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Educação
                                    sem fronteiras

                                  SERVIÇO
                                   SOCIAL

                                                          Autores
                                            Carmen Ferreira Barbosa
                                   Edilene Maria de Oliveira Araújo
                                        Edilene Xavier Rocha Garcia
                                                  Eloísa Castro Berro
                                                Maria Massae Sakate
                                         Silvia Regina da Silva Costa




                                                                6
                                          www.interativa.uniderp.br
                                         www.unianhanguera.edu.br
                                             Anhanguera Publicações
                                                  Valinhos/SP, 2009




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© 2009 Anhanguera Publicações
             Proibida a reprodução final ou parcial por qualquer meio de                                                    Ficha Catalográfica realizada pela Bibliotecária
             impressão, em forma idêntica, resumida ou modificada em língua                                              Alessandra Karyne C. de Souza Neves – CRB 8/6640
             portuguesa ou qualquer outro idioma.
             Impresso no Brasil 2009
                                                                                                           S514     Serviço social / Carmen Ferreira Barbosa ...[et al.]. - Valinhos :
                                                                                                                         Anhanguera Publicações, 2009.
                                                                                                                         240 p. - (Educação sem fronteiras ; 6)


                                                                                                                           ISBN: 978-85-62280-55-9


                                                                                                                        1. Serviço social – Planejamento. 2. Serviço social – Administração.
                                                                                                                    3. Serviço social – Integração da assistência. I. Barbosa, Carmen
                                                                                                                    Ferreira. II. Título. III. Série.
             ANHANGUERA EDUCACIONAL S.A.
             CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DE CAMPO GRANDE/MS
                                                                                                                                                                             CDD: 360
             Presidente
             Prof. Antonio Carbonari Netto

             Diretor Acadêmico
             Prof. José Luis Poli

             Diretor Administrativo
             Adm. Marcos Lima Verde Guimarães Júnior
                                                                                                                                                          ANHANGUERA PUBLICAÇÕES
             CAMPUS I
                                                                                                                                                                                    Diretor
             Chanceler                                                                                                                                        Prof. Diógenes da Silva Júnior
             Profa. Dra. Ana Maria Costa de Sousa
             Reitor                                                                                                                                                    Gerente Acadêmico
             Prof. Dr. Guilherme Marback Neto                                                                                                                           Prof. Adauto Damásio
             Vice-Reitor
                                                                                                                                                                 Gerente Administrativo
             Profa. Heloísa Helena Gianotti Pereira
                                                                                                                                                                Prof. Cássio Alvarenga Netto
             Pró-Reitores
             Pró-Reitor Administrativo: Adm. Marcos Lima Verde Guimarães Júnior
             Pró-Reitora de Graduação: Profa. Heloisa Helena Gianotti Pereira
             Pró-Reitor de Extensão, Cultura e Desporto: Prof. Ivo Arcângelo Vendrúsculo Busato




             ANHANGUERA EDUCACIONAL S.A.
             UNIDERP INTERATIVA

             Diretor
             Prof. Dr. Ednilson Aparecido Guioti

             Coodernação
             Prof. Wilson Buzinaro

             COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA
             Profa. Terezinha Pereira Braz / Profa. Aparecida Lucinei Lopes Taveira Rizzo / Profa. Maria Massae Sakate /
             Profa. Adriana Amaral Flores Salles / Profa. Lúcia Helena Paula Canto (revisora)

             PROJETO DOS CURSOS
             Administração: Prof. Wilson Correa da Silva / Profa. Mônica Ferreira Satolani
             Ciências Contábeis: Prof. Ruberlei Bulgarelli
             Enfermagem: Profa. Cátia Cristina Valadão Martins / Profa. Roberta Machado Pereira
             Letras: Profa. Márcia Cristina Rocha Figliolini
             Pedagogia: Profa. Vivina Dias Sol Queiroz
             Serviço Social: Profa. Maria de Fátima Bregolato Rubira de Assis / Profa. Ana Lúcia Américo Antonio
             Tecnologia em Gestão e Marketing de Pequenas e Médias Empresas: Profa. Fabiana Annibal Faria de Oliveira Biazetto
             Tecnologia em Gestão e Serviço de Saúde: Profa. Irma Marcario
             Tecnologia em Logística: Prof. Jefferson Levy Espindola Dias
             Tecnologia em Marketing: Prof. Jefferson Levy Espindola Dias
             Tecnologia em Recursos Humanos: Prof. Jefferson Levy Espindola Dias




00_Abertura_SSocial_6Sem.indd 2                                                                                                                                                                6/5/09 10:07:39 AM
Nossa Missão, Nossos Valores
                      _______________________________

                A Anhanguera Educacional completa 15 anos em 2009. Desde sua fundação, buscou a ino-
             vação e o aprimoramento acadêmico em todas as suas ações e programas. É uma Instituição de
             Ensino Superior comprometida com a qualidade dos cursos que oferece e privilegia a preparação
             dos alunos para a realização de seus projetos de vida e sucesso no mercado de trabalho.
                A missão da Anhanguera Educacional é traduzida na capacitação dos alunos e estará sempre
             preocupada com o ensino superior voltado às necessidades do mercado de trabalho, à adminis-
             tração de recursos e ao atendimento aos alunos. Para manter esse compromisso com a melhor
             relação qualidade/custo, adotaram-se inovadores e modernos sistemas de gestão nas instituições
             de ensino. As unidades no Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas
             Gerais, Santa Catarina, São Paulo e Rio Grande do Sul preservam a missão e difundem os valores
             da Anhanguera.
                Atuando também no Ensino a Distância, a Anhanguera Educacional orgulha-se de poder es-
             tar presente, por meio do exemplar trabalho educacional da Uniderp Interativa, nos seus pólos
             espalhados por todo o Brasil.




                                                                         Boa aprendizagem e bons estudos!



                                                                             Prof. Antonio Carbonari Netto
                                                                    Presidente — Anhanguera Educacional




00_Abertura_SSocial_6Sem.indd 3                                                                               6/5/09 10:07:39 AM
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AULA 1 — A Base do Pensamento Econômico



                                       Apresentação
                                   ____________________

                 A Universidade Anhanguera/UNIDERP, ao longo de sua existência, prima pela excelência no
              desenvolvimento de seu sólido projeto institucional, concebido a partir de princípios modernos,
              arrojados, pluralistas, democráticos.
                 Consolidada sobre patamares de qualidade, a Universidade conquistou credibilidade de par-
              ceiros e congêneres no país e no exterior. Em 2007, sua entidade mantenedora (CESUP) passou
              para o comando do Grupo Anhanguera Educacional, reconhecido pelo compromisso com a
              qualidade do ensino, pela forma moderna de gestão acadêmico-administrativa e pelos propósi-
              tos responsáveis em promover, cada vez mais, a inclusão e a ascensão social.
                  Reconhecida pela ousadia de estar sempre na vanguarda, a Universidade impôs a si mais um
              desafio: o de implantar o sistema de ensino a distância. Com o propósito de levar oportunida-
              des de acesso ao ensino superior a comunidades distantes, implantou o Centro de Educação a
              Distância.
                 Trata-se de uma proposta inovadora e bem-sucedida, que, em pouco tempo, saiu das frontei-
              ras do Estado do Mato Grosso do Sul e se expandiu para outras regiões do país, possibilitando o
              acesso ao ensino superior de uma enorme demanda populacional excluída.
                 O Centro de Educação a Distância atua por meio de duas unidades operacionais: a Uniderp
              Interativa e a Faculdade Interativa Anhanguera(FIAN). Com os modelos alternativos ofereci-
              dos e respectivos pólos de apoio presencial de cada uma das unidades operacionais, localizados
              em diversas regiões do país e exterior, oferece cursos de graduação, pós-graduação e educação
              continuada, possibilitando, dessa forma, o atendimento de jovens e adultos com metodologias
              dinâmicas e inovadoras.
                 Com muita determinação, o Grupo Anhanguera tem dado continuidade ao crescimento da
              Instituição e realizado inúmeras benfeitorias na estrutura organizacional e acadêmica, com re-
              flexos positivos nas práticas pedagógicas. Um exemplo é a implantação do Programa do Livro-
              Texto – PLT, que atende às necessidades didático-pedagógicas dos cursos de graduação, viabiliza
              a compra, pelos alunos, de livros a preços bem mais acessíveis do que os praticados no mercado
              e estimula-os a formar a própria biblioteca, promovendo, assim, a melhoria na qualidade de sua
              aprendizagem.
                 É nesse ambiente de efervescente produção intelectual, de construção artístico-cultural, de
              formação de cidadãos competentes e críticos, que você, acadêmico(a), realizará os seus estudos,
              preparando-se para o exercício da profissão escolhida e uma vida mais plena na sociedade.



                                                                               Prof. Guilherme Marback Neto




00_Abertura_SSocial_6Sem.indd 5                                                                                 6/5/09 10:07:40 AM
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Autores
                                    ____________________

                                                                            CARMEN FERREIRA BARBOSA
                                                   Graduação: Serviço Social – Faculdades Unidas Católica de
                                                                              Mato Grosso – FUCMT – 1984
                              Especialização: Saúde da Família – Universidade Federal de MS – UFMS – 2003
                                          Especialização: Metodologia de Ensino Superior – FUCMAT – 1992
                    Mestrado: Serviço Social – Universidade Estadual Paulista/UNESP e Universidade Católica
                                                                                  Dom Bosco/UCDB – 2002

                                                                EDILENE MARIA DE OLIVEIRA ARAÚJO
                                                 Graduação:Serviço Social – Faculdades Unidas Católica de
                                                                              Mato Grosso – FUCMT – 1986
                    Pós-graduação Latu sensu: Gestão de Iniciativas Sociais – Universidade Federal do Rio de
                                                                                      Janeiro – UFRJ – 2002
                Pós-graduação Lato Sensu: Formação de Formadores de em Educação de Jovens e Adultos –
                                                           Universidade Nacional de Brasília – UNB – 2003
               Pós-graduação Lato Sensu: Administração em Marketing e Comércio Exterior – UCDB – 1998

                                                                      EDILENE XAVIER ROCHA GARCIA
                                                 Graduação: Serviço Social – Faculdades Unidas Católica de
                                                                              Mato Grosso – FUCMT – 1988
                                               Especialização: Gestão de Políticas Sócias – UNIDERP – 2003
                                  Mestrado: Desenvolvimento Local – Universidade Unidas Católicas – UCDB
                                                                                                 MS – 2007

                                                                                 ELOÍSA CASTRO BERRO
                                        Graduação: Serviço Social – Faculdades Integradas de Marília – 1984
                             Especialização: Planejamento e Serviço Social – Faculdades Unidas Católica de
                                                                             Mato Grosso – FUCMT – 1998
                                         Especialização: Metodologia de Ação do Serviço Social - Faculdades
                                                                                         Unidas Católica de
                                                                             Mato Grosso – FUCMT – 1983
             Mestrado: Serviço Social - Universidade Estadual Paulista/UNESP e Universidade Católica Dom
                                                                                       Bosco/UCDB – 2002




00_Abertura_SSocial_6Sem.indd 7                                                                                6/5/09 10:07:40 AM
MARIA MASSAE SAKATE
                                              Graduação: Matemática – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS,
                                                                                                 Campo Grande, MS – 1992
                                     Especialização: Informática na Educação – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul –
                                                                                         UFMS, Campo Grande, MS – 1998
                                                  Mestrado: Educação – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS,
                                                                                                 Campo Grande, MS – 2003

                                                                                           SILVIA REGINA DA SILVA COSTA
                                                Graduação: Serviço Social – Universidade Católica Dom Bosco – UCDB – 2001
                                  Especialização em Violência Doméstica Contra Criança e Adolescentes – Universidade de São
                                                                                                           Paulo – USP – 2004
                                         Especialização: Políticas Sociais com Ênfase no Território e na Família – Universidade
                                                                                          Católica Dom Bosco – UCDB – 2007
                                                     Mestrado em Educação – Universidade Estadual Paulista – UNESP – 2008




00_Abertura_SSocial_6Sem.indd 8                                                                                               6/5/09 10:07:40 AM
Sumário
                                               ____________________
             MÓDULO – PLANEJAMENTO E ADMINISTRAÇÃO

             UNIDADE DIDÁTICA – ESTÁGIO SUPERVISIONADO III
             AULA 1
               O estágio supervisionado III - o estágio como atividade integradora entre o saber e a ação .........                                               3
             AULA 2
               A Intervenção em Serviço Social ........................................................................................................           7


             UNIDADE DIDÁTICA – PLANEJAMENTO DE INTERVENÇÕES SOCIAIS
             AULA 1
               Planejamento em Serviço Social – conceitos e definições ................................................................                          14
             AULA 2
               A Administração no Serviço Social – contextualizações básicas ......................................................                              18
             AULA 3
               Gestão Social – aspectos importantes ................................................................................................             23
             AULA 4
               Políticas, Planos, Programas e Projetos – Definições ........................................................................                     29
             AULA 5
               Papel do Gestor Social ........................................................................................................................   32
             AULA 6
               O que é um projeto social? Implicações diretas na realidade atual ..................................................                              36
             AULA 7
               Roteiro básico de um projeto social ...................................................................................................           40
             AULA 8
               Fases metodológicas e a instrumentalização do planejamento social ..............................................                                  47
             AULA 9
               Avaliação e monitoramento de projetos sociais ................................................................................                    54
             AULA 10
               O Sistema Único da Assistência Social (SUAS) e o planejamento na administração pública.........                                                   60


             UNIDADE DIDÁTICA – TRATAMENTO DE INFORMAÇÕES E OS
             INDICADORES SOCIAIS
             AULA 1
               Noções de estatística descritiva – obtenção e organização de dados ................................................                               68
             AULA 2
               Representações dos dados por meio da tabela...................................................................................                    76
             AULA 3
               Representações gráficas dos dados .....................................................................................................           82
             AULA 4
               Aspectos conceituais: o que são indicadores e índices ......................................................................                      86




00_Abertura_SSocial_6Sem.indd 9                                                                                                                                       6/5/09 10:07:40 AM
AULA 5
                                 Sistema de indicadores: requisitos para a sua construção e produção ............................................. 90
                               AULA 6
                                 Fontes de indicadores sociais .............................................................................................................. 94
                               AULA 7
                                 Desenvolvimento humano ................................................................................................................. 100
                               AULA 8
                                 Objetivos do Desenvolvimento do Milênio - ODM.......................................................................... 106


                               SEMINÁRIO INTEGRADO: PLANEJAMENTO E ADMINISTRAÇÃO .............................................. 115


                               MÓDULO – DESENVOLVIMENTO LOCAL E INTEGRAÇÃO DA
                               ASSISTÊNCIA

                               UNIDADE DIDÁTICA – DESENVOLVIMENTO LOCAL E TERRITORIALIZAÇÃO
                               AULA 1
                                 Desenvolvimento local: reflexões e conceitos ....................................................................................                        119
                               AULA 2
                                 Espaço, lugar e território ....................................................................................................................          125
                               AULA 3
                                 Cultura e identidade ...........................................................................................................................         132
                               AULA 4
                                 Capital social .......................................................................................................................................   138
                               AULA 5
                                 Potencialidade e comunidade .............................................................................................................                146
                               AULA 6
                                 Agentes do desenvolvimento local e dimensões metodológicas .......................................................                                       150
                               AULA 7
                                 Solidariedade e educação ....................................................................................................................            154
                               AULA 8
                                 Cultura do desenvolvimento e desenvolvimento da cultura ............................................................                                     160


                               UNIDADE DIDÁTICA – REDE SOCIOASSISTENCIAL
                               AULA 1
                                 O significado de redes no contexto do trabalho socioassistencial ...................................................                                     171
                               AULA 2
                                 A filantropia no Brasil .........................................................................................................................        175
                               AULA 3
                                 Terceiro setor e suas diversas concepções ..........................................................................................                     182
                               AULA 4
                                 Movimentos sociais, ONGs e redes solidárias ...................................................................................                          186
                               AULA 5
                                 Marco legal das entidades que compõem a rede socioassistencial ...................................................                                       190




