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ESCOLA SECUNDÁRIA DE BOCAGE

                      Texto de Apoio FILOSOFIA nº ______
            Os valores - Análise e compreensão da experiência valorativa

                                                                    ___ / ____ / _____

Texto A

       O termo valor, embora seja de uso relativamente corrente, está longe de ser
intuitivo.
       Chamamos valor ou valores a um conjunto de não muito especificado de
termos que significam entidades abstractas, isto é, não são objectos. Por exemplo:
paz, justiça, beleza, felicidade, bem, liberdade, igualdade, solidariedade, (…). Existem
muitos mais, sem dúvida. Esses termos podem ser abstractos ou mais concretos. O
bem ou a beleza são muito abstractos; a fidelidade ou a coragem parecem mais
concretos. (…)

                             Amelia Valcárcel, “Valor” in 10 Palavras-chave em Ética

Texto B

       Os valores não são, mas valem. Uma coisa é valor e outra coisa é ser. Quando
dizemos que algo vale, não dizemos nada do seu ser, dizemos Somente que não é
indiferente.
                                                M. Garcia Morente, Fundamentos da Filosofia



Texto C

       O valor é (…) a ruptura com a indiferença pela qual colocamos todas as coisas
no mesmo plano e consideramos todas as acções como equivalentes. Talvez a
indiferença, enquanto tal, seja impossível. Mas o valor surge, quando essa indiferença
desaparece, quando o mundo deixa de ser para nós um espectáculo e a acção deixa de
ser uma acontecimento puro, quando nos envolvemos nesse espectáculo e
participamos desse acontecimento. Desse modo, introduzir valor no mundo é
introduzir-lhe diferenças que estão sempre em relação com as preferências.
Todo o valor é, na verdade, inseparável de uma actividade de selecção que, mesmo
que só tenha sentido para nós, opera distinções entre as diversas formas da realidade,
de acordo com o que estimamos e com o que recebe a nossa preferência. Só há valor
onde a indiferença desaparece e a parcialidade começa a introduzir-se no real. Dar
valor é tomar partido perante a realidade.
                                               Louis Lavelle, Tratado sobre os valores

Texto D


      O cidadão romano não considerava imorais jogos dos gladiadores na arena e
dava serenamente ordem de matar o vencido.
      O homem medieval, sob influência do Cristianismo, já não conseguia fazê-lo,
mas assistia com satisfação às fogueiras das feiticeiras e dos heréticos. Hoje, já não
admitimos sequer as execuções públicas, e começamos a discutir as licenças dos
combates de pugilato e as corridas.

                                                                                          1
Mas diferenças igualmente grandes passaram a acontecer no círculo da própria
 vida individual. As mulheres nascidas no campo há cinquenta anos ou sessenta anos
 eram habituadas, desde raparigas, a considerarem a virgindade um valor pré-
 matrimonial, um pecado a contracepção e a obedecer ao marido como ao pai. Depois,
 mudou a sua concepção, mudaram-se os seus direitos, os seus valores, o seu erotismo,
 aquilo que está mal. Os homens daquela mesma época acreditavam na Pátria, na luta
 contra o estrangeiro, ou então contra o inimigo ideológico. Onde quer que estivesse
 presente a Igreja com a confissão, os sacramentos, a direcção espiritual, as suas
 normas morais estendiam-se aos mais pequenos recantos da vida quotidiana.
        Todas estas crenças, todos estes valores, todas estas regras foram mudadas,
 Hoje, a televisão, o cinema e a imprensa já não propõem um único modelo de
 comportamento, mas um repertório de alternativas. Há muitas maneiras autorizadas de
 viver.
                                                                F. Alberoni ( 1995) Valores.

Texto E

                    Os valores - Que tipos de valores existem?

