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Medicina, Ribeirão Preto,
                                                                                                                       REVISÃO
2007; 40 (4): 551-8, out./dez.




             GAMETOGÊNESE: ESTÁGIO FUNDAMENTAL DO
            DESENVOLVIMENTO PARA REPRODUÇÃO HUMANA

          GAMETOGENESIS: FUNDAMENTAL STAGE THE DEVELOPMENT FOR HUMAN REPRODUCTION



                  Carlos Henrique Medeiros de Araújo1, Maria Cristina Picinato Medeiros de Araújo2,
                    Wellington de Paula Martins3, Rui Alberto Ferriani4, Rosana Maria dos Reis4

1
  Doutor em Biologia da Reprodução; 2Bióloga do Setor de Reprodução Humana; 3Pós-Graduando; 4Docentes. Setor de Reprodução
Humana do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina Ribeirão Preto - USP.
CORRESPONDÊNCIA: Carlos Henrique Medeiros de Araujo. Departamento de Ginecologia e Obstetrícia. Faculdade de Medicina de Ribeirão
Preto - USP: 14048-900 - Ribeirão Preto / SP. telefone 3602222, email: cm.araujo@uol.com.br




            Araújo CHM, Araújo MCP, Martins WP, Ferriani RA, Reis RM. Gametogênese: Estágio fundamental do desen-
               volvimento para reprodução humana. Medicina (Ribeirão Preto) 2007; 40 (4): 551-8, out./dez.

                RESUMO: A reprodução é o mecanismo essencial para perpetuação e diversidade das espé-
            cies, assim como para a continuidade da vida. Os gametas são os veículos de transferência dos
            genes para as próximas gerações. A gametogênese pode ser caracterizada por três etapas
            distintas denominadas multiplicação (mitose), crescimento e maturação (meiose), que se dife-
            renciam em vários aspectos na espermatogênese e na oogênese. A oogênese diferencia-se da
            espermatogênese na ocorrência do processo ao longo da vida do indivíduo, no número de
            gametas formados, nas etapas de multiplicação, crescimento e maturação, assim como nas
            diferenciações e maturações citoplasmáticas e nucleares dos gametas masculinos e femini-
            nos. O processo da oogênese em relação à maturação oocitária ainda merece mais estudos,
            pois os aspectos bioquímicos e genéticos deste processo precisam ser mais bem esclareci-
            dos. Por meio da gametogênese masculina e feminina a natureza proporcionou a fertilidade e a
            capacidade de gerar filhos a casais de diferentes espécies que se reproduzem sexuadamente
            incluindo a espécie humana. Quando existem falhas neste mecanismo por diferentes motivos
            como oligospermia, teratozoospermia, astenoospermia, azoospermia, ou distúrbios da ovula-
            ção, endometriose, fatores tubários, esterilidade sem causa aparente, casais podem recorrer às
            tecnologias de Reprodução Assistida como inseminação intra-uterina, fertilização in vitro, inje-
            ção intra-citoplasmática de espermatozóides, e de maturação oocitária in vitro para chegarem à
            plenitude da reprodução.

                Descritores: Gametogênese. Meiose. Técnicas Reprodutivas Assistidas.




1- INTRODUÇÃO                                                            Os gametas são os veículos de transferência
                                                                  dos genes para as próximas gerações. Apesar das
      A reprodução é o mecanismo essencial para                   dificuldades de estudos das células germinativas em
perpetuação e diversidade das espécies, assim como                seus micro-ambientes como as estruturas foliculares
para a continuidade da vida. As diferentes espécies               dos ovários e da maturação de oócitos in vitro
possuem grande variedade de mecanismos de propa-                  muitos avanços científicos e tecnológicos já foram
gação nos diferentes ambientes que se encontram                   conseguidos na obtenção de bebes saudáveis na
como os mecanismos de reprodução sexuada, re-                     espécie humana por técnicas de reprodução assis-
                                                                  tida1.
produção assexuada, partenogênese, entre outros.


                                                                                                                            551
Gametogênese: Estágio fundamental do desenvolvimento para reprodução humana                   Medicina (Ribeirão Preto) 2007; 40 (4): 551-8, out./dez.
Araújo CHM, Araújo MCP, Martins WP, Ferriani RA, Reis RM                                                                    http://www.fmrp.usp.br/revista




       A gametogênese humana é o fenômeno bioló-                              já se iniciou e o oócito primário encontra-se estacio-
                                                                              nado em prófase I na subfase de diplóteno3.
gico de formação dos oócitos secundários e esperma-
tozóides. A gametogênese pode ser caracterizada por                                  Alguns estudos sugerem que o processo meió-
três etapas distintas denominadas multiplicação (mi-                          tico fica inibido pela ação de um fator inibidor da
tose), crescimento e maturação (meiose), que se dife-                         maturação do oócito (OMI). Além deste fator é im-
renciam em vários aspectos na espermatogênese e                               portante também à ação do fator promotor da matu-
na oogênese.                                                                  ração (MPF), que é um dímero, complexo protéico
                                                                              formado por duas subunidades denominadas Cdc (pro-
                                                                              teína quinase) e a ciclina, que é uma proteína regula-
2- OOGÊNESE
                                                                              dora, que controla a capacidade da Cdc fosforilar pro-
                                                                              teínas – alvo adequadas4.
       A gametogênese feminina é denominada oogê-
nese ou ovogênese e inicia-se no interior dos folícu-                                A atividade do MPF é controlada pelo pa-
los ovarianos, que são as unidades funcionais e fun-                          drão cíclico de acúmulo e degradação da ciclina, que
damentais dos ovários. Tem início ainda na vida intra-                        é um de seus componentes. A montagem do dímero
uterina, quando as células germinativas, derivadas                            Cdc-ciclina, sua ativação e posterior degradação são
do embrião feminino, passam pela fase de multiplica-                          processos centrais que controlam o ciclo celular. A
ção até aproximadamente a 15ª semana da vida fe-                              Figura 1 mostra a variação do complexo MPF desde o
tal2, sofrendo divisões mitóticas dando origem as                             estágio de diplóteno até a metáfase II, que são dois
oogônias.                                                                     estágios em que a meiose fica estacionada ao longo
        As oogônias a seguir passam por uma fase de                           do processo de maturação.
crescimento dando origem aos oócitos primários.                                      No diplóteno da prófase I os cromossomos es-
       Os oócitos primários passarão pelas fases de                           tão duplicados e apresentam duas cromátides. Nessa
maturação que correspondem às divisões meióticas.                             fase podem ser observados os quiasmas (pontos de
Nas recém-nascidas, parte deste processo de matu-                             cruzamentos entre cromátides não irmãs), devido à
ração já ocorreu, isto é, a primeira divisão da meiose                        ocorrência do crossing - over.



