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Fotografia e Identidade                                                    Professor Daniel Velez




         Através do retrato, a fotografia apresenta-se como um meio de verificar, mas

também de inflectir a imagem de um indivíduo. O retratista procura descrever o seu

aspecto e o seu carácter, revelando o que captou da expressão mais profunda de si

mesmo.


         Na auto – representação, o modelo passa a ser o retrato de si como um outro,

onde a história desse modelo é por vezes fantasiada. “Se olharmos hoje de perto para o

trabalho dos artistas do séc XX, verificamos que uma boa parte dos artistas incide sobre

séries auto – representativas e, mais genericamente, sobre a imagem do corpo” 1 A

Figura 1, permitiu que a fotografia gerasse representações de si mesmo com

características de realidade de um outro, neste caso toma a figura de uma Mãe.


        Tal como o artista Molder a personagem que ocupa a imagem da Fig.1 realiza um

gesto como se quisesse ou tentasse uma conversação muda no reflexo da sua imagem

(Mãe) no espelho. O sujeito está envolvido por “imagens imaginárias” ao seu redor,

como se de um álbum de fotografias real se tratasse. Visam memórias passadas e

presentes, momentos de grande intimidade e tranquilidade associados à incontornável

alegria e saudade de momentos vividos em família. Na sua expressão não é detectável o

pronunciamento de qualquer som, nem nenhuma palavra sai dos seus lábios. “Isto é, na

frontalidade da imagem perceptível, um desvio, uma obliteração da presença, reforçada

por uma distorção da figura, que nos exclui porque se refere a um outro, só pode,


1
    Medeiros Margarida, “ Fotografia e Narcisismo”, Editora Assírio & Alvim, 2000 pg.105
Fotografia e Identidade                                      Professor Daniel Velez


portanto, ser um reflexo”2.Apenas o seu reflexo no espelho. Assim a personagem que se

encontra retratada, pensativa/contemplativa, não é o próprio sujeito da fotografia, mas

o seu reflexo como “Mãe”e “Mulher”, produzido num espelho.


       Tal como o artista Molder, na Figura 1, o mecanismo destas duplicações em cada

figura/imagem, é repetida como se de uma imagem reproduzida por um espelho se

tratasse. O espelho é a máquina de duplicação, é o primeiro sistema de reprodução

artificial. Algumas auto representações encontram-se posicionadas num território quase

de encenação, com a intimidade da personagem cuidadosamente exteriorizada e

premeditada. A imagem da Fig.1 narra factos em sequência, através do espaço e do

tempo. Muito à luz de Molder, as personagens que se encontram retratadas não são o

próprio sujeito das fotografias mas sim o seu reflexo (mãe, filhos, marido), produzido

num espelho em várias direcções ou caminhos. No entanto, quando observamos por

exemplo o trabalho de Francis Bacon, o cenário é bem diferente: a auto-representação

de Bacon é des-figurante, obsessiva, trepidante, nela está implícita uma necessidade de

desestabilizar essas formas, construindo movimentos de sucessão aparentemente

acidental.


       A Imagem do Eu e o desvario da identidade, é um dos jogos preferenciais de alguns

artistas contemporâneos. É o rosto da loucura e da dilaceração que vemos nas imagens

de Jo Spence; é a imagem do demónio dês-figurante que surge em grande parte do

trabalho de Cindy Sherman; é o mal – estar manifesto na degradação corporal e

psicológica em Nan Goldin.3


2
    www.jorgemolder.com/texts/text.php?id=36
3
    Medeiros Margarida, op. Cit., p.104
Fotografia e Identidade                                       Professor Daniel Velez


        A identidade é um tema de relevância universal: quem somos e o que sentimos, são

questões que colocamos frequentemente. A auto-representação é um tema

intrinsecamente ligado à identidade como questão universal, e um tema muito

explorado pelos artistas.


        No decorrer deste trabalho houve a necessidade de mostrar o rosto na lateral uma

vez que oculta em parte os olhos e a boca. Há uma auto-representação de um ser, que

pretende ser outro, mas um outro que acumula os mesmos gostos as mesmas

necessidades e as mesmas paixões que é o de ser Mãe numa sociedade bem presente e

exigente, como diz Kant, o rosto é a regra ou «anagrama» do desenvolvimento de uma

forma da imaginação.


