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I Seminário sobre Design e Gemologia de Pedras,
Gemas e Jóias do Rio Grande do Sul
Soledade, RS – 06 a 08/05/2009.
http://www.upf.br/ctpedras/sdgem
ESTUDO DA APLICAÇÃO DE TÉC ICAS DE LAPIDAÇÃO EM
MATERIAIS ORGÂ ICOS PARA A FABRICAÇÃO DE JÓIAS
Caroline Ribeiro Galvão1
, Adriano Aguiar Mol2
,
1
Universidade do Estado de Minas Gerais, Design de Produto, bolsista do Centro de Estudo de Gemas e Jóias
– carolrgalvao@gmail.com;
2
Universidade do Estado de Minas Gerais. Orientador – adriano.mol@uemg.br.
Resumo - Este artigo apresenta estudos iniciais para projeto de iniciação científica sobre o emprego de técnicas de
lapidação em materiais orgânicos para a confecção de jóias. O projeto propõe o desenvolvimento de produtos de caráter
diferenciado e adequados à necessidade da busca por materiais alternativos para a confecção de jóias com o auxílio de
metodologias de projeto de produto.
Palavras-Chave: materiais orgânicos, design, lapidação, joalheria contemporânea.
Abstract - This article presents initial developments of a project that aims to analyze the use of cutting techniques in
organic materials for jewelry. With the assistance of the product's design methodologies, this project proposes the
research for alternative materials in jewelry in order to create new pieces with a new approach to this aspect of the
design.
Keywords: organic materials, design, cutting, contemporary jewelry.
I Seminário sobre Design e Gemologia de Pedras, Gemas e Jóias do Rio Grande do Sul
1.Introdução
A jóia pode brevemente ser definida como um artefato de matéria preciosa, de metal ou pedrarias usado como adorno.
Já foi considerada como marca de poder, de distinção entre governantes e governados e símbolo de uma crença ou de
um compromisso. Estes objetos são usualmente confeccionados com gemas e demais materiais preciosos como o ouro.
No entanto, a busca por novas possibilidades fez com que as técnicas tradicionais deste ofício fossem revisitadas para
que se adaptassem às novas necessidades. Assim a joalheria deixou de ser definida apenas pelo tipo de material que era
usado.
A joalheria contemporânea trabalha valores como a expressividade, a provocação, a relação simbólica com o objeto,
etc. Valores inerentes à arte contemporânea e que comportam a necessidade de procurar uma técnica cada vez mais
interdisciplinar e imediata. Hoje em dia não existe uniformidade de estilos, mas sim uma conjunção e uma grande
diversidade de materiais e conceitos. Pode-se realizar jóias com qualquer material sugestivo, capaz de ser transformado
para se atingir uma qualidade expressiva. (Codina, 2000).
A lapidação é a forma usada para ressaltar as qualidades de uma gema, com o intuito de “elevar o conjunto das
qualidades ópticas, que constituem seu encanto essencial, a um grau de perfeição superior”. É um processo com etapas
definidas de acordo com a técnica a ser utilizada. Cada técnica utiliza um conjunto de equipamentos específicos, mas as
etapas finais de beneficiamento consistem, de um modo geral, no polimento da superfície das gemas. O polimento
resulta na produção de uma superfície suficientemente regular, de forma que a luz incidente ou transmitida através
dessa superfície não seja alterada por irregularidades superficiais. Os procedimentos adotados com cada equipamento e
os insumos utilizados no polimento das gemas são parâmetros que influenciam na obtenção da superfície polida
(Sinkankas, 1999).
Este artigo defende a pesquisa de aplicação de processos de lapidação em materiais orgânicos no desenvolvimento de
jóias que estejam de acordo com os parâmetros contemporâneos ao mesclar estilos e materiais em sua concepção e
principalmente como forma de valorizar esses materiais enquanto adornos.
