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ANO XVIII • NÚMERO 49 • janeiro / junho • 2010



                                                • Destaque • Festa da Fé: Rosto(s) da Igreja Diocesana • pág. 63

                                                 Fé na beleza
                                                 espiritual e moral
                                                 da vida




                                                                         • Decretos • aprovação • pág. 11
                                    Estatutos do Conselho Pastoral Diocesano
                                                         • Documentos • Orientações Pastorais • pág. 26
                                              Celebrações da Eucaristia Dominical
                             • Teologia/Pastoral • Ordem da Visitação foi fundada há 4 séculos • pág. 99
                 Entrega a Deus, na humildade e simplicidade de vida
                                                                       • História • Saul Gomes • pág. 109
                                Diocese de Leiria – contributos documentais

DOCUMENTOS • decretos • escritos episcopais • VIDA ECLESIAL • notícias • entrevistas • REFLEXÕES • teologia/pastoral • história • DO
Leiria-Fátima
       Órgão Oficial da Diocese
ANO XVIII • NÚMERO 49 • JANEIRO / JUNHO • 2010
Ficha Técnica|
             Director | Luís Inácio João

   Chefe de Redacção | Luís Miguel Ferraz

       Administrador | Henrique Dias da Silva

Conselho de Redacção | Belmira de Sousa, Jorge Guarda, Luciano Cristino,
                        Manuel Melquíades, Saul Gomes
       Capa/Grafismo | Luís Miguel Ferraz

   Propriedade/Editor | Diocese Leiria-Fátima / Gabinete de Apoio aos Serviços Pastorais

                Sede | Seminário Diocesano de Leiria • 2414-011 Leiria
                        Tel.: 244832760 • Fax: 244821102
                        Correio Elec.: revista@leiria-fatima.pt
        Periodicidade | Semestral

             Tiragem | 330 exemplares

               Preço | 6 euros (avulso) • 12 euros (assinatura anual)

           Impressão | Tipografia de Fátima

       Depósito Legal | 64587/93




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                                                                                             . editorial .
	                                                                                   Rumo ao digital	       5

	                                                                          Documentos•••
	                                                                                            . decretos .
	                                     Nomeações episcopais • Comissão Diocesana Justiça e Paz	              9
	                                              Nomeações episcopais • Cáritas Diocesana de Leiria	         10
	                                Decreto de Aprovação dos Estatutos • Conselho Pastoral Diocesano	         11
	                                                          Nomeação episcopal • Pároco da Ortigosa	        19
	                     Decreto de nomeação para o triénio 2010/2013 • Conselho Pastoral Diocesano	          19
                                                                         . documentos pastorais .
	             Mensagem dos Bispos das Dioceses do Centro • Ano Sacerdotal - Quaresma de 2010 	 21
	                                                      Mensagem quaresmal • Quaresma Ecológica	 23
	                                   Orientações Pastorais • Celebrações da Eucaristia Dominical	 26
                                                                             . escritos episcopais .
	                                       Homilia de Ano Novo • Cuidar da criação, caminho para a paz	       29
Homilia nas exéquias de Monsenhor Henrique Fernandes da Fonseca • Homem de fé e pastor exemplar	           33
	         Discurso na tomada de posse • Comissão Diocesana Justiça e Paz e Cáritas Diocesana	              36
	                                   Apelo do Bispo diocesano • Peregrinação do Santo Padre a Fátima	       39
	                Homilia da Missa Crismal • Presbitério em comunhão e ao serviço da comunhão	              40
	                           Visita Papal ao Santuário de Fátima • Saudação do Bispo de Leiria-Fátima	      45
	                                                                      Festa da Fé • Discurso inaugural	   46
	                                                      Festa da Fé • Acolhimento da Virgem Peregrina	      49
	                                                     Homilia • Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo	       51
                                                                                              . diversos .
	         Comunicado da Diocese • Santo Padre nomeia Monsenhor Manuel Gonçalves Janeiro	                   53
	                Comunicado da Diocese • Pia União das Escravas do Divino Coração de Jesus 	               55
	                                               Comunicado da Diocese • P Marcin Strachanowski	
                                                                         .                                 57
	                                                Comunicado da Diocese • Nomeações episcopais	             58
	                         Comunicado do Conselho Presbiteral • Ano dedicado ao serviço à pessoa	           60



                                                                         | 49 • LEIRIA-FÁTIMA | 3
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                                                                                Vida Eclesial•••
                                                                                                    . destaque .
	            Diocese de Leiria-Fátima mobilizou-se para a festa • Fé na beleza espiritual e moral da vida	          63
	                                                        Falecimento • Monsenhor Henrique da Fonseca	               67
                                                                                                      . especial .
	                                         Visita Pastoral do Bispo à Diocese • Pela vigararia de Ourém…	            69
                                                                               . serviços e movimentos .
	                              25 anos da sua fundação • Escola de Formação Teológica de Leigos 	                   79
	                      Centro de Formação e Cultura e Escola Diocesana Razões da Esperança	                         86
	                                                        Serviço Diocesano de Pastoral da Saúde	                    87
	                                                               Serviço Diocesano de Catequese 	                    87
	                                                                   Grupo Missionário Ondjoyetu	                    88
	                                                          Movimento dos Cursos de Cristandade	                     89
	                                                                Convívios Fraternos Diocesanos	                    91
	                                                      Movimento das Equipas de Nossa Senhora	                      92
                                                                                                 . entrevistas .
                                                              Entrevista ao diácono Miguel Sottomayor
	                                “Espero que a minha vida seja uma constante entrega a Cristo”	                     93



                                                                                        Reflexões•••
                                                                                        . teologia/pastoral .
	                                              Entrega a Deus, na humildade e simplicidade de vida	                 99
                                                                    Ordem da Visitação foi fundada há 4 séculos -
                          Visita “guiada” ao interior do Convento da Batalha: O peso da idade, a leveza de Deus -
               D. António Marto preside à celebração festiva na Batalha: “Oásis espiritual no deserto do mundo” -
     Entrevista à Superiora do Convento da Batalha: “Fazer subir até ao trono de Deus o «aroma das virtudes»” -
                                                                                                       . história .
	                               Diocese de Leiria – contributos documentais para a sua história	 109
	                                Novos e antigos elementos para a história do castelo de Leiria	 141




4 | LEIRIA-FÁTIMA • 49 |
Editorial


Rumo ao digital
    Tal como anunciado anteriormente, este será o último ano da publicação
em papel da revista “Leiria-Fátima – Órgão Oficial da Diocese”. A justifica-
ção foi já apresentada na nossa edição número 47, de Janeiro/Junho de 2009,
e prende-se, sobretudo, com a optimização de recursos materiais e rapidez de
resposta que nos é, actualmente, permitida pelo formato das edições digitais.
    A edição presente, relativa ao primeiro semestre de 2010, apresenta-se já
com algumas opções editoriais condicionadas por essa perspectiva de altera-
ção de formatos.
    Assim, na secção Documentos registamos, como usual, a documentação
oficial da Diocese, os escritos episcopais e outros documentos de relevância
pastoral.
    Quanto à Vida Eclesial, inclui-se ainda algum conteúdo noticioso, pen-
sando sobretudo em deixar o registo histórico desse grande acontecimento
que foi a “Festa da Fé – Rosto(s) da Igreja Diocesana”. Publicam-se também
as entrevistas aos párocos das comunidades onde o Bispo diocesano passou
em Visita Pastoral, dando seguimento ao trabalho iniciado anteriormente
nesta rubrica, bem como as informações enviadas pelos vários serviços e
movimentos diocesanos. Mas não se apresentam já as notícias do resumo
do semestre na Diocese e no Santuário de Fátima, tanto pelo desfasamento
temporal entretanto registado, como pelo facto de existirem outros meios de
fácil acesso a essas informações.
    Finalmente, na secção Reflexões, publica-se um trabalho de fundo relativo
aos 400 anos da fundação da Ordem da Visitação e dois artigos de divulgação
de documentação histórica da Diocese.

    O número respeitante ao segundo semestre de 2010 está já na fase final de
produção, pelo que, em breve, se dará por concluído este projecto no modelo
até agora disponibilizado aos leitores. Nessa altura, divulgaremos a forma e
as condições do novo projecto editorial do Órgão Oficial da Diocese.

                                                                A Redacção


                                                   | 49 • LEIRIA-FÁTIMA | 5
Editorial
Documentos
  . decretos . documentos pastorais .
     . escritos episcopais . diversos .
. decretos .




                                                                                Documentos
Nomeações episcopais
Comissão Diocesana Justiça e Paz
    António Augusto dos Santos Marto, Bispo de Leiria-Fátima, faz saber
quanto segue:
    Sendo necessário constituir uma nova Comissão Diocesana Justiça e Paz
para o triénio 2010-2012, havemos por bem nomear as seguintes pessoas para
a integrar: Doutor Eugénio Pereira Lucas (Presidente), Dr.ª Mavíldia Carreira
da Costa Frazão, Dr.ª Maria Ana Carvalho de Castro Barradas Toledo Rolla,
Dr. Carlos Magalhães de Carvalho, Ambrósio Jorge dos Santos, P. Dr. Luís
Inácio João.
    Esta Comissão é um organismo laical da Igreja diocesana com os seguin-
tes objectivos: sensibilizar a comunidade diocesana e a sociedade para os
problemas de justiça nela sentidos; promover e defender os valores da justiça
e da paz, numa reflexão de inspiração cristã; reflectir e divulgar a Doutrina
Social da Igreja; incentivar o compromisso dos cristãos na construção da so-
ciedade, da política e da economia; promover uma análise crítica, inspirada
no humanismo cristão, dos fenómenos sociais. Na sua acção deverá ter em
conta as orientações do Magistério da Igreja, nomeadamente do Pontifício
Conselho Justiça e Paz, procurando agir em coordenação com a Comissão
Nacional Justiça e Paz.
    Fazemos votos de que esta Comissão possa dar um bom contributo para a
realização destes objectivos.
                                              Leiria, 2 de Fevereiro de 2010
              † António Augusto dos Santos Marto, Bispo de Leiria-Fátima


                                                   | 49 • LEIRIA-FÁTIMA | 9
. decretos .



Nomeações episcopais
Cáritas Diocesana de Leiria
    António Augusto dos Santos Marto, Bispo de Leiria-Fátima, faz saber
quanto segue:
    Sendo necessário constituir novos corpos sociais da Cáritas Diocesana de
Leiria, para o triénio 2010-2012, nomeamos os seguintes elementos:
    Direcção
    Presidente: Dr. Júlio Coelho Martins
    Vice-Presidente: Dr.ª Margarida Maria Oliveira Faria Marques Ramos
    Secretário: Dr. Lúcio Manuel Santos Ribeiro Alves
    Tesoureiro: Dr. Pedro Manuel de Melo Nogueira Santos
    Vogais: Joaquim Madaíl Brilhante Pedrosa
    Dr.ª Luciana Margarida Lopes Almeida dos Santos
    Dr. Manuel Nogueira Gonçalves dos Santos
    Nuno Miguel Vieira dos Santos
    Pedro José Grasina Barros
    Eng.º Pedro Nuno Carreira Ascenso
    Conselho Fiscal
    Presidente: Dr.ª Rosa Maria de Sousa Brilhante Pedrosa
    Vogais: Carlos Pereira Mendes
    Henrique Dias da Silva
    Assistente: P. Dr. Luís Inácio João
    Estes cargos devem ser exercidos de acordo com os Estatutos, respeitando
as normas diocesanas e as orientações do Bispo diocesano.
                                              Leiria, 2 de Fevereiro de 2010
              † António Augusto dos Santos Marto, Bispo de Leiria-Fátima




10 | LEIRIA-FÁTIMA • 49 |
. decretos .



Decreto de Aprovação dos Estatutos do
Conselho Pastoral Diocesano
    Dom António Augusto dos Santos Marto, bispo de Leiria-Fátima, faz sa-
ber quanto segue:
    Tendo sido oportuna e cuidadosamente revisto, em sede própria e de acordo
com as normas canónicas em vigor, o texto dos Estatutos do Conselho Pastoral




                                                                                 Documentos
Diocesano aprovado pelo meu predecessor em 1 de Agosto de 1997, de modo
a torná-lo um instrumento mais adequado às actuais exigências e necessidades
pastorais da nossa Diocese, havemos por bem, por meio deste Decreto:
    1. Aprovar e promulgar os presentes Estatutos do CONSELHO PASTO-
RAL DIOCESANO de Leiria-Fátima, que entrarão de imediato em vigor;
    2. Mandar que se proceda, de acordo com as disposições estatutárias, às
respectivas eleições previstas nos artigos 9-10, e que os resultados consigna-
dos em acta nos sejam comunicados.
                                              Leiria, 26 de Fevereiro de 2010
              † António Augusto dos Santos Marto, Bispo de Leiria-Fátima


                              ESTATUTOS
                                PREÂMBULO
    1. São Paulo, ao escrever aos cristãos de Éfeso a propósito do papel dos
carismas e ministérios na edificação e organização da Igreja como corpo vi-
sível de Cristo, recorda-lhes: “A cada um de nós foi dada a graça, segundo a
medida do dom de Cristo. (...) E foi Ele que a uns constituiu como Apóstolos,
Profetas, Evangelistas, Pastores e Mestres, em ordem a preparar os santos
para uma actividade de serviço, para a construção do Corpo de Cristo, até que
cheguemos todos à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, ao
homem adulto, à medida completa da plenitude de Cristo. (...) É por Ele que
o Corpo inteiro, bem ajustado e unido, por meio de todas as junturas, opera o
seu crescimento orgânico segundo a actividade de cada uma das partes, a fim
de se edificar na caridade” (Ef 4, 7.11-13.15).
    2. O decreto sobre O Múnus Pastoral dos Bispos na Igreja (Christus Do-
minus), do Concílio Vaticano II, reconhecendo os Bispos como legítimos
sucessores dos Apóstolos, exorta-os a serem para os seus fiéis, no exercício
do seu múnus, “bons pastores que conhecem as suas ovelhas e por elas são
conhecidos como verdadeiros pais (...), de tal modo que todos, conscientes

                                                  | 49 • LEIRIA-FÁTIMA | 11
. decretos .


dos seus deveres, vivam e operem em comunhão de caridade” (CD 16). E,
para que possam desempenhar com solicitude esta missão que lhes foi con-
fiada por instituição divina, o mesmo documento aconselha-os a conhecerem
bem as necessidades dos seus fiéis, dentro das circunstâncias sociais em que
vivem, mostrando interesse por todos, reconhecendo-lhes a obrigação e o di-
reito de colaborarem activamente na edificação do Corpo místico de Cristo e
favorecendo as várias formas de apostolado em toda a diocese e em cada uma
das suas partes, coordenando a união de todas as obras apostólicas (cf Idem),
de maneira que – sublinha – “todas as iniciativas e instituições de carácter ca-
tequético, missionário, caritativo, social, familiar ou escolar, e qualquer outro
trabalho com finalidade pastoral, tenham um desenvolvimento harmónico,
o que ao mesmo tempo fará sobressair mais a unidade da diocese” (CD 17).
    3. Acolhendo a referida doutrina eclesiológica de São Paulo, o mesmo
decreto conciliar recomenda aos Bispos que em todas as dioceses se estabe-
leça um Conselho pastoral, presidido pelo Bispo diocesano e formado por
clérigos, religiosos e leigos (cf CD 27), definindo como sua principal missão
“investigar e apreciar tudo o que diz respeito às actividades pastorais e for-
mular conclusões práticas” (ibidem). Esta recomendação foi acolhida pelo
Código de Direito Canónico, sob a forma de lei universal para toda a Igreja,
nos cânones 511-514, os quais sublinham o seu carácter necessário como
órgão consultivo do Bispo.
    4. Assim, podemos definir o Conselho Pastoral Diocesano (CPD) como
um órgão significativo de ajuda ao Bispo, no desempenho do seu ministério
apostólico, no qual, a participação eclesial de todos os fiéis (que é um direito
e dever de todos os baptizados), através do aconselhamento na Igreja, não só
é necessária como fundamental, em vista a um discernimento para o serviço
do Evangelho que deve ser preocupação comum. De facto, em virtude da sua
incorporação na Igreja pelo Baptismo, todos os fiéis – leigos, clérigos e reli-
giosos – estão habilitados a participar realmente e a construir, dia-a-dia, a co-
munidade diocesana, pelo que o seu contributo é precioso e imprescindível.
    5. O CPD tem pois, um duplo significado na vida e organização da Igreja:
por um lado, representa a imagem da fraternidade e da comunhão da Igreja
diocesana, da qual é expressão na variedade dos seus membros; por outro
lado, e apesar do carácter consultivo que o caracteriza, o CPD deve ser um
instrumento privilegiado da comum decisão pastoral, onde o ministério da
cabeça, próprio do Bispo - no desempenho da presidência -, e a co-responsa-
bilidade de todos os seus membros, devem encontrar a sua síntese, de modo
que, todos “vivam e operem em comunhão de caridade” (CD 16).

12 | LEIRIA-FÁTIMA • 49 |
. decretos .


                                Capítulo I
                                Natureza
                                Artigo 1.°
    O Conselho Pastoral Diocesano (CPD) é um órgão consultivo auxiliar do
Bispo, que a ele preside, como expressão da co-responsabilidade apostólica
de todos os baptizados na comunhão eclesial.




                                                                                     Documentos
                                 Artigo 2.°
   O CPD rege-se pelo Direito e demais orientações universais da Igreja,
por estes Estatutos e outras normas que vierem a ser estabelecidas pelo Bispo
diocesano.

                                Artigo 3.°
    O CPD tem voto consultivo. Pode, porém, o Bispo diocesano atribuir-lhe
força deliberativa, comunicando previamente ao Conselho essa sua decisão.

                             Artigo 4.°
   O CPD tem a sua sede no Seminário Diocesano de Leiria.

                         Capítulo II
                    Competências e funções
                                 Artigo 5.º
    É da competência do CPD estudar e apreciar o que diz respeito às princi-
pais orientações e actividades pastorais na Diocese, em ordem a tornar mais
adequado e frutuoso o cumprimento da missão eclesial em favor das pessoas
(cf cân. 511).

                                   Artigo 6.°
   São funções do CPD:
   a) Ajudar o Bispo diocesano a definir as orientações pastorais comuns a
     todos, mediante o projecto pastoral e outros instrumentos.
   b) Promover o discernimento da realidade da Diocese, tirar conclusões
     práticas sobre ela e indicar os caminhos pastorais a seguir.
   c) Possibilitar a partilha de experiências, projectos e preocupações dos di-
     versos grupos ou agentes da pastoral profética, litúrgica e sócio-caritativa.

                                                    | 49 • LEIRIA-FÁTIMA | 13
. decretos .


   d) Dar parecer sobre o programa anual de acção pastoral da Diocese.
   e) Avaliar periodicamente os resultados das orientações definidas, dos
     programas e das actividades realizadas.

                                 Artigo 7.°
    No exercício das suas funções, o CPD contará com o apoio e colaboração
de todas as estruturas do Povo de Deus, públicas ou privadas, podendo mes-
mo constituir comissões especiais.

                              Capítulo III
                             Constituição
                                 Artigo 8.º
    O CPD é constituído por leigos, clérigos e membros dos Institutos de Vida
Consagrada, de modo a retratar a variedade do Povo de Deus na Diocese,
segundo as condições sociais, culturais e de apostolado, e as diferentes zonas
(cf cân. 512).
    § único. Só devem ser escolhidos fiéis que estejam em plena comunhão
com a Igreja Católica e se distingam pela firmeza de fé, bons costumes e
prudência (cf cân. 512 § 3).

                                 Artigo 9.°
   São membros do CPD:
   § 1. Em função do seu cargo:
       a) Vigário Geral.
       b) Vigário judicial.
       b) Reitor do Seminário.
       c) Reitor do Santuário de Fátima.
   § 2. Por eleição:
       a) Um representante do Conselho Presbiteral.
       b) Um representante dos Vigários da vara.
       c) Um representante do Conselho de Coordenação Pastoral.
       d) Um leigo representante de cada vigararia, eleito em assembleia
         constituída pelos conselhos pastorais paroquiais, presidida pelo res-
         pectivo vigário.
       e) Um representante de cada um dos seguintes departamentos dioce-
         sanos, indicados pelos respectivos directores: educação cristã, pas-


14 | LEIRIA-FÁTIMA • 49 |
. decretos .


          toral juvenil e escolar, pastoral familiar, liturgia, vocações cristãs e
          pastoral social.
       f) Um representante dos institutos de vida consagrada masculinos, ou-
          tro dos femininos e outro dos seculares, indicados pela respectiva
          conferência diocesana (CIRP) ou equivalente.
       g) Três representantes das associações de fiéis, movimentos apostó-
          licos e novas comunidades, eleitos em assembleia de responsáveis,
          convocada e presidida pelo director do departamento diocesano das




                                                                                     Documentos
          vocações cristãs.
   § 3. Por nomeação:
       Os que o Bispo diocesano queira designar, sendo desejável que o seu
          número não ultrapasse um décimo do total e que as pessoas escolhi-
          das provenham de áreas não abrangidas pelo § 2.

                                  Artigo 10.º
    § 1. De cada uma das eleições a que se refere o § 2 do artigo 9.º, deve-
rá lavrar-se uma acta, assinada pelo presidente ou pelo secretário, na qual
devem constar os resultados do escrutínio, com a indicação do número de
presenças e ausências, nome dos eleitos, sua data de nascimento, profissão,
endereço postal e electrónico e número de telefone e/ou de telemóvel. O pre-
sidente providenciará pelo envio, o mais rápido possível, dessa acta à Secre-
taria episcopal.
    § 2. As eleições serão feitas por sufrágio directo, escrito e secreto.
    § 3. Todos os membros eleitos deverão ser confirmados pelo Bispo Dio-
cesano.

                                Artigo 11.º
   § 1. O CPD é constituído pelo prazo de três anos.
   § 2. Os membros do CPD podem sempre ser nomeados de novo ou reeleitos.
   §3. Ao vagar a Sede Episcopal, o CPD cessa as suas funções (cf cân. 513 § 2).

                                Artigo 12.º
   § 1. Os membros do CPD cessam o mandato:
       a) Por demissão ou por renúncia aceite pelo Bispo diocesano;
       b) Por cessação do respectivo cargo, os membros natos;
       c) Por deixarem de pertencer ao grupo que os elegeu.
   § 2. As vagas serão preenchidas da mesma forma da anterior designação,
mas apenas para completar o mandato.

