SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 135
Baixar para ler offline
Abate Humanitário
de Suínos
WSPA – Sociedade Mundial de Proteção Animal
Av. Princesa Isabel, 323 / 8º andar • Copacabana
Rio de Janeiro • CEP 22011-901 • RJ
T: +55 (21) 3820-8200 F: +55 (21) 3820-8229
E: wspabrasil@wspabr.org W: www.wspabrasil.org
ONG inscrita no CNPJ sob o número 01.004.691/0001-64
www.abatehumanitario.org
Para mais informações e
atualizações consulte nosso site:
www.abatehumanitario.org
A WSPA – Sociedade Mundial de Proteção
Animal elaborou e patrocinou a produção
do material de apoio, incluindo livros e DVDs,
do Programa Nacional de Abate Humanitário
Embora seus autores tenham trabalhado
com as melhores informações disponíveis,
não devem ser responsabilizados por
perdas, danos ou injúrias de qualquer tipo,
sofridas direta ou indiretamente, em relação
às informações nas quais este material
foi baseado.
REALIZAÇÃO:
APOIO:
A WSPA agradece a todos que
disponibilizaram imagens para este livro:
Aos frigoríficos:
Seara Alimentos S/A – SIF 490
Tyson do Brasil Alimentos Ltda – SIF 3742
Penasul Alimentos Ltda – SIF 544
Perdigão Agroindustrial S/A – SIF 466
ABATE HUMANITÁRIO DE SUÍNOS
CHARLI BEATRIZ LUDTKE
JOSÉ RODOLFO PANIM CIOCCA
TATIANE DANDIN
PATRÍCIA CRUZ BARBALHO
JULIANA ANDRADE VILELA
OSMAR ANTONIO DALLA COSTA
SOCIEDADE MUNDIAL DE PROTEÇÃO ANIMAL – WSPA BRASIL
RIO DE JANEIRO / RJ
Projeto gráfico: LCM Comunicação Ltda.
Ilustração: Animal-i e Anderson Micael Dandin
Revisão: Adaumir Rodrigues Castro, Verônica T. Gonçalves, Nanci do Carmo, Patrycia Sato
e Anna Paula Freitas
Partes deste manual foram elaboradas com a colaboração de Miriam Parker e Josephine Rodgers,
integrantes da Animal-i.
Animal-i Ltda.: 103 Main Road, Wilby, Northants, NN8 2UB, UK
W: http://www.animal-i.com/index.cfm
® Todos os direitos reservados
WSPA – Sociedade Mundial de Proteção Animal:
Av. Princesa Isabel, 323 / 8º andar • Copacabana • Rio de Janeiro • CEP 22011-901 • RJ
T: +55 (21) 3820-8200 F: +55 (21) 3820-8229 E: wspabrasil@wspabr.org W: www.wspabrasil.org
CNPJ sob o número 01.004.691/0001-64
A119
Abate humanitário de suínos /
Charli Beatriz Ludtke ... [et al.]. –
Rio de Janeiro : WSPA, 2010
132 p. : il.
ISBN: 978-85-63814-00-5
1. Suínos. 2. Abate humanitário-suínos. 3. Carne-qualidade. I. Ludtke,
Charli Beatriz. II. Ciocca, José Rodolfo Panim. III. Dandin, Tatiane. IV. Barbalho,
Patrícia Cruz. V. Vilela, Juliana Andrade. VI. Dalla Costa, O.A. VII. Título.
CDU 637.512:636.4
Ficha catalográfica elaborada pela Seção Técnica de Aquisição e Tratamento da Informação –
Serviço Técnico de Biblioteca e Documentação – UNESP, Campus de Jaboticabal.
SUMÁRIO
Apresentação............................................................................................................................. 7
Conceitos de bem-estar animal............................................................................................... 9
Introdução........................................................................................................................... 9
Comitê Brambell ................................................................................................................. 11
Definições de bem-estar animal ......................................................................................... 11
As cinco liberdades............................................................................................................. 12
Capacitação e treinamento ...................................................................................................... 13
Introdução........................................................................................................................... 13
Liderança eficaz.................................................................................................................. 13
Etapas do processo de treinamento................................................................................... 14
Motivação do funcionário ................................................................................................... 15
Capacitação e valorização das pessoas............................................................................. 16
Comportamento dos suínos..................................................................................................... 17
Introdução........................................................................................................................... 17
Comportamento dos suínos ............................................................................................... 17
Características sensoriais dos suínos................................................................................. 18
Visão ........................................................................................................................... 19
Olfato .......................................................................................................................... 20
Audição e comunicação ............................................................................................. 20
Comportamento aprendido................................................................................................. 20
Manejo pré-abate...................................................................................................................... 23
Introdução........................................................................................................................... 23
Os animais e o nível de atividade ....................................................................................... 24
A zona de fuga .................................................................................................................... 25
Ponto de equilíbrio.............................................................................................................. 26
Pessoas e animais .............................................................................................................. 26
Auxílios para o manejo........................................................................................................ 27
Conforto térmico ....................................................................................................................... 31
Introdução........................................................................................................................... 31
Princípios da termorregulação............................................................................................ 31
Mecanismos de troca de calor............................................................................................ 32
Radiação..................................................................................................................... 32
Condução ................................................................................................................... 33
Convecção.................................................................................................................. 33
Evaporação................................................................................................................. 34
SUMÁRIO
Troca de calor ..................................................................................................................... 34
Temperatura e conforto – zona termoneutra....................................................................... 35
Estresse térmico pelo frio ................................................................................................... 37
Estresse térmico pelo calor................................................................................................. 37
Recomendações para manejar suínos ofegantes e cansados ........................................... 38
Zona termoneutra na área de descanso no frigorífico........................................................ 38
Influência dos sistemas de nebulização na área de descanso................................... 38
Manutenção dos nebulizadores.................................................................................. 39
Área de descanso...................................................................................................................... 41
Introdução........................................................................................................................... 41
Tempo de descanso X hidratação ...................................................................................... 41
Estresse X tempo de descanso .......................................................................................... 42
Tempo de jejum .......................................................................................................... 42
Tempo de jejum X período de descanso no frigorífico ............................................... 43
Fornecimento de água durante o descanso....................................................................... 43
Espaço nas baias de descanso .......................................................................................... 44
Separação e mistura de lotes ............................................................................................. 45
Separação................................................................................................................... 45
Mistura de lotes .......................................................................................................... 45
Redução do estresse térmico pelo calor ............................................................................ 46
Estrutura da área de descanso................................................................................................ 47
Introdução........................................................................................................................... 47
Características da instalação na área de descanso ........................................................... 48
Rampa de desembarque ............................................................................................ 48
Desembarcando os suínos ......................................................................................... 49
Piso da área de descanso .......................................................................................... 49
Corredores da área de descanso ............................................................................... 50
Cantos e curvas.......................................................................................................... 50
Disposição das baias de descanso............................................................................ 50
Iluminação................................................................................................................... 52
Ruídos......................................................................................................................... 52
Sistemas de manejo para insensibilização elétrica............................................................. 53
Baia coletiva (sem contenção).................................................................................... 53
Restrainer (com contenção)........................................................................................ 53
Restrainer............................................................................................................................ 55
Modelo de restrainer em “V”....................................................................................... 55
Modelo de restrainer “Midas”..................................................................................... 56
SUMÁRIO
Insensibilização elétrica de dois pontos – eletronarcose ..................................................... 57
Introdução........................................................................................................................... 57
Como funciona?.................................................................................................................. 57
Princípios elétricos.............................................................................................................. 58
Resistência.......................................................................................................................... 59
Parâmetros do equipamento .............................................................................................. 60
Frequência .......................................................................................................................... 60
Tipos de insensibilização elétrica ....................................................................................... 61
Posicionamento do eletrodo............................................................................................... 61
Monitoramento da insensibilização ................................................................................... 63
Sinais de uma má insensibilização ..................................................................................... 66
Insensibilização elétrica de três pontos – eletrocussão........................................................ 67
Introdução........................................................................................................................... 67
Como funciona?.................................................................................................................. 67
Fibrilação ventricular cardíaca ............................................................................................ 68
Parâmetros do equipamento .............................................................................................. 68
Monitoramento do equipamento ........................................................................................ 68
Posicionamento dos eletrodos ........................................................................................... 69
Monitoramento da eletrocussão ......................................................................................... 70
Sinais de uma má insensibilização ..................................................................................... 70
Sangria .................................................................................................................................... 73
Introdução........................................................................................................................... 73
Equipamento de emergência .............................................................................................. 73
Perda de sangue e morte.................................................................................................... 74
Procedimento para realização da sangria........................................................................... 76
Condição física.......................................................................................................................... 77
Introdução........................................................................................................................... 77
Manejo dos suínos no embarque........................................................................................ 77
Cuidados durante o transporte dos suínos ........................................................................ 78
Manejo dos suínos no desembarque.................................................................................. 79
Baias de sequestro ou observação..................................................................................... 81
Inspeção ante mortem ........................................................................................................ 82
Procedimentos para abate emergencial ............................................................................. 84
Insensibilização elétrica.............................................................................................. 84
Insensibilização mecânica por pistola de dardo cativo penetrante............................ 84
Monitoramento da insensibilização mecânica............................................................ 86
SUMÁRIO
Estresse e qualidade da carne................................................................................................. 89
Introdução........................................................................................................................... 89
Estresse............................................................................................................................... 89
Formas de avaliações do estresse...................................................................................... 90
Qualidade da carne............................................................................................................. 90
Fatores que podem influenciar a qualidade da carne......................................................... 91
Metabolismo muscular post mortem e a qualidade da carne ............................................ 92
Curva de pH da carne......................................................................................................... 93
Defeitos da carne suína ...................................................................................................... 94
DFD............................................................................................................................. 94
PSE ............................................................................................................................. 95
Avaliações físico-químicas.................................................................................................. 97
Avaliação do pH.......................................................................................................... 97
Análise da cor ............................................................................................................. 97
Perda por exsudação (drip loss) ................................................................................. 99
Métodos de controle de qualidade da carne...................................................................... 100
Auditoria de bem-estar animal............................................................................................ 101
Avaliação visual................................................................................................................... 110
Escoriações na carcaça.............................................................................................. 110
Hematoma, contusão e fratura................................................................................... 112
Petéquias (salpicamento)............................................................................................ 116
Referências ............................................................................................................................... 119
Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps 7
APRESENTAÇÃO
A WSPA – Sociedade Mundial de Proteção Animal (World Society for the Protection of Animals) constatou
a necessidade de elaborar e implantar o Programa “Steps” para proporcionar melhorias no bem-estar dos
animais de produção.
Depois da intensificação da produção animal, as pessoas perderam parte da sensibilidade e conheci-
mento prático em relação aos animais. Esse Programa tem a intenção de resgatar a sensibilidade das
pessoas, enfatizando a importância de evitar o sofrimento desnecessário.
Este livro é parte do material didático elaborado pelo Steps para a formação dos multiplicadores que irão
atuar na rotina de trabalho e proporcionar um melhor tratamento para os animais. Embora o manejo pa-
reça algo simples, é necessário o conhecimento sobre os animais, como eles interagem com o ambiente
e como as instalações e equipamentos podem proporcionar recursos que auxiliem o manejo calmo e
eficiente, reduzindo o estresse tanto para as pessoas como para os animais.
Esta edição traz informações práticas, com embasamento científico e linguagem acessível, aplicáveis à
realidade brasileira. Certamente será uma ferramenta valiosa para contribuir na elaboração dos planos de
bem-estar animal nas agroindústrias e na formação de futuros profissionais que atuarão na área, além de
fornecer conhecimentos que favorecem o manejo, através de melhorias nas instalações e equipamentos.
Outra seção de relevância discute os procedimentos de insensibilização e emergência para animais im-
possibilitados de andar.
A implantação de programas de bem-estar animal nas agroindústrias é uma ferramenta essencial para
minimizar riscos, melhorar o ambiente de trabalho, incrementar a produtividade e atender às exigências
de mercados internacionais e da legislação brasileira. Além de reduzir as perdas de qualidade do produto
final, contribuirá para diminuir a ocorrência de hematomas, contusões e lesões.
Esperamos que este livro seja interessante, útil e informativo.
Charli B. Ludtke
Gerente de Animais de Produção
WSPA Brasil
8 Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps
Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps 9
CONCEITOS DE
BEM-ESTAR ANIMAL
 INTRODUÇÃO
A preocupação com o bem-estar animal no manejo pré-abate iniciou-se na Europa no século XVI. Há
relatos de que os animais deveriam ser alimentados, hidratados e descansados antes do abate e que re-
cebiam um golpe na cabeça que os deixava inconscientes, antes que fosse efetuada a sangria, evitando
sofrimento. A primeira Lei geral sobre bem-estar animal surgiu no ano de 1822, na Grã Bretanha.
No Brasil, há décadas já existe lei que sustenta a obrigatoriedade de atenção ao bem-estar animal e a
aplicação de penalidades a quem infringi-la. A primeira legislação brasileira que trata desse assunto é o
Decreto Lei número 24.645 de julho de 1934.
Com o decorrer dos anos foram surgindo novas legisla-
ções para assegurar, entre outras finalidades, o cumpri-
mento das normas de bem-estar animal, como o Regu-
lamento de Inspeção Industrial e Sanitária dos Produtos
de Origem Animal (RIISPOA) conforme o Decreto nº
30.691, de 29 de março de 1952, sendo algumas nor-
mas específicas para cada espécie, como a Portaria nº
711 de 01 de novembro de 1995, que aprova as Normas
Técnicas de Instalações e Equipamentos para Abate e
Industrialização de Suínos.
As mais recentes legislações brasileiras sobre o bem-
estar animal são: Instrução Normativa nº 3, de janeiro
de 2000, que é um Regulamento Técnico de Métodos de
Insensibilização para o Abate Humanitário de Animais de Açougue e o Ofício Circular n° 12, de março de
2010, que estabelece adaptações da Circular 176/2005, na qual se atribui responsabilidade aos fiscais fede-
rais para a verificação no local e documental do bem-estar animal através de planilhas oficiais padronizadas.
Em março de 2008, foi instituída pelo Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), através
da Portaria n° 185, a Comissão Técnica Permanente do MAPA para estudos específicos sobre bem-estar
animal nas diferentes cadeias pecuárias. Coordenada pela Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário
e Cooperativismo (SDC), e composta por membros da SDC, Secretarias de Defesa Agropecuária (SDA),
Secretaria de Relações Internacionais (SRI) e pela Consultoria Jurídica do MAPA. O objetivo da Comissão
é fomentar o bem-estar animal no Brasil, buscando estabelecer normas e legislações de acordo com as
demandas. A primeira publicação da Comissão foi a Normativa n° 56, de 06 de novembro de 2008, que
estabelece os procedimentos gerais de Recomendações de Boas Práticas de Bem-estar para Animais de
Produção e de Interesse Econômico – REBEM, abrangendo os sistemas de produção e o transporte.
Sistemas de criação que visam ao bem-estar animal
Imagem: Steps
10 Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps
Com base na atualização do RIISPOA, os procedimentos de bem-estar animal devem ser atendidos e
respeitados por todos os estabelecimentos processadores de carne. Os frigoríficos são obrigados a ado-
tar técnicas de bem-estar animal, aplicando ações que visem proteção dos animais, a
fim de evitar maus tratos desde o embarque na propriedade até o momento do abate;
devem dispor de instalações próximas ao local de origem dos animais para recepção e
acomodação, com o objetivo de minimizar o estresse após o desembarque.
As infrações ao RIISPOA, bem como a desobediência ou inobservância aos preceitos
de bem-estar animal dispostos nele acarretará, conforme sua gravidade, advertência e
multa ou até suspensão de atividades do estabelecimento.
O Brasil, por ser um país exportador, é signatário da OIE (Organização Mundial de Saúde Animal), aten-
dendo as diretrizes internacionais de abate humanitário. Essas recomendações abordam a necessidade
de assegurar que os animais de produção não sofram durante o período de pré-abate e abate, envolven-
do os seguintes itens:
• Os animais devem ser transportados apenas se estiverem em boas condições físicas;
• Os manejadores devem compreender o comportamento dos animais;
• Animais machucados ou sem condições de moverem-se devem ser abatidos de forma humanitária
imediatamente;
• Os animais não devem ser forçados a andar além da sua capacidade natural, a fim de se evitar quedas
e escorregões;
• Não é permitido o uso de objetos que possam causar dor ou injúrias aos animais;
• O uso de bastões elétricos só deve ser permitido em casos extremos e quando o animal tiver clareza
do caminho a seguir;
• Animais conscientes não podem ser arrastados ou forçados a moverem-se caso não estejam em boas
condições físicas;
• No transporte, os veículos deverão estar em bom estado de conservação e com adequação da densidade;
• A contenção dos animais não deve provocar pressão e barulhos excessivos;
• O ambiente da área de descanso deve apresentar piso bem drenado e ser bem iluminado, respeitando
o comportamento natural dos animais;
• No momento da espera no frigorífico, deve-se supri-los com suas necessidades básicas como forne-
cimento de água, espaço, condições favoráveis de conforto térmico;
Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária dos Produtos de Origem Animal (RIISPOA)
Imagem: Steps
Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps 11
• O abate deverá ser realizado de forma humanitária, com equipamentos adequados para cada espécie;
• Equipamento de emergência para insensibilização deve estar disponível para em caso de falha do
primeiro método.
 COMITÊ BRAMBELL
Os primeiros princípios sobre bem-estar animal começaram a ser estudados em 1965 por um comitê
formado por pesquisadores e profissionais relacionados à agricultura e pecuária do Reino Unido, denomi-
nado Comitê Brambell, iniciando-se, assim, um estudo mais aprofundado sobre conceitos e definições
de bem-estar animal. Esse Comitê constituiu uma resposta à pressão da população, indignada com os
maus tratos dados aos animais em sistemas de confinamento, denunciados no livro “Animal Machines”
(Animais Máquinas), publicado pela jornalista inglesa Ruth Harrison em 1964.
O sistema intensivo de produção de animais teve início após a Segunda Guerra Mundial, quando houve
grande escassez de alimentos na Europa e o modelo de produção industrial em larga escala e em série
atingiu todos os setores, inclusive o pecuário.
 DEFINIÇÕES DE BEM-ESTAR ANIMAL
A primeira definição elaborada sobre bem-estar pelo Comitê foi: “Bem-estar é um termo amplo, que
abrange tanto o estado físico quanto o mental do animal. Por isso, qualquer tentativa para avaliar o nível
de bem-estar em que os animais se encontram deve levar em conta a evidência científica existente rela-
tiva aos sentimentos dos animais. Essa evidência deverá descrever e compreender a estrutura, função e
formas comportamentais que expressam o que o animal sente.” Essa
definição, pela primeira vez na história, fez uma referência aos senti-
mentos dos animais.
Posteriormente, surgiram várias definições sobre o tema bem-es-
tar, como a de Barry O. Hughes em 1976: “É um estado de com-
pleta saúde física e mental, em que o animal está em harmonia
com o ambiente que o rodeia”. No entanto, a definição mais utiliza-
da é a de Donald M. Broom (1986): “O estado de um indivíduo du-
rante suas tentativas de se ajustar ao ambiente”. Nessa definição,
bem-estar significa “estado” ou “qualidade de vida”, que pode variar
entre muito bom e muito ruim. Um animal pode não conseguir, apesar
de várias tentativas, ajustar-se ao ambiente e, portanto, ter um bem-
estar ruim, por exemplo, um suíno com hipertermia por não conseguir
se adaptar a um ambiente com alta temperatura e umidade.
Expressão do comportamento
normal do suíno
Imagem: Steps
12 Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps
 AS CINCO LIBERDADES
Para avaliar o bem-estar dos animais é necessário que sejam mensuradas diferentes variáveis que inter-
ferem na vida dos animais. Para isso, o Comitê Brambell desenvolveu o conceito das “Cinco Liberdades”,
que foram aprimoradas pelo Farm Animal Welfare Council – FAWC (Conselho de Bem-estar na Produção
Animal) do Reino Unido e têm sido adotadas mundialmente.
O bem-estar do animal é o resultado da somatória de cada liberdade mensurada, para avaliar de forma
abrangente todos os fatores que interferem na qualidade de vida do animal.
É crescente a preocupação dos consumidores com a forma como os animais são criados, transportados
e abatidos, pressionando a indústria ao desafio de um novo paradigma: trate com cuidado, por respeitar
a capacidade de sentir dos animais (senciência), melhorando não só a qualidade intrínseca dos produtos
de origem animal, mas também a qualidade ética.
Os princípios básicos que devem ser observados para atender à
qualidade ética no manejo pré-abate são:
• Métodos de manejo pré-abate e instalações que reduzam o es-
tresse;
• Equipe treinada e capacitada, comprometida, atenta e cuidado-
sa no manejo dos suínos;
• Equipamentos apropriados, devidamente ajustados à espécie e
situação a serem utilizados e com manutenção periódica;
• Processo eficaz de insensibilização que induza à imediata perda da consciência e sensibilidade, de
modo que não haja recuperação, e consequentemente não haja sofrimento até a morte do animal.
Portanto, para o programa de bem-estar ser efetivo no manejo pré-abate, é necessário que todas as
pessoas envolvidas no processo; gerência, fiscalização, fomento, transportadores, garantia da qualidade,
manutenção, manejadores e consumidores, estejam comprometidas.
Expressão do comportamento natural
dos suínos ao ar livre
Imagem: Steps
As Cinco Liberdades são
• Livre de sede, fome e má-nutrição;
• Livre de desconforto;
• Livre de dor, injúria e doença;
• Livre para expressar seu comportamento normal;
• Livre de medo e diestresse.*
* Diestresse: Estresse negativo, intenso, ao qual o suíno não consegue se adaptar, tornando-se
causa de sofrimento.
Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps 13
 INTRODUÇÃO
Capacitar pessoas para o manejo com os animais é o fator de maior impacto positivo para o bem-estar
em frigoríficos. Quando se fornece aos colaboradores informações, recursos e procedimentos adequados
para esse serviço há uma consequente mudança de conduta, favorecendo os animais e atingindo níveis
mais elevados na qualidade da carne.
A falta de recursos disponíveis aos colaboradores no ambiente de trabalho é um dos maiores obstáculos
para o sucesso de um treinamento, o que dificulta muitas vezes as mudanças positivas almejadas no
manejo dos animais.
É difícil manter um alto padrão no serviço quando se trabalha num ambiente quente, sem acesso a água
e sob cansaço. Problemas como esses no ambiente de trabalho, em que o bem-estar humano está
comprometido, são facilmente transmitidos, em forma de violência ou descuido aos animais. É esperado
que a escassez ou ausência de recursos proporcione um manejo inadequado.
Quando mencionamos recursos, não nos referimos apenas à
infra-estrutura, mas a tudo que envolve o ambiente de tra-
balho, cuja saúde deve ser preservada. O maior provedor
dessa condição reside na função do líder.
Para ser um líder não basta ter um cargo de dirigente, como
gerente ou supervisor; a liderança abrange uma conduta oti-
mizada dessas funções, com fortes traços de sinergia. Pes-
soas que assumiram a responsabilidade de guiar outras pes-
