A vida e obra de Fernando Pessoa, o poeta dos heterónimos
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3. Fernando Pessoa tinha apenas cinco anos quando seu
pai, Joaquim Seabra Pessoa, crítico musical num jornal da
capital, faleceu de tuberculose.
Um ano depois morreu o seu irmão e é precisamente
nesse ano que o escritor inventa o primeiro amigo
imaginário, cujo nome era Chevalier de Pas .“ ”
No ano seguinte, a sua mãe casa de novo com o cônsul
de Portugal em Durban (África do Sul), onde a sua nova
família passava a residir. Deste casamento nascerão cinco
filhos mas só três sobreviveram.
Fernando Pessoa viverá com a nova família apenas cerca
de nove anos.
4. É em Durban que Fernando Pessoa faz o ensino primário
num colégio de freiras, ingressando depois na Durban High
School. Aos treze anos obtém o First Class School Higher“
Certificate da Universidade do Cabo da Boa Esperança,”
depois de ter feito quatro anos lectivos em apenas dois.
É nesse ano que começa a escrever poemas em Inglês e
que regressa pela primeira vez a Lisboa, onde ficou durante
um ano. Volta depois para Durban, onde faz o seu primeiro
ano de estudos universitários e obtém o prémio Rainha
Vitória para o melhor ensaio em Inglês, um exame no qual
participaram 899 candidatos. A sólida educação inglesa que
recebeu em Durban será fundamental na formação do futuro
escritor.
5. Em 1905, com 17 anos, Fernando Pessoa regressa
definitivamente a Lisboa para frequentar o curso superior
de letras que abandona dois anos depois. Vive em casas
diversas, durante vários anos em ambientes marcadamente
femininos, povoados de tias e uma avó Dionísia que
enlouqueceu e cuja herança lhe permitiu o negócio que
acabou em fracasso, a compra de máquinas para montar
uma tipografia e editora, a Empresa Íbis que nunca“ ”
chegará a funcionar.
Começa então uma vida de modesto correspondente
comercial de Inglês e Francês, trabalhando para vários
escritórios da baixa Lisboeta. Entretanto escreve
compulsivamente poesia e prosa.
6. Em 1912 começa a publicar na revista A Águia e dois anos“ ”
mais tarde, em 1914, cria os seus heterónimos Alberto Caeiro,
Álvaro de Campos e Ricardo Reis que assinarão, cada um deles,
uma obra singular. No ano seguinte, com o seu amigo Mário de Sá
Carneiro, lidera o grupo fundador da revista Orpheu que– “ ”
introduz o modernismo em Portugal, e em 1917 pública, com Almada
Negreiros, Amadeu de Souza Cardoso e Santa Rita o Portugal“
Futurista .”
Na verdade, escreve muito, mas publicou pouco e quase
exclusivamente em revistas literárias. Em 1921 cria a editora “
Olissipo que publica dois pequenos livros com os seus pequenos”
poemas ingleses e em 1924 funda a revista Athena . Em 1934“ ”
publica a Mensagem, o seu único livro de poesia em português
editado em vida.
7. Habitante solidário de uma Lisboa que, com a ascensão
do fascismo, é cada vez mais cinzenta, é atravessado
frequentemente por estados depressivos e de melancolia e
apenas se lhe conhece uma namorada, Ofélia Queiroz,
secretária de um dos escritórios onde trabalhou e com a
qual manteve, por dois períodos, uma correspondência de
namoro, pelos cafés mantém pequenas tertúlias e amizades
construídas sobretudo em torno da literatura. Em 1932
concorre a um lugar de conservador bibliotecário, em
Cascais, mas não é aceite.
8. Morreu aos 47 anos, no dia 30 de Novembro de
1935, na sequência de uma crise hepática.
Deixou milhares de textos inéditos que têm
vindo a ser publicados postumamente. Nesse
labirinto infindável de papéis e palavras, muito
especialistas têm mergulhado, para desvendar o
mistério do poeta criador de poetas.
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16. É talvez o último dia da
minha vida.
Saudei o Sol, levantando
a mão direita,
Mas não o saudei,
dizendo-lhe adeus,
Fiz sinal de gostar de o
ver antes: mais nada.
Alberto Caeiro
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma nao é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
Fernando Pessoa
17. Para ser grande, sê
inteiro: nada Teu exagera
ou exclui. Sê todo em cada
coisa. Põe quanto és No
mínimo que fazes. Assim
em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive
Ricardo Reis
Não, não
é
cansaço... Não, não
é
cansaço... É
uma
quantidade
de
desilusão
Que
se
me
entranha
na
espécie
de
pensar. É
um
domingo
às
avessas
Do
sentimento, Um
feriado
passado
no
abismo... Não, cansaço
não
é... É
eu
estar existindo
E
também
o
mundo, Com
tudo
aquilo
que
contém, Como
tudo
aquilo
que
nele
se
desdobra
E
afinal é
a
mesma
coisa
variada
em
cópias
iguais.
Álvaro de Campos