Noivado gera tensões em festa

PERFEIÇÃO/ CAPÍTULO 001 PÁGINA 01

Canal 3 Capítulo 001
Produções

PERFEIÇÃO
novela de:
LUCAS VINÍCIUS

escrita por:
LUCAS VINÍCIUS

colaboração:
RENAN FERNANDES

PERSONAGENS DESTE CAPÍTULO:

Lisa
Ester
Leandro
Bartolomeu
Carmélia
Júlio
Eunice
Maria
Marizete
Cláudio
Pedro Júnior
Mirela


PARTICIPAÇÕES ESPECIAIS:
Garçons, convidados, figurantes

CENA 1. SÃO PAULO. TOMADA GERAL. EXT. DIA.
IMAGENS ALTERNADAS DE SÃO PAULO. EDIÇÃO/ MOSTRAR INÚMERAS
IMAGENS DOS PONTOS TURÍSTICOS DE SÃO PAULO, ALGUMAS
MONTANHAS, MONUMENTOS. SONOPLASTIA: ENTRA TEMA DA NOVELA –
PERFEIÇÃO, LEGIÃO URBANA. CORTANDO PARA IMAGENS DA CIDADE,
ORA DE DIA, ORA DE NOITE. TRANSIÇÃO DE TEMPO: IMAGENS DO PÔR-
DO-SOL. MANHÃ SEGUINTE, O SOL, AS NUVENS, O CÉU... POR FIM:
Corta para:

CENA 2. CASA DE JÚLIO. TOMADA GERAL. EXT. DIA.
O QUINTAL DA MANSÃO PARECENDO UMA FESTA DAQUELAS BEM
FRESCURENTAS. ENFEITES, GARÇONS, CHEF'S DE COZINHA,
CONVIDADOS, AINDA QUE POUCOS NESSE MOMENTO. SONOPLASTIA: TEMA
DE ABERTURA ACABA AQUI, DANDO ENTRADA A UMA NOVA MÚSICA TEMA.
CAM CAMINHA LENTAMENTE PELOS ARREDORES DA QUINTAL. VAI
MOSTRANDO QUE ESTER CONVERSA SIMPATICAMENTE COM CARMÉLIA, QUE
NÃO DESGRUDA DE DOCINHOS E SALGADINHOS. ANTES DE GIRAR E
VOLTAR EM ESTER E CARMÉLIA, CAM CAMINHA MAIS ADIANTE E MOSTRA
LEANDRO COM JECA, UM INIMIGO SEU DA FACULDADE. OS DOIS
PARECEM CONVERSAR COM ANTIPATIA. CAM CAMINHA MAIS ADIANTE E
MOSTRA JÚLIO AOS PAPOS COM ALGUNS AMIGOS MÉDICOS
CORTA PARA:

CENA 3. MANSÃO DE JÚLIO. QUINTAL. EXT. CANTO INFERIOR.

ESTER E CARMÉLIA QUE CONVERSAM PERTO DA MESA DE DOCES, BOLOS
E APERITIVOS. ESTER ESPIA LEANDRO COM JECA.

CARMÉLIA — Ester, tua festa lá um luxo! Os
docinhos...! Hum! Esses me deixaram
deslumbrada!
ESTER — (distraída, desvia o olhar) Ah...
querida, obrigada!

CARMÉLIA PERCEBE A DISTRAÇÃO DE ESTER. RAPIDAMENTE CARMÉLIA
ENFIA DOCINHOS NO SUTIÃ, QUANDO ESTER VIRA-SE E SE DEPARA COM
A CENA.

ESTER — (hesita envergonhada) Ah...
CARMÉLIA — (gagueja) Ah... são... são pras
crianças! Imagina você, que elas
ficaram em casa. Então, peguei alguns
docinhos pra elas...
ESTER — Ah... desde quando você tem filhos,
Carmélia?
CARMÉLIA — (disfarça, mudando de assunto) Mas...
e a … Eunice, hein? Ela ficaria muito
feliz em ver esse momento tão...
digamos, família. Porque noivado, de
certo modo é família, né?