                                    DIPLÓTENO                   METÁFASE I                    METÁFASE II




                        MPF




                                    Estimulação                                  Citocinese               Metáfase II
                                     hormonal                                                           (estacionada)

     Figura 1: Variação do complexo MPF ao longo do processo de maturação oocitária.




 552
Medicina (Ribeirão Preto) 2007; 40 (4): 551-8, out./dez.    Gametogênese: Estágio fundamental do desenvolvimento para reprodução humana
http://www.fmrp.usp.br/revista                                                      Araújo CHM, Araújo MCP, Martins WP, Ferriani RA, Reis RM




        O oócito neste estágio é identificado morfolo-                A continuidade da maturação oocitária é ca-
gicamente pela visualização da vesícula germinativa,          racterizada pela chegada do oócito I a anáfase I. Nesta
que caracteriza o oócito com núcleo bem desenvolvi-           fase os pares de cromossomos homólogos que estão
do, imaturo e em final de prófase I.                          pareados migram para os pólos opostos da célula. A
       A quebra da vesícula germinativa marcará a             orientação da disjunção dos cromossomos homólogos
continuidade da meiose e do processo de maturação             para os pólos da célula é realizada pelo encurtamento
oocitária5.                                                   das fibras do fuso meiótico. Esta separação dos cro-
       Os oócitos ficam neste estágio de prófase I            mossomos homólogos na anáfase I caracteriza a mei-
(diplóteno) até a mulher atingir a puberdade e o pro-         ose como um processo reducional em que a ploidia da
cesso se completará apenas na adolescência por in-            célula é reduzida à metade, isto é, o número de cro-
fluência das gonadotrofinas hipofisárias.                     mossomos 2N = 46 cromossomos passa para N = 23
       Os ovários apresentam nas mulheres recém-              cromossomos.
nascidas uma média de um a dois milhões de folículos                  A redução do número de cromossomos à me-
primordiais6. Os folículos primordiais são unidades for-      tade da ploidia nos gametas é fundamental para a es-
madas por uma camada de células achatadas que en-             tabilidade do número de cromossomos da espécie. A
volvem o oócito primário. A partir do folículo primordi-      ploidia é reconstituída no momento da fecundação.
al forma-se o folículo secundário e em seguida o folí-                Quando o oócito I atinge a telófase I, estará
culo pré-antral, caracterizado pela proliferação de cé-       terminada a primeira divisão da meiose sendo forma-
lulas da granulosa, que ficam evolvidas pelas células         do o oócito secundário (N) e um corpúsculo polar (N).
da teca.                                                      O oócito secundário é o verdadeiro gameta feminino
       Entre as células da granulosa é secretado o            que é liberado com o rompimento do folículo ovulatório.
fluído folicular que se acumula no espaço intersticial                A ação do LH é importante para a formação
                                                              do corpo lúteo a partir do folículo ovulatório8, que so-
promovendo a formação da cavidade antral, caracte-
rizando o folículo antral. Com a formação do antro, o         fre degeneração se não ocorrer à fecundação. A Fi-
oócito primário passa a ocupar uma posição desloca-           gura 2 mostra os vários estágios do processo de ma-
da para um dos lados do folículo ficando rodeado por          turação folicular desde o estágio de folículo primordial
várias camadas de células denominadas de cumulus              até a liberação do oócito secundário no fenômeno da
oophorus. O fluído folicular acumulado na cavidade            ovulação.
antral é importante na nutrição das células da granulosa              No ciclo ovulatório muitos folículos podem pas-
e do oócito.                                                  sar pelos processos de crescimento e diferenciação,
       Em ciclos naturais, o desenvolvimento foli-            mas é comum que apenas um deles chegue à ovula-
cular desde a fase de folículo secundário, quando o           ção ocorrendo o processo de atresia para os folículos
folículo atinge 2 a 5 mm, até a fase antral sofre influ-      menores. Ao longo da vida da mulher o processo de
ência do Hormônio Folículo Estimulante (FSH) secre-           atresia é responsável pela redução de milhões de folí-
tado pela hipófise anterior. Nesta fase os folículos tor-     culos. Uma mulher durante a vida reprodutiva produz
nam-se gonadotrofina – dependentes para seu desen-            a partir da puberdade um oócito secundário a cada
volvimento.                                                   ciclo de ovulação, que em média ocorre a cada 28
       Sob a ação do FSH, ocorre o crescimento e o            dias, assim aproximadamente 400 folículos é que efe-
desenvolvimento folicular e o folículo antral chega à         tivamente vão liberar o oócito secundário a partir da
fase de folículo pré – ovulatório7. Próxima à ovulação,       menarca até a menopausa6.
o pico do Hormônio Luteinizante (LH) induz a quebra                   O oócito secundário, agora com um conjunto
da vesícula germinativa e o processo de meiose é              haplóide (N) de cromossomos inicia a segunda divi-
reiniciado.                                                   são da meiose passando pela prófase II, atingindo a
       O oócito primário que estava estacionado em            metáfase II. A segunda divisão da meiose é novamente
diplóteno, que é a fase mais longa da prófase I, po-          bloqueada em metáfase II e será concluída se ocorrer
dendo durar ao redor de 40 anos, entra em diacinese,          a fertilização.
finalizando a prófase I. A seguir o oócito I atinge a                 Ao longo da maturação oocitária a formação
metáfase I em que os pares de cromossomos homólo-             do primeiro corpúsculo polar é um sinal da finalização
gos duplicados, pareados e num grau de condensação            da meiose I, e a formação do segundo corpúsculo polar
maior distribuem-se na placa equatorial da célula.            é um indicativo da fertilização do oócito.

                                                                                                                                     553
Gametogênese: Estágio fundamental do desenvolvimento para reprodução humana                 Medicina (Ribeirão Preto) 2007; 40 (4): 551-8, out./dez.
Araújo CHM, Araújo MCP, Martins WP, Ferriani RA, Reis RM                                                                  http://www.fmrp.usp.br/revista




    Figura 2: A figura mostra o processo de maturação folicular desde o folículo primordial até o folículo pré - ovulatório, que em
    seguida passa pelo fenômeno da ovulação com a liberação do oócito secundário. Adaptado de Biology a Human Emphasis.9




3- ESPERMATOGÊNESE                                                            seminíferos, entram em fase de multiplicação na pu-
                                                                              berdade dando origem a muitas espermatogônias por
                                                                              mitoses sucessivas10.
       A gametogênese masculina é denominada es-
permatogênese e ocorre nos túbulos seminíferos dos                                   Após a fase de multiplicação, cada espermato-
testículos. É um processo contínuo na vida do homem                           gônia formada entra na fase de crescimento e dá ori-
após ser atingida a puberdade. A maturação das cé-                            gem a dois espermatócitos primários. Em seguida os
lulas germinativas para formação dos espermatozói-                            espermatócitos primários passam pela fase de matu-
des ocorre até o final da vida do indivíduo, em que                           ração, que corresponde às divisões de meiose.
cada espermatogônia dará origem a quatro esperma-                                    Cada espermatócito primário ao sofrer a pri-
tozóides.                                                                     meira divisão da meiose dá origem a dois espermató-
       As espermatogônias que foram formadas du-                              citos secundários. Esta primeira divisão da meiose é
rante a vida fetal e estavam dormentes nos túbulos                            reducional, assim os espermatócitos secundários pas-