        Só o rosto aqui é enquadrado na fotografia, deixando todo o resto na sombra que

apaga algumas marcas precisas de tempo e de espaço.


        É porque «o rosto» se desdobra e se fixa em tal rosto que tal traço (o nariz

arrebitado) toma um sentido.4


        O objectivo pessoal encontrado para este trabalho, visou a possibilidade da auto-

representação como auto-descoberta, auto-análise e o uso do corpo na criação artística

admitindo abordagens muito diversas que permitiram explorar diferentes sub temas

dentro do tema auto-representação.




4
    Medeiros Margarida, op. Cit., p.164
Fotografia e Identidade                                     Professor Daniel Velez



Anexo




               Figura 1. Auto – representação – “Com pedaços de uma mãe…”




Bibliografia


       Barthes Roland, “A câmara clara” Ed.70 (Arte e Comunicação) 2006
Fotografia e Identidade                              Professor Daniel Velez


       Bauret Gabriel, “ A fotografia”Ed. 70 (Arte e Comunicação) 2006
       Darsie Alexander, Textos, “The Hug, New York City”1980
       Enciclopédia Einaudi, vol.I. Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da
       Moeda, 1985.
       Jacques Le Goff, “Documento/Monumento”,In: Memória - História,
       Enciclopédia Einaudi, vol.I Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da
       Moeda, 1985.
       Joly Martine,”Introdução à análise da imagem”, Ed.70 (Arte &
       Comunicação) 2008
       Leite Miriam,”Retratos de Família”: Leitura da Fotografia Histórica,
       Ed. Edusp, 1993
       Marc Bloch, “Introdução à história”, 5ª Colecção Saber, Pub. Europa
       – América
       Medeiros Margarida, “ Fotografia e Narcisismo”, Editora Assírio &
       Alvim, 2000
       Pais José, Carvalho Clara, Gusmão Neuza, “ O Visual e o
       Quotidiano”Imprensa de Ciências Sociais 2008
       Sardo Delfim “Jorge Molder” Ed. Caminho, SA. (www.editorial-
       caminho.pt)