Podemos classificar os valores de um           Como todos os valores se acham referidos
duplo ponto de vista: formal e material. Do    a um sujeito – o sujeito humano, o homem
ponto de vista formal, os valores dividem-     – e este é, antes de mais nada, um ser
se como segue:                                 constituído por sensibilidade e espírito, daí
                                               o poderem classificar-se imediatamente
1 – Positivos: e negativos. Valor positivo é   todos os valores nas duas classes
aquele que mais geralmente costumamos          fundamentais de: valores sensíveis e
designar pela expressão pura e simples de      valores espirituais. Os primeiros referem-se
“valor”. O conceito de “valor” é geralmente    ao homem enquanto simples ser da
usado numa dupla acepção: umas vezes,          natureza, os segundos ao homem como
entende-se por esta palavra o valor em         ser espiritual.
geral, independentemente da polaridade
valor-desvalor, como conceito neutro,          A – Valores sensíveis.
outras vezes entende-se só o seu aspecto
positivo contraposto ao negativo. Ao valor     A esta categoria pertencem:
positivo    contrapõe-se      o    negativo,
chamando-se      então    a     este   mais
propriamente “desvalor”. Esta polaridade       1 – Os valores do agradável e do prazer,
pertence à própria estrutura essencial da      também chamados “hedónicos”. Ela
ordem axiológica, que assim se distingue       abrange não só todas as sensações de
fundamentalmente da ordem do ser a que é       prazer e satisfação, como tudo aquilo que é
estranha uma tal estrutura.                    apto a provocá-las (vestuário, comida,
                                               bebidas, etc.). À ética que apenas conhece
                                               estes valores        chama-se geralmente
2 – Valores das pessoas e valores das          hedonismo.
coisas, ou valores pessoais e reais. Valores
das pessoas ou pessoais são aqueles que
só podem pertencer a pessoas, como os          2 – Valores vitais ou da vida. São aqueles
valores éticos. Reais (de res) os que          valores de que é portadora a vida, no
aderem a objectos ou coisas impessoais,        sentido naturalista desta palavra, isto é,
como os das coisas ditas valiosas,             Bios. Cabem aqui o vigor vital, a força, a
designadas      mais    geralmente      pela   saúde, etc. Como se sabe, foram estes os
expressão “bens”.                              valores que Nietzsche reputou os mais
                                               elevados de todos na sua escala
                                               axiológica, como os únicos mesmo. E ao
3 – Valores em si mesmo, ou autónomos e        que se chama biologismo ético ou
valores    derivados   de    outros    ou      naturalismo.
dependentes. O valor em si reside na sua
mesma essência; possui esse carácter com
independência de todos os outros valores;      3 – Valores de utilidade. Coincidem com
não depende deles; não é meio para eles.       os     chamados    valores     económicos.
                                               Referem-se a tudo aquilo que serve para a
                                               satisfação das nossas necessidades da
                                               vida (comida, vestuário, habitação, etc.) e