2. O uso de materiais orgânicos
Antes mesmo da exploração e uso de gemas coradas, os materiais orgânicos, abundantes e conhecidos, eram usados em
peças de adorno, inicialmente por tribos e mais tarde artesanalmente. Hoje no Brasil são comuns projetos, oficinas e
cursos de artesanato que utilizam recursos naturais na confecção de adornos para complementar a renda de algumas
famílias. O uso de peças feitas de sementes (Figura 1) deixou de ser exclusividade indígena e hoje colares, pulseiras,
anéis e brincos são utilizados por grande parte dos brasileiros, sendo vendidas até no exterior.
Denominam-se biojóias os adornos feitos artesanalmente com a utilização de recursos naturais como sementes, bambu,
madeira, casca de coco e outros materiais provenientes da natureza. Estas peças são produzidas com objetivos estéticos
e geralmente sem projeto, contrariamente a uma abordagem de design, pois este surge quando a fabricação deixa de ser
um processo realizado inteiramente pelo artesão e divide-se em duas etapas: projetar e fabricar.
Figura 1 – Biojóias do Projeto Patoá Bijou.
I Seminário sobre Design e Gemologia de Pedras, Gemas e Jóias do Rio Grande do Sul
3. A inserção do Design na fabricação de Jóias
A jóia brasileira conquistou, em pouco tempo, um mercado amplo internacionalmente, segundo Calhau, (2005) “nesses
mercados (Estados Unidos, Canadá, Japão, Rússia, Alemanha, Suíça, Inglaterra, Espanha, Portugal, França, México,
Caribe e países da América do Sul), a jóia brasileira é reverenciada por apresentar design criativo, inovador e uma
exótica mistura de materiais”. Em pouco tempo, o setor joalheiro do Brasil deixou de ser baseado na cópia para ser
reconhecido internacionalmente.
O uso de materiais alternativos começou a ser explorado concomitantemente ao uso crescente da ferramenta design.
Nesse caso não se trata mais de artesanato, mas sim de um uso que eleva a peça ao status de jóia, onde materiais antes
ditos comuns, ordinários, passam a dividir espaço com aqueles chamados nobres, como os metais (ouro, prata, etc) e
com as próprias gemas coradas. A idéia é criar peças diferentes e inseridas no ideal contemporâneo, rompendo com
modelos antigos da confecção de jóias (Figuras 2, 3, 4 e 5).
Figura 2 – Frank Gehry para Tiffany CO Jewelry
Figura 3 – Peça em madeira de Sueli Chieppe
I Seminário sobre Design e Gemologia de Pedras, Gemas e Jóias do Rio Grande do Sul
Figura 4 – Peças com a utilização de madeira, da coleção Belém Religiosa para a comemoração da festa do
Círio de Nazaré, no Pará.
Figura 5 - Prata e jarina – 2º lugar no 3º Concurso de Design Espaço Mix. Por Eliane Coda.
4.O Design de Lapidação e os materiais orgânicos
O design de lapidação já é uma ferramenta bastante usada, principalmente na diferenciação de marcas, onde cada uma
procura desenvolver um modelo de lapidação que venha a diferenciá-la das demais, como uma marca registrada.
Com o intuito de conseguir uma maior aceitação dos materiais orgânicos no mercado de jóias, propõe-se o teste da
utilização de técnicas de lapidação diferenciada para esses materiais. Para isso, serão analisadas não só amostras de
materiais já utilizados como madeira, sementes como jarina e açaí, mas também a pesquisa de outros materiais com
características que viabilizem esse propósito.
A jarina, por ser uma semente com certa dureza, aceita o polimento, o que trás possibilidade maior de intervenção e
criação de jóias cada vez mais diferenciadas. A procura de outras sementes e o posterior teste de uso de polimentos em
materiais orgânicos visa a maior utilização dos mesmos na joalheria brasileira, de forma tirar o estigma que o uso desses
materiais dá às jóias, ao diminuir seu valor em detrimento daquelas onde se utilizam gemas coradas, além de dar
continuidade à tendência cada vez maior do uso de materiais alternativos e da valorização da flora brasileira na criação
de peças que carreguem a identidade do país no mercado.