00_Abertura_SSocial_6Sem.indd 10                                                                                                                                                            6/5/09 10:07:41 AM
AULA 6
               O Sistema Único de Assistência Social e a nova forma de gestão da assistência social: caráter
               público, protagonismo e avaliação do processo................................................................................ 197
             AULA 7
               Oficina 1: PEAS/2006 – Pesquisa das Entidades de Assistência Social Privadas sem
               Fins Lucrativos ................................................................................................................................... 208
             AULA 8
               Oficina 2: PEAS/2006 – Pesquisa das Entidades de Assistência Social Privadas sem
               Fins Lucrativos .................................................................................................................................... 215


             SEMINÁRIO INTEGRADO: DESENVOLVIMENTO LOCAL E INTEGRAÇÃO
             DA ASSISTÊNCIA .................................................................................................................................... 227




00_Abertura_SSocial_6Sem.indd 11                                                                                                                                          6/5/09 10:07:41 AM
Módulo

                       DESENVOLVIMENTO
                     LOCAL E INTEGRAÇÃO
                          DA ASSISTÊNCIA




                            Profa. Ma. Carmen Ferreira Barbosa
                         Profa. Ma. Edilene Xavier Rocha Garcia

                              169


Modulo 01.indd 169                                                2/6/2009 12:15:59
Unidade Didática — Desenvolvimento Local e Territorialização


                     Apresentação

                Por que é fundamental para a(o) acadêmica(o) de Serviço Social a compreensão do significado de redes
             no contexto do trabalho socioassistencial? Porque é importante compreender o contexto das políticas sociais
             no Brasil que contratam e conveniam com serviços complementares através das redes de serviços não-gover-
             namentais e não apenas com serviços próprios e públicos. Além disso, o profissional de Serviço Social atua
             também nessas redes.
                Para a compreensão da temática de rede socioassistencial, é preciso, antes de tudo, recuperar o tema Filan-
             tropia e como este se desenvolveu no Brasil.
                Revisaremos também a questão do Terceiro Setor que é parte intrínseca da rede não-governamental, en-
             tretanto não nos deteremos em conceitos, mas na contextualização do Voluntariado em sua relação com o
             Terceiro Setor e a natureza deste nas ações que constituem a rede socioassistencial.
                É necessário ainda compreender o contexto sociopolítico dos movimentos sociais no período recente da his-
             tória do país, para que a (o) aluna (o) analise criticamente o processo de transformação dos movimentos sociais
             na atualidade e como esse fato introduziu mudanças no interior da rede não-governamental tradicional.
                A Constituição de 1988, no Art. 204, destacou a participação da sociedade civil, tanto na execução dos pro-
             gramas através das entidades beneficentes e de assistência social, bem como na participação, na formulação
             e no controle das ações, em todos os níveis. Entretanto, a gravidade dos problemas sociais brasileiros exige
             que o Estado assuma a primazia da responsabilidade em cada esfera de governo, na condução da política de
             Assistência Social. Para tanto, faz-se necessário apresentarmos às (aos) acadêmicas (os) a importância do
             SUAS para a construção da Rede e o papel do Estado na condução da Política de Assistência Social e da Rede,
             no compartilhamento da gestão.




                                                                  170


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AULA 1 — Desenvolvimento Local: Reflexões & Conceitos



                                                                AULA

                                         ____________________          1




                                                                                                                                       Unidade Didática – Rede Socioassistencial
                         O SIGNIFICADO DE REDES NO CONTEXTO DO
                              TRABALHO SOCIOASSISTENCIAL

                 Conteúdo
                     • Contextos da rede de solidariedade.
                     • Concepções de rede.
                     • Características de rede.

                 Competências e habilidades
                     • Analisar o significado de redes no contexto do trabalho socioassistencial.
                     • Interpretar as concepções de rede.
                     • Caracterizar os diferentes significados de redes, contextualizando-as na contemporaneidade.


                 Textos e atividades para autoestudo disponibilizados no Portal
                     Verificar no Portal os textos e atividades disponibilizados na galeria da unidade.


                 Duração
                     2 h/a – via satélite com o professor interativo
                     2 h/a – presenciais com o professor local
                     6 h/a – mínimo sugerido para autoestudo




                     !   SAIBA MAIS!                                                do lato) é empregado, não só como medo geral
                    Homofobia: termo é um neologismo cria-                          (irracional ou não), mas também como aversão
                 do pelo psicólogo George Weinberg, em 1971,                        ou repulsa em geral, qualquer que seja o motivo.
                 numa obra impressa, combinando a palavra                           Algumas pessoas consideram que a homofobia
                 grega phobos (fobia), com o prefixo homo-,                          é efetivamente uma forma de xenofobia na sua
                 como remissão à palavra “homossexual”.                             definição estrita: medo a tudo o que seja consi-
                    Phobos (grego) é medo em geral. Fobia seria                     derado estranho. Essa generalização é criticada
                 um medo irracional (instintivo) de algo. Porém,                    porque o medo irracional pelo diferente não é,
                 “fobia” nesse termo (tal como, para desespe-                       claramente, a única causa para o preconceito de
                 ro dos linguístas, a palavra xenofobia no senti-                   homossexualidade, já que esse preconceito pode


                                                                            171


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Unidade Didática — Rede Socioassistencial

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                também provir de ensinamentos (religião, for-
                                                                            tras causas. Os movimentos de solidariedade são
                mas de governo etc.) ou ideologia (como em co-
                                                                            múltiplos e diversos, como aqueles que se destinam
                munidades machistas), por exemplo. Disponível
                                                                            a dar apoio às populações vítimas da fome, do de-
                em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Homofobia>.               semprego, de secas ou inundações, de guerras civis,
                   Etnia: uma etnia ou um grupo étnico é, no                de discriminações sexuais, étnicas e religiosas, en-
                sentido mais amplo, uma comunidade humana                   tre outras. As formas de enfrentamento se dão com
                definida por afinidades linguísticas e culturais              projetos de assistência social, educação popular, ge-
                e semelhanças genéticas. Essas comunidades                  ração de renda, construção de moradias populares,
                geralmente reivindicam para si uma estrutura                de combate ao racismo, ao machismo, homofobis-
                social, política e um território. A palavra etnia           mo. Também há redes de apoio a crianças em situa-
                é usada muitas vezes erroneamente como um                   ção de risco, de preservação do meio ambiente fi-
                eufemismo para raça, ou como um sinônimo                    nanciadas com verbas privadas e públicas. As verbas
                para grupo minoritário. Raça versus etnia. Em-              originárias de fundo privado são financiadas com
                bora não possam ser considerados como iguais,               recursos arrecadados por voluntários que apoiam
                o conceito de raça é associado ao de etnia. A               uma ampla rede de organizações não governamen-
                diferença reside no fato de que etnia também                tais e movimentos sociais no mundo.
                compreende os fatores culturais, como a nacio-                Os serviços prestados são de caráter público por-
                nalidade, a afiliação tribal, a religião, o idioma           que se destinam ao bem-viver:
                e as tradições, enquanto raça compreende ape-
                                                                                 que é o exercício humano de dispor das mediações
                nas os fatores morfológicos, como cor de pele,
                                                                                 materiais, políticas, educativas e informacionais
                constituição física, estatura, traço facial etc.
                                                                                 não apenas para satisfazer eticamente necessidades
                Disponível em: <www.achetudoeregiao.com.
                                                                                 biológicas e culturais de cada um, mas para garan-
                br/ATR/etnia.htm>.                                               tir, eticamente, a realização de tudo o que possa ser
                                                                                 concebido e desejado pela liberdade pessoal que
                                                                                 não negue a liberdade pública e ao bem comum
             APRESENTAÇÃO                                                        (Mance, 1999, p. 17).
                Para você, acadêmico(a) de Serviço Social, é fun-
                                                                               E também se destinam ao bem comum. Na reta-
             damental a compreensão do significado de redes no
                                                                            guarda desse vasto rol de serviços e recursos está a
             contexto do trabalho socioassistencial. Por quê? O
                                                                            atuação de milhares de pessoas voluntárias de todo
             Serviço Social conta, em seu universo de trabalho,             o mundo, mais especialmente do Primeiro Mundo,
             com as redes de políticas sociais para atuar. Espe-            que disponibilizam uma pequena parcela de seus ga-
             cialmente na política de assistência social, conta             nhos para financiar esses projetos ou dedicam parte
             com a rede socioassistencial, constituída de serviços          de seu tempo para neles atuar, ou as duas formas.
             de atendimentos próprios, governamental e conve-               Várias agências financiadoras vinculadas a igrejas,
             niado/parceria com os serviços não governamen-                 sindicatos e outras organizações sociais participam
             tais.                                                          desse movimento internacional de solidariedade
                                                                            aos mais pobres (Mance, 1999).
             CONTEXTOS DA REDE DE SOLIDARIEDADE
               Grande parcela da população, no mundo todo,                  CONCEPÇÕES
             mobiliza-se para atuar em favor de pessoas em si-                O que o termo rede significa? Na visão de Mance
             tuações de fragilidades social, psicológica, cultural,         (1999, p. 24),

                                                                      172


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AULA 1 — O Significado de Redes no Contexto do Trabalho Socioassistencial

                     Trata-se de uma articulação entre diversas unidades           da esfera pública não estatal, atuantes na área de
                     que, através de certas ligações, trocam elementos en-         alfabetização conectaram-se nacionalmente; Rede
                     tre si, fortalecendo-se reciprocamente, e que podem           de Economia Solidária referindo-se à articulação
                     multiplicar-se em novas unidades, as quais, por sua           de certas atividades de financiamento, produção e
                     vez, fortalecem todo o conjunto na medida em que              comércio; Rede de Movimento Feminino, em que
                     são fortalecidas por ele, permitindo-lhe expandir-se
                                                                                   a articulação entre todos os movimentos desse tipo
                     em novas unidades ou manter-se em equilíbrio sus-
                                                                                   fortaleça cada movimento em particular visando ao
                     tentável. Cada nódulo da rede representa uma uni-
                                                                                   surgimento de novos movimentos de mulheres, em
                     dade e cada fio um canal por onde essas unidades se
                                                                                   outras localidades, para combater o machismo e de-
                     articulam através de diversos fluxos.
                                                                                   fender os direitos das mulheres.
                 Ainda, segundo Mance (1999, p. 48), a unidade                        Atualmente, o sentido de rede tem se ampliado
              básica da rede é a célula. O que permite às células se               para a questão do enfoque em sua diversidade. Uma
              transformarem em uma rede é a interligação entre                     rede capaz de conectar a diversidade será capaz de
              estas, que possibilita enviar e receber fluxos mate-                  integrar, sobremaneira, ONGs, movimentos sociais,
              riais, informativos e de valor, assegurando a expan-                 organizações populares, associações etc. Por exem-
              são e aprimoramento da rede como um todo.                            plo: um movimento de mulheres, embora preocu-
                 O que aparece em uma rede como único elemen-                      pado e lutando pelos objetivos específicos em defesa
              to constitutivo é o nó. Pouco importa as dimensões                   da mulher, também se preocupará e atuará na defesa
              de uma rede, uma vez que se pode aumentá-la ou                       dos direitos das crianças e adolescentes, das pessoas
              diminuí-la sem que perca suas características de                     com deficiência etc.
              trama. A trama não é definida por sua forma, por                         A rede de assistência produzida a partir do mo-
              seus limites extremos, mas por suas conexões, por                    delo científico é uma rede que separa os espaços
              seus pontos de convergência e de bifurcação.                         lucrativos e os não lucrativos, as ações individuais
                 Exemplos de rede/trama/malha: redes neuronal                      e as coletivas. Até a década de 1980, no Brasil, as or-
              e imunológica; redes de informática e da comuni-                     ganizações que se fortaleceram foram aquelas que
              cação pela internet. Outras redes são as redes fer-                  apresentaram maior capacidade para incorporar
              roviária, rodoviária, aérea e marítima. Todas são                    equipamentos e algumas especialidades.
              exemplos de figuras que não são definidas por seus                        Na década de 1970, ocorre a cristalização de redes
              limites externos, mas por seus agenciamentos inter-                  de atendimento separadas, destituídas de mecanis-
              nos. Uma malha não pode ser caracterizada como                       mos de integração entre elas, privilegiando o setor
              um todo fechado dotado de superfície e contorno                      privado no que diz respeito à execução dos serviços.
              definidos, mas como uma totalidade aberta, sempre                     A rede de serviços próprios foi sendo subordinada
              capaz de proliferar, o que se daria por meio de seus                 às secretarias estaduais e, a partir da década de 1980,
              nós, suas tramas, suas conexões por todos os lados e                 consolidou-se uma rede sob a gestão do município,
              em todas as direções (Brasil, 2005, p. 105, 106-110).                mas essa descentralização não significa aumento de
                                                                                   autonomia desses serviços.
              CARACTERÍSTICAS DE REDE                                                 Diferentes aspectos técnicos assistenciais con-
                 A terminologia rede tem vários sentidos no inte-                  vivem na rede socioassistencial. Esses aspectos de-
              rior da própria área de ONGs, movimentos sociais                     monstram diferentes desenhos organizativos. No
              entre outros. Inicialmente, a ideia de rede conec-                   Sistema Único da Assistência Social (SUAS), o con-
              tando-se grupos de um mesmo movimento social,                        ceito de territorialização é enfatizado e a percepção
              como por exemplo: Rede de Apoio à Ação Alfabe-                       de que a solução para os problemas da assistência
              tizadora no Brasil, em que entidades e movimentos                    social está nos locais de moradia e que demanda

                                                                             173


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             educação, geração de renda, seguida da oferta de
             serviços na porta de entrada ao sistema de assis-              *   ANOTAÇÕES
             tência social, também conhecidos por Centro de
             Referência de Assistência Social (CRAS). A partir
             da porta de entrada, há um itinerário de serviço de
             complexidade crescente.
                Esse desenho investe no desenvolvimento de ha-
             bilidades para o trabalho em rede e sua expressão
             na organização da atenção é a estruturação da rede
             básica e dos processos de hierarquização por enca-
             minhamento e devolução à porta de entrada.
                Para uma configuração em rede, sob o comando
             único descentralizado, controle social e a integrali-
             dade na qualidade da atenção e nas formas de gestão,
             o SUAS precisa investir nas noções de acolhimento,
             responsabilidade e resolutividade. As formas como
             os processos de trabalho se estruturam e as formas
             de gestão precisam ser colocadas em análise na pro-
             dução da integralidade e do comando único por es-
             fera de governo sob controle social (Brasil, 2005).
                O financiamento solidário direcionado às unida-
             des produtivas existentes no Brasil surgiu a partir de
             programas governamentais visando encontrar pa-
             liativos frente ao desemprego, promovendo diferen-
             tes formas de mutirão e de empreendimentos, mas
             também por iniciativas de entidades internacionais,
             de cunho religioso ou assistencial que financiam
             projetos de geração de renda, de combate à fome
             e à miséria em comunidades pobres do Terceiro
             Mundo. Esse financiamento apoia as ONGs em suas
             lutas por direitos humanos, em defesa da mulher,
             de populações em situação de risco etc. Outros pro-
             gramas surgiram ainda da organização dos próprios
             movimentos sociais, como as cooperativas que en-
             volvem agricultores, apicultores e trabalhadores da
             construção civil, entre outras. Muitas são organi-
             zadas por iniciativas de grupos religiosos locais em
             diversas regiões. Contudo, uma grande parcela das
             atividades produtivas de economia informal, que
             sobrevive dependendo ou não de consumo solidá-
             rio, não dispõe de nenhuma forma estruturada de
             financiamento. Inúmeras organizações e atividades
             populares também sobrevivem graças a diversas
             formas de captação de recursos (Mance, 1999).