                                                                                           2
ainda aos instrumentos que servem para a       desprende-se sempre um categórico “tu
criação destes bens. Distinguem-se dos         deves fazer” ou “tu não deves fazer”, isto
restantes     valores     desta    classe,     ou aquilo; exigem, imperiosamente, que a
nomeadamente dos sensíveis, para os            consciência os atenda e os realize. E nisto
quais aliás concorrem, por não serem, do       se separam também dos estéticos que não
ponto de vista formal, autónomos, mas          impõem       nenhuma      exigência     desta
derivados, no sentido que acima vimos.         natureza,     nem      se    nos     impõem
                                               incondicionalmente. d) Os valores éticos
B – Valores espirituais.                       dirigem-se ao homem em geral, a todos os
                                               homens; são universais, a sua pretensão a
                                               serem realizados é universal. Os estéticos
Estes distinguem-se dos valores sensíveis,     não estão neste caso, apenas dirigem o
no seu conjunto, não só pela imaterialidade    seu apelo a alguns homens, para que estes
que acompanha a sua perdurabilidade,           os realizem, e nem todos podem ser
como pela sua absoluta e incondicional         obrigados a dar-lhe acolhimento, a fazer
validade. Muitos filósofos, que encaram os     arte, ou a cultivá-las de qualquer maneira.
valores só por este último lado,               e) Além disso, é, pode dizer-se, ilimitada
identificando-os por isso com o conceito de    também a exigência que os valores éticos
simples “valor” ou validade formal,            nos fazem: constituem uma norma ou
pretendem que só os valores espirituais        critério de conduta que afecta todas as
são verdadeiros valores. Porém, quem se        esferas da nossa actividade e da nossa
lembraria de negar aos economistas o           conduta da vida. Esta acha-se sujeita, total
direito de usarem também do termo e do         e incondicionalmente, a eles na sua
conceito de valor? À categoria dos valores     imperiosa jurisdição e validade. Nada deve
espirituais pertencem:                         ser feito que os contrarie. Poderia definir-se
                                               esta característica dos valores éticos
1- Os valores lógicos. Quando se fala de       chamando-lhes totalitários. Não assim os
valores lógicos, é preciso ter presente que    valores estéticos. Estes só reclamam de
se podem entender por esta expressão           nós que os realizemos em certas situações
duas coisas distintas: a função do             e momentos da vida, permanecendo
conhecimento – o saber, a posse da             calados durante os restantes; não somos
verdade e o esforço para a alcançar – e o      obrigados a ser estetas e, menos ainda, a
conteúdo do conhecimento. No primeiro          toda a hora (…).
sentido, é óbvio que podemos falar, com
todo o direito, em valores lógicos ou no       3 – Valores estéticos, ou do Belo.
valor do conhecimento. Contrapor-se-lhe-       Incluímos aqui no conceito de belo, no mais
ão, como desvalor lógico, a ignorância, o      amplo sentido desta palavra, o sublime, o
erro, a falta de interesse pela verdade, a     trágico, o amorável, etc.
ausência de esforço para a alcançar, etc.
Mas a expressão “valor lógico” pode
significar também o próprio conteúdo do        4 – “,Valores religiosos ou do”sagrado”.
conhecimento. E, neste segundo caso, é         Já atrás aludimos ao que há de original
“valor lógico” tudo aquilo que cai dentro do   nestes valores. A eles não aderem
par de conceitos verdadeiro-falso [...].       propriamente nenhum “deve ser”. Não
                                               temos que realizar esses valores; nem isso
                                               é possível nem necessário. Não são
2 – Valores éticos: ou do bem moral.           valores de um “deve ser”, mas valores de
Destes podem dar-se as seguintes               um “ser”; Nisto se afastam dos valores
características:                               éticos para se aproximarem dos estéticos
                                               com os quais estão numa relação muito
a) Só podem ser seus portadores as             íntima. Todavia, existe também entre eles e
pessoas, nunca as coisas. Só seres             estes últimos uma diferença que cumpre
espirituais podem encarnar valores morais.     salientar: a realidade do “sagrado”, não é,
Por isso o âmbito destes valores é             como a do “Belo”, apenas uma realidade
relativamente restrito; muito mais, por        aparente, mas uma realidade no mais
exemplo, que o dos estéticos.                  eminente sentido desta palavra.

b) Os valores éticos aderem sempre a                  Johannes Hessen,(1980). Filosofia
suportes reais. Também, por este lado, se      dos Valores, Ed. Arménio Amado;
distinguem dos valores estéticos, cujo         Coimbra. pp. 107-117
suporte é constituído por algo de irreal, de
mera aparência.

c) Os valores éticos têm o carácter de
exigências e imperativos absolutos. Dele


                                                                                           3
Texto F

 Todos nós valoramos e não podemos deixar de valorar. Não é possível a vida sem
 proferir constantemente juízos de valor. É a essência do ser humano conhecer e
 querer, tanto como valorar. E até, se pretendermos ver a na vontade o centro da
 gravidade da natureza humana – como já Santo Agostinho pretendia a crer – mais uma
 razão para afirmar que o valorar pertence à essência do homem. Todo o querer
 pressupõe um valor. Nada podemos querer senão aquilo que de qualquer maneira nos
 pareça valioso e como tal digno de ser desejado.
 Valoramos as mais diferentes coisas. O nosso valorar recai sobre todos os objectos
 possíveis: água, pão, vestuário, saúde, livros, homens, opiniões, actos. Tudo é objecto
 das nossas apreciações. E nelas encontramos já as duas direcções possíveis de todas as
 nossas valorações. Isto é: os nossos “juízos” de valor ora são positivos, ora negativos;
 umas coisas parecem-nos valiosas, outras desvaliosas.
 (…)
 Os valores não só se distinguem uns dos outros, como se acham ainda entre si numa
 determinada relação de hierarquia. São, com efeito, da essência do valor não só a
 característica polaridade, que os faz distinguir em positivos e negativos, de já
 falamos, como ainda a sua distinção entre valores mais altos e valores mais baixos. A
 ordem axiológica possui assim, como já vimos, uma estrutura hierárquica. Dá-nos
 uma escala com graduações de altura em que há números baixos e números altos a
 considerar.