5.O problema da durabilidade dos materiais orgânicos
É importante no entanto lembrar que, por razões óbvias, os materiais orgânicos são mais vulneráveis à ação de agentes
externos, principalmente o ataque de microorganismos, que comprometem a durabilidade do material. Nesse âmbito já
são feitos estudos de como se pode retardar a ação desses microorganismos e melhorar a qualidade da matéria prima
usada na confecção das jóias.
O tratamento quando realizado reduz o tempo de deterioração das sementes e aumenta a durabilidade das mesmas.
Outro fator que contribui para ação de insetos que rapidamente causam a deterioração das sementes é o armazenamento
inadequado. ( Nogueira, 2008.)
I Seminário sobre Design e Gemologia de Pedras, Gemas e Jóias do Rio Grande do Sul
Para mencionar alguns exemplos, sementes de da leguminosa Tento Carolina (Adenanthera pavonina L.), utilizada na
confecção das chamadas biojóias e sementes de jarina e açaí foram submetidas à tratamentos em estufa (com variações
de 60°C a 100°C), uso de óleos essenciais repelentes (como citronela, canela e eucalipto) e testes de armazenamento
adequado. Com isso observou-se que apenas as sementes de jarina não suportaram o tratamento em estufa, que causou
diferença quanto à coloração. Conclui-se principalmente que o tratamento adequado e o armazenamento ajudam a evitar
o ataque por insetos (Nogueira, 2008).
6.Conclusões
A proposta de desenvolvimento de técnicas de lapidação para materiais orgânicos visa a valorização dos mesmos
enquanto parte de peças de joalheria. Explorar as possibilidades destes materiais é uma forma de agregar valor à
indústria de jóias brasileira e mineira, diferencial que vem sendo apontado como a principal forma de acesso a novos
mercados. A procura de métodos que aumentem a durabilidade das peças que utilizem materiais orgânicos acaba por
definir uma linha de estudos também importante para a consolidação do uso desses materiais em peças de joalheria,
para que sejam cada vez mais valorizadas e alcancem um nível de qualidade cada vez mais satisfatório.
7.Referências bibliográficas
CODINA, C. A joalheria. Lisboa: Estampa, 2000.
CODINA, C. A Ourivesaria. Lisboa: Estampa, 2002
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEMAS E METAIS PRECIOSOS (IBGM). 2008. Boletim Trimestral IBGM
Informa. Brasília, Ano XVI. Ações Integram gemas e jóias e atividades turísticas p.4.
Disponível em http://www.ibgm.com.br/index.cfm?saction=conteudo&mod=71534B41551D1909&id=D7199D3C-
2B3E-9507-CAD9D2CF2E194D4A (acesso em Outubro/08)
Manual Técnico de Gemas, IBGM/ DNPM
disponível para download http://www.scribd.com/doc/6164521/Manual-Tecnico-de-Gemas
Acesso em março de 2009
A HISTÓRIA DAS JÓIAS DE COCO E OURO DIAMANTINA disponível em
http://www.joiascocoeouro.com.br/diamantina.htm (acesso em março/09)
DA COSTA, Marcondes Lima; RODRIGUES, Suyanne Flávia Santos; HOHNARINA, Helmut: Jarina, o marfim
das biojóias da Amazônia, artigo disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0370-
44672006000400003&lng=esja.org&nrm=iso&tlng=esja.org (acesso em março/09)
DEPARTAMENTO NACIONAL DA PRODUÇÃO MINERAL - DNPM. Sumário mineral 2006. Brasília.
Disponível em: http://www.dnpm.gov.br/conteudo.asp?IDSecao=68&IDPagina=64
Acesso em março 2009.
NOGUEIRA, Ellen Aparecida. INSETOS BROQUEADORES DE SEMENTES E APROVEITAMENTODE
SEMENTES PARA CONFECÇÃO DE BIOJÓIAS E ARTESANATO, Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro.