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Medicina (Ribeirão Preto) 2007; 40 (4): 551-8, out./dez.        Gametogênese: Estágio fundamental do desenvolvimento para reprodução humana
http://www.fmrp.usp.br/revista                                                          Araújo CHM, Araújo MCP, Martins WP, Ferriani RA, Reis RM




sam a ter metade do número de cromossomos, isto                          A cauda do espermatozóide é fundamental para
é, cada espermatócito secundário é uma célula ha-                 a mobilidade do gameta masculino até o local da ferti-
plóide (N), ao contrário dos estágios anteriores de               lização. Para ocorrer o movimento de chicoteamento
espermatogônias e espermatócitos primários que                    da cauda do espermatozóide, as mitocôndrias da cau-
são diplóides (2N).                                               da fornecem ATP (adenosina trifosfato), que é fonte
                                                                  de energia para a locomoção11.
       A continuidade do processo de maturação ocor-
re com a segunda divisão da meiose nos espermatóci-                      A espermatogênese desde a origem das esper-
tos secundários que darão origem as espermátides,                 matogônias até a formação dos espermatozóides, pas-
que também são células haplóides. Cada espermátide                sando pela espermiogênese, ocorre em aproximada-
                                                                  mente dois meses10.
passa pelo fenômeno da espermiogênese, que corres-
ponde ao processo de diferenciação celular para for-                     A Figura 3 mostra o momento da penetração
mação dos verdadeiros gametas masculinos. Durante                 do espermatozóide através das células foliculares para
a espermiogênese as espermátides ganham o acros-                  atingir o oócito secundário. O oócito fertilizado sofre-
somo e a cauda (flagelo). O acrossomo está localiza-              rá clivagens originando o embrião, que se desenvolve-
do na região anterior da cabeça do espermatozóide e               rá no interior do útero materno.
corresponde a uma aglomeração de vesículas secre-                        A gametogênese feminina diferencia-se da
tadas a partir do complexo de Golgi.                              masculina em vários aspectos como na ocorrência do
       No acrossomo estão presentes várias enzimas,               processo ao longo da vida do indivíduo, no número de
entre elas a hialuronidase que têm papel fundamental              gametas formados, nas etapas de multiplicação, cres-
no momento da fecundação, pois as atividades destas               cimento e maturação, assim como nas diferenciações
enzimas favorecem a entrada do espermatozóide atra-               e maturações citoplasmáticas e nucleares dos gametas
vés da corona radiata e da zona pelúcida durante o                masculinos e femininos. A Tabela I mostra as princi-
processo de fertilização.                                         pais diferenças na gametogênese humana.




     Figura 3: O esquema mostra o momento da penetração do espermatozóide no oócito secundário. Adaptado de Biology a Human
     Emphasis9.




                                                                                                                                         555
Gametogênese: Estágio fundamental do desenvolvimento para reprodução humana                      Medicina (Ribeirão Preto) 2007; 40 (4): 551-8, out./dez.
Araújo CHM, Araújo MCP, Martins WP, Ferriani RA, Reis RM                                                                       http://www.fmrp.usp.br/revista




     Tabela I: Parâmetros que diferenciam a oogênese da espermatogênese
                                                    Gametogênese feminina                         Gametogênese masculina
     Duração                                        Inicia-se na vida embrionária e é retoma-     Inicia-se na puberdade e pode ocor-
                                                    da no período menacne - menopausa.            rer durante toda vida.

     Gametas formados                               1 oócito para cada oogônia                    4 espermatozóides por espermatogô-
                                                                                                  nia

     Etapa de multiplicação                         Ocorre na vida intra-uterina (até o 3º mês    Ocorre ao longo da vida a partir da
                                                    do desenvolvimento embrionário).              puberdade.

     Etapa de maturação                             Meiose I - oócito II e 1 corpúsculo polar     Meiose I - 2 espermatócitos II
                                                    Meiose II - pré - embrião e 2 corpúscu-       Meiose II - 4 espermatozóides
                                                    los polares

     Diferenciação citoplasmática                   Divisão desigual com formação de cor-         Formação de acrossomo e flagelo
                                                    púsculos polares




4- AÇÃO DAS GONADOTROFINAS E FATO-                                             quinases e fatores promotores da meiose (MPF).
   RES DE INIBIÇÃO OU DE PROMOÇÃO                                              Quando as Gap Junctions entre células da granulosa
   DA MEIOSE                                                                   e oócitos são desfeitas, termina a transmissão de fa-
                                                                               tores que estacionam a meiose do oócito13 . O núme-
       Para ocorrência da maturação oocitária, além                            ro de moléculas de proteínas quinases reguladas pelas
da ação das gonadotrofinas deve ocorrer à redução                              ciclinas (Cdc - cilina B), que formam o MPF, aumenta
dos fatores de inibição da maturação oocitária, além                           muito quando o oócito adquire competência para so-
da presença de nutrientes estruturais e energéticos                            frer a quebra da vesícula germinativa e reinicializar a
                                                                               meiose14.
específicos necessários ao metabolismo da matu-
ração. As gonadotrofinas induzem a quebra da ve-                                      No início do período G1 da interfase ocorre a
sícula germinativa de oócitos crescidos do folículo                            formação dos complexos de pré-replicação de DNA,
antral ou de oócitos isolados e envolvidos por células                         a desativação do complexo promotor da anáfase (APC)
do cumulus in vivo ou em modelos experimentais                                 e ativação dos componentes protéicos do período S da
in vitro.                                                                      interfase, que atuarão na duplicação do DNA. Entre
       As gonadotrofinas não apresentam o mesmo                                os períodos G2 da interfase e prófase os complexos
efeito em oócitos pobres em células somáticas do                               protéicos MPF ativam a condensação dos cromosso-
cumulus. Neste mecanismo podem estar envolvidos                                mos, o rompimento da carioteca e a formação das fi-
estímulos positivos gerados pelas células foliculares                          bras do fuso de divisão. Durante a metáfase este com-
e/ou falta de fatores que determinam à inibição da                             plexo MPF ativa o complexo promotor da anáfase
meiose12.                                                                      (APC), a partir da fosforilação do APC inativo.
       As gonadotrofinas estimulam aumento de ade-                                    O APC degrada o inibidor da anáfase sendo
nosina monofosfato cíclico (cAMP) e ativam os ní-                              possível então à migração dos cromossomos ou das
veis de proteína quinase ativadora da meiose nas cé-                           cromátides para os pólos da célula caracterizando res-
lulas da granulosa. Ocorre passagem de sinais indutores                        pectivamente a anáfase I e anáfase II da meiose. A
da meiose pelas células da granulosa que estão em                              atividade do MPF é dependente da proteína ciclina B,
comunicação com o oócitos pelas Gap Junctions. Esta                            que é sintetizada entre o final do período G2 da interfase
                                                                               e início da prófase15.
ativação ocorre por meio da ativação das proteínas