soas, valorizando as diferenças e unindo a ação de todas as
partes para um resultado significativamente melhor.
 LIDERANÇA EFICAZ
Os líderes desempenham um papel-chave na gestão de pessoas dentro de um frigorífico. Eles fornecem
conhecimento, motivação e a confiança necessária para estimular os colaboradores a encarar o trabalho
com entusiasmo e seriedade.
A motivação incorpora ações destinadas a reconhecer e incentivar as pessoas envolvidas no processo
pré-abate, especialmente as mais empenhadas e/ou mais contributivas para o sucesso da mudança,
providência que deve ser adotada no dia a dia de trabalho.
Treinamento sobre abate humanitário –
utilização de prancha para manejar os suínos
CAPACITAÇÃO E
TREINAMENTO
Imagem: Steps
14 Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps
Ser bom ouvinte e ótimo observador auxilia na descoberta de manejadores que se destacam não só pelo
trabalho correto, mas também pelo poder de influência que estes exercem sobre os demais colegas para
aderir as boas práticas. A adesão dessas pessoas às novas práticas acelera a aceitação pelos demais
funcionários ao treinamento.
A comunicação clara entre líderes e colaboradores é importante para o esclarecimento das necessida-
des e dificuldades de cada parte, para que possam ser discutidas e então solucionadas. Funcionários
satisfeitos realizam suas tarefas com alto rendimento, o que por sua vez leva a um manejo mais eficaz.
Dinâmica de grupo e treinamento prático – Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps
 ETAPAS DO PROCESSO DE TREINAMENTO
Há várias etapas que descrevem um processo de treinamento; dentre elas estão a difusão de conheci-
mento, a melhoria na capacidade de desenvolver a atividade e a transformação da forma de pensar dos
colaboradores, o que resulta numa mudança direta na conduta do pessoal.
Imagem: Steps Imagem: Steps
Características de um líder
• Tem autocontrole;
• Inova;
• Desenvolve;
• Tem humildade e firmeza em suas colocações;
• Focaliza as pessoas;
• Inspira confiança, é sincero e esclarece mal-entendidos;
• Motiva, trata a todos como pessoas importantes, sabe dar atenção, supre as necessidades
dos colaboradores;
• Observa;
• Tem perspectiva de longo prazo e determinação, persistindo em suas escolhas;
• Pergunta o quê e por quê;
• É original e autêntico;
• Faz as coisas certas;
• Não guarda ressentimento.
Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps 15
Durante a etapa de difusão de conhecimentos, ao se fornecer informações sobre os animais, é necessária
a modificação na forma de perceber os animais pelos colaboradores, não apenas como um produto
de valor comercial, mas sim como seres sencientes, ou seja, com capacidade de sofrer, sentir dor, pra-
zer, satisfação. Essa modificação de conceito em relação aos animais é fundamental para a mudança de
atitude no treinamento dos funcionários.
 MOTIVAÇÃO DO FUNCIONÁRIO
Estar motivado para executar um serviço é essencial para que o trabalho seja realizado de uma forma pro-
dutiva e eficiente. Segundo Abraham Maslow, há uma hierarquia nas necessidades humanas que, quando
atendidas, motivam fortemente as pessoas, por favorecerem seu bem-estar:
1. Necessidades fisiológicas – conforto térmico, ginástica laboral, bebedouros próximos, local
para descanso, período de trabalho razoável, rodízio de função, intervalos adequados para per-
mitir o acesso ao refeitório e alimentação, melhoria do ambiente de trabalho (música, cor, luz);
2. Necessidades de segurança – boa remuneração, estabilidade de emprego, condições seguras
de trabalho (instalações e equipamentos apropriados), equipamentos de proteção individual (pro-
tetor auricular, luvas de aço, botas, entre outros), ambulatório;
3. Necessidades sociais – boas interações com os super-
visores, gerentes, amizade dos colegas, ser aceito pelo
grupo, confraternizações (festas, gincanas);
4. Necessidades de estima – reconhecimento, responsa-
bilidade por resultados, incentivos financeiros (bonifica-
ções, brindes), não trocar funcionários de setores sem
antes desenvolver treinamento;
5. Necessidades de auto-realização – criação de grupos
para resolução de problemas do setor, participação nas
discussões e decisões, trabalho criativo, desafiante, au-
tonomia.
O fornecimento de recursos que supram essas necessidades é de grande importância para um bom re-
sultado no manejo. Pesquisas relataram o aumento no uso do bastão elétrico para conduzir animais em
frigoríficos no decorrer do dia, comprovando diminuição na qualidade desse serviço, o que possivelmente
está associado ao cansaço dos funcionários e ao aumento da temperatura ambiente. Outro fator que
compromete o manejo está na valorização da pressa no serviço. Quanto maior a velocidade da linha de
abate, maior a dificuldade em manter um bom manejo.
Há várias formas de motivar os colaboradores, como por exemplo, um acréscimo salarial em forma de
bônus, equivalente à redução de hematomas, contusões, fraturas, repercute positivamente na qualidade
do serviço, promovendo uma ação mais cuidadosa no manejo.
Área de descanso e lazer favorecendo o
bem-estar dos funcionários
Imagem: Steps
16 Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps
O inverso também gera resultados, quando há penalidade no pagamento de produtores ou motoristas
que transportam suínos com grande incidência de lesões e mortalidade.
Outro modo de motivação está na atuação do líder em acreditar na capacidade de evolução de cada um
de seus subordinados. Essa ação produz um efeito profundo na mudança de sua equipe, além de inte-
gração e confiança.
No entanto, pesquisadores como a Dra. Temple Grandin relatam que grande parte das modificações no
manejo, conquistadas pelo treinamento, não se sustentam por longo prazo. Há uma tendência de os co-
laboradores retornarem sua antiga forma de trabalhar quando não há um sistema de monitoramento e
incentivos internos do frigorífico. Daí a necessidade de programas dentro das empresas que assumam a
responsabilidade com a manutenção de um manejo atento às características e necessidades dos animais.
 CAPACITAÇÃO E VALORIZAÇÃO DAS PESSOAS
Contudo, sabe-se que o treinamento de pessoas para adoção de um manejo não violento, que respeite o
comportamento e favoreça o bem-estar do animal envolve uma reformulação de conceitos e atitudes,
estando o seu sucesso diretamente dependente dos investimentos ligados à motivação das pessoas
envolvidas no manejo. Essa dinâmica funciona como uma forma de transferência de recursos.
No entanto, vê-se em alguns frigoríficos a transferência de pessoas com pouca ou nenhuma qualificação
para a chamada “área suja”, que é a etapa que necessita de maior atenção e cuidado por manejar direta-
mente os animais vivos. Além disso, quando ocorre a substituição de um funcionário por outro, de setor
distinto, sem treinamento para o manejo dos animais, desvaloriza-se a capacitação e não há o reconhe-
cimento das habilidades dos funcionários.
Quando valorizamos o trabalho dessas pessoas, seja qual for a forma de incremento nesse serviço, elas
transferem aos animais, através de suas condutas, o mesmo acréscimo de atenção e cuidado. Essa é
uma mudança verdadeira e pode ser atingida através de um processo efetivo de treinamento.
Equipes de frigorífico capacitadas para realizar o manejo implementando as práticas de bem-estar animal
Imagem: Steps Imagem: Steps
Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps 17
COMPORTAMENTO
DOS SUÍNOS
 INTRODUÇÃO
O manejo no frigorífico exerce grande influência no bem-estar dos animais. Se um sistema de abate não
for acompanhado por uma boa prática de manejo, haverá um desafio significativo para a preservação de
um bom nível de bem-estar dos animais.
É fundamental conhecer o comportamento dos suínos para ter-
mos habilidade em reconhecer sinais de estresse e dor e manejá-
los de forma eficaz no pré-abate, para que haja um equilíbrio
entre a produção ética e a rentabilidade econômica.
É necessário conhecer as relações dos suínos com o ambiente
de produção e as suas necessidades para poder proporcionar,
nas instalações e no manejo, os recursos que promovam melho-
rias no bem-estar.
 COMPORTAMENTO DOS SUÍNOS
Tudo o que os animais fazem, como andar, olhar, comer, agrupar-se, brigar, fugir, entre tantos outros compor-
tamentos, contribui para sua sobrevivência. Vários são os fatores que influenciam o modo de agir dos animais:
• Comportamento inato – Reações pré-programadas, o suíno já nasce com potencial de expressá-las,
não dependem de experiências e são típicas da espécie;
• Comportamento aprendido – Depende de experiências vividas por cada suíno, provém de vivências
individuais.
Os suínos são onívoros, alimentam-se de grama, raízes, frutas e sementes e adaptam sua dieta à dispo-
nibilidade de alimentos. Possuem dentes e mandíbulas fortes para morder, podendo ser predadores, mas
também presas. Passam, em média, 19 horas por dia deitados, 5 horas dormindo e apenas de 1 a 3 horas
alimentando-se. Diariamente, suínos entre 50 a 150kg ingerem em torno de 5 a 10 litros de água, podendo
variar de acordo com o animal, fatores ambientais, dieta.
São animais sociais, vivendo normalmente em grupos de 2 a 6 fêmeas, que têm um relacionamento pró-
ximo de suas leitegadas. Machos têm tendência de viverem isolados a maior parte do tempo ou formando
grupos com outros machos.
Comportamento natural dos suínos em
sistema de criação ao ar livre (SISCAL)
Imagem: Steps
18 Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps
Os suínos devem ser conduzidos sempre em grupo, respeitando a característica de serem gregários.
Quando isolados tendem a mudar seu comportamento e suas reações, tornando-se mais agitados ou até
agressivos, pois é extremamente estressante para eles serem separados de seu grupo. Para que se tenha
maior domínio sobre esses animais, recomenda-se que sejam manejados em pequenos grupos.
Cada grupo estabelece uma condição hierárquica ou organização social. A hierarquia é imposta através
de disputas entre os animais e a força é determinante para estabelecer essa ordem de dominância. Com
isso, explica-se o fato de que a mistura de lotes de animais desconhecidos leva à luta e ao estabeleci-
mento de uma nova posição hierárquica entre os animais recém-conhecidos, podendo levar vários dias
para que essa hierarquia seja restabelecida.
 CARACTERÍSTICAS SENSORIAIS DOS SUÍNOS
Suínos dependem principalmente dos sentidos visão, olfato e audição para avaliar estímulos e, assim,
responder a diferentes situações, como mudanças no ambiente e ameaças; por exemplo, ao se depara-
rem com um barulho repentino sua primeira reação é evitá-lo, ou seja, fugir. Após avaliar a situação, se
não for perigosa, o suíno perderá o interesse.
Fêmeas com suas leitegadas em sistema de criação ao ar livre (SISCAL)
Olfato, audição e visão, os três principais órgãos dos sentidos utilizados pelos suínos para avaliar estímulos
Imagem: Steps Imagem: Steps
Imagem: Steps Imagem: Steps Imagem: Steps
Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps 19
Em situações de alerta, tendem a se agrupar, podendo liberar feromônios através da urina, saliva e outras
vias, alertando os demais sobre a situação estressante em que se encontram; os demais responderão
com medo a esses sinais, podendo dificultar o manejo.
Visão
Os olhos dos suínos estão localizados nas laterais da cabeça, têm visão binocular, monocular e a área
cega. Eles têm boa visualização de cores, mas pouca percepção de profundidade. Têm boa visão notur-
na que ajuda na detecção de movimentos. Para facilitar o manejo, deve-se manter uniformidade de cor
(paredes e pisos) nas áreas de grande circulação dos animais.
Com a visão binocular, enxergam bem com os dois olhos em
uma faixa estreita a sua frente, de onde têm a percepção de
profundidade e clareza. Se o suíno precisar ver algo clara-
mente, é necessário que esteja diretamente à sua frente. É
por esse motivo que viram ou abaixam a cabeça para encarar
o manejador, objetos ou variações no ambiente. A altura do
desembarcadouro, da entrada do caminhão ou um ralo no
corredor do frigorífico são exemplos de alterações no piso
que fazem com que os suínos utilizem a visão binocular.
A visão monocular é ampla e panorâmica, podendo che-
gar a 310 graus à sua volta, dependendo da posição das
orelhas. Por isso, são capazes de detectar movimentos
mesmo quando estão com a cabeça baixa, fuçando ou
escavando. Nesta visão lateral, projetada por cada olho
independentemente, não há noção de profundidade e os
suínos só enxergam nitidamente se posicionarem a cabe-
ça em direção à imagem que querem detectar, utilizando a
visão binocular.
A área cega está localizada diretamente atrás dos suínos
e em uma pequena área logo a frente do focinho de onde
não conseguem enxergar nem perceber movimentos. Para
otimizar o manejo, deve-se evitar a área cega para que os
suínos não se dispersem tentando localizar o manejador
(detalhes descritos no capítulo de manejo).
Imagem: Steps
Imagem: Steps
Imagem: Steps
20 Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps
Olfato
É um dos sentidos mais importantes dos suínos, sendo usado também para
reconhecimento individual e interação social. O olfato contribui nas infor-
mações hierárquicas do grupo (dominância), por exemplo, a liberação de
feromônios de submissão de um subordinado para um dominante.
Audição e comunicação
Os sinais vocais são os meios de comunicação mais importantes entre os suínos. Foram identificadas
cerca de 20 chamadas diferentes com seis padrões vocais facilmente reconhecidos por humanos. Cada
chamada possui uma função, por exemplo:
• Grunhidos – uma série de grunhidos curtos é dada em resposta a eventos familiares, por exemplo,
quando estão fuçando. Um único grunhido curto é dado quando o suíno é perturbado;
• Vocalizações de alerta – são repetidas por outros suínos que, em seguida, paralisam-se ou fogem;
• Vocalização aguda – suíno assustado;
• Vocalização longa – suíno machucado ou estressado. A intensidade e
duração da vocalização indicam a seriedade da situação. Quanto maior a
intensidade, maior o grau de dor e sofrimento.
 COMPORTAMENTO APRENDIDO
Os suínos têm boa memória de longo e curto prazo, ou seja, conseguem lembrar fatos que ocorreram du-
rante toda a criação até momentos antes do abate. Podem ser condicionados à rotina de manejo, aprendem
habilidades no meio em que vivem e é fácil treiná-los com recompensas. Portanto, a resposta dos suínos ao
manejo no frigorífico está diretamente relacionada ao manejo que tiveram na granja ao longo de toda sua vida.
Um exemplo desse comportamento pode ser observado em suínos que têm pouco contato com huma-
nos nas granjas ou que foram submetidos a um manejo agressivo, como empurrar e bater. Isso produzirá
reações de medo e dificultará o manejo no frigorífico.
Dessa forma, devemos incentivar a mudança das práticas de manejo nas granjas, com maiores intera-
ções positivas entre humanos e suínos, o que proporcionará melhor qualidade de vida para os animais e
facilidade no manejo pré-abate.
Utilização da audição para avaliar situações de perigo e reconhecer os sinais
vocais do grupo
Utilização do olfato para reconhecimento do ambiente
Imagem: Steps
Imagem: Steps
Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps 21
 LEMBRE-SE
• É importante conhecer o comportamento dos suínos para facilitar as práticas de manejo;
• Os suínos percebem o ambiente utilizando, principalmente, a visão, audição e olfato, rea-
gindo de acordo com o comportamento inato e aprendido (experiências passadas);
• Eles enxergam claramente em uma estreita área voltada a sua frente (visão binocular) –
noção de profundidade;
• Têm visão lateral ampla e panorâmica (visão monocular) para detectar movimentos, sem
detalhes;
• Possuem uma área cega de onde não conseguem enxergar nem perceber movimentos;
• Suínos que tiveram experiências positivas na granja são mais fáceis de manejar.
22 Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps
Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps 23
MANEJO PRÉ-ABATE
 INTRODUÇÃO
Manejo pré-abate envolve três elos-chave: animais, instalações e pessoas. Esses elos interagem entre si
com efeitos que podem contribuir para um bom manejo. Para isso, é necessário o conhecimento de cada
um e de sua influência nos demais, buscando sempre boas interações. O melhor nível possível de bem-
estar animal estará na harmonia entre os três elos.
1. Animais: reagem ao ambiente do frigorífico e ao comando das pessoas envolvidas no manejo, haven-
do diferenças individuais e entre linhagens genéticas;
2. Instalações: a forma como a estrutura física do frigorífico é projetada e construída para favorecer o
manejo;
3. Pessoas: como as pessoas se comportam e interagem com os suínos e com as instalações.
Esses três elos são interdependentes e o conhecimento sobre os animais é o impulso que dinamiza
e favorece essas interações; quando em harmonia, eles minimizam o nível de estresse nos animais e
pessoas envolvidas.
As instalações devem ser projetadas de acordo com o comportamento e a percepção dos suínos. Cabe
aos manejadores conhecer e utilizar os recursos que as mesmas possam oferecer ao manejo, assim como
corrigir suas limitações, caso algum ponto crítico venha a surgir.
Instalações
Harmonia
Pessoas Animais
Bem-estar animal – área de interseção positiva entre os três elos
24 Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps
O bom manejo pré-abate não depende apenas do conhecimento das pessoas sobre os animais que
manejam, mas também é importante que os funcionários tenham compreensão de como seu próprio
comportamento pode influenciar na eficácia do processo de manejo.
Como o comportamento dos animais não ocorre ao acaso, mas sim em resposta a algum estímulo, en-
tender o que desencadeia essas respostas e o que causa essas reações nos animais é importante para
se conhecer as influências a que eles estão submetidos.
No frigorífico encontramos suínos de muitas procedências, que tiveram diferentes experiências durante a
criação e estas poderão interferir no manejo pré-abate. Muitos suínos são facilmente conduzidos, porque
tiveram um bom manejo na granja. No entanto, alguns animais podem ser difíceis de serem manejados e
isso pode estar associado ao manejo na criação, genética, instalações deficientes do frigorífico ou dificul-
dade dos manejadores em conduzi-los.
Portanto, devemos minimizar o estresse e sofrimento aos suínos e permitir que eles sejam conduzidos da
melhor forma, favorecendo o bem-estar e a qualidade da carne, diminuindo o risco de lesões.
 OS ANIMAIS E OS NÍVEIS DE ATIVIDADE
Na granja, a atividade de um suíno varia entre deitar, dormir, levantar, comer e beber até reações de luta,
fuga e paralisação.
Um bom manejador é também um bom observador! Antes de iniciar o manejo, é ideal que seja observa-
do o nível de agitação e o temperamento dos animais, para que essas informações indiquem como se
comportar diante de cada grupo de suínos. Poderá haver maior ou menor necessidade de estimular os
animais para que respondam ao manejo na direção e velocidade desejadas.
Se os manejadores aumentam significativamente os níveis de estresse dos suínos que estão sendo con-
duzidos, estes vocalizam, expressam medo e tentam fugir abruptamente ou algumas vezes tornam-se
agressivos e enfrentam o manejador, o que dificulta o controle e a condução do grupo, exigindo maior
tempo para a realização do manejo.
Imagem: Steps
Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps 25
 A ZONA DE FUGA
Suínos preservam uma área ao seu redor, denomina-
da “zona de fuga”, que é a máxima aproximação que
um animal tolera a presença de um estranho ou ame-
aça, antes de iniciar a fuga. Quando a zona de fuga é
invadida o suíno tende a afastar-se para manter uma
distância segura da ameaça. No entanto, em situações
críticas, o suíno pode paralisar ou lutar, caso não haja
espaço para fuga.
O tamanho da zona de fuga pode variar dependendo da espécie, genética e experiências vividas. Os
suínos, em razão de serem onívoros e possuírem presas (dentes), estão mais preparados para atacar e
se defender de um predador. Com isso, apresentam zona de fuga menor quando comparados com es-
pécies ruminantes, como ovinos ou bovinos. Suínos de linhagens mais dóceis e animais que passaram
por experiências positivas durante a criação na granja podem apresentar uma zona de fuga ainda menor.
A compreensão da zona de fuga é importante para influenciar, conduzir e controlar o movimento dos
suínos. Para isso, o manejador deve:
• Situar-se na extremidade posterior da zona de fuga e para um dos lados, evitando estar na área
cega do animal, onde não conseguem enxergar nem perceber movimentos;
• Caminhar apenas dentro do limite da zona de fuga, para fazer que o animal avance;
• Assim que o animal avançar, avance com ele, permanecendo
dentro da zona de fuga;
• Observe que, ao mover-se para fora da zona de fuga do suíno e
parar, o animal também para de se movimentar.
Nem sempre é possível entrar na zona de fuga de cada suíno, devido ao fato de o manejo ser realizado
em grupo. No entanto, procure posicionar-se de forma que os suínos o mantenham em contato visual
(mova-se de um lado para o outro atrás do grupo); isso irá estimular o grupo a continuar avançando.
Se o manejador invadir demais a zona de fuga do animal, a reação do suíno será fugir, se houver espaço
para isso; caso não haja, ele irá virar-se e tentará voltar para ultrapassar o manejador.
Manejador no limite da zona de fuga para fazer o suíno avançar
Imagem: Steps
Zona de fuga determinada pelo suíno
para se proteger de ameaças ou predadores
Imagem: Steps
26 Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps
Os manejadores podem interferir na distância de fuga do animal, assim como na velocidade de fuga,
conforme o modo como se aproximam. Se agir de forma calma e em silêncio, o manejador reduz a ve-
locidade de reação do animal; níveis crescentes de barulho ou movimentação, por parte do manejador,
aumentarão essa resposta.
 PONTO DE EQUILÍBRIO
O ponto de equilíbrio é um limite estabelecido na paleta (escápula) do
suíno. O manejador utilizará o ponto de equilíbrio para controlar o mo-
vimento e a direção do animal e então conduzi-lo da forma desejada.
Os suínos se movem para frente ou para trás, dependendo da po-
sição onde estiver o manejador:
• Se o manejador posicionar-se à frente do ponto de equilíbrio e dentro da zona de fuga (posição 1),
o suíno se moverá para trás;
• Se estiver atrás do ponto de equilíbrio e dentro da zona de fuga (posição 2), o animal se moverá
para frente;
• Se estiver fora da zona de fuga (posição 3) o animal irá parar. Conforme figura abaixo.
 PESSOAS E ANIMAIS
É importante reconhecer que o manejo dos animais deverá ser executado apenas por pessoas prepa-
radas, de forma a minimizar estresse, que possa vir de atitudes agressivas contra os animais ou simples-
mente de um manejo sem cuidado.
Pesquisas comprovam que o treinamento dos manejadores traz resultados positivos para o manejo. No
entanto, deve haver supervisão, instalações e equipamentos funcionais e pessoas comprometidas, valo-
rizadas e motivadas.
Conhecendo os princípios de manejo e o comportamento gregário dos suínos, pode-se utilizar alguns
recursos que auxiliam no manejo.
Posições do manejador na
condução do suíno utilizando o ponto
de equilíbrio e a zona de fuga
Imagem: Steps
Imagem: Steps
Ponto de equilíbrio
Zona de fuga
Área cega
Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps 27
B. Pranchas (tábuas) e lonas – têm como principal função limitar e/ou bloquear a visão do suíno para
incentivá-lo a se mover para frente. Outra função é evitar que o suíno se recuse a andar ou se mova em
direção não desejada.
Utilização de prancha para auxiliar a condução
dos suínos
Uso de lona para facilitar a condução
dos suínos
Imagem: Steps Imagem: Steps
A. Chocalhos, remo, voz, palmas e ar comprimido – são auxílios que estimulam a condução do suíno
através, principalmente, do som emitido e da forma com que são movimentados. É importante salientar
que a emissão do som de forma contínua não trará respostas tão significativas na condução quando
comparada à utilização intermitente. Deve-se evitar o uso rotineiro e contínuo, principalmente do cho-
calho, em animais que já estão se movimentando na direção desejada.
Utilização de chocalho para auxiliar
a condução dos suínos
Uso do remo para incentivar a
condução
Auxílio de ar comprimido para
conduzir os suínos
Imagem: Steps Imagem: Steps Imagem: Steps
 AUXÍLIOS PARA O MANEJO
São equipamentos e/ou atitudes do manejador que auxiliam na condução dos suínos. Quando utilizados
corretamente, esses auxílios encorajam os animais a se moverem para onde o manejador deseja.
Certos grupos de suínos podem requerer mais persuasão do que outros para se moverem. O essencial é
que o nível de persuasão seja ampliado apenas quando não houver resposta do animal.
Os auxílios podem ser classificados:
28 Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps
C.Bastões elétricos – transmitem corrente elétrica para o animal. O uso desse método é tolerado
APENAS como último recurso e somente nos suínos que se recusam permanentemente a se mover.
Em muitos países, a utilização desse equipamento/instrumento é legalmente controlada e permitida
apenas no corredor que antecede a insensibilização.
A utilização do bastão elétrico deve restringir-se a situações de extrema necessidade, quando todos os
outros auxílios de manejo aplicados não obtiveram resultado e NUNCA deve ser tolerada a utilização
em partes sensíveis do suíno, como ânus, genitais, focinho, olhos, entre outros (isso se aplica também a
qualquer outro auxílio de manejo).
Quando necessário, o uso do bastão elétrico é permitido apenas:
• Nos membros traseiros dos suínos;
• Em animais que recusam permanentemente a se mover;
• Por um período de um segundo, com intervalo entre cada aplicação;
• Quando há espaço à frente do suíno.
ATENÇÃO! É comum em frigoríficos a utilização in-
correta do bastão elétrico no corredor que antecede
o restrainer quando os animais estão em fila indiana
e sem espaço para andar. Lembre-se! O bastão elé-
trico deve ser utilizado somente no animal que tem
espaço à frente e não naqueles que estão impossibi-
litados de avançar.
Os bastões elétricos NUNCA DEVEM ser utilizados:
• Repetidamente, se o animal não reagir;
• Ligados à rede elétrica, devido ao fato de a alta voltagem provocar choques extremamente dolorosos.
A utilização desse equipamento para conduzir suínos é um hábito vicioso e promove mais estresse e sofri-
mento aos animais, muitas vezes causando amontoamento e pânico, atrapalhando o manejo; por isso, há
necessidade de ser controlada ou extinta. Mudanças de hábitos como a substituição desse instrumento
por outros (chocalho, remo, lona, ar comprimido, prancha ou tábua) melhoram o manejo.
Imagem: Steps
Estímulo com as mãos – incentivam e agilizam o
movimento através do contato físico com o suíno.
A intensidade da força aplicada e a região em que
o suíno está sendo tocado devem ser adequadas e
controladas.
Estímulo com as mãos para incentivar o movimento do suíno
Imagem: Steps
Utilização incorreta do bastão elétrico
Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps 29
Dicas para um bom manejo:
• Observar a reatividade do lote para definir a forma com que irá manejar os animais;
• Ter calma e respeito aos animais;
• Avançar devagar na zona de fuga dos suínos;
• Ter atenção ao posicionamento em relação aos animais, utilizando o ponto de equilíbrio e evitando
a área cega;
• Conduzir pequenos grupos de suínos por vez. O menor número de animais promove maior con-
trole do lote;
• Evitar isolar um suíno;
• Evitar que os animais fiquem parados em corredores de manejo por longos períodos (horário de
almoço). Isso provoca ansiedade, agitação e impede o acesso a água.
 LEMBRE-SE:
• A harmonia entre os três elos-chave (animais, pessoas e instalações) minimiza o estresse
dos manejadores e dos animais durante o manejo;
• Utilize a zona de fuga e o ponto de equilíbrio para influenciar, conduzir e controlar o movi-
mento dos suínos;
• A utilização de auxílios para o manejo (chocalho, lona, ar comprimido, mãos, voz, remo,
prancha ou tábua) deve ser feita de forma cautelosa para facilitar o manejo e evitar as
agressões;
• O bastão elétrico só é tolerado como último recurso, apenas quando o animal tiver espaço
para avançar, por um período de 1 segundo, nos membros traseiros;
• NUNCA utilize o bastão elétrico em regiões sensíveis do suíno, como ânus, genitais, foci-
nho, olhos, entre outros.
30 Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps
Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps 31
CONFORTO TÉRMICO
 INTRODUÇÃO
Um dos maiores desafios durante o manejo pré-abate no frigorífico é manter o controle das condições am-
bientais na área de descanso de forma que proporcione o conforto térmico e auxilie na recuperação do
estresse físico a que os suínos foram submetidos durante o embarque, transporte e desembarque.
Considerando que os suínos têm um sistema termorregulador deficiente devido ao fato de possuírem
glândulas sudoríparas queratinizadas, uma grande quantidade de tecido adiposo e elevado metabolismo,
há muita preocupação com a temperatura adequada do am-
biente, que tem efeito direto sobre o bem-estar dos animais.
Os suínos, assim como os humanos, são homeotérmicos, isto
é, mantêm a temperatura corporal dentro de certos limites
(38,7°C a 39,8°C), independentemente da variação da tempe-
ratura ambiental. No entanto, para manter a regulação da tem-
peratura corporal é preciso trocar calor continuamente com o
ambiente e essa troca só é eficiente quando a temperatura do
ambiente está dentro dos limites da termoneutralidade.
 PRINCÍPIOS DA TERMORREGULAÇÃO
A regulação da temperatura corporal é realizada por diversos mecanismos, sendo a maioria acionada por
meio de centros termorreguladores, localizados no hipotálamo, termorreceptores da pele e dos tecidos
mais profundos. Quando há alteração da temperatura corporal do suíno, detectado pelo centro térmico
do hipotálamo, são desencadeados alguns procedimentos para manter a temperatura corporal normal
próxima a 39°C.
Para que a termorregulação seja eficiente, é fundamental que o total de calor produzido pelo suíno seja
igual ao total de calor perdido para o ambiente.
=
TOTAL DE CALOR
PRODUZIDO PELO
SUÍNO
TOTAL DE CALOR
PERDIDO PELO
SUÍNO
Comportamento natural dos suínos para perder
calor e manter-se na zona de conforto térmico
Imagem: Steps
32 Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps
Quando a temperatura do ambiente diminui os suínos podem sair da zona de conforto térmico; com isso,
o organismo aciona mecanismos para produzir calor. Já em situações de aumento da temperatura do
ambiente, os mecanismos são acionados para perder calor. Nessas situações, ocorrem mudanças fisioló-
gicas e também pode haver mudanças comportamentais com que o animal busca maximizar a eficiência
de troca do calor.
 MECANISMOS DE TROCA DE CALOR
O sistema homeostático promove o equilíbrio térmico através da regulação da temperatura corporal, de
modo a mantê-la dentro de limites toleráveis para o perfeito funcionamento do organismo. Dessa forma,
há quatro mecanismos com os quais o suíno pode trocar calor com o ambiente, tais como:
Radiação
É a troca de calor (perda ou ganho) através de ondas eletromagnéticas, que ocorre quando o suíno emite
calor para um ambiente mais frio ou absorve a radiação sob a forma de onda. Exemplos de fontes de
radiação que podem promover o ganho de calor são: sol, lâmpada e fogo.
A intensidade da troca de calor por radiação depende da:
• Diferença de temperatura entre o suíno e fonte de calor;
• Área da superfície corporal exposta e distância da fonte de calor;
• Cor da superfície – suínos de cor clara refletem uma grande porção da radiação solar que os atinge,
enquanto os suínos de cor escura absorvem grande parte da radiação.
Perda de calor do suíno para o ambiente por
radiação
Exposição dos suínos ao sol – ganho de calor por
radiação agrava o estresse térmico
Imagem: Steps Imagem: Steps
Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps 33
Condução
Troca de calor devido ao contato direto do corpo do suíno com o solo, água ou outras superfícies. Para
perder calor por condução, o suíno procura maximizar a área de superfície corporal em contato com su-