Disponível em: http://www.if.ufrrj.br/inst/monografia/Ellen_Aparecida_Nogueira.pdf
Acesso em março de 2009.
MARTINS, Suzana Barreto. CASTRO, Marina Duarte. MODA SUSTENTÁVEL: TRAJETÓRIA DA CRIAÇÃO,
PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO. I Simpósio Brasileiro de Design Sustentável Curitiba, 4-6 de setembro de
2007.
Disponível em: http://www.design.ufpr.br/sbds/artigos/SBDS1158.pdf
Acesso em março de 2009.
SANTOS, Valéria Carvalho. MOL, Adriano Aguiar. TEIXEIRA, Maria Bernadete Santos. A QUALIDADE DO
POLIMENTO DE PEDRAS PRECIOSAS COMO FATOR DE VALORIZAÇÃO NO DESIGN DE GEMAS. 4º
Congresso Internacional de Pesquisa em Design, Rio de Janeiro.
Disponível em:
http://www.anpedesign.org.br/artigos/pdf/A%20qualidade%20do%20polimento%20de%20pedras%20preciosas%20
como%20fator%20de%85.pdf
Acesso em março de 2009.
CIBJO/MATERIAIS GEMOLÓGICOS 2004-2. COMISSÃO PEDRA CORADA 2005-1; Gemas, substâncias
orgânicas e produtos artificiais - terminologia e classificação.
Disponível em http://www.ajesp.com.br/portal/pdf/livro_azul.pdf.
Acesso em março de 2009.
I Seminário sobre Design e Gemologia de Pedras, Gemas e Jóias do Rio Grande do Sul
SIQUEIRA, Cidda. A PESQUISA DE TENDÊNCIAS - UMA ORIENTAÇÃO ESTRATÉGICA NO DESIGN DE
JÓIAS - Dissertação de Mestrado.
Pretextual disponível em
http://www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/0510316_07_pretextual.pdf
Tendência contemporânea e o design de joias do brasil (a partir do capítulo 4) disponível em
http://www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/0510316_07_cap_04.pdf
póstextual disponível em
http://www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/0510316_07_postextual.pdf
acesso em março de 2009.

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Técnicas de Lapidação em Materiais Orgânicos para Joalheria Contemporânea

  • 1. I Seminário sobre Design e Gemologia de Pedras, Gemas e Jóias do Rio Grande do Sul Soledade, RS – 06 a 08/05/2009. http://www.upf.br/ctpedras/sdgem ESTUDO DA APLICAÇÃO DE TÉC ICAS DE LAPIDAÇÃO EM MATERIAIS ORGÂ ICOS PARA A FABRICAÇÃO DE JÓIAS Caroline Ribeiro Galvão1 , Adriano Aguiar Mol2 , 1 Universidade do Estado de Minas Gerais, Design de Produto, bolsista do Centro de Estudo de Gemas e Jóias – carolrgalvao@gmail.com; 2 Universidade do Estado de Minas Gerais. Orientador – adriano.mol@uemg.br. Resumo - Este artigo apresenta estudos iniciais para projeto de iniciação científica sobre o emprego de técnicas de lapidação em materiais orgânicos para a confecção de jóias. O projeto propõe o desenvolvimento de produtos de caráter diferenciado e adequados à necessidade da busca por materiais alternativos para a confecção de jóias com o auxílio de metodologias de projeto de produto. Palavras-Chave: materiais orgânicos, design, lapidação, joalheria contemporânea. Abstract - This article presents initial developments of a project that aims to analyze the use of cutting techniques in organic materials for jewelry. With the assistance of the product's design methodologies, this project proposes the research for alternative materials in jewelry in order to create new pieces with a new approach to this aspect of the design. Keywords: organic materials, design, cutting, contemporary jewelry.