AO FALAR EM NOME DE “EUNICE”, ESTER FICA PÁLIDA E PARALISADA.
SONOPLASTA: TENSO. CARMÉLIA FICA ABISMADA AO VER ESTER ALI,
PARADA, TRAVADA.

CARMÉLIA — Menina... morreu em pé, foi? Deus me
livre!

CARMÉLIA COMEÇA A ESTALAR OS DEDOS DIANTE DE ESTER, PARA VER
SE ADIANTA EM ALGO.
Corta para:

CENA 4. MANSÃO DE JÚLIO. EXT. QUINTAL. TARDE.

LEANDRO TENTA EXPULSAR JECA DA FESTA, QUE TOMANDO VINHO PURO
ZONBA DE LEANDRO.

LEANDRO — Sai daqui! Você não é bem-vindo!
JECA — (bêbado) Ah, qual é?!

CENA 5. MANSÃO DE JÚLIO. EXT. QUINTAL. TARDE. CONTINUIDADE.

/ CONTINUAÇÃO DA CENA 2/ CARMÉLIA ESTALANDO OS DEDOS. ESTER
DESPERTA PRA VIDA, DEPOIS DE TER FICADO PARALISADA APÓS OUVIR
O NOME DE EUNICE.

ESTER — Ah, me desculpa... (disfarça) Eu...
CARMÉLIA — Que nada, menina! Se preocupa, não.
ESTER — Carmélia, você vai me desculpar, mas
eu preciso ir ali, tá? Com licença!

ESTER SAI ABALADA.

CARMÉLIA — Que menina mais estranha!

CARMÉLIA ENFIA A MÃO NA BANDEJA DE DOCES E SOCA TUDO NO
SUTIÃ.

CARMÉLIA — (enfiando no sutiã) Ah... adoro
desses bolinhos... Que primor!
Corta para:

CENA 6. SÃO PAULO. EXT. DIA.
AO SOM DE UMA MÚSICA ROMÂNTICA (LAURA PAUSINI, TRILHA DE
LISA) COM IMAGENS BELAS DE SP, MARCA-SE A PASSAGEM PRA TARDE.

CENA 7. APÊ DE LISA E MIRELA. INT. DIA.

MIRELA SENTADA AO SOFÁ, COM O NOTEBOOK NO COLO, RINDO DE
ALGO. LISA VEM ENTRANDO. TODA BONITA, E COM VÁRIOS LIVROS E
CADERNOS ÀS MÃOS, LISA JÁ CHEGA DIZENDO ALGO PARA MIRELA, E
FECHANDO A PORTA.

LISA — Ô de casa! Boa tarde!

MIRELA SE ANIMA COM A CHEGADA DA IRMÃ,

MIRELA — (levanta)E aí, mana! Foi bem na aula?
LISA — (se aproxima) Hum... ainda bem que
você me perguntou! Hoje teve maratona
escolar. Por isso saí mais cedo. Os
alunos ficam, os professores vão
embora! (ri) Novidades por aqui?
MIRELA — Adivinha? (empolgada) Adivinha!
LISA — Só vou adivinhar se você me der uma
dica.
MIRELA — Hum... (pensativa) então tá. Chegou
e-mail pra você! E dos diretores da
escola onde você dá aula!
LISA SE ASSUSTA.

LISA — E-mail, Mirela? Me dá aqui o
computador, deixa eu ver.
MIRELA — Ok. Espera aí.

LISA SENTA AO LADO DE MIRELA, QUE ABRE A CAIXA DE E-MAIL.

MIRELA — Vou abrir, spam não pode ser!

NO E-MAIL, ESCRITO: LISA, CÂNDIDA E EU VAMOS NUM NOIVADO DE
UM COMPADRE NOSSO. CONVIDAMOS VOCÊ TAMBÉM, JÁ QUE DISSE QUE
ESTÁ SENTINDO-SE SOLITÁRIA. CASO ACEITE, ENCONTRE-NOS NO
PONTO DE TÁXI, COMO DE COSTUME. LISA LÊ EM VOZ ALTA.