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Medicina (Ribeirão Preto) 2007; 40 (4): 551-8, out./dez.          Gametogênese: Estágio fundamental do desenvolvimento para reprodução humana
http://www.fmrp.usp.br/revista                                                            Araújo CHM, Araújo MCP, Martins WP, Ferriani RA, Reis RM




       Por meio da ação do APC é degradado o inibi-                 na geração de cAMP nos oócitos ou sinalizadores da
dor da anáfase e logo em seguida ocorre também à                    reinicialização da meiose (maturação nuclear) ainda
degradação da unidade ciclina B do complexo MPF.                    não são conhecidos. No aspecto genético, genes de
Na telófase os níveis de ciclina B diminuem e a ativi-              efeito materno ainda devem ser descobertos no pro-
dade do MPF é baixa. A partir daí a célula entra nova-              cesso de maturação oocitária.
mente em interfase (G1). A Figura 4 mostra o meca-
nismo de regulação do ciclo celular por meio da ação                5- CONSIDERAÇÕES FINAIS
do MPF e do APC.
                                                                           Por meio da gametogênese masculina e feminina
       Muitos aspectos da oogênese em relação à
                                                                    a natureza proporcionou a fertilidade e a capacidade
maturação oocitária ainda merecem mais estudos, pois
                                                                    de gerar filhos a casais de diferentes espécies que se
os aspectos bioquímicos e genéticos deste processo
                                                                    reproduzem sexuadamente incluindo a espécie huma-
precisam ser mais estudados. Também existem mui-
                                                                    na. Quando existem falhas neste mecanismo por dife-
tas dúvidas sobre os mecanismos de pareamento e
                                                                    rentes motivos como oligospermia, teratozoospermia,
recombinação de cromossomos homólogos durante a
                                                                    astenoospermia, azoospermia ou mesmo anovulação
prófase I da meiose. Embora muitas moléculas fun-
                                                                    crônica, endometriose, fatores tubários ou esterilidade
damentais para o controle do início e da parada da
                                                                    sem causa aparente, casais podem recorrer às tecno-
meiose já sejam conhecidas, muitas questões a res-
                                                                    logias de Reprodução Assistida como inseminação
peito de suas origens e funções ainda devem ser
                                                                    intra-uterina, fertilização in vitro, injeção intra-citoplas-
esclarecidas. Outra dúvida ainda é sobre a natureza
                                                                    mática de espermatozóides, e de maturação oocitária
dos substratos de muitas enzimas. Além disso, a iden-
                                                                    in vitro para chegarem à plenitude da reprodução.
tidade de ligantes das células da granulosa envolvidos




     Figura 4: Mecanismo de regulação do ciclo celular por meio da ação do fator promotor da meiose (MPF) e do complexo promotor
     da anáfase (APC). G1 e G2 (interfase), P (prófase), M (metáfase), A (anáfase), T (telófase).




                                                                                                                                           557
Gametogênese: Estágio fundamental do desenvolvimento para reprodução humana                       Medicina (Ribeirão Preto) 2007; 40 (4): 551-8, out./dez.
Araújo CHM, Araújo MCP, Martins WP, Ferriani RA, Reis RM                                                                        http://www.fmrp.usp.br/revista




               Araújo CHM, Araújo MCP, Martins WP, Ferriani RA, Reis RM. Gametogenesis: fundamental stage the development
                  for human reproduction. Medicina (Ribeirão Preto) 2007; 40 (4): 551-8, oct./dec.

                   ABSTRACT:The reproduction is the essential mechanism for perpetuation and diversity of the
               species, as well as for the continuity of the life. The gametes are the vehicles of transfer of the
               genes for the next generations. The gametogenesis can be characterized by three stages
               denominated different multiplication (mitosis), growth and maturation (meiosis), which differ in
               several aspects in the spermatogenesis and in the oogenesis. The oogenesis differs of the
               spermatogenesis in several aspects as in the occurrence of the process along the individual’s life
               such as in the number of formed gametes, in the multiplication stages, growth and maturation, as
               well as in the differentiations and cytoplasmtic and nuclear maturations of the masculine and
               feminine gametes. The process of the oogenesis in relation to the oocyte maturation still deserve
               many studies, because the biochemical and genetic aspects of this process need to be better
               explained. Through the masculine and feminine gametogenesis the nature provided the fertility
               and the capacity of generating children to you marry of different species that sexually reproduce
               including the human species. When flaws exist in this mechanism for different reasons as
               oligospermy, teratozoospermy, astenoospermy, azoospermy or ovulation disturbs, endometriosis,
               tubal factors, or unexplained infertility couples can fall back upon the technologies of Assisted
               Reproduction as in vitro fertilization, intracytoplasmic sperm injections, artificial insemination, in
               vitro maturation of oocytes to reach the fullness of the reproduction.

                    Keywords: Gametogenesis. Meiosis. Reproductive Techniques, Assisted.




                                                                              10 - Moore KL, Persaud TVN. Início do desenvolvimento humano:
REFERÊNCIAS
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                                                                                   nology 2002; 143: 2221-32.
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    1999; p. 15-24.                                                           14 - Kanatsu-Shinohara M, Schultz RM, Kopf GS. Acquisition of
                                                                                   meiotic competence in mouse oocytes: Absolute amounts
6 - Salha O, Busheika NA, Sharma V. Dynamics of human
                                                                                   of p34(cdc2), cyclin b1, cdc25C, and weel in meiotically
   follicular growth and in vitro oocyte maturation. Hum Reprod
                                                                                   incompetent and competent oocytes. Biol. Reprod 2000; 63:
   Update 1988; 4: 816-32.
                                                                                   1610-6.
7 - Adashi EY, Rock JA, Rosenwaks Z. The ovarian follicular
                                                                              15 - Burrows AE, Sceurman BK, Kosinski ME, Richie CT, Sadler
   apparatus. Reproductive Endocrinology Sugery, and technol-
                                                                                   PL, Schumacher JM, et al. The C. elegans Myt1 ortholog
   ogy. New York, NY: Lippincott-Raven ; 1995. p. 18-40
                                                                                   is required for the proper timing of oocyte maturation.
8 - Chian RC, Bucckett WM, Tan SL. In-vitro maturation of human                    Development 2006; 133: 697-709.
    oocytes. Reprod Biomed 2003; 8: 148-66.
                                                                                                   Recebido em 22/06/2007
9 - Starr C. Reproduction and Development. In: Starr C. Biology
    a human emphasis. 3 nd. Belmont, California: Wadsworth                                         Aprovado em 31/07/2007
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Gametogênese humana: formação dos gametas e reprodução

