SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 14
Baixar para ler offline
Saúde do trabalhador no SUS: desafios e perspecti-
Edvânia Ângela de Souza Lourenço1          vas frente à precarização do trabalho
Íris Fenner Bertani2
                                           Workers’ health at the Public Unified Health System – challenges
                                                                    and perspectives facing precarious work




1 Doutoranda em Serviço Social             Resumo
da Universidade Estadual Paulista
(Unesp). Assistente Social do              Refletir sobre o campo saúde do(a) trabalhador(a) é o objetivo deste estudo.
Centro de Referência em Saúde do
                                           Busca-se sublinhar o significado das condições de trabalho para o ser huma-
Trabalhador (CRST) de Franca-
SP. Docente do curso de Serviço            no do ponto de vista da saúde. A premissa não é quantificar, mas inferir que
Social do Instituto Municipal de           as condições de trabalho podem gerar danos à saúde, mas nem sempre apre-
Ensino Superior-SP. Membro do              sentam de imediato a sua relação com o trabalho. São discutidas, a partir da
QUAVISSS. Franca-SP.                       abordagem qualitativa, três situações, as quais contemplam os trabalhos rural,
2 Professora Adjunta da Graduação          informal e infantil e, como resultado, verifica-se a contradição da categoria
e da Pós-Graduação em Serviço              trabalho, que, se por um lado é sinônimo de sociabilidade, por outro, contradi-
Social da Universidade Estadual            toriamente, constitui-se em mecanismo de exclusão social na medida em que é
Paulista (Unesp) e Coordenadora            realizado sem o reconhecimento dos direitos sociais e trabalhistas. Verifica-se
do QUAVISSS. Franca-SP.                    a expansão de formas de trabalho sem regulamentação, tais como o domiciliar
                                           e o familiar e os realizados em locais como a rua e o lixo. Encerra-se a reflexão
                                           com destaque ao papel do Sistema Único de Saúde (SUS) na “assistência inte-
                                           gral” à saúde dos(as) trabalhadores(as) e ao desafio de atuar na perspectiva de
                                           prevenção e promoção da saúde do trabalhador de modo integrado e articula-
                                           do aos demais órgãos públicos que atuam nesta área.
                                           Palavras-chave: saúde do trabalhador, acidentes de trabalho, doenças do tra-
                                           balho, saúde pública e políticas públicas.

                                           Abstract
                                           The objective of this study is to ponder on occupational health, searching for
                                           the meaning of work to workers’ health. The premise is not to quantify, but
                                           to infer that the work conditions can generate damages to health, although
                                           this relationship is not always immediately apparent. Three situations that
                                           contemplate rural and informal work, as well as child labor are discussed, using
                                           a qualitative approach. As a result, the contradiction of work is verified. It could
                                           be a synonym for sociability, but on the other hand, it is a mechanism for social
                                           exclusion, when conducted without the recognition of the workers’ social and
                                           labor rights. The expansion of jobs without regulation have been observed such
                                           as the ones conducted at home or within families, or on the streets and at the
                                           waste landfills. The article ends by discussing the role of the Public Unified
                                           Health System (SUS) in the “integral assistance” to workers’ health and the
                                           challenge of acting with a preventive perspective and towards occupational
                                           health promotion, in a joint effort with other public organization in this field.
                                           Keywords: occupational health, work accidents, occupational diseases,
                                           public health and public policy.




Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, 32 (115): 121-134, 2007                                                121
Introdução

      O SUS e o campo saúde do trabalhador            proteção do meio ambiente, nele compre-
                                                      endido o trabalho”.
          As ações de saúde do trabalhador têm
      as suas raízes no processo histórico das lu-        Na década de 1990, diversas portarias
      tas sociais deflagradas no Brasil a partir da   e leis foram criadas com o objetivo de ga-
      década de 1970, mas ações inusitadas co-        rantir os princípios básicos e a efetivação
      meçaram a ganhar corpo apenas na década         do SUS. No decorrer dos últimos 15 anos,
      de 1980 nos governos municipais de ênfase       apesar dos limites marcados pelo cliente-
      política democrática.                           lismo, populismo e paternalismo presen-
                                                      tes na administração pública, o SUS tem
          Pode-se perceber uma relação entre a
                                                      conseguido solidificar as bases para o di-
      redemocratização do Estado brasileiro no
                                                      reito à saúde com ênfase na gestão demo-
      decorrer dos anos de 1980 e a mudança
                                                      crática e participativa.