  • 2. I Seminário sobre Design e Gemologia de Pedras, Gemas e Jóias do Rio Grande do Sul 1.Introdução A jóia pode brevemente ser definida como um artefato de matéria preciosa, de metal ou pedrarias usado como adorno. Já foi considerada como marca de poder, de distinção entre governantes e governados e símbolo de uma crença ou de um compromisso. Estes objetos são usualmente confeccionados com gemas e demais materiais preciosos como o ouro. No entanto, a busca por novas possibilidades fez com que as técnicas tradicionais deste ofício fossem revisitadas para que se adaptassem às novas necessidades. Assim a joalheria deixou de ser definida apenas pelo tipo de material que era usado. A joalheria contemporânea trabalha valores como a expressividade, a provocação, a relação simbólica com o objeto, etc. Valores inerentes à arte contemporânea e que comportam a necessidade de procurar uma técnica cada vez mais interdisciplinar e imediata. Hoje em dia não existe uniformidade de estilos, mas sim uma conjunção e uma grande diversidade de materiais e conceitos. Pode-se realizar jóias com qualquer material sugestivo, capaz de ser transformado para se atingir uma qualidade expressiva. (Codina, 2000). A lapidação é a forma usada para ressaltar as qualidades de uma gema, com o intuito de “elevar o conjunto das qualidades ópticas, que constituem seu encanto essencial, a um grau de perfeição superior”. É um processo com etapas definidas de acordo com a técnica a ser utilizada. Cada técnica utiliza um conjunto de equipamentos específicos, mas as etapas finais de beneficiamento consistem, de um modo geral, no polimento da superfície das gemas. O polimento resulta na produção de uma superfície suficientemente regular, de forma que a luz incidente ou transmitida através dessa superfície não seja alterada por irregularidades superficiais. Os procedimentos adotados com cada equipamento e os insumos utilizados no polimento das gemas são parâmetros que influenciam na obtenção da superfície polida (Sinkankas, 1999). Este artigo defende a pesquisa de aplicação de processos de lapidação em materiais orgânicos no desenvolvimento de jóias que estejam de acordo com os parâmetros contemporâneos ao mesclar estilos e materiais em sua concepção e principalmente como forma de valorizar esses materiais enquanto adornos. 2. O uso de materiais orgânicos Antes mesmo da exploração e uso de gemas coradas, os materiais orgânicos, abundantes e conhecidos, eram usados em peças de adorno, inicialmente por tribos e mais tarde artesanalmente. Hoje no Brasil são comuns projetos, oficinas e cursos de artesanato que utilizam recursos naturais na confecção de adornos para complementar a renda de algumas famílias. O uso de peças feitas de sementes (Figura 1) deixou de ser exclusividade indígena e hoje colares, pulseiras, anéis e brincos são utilizados por grande parte dos brasileiros, sendo vendidas até no exterior. Denominam-se biojóias os adornos feitos artesanalmente com a utilização de recursos naturais como sementes, bambu, madeira, casca de coco e outros materiais provenientes da natureza. Estas peças são produzidas com objetivos estéticos e geralmente sem projeto, contrariamente a uma abordagem de design, pois este surge quando a fabricação deixa de ser um processo realizado inteiramente pelo artesão e divide-se em duas etapas: projetar e fabricar. Figura 1 – Biojóias do Projeto Patoá Bijou.
