegando ao final, pois a data da mostra se aproximava como que 
“a passos largos” e nós dispúnhamos de apenas 1 aula semanal de 50 minutos, 
não houve a possibilidade e o tempo hábil para a produção de peças de cerâmica, 
assim como os índios o faziam. Então optei por peças prontas e já existentes na 
escola. Para a turma da manhã, arranjei vasinhos de cerâmica e para a tarde, 
telhas – estas que cobrem as casas mesmo! Lavei as peças e distribuí aos grupos 
solicitando que desenhassem os grafismos criados por eles. E sempre tem aquela 
perguntinha básica:
“-Mas se eu quiser, posso mudar o desenho professora?” ou ainda, “-Posso fazer 
do meu jeito?” 
Claro que eles sempre têm voz ativa e como não ceder aos insistentes apelos à 
criatividade e as mudanças? 
E durante alguns dias, iam e vinham com estas peças – pé por pé – da sala de 
aula para o atelier e do atelier para a sala de aula. Os objetos não podiam quebrar. 
Quando finalmente chegou o momento de inserir a tinta... ah... a tinta! Esta que é a 
razão de ser das crianças. Sonho de consumo nas aulas de artes... risos.
Foi para mim, uma experiência imensamente prazerosa, pois me preparei 
bastante, li muito, estudei todos os aspectos e pensei muito sobre os trabalhos 
práticos. Emocionava-me a cada etapa vencida e mais ainda, quando via aqueles 
processos de criação nascendo da alma deles, não contive as expressões 
admiradas e extasiadas. 
O grupo me surpreendia a cada momento com novidades e novas conclusões.
Tudo foi registrado em fotos. Tudo foi registrado no coração. 
Sensação indescritível. 
Por fim, a exposição aconteceu juntamente com a apresentação teatral do 
Fundamental, exatamente no dia 27 de setembro de 2008, para coroar com louvor 
todo o trabalho das crianças. 
Depois, em outra data, aconteceu o Evento Cultural do Colégio e mais uma vez os 
trabalhos estiveram em exposição para o deleite de todos.
Não posso esquecer de mencionar que todas as produções de cerâmica, ainda 
foram expostas na Escola Japonesa durante duas semanas, retornando para o 
berço de criação com muitos elogios às crianças. 
Dentre todos os trabalhos desenvolvidos em sala de aula com estas classes de 3º 
ano, tenho a certeza de que este projeto foi o mais marcante, vivenciado e 
emocionante que tiveram neste ano.
MATERIAIS UTILIZADOS: 
Para estes dois meses de trabalho intenso, o material usado foi simples, de fácil 
acesso e proporcionou aproveitamento excelente do grupo. 
Usamos folhas de papel sulfite para o rascunho, papel canson para as etapas mais 
elaboradas, lápis de cor, peças de cerâmica e tinta guache. 
AVALIAÇÃO: 
A disciplina de Artes não vem carregada de provas com questões e relatórios 
sobre cada atividade realizada. 
A avaliação se dá pela observação constante da participação individual do aluno, 
das manifestações do grupo, da concentração e absorção deles durante a 
realização das atividades práticas e pelo nível qualitativo de sua produção. 
Os processos de criação foram observados atentamente. Os níveis de diálogo 
estabelecidos entre o grupo/classe e também entre eles e eu, foi o “termômetro” do 
aproveitamento dos conteúdos discutidos informalmente, mas absorvidos de forma 
concreta e envolvente. 
O grupo aproveitou 100% do projeto.
Isso se deu pelo fato de o tema estar relacionado a conteúdos anteriores que 
deram subsídios prévios e condições às crianças de opinarem, argumentarem e 
formularem suas conclusões. O fato de abordarmos constantemente os hábitos da 
criança indígena despertou muito interesse. Foi como se observassem a vida de 
outros iguais a eles, de mesma faixa etária, ou seja, fez parte do universo real da 
criança. 
O saldo foi positivo em todos os aspectos. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS: 
Um projeto traz em si, compartimentos “secretos” que muitas vezes só são 
descobertos no meio do processo ou quase no final. Em algumas situações, o 
educador é forçado a mudar a rota dos “vagões” para que o trem não descarrile. 
Pode ser uma “caixinha de surpresas” e a todo instante, as descobertas coletivas 
se fazem presentes, trazendo novas informações sobre os rumos que este deve 
seguir. 
