2. A BIBLIOTECA DE BABEL
As Bibliotecas da
Babilónia foram as
primeiras de que há
registo. As obras estavam
registadas em tabuinhas
de cerâmica, nas quais se
escrevia com um estilete
metálico. Outros suportes,
como tabuinhas de cera
utilizavam-se igualmente,
mas sobretudo para
registos mais efémeros.
Algumas destas tabuinhas
sobreviveram até aos dias
de hoje e é assim que
conhecemos a epopeia de
Gilgamesh.
Ruínas de uma biblioteca no território do antigo
reino da Babilónia, atual Iraque
3. Para saber mais… Jorge Luís Borges recriou o universo
da biblioteca de Babel no seu conto do
mesmo nome. Neste, a biblioteca é
retratada como um universo infinito,
abrigando uma infinidade de livros. O
narrador, um dos muitos
bibliotecários, supõe que os volumes
da biblioteca contêm todas as
possibilidades da realidade. Alguns
não fazem o menor sentido, ou o
fazem numa língua há muito
desconhecida. Outros são meras
repetições de uma mesma palavra.
Busca-se incessantemente alguém
que saiba decifrar as mensagens
contidas nos misteriosos volumes,
que seria o correspondente a um deus.
Entre as várias interpretações
possíveis do conto de Jorge Luís
Borges, uma dá conta que se trata de
uma grande metáfora em que mundo e
literatura se confundem. Ler um texto
é tentar decifrá-lo, mas se
considerarmos que o próprio mundo
está impregnado de linguagem, a
própria realidade pode ser
considerada como uma grande
biblioteca cheia de textos à espera de
quem os decifre.
4. A BIBLIOTECA DE
ALEXANDRIA
A biblioteca de Alexandria,
apesar de não ser a mais
antiga é, sem dúvida, a mais
mítica. Esta era considerada o
maior centro de saber do
mundo antigo, reunindo
manuscritos de todas as áreas
do saber, desde Filosofia e
História a Medicina, Arte e
Poesia. Competia com a
biblioteca de Pérgamo como a
mais completa biblioteca da
época, possuindo extensas
coleções de livros. A biblioteca
foi destruída pelos invasores
otomanos em 640 D.C.
Biblioteca de Alexandria – reconstrução
computadorizada
5. Para saber mais…
O filme Ágora, de Alejandro
Amenabar, recria o universo
cultural ao redor da grande
biblioteca da Alexandria num
ponto fulcral da sua história.
O filme recria a vida de
Hipátia, filósofa e professora
na Escola de Alexandria, no
Egito.
6. As bibliotecas gregas do
período clássico Durante o período clássico da
civilização grega, estas existiam
em elevado número, quer como
edifícios independentes, quer
como salas agregadas aos
templos. O suporte usado
nestas não era já as tabuinhas
de cerâmica, mas sim o
pergaminho. Por causa do seu
preço, a reprodução dos
pergaminhos era feita em
número reduzido, e a produção
literária era sobretudo verbal. As
bibliotecas eram espaços de
discussão de ideias e
elaboração de projetos, e os
sábios usavam-nas como ponto
de encontro.
Planta da cidade e biblioteca de Pérgamo
7. Para saber mais…
O divertido filme Astérix e
Obélix nos Jogos Olímpicos,
baseado na banda
desenhada do mesmo nome,
recria de forma divertida esta
tradição da Grécia clássica.
8. As bibliotecas durante o
Império Romano As primeiras bibliotecas
públicas surgiram durante o
império romano, e como eram
consideradas estruturas de
bem-estar do povo, estavam
associadas a edifícios de
termas ou de templos. Foi
também durante o império
romano que surgiu o conceito
de códex - um conjunto de
pergaminhos soltos,
precursores dos nossos atuais
livros. Estes substituem
gradualmente os volumen-
rolos de papiro ou pergaminho-
por serem mais fáceis de
preservar e consultar. Durante
o império romano as
Reconstituição de uma biblioteca pública do bibliotecas privadas eram um
tempo do império romano símbolo de poder e status
social e as famílias mais nobres
orgulhavam-se das suas
coleções.
9. Para saber mais…
A série Roma Sub Rosa do
escritor Steven Saylor, de
que a obra Sangue Romano
é o primeiro volume,
reconstrói o universo
cultural e político de Roma
no seu período áureo, ao
mesmo tempo que propõe
aos leitores desvendar
crimes verídicos, numa
atmosfera de suspense
muito apelativa.
10. As bibliotecas durante a
Idade Média
Com a queda do Império
Romano, muitas
bibliotecas são
abandonadas ou
destruídas, perdendo-se
para sempre obras de
referência da cultura
clássica. Numa tentativa
de preservar o saber, os
monges recolhem todos
os manuscritos que
conseguem encontrar e
copiam-nos
pacientemente. A estas
oficinas de cópias de
manuscritos dá-se o
Iluminura que representa um típico scriptorium nome de scriptorium.
medieval
11. Para saber mais…
Todo o mistério do enredo
deste policial de Humberto
Eco se centra à volta de um
manuscrito mítico: uma
apologia do riso de
Aristóteles.
