SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 21
Baixar para ler offline
FOUCAULT
E EDUCAÇÃO
Karla Saraiva
O QUE ESTAMOS
FAZENDO DE NÓS
MESMOS?
SITUANDO FOUCAULT
• Poitiers, 1926 – Paris, 1984
• Filho de médico e dona de casa
• Dificuldades de relacionamento com o pai e com
colegas
• Estudou filosofia na École Normale Supérieure (anos
50) e também psicologia
• Lecionou na Argélia, na Polônia e na Universidade de
Vincennes
• Membro do Collège de France (1970)
• É um dos nomes mais representativos da filosofia
contemporânea
• Não focou pesquisas no campo educacional, mas
sendo-lhe infielmente fiéis podemos pensar de outro
modo a Educação.
IMPLICAÇÕES NA PESQUISA
• Pós-metafísica e construcionismo social
• Ênfase nas práticas
• Obra fragmentária: teoria/teorizações
• Caixa de ferramenta: serve para muitas coisas, mas não
para tudo
• Sua obra deveria ser como fogos de artifício
• Forte caráter historicista: história do presente (os
acontecimentos, os aprioris históricos, tornam possível
que algo venha a surgir, mas não determinam) –
condições de emergência
• Não leva a “soluções”, mas principalmente a produzir
problemas.
• Usar Foucault para problematizar as práticas: pensar o
que estamos fazendo de nós
• Nem tudo é ruim, mas tudo é perigoso – hipercrítica
OS TRÊS DOMÍNIOS DE FOUCAULT
1º Foucault 2º Foucault 3º Foucault
Arqueologia Genealogia (Ética)
Ser-saber
sujeito de
conhecimento
Ser-poder
sujeito de ação sobre
os outros
Ser-consigo
sujeito de ação
sobre si
Que posso
saber?
Que posso fazer? Quem sou eu?
Quem posso ser?
Como?
Problematiza a
formação de
conhecimento
Por que?
Problematiza o
surgimento de algo
(relaciona saber e
poder)
Como nos
tornamos o que
somos?
Problematiza a
subjetividade
SUJEITO
• “[Meu objetivo] não foi analisar o fenômeno do poder [...]
foi criar uma história dos diferentes modos pelos quais,
em nossa cultura, os seres humanos tornaram-se
sujeitos”.
• Sujeitos de práticas: dos outros sobre si (dominação,
sujeição) e de si sobre si mesmo (subjetivação).
• Tornamo-nos aquilo que somos por meio da
combinação de práticas de sujeição e subjetivação,
atravessadas por saberes e apoiadas em poder.
• O que estamos fazendo de nós mesmos?
• Subjetividade: uma, mas em permanente transformação
(identidades, valores, representações) – aquilo que se é.
OS LIVROS FOUCAULT
1º Foucault 2º Foucault 3º Foucault
Nascimento da
Clínica (63)
As Palavras e as
Coisas (66)
Arqueologia do
Saber (69)
Vigiar e Punir (75)
HS I – o uso dos
prazeres (76)
HS II – a vontade
de saber (84)
HS III – o cuidado
de si (84)
História da Loucura (61)
OS CURSOS NO COLLÈGE DE FRANCE
2º Foucault 3º Foucault
* Ordem do discurso (2/12/1970)
* A vontade de saber (1971)
Teorias e instituições penais (1972)
A sociedade punitiva (1973)
* O poder psiquiátrico (1974)
* Os anormais (1975)
* Em defesa da sociedade (1976)
* Segurança, território, população (1978)
* Nascimento da biopolítica (1979)
? Do governo dos vivos (1980)
Subjetividade e verdade (1981)
*A hermenêutica do sujeito (1982)
* O governo dos vivos (1983)
* A coragem da verdade (1984)
FOUCAULT E O PODER
• Noção original de poder: diferente daquela da maioria
das correntes filosóficas e do senso comum
• Poder: ação sobre ações dos outros
• Seu funcionamento não privilegia as interdições, mas as
incitações (a um determinado comportamento ou ação)
• Não é algo que se possui, mas que se exerce: são
práticas
• Não existe relação entre indivíduos sem poder
• Diferença entre violência e poder não é de grau, mas
qualitativa
• Quanto menos visível, mais poderoso (quanto mais
sedução e menos coação)