No caso deste Projeto sobre Grafismo Indígena, embora o ponto de partida tenha 
sido um conteúdo apresentado dentro do material didático adotado pelo Colégio, 
deu margem a desdobramentos que possibilitaram discussões pertinentes, 
importantes, prementes e significativas. 
É importante ressaltar que este projeto foi idealizado antes de iniciar, não foi 
crescendo e sendo acrescentado com etapas na medida em que o grupo 
avançava. O que deu vazão aos constantes diálogos e que possibilitou uma “cara” 
diferente aos estudos foi o viés social e cultural claramente apresentado pelo 
próprio tema abordado. 
À medida que as crianças percebiam as semelhanças e as diferenças entre as 
comunidades indígenas e eles, foram sendo criadas correntes de perguntas e 
respostas que resultaram em conhecimento. 
Por se tratar de uma abordagem inicialmente artística, a curiosidade primeira das 
crianças é: 
“Tia, o que nós vamos fazer hoje?” 
Como o assunto foi sendo revelado aos poucos, a aura de mistério envolveu e 
prendeu a atenção deles até o fim. 
Instigar o oculto, o diferente, o mistério, as descobertas, a fantasia contraposta à 
realidade. O mito e o real. Um “prato cheio” para a fome de conhecimento natural 
das crianças. 
Conteúdo que se preso somente às questões artísticas, teria um fim em si mesmo 
e seria mais uma produção artesanal. Tornou-se Arte pura quando teve agregado 
a ele, significados culturais, temas humanos, temas reais, vida real, vida social, 
identidade cultural. 
Trabalhos como este que amarram todas as possibilidades de discussão, trazendo 
à tona os anseios dos alunos e atendendo às suas necessidades auxiliam em 
mudanças de atitude frente ao outro, frente à família e ao grupo social onde está 
inserida. 
Pois a criança se dá conta de que é única, é diferente das outras, ao mesmo 
tempo é igual, mas suas origens são diferentes, no entanto nasceu no mesmo país 
que as demais. Percebido sob este olhar, podemos afirmar que é “louco” pensar 
sobre todos estes aspectos ao mesmo tempo. 
Mas esquecemos da imensa capacidade da criança de absorver o todo, antes de 
“fatiar” para deglutir. A criança observa o doce inteiro, ela o deseja inteiro, só para 
ela. E somente quando o tem em suas mãos é capaz de perceber que pode e deve 
dividi-lo com os demais.
Porque compartimentar tudo antes de dar a ela a possibilidade de fazê-lo sozinha? 
Seria subestimá-la. 
Como educadora, participar desta construção com este grupo especificamente foi 
uma experiência inusitada. Embora eu tenha planejado as etapas de 
desenvolvimento artístico, com seus materiais e tempo hábil para a realização de 
tudo, não esperava tamanha cooperação e envolvimento. Do mesmo modo que 
me preparei para o conteúdo artístico, fui impelida a vasculhar todas as áreas do 
conhecimento para atender à demanda que surgia a cada encontro na aula. 
Levei conhecimento ao grupo e recebi conhecimento deles. Motivei-os ao trabalho 
e eles me instigaram à pesquisa. 
Senti falta de tempo para poder explorar mais os recursos tecnológicos disponíveis 
e em algumas etapas do trabalho, fiquei “na mão” com a bateria de minha máquina 
fotográfica. Senti vontade de registrar cada instante, cada suspiro, cada 
exclamação, como que num desejo impetuoso de perpetuar e “congelar” aqueles 
olhares sedentos e cheios de brilho próprio. É como se eu precisasse guardar tudo 
dentro da câmera, para não perder nenhum segundo diante de tanta beleza. 
São experiências como estas que nos pegam de “calças curtas” e nos mostram o 
quanto somos pequenos diante da grandiosidade do mundo e de todo o 
conhecimento produzido pelo homem desde a pré-história. 
Posso dizer que as produções das crianças neste projeto viraram meus objetos de 
apego (risos). 
Há algum tempo li um texto sobre gostos musicais e sua construção desde a 
infância e da importância deste processo. Pois bem, não me recordo no momento 
de quem é o dito, mas se encontrava numa publicação da educadora Luciana 
Ostetto e era mais ou menos assim: 
Para quem nunca tomou chá, qualquer erva serve. Mas se tomamos chá todos os 
dias, com o tempo desenvolvemos a capacidade de discernir o aroma, o sabor e 
as propriedades de cada planta. 