LISA — Um noivado?
MIRELA — Hum... tá ficando importante, hein,
dona Lisa!
LISA — Mirela. Você acha que eu deva ir?
MIRELA — Olha... por mim e por você, não ia.
Mas recusar convite de patrão é pedir
pra ir pra forca. Ou traduzindo: é
pedir pra ser demitida.
LISA — Não... você se engana. O Astolfo e a
Cândida não iam me demitir só porque eu
não compareci a esse noivado.
MIRELA — Tá bom. Se você acha...!

LISA SE LEVANTA INDECISA.

LISA — Ai, minha irmã... eu tô tão indecisa.
Vou ou não vou?
MIRELA — Bom, eu de você ia. Porque lá (se
levanta) pode ter uns gatinhos.

LISA SORRI, MAS DISFARÇA.

LISA — Mirela, olha os modos! Você é nova
pra pensar em homens!
MIRELA — E quem disse “homem”? Disse
“gatinho”! Além do quê, eu tenho 16
anos. Sou uma mocinha, se quer saber!
LISA — Idade não significa nada, “mocinha”!
Enquanto eu, sua irmã, te sustentar,
quem dá as cartas sou eu! Ok?
MIRELA — (zombando) Ok, dona restrição!

MIRELA RI E DÁ UM BEIJO NO ROSTO DE LISA.

MIRELA — Ó, vou saindo pra tomar um banho.

Quer uma conselho? Vai nessa festa! Vai
ser bom, maninha!

MIRELA SAI. LISA INDECISA BUFA.
Corta para:

CENA 8. PRAÇA PÚBLICA. EXT. DIA. PARQUINHO.

CENA COMOVENTE. MARIA CAMINHA NUM LINDO PARQUE TODO VERDE.
CABISBAIXA. SIMPLESMENTE DO NADA, EM OFF OUVIMOS A VOZ DO
PEDRO JÚNIOR, GRITANDO.

PEDRO JR. — (alegre, OFF) Maria, Maria! Maria!

MARIA SE ANIMA. MARIA VIRA-SE E VÊ DE VERDADE SEU FILHO
CORRENDO EM SUA DIREÇÃO. PEDRO JR DÁ UM ABRAÇO APERTADO EM
MARIA, QUE SE COMOVE COM A CENA. MAS AO OLHAR PRO LADO, VÊ
MARIZETE E CLÁUDIO CHEGANDO, SÉRIOS. TENSÃO.

MARIA — (ignorando-os) Tava bom demais.
MARIZETE — Você quer dizer que tava bom demais
abraçar um menino que não pertence a
você?

MARIA SE FECHA. PEDRO JÚNIOR ESTRANHA O ASSUNTO.

PEDRO JR. — (para Marizete) Do que vocês tão
falando, mamãe?
MARIZETE — Nada, menino! Vai brincar, vai, no
parque!

PEDRO JÚNIOR SAI. MARIA VOLTA A ENCARAR MARIZETE.

MARIA — Vocês acham que estão vitoriosos, né?
MARIZETE — E não estamos?
MARIA — Vocês apenas conseguiram a guarda do
meu filho, não ganhou ele pra vocês!
MARIZETE — Mas temos uma arma!
MARIA — (seca) Ah, qual?
CLÁUDIO - (intervém) Se esqueceu que Pedro acha
que é nosso filho?
MARIA — Isso mesmo! Ele acha! Porque não é! E
quando eu conseguir a guarda dele,

ouvem bem vocês dois... eu vou proibir
ele de se referir a vocês dois, que não
são mais da minha famí/
MARIZETE — (corta) Como ousa? Somos seus pais!
MARIA — (cínica) Eram! Eram meus pais! A
partir do momento em que vocês dois
decidiram intervim na minha vida,
tomando meu filho de mim, passaram a
ser dois quaisquer.
MARIZETE — Fala isso de novo e eu te mostro o
que é “uma qualquer”! Você precisa de
uma educação, e é essa educação, que
você não teve que estamos dando pro
nosso netinho!
MARIA — (emocionada) Que bela educação!
Privar uma mãe de ver o filho... me
diz, que educação é essa?