                                                 Johannes Hessen ( 1980) Filosofia dos Valores.

Texto G


1. Os Valores são Subjectivos

As questões sobre «valores» — isto é, sobre o que é bom ou
mau em si mesmo, independentemente dos seus efeitos —
estão fora do domínio da ciência, como os defensores da
religião afirmam veementemente. Eu penso que nisto têm
razão, mas retiro outra conclusão que eles não retiram — a de
que as questões sobre «valores» estão completamente fora do
domínio do conhecimento. Por outras palavras, quando
afirmamos que isto ou aquilo tem «valor», estamos a exprimir
as nossas emoções, e não a indicar algo que seria verdadeiro
                                                                     Bertrand       Russell
mesmo que os nossos sentimentos pessoais fossem diferentes.
                                                                     (1872-1970). Depois
                                                                     de ter recebido o
[…] Qualquer tentativa de persuadir as pessoas de que algo é         Prémio      Nobel   da
bom (ou mau) em si mesmo, e não apenas por causa dos seus            Literatura em 1950,
efeitos, depende não de qualquer recurso a provas, mas da            passou o resto da vida
arte de suscitar sentimentos. O talento do pregador consiste         a       lutar     pelo
sempre em criar nos outros emoções semelhantes às suas —             desarmamento nuclear.
ou diferentes, se ele for hipócrita. Ao dizer isto não estou a
criticar o pregador, mas a analisar o carácter essencial da sua actividade.


                                                                                                  4
Quando um homem diz «Isto é bom em si mesmo» parece estar a exprimir uma
proposição, tal como se tivesse dito «Isto é um quadrado» ou «Isto é doce». Julgo que
isto é um erro. Penso que aquilo que o homem quer realmente dizer é «Quero que toda a
gente deseje isto», ou melhor, «Quem me dera que toda a gente desejasse isto.» Se
aquilo que ele diz for interpretado como uma proposição, esta é apenas sobre o seu
desejo pessoal. Se for antes interpretado num sentido geral, não afirma nada, exprimindo
apenas um desejo. O desejo, enquanto acontecimento, é pessoal, mas o que se deseja é
universal. Penso que foi este curioso entrelaçamento entre o particular e o universal que
provocou tanta confusão na ética.

[…] Se esta análise está correcta, a ética não contém quaisquer proposições, sejam elas
verdadeiras ou falsas, consistindo em desejos gerais de uma certa espécie,
nomeadamente naqueles que dizem respeito aos desejos da humanidade em geral — e
dos deuses, dos anjos e dos demónios, se eles existirem. A ciência pode discutir as
causas dos desejos e os meios para os realizar, mas não contém quaisquer frases
genuinamente éticas, pois esta diz respeito ao que é verdadeiro ou falso.

A teoria que estou a defender é uma forma daquela que é conhecida por doutrina da
«subjectividade» dos valores. Esta doutrina consiste em sustentar que, se dois homens
discordam quanto a valores, há uma diferença de gosto, mas não um desacordo quanto a
qualquer género de verdade. Quando um homem diz «As ostras são boas» e outro diz
«Eu acho que são más», reconhecemos que não há nada para discutir. A teoria em
questão sustenta que todas as divergências de valores são deste género, embora
pensemos naturalmente que o não são quando estamos a lidar com questões que nos
parecem mais importantes que a das ostras. A razão principal para adoptar esta
perspectiva é a completa impossibilidade de encontrar quaisquer argumentos que
provem que isto ou aquilo tem valor intrínseco. Se estivéssemos de acordo a este
respeito, poderíamos defender que conhecemos os valores por intuição. Não podemos
provar a um daltónico que a relva é verde e não vermelha, mas há várias maneiras de lhe
provar que ele não tem um poder de discriminação que a maior parte dos homens possui.
No entanto, no caso dos valores não há qualquer maneira de fazer isso, e aí os
desacordos são muito mais frequentes que no caso das cores. Como não se pode sequer
imaginar uma maneira de resolver uma divergência a respeito de valores, temos que
chegar à conclusão que a divergência é apenas de gostos e não se dá ao nível de qualquer
verdade objectiva.