Parece primário e óbvio, mas é de uma sabedoria profunda e verdadeira. Sem 
falar, no direito da criança, a saber, sobre o mundo em que vive o direito da 
criança de ver tudo e o dever do educador de mostrar-lhe este leque. Nós somos 
os olhos dos pequenos. Nós somos, muitas vezes, a voz destes pequenos. Nós 
somos construtores, eles são tijolinhos. 
Dar a criança o direito de exercer a sua cidadania, de ser sujeito ativo em sua 
existência, dar a ela condições de decidir, ter iniciativa, discernir, escolher... 
escolher. O direito de escolher seu caminho no futuro é construído no jardim de 
infância. 
Funções importantes, direitos adquiridos, deveres firmados, um papel importante, 
o de ajudar a criança a elaborar e construir sua identidade enquanto brasileira. 
Não importando sua origem, sua raça, sua cor, sua condição social e sua crença 
religiosa. A criança é antes disso tudo um ser digno de respeito, um semelhante, 
um indivíduo que se desenvolve e que nunca pára de aprender e que apesar de 
todas as diferenças existentes entre os grupos sociais, são todos cidadão 
brasileiros. 
Uma nação multiétnica que precisa urgentemente aprender a construir sua 
identidade nacional. 
Por 
Dagmar Amsberg 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Apostila de Arte do Positivo 2008 
1º ano do Ensino Fundamental. 
Apostila de Arte do Positivo 2008 
3º ano do Ensino Fundamental. 
VIDAL, Lux (org.). Grafismo Indígena. 
EDUSP, São Paulo 
KRAMER, Sônia e Maria Leite (orgs.). Infância e produção cultural. 
Papirus. Campinas/SP, 1998.

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Grafismo indígena

  • 1. GRAFISMO INDÍGENA UM PROJETO ENVOLVENTE DO INÍCIO AO FIM Trabalho desenvolvido em duas classes de 3º ano de Ensino Fundamental I, turmas da manhã e tarde. CARACTERÍSTICAS GERAIS DAS CLASSES: Nº DE ALUNOS: 40 MENINOS: 16 MENINAS: 24 FAIXA ETÁRIA: 8 ANOS TODOS ALFABETIZADOS JUSTIFICATIVA: O presente projeto traz abordagens antropológicas relacionadas às origens dos povos, das civilizações, da disseminação cultural, da evolução deste “ser” cultural e de seu espaço na sociedade. Segundo a Doutora em Educação, Sônia Kramer a escola hoje tem um papel fundamental que nos deixa um questionamento reflexivo: “O que é básico na escola básica?”. Para ela, a riqueza da escola está em sua heterogeneidade e que esta não pode ser vista como um obstáculo. Proporcionar ao aluno, o acesso ao conhecimento científico, cultural, artístico é vital e “básico”. Assim, o indivíduo toma consciência de quem ele é, de onde ele veio, para onde vai e de que forma vai. Se os sujeitos têm uma estrutura de identidade social e cultural bem definida, pode de fato ser um agente transformador do meio em que vive.
  • 2. É importante que o educador auxilie e favoreça a criação de “ambientes” propagadores de cultura, identidade social, étnica e de convivência integrada entre diferentes formas de pensamento e costumes, onde possa haver possibilidade de coexistência entre grupos sociais, religiosos, políticos e dando aos sujeitos o que é seu de direito. A prática da cidadania tem suas bases no respeito à diversidade e na auto-afirmação como povo multi-étnico que somos. Para Kramer, a escola é o espaço adequado e ideal para a construção dos seres que farão parte de uma sociedade com atitudes éticas que sabem de onde vêm e o que querem. Assim sendo, têm condições de caminhar em direção à busca de justiça social de forma ativa. Com relação aos aspectos artísticos, surgem diálogos com relação à produção cultural. A criança manifesta-se através da produção artística, transmitindo seu universo, seu conhecimento, sua visão de mundo, suas interpretações e portanto, produtora de cultura. Somos seres produtores de cultura. Lux Vidal em seu livro, “Grafismo Indígena”, aborda questões antropológicas do índio brasileiro, através de estudos sobre a linguagem, expressão artística e estrutura social destes povos. Trata da formação cultural indígena desde a pré-história e sua evolução até hoje. Embora o enfoque do livro seja a apresentação da produção artística indígena em suas diversas modalidades e destaca então o