• Temáticas de poder em Foucault: disciplina, biopoder
governamento/governamentalidade
• Impossível localizar o poder em uma
instituição ou, mesmo, no Estado;
• Poder não é propriedade, mas estratégia
(microfísica do poder);
• É positivo, produz (ao contrário da violência);
• Racionalidade do poder, irracionalidade da
violência.
NOTAS SOBRE O PODER
“Não há relação de poder sem a constituição
correlata de um campo de saber, nem saber
que não suponha e não constitua ao mesmo
tempo relações de poder”
Vigiar e Punir, p.27
RELAÇÃO SABER-PODER
• Antigo regime (medieval)
• Todo criminoso: um pequeno regicida;
• Punição: vingança, reparação;
• Visibilidade do corpo do rei e dos que
sofrem a ação de seu poder;
• Punições: expostas ao povo;
• Muito escapava ao poder soberano
• Custoso
• Formação das cidades modernas:
dificuldade
• Obediência negativa (não deve)
PODER SOBERANO
• Na sua forma laica, constitui-se lentamente a
partir do final do século XVII;
• Gradativamente, a ênfase passa do poder
soberano para o poder disciplinar;
• Invenção do Homem: cogito cartesiano e
regulamentos;
• Ordem
• Mais econômico (efeitos mais duradouros,
menos revoltas)
• Obediência positiva (regulamentos)
• Ao agir sobre o corpo, visava atingir a alma.
PODER DISCIPLINAR
“Não se deveria dizer que a alma é uma ilusão,
ou um efeito ideológico, mas afirmar que ela
existe, que tem uma realidade, que é produzida
permanentemente, em torno, na superfície, no
interior do corpo pelo funcionamento de um
poder que se exerce sobre os que são [...]
vigiados”
Vigiar e Punir, p.28
“A ALMA PRISÃO DO CORPO”
Vigiar e Punir, p.29
PODER DISCIPLINAR
• Alvo: corpo individual
• Objetivo: produzir corpos
dóceis e úteis
• Estratégias: fixar corpos
no espaço quadriculado,
cortando a comunicação e
controlando rigidamente o
uso do tempo
• Recursos: vigilância
hierárquica (panoptismo),
exame, sanção
normalizadora
• Instituições de sequestro:
prisões, fábricas, escolas,
quartéis, hospitais
PANÓPTICO
• Efeito negativo: evita o perigo das massas;
• Efeito positivo: induz um estado de visibilidade
permanente:
– Dissocia ver e ser visto
– Induz os efeitos desejáveis sem uso de força
– Sujeitos retomam limitações por conta própria (o rei está em cada
um)
– Pastor e ovelha de si mesmo
• Diagrama ideal do poder disciplinar;
• Aperfeiçoa exercício do poder
– Economia: poucos exercem poder sobre muitos
– Intervenções preventivas
– Exercício espontâneo
– Por meio do corpo, atinge a alma
PANÓPTICO
Poder soberano Poder disciplinar
Quebra as forças do corpo Maximiza a força de trabalho
e minimiza a força política
Obediência negativa Obediência positiva
Destrói Produz
Extrai bens e riquezas Extrai tempo e trabalho
Luz sobre o corpo do rei Luz sobre os sujeitos infames
Punição: vingança Punição: corretivo
BIOPODER
• Alvo: corpo-espécie
(população)
• Objetivo: fazer viver, deixar
morrer (tecnologia de
segurança)
• Não substitui, mas combina-se
com disciplina
• Estratégias para reduzir riscos:
biopolíticas
• Recursos: conhecimentos
científicos, com ênfase na
estatística
• O biopoder produz os riscos e
as maneiras de reduzi-los
BIOPODER
• Dispositivos de segurança
• Intervenções sobre o meio
• Regulações
• Não prioriza obediência (pode)
Poder Soberano Poder Disciplinar Biopoder
Alvo Território Corpo individual População
Objetivo Extrair riqueza Extrair produção Vida – população
Estratégia Justiça Norma disciplinar
Norma de
segurança
Tecnologia Lei Regulamentação Regulação
Foco da
visibilidade
Soberano Indivíduo População
Instrumento
de visibilidade
Rituais
Vigilância
hierárquica
Estatística