  • 3. I Seminário sobre Design e Gemologia de Pedras, Gemas e Jóias do Rio Grande do Sul 3. A inserção do Design na fabricação de Jóias A jóia brasileira conquistou, em pouco tempo, um mercado amplo internacionalmente, segundo Calhau, (2005) “nesses mercados (Estados Unidos, Canadá, Japão, Rússia, Alemanha, Suíça, Inglaterra, Espanha, Portugal, França, México, Caribe e países da América do Sul), a jóia brasileira é reverenciada por apresentar design criativo, inovador e uma exótica mistura de materiais”. Em pouco tempo, o setor joalheiro do Brasil deixou de ser baseado na cópia para ser reconhecido internacionalmente. O uso de materiais alternativos começou a ser explorado concomitantemente ao uso crescente da ferramenta design. Nesse caso não se trata mais de artesanato, mas sim de um uso que eleva a peça ao status de jóia, onde materiais antes ditos comuns, ordinários, passam a dividir espaço com aqueles chamados nobres, como os metais (ouro, prata, etc) e com as próprias gemas coradas. A idéia é criar peças diferentes e inseridas no ideal contemporâneo, rompendo com modelos antigos da confecção de jóias (Figuras 2, 3, 4 e 5). Figura 2 – Frank Gehry para Tiffany CO Jewelry Figura 3 – Peça em madeira de Sueli Chieppe
  • 4. I Seminário sobre Design e Gemologia de Pedras, Gemas e Jóias do Rio Grande do Sul Figura 4 – Peças com a utilização de madeira, da coleção Belém Religiosa para a comemoração da festa do Círio de Nazaré, no Pará. Figura 5 - Prata e jarina – 2º lugar no 3º Concurso de Design Espaço Mix. Por Eliane Coda. 4.O Design de Lapidação e os materiais orgânicos O design de lapidação já é uma ferramenta bastante usada, principalmente na diferenciação de marcas, onde cada uma procura desenvolver um modelo de lapidação que venha a diferenciá-la das demais, como uma marca registrada. Com o intuito de conseguir uma maior aceitação dos materiais orgânicos no mercado de jóias, propõe-se o teste da utilização de técnicas de lapidação diferenciada para esses materiais. Para isso, serão analisadas não só amostras de materiais já utilizados como madeira, sementes como jarina e açaí, mas também a pesquisa de outros materiais com características que viabilizem esse propósito. A jarina, por ser uma semente com certa dureza, aceita o polimento, o que trás possibilidade maior de intervenção e criação de jóias cada vez mais diferenciadas. A procura de outras sementes e o posterior teste de uso de polimentos em materiais orgânicos visa a maior utilização dos mesmos na joalheria brasileira, de forma tirar o estigma que o uso desses materiais dá às jóias, ao diminuir seu valor em detrimento daquelas onde se utilizam gemas coradas, além de dar continuidade à tendência cada vez maior do uso de materiais alternativos e da valorização da flora brasileira na criação de peças que carreguem a identidade do país no mercado. 5.O problema da durabilidade dos materiais orgânicos É importante no entanto lembrar que, por razões óbvias, os materiais orgânicos são mais vulneráveis à ação de agentes externos, principalmente o ataque de microorganismos, que comprometem a durabilidade do material. Nesse âmbito já são feitos estudos de como se pode retardar a ação desses microorganismos e melhorar a qualidade da matéria prima usada na confecção das jóias. O tratamento quando realizado reduz o tempo de deterioração das sementes e aumenta a durabilidade das mesmas. Outro fator que contribui para ação de insetos que rapidamente causam a deterioração das sementes é o armazenamento inadequado. ( Nogueira, 2008.)