MARIA, NÃO QUERENDO SE HUMILHAR NA FRENTE DOS PAIS, ENXUGA AS
LÁGRIMAS.

MARIZETE — (seca) Foi a justiça! A justiça que
te privou de ver o seu filho!
MARIA — (chorando) Isso porque vocês
decidiram inventar pra justiça que eu
não tinha condições de criá-lo! Foi
golpe-baixo! Tudo por causa de uma
merda de uma tradição familiar!
CLÁUDIO — (cínico) Não fala assim com a sua
mãe!
MARIA — E você? Quem é você pra julgar? Pra
falar? Você era meu pai sim, Cláudio,
quando não ajudava e apoiava as
maluquices dessa mulher que está diante
de mim! Vocês são malucos, pirados, ou
quê?
MARIZETE — Levar desaforo de filha? É muito pra
mim!
MARIA — Ah...? Agora é desaforo? Pra mim,
isso se chama VERDADE. Nua e crua!
Pra que tanta perfeição, meu Deus do
céu? Ninguém é perfeito!

POR INSTANTE, ESCORRE LÁGRIMAS NOS OLHOS DE MARIZETE. PODE

SER DE CROCODILO, MAS LÁGRIMAS TALVEZ SINCERAS.
Corta para:

CENA 9. MANSÃO DE JÚLIO. EXT. QUINTAL. ALGUM CANTO.

ESTER ABALADA CHEGA NA MESA DE BEBIDAS ABALADA
EMOCIONALMENTE. DEPOIS DE OUVIR SOBRE 'EUNICE' ELA VIRA UM
COPO DE UÍSQUE MUITO ABALADA.

ESTER — (abalada) Nem no dia do meu noivado
eu posso ficar em paz. Sem o povo
lembrar nessa barata morta da Eunice?!
Droga!

ESTER CAMINHA EM DIREÇÃO À COZINHA.

CENA 10. MANSÃO DE JÚLIO. INT. SALA. TARDE.

ESTER NERVOSÍSSIMA CAMINHA ATÉ O SOFÁ. DETALHE:UM RETRATO DE
EUNICE NA ESTANTE DA TV.

ESTER — Querem me ver na lama, será? Só ficam
lembrando em Eunice, Eunice, Eunice...!
(irritada) Morta-viva!

TENSÃO. NISSO, NÉIA, A EMPREGADA VEM CHEGANDO À SALA, COM UMA
BANDEJA, PREOCUPADA COM ESTER.

NÉIA — (se aproxima) Com licença, dona
Ester. Mas a senhora está bem?

CLOSE EM ESTER, QUE COM SEUS OLHOS MALVADOS SE LEVANTA E SE
APROXIMA DE NÉIA.

ESTER — Nada... (com as mãos) do que acontece
nessa casa, diz respeito a você!
Suburbana!
NÉIA — Mas... (assustada) dona Ester, eu só
queria ajudar. Te perguntei/
ESTER — Empregados não são contratados pra
fazerem perguntas. No caso, eu contrato
Marília Gabriela, caso eu queira! Suma
daqui, Néia! Agora!
NÉIA — A dona Eunice não me destratava

assim!

ESTER BRUTALMENTE PUXA A BANDEJA DAS MÃOS DE NÉIA.

ESTER — Não toca nesse nome! Me dá isso
aqui! Vai embora daqui, empregadinha!
NÉIA — (chateada) Com licença.

NÉIA SAI ABALADA. ESTER VIRA-SE RISPIDAMENTE E QUANDO VÊ
AQUELE ENORME RETRATO, FICA COM RECEIO.

ESTER — (para o retrato) Quando você vai me
deixar em paz, sua bruaca? Quando?
Quando eu morrer? Quando eu largar do
seu filhinho médico recém-formado e
recém-saído das fraldas? (Se aproxima
do enorme retrato) Por mim, eu
quebraria você toda, agora. Toda. Mas
não posso. (ri possessa) O que eu fiz
já tá bom. Ótimo, até! Se lembra,
Eunice? Hã?