grafismo, o trabalho é permeado por discussões antropológicas que dão significado à linguagem artística e auxiliam na sua interpretação. Rico em ilustrações e textos explicativos, Vidal proporciona ao leitor, uma extraordinária viagem pelo Brasil indígena. Como base do trabalho, estão as orientações metodológicas do material didático utilizado para as aulas de artes. Maristher Motta Bello, autora do material de artes da Editora Positivo, traz uma proposta abrangente sobre o conceito de arte e sua relação com o cotidiano da criança de forma a situá-la no tempo e no espaço, associando-a às suas origens e evolução. As abordagens de Grafismo iniciam pela pré-história e o início da linguagem gráfica humana como forma e necessidade de comunicar-se, deixar suas impressões registradas para as futuras gerações. De modo contextualizado, mostra à criança que temos uma origem e que em cada parte do mundo, temos diferentes comportamentos e crenças e por isso, tantas formas de expressões artísticas. Bello, quando abre o capítulo de Grafismo Indígena, situa a criança no universo cultural do povo indígena. A criança tem a possibilidade de descobrir como eram e são as estruturas familiares deste povo, como os costumes se perpetuaram através dos tempos e que as ações cotidianas estão diretamente ligadas a esta visão cultural. Desta forma, a criança é capaz de mobilizar seus conhecimentos acerca de sua própria história e contexto familiar, de modo a perceber que existem diferentes modos de viver e que influenciam também a nossa cultura. A criança elabora questionamentos e comparações de sua realidade hoje, com a realidade de gerações passadas e de outros povos. Este contexto de debate se faz necessário na contemporaneidade, uma vez que há necessidade de reflexão que promova a ação dos sujeitos em direção à construção da sua identidade social, cultural, étnica e principalmente de sua auto-estima.
  • 3. OBJETIVOS GERAIS: Promover uma discussão acerca da diversidade étnica, social e cultural no Brasil e no mundo. Estabelecer uma relação entre a produção cultural, expressão, linguagem e a arte. Perceber a formação social de um grupo, seus hábitos e sua integração com o mundo que o cerca. A relação do homem com o seu habitat, com seu grupo, utilizando dos recursos de que dispõe para a sua sobrevivência. Compreender as relações de tempo, espaço e cultura e sua influência na identidade social do povo brasileiro. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: Trazer o grupo para uma reflexão sobre o “diferente” e o “igual”. Levantar questões comportamentais pertinentes à diversidade social e cultural no Brasil. Levar a criança a perceber que faz parte deste contexto social e que carrega heranças desta diversidade. Promover debate sobre a importância de se cultivar a própria história a fim de construir identidade cultural e respeito às diferentes manifestações e hábitos de uma comunidade ou grupo social. Estabelecer um vínculo entre a cultura e a produção artística de um povo. Mostrar como os povos indígenas viviam, vivem e como produzem sua arte. Dar a criança, a possibilidade de vivenciar e experimentar empiricamente, as etapas de construção do grafismo indígena de forma a concretizar o estudo e contextualizar a produção artística. Levar à uma mudança atitudinal em relação ao grupo/classe, grupo familiar, grupo social em que vive, de modo com ética e respeito ao que é “diferente” dela. FATOR DE MOTIVAÇÃO/MOBILIZAÇÃO: Múltiplas possibilidades de desenvolvimento do tema, importância das abordagens antropológicas, históricas, sociais, culturais e a experimentação artística concretizando a vivência do processo de criação dos grafismos. Exercício da linguagem gráfica como modo de expressão e de manifestação cultural. DESENVOLVIMENTO: O tema inicial surgiu a partir da arte e dos estudos relacionados à arte indígena brasileira. Com base no livro de Lux Vidal e no material de apoio das apostilas utilizadas para o ensino de artes, o processo se deu de forma a integrar o grupo de crianças ao universo cultural e social das comunidades indígenas brasileiras, desde os períodos mais remotos da história.