                                                    | 49 • LEIRIA-FÁTIMA | 15
. decretos .


                             Capítulo IV
                            Organização
                               Artigo 13.º
   São órgãos constitutivos do CPD:
   a) O Presidente.
   b) O Secretariado Permanente.
   c) O Plenário.

                                   Artigo 14.º
   Compete ao Presidente, que é sempre o Bispo Diocesano:
   a) Aprovar e promulgar os Estatutos.
   b) Confirmar os membros a que se refere o artigo 9.º § 2.
   c) Designar os membros da sua escolha, conforme o artigo 9.° § 3.
   d) Nomear o Secretário.
   e) Convocar as reuniões do Plenário e aprovar a agenda de trabalhos.
   f) Presidir, por si, por seus vigários ou delegados, a essas reuniões.
   g) Aprovar e tornar públicas as conclusões tomadas nas reuniões plenárias.
   h) Coordenar superiormente toda a actividade do CPD.

                               Artigo 15.º
   O Secretariado Permanente é constituído pelo Secretário e mais dois
membros do CPD, eleitos pelo Plenário na sua primeira reunião ordinária; o
mais votado será o Secretário-Adjunto.

                                  Artigo 16.º
    Compete ao Secretariado Permanente:
    a) Recolher as manifestações e desejos, opiniões e pareceres dos diocesa-
      nos, através dos membros do CPD e por outros meios legítimos.
    b) Preparar as reuniões, incluindo a agenda, tendo em conta os elementos
      recolhidos segundo a sua importância e urgência.
    c) Colaborar, segundo as suas competências, na execução das decisões
      tomadas nas reuniões plenárias.
    d) Dar parecer ao Presidente, sempre que solicitado, disponibilizando-se
      para todas as formas de colaboração pastoral.
    § único. O Secretariado Permanente reunir-se-á de acordo com as neces-
sidades para o cumprimento das tarefas que lhe incumbem.


16 | LEIRIA-FÁTIMA • 49 |
. decretos .


                             Artigo 17.º
Compete ao Secretário do CPD:
a) Moderar as reuniões plenárias do CPD e do Secretariado Permanente.
b) Orientar a preparação da agenda de trabalhos das reuniões ordinárias
  do Plenário e submetê-la à aprovação do Presidente, em conformidade
  com os artigos 15.º e) e 16.º b).
c) Convocar as reuniões do Secretariado Permanente e fixar a agenda de
  trabalhos.




                                                                              Documentos
d) Dinamizar o trabalho, quer do Plenário, quer do Secretariado Perma-
  nente, em ordem a ao funcionamento eficiente do CPD.

                             Artigo 18.º
Compete ao Secretário-Adjunto:
a) Auxiliar o Secretário em tudo o que lhe for solicitado e substituí-lo em
  caso de impedimento.
b) Redigir as actas das reuniões do Secretariado Permanente e do Plená-
  rio.
c) Enviar as convocatórias e demais correspondência.
d) Ordenar e guardar os documentos na sede do CPD, nomeadamente
  relatórios, informações e correspondência.
e) Assinar com o Presidente e o Secretário as actas do Plenário e com o
  Secretário as actas do Secretariado Permanente, rubricando todos os
  documentos do Conselho.

                             Artigo 19.º
Compete ao Plenário:
a) Fornecer a mais completa informação sobre as necessidades, desejos,
  problemas e opiniões (cf LG 37) relativos à agenda de trabalhos.
b) Colaborar no estudo e programação de projectos e acções pastorais e
  propor iniciativas.
c) Pronunciar-se sobre o trabalho e projectos de comissões eventuais, se-
  gundo o artigo 7.°.
d) Debater propostas e formular conclusões práticas, através de votação
  ou outra forma adequada (cf LG 37; CD 27).




                                               | 49 • LEIRIA-FÁTIMA | 17
. decretos .


                             Capítulo V
                           Funcionamento
                              Artigo 20.º
  O CPD reunir-se-á, ordinariamente, duas vezes por ano, e, extraordinaria-
mente, sempre que necessário.

                                 Artigo 21.º
    A reunião ordinária do CPD deverá ser convocada com um mínimo de
um mês de antecedência, devendo, nessa ocasião, ser enviada a agenda de
trabalho.
    § único. No caso de julgar insuficiente a documentação sobre os temas da
agenda, cada membro poderá requerer ao Secretariado Permanente as infor-
mações que lhe parecerem necessárias para estudar os assuntos a debater. O
Secretariado Permanente ajuizará da oportunidade de as facultar.

                                  Artigo 22.º
    Cada membro do CPD procurará actuar com eficácia e de modo respon-
sável, quer tomando parte activa nas reuniões, quer enviando ao Secretariado
Permanente propostas, notas escritas, relatórios, comunicação de experiên-
cias, resultados de inquéritos e entrevistas, quer por outros meios legítimos.

                            Capítulo VI
                         Disposições finais
                                Artigo 23.º
   Estes Estatutos entram em vigor após a promulgação pelo Bispo Diocesa-
no e serão revistos sempre que for julgado necessário.

                              Artigo 24.º
   Nos casos omissos ou duvidosos destes Estatutos, compete ao Bispo dio-
cesano o esclarecimento dos mesmos.




18 | LEIRIA-FÁTIMA • 49 |
. decretos .



Nomeação episcopal
Pároco da Ortigosa
    D. António Augusto dos Santos Marto, Bispo de Leiria-Fátima, faz saber
quanto segue:
    Tendo em consideração o pedido de dispensa, por motivos de saúde, que
nos foi apresentado pelo Rev.º Padre Fernando Pereira Ferreira, dispensamo-




                                                                                  Documentos
lo do múnus de pároco da Paróquia de Ortigosa e nomeamos o Rev.º Padre
Isidro da Piedade Alberto como administrador paroquial da referida paróquia,
de acordo com os cân. 539 e 540 do C.I.C..
    Esta nomeação tem efeitos a partir da presente data e é válida até à tomada
de posse do novo pároco.
                                                 Leiria, 28 de Março de 2010
              † António Augusto dos Santos Marto, Bispo de Leiria-Fátima




Decreto de nomeação para o triénio 2010/2013
Conselho Pastoral Diocesano
    António Augusto dos Santos Marto, Bispo da Diocese de Leiria-Fátima,
faz saber quanto segue:
    Tendo em conta que a comunhão eclesial, para poder ser uma realidade
viva, orgânica e articulada, deve dispor de instrumentos de participação; sa-
bendo que o Bispo da Diocese exerce o ministério da síntese ou da comunhão
e não a síntese dos ministérios, havemos por bem, de acordo com os cân. 511
e 512 do C.I.C., constituir um novo Conselho Pastoral Diocesano, por ter
cessado o mandato do anterior. De acordo com o Art.º 9.º dos Estatutos deste
órgão, nomeio os seguintes elementos para o integrarem:
    Em função do seu cargo:
    P. Dr. Jorge Manuel Faria Guarda (Vigário Geral)
    P. Dr. Fernando Clemente Varela (Vigário Judicial)
    P. Dr. Manuel Armindo Pereira Janeiro (Seminário Diocesano)
    P. Dr. Virgílio do Nascimento Antunes (Reitor do Santuário de Fátima)


                                                   | 49 • LEIRIA-FÁTIMA | 19
. decretos .


   Membros eleitos:
   P. Dr. Rui Acácio Amado Ribeiro
   P. Dr. Orlandino Barbeiro Bom
   P. Dr. José Henrique Domingues Pedrosa
   Gonçalo Nuno Caetano da Silva
   Joaquim Carrasqueiro de Sousa
   Dr.ª Isabel Maria de Bastos Reis
   Maria Idalina Costa dos Santos Gaspar
   Joaquim Oliveira da Silva
   Abílio Teixeira da Cruz
   Manuel Alexandre Gameiro
   António Araújo Monteiro
   Maria Vitória Cordeiro Ferreira Silva
   Ir.ª Maria Alzira Martins da Costa
   Dr. Diogo Carvalho Alves
   P. Dr. José Augusto Pereira Rodrigues
   P. Doutor Carlos Manuel Pedrosa Cabecinhas
   Sérgio Manuel dos Santos
   Dr. Júlio Coelho Martins
   P. José Augusto Leitão
   Ir.ª Maria da Trindade Machado
   Lucinda de Lurdes Gonçalves Teixeira
   Cristóvão Conceição Ginja
   Joaquim Manuel de Magalhães Mexia Alves
   Fernanda de Jesus Ferreira Pedrosa
   Membros designados pelo Bispo:
   Doutor Eugénio Pereira Lucas
   Ambrósio Jorge dos Santos
   Dr.ª Maria de Fátima dos Santos Sismeiro
   O Conselho Pastoral Diocesano funcionará de acordo com os cân. 513 e
514 do C.I.C e segundo os seus Estatutos em vigor. Entrará em funções na
primeira sessão, para a qual serão convocados todos os membros.
   Esta nomeação é válida pelo período de três anos.
                                               Leiria, 29 de Junho de 2010.
              † António Augusto dos Santos Marto, Bispo de Leiria-Fátima




20 | LEIRIA-FÁTIMA • 49 |
. documentos pastorais .

Mensagem dos Bispos das Dioceses do Centro
aos Padres das suas Dioceses
Ano Sacerdotal - Quaresma de 2010




                                                                                 Documentos
    Como sabeis, nós, os Bispos das vossas Dioceses, como expressão de
comunhão entre nós, reunimo-nos todo os meses, indo a cada diocese, para
rezar, conviver, partilhar e reflectir os problemas pastorais comuns, sentidos
e vividos no dia-a-dia.
    Como estamos no Ano Sacerdotal e a iniciar o tempo da Quaresma, decidi-
mos, numa das nossas últimas reuniões, dirigir-vos uma mensagem fraterna e
amiga, como expressão de estima e de gratidão pela vossa colaboração diária e,
ao mesmo tempo, como palavra de estímulo para o trabalho pastoral acrescido
que a todos é pedido neste tempo quaresmal, rumo à Páscoa do Senhor.
    A Quaresma é para vós tempo de maior esforço e ajuda mútua, porque
sois agora especialmente chamados a celebrar o sacramento da Reconcilia-
ção, com todo o significado que ele tem para a Igreja, para cada um de nós e
para os cristãos em geral.
    Parte essencial do exercício do ministério sacerdotal, tal como a cele-
bração da Eucaristia, a celebração da Reconciliação convida-nos, não só a
deixarmo-nos penetrar de entranhas de misericórdia para os que procuram o
perdão de Deus, mas, também, ao exercer tão maravilhoso serviço pastoral, a
procurar a nossa própria santificação.
    Falando aos confessores da diocese de Roma (20.3.1989), João Paulo
disse-lhes: “Ao comunicarmos aos fiéis a graça e o perdão no sacramento da
Penitência, realizamos a acção cimeira do nosso sacerdócio, depois da cele-
bração da Eucaristia… Eu diria que o sacerdote, ao perdoar os pecados, vai
de certo modo para além do já sublime ofício de embaixador de Cristo, uma
vez que quase alcança uma identificação mística com Cristo”. Esta palavra é
também para todos nós, ministros do perdão de Deus.
    O exemplo do Santo Cura de Ars é, particularmente neste campo, mui-
to estimulante. Para além do cumprimento dos outros deveres pastorais, ele
tornou-se, como confessor, ponto de encontro com Deus de todos os peniten-
tes que, idos de muitos lados, o procuravam atraídos pela sua santidade. Ele
sabia traduzir, de modo simples, um profundo sentido de Deus, rico em mise-

                                                  | 49 • LEIRIA-FÁTIMA | 21
. documentos pastorais .


ricórdia, proporcionando aos penitentes acolhimento fraterno, compreensão
paciente e orientação segura para as suas vidas.
    Estamos conscientes, apesar das dificuldades pastorais sentidas neste minis-
tério, em razão de uma tradição pouco esclarecida, bem como da crescente insen-
sibilidade ao pecado, que a confissão sacramental é sempre um acontecimento
de graça para os que procuram a graça do perdão e da reconciliação com Deus.
    Sede, caríssimos padres, diligentes e generosos, não só no tempo qua-
resmal, mas ao longo do ano pastoral, proporcionando aos cristãos tempos
adequados, frequentes e com horários acessíveis para que se possam abeirar
do sacramento da Reconciliação.
    Se procurarmos nós próprios ser fiéis à celebração pessoal da Reconcilia-
ção, a misericórdia de Deus, pela experiência espiritual vivida, molda o nosso
coração e, à imitação de Cristo para com os pecadores, conduz-nos à maior
compreensão dos penitentes e ao acolhimento fraterno. Todos temos experi-
ência da alegria pessoal sentida, ao vermos um pecador que se converte e en-
contra paz interior no perdão recebido e no amor reencontrado. Quantos frutos
produz este apostolado silencioso do confessionário! Nem nós, mediadores de
Deus, Pai rico em misericórdia, o saberemos alguma vez por completo.
    Este apelo à generosidade e prontidão na celebração da Reconciliação
pretende, também, ajudar a fidelidade de cada um ao dom recebido na or-
denação sacerdotal. Se na celebração sacramental se experimenta ao vivo a
fidelidade de Jesus Cristo, Redentor do homem pecador, não pode este seu
gesto ser senão mais um estímulo à nossa fidelidade a Deus e aos irmãos.
    A dignificação do Sacramento da Penitência, em relação ao qual se vai
sentindo menor apreço por parte de muitos cristãos, não se poderá operar
sem o contributo pessoal e colectivo dos ministros da Igreja que nele operam,
como mediadores necessários do perdão de Deus.
    Preparai-vos espiritualmente para cada celebração, ajudai também os pe-
nitentes a prepararem-se para sentirem, em verdade, a dor pelos pecados co-
metidos e o propósito de conversão, e fazei que cresça em todos a confiança
na misericórdia de Deus, nosso Pai.
    Desejamos que a Páscoa que se aproxima aumente em vós a alegria do vosso
sacerdócio e, a exemplo de Cristo, a contínua e generosa dedicação aos irmãos.
    Unidos ao Senhor e procurando ser fiéis ao seu projecto de salvação uni-
versal, vos saudamos com a expressão da nossa estima fraterna.
                                                      16 de Fevereiro de 2010
             Os Bispos, diocesanos e eméritos, de Aveiro, Coimbra, Guarda,
                         Leiria-Fátima, Portalegre e Castelo Branco e Viseu

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Mensagem quaresmal
Quaresma Ecológica
1. Para uma ecologia espiritual




                                                                                   Documentos
    Na Quarta-feira de Cinzas, nós, os cristãos entramos em Quaresma. É um
tempo de interioridade de 40 dias que prepara a festa da Páscoa, a celebrar de
coração purificado e renovado.
     Reveste a forma de um retiro, pessoal e comunitário, de um itinerário es-
piritual para pôr ordem na confusão, para estabelecer relações transparentes,
justas e fraternas, para saborear o repouso e o silêncio meditativos afinando
os critérios de vida pelo Evangelho. Numa palavra, para experimentar a exis-
tência autêntica que nos dá a felicidade.
    Assim entendida, a Quaresma adquire a tonalidade de uma verdadeira
ecologia do espírito. Como diz o Santo Padre Bento XVI: “ Tal como existe
uma poluição atmosférica que envenena o ambiente e os seres vivos, assim
existe uma poluição do coração e do espírito que mortifica e envenena a exis-
tência espiritual”. Nós e o nosso mundo temos necessidade de uma ecologia
espiritual para regenerar as nossas energias espirituais e morais.
    Para isso, a pedagogia da Quaresma sugere-nos três exercícios espirituais
clássicos: a oração, como escuta de Deus; o jejum, como sobriedade de vida
e de consumo; e a esmola, como partilha fraterna. São três palavras-atitudes a
gravar no nosso coração, como verdadeiro caminho para uma ecologia espi-
ritual que nos permita respirar o ar puro do espírito, que é o amor na verdade,
e crescer na abertura a Deus e aos outros.

2. “Viver em comunhão na Igreja”: retiro espiritual do povo de Deus
   Porém, é na escuta mais frequente da Palavra de Deus que melhor se
exprime o espírito da Quaresma. Com efeito, a Palavra desperta a fé, suscita
a vontade de conversão, propõe o significado do mistério pascal de Cristo
para nós hoje, provoca o diálogo da oração, gera a comunhão na Igreja e no
mundo.
   O presente Ano Pastoral é dedicado a descobrir a beleza da Igreja de
Jesus como mistério de comunhão de Deus com os homens e dos homens


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entre si e a promover a comunhão e a corresponsabilidade em cada comuni-
dade cristã. Para isso é necessário, antes de mais, cultivar a espiritualidade da
comunhão como dom de Deus que purifica e liberta todas as nossas relações
do egoísmo e do individualismo, da indiferença e da divisão, e nos abre o
coração à universalidade do amor e do serviço.
    Neste sentido, continuamos a propor o “retiro do Povo de Deus”, in-
titulado “Viver em comunhão na Igreja”, sob a forma da leitura orante e
familiar da Palavra de Deus (lectio divina) em pequenos grupos. Peço aos
párocos o melhor empenho na sua preparação e promoção. E faço votos de
uma participação cada vez maior.
    Este retiro contribui para a ecologia das relações interpessoais, familiares
e comunitárias.

3. Fraternidade e entreajuda: a renúncia quaresmal
    O Santo Padre lembra-nos uma outra dimensão da Quaresma na sua men-
sagem para este ano, sobre a justiça, o amor e a reconciliação. Aí afirma:
“Fortalecido por esta experiência (do Amor que recebe de Deus), o cristão é
levado a contribuir para a formação de sociedades justas, onde todos recebem
o necessário para viver segundo a dignidade própria da pessoa humana e
onde a justiça é vivificada pelo amor”.
    É um chamamento à justiça como virtude pessoal e social. Mas não basta
a justiça para construir uma sociedade fraterna. Torna-se necessária a gratui-
dade do dom, do amor, da partilha, da entreajuda. Este aspecto dá uma maior
actualidade à Quaresma cristã neste “Ano de combate à pobreza e à exclusão
social”.
    Assim, por decisão do conselho presbiteral, a colecta da renúncia quares-
mal é destinada à reconstrução do povo e da Igreja do Haiti, devastados pela
catástrofe do recente terramoto.
    Também este gesto é expressão da ecologia espiritual da justiça e da fra-
ternidade.

4. Peregrinação da esperança: acolher o Papa peregrino de Fátima
   Um outro gesto da caminhada quaresmal é a tradicional Peregrinação
Diocesana a Fátima, no próximo dia 21 de Março.
   Uma peregrinação é uma longa oração feita porventura a pé e com os
pés. Mas é sobretudo uma experiência espiritual no mais profundo de nós


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mesmos. É-se peregrino antes de mais com a mente e com o coração em or-
dem a um encontro libertador com Deus. Na peregrinação, tudo começa por
um pôr-se a caminho, por um despertar espiritual em resposta a um apelo ou
impulso divino.
    A peregrinação diocesana é uma marcha solidária de um povo de pere-
grinos que caminham juntos ao encontro da Mãe do Bom Conselho para com
ela renovarem a sua fé, fazerem a revisão de vida, saborearem a experiência
viva daquela comunhão que constitui o coração da Igreja.




                                                                                  Documentos
    Em Maio será o próprio Papa que virá em peregrinação a Fátima, como
Sucessor do Apóstolo S. Pedro, que preside à caridade e à comunhão da Igre-
ja universal.
    “Quando o Papa se faz peregrino, na qualidade de Pastor universal da
Igreja, é toda a Igreja que peregrina com ele. Por isso, esta sua peregrinação
reveste um grande significado pastoral, doutrinal e espiritual”, afirmam os
bispos em nota pastoral. A este aspecto acresce a feliz coincidência com o
décimo aniversário da beatificação dos pastorinhos e o centésimo aniversário
do nascimento da beata Jacinta.
    Nós, diocesanos de Leiria-Fátima, somos os primeiros anfitriões de tão
ilustre e estimado peregrino. Queremos pois acolhê-lo com alegria, entusias-
mo e devoção filial. O melhor testemunho do nosso afecto e acolhimento será
a participação nas celebrações de 12 e 13 de Maio, dando assim expressão
viva ao lema escolhido para a visita do Papa a Portugal: “Contigo, cami-
nhamos na esperança”.
    Vamos colocar, desde já, o feliz êxito desta peregrinação do Santo Padre
na nossa oração pessoal e na oração universal dos fiéis em cada domingo:
“Para que a próxima peregrinação do Santo Padre a Fátima ajude a reavivar a
fé, a animar a esperança, a dinamizar a caridade e a fortalecer a nossa comu-
nhão, oremos ao Senhor”.
    Nossa Senhora de Fátima, Mãe da confiança e Estrela de esperança, nos
acompanhe no caminho da conversão quaresmal!
                                              Leiria, 17 de Fevereiro de 2010
                                   † António Marto, Bispo de Leiria-Fátima




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Orientações Pastorais
Celebrações da Eucaristia Dominical
   Aos sacerdotes diocesanos,
   Aos sacerdotes religiosos,
   Às religiosas,
   Aos conselhos pastorais paroquiais

     Jesus, quando realizou a Última Ceia, ordenou aos seus discípulos: “Fa-
zei isto em memória de Mim” (Lc 22,19; 1 Cor 11,25). A Igreja, sob a orienta-
ção do Espírito Santo, obedecendo àquele mandado, deu continuidade ao acto
e ao dom de Jesus com a celebração da Eucaristia. Nela, cada comunidade de
fiéis encontra-se com o seu Senhor, recebe o dom que Ele faz de si mesmo e
acolhe, na fé, a revelação do amor infinito de Deus por cada pessoa.
     A Eucaristia é assim, para os fiéis católicos, expressão e alimento da fé,
memorial de Cristo vivo e acto de louvor a Deus, fonte de vida segundo
Deus e de testemunho do seu amor no mundo (cf. Bento XVI, Sacramento
da Caridade).
     Reconhecendo nela um preciosíssimo dom espiritual, a Igreja, sob a pre-
sidência de um sacerdote, celebra-a em cada dia e, de modo mais festivo, em
todos os domingos e solenidades.
     Ao Domingo, efectivamente, por ser o dia da Ressurreição do Senhor, é
importante que os fiéis cristãos se reúnam para a celebração da presença viva
do Ressuscitado no meio deles e ainda para exprimir a própria identidade
eclesial como “assembleia convocada pelo Senhor ressuscitado”. A Eucaris-
tia, a que se chama também Missa, é, na verdade, a “alma do Domingo” (cf.
João Paulo II, O Dia do Senhor). Por isso, nesse dia, todo o cristão deverá
fazer o possível para participar na celebração eucarística.
     Ao longo do tempo, multiplicaram-se os lugares onde os fiéis se reúnem
“no amor de Cristo”, para a Santa Missa. Presentemente, todavia, deparamo-
nos, por um lado, com uma maior exigência de qualidade litúrgica e espiritual
em relação às celebrações e, por outro, com uma diminuição da frequência
das celebrações litúrgicas por parte de muitos católicos, bem como com a
diminuição acentuada do número de sacerdotes. Tudo isto aconselha a que na
Diocese se revejam as condições em que se realizam celebrações dominicais


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da Eucaristia e se proceda à reorganização deste serviço litúrgico em cada
paróquia.
    O princípio a seguir, tanto por parte dos sacerdotes e seus colaboradores
como pelos restantes fiéis, será o de, se necessário for, celebrar menor quan-
tidade de Missas para celebrar melhor. O objectivo a atingir será o de asse-
gurar o bem espiritual de todos os fiéis e, ao mesmo tempo, salvaguardar a
saúde física e espiritual dos próprios sacerdotes. É que, além de presidirem à
liturgia, eles deverão ter tempo e capacidade para se dedicarem pessoalmente




                                                                                  Documentos
à oração e ao cuidado da própria vida espiritual, e ainda para desenvolverem
a evangelização e a vida cristã das pessoas, grupos, comunidades e movi-
mentos.
    Ano após ano, há padres idosos ou doentes que deixam os serviços pasto-
rais, as novas vocações sacerdotais são insuficientes para as necessidades e,
em múltiplos lugares, diminui o número de pessoas que frequentam a Missa
dominical. Acontece então haver igrejas com poucos fiéis e, não distante dali,
encontrar-se outra onde também se celebra a Eucaristia. Juntando as duas
comunidades poderia até conseguir-se uma melhor qualidade da celebração.
Assim, nas circunstâncias actuais, não será possível continuar a manter a ce-
lebração dominical da Santa Missa em todos os lugares em que ela acontecia.
    Tendo em consideração o que foi dito e as sugestões dos próprios sacer-
dotes, dou as seguintes orientações e critérios para as opções, quanto aos
lugares, onde se deverá manter ou não a celebração da Eucaristia dominical:

   1. No processo de discernimento para a decisão de reorganizar o serviço
     litúrgico dominical, os párocos deverão solicitar o contributo dos res-
     pectivos conselhos pastorais e dos outros párocos da sua vigararia. Nes-
     te sentido, em espírito de colaboração fraterna e de co-responsabilidade
     na missão eclesial, os presbíteros ajudem-se mutuamente para o melhor
     bem dos fiéis. A decisão pastoral do pároco deve estar suportada no
     parecer favorável de ambas as instâncias mencionadas.