ESTER FICA PENSATIVA. DÁ ENTRADA O FLASH-BACK seguinte:

CENA 11. FLASH-BACK. MESES ATRÁS. APÊ DE ESTER. INT. DIA.

O APÊ DE ESTER É UM LUXO SÓ, CONFORTÁVEL. ESTER JOGADA NO
SOFÁ QUE É TODO DE COURO. COM UM POTE, REPLETO DE SALADA DE
FRUTAS, ELA DELICIA-SE OUVINDO UM BOM CLÁSSICO NO RÁDIO QUE
ESTÁ EM CIMA DA MESA DE CENTRO. NISSO, ESCUTA-SE BATIDAS À
PORTA.

ESTER — (se irrita) Ai! Cadê o sossego na
própria casa, meu Deus?!

ESTER IRRITADA CAMINHA E ABRE, DANDO DE CARA COM EUNICE.

ESTER — (surpresa) Eunice?
EUNICE — (corta) Nem começa com o papinho de
boa moça, que não cola! Só vim pra dar
um aviso. Se afasta do meu filho!

ESTER FICA BALANÇADA, ENTÃO DIZ.

ESTER — Como assim, Eunice? Não entendi/
EUNICE — (cínica) Ah, não entendeu ou se faz
de não entendida? Hã? Eu explico, já
que você não entendeu!

EUNICE VAI ENTRANDO. ESTER INDIGNADA.

ESTER — Espera aí... (sem graça) cadê a
educação das pessoas/
EUNICE — Cala a boca e ouve! Quanto você quer?
ESTER — (desentendida) Quanto eu quero? Como
assim, eu não tô entendendo, Eunice.
EUNICE — Quanto você quer pra se afastar do
meu filho?

BAQUE PARA ESTER. TENSÃO, INSTRUMENTAL.

ESTER — Espera... por que você tá me
oferecendo dinheiro pra mim me afastar
do Leandro?
EUNICE — Simples. Prevenção!
ESTER — (confusa) Prevenção? Prevenção do
quê, dona Eunice?
EUNICE — De você. (pausadamente) Prostituta.

ESTER FICA SEM CHÃO AO VER SEU PASSADO SENDO RELEMBRADO POR
EUNICE. PARALISA-SE.

EUNICE — Meretriz, cadela! Meretriz pra mim
tinha que morrer.
ESTER — (sem rumo) Mas... como que...
EUNICE — Não me pergunte, eu não vou
responder! Só se afaste de meu filho.
Receberá por isso. Invente uma viagem
de última hora. Parta e nunca mais
volte.
ESTER — (preocupada) Não! Ficou louca? Não
hei me separar do Leandro. Meu passado
não diz nada do meu presente.

ESTER, PREOCUPADA COMEÇA A ANDAR DE UM LADO PRO OUTRO,
ENQUANTO EUNICE CONTINUA.

EUNICE — Ah... você acha que ser prostituta é

uma profissão de um dia, que você
esquece no outro? Você deve ter marcas
dessa profissão, até hoje!
ESTER — Quem te contou tudo isso?! Por que
contou?! Hã?!
EUNICE — Eu já disse, eu não vou dizer quem me
contou. Mas foi uma pessoa muito
conhecida sua.
ESTER — Bom... você nunca gostou de mim, tem
motivos pra me odiar. Agora, o meu
passado como o nome já diz, é passado!
E o Leandro não é desses que largam a
mulher pelo que ela é, ou deixa de ser!
EUNICE — (ri) Ah, Ester... Leandro não é tão
bonzinho assim, não. Eu conheço meu
filho. Ele vai correr atrás de outra. E
deixar você!
ESTER — Que culpa tenho eu? Hã? Se fui...
enfim, fugi de casa por causa duns
problemas que eu não posso contar, com
o meu padrasto. E... hoje, estou aqui.
EUNICE —— vivendo do dinheiro da minha
família! Interesseira!
ESTER —— Dona Eunice, eu não sou
interesseira. Muito menos/
EUNICE —— (se aproxima) Ah, não é? Explica os
limites de inúmeros cartões de créditos
que você estourou!
ESTER —— Olha, estamos estendendo o assunto.
A senhora foi grossa comigo, invadiu
minha residência/
EUNICE —— (esbraveja) Para de se fingir! Para,
garota!!! Se mostra! Prova que você é
uma mulher, de honra, que não se
esconde! Mascarada!
ESTER —— A senhora é que se esconde. Atrás
dessa mulher que tem cara de boazinha,
existe uma mulher fria, perversa... que
desmoraliza todo mundo, mas vai ver no
fundo é uma ordinária!