perfícies mais frias.
A intensidade da troca de calor por condução depende da:
• Diferença na temperatura das superfícies;
• Área que está em contato com a outra superfície;
• Condutividade térmica das superfícies.
Convecção
É a transferência de calor devido ao movimento de ar na superfície da pele ou da circulação sanguí-
nea transportando calor dos tecidos para a superfície corporal do suíno.
A intensidade da troca de calor por convecção depende da:
• Diferença na temperatura entre o suíno e o ambiente;
• Velocidade relativa do ar ou do suíno.
Perda de calor do suíno para o ambiente por
condução
Perda de calor por condução – contato com
superfície mais fria
Perda de calor do suíno para o ambiente por
convecção
Perda de calor por convecção – ventilação forçada
na área de descanso
Imagem: Steps Imagem: Steps
Imagem: Steps Imagem: Steps
34 Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps
Evaporação
É a transformação do líquido para a fase gasosa (vapor). O resfriamento evaporativo respiratório (ofe-
gação) constitui-se num dos mais importantes meios de perda de calor dos suínos em temperaturas
elevadas, podendo ser responsável pela perda de até 60% do calor corporal. Quanto maior a frequência
respiratória dos suínos, maior quantidade de calor é dissipada para o ambiente.
Outra forma de troca de calor por evaporação é a sudorese; nos suínos, essa troca é praticamente nula,
uma vez que possuem número reduzido de glândulas sudoríparas, sendo estas ineficientes.
A intensidade da troca de calor por evaporação depende da:
• Diferença na temperatura entre o suíno e o ambiente;
• Umidade relativa do ambiente.
 TROCA DE CALOR
A troca de calor devido à radiação, condução e convecção depende da diferença de temperatura entre
o suíno e seu ambiente. No entanto, a evaporação não está relacionada somente à variação da tempera-
tura, mas também sofre grande influência da umidade relativa do ar ao redor dos suínos.
Conforme a temperatura do ambiente aumenta, o suíno perde menos calor por radiação, condução e
convecção, e a evaporação torna-se o método predominante de resfriamento. Entretanto, conforme
a umidade relativa aumenta, o suíno perde menos calor por evaporação.
Perda de calor do suíno para o ambiente por
evaporação
Perda de calor por evaporação – suíno ofegante
Imagem: Steps Imagem: Steps
Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps 35
Cada método de troca de calor varia consideravelmente de acordo com:
• Fatores climáticos (temperatura, velocidade e umidade
relativa do ar);
• Condições climáticas (variação sazonal e período do
dia);
• Características da construção (ventilação, tipo de piso,
incidência solar);
• Fatores intrínsecos do suíno (idade, sexo, genética);
• Densidade de suínos no local (caminhão ou baia).
 TEMPERATURA E CONFORTO – ZONA TERMONEUTRA
Para cada fase da criação dos suínos há uma determinada faixa de temperatura do ambiente em que
o suíno mantém constante a temperatura corporal com o mínimo esforço dos mecanismos termorregu-
latórios. É a chamada zona de conforto térmico (ZCT), em que não há sensação de frio ou calor e o
desempenho do suíno em qualquer atividade é otimizado.
A zona termoneutra delimita a faixa de temperatura de conforto térmico do suíno e seus limites são
conhecidos como temperatura crítica inferior (TCI) e crítica superior (TCS) do ambiente; abaixo ou
acima desses limites, os suínos precisam ganhar ou perder calor para manter constante a sua tempe-
ratura corporal.
Densidade elevada no transporte resulta em estresse térmico e
pode levar a alta taxa de mortalidade
Imagem: Osmar Dalla Costa
Imagem: Steps
Trocas de calor do suíno para o ambiente
36 Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps
Em um ambiente frio, a temperatura crítica inferior é aquela em que o organismo irá acionar os me-
canismos termorregulatórios para aumentar a produção e retenção do calor corporal, compensando a
perda de calor para o ambiente. Assim como em um ambiente quente, a temperatura crítica superior
é aquela na qual o suíno aciona os mecanismos para perder calor, sendo que o ganho é maior que a
perda. Nessa faixa os mecanismos como a ofegação e a vasodilatação periférica entram em ação, au-
xiliando o processo de dissipação do calor.
A figura abaixo mostra as condições ótimas de temperatura (zona de conforto térmico) e as temperaturas
críticas (inferior e superior) no ambiente, que delimitam a zona termoneutra.
Em situações de extremo de temperatura, a vida dos suínos pode estar em risco. No entanto, a maioria
dos suínos pode suportar baixas temperaturas por um período de tempo maior e recuperar-se. Já curtos
períodos com temperaturas elevadas podem ser fatais.
O quadro abaixo apresenta as temperaturas e umidades relativas ótimas e críticas para suínos nas fases
de crescimento e terminação.
Peso vivo (kg) Temperaturas ótimas (°C) Críticas (°C) Umidades relativas (%)
Mín. Máx. TCI TCS Ótimas Críticas
mín. e máx.
20-35 18 20 8 27 70 <40 e >90
35-60 16 18 5 27 70 <40 e >90
60-100 12 18 4 27 70 <40 e >90
Suíno não
consegue
manter calor
corporal
Suíno não
consegue
controlar a
temperatura
corporal
4°C 12°C 18°C 27°C
MORTE MORTE
OFEGAÇÃOTREMOR,
AGLOMERAÇÃO
Redução do calor Temperatura
ambiente agradável
Aumento do calor
Fonte: adaptado de Leal & Nããs (1992)
Estresse
pelo frio
ZONA TERMONEUTRA
Estresse
pelo calorTCI
Zona de Conforto
Térmico (ZCT) TCS
Fonte: adaptado de Sousa (2002)
Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps 37
Temperatura corporal do suíno 8°C abaixo do normal –
situação de hipotermia
Temperatura corporal do suíno 4°C acima do normal –
situação de hipertermia
 ESTRESSE TÉRMICO PELO FRIO
A temperatura crítica inferior do ambiente está em torno de 4°C para suínos de 60 a 100kg. En-
tretanto, se a temperatura corporal do suíno diminuir 7°C a 8°C abaixo do normal, estará numa
condição de hipotermia e caso esse período se prolongue e nenhuma providência seja tomada, o
suíno poderá morrer.
Em situações de estresse térmico por frio, os suínos
tendem a se agrupar, evitam exposições ao vento
e reduzem a ingestão de água, com a finalidade
de manter o calor produzido. Nessas situações, o
organismo aciona mecanismos para maximizar a
produção de calor como, por exemplo, o tremor
muscular.
 ESTRESSE TÉRMICO PELO CALOR
A temperatura crítica superior do ambiente está em torno de 27°C (para suínos com peso entre 60 e
100kg). Quando a temperatura corporal do suíno aumentar acima do valor médio considerado normal
(próximo a 39°C), ocorrerá estresse pelo calor ou hipertermia. E caso essa variação de temperatura
corporal atinja 4°C acima da temperatura normal poderá ocorrer a morte do suíno.
Em situações de estresse térmico por calor no frigorí-
fico, o suíno altera seu comportamento em busca de
superfícies mais frias e correntes de ar, dispersam-se
entre si e aumentam o consumo de água. No entanto,
se esses mecanismos de troca não forem suficientes,
a situação se agrava e os suínos passam a perder ca-
lor através da ofegação.
Imagem: Steps
Imagem: Steps
38 Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps
 RECOMENDAÇÕES PARA MANEJAR SUÍNOS OFEGANTES E CANSADOS
Para os animais que chegam ao frigorífico com grave estresse térmico por calor são recomenda-
dos os seguintes procedimentos:
• Movimentar o mínimo possível o suíno para evitar o agravamento do estresse térmico;
• Utilizar o carrinho para a condução do desembarque à baia de descanso;
• Deixar o suíno descansando na baia de emergência, que deve ser um ambiente calmo, tranquilo e
fresco. Isso facilita a troca de calor e a recuperação desse animal;
• Deixar o suíno descansando próximo ao bebedouro;
• Molhar o piso onde o suíno irá permanecer descansando, para facilitar a perda de calor por condução;
• Ter cuidado ao molhar o suíno diretamente para não agravar a situação, ocasionando um choque
térmico (água fria em contato com a superfície corporal quente).
Caso o suíno esteja num estado muito grave de estresse térmico ou cansado, o ideal é que não seja
movimentado e simplesmente descanse em um local o mais próximo do ponto de chegada, desde
que seja calmo, fresco, com acesso a água e sem circulação de pessoas.
 ZONA TERMONEUTRA NA ÁREA DE DESCANSO NO FRIGORÍFICO
No ambiente de descanso, o objetivo é proporcionar o máximo de conforto térmico para recuperar
os suínos e facilitar o manejo. Com isso, as instalações no frigorífico devem visar o controle dos
fatores climáticos.
Influência dos sistemas de nebulização na área de descanso
A utilização da nebulização com água nas baias de descanso tem como objetivo proporcionar melhores
condições ambientais para os animais, minimizando o estresse térmico, já que promove diminuição da
temperatura corporal, tensão cardiovascular e acalma os suínos. Outro objetivo é promover o umede-
cimento da pele e com isso reduzir a resistência para que auxilie na condução da corrente aplicada e
proporcione melhor eficiência do insensibilizador elétrico.
No entanto, os sistemas de nebulização são eficientes somente se a água utilizada for mais fresca que a
temperatura corporal dos suínos e o ambiente seja ventilado para promover a movimentação do ar frio
sobre os animais. Em algumas regiões onde a temperatura ambiental é elevada e com pouca ventilação,
podem ser instalados ventiladores na área de descanso. Entretanto, o correto posicionamento desses
ventiladores é fundamental para facilitar a retirada do ar quente ao redor dos suínos e com isso melhorar
a troca de calor por convecção.
A aplicação da nebulização e ventilação deve levar em conta o monitoramento do comportamento dos
suínos nas baias tanto em dias frios quanto em dias quentes. Em regiões com temperaturas próximas
Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps 39
a 10°C não é recomendada, pois acentua a perda de calor, promovendo hipotermia nos animais, o que
gera sofrimento, podendo levar a tremores musculares e aumento da incidência de defeitos de qualida-
de da carne (DFD).
Recomendações internacionais para o uso da ne-
bulização aconselham utilizá-la em temperaturas
acima de 10ºC e umidade relativa do ambiente me-
nor que 80%, sendo que o melhor regime consiste
em duas aplicações da nebulização com 30 minutos
na chegada e 30 minutos na saída dos suínos das
baias de espera.
No entanto, nas condições climáticas brasileiras não há resultados de pesquisa que comprovem o melhor
tempo de uso e seus efeitos no bem-estar dos suínos. Com isso, muitas vezes a nebulização é utilizada
de forma incorreta, mesmo em dias frios e de forma contínua.
Manutenção dos nebulizadores
A manutenção constante dos bicos dos nebulizadores para regular a pressão adequada e saída da água
é fundamental para proporcionar a saturação do ar com umidade (formação de pequenas gotículas) e
promover o conforto térmico.
Quando os bicos dos nebulizadores encontram-se
entupidos ou a canalização não possui pressão su-
ficiente de água ocorre a formação de duchas (chu-
veiros) e a água cai sobre os suínos tornando-os
mais ativos durante o descanso. Dessa maneira, é
comum visualizar muitas vezes os suínos refugarem
o local.
Nebulizadores em bom estado de funcionamento –
manutenção periódica
Imagem: Steps
Comportamento característico de suínos com estresse
por frio – evitam a nebulização, se aglomeram e apresentam
tremor muscular
Imagem: Steps
40 Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps
 LEMBRE-SE:
• Mantenha a densidade adequada, evite paradas durante a viagem e procure transportar os
suínos nos horários com temperaturas amenas; isso poderá reduzir o estresse térmico e
evitar mortalidade no transporte;
• Os suínos no frigorífico podem sofrer estresse pelo calor ou frio;
• A equipe de manejadores precisa estar capacitada para reconhecer esses sinais de estresse
nos suínos e se responsabilizar por proporcionar um ambiente que promova recuperação;
• A temperatura e a umidade do ambiente na área de descanso do frigorífico devem perma-
necer dentro da zona termoneutra;
• As áreas de descanso devem ser cobertas (sombra), bem ventiladas e com sistema de ne-
bulização para evitar o estresse térmico que pode levar a morte;
• Suínos que chegam ao frigorífico com grave estresse térmico ou cansados devem ser ma-
nejados de forma cautelosa, para não agravar seu sofrimento.
Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps 41
ÁREA DE DESCANSO
 INTRODUÇÃO
Nas etapas de manejo pré-abate, o transporte é considerado um dos momentos de maior estresse, de-
vido à interação com humanos, mudanças de ambiente, ruídos, lotação, mistura de lotes e à dificuldade
dos animais de se deslocarem sobre rampas no embarque e
desembarque. Dessa forma, promover descanso adequado aos
suínos traz grandes benefícios em termos de bem-estar e qua-
lidade da carne.
O propósito dessa área é permitir aos suínos o descanso e a
recuperação do estresse decorrente do transporte, completar o
tempo de jejum, realizar a inspeção ante mortem, assim como
agrupar um número suficiente de animais para suprir a velocida-
de da linha de abate.
O ambiente da área de descanso deve proporcionar todas as
condições que contribuam para minimizar o estresse, mesmo
sabendo-se que a maioria dos suínos não consegue se habituar
totalmente ao novo ambiente em um curto período de tempo.
O tempo de permanência dos suínos na área de descanso sempre foi estimado considerando as necessi-
dades operacionais, sanidade e higiene alimentar. Entretanto, resultados de diversas pesquisas também
comprovaram que o longo tempo de descanso influencia negativamente o bem-estar animal e a
qualidade da carne.
 TEMPO DE DESCANSO X HIDRATAÇÃO
Ao chegar à área de descanso alguns frigoríficos costumam adotar como procedimento lavar os suínos e
submetê-los à dieta hídrica. A dieta hídrica (fornecimento de água) é fundamental para:
• Recuperar os animais da desidratação causada pelo transporte;
• Diminuir o estresse térmico pelo calor causado pelo esforço físico e aglomeração durante o
transporte;
• Facilitar a eliminação do conteúdo gastrointestinal para evitar que as vísceras sejam rompidas duran-
te a evisceração e contaminem a carcaça.
Ambiente da área de descanso
adequado aos padrões de bem-estar
Imagem: Steps
42 Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps
 ESTRESSE X TEMPO DE DESCANSO
O manejo pré-abate causa muito estresse aos suínos, por isso é necessário que os animais descansem
antes do abate. As áreas de descanso devem oferecer um ambiente calmo e tranquilo e um manejo ade-
quado, reduzindo ao máximo os fatores estressantes.
No entanto, longos períodos nas baias de descanso podem comprometer o bem-estar dos animais e o
rendimento da carcaça, assim como aumentar a incidência de:
• Lesões provocadas por brigas;
• Carnes DFD (dark, firm, dry – escura, firme e seca);
• Contaminação bacteriana no ambiente de descanso.
Quando os suínos chegam à área de descanso, tendem a se
deitar e descansar do estresse físico causado pela etapa de
transporte. Após um período de 2 a 4h, os animais começam
a dar sinais de recuperação e a interagir com os demais do
grupo. Nesse momento, se deixarmos os suínos expostos
por longos períodos de descanso, aumenta o risco de se
comprometer o bem-estar e a qualidade da carne.
Nessa condição os suínos irão explorar o ambiente e intera-
gir com os demais do grupo, e quando são desconhecidos
(mistura de lotes), irão estabelecer uma nova hierarquia so-
cial ocasionando brigas, que levam ao gasto excessivo de
energia e escoriações na pele.
Tempo de jejum
O tempo de jejum é compreendido entre a retirada da última alimentação sólida (ração) na granja até o
momento do abate. Durante esse período é essencial que os suínos tenham livre acesso a água.
A prática do jejum objetiva atender aos critérios higiênico-sanitários, pois os suínos precisam chegar
ao frigorífico com o mínimo de conteúdo gastrointestinal para reduzir riscos de contaminação durante a
etapa da evisceração, assim como melhorar o bem-estar e reduzir a taxa de mortalidade no transporte.
No entanto, o aumento da mortalidade no transporte em suínos com estômago cheio pode estar rela-
cionado às seguintes causas:
• O suíno é um animal monogástrico e se for transportado com estômago cheio poderá haver regurgita-
ção ou vômito e assim provocar asfixia;
• A circulação durante a digestão é direcionada para o sistema gastrointestinal, sendo que os demais
órgãos trabalham com volume de sangue reduzido. Com isso, se os suínos forem expostos a situações
de estresse como o transporte, o aporte de oxigênio ao cérebro poderá não ser o suficiente e, não
havendo a oxigenação necessária, poderá ocorrer a morte;
Escoriações na pele causadas por
brigas devido ao longo período de descanso
e mistura de lotes
Imagem: Osmar Dalla Costa
Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps 43
• Aumento do risco de hipertermia, prejudicando as células cardíacas podendo ocasionar parada
cardíaca e morte;
• O aumento do estômago pela ingestão de alimentos pode provocar pressão excessiva sobre a veia
cava na cavidade abdominal e, com isso, reduz o retorno sanguíneo e torna-se insuficiente a circulação
e oxigenação dos órgãos vitais;
• Devido ao aumento do estômago, pode haver pressão sobre o diafragma, causando dificuldade respi-
ratória pela pequena expansão pulmonar e consequente taquicardia.
Quando o jejum é realizado de maneira correta, tem-se um im-
pacto positivo no bem-estar e na qualidade da carne. No en-
tanto, para definir o tempo ideal, recomenda-se levar em con-
sideração o tempo de jejum na granja, duração do transporte e
período de descanso no frigorífico.
O tempo recomendado para a retirada do alimento até o abate
não deve ser menor que 12 horas nem ultrapassar 18 horas
no total (jejum na granja + transporte + espera no frigorífico).
Tempo prolongado de jejum (acima de 24 horas) promove gasto
excessivo de energia e perda no rendimento de carcaça, assim
como pode provocar aumento nos valores de pH final (24h post
mortem) e interferir na qualidade da carne.
Tempo de jejum x período de descanso no frigorífico
Realizando parte do jejum dos suínos na granja e reduzindo o período de descanso no frigorífico
para 2 a 4 horas, os efeitos negativos do jejum ocasionados na qualidade da carne e contaminação da
carcaça são minimizados, quando comparados àqueles animais mantidos nas baias de descanso por
tempo prolongado.
O jejum é de grande importância, principalmente para evitar a contaminação por Salmonella, que é
liberada pelas fezes dos animais durante o transporte, continuando sua disseminação e contaminação
cruzada nas baias de espera do frigorífico. Com isso, utilizar longo tempo de descanso nas baias no
frigorífico poderá intensificar a contaminação por Salmonella devido ao fato de os suínos defecarem
constantemente e manter o comportamento exploratório do ambiente, o que ocasiona aumento da
contaminação das vias aéreas.
 FORNECIMENTO DE ÁGUA DURANTE O DESCANSO
A água é vital para qualquer ser vivo, tornando-se extremamente importante seu fornecimento em todas
as baias durante o período de descanso. É responsabilidade de todos que trabalham nessa área oferecer
água limpa (potável) e em quantidade suficiente para o tamanho do lote, já que os suínos não tiveram
acesso à água desde o início do procedimento de embarque.
Mortalidade durante o transporte –
suínos com estômago cheio
Imagem: Germano Musskopf
44 Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps
De acordo com a legislação brasileira (Portaria n. 711), os bebedouros devem permitir que, no mínimo,
15% dos suínos de cada baia bebam simultaneamente.
A água deve estar disponível o tempo todo. O tipo e a quantidade de bebedouros, a densidade e a
qualidade da água irão afetar o consumo para todo o grupo. Por essa razão, é recomendado que os fun-
cionários da área de descanso estejam sempre atentos à disponibilidade de água, ao funcionamento dos
bebedouros, bem como seu posicionamento, porque pode haver animais com risco de desidratação por
causa de competição pelos bebedouros ou por dificuldade de acesso a eles.
Animais sob condições de desidratação devem ter prioridade no momento do abate e os funcionários
que trabalham nessa área devem ser capazes de reconhecer os sinais que esses animais apresen-
tam, tais como:
• Mucosas secas e pálidas, assim como a procura por água, lambendo superfícies úmidas.
 ESPAÇO NAS BAIAS DE DESCANSO
Os suínos precisam de espaço suficiente para expressar seus comportamentos básicos como le-
vantar, deitar, virar e andar, além de terem condições de explorar o ambiente à procura de água.
Geralmente esses animais competem por espaço, o que gera estresse e aumento dos níveis de
agressividade e brigas.
Bebedouros na área de descanso do frigorífico Bebedouros devem ser mantidos limpos e com
disponibilidade de água
Alta densidade nas baias de descanso Alta densidade no transporte de suínos
Imagem: Osmar Dalla Costa Imagem: Osmar Dalla Costa
Imagem: Steps Imagem: Steps
Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps 45
Há poucas informações científicas que indicam o espaço ideal para os suínos na área de
descanso do frigorífico. Algumas regulamentações preconizam a utilização de uma densi-
dade mínima de:
União Europeia – 0,55 a 0,67m² / suíno (100kg)
Estados Unidos – 0,50m² / suíno (100kg)
Brasil – 0,60m² / suíno (100kg)
No Brasil não há recomendações para a densidade no transporte, e a média de peso vivo dos suínos
é próxima a 120kg. A recomendação da União Europeia é de 235kg/m² ou 0,425m² para um suíno
de 100kg. No entanto, no Brasil deve-se considerar que haja um ajuste da densidade de acordo com a
variação entre as regiões devido ao clima (quente ou frio).
 SEPARAÇÃO E MISTURA DE LOTES
Separação
Os suínos que chegam ao frigorífico com sinais de dor e/
ou diestresse devem ser separados e alojados em baias
onde haja maior controle e monitoramento da inspeção.
Recomenda-se que seja feita a separação dos suínos que
apresentam doenças, problemas de locomoção, prolap-
sos e hérnias graves, caudofagia, contusões ou ferimen-
tos. Deve-se também separar machos inteiros (cachaços)
que podem promover maior agitação e brigas no grupo.
A separação desses animais proporcionará melhor ava-
liação do médico veterinário que realiza a inspeção ante
mortem, evitando sofrimento desnecessário.
Mistura de lotes
Misturar suínos de diferentes grupos sociais (lotes) pre-
judica o bem-estar devido ao aumento de brigas para
restabelecer uma nova hierarquia social, principalmen-
te quando o período de descanso é longo (maior que
4 horas).
Há países no norte europeu que trabalham com a pro-
dução de suínos sem misturá-los desde a maternidade
até o abate. Quando não há essa possibilidade, pes-
quisas mostram que a mistura dos suínos no caminhão
apresenta melhor resultado em relação à diminuição de
Suíno com problemas de locomoção –
separação em baia de sequestro
Briga entre suínos de diferentes lotes na área
de descanso
Imagem: Steps
Imagem: Steps
46 Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps
brigas, comparados àqueles que são misturados apenas no frigorífico. Isso ocorre porque durante a
viagem, ao invés de os suínos brigarem, focam sua atenção em manter o equilíbrio do corpo e evitar
quedas. Quando chegam ao frigorífico, já houve contato com o novo grupo.
 REDUÇÃO DO ESTRESSE TÉRMICO PELO CALOR
Os suínos sofrem naturalmente com as variações climáti-
cas, principalmente em relação ao calor, por ter pequeno
número de glândulas sudoríparas, o que dificulta a troca
de calor e a regulação da temperatura corporal.
Com o esforço físico nas etapas de embarque, transporte
e desembarque, o estresse térmico pelo calor aumenta;
assim, a área de descanso no frigorífico deve favorecer a
perda de calor. Para isso, a área de descanso deve ser
coberta e disponibilizar água, ventilação e nebuliza-
ção. Informações adicionais estão descritas no capítulo
Conforto térmico.
 LEMBRE-SE:
• O tempo de descanso no frigorífico deve causar o mínimo de estresse;
• Procure manter o ambiente das baias calmo e tranquilo;
• Forneça água limpa e de boa qualidade à vontade em todo o período de descanso;
• Disponibilize espaço adequado nas baias para facilitar a recuperação dos suínos;
• Evite a mistura de lotes para diminuir brigas e favorecer diretamente o bem-estar dos ani-
mais e a qualidade da carne;
• O tempo correto de jejum, reduzirá a taxa de mortalidade, risco de contaminação e terá um
impacto positivo no bem-estar animal;
• O tempo de jejum total não deve exceder as 18 horas.
Utilização de nebulizadores para reduzir o estresse
térmico por calor nas baias de descanso
Imagem: Steps
Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps 47
ESTRUTURA DA
ÁREA DE DESCANSO
 INTRODUÇÃO
Na busca de priorizar o bem-estar no manejo pré-abate é essencial haver harmonia entre os três ele-
mentos-chave (instalações, animais e as pessoas que os manejam). A interação positiva entre os três
elos é o ponto de sustentação do bem-estar.
A maneira como a área de descanso é projetada tem impacto significativo na qualidade do manejo,
velocidade da linha e nas condições de trabalho. Quando projetamos ou modificamos essa área, não
devemos somente dimensionar estruturas e definir espaços, mas entender o manejo em função das ne-
cessidades dos animais, da interação deles com as pessoas e com as instalações.
Deve-se dimensionar as instalações das baias de descanso
em função do número de suínos que se pretende abater. Esse
planejamento evita problemas futuros de ampliações não pro-
jetadas que podem comprometer a qualidade das instalações.
Para isso, a área de descanso deve ser projetada de forma
que encoraje os suínos a andar e facilite o manejo, desde o
desembarque até a área de abate, visando diminuir o estres-
se e eliminar os riscos de ferimentos.
Estrutura da área de descanso projetada
para facilitar a condução dos suínos
Imagem: Steps
Instalações
Pessoas Animais
Harmonia
48 Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps
Quando procuramos facilitar a condução
dos suínos no manejo pré-abate, é essen-
cial projetar a área de descanso sob o
ponto de vista do suíno e não do homem,
já que a altura e o ângulo de visão que o
suíno tem do ambiente são diferentes do
modo como o homem vê.
 CARACTERÍSTICAS DA INSTALAÇÃO DA ÁREA DE DESCANSO
Rampa de desembarque
A rampa de desembarque deve ser construída em local prote-
gido da ação do sol e chuva. Deve ter as laterais fechadas para
evitar que os suínos se distraiam com a movimentação de pes-
soas e outros animais.
O piso deve ser antiderrapante, podendo ser emborrachado,
cimentado ou de estruturas metálicas. Havendo estruturas anti-
derrapantes sobre o piso (presença de grades) há necessidade
de manutenção periódica, a fim de mantê-las em perfeitas con-
dições para não causar ferimentos nos cascos dos animais.
Durante o desembarque o ideal é que os suínos não encontrem inclinações; não havendo possibili-
dade de eliminar a rampa, a inclinação máxima deve ser entre 10 e 15 graus. Uma inclinação muito
acentuada dificulta o manejo, tornando-o lento, e aumenta o risco de ocorrerem escorregões e que-
das, provocando problemas no bem-estar dos animais e na qualidade da carcaça.
A rampa deve ser lavada constantemente a fim de evitar acúmulo de água e fezes e reduzir o risco de
escorregões e quedas durante o desembarque.
Deve haver manutenção da rampa, evitando buracos, degraus, fendas (vãos entre caminhão e rampa),
pontas e qualquer outro tipo de material perfurante ou obstáculo que possa ferir o animal ou dificultar o
desembarque.
Rampa de desembarque com
inclinação adequada, laterais fechadas
e piso antiderrapante
Visão
monocular
Visão
monocular
Visão
binocular
Área cega
Imagem: Steps
Imagem: Steps
Ângulo de visão do suíno
Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps 49
Desembarcando os suínos
Os suínos devem ser desembarcados o mais rápido possível assim que chegam ao frigorífico. Pesquisas
têm demonstrado que, após 30 minutos de espera em ambientes com altas temperaturas, há aumento
nos níveis de estresse dos animais e na incidência de defeitos na carcaça.
Caso a espera seja inevitável, o frigorífico deve dispor de uma área
com ventilação e protegida do sol, a fim de minimizar o estresse
térmico dos suínos.
Embora o desembarque seja menos estressante se comparado
à etapa de embarque, a incidência de hematomas e lesões nos
animais pode ser muito elevada se os manejadores não estiverem
capacitados e auxílios de manejo adequados não forem utilizados.
Para se obter um manejo calmo e tranquilo, menos estressante ao
animal e com menor incidência de lesões, deve-se desembarcar os
suínos por compartimentos, dando tempo necessário para que o
primeiro suíno reconheça o novo ambiente e os demais o sigam.
Recomenda-se, para o desembarque, a utilização de chocalho e/ou ar comprimido para estimular os
animais a saírem do caminhão. Além desses métodos, também se pode utilizar a prancha de manejo na
rampa de desembarque para auxiliar a condução dos suínos até a área de descanso.
A utilização de piso hidráulico dos caminhões facilita o manejo e torna o desembarque mais rápido e
menos estressante para os animais.
Baixa iluminação da área, degraus e/ou espaços entre caminhão e rampa, assim como o modelo da ram-
pa (angulação acentuada, piso escorregadio e laterais abertas) podem aumentar a resistência dos suínos
a saírem do caminhão.
Piso da área de descanso
Desde o desembarque até a área de insensibilização e abate, o
piso deve ser uniforme e antiderrapante. Deve-se manter a mes-
ma coloração e textura, de forma que dê segurança aos animais
que estão sendo manejados, para que possam ser conduzidos
com tranquilidade, sem riscos de escorregões e quedas. Isso irá
encorajá-los a caminhar de forma constante, sem que haja redu-
ção da velocidade ou paradas.
Os suínos possuem pouca percepção de profundidade e, portan-
to, tornam-se relutantes para atravessar áreas com contrastes de
luz, ralos, buracos, degraus, poças de água, calhas e outras su-
perfícies em que exista um grande contraste de cor e textura.
Desembarque com a retirada dos
suínos por compartimentos e utilização
de auxílios de manejo adequados
Piso antiderrapante e de coloração
uniforme
Imagem: Steps
Imagem: Steps
50 Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps
Corredores da área de descanso
Os suínos são motivados a caminhar em grupo quando visua-
lizam outros suínos que já estão andando. Para facilitar a con-
dução desses animais, recomenda-se corredores largos, com
paredes laterais fechadas, eliminando o contato visual com os
outros suínos que permanecem nas baias de descanso e até
mesmo a movimentação de pessoas e equipamentos ao redor.
Isso evita as paradas por distrações e permite manter agilidade
na condução dos animais. Também é necessário manter a su-
perfície lateral dos corredores (portões e paredes) o mais unifor-
me possível, evitando contrastes de cor, textura e luminosidade
em todo o caminho.
Cantos e curvas
Os suínos são musculosos, pesados, têm corpo longo e precisam
de espaço para virar. Instalações com corredores muito estreitos e
mudanças de direção com ângulo muito fechado podem ser fisi-
camente difíceis para alguns suínos atravessarem. Alguns animais
param e outros muitas vezes se recusam a passar ou ficam presos.
A presença de ângulos muito fechados e cantos confunde o direcio-
namento dos animais.
Para que sejam encorajados a seguir em frente, os suínos neces-
sitam visualizar claramente para onde eles devem ir, para que não
tenham a percepção de um “corredor sem saída” e parem.
Disposição das baias de descanso
A disposição das baias em relação aos corredores e a distância entre as baias e o local da insensibilização
devem ser projetadas de maneira que facilitem o movimento dos suínos e promovam o fluxo contínuo e
rápido para o abastecimento da linha de abate.
As instalações da área de descanso em formato de espinha de peixe são construídas com as baias
dispostas em um ângulo de 45 graus em relação ao corredor (conforme a figura). Essa angulação em
relação ao corredor central induz a entrada e a saída dos suínos, tornando o manejo mais fácil e eficiente.
Corredores largos e com paredes
laterais fechadas, evitando distrações
dos suínos
Corredor com curva ampla é apropriado
para a condução dos suínos
Imagem: Steps
Imagem: Steps
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil
Abate h  de suinos   wspa brasil