                                        Bertrand Russell, Religião e Ciência, 1935




                                                                                       5

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Texto de apoio os valores

  • 1. ESCOLA SECUNDÁRIA DE BOCAGE Texto de Apoio FILOSOFIA nº ______ Os valores - Análise e compreensão da experiência valorativa ___ / ____ / _____ Texto A O termo valor, embora seja de uso relativamente corrente, está longe de ser intuitivo. Chamamos valor ou valores a um conjunto de não muito especificado de termos que significam entidades abstractas, isto é, não são objectos. Por exemplo: paz, justiça, beleza, felicidade, bem, liberdade, igualdade, solidariedade, (…). Existem muitos mais, sem dúvida. Esses termos podem ser abstractos ou mais concretos. O bem ou a beleza são muito abstractos; a fidelidade ou a coragem parecem mais concretos. (…) Amelia Valcárcel, “Valor” in 10 Palavras-chave em Ética Texto B Os valores não são, mas valem. Uma coisa é valor e outra coisa é ser. Quando dizemos que algo vale, não dizemos nada do seu ser, dizemos Somente que não é indiferente. M. Garcia Morente, Fundamentos da Filosofia Texto C O valor é (…) a ruptura com a indiferença pela qual colocamos todas as coisas no mesmo plano e consideramos todas as acções como equivalentes. Talvez a indiferença, enquanto tal, seja impossível. Mas o valor surge, quando essa indiferença desaparece, quando o mundo deixa de ser para nós um espectáculo e a acção deixa de ser uma acontecimento puro, quando nos envolvemos nesse espectáculo e participamos desse acontecimento. Desse modo, introduzir valor no mundo é introduzir-lhe diferenças que estão sempre em relação com as preferências. Todo o valor é, na verdade, inseparável de uma actividade de selecção que, mesmo que só tenha sentido para nós, opera distinções entre as diversas formas da realidade, de acordo com o que estimamos e com o que recebe a nossa preferência. Só há valor onde a indiferença desaparece e a parcialidade começa a introduzir-se no real. Dar valor é tomar partido perante a realidade. Louis Lavelle, Tratado sobre os valores Texto D O cidadão romano não considerava imorais jogos dos gladiadores na arena e dava serenamente ordem de matar o vencido. O homem medieval, sob influência do Cristianismo, já não conseguia fazê-lo, mas assistia com satisfação às fogueiras das feiticeiras e dos heréticos. Hoje, já não admitimos sequer as execuções públicas, e começamos a discutir as licenças dos combates de pugilato e as corridas. 1
  • 2. Mas diferenças igualmente grandes passaram a acontecer no círculo da própria vida individual. As mulheres nascidas no campo há cinquenta anos ou sessenta anos eram habituadas, desde raparigas, a considerarem a virgindade um valor pré- matrimonial, um pecado a contracepção e a obedecer ao marido como ao pai. Depois, mudou a sua concepção, mudaram-se os seus direitos, os seus valores, o seu erotismo, aquilo que está mal. Os homens daquela mesma época acreditavam na Pátria, na luta contra o estrangeiro, ou então contra o inimigo ideológico. Onde quer que estivesse presente a Igreja com a confissão, os sacramentos, a direcção espiritual, as suas normas morais estendiam-se aos mais pequenos recantos da vida quotidiana. Todas estas crenças, todos estes valores, todas estas regras foram mudadas, Hoje, a televisão, o cinema e a imprensa já não propõem um único modelo de comportamento, mas um repertório de alternativas. Há muitas maneiras autorizadas de viver. F. Alberoni ( 1995) Valores. Texto E Os valores - Que tipos de valores existem? Podemos classificar os valores de um Como todos os valores se acham referidos duplo ponto de vista: formal e material. Do a um sujeito – o sujeito humano, o homem ponto de vista formal, os valores dividem- – e este é, antes de mais nada, um ser se como segue: constituído por sensibilidade e espírito, daí o poderem classificar-se imediatamente 1 – Positivos: e