      de postura política no enfrentamento dos
      eventos agressivos à saúde no trabalho.             Os protagonistas sociais e políticos
      Segundo Vilela (2003), nessa época foram        envolvidos na II Conferência Nacional de
      constituídas as primeiras ações de saúde        Saúde do Trabalhador (II CNST) debateram
      do trabalhador no âmbito do SUS por meio        e reafirmaram a responsabilidade do SUS
      dos Programas de Saúde do Trabalhador           frente aos acidentes de trabalho. O relató-
      (PST) em vários municípios.                     rio final do II CNST garantiu “[...] à unifica-
                                                      ção no SUS de todas as ações de saúde do
          Segundo Lacaz (1996), a década de
                                                      trabalhador” (LACAZ, 1997). É reconheci-
      1980 representa um marco histórico para
                                                      da também pela continuidade das discus-
      a saúde do trabalhador, pois este passa a
                                                      sões técnicas e políticas na constituição do
      ser reconhecido como sujeito possuidor de
                                                      campo saúde do trabalhador e, portanto,
      saber e não mero consumidor de serviços
                                                      para a observância da responsabilidade da
      de saúde. O campo Saúde do Trabalhador,
                                                      política de saúde pública nos processos
      segundo o autor, tem como pressuposto
                                                      de produção. Dias e Hoefel (2005, p. 820),
      a participação dos(as) trabalhadores(as)
                                                      apontam que esta conferência também foi
      no processo de avaliação e controle dos
                                                      marcada pela “[...] acirrada disputa quanto
      acidentes de trabalho e não se restringe à
                                                      aos espaços de atuação entre os Ministérios
      concepção de riscos profissionais e agentes
                                                      do Trabalho e da Saúde”.
      causadores (físicos, biológicos, químicos,
      mecânicos e ergonômicos), mas reconhece             No final de 1990, em cumprimento a
      outras determinações para os sofrimentos        Lei Orgânica da Saúde (BRASIL, 1990b),
      físico e mental, relacionando-as com o          que delega ao SUS a revisão periódica da
      processo produtivo.                             listagem oficial de doenças originadas no
                                                      processo de trabalho, foi editada a nova
          Em seu estudo, Lacaz (1996) enfatiza
                                                      Lista de Doenças Relacionadas ao Traba-
      ainda o papel substancial da Constituição
                                                      lho (BRASIL, 1999). Ressalta-se que, ao
      Federal de 1988, precedida pela VIII Con-
                                                      estabelecer a relação entre doenças e tra-
      ferência Nacional de Saúde, em 1986, e na
                                                      balho num conceito mais amplo e prever
      continuidade pela 1ª Conferência Nacional
                                                      a sua revisão anualmente com vistas à
      de Saúde do Trabalhador (I CNST), na as-
                                                      inclusão de novas doenças, propiciou um
      sistência universal ao trabalhador acompa-
                                                      avanço para novas práticas e políticas no
      nhada da prevenção e da intervenção nos
                                                      campo saúde do trabalhador.
      ambientes de trabalho.
                                                         Outro aspecto positivo possibilitado
          A Carta Constituinte (BRASIL, 1988)
                                                      pela edição da Lista de Doenças Relacio-
      estabelece parâmetros legais para a cons-
                                                      nadas ao Trabalho é o fato de ter sido ado-
      tituição do campo saúde do trabalhador no
                                                      tada também
      Sistema Único de Saúde (SUS). Seu artigo
      200 estabelece a ampliação do atendimento             pelo Ministério da Previdência e Assistên-
      do SUS para além da intervenção no corpo              cia Social, regulamentando o conceito de
      ou suas partes; evolui para a intervenção             Doença Profissional e de Doença Adqui-
                                                            rida pelas condições em que o trabalho é
      nas causas e, inclusive, nos ambientes
                                                            realizado [...]. (DIAS, 2001, p. 20)
      de trabalho, como verificado no inciso II
      “executar as ações de vigilância sanitária e        Desse modo, a doença relacionada ao
      epidemiológica, bem como as de saúde do         trabalho para fins de benefícios pode ser
      trabalhador” e no inciso VIII “colaborar na     equiparada ao acidente de trabalho (BRA-



122                     Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, 32 (115): 121-134, 2007
SIL, 1991). Assim, a legislação utiliza a       uma questão de saúde coletiva, fruto das
expressão acidentes de trabalho para se         condições e da organização do trabalho.
