Análise de o segredo do bonzo, de machado de assis
1. O segredo do bonzo,
de Machado de Assis
Manoel Neves
2. O ENREDO
o segredo do bonzo
A cidade é Fuchéu, reino de Bungo; o ano é o de 1552; o cronista Fernão Mendes Pinto, autor das
Peregrinações aparece aqui como guia do médico Diogo Meireles; como o narrador não entendia
a língua local, Diogo Meireles vai-lhe explicando as teorias dos sábios do reino: para Patimau, os
grilos procedem do ar e das folhas de coqueiro na conjunção da lua nova; p/ Languru, o princípio
da vida futura estava em uma gota de sangue de vaca; ante a constatação de que ideias absurdas
são tidas como verdadeiras, Meireles e Mendes procuram o mentor de tais sábios; quem os leva
até o bonzo é o alparqueiro Titané; Pomada [108 anos] é o mais sábio dos bonzos defende a ideia
segundo a qual a virtude e o saber têm existências paralelas – uma no sujeito que as possui, outra
no espírito dos que o ouvem e contemplam; para Pomada, não há espetáculo sem expectador:
se ninguém apreciar laranjas ou sequer as ver, de nada elas valem; a opinião vale mais do que os
fatos; Pomada reconhece que Languru e Patimau, tidos como sábios [filósofos e físicos], são, na
na verdade, charlatães – apesar de defenderem teorias absurdas; depois da visita ao bonzo, o
alparqueiro divulga que suas sandálias eram de qualidade superior; para pôr a prova a teoria de
Pomada, os protagonistas arrumam artifícios similares; Fernão convoca os principais da cidade:
3. O ENREDO
o segredo do bonzo
Lembrou-me congregar os principais de Fuchéu para que me ouvissem tanger o instrumento, os
quais vieram, escutaram e foram-se repetindo que nunca antes tinham ouvido coisa tão
extraordinária. E confesso que alcancei um tal resultado com o só recurso de ademanes, da
graça em arquear os braços para tomar a charamela, que me foi trazida em uma bandeja de
prata, da rigidez do busto, da unção com que alcei os olhos ao ar, e do desdém e ufania com que
os baixei à mesma assembleia.
mesmo não tocando coisa alguma, apenas com trejeitos consegue convencer a todos de que é
um excelente músico; o médico Diogo aproveita-se de uma epidemia de tumores nos narizes dos
habitantes de Fuchéu, para provar que a opinião vale mais que os fatos, convence seus pacientes
a substituírem os narizes extirpados por narizes metafísicos [tomado na acepção de imaginário]:
Os enfermos, assim curados e supridos, olhavam uns para os outros e não viam nada no lugar
do órgão cortado; mas certos e certíssimos de que ali estava o órgão substituído, e que este era
inacessível aos sentidos humanos, não se davam por defraudados, e tornavam aos seus ofícios.
Nenhuma outra prova quero da eficácia da doutrina e do fruto dessa experiência, senão o fato
de que todos os desnarigados de Diogo Meireles continuavam a prover-se dos mesmo lenços de
assoar. O que tudo deixo relatado para glória do bonzo e benefício do mundo.
4. O SEGRO DO BONZO
aspectos temáticos
temas
ostentação das aparências alma interior x alma exterior
5. O SEGRO DO BONZO
aspectos temáticos
o gênero literário
conto crônica histórica
narrativa ficcional curta pastiche [cópia do estilo]
um eixo dramático A peregrinação, de Fernão Mendes Pinto
apresenta apenas os melhores momentos intenta a conferir maior verossimilhança
a crônica histórica
gênero literário muito difundido durante o período das grandes navegações [séculos XV e XVI]
o narrador sugere que este conto seria inserido entre os capítulos CXIII e CXIV
6. O SEGRO DO BONZO
aspectos temáticos
a propaganda é a alma do negócio
a propaganda e a aparência valem mais do que a essência
[publicidade, seitas, políticos, autoajuda, sites...]
7. O SEGRO DO BONZO
aspectos temáticos
Pomada, o nome do charlatão
01. enganador, fraudulento [regionalismo];
02. é o que se passa em cima da pele [assim como a aparência que substitui o real].
lendo o discurso irônico
a partir do nada se cria não só a essência mas também a aparência
8. O SEGRO DO BONZO
aspectos temáticos
convergências em Papéis avulsos
“A chinela turca”: orientalismo e fantástico;
“Teoria do medalhão”: crítica à sociedade que valoriza as aparências.