O documento discute a produção e exportação de fios de seda no Brasil. O país é o quinto maior produtor mundial e exporta 95% de sua produção, principalmente para a Europa, América Latina e Ásia. Apesar de sua participação pequena no mercado têxtil global, a sericultura brasileira é competitiva internacionalmente e tem perspectivas favoráveis de crescimento nas exportações.
1. Seda, um tecido nobre
Os tecidos de seda, além de suas qualidades de maciez e beleza, têm boa
condutividade térmica, o que faz com que sejam quentes no inverno e frios no verão.
A seda é um produto nobre destinado às classes A&B, apresentando preços
relativos superiores aos demais tipos de tecidos.
Diferentemente de outros segmentos do setor têxtil, o Brasil apresenta alta
competitividade internacional, exportando 95% de sua produção de fios de seda.
1 - PROCESSO DE PRODUÇÃO
A sericultura deriva-se do bicho-da seda, mariposa que se alimenta
exclusivamente das folhas de amoreira. A mariposa desova entre 400 e 500 pequenos
ovos, que se transformam em larvinhas de cerca de 1 mm.
Quando as larvas atingem o tamanho máximo de 70 a 80 mm de comprimento,
em cerca de 30 dias, passam a produzir os casulos. Dentro do casulo, a larva se
transforma em crisálida e com 10 ou 12 dias, esta se transforma novamente em mariposa.
O casulo é um novelo de fio que atinge entre 700 e 1200 metros. Para desfiá-lo,
utiliza-se água quente a 60o C a fim de dissolver a cola, chamada sericina. O fio então se
solta fazendo com que a ponta seja encontrada.
A partir daí, coloca-se a ponta numa máquina que enrola o fio e faz a meada.
Juntando os fios de várias meadas faz-se um fio mais grosso, que é utilizado para a
fabricação dos tecidos.
As empresas produtoras de fio possuem um departamento de matéria-prima
responsável pela sementagem, ou seja, produção do bicho-da-seda, através de
chocadeiras que produzem as larvas.
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2. As larvas ficam na empresa até a segunda idade - 7 dias. Depois são entregues
aos produtores independentes, cerca de 12.000 criadores rurais, os quais são
responsáveis pela criação do bicho-da-seda até a formação do casulo, levando nesta
etapa entre 21 ou 28 dias. Em seguida, o casulo é vendido às empresas para a produção
de fios.
Ao contrário das fibras químicas, como por exemplo o poliéster, o náilon e a
viscose, os fios de seda apresentam algumas irregularidades que não podem ser
consideradas como defeitos.
Por exemplo, o shantung de seda pura é obtido através de fios com flamas
(pontos mais grossos e caroços) bastante irregulares. Estes fios, denominados dupions,
são obtidos quando duas lagartas formam um mesmo casulo, sendo um fio especial e raro,
portanto com um preço bem elevado.
2 - ASPECTOS MERCADOLÓGICOS
O Brasil é o quinto produtor mundial de fios de seda, atrás apenas da China,
Índia, Japão e ex-URSS, com uma participação de 2,7% no mercado mundial.
Tabela 1
Produção Mundial de Fios de Seda -1994
Países Toneladas %
China 66.060 69,4
Índia 13.914 14,6
Japão 3.900 4,1
ex-URSS* 2.850 3,0
Brasil 2.538 2,7
Tailândia 1.788 1,9
Outros 4.128 4,3
Total 95.178 100,0
Fonte: ABRASSEDA/ JAPAN RAW SILK CORPORATION
Nota: (*) 62% da Uzbequistão
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3. Em termos de consumo, China, Japão, USA e Europa figuram como os
principais consumidores mundiais.
Gráfico 1
Consumo Mundial de Fio de Seda - 1994
Toneladas
27650
Fonte: ABRASSEDA
20540
17180 16130
9600
4900
China Japão USA Europa Índia Outros
Apesar da seda apresentar uma participação insignificante na composição das
fibras têxteis, representando apenas 0,24% da produção mundial e 0,25% da produção
brasileira, alguns indicadores interessantes podem ser destacados, quais sejam:
ð O Brasil é o quinto maior produtor mundial, tanto em casulos verdes como em
fios de seda. No entanto, praticamente não produz o tecido, sendo este em sua
maioria importado;
ð a produção nacional de fios de seda é crescente, apresentando uma taxa de
crescimento média de 4,9% a.a. nos últimos 10 anos;
ð em 1995, a produção brasileira de fios de seda foi de 2.448 toneladas, das quais
2.320 foram exportadas (95%);
ð em termos de valor, as exportações de fios de seda atingiram US$ 78 milhões em
1995, representando 41% do total das exportações brasileiras de todos os tipos de
fios. Ressalte-se que as exportações de fios de algodão neste mesmo ano foram de
US$ 86 milhões.