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados (20)

Foucault - o poder e o sujeito
Foucault - o poder e o sujeitoFoucault - o poder e o sujeito
Foucault - o poder e o sujeito
 
Escola de Frankfurt - Indústria Cultural
Escola de  Frankfurt - Indústria CulturalEscola de  Frankfurt - Indústria Cultural
Escola de Frankfurt - Indústria Cultural
 
Emile Durkheim
Emile DurkheimEmile Durkheim
Emile Durkheim
 
Introdução à Sociologia
Introdução à SociologiaIntrodução à Sociologia
Introdução à Sociologia
 
Política e poder
Política e poderPolítica e poder
Política e poder
 
Poder e política
Poder e políticaPoder e política
Poder e política
 
Slide sociologia 1
Slide sociologia 1Slide sociologia 1
Slide sociologia 1
 
Emile durkheim
Emile durkheimEmile durkheim
Emile durkheim
 
Instituições sociais
Instituições sociaisInstituições sociais
Instituições sociais
 
O contratualismo hobbes, locke e rouseau aula 08
O contratualismo hobbes, locke e rouseau aula 08O contratualismo hobbes, locke e rouseau aula 08
O contratualismo hobbes, locke e rouseau aula 08
 
Poder, política e estado
Poder, política e estadoPoder, política e estado
Poder, política e estado
 
Contratualistas
ContratualistasContratualistas
Contratualistas
 
Existencialismo
ExistencialismoExistencialismo
Existencialismo
 
Émile durkheim
Émile durkheimÉmile durkheim
Émile durkheim
 
Sociologia - Aula Introdutória
Sociologia - Aula IntrodutóriaSociologia - Aula Introdutória
Sociologia - Aula Introdutória
 
Surgimento da Sociologia
Surgimento da SociologiaSurgimento da Sociologia
Surgimento da Sociologia
 
01 - O que é Sociologia
01 - O que é Sociologia01 - O que é Sociologia
01 - O que é Sociologia
 
Fatos sociais
Fatos sociaisFatos sociais
Fatos sociais
 
Alienação e-trabalho
Alienação e-trabalhoAlienação e-trabalho
Alienação e-trabalho
 
Poder, Política e Estado.
Poder, Política e Estado.Poder, Política e Estado.
Poder, Política e Estado.
 

Destaque

Relações de poder
Relações de poderRelações de poder
Relações de poderJosé Amaral
 
Vigiar e punir análise
Vigiar e punir análiseVigiar e punir análise
Vigiar e punir análiseRick Wesley
 
Cartilha Patrimonial do Programa Embraport, Santos, SP
Cartilha Patrimonial do Programa Embraport, Santos, SPCartilha Patrimonial do Programa Embraport, Santos, SP
Cartilha Patrimonial do Programa Embraport, Santos, SPErika Marion Robrahn-González
 
Exercícios Espirituais da Antiguidade: Filosofia como modo de vida.
Exercícios Espirituais da Antiguidade:   Filosofia como modo de vida.Exercícios Espirituais da Antiguidade:   Filosofia como modo de vida.
Exercícios Espirituais da Antiguidade: Filosofia como modo de vida.Claiton Prinzo
 
Foucault: Ordem do Discurso e Arqueologia do Saber
Foucault: Ordem do Discurso e Arqueologia do SaberFoucault: Ordem do Discurso e Arqueologia do Saber
Foucault: Ordem do Discurso e Arqueologia do SaberTatiana Couto
 
Palestra arqueologia
Palestra arqueologiaPalestra arqueologia
Palestra arqueologiaAd Junior
 
Aula 3 foucault
Aula 3   foucaultAula 3   foucault
Aula 3 foucaultJose Uchoa
 
Michel Foucault - A Arqueologia do Saber
Michel Foucault - A Arqueologia do SaberMichel Foucault - A Arqueologia do Saber
Michel Foucault - A Arqueologia do SaberPoliana Lopes
 