  • 1. Medicina, Ribeirão Preto, REVISÃO 2007; 40 (4): 551-8, out./dez. GAMETOGÊNESE: ESTÁGIO FUNDAMENTAL DO DESENVOLVIMENTO PARA REPRODUÇÃO HUMANA GAMETOGENESIS: FUNDAMENTAL STAGE THE DEVELOPMENT FOR HUMAN REPRODUCTION Carlos Henrique Medeiros de Araújo1, Maria Cristina Picinato Medeiros de Araújo2, Wellington de Paula Martins3, Rui Alberto Ferriani4, Rosana Maria dos Reis4 1 Doutor em Biologia da Reprodução; 2Bióloga do Setor de Reprodução Humana; 3Pós-Graduando; 4Docentes. Setor de Reprodução Humana do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina Ribeirão Preto - USP. CORRESPONDÊNCIA: Carlos Henrique Medeiros de Araujo. Departamento de Ginecologia e Obstetrícia. Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - USP: 14048-900 - Ribeirão Preto / SP. telefone 3602222, email: cm.araujo@uol.com.br Araújo CHM, Araújo MCP, Martins WP, Ferriani RA, Reis RM. Gametogênese: Estágio fundamental do desen- volvimento para reprodução humana. Medicina (Ribeirão Preto) 2007; 40 (4): 551-8, out./dez. RESUMO: A reprodução é o mecanismo essencial para perpetuação e diversidade das espé- cies, assim como para a continuidade da vida. Os gametas são os veículos de transferência dos genes para as próximas gerações. A gametogênese pode ser caracterizada por três etapas distintas denominadas multiplicação (mitose), crescimento e maturação (meiose), que se dife- renciam em vários aspectos na espermatogênese e na oogênese. A oogênese diferencia-se da espermatogênese na ocorrência do processo ao longo da vida do indivíduo, no número de gametas formados, nas etapas de multiplicação, crescimento e maturação, assim como nas diferenciações e maturações citoplasmáticas e nucleares dos gametas masculinos e femini- nos. O processo da oogênese em relação à maturação oocitária ainda merece mais estudos, pois os aspectos bioquímicos e genéticos deste processo precisam ser mais bem esclareci- dos. Por meio da gametogênese masculina e feminina a natureza proporcionou a fertilidade e a capacidade de gerar filhos a casais de diferentes espécies que se reproduzem sexuadamente incluindo a espécie humana. Quando existem falhas neste mecanismo por diferentes motivos como oligospermia, teratozoospermia, astenoospermia, azoospermia, ou distúrbios da ovula- ção, endometriose, fatores tubários, esterilidade sem causa aparente, casais podem recorrer às tecnologias de Reprodução Assistida como inseminação intra-uterina, fertilização in vitro, inje- ção intra-citoplasmática de espermatozóides, e de maturação oocitária in vitro para chegarem à plenitude da reprodução. Descritores: Gametogênese. Meiose. Técnicas Reprodutivas Assistidas. 1- INTRODUÇÃO Os gametas são os veículos de transferência dos genes para as próximas gerações. Apesar das A reprodução é o mecanismo essencial para dificuldades de estudos das células germinativas em perpetuação e diversidade das espécies, assim como seus micro-ambientes como as estruturas foliculares para a continuidade da vida. As diferentes espécies dos ovários e da maturação de oócitos in vitro possuem grande variedade de mecanismos de propa- muitos avanços científicos e tecnológicos já foram gação nos diferentes ambientes que se encontram conseguidos na obtenção de bebes saudáveis na como os mecanismos de reprodução sexuada, re- espécie humana por técnicas de reprodução assis- tida1. produção assexuada, partenogênese, entre outros. 551
  • 2. Gametogênese: Estágio fundamental do desenvolvimento para reprodução humana Medicina (Ribeirão Preto) 2007; 40 (4): 551-8, out./dez. Araújo CHM, Araújo MCP, Martins WP, Ferriani RA, Reis RM http://www.fmrp.usp.br/revista A gametogênese humana é o fenômeno bioló- já se iniciou e o oócito primário encontra-se estacio- nado em prófase I na subfase de diplóteno3. gico de formação dos oócitos secundários e esperma- tozóides. A gametogênese pode ser caracterizada por Alguns estudos sugerem que o processo meió- três etapas distintas denominadas multiplicação (mi- tico fica inibido pela ação de um fator inibidor da tose), crescimento e maturação (meiose), que se dife- maturação do oócito (OMI). Além deste fator é im- renciam em vários aspectos na espermatogênese e portante também à ação do fator promotor da matu- na oogênese. ração (MPF), que é um dímero, complexo protéico formado por duas subunidades denominadas Cdc (pro- teína quinase) e a ciclina, que é uma proteína regula- 2- OOGÊNESE dora, que controla a capacidade da Cdc fosforilar pro- teínas – alvo adequadas4. A gametogênese feminina é denominada oogê- nese ou ovogênese e inicia-se no interior dos folícu- A atividade do MPF é controlada pelo pa- los ovarianos, que são as unidades funcionais e fun- drão cíclico de acúmulo e degradação da ciclina, que damentais dos ovários. Tem início ainda na vida intra- é um de seus componentes. A montagem do dímero uterina, quando as células germinativas, derivadas Cdc-ciclina, sua ativação e posterior degradação são do embrião feminino, passam pela fase de multiplica- processos centrais que controlam o ciclo celular. A ção até aproximadamente a 15ª semana da vida fe- Figura 1 mostra a variação do complexo MPF desde o tal2, sofrendo divisões mitóticas dando origem as estágio de diplóteno até a metáfase II, que são dois oogônias. estágios em que a meiose fica estacionada ao longo As oogônias a seguir passam por uma fase de do processo de maturação. crescimento dando origem aos oócitos primários. No diplóteno da prófase I os cromossomos es- Os oócitos primários passarão pelas fases de tão duplicados e apresentam duas cromátides. Nessa maturação que correspondem às divisões meióticas. fase podem ser observados os quiasmas (pontos de Nas recém-nascidas, parte deste processo de matu- cruzamentos entre cromátides não irmãs), devido à ração já ocorreu, isto é, a primeira divisão da meiose ocorrência do crossing - over. DIPLÓTENO METÁFASE I METÁFASE II MPF Estimulação Citocinese Metáfase II hormonal (estacionada) Figura 1: Variação do complexo MPF ao longo do processo de maturação oocitária. 552