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Doenças de suídeos OIE
Doenças de suídeos OIEDoenças de suídeos OIE
Doenças de suídeos OIEMarília Gomes
 
Sistemas de criação para ovinos e caprinos
Sistemas de criação para ovinos e caprinosSistemas de criação para ovinos e caprinos
Sistemas de criação para ovinos e caprinosKiller Max
 
Aula 1 Ezoognósia Equina - Nomenclatura do Exterior e Mensurações
Aula 1   Ezoognósia Equina - Nomenclatura do Exterior e MensuraçõesAula 1   Ezoognósia Equina - Nomenclatura do Exterior e Mensurações
Aula 1 Ezoognósia Equina - Nomenclatura do Exterior e MensuraçõesElaine
 
Diferenças entre ovinos e caprinos
Diferenças entre ovinos e caprinosDiferenças entre ovinos e caprinos
Diferenças entre ovinos e caprinosKiller Max
 
Sanidade e enfermidade de caprinos e ovinos - caprinos e ovinos
Sanidade e enfermidade de caprinos e ovinos - caprinos e ovinosSanidade e enfermidade de caprinos e ovinos - caprinos e ovinos
Sanidade e enfermidade de caprinos e ovinos - caprinos e ovinosMarília Gomes
 
Zootecnia Geral - Coelhos
Zootecnia Geral - CoelhosZootecnia Geral - Coelhos
Zootecnia Geral - CoelhosBruno Anacleto
 
Sistemas de produção de suínos
Sistemas de produção de suínosSistemas de produção de suínos
Sistemas de produção de suínosMarília Gomes
 
Obesidade em Cães e Gatos por Thalita Maciel
Obesidade em Cães e Gatos por Thalita MacielObesidade em Cães e Gatos por Thalita Maciel
Obesidade em Cães e Gatos por Thalita MacielThalita Maciel de Melo
 
Boas práticas de manejo na Vacinação
Boas práticas de manejo na VacinaçãoBoas práticas de manejo na Vacinação
Boas práticas de manejo na VacinaçãoPortal Canal Rural
 
Instalações e construções para suinocultura
Instalações e construções para suinoculturaInstalações e construções para suinocultura
Instalações e construções para suinoculturavelton12
 
Bovinos - Do bem-estar ao Processamento da carne
Bovinos - Do bem-estar ao Processamento da carneBovinos - Do bem-estar ao Processamento da carne
Bovinos - Do bem-estar ao Processamento da carneKiller Max
 
5C's da Criação de Bezerras
5C's da Criação de Bezerras5C's da Criação de Bezerras
5C's da Criação de BezerrasAgriPoint
 

Mais procurados (20)

Cenários da pecuária bovina de corte
Cenários da pecuária bovina de corte Cenários da pecuária bovina de corte
Cenários da pecuária bovina de corte
 
Doenças de suídeos OIE
Doenças de suídeos OIEDoenças de suídeos OIE
Doenças de suídeos OIE
 
Sistemas de criação para ovinos e caprinos
Sistemas de criação para ovinos e caprinosSistemas de criação para ovinos e caprinos
Sistemas de criação para ovinos e caprinos
 
Biossegurança.ppt
 Biossegurança.ppt  Biossegurança.ppt
Biossegurança.ppt
 
Aula 1 Ezoognósia Equina - Nomenclatura do Exterior e Mensurações
Aula 1   Ezoognósia Equina - Nomenclatura do Exterior e MensuraçõesAula 1   Ezoognósia Equina - Nomenclatura do Exterior e Mensurações
Aula 1 Ezoognósia Equina - Nomenclatura do Exterior e Mensurações
 
Raças de suínos
Raças de suínosRaças de suínos
Raças de suínos
 
Diferenças entre ovinos e caprinos
Diferenças entre ovinos e caprinosDiferenças entre ovinos e caprinos
Diferenças entre ovinos e caprinos
 
Aula melhoramento bovinos corte parte 2 2012
Aula melhoramento bovinos corte parte 2 2012Aula melhoramento bovinos corte parte 2 2012
Aula melhoramento bovinos corte parte 2 2012
 
Nutricao Animal
Nutricao AnimalNutricao Animal
Nutricao Animal
 
Sanidade e enfermidade de caprinos e ovinos - caprinos e ovinos
Sanidade e enfermidade de caprinos e ovinos - caprinos e ovinosSanidade e enfermidade de caprinos e ovinos - caprinos e ovinos
Sanidade e enfermidade de caprinos e ovinos - caprinos e ovinos
 
Zootecnia Geral - Coelhos
Zootecnia Geral - CoelhosZootecnia Geral - Coelhos
Zootecnia Geral - Coelhos
 
Sistemas de produção de suínos
Sistemas de produção de suínosSistemas de produção de suínos
Sistemas de produção de suínos
 
Obesidade em Cães e Gatos por Thalita Maciel
Obesidade em Cães e Gatos por Thalita MacielObesidade em Cães e Gatos por Thalita Maciel
Obesidade em Cães e Gatos por Thalita Maciel
 
Boas práticas de manejo na Vacinação
Boas práticas de manejo na VacinaçãoBoas práticas de manejo na Vacinação
Boas práticas de manejo na Vacinação
 
Livro criação racional de caprinos
Livro criação racional de caprinosLivro criação racional de caprinos
Livro criação racional de caprinos
 
Instalações e construções para suinocultura
Instalações e construções para suinoculturaInstalações e construções para suinocultura
Instalações e construções para suinocultura
 
Bovinos - Do bem-estar ao Processamento da carne
Bovinos - Do bem-estar ao Processamento da carneBovinos - Do bem-estar ao Processamento da carne
Bovinos - Do bem-estar ao Processamento da carne
 
Tpoa presunto
Tpoa presuntoTpoa presunto
Tpoa presunto
 
Apresentacao CTC ( ITAL)
Apresentacao CTC ( ITAL)Apresentacao CTC ( ITAL)
Apresentacao CTC ( ITAL)
 
5C's da Criação de Bezerras
5C's da Criação de Bezerras5C's da Criação de Bezerras
5C's da Criação de Bezerras
 

Semelhante a Abate h de suinos wspa brasil

Proteção aos animais 13
Proteção aos animais   13Proteção aos animais   13
Proteção aos animais 13rcatanese
 
ABC Criação de bovinos de leite no semiarido
ABC Criação de bovinos de leite no semiaridoABC Criação de bovinos de leite no semiarido
ABC Criação de bovinos de leite no semiaridoLenildo Araujo
 
PL incluiu corrida Dog Run no calendário oficial de eventos_Joel Rangel
PL incluiu corrida Dog Run no calendário oficial de eventos_Joel RangelPL incluiu corrida Dog Run no calendário oficial de eventos_Joel Rangel
PL incluiu corrida Dog Run no calendário oficial de eventos_Joel RangelClaudio Figueiredo
 
Cartilha Segurança Alimentar
Cartilha Segurança AlimentarCartilha Segurança Alimentar
Cartilha Segurança AlimentarRobson Peixoto
 
236-Bovino-primeiros-socorros_2022-06-03-142919_fnro.pdf
236-Bovino-primeiros-socorros_2022-06-03-142919_fnro.pdf236-Bovino-primeiros-socorros_2022-06-03-142919_fnro.pdf
236-Bovino-primeiros-socorros_2022-06-03-142919_fnro.pdfAgneloDouglas
 
Onde está a verdadeira revolução?
Onde está a verdadeira revolução?Onde está a verdadeira revolução?
Onde está a verdadeira revolução?command-coaching
 
Guia slowfood-100dicas-rio-de-janeiro
Guia slowfood-100dicas-rio-de-janeiroGuia slowfood-100dicas-rio-de-janeiro
Guia slowfood-100dicas-rio-de-janeiroJn Dq
 
Informativo AMARLE - 2
Informativo AMARLE - 2Informativo AMARLE - 2
Informativo AMARLE - 2AMARLE
 

Semelhante a Abate h de suinos wspa brasil (20)

Proteção aos animais 13
Proteção aos animais   13Proteção aos animais   13
Proteção aos animais 13
 
Cachorro13
Cachorro13Cachorro13
Cachorro13
 
Proteção aos animais 13
Proteção aos animais   13Proteção aos animais   13
Proteção aos animais 13
 
SEMEAR É O BICHO!
SEMEAR É O BICHO!SEMEAR É O BICHO!
SEMEAR É O BICHO!
 