Foucault Noções gerais e sistematização de seu pensamento
Foucault   Noções gerais e sistematização de seu pensamentoFoucault   Noções gerais e sistematização de seu pensamento
Foucault Noções gerais e sistematização de seu pensamentoIvan Furmann
 
Reflexao=O Poder De Foucault
Reflexao=O Poder De FoucaultReflexao=O Poder De Foucault
Reflexao=O Poder De FoucaultJaciara Souza
 

Destaque (14)

Foucault
FoucaultFoucault
Foucault
 
Sociologia do poder
Sociologia do poder Sociologia do poder
Sociologia do poder
 
Relações de poder
Relações de poderRelações de poder
Relações de poder
 
Vigiar e punir análise
Vigiar e punir análiseVigiar e punir análise
Vigiar e punir análise
 
Cartilha Patrimonial do Programa Embraport, Santos, SP
Cartilha Patrimonial do Programa Embraport, Santos, SPCartilha Patrimonial do Programa Embraport, Santos, SP
Cartilha Patrimonial do Programa Embraport, Santos, SP
 
Exercícios Espirituais da Antiguidade: Filosofia como modo de vida.
Exercícios Espirituais da Antiguidade:   Filosofia como modo de vida.Exercícios Espirituais da Antiguidade:   Filosofia como modo de vida.
Exercícios Espirituais da Antiguidade: Filosofia como modo de vida.
 
Foucault: Ordem do Discurso e Arqueologia do Saber
Foucault: Ordem do Discurso e Arqueologia do SaberFoucault: Ordem do Discurso e Arqueologia do Saber
Foucault: Ordem do Discurso e Arqueologia do Saber
 
Pós modernismo gabriel z 34mp
Pós modernismo gabriel z 34mpPós modernismo gabriel z 34mp
Pós modernismo gabriel z 34mp
 
Filosofia 31mp
Filosofia 31mpFilosofia 31mp
Filosofia 31mp
 
Palestra arqueologia
Palestra arqueologiaPalestra arqueologia
Palestra arqueologia
 
Aula 3 foucault
Aula 3   foucaultAula 3   foucault
Aula 3 foucault
 
Michel Foucault - A Arqueologia do Saber
Michel Foucault - A Arqueologia do SaberMichel Foucault - A Arqueologia do Saber
Michel Foucault - A Arqueologia do Saber
 
Foucault Noções gerais e sistematização de seu pensamento
Foucault   Noções gerais e sistematização de seu pensamentoFoucault   Noções gerais e sistematização de seu pensamento
Foucault Noções gerais e sistematização de seu pensamento
 
Reflexao=O Poder De Foucault
Reflexao=O Poder De FoucaultReflexao=O Poder De Foucault
Reflexao=O Poder De Foucault
 

Semelhante a Os três domínios na obra de michel foucault 1

Filosofia apostila segundo ano
Filosofia apostila segundo anoFilosofia apostila segundo ano
Filosofia apostila segundo anoFabio Santos
 
Ser-consigo e tecnologias do eu - Foucault e Educação
Ser-consigo e tecnologias do eu - Foucault e EducaçãoSer-consigo e tecnologias do eu - Foucault e Educação
Ser-consigo e tecnologias do eu - Foucault e EducaçãoKarla Saraiva
 
3ºAno - Soc disciplinar & soc controle
3ºAno - Soc disciplinar & soc controle 3ºAno - Soc disciplinar & soc controle
3ºAno - Soc disciplinar & soc controle Luis Felipe Carvalho
 
A Sociologia de Durkheim e a Sociologia alemã de Max Weber
A Sociologia de Durkheim e a Sociologia alemã de Max WeberA Sociologia de Durkheim e a Sociologia alemã de Max Weber
A Sociologia de Durkheim e a Sociologia alemã de Max Webernaiararohling
 
Seminário Michel Foucalt apresentacao
Seminário  Michel Foucalt apresentacaoSeminário  Michel Foucalt apresentacao
Seminário Michel Foucalt apresentacaoLucia Fagundes
 