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4. ð O Brasil exporta casulos para Coréia, Hong Kong e Japão. Por sua vez, os fios de
seda são exportados para a Europa, América Latina, Tigres Asiáticos, Estados Unidos,
entre outros, demonstrando a grande competitividade do País neste segmento.
ð Apesar das importações de tecidos de seda serem pequenas em termos absolutos, no
entanto tem sido cada vez mais crescente, passando de US$ 341 mil em 1992 para
US$ 3.281 mil em 1995.
Gráfico 2
Brasil : Produção e Consumo de Fios de Seda
3,0
mil toneladas
2,5 Produção
2,0
1,5
1,0
Consumo
0,5
0,0
80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95
Fonte: Carta Têxtil - Jun/96
O consumo nacional de fios de seda caiu drasticamente a partir dos meados de
89, face à queda de poder aquisitivo do segmento de alta renda nos últimos anos, uma vez
que a seda é um produto relativamente caro vis-a-vis aos outros tipos de tecidos.
O consumo que atingiu 528 toneladas em 1987 (33,5% da produção nacional),
reduziu para 128 toneladas em 1995 (5,2% da produção).
Em 1996, espera-se uma queda da produção da ordem de 10%, podendo
alcançar 2.293 toneladas, das quais apenas 53 toneladas (2,3% da produção) deverão
ser destinadas ao mercado interno.
Observa-se que, apesar das vendas internas de fios de seda serem
insignificantes em relação à produção total, em 1996 deverá ser menor ainda (53 toneladas
contra 128 toneladas ao ano anterior).
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5. A sericultura brasileira está concentrada no Paraná (82%) e em São Paulo
(13%), com o sistema de produção de fios completamente oligopolizada, em mãos
atualmente de apenas 4 empresas.
Gráfico 3
Estrutura da Produção de Fios de Seda -1995
Kobes
Shoei-Bratac 7%
9%
Cocamar
12%
Bratac
52%
Kanebo
20%
Fonte:ABRASSEDA
A Bratac é a maior empresa do setor, de capital totalmente nacional. Possui 3
unidades produtivas, duas no Estado de São Paulo (Bastos e Duartina) e a outra em
Londrina-PR. A Cocamar - Cooperativa de Cafeicultores de Maringá - detém 12% do
mercado.
A Kanebo, localizada em Cornélio Procópio-PR, e a Kobes, situada em Marília-
SP, são de capital japonês. A Shoei-Bratac, cujo capital era composto por 35% da Bratac
e o restante japonês teve suas atividades encerradas em Janeiro/96.
A Bratac ocupa a quinta posição no ranking nacional de empresas
exportadoras de produtos têxteis e confeccionados, com exportações da ordem de
US$ 47 milhões em 1995, conforme demostra a tabela a seguir:
Tabela 2
Principais Empresas Exportadoras, em ordem decrescente, em 1995
Posição Empresas US$ mil (FOB)
1 Alpargatas-Santista 96.537
2 Karsten 55.260
3 Teka 51.295
4 Artex 47.383
5 Bratac 47.300
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6. 6 Vicunha NE 41.157
7 Rhodia-Ster 39.307
8 Du Pont 37.696
9 Dohler 35.608
10 Hering 34.965
Fonte:SECEX
Tendo em vista que o setor é completamente exportador, tendo seus custos
corrigidos em reais e a receita indexada às variações cambiais, as margens das empresas
apresentaram um sensível redução a partir da adoção do Plano de Estabilização
Econômica, sendo um dos principais fatores responsáveis pelo fechamento de uma das
empresas do setor (Shoei-Bratac).
Esta situação foi amenizada, devido à elevação dos preços internacionais
verificada nos 2 últimos anos, diluindo, assim, os efeitos da valorização da taxa de câmbio
deste segmento.
Particularmente, a Bratac encontra-se numa situação bastante confortável,
pois, segundo os indicadores da Gazeta Mercantil - São Paulo -1995, seus indicadores são
muito superiores à média do setor têxtil. A empresa tem um endividamento baixíssimo,
sendo a relação Recursos de Terceiros (AC+ PC) sobre Ativo Total de apenas 26,9% e
liquidez corrente de 2,14.
Ä Em resumo, podemos afirmar que o segmento de fios de seda no Brasil apresenta
competitividade internacional, sendo as perspectivas para os próximos anos bastante
favoráveis, face à previsão de crescimentos constantes do volume exportado. As
empresas são atualizadas tecnologicamente, tendo boa penetração no comércio
mundial conquistada através do bom conceito junto aos seus clientes externos, oriundo
da qualidade de seus produtos, tradição e pontualidade.
Maria Helena de Oliveira
Gerente Setorial
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