12. As bibliotecas durante o
Renascimento Durante toda a Idade Media a igreja
católica e o Vaticano em particular
reuniram, preservaram e copiaram
inúmeras obras da antiguidade
clássica, bem como obras de natureza
teológica e profana que entretanto
foram sendo produzidas. Em 1475, o
Papa Sisto IV, imbuído do espírito
renascentista de exploração e partilha
de conhecimento, abriu ao público a
imensa coleção de manuscritos
reunidos pelos seus antecessores. No
começo, a biblioteca teve um caráter
especial: era composta por Bíblias e
trabalhos teológicos, mas
especializou-se depois em trabalhos
seculares, sobretudo, os clássicos em
grego e em latim. Esta biblioteca
ganhou um impulso ainda maior com a
invenção da imprensa, crescendo
exponencialmente. Atualmente possui
mais de 8,3 mil incunábulos (livros
impressos nos primórdios da
Biblioteca do Vaticano imprensa, por volta do século XV, 150
mil códices manuscritos, 100 mil
gravuras e desenhos, 300 mil moedas
e medalhas e quase 20 mil objetos de
valor artístico.
13. Para saber mais…
Um dos elementos da família
do Papa Alexandre VI, César
Borgia, foi o modelo para
aquele que foi considerado
um dos primeiros tratados
políticos do mundo
ocidental: O Príncipe, de
Maquiavel.
14. Reforma e Contra-Reforma
Os movimentos de Reforma
e Contra-Reforma causaram
inúmeras perturbações no
universo das bibliotecas.
Enquanto os países
reformistas encorajavam a
leitura (sobretudo de textos
religiosos e da Bíblia), nos
países em que a Contra-
Reforma foi mais evidente, o
acesso aos livros foi muito
restringido. Cadastraram-se
livros e bibliotecas privadas
e foi publicado o Index, um
documento que listava as
obras proibidas pela Igreja.
Folha de rosto do Index
15. Para saber mais…
O escritor galego Gonçalo
Torrente Ballester recria, de
forma muito bem-humorada,
os extremos a que a
Inquisição e o seu braço
intelectual, o Index, iam para
proteger as almas dos
cristãos de influências
negativas.
16. As bibliotecas académicas
Apesar dos entraves do
Index, ao longo do século
XVII surgiram bibliotecas
apensas às universidades.
Contam-se neste número a
biblioteca Bodleiana, em
Oxford, ou aquela que ficaria
conhecida como biblioteca
Joanina na Universidade de
Coimbra. Estas, para além de
possuírem coleções
extensas de todo o tipo de
volumes, refletem o gosto da
época por decoração profusa
e abundante, constituindo
verdadeiras jóias
Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra arquitetónicas.
17. Para saber mais…
O filme Harry Potter e a
Pedra Filosofal usou como
cenário a famosa Biblioteca
Bodleiana, em Oxford.
18. As bibliotecas reais
No advento da Idade Moderna, e
por influência do Iluminismo, as
casas reais começam a instituir
opulentas bibliotecas reais,
onde os estudiosos têm pela
primeira vez acesso às coleções
reais de livros e manuscritos
inacessíveis até então. As
bibliotecas criadas são
completas e luxuosas, pois são
um reflexo do poder e do
prestígio real. Um exemplo
paradigmático destas
bibliotecas é a biblioteca do
Palácio de Mafra, mandada
construir por D. João V.
Biblioteca do Palácio de Mafra
19. Para saber mais…
O Memorial do Convento,
uma das obras mais
importantes de José
Saramago, Prémio Nobel da
Literatura em 1998, recria a
construção do Palácio
/Convento de Mafra, a partir
da história de amor de duas
das personagens mais
inesquecíveis da literatura
portuguesa: Baltazar Sete-
Sóis e Blimunda Sete-Luas.
20. Enciclopedismo e
Revolução Francesa
O espírito iluminista valorizava
todas as áreas do saber e, por
iniciativa do pensador francês
Diderot, diversos estudiosos
contribuíram com artigos para
aquela que seria a primeira
enciclopédia. Pela primeira vez
valorizou-se não só o saber
académico, mas também saberes
técnicos. Por toda a Europa são
criadas academias especializadas
em saberes técnicos, mas o espírito
de liberdade e partilha ganharia
contornos políticos, sendo rejeitada
a ideia de despotismo iluminado. A
revolução francesa far-se-ia sobre a
égide dos valores de liberdade,
igualdade e fraternidade, os
Página de rosto da terceira edição da mesmos princípios que nortearam a
Encyclopédie elaboração da primeira
enciclopédia.