                                                                      174


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AULA 2 — A Filantropia no Brasil



                                                                  AULA

                                          ____________________         2




                                                                                                                                            Unidade Didática – Rede Socioassistencial
                                             A FILANTROPIA NO BRASIL

                 Conteúdo
                     •   A história da filantropia no Brasil.
                     •   O passado recente – 1980 a 2000.
                     •   Qual o futuro da filantropia?
                     •   Características da filantropia.

                 Competências e habilidades
                     •   Analisar sinteticamente a história da filantropia no Brasil.
                     •   Resgatar a história recente da filantropia no país.
                     •   Reunir alguns elementos de análise sobre o futuro da filantropia no Brasil.
                     •   Caracterizar a filantropia no contexto da assistência social pública e privada.


                 Textos e atividades para autoestudo disponibilizados no Portal
                     Verificar no Portal os textos e atividades disponibilizados na galeria da unidade.


                 Duração
                     2 h/a – via satélite com o professor interativo
                     2 h/a – presenciais com o professor local
                     6 h/a – mínimo sugerido para autoestudo




                     !    SAIBA MAIS!                                                de degradação do povo latino-americano, nesse
                    Teologia da libertação: o termo libertação foi                   sentido a libertação deve ser entendida como su-
                 cunhado a partir da realidade cultural, social,                     peração de um processo de exclusão; já que esta
                 econômica e política sob a qual se encontrava a                     é a consequência direta da relação norte/sul, em
                 América Latina, a partir das décadas de 60/70 do                    que milhões de homens e mulheres empobrecem
                 último século. Os teólogos desse período, cató-                     e se deterioram porque ficam à margem (excluí-
                 licos e protestantes, assuiram a libertação como                    dos) do processo econômico e político norteado
                 paradigma de todo fazer teológico. O quadro so-                     pelo capitalismo imposto pelos EUA e Europa.
                 cial da América Latina no período originário da                     Dessa forma compete à teologia da libertação a
                 teologia da libertação era de extrema pobreza e                     tarefa de discursar sobre Deus a partir da óptica de


                                                                             175


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Unidade Didática — Rede Socioassistencial


                um processo excludente e a partir da realidade              social. Disponível em: <www.rts.org.br/rts/
                concreta dos excluídos. O teólogo da liberta-               tecnologia-social>.
                ção, portanto, deve ter esse duplo olhar: olhar                Fundo patrimonial: é parte do patrimônio
                para Deus e olhar para o excluído. Disponível               doado pelo instituidor de uma organização que
                em: <www.achegas.net/numero/dois/a_cabral.                  é investido para gerar receita. A ferramenta é
                htm>.                                                       utilizada para preservar os recursos originais
                   Investimento social privado: investimento                e, dessa forma, garantir a perpetuidade das ati-
                social privado é uma das várias facetas da res-             vidades de uma organização. Disponível em:
                ponsabilidade social. Empresas cada vez mais
                                                                            <www.idis.org.br/acontece/noticias/criacao-
                têm investido recursos em projetos sociais e há
                                                                            de-fundos-patrimoniais-garante-sustentabili-
                uma maior demanda por resultados concretos.
                                                                            dade-de-organizacoes-do-terceiro-setor>.
                O investimento social privado é o uso voluntá-
                rio e planejado de recursos privados em pro-
                jetos de interesse público. Ao contrário do que
                muitos pensam, o investimento social privado
                não deve ser confundido com assistencialismo.               Para início de conversa
                Disponível em: <www.responsabilidadesocial.                  Para a compreensão da temática de rede socioas-
                php?id=2>.                                                sistencial é preciso, antes de tudo, recuperar o tema
                   Responsabilidade social corporativa: as trans-         filantropia e como ele desenvolveu-se no Brasil.
                formações socioeconômicas dos últimos 20                     Ocorreram grandes transformações na filantro-
                anos têm afetado profundamente o compor-                  pia brasileira, ou investimento social privado, como
                tamento de empresas até então acostumadas à               recentemente passou a ser chamada a filantropia no
                pura e exclusiva maximização do lucro. Se por             Brasil, desde a democratização em meados dos anos
                um lado o setor privado tem cada vez mais lugar           1980. No futuro, quem sabe, se verá um tipo de fi-
                de destaque na criação de riqueza; por outro, é           lantropia com capacidade de promover mudanças
                sabe-se bem que com grande poder, vem gran-               transformadoras.
                de responsabilidade. Em função da capacidade                 Nesse percurso, precisa-se ir além da atual pre-
                criativa já existente, e dos recursos financeiros          valência corporativa na filantropia brasileira e criar
                e humanos já disponíveis, empresas têm uma                um ambiente jurídico e fiscal favorável. Será vital li-
                intrínseca responsabilidade social. A ideia de            berar o potencial da filantropia individual e familiar
                responsabilidade social incorporada aos negó-             para se encontrar os novos recursos necessários.
                cios é, portanto, relativamente recente. Com o
                surgimento de novas demandas e maior pressão              BREVE HISTÓRICO DA FILANTROPIA NO BRASIL
                por transparência nos negócios, empresas se
                                                                             A história da filantropia no Brasil está vinculada
                veem forçadas a adotar uma postura mais res-
                                                                          à história da Igreja Católica. Desde o período colo-
                ponsável em suas ações. Disponível em: <www.
                                                                          nial quando sociedades católicas laicas, as chama-
                responsabilidadesocial.com/institucional/insti-
                                                                          das confrarias, fundaram organizações voluntárias,
                tucional_view.php?id=1>.
                                                                          como hospitais, orfanatos e asilos, patrocinados por
                   Tecnologia social: compreende produtos, téc-
                                                                          fundos patrimoniais e doações.
                nicas e/ou metodologias reaplicáveis, desen-
                                                                             No Brasil, desde o século 18, a filantropia e a as-
                volvidas na interação com a comunidade e que
                                                                          sistência social associavam-se intimamente às práti-
                represente efetivas soluções de transformação
                                                                          cas de caridade no Brasil. Dependiam de iniciativas

                                                                    176


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AULA 2 — A Filantropia no Brasil

              voluntárias e isoladas de auxílio aos pobres e desva-         combinando-se com programas governamentais e
              lidos da “sorte”.                                             empresariais, em meio a transformações recentes
                 Essas iniciativas partiam das instituições reli-           nas articulações que visam à constituição de uma
              giosas que, sob o prisma da herança moral cristã,             “sociedade civil”.
              dispensavam seus cuidados, oferecendo abrigos,                   O governo de Getúlio Vargas criou o Conselho
              roupas e alimentos, em especial às crianças abando-           Nacional de Serviço Social, por intermédio do Mi-
              nadas, aos velhos e doentes em geral.                         nistério da Educação e Saúde, órgão estatal que atri-
                 No período colonial, foram criadas sociedades              buía parecer quanto à concessão de recursos esta-
              católicas laicas: confrarias. Estas fundaram orga-            tais, sob a forma de subvenções, para entidades sem
              nizações voluntárias, como hospitais, orfanatos e             fins lucrativos, criando assim a assistência pública
              asilos, patrocinados por fundos patrimoniais e doa-           no início do século 20.
              ções. Exemplo: as Santas Casas de Misericórdia.                 O atendimento das consequências da pobreza e
                                                                            da miséria deixou de ser “caso de polícia” e assumiu,
                 Na época da Independência do Brasil de Portu-
                                                                            no âmbito da moral privada, uma lógica conserva-
              gal, nos fins do século XIX, apareceram novos tipos
                                                                            dora da assistência social em sua versão filantrópica.
              de organizações voluntárias, de prestação de servi-
                                                                            A assistência social, por essa perspectiva, é tratada
              ço e ajuda mútua. Algumas eram associações pro-
                                                                            no âmbito da moral privada, e não da ética social e
              fissionais, científicas, além de organizações e redes
                                                                            pública, o que é um equívoco.
              trabalhistas.
                                                                               Os dirigentes, em uma lógica conservadora, mo-
                A forma laica no campo da assistência social no
                                                                            delam a atenção àqueles marcados pela destituição,
              Brasil deu-se no pós-república, tendo em vista a se-
                                                                            desapropriação e exclusão social, organizando ati-
              paração oficial entre o Estado e a Igreja.
                                                                            vidades, sob a égide do favor, do mais rico ao mais
                 O Estado brasileiro sentiu necessidade de con-             pobre, com a vinculação do reconhecimento da
              trolar mais essas organizações pelo poder que as              bondade do doador pelo receptor.
              mesmas possuíam. No período de 1930, o controle                  O modelo conservador trata o Estado como
              e a participação do Estado nas atividades sem fins             grande família, na qual as esposas de governantes,
              lucrativos aumentaram através de leis do trabalho,            as primeiras-damas, é que cuidam dos “coitados”. O
              regulamentações e subsídios, e a sua independên-              paradigma é do não direito.
              cia foi ainda mais prejudicada pela ditadura mili-               Instituições assistenciais, cadastradas no Conse-
              tar instalada no Brasil em 1964. O abuso de poder e           lho Nacional de Assistência Social (CNAS), devem
              violação dos direitos humanos ocorridos durante o             prestar serviços sociais sob forma de ações de assis-
              período militar provocou a reação da Igreja Católi-           tência social, saúde, educação e cultura cujo registro
              ca. A CNBB e teólogos da teologia da libertação cria-         no conselho se dá a partir de 1943, com a Lei n.º
              ram uma rede de apoio aos cidadãos e incentivaram             1.493 de 1951, utilizada até criação do órgão que o
              as associações civis. Foi esse fenômeno que criou a           sucedeu, a partir da Lei Orgânica da Assistência So-
              base tanto para o Estado democrático quanto para              cial em 1993.
              o desenvolvimento do assim chamado terceiro setor                As regulamentações posteriores trouxeram isen-
              moderno, inclusive das organizações filantrópicas              ção previdenciária para entidades definidas como
              (Lessa e Rossetti, 2006).                                     filantrópicas. A certificação de enquadramento
                 A história “submersa” da “caridade” no Brasil,             que concedia acesso à isenção previdenciária defi-
              donativo personalizado, baseado em valores cris-              nia a natureza das entidades filantrópicas aos cri-
              tãos e centrados em relações de reciprocidade e               térios. contábeis e jurídicos. Disponível em: <www.
              redes religiosas, emerge adquirindo visibilidade e            espacoacademico.com.br/086/86escorsim.htm>.

                                                                      177


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Unidade Didática — Rede Socioassistencial

             HISTÓRIA RECENTE DA FILANTROPIA NO PAÍS                       tornando-as parceiras na construção de uma socie-
                A filantropia no Brasil obteve um grande desen-             dade justa e sustentável. Esse instituto foi decisivo
             volvimento a partir de 1985, após a ditadura do go-           para transformar o setor nessa nova ordem demo-
             verno militar. Surgiram, dessa forma, novos agentes           crática.
             sociais, até mesmo do mundo dos negócios que se                  Os movimentos de responsabilidade social cor-
             engajaram em áreas tão diversas quanto meio am-               porativa do Brasil são os mais dinâmicos do mundo
             biente e direitos das crianças e dos adolescentes.            e a sua multiplicação no país influenciou o ambien-
                Nos anos 1990 novas organizações sociais, cultu-           te filantrópico. Outro aspecto do fortalecimento do
             rais e ambientais investidoras começaram a surgir.            terceiro setor no Brasil foi o controle da inflação,
             Em 1991, o Brasil enfrentou um escândalo de cor-              na década de 1990. Por quase duas décadas, os altos
             rupção na Legião Brasileira de Assistência (LBA) e            índices da inflação prejudicaram a economia brasi-
             a primeira-dama foi responsabilizada. Isso fez com            leira e, a capacidade de doação e a filantropia, assim
             que o conceito de filantropia ganhasse uma conota-             como outras atividades sem fins lucrativos, flores-
             ção negativa junto à sociedade brasileira.                    ceram. O setor sem fins lucrativos no Brasil cres-
                Um grupo de pessoas e entidades do setor da fi-             ceu duas vezes e meia entre 1996 e 2002, com 275
             lantropia escreveu um documento que foi um có-                mil organizações gerando aproximadamente 1,5
             digo de ética e revelava a necessidade de se livrar           milhão de empregos. Esse número inclui todos os
             da imagem negativa que a filantropia clássica havia            tipos de organizações em fins lucrativos, e o GIFE
             adquirido. No fim da década, o “investimento social            (a mais importante rede de associados de investi-
             privado” foi adotado como conceito central. Atual-            mento social privado da América Latina, compre-
             mente, isso se define como “a doação voluntária de             endendo mais de 90 organizações, que praticam o
             recursos privados, de forma planejada, monitorada             investimento social privado no Brasil) estima que
             e sistemática para projetos sociais, educacionais,            existam hoje aproximadamente 300 organizações
             ambientais e culturais de interesse público” (Grupo           dedicadas ao investimento social privado (Lessa e
             de Institutos, Fundações e Empresas – GIFE, 2006).            Rossetti, 2006).
                A década de 1990 foi decisiva para o desenvolvi-              Os desafios enfrentados pelo Brasil significam que
             mento do setor. Em 1992, a Conferência das Nações             existe uma necessidade enorme de fortalecer a capa-
             Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento                  cidade transformadora do setor sem fins lucrativos
             Sustentável, realizada no Rio, articulou diversas en-         e, especificamente, do setor filantrópico. O Brasil,
             tidades do setor consolidando redes como a Asso-              com uma população de 175 milhões de habitantes e
             ciação Brasileira de ONGs (ABONG), enquanto a                 um produto nacional bruto de US$ 452,4 bilhões, é
             Campanha Nacional de Combate à Fome realizou a                o maior, mais rico e mais populoso país da América
             coordenação e integração de esforços da sociedade             Latina. Mas, é também um país com uma distribui-
             civil por uma causa pública. O período neoliberal,            ção de renda extremamente desigual, em que 10%
             com a abertura da economia para o mercado mun-                da população possuem 50% da renda, e 50% dos
             dial, fortaleceu o setor empresarial.                         mais pobres possuem apenas 10% da renda.
                Criado em 1998 por um grupo de empresários e                  Esse desafio central recai sobre toda a socieda-
             executivos, o Instituto Ethos de Empresas e Respon-           de, mas o setor filantrópico é ainda mais cobrado,
             sabilidade Social é uma organização sem fins lucra-            talvez por sua capacidade de mobilizar agentes de
             tivos, caracterizada como organização da sociedade            transformação e de patrocinar a transformação.
             civil de interesse público (OSCIP) empenhada em                  O desafio atual é a possibilidade de parceria entre
             mobilizar, sensibilizar e ajudar as empresas a gerir          o público e o privado, ou seja, a formação de víncu-
             seus negócios de forma socialmente responsável                lo entre essas organizações e o poder público estatal