  • 4. A classe já havia trabalhado em seus conteúdos, com as suas respectivas professoras titulares, as características das diversas famílias em diferentes tempos históricos. Tanto famílias urbanas, quanto residentes na área rural. Usos e costumes, hierarquia familiar, comportamentos sociais e hábitos cotidianos. O que foi de estrema importância para o projeto, uma vez que as crianças já acrescidas de alguns conhecimentos prévios puderam exercer com propriedade comentários relativos à vida das famílias indígenas. Num primeiro momento, as crianças foram levadas ao campus da escola, num dia ensolarado e agradável. Sentamos embaixo das árvores, numa roda e começamos a “investigar” o que os livros trariam de novidades. As ilustrações dos objetos, dos grafismos, das crianças desenhando, das crianças brincando, das mamães preparando os alimentos e pintando a pele de seus pequenos causou curiosidade e provocou um dominó de questionamentos. As crianças perguntavam a todo instante sobre a ausência de vestes nos povos indígenas. Algo inconcebível no ponto de vista das crianças. “-Como pode isso? Eles não sentiam vergonha? Não sentiam frio? Olha só, os peitos das mulheres... estão de fora, ui, ui, ui!” Os cochichos constantes, comentários insistentes e ares de indignação visíveis possibilitaram uma conversa mais abrangente sobre os hábitos culturais deste povo. Observavam atentamente as fotos comparando à sua realidade. Curiosamente apareceu uma foto onde meninas brincavam com suas bonecas, assim como também nossas crianças o fazem naturalmente. O detalhe observado, além das meninas estarem sem roupas, foi o fato de as bonecas terem pinturas semelhantes às pinturas corporais utilizadas pelo grupo indígena. Então fizemos o exercício de saber como nossas meninas brincam com suas bonecas. A descoberta do grupo rumou para o que em geral se considera a imitação do mundo adulto. As meninas disseram que cortam os cabelos de suas bonecas, algumas até relataram em alto e bom tom: “-Fiz chapinha na minha boneca, mas o cabelo dela grudou todinho.” Confessaram já ter passado batom e esmalte em suas bonecas novinhas... Mas, o que é isso senão a transformação de comportamentos, imitação dom universo
  • 5. cultural ao qual estamos atrelados e inseridos como sujeitos ativos. As crianças ainda mais, por seu estado de busca constante de respostas. Conversamos também sobre hábitos alimentares e sua influência na nossa alimentação, o enriquecimento de nosso vocabulário em função da derivação de palavras indígenas. Abordagem das diversas povoações indígenas brasileiras, espalhadas em todo o território nacional e suas reminiscências hoje. Ficaram evidentes as heranças culturais percebidas pelas crianças. Surgiram depoimentos sobre as descendências das crianças e sobre como em uma sala de aula existem tantas diferenças, tantas origens, tantos sotaques, ao passo que somos todos brasileiros. Sempre com olhares atentos, opinavam e formulavam suas hipóteses com segurança, pois estavam à vontade com o tema. Possuíam um repertório próprio e condições plenas de argumentação, uma vez que já haviam estudado diferentes famílias anteriormente nos conteúdos de história. Em seguida, focamos a arte propriamente dita, com suas particularidades e significados. As crianças puderam perceber as diferenças e semelhanças entre suas produções artísticas e as das crianças indígenas e admiraram-se ao descobrir que lá, os pequenos começam a desenhar desde a mais tenra idade. Outro fator importante a destacar é o fato de que as crianças são ensinadas e conduzidas pelos membros mais velhos das tribos e que estes são respeitados em sua hierarquia como forma de valorização da sabedoria da experiência, preservação da cultura do povo, organização social das comunidades e como indivíduos “cuidadores” das crianças. Todos são responsáveis pelas crianças da comunidade. As crianças são protegidas e a mulher é respeitada em seu papel de mãe, genitora, guerreira e alicerce do lar. Tantas informações, tanta curiosidade proporcionaram um aprendizado gostoso e integral sobre o assunto. Descobrir que aqueles desenhos têm seu significado e que não são apenas simples desenhos, mas são uma forma de comunicação foi radiante. Sabendo disto já das aulas sobre a pré-história, ficavam atônitos em saber o que significaria isso ou aquilo, tentando a todo instante, formular suas hipóteses sobre o formato dos grafismos. O olho de águia, as asas das borboletas, a pele dos animais, as texturas das folhas, a imersão no mundo natural. É poético? Sim, é. Mas é mais do que isso. As crianças foram percebendo o imenso apreço e respeito pela natureza. Perceberam que os índios cuidam, valorizam aquela que lhes dá o sustento da vida e que é dela a origem dos seus grafismos de sua arte, como uma reverência à “mãe natureza”. Olhem a importância deste discurso. Principalmente nos dias atuais, sobretudo nas urgências em preservar a água e todos os demais elementos da natureza. Não é necessário dizer que o grupo, diante de tanta informação substancial, transformou suas fisionomias de curiosidade a espanto em segundos. Não é necessário ressaltar que toda esta informação foi questionada à exaustão pelas crianças, ávidas por saber, por saciar sua curiosidade e sede de conhecimento. Este processo de conversa foi gradativo e na medida que surgiam novas perguntas, novos diálogos eram estabelecidos e maturados. Em meio à natureza, buscaram objetos como folhas, pinhas, galhos secos, cascas secas ou qualquer tipo de elemento natural que encontrassem. Com uma regra primordial: não valiam objetos arrancados da natureza, só os que já estavam pelo chão e trazidos pelo vendo ou derrubados pelas árvores.