21. Para saber mais…
Um Conto de Duas Cidades,
de Charles Dickens mostra
de forma muito abrangente o
ambiente cultural e social da
Europa antes, durante e após
a revolução francesa.
22. Lending libraries:Bibliotecas
abertas ao público em geral No início do século XIX, surgem na
Inglaterra as lending libraries. Estas
tinham como princípio um conceito
novo: tornar acessíveis ao público em
geral os livros. Até então, as
bibliotecas, apesar de públicas,
estavam acessíveis apenas aos
estudiosos. As lending libraries
estavam abertas a todos os que o
desejassem, e pudessem pagar o
pequeno depósito cobrado pelo
empréstimo do livro. A Revolução
Industrial contribuiu em grande
medida para este processo, pois
tornou mais rápida e mais acessível a
impressão dos livros. Os primeiros
sucessos destas lending libraries
foram as chamadas “Gothic Novels”,
romances sensacionalistas e negros
Ilustração do Início do século XIX de uma “lending que dariam origem no futuro a
library”, a precursora britânica das bibliotecas públicas géneros tão distintos como o romance
contemporâneas policial, a ficção científica, o terror e
os romances cor-de-rosa.
23. Para saber mais…
A Abadia de Northanger, uma
das obras menos conhecidas
da escritora Jane Austen,
retrata de forma bastante
cómica os efeitos dos
romances góticos nas
mentes das adolescentes
impressionáveis da época.
24. As bibliotecas itinerantes
À medida que o século XIX
avançava, as bibliotecas
públicas proliferam e
democratizam-se. As
bibliotecas itinerantes, como
a que se vê na fotografia
levam os livros até aos
locais mais remotos.
Daguerreotipo de uma biblioteca ambulante do
século XIX
25. Para saber mais…
Os romances, como Amor
de Perdição de Camilo
Castelo Branco, eram os
livros mais requisitados ao
longo do século XIX.
26. As bibliotecas nacionais No final do século XIX, já a maioria dos
países desenvolvidos possuía uma
Biblioteca Nacional. Uma Biblioteca
Nacional é especificamente estabelecida
pelo governo de um país para servir de
repositório do património bibliográfico
(livros, jornais, revistas, folhetos,
gravações, etc.) desse país. Ao contrário
das bibliotecas públicas, uma biblioteca
nacional é composta por coleções
únicas e históricas de acesso restrito ao
público. Esta é responsável pelo
controle bibliográfico, através do registo,
recolha e salvaguarda das obras
bibliográficas publicadas no país. A
maior biblioteca do mundo é a Biblioteca
do Congresso, considerada a Biblioteca
Nacional dos Estados Unidos. Na Europa
destacam-se os fundos documentais da
Biblioteca Nacional do Reino Unido, a
Biblioteca Britânica, e a Biblioteca
Nacional da Rússia que pertencem ao
Biblioteca Nacional de Portugal grupo The European Library (A
Biblioteca Europeia) destinado a
pesquisar as existências das bibliotecas
nacionais europeias.
27. Para saber mais…
O filme Tesouro Nacional-
Livro dos segredos, leva o
seu protagonista a uma caça
ao tesouro que envolve,
entre outras coisas, os livros
da Library of Congress, a
Biblioteca Nacional
Americana.
28. A fundação Calouste
Gulbenkian
A história das bibliotecas em
Portugal não estaria
completa sem a referência
incontornável à Fundação
Calouste Gulbenkian. Esta
desenvolveu na segunda
metade do século XX
esforços notáveis no sentido
de levar as bibliotecas a
todos os pontos do país. As
suas bibliotecas itinerantes
fizeram chegar livros a
gerações sucessivas de
leitores que, de outra
maneira não teriam acesso a
Biblioteca Itinerante Calouste eles.
Gulbenkian
29. Para saber mais…
Os “Bons Malandros” desta
obra planeiam um assalto
espetacular ao museu da
Fundação Calouste
Gulbenkian. O alvo são as
jóias Arte Nova de René
Lalique, peças
emblemáticas deste museu.
Se são ou não bem
sucedidos cabe ao leitor
descobrir… Vale a pena
salientar que se trata de um
autor natural da cidade de
Moura.
30. As Bibliotecas do Futuro
A Internet constituiu uma
evolução considerável na história
das bibliotecas, pois constitui,
ela própria, uma imensa
biblioteca virtual. A tecnologia fez
surgir um novo tipo de
bibliotecas, que não têm
existência material, existindo
apenas algures na World Wide
Web. O formato papel, comum
durante muitos séculos, foi
também substituído pelos e-
readers, capazes de guardar
milhares de livros num único
aparelho. Se a evolução é
positiva ou negativa ainda está a
ser debatido, mas um facto é
inegável: por este formato
passarão as bibliotecas do
Kindle reader futuro…