   2. Na igreja paroquial, deverá assegurar-se, quanto possível sempre, a
     celebração eucarística.

   3. Nas outras igrejas (capelas), dar-se-á prioridade aos lugares onde
     funciona um centro de catequese. Considera-se centro de catequese,
     normalmente, onde houver a frequência de, pelo menos, 50 crianças e
     adolescentes.

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. documentos pastorais .


   4. Nos casos de assembleias dominicais reduzidas, havendo uma ou mais
     igrejas a curta distância, os fiéis serão convidados a congregarem-se
     na igreja que reúna melhores condições para nela se celebrar a Santa
     Missa. Se tal for oportuno, pode admitir-se a alternância ou rotatividade
     anual dos lugares de celebração.

   5. Sem prejuízo da obrigação que compete aos familiares, nas comunida-
     des paroquiais onde for necessário e possível, organize-se um serviço
     de transportes para as pessoas que tenham dificuldades de deslocação e
     que desejam participar na celebração da Santa Missa.

   6. Onde se justificar, por impossibilidade de haver a Santa Missa ou de
     as pessoas se deslocarem a outra igreja, os párocos podem promover a
     realização da “celebração dominical na ausência de sacerdote”, condu-
     zida por um ministro leigo competente (cf. Bento XVI, Sacramento da
     Caridade, 75). Esta solução, no entanto, deve ter sempre um carácter
     extraordinário, e só se há-de recorrer a ela quando estiverem esgotadas
     as outras possibilidades e exclusivamente nos lugares onde as distân-
     cias entre as igrejas (ou capelas) forem de facto consideráveis.
     Confio ao Serviço Diocesano de Pastoral Litúrgica a missão de cuidar da
     formação e credenciação dos ministros para presidirem a tais celebrações.
     No desempenho de tal missão, os ministros devem reger-se por quanto
     está estabelecido no Directório para as celebrações dominicais na ausên-
     cia do presbítero (1988) e no livro litúrgico para a Celebração dominical
     na ausência do Presbítero, da Conferência Episcopal Portuguesa.
     Os párocos apresentarão ao Serviço Diocesano de Pastoral Litúrgica
     os nomes dos candidatos a ministros das celebrações dominicais na au-
     sência de presbítero, que só poderão ser nomeados após completarem a
     formação específica.

   7. As comunidades religiosas com Eucaristia dominical que possam par-
     ticipar na Santa Missa com a comunidade local mais próxima, libertem
     os sacerdotes, mesmo religiosos, “para irem servir a Igreja nos lugares
     onde houver necessidade, sem olhar a sacrifícios” (cf. Bento XVI, Sa-
     cramento da Caridade, 25).

                                            Leiria, 26 de Fevereiro de 2010
                                  † António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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Homilia de Ano Novo
Cuidar da criação, caminho para a paz




                                                                                 Documentos
    A “carícia” de Deus, bênção para o novo ano
    No início do Ano Novo, a liturgia da Palavra convida-nos a começar o
nosso caminho e a prossegui-lo, dia após dia, com a bênção do Senhor: “O
Senhor te abençoe e te proteja. O Senhor faça resplandecer sobre ti o seu
rosto e te seja favorável”.
    Estas palavras são como uma “carícia” que Deus reserva para todos e
cada um de nós: é-nos comunicada no rosto terno do Menino em Belém e no
rosto materno de Maria, cuja Maternidade Divina hoje celebramos. Sim, uma
carícia de Deus que testemunha o seu amor terno, a sua proximidade de Pai e
Amigo, o seu tomar-nos pela mão e acompanhar-nos, passo a passo, na vida,
a sua resposta solícita às nossas invocações, o seu conforto nas dificuldades,
a sua consolação nos momentos de provação e de solidão, a sua misericórdia
sem limites para com as nossas infidelidades... Uma carícia que tem uma for-
ça extraordinária de nos impulsionar a viver o novo ano na fé e na caridade,
no amor verdadeiro.
    À bênção do Senhor pertencem ainda estas palavras: “O Senhor volte
para ti o seu olhar e te conceda a paz”. Também este “voltar o olhar” – que
só pode ser olhar de amor – é expressão da carícia de Deus. Só dela nos pode
chegar o grande dom da paz.
    Neste Dia Mundial da Paz, o Santo Padre convida-nos a reflectir sobre
um tema que interpela toda a humanidade: “Se queres cultivar a paz, guarda
a criação”. É um apelo à nossa responsabilidade ecológica pela salvaguarda
do ambiente e de toda a criação perante as ameaças que afligem o mundo.

    Emergência ecológica e a causa da paz
    Não podemos esquecer que a nossa geração é talvez a primeira na história
a estar consciente de que a vida e a morte dos seres do nosso planeta e, por
conseguinte, da humanidade, dependem das opções que forem tomadas no
presente. Esta consciência deriva de evidências que se impõem: ar viciado,


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. escritos episcopais .


águas poluídas, solo explorado e degradado, desertificação que avança pro-
gressivamente, alterações climáticas, recursos naturais e matérias-primas a
esgotarem-se, novas doenças que surgem...
    Os atentados ao ambiente são tão preocupantes como as guerras, os actos
terroristas e as violações dos direitos humanos, afirma Bento XVI. Trata-
se de uma verdadeira crise ecológica, de dimensão planetária, que põe em
causa o presente e o futuro da criação e da humanidade. Por este caminho,
o homem corre o risco de ser engolido pelo produto da sua obra ou de estar a
cavar o túmulo debaixo dos seus pés. Não podemos fechar os olhos perante
os sinais de alarme.
    Reflectir sobre a crise ecológica obriga-nos, antes de mais, a repensar a
relação íntima do homem com a natureza. Esta é maltratada porque é mal
amada. O grande risco é olhar a natureza apenas com critérios de utilidade,
produtividade e lucro; olhá-la como mero armazém de material, como “um
montão de resíduos espalhados ao acaso” a usar e consumir sem limites e sem
regras. O respeito pela natureza requer um novo olhar.
    Os cristãos, frente ao “deserto que avança”, anunciado por Nietzsche, e
perante a terra cada vez mais desolada, deveriam aprender a descobrir na
profundidade da criação “a escritura das coisas”, as suas lágrimas e os seus
louvores.

    O jardim da criação: dom de Deus, promessa de vida e casa comum
    À luz da fé cristã no mistério da criação, a natureza não é fruto do acaso
caprichoso ou do caos. É dom do amor de Deus; é promessa de vida; é casa
comum dos homens e, por isso, motivo de contemplação, de louvor, de acção
de graças e de responsabilidade.
    A Bíblia apresenta-a com a bela imagem do jardim, onde Deus coloca
o homem para o cultivar e guardar. O jardim é uma grande metáfora da in-
teligência e do amor de Deus. Esta inteligência de amor cuida da terra, mas
esta é destinada aos humanos. No jardim, o homem descobre os traços de um
cuidado amoroso que o precedeu.
    O jardim mostra que a terra não é um mero depósito de matérias-primas.
É um habitat para a circulação das pessoas, do pensamento, da inteligência,
dos afectos; é uma morada a partilhar em paz, no equilíbrio entre o trabalho
e o recreio, entre os bens a consumir e a beleza a salvaguardar na sua biodi-
versidade.
    Os homens que não cuidam e não têm paixão pela guarda do jardim tor-
nam inabitável e inóspita a terra inteira. A mensagem do Papa contém uma

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. escritos episcopais .


expressão maravilhosa e penetrante a este respeito: “Há uma espécie de reci-
procidade: cuidando da criação, constatamos que Deus, através da criação,
cuida de nós”.
    Quanto mais olharmos a natureza como dom de Deus, tanto maior é a sua
preciosidade e maior a nossa responsabilidade. O homem como criatura entre
as criaturas é chamado a viver na solidariedade, numa comunhão amorosa e
de respeito com toda a criação.




                                                                                     Documentos
    Todos responsáveis pela criação: para uma nova cultura ecológica
    “Todos somos, pois, responsáveis pela protecção e pelo cuidado da cria-
ção”. A ciência e a técnica, por si sós, não resolvem a crise ecológica. Ela tem
raízes culturais e éticas profundas. A falta de respeito pela natureza mostra
que o homem não desenvolveu plenamente a sua própria humanidade.
    A humanidade global tem necessidade de uma profunda renovação cultu-
ral e ética. É indispensável uma mudança cultural, de mentalidade, de crité-
rios, de estilos de vida, que vá à raiz do problema ecológico como problema
moral.
     Com efeito, trata-se de uma responsabilidade individual e colectiva. Pro-
teger e defender o ambiente não pode ser deixado só à boa vontade dos in-
divíduos.
    Assim, esta crise pode ser uma “oportunidade histórica de discernimento
e projectação de novos caminhos”(n. 5). Inspirando-nos na mensagem do
Santo Padre podemos indicar, sumariamente, alguns pontos concretos para
uma consciência ecológica correcta, madura e responsável, como caminho
para paz:
    - viver a fraternidade, como atitude fundamental, a relação amorosa com
       todos os seres da natureza, à boa maneira de S. Francisco;
    - recuperar a consciência da interdependência entre homem e natureza, a
       solidariedade com toda a criação, “inspirada pelos valores da caridade,
       da justiça e do bem comum”;
    - mudar o nosso modelo de desenvolvimento que, muitas vezes, tem em
       vista míopes interesses económicos a qualquer custo, de modo a que
       economia e tecnologia fiquem enriquecidas com a componente ecoló-
       gica;
    - considerar a natureza como casa comum de todos os homens e de todas
       as gerações, que implica a solidariedade com as gerações vindouras de
       tal modo que não lancemos hipotecas sobre elas nem lhes leguemos em
       herança um deserto em vez de um jardim;

                                                   | 49 • LEIRIA-FÁTIMA | 31
. escritos episcopais .


   - promover uma educação ecológica, uma pedagogia do ambiente, atra-
      vés duma aliança entre família, escola, universidade, organizações não
      governamentais e meios de comunicação social;
   - adoptar novos estilos de vida mais sóbrios “nos quais a busca do ver-
      dadeiro, do belo e do bom e a comunhão com os outros homens, em
      ordem ao crescimento comum, sejam os elementos que determinam as
      opções do consumo, da poupança e do investimento”(n. 11). O compor-
      tamento de cada pessoa tem sempre um peso e uma consequência. Se a
      pessoa se deixa cair no laxismo em numerosas formas de poluição ou
      desperdício, mesmo aparentemente insignificantes, contribui para uma
      atitude inconsciente, para o vandalismo ambiental, para a tolerância da
      destruição ou degradação;
   - cuidar e proteger, igualmente, a ecologia humana, afirmando o respeito
      pela vida humana em todas as suas fases, a dignidade da pessoa e a
      missão insubstituível da família fundada no casamento entre um ho-
      mem e uma mulher. “Quando a ecologia humana é respeitada dentro da
      sociedade, beneficia também a ecologia ambiental”(n. 12). Como pedir
      o respeito pela vida ambiental se não se respeita a vida humana?

    O testemunho de S. Francisco
    Neste ano de 2010 ocorre o 30º aniversário da proclamação de S. Fran-
cisco de Assis como Padroeiro dos cultores da ecologia, que nos deixou o
belíssimo e inspirado Cântico das Criaturas. Contemplando o seu exemplo
aprendemos a amar a criação e a descobrir nela o espelho do amor infinito do
Criador: “Louvado sejas, meu Senhor, com todas as Tuas criaturas; Louvado
sejas, meu Senhor, por aqueles que perdoam pelo Teu amor; louvai e bendizei
o meu Senhor e dai-lhe graças e servi-O com grande humildade”!
    Com estes sentimentos desejo a todos vós e às vossas famílias um aben-
çoado Ano Novo!
                                                Leiria, 1 de Janeiro de 2010
                                  † António Marto, Bispo de Leiria-Fátima




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. escritos episcopais .



Homilia nas exéquias de
Monsenhor Henrique Fernandes da Fonseca
Homem de fé e pastor exemplar




                                                                                  Documentos
    Surpreendendo a nossa expectativa humana, fomos abalados pela notícia
dolorosa da morte tão célere do nosso caro Monsenhor Henrique da Fonseca.
Foi como se um muro de silêncio caísse sobre nós tal como diz o salmista:
“Estou perturbado; falta-me a palavra”(Sl 77,5).
    É humano sentir e dar expressão à dor pela separação de um sacerdote
tão querido e estimado por toda a diocese e colaborador próximo, precioso e
apreciado do bispo. Creio que o podemos fazer com as palavras de S. Bernar-
do na morte do seu irmão, S. Gerardo:
    “Bem sabeis, meus filhos, quão razoável é a minha dor, quão digna de
lágrimas é a perda que acabo de sofrer, pois compreendeis que fiel amigo foi
afastado do meu lado. Vós conhecestes como era a sua atenção pelo dever,
a sua diligência pelo trabalho, a sua doçura e amabilidade de disposição...
Estimámo-nos em vida; porque fomos pois separados pela morte?”.
    No entanto, depois deste grito do coração ferido, S. Bernardo confia-se
ao mistério santo e amoroso de Deus, dizendo: “Todavia, não esquecerei ne-
nhuma das palavras do Santo... Deus é caridade e quanto mais se está unido
a Deus, mais se está cheio de caridade. Porque a caridade nunca acaba. Tu
(meu irmão) não me esquecerás”.
    Com estes sentimentos de fé quero expressar as nossas condolências, em
nome da Diocese e no meu pessoal, à irmã do Monsenhor Henrique, à auxi-
liar doméstica, a Gracinda, que o acompanhou e assistiu durante tantos anos
e aos outros familiares.
    Com estes sentimentos de fé e de esperança queremos fazer memória,
viva e cheia de gratidão, de Monsenhor Henrique junto do altar do Senhor,
em comunhão de santos na eucaristia.

   Homem de fé e Pastor exemplar
   A leitura do livro do Deuteronómio apresenta-nos a figura de Moisés,
chamado pelo Senhor a conduzir o longo e difícil caminho do povo de Deus,


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. escritos episcopais .


no qual empenhou toda a sua existência até à morte, incutindo-lhe coragem e
levando-o às fontes da vida.
    Como Moisés, Monsenhor Henrique foi um grande crente, um grande ho-
mem de fé, sólida, amadurecida e alimentada na sarça ardente do ministério
pastoral nas várias mansões em que serviu.
    Como Moisés, foi um pastor generoso e exemplar. O seu serviço sa-
cerdotal passou por múltiplas experiências do ministério - desde pároco nos
Pousos, na Marinha Grande, em Mira d’Aire e na Ortigosa até professor no
Seminário, secretário episcopal, ecónomo diocesano, assistente da LOC e do
movimento de casais, coordenador do Serviço de apoio ao clero e Vigário
Geral durante dezanove anos – com disponibilidade permanente, sempre
pronto, a todo o momento, a acudir, animar e encorajar, atento a pôr de parte
o que divide e a valorizar o que une.
    Foi verdadeiramente intenso o caminho que o Senhor o chamou a percor-
rer nos 56 anos de sacerdócio ao serviço da nossa diocese que ele calcorreou
e conheceu como ninguém e sempre ao lado dos seus bispos. Foi um traba-
lhador incansável da vinha do Senhor! Só a falta de saúde o obrigou a retirar-
se da actividade paroquial.
    Sobre a morte de Moisés, o livro do Deuteronómio refere: “Moisés, ser-
vo do Senhor, morreu ali, na terra de Moab, segundo a disposição do Se-
nhor”(34,5). São Gregório de Nisa comenta, esplendidamente, estas palavras
sublinhando que o grande “amigo de Deus” é chamado “servo” precisamente
no momento supremo da vida quando já cumprira a missão que o Senhor lhe
confiara. Servo é a palavra que resume toda a sua missão.
    Também Monsenhor Henrique procurou viver a sua missão como servo e
serviço humilde, discreto e desprendido, sem olhar a honras e a títulos. Assim
o deixou escrito: “Desejo assumir o ministério com todo o empenho e dedi-
cação como servo e irmão no meio de uma comunidade que possa olhar-me
como testemunha de serviço e amor”.

    Impelido pela caridade pastoral
    A leitura da segunda Carta aos Coríntios abre, precisamente, com uma
expressão que, neste nosso contexto, assume um significado particular: “O
amor de Cristo impele-nos”.
    Trata-se do amor que habita, penetra, possui e plasma a vida dos sacerdo-
tes e faz deles “embaixadores de Cristo” e do seu mistério de amor e recon-
ciliação. Envolve-nos e impele-nos a viver não para nós mesmos mas para os
outros. É a caridade pastoral.

34 | LEIRIA-FÁTIMA • 49 |
. escritos episcopais .


    O amor recebido de Cristo é restituído aos irmãos e toma as várias formas
dos dons do Espírito Santo, a saber, “amor, alegria, paz, paciência, benevo-
lência, bondade, fidelidade, mansidão, autodomínio” – dons que caracteriza-
ram o estilo e o ministério sacerdotais de Monsenhor Henrique.
    A caridade pastoral levava-o a fazer-se próximo e acessível a todos, a
olhar a vida concreta da sua gente, com uma comunicação que conquistava
os fiéis até os mais pequeninos. É significativa a presença aqui dos acólitos
da Ortigosa para lhe manifestarem a sua ternura. É também digno de registo




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o testemunho de D. Alberto Cosme do Amaral: “Monsenhor Henrique serviu
a Igreja com raro espírito de dedicação e entrega e num total esquecimento
de si próprio. As missões oficiais não o impediram de se dedicar ao trabalho
escondido do confessionário e da direcção espiritual”.
    Desejaria ainda sublinhar o seu amor ao presbitério, a especial dedicação
aos irmãos sacerdotes como amigo, irmão e conselheiro atento e atencioso
para com todos, preocupado para que não faltassem as condições humanas e
espirituais para o bom desempenho do ministério.