referir também às doenças relacionadas ao
                                                   Lacaz (1996, p. 54) indica que no cam-
trabalho. Contudo, optou-se por utilizar
o termo agravos à saúde por considerá-lo        po saúde do trabalhador:
mais abrangente.                                      [...] o coletivo de trabalhadores é percebi-
                                                      do como produtor e não mais consumidor
    A participação política de trabalha-              de condutas, prescrições/orientações, me-
dores e demais atores sociais é responsável           dicamentos etc.
pelas definições dos elementos de incen-
tivo, tanto econômicos como ideológicos,           Portanto as ações devem ser sociali-
do Ministério da Saúde (MS) para implan-        zadas e integradas a quem mais interessa
tação concreta dessa área do conhecimento       melhorar as condições de saúde: os pró-
e de intervenção, a qual passa a ter condi-     prios trabalhadores.
ções concretas de ser efetivada a partir da
                                                    Neste aspecto, os CRST têm envolvido
publicação da Portaria 1679/2002 (BRASIL,
                                                a sociedade com a discussão da questão
2002), que normatiza a “habilitação” e o
convênio entre os municípios, o Estado e o      saúde/trabalho. A habilitação do CRST
MS para a implantação dos Centros de Re-        exige a formação de um Conselho Gestor
ferência em Saúde do Trabalhador (CRST)         e, neste, as entidades representativas da
em âmbito regional.                             classe trabalhadora e patronal, dentre ou-
                                                tras, são convidadas a pensar-agir sobre
    A incorporação da saúde do traba-           as questões locais referentes à saúde do(a)
lhador pelo SUS reconhece, nos ambientes        trabalhador(a).
e processos de trabalho, as condições para
os eventos agressivos à saúde “de quem              Além da participação dos(as) traba-
trabalha” na perspectiva epidemiológi-          lhadores(as), Lacaz (1996) aponta a abor-
ca. Não se restringe a atender o lesionado      dagem multi e interdisiciplinar presente
individualmente, mas busca quantificar          no campo saúde do trabalhador. A análise
o número de pessoas expostas à insegu-          e o enfrentamento cotidianos da complexi-
rança e qualificar essas condições para         dade dos processos de trabalho para a saú-
posteriores mudanças.                           de passam a contar com novas categorias
                                                profissionais, o que representa um avanço,
Saúde do trabalhador: por quê?
                                                à medida que se distancia do diagnóstico/
    Não há uma resposta única para de-          ação restrito à engenharia e à medicina.
fender a emergência e a solidificação do
campo saúde do trabalhador no SUS, mas              Assim, a Rede Nacional de Atenção In-
a legitimidade desta proposta se constitui      tegral à Saúde do Trabalhador (RENAST),
por meio de vários pressupostos, como,          por meio dos CRST, tem implantado uma
por exemplo, que os serviços de saúde já        nova lógica de trabalho nos vários muni-
prestam atendimentos aos agravos, sen-          cípios brasileiros baseada na construção
do necessário buscar as suas causas e ne-       de ações intersetoriais entre os serviços de
las intervir, ou seja, transcender as ações     saúde, como a rede básica e as vigilâncias
curativas para as de prevenção, promoção        epidemiológica, ambiental e sanitária, e
e vigilância em saúde do trabalhador. Ou-       prevê ações coordenadas com os órgãos de
tros fatores relacionam-se à abrangência        atuação nos ambientes de trabalho (Posto
territorial do SUS e ao número de equipes       de Atendimento ao Trabalhador (PAT), De-
profissionais capazes de desenvolver ações      legacia Regional do Trabalho (DRT), Fun-
voltadas à saúde do trabalhador. Inúmeras       dação Jorge Duprat Figueiredo de Seguran-
outras questões poderiam ser elencadas,         ça e Medicina do Trabalho (Fundacentro),
mas frisa-se, além dessas, a questão da         Ministério Público (MP), Instituto Nacional
democracia e da epidemiologia, as quais         de Previdência Social (INSS) e outros).
têm materializado avanços para as ações
de saúde. Então, defende-se a inclusão, no          A atualização permanente de conheci-
contexto do SUS, das ações relativas aos        mentos da equipe técnica dos CRST tam-
agravos à saúde de quem trabalha por acre-      bém faz parte da diretriz da política na-
ditar-se que favorece a redução do vácuo        cional de saúde do trabalhador, bem como
entre o indivíduo que sofre o acidente de       a participação dos(as) trabalhadores(as),
trabalho e as condições em que é realiza-       considerada essencial para o diagnóstico
do, ou seja, deixa de ser uma “suscetibili-     dos riscos e, concomitantemente, para in-
dade” individual para ser situado como          tervenção e mudança.



Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, 32 (115): 121-134, 2007                          123
Dias e Hoefel (2005) expõem que é           saúde dos(as) trabalhadores(as). Os autores
      também proposta da RENAST coletivizar           reforçam o avanço que representa a insti-
      a questão dos acidentes e adoecimentos          tucionalização das ações de saúde do tra-
      relacionados ao trabalho por meio do re-        balhador no âmbito do SUS, mas criticam
      gistro desses eventos no sistema de infor-      a falta de êxito relativa à proposta inicial
      mação, o que possibilita a identificação        quanto à articulação com a rede básica e
      dos fatores de risco e a orientação das         o suporte técnico e especializado oferecido
      ações de vigilância.                            pelos CRST no projeto original do Progra-
                                                      ma de Saúde do Trabalhador (PST).
          Contudo, na prática, há uma enorme
      contradição entre ações assistenciais aos(às)       Às dificuldades culturais, ideológicas e
      trabalhadores(as) que sofreram acidentes        políticas no estabelecimento de ações efi-
      de trabalho e a nova proposta da RENAST.        cazes no campo da saúde do trabalhador
      Isto é, a discussão sobre a responsabilidade    somam-se as mudanças do mundo do tra-
      do SUS na intervenção sobre os processos        balho e a opção do Estado pelo projeto neo-
      de trabalho, debatida na II CNST (1994) e       liberal de governo.
      ampliada na III CNST (2005), ainda não
                                                          A precariedade das condições de tra-
      foi esgotada, especialmente no que tange à
                                                      balho manifestada na violação dos di-
      inspeção, o que não pode ser tratado como
                                                      reitos trabalhistas, na insegurança do
      algo desprezível na efetivação do campo
                                                      posto e do ambiente de trabalho, no au-
      saúde do trabalhador.
                                                      mento do ritmo da produção e das exigên-
          O que se verifica nos dois anos de fun-     cias (pressão) interfere na saúde dos(as)
      cionamento do CRST de Franca-SP, ao se          trabalhadores(as) e também no modo de
      considerar a realidade regional, é o início     agir, pensar, sentir e fazer ou, nas pala-
      da práxis no campo saúde do traba lhador.       vras de Antunes (1999, p. 15), na “subjeti-
      Há um esforço para construir dados fide-        vidade da classe trabalhadora”.
      dignos sobre os acidentes e as doenças re-
                                                          Antunes (1999) mostra que houve uma
      lacionadas ao trabalho e, a partir destes,
                                                      processualidade contraditória, ou seja, a
      estabelecer as ações. Porém, ainda ocorre
                                                      mudança radical na organização do sistema
      uma dificuldade de entendimento sobre
                                                      de produção, marcada pela reestruturação
      “de quem é a responsabilidade de fisca-
                                                      produtiva, pela terceirização e pela flexibi-
      lizar, inspecionar, conter e prevenir os
                                                      lização, resultou, por um lado, na redução
      acidentes de trabalho, o que resulta em
                                                      do operariado industrial e fabril e, por ou-
      visível omissão de ação” (LOURENÇO &
                                                      tro lado, na subproletarização do trabalho
      BERTANI, 2006, p. 50).
                                                      expressado nas formas de trabalho parcial,
          Apesar do campo saúde do trabalhador        precário, temporário, informal, entre tantas
      ter sido construído com a participação de       modalidades existentes.
      vários atores sociais e políticos e de ter
                                                          Tudo isso corrobora a inflexão do movi-
      sido reconhecido no plano legal, não foram
                                                      mento sindical e a pulverização da classe
      efetivadas novas práticas para além da as-
                                                      trabalhadora que, no início do século XXI,
      sistência médica, salvo algumas ações inu-
                                                      trava esforços para manter o emprego e gera
      sitadas, mas ainda focais.