  • 3. Medicina (Ribeirão Preto) 2007; 40 (4): 551-8, out./dez. Gametogênese: Estágio fundamental do desenvolvimento para reprodução humana http://www.fmrp.usp.br/revista Araújo CHM, Araújo MCP, Martins WP, Ferriani RA, Reis RM O oócito neste estágio é identificado morfolo- A continuidade da maturação oocitária é ca- gicamente pela visualização da vesícula germinativa, racterizada pela chegada do oócito I a anáfase I. Nesta que caracteriza o oócito com núcleo bem desenvolvi- fase os pares de cromossomos homólogos que estão do, imaturo e em final de prófase I. pareados migram para os pólos opostos da célula. A A quebra da vesícula germinativa marcará a orientação da disjunção dos cromossomos homólogos continuidade da meiose e do processo de maturação para os pólos da célula é realizada pelo encurtamento oocitária5. das fibras do fuso meiótico. Esta separação dos cro- Os oócitos ficam neste estágio de prófase I mossomos homólogos na anáfase I caracteriza a mei- (diplóteno) até a mulher atingir a puberdade e o pro- ose como um processo reducional em que a ploidia da cesso se completará apenas na adolescência por in- célula é reduzida à metade, isto é, o número de cro- fluência das gonadotrofinas hipofisárias. mossomos 2N = 46 cromossomos passa para N = 23 Os ovários apresentam nas mulheres recém- cromossomos. nascidas uma média de um a dois milhões de folículos A redução do número de cromossomos à me- primordiais6. Os folículos primordiais são unidades for- tade da ploidia nos gametas é fundamental para a es- madas por uma camada de células achatadas que en- tabilidade do número de cromossomos da espécie. A volvem o oócito primário. A partir do folículo primordi- ploidia é reconstituída no momento da fecundação. al forma-se o folículo secundário e em seguida o folí- Quando o oócito I atinge a telófase I, estará culo pré-antral, caracterizado pela proliferação de cé- terminada a primeira divisão da meiose sendo forma- lulas da granulosa, que ficam evolvidas pelas células do o oócito secundário (N) e um corpúsculo polar (N). da teca. O oócito secundário é o verdadeiro gameta feminino Entre as células da granulosa é secretado o que é liberado com o rompimento do folículo ovulatório. fluído folicular que se acumula no espaço intersticial A ação do LH é importante para a formação do corpo lúteo a partir do folículo ovulatório8, que so- promovendo a formação da cavidade antral, caracte- rizando o folículo antral. Com a formação do antro, o fre degeneração se não ocorrer à fecundação. A Fi- oócito primário passa a ocupar uma posição desloca- gura 2 mostra os vários estágios do processo de ma- da para um dos lados do folículo ficando rodeado por turação folicular desde o estágio de folículo primordial várias camadas de células denominadas de cumulus até a liberação do oócito secundário no fenômeno da oophorus. O fluído folicular acumulado na cavidade ovulação. antral é importante na nutrição das células da granulosa No ciclo ovulatório muitos folículos podem pas- e do oócito. sar pelos processos de crescimento e diferenciação, Em ciclos naturais, o desenvolvimento foli- mas é comum que apenas um deles chegue à ovula- cular desde a fase de folículo secundário, quando o ção ocorrendo o processo de atresia para os folículos folículo atinge 2 a 5 mm, até a fase antral sofre influ- menores. Ao longo da vida da mulher o processo de ência do Hormônio Folículo Estimulante (FSH) secre- atresia é responsável pela redução de milhões de folí- tado pela hipófise anterior. Nesta fase os folículos tor- culos. Uma mulher durante a vida reprodutiva produz nam-se gonadotrofina – dependentes para seu desen- a partir da puberdade um oócito secundário a cada volvimento. ciclo de ovulação, que em média ocorre a cada 28 Sob a ação do FSH, ocorre o crescimento e o dias, assim aproximadamente 400 folículos é que efe- desenvolvimento folicular e o folículo antral chega à tivamente vão liberar o oócito secundário a partir da fase de folículo pré – ovulatório7. Próxima à ovulação, menarca até a menopausa6. o pico do Hormônio Luteinizante (LH) induz a quebra O oócito secundário, agora com um conjunto da vesícula germinativa e o processo de meiose é haplóide (N) de cromossomos inicia a segunda divi- reiniciado. são da meiose passando pela prófase II, atingindo a O oócito primário que estava estacionado em metáfase II. A segunda divisão da meiose é novamente diplóteno, que é a fase mais longa da prófase I, po- bloqueada em metáfase II e será concluída se ocorrer dendo durar ao redor de 40 anos, entra em diacinese, a fertilização. finalizando a prófase I. A seguir o oócito I atinge a Ao longo da maturação oocitária a formação metáfase I em que os pares de cromossomos homólo- do primeiro corpúsculo polar é um sinal da finalização gos duplicados, pareados e num grau de condensação da meiose I, e a formação do segundo corpúsculo polar maior distribuem-se na placa equatorial da célula. é um indicativo da fertilização do oócito. 553
  • 4. Gametogênese: Estágio fundamental do desenvolvimento para reprodução humana Medicina (Ribeirão Preto) 2007; 40 (4): 551-8, out./dez. Araújo CHM, Araújo MCP, Martins WP, Ferriani RA, Reis RM http://www.fmrp.usp.br/revista Figura 2: A figura mostra o processo de maturação folicular desde o folículo primordial até o folículo pré - ovulatório, que em seguida passa pelo fenômeno da ovulação com a liberação do oócito secundário. Adaptado de Biology a Human Emphasis.9 3- ESPERMATOGÊNESE seminíferos, entram em fase de multiplicação na pu- berdade dando origem a muitas espermatogônias por mitoses sucessivas10. A gametogênese masculina é denominada es- permatogênese e ocorre nos túbulos seminíferos dos Após a fase de multiplicação, cada espermato- testículos. É um processo contínuo na vida do homem gônia formada entra na fase de crescimento e dá ori- após ser atingida a puberdade. A maturação das cé- gem a dois espermatócitos primários. Em seguida os lulas germinativas para formação dos espermatozói- espermatócitos primários passam pela fase de matu- des ocorre até o final da vida do indivíduo, em que ração, que corresponde às divisões de meiose. cada espermatogônia dará origem a quatro esperma- Cada espermatócito primário ao sofrer a pri- tozóides. meira divisão da meiose dá origem a dois espermató- As espermatogônias que foram formadas du- citos secundários. Esta primeira divisão da meiose é rante a vida fetal e estavam dormentes nos túbulos reducional, assim os espermatócitos secundários pas- 554