                                                                     178


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AULA 2 — A Filantropia no Brasil

              para o fomento e execução de atividades de interes-          empresarial tenha trazido para o setor sem fins lu-
              se público, sujeitas ao controle social.                     crativos, em geral, a dinâmica da administração em-
                                                                           presarial e tenha sido essencial para a mudança do
              Características                                              paradigma de filantropia como caridade, feita pela
                 O Estado brasileiro reconhece as entidades filan-          Igreja-Estado, de cima para baixo, ela inoculou no
              trópicas, regulamenta seus fins sociais e cooperação          setor filantrópico/de investimento social privado
              financeira. Através de isenções de impostos, em par-          um forte aspecto empresarial, que frequentemente
              ticular previdenciários, subvencionou organizações           significa que a fronteira entre investimento social
              privadas que executavam políticas públicas, exigin-          privado e responsabilidade social corporativa não é
              do-se em contrapartida a gratuidade de atendimen-            claramente definida. Isso levou o setor filantrópico a
              to para a população pobre.                                   não ter consciência de si mesmo como setor e a não
                 A Constituição de 1988 promove a isenção da               compreensão desses dois conceitos pela sociedade.
              contribuição previdenciária às entidades classifica-             Além disso, mesmo com a crescente sofisticação
              das como filantrópicas em que diversas normatiza-             das estratégias de mudança introduzidas por essas
              ções infraconstitucionais seguiram regulamentando            organizações, muito pouco dos recursos por elas in-
              as ações para a obtenção de certificação de entida-           vestidos chegam aos principais agentes de mudança,
              des de fins filantrópicos.                                     que ainda precisam buscar financiamento em ou-
                 Ocorre impropriedade na denominação filantro-              tras fontes. De acordo com a Associação Brasileira
              pia para entidades que requerem do poder públi-              de Organizações Não Governamentais (ABONG),
              co o financiamento, uma vez que são co-executo-               apenas 4,9% dos seus membros receberam recursos
              ras de políticas públicas. Ao serem indevidamente            de organizações de origem empresarial.
              classificadas como filantrópicas, sem demonstrar                  Enquanto são concedidos benefícios fiscais a
              o mérito de ação assistencial, reiteraram a cultura          grandes empresas para investimento na área so-
              clientelística e da tutela ao revés da concepção do          cial, cultural e outras, quase não existem incentivos
              direito fundamentado numa política pública, uni-             fiscais para a filantropia individual, familiar ou de
              versal, descentralizada e participativa (GOMES,              uma comunidade. No Brasil, praticam doações, tan-
              1999). Disponível em: <www.espacoacademico.                  to as organizações com receitas relevantes advindas
              com.br/086/86escorsim.htm>.                                  de programas de associados como o percentual da
                 Uma das características essenciais do setor filan-         população envolvido no voluntariado. Seria viável
              trópico atual do Brasil e uma das barreiras ao seu           sugerir que tais doações aumentariam se houvesse
              desenvolvimento é a grande influência das orga-               incentivos fiscais.
              nizações originárias do setor empresarial, a maio-              A falta de incentivos fiscais também significa que
              ria delas fundada depois de 1990. Elas canalizam a           não há necessidade de declarar as doações para o
              maioria de seus recursos para programas desenha-             imposto de renda e, portanto, não existe uma ma-
              dos e operados internamente. Os recursos para a              neira oficial de registrar a filantropia individual.
              atividade filantrópica vêm da empresa mãe e de-               Assim, embora a motivação principal da filantro-
              pendem dos seus lucros anuais. Muitas vezes, as or-          pia individual não sejam os incentivos fiscais, esses
              ganizações de origem empresarial buscam recursos             poderiam produzir informações que ajudariam a
              de outras empresas e de fundações internacionais             entender o comportamento filantrópico individual
              para seus programas e atividades, e competem pelos           e, dessa maneira, influenciar o desenvolvimento do
              recursos existentes. Pouquíssimas fundações têm              setor.
              fundos patrimoniais e poucas repassam recursos.                Outro impedimento ao investimento social
              Embora a influência dessas organizações de origem             privado é o ambiente fiscal e jurídico para a filan-

                                                                     179


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Unidade Didática — Rede Socioassistencial

             tropia não ter acompanhado o ritmo das grandes               (organizações populares, empreendedores sociais),
             transformações da sociedade civil e do setor em-             movimentos sociais e parceiros de alianças e pactos
             presarial do Brasil, nas últimas duas décadas. Exis-         intersetoriais.
             tem apenas dois tipos de estrutura fiscal possíveis              O conceito de filantropia/investimento social pri-
             para as organizações sem fins lucrativos – associa-           vado perdeu a imagem negativa e é visto claramente
             ções e fundações.                                            como um setor específico da sociedade civil, dife-
                As associações são regidas por assembleias gerais         rente da responsabilidade social corporativa e das
             que se reúnem em torno de um objetivo específi-               ONGs do movimento social. Existem muitos tipos
             co, e as fundações são regidas por conselhos, cuja           diferentes de organizações que refletem diferentes
             missão principal é perpetuar os fundos ou outros             gêneses, partícipes e valores. A maior estabilidade e
             ativos a elas doados. Enquanto as fundações estão            longevidade das organizações do movimento social
             sujeitas ao controle do governo, as associações só           resultam não apenas em maior capacidade de inves-
             precisam apresentar uma declaração anual de isen-            timento, mas também em maior flexibilidade, mais
             ção de impostos. Pela simplicidade e porque mui-             ousadia e inovação ao investir. Finalmente, o enga-
             tas empresas não estão preparadas para imobilizar            jamento de organizações filantrópicas em parcerias,
             ativos para suas atividades de investimento social           alianças e pactos nacionais dá a elas uma visão mais
             privado, a maior parte das novas organizações do             ampla de seu papel na sociedade, além de assegurar
             Brasil adotou a estrutura fiscal de associação. Como          o seu compromisso mais efetivo com o enfrenta-
             não foi desenhada para o investimento social priva-          mento dos desafios com que o país se depara.
             do, a estrutura de associação pode não atender às
             necessidades específicas do setor e pode atrapalhar           CONCLUINDO
             o seu desenvolvimento.                                          O ambiente filantrópico no Brasil ainda está se
                                                                          adaptando ao novo papel da sociedade civil na trans-
             E O FUTURO DA FILANTROPIA?                                   formação. Apesar de a filantropia/investimento social
                No futuro, antevemos vários tipos de organiza-            privado ter superado sua identidade tradicional vin-
             ções filantrópicas, operacionais e repassadoras de            culada ao Estado, sua natureza e cultura ainda não
             recursos coexistindo, aprendendo umas com as ou-             estão completamente definidas e entendidas. É neces-
             tras em redes nacionais e internacionais do setor e          sária mais pesquisa para esclarecer a diferença entre
             participando de debates públicos e fóruns sociais.           filantropia/investimento social privado e responsabi-
             As organizações filantrópicas/de investimento social          lidade social corporativa. Essa distinção não apenas
             têm grande capacidade de mobilizar e desembolsar             definirá mais claramente as necessidades e o rumo do
             recursos locais. Existe uma predominância de inves-          setor, mas também dará mais visibilidade a algumas
             timento das organizações repassadoras de recursos            das boas tecnologias sociais que foram desenvolvi-
             em organizações que promovem mudanças sociais                das pelas organizações de origem empresarial. É im-
             estratégicas em oposição à atual prevalência de or-          portante também que as organizações filantrópicas/
             ganizações que operam seus próprios programas                de investimento social desenvolvam estruturas mais
             sociais.                                                     sustentáveis, mediante fundos patrimoniais para ga-
                As organizações e as redes filantrópicas/de inves-         rantir recursos em longo prazo e, assim, um maior
             timento social mantêm-se atentas para detectar e             impacto para os seus programas e atividades.
             identificar os principais agentes de mudança social.             É importante também explorar o potencial da
             A sua sensibilidade deve-se ao conjunto diversifi-            filantropia individual e familiar. Embora existam
             cado de partícipes envolvidos na prática filantrópi-          indicações claras de que os brasileiros investem em
             ca: doadores, funcionários, tomadores de recursos            empreendimentos sociais, é necessária uma maior

                                                                    180


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AULA 2 — A Filantropia no Brasil

              compreensão da dinâmica das doações individuais              até mesmo organizações operacionais de origem
              e familiares, bem como o estímulo ao fenômeno e              empresarial. Incentivos a doações precisam ser cria-
              sua modernização. O recente surgimento de novas              dos para estimular a doação individual e familiar.
              organizações e novos fundos de origem familiar é             Várias organizações e um influxo de novos tipos de
              um avanço promissor.                                         recursos para o setor vão propiciar a diversidade e
                 O ambiente fiscal e jurídico no Brasil precisa ser         fortalecer o futuro da filantropia no Brasil.
              desenvolvido. É necessário criar novos tipos de es-             As fundações e as agências de desenvolvimento
              trutura organizacional sem fins lucrativos que pos-           internacionais podem ter um papel em promover
              sam atender melhor às características das organiza-          a filantropia no Brasil como estratégia de mudan-
              ções a que se destinam: repassadoras de recursos,            ça social, tanto através de investimentos quanto do
              fundações comunitárias, fundos de justiça social e           diálogo e do intercâmbio internacionais.



                 *   ANOTAÇÕES




                                                                     181


Modulo 01.indd 181                                                                                                           2/6/2009 12:16:00
Unidade Didática — Rede Socioassistencial


                                                                                                               AULA

                                                                                        ____________________          3
           Unidade Didática – Rede Socioassistencial




                                                                                             TERCEIRO SETOR E SUAS
                                                                                             DIVERSAS CONCEPÇÕES

                                                                   Conteúdo
                                                                    • Caracterização de voluntariado em sua relação com o terceiro setor.
                                                                    • Terceiro setor e o contexto das ações que constituem a rede socioassistencial.
                                                                    • Significado de OSCIP no contexto do terceiro setor.

                                                                   Competências e habilidades
                                                                    • Compreender o significado de voluntariado.
                                                                    • Analisar o fenômeno do terceiro setor, contextualizando-o.
                                                                    • Coletar informações sobre as OSCIPs.


                                                                   Textos e atividades para autoestudo disponibilizados no Portal
                                                                    Verificar no Portal os textos e atividades disponibilizados na galeria da unidade.


                                                                   Duração
                                                                    2 h/a – via satélite com o professor interativo
                                                                    2 h/a – presenciais com o professor local
                                                                    6 h/a – mínimo sugerido para autoestudo




                                                       !   SAIBA MAIS!
                                                                                                                      APRESENTAÇÃO
                                                                                                                         Na Unidade Didática: Terceiro Setor e Serviço
                                                          Produto interno bruto (PIB): representa a                   Social, no 5o semestre, vocês alunos, tiveram uma
                                                       soma (em valores monetários) de todos os bens
                                                                                                                      primeira abordagem sobre a emergência do terceiro
                                                       e serviços finais produzidos numa determina-
                                                                                                                      setor e sua história. A questão da rede socioassis-
                                                       da região (quer sejam, países, estados, cidades),
                                                                                                                      tencial, entretanto, constituída de serviços de aten-
                                                       durante um período determinado (mês, trimes-
                                                                                                                      dimento próprios, governamental e conveniado/
                                                       tre, ano etc.). O PIB é um dos indicadores mais
                                                                                                                      parceria com os serviços nãogovernamentais, exige
                                                       utilizados na macroeconomia com o objetivo
                                                                                                                      a análise detalhada com foco na contextualização do
                                                       de mensurar a atividade econômica de uma re-
                                                                                                                      voluntariado em sua relação com o terceiro setor e
                                                       gião. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/
                                                       wiki/Produto_interno_bruto>.                                   o contexto deste, nas ações que constituem a rede
                                                                                                                      socioassistencial.

                                                                                                              182


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AULA 3 — Terceiro Setor e suas Diversas Concepções

              O VOLUNTÁRIO É O PRINCIPAL PERSONAGEM                         em: <www.voluntarios.com.br/oque_e_voluntaria-
              DO TERCEIRO SETOR                                             do.htm>.
                 Em recente estudo realizado na Fundação
              ABRINQ pelos Direitos da Criança, definiu-se o vo-             O TERCEIRO SETOR E SUAS PRÁTICAS
              luntário como ator social e agente de transformação,             O terceiro setor é apoiado por recursos finan-
              que presta serviços não remunerados em benefício              ceiros, privados e públicos, e por equipes de pro-
              da comunidade; doa seu tempo e conhecimentos,                 fissionais escolhidos não por suas ideologias, mas
              em trabalhos gerados pela energia de seu impulso              por suas experiências de trabalho. É constituído por
              solidário, atendendo tanto às necessidades do próxi-          organizações sem fins lucrativos e não governamen-
              mo ou aos imperativos de uma causa, como às suas              tais que têm como objetivo gerar serviços de cará-
              próprias motivações pessoais, sejam estas de caráter          ter público, diferentemente do primeiro setor que
              religioso, cultural, filosófico, político, emocional.           corresponde à emanação da vontade popular, pelo
                 Quando nos referimos ao voluntário contempo-               voto, que confere o poder ao governo e do segundo
              râneo, engajado, participante e consciente, diferen-          setor que corresponde à livre iniciativa, que opera o
              ciamos também o seu grau de comprometimento:                  mercado usando o lucro como instrumento.
              ações mais permanentes, que implicam maiores                    O terceiro setor corresponde às instituições com
              compromissos, requerem um determinado tipo de                 preocupações e práticas sociais, sem fins lucrativos,
              voluntário, e podem levá-lo inclusive a uma pro-              que geram bens e serviços de caráter público, tais
              fissionalização voluntária. Existem também ações               como: ONGs, instituições religiosas, clubes de servi-
              pontuais, esporádicas, que mobilizam outro perfil              ços, entidades beneficentes, centros sociais, organiza-
              de indivíduos.                                                ções de voluntariado etc. As fundações e organizações
                 Ao analisar os motivos que se mobilizam em                 do terceiro setor são articuladas por empresas, ban-
              direção ao trabalho voluntário, descobrem-se, en-             cos, redes do comércio e da indústria, ou por artistas
              tre outros, dois componentes fundamentais: o de               famosos, que passaram a realizar os projetos junto à
              cunho pessoal, a doação de tempo e esforço como               população, nas parcerias com o Estado.
              resposta a uma inquietação e o social, a tomada de               Seria enganoso achar que somente o primeiro
              consciência dos problemas da realidade, o que leva            e o segundo setores operam com dinheiro, como
              à luta por um ideal ou ao comprometimento com                 se o terceiro setor pudesse renunciar a esse instru-
              uma causa.                                                    mento. O que caracteriza cada setor em face dos
                 Altruísmo e solidariedade são valores morais so-           recursos financeiros: primeiro setor – dinheiro pú-
              cialmente constituídos, vistos como virtude do in-            blico para fins públicos; segundo setor – dinhei-
              divíduo. Do ponto de vista religioso, acredita-se que         ro privado para fins privados; terceiro setor – di-
              a prática do bem salva a alma. Em uma perspectiva             nheiro privado para fins públicos (nada impede,
              social e política, pressupõe-se que a prática de tais         todavia, que o poder público destine verbas para o
              valores zelará pela manutenção da ordem social e              terceiro setor, pois é seu dever promover a solida-
              pelo progresso do homem. A caridade (forte he-                riedade social). Esse setor movimenta mais de US$
              rança cultural e religiosa), reforçada pelo ideal, as         1 trilhão por ano, o que o coloca na posição de
              crenças, os sistemas de valores, e o compromisso              oitava economia mundial, se comparado ao PIB,
              com determinadas causas são componentes vitais                das nações mais ricas.
              do engajamento.                                                 Mas o terceiro setor não trabalha unicamente
                 Não se deve esquecer, contudo, o potencial trans-          com recursos pecuniários. Faz parte integrante da
              formador que essas atitudes apresentam para o cres-           sua concepção a prática de valores, que motivam os
              cimento interior do próprio indivíduo. Disponível             indivíduos a buscarem melhoria na própria vida e