SEM MEDIR ESFORÇOS, EUNICE METE UM TAPA NA CARA DE ESTER, QUE
NUM VAP-VUPT LHE DÁ OUTRO TAMBÉM.

EUNICE —— Imunda! Cachorra!
ESTER —— A senhora quem começou! Dona Eunice.
EUNICE —— Ah, mas isso não vai ficar assim, eu
vou ligar pro Leandro, agora! Você vai
ser desmascarada, sua ordinária.

ESTER FICA SEM AÇÃO. ASSUSTADA.

ESTER —— Ligar pro... Leandro?
EUNICE —— Isso mesmo! Agora, você não escapa
da verdade!

EUNICE PUXA DA BOLSA O SEU CELULAR. ELA CAMINHA PRA SACADA DO
APÊ. CAM MOSTRA A ALTURA IMENSA QUE É O APÊ DE ESTER, E
EUNICE NA SACADA, PEGANDO O CELULAR DA BOLSA, DE COSTAS PARA
ESTER, QUE FICA SEM REAÇÃO.

ESTER —— (para si, baixinho) Meu Deus... e
agora? E agora?! O que eu faço? Leandro
vai descobrir tudo, tudo! Não...!

EUNICE CUTUCA O CELULAR ENRAIVADA, QUE DÁ FORA DE ÁREA.

EUNICE —— (histérica) Droga! (para Ester) Não
pense que você vai se livrar. O meu
filho tem o direito de saber de toda a
verdade. Toda!
ESTER —— Tudo bem. Conte. Vai fundo!

TALVEZ POR IMPULSO, ESTER SAI DE PERTO, INDO PRA COZINHA.
EUNICE NÃO DÁ BOLA E CAMINHA ATÉ A SACADA, MIRANDO O CELULAR
E TENTANDO DISCAR.CAM MOSTRA APENAS UMA MÃO E UMA ARMA NA
NUCA DE EUNICE. EUNICE SENTE A ARMA EM VOCÊ E VIRA-SE
PARALISA.

EUNICE —— (paralisada) O que é isso?

CAM FOCA ESTER, SORRINDO COM A ARMA 32 NA MAÕ.

ESTER —— (ri) Sorria. Afinal, a vida é bela!
(ri)
EUNICE —— Você ganha o que me matando? A
verdade escondida, é isso?
ESTER —— Isso mesmo!

EUNICE —— Abaixa essa arma!
ESTER —— (ri) Quem vai me impedir? Você?
ESTER —— Vai atirar? Mais um crime cometido
por você, meretriz!
ESTER —— Não... eu não vou atirar...

ESTER DERRUBA A ARMA NO CHÃO. EUNICE SE IMPRESSIONA.

ESTER —— Eu vou fazer melhor!

ESTER SORRINDO EMPURRA EUNICE DA SACADA, QUE CAI AOS GRITOS
FEITO UM BONECO LÁ EMBAIXO. ESTER SE DESESPERA NA HORA.

ESTER —— (desespera-se) Ah, meu Deus! O que
eu fiz! O que eu fiz? (T) Eu preciso
fugir, preciso!

RAPIDAMENTE, ESTER PEGA A ARMA E SAI CORRENDO PRA SALA DO
APÊ. Corta para: EUNICE CAÍDA NO CHÃO, LÁ EMBAIXO. CURIOSOS
SE APROXIMAM.

Disso, corta para: REALIDADE/

CENA 10. MANSÃO DE JÚLIO. INT. SALA. TARDE. CONTINUIDADE DO
FLASH-BACK, REALIDADE.