negativos. Valor positivo é todos os valores nas duas classes aquele que mais geralmente costumamos fundamentais de: valores sensíveis e designar pela expressão pura e simples de valores espirituais. Os primeiros referem-se “valor”. O conceito de “valor” é geralmente ao homem enquanto simples ser da usado numa dupla acepção: umas vezes, natureza, os segundos ao homem como entende-se por esta palavra o valor em ser espiritual. geral, independentemente da polaridade valor-desvalor, como conceito neutro, A – Valores sensíveis. outras vezes entende-se só o seu aspecto positivo contraposto ao negativo. Ao valor A esta categoria pertencem: positivo contrapõe-se o negativo, chamando-se então a este mais propriamente “desvalor”. Esta polaridade 1 – Os valores do agradável e do prazer, pertence à própria estrutura essencial da também chamados “hedónicos”. Ela ordem axiológica, que assim se distingue abrange não só todas as sensações de fundamentalmente da ordem do ser a que é prazer e satisfação, como tudo aquilo que é estranha uma tal estrutura. apto a provocá-las (vestuário, comida, bebidas, etc.). À ética que apenas conhece estes valores chama-se geralmente 2 – Valores das pessoas e valores das hedonismo. coisas, ou valores pessoais e reais. Valores das pessoas ou pessoais são aqueles que só podem pertencer a pessoas, como os 2 – Valores vitais ou da vida. São aqueles valores éticos. Reais (de res) os que valores de que é portadora a vida, no aderem a objectos ou coisas impessoais, sentido naturalista desta palavra, isto é, como os das coisas ditas valiosas, Bios. Cabem aqui o vigor vital, a força, a designadas mais geralmente pela saúde, etc. Como se sabe, foram estes os expressão “bens”. valores que Nietzsche reputou os mais elevados de todos na sua escala axiológica, como os únicos mesmo. E ao 3 – Valores em si mesmo, ou autónomos e que se chama biologismo ético ou valores derivados de outros ou naturalismo. dependentes. O valor em si reside na sua mesma essência; possui esse carácter com independência de todos os outros valores; 3 – Valores de utilidade. Coincidem com não depende deles; não é meio para eles. os chamados valores económicos. Referem-se a tudo aquilo que serve para a satisfação das nossas necessidades da vida (comida, vestuário, habitação, etc.) e 2
  • 3. ainda aos instrumentos que servem para a desprende-se sempre um categórico “tu criação destes bens. Distinguem-se dos deves fazer” ou “tu não deves fazer”, isto restantes valores desta classe, ou aquilo; exigem, imperiosamente, que a nomeadamente dos sensíveis, para os consciência os atenda e os realize. E nisto quais aliás concorrem, por não serem, do se separam também dos estéticos que não ponto de vista formal, autónomos, mas impõem nenhuma exigência desta derivados, no sentido que acima vimos. natureza, nem se nos impõem incondicionalmente. d) Os valores éticos B – Valores espirituais. dirigem-se ao homem em geral, a todos os homens; são universais, a sua pretensão a serem realizados é universal. Os estéticos Estes distinguem-se dos valores sensíveis, não estão neste caso, apenas dirigem o no seu conjunto, não só pela imaterialidade seu apelo a alguns homens, para que estes que acompanha a sua perdurabilidade, os realizem, e nem todos podem ser como pela sua absoluta e incondicional obrigados a dar-lhe acolhimento, a fazer validade. Muitos filósofos, que encaram os arte, ou a cultivá-las de qualquer maneira. valores só por este último lado, e) Além disso, é, pode dizer-se, ilimitada identificando-os por isso com o conceito de também a exigência que os valores éticos simples “valor” ou validade formal, nos fazem: constituem uma norma ou pretendem que só os valores espirituais critério de conduta que afecta todas as são verdadeiros valores. Porém, quem se esferas da nossa actividade e da nossa lembraria de negar aos economistas o conduta da vida. Esta acha-se sujeita, total direito de usarem também do termo e do e incondicionalmente, a eles na