    Testemunho de paz e de alegria
    O Evangelho de S. João refere as palavras do Ressuscitado repetidas duas
vezes: “A paz esteja convosco”. E depois fala da alegria dos discípulos ao
verem Jesus ressuscitado.
    Paz e alegria foram dons que Monsenhor Henrique espalhou à sua volta.
Era homem de paz que irradiou alegria serena. A sua presença foi sempre
presença de paz. Irradiava alegria e bom humor com espontaneidade e creio
que agora viva na plenitude da paz e da alegria ao contemplar o rosto de Jesus
ressuscitado.
    Que ele peça para nós ao Pai aquela serenidade própria de quem confia
vida e morte, presente e futuro nas mãos do Deus da paz e da alegria.
    Obrigado, caro padre Henrique! Toda a diocese te está agradecida na hora
da despedida!
    Que a tua partida não nos faça esquecer o dom de termos tido a tua pre-
sença, a tua companhia, o teu testemunho de sacerdote. Bendito seja Deus
pelo seu servo!
                                   Catedral de Leiria, 23 de Janeiro de 2010
                                   † António Marto, Bispo de Leiria-Fátima




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Discurso na tomada de posse
Comissão Diocesana Justiça e Paz
e Cáritas Diocesana
    Congrega-nos aqui a solene tomada de posse das novas direcções da Co-
missão Diocesana Justiça e Paz e da Caritas Diocesana. Neste momento sig-
nificativo da “passagem de testemunho” quero exprimir, antes de mais, em
nome da Diocese e no meu pessoal, o mais vivo e sentido reconhecimento
às direcções cessantes, na pessoa dos seus presidentes, Senhor Dr. Tomás
Oliveira Dias e Senhor Ambrósio Jorge dos Santos, pela dedicação, com-
petência e sentido eclesial com que desempenharam o seu mandato e a sua
missão, não se tendo poupado a esforços e sacrifícios. Asseguro-lhes a minha
sincera e constante estima pessoal e a fraterna comunhão. Que o Senhor os
recompense, os conforte e os acompanhe com as melhores bênçãos.
    Aos novos empossados, na pessoa dos respectivos presidentes, Senhor
Prof. Doutor Eugénio Lucas e Senhor Dr. Júlio Martins, agradeço a disponi-
bilidade manifestada para este serviço à Igreja, endereço-lhes as mais cordiais
felicitações e faço votos de um fecundo trabalho. Quero ainda expressar-lhes
a minha alegria em tê-los como meus colaboradores próximos e assegurar-
lhes toda a minha confiança e colaboração.
    A presente circunstância é também um momento propício para sublinhar
a relevância do lugar e da missão da Comissão Diocesana Justiça e Paz e da
Caritas Diocesana na Igreja e no mundo. Quisemos propositadamente que
a tomada de posse fosse simultânea porque são dois órgãos ao serviço da
missão da Igreja no mundo: dão-lhe o rosto social, são dois braços sociais e
fundamentais para a operatividade da missão.
    De facto, a Igreja vive no mundo e na história com a consciência de que “as
alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens, sobretudo dos
pobres e dos que sofrem, são também as dos discípulos de Cristo e nada existe
de verdadeiramente humano que não encontre eco no seu coração”(GS 1).
    No desempenho da sua missão no mundo e no serviço às pessoas desfa-
vorecidas ou carenciadas, a Igreja é movida unicamente pelo testemunho do
Evangelho do Amor. Tem a consciência de que “evangelizando humaniza
e humanizando evangeliza”. A sua missão não é de ordem política. Não se


36 | LEIRIA-FÁTIMA • 49 |
. escritos episcopais .


substitui ao Estado. Não é um partido político nem um força política. Respei-
tando as competências próprias do Estado esforça-se para que seja garantido
a cada ser humano a sua própria dignidade e uma vida condigna.
     No fundamento da missão e da acção social da Igreja está a convicção de
que “a caridade na verdade que Jesus Cristo testemunhou... é a força propul-
sora principal para o verdadeiro desenvolvimento de cada pessoa e da huma-
nidade inteira. O amor é uma força extraordinária, que impele as pessoas a
comprometerem-se, com coragem e generosidade, no campo da justiça e da




                                                                                   Documentos
paz”(CV 1), por conseguinte, a empenharem-se na construção de um futuro
digno do homem, na realização de uma sociedade mais justa e fraterna.
    A caridade “é o princípio não só das microrrelações estabelecidas entre
amigos, na família, no pequeno grupo, mas também das macrorrelações so-
ciais, económicas, politicas”(CV 2).
    Este empenho torna-se cada vez mais urgente no mundo globalizado
onde parece prevalecer a lógica do lucro e do próprio interesse. Com efeito,
“a sociedade cada vez mais globalizada torna-nos vizinhos mas não nos faz
irmãos”(CV n. 19). Vivemos num mundo cheio de contradições e contrastes.
Hoje a injustiça, a pobreza, a fome e a exclusão social são uma grande inter-
pelação humana e cristã que brada aos céus.
    A situação que temos diante de nós é clara e arrepiante: mais de mil mi-
lhões de pessoas vivem com menos de um dólar por dia; 20% da população
mundial absorve 82% dos recursos mundiais enquanto 80% da população
dispõe apenas de 18%; mais de 200 multinacionais controlam 27% da econo-
mia e da finança mundiais. Segundo dados da FAO, morrem, por dia, 36.500
crianças no mundo à fome ou por doença: o silencioso sacrifício de 13 mi-
lhões de inocentes por ano! A tudo isto junta-se a crise ecológica, de dimen-
são planetária, que põe em causa o presente e o futuro da humanidade.
    Entre nós e à nossa porta temos as vítimas da crise económica, financei-
ra e social com as consequências dramáticas de desemprego e pobreza em
contrate escandaloso e gritante com o ordenado de alguns gestores de 2,5
milhões de euros por ano! A Igreja “não pode nem deve colocar-se no lugar
do Estado. Mas também não pode nem deve ficar à margem na luta pela jus-
tiça...Toca à Igreja, e profundamente, o empenhar-se pela justiça trabalhando
pela abertura da inteligência e da vontade às exigências do bem comum”(DC
est n. 28). É nesta vertente que se insere a Doutrina Social da Igreja como
“proclamação da verdade do amor de Cristo na sociedade” (CV n.5). Assim
se entende a missão dos fiéis leigos no mundo em ordem a contribuir para a
formação de sociedades justas. É também neste sentido que se desenvolve a

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acção da Comissão Diocesana Justiça e Paz em ordem a promover o conhe-
cimento da doutrina social e a sua aplicação concreta aos vários âmbitos da
vida social, tendo como horizonte o desenvolvimento integral do homem,
contribuindo para um despertar de forças morais e espirituais para esse efeito.
    A justiça, porém, nunca pode tornar supérfluo o amor de proximidade, na
linha do apoio concreto, do serviço, da partilha, do acolhimento e da conso-
lação ao próximo carecido de ajuda, àquele que sofre, sobretudo os pobres,
os humilhados, os desprotegidos. A caridade cumpre e transcende a justiça.
Num mundo tão ferido como o experimentamos nos nossos dias não há ne-
cessidade de demonstrar o que acabamos de dizer.
     O mundo espera o testemunho do amor cristão que nos é inspirado pela
fé. Por isso, “a Igreja nunca poderá ser dispensada da prática da caridade en-
quanto actividade organizada dos crentes, como aliás nunca haverá situação
onde não seja precisa a caridade de cada cristão, porque o homem além da
justiça, tem e terá sempre necessidade do amor” (DC est n.29). Eis o campo
da missão da Caritas diocesana, enquanto expressão da actividade caritati-
va organizada da nossa Igreja, actuando com todo o coração e com toda a
inteligência, em ordem a promover a fraternidade e a solidariedade cristãs,
sensibilizando e dinamizando as paróquias e colaborando com as instituições
civis para uma resposta mais eficaz.
    Como podemos verificar, os campos de acção da Comissão Justiça e Paz
e da Cáritas diocesana cruzam-se, tornado possível uma cooperação em pro-
jectos comuns. O próximo biénio do projecto pastoral diocesano oferece uma
boa oportunidade para isso, pois centrar-se-á na pastoral sócio-caritativa e no
testemunho dos cristãos no mundo.
    Concluo citando um texto muito belo do Papa Bento XVI que poderá
servir como motivação de fundo e inspiração permanente do vosso empenho
: “A caridade é o distintivo dos cristãos. É a síntese de toda a sua vida: do que
crê e do que faz. É a luz que dá bondade e beleza à existência de cada homem.
É o comportamento de quem responde ao amor de Deus e faz da própria vida
um dom de si a Deus e ao próximo. É o caminho da santidade. A vida dos san-
tos, de cada santo, é um hino à caridade, um cântico vivo ao amor de Deus”!
    Nossa Senhora, Virgem e Mãe, no canto do Magnificat mostra-nos o que
são o amor e a justiça e donde têm a sua origem e recebem a sua força. À sua
intercessão confio a vossa missão ao serviço da justiça, do amor e da paz na
nossa querida Diocese. Muito obrigado!
                                                Leiria, 20 de Fevereiro de 2010
                                    † António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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Apelo do Bispo diocesano
Peregrinação do Santo Padre a Fátima
    Caros irmãos e irmãs:




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    Venho mais uma vez lembrar-vos a próxima visita do Santo Padre a Por-
tugal. Ele vem sobretudo como peregrino do Santuário de Fátima tão querido
ao nosso povo e a todo o mundo católico. Aqui somos nós, os diocesanos de
Leiria-Fátima, os primeiros anfitriões a receber tão ilustre e amado peregrino
na sua qualidade de Sucessor do Apóstolo S. Pedro e Pastor universal da
Igreja.
    Queremos corresponder à honra da sua visita acolhendo-o com júbilo,
entusiasmo e afecto e unindo-nos em oração às suas intenções pela Igreja e
pelos anseios da humanidade. É importante, nesta hora, darmos testemunho
da Igreja unida ao Papa e solidária com ele.
    Por isso, apelo do coração à vossa presença e participação pessoal nas
celebrações de 12 e 13 de Maio, em Fátima, presididas pelo Santo Padre. Não
vos deixeis seduzir pelo comodismo de ver apenas pela televisão.
    Grato pela vossa atenção a este meu apelo, envio a todos uma saudação
cordial e amiga.
                                                   Leiria, 28 de Abril de 2010
                                   † António Marto, Bispo de Leiria-Fátima




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Homilia da Missa Crismal
Presbitério em comunhão
e ao serviço da comunhão
     É um verdadeiro momento de graça este que nos é dado viver juntos nesta
liturgia da Missa Crismal, verdadeira festa da unidade da Igreja diocesana
reunida à volta do seu Pastor.
     Nesta Quinta Feira Santa encontramo-nos recolhidos na nossa catedral
para celebrar a Eucaristia em que se benzem os santos óleos dos catecúme-
nos, do crisma e dos enfermos.
     Em Cristo, todos nós fomos consagrados com o óleo da unção e unidos
numa comunhão que é mais forte do que todo o laço humano. É a comunhão
de todo povo de Deus, que nos leva a exclamar com o salmista: “Vede como
é bom e agradável viver unidos como irmãos: é como o óleo perfumado der-
ramado sobre a cabeça, a escorrer pela barba de Aarão até à orla das suas
vestes” (Sl 133, 1-2).
     O óleo perfumado é o símbolo da força do Espírito, do perfume do amor e
da santidade divina que Cristo derrama sobre a cabeça, o coração e os mem-
bros de todos os fiéis baptizados e crismados e os torna morada de Deus; o
perfume de Cristo que inunda de amor a Igreja inteira e faz dela a Casa da
Comunhão entre Deus e os homens e dos homens entre si.
     Com este óleo são consagradas as mãos dos sacerdotes para oferecerem,
em nome de Cristo, os dons da Palavra de Deus e dos Sacramentos da Graça
que alimentam a comunhão do Povo de Deus. Por isso, hoje é o dia sacerdo-
tal, por excelência.
     Sacerdote como vós há trinta e oito anos e bispo no meio de vós há quase
quatro, sinto este momento com o coração trepidante de emoção e de res-
ponsabilidade. Neste Ano Sacerdotal, em meu nome e no de toda a Diocese,
quero expressar-vos o afecto e a estima do bispo e de todo o povo de Deus,
agradecer-vos e encorajar-vos pelo precioso serviço que ofereceis à Diocese,
pelo zelo que vos move no ministério, por todo o bem que fazeis. Não percais
o ânimo neste momento doloroso em que pesa sobre nós o sofrimento e a
vergonha por crimes hediondos de alguns sacerdotes e a suspeição genera-

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lizada resultante da exploração mediática de tais casos. O pecado de alguns
não ofusca a abnegação e a fidelidade de que a imensa maioria dos sacerdotes
e religiosos dá prova quotidiana e que as nossas comunidades testemunham
e reconhecem. Coragem! Acolhamos o apelo à santidade de vida e à purifi-
cação da Igreja.
    Apraz-me fazer ecoar aqui, nesta hora, as palavras do Cardeal Montini
(futuro Papa Paulo VI) em 1957: “Quinta Feira Santa! É o nosso dia, como
sabeis. Se não o comemoramos nós sacerdotes, quem o pode fazer mais dig-




                                                                                    Documentos
namente? E se não nos encontramos neste dia, qual será outro dia mais pro-
pício? E se não o dizemos uns aos outros, como teremos plena consciência
disto?”.
    Hoje é dia de acção de graças pelo dom do sacerdócio e, em particular,
por quantos, neste ano, comemoram os 25 ou 50 anos da sua ordenação, com
quem nos congratulamos.
    Lembramos também, com ânimo grato, aqueles que ao longo do ano nos
deixaram para voltarem à casa eterna do Pai. E ainda os que, por motivo de
doença ou outro, não puderam marcar presença.
    A memória da nossa ordenação neste dia confirma e corrobora a nossa
pertença ao único presbitério diocesano, como nossa segunda e verdadeira
família.
    Atendendo ao tema do Ano Pastoral quero oferecer-vos uma reflexão so-
bre “O presbitério em comunhão e ao serviço da comunhão”.

    Fisionomia do presbitério-comunhão
    O ministério apostólico é, antes de mais, um dom de Deus para o serviço
do mistério de comunhão que constitui a Igreja e para ser realizado e vivido
em comunhão, precisamente enquanto membros de um presbitério. Este rosto
da Igreja passa, em grande parte, pelo rosto do nosso presbitério e ministério.
    O presbitério não é uma mera categoria sociológica que designa a soma de
todos os padres à disposição do bispo para as diversos cargos. É antes um cor-
po de ministros, em comunhão de graça e de missão, ao serviço de uma Igreja
particular, que está junto do bispo e nele encontra o seu princípio de unidade.
“Na sua verdade plena, o presbitério é um mistério, quer dizer, uma realidade
sobrenatural porque radica no sacramento da Ordem. Este é a sua fonte e a sua
origem. É o lugar do seu nascimento e do seu crescimento”(PDV 74).
    Daqui resulta a sua fisionomia própria: “a de uma verdadeira família, de
uma fraternidade, cujos laços não são da carne e do sangue, mas da graça da
Ordem: uma graça que assume e eleva as relações humanas, psicológicas,

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afectivas e espirituais entre os sacerdotes; uma graça que se expande, penetra
e se revela e concretiza nas mais variadas formas de ajuda recíproca”(PDV
74), espiritual e material, pastoral e pessoal, nas reuniões e na comunhão de
vida, de trabalho e de caridade (cf LG 28).
    Eis um programa de trabalho a desenvolver e pôr em prática! Ser bons
padres individualmente, não faz automaticamente um bom presbitério.
    A nova situação social do padre já não lhe possibilita viver num contexto
familiar protector como outrora, nem encontrar sempre um acolhimento pa-
roquial confortável e confortador. Isto pode gerar uma solidão institucional e
um desamparo afectivo por vezes graves.
    É necessário, pois, construir uma consciência de família sacerdotal dentro
da qual cada sacerdote saiba e experimente que é alguém: acolhido, reconhe-
cido e valorizado. Não se trata de restaurar um “corporativismo clerical”, mas
de reavivar uma fraternidade que ajude cada um a viver com aquela confian-
ça, dignidade humana e espiritual e brio intelectual, que são necessários para
a missão evangelizadora.
    Esta fraternidade brota da paixão interior pelo mesmo dom recebido, pelo
mesmo ideal comungado, pela mesma missão partilhada.

    A gramática da comunhão: implicações e aplicações
    A comunhão presbiteral não é espontânea e nem sempre é fácil. Não se
impõe por decreto; é necessário construí-la juntos. Requer conversão espiri-
tual e elaboração de uma gramática da comunhão para a pôr em prática.
    Em primeiro lugar, somos chamados a cultivar, com amor paciente e ge-
neroso, relações pessoais verdadeiramente genuínas, de respeito, de estima
e atenção recíprocas, de delicadeza, de confiança mútua, de conhecimento
e diálogo entre as diversas gerações e sensibilidades, capazes de eliminar a
suspeita, a inveja e o distanciamento, tão inúteis como prejudiciais.
    Em segundo lugar, somos chamados a realizar a comunhão na missão,
isto é, a partilhar intenções e projectos pastorais no trabalho em equipa. Para
isso são necessárias algumas atitudes e disposições humanas e espirituais:
a participação interessada nas reuniões, a liberdade de uma escuta sem pre-
conceitos, a franqueza para exprimir o próprio pensamento, o discernimento
pastoral capaz de enuclear o bem comum e possível, a disponibilidade para
assumir tarefas, a decisão sincera de acolher e ser fiel aos critérios pastorais e
às decisões elaborados e tomados em conjunto para o serviço do Evangelho.
Neste aspecto, a vigararia deve ser um lugar fundamental de referência como
espelho de comunhão entre os padres e entre as paróquias. Lembro aqui o

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provérbio africano: “Se queres ir depressa, corre sozinho; se queres chegar
longe, caminha com os outros”.
    Outro aspecto fundamental é a comunicação da fé e na fé entre os presbí-
teros. O presbitério não se torna lugar de fraternidade sacramental onde não
se privilegiam as relações de fé ao serviço do ministério. De outro modo, as
reuniões do clero podem assemelhar-se a assembleias empresariais, lugares
para fazer funcionar a empresa, espaço para distribuição de encargos.
    A capacidade de partilhar a fé é o princípio de todo o bom trabalho em




                                                                                    Documentos
comum. Esta partilha realiza-se na oração em conjunto, na lectio divina par-
tilhada, na preparação da homilia em grupo e de iniciativas pastorais, nos
momentos fraternos de convivialidade, na coragem humilde da correcção
fraterna...
    Para alcançar os objectivos da comunhão é ainda necessária uma autênti-
ca ascese ou disciplina em ordem a combater e eliminar os modos de pensar
e os comportamentos que a impedem ou destroem.
    Antes de mais, é preciso vigiar perante algumas tentações que podem
afectar ou desagregar esta comunhão: o isolamento do “orgulhosamente só”
(eu faço sozinho e por minha conta); o espírito de indiferença (que me im-
porta os outros?); a atitude de auto-suficiência (não preciso dos outros para
nada); o narcisismo de quem põe o “ego” no centro de tudo; e o neoclerica-
lismo derivado da sede de protagonismo ou da fragilidade da personalidade.
    Alem disso, é aconselhável uma “regra de vida “ pessoal que torne pos-
sível um estilo de vida saudável e ordenada com método de trabalho e dis-
ciplina.

    Ao serviço da comunhão na comunidade cristã
    A comunhão no presbitério está ao serviço da comunhão eclesial que é
mais vasta. Com efeito, o ministério é para a comunidade. Esta é o lugar nor-
mal da comunhão do presbítero com os fiéis e onde é chamado a ser o “pivot”
da comunhão em todas as dimensões.
    “O padre deve ser um homem de comunhão, aberto a todos, capaz de
fazer caminhar na unidade todo o rebanho que a bondade do Senhor lhe con-
fiou, ajudando-o a superar as divisões, a reconciliar as roturas, a aplanar os
contrastes e as incompreensões, a perdoar as ofensas” (Bento XVI).
    O serviço da comunhão leva o padre também a promover a corresponsa-
bilidade, suscitando colaborações, valorizando e integrando os diversos ca-
rismas, serviços e ministérios para a edificação da comunidade.



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    Testemunho da comunhão e promoção vocacional
    Tudo isto assume um relevo particular na promoção vocacional. Nenhum
jovem poderá sentir um chamamento se os seus olhos não contemplam na
vida fraterna dos padres e das comunidades algum vestígio da beleza do Se-
nhor e do sacerdócio, capaz de reunir os irmãos e alimentar a comunhão.
    “Se os jovens vêem padres isolados e tristes, não se sentem certamente
encorajados a seguir o seu exemplo. Ficam perplexos se são levados a pensar
que é este o futuro do padre. É importante pois realizar a comunhão de vida
que lhes revele a beleza do sacerdócio. Então o jovem dirá: “Este pode ser um
futuro também para mim; assim, pode-se viver” (Bento XVI).
    Concluindo, o futuro da Igreja passa através da comunhão autêntica a
todos os níveis. Nela está a força da missão mesmo quando as estruturas são
pobres e débeis. Um presbitério em comunhão é um reflexo da beleza de
Deus-Amor Trinitário e da Igreja-Comunhão!
    Renovando agora as nossas promessas de fidelidade a Cristo e à Igreja
peçamos por intercessão da Virgem Mãe e do Santo Cura d’Ars: “Senhor,
aceita-nos como somos e ajuda-nos a ser como Tu nos desejas” (João Paulo
I)! Ámen! Aleluia!
                                       Catedral de Leiria, 1 de Abril de 2010
                                   † António Marto, Bispo de Leiria-Fátima




44 | LEIRIA-FÁTIMA • 49 |
. escritos episcopais .



Visita Papal ao Santuário de Fátima
Saudação do Bispo de Leiria-Fátima
    Santo Padre,
    É com imensa alegria e profunda emoção que, como bispo de Leiria-Fá-
tima, dou as boas vindas a tão ilustre e amado peregrino, o nosso Papa Bento




                                                                                    Documentos
XVI. Saúdo-o e agradeço-lhe, de todo o coração, em nome pessoal e de todo
este povo aqui reunido, em multidão, no Santuário de Fátima, como num ce-
náculo a céu aberto, onde pulsa o coração materno de Portugal. Bem-vindo,
Santo Padre!
    Muito obrigado porque quis visitar este Santuário tão querido ao nosso
povo e ao mundo católico, onde, no dizer de Vossa Santidade, “Maria ergueu
a sua cátedra para ensinar aos pequenos videntes e às multidões as verdades
eternas e a arte de orar, crer e amar” e onde nos “pede o abandono, cheio de
confiança, nas mãos do Amor que sustenta o mundo”.
    Muito obrigado pela oferta da Rosa de Ouro com que quis distinguir o
nosso Santuário, sinal do seu particular afecto.
    Muito obrigado por nos proporcionar esta extraordinária experiência de be-
leza da comunhão que constitui a Igreja unida à volta do seu Pastor universal.
    Muito obrigado, por fim e de modo especial, porque vem confirmar-nos
na fé, de acordo com o seu ministério de Sucessor de Pedro.
    A sua peregrinação ocorre, por feliz coincidência, no décimo aniversário
da beatificação dos pastorinhos e no centésimo do nascimento da pequena
Jacinta. São conhecidos o carinho, a oração e os sacrifícios dos pastorinhos
pela pessoa do Santo Padre e pelos seus sofrimentos.
    Neste momento quero também assegurar-lhe, Santo Padre, a profunda co-
munhão e o sincero afecto de todo o nosso povo católico pela sua pessoa e
pelo seu ministério na Igreja e na humanidade. Conte com a nossa oração, a
nossa docilidade na fé e o nosso afecto filial.
    Dispomo-nos a escutar a sua palavra que ilumina a mente e fala ao co-
ração, que confirma na fé e conforta no amor, que é portadora de esperança.
    Que o Senhor, por intercessão de Nossa Senhora de Fátima – “Nossa Se-
nhora dos tempos difíceis” (S. João Bosco) – e dos beatos Francisco e Jacinta,
lhe dê força, coragem e fecundidade no seu ministério apostólico.
                                    Santuário de Fátima, 13 de Maio de 2010
                                    † António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

                                                  | 49 • LEIRIA-FÁTIMA | 45
. escritos episcopais .