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  • 1. Fotografia e Identidade Professor Daniel Velez Através do retrato, a fotografia apresenta-se como um meio de verificar, mas também de inflectir a imagem de um indivíduo. O retratista procura descrever o seu aspecto e o seu carácter, revelando o que captou da expressão mais profunda de si mesmo. Na auto – representação, o modelo passa a ser o retrato de si como um outro, onde a história desse modelo é por vezes fantasiada. “Se olharmos hoje de perto para o trabalho dos artistas do séc XX, verificamos que uma boa parte dos artistas incide sobre séries auto – representativas e, mais genericamente, sobre a imagem do corpo” 1 A Figura 1, permitiu que a fotografia gerasse representações de si mesmo com características de realidade de um outro, neste caso toma a figura de uma Mãe. Tal como o artista Molder a personagem que ocupa a imagem da Fig.1 realiza um gesto como se quisesse ou tentasse uma conversação muda no reflexo da sua imagem (Mãe) no espelho. O sujeito está envolvido por “imagens imaginárias” ao seu redor, como se de um álbum de fotografias real se tratasse. Visam memórias passadas e presentes, momentos de grande intimidade e tranquilidade associados à incontornável alegria e saudade de momentos vividos em família. Na sua expressão não é detectável o pronunciamento de qualquer som, nem nenhuma palavra sai dos seus lábios. “Isto é, na frontalidade da imagem perceptível, um desvio, uma obliteração da presença, reforçada por uma distorção da figura, que nos exclui porque se refere a um outro, só pode, 1 Medeiros Margarida, “ Fotografia e Narcisismo”, Editora Assírio & Alvim, 2000 pg.105
  • 2. Fotografia e Identidade Professor Daniel Velez portanto, ser um reflexo”2.Apenas o seu reflexo no espelho. Assim a personagem que se encontra retratada, pensativa/contemplativa, não é o próprio sujeito da fotografia, mas o seu reflexo como “Mãe”e “Mulher”, produzido num espelho. Tal como o artista Molder, na Figura 1, o mecanismo destas duplicações em cada figura/imagem, é repetida como se de uma imagem reproduzida por um espelho se tratasse. O espelho é a máquina de duplicação, é o primeiro sistema de reprodução artificial. Algumas auto representações encontram-se posicionadas num território quase de encenação, com a intimidade da personagem cuidadosamente exteriorizada e premeditada. A imagem da Fig.1 narra factos em sequência, através do espaço e do tempo. Muito à luz de Molder, as personagens que se encontram retratadas não são o próprio sujeito das fotografias mas sim o seu reflexo (mãe, filhos, marido), produzido num espelho em várias direcções ou caminhos. No entanto, quando observamos por exemplo o trabalho de Francis Bacon, o cenário é bem diferente: a auto-representação de Bacon é des-figurante, obsessiva, trepidante, nela está implícita uma necessidade de desestabilizar essas formas, construindo movimentos de sucessão aparentemente acidental. A Imagem do Eu e o desvario da identidade, é um dos jogos preferenciais de alguns artistas contemporâneos. É o rosto da loucura e da dilaceração que vemos nas imagens de Jo Spence; é a imagem do demónio dês-figurante que surge em grande parte do trabalho de Cindy Sherman; é o mal – estar manifesto na degradação corporal e psicológica em Nan Goldin.3 2 www.jorgemolder.com/texts/text.php?id=36 3 Medeiros Margarida, op. Cit., p.104
  • 3. Fotografia e Identidade Professor Daniel Velez A identidade é um tema de relevância universal: quem somos e o que sentimos, são questões que colocamos frequentemente. A auto-representação é um tema intrinsecamente ligado à identidade como questão universal, e um tema muito explorado pelos artistas. No decorrer deste trabalho houve a necessidade de mostrar o rosto na lateral uma vez que oculta em parte os olhos e a boca. Há uma auto-representação de um ser, que pretende ser outro, mas um outro que acumula os mesmos gostos as mesmas necessidades e as mesmas paixões que é o de ser Mãe numa sociedade bem presente e exigente, como diz Kant, o rosto é a regra ou «anagrama» do desenvolvimento de uma forma da imaginação. Só o rosto aqui é enquadrado na fotografia, deixando todo o resto na sombra que apaga algumas marcas precisas de tempo e de espaço. É porque «o rosto» se desdobra e se fixa em tal rosto que tal traço (o nariz arrebitado) toma um sentido.4 O objectivo pessoal encontrado para este trabalho, visou a possibilidade da auto- representação como auto-descoberta, auto-análise e o uso do corpo na criação artística admitindo abordagens muito diversas que permitiram explorar diferentes sub temas dentro do tema auto-representação. 4 Medeiros Margarida, op. Cit., p.164
  • 4. Fotografia e Identidade Professor Daniel Velez Anexo Figura 1. Auto – representação – “Com pedaços de uma mãe…” Bibliografia Barthes Roland, “A câmara clara” Ed.70 (Arte e Comunicação) 2006
  • 5. Fotografia e Identidade Professor Daniel Velez Bauret Gabriel, “ A fotografia”Ed. 70 (Arte e Comunicação) 2006 Darsie Alexander, Textos, “The Hug, New York City”1980 Enciclopédia Einaudi, vol.I. Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1985. Jacques Le Goff, “Documento/Monumento”,In: Memória - História, Enciclopédia Einaudi, vol.I Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1985. Joly Martine,”Introdução à análise da imagem”, Ed.70 (Arte & Comunicação) 2008 Leite Miriam,”Retratos de Família”: Leitura da Fotografia Histórica, Ed. Edusp, 1993 Marc Bloch, “Introdução à história”, 5ª Colecção Saber, Pub. Europa – América Medeiros Margarida, “ Fotografia e Narcisismo”, Editora Assírio & Alvim, 2000 Pais José, Carvalho Clara, Gusmão Neuza, “ O Visual e o Quotidiano”Imprensa de Ciências Sociais 2008 Sardo Delfim “Jorge Molder” Ed. Caminho, SA. (www.editorial- caminho.pt)