Trabalho de Filosofia
Trabalho de Filosofia Trabalho de Filosofia
Trabalho de Filosofia Laguat
 
Foucault - origem, trabalhos e legado
Foucault - origem, trabalhos e legadoFoucault - origem, trabalhos e legado
Foucault - origem, trabalhos e legadoBryanLima22
 
Para que filosofia capítulo 1 resenha chauí - atualizado
Para que filosofia   capítulo 1 resenha  chauí -  atualizadoPara que filosofia   capítulo 1 resenha  chauí -  atualizado
Para que filosofia capítulo 1 resenha chauí - atualizadoRita Gonçalves
 
Epistemologias da Educação
Epistemologias da EducaçãoEpistemologias da Educação
Epistemologias da EducaçãoGabriela Faval
 
Slide sociologia
Slide  sociologiaSlide  sociologia
Slide sociologiamosaca22
 
Slide sociologia
Slide  sociologiaSlide  sociologia
Slide sociologiamosaca22
 
éTica em pesquisa
éTica em pesquisaéTica em pesquisa
éTica em pesquisaleojusto
 
Trabalho filosofia - grupo 1
Trabalho filosofia - grupo 1Trabalho filosofia - grupo 1
Trabalho filosofia - grupo 1Lívia Willborn
 

Semelhante a Os três domínios na obra de michel foucault 1 (20)

Nietzsche e Foucault
Nietzsche e FoucaultNietzsche e Foucault
Nietzsche e Foucault
 
Filosofia apostila segundo ano
Filosofia apostila segundo anoFilosofia apostila segundo ano
Filosofia apostila segundo ano
 
Power Point 02 alunos.ppt
Power Point 02 alunos.pptPower Point 02 alunos.ppt
Power Point 02 alunos.ppt
 
Michel Foucault
Michel Foucault Michel Foucault
Michel Foucault
 
Ser-consigo e tecnologias do eu - Foucault e Educação
Ser-consigo e tecnologias do eu - Foucault e EducaçãoSer-consigo e tecnologias do eu - Foucault e Educação
Ser-consigo e tecnologias do eu - Foucault e Educação
 
3ºAno - Soc disciplinar & soc controle
3ºAno - Soc disciplinar & soc controle 3ºAno - Soc disciplinar & soc controle
3ºAno - Soc disciplinar & soc controle
 
A Sociologia de Durkheim e a Sociologia alemã de Max Weber
A Sociologia de Durkheim e a Sociologia alemã de Max WeberA Sociologia de Durkheim e a Sociologia alemã de Max Weber
A Sociologia de Durkheim e a Sociologia alemã de Max Weber
 
Seminário Michel Foucalt apresentacao
Seminário  Michel Foucalt apresentacaoSeminário  Michel Foucalt apresentacao
Seminário Michel Foucalt apresentacao
 
Foucault & deleuze
Foucault & deleuzeFoucault & deleuze
Foucault & deleuze
 
Etica cultura sociedade
Etica cultura sociedadeEtica cultura sociedade
Etica cultura sociedade
 
Trabalho de Filosofia
Trabalho de Filosofia Trabalho de Filosofia
Trabalho de Filosofia
 
Aula 3.ppt
Aula 3.pptAula 3.ppt
Aula 3.ppt
 
Foucault - origem, trabalhos e legado
Foucault - origem, trabalhos e legadoFoucault - origem, trabalhos e legado
Foucault - origem, trabalhos e legado
 
Para que filosofia capítulo 1 resenha chauí - atualizado
Para que filosofia   capítulo 1 resenha  chauí -  atualizadoPara que filosofia   capítulo 1 resenha  chauí -  atualizado
Para que filosofia capítulo 1 resenha chauí - atualizado
 
Epistemologias da Educação
Epistemologias da EducaçãoEpistemologias da Educação
Epistemologias da Educação
 
Slide sociologia
Slide  sociologiaSlide  sociologia
Slide sociologia
 
Slide sociologia
Slide  sociologiaSlide  sociologia
Slide sociologia
 
Aula 1
Aula 1Aula 1
Aula 1
 
éTica em pesquisa
éTica em pesquisaéTica em pesquisa
éTica em pesquisa
 
Trabalho filosofia - grupo 1
Trabalho filosofia - grupo 1Trabalho filosofia - grupo 1
Trabalho filosofia - grupo 1
 