Festa da Fé
Discurso inaugural
    1. Ao cair da noite deste dia 21 de Maio, véspera do aniversário da criação
da nossa Diocese e da nossa cidade de Leiria, é-me dada a feliz ocasião e o
grato prazer de inaugurar esta “exposição” sui generis “Festa da Fé: Rosto(s)
da Igreja Diocesana”.
    Saúdo com viva simpatia e cordial afecto o Senhor D. Serafim, o Senhor
Governador Civil, o Senhor Presidente da Câmara de Leiria bem como to-
dos os outros Senhores Presidentes das Câmaras e das Juntas de Freguesia e
demais autoridades civis, académicas e militares que nos dão a honra da sua
presença.
    Saúdo ainda, afectuosamente, todos vós, caros amigos, irmãos e irmãs,
que participais neste momento de alegria e de festa.
    Devo confessar que este era para mim um momento muito esperado. Tra-
ta-se de um evento que culmina o Ano Pastoral da Diocese, dedicado a “ir ao
coração da Igreja”, à profundidade do mistério de amor que a habita, a anima
e a configura no seu rosto visível: o rosto de um povo em comunhão com
Deus, com os homens irmãos, com o mundo em que vive.
    O nosso rosto é sempre novo e diverso, nas diversas idades e estações da
vida e, contudo, é sempre o mesmo e único. Assim a Igreja de Deus no mundo
tem um rosto único formado de tantos rostos quantos são os seus membros, as
suas comunidades, os seus movimentos e serviços nos lugares onde habitam
e trabalham.
    A Igreja somos nós, os vários rostos da Igreja: dos fiéis leigos aos sacer-
dotes e religiosos(as), das crianças aos idosos, dos jovens aos adultos, dos
solteiros aos casados e viúvos, dos sãos aos doentes, da vida contemplati-
va nos mosteiros à vida activa numa multiplicidade de serviços do anúncio
do Evangelho, da celebração da fé e do testemunho da caridade fraterna, da
paróquia à missão, à descoberta de um vasto mundo, todos animados pela
mesma fé, levando uma mensagem de alegria, de comunhão, de fraternidade,
de paz. Todos e cada um deles são como as peças preciosas de um mosaico
muito belo que Deus, como um grande artista, concebe dia após dia com o
contributo de cada um.