                                                                      183


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Unidade Didática — Rede Socioassistencial

             na do próximo, o esmero das qualidades ou virtudes              A sigla ONG, então, expressa genericamente o
             sociais, o aprimoramento das aptidões e habilidades          conjunto de organizações do terceiro setor tais como
             profissionais, o amadurecimento da cidadania. Vo-             associações, cooperativas, fundações, institutos etc.
             luntariado, iniciativas beneficentes, cooperativismo,            Por serem não governamentais, considera-se que
             independência, humanismo, subsidiariedade, par-              essas organizações normalmente exercem alguma
             tilha etc. são diversos nomes com os quais muitas            função pública, isto é, embora não pertençam ao Es-
             vezes designamos as práticas do terceiro setor.              tado, oferecem serviços sociais, geralmente de caráter
                O poder de influência do terceiro setor é, como            assistencial, que atendem a um conjunto da socieda-
             se vê, importante, inclusive porque parte das mu-            de, maior que apenas os fundadores e/ou administra-
             danças e inovações sociais mais significativas dos            dores da organização. Assim, a esfera de sua atuação
             últimos tempos foram obtidas graças à criação e              é a esfera pública, embora não estatal. É importante
             militância de suas organizações.                             mencionar também, que nem todas as ONGs têm
                                                                          função pública direcionada à promoção do bem-
                                                                          estar social (educacionais, de tratamento de saúde,
             Principais características de uma OSCIP
                                                                          de assistência social aos pobres, científicas, culturais
                Organização da sociedade civil de interesse pú-
                                                                          etc.) e que apresentam diferentes graus de institucio-
             blico (OSCIP) é uma qualificação decorrente da Lei
                                                                          nalização. Há ONGs cuja função é única e exclusiva-
             no 9.790, de 23 de março de 99. Para entender me-
                                                                          mente atender aos interesses do seu grupo fundador
             lhor o assunto, é preciso esclarecer outra questão,
                                                                          e/ou administrador, como alguns sindicatos, as coo-
             em relação a outro termo, diretamente relacionado à
                                                                          perativas, as associações de seguro mútuo etc.
             OSCIP: as ONGs.
                                                                             Caracterizam-se, geralmente, por serem organi-
                Do mesmo modo que OSCIP, ONG (organização
                                                                          zações constituídas para fins não econômicos e fi-
             não governamental) é uma sigla, não um tipo espe-
                                                                          nalidade não lucrativa, na maioria com trabalho vo-
             cífico de organização.
                                                                          luntário e dependentes financeiramente, na maioria
                Não há no direito brasileiro, designação de ONG.          das vezes, de doações privadas e/ou estatais. Nada
             Não há uma espécie de sociedade chamada ONG                  impede, contudo, que tenham fins econômicos ou
             no Brasil, mas um reconhecimento supralegal, de              atividades de cunho econômico, mas cumpre saber
             cunho cultural, político e sociológico que está em           distingui-las das sociedades comerciais, cuja carac-
             vigor no mundo todo.                                         terística é ter atividade econômica, produzir lucro
                Há um entendimento social de que ONGs são                 e dividi-lo entre os sócios. Por isso, em sua maior
             entidades às quais as pessoas se vinculam por                parte, sua natureza é civil. Dessa forma, ONGs são,
             identificação pessoal com a causa que elas pro-              em geral, associações civis; sem fins lucrativos; de
             movem. Essas entidades, por natureza, não têm fi-            direito privado; de interesse público.
             nalidade lucrativa, mas uma finalidade maior, ge-               Resumindo: ONG não existe em nosso ordena-
             nericamente filantrópica, humanitária, de defesa             mento jurídico. É um fenômeno mundial, onde a
             de interesses da população e que, historicamente,            sociedade civil se organiza espontaneamente para
             deveriam ser objeto de atividade do poder públi-             a execução de certo tipo de atividade, cujo cunho,
             co. Destina-se a atividades de caráter eminente-             ou caráter, é de interesse público. A forma societária
             mente público, sendo a parcela da sociedade civil,           mais utilizada é a da associação civil (em contrapar-
             como um todo, que se organiza na defesa de seus              tida às organizações públicas e às organizações co-
             interesses coletivos. Dessa forma, distinguem-se             merciais). São regidas por estatutos, têm finalidade
             até de seus sócios e passam a fazer genericamente            não econômica e não lucrativa. Fundações também
             parte do patrimônio de toda a sociedade, às vezes,           podem vir a ser genericamente reconhecidas como
             no mundo inteiro.                                            ONGs.

                                                                    184


Modulo 01.indd 184                                                                                                              2/6/2009 12:16:00
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Educação sem fronteiras: serviço social