04_ciencias_6ano1.pdf
04_ciencias_6ano1.pdf04_ciencias_6ano1.pdf
04_ciencias_6ano1.pdf
 
ABC Criação de bovinos de leite no semiarido
ABC Criação de bovinos de leite no semiaridoABC Criação de bovinos de leite no semiarido
ABC Criação de bovinos de leite no semiarido
 
Cartilha NEAFA 2016
Cartilha NEAFA 2016Cartilha NEAFA 2016
Cartilha NEAFA 2016
 
Projeto vida no_campo
Projeto vida no_campoProjeto vida no_campo
Projeto vida no_campo
 
PL incluiu corrida Dog Run no calendário oficial de eventos_Joel Rangel
PL incluiu corrida Dog Run no calendário oficial de eventos_Joel RangelPL incluiu corrida Dog Run no calendário oficial de eventos_Joel Rangel
PL incluiu corrida Dog Run no calendário oficial de eventos_Joel Rangel
 
Proteção aos animais 13
Proteção aos animais   13Proteção aos animais   13
Proteção aos animais 13
 
Revistapapocabeca3
Revistapapocabeca3Revistapapocabeca3
Revistapapocabeca3
 
Diário Oficial: 05-12-2015
Diário Oficial: 05-12-2015Diário Oficial: 05-12-2015
Diário Oficial: 05-12-2015
 
Cartilha Segurança Alimentar
Cartilha Segurança AlimentarCartilha Segurança Alimentar
Cartilha Segurança Alimentar
 
Fao carcin resp
Fao carcin respFao carcin resp
Fao carcin resp
 
236-Bovino-primeiros-socorros_2022-06-03-142919_fnro.pdf
236-Bovino-primeiros-socorros_2022-06-03-142919_fnro.pdf236-Bovino-primeiros-socorros_2022-06-03-142919_fnro.pdf
236-Bovino-primeiros-socorros_2022-06-03-142919_fnro.pdf
 
Revista papo cabeca
Revista papo cabecaRevista papo cabeca
Revista papo cabeca
 
Onde está a verdadeira revolução?
Onde está a verdadeira revolução?Onde está a verdadeira revolução?
Onde está a verdadeira revolução?
 
Guia slowfood-100dicas-rio-de-janeiro
Guia slowfood-100dicas-rio-de-janeiroGuia slowfood-100dicas-rio-de-janeiro
Guia slowfood-100dicas-rio-de-janeiro
 
Informativo AMARLE - 2
Informativo AMARLE - 2Informativo AMARLE - 2
Informativo AMARLE - 2
 
RESA
RESARESA
RESA
 

Último

cartilha-pdi-plano-de-desenvolvimento-individual-do-estudante.pdf
cartilha-pdi-plano-de-desenvolvimento-individual-do-estudante.pdfcartilha-pdi-plano-de-desenvolvimento-individual-do-estudante.pdf
cartilha-pdi-plano-de-desenvolvimento-individual-do-estudante.pdfIedaGoethe
 
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolaresALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolaresLilianPiola
 
O Universo Cuckold - Compartilhando a Esposas Com Amigo.pdf
O Universo Cuckold - Compartilhando a Esposas Com Amigo.pdfO Universo Cuckold - Compartilhando a Esposas Com Amigo.pdf
O Universo Cuckold - Compartilhando a Esposas Com Amigo.pdfPastor Robson Colaço
 
Investimentos. EDUCAÇÃO FINANCEIRA 8º ANO
Investimentos. EDUCAÇÃO FINANCEIRA 8º ANOInvestimentos. EDUCAÇÃO FINANCEIRA 8º ANO
Investimentos. EDUCAÇÃO FINANCEIRA 8º ANOMarcosViniciusLemesL
 
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptxSlides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
02. Informática - Windows 10 apostila completa.pdf
02. Informática - Windows 10 apostila completa.pdf02. Informática - Windows 10 apostila completa.pdf
02. Informática - Windows 10 apostila completa.pdfJorge Andrade
 
Aula 1, 2 Bacterias Características e Morfologia.pptx
Aula 1, 2  Bacterias Características e Morfologia.pptxAula 1, 2  Bacterias Características e Morfologia.pptx
Aula 1, 2 Bacterias Características e Morfologia.pptxpamelacastro71
 
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicasCenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicasRosalina Simão Nunes
 
BRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdf
BRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdfBRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdf
BRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdfHenrique Pontes
 
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptxATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptxOsnilReis1
 
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASBCRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASBAline Santana
 
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGIS
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGISPrática de interpretação de imagens de satélite no QGIS
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGISVitor Vieira Vasconcelos
 
Programa de Intervenção com Habilidades Motoras
Programa de Intervenção com Habilidades MotorasPrograma de Intervenção com Habilidades Motoras
Programa de Intervenção com Habilidades MotorasCassio Meira Jr.
 
Slides Lição 4, Betel, Ordenança quanto à contribuição financeira, 2Tr24.pptx
Slides Lição 4, Betel, Ordenança quanto à contribuição financeira, 2Tr24.pptxSlides Lição 4, Betel, Ordenança quanto à contribuição financeira, 2Tr24.pptx
Slides Lição 4, Betel, Ordenança quanto à contribuição financeira, 2Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
Modelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e Tani
Modelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e TaniModelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e Tani
Modelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e TaniCassio Meira Jr.
 
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADOactivIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADOcarolinacespedes23
 
Slides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptx
Slides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptxSlides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptx
Slides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
Apostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptx
Apostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptxApostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptx
Apostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptxIsabelaRafael2
 
ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024
ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024
ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024Jeanoliveira597523
 

Último (20)

cartilha-pdi-plano-de-desenvolvimento-individual-do-estudante.pdf
cartilha-pdi-plano-de-desenvolvimento-individual-do-estudante.pdfcartilha-pdi-plano-de-desenvolvimento-individual-do-estudante.pdf
cartilha-pdi-plano-de-desenvolvimento-individual-do-estudante.pdf
 
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolaresALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
 
O Universo Cuckold - Compartilhando a Esposas Com Amigo.pdf
O Universo Cuckold - Compartilhando a Esposas Com Amigo.pdfO Universo Cuckold - Compartilhando a Esposas Com Amigo.pdf
O Universo Cuckold - Compartilhando a Esposas Com Amigo.pdf
 
Investimentos. EDUCAÇÃO FINANCEIRA 8º ANO
Investimentos. EDUCAÇÃO FINANCEIRA 8º ANOInvestimentos. EDUCAÇÃO FINANCEIRA 8º ANO
Investimentos. EDUCAÇÃO FINANCEIRA 8º ANO
 
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptxSlides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
 
02. Informática - Windows 10 apostila completa.pdf
02. Informática - Windows 10 apostila completa.pdf02. Informática - Windows 10 apostila completa.pdf
02. Informática - Windows 10 apostila completa.pdf
 
Aula 1, 2 Bacterias Características e Morfologia.pptx
Aula 1, 2  Bacterias Características e Morfologia.pptxAula 1, 2  Bacterias Características e Morfologia.pptx
Aula 1, 2 Bacterias Características e Morfologia.pptx
 
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicasCenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
 
BRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdf
BRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdfBRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdf
BRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdf
 
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptxATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
 
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASBCRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
 
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGIS
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGISPrática de interpretação de imagens de satélite no QGIS
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGIS
 
Programa de Intervenção com Habilidades Motoras
Programa de Intervenção com Habilidades MotorasPrograma de Intervenção com Habilidades Motoras
Programa de Intervenção com Habilidades Motoras
 
Slides Lição 4, Betel, Ordenança quanto à contribuição financeira, 2Tr24.pptx
Slides Lição 4, Betel, Ordenança quanto à contribuição financeira, 2Tr24.pptxSlides Lição 4, Betel, Ordenança quanto à contribuição financeira, 2Tr24.pptx
Slides Lição 4, Betel, Ordenança quanto à contribuição financeira, 2Tr24.pptx
 
Modelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e Tani
Modelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e TaniModelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e Tani
Modelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e Tani
 
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADOactivIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
 
Slides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptx
Slides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptxSlides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptx
Slides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptx
 
Apostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptx
Apostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptxApostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptx
Apostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptx
 
ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024
ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024
ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024
 
XI OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA -
XI OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA      -XI OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA      -
XI OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA -
 