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Rumo ao digital

  • 1. ANO XVIII • NÚMERO 49 • janeiro / junho • 2010 • Destaque • Festa da Fé: Rosto(s) da Igreja Diocesana • pág. 63 Fé na beleza espiritual e moral da vida • Decretos • aprovação • pág. 11 Estatutos do Conselho Pastoral Diocesano • Documentos • Orientações Pastorais • pág. 26 Celebrações da Eucaristia Dominical • Teologia/Pastoral • Ordem da Visitação foi fundada há 4 séculos • pág. 99 Entrega a Deus, na humildade e simplicidade de vida • História • Saul Gomes • pág. 109 Diocese de Leiria – contributos documentais DOCUMENTOS • decretos • escritos episcopais • VIDA ECLESIAL • notícias • entrevistas • REFLEXÕES • teologia/pastoral • história • DO
  • 2. Leiria-Fátima Órgão Oficial da Diocese ANO XVIII • NÚMERO 49 • JANEIRO / JUNHO • 2010
  • 3. Ficha Técnica| Director | Luís Inácio João Chefe de Redacção | Luís Miguel Ferraz Administrador | Henrique Dias da Silva Conselho de Redacção | Belmira de Sousa, Jorge Guarda, Luciano Cristino, Manuel Melquíades, Saul Gomes Capa/Grafismo | Luís Miguel Ferraz Propriedade/Editor | Diocese Leiria-Fátima / Gabinete de Apoio aos Serviços Pastorais Sede | Seminário Diocesano de Leiria • 2414-011 Leiria Tel.: 244832760 • Fax: 244821102 Correio Elec.: revista@leiria-fatima.pt Periodicidade | Semestral Tiragem | 330 exemplares Preço | 6 euros (avulso) • 12 euros (assinatura anual) Impressão | Tipografia de Fátima Depósito Legal | 64587/93 2 | LEIRIA-FÁTIMA • 49 |
  • 4. Índice . editorial . Rumo ao digital 5 Documentos••• . decretos . Nomeações episcopais • Comissão Diocesana Justiça e Paz 9 Nomeações episcopais • Cáritas Diocesana de Leiria 10 Decreto de Aprovação dos Estatutos • Conselho Pastoral Diocesano 11 Nomeação episcopal • Pároco da Ortigosa 19 Decreto de nomeação para o triénio 2010/2013 • Conselho Pastoral Diocesano 19 . documentos pastorais . Mensagem dos Bispos das Dioceses do Centro • Ano Sacerdotal - Quaresma de 2010 21 Mensagem quaresmal • Quaresma Ecológica 23 Orientações Pastorais • Celebrações da Eucaristia Dominical 26 . escritos episcopais . Homilia de Ano Novo • Cuidar da criação, caminho para a paz 29 Homilia nas exéquias de Monsenhor Henrique Fernandes da Fonseca • Homem de fé e pastor exemplar 33 Discurso na tomada de posse • Comissão Diocesana Justiça e Paz e Cáritas Diocesana 36 Apelo do Bispo diocesano • Peregrinação do Santo Padre a Fátima 39 Homilia da Missa Crismal • Presbitério em comunhão e ao serviço da comunhão 40 Visita Papal ao Santuário de Fátima • Saudação do Bispo de Leiria-Fátima 45 Festa da Fé • Discurso inaugural 46 Festa da Fé • Acolhimento da Virgem Peregrina 49 Homilia • Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo 51 . diversos . Comunicado da Diocese • Santo Padre nomeia Monsenhor Manuel Gonçalves Janeiro 53 Comunicado da Diocese • Pia União das Escravas do Divino Coração de Jesus 55 Comunicado da Diocese • P Marcin Strachanowski . 57 Comunicado da Diocese • Nomeações episcopais 58 Comunicado do Conselho Presbiteral • Ano dedicado ao serviço à pessoa 60 | 49 • LEIRIA-FÁTIMA | 3
  • 5. Índice Vida Eclesial••• . destaque . Diocese de Leiria-Fátima mobilizou-se para a festa • Fé na beleza espiritual e moral da vida 63 Falecimento • Monsenhor Henrique da Fonseca 67 . especial . Visita Pastoral do Bispo à Diocese • Pela vigararia de Ourém… 69 . serviços e movimentos . 25 anos da sua fundação • Escola de Formação Teológica de Leigos 79 Centro de Formação e Cultura e Escola Diocesana Razões da Esperança 86 Serviço Diocesano de Pastoral da Saúde 87 Serviço Diocesano de Catequese 87 Grupo Missionário Ondjoyetu 88 Movimento dos Cursos de Cristandade 89 Convívios Fraternos Diocesanos 91 Movimento das Equipas de Nossa Senhora 92 . entrevistas . Entrevista ao diácono Miguel Sottomayor “Espero que a minha vida seja uma constante entrega a Cristo” 93 Reflexões••• . teologia/pastoral . Entrega a Deus, na humildade e simplicidade de vida 99 Ordem da Visitação foi fundada há 4 séculos - Visita “guiada” ao interior do Convento da Batalha: O peso da idade, a leveza de Deus - D. António Marto preside à celebração festiva na Batalha: “Oásis espiritual no deserto do mundo” - Entrevista à Superiora do Convento da Batalha: “Fazer subir até ao trono de Deus o «aroma das virtudes»” - . história . Diocese de Leiria – contributos documentais para a sua história 109 Novos e antigos elementos para a história do castelo de Leiria 141 4 | LEIRIA-FÁTIMA • 49 |
  • 6. Editorial Rumo ao digital Tal como anunciado anteriormente, este será o último ano da publicação em papel da revista “Leiria-Fátima – Órgão Oficial da Diocese”. A justifica- ção foi já apresentada na nossa edição número 47, de Janeiro/Junho de 2009, e prende-se, sobretudo, com a optimização de recursos materiais e rapidez de resposta que nos é, actualmente, permitida pelo formato das edições digitais. A edição presente, relativa ao primeiro semestre de 2010, apresenta-se já com algumas opções editoriais condicionadas por essa perspectiva de altera- ção de formatos. Assim, na secção Documentos registamos, como usual, a documentação oficial da Diocese, os escritos episcopais e outros documentos de relevância pastoral. Quanto à Vida Eclesial, inclui-se ainda algum conteúdo noticioso, pen- sando sobretudo em deixar o registo histórico desse grande acontecimento que foi a “Festa da Fé – Rosto(s) da Igreja Diocesana”. Publicam-se também as entrevistas aos párocos das comunidades onde o Bispo diocesano passou em Visita Pastoral, dando seguimento ao trabalho iniciado anteriormente nesta rubrica, bem como as informações enviadas pelos vários serviços e movimentos diocesanos. Mas não se apresentam já as notícias do resumo do semestre na Diocese e no Santuário de Fátima, tanto pelo desfasamento temporal entretanto registado, como pelo facto de existirem outros meios de fácil acesso a essas informações. Finalmente, na secção Reflexões, publica-se um trabalho de fundo relativo aos 400 anos da fundação da Ordem da Visitação e dois artigos de divulgação de documentação histórica da Diocese. O número respeitante ao segundo semestre de 2010 está já na fase final de produção, pelo que, em breve, se dará por concluído este projecto no modelo até agora disponibilizado aos leitores. Nessa altura, divulgaremos a forma e as condições do novo projecto editorial do Órgão Oficial da Diocese. A Redacção | 49 • LEIRIA-FÁTIMA | 5
  • 8. Documentos . decretos . documentos pastorais . . escritos episcopais . diversos .
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  • 10. . decretos . Documentos Nomeações episcopais Comissão Diocesana Justiça e Paz António Augusto dos Santos Marto, Bispo de Leiria-Fátima, faz saber quanto segue: Sendo necessário constituir uma nova Comissão Diocesana Justiça e Paz para o triénio 2010-2012, havemos por bem nomear as seguintes pessoas para a integrar: Doutor Eugénio Pereira Lucas (Presidente), Dr.ª Mavíldia Carreira da Costa Frazão, Dr.ª Maria Ana Carvalho de Castro Barradas Toledo Rolla, Dr. Carlos Magalhães de Carvalho, Ambrósio Jorge dos Santos, P. Dr. Luís Inácio João. Esta Comissão é um organismo laical da Igreja diocesana com os seguin- tes objectivos: sensibilizar a comunidade diocesana e a sociedade para os problemas de justiça nela sentidos; promover e defender os valores da justiça e da paz, numa reflexão de inspiração cristã; reflectir e divulgar a Doutrina Social da Igreja; incentivar o compromisso dos cristãos na construção da so- ciedade, da política e da economia; promover uma análise crítica, inspirada no humanismo cristão, dos fenómenos sociais. Na sua acção deverá ter em conta as orientações do Magistério da Igreja, nomeadamente do Pontifício Conselho Justiça e Paz, procurando agir em coordenação com a Comissão Nacional Justiça e Paz. Fazemos votos de que esta Comissão possa dar um bom contributo para a realização destes objectivos. Leiria, 2 de Fevereiro de 2010 † António Augusto dos Santos Marto, Bispo de Leiria-Fátima | 49 • LEIRIA-FÁTIMA | 9
  • 11. . decretos . Nomeações episcopais Cáritas Diocesana de Leiria António Augusto dos Santos Marto, Bispo de Leiria-Fátima, faz saber quanto segue: Sendo necessário constituir novos corpos sociais da Cáritas Diocesana de Leiria, para o triénio 2010-2012, nomeamos os seguintes elementos: Direcção Presidente: Dr. Júlio Coelho Martins Vice-Presidente: Dr.ª Margarida Maria Oliveira Faria Marques Ramos Secretário: Dr. Lúcio Manuel Santos Ribeiro Alves Tesoureiro: Dr. Pedro Manuel de Melo Nogueira Santos Vogais: Joaquim Madaíl Brilhante Pedrosa Dr.ª Luciana Margarida Lopes Almeida dos Santos Dr. Manuel Nogueira Gonçalves dos Santos Nuno Miguel Vieira dos Santos Pedro José Grasina Barros Eng.º Pedro Nuno Carreira Ascenso Conselho Fiscal Presidente: Dr.ª Rosa Maria de Sousa Brilhante Pedrosa Vogais: Carlos Pereira Mendes Henrique Dias da Silva Assistente: P. Dr. Luís Inácio João Estes cargos devem ser exercidos de acordo com os Estatutos, respeitando as normas diocesanas e as orientações do Bispo diocesano. Leiria, 2 de Fevereiro de 2010 † António Augusto dos Santos Marto, Bispo de Leiria-Fátima 10 | LEIRIA-FÁTIMA • 49 |
  • 12. . decretos . Decreto de Aprovação dos Estatutos do Conselho Pastoral Diocesano Dom António Augusto dos Santos Marto, bispo de Leiria-Fátima, faz sa- ber quanto segue: Tendo sido oportuna e cuidadosamente revisto, em sede própria e de acordo com as normas canónicas em vigor, o texto dos Estatutos do Conselho Pastoral Documentos Diocesano aprovado pelo meu predecessor em 1 de Agosto de 1997, de modo a torná-lo um instrumento mais adequado às actuais exigências e necessidades pastorais da nossa Diocese, havemos por bem, por meio deste Decreto: 1. Aprovar e promulgar os presentes Estatutos do CONSELHO PASTO- RAL DIOCESANO de Leiria-Fátima, que entrarão de imediato em vigor; 2. Mandar que se proceda, de acordo com as disposições estatutárias, às respectivas eleições previstas nos artigos 9-10, e que os resultados consigna- dos em acta nos sejam comunicados. Leiria, 26 de Fevereiro de 2010 † António Augusto dos Santos Marto, Bispo de Leiria-Fátima ESTATUTOS PREÂMBULO 1. São Paulo, ao escrever aos cristãos de Éfeso a propósito do papel dos carismas e ministérios na edificação e organização da Igreja como corpo vi- sível de Cristo, recorda-lhes: “A cada um de nós foi dada a graça, segundo a medida do dom de Cristo. (...) E foi Ele que a uns constituiu como Apóstolos, Profetas, Evangelistas, Pastores e Mestres, em ordem a preparar os santos para uma actividade de serviço, para a construção do Corpo de Cristo, até que cheguemos todos à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, ao homem adulto, à medida completa da plenitude de Cristo. (...) É por Ele que o Corpo inteiro, bem ajustado e unido, por meio de todas as junturas, opera o seu crescimento orgânico segundo a actividade de cada uma das partes, a fim de se edificar na caridade” (Ef 4, 7.11-13.15). 2. O decreto sobre O Múnus Pastoral dos Bispos na Igreja (Christus Do- minus), do Concílio Vaticano II, reconhecendo os Bispos como legítimos sucessores dos Apóstolos, exorta-os a serem para os seus fiéis, no exercício do seu múnus, “bons pastores que conhecem as suas ovelhas e por elas são conhecidos como verdadeiros pais (...), de tal modo que todos, conscientes | 49 • LEIRIA-FÁTIMA | 11
  • 13. . decretos . dos seus deveres, vivam e operem em comunhão de caridade” (CD 16). E, para que possam desempenhar com solicitude esta missão que lhes foi con- fiada por instituição divina, o mesmo documento aconselha-os a conhecerem bem as necessidades dos seus fiéis, dentro das circunstâncias sociais em que vivem, mostrando interesse por todos, reconhecendo-lhes a obrigação e o di- reito de colaborarem activamente na edificação do Corpo místico de Cristo e favorecendo as várias formas de apostolado em toda a diocese e em cada uma das suas partes, coordenando a união de todas as obras apostólicas (cf Idem), de maneira que – sublinha – “todas as iniciativas e instituições de carácter ca- tequético, missionário, caritativo, social, familiar ou escolar, e qualquer outro trabalho com finalidade pastoral, tenham um desenvolvimento harmónico, o que ao mesmo tempo fará sobressair mais a unidade da diocese” (CD 17). 3. Acolhendo a referida doutrina eclesiológica de São Paulo, o mesmo decreto conciliar recomenda aos Bispos que em todas as dioceses se estabe- leça um Conselho pastoral, presidido pelo Bispo diocesano e formado por clérigos, religiosos e leigos (cf CD 27), definindo como sua principal missão “investigar e apreciar tudo o que diz respeito às actividades pastorais e for- mular conclusões práticas” (ibidem). Esta recomendação foi acolhida pelo Código de Direito Canónico, sob a forma de lei universal para toda a Igreja, nos cânones 511-514, os quais sublinham o seu carácter necessário como órgão consultivo do Bispo. 4. Assim, podemos definir o Conselho Pastoral Diocesano (CPD) como um órgão significativo de ajuda ao Bispo, no desempenho do seu ministério apostólico, no qual, a participação eclesial de todos os fiéis (que é um direito e dever de todos os baptizados), através do aconselhamento na Igreja, não só é necessária como fundamental, em vista a um discernimento para o serviço do Evangelho que deve ser preocupação comum. De facto, em virtude da sua incorporação na Igreja pelo Baptismo, todos os fiéis – leigos, clérigos e reli- giosos – estão habilitados a participar realmente e a construir, dia-a-dia, a co- munidade diocesana, pelo que o seu contributo é precioso e imprescindível. 5. O CPD tem pois, um duplo significado na vida e organização da Igreja: por um lado, representa a imagem da fraternidade e da comunhão da Igreja diocesana, da qual é expressão na variedade dos seus membros; por outro lado, e apesar do carácter consultivo que o caracteriza, o CPD deve ser um instrumento privilegiado da comum decisão pastoral, onde o ministério da cabeça, próprio do Bispo - no desempenho da presidência -, e a co-responsa- bilidade de todos os seus membros, devem encontrar a sua síntese, de modo que, todos “vivam e operem em comunhão de caridade” (CD 16). 12 | LEIRIA-FÁTIMA • 49 |
  • 14. . decretos . Capítulo I Natureza Artigo 1.° O Conselho Pastoral Diocesano (CPD) é um órgão consultivo auxiliar do Bispo, que a ele preside, como expressão da co-responsabilidade apostólica de todos os baptizados na comunhão eclesial. Documentos Artigo 2.° O CPD rege-se pelo Direito e demais orientações universais da Igreja, por estes Estatutos e outras normas que vierem a ser estabelecidas pelo Bispo diocesano. Artigo 3.° O CPD tem voto consultivo. Pode, porém, o Bispo diocesano atribuir-lhe força deliberativa, comunicando previamente ao Conselho essa sua decisão. Artigo 4.° O CPD tem a sua sede no Seminário Diocesano de Leiria. Capítulo II Competências e funções Artigo 5.º É da competência do CPD estudar e apreciar o que diz respeito às princi- pais orientações e actividades pastorais na Diocese, em ordem a tornar mais adequado e frutuoso o cumprimento da missão eclesial em favor das pessoas (cf cân. 511). Artigo 6.° São funções do CPD: a) Ajudar o Bispo diocesano a definir as orientações pastorais comuns a todos, mediante o projecto pastoral e outros instrumentos. b) Promover o discernimento da realidade da Diocese, tirar conclusões práticas sobre ela e indicar os caminhos pastorais a seguir. c) Possibilitar a partilha de experiências, projectos e preocupações dos di- versos grupos ou agentes da pastoral profética, litúrgica e sócio-caritativa. | 49 • LEIRIA-FÁTIMA | 13
  • 15. . decretos . d) Dar parecer sobre o programa anual de acção pastoral da Diocese. e) Avaliar periodicamente os resultados das orientações definidas, dos programas e das actividades realizadas. Artigo 7.° No exercício das suas funções, o CPD contará com o apoio e colaboração de todas as estruturas do Povo de Deus, públicas ou privadas, podendo mes- mo constituir comissões especiais. Capítulo III Constituição Artigo 8.º O CPD é constituído por leigos, clérigos e membros dos Institutos de Vida Consagrada, de modo a retratar a variedade do Povo de Deus na Diocese, segundo as condições sociais, culturais e de apostolado, e as diferentes zonas (cf cân. 512). § único. Só devem ser escolhidos fiéis que estejam em plena comunhão com a Igreja Católica e se distingam pela firmeza de fé, bons costumes e prudência (cf cân. 512 § 3). Artigo 9.° São membros do CPD: § 1. Em função do seu cargo: a) Vigário Geral. b) Vigário judicial. b) Reitor do Seminário. c) Reitor do Santuário de Fátima. § 2. Por eleição: a) Um representante do Conselho Presbiteral. b) Um representante dos Vigários da vara. c) Um representante do Conselho de Coordenação Pastoral. d) Um leigo representante de cada vigararia, eleito em assembleia constituída pelos conselhos pastorais paroquiais, presidida pelo res- pectivo vigário. e) Um representante de cada um dos seguintes departamentos dioce- sanos, indicados pelos respectivos directores: educação cristã, pas- 14 | LEIRIA-FÁTIMA • 49 |
  • 16. . decretos . toral juvenil e escolar, pastoral familiar, liturgia, vocações cristãs e pastoral social. f) Um representante dos institutos de vida consagrada masculinos, ou- tro dos femininos e outro dos seculares, indicados pela respectiva conferência diocesana (CIRP) ou equivalente. g) Três representantes das associações de fiéis, movimentos apostó- licos e novas comunidades, eleitos em assembleia de responsáveis, convocada e presidida pelo director do departamento diocesano das Documentos vocações cristãs. § 3. Por nomeação: Os que o Bispo diocesano queira designar, sendo desejável que o seu número não ultrapasse um décimo do total e que as pessoas escolhi- das provenham de áreas não abrangidas pelo § 2. Artigo 10.º § 1. De cada uma das eleições a que se refere o § 2 do artigo 9.º, deve- rá lavrar-se uma acta, assinada pelo presidente ou pelo secretário, na qual devem constar os resultados do escrutínio, com a indicação do número de presenças e ausências, nome dos eleitos, sua data de nascimento, profissão, endereço postal e electrónico e número de telefone e/ou de telemóvel. O pre- sidente providenciará pelo envio, o mais rápido possível, dessa acta à Secre- taria episcopal. § 2. As eleições serão feitas por sufrágio directo, escrito e secreto. § 3. Todos os membros eleitos deverão ser confirmados pelo Bispo Dio- cesano. Artigo 11.º § 1. O CPD é constituído pelo prazo de três anos. § 2. Os membros do CPD podem sempre ser nomeados de novo ou reeleitos. §3. Ao vagar a Sede Episcopal, o CPD cessa as suas funções (cf cân. 513 § 2). Artigo 12.º § 1. Os membros do CPD cessam o mandato: a) Por demissão ou por renúncia aceite pelo Bispo diocesano; b) Por cessação do respectivo cargo, os membros natos; c) Por deixarem de pertencer ao grupo que os elegeu. § 2. As vagas serão preenchidas da mesma forma da anterior designação, mas apenas para completar o mandato. | 49 • LEIRIA-FÁTIMA | 15
  • 17. . decretos . Capítulo IV Organização Artigo 13.º São órgãos constitutivos do CPD: a) O Presidente. b) O Secretariado Permanente. c) O Plenário. Artigo 14.º Compete ao Presidente, que é sempre o Bispo Diocesano: a) Aprovar e promulgar os Estatutos. b) Confirmar os membros a que se refere o artigo 9.º § 2. c) Designar os membros da sua escolha, conforme o artigo 9.° § 3. d) Nomear o Secretário. e) Convocar as reuniões do Plenário e aprovar a agenda de trabalhos. f) Presidir, por si, por seus vigários ou delegados, a essas reuniões. g) Aprovar e tornar públicas as conclusões tomadas nas reuniões plenárias. h) Coordenar superiormente toda a actividade do CPD. Artigo 15.º O Secretariado Permanente é constituído pelo Secretário e mais dois membros do CPD, eleitos pelo Plenário na sua primeira reunião ordinária; o mais votado será o Secretário-Adjunto. Artigo 16.º Compete ao Secretariado Permanente: a) Recolher as manifestações e desejos, opiniões e pareceres dos diocesa- nos, através dos membros do CPD e por outros meios legítimos. b) Preparar as reuniões, incluindo a agenda, tendo em conta os elementos recolhidos segundo a sua importância e urgência. c) Colaborar, segundo as suas competências, na execução das decisões tomadas nas reuniões plenárias. d) Dar parecer ao Presidente, sempre que solicitado, disponibilizando-se para todas as formas de colaboração pastoral. § único. O Secretariado Permanente reunir-se-á de acordo com as neces- sidades para o cumprimento das tarefas que lhe incumbem. 16 | LEIRIA-FÁTIMA • 49 |
  • 18. . decretos . Artigo 17.º Compete ao Secretário do CPD: a) Moderar as reuniões plenárias do CPD e do Secretariado Permanente. b) Orientar a preparação da agenda de trabalhos das reuniões ordinárias do Plenário e submetê-la à aprovação do Presidente, em conformidade com os artigos 15.º e) e 16.º b). c) Convocar as reuniões do Secretariado Permanente e fixar a agenda de trabalhos. Documentos d) Dinamizar o trabalho, quer do Plenário, quer do Secretariado Perma- nente, em ordem a ao funcionamento eficiente do CPD. Artigo 18.º Compete ao Secretário-Adjunto: a) Auxiliar o Secretário em tudo o que lhe for solicitado e substituí-lo em caso de impedimento. b) Redigir as actas das reuniões do Secretariado Permanente e do Plená- rio. c) Enviar as convocatórias e demais correspondência. d) Ordenar e guardar os documentos na sede do CPD, nomeadamente relatórios, informações e correspondência. e) Assinar com o Presidente e o Secretário as actas do Plenário e com o Secretário as actas do Secretariado Permanente, rubricando todos os documentos do Conselho. Artigo 19.º Compete ao Plenário: a) Fornecer a mais completa informação sobre as necessidades, desejos, problemas e opiniões (cf LG 37) relativos à agenda de trabalhos. b) Colaborar no estudo e programação de projectos e acções pastorais e propor iniciativas. c) Pronunciar-se sobre o trabalho e projectos de comissões eventuais, se- gundo o artigo 7.°. d) Debater propostas e formular conclusões práticas, através de votação ou outra forma adequada (cf LG 37; CD 27). | 49 • LEIRIA-FÁTIMA | 17
  • 19. . decretos . Capítulo V Funcionamento Artigo 20.º O CPD reunir-se-á, ordinariamente, duas vezes por ano, e, extraordinaria- mente, sempre que necessário. Artigo 21.º A reunião ordinária do CPD deverá ser convocada com um mínimo de um mês de antecedência, devendo, nessa ocasião, ser enviada a agenda de trabalho. § único. No caso de julgar insuficiente a documentação sobre os temas da agenda, cada membro poderá requerer ao Secretariado Permanente as infor- mações que lhe parecerem necessárias para estudar os assuntos a debater. O Secretariado Permanente ajuizará da oportunidade de as facultar. Artigo 22.º Cada membro do CPD procurará actuar com eficácia e de modo respon- sável, quer tomando parte activa nas reuniões, quer enviando ao Secretariado Permanente propostas, notas escritas, relatórios, comunicação de experiên- cias, resultados de inquéritos e entrevistas, quer por outros meios legítimos. Capítulo VI Disposições finais Artigo 23.º Estes Estatutos entram em vigor após a promulgação pelo Bispo Diocesa- no e serão revistos sempre que for julgado necessário. Artigo 24.º Nos casos omissos ou duvidosos destes Estatutos, compete ao Bispo dio- cesano o esclarecimento dos mesmos. 18 | LEIRIA-FÁTIMA • 49 |
  • 20. . decretos . Nomeação episcopal Pároco da Ortigosa D. António Augusto dos Santos Marto, Bispo de Leiria-Fátima, faz saber quanto segue: Tendo em consideração o pedido de dispensa, por motivos de saúde, que nos foi apresentado pelo Rev.º Padre Fernando Pereira Ferreira, dispensamo- Documentos lo do múnus de pároco da Paróquia de Ortigosa e nomeamos o Rev.º Padre Isidro da Piedade Alberto como administrador paroquial da referida paróquia, de acordo com os cân. 539 e 540 do C.I.C.. Esta nomeação tem efeitos a partir da presente data e é válida até à tomada de posse do novo pároco. Leiria, 28 de Março de 2010 † António Augusto dos Santos Marto, Bispo de Leiria-Fátima Decreto de nomeação para o triénio 2010/2013 Conselho Pastoral Diocesano António Augusto dos Santos Marto, Bispo da Diocese de Leiria-Fátima, faz saber quanto segue: Tendo em conta que a comunhão eclesial, para poder ser uma realidade viva, orgânica e articulada, deve dispor de instrumentos de participação; sa- bendo que o Bispo da Diocese exerce o ministério da síntese ou da comunhão e não a síntese dos ministérios, havemos por bem, de acordo com os cân. 511 e 512 do C.I.C., constituir um novo Conselho Pastoral Diocesano, por ter cessado o mandato do anterior. De acordo com o Art.º 9.º dos Estatutos deste órgão, nomeio os seguintes elementos para o integrarem: Em função do seu cargo: P. Dr. Jorge Manuel Faria Guarda (Vigário Geral) P. Dr. Fernando Clemente Varela (Vigário Judicial) P. Dr. Manuel Armindo Pereira Janeiro (Seminário Diocesano) P. Dr. Virgílio do Nascimento Antunes (Reitor do Santuário de Fátima) | 49 • LEIRIA-FÁTIMA | 19
  • 21. . decretos . Membros eleitos: P. Dr. Rui Acácio Amado Ribeiro P. Dr. Orlandino Barbeiro Bom P. Dr. José Henrique Domingues Pedrosa Gonçalo Nuno Caetano da Silva Joaquim Carrasqueiro de Sousa Dr.ª Isabel Maria de Bastos Reis Maria Idalina Costa dos Santos Gaspar Joaquim Oliveira da Silva Abílio Teixeira da Cruz Manuel Alexandre Gameiro António Araújo Monteiro Maria Vitória Cordeiro Ferreira Silva Ir.ª Maria Alzira Martins da Costa Dr. Diogo Carvalho Alves P. Dr. José Augusto Pereira Rodrigues P. Doutor Carlos Manuel Pedrosa Cabecinhas Sérgio Manuel dos Santos Dr. Júlio Coelho Martins P. José Augusto Leitão Ir.ª Maria da Trindade Machado Lucinda de Lurdes Gonçalves Teixeira Cristóvão Conceição Ginja Joaquim Manuel de Magalhães Mexia Alves Fernanda de Jesus Ferreira Pedrosa Membros designados pelo Bispo: Doutor Eugénio Pereira Lucas Ambrósio Jorge dos Santos Dr.ª Maria de Fátima dos Santos Sismeiro O Conselho Pastoral Diocesano funcionará de acordo com os cân. 513 e 514 do C.I.C e segundo os seus Estatutos em vigor. Entrará em funções na primeira sessão, para a qual serão convocados todos os membros. Esta nomeação é válida pelo período de três anos. Leiria, 29 de Junho de 2010. † António Augusto dos Santos Marto, Bispo de Leiria-Fátima 20 | LEIRIA-FÁTIMA • 49 |
  • 22. . documentos pastorais . Mensagem dos Bispos das Dioceses do Centro aos Padres das suas Dioceses Ano Sacerdotal - Quaresma de 2010 Documentos Como sabeis, nós, os Bispos das vossas Dioceses, como expressão de comunhão entre nós, reunimo-nos todo os meses, indo a cada diocese, para rezar, conviver, partilhar e reflectir os problemas pastorais comuns, sentidos e vividos no dia-a-dia. Como estamos no Ano Sacerdotal e a iniciar o tempo da Quaresma, decidi- mos, numa das nossas últimas reuniões, dirigir-vos uma mensagem fraterna e amiga, como expressão de estima e de gratidão pela vossa colaboração diária e, ao mesmo tempo, como palavra de estímulo para o trabalho pastoral acrescido que a todos é pedido neste tempo quaresmal, rumo à Páscoa do Senhor. A Quaresma é para vós tempo de maior esforço e ajuda mútua, porque sois agora especialmente chamados a celebrar o sacramento da Reconcilia- ção, com todo o significado que ele tem para a Igreja, para cada um de nós e para os cristãos em geral. Parte essencial do exercício do ministério sacerdotal, tal como a cele- bração da Eucaristia, a celebração da Reconciliação convida-nos, não só a deixarmo-nos penetrar de entranhas de misericórdia para os que procuram o perdão de Deus, mas, também, ao exercer tão maravilhoso serviço pastoral, a procurar a nossa própria santificação. Falando aos confessores da diocese de Roma (20.3.1989), João Paulo disse-lhes: “Ao comunicarmos aos fiéis a graça e o perdão no sacramento da Penitência, realizamos a acção cimeira do nosso sacerdócio, depois da cele- bração da Eucaristia… Eu diria que o sacerdote, ao perdoar os pecados, vai de certo modo para além do já sublime ofício de embaixador de Cristo, uma vez que quase alcança uma identificação mística com Cristo”. Esta palavra é também para todos nós, ministros do perdão de Deus. O exemplo do Santo Cura de Ars é, particularmente neste campo, mui- to estimulante. Para além do cumprimento dos outros deveres pastorais, ele tornou-se, como confessor, ponto de encontro com Deus de todos os peniten- tes que, idos de muitos lados, o procuravam atraídos pela sua santidade. Ele sabia traduzir, de modo simples, um profundo sentido de Deus, rico em mise- | 49 • LEIRIA-FÁTIMA | 21