  • 1. Educação sem fronteiras SERVIÇO SOCIAL Autores Carmen Ferreira Barbosa Edilene Maria de Oliveira Araújo Edilene Xavier Rocha Garcia Eloísa Castro Berro Maria Massae Sakate Silvia Regina da Silva Costa 6 www.interativa.uniderp.br www.unianhanguera.edu.br Anhanguera Publicações Valinhos/SP, 2009 00_Abertura_SSocial_6Sem.indd 1 6/5/09 10:07:38 AM
  • 2. © 2009 Anhanguera Publicações Proibida a reprodução final ou parcial por qualquer meio de Ficha Catalográfica realizada pela Bibliotecária impressão, em forma idêntica, resumida ou modificada em língua Alessandra Karyne C. de Souza Neves – CRB 8/6640 portuguesa ou qualquer outro idioma. Impresso no Brasil 2009 S514 Serviço social / Carmen Ferreira Barbosa ...[et al.]. - Valinhos : Anhanguera Publicações, 2009. 240 p. - (Educação sem fronteiras ; 6) ISBN: 978-85-62280-55-9 1. Serviço social – Planejamento. 2. Serviço social – Administração. 3. Serviço social – Integração da assistência. I. Barbosa, Carmen Ferreira. II. Título. III. Série. ANHANGUERA EDUCACIONAL S.A. CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DE CAMPO GRANDE/MS CDD: 360 Presidente Prof. Antonio Carbonari Netto Diretor Acadêmico Prof. José Luis Poli Diretor Administrativo Adm. Marcos Lima Verde Guimarães Júnior ANHANGUERA PUBLICAÇÕES CAMPUS I Diretor Chanceler Prof. Diógenes da Silva Júnior Profa. Dra. Ana Maria Costa de Sousa Reitor Gerente Acadêmico Prof. Dr. Guilherme Marback Neto Prof. Adauto Damásio Vice-Reitor Gerente Administrativo Profa. Heloísa Helena Gianotti Pereira Prof. Cássio Alvarenga Netto Pró-Reitores Pró-Reitor Administrativo: Adm. Marcos Lima Verde Guimarães Júnior Pró-Reitora de Graduação: Profa. Heloisa Helena Gianotti Pereira Pró-Reitor de Extensão, Cultura e Desporto: Prof. Ivo Arcângelo Vendrúsculo Busato ANHANGUERA EDUCACIONAL S.A. UNIDERP INTERATIVA Diretor Prof. Dr. Ednilson Aparecido Guioti Coodernação Prof. Wilson Buzinaro COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA Profa. Terezinha Pereira Braz / Profa. Aparecida Lucinei Lopes Taveira Rizzo / Profa. Maria Massae Sakate / Profa. Adriana Amaral Flores Salles / Profa. Lúcia Helena Paula Canto (revisora) PROJETO DOS CURSOS Administração: Prof. Wilson Correa da Silva / Profa. Mônica Ferreira Satolani Ciências Contábeis: Prof. Ruberlei Bulgarelli Enfermagem: Profa. Cátia Cristina Valadão Martins / Profa. Roberta Machado Pereira Letras: Profa. Márcia Cristina Rocha Figliolini Pedagogia: Profa. Vivina Dias Sol Queiroz Serviço Social: Profa. Maria de Fátima Bregolato Rubira de Assis / Profa. Ana Lúcia Américo Antonio Tecnologia em Gestão e Marketing de Pequenas e Médias Empresas: Profa. Fabiana Annibal Faria de Oliveira Biazetto Tecnologia em Gestão e Serviço de Saúde: Profa. Irma Marcario Tecnologia em Logística: Prof. Jefferson Levy Espindola Dias Tecnologia em Marketing: Prof. Jefferson Levy Espindola Dias Tecnologia em Recursos Humanos: Prof. Jefferson Levy Espindola Dias 00_Abertura_SSocial_6Sem.indd 2 6/5/09 10:07:39 AM
  • 3. Nossa Missão, Nossos Valores _______________________________ A Anhanguera Educacional completa 15 anos em 2009. Desde sua fundação, buscou a ino- vação e o aprimoramento acadêmico em todas as suas ações e programas. É uma Instituição de Ensino Superior comprometida com a qualidade dos cursos que oferece e privilegia a preparação dos alunos para a realização de seus projetos de vida e sucesso no mercado de trabalho. A missão da Anhanguera Educacional é traduzida na capacitação dos alunos e estará sempre preocupada com o ensino superior voltado às necessidades do mercado de trabalho, à adminis- tração de recursos e ao atendimento aos alunos. Para manter esse compromisso com a melhor relação qualidade/custo, adotaram-se inovadores e modernos sistemas de gestão nas instituições de ensino. As unidades no Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Santa Catarina, São Paulo e Rio Grande do Sul preservam a missão e difundem os valores da Anhanguera. Atuando também no Ensino a Distância, a Anhanguera Educacional orgulha-se de poder es- tar presente, por meio do exemplar trabalho educacional da Uniderp Interativa, nos seus pólos espalhados por todo o Brasil. Boa aprendizagem e bons estudos! Prof. Antonio Carbonari Netto Presidente — Anhanguera Educacional 00_Abertura_SSocial_6Sem.indd 3 6/5/09 10:07:39 AM
  • 4. . 00_Abertura_SSocial_6Sem.indd 4 6/5/09 10:07:40 AM
  • 5. AULA 1 — A Base do Pensamento Econômico Apresentação ____________________ A Universidade Anhanguera/UNIDERP, ao longo de sua existência, prima pela excelência no desenvolvimento de seu sólido projeto institucional, concebido a partir de princípios modernos, arrojados, pluralistas, democráticos. Consolidada sobre patamares de qualidade, a Universidade conquistou credibilidade de par- ceiros e congêneres no país e no exterior. Em 2007, sua entidade mantenedora (CESUP) passou para o comando do Grupo Anhanguera Educacional, reconhecido pelo compromisso com a qualidade do ensino, pela forma moderna de gestão acadêmico-administrativa e pelos propósi- tos responsáveis em promover, cada vez mais, a inclusão e a ascensão social. Reconhecida pela ousadia de estar sempre na vanguarda, a Universidade impôs a si mais um desafio: o de implantar o sistema de ensino a distância. Com o propósito de levar oportunida- des de acesso ao ensino superior a comunidades distantes, implantou o Centro de Educação a Distância. Trata-se de uma proposta inovadora e bem-sucedida, que, em pouco tempo, saiu das frontei- ras do Estado do Mato Grosso do Sul e se expandiu para outras regiões do país, possibilitando o acesso ao ensino superior de uma enorme demanda populacional excluída. O Centro de Educação a Distância atua por meio de duas unidades operacionais: a Uniderp Interativa e a Faculdade Interativa Anhanguera(FIAN). Com os modelos alternativos ofereci- dos e respectivos pólos de apoio presencial de cada uma das unidades operacionais, localizados em diversas regiões do país e exterior, oferece cursos de graduação, pós-graduação e educação continuada, possibilitando, dessa forma, o atendimento de jovens e adultos com metodologias dinâmicas e inovadoras. Com muita determinação, o Grupo Anhanguera tem dado continuidade ao crescimento da Instituição e realizado inúmeras benfeitorias na estrutura organizacional e acadêmica, com re- flexos positivos nas práticas pedagógicas. Um exemplo é a implantação do Programa do Livro- Texto – PLT, que atende às necessidades didático-pedagógicas dos cursos de graduação, viabiliza a compra, pelos alunos, de livros a preços bem mais acessíveis do que os praticados no mercado e estimula-os a formar a própria biblioteca, promovendo, assim, a melhoria na qualidade de sua aprendizagem. É nesse ambiente de efervescente produção intelectual, de construção artístico-cultural, de formação de cidadãos competentes e críticos, que você, acadêmico(a), realizará os seus estudos, preparando-se para o exercício da profissão escolhida e uma vida mais plena na sociedade. Prof. Guilherme Marback Neto 00_Abertura_SSocial_6Sem.indd 5 6/5/09 10:07:40 AM
  • 6. 00_Abertura_SSocial_6Sem.indd 6 6/5/09 10:07:40 AM
  • 7. Autores ____________________ CARMEN FERREIRA BARBOSA Graduação: Serviço Social – Faculdades Unidas Católica de Mato Grosso – FUCMT – 1984 Especialização: Saúde da Família – Universidade Federal de MS – UFMS – 2003 Especialização: Metodologia de Ensino Superior – FUCMAT – 1992 Mestrado: Serviço Social – Universidade Estadual Paulista/UNESP e Universidade Católica Dom Bosco/UCDB – 2002 EDILENE MARIA DE OLIVEIRA ARAÚJO Graduação:Serviço Social – Faculdades Unidas Católica de Mato Grosso – FUCMT – 1986 Pós-graduação Latu sensu: Gestão de Iniciativas Sociais – Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ – 2002 Pós-graduação Lato Sensu: Formação de Formadores de em Educação de Jovens e Adultos – Universidade Nacional de Brasília – UNB – 2003 Pós-graduação Lato Sensu: Administração em Marketing e Comércio Exterior – UCDB – 1998 EDILENE XAVIER ROCHA GARCIA Graduação: Serviço Social – Faculdades Unidas Católica de Mato Grosso – FUCMT – 1988 Especialização: Gestão de Políticas Sócias – UNIDERP – 2003 Mestrado: Desenvolvimento Local – Universidade Unidas Católicas – UCDB MS – 2007 ELOÍSA CASTRO BERRO Graduação: Serviço Social – Faculdades Integradas de Marília – 1984 Especialização: Planejamento e Serviço Social – Faculdades Unidas Católica de Mato Grosso – FUCMT – 1998 Especialização: Metodologia de Ação do Serviço Social - Faculdades Unidas Católica de Mato Grosso – FUCMT – 1983 Mestrado: Serviço Social - Universidade Estadual Paulista/UNESP e Universidade Católica Dom Bosco/UCDB – 2002 00_Abertura_SSocial_6Sem.indd 7 6/5/09 10:07:40 AM
  • 8. MARIA MASSAE SAKATE Graduação: Matemática – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS, Campo Grande, MS – 1992 Especialização: Informática na Educação – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS, Campo Grande, MS – 1998 Mestrado: Educação – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS, Campo Grande, MS – 2003 SILVIA REGINA DA SILVA COSTA Graduação: Serviço Social – Universidade Católica Dom Bosco – UCDB – 2001 Especialização em Violência Doméstica Contra Criança e Adolescentes – Universidade de São Paulo – USP – 2004 Especialização: Políticas Sociais com Ênfase no Território e na Família – Universidade Católica Dom Bosco – UCDB – 2007 Mestrado em Educação – Universidade Estadual Paulista – UNESP – 2008 00_Abertura_SSocial_6Sem.indd 8 6/5/09 10:07:40 AM
  • 9. Sumário ____________________ MÓDULO – PLANEJAMENTO E ADMINISTRAÇÃO UNIDADE DIDÁTICA – ESTÁGIO SUPERVISIONADO III AULA 1 O estágio supervisionado III - o estágio como atividade integradora entre o saber e a ação ......... 3 AULA 2 A Intervenção em Serviço Social ........................................................................................................ 7 UNIDADE DIDÁTICA – PLANEJAMENTO DE INTERVENÇÕES SOCIAIS AULA 1 Planejamento em Serviço Social – conceitos e definições ................................................................ 14 AULA 2 A Administração no Serviço Social – contextualizações básicas ...................................................... 18 AULA 3 Gestão Social – aspectos importantes ................................................................................................ 23 AULA 4 Políticas, Planos, Programas e Projetos – Definições ........................................................................ 29 AULA 5 Papel do Gestor Social ........................................................................................................................ 32 AULA 6 O que é um projeto social? Implicações diretas na realidade atual .................................................. 36 AULA 7 Roteiro básico de um projeto social ................................................................................................... 40 AULA 8 Fases metodológicas e a instrumentalização do planejamento social .............................................. 47 AULA 9 Avaliação e monitoramento de projetos sociais ................................................................................ 54 AULA 10 O Sistema Único da Assistência Social (SUAS) e o planejamento na administração pública......... 60 UNIDADE DIDÁTICA – TRATAMENTO DE INFORMAÇÕES E OS INDICADORES SOCIAIS AULA 1 Noções de estatística descritiva – obtenção e organização de dados ................................................ 68 AULA 2 Representações dos dados por meio da tabela................................................................................... 76 AULA 3 Representações gráficas dos dados ..................................................................................................... 82 AULA 4 Aspectos conceituais: o que são indicadores e índices ...................................................................... 86 00_Abertura_SSocial_6Sem.indd 9 6/5/09 10:07:40 AM
  • 10. AULA 5 Sistema de indicadores: requisitos para a sua construção e produção ............................................. 90 AULA 6 Fontes de indicadores sociais .............................................................................................................. 94 AULA 7 Desenvolvimento humano ................................................................................................................. 100 AULA 8 Objetivos do Desenvolvimento do Milênio - ODM.......................................................................... 106 SEMINÁRIO INTEGRADO: PLANEJAMENTO E ADMINISTRAÇÃO .............................................. 115 MÓDULO – DESENVOLVIMENTO LOCAL E INTEGRAÇÃO DA ASSISTÊNCIA UNIDADE DIDÁTICA – DESENVOLVIMENTO LOCAL E TERRITORIALIZAÇÃO AULA 1 Desenvolvimento local: reflexões e conceitos .................................................................................... 119 AULA 2 Espaço, lugar e território .................................................................................................................... 125 AULA 3 Cultura e identidade ........................................................................................................................... 132 AULA 4 Capital social ....................................................................................................................................... 138 AULA 5 Potencialidade e comunidade ............................................................................................................. 146 AULA 6 Agentes do desenvolvimento local e dimensões metodológicas ....................................................... 150 AULA 7 Solidariedade e educação .................................................................................................................... 154 AULA 8 Cultura do desenvolvimento e desenvolvimento da cultura ............................................................ 160 UNIDADE DIDÁTICA – REDE SOCIOASSISTENCIAL AULA 1 O significado de redes no contexto do trabalho socioassistencial ................................................... 171 AULA 2 A filantropia no Brasil ......................................................................................................................... 175 AULA 3 Terceiro setor e suas diversas concepções .......................................................................................... 182 AULA 4 Movimentos sociais, ONGs e redes solidárias ................................................................................... 186 AULA 5 Marco legal das entidades que compõem a rede socioassistencial ................................................... 190 00_Abertura_SSocial_6Sem.indd 10 6/5/09 10:07:41 AM
  • 11. AULA 6 O Sistema Único de Assistência Social e a nova forma de gestão da assistência social: caráter público, protagonismo e avaliação do processo................................................................................ 197 AULA 7 Oficina 1: PEAS/2006 – Pesquisa das Entidades de Assistência Social Privadas sem Fins Lucrativos ................................................................................................................................... 208 AULA 8 Oficina 2: PEAS/2006 – Pesquisa das Entidades de Assistência Social Privadas sem Fins Lucrativos .................................................................................................................................... 215 SEMINÁRIO INTEGRADO: DESENVOLVIMENTO LOCAL E INTEGRAÇÃO DA ASSISTÊNCIA .................................................................................................................................... 227 00_Abertura_SSocial_6Sem.indd 11 6/5/09 10:07:41 AM
  • 12. Módulo DESENVOLVIMENTO LOCAL E INTEGRAÇÃO DA ASSISTÊNCIA Profa. Ma. Carmen Ferreira Barbosa Profa. Ma. Edilene Xavier Rocha Garcia 169 Modulo 01.indd 169 2/6/2009 12:15:59
  • 13. Unidade Didática — Desenvolvimento Local e Territorialização Apresentação Por que é fundamental para a(o) acadêmica(o) de Serviço Social a compreensão do significado de redes no contexto do trabalho socioassistencial? Porque é importante compreender o contexto das políticas sociais no Brasil que contratam e conveniam com serviços complementares através das redes de serviços não-gover- namentais e não apenas com serviços próprios e públicos. Além disso, o profissional de Serviço Social atua também nessas redes. Para a compreensão da temática de rede socioassistencial, é preciso, antes de tudo, recuperar o tema Filan- tropia e como este se desenvolveu no Brasil. Revisaremos também a questão do Terceiro Setor que é parte intrínseca da rede não-governamental, en- tretanto não nos deteremos em conceitos, mas na contextualização do Voluntariado em sua relação com o Terceiro Setor e a natureza deste nas ações que constituem a rede socioassistencial. É necessário ainda compreender o contexto sociopolítico dos movimentos sociais no período recente da his- tória do país, para que a (o) aluna (o) analise criticamente o processo de transformação dos movimentos sociais na atualidade e como esse fato introduziu mudanças no interior da rede não-governamental tradicional. A Constituição de 1988, no Art. 204, destacou a participação da sociedade civil, tanto na execução dos pro- gramas através das entidades beneficentes e de assistência social, bem como na participação, na formulação e no controle das ações, em todos os níveis. Entretanto, a gravidade dos problemas sociais brasileiros exige que o Estado assuma a primazia da responsabilidade em cada esfera de governo, na condução da política de Assistência Social. Para tanto, faz-se necessário apresentarmos às (aos) acadêmicas (os) a importância do SUAS para a construção da Rede e o papel do Estado na condução da Política de Assistência Social e da Rede, no compartilhamento da gestão. 170 Modulo 01.indd 170 2/6/2009 12:15:59
  • 14. AULA 1 — Desenvolvimento Local: Reflexões & Conceitos AULA ____________________ 1 Unidade Didática – Rede Socioassistencial O SIGNIFICADO DE REDES NO CONTEXTO DO TRABALHO SOCIOASSISTENCIAL Conteúdo • Contextos da rede de solidariedade. • Concepções de rede. • Características de rede. Competências e habilidades • Analisar o significado de redes no contexto do trabalho socioassistencial. • Interpretar as concepções de rede. • Caracterizar os diferentes significados de redes, contextualizando-as na contemporaneidade. Textos e atividades para autoestudo disponibilizados no Portal Verificar no Portal os textos e atividades disponibilizados na galeria da unidade. Duração 2 h/a – via satélite com o professor interativo 2 h/a – presenciais com o professor local 6 h/a – mínimo sugerido para autoestudo ! SAIBA MAIS! do lato) é empregado, não só como medo geral Homofobia: termo é um neologismo cria- (irracional ou não), mas também como aversão do pelo psicólogo George Weinberg, em 1971, ou repulsa em geral, qualquer que seja o motivo. numa obra impressa, combinando a palavra Algumas pessoas consideram que a homofobia grega phobos (fobia), com o prefixo homo-, é efetivamente uma forma de xenofobia na sua como remissão à palavra “homossexual”. definição estrita: medo a tudo o que seja consi- Phobos (grego) é medo em geral. Fobia seria derado estranho. Essa generalização é criticada um medo irracional (instintivo) de algo. Porém, porque o medo irracional pelo diferente não é, “fobia” nesse termo (tal como, para desespe- claramente, a única causa para o preconceito de ro dos linguístas, a palavra xenofobia no senti- homossexualidade, já que esse preconceito pode 171 Modulo 01.indd 171 2/6/2009 12:15:59