sua conceito de valor? À categoria dos valores imperiosa jurisdição e validade. Nada deve espirituais pertencem: ser feito que os contrarie. Poderia definir-se esta característica dos valores éticos 1- Os valores lógicos. Quando se fala de chamando-lhes totalitários. Não assim os valores lógicos, é preciso ter presente que valores estéticos. Estes só reclamam de se podem entender por esta expressão nós que os realizemos em certas situações duas coisas distintas: a função do e momentos da vida, permanecendo conhecimento – o saber, a posse da calados durante os restantes; não somos verdade e o esforço para a alcançar – e o obrigados a ser estetas e, menos ainda, a conteúdo do conhecimento. No primeiro toda a hora (…). sentido, é óbvio que podemos falar, com todo o direito, em valores lógicos ou no 3 – Valores estéticos, ou do Belo. valor do conhecimento. Contrapor-se-lhe- Incluímos aqui no conceito de belo, no mais ão, como desvalor lógico, a ignorância, o amplo sentido desta palavra, o sublime, o erro, a falta de interesse pela verdade, a trágico, o amorável, etc. ausência de esforço para a alcançar, etc. Mas a expressão “valor lógico” pode significar também o próprio conteúdo do 4 – “,Valores religiosos ou do”sagrado”. conhecimento. E, neste segundo caso, é Já atrás aludimos ao que há de original “valor lógico” tudo aquilo que cai dentro do nestes valores. A eles não aderem par de conceitos verdadeiro-falso [...]. propriamente nenhum “deve ser”. Não temos que realizar esses valores; nem isso é possível nem necessário. Não são 2 – Valores éticos: ou do bem moral. valores de um “deve ser”, mas valores de Destes podem dar-se as seguintes um “ser”; Nisto se afastam dos valores características: éticos para se aproximarem dos estéticos com os quais estão numa relação muito a) Só podem ser seus portadores as íntima. Todavia, existe também entre eles e pessoas, nunca as coisas. Só seres estes últimos uma diferença que cumpre espirituais podem encarnar valores morais. salientar: a realidade do “sagrado”, não é, Por isso o âmbito destes valores é como a do “Belo”, apenas uma realidade relativamente restrito; muito mais, por aparente, mas uma realidade no mais exemplo, que o dos estéticos. eminente sentido desta palavra. b) Os valores éticos aderem sempre a Johannes Hessen,(1980). Filosofia suportes reais. Também, por este lado, se dos Valores, Ed. Arménio Amado; distinguem dos valores estéticos, cujo Coimbra. pp. 107-117 suporte é constituído por algo de irreal, de mera aparência. c) Os valores éticos têm o carácter de exigências e imperativos absolutos. Dele 3
  • 4. Texto F Todos nós valoramos e não podemos deixar de valorar. Não é possível a vida sem proferir constantemente juízos de valor. É a essência do ser humano conhecer e querer, tanto como valorar. E até, se pretendermos ver a na vontade o centro da gravidade da natureza humana – como já Santo Agostinho pretendia a crer – mais uma razão para afirmar que o valorar pertence à essência do homem. Todo o querer pressupõe um valor. Nada podemos querer senão aquilo que de qualquer maneira nos pareça valioso e como tal digno de ser desejado. Valoramos as mais diferentes coisas. O nosso valorar recai sobre todos os objectos possíveis: água, pão, vestuário, saúde, livros, homens, opiniões, actos. Tudo é objecto das nossas apreciações. E nelas encontramos já as duas direcções possíveis de todas as nossas valorações. Isto é: os nossos “juízos” de valor ora são positivos, ora negativos; umas coisas parecem-nos valiosas, outras desvaliosas. (…) Os valores não só se distinguem uns dos outros, como se acham ainda entre si numa determinada relação de hierarquia. São, com efeito, da essência do valor não só a característica polaridade, que os faz distinguir em positivos e negativos, de já falamos, como ainda a sua distinção entre valores mais altos e valores mais baixos. A ordem axiológica possui assim, como já vimos, uma estrutura hierárquica. Dá-nos uma escala com graduações