  • 5. Medicina (Ribeirão Preto) 2007; 40 (4): 551-8, out./dez. Gametogênese: Estágio fundamental do desenvolvimento para reprodução humana http://www.fmrp.usp.br/revista Araújo CHM, Araújo MCP, Martins WP, Ferriani RA, Reis RM sam a ter metade do número de cromossomos, isto A cauda do espermatozóide é fundamental para é, cada espermatócito secundário é uma célula ha- a mobilidade do gameta masculino até o local da ferti- plóide (N), ao contrário dos estágios anteriores de lização. Para ocorrer o movimento de chicoteamento espermatogônias e espermatócitos primários que da cauda do espermatozóide, as mitocôndrias da cau- são diplóides (2N). da fornecem ATP (adenosina trifosfato), que é fonte de energia para a locomoção11. A continuidade do processo de maturação ocor- re com a segunda divisão da meiose nos espermatóci- A espermatogênese desde a origem das esper- tos secundários que darão origem as espermátides, matogônias até a formação dos espermatozóides, pas- que também são células haplóides. Cada espermátide sando pela espermiogênese, ocorre em aproximada- mente dois meses10. passa pelo fenômeno da espermiogênese, que corres- ponde ao processo de diferenciação celular para for- A Figura 3 mostra o momento da penetração mação dos verdadeiros gametas masculinos. Durante do espermatozóide através das células foliculares para a espermiogênese as espermátides ganham o acros- atingir o oócito secundário. O oócito fertilizado sofre- somo e a cauda (flagelo). O acrossomo está localiza- rá clivagens originando o embrião, que se desenvolve- do na região anterior da cabeça do espermatozóide e rá no interior do útero materno. corresponde a uma aglomeração de vesículas secre- A gametogênese feminina diferencia-se da tadas a partir do complexo de Golgi. masculina em vários aspectos como na ocorrência do No acrossomo estão presentes várias enzimas, processo ao longo da vida do indivíduo, no número de entre elas a hialuronidase que têm papel fundamental gametas formados, nas etapas de multiplicação, cres- no momento da fecundação, pois as atividades destas cimento e maturação, assim como nas diferenciações enzimas favorecem a entrada do espermatozóide atra- e maturações citoplasmáticas e nucleares dos gametas vés da corona radiata e da zona pelúcida durante o masculinos e femininos. A Tabela I mostra as princi- processo de fertilização. pais diferenças na gametogênese humana. Figura 3: O esquema mostra o momento da penetração do espermatozóide no oócito secundário. Adaptado de Biology a Human Emphasis9. 555
  • 6. Gametogênese: Estágio fundamental do desenvolvimento para reprodução humana Medicina (Ribeirão Preto) 2007; 40 (4): 551-8, out./dez. Araújo CHM, Araújo MCP, Martins WP, Ferriani RA, Reis RM http://www.fmrp.usp.br/revista Tabela I: Parâmetros que diferenciam a oogênese da espermatogênese Gametogênese feminina Gametogênese masculina Duração Inicia-se na vida embrionária e é retoma- Inicia-se na puberdade e pode ocor- da no período menacne - menopausa. rer durante toda vida. Gametas formados 1 oócito para cada oogônia 4 espermatozóides por espermatogô- nia Etapa de multiplicação Ocorre na vida intra-uterina (até o 3º mês Ocorre ao longo da vida a partir da do desenvolvimento embrionário). puberdade. Etapa de maturação Meiose I - oócito II e 1 corpúsculo polar Meiose I - 2 espermatócitos II Meiose II - pré - embrião e 2 corpúscu- Meiose II - 4 espermatozóides los polares Diferenciação citoplasmática Divisão desigual com formação de cor- Formação de acrossomo e flagelo púsculos polares 4- AÇÃO DAS GONADOTROFINAS E FATO- quinases e fatores promotores da meiose (MPF). RES DE INIBIÇÃO OU DE PROMOÇÃO Quando as Gap Junctions entre células da granulosa DA MEIOSE e oócitos são desfeitas, termina a transmissão de fa- tores que estacionam a meiose do oócito13 . O núme- Para ocorrência da maturação oocitária, além ro de moléculas de proteínas quinases reguladas pelas da ação das gonadotrofinas deve ocorrer à redução ciclinas (Cdc - cilina B), que formam o MPF, aumenta dos fatores de inibição da maturação oocitária, além muito quando o oócito adquire competência para so- da presença de nutrientes estruturais e energéticos frer a quebra da vesícula germinativa e reinicializar a meiose14. específicos necessários ao metabolismo da matu- ração. As gonadotrofinas induzem a quebra da ve- No início do período G1 da interfase ocorre a sícula germinativa de oócitos crescidos do folículo formação dos complexos de pré-replicação de DNA, antral ou de oócitos isolados e envolvidos por células a desativação do complexo promotor da anáfase (APC) do cumulus in vivo ou em modelos experimentais e ativação dos componentes protéicos do período S da in vitro. interfase, que atuarão na duplicação do DNA. Entre As gonadotrofinas não apresentam o mesmo os períodos G2 da interfase e prófase os complexos efeito em oócitos pobres em células somáticas do protéicos MPF ativam a condensação dos cromosso- cumulus. Neste mecanismo podem estar envolvidos mos, o rompimento da carioteca e a formação das fi- estímulos positivos gerados pelas células foliculares bras do fuso de divisão. Durante a metáfase este com- e/ou falta de fatores que determinam à inibição da plexo MPF ativa o complexo promotor da anáfase meiose12. (APC), a partir da fosforilação do APC inativo. As gonadotrofinas estimulam aumento de ade- O APC degrada o inibidor da anáfase sendo nosina monofosfato cíclico (cAMP) e ativam os ní- possível então à migração dos cromossomos ou das veis de proteína quinase ativadora da meiose nas cé- cromátides para os pólos da célula caracterizando res- lulas da granulosa. Ocorre passagem de sinais indutores pectivamente a anáfase I e anáfase II da meiose. A da meiose pelas células da granulosa que estão em atividade do MPF é dependente da proteína ciclina B, comunicação com o oócitos pelas Gap Junctions. Esta que é sintetizada entre o final do período G2 da interfase e início da prófase15. ativação ocorre por meio da ativação das proteínas 556