  • 15. Unidade Didática — Rede Socioassistencial assim como em favor do meio ambiente, entre ou- também provir de ensinamentos (religião, for- tras causas. Os movimentos de solidariedade são mas de governo etc.) ou ideologia (como em co- múltiplos e diversos, como aqueles que se destinam munidades machistas), por exemplo. Disponível a dar apoio às populações vítimas da fome, do de- em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Homofobia>. semprego, de secas ou inundações, de guerras civis, Etnia: uma etnia ou um grupo étnico é, no de discriminações sexuais, étnicas e religiosas, en- sentido mais amplo, uma comunidade humana tre outras. As formas de enfrentamento se dão com definida por afinidades linguísticas e culturais projetos de assistência social, educação popular, ge- e semelhanças genéticas. Essas comunidades ração de renda, construção de moradias populares, geralmente reivindicam para si uma estrutura de combate ao racismo, ao machismo, homofobis- social, política e um território. A palavra etnia mo. Também há redes de apoio a crianças em situa- é usada muitas vezes erroneamente como um ção de risco, de preservação do meio ambiente fi- eufemismo para raça, ou como um sinônimo nanciadas com verbas privadas e públicas. As verbas para grupo minoritário. Raça versus etnia. Em- originárias de fundo privado são financiadas com bora não possam ser considerados como iguais, recursos arrecadados por voluntários que apoiam o conceito de raça é associado ao de etnia. A uma ampla rede de organizações não governamen- diferença reside no fato de que etnia também tais e movimentos sociais no mundo. compreende os fatores culturais, como a nacio- Os serviços prestados são de caráter público por- nalidade, a afiliação tribal, a religião, o idioma que se destinam ao bem-viver: e as tradições, enquanto raça compreende ape- que é o exercício humano de dispor das mediações nas os fatores morfológicos, como cor de pele, materiais, políticas, educativas e informacionais constituição física, estatura, traço facial etc. não apenas para satisfazer eticamente necessidades Disponível em: <www.achetudoeregiao.com. biológicas e culturais de cada um, mas para garan- br/ATR/etnia.htm>. tir, eticamente, a realização de tudo o que possa ser concebido e desejado pela liberdade pessoal que não negue a liberdade pública e ao bem comum APRESENTAÇÃO (Mance, 1999, p. 17). Para você, acadêmico(a) de Serviço Social, é fun- E também se destinam ao bem comum. Na reta- damental a compreensão do significado de redes no guarda desse vasto rol de serviços e recursos está a contexto do trabalho socioassistencial. Por quê? O atuação de milhares de pessoas voluntárias de todo Serviço Social conta, em seu universo de trabalho, o mundo, mais especialmente do Primeiro Mundo, com as redes de políticas sociais para atuar. Espe- que disponibilizam uma pequena parcela de seus ga- cialmente na política de assistência social, conta nhos para financiar esses projetos ou dedicam parte com a rede socioassistencial, constituída de serviços de seu tempo para neles atuar, ou as duas formas. de atendimentos próprios, governamental e conve- Várias agências financiadoras vinculadas a igrejas, niado/parceria com os serviços não governamen- sindicatos e outras organizações sociais participam tais. desse movimento internacional de solidariedade aos mais pobres (Mance, 1999). CONTEXTOS DA REDE DE SOLIDARIEDADE Grande parcela da população, no mundo todo, CONCEPÇÕES mobiliza-se para atuar em favor de pessoas em si- O que o termo rede significa? Na visão de Mance tuações de fragilidades social, psicológica, cultural, (1999, p. 24), 172 Modulo 01.indd 172 2/6/2009 12:15:59
  • 16. AULA 1 — O Significado de Redes no Contexto do Trabalho Socioassistencial Trata-se de uma articulação entre diversas unidades da esfera pública não estatal, atuantes na área de que, através de certas ligações, trocam elementos en- alfabetização conectaram-se nacionalmente; Rede tre si, fortalecendo-se reciprocamente, e que podem de Economia Solidária referindo-se à articulação multiplicar-se em novas unidades, as quais, por sua de certas atividades de financiamento, produção e vez, fortalecem todo o conjunto na medida em que comércio; Rede de Movimento Feminino, em que são fortalecidas por ele, permitindo-lhe expandir-se a articulação entre todos os movimentos desse tipo em novas unidades ou manter-se em equilíbrio sus- fortaleça cada movimento em particular visando ao tentável. Cada nódulo da rede representa uma uni- surgimento de novos movimentos de mulheres, em dade e cada fio um canal por onde essas unidades se outras localidades, para combater o machismo e de- articulam através de diversos fluxos. fender os direitos das mulheres. Ainda, segundo Mance (1999, p. 48), a unidade Atualmente, o sentido de rede tem se ampliado básica da rede é a célula. O que permite às células se para a questão do enfoque em sua diversidade. Uma transformarem em uma rede é a interligação entre rede capaz de conectar a diversidade será capaz de estas, que possibilita enviar e receber fluxos mate- integrar, sobremaneira, ONGs, movimentos sociais, riais, informativos e de valor, assegurando a expan- organizações populares, associações etc. Por exem- são e aprimoramento da rede como um todo. plo: um movimento de mulheres, embora preocu- O que aparece em uma rede como único elemen- pado e lutando pelos objetivos específicos em defesa to constitutivo é o nó. Pouco importa as dimensões da mulher, também se preocupará e atuará na defesa de uma rede, uma vez que se pode aumentá-la ou dos direitos das crianças e adolescentes, das pessoas diminuí-la sem que perca suas características de com deficiência etc. trama. A trama não é definida por sua forma, por A rede de assistência produzida a partir do mo- seus limites extremos, mas por suas conexões, por delo científico é uma rede que separa os espaços seus pontos de convergência e de bifurcação. lucrativos e os não lucrativos, as ações individuais Exemplos de rede/trama/malha: redes neuronal e as coletivas. Até a década de 1980, no Brasil, as or- e imunológica; redes de informática e da comuni- ganizações que se fortaleceram foram aquelas que cação pela internet. Outras redes são as redes fer- apresentaram maior capacidade para incorporar roviária, rodoviária, aérea e marítima. Todas são equipamentos e algumas especialidades. exemplos de figuras que não são definidas por seus Na década de 1970, ocorre a cristalização de redes limites externos, mas por seus agenciamentos inter- de atendimento separadas, destituídas de mecanis- nos. Uma malha não pode ser caracterizada como mos de integração entre elas, privilegiando o setor um todo fechado dotado de superfície e contorno privado no que diz respeito à execução dos serviços. definidos, mas como uma totalidade aberta, sempre A rede de serviços próprios foi sendo subordinada capaz de proliferar, o que se daria por meio de seus às secretarias estaduais e, a partir da década de 1980, nós, suas tramas, suas conexões por todos os lados e consolidou-se uma rede sob a gestão do município, em todas as direções (Brasil, 2005, p. 105, 106-110). mas essa descentralização não significa aumento de autonomia desses serviços. CARACTERÍSTICAS DE REDE Diferentes aspectos técnicos assistenciais con- A terminologia rede tem vários sentidos no inte- vivem na rede socioassistencial. Esses aspectos de- rior da própria área de ONGs, movimentos sociais monstram diferentes desenhos organizativos. No entre outros. Inicialmente, a ideia de rede conec- Sistema Único da Assistência Social (SUAS), o con- tando-se grupos de um mesmo movimento social, ceito de territorialização é enfatizado e a percepção como por exemplo: Rede de Apoio à Ação Alfabe- de que a solução para os problemas da assistência tizadora no Brasil, em que entidades e movimentos social está nos locais de moradia e que demanda 173 Modulo 01.indd 173 2/6/2009 12:15:59
  • 17. Unidade Didática — Rede Socioassistencial educação, geração de renda, seguida da oferta de serviços na porta de entrada ao sistema de assis- * ANOTAÇÕES tência social, também conhecidos por Centro de Referência de Assistência Social (CRAS). A partir da porta de entrada, há um itinerário de serviço de complexidade crescente. Esse desenho investe no desenvolvimento de ha- bilidades para o trabalho em rede e sua expressão na organização da atenção é a estruturação da rede básica e dos processos de hierarquização por enca- minhamento e devolução à porta de entrada. Para uma configuração em rede, sob o comando único descentralizado, controle social e a integrali- dade na qualidade da atenção e nas formas de gestão, o SUAS precisa investir nas noções de acolhimento, responsabilidade e resolutividade. As formas como os processos de trabalho se estruturam e as formas de gestão precisam ser colocadas em análise na pro- dução da integralidade e do comando único por es- fera de governo sob controle social (Brasil, 2005). O financiamento solidário direcionado às unida- des produtivas existentes no Brasil surgiu a partir de programas governamentais visando encontrar pa- liativos frente ao desemprego, promovendo diferen- tes formas de mutirão e de empreendimentos, mas também por iniciativas de entidades internacionais, de cunho religioso ou assistencial que financiam projetos de geração de renda, de combate à fome e à miséria em comunidades pobres do Terceiro Mundo. Esse financiamento apoia as ONGs em suas lutas por direitos humanos, em defesa da mulher, de populações em situação de risco etc. Outros pro- gramas surgiram ainda da organização dos próprios movimentos sociais, como as cooperativas que en- volvem agricultores, apicultores e trabalhadores da construção civil, entre outras. Muitas são organi- zadas por iniciativas de grupos religiosos locais em diversas regiões. Contudo, uma grande parcela das atividades produtivas de economia informal, que sobrevive dependendo ou não de consumo solidá- rio, não dispõe de nenhuma forma estruturada de financiamento. Inúmeras organizações e atividades populares também sobrevivem graças a diversas formas de captação de recursos (Mance, 1999). 174 Modulo 01.indd 174 2/6/2009 12:15:59
  • 18. AULA 2 — A Filantropia no Brasil AULA ____________________ 2 Unidade Didática – Rede Socioassistencial A FILANTROPIA NO BRASIL Conteúdo • A história da filantropia no Brasil. • O passado recente – 1980 a 2000. • Qual o futuro da filantropia? • Características da filantropia. Competências e habilidades • Analisar sinteticamente a história da filantropia no Brasil. • Resgatar a história recente da filantropia no país. • Reunir alguns elementos de análise sobre o futuro da filantropia no Brasil. • Caracterizar a filantropia no contexto da assistência social pública e privada. Textos e atividades para autoestudo disponibilizados no Portal Verificar no Portal os textos e atividades disponibilizados na galeria da unidade. Duração 2 h/a – via satélite com o professor interativo 2 h/a – presenciais com o professor local 6 h/a – mínimo sugerido para autoestudo ! SAIBA MAIS! de degradação do povo latino-americano, nesse Teologia da libertação: o termo libertação foi sentido a libertação deve ser entendida como su- cunhado a partir da realidade cultural, social, peração de um processo de exclusão; já que esta econômica e política sob a qual se encontrava a é a consequência direta da relação norte/sul, em América Latina, a partir das décadas de 60/70 do que milhões de homens e mulheres empobrecem último século. Os teólogos desse período, cató- e se deterioram porque ficam à margem (excluí- licos e protestantes, assuiram a libertação como dos) do processo econômico e político norteado paradigma de todo fazer teológico. O quadro so- pelo capitalismo imposto pelos EUA e Europa. cial da América Latina no período originário da Dessa forma compete à teologia da libertação a teologia da libertação era de extrema pobreza e tarefa de discursar sobre Deus a partir da óptica de 175 Modulo 01.indd 175 2/6/2009 12:15:59
  • 19. Unidade Didática — Rede Socioassistencial um processo excludente e a partir da realidade social. Disponível em: <www.rts.org.br/rts/ concreta dos excluídos. O teólogo da liberta- tecnologia-social>. ção, portanto, deve ter esse duplo olhar: olhar Fundo patrimonial: é parte do patrimônio para Deus e olhar para o excluído. Disponível doado pelo instituidor de uma organização que em: <www.achegas.net/numero/dois/a_cabral. é investido para gerar receita. A ferramenta é htm>. utilizada para preservar os recursos originais Investimento social privado: investimento e, dessa forma, garantir a perpetuidade das ati- social privado é uma das várias facetas da res- vidades de uma organização. Disponível em: ponsabilidade social. Empresas cada vez mais <www.idis.org.br/acontece/noticias/criacao- têm investido recursos em projetos sociais e há de-fundos-patrimoniais-garante-sustentabili- uma maior demanda por resultados concretos. dade-de-organizacoes-do-terceiro-setor>. O investimento social privado é o uso voluntá- rio e planejado de recursos privados em pro- jetos de interesse público. Ao contrário do que muitos pensam, o investimento social privado não deve ser confundido com assistencialismo. Para início de conversa Disponível em: <www.responsabilidadesocial. Para a compreensão da temática de rede socioas- php?id=2>. sistencial é preciso, antes de tudo, recuperar o tema Responsabilidade social corporativa: as trans- filantropia e como ele desenvolveu-se no Brasil. formações socioeconômicas dos últimos 20 Ocorreram grandes transformações na filantro- anos têm afetado profundamente o compor- pia brasileira, ou investimento social privado, como tamento de empresas até então acostumadas à recentemente passou a ser chamada a filantropia no pura e exclusiva maximização do lucro. Se por Brasil, desde a democratização em meados dos anos um lado o setor privado tem cada vez mais lugar 1980. No futuro, quem sabe, se verá um tipo de fi- de destaque na criação de riqueza; por outro, é lantropia com capacidade de promover mudanças sabe-se bem que com grande poder, vem gran- transformadoras. de responsabilidade. Em função da capacidade Nesse percurso, precisa-se ir além da atual pre- criativa já existente, e dos recursos financeiros valência corporativa na filantropia brasileira e criar e humanos já disponíveis, empresas têm uma um ambiente jurídico e fiscal favorável. Será vital li- intrínseca responsabilidade social. A ideia de berar o potencial da filantropia individual e familiar responsabilidade social incorporada aos negó- para se encontrar os novos recursos necessários. cios é, portanto, relativamente recente. Com o surgimento de novas demandas e maior pressão BREVE HISTÓRICO DA FILANTROPIA NO BRASIL por transparência nos negócios, empresas se A história da filantropia no Brasil está vinculada veem forçadas a adotar uma postura mais res- à história da Igreja Católica. Desde o período colo- ponsável em suas ações. Disponível em: <www. nial quando sociedades católicas laicas, as chama- responsabilidadesocial.com/institucional/insti- das confrarias, fundaram organizações voluntárias, tucional_view.php?id=1>. como hospitais, orfanatos e asilos, patrocinados por Tecnologia social: compreende produtos, téc- fundos patrimoniais e doações. nicas e/ou metodologias reaplicáveis, desen- No Brasil, desde o século 18, a filantropia e a as- volvidas na interação com a comunidade e que sistência social associavam-se intimamente às práti- represente efetivas soluções de transformação cas de caridade no Brasil. Dependiam de iniciativas 176 Modulo 01.indd 176 2/6/2009 12:15:59
  • 20. AULA 2 — A Filantropia no Brasil voluntárias e isoladas de auxílio aos pobres e desva- combinando-se com programas governamentais e lidos da “sorte”. empresariais, em meio a transformações recentes Essas iniciativas partiam das instituições reli- nas articulações que visam à constituição de uma giosas que, sob o prisma da herança moral cristã, “sociedade civil”. dispensavam seus cuidados, oferecendo abrigos, O governo de Getúlio Vargas criou o Conselho roupas e alimentos, em especial às crianças abando- Nacional de Serviço Social, por intermédio do Mi- nadas, aos velhos e doentes em geral. nistério da Educação e Saúde, órgão estatal que atri- No período colonial, foram criadas sociedades buía parecer quanto à concessão de recursos esta- católicas laicas: confrarias. Estas fundaram orga- tais, sob a forma de subvenções, para entidades sem nizações voluntárias, como hospitais, orfanatos e fins lucrativos, criando assim a assistência pública asilos, patrocinados por fundos patrimoniais e doa- no início do século 20. ções. Exemplo: as Santas Casas de Misericórdia. O atendimento das consequências da pobreza e da miséria deixou de ser “caso de polícia” e assumiu, Na época da Independência do Brasil de Portu- no âmbito da moral privada, uma lógica conserva- gal, nos fins do século XIX, apareceram novos tipos dora da assistência social em sua versão filantrópica. de organizações voluntárias, de prestação de servi- A assistência social, por essa perspectiva, é tratada ço e ajuda mútua. Algumas eram associações pro- no âmbito da moral privada, e não da ética social e fissionais, científicas, além de organizações e redes pública, o que é um equívoco. trabalhistas. Os dirigentes, em uma lógica conservadora, mo- A forma laica no campo da assistência social no delam a atenção àqueles marcados pela destituição, Brasil deu-se no pós-república, tendo em vista a se- desapropriação e exclusão social, organizando ati- paração oficial entre o Estado e a Igreja. vidades, sob a égide do favor, do mais rico ao mais O Estado brasileiro sentiu necessidade de con- pobre, com a vinculação do reconhecimento da trolar mais essas organizações pelo poder que as bondade do doador pelo receptor. mesmas possuíam. No período de 1930, o controle O modelo conservador trata o Estado como e a participação do Estado nas atividades sem fins grande família, na qual as esposas de governantes, lucrativos aumentaram através de leis do trabalho, as primeiras-damas, é que cuidam dos “coitados”. O regulamentações e subsídios, e a sua independên- paradigma é do não direito. cia foi ainda mais prejudicada pela ditadura mili- Instituições assistenciais, cadastradas no Conse- tar instalada no Brasil em 1964. O abuso de poder e lho Nacional de Assistência Social (CNAS), devem violação dos direitos humanos ocorridos durante o prestar serviços sociais sob forma de ações de assis- período militar provocou a reação da Igreja Católi- tência social, saúde, educação e cultura cujo registro ca. A CNBB e teólogos da teologia da libertação cria- no conselho se dá a partir de 1943, com a Lei n.º ram uma rede de apoio aos cidadãos e incentivaram 1.493 de 1951, utilizada até criação do órgão que o as associações civis. Foi esse fenômeno que criou a sucedeu, a partir da Lei Orgânica da Assistência So- base tanto para o Estado democrático quanto para cial em 1993. o desenvolvimento do assim chamado terceiro setor As regulamentações posteriores trouxeram isen- moderno, inclusive das organizações filantrópicas ção previdenciária para entidades definidas como (Lessa e Rossetti, 2006). filantrópicas. A certificação de enquadramento A história “submersa” da “caridade” no Brasil, que concedia acesso à isenção previdenciária defi- donativo personalizado, baseado em valores cris- nia a natureza das entidades filantrópicas aos cri- tãos e centrados em relações de reciprocidade e térios. contábeis e jurídicos. Disponível em: <www. redes religiosas, emerge adquirindo visibilidade e espacoacademico.com.br/086/86escorsim.htm>. 177 Modulo 01.indd 177 2/6/2009 12:15:59
  • 21. Unidade Didática — Rede Socioassistencial HISTÓRIA RECENTE DA FILANTROPIA NO PAÍS tornando-as parceiras na construção de uma socie- A filantropia no Brasil obteve um grande desen- dade justa e sustentável. Esse instituto foi decisivo volvimento a partir de 1985, após a ditadura do go- para transformar o setor nessa nova ordem demo- verno militar. Surgiram, dessa forma, novos agentes crática. sociais, até mesmo do mundo dos negócios que se Os movimentos de responsabilidade social cor- engajaram em áreas tão diversas quanto meio am- porativa do Brasil são os mais dinâmicos do mundo biente e direitos das crianças e dos adolescentes. e a sua multiplicação no país influenciou o ambien- Nos anos 1990 novas organizações sociais, cultu- te filantrópico. Outro aspecto do fortalecimento do rais e ambientais investidoras começaram a surgir. terceiro setor no Brasil foi o controle da inflação, Em 1991, o Brasil enfrentou um escândalo de cor- na década de 1990. Por quase duas décadas, os altos rupção na Legião Brasileira de Assistência (LBA) e índices da inflação prejudicaram a economia brasi- a primeira-dama foi responsabilizada. Isso fez com leira e, a capacidade de doação e a filantropia, assim que o conceito de filantropia ganhasse uma conota- como outras atividades sem fins lucrativos, flores- ção negativa junto à sociedade brasileira. ceram. O setor sem fins lucrativos no Brasil cres- Um grupo de pessoas e entidades do setor da fi- ceu duas vezes e meia entre 1996 e 2002, com 275 lantropia escreveu um documento que foi um có- mil organizações gerando aproximadamente 1,5 digo de ética e revelava a necessidade de se livrar milhão de empregos. Esse número inclui todos os da imagem negativa que a filantropia clássica havia tipos de organizações em fins lucrativos, e o GIFE adquirido. No fim da década, o “investimento social (a mais importante rede de associados de investi- privado” foi adotado como conceito central. Atual- mento social privado da América Latina, compre- mente, isso se define como “a doação voluntária de endendo mais de 90 organizações, que praticam o recursos privados, de forma planejada, monitorada investimento social privado no Brasil) estima que e sistemática para projetos sociais, educacionais, existam hoje aproximadamente 300 organizações ambientais e culturais de interesse público” (Grupo dedicadas ao investimento social privado (Lessa e de Institutos, Fundações e Empresas – GIFE, 2006). Rossetti, 2006). A década de 1990 foi decisiva para o desenvolvi- Os desafios enfrentados pelo Brasil significam que mento do setor. Em 1992, a Conferência das Nações existe uma necessidade enorme de fortalecer a capa- Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento cidade transformadora do setor sem fins lucrativos Sustentável, realizada no Rio, articulou diversas en- e, especificamente, do setor filantrópico. O Brasil, tidades do setor consolidando redes como a Asso- com uma população de 175 milhões de habitantes e ciação Brasileira de ONGs (ABONG), enquanto a um produto nacional bruto de US$ 452,4 bilhões, é Campanha Nacional de Combate à Fome realizou a o maior, mais rico e mais populoso país da América coordenação e integração de esforços da sociedade Latina. Mas, é também um país com uma distribui- civil por uma causa pública. O período neoliberal, ção de renda extremamente desigual, em que 10% com a abertura da economia para o mercado mun- da população possuem 50% da renda, e 50% dos dial, fortaleceu o setor empresarial. mais pobres possuem apenas 10% da renda. Criado em 1998 por um grupo de empresários e Esse desafio central recai sobre toda a socieda- executivos, o Instituto Ethos de Empresas e Respon- de, mas o setor filantrópico é ainda mais cobrado, sabilidade Social é uma organização sem fins lucra- talvez por sua capacidade de mobilizar agentes de tivos, caracterizada como organização da sociedade transformação e de patrocinar a transformação. civil de interesse público (OSCIP) empenhada em O desafio atual é a possibilidade de parceria entre mobilizar, sensibilizar e ajudar as empresas a gerir o público e o privado, ou seja, a formação de víncu- seus negócios de forma socialmente responsável lo entre essas organizações e o poder público estatal 178 Modulo 01.indd 178 2/6/2009 12:16:00