  • 5. I Seminário sobre Design e Gemologia de Pedras, Gemas e Jóias do Rio Grande do Sul Para mencionar alguns exemplos, sementes de da leguminosa Tento Carolina (Adenanthera pavonina L.), utilizada na confecção das chamadas biojóias e sementes de jarina e açaí foram submetidas à tratamentos em estufa (com variações de 60°C a 100°C), uso de óleos essenciais repelentes (como citronela, canela e eucalipto) e testes de armazenamento adequado. Com isso observou-se que apenas as sementes de jarina não suportaram o tratamento em estufa, que causou diferença quanto à coloração. Conclui-se principalmente que o tratamento adequado e o armazenamento ajudam a evitar o ataque por insetos (Nogueira, 2008). 6.Conclusões A proposta de desenvolvimento de técnicas de lapidação para materiais orgânicos visa a valorização dos mesmos enquanto parte de peças de joalheria. Explorar as possibilidades destes materiais é uma forma de agregar valor à indústria de jóias brasileira e mineira, diferencial que vem sendo apontado como a principal forma de acesso a novos mercados. A procura de métodos que aumentem a durabilidade das peças que utilizem materiais orgânicos acaba por definir uma linha de estudos também importante para a consolidação do uso desses materiais em peças de joalheria, para que sejam cada vez mais valorizadas e alcancem um nível de qualidade cada vez mais satisfatório. 7.Referências bibliográficas CODINA, C. A joalheria. Lisboa: Estampa, 2000. CODINA, C. A Ourivesaria. Lisboa: Estampa, 2002 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEMAS E METAIS PRECIOSOS (IBGM). 2008. Boletim Trimestral IBGM Informa. Brasília, Ano XVI. Ações Integram gemas e jóias e atividades turísticas p.4. Disponível em http://www.ibgm.com.br/index.cfm?saction=conteudo&mod=71534B41551D1909&id=D7199D3C- 2B3E-9507-CAD9D2CF2E194D4A (acesso em Outubro/08) Manual Técnico de Gemas, IBGM/ DNPM disponível para download http://www.scribd.com/doc/6164521/Manual-Tecnico-de-Gemas Acesso em março de 2009 A HISTÓRIA DAS JÓIAS DE COCO E OURO DIAMANTINA disponível em http://www.joiascocoeouro.com.br/diamantina.htm (acesso em março/09) DA COSTA, Marcondes Lima; RODRIGUES, Suyanne Flávia Santos; HOHNARINA, Helmut: Jarina, o marfim das biojóias da Amazônia, artigo disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0370- 44672006000400003&lng=esja.org&nrm=iso&tlng=esja.org (acesso em março/09) DEPARTAMENTO NACIONAL DA PRODUÇÃO MINERAL - DNPM. Sumário mineral 2006. Brasília. Disponível em: http://www.dnpm.gov.br/conteudo.asp?IDSecao=68&IDPagina=64 Acesso em março 2009. NOGUEIRA, Ellen Aparecida. INSETOS BROQUEADORES DE SEMENTES E APROVEITAMENTODE SEMENTES PARA CONFECÇÃO DE BIOJÓIAS E ARTESANATO, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Disponível em: http://www.if.ufrrj.br/inst/monografia/Ellen_Aparecida_Nogueira.pdf Acesso em março de 2009. MARTINS, Suzana Barreto. CASTRO, Marina Duarte. MODA SUSTENTÁVEL: TRAJETÓRIA DA CRIAÇÃO, PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO. I Simpósio Brasileiro de Design Sustentável Curitiba, 4-6 de setembro de 2007. Disponível em: http://www.design.ufpr.br/sbds/artigos/SBDS1158.pdf Acesso em março de 2009. SANTOS, Valéria Carvalho. MOL, Adriano Aguiar. TEIXEIRA, Maria Bernadete Santos. A QUALIDADE DO POLIMENTO DE PEDRAS PRECIOSAS COMO FATOR DE VALORIZAÇÃO NO DESIGN DE GEMAS. 4º Congresso Internacional de Pesquisa em Design, Rio de Janeiro. Disponível em: http://www.anpedesign.org.br/artigos/pdf/A%20qualidade%20do%20polimento%20de%20pedras%20preciosas%20 como%20fator%20de%85.pdf Acesso em março de 2009. CIBJO/MATERIAIS GEMOLÓGICOS 2004-2. COMISSÃO PEDRA CORADA 2005-1; Gemas, substâncias orgânicas e produtos artificiais - terminologia e classificação. Disponível em http://www.ajesp.com.br/portal/pdf/livro_azul.pdf. Acesso em março de 2009.
  • 6. I Seminário sobre Design e Gemologia de Pedras, Gemas e Jóias do Rio Grande do Sul SIQUEIRA, Cidda. A PESQUISA DE TENDÊNCIAS - UMA ORIENTAÇÃO ESTRATÉGICA NO DESIGN DE JÓIAS - Dissertação de Mestrado. Pretextual disponível em http://www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/0510316_07_pretextual.pdf Tendência contemporânea e o design de joias do brasil (a partir do capítulo 4) disponível em http://www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/0510316_07_cap_04.pdf póstextual disponível em http://www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/0510316_07_postextual.pdf acesso em março de 2009.