  • 6.
  • 7. Cada criança juntou o que podia e o que mais lhe chamou atenção. Já na coleta, procuravam traços e desenhos em seus objetos. Alguns enchiam suas blusas e seus bolsos de folhinhas, pedrinhas e pinhas, temendo perder tudo pelo caminho. Tudo foi acomodado em uma caixa e guardado no atelier para a próxima aula... A semana demorava a passar, pelos corredores me perguntavam o tempo todo: “-Quando teremos aula de novo?” E quando chegava o dia, os olhares atentos, silenciosos, mas muito curiosos aguardavam a ordem do dia. A primeira fase do trabalho prático fora recolher os objetos. Na segunda fase, a tarefa foi observar atentamente cada objeto e buscar neles as expressões das linhas, das texturas, relevos, superfícies, desenhos, possíveis formas geométricas e suas cores. Num papel, deveriam esboçar seus primeiros traços de grafismo, sem preocupação de espaço, tamanho, nem com relação ao uso do papel. Cada um em sua mesa olhava bem de perto seu objeto e tentava arrancar-lhe expressões. No papel, os traços surgiam. Foi maravilhoso observar o nascimento do grafismo, genuíno, puro e em sua essência pelas crianças.
  • 8. folha folha da foto acima
  • 9. materiais diversos associação com elementos primitivos, busca de formas de animais pinha Esta primeira etapa do desenho, ainda sugeria certa insegurança e aos poucos, o grupo foi exercitando a abstração. Este conceito não é facilmente assimilado por eles. Mas o exercício contínuo e as seguidas visualizações e consultas aos livros foi o trampolim da criação magna, O GRAFISMO de cada um. Quando terminavam de rabiscar a folha, imediatamente iniciavam mais experimentos no verso desta. Utilizei duas aulas inteirinhas para esta prática.
  • 10. Mais adiante, de posse de um papel mais resistente e sofisticado, o grupo iniciou a atividade de criação de puro abastracionismo. Cada um, deveria criar suas barras de grafismo, baseados nos exercícios anteriores, nos objetos coletados e em tudo o que já havíamos estudado sobre o assunto. Desta vez, os desenhos seriam coloridos. Optamos por usar duas cores, o preto e o vermelho.
  • 11. chamou-me a atenção o estilo da pintura
  • 12. Tive a oportunidade de levar algumas amostras de “urucum” para a sala e explicar-lhes os usos da planta. Todos os trabalhos foram tomando forma e cores. Quanto mais desenhavam, mais se admiravam com a própria produção. Este processo é de suma importância nas práticas artísticas, pois a criança passa de sujeito observador a sujeito autor, criador de sua própria obra. Fortalece sua auto-estima e auto-confiança. Neste momento, a criança se encaixa em seu grupo como produtora de arte, de cultura, de “textos” que embora não literários, são a mais pura expressão de suas vivências anteriores. Discurso que é literalmente reforçado pela Doutora em Educação, Sônia Kramer. Cada etapa do desenvolvimento deste trabalho foi cuidadosamente elaboraço e vivenciado pelo grupo, provando que quanto mais o tema se aproximar da realidade da criança, de sua experiência cotidiana, mais lhe fará sentido, mais despertará seu interesse e avidez pelo conhecimento. A teoria se transforma em realidade significativa. Com o projeto chegando ao final, pois a data da mostra se aproximava como que “a passos largos” e nós dispúnhamos de apenas 1 aula semanal de 50 minutos, não houve a possibilidade e o tempo hábil para a produção de peças de cerâmica, assim como os índios o faziam. Então optei por peças prontas e já existentes na escola. Para a turma da manhã, arranjei vasinhos de cerâmica e para a tarde, telhas – estas que cobrem as casas mesmo! Lavei as peças e distribuí aos grupos solicitando que desenhassem os grafismos criados por eles. E sempre tem aquela perguntinha básica:
  • 13. “-Mas se eu quiser, posso mudar o desenho professora?” ou ainda, “-Posso fazer do meu jeito?” Claro que eles sempre têm voz ativa e como não ceder aos insistentes apelos à criatividade e as mudanças? E durante alguns dias, iam e vinham com estas peças – pé por pé – da sala de aula para o atelier e do atelier para a sala de aula. Os objetos não podiam quebrar. Quando finalmente chegou o momento de inserir a tinta... ah... a tinta! Esta que é a razão de ser das crianças. Sonho de consumo nas aulas de artes... risos.