Abate h de suinos wspa brasil

  • 2. WSPA – Sociedade Mundial de Proteção Animal Av. Princesa Isabel, 323 / 8º andar • Copacabana Rio de Janeiro • CEP 22011-901 • RJ T: +55 (21) 3820-8200 F: +55 (21) 3820-8229 E: wspabrasil@wspabr.org W: www.wspabrasil.org ONG inscrita no CNPJ sob o número 01.004.691/0001-64 www.abatehumanitario.org
  • 3. Para mais informações e atualizações consulte nosso site: www.abatehumanitario.org A WSPA – Sociedade Mundial de Proteção Animal elaborou e patrocinou a produção do material de apoio, incluindo livros e DVDs, do Programa Nacional de Abate Humanitário Embora seus autores tenham trabalhado com as melhores informações disponíveis, não devem ser responsabilizados por perdas, danos ou injúrias de qualquer tipo, sofridas direta ou indiretamente, em relação às informações nas quais este material foi baseado. REALIZAÇÃO: APOIO: A WSPA agradece a todos que disponibilizaram imagens para este livro: Aos frigoríficos: Seara Alimentos S/A – SIF 490 Tyson do Brasil Alimentos Ltda – SIF 3742 Penasul Alimentos Ltda – SIF 544 Perdigão Agroindustrial S/A – SIF 466
  • 4. ABATE HUMANITÁRIO DE SUÍNOS CHARLI BEATRIZ LUDTKE JOSÉ RODOLFO PANIM CIOCCA TATIANE DANDIN PATRÍCIA CRUZ BARBALHO JULIANA ANDRADE VILELA OSMAR ANTONIO DALLA COSTA SOCIEDADE MUNDIAL DE PROTEÇÃO ANIMAL – WSPA BRASIL RIO DE JANEIRO / RJ
  • 5. Projeto gráfico: LCM Comunicação Ltda. Ilustração: Animal-i e Anderson Micael Dandin Revisão: Adaumir Rodrigues Castro, Verônica T. Gonçalves, Nanci do Carmo, Patrycia Sato e Anna Paula Freitas Partes deste manual foram elaboradas com a colaboração de Miriam Parker e Josephine Rodgers, integrantes da Animal-i. Animal-i Ltda.: 103 Main Road, Wilby, Northants, NN8 2UB, UK W: http://www.animal-i.com/index.cfm ® Todos os direitos reservados WSPA – Sociedade Mundial de Proteção Animal: Av. Princesa Isabel, 323 / 8º andar • Copacabana • Rio de Janeiro • CEP 22011-901 • RJ T: +55 (21) 3820-8200 F: +55 (21) 3820-8229 E: wspabrasil@wspabr.org W: www.wspabrasil.org CNPJ sob o número 01.004.691/0001-64 A119 Abate humanitário de suínos / Charli Beatriz Ludtke ... [et al.]. – Rio de Janeiro : WSPA, 2010 132 p. : il. ISBN: 978-85-63814-00-5 1. Suínos. 2. Abate humanitário-suínos. 3. Carne-qualidade. I. Ludtke, Charli Beatriz. II. Ciocca, José Rodolfo Panim. III. Dandin, Tatiane. IV. Barbalho, Patrícia Cruz. V. Vilela, Juliana Andrade. VI. Dalla Costa, O.A. VII. Título. CDU 637.512:636.4 Ficha catalográfica elaborada pela Seção Técnica de Aquisição e Tratamento da Informação – Serviço Técnico de Biblioteca e Documentação – UNESP, Campus de Jaboticabal.
  • 6. SUMÁRIO Apresentação............................................................................................................................. 7 Conceitos de bem-estar animal............................................................................................... 9 Introdução........................................................................................................................... 9 Comitê Brambell ................................................................................................................. 11 Definições de bem-estar animal ......................................................................................... 11 As cinco liberdades............................................................................................................. 12 Capacitação e treinamento ...................................................................................................... 13 Introdução........................................................................................................................... 13 Liderança eficaz.................................................................................................................. 13 Etapas do processo de treinamento................................................................................... 14 Motivação do funcionário ................................................................................................... 15 Capacitação e valorização das pessoas............................................................................. 16 Comportamento dos suínos..................................................................................................... 17 Introdução........................................................................................................................... 17 Comportamento dos suínos ............................................................................................... 17 Características sensoriais dos suínos................................................................................. 18 Visão ........................................................................................................................... 19 Olfato .......................................................................................................................... 20 Audição e comunicação ............................................................................................. 20 Comportamento aprendido................................................................................................. 20 Manejo pré-abate...................................................................................................................... 23 Introdução........................................................................................................................... 23 Os animais e o nível de atividade ....................................................................................... 24 A zona de fuga .................................................................................................................... 25 Ponto de equilíbrio.............................................................................................................. 26 Pessoas e animais .............................................................................................................. 26 Auxílios para o manejo........................................................................................................ 27 Conforto térmico ....................................................................................................................... 31 Introdução........................................................................................................................... 31 Princípios da termorregulação............................................................................................ 31 Mecanismos de troca de calor............................................................................................ 32 Radiação..................................................................................................................... 32 Condução ................................................................................................................... 33 Convecção.................................................................................................................. 33 Evaporação................................................................................................................. 34
  • 7. SUMÁRIO Troca de calor ..................................................................................................................... 34 Temperatura e conforto – zona termoneutra....................................................................... 35 Estresse térmico pelo frio ................................................................................................... 37 Estresse térmico pelo calor................................................................................................. 37 Recomendações para manejar suínos ofegantes e cansados ........................................... 38 Zona termoneutra na área de descanso no frigorífico........................................................ 38 Influência dos sistemas de nebulização na área de descanso................................... 38 Manutenção dos nebulizadores.................................................................................. 39 Área de descanso...................................................................................................................... 41 Introdução........................................................................................................................... 41 Tempo de descanso X hidratação ...................................................................................... 41 Estresse X tempo de descanso .......................................................................................... 42 Tempo de jejum .......................................................................................................... 42 Tempo de jejum X período de descanso no frigorífico ............................................... 43 Fornecimento de água durante o descanso....................................................................... 43 Espaço nas baias de descanso .......................................................................................... 44 Separação e mistura de lotes ............................................................................................. 45 Separação................................................................................................................... 45 Mistura de lotes .......................................................................................................... 45 Redução do estresse térmico pelo calor ............................................................................ 46 Estrutura da área de descanso................................................................................................ 47 Introdução........................................................................................................................... 47 Características da instalação na área de descanso ........................................................... 48 Rampa de desembarque ............................................................................................ 48 Desembarcando os suínos ......................................................................................... 49 Piso da área de descanso .......................................................................................... 49 Corredores da área de descanso ............................................................................... 50 Cantos e curvas.......................................................................................................... 50 Disposição das baias de descanso............................................................................ 50 Iluminação................................................................................................................... 52 Ruídos......................................................................................................................... 52 Sistemas de manejo para insensibilização elétrica............................................................. 53 Baia coletiva (sem contenção).................................................................................... 53 Restrainer (com contenção)........................................................................................ 53 Restrainer............................................................................................................................ 55 Modelo de restrainer em “V”....................................................................................... 55 Modelo de restrainer “Midas”..................................................................................... 56
  • 8. SUMÁRIO Insensibilização elétrica de dois pontos – eletronarcose ..................................................... 57 Introdução........................................................................................................................... 57 Como funciona?.................................................................................................................. 57 Princípios elétricos.............................................................................................................. 58 Resistência.......................................................................................................................... 59 Parâmetros do equipamento .............................................................................................. 60 Frequência .......................................................................................................................... 60 Tipos de insensibilização elétrica ....................................................................................... 61 Posicionamento do eletrodo............................................................................................... 61 Monitoramento da insensibilização ................................................................................... 63 Sinais de uma má insensibilização ..................................................................................... 66 Insensibilização elétrica de três pontos – eletrocussão........................................................ 67 Introdução........................................................................................................................... 67 Como funciona?.................................................................................................................. 67 Fibrilação ventricular cardíaca ............................................................................................ 68 Parâmetros do equipamento .............................................................................................. 68 Monitoramento do equipamento ........................................................................................ 68 Posicionamento dos eletrodos ........................................................................................... 69 Monitoramento da eletrocussão ......................................................................................... 70 Sinais de uma má insensibilização ..................................................................................... 70 Sangria .................................................................................................................................... 73 Introdução........................................................................................................................... 73 Equipamento de emergência .............................................................................................. 73 Perda de sangue e morte.................................................................................................... 74 Procedimento para realização da sangria........................................................................... 76 Condição física.......................................................................................................................... 77 Introdução........................................................................................................................... 77 Manejo dos suínos no embarque........................................................................................ 77 Cuidados durante o transporte dos suínos ........................................................................ 78 Manejo dos suínos no desembarque.................................................................................. 79 Baias de sequestro ou observação..................................................................................... 81 Inspeção ante mortem ........................................................................................................ 82 Procedimentos para abate emergencial ............................................................................. 84 Insensibilização elétrica.............................................................................................. 84 Insensibilização mecânica por pistola de dardo cativo penetrante............................ 84 Monitoramento da insensibilização mecânica............................................................ 86
  • 9. SUMÁRIO Estresse e qualidade da carne................................................................................................. 89 Introdução........................................................................................................................... 89 Estresse............................................................................................................................... 89 Formas de avaliações do estresse...................................................................................... 90 Qualidade da carne............................................................................................................. 90 Fatores que podem influenciar a qualidade da carne......................................................... 91 Metabolismo muscular post mortem e a qualidade da carne ............................................ 92 Curva de pH da carne......................................................................................................... 93 Defeitos da carne suína ...................................................................................................... 94 DFD............................................................................................................................. 94 PSE ............................................................................................................................. 95 Avaliações físico-químicas.................................................................................................. 97 Avaliação do pH.......................................................................................................... 97 Análise da cor ............................................................................................................. 97 Perda por exsudação (drip loss) ................................................................................. 99 Métodos de controle de qualidade da carne...................................................................... 100 Auditoria de bem-estar animal............................................................................................ 101 Avaliação visual................................................................................................................... 110 Escoriações na carcaça.............................................................................................. 110 Hematoma, contusão e fratura................................................................................... 112 Petéquias (salpicamento)............................................................................................ 116 Referências ............................................................................................................................... 119
  • 10. Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps 7 APRESENTAÇÃO A WSPA – Sociedade Mundial de Proteção Animal (World Society for the Protection of Animals) constatou a necessidade de elaborar e implantar o Programa “Steps” para proporcionar melhorias no bem-estar dos animais de produção. Depois da intensificação da produção animal, as pessoas perderam parte da sensibilidade e conheci- mento prático em relação aos animais. Esse Programa tem a intenção de resgatar a sensibilidade das pessoas, enfatizando a importância de evitar o sofrimento desnecessário. Este livro é parte do material didático elaborado pelo Steps para a formação dos multiplicadores que irão atuar na rotina de trabalho e proporcionar um melhor tratamento para os animais. Embora o manejo pa- reça algo simples, é necessário o conhecimento sobre os animais, como eles interagem com o ambiente e como as instalações e equipamentos podem proporcionar recursos que auxiliem o manejo calmo e eficiente, reduzindo o estresse tanto para as pessoas como para os animais. Esta edição traz informações práticas, com embasamento científico e linguagem acessível, aplicáveis à realidade brasileira. Certamente será uma ferramenta valiosa para contribuir na elaboração dos planos de bem-estar animal nas agroindústrias e na formação de futuros profissionais que atuarão na área, além de fornecer conhecimentos que favorecem o manejo, através de melhorias nas instalações e equipamentos. Outra seção de relevância discute os procedimentos de insensibilização e emergência para animais im- possibilitados de andar. A implantação de programas de bem-estar animal nas agroindústrias é uma ferramenta essencial para minimizar riscos, melhorar o ambiente de trabalho, incrementar a produtividade e atender às exigências de mercados internacionais e da legislação brasileira. Além de reduzir as perdas de qualidade do produto final, contribuirá para diminuir a ocorrência de hematomas, contusões e lesões. Esperamos que este livro seja interessante, útil e informativo. Charli B. Ludtke Gerente de Animais de Produção WSPA Brasil
  • 11. 8 Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps
  • 12. Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps 9 CONCEITOS DE BEM-ESTAR ANIMAL  INTRODUÇÃO A preocupação com o bem-estar animal no manejo pré-abate iniciou-se na Europa no século XVI. Há relatos de que os animais deveriam ser alimentados, hidratados e descansados antes do abate e que re- cebiam um golpe na cabeça que os deixava inconscientes, antes que fosse efetuada a sangria, evitando sofrimento. A primeira Lei geral sobre bem-estar animal surgiu no ano de 1822, na Grã Bretanha. No Brasil, há décadas já existe lei que sustenta a obrigatoriedade de atenção ao bem-estar animal e a aplicação de penalidades a quem infringi-la. A primeira legislação brasileira que trata desse assunto é o Decreto Lei número 24.645 de julho de 1934. Com o decorrer dos anos foram surgindo novas legisla- ções para assegurar, entre outras finalidades, o cumpri- mento das normas de bem-estar animal, como o Regu- lamento de Inspeção Industrial e Sanitária dos Produtos de Origem Animal (RIISPOA) conforme o Decreto nº 30.691, de 29 de março de 1952, sendo algumas nor- mas específicas para cada espécie, como a Portaria nº 711 de 01 de novembro de 1995, que aprova as Normas Técnicas de Instalações e Equipamentos para Abate e Industrialização de Suínos. As mais recentes legislações brasileiras sobre o bem- estar animal são: Instrução Normativa nº 3, de janeiro de 2000, que é um Regulamento Técnico de Métodos de Insensibilização para o Abate Humanitário de Animais de Açougue e o Ofício Circular n° 12, de março de 2010, que estabelece adaptações da Circular 176/2005, na qual se atribui responsabilidade aos fiscais fede- rais para a verificação no local e documental do bem-estar animal através de planilhas oficiais padronizadas. Em março de 2008, foi instituída pelo Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), através da Portaria n° 185, a Comissão Técnica Permanente do MAPA para estudos específicos sobre bem-estar animal nas diferentes cadeias pecuárias. Coordenada pela Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo (SDC), e composta por membros da SDC, Secretarias de Defesa Agropecuária (SDA), Secretaria de Relações Internacionais (SRI) e pela Consultoria Jurídica do MAPA. O objetivo da Comissão é fomentar o bem-estar animal no Brasil, buscando estabelecer normas e legislações de acordo com as demandas. A primeira publicação da Comissão foi a Normativa n° 56, de 06 de novembro de 2008, que estabelece os procedimentos gerais de Recomendações de Boas Práticas de Bem-estar para Animais de Produção e de Interesse Econômico – REBEM, abrangendo os sistemas de produção e o transporte. Sistemas de criação que visam ao bem-estar animal Imagem: Steps
  • 13. 10 Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps Com base na atualização do RIISPOA, os procedimentos de bem-estar animal devem ser atendidos e respeitados por todos os estabelecimentos processadores de carne. Os frigoríficos são obrigados a ado- tar técnicas de bem-estar animal, aplicando ações que visem proteção dos animais, a fim de evitar maus tratos desde o embarque na propriedade até o momento do abate; devem dispor de instalações próximas ao local de origem dos animais para recepção e acomodação, com o objetivo de minimizar o estresse após o desembarque. As infrações ao RIISPOA, bem como a desobediência ou inobservância aos preceitos de bem-estar animal dispostos nele acarretará, conforme sua gravidade, advertência e multa ou até suspensão de atividades do estabelecimento. O Brasil, por ser um país exportador, é signatário da OIE (Organização Mundial de Saúde Animal), aten- dendo as diretrizes internacionais de abate humanitário. Essas recomendações abordam a necessidade de assegurar que os animais de produção não sofram durante o período de pré-abate e abate, envolven- do os seguintes itens: • Os animais devem ser transportados apenas se estiverem em boas condições físicas; • Os manejadores devem compreender o comportamento dos animais; • Animais machucados ou sem condições de moverem-se devem ser abatidos de forma humanitária imediatamente; • Os animais não devem ser forçados a andar além da sua capacidade natural, a fim de se evitar quedas e escorregões; • Não é permitido o uso de objetos que possam causar dor ou injúrias aos animais; • O uso de bastões elétricos só deve ser permitido em casos extremos e quando o animal tiver clareza do caminho a seguir; • Animais conscientes não podem ser arrastados ou forçados a moverem-se caso não estejam em boas condições físicas; • No transporte, os veículos deverão estar em bom estado de conservação e com adequação da densidade; • A contenção dos animais não deve provocar pressão e barulhos excessivos; • O ambiente da área de descanso deve apresentar piso bem drenado e ser bem iluminado, respeitando o comportamento natural dos animais; • No momento da espera no frigorífico, deve-se supri-los com suas necessidades básicas como forne- cimento de água, espaço, condições favoráveis de conforto térmico; Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária dos Produtos de Origem Animal (RIISPOA) Imagem: Steps
  • 14. Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps 11 • O abate deverá ser realizado de forma humanitária, com equipamentos adequados para cada espécie; • Equipamento de emergência para insensibilização deve estar disponível para em caso de falha do primeiro método.  COMITÊ BRAMBELL Os primeiros princípios sobre bem-estar animal começaram a ser estudados em 1965 por um comitê formado por pesquisadores e profissionais relacionados à agricultura e pecuária do Reino Unido, denomi- nado Comitê Brambell, iniciando-se, assim, um estudo mais aprofundado sobre conceitos e definições de bem-estar animal. Esse Comitê constituiu uma resposta à pressão da população, indignada com os maus tratos dados aos animais em sistemas de confinamento, denunciados no livro “Animal Machines” (Animais Máquinas), publicado pela jornalista inglesa Ruth Harrison em 1964. O sistema intensivo de produção de animais teve início após a Segunda Guerra Mundial, quando houve grande escassez de alimentos na Europa e o modelo de produção industrial em larga escala e em série atingiu todos os setores, inclusive o pecuário.  DEFINIÇÕES DE BEM-ESTAR ANIMAL A primeira definição elaborada sobre bem-estar pelo Comitê foi: “Bem-estar é um termo amplo, que abrange tanto o estado físico quanto o mental do animal. Por isso, qualquer tentativa para avaliar o nível de bem-estar em que os animais se encontram deve levar em conta a evidência científica existente rela- tiva aos sentimentos dos animais. Essa evidência deverá descrever e compreender a estrutura, função e formas comportamentais que expressam o que o animal sente.” Essa definição, pela primeira vez na história, fez uma referência aos senti- mentos dos animais. Posteriormente, surgiram várias definições sobre o tema bem-es- tar, como a de Barry O. Hughes em 1976: “É um estado de com- pleta saúde física e mental, em que o animal está em harmonia com o ambiente que o rodeia”. No entanto, a definição mais utiliza- da é a de Donald M. Broom (1986): “O estado de um indivíduo du- rante suas tentativas de se ajustar ao ambiente”. Nessa definição, bem-estar significa “estado” ou “qualidade de vida”, que pode variar entre muito bom e muito ruim. Um animal pode não conseguir, apesar de várias tentativas, ajustar-se ao ambiente e, portanto, ter um bem- estar ruim, por exemplo, um suíno com hipertermia por não conseguir se adaptar a um ambiente com alta temperatura e umidade. Expressão do comportamento normal do suíno Imagem: Steps
  • 15. 12 Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps  AS CINCO LIBERDADES Para avaliar o bem-estar dos animais é necessário que sejam mensuradas diferentes variáveis que inter- ferem na vida dos animais. Para isso, o Comitê Brambell desenvolveu o conceito das “Cinco Liberdades”, que foram aprimoradas pelo Farm Animal Welfare Council – FAWC (Conselho de Bem-estar na Produção Animal) do Reino Unido e têm sido adotadas mundialmente. O bem-estar do animal é o resultado da somatória de cada liberdade mensurada, para avaliar de forma abrangente todos os fatores que interferem na qualidade de vida do animal. É crescente a preocupação dos consumidores com a forma como os animais são criados, transportados e abatidos, pressionando a indústria ao desafio de um novo paradigma: trate com cuidado, por respeitar a capacidade de sentir dos animais (senciência), melhorando não só a qualidade intrínseca dos produtos de origem animal, mas também a qualidade ética. Os princípios básicos que devem ser observados para atender à qualidade ética no manejo pré-abate são: • Métodos de manejo pré-abate e instalações que reduzam o es- tresse; • Equipe treinada e capacitada, comprometida, atenta e cuidado- sa no manejo dos suínos; • Equipamentos apropriados, devidamente ajustados à espécie e situação a serem utilizados e com manutenção periódica; • Processo eficaz de insensibilização que induza à imediata perda da consciência e sensibilidade, de modo que não haja recuperação, e consequentemente não haja sofrimento até a morte do animal. Portanto, para o programa de bem-estar ser efetivo no manejo pré-abate, é necessário que todas as pessoas envolvidas no processo; gerência, fiscalização, fomento, transportadores, garantia da qualidade, manutenção, manejadores e consumidores, estejam comprometidas. Expressão do comportamento natural dos suínos ao ar livre Imagem: Steps As Cinco Liberdades são • Livre de sede, fome e má-nutrição; • Livre de desconforto; • Livre de dor, injúria e doença; • Livre para expressar seu comportamento normal; • Livre de medo e diestresse.* * Diestresse: Estresse negativo, intenso, ao qual o suíno não consegue se adaptar, tornando-se causa de sofrimento.
  • 16. Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps 13  INTRODUÇÃO Capacitar pessoas para o manejo com os animais é o fator de maior impacto positivo para o bem-estar em frigoríficos. Quando se fornece aos colaboradores informações, recursos e procedimentos adequados para esse serviço há uma consequente mudança de conduta, favorecendo os animais e atingindo níveis mais elevados na qualidade da carne. A falta de recursos disponíveis aos colaboradores no ambiente de trabalho é um dos maiores obstáculos para o sucesso de um treinamento, o que dificulta muitas vezes as mudanças positivas almejadas no manejo dos animais. É difícil manter um alto padrão no serviço quando se trabalha num ambiente quente, sem acesso a água e sob cansaço. Problemas como esses no ambiente de trabalho, em que o bem-estar humano está comprometido, são facilmente transmitidos, em forma de violência ou descuido aos animais. É esperado que a escassez ou ausência de recursos proporcione um manejo inadequado. Quando mencionamos recursos, não nos referimos apenas à infra-estrutura, mas a tudo que envolve o ambiente de tra- balho, cuja saúde deve ser preservada. O maior provedor dessa condição reside na função do líder. Para ser um líder não basta ter um cargo de dirigente, como gerente ou supervisor; a liderança abrange uma conduta oti- mizada dessas funções, com fortes traços de sinergia. Pes- soas que assumiram a responsabilidade de guiar outras pes- soas, valorizando as diferenças e unindo a ação de todas as partes para um resultado significativamente melhor.  LIDERANÇA EFICAZ Os líderes desempenham um papel-chave na gestão de pessoas dentro de um frigorífico. Eles fornecem conhecimento, motivação e a confiança necessária para estimular os colaboradores a encarar o trabalho com entusiasmo e seriedade. A motivação incorpora ações destinadas a reconhecer e incentivar as pessoas envolvidas no processo pré-abate, especialmente as mais empenhadas e/ou mais contributivas para o sucesso da mudança, providência que deve ser adotada no dia a dia de trabalho. Treinamento sobre abate humanitário – utilização de prancha para manejar os suínos CAPACITAÇÃO E TREINAMENTO Imagem: Steps