  • 22. AULA 2 — A Filantropia no Brasil para o fomento e execução de atividades de interes- empresarial tenha trazido para o setor sem fins lu- se público, sujeitas ao controle social. crativos, em geral, a dinâmica da administração em- presarial e tenha sido essencial para a mudança do Características paradigma de filantropia como caridade, feita pela O Estado brasileiro reconhece as entidades filan- Igreja-Estado, de cima para baixo, ela inoculou no trópicas, regulamenta seus fins sociais e cooperação setor filantrópico/de investimento social privado financeira. Através de isenções de impostos, em par- um forte aspecto empresarial, que frequentemente ticular previdenciários, subvencionou organizações significa que a fronteira entre investimento social privadas que executavam políticas públicas, exigin- privado e responsabilidade social corporativa não é do-se em contrapartida a gratuidade de atendimen- claramente definida. Isso levou o setor filantrópico a to para a população pobre. não ter consciência de si mesmo como setor e a não A Constituição de 1988 promove a isenção da compreensão desses dois conceitos pela sociedade. contribuição previdenciária às entidades classifica- Além disso, mesmo com a crescente sofisticação das como filantrópicas em que diversas normatiza- das estratégias de mudança introduzidas por essas ções infraconstitucionais seguiram regulamentando organizações, muito pouco dos recursos por elas in- as ações para a obtenção de certificação de entida- vestidos chegam aos principais agentes de mudança, des de fins filantrópicos. que ainda precisam buscar financiamento em ou- Ocorre impropriedade na denominação filantro- tras fontes. De acordo com a Associação Brasileira pia para entidades que requerem do poder públi- de Organizações Não Governamentais (ABONG), co o financiamento, uma vez que são co-executo- apenas 4,9% dos seus membros receberam recursos ras de políticas públicas. Ao serem indevidamente de organizações de origem empresarial. classificadas como filantrópicas, sem demonstrar Enquanto são concedidos benefícios fiscais a o mérito de ação assistencial, reiteraram a cultura grandes empresas para investimento na área so- clientelística e da tutela ao revés da concepção do cial, cultural e outras, quase não existem incentivos direito fundamentado numa política pública, uni- fiscais para a filantropia individual, familiar ou de versal, descentralizada e participativa (GOMES, uma comunidade. No Brasil, praticam doações, tan- 1999). Disponível em: <www.espacoacademico. to as organizações com receitas relevantes advindas com.br/086/86escorsim.htm>. de programas de associados como o percentual da Uma das características essenciais do setor filan- população envolvido no voluntariado. Seria viável trópico atual do Brasil e uma das barreiras ao seu sugerir que tais doações aumentariam se houvesse desenvolvimento é a grande influência das orga- incentivos fiscais. nizações originárias do setor empresarial, a maio- A falta de incentivos fiscais também significa que ria delas fundada depois de 1990. Elas canalizam a não há necessidade de declarar as doações para o maioria de seus recursos para programas desenha- imposto de renda e, portanto, não existe uma ma- dos e operados internamente. Os recursos para a neira oficial de registrar a filantropia individual. atividade filantrópica vêm da empresa mãe e de- Assim, embora a motivação principal da filantro- pendem dos seus lucros anuais. Muitas vezes, as or- pia individual não sejam os incentivos fiscais, esses ganizações de origem empresarial buscam recursos poderiam produzir informações que ajudariam a de outras empresas e de fundações internacionais entender o comportamento filantrópico individual para seus programas e atividades, e competem pelos e, dessa maneira, influenciar o desenvolvimento do recursos existentes. Pouquíssimas fundações têm setor. fundos patrimoniais e poucas repassam recursos. Outro impedimento ao investimento social Embora a influência dessas organizações de origem privado é o ambiente fiscal e jurídico para a filan- 179 Modulo 01.indd 179 2/6/2009 12:16:00
  • 23. Unidade Didática — Rede Socioassistencial tropia não ter acompanhado o ritmo das grandes (organizações populares, empreendedores sociais), transformações da sociedade civil e do setor em- movimentos sociais e parceiros de alianças e pactos presarial do Brasil, nas últimas duas décadas. Exis- intersetoriais. tem apenas dois tipos de estrutura fiscal possíveis O conceito de filantropia/investimento social pri- para as organizações sem fins lucrativos – associa- vado perdeu a imagem negativa e é visto claramente ções e fundações. como um setor específico da sociedade civil, dife- As associações são regidas por assembleias gerais rente da responsabilidade social corporativa e das que se reúnem em torno de um objetivo específi- ONGs do movimento social. Existem muitos tipos co, e as fundações são regidas por conselhos, cuja diferentes de organizações que refletem diferentes missão principal é perpetuar os fundos ou outros gêneses, partícipes e valores. A maior estabilidade e ativos a elas doados. Enquanto as fundações estão longevidade das organizações do movimento social sujeitas ao controle do governo, as associações só resultam não apenas em maior capacidade de inves- precisam apresentar uma declaração anual de isen- timento, mas também em maior flexibilidade, mais ção de impostos. Pela simplicidade e porque mui- ousadia e inovação ao investir. Finalmente, o enga- tas empresas não estão preparadas para imobilizar jamento de organizações filantrópicas em parcerias, ativos para suas atividades de investimento social alianças e pactos nacionais dá a elas uma visão mais privado, a maior parte das novas organizações do ampla de seu papel na sociedade, além de assegurar Brasil adotou a estrutura fiscal de associação. Como o seu compromisso mais efetivo com o enfrenta- não foi desenhada para o investimento social priva- mento dos desafios com que o país se depara. do, a estrutura de associação pode não atender às necessidades específicas do setor e pode atrapalhar CONCLUINDO o seu desenvolvimento. O ambiente filantrópico no Brasil ainda está se adaptando ao novo papel da sociedade civil na trans- E O FUTURO DA FILANTROPIA? formação. Apesar de a filantropia/investimento social No futuro, antevemos vários tipos de organiza- privado ter superado sua identidade tradicional vin- ções filantrópicas, operacionais e repassadoras de culada ao Estado, sua natureza e cultura ainda não recursos coexistindo, aprendendo umas com as ou- estão completamente definidas e entendidas. É neces- tras em redes nacionais e internacionais do setor e sária mais pesquisa para esclarecer a diferença entre participando de debates públicos e fóruns sociais. filantropia/investimento social privado e responsabi- As organizações filantrópicas/de investimento social lidade social corporativa. Essa distinção não apenas têm grande capacidade de mobilizar e desembolsar definirá mais claramente as necessidades e o rumo do recursos locais. Existe uma predominância de inves- setor, mas também dará mais visibilidade a algumas timento das organizações repassadoras de recursos das boas tecnologias sociais que foram desenvolvi- em organizações que promovem mudanças sociais das pelas organizações de origem empresarial. É im- estratégicas em oposição à atual prevalência de or- portante também que as organizações filantrópicas/ ganizações que operam seus próprios programas de investimento social desenvolvam estruturas mais sociais. sustentáveis, mediante fundos patrimoniais para ga- As organizações e as redes filantrópicas/de inves- rantir recursos em longo prazo e, assim, um maior timento social mantêm-se atentas para detectar e impacto para os seus programas e atividades. identificar os principais agentes de mudança social. É importante também explorar o potencial da A sua sensibilidade deve-se ao conjunto diversifi- filantropia individual e familiar. Embora existam cado de partícipes envolvidos na prática filantrópi- indicações claras de que os brasileiros investem em ca: doadores, funcionários, tomadores de recursos empreendimentos sociais, é necessária uma maior 180 Modulo 01.indd 180 2/6/2009 12:16:00
  • 24. AULA 2 — A Filantropia no Brasil compreensão da dinâmica das doações individuais até mesmo organizações operacionais de origem e familiares, bem como o estímulo ao fenômeno e empresarial. Incentivos a doações precisam ser cria- sua modernização. O recente surgimento de novas dos para estimular a doação individual e familiar. organizações e novos fundos de origem familiar é Várias organizações e um influxo de novos tipos de um avanço promissor. recursos para o setor vão propiciar a diversidade e O ambiente fiscal e jurídico no Brasil precisa ser fortalecer o futuro da filantropia no Brasil. desenvolvido. É necessário criar novos tipos de es- As fundações e as agências de desenvolvimento trutura organizacional sem fins lucrativos que pos- internacionais podem ter um papel em promover sam atender melhor às características das organiza- a filantropia no Brasil como estratégia de mudan- ções a que se destinam: repassadoras de recursos, ça social, tanto através de investimentos quanto do fundações comunitárias, fundos de justiça social e diálogo e do intercâmbio internacionais. * ANOTAÇÕES 181 Modulo 01.indd 181 2/6/2009 12:16:00
  • 25. Unidade Didática — Rede Socioassistencial AULA ____________________ 3 Unidade Didática – Rede Socioassistencial TERCEIRO SETOR E SUAS DIVERSAS CONCEPÇÕES Conteúdo • Caracterização de voluntariado em sua relação com o terceiro setor. • Terceiro setor e o contexto das ações que constituem a rede socioassistencial. • Significado de OSCIP no contexto do terceiro setor. Competências e habilidades • Compreender o significado de voluntariado. • Analisar o fenômeno do terceiro setor, contextualizando-o. • Coletar informações sobre as OSCIPs. Textos e atividades para autoestudo disponibilizados no Portal Verificar no Portal os textos e atividades disponibilizados na galeria da unidade. Duração 2 h/a – via satélite com o professor interativo 2 h/a – presenciais com o professor local 6 h/a – mínimo sugerido para autoestudo ! SAIBA MAIS! APRESENTAÇÃO Na Unidade Didática: Terceiro Setor e Serviço Produto interno bruto (PIB): representa a Social, no 5o semestre, vocês alunos, tiveram uma soma (em valores monetários) de todos os bens primeira abordagem sobre a emergência do terceiro e serviços finais produzidos numa determina- setor e sua história. A questão da rede socioassis- da região (quer sejam, países, estados, cidades), tencial, entretanto, constituída de serviços de aten- durante um período determinado (mês, trimes- dimento próprios, governamental e conveniado/ tre, ano etc.). O PIB é um dos indicadores mais parceria com os serviços nãogovernamentais, exige utilizados na macroeconomia com o objetivo a análise detalhada com foco na contextualização do de mensurar a atividade econômica de uma re- voluntariado em sua relação com o terceiro setor e gião. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/ wiki/Produto_interno_bruto>. o contexto deste, nas ações que constituem a rede socioassistencial. 182 Modulo 01.indd 182 2/6/2009 12:16:00
  • 26. AULA 3 — Terceiro Setor e suas Diversas Concepções O VOLUNTÁRIO É O PRINCIPAL PERSONAGEM em: <www.voluntarios.com.br/oque_e_voluntaria- DO TERCEIRO SETOR do.htm>. Em recente estudo realizado na Fundação ABRINQ pelos Direitos da Criança, definiu-se o vo- O TERCEIRO SETOR E SUAS PRÁTICAS luntário como ator social e agente de transformação, O terceiro setor é apoiado por recursos finan- que presta serviços não remunerados em benefício ceiros, privados e públicos, e por equipes de pro- da comunidade; doa seu tempo e conhecimentos, fissionais escolhidos não por suas ideologias, mas em trabalhos gerados pela energia de seu impulso por suas experiências de trabalho. É constituído por solidário, atendendo tanto às necessidades do próxi- organizações sem fins lucrativos e não governamen- mo ou aos imperativos de uma causa, como às suas tais que têm como objetivo gerar serviços de cará- próprias motivações pessoais, sejam estas de caráter ter público, diferentemente do primeiro setor que religioso, cultural, filosófico, político, emocional. corresponde à emanação da vontade popular, pelo Quando nos referimos ao voluntário contempo- voto, que confere o poder ao governo e do segundo râneo, engajado, participante e consciente, diferen- setor que corresponde à livre iniciativa, que opera o ciamos também o seu grau de comprometimento: mercado usando o lucro como instrumento. ações mais permanentes, que implicam maiores O terceiro setor corresponde às instituições com compromissos, requerem um determinado tipo de preocupações e práticas sociais, sem fins lucrativos, voluntário, e podem levá-lo inclusive a uma pro- que geram bens e serviços de caráter público, tais fissionalização voluntária. Existem também ações como: ONGs, instituições religiosas, clubes de servi- pontuais, esporádicas, que mobilizam outro perfil ços, entidades beneficentes, centros sociais, organiza- de indivíduos. ções de voluntariado etc. As fundações e organizações Ao analisar os motivos que se mobilizam em do terceiro setor são articuladas por empresas, ban- direção ao trabalho voluntário, descobrem-se, en- cos, redes do comércio e da indústria, ou por artistas tre outros, dois componentes fundamentais: o de famosos, que passaram a realizar os projetos junto à cunho pessoal, a doação de tempo e esforço como população, nas parcerias com o Estado. resposta a uma inquietação e o social, a tomada de Seria enganoso achar que somente o primeiro consciência dos problemas da realidade, o que leva e o segundo setores operam com dinheiro, como à luta por um ideal ou ao comprometimento com se o terceiro setor pudesse renunciar a esse instru- uma causa. mento. O que caracteriza cada setor em face dos Altruísmo e solidariedade são valores morais so- recursos financeiros: primeiro setor – dinheiro pú- cialmente constituídos, vistos como virtude do in- blico para fins públicos; segundo setor – dinhei- divíduo. Do ponto de vista religioso, acredita-se que ro privado para fins privados; terceiro setor – di- a prática do bem salva a alma. Em uma perspectiva nheiro privado para fins públicos (nada impede, social e política, pressupõe-se que a prática de tais todavia, que o poder público destine verbas para o valores zelará pela manutenção da ordem social e terceiro setor, pois é seu dever promover a solida- pelo progresso do homem. A caridade (forte he- riedade social). Esse setor movimenta mais de US$ rança cultural e religiosa), reforçada pelo ideal, as 1 trilhão por ano, o que o coloca na posição de crenças, os sistemas de valores, e o compromisso oitava economia mundial, se comparado ao PIB, com determinadas causas são componentes vitais das nações mais ricas. do engajamento. Mas o terceiro setor não trabalha unicamente Não se deve esquecer, contudo, o potencial trans- com recursos pecuniários. Faz parte integrante da formador que essas atitudes apresentam para o cres- sua concepção a prática de valores, que motivam os cimento interior do próprio indivíduo. Disponível indivíduos a buscarem melhoria na própria vida e 183 Modulo 01.indd 183 2/6/2009 12:16:00
  • 27. Unidade Didática — Rede Socioassistencial na do próximo, o esmero das qualidades ou virtudes A sigla ONG, então, expressa genericamente o sociais, o aprimoramento das aptidões e habilidades conjunto de organizações do terceiro setor tais como profissionais, o amadurecimento da cidadania. Vo- associações, cooperativas, fundações, institutos etc. luntariado, iniciativas beneficentes, cooperativismo, Por serem não governamentais, considera-se que independência, humanismo, subsidiariedade, par- essas organizações normalmente exercem alguma tilha etc. são diversos nomes com os quais muitas função pública, isto é, embora não pertençam ao Es- vezes designamos as práticas do terceiro setor. tado, oferecem serviços sociais, geralmente de caráter O poder de influência do terceiro setor é, como assistencial, que atendem a um conjunto da socieda- se vê, importante, inclusive porque parte das mu- de, maior que apenas os fundadores e/ou administra- danças e inovações sociais mais significativas dos dores da organização. Assim, a esfera de sua atuação últimos tempos foram obtidas graças à criação e é a esfera pública, embora não estatal. É importante militância de suas organizações. mencionar também, que nem todas as ONGs têm função pública direcionada à promoção do bem- estar social (educacionais, de tratamento de saúde, Principais características de uma OSCIP de assistência social aos pobres, científicas, culturais Organização da sociedade civil de interesse pú- etc.) e que apresentam diferentes graus de institucio- blico (OSCIP) é uma qualificação decorrente da Lei nalização. Há ONGs cuja função é única e exclusiva- no 9.790, de 23 de março de 99. Para entender me- mente atender aos interesses do seu grupo fundador lhor o assunto, é preciso esclarecer outra questão, e/ou administrador, como alguns sindicatos, as coo- em relação a outro termo, diretamente relacionado à perativas, as associações de seguro mútuo etc. OSCIP: as ONGs. Caracterizam-se, geralmente, por serem organi- Do mesmo modo que OSCIP, ONG (organização zações constituídas para fins não econômicos e fi- não governamental) é uma sigla, não um tipo espe- nalidade não lucrativa, na maioria com trabalho vo- cífico de organização. luntário e dependentes financeiramente, na maioria Não há no direito brasileiro, designação de ONG. das vezes, de doações privadas e/ou estatais. Nada Não há uma espécie de sociedade chamada ONG impede, contudo, que tenham fins econômicos ou no Brasil, mas um reconhecimento supralegal, de atividades de cunho econômico, mas cumpre saber cunho cultural, político e sociológico que está em distingui-las das sociedades comerciais, cuja carac- vigor no mundo todo. terística é ter atividade econômica, produzir lucro Há um entendimento social de que ONGs são e dividi-lo entre os sócios. Por isso, em sua maior entidades às quais as pessoas se vinculam por parte, sua natureza é civil. Dessa forma, ONGs são, identificação pessoal com a causa que elas pro- em geral, associações civis; sem fins lucrativos; de movem. Essas entidades, por natureza, não têm fi- direito privado; de interesse público. nalidade lucrativa, mas uma finalidade maior, ge- Resumindo: ONG não existe em nosso ordena- nericamente filantrópica, humanitária, de defesa mento jurídico. É um fenômeno mundial, onde a de interesses da população e que, historicamente, sociedade civil se organiza espontaneamente para deveriam ser objeto de atividade do poder públi- a execução de certo tipo de atividade, cujo cunho, co. Destina-se a atividades de caráter eminente- ou caráter, é de interesse público. A forma societária mente público, sendo a parcela da sociedade civil, mais utilizada é a da associação civil (em contrapar- como um todo, que se organiza na defesa de seus tida às organizações públicas e às organizações co- interesses coletivos. Dessa forma, distinguem-se merciais). São regidas por estatutos, têm finalidade até de seus sócios e passam a fazer genericamente não econômica e não lucrativa. Fundações também parte do patrimônio de toda a sociedade, às vezes, podem vir a ser genericamente reconhecidas como no mundo inteiro. ONGs. 184 Modulo 01.indd 184 2/6/2009 12:16:00