  • 23. . documentos pastorais . ricórdia, proporcionando aos penitentes acolhimento fraterno, compreensão paciente e orientação segura para as suas vidas. Estamos conscientes, apesar das dificuldades pastorais sentidas neste minis- tério, em razão de uma tradição pouco esclarecida, bem como da crescente insen- sibilidade ao pecado, que a confissão sacramental é sempre um acontecimento de graça para os que procuram a graça do perdão e da reconciliação com Deus. Sede, caríssimos padres, diligentes e generosos, não só no tempo qua- resmal, mas ao longo do ano pastoral, proporcionando aos cristãos tempos adequados, frequentes e com horários acessíveis para que se possam abeirar do sacramento da Reconciliação. Se procurarmos nós próprios ser fiéis à celebração pessoal da Reconcilia- ção, a misericórdia de Deus, pela experiência espiritual vivida, molda o nosso coração e, à imitação de Cristo para com os pecadores, conduz-nos à maior compreensão dos penitentes e ao acolhimento fraterno. Todos temos experi- ência da alegria pessoal sentida, ao vermos um pecador que se converte e en- contra paz interior no perdão recebido e no amor reencontrado. Quantos frutos produz este apostolado silencioso do confessionário! Nem nós, mediadores de Deus, Pai rico em misericórdia, o saberemos alguma vez por completo. Este apelo à generosidade e prontidão na celebração da Reconciliação pretende, também, ajudar a fidelidade de cada um ao dom recebido na or- denação sacerdotal. Se na celebração sacramental se experimenta ao vivo a fidelidade de Jesus Cristo, Redentor do homem pecador, não pode este seu gesto ser senão mais um estímulo à nossa fidelidade a Deus e aos irmãos. A dignificação do Sacramento da Penitência, em relação ao qual se vai sentindo menor apreço por parte de muitos cristãos, não se poderá operar sem o contributo pessoal e colectivo dos ministros da Igreja que nele operam, como mediadores necessários do perdão de Deus. Preparai-vos espiritualmente para cada celebração, ajudai também os pe- nitentes a prepararem-se para sentirem, em verdade, a dor pelos pecados co- metidos e o propósito de conversão, e fazei que cresça em todos a confiança na misericórdia de Deus, nosso Pai. Desejamos que a Páscoa que se aproxima aumente em vós a alegria do vosso sacerdócio e, a exemplo de Cristo, a contínua e generosa dedicação aos irmãos. Unidos ao Senhor e procurando ser fiéis ao seu projecto de salvação uni- versal, vos saudamos com a expressão da nossa estima fraterna. 16 de Fevereiro de 2010 Os Bispos, diocesanos e eméritos, de Aveiro, Coimbra, Guarda, Leiria-Fátima, Portalegre e Castelo Branco e Viseu 22 | LEIRIA-FÁTIMA • 49 |
  • 24. . documentos pastorais . Mensagem quaresmal Quaresma Ecológica 1. Para uma ecologia espiritual Documentos Na Quarta-feira de Cinzas, nós, os cristãos entramos em Quaresma. É um tempo de interioridade de 40 dias que prepara a festa da Páscoa, a celebrar de coração purificado e renovado. Reveste a forma de um retiro, pessoal e comunitário, de um itinerário es- piritual para pôr ordem na confusão, para estabelecer relações transparentes, justas e fraternas, para saborear o repouso e o silêncio meditativos afinando os critérios de vida pelo Evangelho. Numa palavra, para experimentar a exis- tência autêntica que nos dá a felicidade. Assim entendida, a Quaresma adquire a tonalidade de uma verdadeira ecologia do espírito. Como diz o Santo Padre Bento XVI: “ Tal como existe uma poluição atmosférica que envenena o ambiente e os seres vivos, assim existe uma poluição do coração e do espírito que mortifica e envenena a exis- tência espiritual”. Nós e o nosso mundo temos necessidade de uma ecologia espiritual para regenerar as nossas energias espirituais e morais. Para isso, a pedagogia da Quaresma sugere-nos três exercícios espirituais clássicos: a oração, como escuta de Deus; o jejum, como sobriedade de vida e de consumo; e a esmola, como partilha fraterna. São três palavras-atitudes a gravar no nosso coração, como verdadeiro caminho para uma ecologia espi- ritual que nos permita respirar o ar puro do espírito, que é o amor na verdade, e crescer na abertura a Deus e aos outros. 2. “Viver em comunhão na Igreja”: retiro espiritual do povo de Deus Porém, é na escuta mais frequente da Palavra de Deus que melhor se exprime o espírito da Quaresma. Com efeito, a Palavra desperta a fé, suscita a vontade de conversão, propõe o significado do mistério pascal de Cristo para nós hoje, provoca o diálogo da oração, gera a comunhão na Igreja e no mundo. O presente Ano Pastoral é dedicado a descobrir a beleza da Igreja de Jesus como mistério de comunhão de Deus com os homens e dos homens | 49 • LEIRIA-FÁTIMA | 23
  • 25. . documentos pastorais . entre si e a promover a comunhão e a corresponsabilidade em cada comuni- dade cristã. Para isso é necessário, antes de mais, cultivar a espiritualidade da comunhão como dom de Deus que purifica e liberta todas as nossas relações do egoísmo e do individualismo, da indiferença e da divisão, e nos abre o coração à universalidade do amor e do serviço. Neste sentido, continuamos a propor o “retiro do Povo de Deus”, in- titulado “Viver em comunhão na Igreja”, sob a forma da leitura orante e familiar da Palavra de Deus (lectio divina) em pequenos grupos. Peço aos párocos o melhor empenho na sua preparação e promoção. E faço votos de uma participação cada vez maior. Este retiro contribui para a ecologia das relações interpessoais, familiares e comunitárias. 3. Fraternidade e entreajuda: a renúncia quaresmal O Santo Padre lembra-nos uma outra dimensão da Quaresma na sua men- sagem para este ano, sobre a justiça, o amor e a reconciliação. Aí afirma: “Fortalecido por esta experiência (do Amor que recebe de Deus), o cristão é levado a contribuir para a formação de sociedades justas, onde todos recebem o necessário para viver segundo a dignidade própria da pessoa humana e onde a justiça é vivificada pelo amor”. É um chamamento à justiça como virtude pessoal e social. Mas não basta a justiça para construir uma sociedade fraterna. Torna-se necessária a gratui- dade do dom, do amor, da partilha, da entreajuda. Este aspecto dá uma maior actualidade à Quaresma cristã neste “Ano de combate à pobreza e à exclusão social”. Assim, por decisão do conselho presbiteral, a colecta da renúncia quares- mal é destinada à reconstrução do povo e da Igreja do Haiti, devastados pela catástrofe do recente terramoto. Também este gesto é expressão da ecologia espiritual da justiça e da fra- ternidade. 4. Peregrinação da esperança: acolher o Papa peregrino de Fátima Um outro gesto da caminhada quaresmal é a tradicional Peregrinação Diocesana a Fátima, no próximo dia 21 de Março. Uma peregrinação é uma longa oração feita porventura a pé e com os pés. Mas é sobretudo uma experiência espiritual no mais profundo de nós 24 | LEIRIA-FÁTIMA • 49 |
  • 26. . documentos pastorais . mesmos. É-se peregrino antes de mais com a mente e com o coração em or- dem a um encontro libertador com Deus. Na peregrinação, tudo começa por um pôr-se a caminho, por um despertar espiritual em resposta a um apelo ou impulso divino. A peregrinação diocesana é uma marcha solidária de um povo de pere- grinos que caminham juntos ao encontro da Mãe do Bom Conselho para com ela renovarem a sua fé, fazerem a revisão de vida, saborearem a experiência viva daquela comunhão que constitui o coração da Igreja. Documentos Em Maio será o próprio Papa que virá em peregrinação a Fátima, como Sucessor do Apóstolo S. Pedro, que preside à caridade e à comunhão da Igre- ja universal. “Quando o Papa se faz peregrino, na qualidade de Pastor universal da Igreja, é toda a Igreja que peregrina com ele. Por isso, esta sua peregrinação reveste um grande significado pastoral, doutrinal e espiritual”, afirmam os bispos em nota pastoral. A este aspecto acresce a feliz coincidência com o décimo aniversário da beatificação dos pastorinhos e o centésimo aniversário do nascimento da beata Jacinta. Nós, diocesanos de Leiria-Fátima, somos os primeiros anfitriões de tão ilustre e estimado peregrino. Queremos pois acolhê-lo com alegria, entusias- mo e devoção filial. O melhor testemunho do nosso afecto e acolhimento será a participação nas celebrações de 12 e 13 de Maio, dando assim expressão viva ao lema escolhido para a visita do Papa a Portugal: “Contigo, cami- nhamos na esperança”. Vamos colocar, desde já, o feliz êxito desta peregrinação do Santo Padre na nossa oração pessoal e na oração universal dos fiéis em cada domingo: “Para que a próxima peregrinação do Santo Padre a Fátima ajude a reavivar a fé, a animar a esperança, a dinamizar a caridade e a fortalecer a nossa comu- nhão, oremos ao Senhor”. Nossa Senhora de Fátima, Mãe da confiança e Estrela de esperança, nos acompanhe no caminho da conversão quaresmal! Leiria, 17 de Fevereiro de 2010 † António Marto, Bispo de Leiria-Fátima | 49 • LEIRIA-FÁTIMA | 25
  • 27. . documentos pastorais . Orientações Pastorais Celebrações da Eucaristia Dominical Aos sacerdotes diocesanos, Aos sacerdotes religiosos, Às religiosas, Aos conselhos pastorais paroquiais Jesus, quando realizou a Última Ceia, ordenou aos seus discípulos: “Fa- zei isto em memória de Mim” (Lc 22,19; 1 Cor 11,25). A Igreja, sob a orienta- ção do Espírito Santo, obedecendo àquele mandado, deu continuidade ao acto e ao dom de Jesus com a celebração da Eucaristia. Nela, cada comunidade de fiéis encontra-se com o seu Senhor, recebe o dom que Ele faz de si mesmo e acolhe, na fé, a revelação do amor infinito de Deus por cada pessoa. A Eucaristia é assim, para os fiéis católicos, expressão e alimento da fé, memorial de Cristo vivo e acto de louvor a Deus, fonte de vida segundo Deus e de testemunho do seu amor no mundo (cf. Bento XVI, Sacramento da Caridade). Reconhecendo nela um preciosíssimo dom espiritual, a Igreja, sob a pre- sidência de um sacerdote, celebra-a em cada dia e, de modo mais festivo, em todos os domingos e solenidades. Ao Domingo, efectivamente, por ser o dia da Ressurreição do Senhor, é importante que os fiéis cristãos se reúnam para a celebração da presença viva do Ressuscitado no meio deles e ainda para exprimir a própria identidade eclesial como “assembleia convocada pelo Senhor ressuscitado”. A Eucaris- tia, a que se chama também Missa, é, na verdade, a “alma do Domingo” (cf. João Paulo II, O Dia do Senhor). Por isso, nesse dia, todo o cristão deverá fazer o possível para participar na celebração eucarística. Ao longo do tempo, multiplicaram-se os lugares onde os fiéis se reúnem “no amor de Cristo”, para a Santa Missa. Presentemente, todavia, deparamo- nos, por um lado, com uma maior exigência de qualidade litúrgica e espiritual em relação às celebrações e, por outro, com uma diminuição da frequência das celebrações litúrgicas por parte de muitos católicos, bem como com a diminuição acentuada do número de sacerdotes. Tudo isto aconselha a que na Diocese se revejam as condições em que se realizam celebrações dominicais 26 | LEIRIA-FÁTIMA • 49 |
  • 28. . documentos pastorais . da Eucaristia e se proceda à reorganização deste serviço litúrgico em cada paróquia. O princípio a seguir, tanto por parte dos sacerdotes e seus colaboradores como pelos restantes fiéis, será o de, se necessário for, celebrar menor quan- tidade de Missas para celebrar melhor. O objectivo a atingir será o de asse- gurar o bem espiritual de todos os fiéis e, ao mesmo tempo, salvaguardar a saúde física e espiritual dos próprios sacerdotes. É que, além de presidirem à liturgia, eles deverão ter tempo e capacidade para se dedicarem pessoalmente Documentos à oração e ao cuidado da própria vida espiritual, e ainda para desenvolverem a evangelização e a vida cristã das pessoas, grupos, comunidades e movi- mentos. Ano após ano, há padres idosos ou doentes que deixam os serviços pasto- rais, as novas vocações sacerdotais são insuficientes para as necessidades e, em múltiplos lugares, diminui o número de pessoas que frequentam a Missa dominical. Acontece então haver igrejas com poucos fiéis e, não distante dali, encontrar-se outra onde também se celebra a Eucaristia. Juntando as duas comunidades poderia até conseguir-se uma melhor qualidade da celebração. Assim, nas circunstâncias actuais, não será possível continuar a manter a ce- lebração dominical da Santa Missa em todos os lugares em que ela acontecia. Tendo em consideração o que foi dito e as sugestões dos próprios sacer- dotes, dou as seguintes orientações e critérios para as opções, quanto aos lugares, onde se deverá manter ou não a celebração da Eucaristia dominical: 1. No processo de discernimento para a decisão de reorganizar o serviço litúrgico dominical, os párocos deverão solicitar o contributo dos res- pectivos conselhos pastorais e dos outros párocos da sua vigararia. Nes- te sentido, em espírito de colaboração fraterna e de co-responsabilidade na missão eclesial, os presbíteros ajudem-se mutuamente para o melhor bem dos fiéis. A decisão pastoral do pároco deve estar suportada no parecer favorável de ambas as instâncias mencionadas. 2. Na igreja paroquial, deverá assegurar-se, quanto possível sempre, a celebração eucarística. 3. Nas outras igrejas (capelas), dar-se-á prioridade aos lugares onde funciona um centro de catequese. Considera-se centro de catequese, normalmente, onde houver a frequência de, pelo menos, 50 crianças e adolescentes. | 49 • LEIRIA-FÁTIMA | 27
  • 29. . documentos pastorais . 4. Nos casos de assembleias dominicais reduzidas, havendo uma ou mais igrejas a curta distância, os fiéis serão convidados a congregarem-se na igreja que reúna melhores condições para nela se celebrar a Santa Missa. Se tal for oportuno, pode admitir-se a alternância ou rotatividade anual dos lugares de celebração. 5. Sem prejuízo da obrigação que compete aos familiares, nas comunida- des paroquiais onde for necessário e possível, organize-se um serviço de transportes para as pessoas que tenham dificuldades de deslocação e que desejam participar na celebração da Santa Missa. 6. Onde se justificar, por impossibilidade de haver a Santa Missa ou de as pessoas se deslocarem a outra igreja, os párocos podem promover a realização da “celebração dominical na ausência de sacerdote”, condu- zida por um ministro leigo competente (cf. Bento XVI, Sacramento da Caridade, 75). Esta solução, no entanto, deve ter sempre um carácter extraordinário, e só se há-de recorrer a ela quando estiverem esgotadas as outras possibilidades e exclusivamente nos lugares onde as distân- cias entre as igrejas (ou capelas) forem de facto consideráveis. Confio ao Serviço Diocesano de Pastoral Litúrgica a missão de cuidar da formação e credenciação dos ministros para presidirem a tais celebrações. No desempenho de tal missão, os ministros devem reger-se por quanto está estabelecido no Directório para as celebrações dominicais na ausên- cia do presbítero (1988) e no livro litúrgico para a Celebração dominical na ausência do Presbítero, da Conferência Episcopal Portuguesa. Os párocos apresentarão ao Serviço Diocesano de Pastoral Litúrgica os nomes dos candidatos a ministros das celebrações dominicais na au- sência de presbítero, que só poderão ser nomeados após completarem a formação específica. 7. As comunidades religiosas com Eucaristia dominical que possam par- ticipar na Santa Missa com a comunidade local mais próxima, libertem os sacerdotes, mesmo religiosos, “para irem servir a Igreja nos lugares onde houver necessidade, sem olhar a sacrifícios” (cf. Bento XVI, Sa- cramento da Caridade, 25). Leiria, 26 de Fevereiro de 2010 † António Marto, Bispo de Leiria-Fátima 28 | LEIRIA-FÁTIMA • 49 |
  • 30. . escritos episcopais . Homilia de Ano Novo Cuidar da criação, caminho para a paz Documentos A “carícia” de Deus, bênção para o novo ano No início do Ano Novo, a liturgia da Palavra convida-nos a começar o nosso caminho e a prossegui-lo, dia após dia, com a bênção do Senhor: “O Senhor te abençoe e te proteja. O Senhor faça resplandecer sobre ti o seu rosto e te seja favorável”. Estas palavras são como uma “carícia” que Deus reserva para todos e cada um de nós: é-nos comunicada no rosto terno do Menino em Belém e no rosto materno de Maria, cuja Maternidade Divina hoje celebramos. Sim, uma carícia de Deus que testemunha o seu amor terno, a sua proximidade de Pai e Amigo, o seu tomar-nos pela mão e acompanhar-nos, passo a passo, na vida, a sua resposta solícita às nossas invocações, o seu conforto nas dificuldades, a sua consolação nos momentos de provação e de solidão, a sua misericórdia sem limites para com as nossas infidelidades... Uma carícia que tem uma for- ça extraordinária de nos impulsionar a viver o novo ano na fé e na caridade, no amor verdadeiro. À bênção do Senhor pertencem ainda estas palavras: “O Senhor volte para ti o seu olhar e te conceda a paz”. Também este “voltar o olhar” – que só pode ser olhar de amor – é expressão da carícia de Deus. Só dela nos pode chegar o grande dom da paz. Neste Dia Mundial da Paz, o Santo Padre convida-nos a reflectir sobre um tema que interpela toda a humanidade: “Se queres cultivar a paz, guarda a criação”. É um apelo à nossa responsabilidade ecológica pela salvaguarda do ambiente e de toda a criação perante as ameaças que afligem o mundo. Emergência ecológica e a causa da paz Não podemos esquecer que a nossa geração é talvez a primeira na história a estar consciente de que a vida e a morte dos seres do nosso planeta e, por conseguinte, da humanidade, dependem das opções que forem tomadas no presente. Esta consciência deriva de evidências que se impõem: ar viciado, | 49 • LEIRIA-FÁTIMA | 29
  • 31. . escritos episcopais . águas poluídas, solo explorado e degradado, desertificação que avança pro- gressivamente, alterações climáticas, recursos naturais e matérias-primas a esgotarem-se, novas doenças que surgem... Os atentados ao ambiente são tão preocupantes como as guerras, os actos terroristas e as violações dos direitos humanos, afirma Bento XVI. Trata- se de uma verdadeira crise ecológica, de dimensão planetária, que põe em causa o presente e o futuro da criação e da humanidade. Por este caminho, o homem corre o risco de ser engolido pelo produto da sua obra ou de estar a cavar o túmulo debaixo dos seus pés. Não podemos fechar os olhos perante os sinais de alarme. Reflectir sobre a crise ecológica obriga-nos, antes de mais, a repensar a relação íntima do homem com a natureza. Esta é maltratada porque é mal amada. O grande risco é olhar a natureza apenas com critérios de utilidade, produtividade e lucro; olhá-la como mero armazém de material, como “um montão de resíduos espalhados ao acaso” a usar e consumir sem limites e sem regras. O respeito pela natureza requer um novo olhar. Os cristãos, frente ao “deserto que avança”, anunciado por Nietzsche, e perante a terra cada vez mais desolada, deveriam aprender a descobrir na profundidade da criação “a escritura das coisas”, as suas lágrimas e os seus louvores. O jardim da criação: dom de Deus, promessa de vida e casa comum À luz da fé cristã no mistério da criação, a natureza não é fruto do acaso caprichoso ou do caos. É dom do amor de Deus; é promessa de vida; é casa comum dos homens e, por isso, motivo de contemplação, de louvor, de acção de graças e de responsabilidade. A Bíblia apresenta-a com a bela imagem do jardim, onde Deus coloca o homem para o cultivar e guardar. O jardim é uma grande metáfora da in- teligência e do amor de Deus. Esta inteligência de amor cuida da terra, mas esta é destinada aos humanos. No jardim, o homem descobre os traços de um cuidado amoroso que o precedeu. O jardim mostra que a terra não é um mero depósito de matérias-primas. É um habitat para a circulação das pessoas, do pensamento, da inteligência, dos afectos; é uma morada a partilhar em paz, no equilíbrio entre o trabalho e o recreio, entre os bens a consumir e a beleza a salvaguardar na sua biodi- versidade. Os homens que não cuidam e não têm paixão pela guarda do jardim tor- nam inabitável e inóspita a terra inteira. A mensagem do Papa contém uma 30 | LEIRIA-FÁTIMA • 49 |
  • 32. . escritos episcopais . expressão maravilhosa e penetrante a este respeito: “Há uma espécie de reci- procidade: cuidando da criação, constatamos que Deus, através da criação, cuida de nós”. Quanto mais olharmos a natureza como dom de Deus, tanto maior é a sua preciosidade e maior a nossa responsabilidade. O homem como criatura entre as criaturas é chamado a viver na solidariedade, numa comunhão amorosa e de respeito com toda a criação. Documentos Todos responsáveis pela criação: para uma nova cultura ecológica “Todos somos, pois, responsáveis pela protecção e pelo cuidado da cria- ção”. A ciência e a técnica, por si sós, não resolvem a crise ecológica. Ela tem raízes culturais e éticas profundas. A falta de respeito pela natureza mostra que o homem não desenvolveu plenamente a sua própria humanidade. A humanidade global tem necessidade de uma profunda renovação cultu- ral e ética. É indispensável uma mudança cultural, de mentalidade, de crité- rios, de estilos de vida, que vá à raiz do problema ecológico como problema moral. Com efeito, trata-se de uma responsabilidade individual e colectiva. Pro- teger e defender o ambiente não pode ser deixado só à boa vontade dos in- divíduos. Assim, esta crise pode ser uma “oportunidade histórica de discernimento e projectação de novos caminhos”(n. 5). Inspirando-nos na mensagem do Santo Padre podemos indicar, sumariamente, alguns pontos concretos para uma consciência ecológica correcta, madura e responsável, como caminho para paz: - viver a fraternidade, como atitude fundamental, a relação amorosa com todos os seres da natureza, à boa maneira de S. Francisco; - recuperar a consciência da interdependência entre homem e natureza, a solidariedade com toda a criação, “inspirada pelos valores da caridade, da justiça e do bem comum”; - mudar o nosso modelo de desenvolvimento que, muitas vezes, tem em vista míopes interesses económicos a qualquer custo, de modo a que economia e tecnologia fiquem enriquecidas com a componente ecoló- gica; - considerar a natureza como casa comum de todos os homens e de todas as gerações, que implica a solidariedade com as gerações vindouras de tal modo que não lancemos hipotecas sobre elas nem lhes leguemos em herança um deserto em vez de um jardim; | 49 • LEIRIA-FÁTIMA | 31
  • 33. . escritos episcopais . - promover uma educação ecológica, uma pedagogia do ambiente, atra- vés duma aliança entre família, escola, universidade, organizações não governamentais e meios de comunicação social; - adoptar novos estilos de vida mais sóbrios “nos quais a busca do ver- dadeiro, do belo e do bom e a comunhão com os outros homens, em ordem ao crescimento comum, sejam os elementos que determinam as opções do consumo, da poupança e do investimento”(n. 11). O compor- tamento de cada pessoa tem sempre um peso e uma consequência. Se a pessoa se deixa cair no laxismo em numerosas formas de poluição ou desperdício, mesmo aparentemente insignificantes, contribui para uma atitude inconsciente, para o vandalismo ambiental, para a tolerância da destruição ou degradação; - cuidar e proteger, igualmente, a ecologia humana, afirmando o respeito pela vida humana em todas as suas fases, a dignidade da pessoa e a missão insubstituível da família fundada no casamento entre um ho- mem e uma mulher. “Quando a ecologia humana é respeitada dentro da sociedade, beneficia também a ecologia ambiental”(n. 12). Como pedir o respeito pela vida ambiental se não se respeita a vida humana? O testemunho de S. Francisco Neste ano de 2010 ocorre o 30º aniversário da proclamação de S. Fran- cisco de Assis como Padroeiro dos cultores da ecologia, que nos deixou o belíssimo e inspirado Cântico das Criaturas. Contemplando o seu exemplo aprendemos a amar a criação e a descobrir nela o espelho do amor infinito do Criador: “Louvado sejas, meu Senhor, com todas as Tuas criaturas; Louvado sejas, meu Senhor, por aqueles que perdoam pelo Teu amor; louvai e bendizei o meu Senhor e dai-lhe graças e servi-O com grande humildade”! Com estes sentimentos desejo a todos vós e às vossas famílias um aben- çoado Ano Novo! Leiria, 1 de Janeiro de 2010 † António Marto, Bispo de Leiria-Fátima 32 | LEIRIA-FÁTIMA • 49 |
  • 34. . escritos episcopais . Homilia nas exéquias de Monsenhor Henrique Fernandes da Fonseca Homem de fé e pastor exemplar Documentos Surpreendendo a nossa expectativa humana, fomos abalados pela notícia dolorosa da morte tão célere do nosso caro Monsenhor Henrique da Fonseca. Foi como se um muro de silêncio caísse sobre nós tal como diz o salmista: “Estou perturbado; falta-me a palavra”(Sl 77,5). É humano sentir e dar expressão à dor pela separação de um sacerdote tão querido e estimado por toda a diocese e colaborador próximo, precioso e apreciado do bispo. Creio que o podemos fazer com as palavras de S. Bernar- do na morte do seu irmão, S. Gerardo: “Bem sabeis, meus filhos, quão razoável é a minha dor, quão digna de lágrimas é a perda que acabo de sofrer, pois compreendeis que fiel amigo foi afastado do meu lado. Vós conhecestes como era a sua atenção pelo dever, a sua diligência pelo trabalho, a sua doçura e amabilidade de disposição... Estimámo-nos em vida; porque fomos pois separados pela morte?”. No entanto, depois deste grito do coração ferido, S. Bernardo confia-se ao mistério santo e amoroso de Deus, dizendo: “Todavia, não esquecerei ne- nhuma das palavras do Santo... Deus é caridade e quanto mais se está unido a Deus, mais se está cheio de caridade. Porque a caridade nunca acaba. Tu (meu irmão) não me esquecerás”. Com estes sentimentos de fé quero expressar as nossas condolências, em nome da Diocese e no meu pessoal, à irmã do Monsenhor Henrique, à auxi- liar doméstica, a Gracinda, que o acompanhou e assistiu durante tantos anos e aos outros familiares. Com estes sentimentos de fé e de esperança queremos fazer memória, viva e cheia de gratidão, de Monsenhor Henrique junto do altar do Senhor, em comunhão de santos na eucaristia. Homem de fé e Pastor exemplar A leitura do livro do Deuteronómio apresenta-nos a figura de Moisés, chamado pelo Senhor a conduzir o longo e difícil caminho do povo de Deus, | 49 • LEIRIA-FÁTIMA | 33