Os três domínios na obra de michel foucault 1

  • 2. O QUE ESTAMOS FAZENDO DE NÓS MESMOS?
  • 3. SITUANDO FOUCAULT • Poitiers, 1926 – Paris, 1984 • Filho de médico e dona de casa • Dificuldades de relacionamento com o pai e com colegas • Estudou filosofia na École Normale Supérieure (anos 50) e também psicologia • Lecionou na Argélia, na Polônia e na Universidade de Vincennes • Membro do Collège de France (1970) • É um dos nomes mais representativos da filosofia contemporânea • Não focou pesquisas no campo educacional, mas sendo-lhe infielmente fiéis podemos pensar de outro modo a Educação.
  • 4. IMPLICAÇÕES NA PESQUISA • Pós-metafísica e construcionismo social • Ênfase nas práticas • Obra fragmentária: teoria/teorizações • Caixa de ferramenta: serve para muitas coisas, mas não para tudo • Sua obra deveria ser como fogos de artifício • Forte caráter historicista: história do presente (os acontecimentos, os aprioris históricos, tornam possível que algo venha a surgir, mas não determinam) – condições de emergência • Não leva a “soluções”, mas principalmente a produzir problemas. • Usar Foucault para problematizar as práticas: pensar o que estamos fazendo de nós • Nem tudo é ruim, mas tudo é perigoso – hipercrítica
  • 5. OS TRÊS DOMÍNIOS DE FOUCAULT 1º Foucault 2º Foucault 3º Foucault Arqueologia Genealogia (Ética) Ser-saber sujeito de conhecimento Ser-poder sujeito de ação sobre os outros Ser-consigo sujeito de ação sobre si Que posso saber? Que posso fazer? Quem sou eu? Quem posso ser? Como? Problematiza a formação de conhecimento Por que? Problematiza o surgimento de algo (relaciona saber e poder) Como nos tornamos o que somos? Problematiza a subjetividade
  • 6. SUJEITO • “[Meu objetivo] não foi analisar o fenômeno do poder [...] foi criar uma história dos diferentes modos pelos quais, em nossa cultura, os seres humanos tornaram-se sujeitos”. • Sujeitos de práticas: dos outros sobre si (dominação, sujeição) e de si sobre si mesmo (subjetivação). • Tornamo-nos aquilo que somos por meio da combinação de práticas de sujeição e subjetivação, atravessadas por saberes e apoiadas em poder. • O que estamos fazendo de nós mesmos? • Subjetividade: uma, mas em permanente transformação (identidades, valores, representações) – aquilo que se é.
  • 7. OS LIVROS FOUCAULT 1º Foucault 2º Foucault 3º Foucault Nascimento da Clínica (63) As Palavras e as Coisas (66) Arqueologia do Saber (69) Vigiar e Punir (75) HS I – o uso dos prazeres (76) HS II – a vontade de saber (84) HS III – o cuidado de si (84) História da Loucura (61)
  • 8. OS CURSOS NO COLLÈGE DE FRANCE 2º Foucault 3º Foucault * Ordem do discurso (2/12/1970) * A vontade de saber (1971) Teorias e instituições penais (1972) A sociedade punitiva (1973) * O poder psiquiátrico (1974) * Os anormais (1975) * Em defesa da sociedade (1976) * Segurança, território, população (1978) * Nascimento da biopolítica (1979) ? Do governo dos vivos (1980) Subjetividade e verdade (1981) *A hermenêutica do sujeito (1982) * O governo dos vivos (1983) * A coragem da verdade (1984)
  • 9. FOUCAULT E O PODER • Noção original de poder: diferente daquela da maioria das correntes filosóficas e do senso comum • Poder: ação sobre ações dos outros • Seu funcionamento não privilegia as interdições, mas as incitações (a um determinado comportamento ou ação) • Não é algo que se possui, mas que se exerce: são práticas • Não existe relação entre indivíduos sem poder • Diferença entre violência e poder não é de grau, mas qualitativa • Quanto menos visível, mais poderoso (quanto mais sedução e menos coação) • Temáticas de poder em Foucault: disciplina, biopoder governamento/governamentalidade