  • 14. Foi para mim, uma experiência imensamente prazerosa, pois me preparei bastante, li muito, estudei todos os aspectos e pensei muito sobre os trabalhos práticos. Emocionava-me a cada etapa vencida e mais ainda, quando via aqueles processos de criação nascendo da alma deles, não contive as expressões admiradas e extasiadas. O grupo me surpreendia a cada momento com novidades e novas conclusões.
  • 15.
  • 16.
  • 17. Tudo foi registrado em fotos. Tudo foi registrado no coração. Sensação indescritível. Por fim, a exposição aconteceu juntamente com a apresentação teatral do Fundamental, exatamente no dia 27 de setembro de 2008, para coroar com louvor todo o trabalho das crianças. Depois, em outra data, aconteceu o Evento Cultural do Colégio e mais uma vez os trabalhos estiveram em exposição para o deleite de todos.
  • 18.
  • 19. Não posso esquecer de mencionar que todas as produções de cerâmica, ainda foram expostas na Escola Japonesa durante duas semanas, retornando para o berço de criação com muitos elogios às crianças. Dentre todos os trabalhos desenvolvidos em sala de aula com estas classes de 3º ano, tenho a certeza de que este projeto foi o mais marcante, vivenciado e emocionante que tiveram neste ano.
  • 20.
  • 21. MATERIAIS UTILIZADOS: Para estes dois meses de trabalho intenso, o material usado foi simples, de fácil acesso e proporcionou aproveitamento excelente do grupo. Usamos folhas de papel sulfite para o rascunho, papel canson para as etapas mais elaboradas, lápis de cor, peças de cerâmica e tinta guache. AVALIAÇÃO: A disciplina de Artes não vem carregada de provas com questões e relatórios sobre cada atividade realizada. A avaliação se dá pela observação constante da participação individual do aluno, das manifestações do grupo, da concentração e absorção deles durante a realização das atividades práticas e pelo nível qualitativo de sua produção. Os processos de criação foram observados atentamente. Os níveis de diálogo estabelecidos entre o grupo/classe e também entre eles e eu, foi o “termômetro” do aproveitamento dos conteúdos discutidos informalmente, mas absorvidos de forma concreta e envolvente. O grupo aproveitou 100% do projeto.
  • 22. Isso se deu pelo fato de o tema estar relacionado a conteúdos anteriores que deram subsídios prévios e condições às crianças de opinarem, argumentarem e formularem suas conclusões. O fato de abordarmos constantemente os hábitos da criança indígena despertou muito interesse. Foi como se observassem a vida de outros iguais a eles, de mesma faixa etária, ou seja, fez parte do universo real da criança. O saldo foi positivo em todos os aspectos. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Um projeto traz em si, compartimentos “secretos” que muitas vezes só são descobertos no meio do processo ou quase no final. Em algumas situações, o educador é forçado a mudar a rota dos “vagões” para que o trem não descarrile. Pode ser uma “caixinha de surpresas” e a todo instante, as descobertas coletivas se fazem presentes, trazendo novas informações sobre os rumos que este deve seguir. No caso deste Projeto sobre Grafismo Indígena, embora o ponto de partida tenha sido um conteúdo apresentado dentro do material didático adotado pelo Colégio, deu margem a desdobramentos que possibilitaram discussões pertinentes, importantes, prementes e significativas. É importante ressaltar que este projeto foi idealizado antes de iniciar, não foi crescendo e sendo acrescentado com etapas na medida em que o grupo avançava. O que deu vazão aos constantes diálogos e que possibilitou uma “cara” diferente aos estudos foi o viés social e cultural claramente apresentado pelo próprio tema abordado. À medida que as crianças percebiam as semelhanças e as diferenças entre as comunidades indígenas e eles, foram sendo criadas correntes de perguntas e respostas que resultaram em conhecimento. Por se tratar de uma abordagem inicialmente artística, a curiosidade primeira das crianças é: “Tia, o que nós vamos fazer hoje?” Como o assunto foi sendo revelado aos poucos, a aura de mistério envolveu e prendeu a atenção deles até o fim. Instigar o oculto, o diferente, o mistério, as descobertas, a fantasia contraposta à realidade. O mito e o real. Um “prato cheio” para a fome de conhecimento natural das crianças. Conteúdo que se preso somente às questões artísticas, teria um fim em si mesmo e seria mais uma produção artesanal. Tornou-se Arte pura quando teve agregado a ele, significados culturais, temas humanos, temas reais, vida real, vida social, identidade cultural. Trabalhos como este que amarram todas as possibilidades de discussão, trazendo à tona os anseios dos alunos e atendendo às suas necessidades auxiliam em mudanças de atitude frente ao outro, frente à família e ao grupo social onde está inserida. Pois a criança se dá conta de que é única, é diferente das outras, ao mesmo tempo é igual, mas suas origens são diferentes, no entanto nasceu no mesmo país que as demais. Percebido sob este olhar, podemos afirmar que é “louco” pensar sobre todos estes aspectos ao mesmo tempo. Mas esquecemos da imensa capacidade da criança de absorver o todo, antes de “fatiar” para deglutir. A criança observa o doce inteiro, ela o deseja inteiro, só para ela. E somente quando o tem em suas mãos é capaz de perceber que pode e deve dividi-lo com os demais.