                                                      um retrocesso histórico ao se distanciar da
         Refletir sobre a saúde do trabalhador        melhoria das condições de trabalho.
      no SUS significa sublinhar uma área de
                                                          Desse modo, o fenômeno dos acidentes
      conhecimento em construção e que se pro-
                                                      de trabalho passa a representar uma nova
      põe a compreender as manifestações das
                                                      demanda à medida que não se restringe
      condições de trabalho para a saúde não
                                                      ao setor formal de caráter industrial, mas
      apenas na esfera dos acidentes de trabalho
                                                      atinge o informal, com forte predomi-
      no âmbito industrial, mas também a sua re-
                                                      nância do setor de serviços. Os desempre-
      percussão, do ponto de vista da saúde, no
                                                      gados, os aposentados e, ainda, crianças
      campo da agricultura e dos serviços (MI-
                                                      e adolescentes trabalhadores constituem
      NAYO-GOMES & LACAZ, 2005).
                                                      “novos” problemas de saúde. Este fenôme-
         Trata-se de um modelo, como aborda           no está imbricado com uma contraditória e
      Lacaz (1996), em construção, mas que, se-       complexa estrutura presente nas diferentes
      gundo Minayo-Gomes e Lacaz (2005), ao           formas de produção e perpassa a economia
      longo de vinte anos, desde as primeiras         familiar, a formal, as empresas arcaicas e
      experiências, apresentou um impacto de          até as mais modernas. Portanto, é neces-
      pouca visibilidade frente à complexidade        sária uma ação coordenada que busque as
      do modo de produção e seus efeitos para a       causas e que nelas interfiram.



124                     Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, 32 (115): 121-134, 2007
A forma fenomênica de apresenta-             efetivar o campo saúde do trabalhador com
ção dos agravos relacionados ao trabalho         atendimentos centrados apenas no caráter
não trazem à tona, de imediato, as con-          das esferas biológica e individual. Há de se
dições concretas a que a maioria dos(as)         considerar o processo de trabalho e as re-
trabalhadores(as) está inserida. Assim, a        lações por ele estabelecidas no tocante às
terminologia “saúde do trabalhador” está         incapacidades permanentes e temporárias.
envolta pela compreensão mais ampla da
realidade, considerada aqui como um todo             O olhar epidemiológico deve ser co-
que tem uma estrutura construída com             locado em prática e o SUS, pela sua ca-
partes que se relacionam entre si, dinâmi-       pilaridade, pode avançar na questão da
ca e mutável. O olhar para a realidade está      saúde/trabalho. O sistema de informação
sujeito a várias interferências. Assim, a ne-    pode dar visibilidade teórica e empírica às
gação da aparência inicial e as mediações        reais condições de trabalho e, assim, re-
tornam-se importantes no processo de in-         verter a cultura de que o trabalho é bom
vestigação e ação.                               independentemente das condições em
                                                 que é realizado.
    Apreender as condições de trabalho
de modo interdisciplinar e coletivo para             Ao indagar sobre o campo saúde do
reconstruí-las racionalmente é um desa-          trabalhador como área de intervenção do
fio dialético, materialmente necessário          SUS, pretendeu-se evidenciar o papel dos
para qualificar a questão dos acidentes          serviços de saúde não apenas na assis-
de trabalho, caracterizando-os como ele-         tência ao problema de saúde apresentado
mentos constitutivos da lógica reproduti-        pelo(a) trabalhador(a), mas, sobretudo, na
va do sistema capitalista e jamais como          intervenção das causas a partir dos princí-
uma questão individual ou como “fatali-          pios do SUS: universalidade, integralida-
dade do destino”.                                de, descentralização e participação.