  • 35. . escritos episcopais . no qual empenhou toda a sua existência até à morte, incutindo-lhe coragem e levando-o às fontes da vida. Como Moisés, Monsenhor Henrique foi um grande crente, um grande ho- mem de fé, sólida, amadurecida e alimentada na sarça ardente do ministério pastoral nas várias mansões em que serviu. Como Moisés, foi um pastor generoso e exemplar. O seu serviço sa- cerdotal passou por múltiplas experiências do ministério - desde pároco nos Pousos, na Marinha Grande, em Mira d’Aire e na Ortigosa até professor no Seminário, secretário episcopal, ecónomo diocesano, assistente da LOC e do movimento de casais, coordenador do Serviço de apoio ao clero e Vigário Geral durante dezanove anos – com disponibilidade permanente, sempre pronto, a todo o momento, a acudir, animar e encorajar, atento a pôr de parte o que divide e a valorizar o que une. Foi verdadeiramente intenso o caminho que o Senhor o chamou a percor- rer nos 56 anos de sacerdócio ao serviço da nossa diocese que ele calcorreou e conheceu como ninguém e sempre ao lado dos seus bispos. Foi um traba- lhador incansável da vinha do Senhor! Só a falta de saúde o obrigou a retirar- se da actividade paroquial. Sobre a morte de Moisés, o livro do Deuteronómio refere: “Moisés, ser- vo do Senhor, morreu ali, na terra de Moab, segundo a disposição do Se- nhor”(34,5). São Gregório de Nisa comenta, esplendidamente, estas palavras sublinhando que o grande “amigo de Deus” é chamado “servo” precisamente no momento supremo da vida quando já cumprira a missão que o Senhor lhe confiara. Servo é a palavra que resume toda a sua missão. Também Monsenhor Henrique procurou viver a sua missão como servo e serviço humilde, discreto e desprendido, sem olhar a honras e a títulos. Assim o deixou escrito: “Desejo assumir o ministério com todo o empenho e dedi- cação como servo e irmão no meio de uma comunidade que possa olhar-me como testemunha de serviço e amor”. Impelido pela caridade pastoral A leitura da segunda Carta aos Coríntios abre, precisamente, com uma expressão que, neste nosso contexto, assume um significado particular: “O amor de Cristo impele-nos”. Trata-se do amor que habita, penetra, possui e plasma a vida dos sacerdo- tes e faz deles “embaixadores de Cristo” e do seu mistério de amor e recon- ciliação. Envolve-nos e impele-nos a viver não para nós mesmos mas para os outros. É a caridade pastoral. 34 | LEIRIA-FÁTIMA • 49 |
  • 36. . escritos episcopais . O amor recebido de Cristo é restituído aos irmãos e toma as várias formas dos dons do Espírito Santo, a saber, “amor, alegria, paz, paciência, benevo- lência, bondade, fidelidade, mansidão, autodomínio” – dons que caracteriza- ram o estilo e o ministério sacerdotais de Monsenhor Henrique. A caridade pastoral levava-o a fazer-se próximo e acessível a todos, a olhar a vida concreta da sua gente, com uma comunicação que conquistava os fiéis até os mais pequeninos. É significativa a presença aqui dos acólitos da Ortigosa para lhe manifestarem a sua ternura. É também digno de registo Documentos o testemunho de D. Alberto Cosme do Amaral: “Monsenhor Henrique serviu a Igreja com raro espírito de dedicação e entrega e num total esquecimento de si próprio. As missões oficiais não o impediram de se dedicar ao trabalho escondido do confessionário e da direcção espiritual”. Desejaria ainda sublinhar o seu amor ao presbitério, a especial dedicação aos irmãos sacerdotes como amigo, irmão e conselheiro atento e atencioso para com todos, preocupado para que não faltassem as condições humanas e espirituais para o bom desempenho do ministério. Testemunho de paz e de alegria O Evangelho de S. João refere as palavras do Ressuscitado repetidas duas vezes: “A paz esteja convosco”. E depois fala da alegria dos discípulos ao verem Jesus ressuscitado. Paz e alegria foram dons que Monsenhor Henrique espalhou à sua volta. Era homem de paz que irradiou alegria serena. A sua presença foi sempre presença de paz. Irradiava alegria e bom humor com espontaneidade e creio que agora viva na plenitude da paz e da alegria ao contemplar o rosto de Jesus ressuscitado. Que ele peça para nós ao Pai aquela serenidade própria de quem confia vida e morte, presente e futuro nas mãos do Deus da paz e da alegria. Obrigado, caro padre Henrique! Toda a diocese te está agradecida na hora da despedida! Que a tua partida não nos faça esquecer o dom de termos tido a tua pre- sença, a tua companhia, o teu testemunho de sacerdote. Bendito seja Deus pelo seu servo! Catedral de Leiria, 23 de Janeiro de 2010 † António Marto, Bispo de Leiria-Fátima | 49 • LEIRIA-FÁTIMA | 35
  • 37. . escritos episcopais . Discurso na tomada de posse Comissão Diocesana Justiça e Paz e Cáritas Diocesana Congrega-nos aqui a solene tomada de posse das novas direcções da Co- missão Diocesana Justiça e Paz e da Caritas Diocesana. Neste momento sig- nificativo da “passagem de testemunho” quero exprimir, antes de mais, em nome da Diocese e no meu pessoal, o mais vivo e sentido reconhecimento às direcções cessantes, na pessoa dos seus presidentes, Senhor Dr. Tomás Oliveira Dias e Senhor Ambrósio Jorge dos Santos, pela dedicação, com- petência e sentido eclesial com que desempenharam o seu mandato e a sua missão, não se tendo poupado a esforços e sacrifícios. Asseguro-lhes a minha sincera e constante estima pessoal e a fraterna comunhão. Que o Senhor os recompense, os conforte e os acompanhe com as melhores bênçãos. Aos novos empossados, na pessoa dos respectivos presidentes, Senhor Prof. Doutor Eugénio Lucas e Senhor Dr. Júlio Martins, agradeço a disponi- bilidade manifestada para este serviço à Igreja, endereço-lhes as mais cordiais felicitações e faço votos de um fecundo trabalho. Quero ainda expressar-lhes a minha alegria em tê-los como meus colaboradores próximos e assegurar- lhes toda a minha confiança e colaboração. A presente circunstância é também um momento propício para sublinhar a relevância do lugar e da missão da Comissão Diocesana Justiça e Paz e da Caritas Diocesana na Igreja e no mundo. Quisemos propositadamente que a tomada de posse fosse simultânea porque são dois órgãos ao serviço da missão da Igreja no mundo: dão-lhe o rosto social, são dois braços sociais e fundamentais para a operatividade da missão. De facto, a Igreja vive no mundo e na história com a consciência de que “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens, sobretudo dos pobres e dos que sofrem, são também as dos discípulos de Cristo e nada existe de verdadeiramente humano que não encontre eco no seu coração”(GS 1). No desempenho da sua missão no mundo e no serviço às pessoas desfa- vorecidas ou carenciadas, a Igreja é movida unicamente pelo testemunho do Evangelho do Amor. Tem a consciência de que “evangelizando humaniza e humanizando evangeliza”. A sua missão não é de ordem política. Não se 36 | LEIRIA-FÁTIMA • 49 |
  • 38. . escritos episcopais . substitui ao Estado. Não é um partido político nem um força política. Respei- tando as competências próprias do Estado esforça-se para que seja garantido a cada ser humano a sua própria dignidade e uma vida condigna. No fundamento da missão e da acção social da Igreja está a convicção de que “a caridade na verdade que Jesus Cristo testemunhou... é a força propul- sora principal para o verdadeiro desenvolvimento de cada pessoa e da huma- nidade inteira. O amor é uma força extraordinária, que impele as pessoas a comprometerem-se, com coragem e generosidade, no campo da justiça e da Documentos paz”(CV 1), por conseguinte, a empenharem-se na construção de um futuro digno do homem, na realização de uma sociedade mais justa e fraterna. A caridade “é o princípio não só das microrrelações estabelecidas entre amigos, na família, no pequeno grupo, mas também das macrorrelações so- ciais, económicas, politicas”(CV 2). Este empenho torna-se cada vez mais urgente no mundo globalizado onde parece prevalecer a lógica do lucro e do próprio interesse. Com efeito, “a sociedade cada vez mais globalizada torna-nos vizinhos mas não nos faz irmãos”(CV n. 19). Vivemos num mundo cheio de contradições e contrastes. Hoje a injustiça, a pobreza, a fome e a exclusão social são uma grande inter- pelação humana e cristã que brada aos céus. A situação que temos diante de nós é clara e arrepiante: mais de mil mi- lhões de pessoas vivem com menos de um dólar por dia; 20% da população mundial absorve 82% dos recursos mundiais enquanto 80% da população dispõe apenas de 18%; mais de 200 multinacionais controlam 27% da econo- mia e da finança mundiais. Segundo dados da FAO, morrem, por dia, 36.500 crianças no mundo à fome ou por doença: o silencioso sacrifício de 13 mi- lhões de inocentes por ano! A tudo isto junta-se a crise ecológica, de dimen- são planetária, que põe em causa o presente e o futuro da humanidade. Entre nós e à nossa porta temos as vítimas da crise económica, financei- ra e social com as consequências dramáticas de desemprego e pobreza em contrate escandaloso e gritante com o ordenado de alguns gestores de 2,5 milhões de euros por ano! A Igreja “não pode nem deve colocar-se no lugar do Estado. Mas também não pode nem deve ficar à margem na luta pela jus- tiça...Toca à Igreja, e profundamente, o empenhar-se pela justiça trabalhando pela abertura da inteligência e da vontade às exigências do bem comum”(DC est n. 28). É nesta vertente que se insere a Doutrina Social da Igreja como “proclamação da verdade do amor de Cristo na sociedade” (CV n.5). Assim se entende a missão dos fiéis leigos no mundo em ordem a contribuir para a formação de sociedades justas. É também neste sentido que se desenvolve a | 49 • LEIRIA-FÁTIMA | 37
  • 39. . escritos episcopais . acção da Comissão Diocesana Justiça e Paz em ordem a promover o conhe- cimento da doutrina social e a sua aplicação concreta aos vários âmbitos da vida social, tendo como horizonte o desenvolvimento integral do homem, contribuindo para um despertar de forças morais e espirituais para esse efeito. A justiça, porém, nunca pode tornar supérfluo o amor de proximidade, na linha do apoio concreto, do serviço, da partilha, do acolhimento e da conso- lação ao próximo carecido de ajuda, àquele que sofre, sobretudo os pobres, os humilhados, os desprotegidos. A caridade cumpre e transcende a justiça. Num mundo tão ferido como o experimentamos nos nossos dias não há ne- cessidade de demonstrar o que acabamos de dizer. O mundo espera o testemunho do amor cristão que nos é inspirado pela fé. Por isso, “a Igreja nunca poderá ser dispensada da prática da caridade en- quanto actividade organizada dos crentes, como aliás nunca haverá situação onde não seja precisa a caridade de cada cristão, porque o homem além da justiça, tem e terá sempre necessidade do amor” (DC est n.29). Eis o campo da missão da Caritas diocesana, enquanto expressão da actividade caritati- va organizada da nossa Igreja, actuando com todo o coração e com toda a inteligência, em ordem a promover a fraternidade e a solidariedade cristãs, sensibilizando e dinamizando as paróquias e colaborando com as instituições civis para uma resposta mais eficaz. Como podemos verificar, os campos de acção da Comissão Justiça e Paz e da Cáritas diocesana cruzam-se, tornado possível uma cooperação em pro- jectos comuns. O próximo biénio do projecto pastoral diocesano oferece uma boa oportunidade para isso, pois centrar-se-á na pastoral sócio-caritativa e no testemunho dos cristãos no mundo. Concluo citando um texto muito belo do Papa Bento XVI que poderá servir como motivação de fundo e inspiração permanente do vosso empenho : “A caridade é o distintivo dos cristãos. É a síntese de toda a sua vida: do que crê e do que faz. É a luz que dá bondade e beleza à existência de cada homem. É o comportamento de quem responde ao amor de Deus e faz da própria vida um dom de si a Deus e ao próximo. É o caminho da santidade. A vida dos san- tos, de cada santo, é um hino à caridade, um cântico vivo ao amor de Deus”! Nossa Senhora, Virgem e Mãe, no canto do Magnificat mostra-nos o que são o amor e a justiça e donde têm a sua origem e recebem a sua força. À sua intercessão confio a vossa missão ao serviço da justiça, do amor e da paz na nossa querida Diocese. Muito obrigado! Leiria, 20 de Fevereiro de 2010 † António Marto, Bispo de Leiria-Fátima 38 | LEIRIA-FÁTIMA • 49 |
  • 40. . escritos episcopais . Apelo do Bispo diocesano Peregrinação do Santo Padre a Fátima Caros irmãos e irmãs: Documentos Venho mais uma vez lembrar-vos a próxima visita do Santo Padre a Por- tugal. Ele vem sobretudo como peregrino do Santuário de Fátima tão querido ao nosso povo e a todo o mundo católico. Aqui somos nós, os diocesanos de Leiria-Fátima, os primeiros anfitriões a receber tão ilustre e amado peregrino na sua qualidade de Sucessor do Apóstolo S. Pedro e Pastor universal da Igreja. Queremos corresponder à honra da sua visita acolhendo-o com júbilo, entusiasmo e afecto e unindo-nos em oração às suas intenções pela Igreja e pelos anseios da humanidade. É importante, nesta hora, darmos testemunho da Igreja unida ao Papa e solidária com ele. Por isso, apelo do coração à vossa presença e participação pessoal nas celebrações de 12 e 13 de Maio, em Fátima, presididas pelo Santo Padre. Não vos deixeis seduzir pelo comodismo de ver apenas pela televisão. Grato pela vossa atenção a este meu apelo, envio a todos uma saudação cordial e amiga. Leiria, 28 de Abril de 2010 † António Marto, Bispo de Leiria-Fátima | 49 • LEIRIA-FÁTIMA | 39
  • 41. . escritos episcopais . Homilia da Missa Crismal Presbitério em comunhão e ao serviço da comunhão É um verdadeiro momento de graça este que nos é dado viver juntos nesta liturgia da Missa Crismal, verdadeira festa da unidade da Igreja diocesana reunida à volta do seu Pastor. Nesta Quinta Feira Santa encontramo-nos recolhidos na nossa catedral para celebrar a Eucaristia em que se benzem os santos óleos dos catecúme- nos, do crisma e dos enfermos. Em Cristo, todos nós fomos consagrados com o óleo da unção e unidos numa comunhão que é mais forte do que todo o laço humano. É a comunhão de todo povo de Deus, que nos leva a exclamar com o salmista: “Vede como é bom e agradável viver unidos como irmãos: é como o óleo perfumado der- ramado sobre a cabeça, a escorrer pela barba de Aarão até à orla das suas vestes” (Sl 133, 1-2). O óleo perfumado é o símbolo da força do Espírito, do perfume do amor e da santidade divina que Cristo derrama sobre a cabeça, o coração e os mem- bros de todos os fiéis baptizados e crismados e os torna morada de Deus; o perfume de Cristo que inunda de amor a Igreja inteira e faz dela a Casa da Comunhão entre Deus e os homens e dos homens entre si. Com este óleo são consagradas as mãos dos sacerdotes para oferecerem, em nome de Cristo, os dons da Palavra de Deus e dos Sacramentos da Graça que alimentam a comunhão do Povo de Deus. Por isso, hoje é o dia sacerdo- tal, por excelência. Sacerdote como vós há trinta e oito anos e bispo no meio de vós há quase quatro, sinto este momento com o coração trepidante de emoção e de res- ponsabilidade. Neste Ano Sacerdotal, em meu nome e no de toda a Diocese, quero expressar-vos o afecto e a estima do bispo e de todo o povo de Deus, agradecer-vos e encorajar-vos pelo precioso serviço que ofereceis à Diocese, pelo zelo que vos move no ministério, por todo o bem que fazeis. Não percais o ânimo neste momento doloroso em que pesa sobre nós o sofrimento e a vergonha por crimes hediondos de alguns sacerdotes e a suspeição genera- 40 | LEIRIA-FÁTIMA • 49 |
  • 42. . escritos episcopais . lizada resultante da exploração mediática de tais casos. O pecado de alguns não ofusca a abnegação e a fidelidade de que a imensa maioria dos sacerdotes e religiosos dá prova quotidiana e que as nossas comunidades testemunham e reconhecem. Coragem! Acolhamos o apelo à santidade de vida e à purifi- cação da Igreja. Apraz-me fazer ecoar aqui, nesta hora, as palavras do Cardeal Montini (futuro Papa Paulo VI) em 1957: “Quinta Feira Santa! É o nosso dia, como sabeis. Se não o comemoramos nós sacerdotes, quem o pode fazer mais dig- Documentos namente? E se não nos encontramos neste dia, qual será outro dia mais pro- pício? E se não o dizemos uns aos outros, como teremos plena consciência disto?”. Hoje é dia de acção de graças pelo dom do sacerdócio e, em particular, por quantos, neste ano, comemoram os 25 ou 50 anos da sua ordenação, com quem nos congratulamos. Lembramos também, com ânimo grato, aqueles que ao longo do ano nos deixaram para voltarem à casa eterna do Pai. E ainda os que, por motivo de doença ou outro, não puderam marcar presença. A memória da nossa ordenação neste dia confirma e corrobora a nossa pertença ao único presbitério diocesano, como nossa segunda e verdadeira família. Atendendo ao tema do Ano Pastoral quero oferecer-vos uma reflexão so- bre “O presbitério em comunhão e ao serviço da comunhão”. Fisionomia do presbitério-comunhão O ministério apostólico é, antes de mais, um dom de Deus para o serviço do mistério de comunhão que constitui a Igreja e para ser realizado e vivido em comunhão, precisamente enquanto membros de um presbitério. Este rosto da Igreja passa, em grande parte, pelo rosto do nosso presbitério e ministério. O presbitério não é uma mera categoria sociológica que designa a soma de todos os padres à disposição do bispo para as diversos cargos. É antes um cor- po de ministros, em comunhão de graça e de missão, ao serviço de uma Igreja particular, que está junto do bispo e nele encontra o seu princípio de unidade. “Na sua verdade plena, o presbitério é um mistério, quer dizer, uma realidade sobrenatural porque radica no sacramento da Ordem. Este é a sua fonte e a sua origem. É o lugar do seu nascimento e do seu crescimento”(PDV 74). Daqui resulta a sua fisionomia própria: “a de uma verdadeira família, de uma fraternidade, cujos laços não são da carne e do sangue, mas da graça da Ordem: uma graça que assume e eleva as relações humanas, psicológicas, | 49 • LEIRIA-FÁTIMA | 41
  • 43. . escritos episcopais . afectivas e espirituais entre os sacerdotes; uma graça que se expande, penetra e se revela e concretiza nas mais variadas formas de ajuda recíproca”(PDV 74), espiritual e material, pastoral e pessoal, nas reuniões e na comunhão de vida, de trabalho e de caridade (cf LG 28). Eis um programa de trabalho a desenvolver e pôr em prática! Ser bons padres individualmente, não faz automaticamente um bom presbitério. A nova situação social do padre já não lhe possibilita viver num contexto familiar protector como outrora, nem encontrar sempre um acolhimento pa- roquial confortável e confortador. Isto pode gerar uma solidão institucional e um desamparo afectivo por vezes graves. É necessário, pois, construir uma consciência de família sacerdotal dentro da qual cada sacerdote saiba e experimente que é alguém: acolhido, reconhe- cido e valorizado. Não se trata de restaurar um “corporativismo clerical”, mas de reavivar uma fraternidade que ajude cada um a viver com aquela confian- ça, dignidade humana e espiritual e brio intelectual, que são necessários para a missão evangelizadora. Esta fraternidade brota da paixão interior pelo mesmo dom recebido, pelo mesmo ideal comungado, pela mesma missão partilhada. A gramática da comunhão: implicações e aplicações A comunhão presbiteral não é espontânea e nem sempre é fácil. Não se impõe por decreto; é necessário construí-la juntos. Requer conversão espiri- tual e elaboração de uma gramática da comunhão para a pôr em prática. Em primeiro lugar, somos chamados a cultivar, com amor paciente e ge- neroso, relações pessoais verdadeiramente genuínas, de respeito, de estima e atenção recíprocas, de delicadeza, de confiança mútua, de conhecimento e diálogo entre as diversas gerações e sensibilidades, capazes de eliminar a suspeita, a inveja e o distanciamento, tão inúteis como prejudiciais. Em segundo lugar, somos chamados a realizar a comunhão na missão, isto é, a partilhar intenções e projectos pastorais no trabalho em equipa. Para isso são necessárias algumas atitudes e disposições humanas e espirituais: a participação interessada nas reuniões, a liberdade de uma escuta sem pre- conceitos, a franqueza para exprimir o próprio pensamento, o discernimento pastoral capaz de enuclear o bem comum e possível, a disponibilidade para assumir tarefas, a decisão sincera de acolher e ser fiel aos critérios pastorais e às decisões elaborados e tomados em conjunto para o serviço do Evangelho. Neste aspecto, a vigararia deve ser um lugar fundamental de referência como espelho de comunhão entre os padres e entre as paróquias. Lembro aqui o 42 | LEIRIA-FÁTIMA • 49 |
  • 44. . escritos episcopais . provérbio africano: “Se queres ir depressa, corre sozinho; se queres chegar longe, caminha com os outros”. Outro aspecto fundamental é a comunicação da fé e na fé entre os presbí- teros. O presbitério não se torna lugar de fraternidade sacramental onde não se privilegiam as relações de fé ao serviço do ministério. De outro modo, as reuniões do clero podem assemelhar-se a assembleias empresariais, lugares para fazer funcionar a empresa, espaço para distribuição de encargos. A capacidade de partilhar a fé é o princípio de todo o bom trabalho em Documentos comum. Esta partilha realiza-se na oração em conjunto, na lectio divina par- tilhada, na preparação da homilia em grupo e de iniciativas pastorais, nos momentos fraternos de convivialidade, na coragem humilde da correcção fraterna... Para alcançar os objectivos da comunhão é ainda necessária uma autênti- ca ascese ou disciplina em ordem a combater e eliminar os modos de pensar e os comportamentos que a impedem ou destroem. Antes de mais, é preciso vigiar perante algumas tentações que podem afectar ou desagregar esta comunhão: o isolamento do “orgulhosamente só” (eu faço sozinho e por minha conta); o espírito de indiferença (que me im- porta os outros?); a atitude de auto-suficiência (não preciso dos outros para nada); o narcisismo de quem põe o “ego” no centro de tudo; e o neoclerica- lismo derivado da sede de protagonismo ou da fragilidade da personalidade. Alem disso, é aconselhável uma “regra de vida “ pessoal que torne pos- sível um estilo de vida saudável e ordenada com método de trabalho e dis- ciplina. Ao serviço da comunhão na comunidade cristã A comunhão no presbitério está ao serviço da comunhão eclesial que é mais vasta. Com efeito, o ministério é para a comunidade. Esta é o lugar nor- mal da comunhão do presbítero com os fiéis e onde é chamado a ser o “pivot” da comunhão em todas as dimensões. “O padre deve ser um homem de comunhão, aberto a todos, capaz de fazer caminhar na unidade todo o rebanho que a bondade do Senhor lhe con- fiou, ajudando-o a superar as divisões, a reconciliar as roturas, a aplanar os contrastes e as incompreensões, a perdoar as ofensas” (Bento XVI). O serviço da comunhão leva o padre também a promover a corresponsa- bilidade, suscitando colaborações, valorizando e integrando os diversos ca- rismas, serviços e ministérios para a edificação da comunidade. | 49 • LEIRIA-FÁTIMA | 43
  • 45. . escritos episcopais . Testemunho da comunhão e promoção vocacional Tudo isto assume um relevo particular na promoção vocacional. Nenhum jovem poderá sentir um chamamento se os seus olhos não contemplam na vida fraterna dos padres e das comunidades algum vestígio da beleza do Se- nhor e do sacerdócio, capaz de reunir os irmãos e alimentar a comunhão. “Se os jovens vêem padres isolados e tristes, não se sentem certamente encorajados a seguir o seu exemplo. Ficam perplexos se são levados a pensar que é este o futuro do padre. É importante pois realizar a comunhão de vida que lhes revele a beleza do sacerdócio. Então o jovem dirá: “Este pode ser um futuro também para mim; assim, pode-se viver” (Bento XVI). Concluindo, o futuro da Igreja passa através da comunhão autêntica a todos os níveis. Nela está a força da missão mesmo quando as estruturas são pobres e débeis. Um presbitério em comunhão é um reflexo da beleza de Deus-Amor Trinitário e da Igreja-Comunhão! Renovando agora as nossas promessas de fidelidade a Cristo e à Igreja peçamos por intercessão da Virgem Mãe e do Santo Cura d’Ars: “Senhor, aceita-nos como somos e ajuda-nos a ser como Tu nos desejas” (João Paulo I)! Ámen! Aleluia! Catedral de Leiria, 1 de Abril de 2010 † António Marto, Bispo de Leiria-Fátima 44 | LEIRIA-FÁTIMA • 49 |
  • 46. . escritos episcopais . Visita Papal ao Santuário de Fátima Saudação do Bispo de Leiria-Fátima Santo Padre, É com imensa alegria e profunda emoção que, como bispo de Leiria-Fá- tima, dou as boas vindas a tão ilustre e amado peregrino, o nosso Papa Bento Documentos XVI. Saúdo-o e agradeço-lhe, de todo o coração, em nome pessoal e de todo este povo aqui reunido, em multidão, no Santuário de Fátima, como num ce- náculo a céu aberto, onde pulsa o coração materno de Portugal. Bem-vindo, Santo Padre! Muito obrigado porque quis visitar este Santuário tão querido ao nosso povo e ao mundo católico, onde, no dizer de Vossa Santidade, “Maria ergueu a sua cátedra para ensinar aos pequenos videntes e às multidões as verdades eternas e a arte de orar, crer e amar” e onde nos “pede o abandono, cheio de confiança, nas mãos do Amor que sustenta o mundo”. Muito obrigado pela oferta da Rosa de Ouro com que quis distinguir o nosso Santuário, sinal do seu particular afecto. Muito obrigado por nos proporcionar esta extraordinária experiência de be- leza da comunhão que constitui a Igreja unida à volta do seu Pastor universal. Muito obrigado, por fim e de modo especial, porque vem confirmar-nos na fé, de acordo com o seu ministério de Sucessor de Pedro. A sua peregrinação ocorre, por feliz coincidência, no décimo aniversário da beatificação dos pastorinhos e no centésimo do nascimento da pequena Jacinta. São conhecidos o carinho, a oração e os sacrifícios dos pastorinhos pela pessoa do Santo Padre e pelos seus sofrimentos. Neste momento quero também assegurar-lhe, Santo Padre, a profunda co- munhão e o sincero afecto de todo o nosso povo católico pela sua pessoa e pelo seu ministério na Igreja e na humanidade. Conte com a nossa oração, a nossa docilidade na fé e o nosso afecto filial. Dispomo-nos a escutar a sua palavra que ilumina a mente e fala ao co- ração, que confirma na fé e conforta no amor, que é portadora de esperança. Que o Senhor, por intercessão de Nossa Senhora de Fátima – “Nossa Se- nhora dos tempos difíceis” (S. João Bosco) – e dos beatos Francisco e Jacinta, lhe dê força, coragem e fecundidade no seu ministério apostólico. Santuário de Fátima, 13 de Maio de 2010 † António Marto, Bispo de Leiria-Fátima | 49 • LEIRIA-FÁTIMA | 45
  • 47. . escritos episcopais . Festa da Fé Discurso inaugural 1. Ao cair da noite deste dia 21 de Maio, véspera do aniversário da criação da nossa Diocese e da nossa cidade de Leiria, é-me dada a feliz ocasião e o grato prazer de inaugurar esta “exposição” sui generis “Festa da Fé: Rosto(s) da Igreja Diocesana”. Saúdo com viva simpatia e cordial afecto o Senhor D. Serafim, o Senhor Governador Civil, o Senhor Presidente da Câmara de Leiria bem como to- dos os outros Senhores Presidentes das Câmaras e das Juntas de Freguesia e demais autoridades civis, académicas e militares que nos dão a honra da sua presença. Saúdo ainda, afectuosamente, todos vós, caros amigos, irmãos e irmãs, que participais neste momento de alegria e de festa. Devo confessar que este era para mim um momento muito esperado. Tra- ta-se de um evento que culmina o Ano Pastoral da Diocese, dedicado a “ir ao coração da Igreja”, à profundidade do mistério de amor que a habita, a anima e a configura no seu rosto visível: o rosto de um povo em comunhão com Deus, com os homens irmãos, com o mundo em que vive. O nosso rosto é sempre novo e diverso, nas diversas idades e estações da vida e, contudo, é sempre o mesmo e único. Assim a Igreja de Deus no mundo tem um rosto único formado de tantos rostos quantos são os seus membros, as suas comunidades, os seus movimentos e serviços nos lugares onde habitam e trabalham. A Igreja somos nós, os vários rostos da Igreja: dos fiéis leigos aos sacer- dotes e religiosos(as), das crianças aos idosos, dos jovens aos adultos, dos solteiros aos casados e viúvos, dos sãos aos doentes, da vida contemplati- va nos mosteiros à vida activa numa multiplicidade de serviços do anúncio do Evangelho, da celebração da fé e do testemunho da caridade fraterna, da paróquia à missão, à descoberta de um vasto mundo, todos animados pela mesma fé, levando uma mensagem de alegria, de comunhão, de fraternidade, de paz. Todos e cada um deles são como as peças preciosas de um mosaico muito belo que Deus, como um grande artista, concebe dia após dia com o contributo de cada um. 46 | LEIRIA-FÁTIMA • 49 |