  • 17. 14 Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps Ser bom ouvinte e ótimo observador auxilia na descoberta de manejadores que se destacam não só pelo trabalho correto, mas também pelo poder de influência que estes exercem sobre os demais colegas para aderir as boas práticas. A adesão dessas pessoas às novas práticas acelera a aceitação pelos demais funcionários ao treinamento. A comunicação clara entre líderes e colaboradores é importante para o esclarecimento das necessida- des e dificuldades de cada parte, para que possam ser discutidas e então solucionadas. Funcionários satisfeitos realizam suas tarefas com alto rendimento, o que por sua vez leva a um manejo mais eficaz. Dinâmica de grupo e treinamento prático – Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps  ETAPAS DO PROCESSO DE TREINAMENTO Há várias etapas que descrevem um processo de treinamento; dentre elas estão a difusão de conheci- mento, a melhoria na capacidade de desenvolver a atividade e a transformação da forma de pensar dos colaboradores, o que resulta numa mudança direta na conduta do pessoal. Imagem: Steps Imagem: Steps Características de um líder • Tem autocontrole; • Inova; • Desenvolve; • Tem humildade e firmeza em suas colocações; • Focaliza as pessoas; • Inspira confiança, é sincero e esclarece mal-entendidos; • Motiva, trata a todos como pessoas importantes, sabe dar atenção, supre as necessidades dos colaboradores; • Observa; • Tem perspectiva de longo prazo e determinação, persistindo em suas escolhas; • Pergunta o quê e por quê; • É original e autêntico; • Faz as coisas certas; • Não guarda ressentimento.
  • 18. Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps 15 Durante a etapa de difusão de conhecimentos, ao se fornecer informações sobre os animais, é necessária a modificação na forma de perceber os animais pelos colaboradores, não apenas como um produto de valor comercial, mas sim como seres sencientes, ou seja, com capacidade de sofrer, sentir dor, pra- zer, satisfação. Essa modificação de conceito em relação aos animais é fundamental para a mudança de atitude no treinamento dos funcionários.  MOTIVAÇÃO DO FUNCIONÁRIO Estar motivado para executar um serviço é essencial para que o trabalho seja realizado de uma forma pro- dutiva e eficiente. Segundo Abraham Maslow, há uma hierarquia nas necessidades humanas que, quando atendidas, motivam fortemente as pessoas, por favorecerem seu bem-estar: 1. Necessidades fisiológicas – conforto térmico, ginástica laboral, bebedouros próximos, local para descanso, período de trabalho razoável, rodízio de função, intervalos adequados para per- mitir o acesso ao refeitório e alimentação, melhoria do ambiente de trabalho (música, cor, luz); 2. Necessidades de segurança – boa remuneração, estabilidade de emprego, condições seguras de trabalho (instalações e equipamentos apropriados), equipamentos de proteção individual (pro- tetor auricular, luvas de aço, botas, entre outros), ambulatório; 3. Necessidades sociais – boas interações com os super- visores, gerentes, amizade dos colegas, ser aceito pelo grupo, confraternizações (festas, gincanas); 4. Necessidades de estima – reconhecimento, responsa- bilidade por resultados, incentivos financeiros (bonifica- ções, brindes), não trocar funcionários de setores sem antes desenvolver treinamento; 5. Necessidades de auto-realização – criação de grupos para resolução de problemas do setor, participação nas discussões e decisões, trabalho criativo, desafiante, au- tonomia. O fornecimento de recursos que supram essas necessidades é de grande importância para um bom re- sultado no manejo. Pesquisas relataram o aumento no uso do bastão elétrico para conduzir animais em frigoríficos no decorrer do dia, comprovando diminuição na qualidade desse serviço, o que possivelmente está associado ao cansaço dos funcionários e ao aumento da temperatura ambiente. Outro fator que compromete o manejo está na valorização da pressa no serviço. Quanto maior a velocidade da linha de abate, maior a dificuldade em manter um bom manejo. Há várias formas de motivar os colaboradores, como por exemplo, um acréscimo salarial em forma de bônus, equivalente à redução de hematomas, contusões, fraturas, repercute positivamente na qualidade do serviço, promovendo uma ação mais cuidadosa no manejo. Área de descanso e lazer favorecendo o bem-estar dos funcionários Imagem: Steps
  • 19. 16 Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps O inverso também gera resultados, quando há penalidade no pagamento de produtores ou motoristas que transportam suínos com grande incidência de lesões e mortalidade. Outro modo de motivação está na atuação do líder em acreditar na capacidade de evolução de cada um de seus subordinados. Essa ação produz um efeito profundo na mudança de sua equipe, além de inte- gração e confiança. No entanto, pesquisadores como a Dra. Temple Grandin relatam que grande parte das modificações no manejo, conquistadas pelo treinamento, não se sustentam por longo prazo. Há uma tendência de os co- laboradores retornarem sua antiga forma de trabalhar quando não há um sistema de monitoramento e incentivos internos do frigorífico. Daí a necessidade de programas dentro das empresas que assumam a responsabilidade com a manutenção de um manejo atento às características e necessidades dos animais.  CAPACITAÇÃO E VALORIZAÇÃO DAS PESSOAS Contudo, sabe-se que o treinamento de pessoas para adoção de um manejo não violento, que respeite o comportamento e favoreça o bem-estar do animal envolve uma reformulação de conceitos e atitudes, estando o seu sucesso diretamente dependente dos investimentos ligados à motivação das pessoas envolvidas no manejo. Essa dinâmica funciona como uma forma de transferência de recursos. No entanto, vê-se em alguns frigoríficos a transferência de pessoas com pouca ou nenhuma qualificação para a chamada “área suja”, que é a etapa que necessita de maior atenção e cuidado por manejar direta- mente os animais vivos. Além disso, quando ocorre a substituição de um funcionário por outro, de setor distinto, sem treinamento para o manejo dos animais, desvaloriza-se a capacitação e não há o reconhe- cimento das habilidades dos funcionários. Quando valorizamos o trabalho dessas pessoas, seja qual for a forma de incremento nesse serviço, elas transferem aos animais, através de suas condutas, o mesmo acréscimo de atenção e cuidado. Essa é uma mudança verdadeira e pode ser atingida através de um processo efetivo de treinamento. Equipes de frigorífico capacitadas para realizar o manejo implementando as práticas de bem-estar animal Imagem: Steps Imagem: Steps
  • 20. Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps 17 COMPORTAMENTO DOS SUÍNOS  INTRODUÇÃO O manejo no frigorífico exerce grande influência no bem-estar dos animais. Se um sistema de abate não for acompanhado por uma boa prática de manejo, haverá um desafio significativo para a preservação de um bom nível de bem-estar dos animais. É fundamental conhecer o comportamento dos suínos para ter- mos habilidade em reconhecer sinais de estresse e dor e manejá- los de forma eficaz no pré-abate, para que haja um equilíbrio entre a produção ética e a rentabilidade econômica. É necessário conhecer as relações dos suínos com o ambiente de produção e as suas necessidades para poder proporcionar, nas instalações e no manejo, os recursos que promovam melho- rias no bem-estar.  COMPORTAMENTO DOS SUÍNOS Tudo o que os animais fazem, como andar, olhar, comer, agrupar-se, brigar, fugir, entre tantos outros compor- tamentos, contribui para sua sobrevivência. Vários são os fatores que influenciam o modo de agir dos animais: • Comportamento inato – Reações pré-programadas, o suíno já nasce com potencial de expressá-las, não dependem de experiências e são típicas da espécie; • Comportamento aprendido – Depende de experiências vividas por cada suíno, provém de vivências individuais. Os suínos são onívoros, alimentam-se de grama, raízes, frutas e sementes e adaptam sua dieta à dispo- nibilidade de alimentos. Possuem dentes e mandíbulas fortes para morder, podendo ser predadores, mas também presas. Passam, em média, 19 horas por dia deitados, 5 horas dormindo e apenas de 1 a 3 horas alimentando-se. Diariamente, suínos entre 50 a 150kg ingerem em torno de 5 a 10 litros de água, podendo variar de acordo com o animal, fatores ambientais, dieta. São animais sociais, vivendo normalmente em grupos de 2 a 6 fêmeas, que têm um relacionamento pró- ximo de suas leitegadas. Machos têm tendência de viverem isolados a maior parte do tempo ou formando grupos com outros machos. Comportamento natural dos suínos em sistema de criação ao ar livre (SISCAL) Imagem: Steps
  • 21. 18 Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps Os suínos devem ser conduzidos sempre em grupo, respeitando a característica de serem gregários. Quando isolados tendem a mudar seu comportamento e suas reações, tornando-se mais agitados ou até agressivos, pois é extremamente estressante para eles serem separados de seu grupo. Para que se tenha maior domínio sobre esses animais, recomenda-se que sejam manejados em pequenos grupos. Cada grupo estabelece uma condição hierárquica ou organização social. A hierarquia é imposta através de disputas entre os animais e a força é determinante para estabelecer essa ordem de dominância. Com isso, explica-se o fato de que a mistura de lotes de animais desconhecidos leva à luta e ao estabeleci- mento de uma nova posição hierárquica entre os animais recém-conhecidos, podendo levar vários dias para que essa hierarquia seja restabelecida.  CARACTERÍSTICAS SENSORIAIS DOS SUÍNOS Suínos dependem principalmente dos sentidos visão, olfato e audição para avaliar estímulos e, assim, responder a diferentes situações, como mudanças no ambiente e ameaças; por exemplo, ao se depara- rem com um barulho repentino sua primeira reação é evitá-lo, ou seja, fugir. Após avaliar a situação, se não for perigosa, o suíno perderá o interesse. Fêmeas com suas leitegadas em sistema de criação ao ar livre (SISCAL) Olfato, audição e visão, os três principais órgãos dos sentidos utilizados pelos suínos para avaliar estímulos Imagem: Steps Imagem: Steps Imagem: Steps Imagem: Steps Imagem: Steps
  • 22. Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps 19 Em situações de alerta, tendem a se agrupar, podendo liberar feromônios através da urina, saliva e outras vias, alertando os demais sobre a situação estressante em que se encontram; os demais responderão com medo a esses sinais, podendo dificultar o manejo. Visão Os olhos dos suínos estão localizados nas laterais da cabeça, têm visão binocular, monocular e a área cega. Eles têm boa visualização de cores, mas pouca percepção de profundidade. Têm boa visão notur- na que ajuda na detecção de movimentos. Para facilitar o manejo, deve-se manter uniformidade de cor (paredes e pisos) nas áreas de grande circulação dos animais. Com a visão binocular, enxergam bem com os dois olhos em uma faixa estreita a sua frente, de onde têm a percepção de profundidade e clareza. Se o suíno precisar ver algo clara- mente, é necessário que esteja diretamente à sua frente. É por esse motivo que viram ou abaixam a cabeça para encarar o manejador, objetos ou variações no ambiente. A altura do desembarcadouro, da entrada do caminhão ou um ralo no corredor do frigorífico são exemplos de alterações no piso que fazem com que os suínos utilizem a visão binocular. A visão monocular é ampla e panorâmica, podendo che- gar a 310 graus à sua volta, dependendo da posição das orelhas. Por isso, são capazes de detectar movimentos mesmo quando estão com a cabeça baixa, fuçando ou escavando. Nesta visão lateral, projetada por cada olho independentemente, não há noção de profundidade e os suínos só enxergam nitidamente se posicionarem a cabe- ça em direção à imagem que querem detectar, utilizando a visão binocular. A área cega está localizada diretamente atrás dos suínos e em uma pequena área logo a frente do focinho de onde não conseguem enxergar nem perceber movimentos. Para otimizar o manejo, deve-se evitar a área cega para que os suínos não se dispersem tentando localizar o manejador (detalhes descritos no capítulo de manejo). Imagem: Steps Imagem: Steps Imagem: Steps
  • 23. 20 Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps Olfato É um dos sentidos mais importantes dos suínos, sendo usado também para reconhecimento individual e interação social. O olfato contribui nas infor- mações hierárquicas do grupo (dominância), por exemplo, a liberação de feromônios de submissão de um subordinado para um dominante. Audição e comunicação Os sinais vocais são os meios de comunicação mais importantes entre os suínos. Foram identificadas cerca de 20 chamadas diferentes com seis padrões vocais facilmente reconhecidos por humanos. Cada chamada possui uma função, por exemplo: • Grunhidos – uma série de grunhidos curtos é dada em resposta a eventos familiares, por exemplo, quando estão fuçando. Um único grunhido curto é dado quando o suíno é perturbado; • Vocalizações de alerta – são repetidas por outros suínos que, em seguida, paralisam-se ou fogem; • Vocalização aguda – suíno assustado; • Vocalização longa – suíno machucado ou estressado. A intensidade e duração da vocalização indicam a seriedade da situação. Quanto maior a intensidade, maior o grau de dor e sofrimento.  COMPORTAMENTO APRENDIDO Os suínos têm boa memória de longo e curto prazo, ou seja, conseguem lembrar fatos que ocorreram du- rante toda a criação até momentos antes do abate. Podem ser condicionados à rotina de manejo, aprendem habilidades no meio em que vivem e é fácil treiná-los com recompensas. Portanto, a resposta dos suínos ao manejo no frigorífico está diretamente relacionada ao manejo que tiveram na granja ao longo de toda sua vida. Um exemplo desse comportamento pode ser observado em suínos que têm pouco contato com huma- nos nas granjas ou que foram submetidos a um manejo agressivo, como empurrar e bater. Isso produzirá reações de medo e dificultará o manejo no frigorífico. Dessa forma, devemos incentivar a mudança das práticas de manejo nas granjas, com maiores intera- ções positivas entre humanos e suínos, o que proporcionará melhor qualidade de vida para os animais e facilidade no manejo pré-abate. Utilização da audição para avaliar situações de perigo e reconhecer os sinais vocais do grupo Utilização do olfato para reconhecimento do ambiente Imagem: Steps Imagem: Steps
  • 24. Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps 21  LEMBRE-SE • É importante conhecer o comportamento dos suínos para facilitar as práticas de manejo; • Os suínos percebem o ambiente utilizando, principalmente, a visão, audição e olfato, rea- gindo de acordo com o comportamento inato e aprendido (experiências passadas); • Eles enxergam claramente em uma estreita área voltada a sua frente (visão binocular) – noção de profundidade; • Têm visão lateral ampla e panorâmica (visão monocular) para detectar movimentos, sem detalhes; • Possuem uma área cega de onde não conseguem enxergar nem perceber movimentos; • Suínos que tiveram experiências positivas na granja são mais fáceis de manejar.
  • 25. 22 Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps
  • 26. Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps 23 MANEJO PRÉ-ABATE  INTRODUÇÃO Manejo pré-abate envolve três elos-chave: animais, instalações e pessoas. Esses elos interagem entre si com efeitos que podem contribuir para um bom manejo. Para isso, é necessário o conhecimento de cada um e de sua influência nos demais, buscando sempre boas interações. O melhor nível possível de bem- estar animal estará na harmonia entre os três elos. 1. Animais: reagem ao ambiente do frigorífico e ao comando das pessoas envolvidas no manejo, haven- do diferenças individuais e entre linhagens genéticas; 2. Instalações: a forma como a estrutura física do frigorífico é projetada e construída para favorecer o manejo; 3. Pessoas: como as pessoas se comportam e interagem com os suínos e com as instalações. Esses três elos são interdependentes e o conhecimento sobre os animais é o impulso que dinamiza e favorece essas interações; quando em harmonia, eles minimizam o nível de estresse nos animais e pessoas envolvidas. As instalações devem ser projetadas de acordo com o comportamento e a percepção dos suínos. Cabe aos manejadores conhecer e utilizar os recursos que as mesmas possam oferecer ao manejo, assim como corrigir suas limitações, caso algum ponto crítico venha a surgir. Instalações Harmonia Pessoas Animais Bem-estar animal – área de interseção positiva entre os três elos
  • 27. 24 Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps O bom manejo pré-abate não depende apenas do conhecimento das pessoas sobre os animais que manejam, mas também é importante que os funcionários tenham compreensão de como seu próprio comportamento pode influenciar na eficácia do processo de manejo. Como o comportamento dos animais não ocorre ao acaso, mas sim em resposta a algum estímulo, en- tender o que desencadeia essas respostas e o que causa essas reações nos animais é importante para se conhecer as influências a que eles estão submetidos. No frigorífico encontramos suínos de muitas procedências, que tiveram diferentes experiências durante a criação e estas poderão interferir no manejo pré-abate. Muitos suínos são facilmente conduzidos, porque tiveram um bom manejo na granja. No entanto, alguns animais podem ser difíceis de serem manejados e isso pode estar associado ao manejo na criação, genética, instalações deficientes do frigorífico ou dificul- dade dos manejadores em conduzi-los. Portanto, devemos minimizar o estresse e sofrimento aos suínos e permitir que eles sejam conduzidos da melhor forma, favorecendo o bem-estar e a qualidade da carne, diminuindo o risco de lesões.  OS ANIMAIS E OS NÍVEIS DE ATIVIDADE Na granja, a atividade de um suíno varia entre deitar, dormir, levantar, comer e beber até reações de luta, fuga e paralisação. Um bom manejador é também um bom observador! Antes de iniciar o manejo, é ideal que seja observa- do o nível de agitação e o temperamento dos animais, para que essas informações indiquem como se comportar diante de cada grupo de suínos. Poderá haver maior ou menor necessidade de estimular os animais para que respondam ao manejo na direção e velocidade desejadas. Se os manejadores aumentam significativamente os níveis de estresse dos suínos que estão sendo con- duzidos, estes vocalizam, expressam medo e tentam fugir abruptamente ou algumas vezes tornam-se agressivos e enfrentam o manejador, o que dificulta o controle e a condução do grupo, exigindo maior tempo para a realização do manejo. Imagem: Steps
  • 28. Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps 25  A ZONA DE FUGA Suínos preservam uma área ao seu redor, denomina- da “zona de fuga”, que é a máxima aproximação que um animal tolera a presença de um estranho ou ame- aça, antes de iniciar a fuga. Quando a zona de fuga é invadida o suíno tende a afastar-se para manter uma distância segura da ameaça. No entanto, em situações críticas, o suíno pode paralisar ou lutar, caso não haja espaço para fuga. O tamanho da zona de fuga pode variar dependendo da espécie, genética e experiências vividas. Os suínos, em razão de serem onívoros e possuírem presas (dentes), estão mais preparados para atacar e se defender de um predador. Com isso, apresentam zona de fuga menor quando comparados com es- pécies ruminantes, como ovinos ou bovinos. Suínos de linhagens mais dóceis e animais que passaram por experiências positivas durante a criação na granja podem apresentar uma zona de fuga ainda menor. A compreensão da zona de fuga é importante para influenciar, conduzir e controlar o movimento dos suínos. Para isso, o manejador deve: • Situar-se na extremidade posterior da zona de fuga e para um dos lados, evitando estar na área cega do animal, onde não conseguem enxergar nem perceber movimentos; • Caminhar apenas dentro do limite da zona de fuga, para fazer que o animal avance; • Assim que o animal avançar, avance com ele, permanecendo dentro da zona de fuga; • Observe que, ao mover-se para fora da zona de fuga do suíno e parar, o animal também para de se movimentar. Nem sempre é possível entrar na zona de fuga de cada suíno, devido ao fato de o manejo ser realizado em grupo. No entanto, procure posicionar-se de forma que os suínos o mantenham em contato visual (mova-se de um lado para o outro atrás do grupo); isso irá estimular o grupo a continuar avançando. Se o manejador invadir demais a zona de fuga do animal, a reação do suíno será fugir, se houver espaço para isso; caso não haja, ele irá virar-se e tentará voltar para ultrapassar o manejador. Manejador no limite da zona de fuga para fazer o suíno avançar Imagem: Steps Zona de fuga determinada pelo suíno para se proteger de ameaças ou predadores Imagem: Steps
  • 29. 26 Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps Os manejadores podem interferir na distância de fuga do animal, assim como na velocidade de fuga, conforme o modo como se aproximam. Se agir de forma calma e em silêncio, o manejador reduz a ve- locidade de reação do animal; níveis crescentes de barulho ou movimentação, por parte do manejador, aumentarão essa resposta.  PONTO DE EQUILÍBRIO O ponto de equilíbrio é um limite estabelecido na paleta (escápula) do suíno. O manejador utilizará o ponto de equilíbrio para controlar o mo- vimento e a direção do animal e então conduzi-lo da forma desejada. Os suínos se movem para frente ou para trás, dependendo da po- sição onde estiver o manejador: • Se o manejador posicionar-se à frente do ponto de equilíbrio e dentro da zona de fuga (posição 1), o suíno se moverá para trás; • Se estiver atrás do ponto de equilíbrio e dentro da zona de fuga (posição 2), o animal se moverá para frente; • Se estiver fora da zona de fuga (posição 3) o animal irá parar. Conforme figura abaixo.  PESSOAS E ANIMAIS É importante reconhecer que o manejo dos animais deverá ser executado apenas por pessoas prepa- radas, de forma a minimizar estresse, que possa vir de atitudes agressivas contra os animais ou simples- mente de um manejo sem cuidado. Pesquisas comprovam que o treinamento dos manejadores traz resultados positivos para o manejo. No entanto, deve haver supervisão, instalações e equipamentos funcionais e pessoas comprometidas, valo- rizadas e motivadas. Conhecendo os princípios de manejo e o comportamento gregário dos suínos, pode-se utilizar alguns recursos que auxiliam no manejo. Posições do manejador na condução do suíno utilizando o ponto de equilíbrio e a zona de fuga Imagem: Steps Imagem: Steps Ponto de equilíbrio Zona de fuga Área cega
  • 30. Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps 27 B. Pranchas (tábuas) e lonas – têm como principal função limitar e/ou bloquear a visão do suíno para incentivá-lo a se mover para frente. Outra função é evitar que o suíno se recuse a andar ou se mova em direção não desejada. Utilização de prancha para auxiliar a condução dos suínos Uso de lona para facilitar a condução dos suínos Imagem: Steps Imagem: Steps A. Chocalhos, remo, voz, palmas e ar comprimido – são auxílios que estimulam a condução do suíno através, principalmente, do som emitido e da forma com que são movimentados. É importante salientar que a emissão do som de forma contínua não trará respostas tão significativas na condução quando comparada à utilização intermitente. Deve-se evitar o uso rotineiro e contínuo, principalmente do cho- calho, em animais que já estão se movimentando na direção desejada. Utilização de chocalho para auxiliar a condução dos suínos Uso do remo para incentivar a condução Auxílio de ar comprimido para conduzir os suínos Imagem: Steps Imagem: Steps Imagem: Steps  AUXÍLIOS PARA O MANEJO São equipamentos e/ou atitudes do manejador que auxiliam na condução dos suínos. Quando utilizados corretamente, esses auxílios encorajam os animais a se moverem para onde o manejador deseja. Certos grupos de suínos podem requerer mais persuasão do que outros para se moverem. O essencial é que o nível de persuasão seja ampliado apenas quando não houver resposta do animal. Os auxílios podem ser classificados:
  • 31. 28 Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps C.Bastões elétricos – transmitem corrente elétrica para o animal. O uso desse método é tolerado APENAS como último recurso e somente nos suínos que se recusam permanentemente a se mover. Em muitos países, a utilização desse equipamento/instrumento é legalmente controlada e permitida apenas no corredor que antecede a insensibilização. A utilização do bastão elétrico deve restringir-se a situações de extrema necessidade, quando todos os outros auxílios de manejo aplicados não obtiveram resultado e NUNCA deve ser tolerada a utilização em partes sensíveis do suíno, como ânus, genitais, focinho, olhos, entre outros (isso se aplica também a qualquer outro auxílio de manejo). Quando necessário, o uso do bastão elétrico é permitido apenas: • Nos membros traseiros dos suínos; • Em animais que recusam permanentemente a se mover; • Por um período de um segundo, com intervalo entre cada aplicação; • Quando há espaço à frente do suíno. ATENÇÃO! É comum em frigoríficos a utilização in- correta do bastão elétrico no corredor que antecede o restrainer quando os animais estão em fila indiana e sem espaço para andar. Lembre-se! O bastão elé- trico deve ser utilizado somente no animal que tem espaço à frente e não naqueles que estão impossibi- litados de avançar. Os bastões elétricos NUNCA DEVEM ser utilizados: • Repetidamente, se o animal não reagir; • Ligados à rede elétrica, devido ao fato de a alta voltagem provocar choques extremamente dolorosos. A utilização desse equipamento para conduzir suínos é um hábito vicioso e promove mais estresse e sofri- mento aos animais, muitas vezes causando amontoamento e pânico, atrapalhando o manejo; por isso, há necessidade de ser controlada ou extinta. Mudanças de hábitos como a substituição desse instrumento por outros (chocalho, remo, lona, ar comprimido, prancha ou tábua) melhoram o manejo. Imagem: Steps Estímulo com as mãos – incentivam e agilizam o movimento através do contato físico com o suíno. A intensidade da força aplicada e a região em que o suíno está sendo tocado devem ser adequadas e controladas. Estímulo com as mãos para incentivar o movimento do suíno Imagem: Steps Utilização incorreta do bastão elétrico
  • 32. Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps 29 Dicas para um bom manejo: • Observar a reatividade do lote para definir a forma com que irá manejar os animais; • Ter calma e respeito aos animais; • Avançar devagar na zona de fuga dos suínos; • Ter atenção ao posicionamento em relação aos animais, utilizando o ponto de equilíbrio e evitando a área cega; • Conduzir pequenos grupos de suínos por vez. O menor número de animais promove maior con- trole do lote; • Evitar isolar um suíno; • Evitar que os animais fiquem parados em corredores de manejo por longos períodos (horário de almoço). Isso provoca ansiedade, agitação e impede o acesso a água.  LEMBRE-SE: • A harmonia entre os três elos-chave (animais, pessoas e instalações) minimiza o estresse dos manejadores e dos animais durante o manejo; • Utilize a zona de fuga e o ponto de equilíbrio para influenciar, conduzir e controlar o movi- mento dos suínos; • A utilização de auxílios para o manejo (chocalho, lona, ar comprimido, mãos, voz, remo, prancha ou tábua) deve ser feita de forma cautelosa para facilitar o manejo e evitar as agressões; • O bastão elétrico só é tolerado como último recurso, apenas quando o animal tiver espaço para avançar, por um período de 1 segundo, nos membros traseiros; • NUNCA utilize o bastão elétrico em regiões sensíveis do suíno, como ânus, genitais, foci- nho, olhos, entre outros.
  • 33. 30 Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps
  • 34. Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps 31 CONFORTO TÉRMICO  INTRODUÇÃO Um dos maiores desafios durante o manejo pré-abate no frigorífico é manter o controle das condições am- bientais na área de descanso de forma que proporcione o conforto térmico e auxilie na recuperação do estresse físico a que os suínos foram submetidos durante o embarque, transporte e desembarque. Considerando que os suínos têm um sistema termorregulador deficiente devido ao fato de possuírem glândulas sudoríparas queratinizadas, uma grande quantidade de tecido adiposo e elevado metabolismo, há muita preocupação com a temperatura adequada do am- biente, que tem efeito direto sobre o bem-estar dos animais. Os suínos, assim como os humanos, são homeotérmicos, isto é, mantêm a temperatura corporal dentro de certos limites (38,7°C a 39,8°C), independentemente da variação da tempe- ratura ambiental. No entanto, para manter a regulação da tem- peratura corporal é preciso trocar calor continuamente com o ambiente e essa troca só é eficiente quando a temperatura do ambiente está dentro dos limites da termoneutralidade.  PRINCÍPIOS DA TERMORREGULAÇÃO A regulação da temperatura corporal é realizada por diversos mecanismos, sendo a maioria acionada por meio de centros termorreguladores, localizados no hipotálamo, termorreceptores da pele e dos tecidos mais profundos. Quando há alteração da temperatura corporal do suíno, detectado pelo centro térmico do hipotálamo, são desencadeados alguns procedimentos para manter a temperatura corporal normal próxima a 39°C. Para que a termorregulação seja eficiente, é fundamental que o total de calor produzido pelo suíno seja igual ao total de calor perdido para o ambiente. = TOTAL DE CALOR PRODUZIDO PELO SUÍNO TOTAL DE CALOR PERDIDO PELO SUÍNO Comportamento natural dos suínos para perder calor e manter-se na zona de conforto térmico Imagem: Steps
  • 35. 32 Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps Quando a temperatura do ambiente diminui os suínos podem sair da zona de conforto térmico; com isso, o organismo aciona mecanismos para produzir calor. Já em situações de aumento da temperatura do ambiente, os mecanismos são acionados para perder calor. Nessas situações, ocorrem mudanças fisioló- gicas e também pode haver mudanças comportamentais com que o animal busca maximizar a eficiência de troca do calor.  MECANISMOS DE TROCA DE CALOR O sistema homeostático promove o equilíbrio térmico através da regulação da temperatura corporal, de modo a mantê-la dentro de limites toleráveis para o perfeito funcionamento do organismo. Dessa forma, há quatro mecanismos com os quais o suíno pode trocar calor com o ambiente, tais como: Radiação É a troca de calor (perda ou ganho) através de ondas eletromagnéticas, que ocorre quando o suíno emite calor para um ambiente mais frio ou absorve a radiação sob a forma de onda. Exemplos de fontes de radiação que podem promover o ganho de calor são: sol, lâmpada e fogo. A intensidade da troca de calor por radiação depende da: • Diferença de temperatura entre o suíno e fonte de calor; • Área da superfície corporal exposta e distância da fonte de calor; • Cor da superfície – suínos de cor clara refletem uma grande porção da radiação solar que os atinge, enquanto os suínos de cor escura absorvem grande parte da radiação. Perda de calor do suíno para o ambiente por radiação Exposição dos suínos ao sol – ganho de calor por radiação agrava o estresse térmico Imagem: Steps Imagem: Steps