ESTER —— (para si) Ester, Ester... (vira-se)
Nada de ficar vivendo de passado. Hoje
é o teu dia! Teu! Só teu!

ESTER FICA PENSATIVA, DEPOIS DISPARA UM GRITO.

ESTER —— (esbraveja) Néia!!!! Ô Néia!!!!
Anda, sua incompetente!

NÉIA VEM CORRENDO, QUASE QUE COMO UM FURACÃO.

ESTER —— Me traz um... sei lá, alguma coisa
pra me acalmar. Agora!
NÉIA —— Sim, dona Ester! Com licença!

NÉIA SAI. ESTER SE SENTA.
Corta para:


CENA 11. MANSÃO DE JÚLIO. EXT. QUINTAL. TARDE. CONTINUIDADE.

VEM ENTRANDO PELO QUINTAL ASTOLFO, CÂNDIDA E ACOMPANHADOS DE
LISA, QUE VESTE UM LINDO VESTIDO. JÚLIO OS VÊ DE LONGE E
CORRE PRA RECEBÊ-LOS.

JÚLIO —— Astolfo, Cândida... meus amigos!
Quanto tempo!
CÂNDIDA —— (sorrindo) Ah... faz muito tempo
mesmo, meu querido.
JÚLIO —— Que bom que vocês vieram, viu. Era o
que faltava, só vocês. (percebe Lisa) E
essa linda moça? (para Cândida,
descontraído) Não me diga que
engravidou?

A PIADA FAZ OS QUATRO RIREM.

CÂNDIDA —— Ô! Quem me dera engravidasse... Mas
enfim, essa é Lisa. Da nossa escola.
Sabe, ela é professora.
LISA —— De língua portuguesa. (para Júlio)
Muito prazer.

JÚLIO FICA ENCANTADO E DÁ UM APERTO DE MÃO EM LISA.

JÚLIO —— É um prazer, Lisa. Sabe, não falo
mentindo, não. Sei como é a vida dos
professores hoje em dia. Pouco
remunerados, e na maioria das vezes
destratados.
LISA —— Nem me fale.
ASTOLFO —— (rindo) Ué... a gente veio aqui pra
se divertir,aproveitar... ou ficar
falando de trabalho?
JÚLIO —— Tá valendo os dois, ué!

TODOS VÃO RINDO, ENQUANTO JÚLIO OS ACOMODA.
Corta para:

CENA 12. MANSÃO DE JULIO. EXT. OUTRO CANTO. TARDE.

CAM SE APROXIMA E MOSTRA ESTER FUÇANDO A MESA DE DOCES E

BEBIDAS.

ESTER —— Mas esses doces estão uma porcaria!
Bufê vagabundo esse meu sogro arrumou!
Mão de vaca! (nojo) O que é isso?
Serviram essa droga no meu noivado!
(histérica) Ah, eu corto a cabeça de
um!

CAM SUBJETIVA ENTRA EM AÇÃO: MOSTRA-SE NO PONTO DE VISTA DE
ALGUÉM: UMA PESSOA CHEGANDO, PASSOS EXAGERADOS. Mistério... A
PESSOA CHEGA POR TRÁS DE ESTER. SURPREENDENTEMENTE A PESSOA
TOCA OS OMBROS DE ESTER, DIZENDO.

MULHER —— Quanto tempo, minha cara!

ESTER DÁ UM GIRO 360º VIRANDO-SE. QUANDO ELA DÁ DE CARA COM
CERTA PESSOA ELA FICA PARALISADA, PÁLIDA.

ESTER —— (assustada) Raquel?

CAM REVELA RAQUEL, A SORRIR.

RAQUEL —— Eu mesma... Raquel... A sua colega
de décadas... A sua amiga sincera... A
sua colega da batalha... Gostou da
sessão nostalgia? Porque eu to adorando
te surpreender!

MAIS UMA PEÇA DO PASSADO DE ESTER ESTÁ DE VOLTA. ESTER SEM
CHÃO A OLHAR PRA RAQUEL, QUE SORRI.

Corta para:
FIM DO CAPÍTULO.

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