  • 10. • Impossível localizar o poder em uma instituição ou, mesmo, no Estado; • Poder não é propriedade, mas estratégia (microfísica do poder); • É positivo, produz (ao contrário da violência); • Racionalidade do poder, irracionalidade da violência. NOTAS SOBRE O PODER
  • 11. “Não há relação de poder sem a constituição correlata de um campo de saber, nem saber que não suponha e não constitua ao mesmo tempo relações de poder” Vigiar e Punir, p.27 RELAÇÃO SABER-PODER
  • 12. • Antigo regime (medieval) • Todo criminoso: um pequeno regicida; • Punição: vingança, reparação; • Visibilidade do corpo do rei e dos que sofrem a ação de seu poder; • Punições: expostas ao povo; • Muito escapava ao poder soberano • Custoso • Formação das cidades modernas: dificuldade • Obediência negativa (não deve) PODER SOBERANO
  • 13. • Na sua forma laica, constitui-se lentamente a partir do final do século XVII; • Gradativamente, a ênfase passa do poder soberano para o poder disciplinar; • Invenção do Homem: cogito cartesiano e regulamentos; • Ordem • Mais econômico (efeitos mais duradouros, menos revoltas) • Obediência positiva (regulamentos) • Ao agir sobre o corpo, visava atingir a alma. PODER DISCIPLINAR
  • 14. “Não se deveria dizer que a alma é uma ilusão, ou um efeito ideológico, mas afirmar que ela existe, que tem uma realidade, que é produzida permanentemente, em torno, na superfície, no interior do corpo pelo funcionamento de um poder que se exerce sobre os que são [...] vigiados” Vigiar e Punir, p.28 “A ALMA PRISÃO DO CORPO” Vigiar e Punir, p.29
  • 15. PODER DISCIPLINAR • Alvo: corpo individual • Objetivo: produzir corpos dóceis e úteis • Estratégias: fixar corpos no espaço quadriculado, cortando a comunicação e controlando rigidamente o uso do tempo • Recursos: vigilância hierárquica (panoptismo), exame, sanção normalizadora • Instituições de sequestro: prisões, fábricas, escolas, quartéis, hospitais
  • 17. • Efeito negativo: evita o perigo das massas; • Efeito positivo: induz um estado de visibilidade permanente: – Dissocia ver e ser visto – Induz os efeitos desejáveis sem uso de força – Sujeitos retomam limitações por conta própria (o rei está em cada um) – Pastor e ovelha de si mesmo • Diagrama ideal do poder disciplinar; • Aperfeiçoa exercício do poder – Economia: poucos exercem poder sobre muitos – Intervenções preventivas – Exercício espontâneo – Por meio do corpo, atinge a alma PANÓPTICO
  • 18. Poder soberano Poder disciplinar Quebra as forças do corpo Maximiza a força de trabalho e minimiza a força política Obediência negativa Obediência positiva Destrói Produz Extrai bens e riquezas Extrai tempo e trabalho Luz sobre o corpo do rei Luz sobre os sujeitos infames Punição: vingança Punição: corretivo
  • 19. BIOPODER • Alvo: corpo-espécie (população) • Objetivo: fazer viver, deixar morrer (tecnologia de segurança) • Não substitui, mas combina-se com disciplina • Estratégias para reduzir riscos: biopolíticas • Recursos: conhecimentos científicos, com ênfase na estatística • O biopoder produz os riscos e as maneiras de reduzi-los
  • 20. BIOPODER • Dispositivos de segurança • Intervenções sobre o meio • Regulações • Não prioriza obediência (pode)
  • 21. Poder Soberano Poder Disciplinar Biopoder Alvo Território Corpo individual População Objetivo Extrair riqueza Extrair produção Vida – população Estratégia Justiça Norma disciplinar Norma de segurança Tecnologia Lei Regulamentação Regulação Foco da visibilidade Soberano Indivíduo População Instrumento de visibilidade Rituais Vigilância hierárquica Estatística