  • 23. Porque compartimentar tudo antes de dar a ela a possibilidade de fazê-lo sozinha? Seria subestimá-la. Como educadora, participar desta construção com este grupo especificamente foi uma experiência inusitada. Embora eu tenha planejado as etapas de desenvolvimento artístico, com seus materiais e tempo hábil para a realização de tudo, não esperava tamanha cooperação e envolvimento. Do mesmo modo que me preparei para o conteúdo artístico, fui impelida a vasculhar todas as áreas do conhecimento para atender à demanda que surgia a cada encontro na aula. Levei conhecimento ao grupo e recebi conhecimento deles. Motivei-os ao trabalho e eles me instigaram à pesquisa. Senti falta de tempo para poder explorar mais os recursos tecnológicos disponíveis e em algumas etapas do trabalho, fiquei “na mão” com a bateria de minha máquina fotográfica. Senti vontade de registrar cada instante, cada suspiro, cada exclamação, como que num desejo impetuoso de perpetuar e “congelar” aqueles olhares sedentos e cheios de brilho próprio. É como se eu precisasse guardar tudo dentro da câmera, para não perder nenhum segundo diante de tanta beleza. São experiências como estas que nos pegam de “calças curtas” e nos mostram o quanto somos pequenos diante da grandiosidade do mundo e de todo o conhecimento produzido pelo homem desde a pré-história. Posso dizer que as produções das crianças neste projeto viraram meus objetos de apego (risos). Há algum tempo li um texto sobre gostos musicais e sua construção desde a infância e da importância deste processo. Pois bem, não me recordo no momento de quem é o dito, mas se encontrava numa publicação da educadora Luciana Ostetto e era mais ou menos assim: Para quem nunca tomou chá, qualquer erva serve. Mas se tomamos chá todos os dias, com o tempo desenvolvemos a capacidade de discernir o aroma, o sabor e as propriedades de cada planta. Parece primário e óbvio, mas é de uma sabedoria profunda e verdadeira. Sem falar, no direito da criança, a saber, sobre o mundo em que vive o direito da criança de ver tudo e o dever do educador de mostrar-lhe este leque. Nós somos os olhos dos pequenos. Nós somos, muitas vezes, a voz destes pequenos. Nós somos construtores, eles são tijolinhos. Dar a criança o direito de exercer a sua cidadania, de ser sujeito ativo em sua existência, dar a ela condições de decidir, ter iniciativa, discernir, escolher... escolher. O direito de escolher seu caminho no futuro é construído no jardim de infância. Funções importantes, direitos adquiridos, deveres firmados, um papel importante, o de ajudar a criança a elaborar e construir sua identidade enquanto brasileira. Não importando sua origem, sua raça, sua cor, sua condição social e sua crença religiosa. A criança é antes disso tudo um ser digno de respeito, um semelhante, um indivíduo que se desenvolve e que nunca pára de aprender e que apesar de todas as diferenças existentes entre os grupos sociais, são todos cidadão brasileiros. Uma nação multiétnica que precisa urgentemente aprender a construir sua identidade nacional. Por Dagmar Amsberg REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
  • 24. Apostila de Arte do Positivo 2008 1º ano do Ensino Fundamental. Apostila de Arte do Positivo 2008 3º ano do Ensino Fundamental. VIDAL, Lux (org.). Grafismo Indígena. EDUSP, São Paulo KRAMER, Sônia e Maria Leite (orgs.). Infância e produção cultural. Papirus. Campinas/SP, 1998.