  • 36. Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps 33 Condução Troca de calor devido ao contato direto do corpo do suíno com o solo, água ou outras superfícies. Para perder calor por condução, o suíno procura maximizar a área de superfície corporal em contato com su- perfícies mais frias. A intensidade da troca de calor por condução depende da: • Diferença na temperatura das superfícies; • Área que está em contato com a outra superfície; • Condutividade térmica das superfícies. Convecção É a transferência de calor devido ao movimento de ar na superfície da pele ou da circulação sanguí- nea transportando calor dos tecidos para a superfície corporal do suíno. A intensidade da troca de calor por convecção depende da: • Diferença na temperatura entre o suíno e o ambiente; • Velocidade relativa do ar ou do suíno. Perda de calor do suíno para o ambiente por condução Perda de calor por condução – contato com superfície mais fria Perda de calor do suíno para o ambiente por convecção Perda de calor por convecção – ventilação forçada na área de descanso Imagem: Steps Imagem: Steps Imagem: Steps Imagem: Steps
  • 37. 34 Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps Evaporação É a transformação do líquido para a fase gasosa (vapor). O resfriamento evaporativo respiratório (ofe- gação) constitui-se num dos mais importantes meios de perda de calor dos suínos em temperaturas elevadas, podendo ser responsável pela perda de até 60% do calor corporal. Quanto maior a frequência respiratória dos suínos, maior quantidade de calor é dissipada para o ambiente. Outra forma de troca de calor por evaporação é a sudorese; nos suínos, essa troca é praticamente nula, uma vez que possuem número reduzido de glândulas sudoríparas, sendo estas ineficientes. A intensidade da troca de calor por evaporação depende da: • Diferença na temperatura entre o suíno e o ambiente; • Umidade relativa do ambiente.  TROCA DE CALOR A troca de calor devido à radiação, condução e convecção depende da diferença de temperatura entre o suíno e seu ambiente. No entanto, a evaporação não está relacionada somente à variação da tempera- tura, mas também sofre grande influência da umidade relativa do ar ao redor dos suínos. Conforme a temperatura do ambiente aumenta, o suíno perde menos calor por radiação, condução e convecção, e a evaporação torna-se o método predominante de resfriamento. Entretanto, conforme a umidade relativa aumenta, o suíno perde menos calor por evaporação. Perda de calor do suíno para o ambiente por evaporação Perda de calor por evaporação – suíno ofegante Imagem: Steps Imagem: Steps
  • 38. Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps 35 Cada método de troca de calor varia consideravelmente de acordo com: • Fatores climáticos (temperatura, velocidade e umidade relativa do ar); • Condições climáticas (variação sazonal e período do dia); • Características da construção (ventilação, tipo de piso, incidência solar); • Fatores intrínsecos do suíno (idade, sexo, genética); • Densidade de suínos no local (caminhão ou baia).  TEMPERATURA E CONFORTO – ZONA TERMONEUTRA Para cada fase da criação dos suínos há uma determinada faixa de temperatura do ambiente em que o suíno mantém constante a temperatura corporal com o mínimo esforço dos mecanismos termorregu- latórios. É a chamada zona de conforto térmico (ZCT), em que não há sensação de frio ou calor e o desempenho do suíno em qualquer atividade é otimizado. A zona termoneutra delimita a faixa de temperatura de conforto térmico do suíno e seus limites são conhecidos como temperatura crítica inferior (TCI) e crítica superior (TCS) do ambiente; abaixo ou acima desses limites, os suínos precisam ganhar ou perder calor para manter constante a sua tempe- ratura corporal. Densidade elevada no transporte resulta em estresse térmico e pode levar a alta taxa de mortalidade Imagem: Osmar Dalla Costa Imagem: Steps Trocas de calor do suíno para o ambiente
  • 39. 36 Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps Em um ambiente frio, a temperatura crítica inferior é aquela em que o organismo irá acionar os me- canismos termorregulatórios para aumentar a produção e retenção do calor corporal, compensando a perda de calor para o ambiente. Assim como em um ambiente quente, a temperatura crítica superior é aquela na qual o suíno aciona os mecanismos para perder calor, sendo que o ganho é maior que a perda. Nessa faixa os mecanismos como a ofegação e a vasodilatação periférica entram em ação, au- xiliando o processo de dissipação do calor. A figura abaixo mostra as condições ótimas de temperatura (zona de conforto térmico) e as temperaturas críticas (inferior e superior) no ambiente, que delimitam a zona termoneutra. Em situações de extremo de temperatura, a vida dos suínos pode estar em risco. No entanto, a maioria dos suínos pode suportar baixas temperaturas por um período de tempo maior e recuperar-se. Já curtos períodos com temperaturas elevadas podem ser fatais. O quadro abaixo apresenta as temperaturas e umidades relativas ótimas e críticas para suínos nas fases de crescimento e terminação. Peso vivo (kg) Temperaturas ótimas (°C) Críticas (°C) Umidades relativas (%) Mín. Máx. TCI TCS Ótimas Críticas mín. e máx. 20-35 18 20 8 27 70 <40 e >90 35-60 16 18 5 27 70 <40 e >90 60-100 12 18 4 27 70 <40 e >90 Suíno não consegue manter calor corporal Suíno não consegue controlar a temperatura corporal 4°C 12°C 18°C 27°C MORTE MORTE OFEGAÇÃOTREMOR, AGLOMERAÇÃO Redução do calor Temperatura ambiente agradável Aumento do calor Fonte: adaptado de Leal & Nããs (1992) Estresse pelo frio ZONA TERMONEUTRA Estresse pelo calorTCI Zona de Conforto Térmico (ZCT) TCS Fonte: adaptado de Sousa (2002)
  • 40. Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps 37 Temperatura corporal do suíno 8°C abaixo do normal – situação de hipotermia Temperatura corporal do suíno 4°C acima do normal – situação de hipertermia  ESTRESSE TÉRMICO PELO FRIO A temperatura crítica inferior do ambiente está em torno de 4°C para suínos de 60 a 100kg. En- tretanto, se a temperatura corporal do suíno diminuir 7°C a 8°C abaixo do normal, estará numa condição de hipotermia e caso esse período se prolongue e nenhuma providência seja tomada, o suíno poderá morrer. Em situações de estresse térmico por frio, os suínos tendem a se agrupar, evitam exposições ao vento e reduzem a ingestão de água, com a finalidade de manter o calor produzido. Nessas situações, o organismo aciona mecanismos para maximizar a produção de calor como, por exemplo, o tremor muscular.  ESTRESSE TÉRMICO PELO CALOR A temperatura crítica superior do ambiente está em torno de 27°C (para suínos com peso entre 60 e 100kg). Quando a temperatura corporal do suíno aumentar acima do valor médio considerado normal (próximo a 39°C), ocorrerá estresse pelo calor ou hipertermia. E caso essa variação de temperatura corporal atinja 4°C acima da temperatura normal poderá ocorrer a morte do suíno. Em situações de estresse térmico por calor no frigorí- fico, o suíno altera seu comportamento em busca de superfícies mais frias e correntes de ar, dispersam-se entre si e aumentam o consumo de água. No entanto, se esses mecanismos de troca não forem suficientes, a situação se agrava e os suínos passam a perder ca- lor através da ofegação. Imagem: Steps Imagem: Steps
  • 41. 38 Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps  RECOMENDAÇÕES PARA MANEJAR SUÍNOS OFEGANTES E CANSADOS Para os animais que chegam ao frigorífico com grave estresse térmico por calor são recomenda- dos os seguintes procedimentos: • Movimentar o mínimo possível o suíno para evitar o agravamento do estresse térmico; • Utilizar o carrinho para a condução do desembarque à baia de descanso; • Deixar o suíno descansando na baia de emergência, que deve ser um ambiente calmo, tranquilo e fresco. Isso facilita a troca de calor e a recuperação desse animal; • Deixar o suíno descansando próximo ao bebedouro; • Molhar o piso onde o suíno irá permanecer descansando, para facilitar a perda de calor por condução; • Ter cuidado ao molhar o suíno diretamente para não agravar a situação, ocasionando um choque térmico (água fria em contato com a superfície corporal quente). Caso o suíno esteja num estado muito grave de estresse térmico ou cansado, o ideal é que não seja movimentado e simplesmente descanse em um local o mais próximo do ponto de chegada, desde que seja calmo, fresco, com acesso a água e sem circulação de pessoas.  ZONA TERMONEUTRA NA ÁREA DE DESCANSO NO FRIGORÍFICO No ambiente de descanso, o objetivo é proporcionar o máximo de conforto térmico para recuperar os suínos e facilitar o manejo. Com isso, as instalações no frigorífico devem visar o controle dos fatores climáticos. Influência dos sistemas de nebulização na área de descanso A utilização da nebulização com água nas baias de descanso tem como objetivo proporcionar melhores condições ambientais para os animais, minimizando o estresse térmico, já que promove diminuição da temperatura corporal, tensão cardiovascular e acalma os suínos. Outro objetivo é promover o umede- cimento da pele e com isso reduzir a resistência para que auxilie na condução da corrente aplicada e proporcione melhor eficiência do insensibilizador elétrico. No entanto, os sistemas de nebulização são eficientes somente se a água utilizada for mais fresca que a temperatura corporal dos suínos e o ambiente seja ventilado para promover a movimentação do ar frio sobre os animais. Em algumas regiões onde a temperatura ambiental é elevada e com pouca ventilação, podem ser instalados ventiladores na área de descanso. Entretanto, o correto posicionamento desses ventiladores é fundamental para facilitar a retirada do ar quente ao redor dos suínos e com isso melhorar a troca de calor por convecção. A aplicação da nebulização e ventilação deve levar em conta o monitoramento do comportamento dos suínos nas baias tanto em dias frios quanto em dias quentes. Em regiões com temperaturas próximas
  • 42. Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps 39 a 10°C não é recomendada, pois acentua a perda de calor, promovendo hipotermia nos animais, o que gera sofrimento, podendo levar a tremores musculares e aumento da incidência de defeitos de qualida- de da carne (DFD). Recomendações internacionais para o uso da ne- bulização aconselham utilizá-la em temperaturas acima de 10ºC e umidade relativa do ambiente me- nor que 80%, sendo que o melhor regime consiste em duas aplicações da nebulização com 30 minutos na chegada e 30 minutos na saída dos suínos das baias de espera. No entanto, nas condições climáticas brasileiras não há resultados de pesquisa que comprovem o melhor tempo de uso e seus efeitos no bem-estar dos suínos. Com isso, muitas vezes a nebulização é utilizada de forma incorreta, mesmo em dias frios e de forma contínua. Manutenção dos nebulizadores A manutenção constante dos bicos dos nebulizadores para regular a pressão adequada e saída da água é fundamental para proporcionar a saturação do ar com umidade (formação de pequenas gotículas) e promover o conforto térmico. Quando os bicos dos nebulizadores encontram-se entupidos ou a canalização não possui pressão su- ficiente de água ocorre a formação de duchas (chu- veiros) e a água cai sobre os suínos tornando-os mais ativos durante o descanso. Dessa maneira, é comum visualizar muitas vezes os suínos refugarem o local. Nebulizadores em bom estado de funcionamento – manutenção periódica Imagem: Steps Comportamento característico de suínos com estresse por frio – evitam a nebulização, se aglomeram e apresentam tremor muscular Imagem: Steps
  • 43. 40 Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps  LEMBRE-SE: • Mantenha a densidade adequada, evite paradas durante a viagem e procure transportar os suínos nos horários com temperaturas amenas; isso poderá reduzir o estresse térmico e evitar mortalidade no transporte; • Os suínos no frigorífico podem sofrer estresse pelo calor ou frio; • A equipe de manejadores precisa estar capacitada para reconhecer esses sinais de estresse nos suínos e se responsabilizar por proporcionar um ambiente que promova recuperação; • A temperatura e a umidade do ambiente na área de descanso do frigorífico devem perma- necer dentro da zona termoneutra; • As áreas de descanso devem ser cobertas (sombra), bem ventiladas e com sistema de ne- bulização para evitar o estresse térmico que pode levar a morte; • Suínos que chegam ao frigorífico com grave estresse térmico ou cansados devem ser ma- nejados de forma cautelosa, para não agravar seu sofrimento.
  • 44. Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps 41 ÁREA DE DESCANSO  INTRODUÇÃO Nas etapas de manejo pré-abate, o transporte é considerado um dos momentos de maior estresse, de- vido à interação com humanos, mudanças de ambiente, ruídos, lotação, mistura de lotes e à dificuldade dos animais de se deslocarem sobre rampas no embarque e desembarque. Dessa forma, promover descanso adequado aos suínos traz grandes benefícios em termos de bem-estar e qua- lidade da carne. O propósito dessa área é permitir aos suínos o descanso e a recuperação do estresse decorrente do transporte, completar o tempo de jejum, realizar a inspeção ante mortem, assim como agrupar um número suficiente de animais para suprir a velocida- de da linha de abate. O ambiente da área de descanso deve proporcionar todas as condições que contribuam para minimizar o estresse, mesmo sabendo-se que a maioria dos suínos não consegue se habituar totalmente ao novo ambiente em um curto período de tempo. O tempo de permanência dos suínos na área de descanso sempre foi estimado considerando as necessi- dades operacionais, sanidade e higiene alimentar. Entretanto, resultados de diversas pesquisas também comprovaram que o longo tempo de descanso influencia negativamente o bem-estar animal e a qualidade da carne.  TEMPO DE DESCANSO X HIDRATAÇÃO Ao chegar à área de descanso alguns frigoríficos costumam adotar como procedimento lavar os suínos e submetê-los à dieta hídrica. A dieta hídrica (fornecimento de água) é fundamental para: • Recuperar os animais da desidratação causada pelo transporte; • Diminuir o estresse térmico pelo calor causado pelo esforço físico e aglomeração durante o transporte; • Facilitar a eliminação do conteúdo gastrointestinal para evitar que as vísceras sejam rompidas duran- te a evisceração e contaminem a carcaça. Ambiente da área de descanso adequado aos padrões de bem-estar Imagem: Steps
  • 45. 42 Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps  ESTRESSE X TEMPO DE DESCANSO O manejo pré-abate causa muito estresse aos suínos, por isso é necessário que os animais descansem antes do abate. As áreas de descanso devem oferecer um ambiente calmo e tranquilo e um manejo ade- quado, reduzindo ao máximo os fatores estressantes. No entanto, longos períodos nas baias de descanso podem comprometer o bem-estar dos animais e o rendimento da carcaça, assim como aumentar a incidência de: • Lesões provocadas por brigas; • Carnes DFD (dark, firm, dry – escura, firme e seca); • Contaminação bacteriana no ambiente de descanso. Quando os suínos chegam à área de descanso, tendem a se deitar e descansar do estresse físico causado pela etapa de transporte. Após um período de 2 a 4h, os animais começam a dar sinais de recuperação e a interagir com os demais do grupo. Nesse momento, se deixarmos os suínos expostos por longos períodos de descanso, aumenta o risco de se comprometer o bem-estar e a qualidade da carne. Nessa condição os suínos irão explorar o ambiente e intera- gir com os demais do grupo, e quando são desconhecidos (mistura de lotes), irão estabelecer uma nova hierarquia so- cial ocasionando brigas, que levam ao gasto excessivo de energia e escoriações na pele. Tempo de jejum O tempo de jejum é compreendido entre a retirada da última alimentação sólida (ração) na granja até o momento do abate. Durante esse período é essencial que os suínos tenham livre acesso a água. A prática do jejum objetiva atender aos critérios higiênico-sanitários, pois os suínos precisam chegar ao frigorífico com o mínimo de conteúdo gastrointestinal para reduzir riscos de contaminação durante a etapa da evisceração, assim como melhorar o bem-estar e reduzir a taxa de mortalidade no transporte. No entanto, o aumento da mortalidade no transporte em suínos com estômago cheio pode estar rela- cionado às seguintes causas: • O suíno é um animal monogástrico e se for transportado com estômago cheio poderá haver regurgita- ção ou vômito e assim provocar asfixia; • A circulação durante a digestão é direcionada para o sistema gastrointestinal, sendo que os demais órgãos trabalham com volume de sangue reduzido. Com isso, se os suínos forem expostos a situações de estresse como o transporte, o aporte de oxigênio ao cérebro poderá não ser o suficiente e, não havendo a oxigenação necessária, poderá ocorrer a morte; Escoriações na pele causadas por brigas devido ao longo período de descanso e mistura de lotes Imagem: Osmar Dalla Costa
  • 46. Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps 43 • Aumento do risco de hipertermia, prejudicando as células cardíacas podendo ocasionar parada cardíaca e morte; • O aumento do estômago pela ingestão de alimentos pode provocar pressão excessiva sobre a veia cava na cavidade abdominal e, com isso, reduz o retorno sanguíneo e torna-se insuficiente a circulação e oxigenação dos órgãos vitais; • Devido ao aumento do estômago, pode haver pressão sobre o diafragma, causando dificuldade respi- ratória pela pequena expansão pulmonar e consequente taquicardia. Quando o jejum é realizado de maneira correta, tem-se um im- pacto positivo no bem-estar e na qualidade da carne. No en- tanto, para definir o tempo ideal, recomenda-se levar em con- sideração o tempo de jejum na granja, duração do transporte e período de descanso no frigorífico. O tempo recomendado para a retirada do alimento até o abate não deve ser menor que 12 horas nem ultrapassar 18 horas no total (jejum na granja + transporte + espera no frigorífico). Tempo prolongado de jejum (acima de 24 horas) promove gasto excessivo de energia e perda no rendimento de carcaça, assim como pode provocar aumento nos valores de pH final (24h post mortem) e interferir na qualidade da carne. Tempo de jejum x período de descanso no frigorífico Realizando parte do jejum dos suínos na granja e reduzindo o período de descanso no frigorífico para 2 a 4 horas, os efeitos negativos do jejum ocasionados na qualidade da carne e contaminação da carcaça são minimizados, quando comparados àqueles animais mantidos nas baias de descanso por tempo prolongado. O jejum é de grande importância, principalmente para evitar a contaminação por Salmonella, que é liberada pelas fezes dos animais durante o transporte, continuando sua disseminação e contaminação cruzada nas baias de espera do frigorífico. Com isso, utilizar longo tempo de descanso nas baias no frigorífico poderá intensificar a contaminação por Salmonella devido ao fato de os suínos defecarem constantemente e manter o comportamento exploratório do ambiente, o que ocasiona aumento da contaminação das vias aéreas.  FORNECIMENTO DE ÁGUA DURANTE O DESCANSO A água é vital para qualquer ser vivo, tornando-se extremamente importante seu fornecimento em todas as baias durante o período de descanso. É responsabilidade de todos que trabalham nessa área oferecer água limpa (potável) e em quantidade suficiente para o tamanho do lote, já que os suínos não tiveram acesso à água desde o início do procedimento de embarque. Mortalidade durante o transporte – suínos com estômago cheio Imagem: Germano Musskopf
  • 47. 44 Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps De acordo com a legislação brasileira (Portaria n. 711), os bebedouros devem permitir que, no mínimo, 15% dos suínos de cada baia bebam simultaneamente. A água deve estar disponível o tempo todo. O tipo e a quantidade de bebedouros, a densidade e a qualidade da água irão afetar o consumo para todo o grupo. Por essa razão, é recomendado que os fun- cionários da área de descanso estejam sempre atentos à disponibilidade de água, ao funcionamento dos bebedouros, bem como seu posicionamento, porque pode haver animais com risco de desidratação por causa de competição pelos bebedouros ou por dificuldade de acesso a eles. Animais sob condições de desidratação devem ter prioridade no momento do abate e os funcionários que trabalham nessa área devem ser capazes de reconhecer os sinais que esses animais apresen- tam, tais como: • Mucosas secas e pálidas, assim como a procura por água, lambendo superfícies úmidas.  ESPAÇO NAS BAIAS DE DESCANSO Os suínos precisam de espaço suficiente para expressar seus comportamentos básicos como le- vantar, deitar, virar e andar, além de terem condições de explorar o ambiente à procura de água. Geralmente esses animais competem por espaço, o que gera estresse e aumento dos níveis de agressividade e brigas. Bebedouros na área de descanso do frigorífico Bebedouros devem ser mantidos limpos e com disponibilidade de água Alta densidade nas baias de descanso Alta densidade no transporte de suínos Imagem: Osmar Dalla Costa Imagem: Osmar Dalla Costa Imagem: Steps Imagem: Steps
  • 48. Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps 45 Há poucas informações científicas que indicam o espaço ideal para os suínos na área de descanso do frigorífico. Algumas regulamentações preconizam a utilização de uma densi- dade mínima de: União Europeia – 0,55 a 0,67m² / suíno (100kg) Estados Unidos – 0,50m² / suíno (100kg) Brasil – 0,60m² / suíno (100kg) No Brasil não há recomendações para a densidade no transporte, e a média de peso vivo dos suínos é próxima a 120kg. A recomendação da União Europeia é de 235kg/m² ou 0,425m² para um suíno de 100kg. No entanto, no Brasil deve-se considerar que haja um ajuste da densidade de acordo com a variação entre as regiões devido ao clima (quente ou frio).  SEPARAÇÃO E MISTURA DE LOTES Separação Os suínos que chegam ao frigorífico com sinais de dor e/ ou diestresse devem ser separados e alojados em baias onde haja maior controle e monitoramento da inspeção. Recomenda-se que seja feita a separação dos suínos que apresentam doenças, problemas de locomoção, prolap- sos e hérnias graves, caudofagia, contusões ou ferimen- tos. Deve-se também separar machos inteiros (cachaços) que podem promover maior agitação e brigas no grupo. A separação desses animais proporcionará melhor ava- liação do médico veterinário que realiza a inspeção ante mortem, evitando sofrimento desnecessário. Mistura de lotes Misturar suínos de diferentes grupos sociais (lotes) pre- judica o bem-estar devido ao aumento de brigas para restabelecer uma nova hierarquia social, principalmen- te quando o período de descanso é longo (maior que 4 horas). Há países no norte europeu que trabalham com a pro- dução de suínos sem misturá-los desde a maternidade até o abate. Quando não há essa possibilidade, pes- quisas mostram que a mistura dos suínos no caminhão apresenta melhor resultado em relação à diminuição de Suíno com problemas de locomoção – separação em baia de sequestro Briga entre suínos de diferentes lotes na área de descanso Imagem: Steps Imagem: Steps
  • 49. 46 Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps brigas, comparados àqueles que são misturados apenas no frigorífico. Isso ocorre porque durante a viagem, ao invés de os suínos brigarem, focam sua atenção em manter o equilíbrio do corpo e evitar quedas. Quando chegam ao frigorífico, já houve contato com o novo grupo.  REDUÇÃO DO ESTRESSE TÉRMICO PELO CALOR Os suínos sofrem naturalmente com as variações climáti- cas, principalmente em relação ao calor, por ter pequeno número de glândulas sudoríparas, o que dificulta a troca de calor e a regulação da temperatura corporal. Com o esforço físico nas etapas de embarque, transporte e desembarque, o estresse térmico pelo calor aumenta; assim, a área de descanso no frigorífico deve favorecer a perda de calor. Para isso, a área de descanso deve ser coberta e disponibilizar água, ventilação e nebuliza- ção. Informações adicionais estão descritas no capítulo Conforto térmico.  LEMBRE-SE: • O tempo de descanso no frigorífico deve causar o mínimo de estresse; • Procure manter o ambiente das baias calmo e tranquilo; • Forneça água limpa e de boa qualidade à vontade em todo o período de descanso; • Disponibilize espaço adequado nas baias para facilitar a recuperação dos suínos; • Evite a mistura de lotes para diminuir brigas e favorecer diretamente o bem-estar dos ani- mais e a qualidade da carne; • O tempo correto de jejum, reduzirá a taxa de mortalidade, risco de contaminação e terá um impacto positivo no bem-estar animal; • O tempo de jejum total não deve exceder as 18 horas. Utilização de nebulizadores para reduzir o estresse térmico por calor nas baias de descanso Imagem: Steps
  • 50. Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps 47 ESTRUTURA DA ÁREA DE DESCANSO  INTRODUÇÃO Na busca de priorizar o bem-estar no manejo pré-abate é essencial haver harmonia entre os três ele- mentos-chave (instalações, animais e as pessoas que os manejam). A interação positiva entre os três elos é o ponto de sustentação do bem-estar. A maneira como a área de descanso é projetada tem impacto significativo na qualidade do manejo, velocidade da linha e nas condições de trabalho. Quando projetamos ou modificamos essa área, não devemos somente dimensionar estruturas e definir espaços, mas entender o manejo em função das ne- cessidades dos animais, da interação deles com as pessoas e com as instalações. Deve-se dimensionar as instalações das baias de descanso em função do número de suínos que se pretende abater. Esse planejamento evita problemas futuros de ampliações não pro- jetadas que podem comprometer a qualidade das instalações. Para isso, a área de descanso deve ser projetada de forma que encoraje os suínos a andar e facilite o manejo, desde o desembarque até a área de abate, visando diminuir o estres- se e eliminar os riscos de ferimentos. Estrutura da área de descanso projetada para facilitar a condução dos suínos Imagem: Steps Instalações Pessoas Animais Harmonia
  • 51. 48 Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps Quando procuramos facilitar a condução dos suínos no manejo pré-abate, é essen- cial projetar a área de descanso sob o ponto de vista do suíno e não do homem, já que a altura e o ângulo de visão que o suíno tem do ambiente são diferentes do modo como o homem vê.  CARACTERÍSTICAS DA INSTALAÇÃO DA ÁREA DE DESCANSO Rampa de desembarque A rampa de desembarque deve ser construída em local prote- gido da ação do sol e chuva. Deve ter as laterais fechadas para evitar que os suínos se distraiam com a movimentação de pes- soas e outros animais. O piso deve ser antiderrapante, podendo ser emborrachado, cimentado ou de estruturas metálicas. Havendo estruturas anti- derrapantes sobre o piso (presença de grades) há necessidade de manutenção periódica, a fim de mantê-las em perfeitas con- dições para não causar ferimentos nos cascos dos animais. Durante o desembarque o ideal é que os suínos não encontrem inclinações; não havendo possibili- dade de eliminar a rampa, a inclinação máxima deve ser entre 10 e 15 graus. Uma inclinação muito acentuada dificulta o manejo, tornando-o lento, e aumenta o risco de ocorrerem escorregões e que- das, provocando problemas no bem-estar dos animais e na qualidade da carcaça. A rampa deve ser lavada constantemente a fim de evitar acúmulo de água e fezes e reduzir o risco de escorregões e quedas durante o desembarque. Deve haver manutenção da rampa, evitando buracos, degraus, fendas (vãos entre caminhão e rampa), pontas e qualquer outro tipo de material perfurante ou obstáculo que possa ferir o animal ou dificultar o desembarque. Rampa de desembarque com inclinação adequada, laterais fechadas e piso antiderrapante Visão monocular Visão monocular Visão binocular Área cega Imagem: Steps Imagem: Steps Ângulo de visão do suíno
  • 52. Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps 49 Desembarcando os suínos Os suínos devem ser desembarcados o mais rápido possível assim que chegam ao frigorífico. Pesquisas têm demonstrado que, após 30 minutos de espera em ambientes com altas temperaturas, há aumento nos níveis de estresse dos animais e na incidência de defeitos na carcaça. Caso a espera seja inevitável, o frigorífico deve dispor de uma área com ventilação e protegida do sol, a fim de minimizar o estresse térmico dos suínos. Embora o desembarque seja menos estressante se comparado à etapa de embarque, a incidência de hematomas e lesões nos animais pode ser muito elevada se os manejadores não estiverem capacitados e auxílios de manejo adequados não forem utilizados. Para se obter um manejo calmo e tranquilo, menos estressante ao animal e com menor incidência de lesões, deve-se desembarcar os suínos por compartimentos, dando tempo necessário para que o primeiro suíno reconheça o novo ambiente e os demais o sigam. Recomenda-se, para o desembarque, a utilização de chocalho e/ou ar comprimido para estimular os animais a saírem do caminhão. Além desses métodos, também se pode utilizar a prancha de manejo na rampa de desembarque para auxiliar a condução dos suínos até a área de descanso. A utilização de piso hidráulico dos caminhões facilita o manejo e torna o desembarque mais rápido e menos estressante para os animais. Baixa iluminação da área, degraus e/ou espaços entre caminhão e rampa, assim como o modelo da ram- pa (angulação acentuada, piso escorregadio e laterais abertas) podem aumentar a resistência dos suínos a saírem do caminhão. Piso da área de descanso Desde o desembarque até a área de insensibilização e abate, o piso deve ser uniforme e antiderrapante. Deve-se manter a mes- ma coloração e textura, de forma que dê segurança aos animais que estão sendo manejados, para que possam ser conduzidos com tranquilidade, sem riscos de escorregões e quedas. Isso irá encorajá-los a caminhar de forma constante, sem que haja redu- ção da velocidade ou paradas. Os suínos possuem pouca percepção de profundidade e, portan- to, tornam-se relutantes para atravessar áreas com contrastes de luz, ralos, buracos, degraus, poças de água, calhas e outras su- perfícies em que exista um grande contraste de cor e textura. Desembarque com a retirada dos suínos por compartimentos e utilização de auxílios de manejo adequados Piso antiderrapante e de coloração uniforme Imagem: Steps Imagem: Steps
  • 53. 50 Programa Nacional de Abate Humanitário – Steps Corredores da área de descanso Os suínos são motivados a caminhar em grupo quando visua- lizam outros suínos que já estão andando. Para facilitar a con- dução desses animais, recomenda-se corredores largos, com paredes laterais fechadas, eliminando o contato visual com os outros suínos que permanecem nas baias de descanso e até mesmo a movimentação de pessoas e equipamentos ao redor. Isso evita as paradas por distrações e permite manter agilidade na condução dos animais. Também é necessário manter a su- perfície lateral dos corredores (portões e paredes) o mais unifor- me possível, evitando contrastes de cor, textura e luminosidade em todo o caminho. Cantos e curvas Os suínos são musculosos, pesados, têm corpo longo e precisam de espaço para virar. Instalações com corredores muito estreitos e mudanças de direção com ângulo muito fechado podem ser fisi- camente difíceis para alguns suínos atravessarem. Alguns animais param e outros muitas vezes se recusam a passar ou ficam presos. A presença de ângulos muito fechados e cantos confunde o direcio- namento dos animais. Para que sejam encorajados a seguir em frente, os suínos neces- sitam visualizar claramente para onde eles devem ir, para que não tenham a percepção de um “corredor sem saída” e parem. Disposição das baias de descanso A disposição das baias em relação aos corredores e a distância entre as baias e o local da insensibilização devem ser projetadas de maneira que facilitem o movimento dos suínos e promovam o fluxo contínuo e rápido para o abastecimento da linha de abate. As instalações da área de descanso em formato de espinha de peixe são construídas com as baias dispostas em um ângulo de 45 graus em relação ao corredor (conforme a figura). Essa angulação em relação ao corredor central induz a entrada e a saída dos suínos, tornando o manejo mais fácil e eficiente. Corredores largos e com paredes laterais fechadas, evitando distrações dos suínos Corredor com curva ampla é apropriado para a condução dos suínos Imagem: Steps Imagem: Steps