  • 7. Medicina (Ribeirão Preto) 2007; 40 (4): 551-8, out./dez. Gametogênese: Estágio fundamental do desenvolvimento para reprodução humana http://www.fmrp.usp.br/revista Araújo CHM, Araújo MCP, Martins WP, Ferriani RA, Reis RM Por meio da ação do APC é degradado o inibi- na geração de cAMP nos oócitos ou sinalizadores da dor da anáfase e logo em seguida ocorre também à reinicialização da meiose (maturação nuclear) ainda degradação da unidade ciclina B do complexo MPF. não são conhecidos. No aspecto genético, genes de Na telófase os níveis de ciclina B diminuem e a ativi- efeito materno ainda devem ser descobertos no pro- dade do MPF é baixa. A partir daí a célula entra nova- cesso de maturação oocitária. mente em interfase (G1). A Figura 4 mostra o meca- nismo de regulação do ciclo celular por meio da ação 5- CONSIDERAÇÕES FINAIS do MPF e do APC. Por meio da gametogênese masculina e feminina Muitos aspectos da oogênese em relação à a natureza proporcionou a fertilidade e a capacidade maturação oocitária ainda merecem mais estudos, pois de gerar filhos a casais de diferentes espécies que se os aspectos bioquímicos e genéticos deste processo reproduzem sexuadamente incluindo a espécie huma- precisam ser mais estudados. Também existem mui- na. Quando existem falhas neste mecanismo por dife- tas dúvidas sobre os mecanismos de pareamento e rentes motivos como oligospermia, teratozoospermia, recombinação de cromossomos homólogos durante a astenoospermia, azoospermia ou mesmo anovulação prófase I da meiose. Embora muitas moléculas fun- crônica, endometriose, fatores tubários ou esterilidade damentais para o controle do início e da parada da sem causa aparente, casais podem recorrer às tecno- meiose já sejam conhecidas, muitas questões a res- logias de Reprodução Assistida como inseminação peito de suas origens e funções ainda devem ser intra-uterina, fertilização in vitro, injeção intra-citoplas- esclarecidas. Outra dúvida ainda é sobre a natureza mática de espermatozóides, e de maturação oocitária dos substratos de muitas enzimas. Além disso, a iden- in vitro para chegarem à plenitude da reprodução. tidade de ligantes das células da granulosa envolvidos Figura 4: Mecanismo de regulação do ciclo celular por meio da ação do fator promotor da meiose (MPF) e do complexo promotor da anáfase (APC). G1 e G2 (interfase), P (prófase), M (metáfase), A (anáfase), T (telófase). 557
  • 8. Gametogênese: Estágio fundamental do desenvolvimento para reprodução humana Medicina (Ribeirão Preto) 2007; 40 (4): 551-8, out./dez. Araújo CHM, Araújo MCP, Martins WP, Ferriani RA, Reis RM http://www.fmrp.usp.br/revista Araújo CHM, Araújo MCP, Martins WP, Ferriani RA, Reis RM. Gametogenesis: fundamental stage the development for human reproduction. Medicina (Ribeirão Preto) 2007; 40 (4): 551-8, oct./dec. ABSTRACT:The reproduction is the essential mechanism for perpetuation and diversity of the species, as well as for the continuity of the life. The gametes are the vehicles of transfer of the genes for the next generations. The gametogenesis can be characterized by three stages denominated different multiplication (mitosis), growth and maturation (meiosis), which differ in several aspects in the spermatogenesis and in the oogenesis. The oogenesis differs of the spermatogenesis in several aspects as in the occurrence of the process along the individual’s life such as in the number of formed gametes, in the multiplication stages, growth and maturation, as well as in the differentiations and cytoplasmtic and nuclear maturations of the masculine and feminine gametes. The process of the oogenesis in relation to the oocyte maturation still deserve many studies, because the biochemical and genetic aspects of this process need to be better explained. Through the masculine and feminine gametogenesis the nature provided the fertility and the capacity of generating children to you marry of different species that sexually reproduce including the human species. When flaws exist in this mechanism for different reasons as oligospermy, teratozoospermy, astenoospermy, azoospermy or ovulation disturbs, endometriosis, tubal factors, or unexplained infertility couples can fall back upon the technologies of Assisted Reproduction as in vitro fertilization, intracytoplasmic sperm injections, artificial insemination, in vitro maturation of oocytes to reach the fullness of the reproduction. Keywords: Gametogenesis. Meiosis. Reproductive Techniques, Assisted. 10 - Moore KL, Persaud TVN. Início do desenvolvimento humano: REFERÊNCIAS primeira semana. In: Moore KL, Persaud TVN. Embriologia clínica. 6 ª ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan; 1 - Roy A, Matzuk MM. Deconstructing mammalian reproduction: 2000. p.15-43. using knockouts to define fertility pathways. Reproduction 11 - Oura C, Toshimori K. Ultrastructural studies on the fertilization 2006; 131: 207-19. of mammalian gametes. Int Rev Cytol 1990; 122:105- 51. 2 - Houillon C. Espermatogênese e Ovogênese. In: Houillon C. 12 - Downs SM, Daniel SAJ, Eppig JJ. Induction of maturation in Sexualidade. São Paulo: Edgard Blucher; 2001. p. 17-36. cumulus cell-enclosed mouse oocytes by follicle-stimulating 3 - Buccione R, Schroeder AC, Eppig JJ. Interactions between hormone and epidermal growth factor. Evidence for a somatic cells and germ cells throughout mammalian oogen- positive stimulus of somatic cell origin. J Exp Zool 1988; 245: esis. Biol Reprod 1990; 43: 543-7. 61-71. 4 - Scott JRT, Hodgen GD. The ovarian follicle: life cycle of a 13 - Su YQ, Wigglesworth K, Pendola FL, O‘Brien MJ, Eppig JJ. pelvic clock. Clin Obstet Gynecol 1990; 3: 55-62. Mitogen-actived protein kinase (MAPK) activity in cumulus cells is essential for gonadotropin-induced oocyte meiotic 5 - Veeck LL. Gamete Maturation. An atlas of human gametes resumption and cumulus expansion in the mouse. Endocri- and conceptuses an illustrated reference for assisted repro- nology 2002; 143: 2221-32. ductive technology, New York, NY: The Parthenon Publishing; 1999; p. 15-24. 14 - Kanatsu-Shinohara M, Schultz RM, Kopf GS. Acquisition of meiotic competence in mouse oocytes: Absolute amounts 6 - Salha O, Busheika NA, Sharma V. Dynamics of human of p34(cdc2), cyclin b1, cdc25C, and weel in meiotically follicular growth and in vitro oocyte maturation. Hum Reprod incompetent and competent oocytes. Biol. Reprod 2000; 63: Update 1988; 4: 816-32. 1610-6. 7 - Adashi EY, Rock JA, Rosenwaks Z. The ovarian follicular 15 - Burrows AE, Sceurman BK, Kosinski ME, Richie CT, Sadler apparatus. Reproductive Endocrinology Sugery, and technol- PL, Schumacher JM, et al. The C. elegans Myt1 ortholog ogy. New York, NY: Lippincott-Raven ; 1995. p. 18-40 is required for the proper timing of oocyte maturation. 8 - Chian RC, Bucckett WM, Tan SL. In-vitro maturation of human Development 2006; 133: 697-709. oocytes. Reprod Biomed 2003; 8: 148-66. Recebido em 22/06/2007 9 - Starr C. Reproduction and Development. In: Starr C. Biology a human emphasis. 3 nd. Belmont, California: Wadsworth Aprovado em 31/07/2007 Publishing; 1984. p. 590-627. 558