de altura em que há números baixos e números altos a considerar. Johannes Hessen ( 1980) Filosofia dos Valores. Texto G 1. Os Valores são Subjectivos As questões sobre «valores» — isto é, sobre o que é bom ou mau em si mesmo, independentemente dos seus efeitos — estão fora do domínio da ciência, como os defensores da religião afirmam veementemente. Eu penso que nisto têm razão, mas retiro outra conclusão que eles não retiram — a de que as questões sobre «valores» estão completamente fora do domínio do conhecimento. Por outras palavras, quando afirmamos que isto ou aquilo tem «valor», estamos a exprimir as nossas emoções, e não a indicar algo que seria verdadeiro Bertrand Russell mesmo que os nossos sentimentos pessoais fossem diferentes. (1872-1970). Depois de ter recebido o […] Qualquer tentativa de persuadir as pessoas de que algo é Prémio Nobel da bom (ou mau) em si mesmo, e não apenas por causa dos seus Literatura em 1950, efeitos, depende não de qualquer recurso a provas, mas da passou o resto da vida arte de suscitar sentimentos. O talento do pregador consiste a lutar pelo sempre em criar nos outros emoções semelhantes às suas — desarmamento nuclear. ou diferentes, se ele for hipócrita. Ao dizer isto não estou a criticar o pregador, mas a analisar o carácter essencial da sua actividade. 4
  • 5. Quando um homem diz «Isto é bom em si mesmo» parece estar a exprimir uma proposição, tal como se tivesse dito «Isto é um quadrado» ou «Isto é doce». Julgo que isto é um erro. Penso que aquilo que o homem quer realmente dizer é «Quero que toda a gente deseje isto», ou melhor, «Quem me dera que toda a gente desejasse isto.» Se aquilo que ele diz for interpretado como uma proposição, esta é apenas sobre o seu desejo pessoal. Se for antes interpretado num sentido geral, não afirma nada, exprimindo apenas um desejo. O desejo, enquanto acontecimento, é pessoal, mas o que se deseja é universal. Penso que foi este curioso entrelaçamento entre o particular e o universal que provocou tanta confusão na ética. […] Se esta análise está correcta, a ética não contém quaisquer proposições, sejam elas verdadeiras ou falsas, consistindo em desejos gerais de uma certa espécie, nomeadamente naqueles que dizem respeito aos desejos da humanidade em geral — e dos deuses, dos anjos e dos demónios, se eles existirem. A ciência pode discutir as causas dos desejos e os meios para os realizar, mas não contém quaisquer frases genuinamente éticas, pois esta diz respeito ao que é verdadeiro ou falso. A teoria que estou a defender é uma forma daquela que é conhecida por doutrina da «subjectividade» dos valores. Esta doutrina consiste em sustentar que, se dois homens discordam quanto a valores, há uma diferença de gosto, mas não um desacordo quanto a qualquer género de verdade. Quando um homem diz «As ostras são boas» e outro diz «Eu acho que são más», reconhecemos que não há nada para discutir. A teoria em questão sustenta que todas as divergências de valores são deste género, embora pensemos naturalmente que o não são quando estamos a lidar com questões que nos parecem mais importantes que a das ostras. A razão principal para adoptar esta perspectiva é a completa impossibilidade de encontrar quaisquer argumentos que provem que isto ou aquilo tem valor intrínseco. Se estivéssemos de acordo a este respeito, poderíamos defender que conhecemos os valores por intuição. Não podemos provar a um daltónico que a relva é verde e não vermelha, mas há várias maneiras de lhe provar que ele não tem um poder de discriminação que a maior parte dos homens possui. No entanto, no caso dos valores não há qualquer maneira de fazer isso, e aí os desacordos são muito mais frequentes que no caso das cores. Como não se pode sequer imaginar uma maneira de resolver uma divergência a respeito de valores, temos que chegar à conclusão que a divergência é apenas de gostos e não se dá ao nível de qualquer verdade objectiva. Bertrand Russell, Religião e Ciência, 1935 5