    Para Minayo-Gomez e Lacaz (2005), o          Acidentes de trabalho: uma forma de ex-
uso da expressão “saúde do trabalhador”          clusão social
está norteado pela compreensão mais am-
pla da realidade que – na acepção marxista           Consideram-se os acidentes de trabalho
– tem como núcleo básico o “processo de          como um modo de exclusão social. Salien-
trabalho”. Explicitam o alto poder explica-      ta-se que o uso do termo “exclusão social”
tivo do processo de trabalho na gênese dos       não é usado para designar a pobreza e a de-
agravos à saúde:                                 sigualdade, mas cunha-se à linha adotada
                                                 por Ammann (2003), a qual não se preocu-
     [...] A análise dos processos de trabalho   pa em estabelecer uma conceituação fecha-
     é uma ação teórico-prática potente, pois
                                                 da da exclusão social e faz uso de estudos
     permite identificar as transformações ne-
     cessárias a serem introduzidas nos locais   atuais acerca da temática para justificar
     e ambientes para a melhoria das condi-      que tal expressão sugere um estado de pri-
     ções de trabalho e saúde. (Minayo-Gomes     vação, mas não recupera, historicamente,
     & Lacaz, 2005, p. 799)                      os processos que a engendram. Assim, Am-
    Minayo-Gomez e Lacaz (2005) acrescen-        mann (2003) discute algumas linhas que
tam que a análise da saúde do trabalhador        demarcam o tema e adota a postura mar-
nas dimensões do “processo de trabalho”          xista de centralidade ontológica do traba-
requer um tratamento interdisciplinar que        lho, na qual sublinha o papel fundante do
dê conta de abranger as relações de produ-       trabalho na afirmação do ser social e sua
ção e a subjetividade dos vários atores so-      determinação nos processos históricos que
ciais nelas envolvidos. Isso ajuda a romper      geram ou não a exclusão social.
as análises positivistas e simplificadas de          A aproximação dos acidentes de tra-
causa e efeito hegemônicas na medicina do        balho como uma forma de exclusão social
trabalho e na saúde ocupacional.                 se dá à medida que estes favorecem a rup-
    Os avanços, contidos na Constituição         tura e a desagregação social, como apon-
Federal de 1988 e nas legislações subse-         tam Cohn, Karsch e Sato (1985) no estudo
qüentes, que garantem a saúde e a segu-          sobre os acidentes de trabalho como uma
rança no trabalho, chocaram-se com as            forma de violência. Os autores expõem que
mudanças do mundo do trabalho, amplia-           as incapacidades permanentes direcionam
das a partir da década de 1990, que reper-       o trabalhador rumo à miséria, “ao estatu-
cutiram, entre outras coisas, em agravos         to de inválido e, portanto, de força de tra-
à saúde humana. Portanto, não é possível         balho sucateada no mercado” (p. 12).



Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, 32 (115): 121-134, 2007                     125
Exclusão social se dá não apenas pelo      tes de trabalho. As precárias condições
      desemprego ou pelos baixos salários, mas       de trabalho acompanhadas de perto pela
      no sentido da inacessibilidade aos direitos    ameaça do desemprego geram instabili-
      sociais. Um tipo de exclusão foi denunciado    dade, insegurança e risco social e de aci-
      por Engels (1985) como “exército indus-        dentes que, imbricadas com o aumento da
      trial de reserva”, referente ao desemprego     pobreza e da desigualdade social, agravam
      provocado sobretudo pela substituição do       a exclusão social.
      homem pelas máquinas no final do sécu-
      lo XIX. O autor mostra que o desemprego            Assim, a saúde do trabalhador deve se
      no início da Revolução Industrial tornou-se    aproximar das condições de trabalho não
      funcional ao sistema capitalista e nocivo      apenas do mercado formal, mas, sobretudo,
      para aqueles que estavam inseridos no          dos autônomos, das produções indepen-
      mercado de trabalho, pois as pessoas de-       dentes, familiares ou de cooperativas. Nas
      sempregadas se viam obrigadas a aceitarem      palavras de Minayo-Gomes e Lacaz (2005,
      qualquer trabalho por um valor ínfimo.         p. 806): “faz-se urgente conhecer, diferen-
                                                     ciar e atender o setor informal e o mundo
          A exclusão social da atualidade expõe      difuso e desprotegido dos desempregados”.
      pessoas como “desprezíveis” do ponto de
      vista da concorrência do mercado de tra-           Dejours (2005), no estudo sobre a ba-
      balho, vive-se a “era tecnológica” e suas      nalização da injustiça social, aponta que
      mudanças são tantas que se torna difícil       pode haver uma dualidade do sofrimento
      acompanhá-las. Assim, aqueles que não          pelo trabalho. Por um lado, há os que so-
      têm acesso, mesmo que minimamente, à           frem os efeitos da exclusão do mercado de
      educação e à cultura, também não encon-        trabalho, que refletem na degradação das
      tram chances para concorrer no competi-        condições de vida, expressa, entre outros,
      tivo mercado, em que trabalho (formal) é       no aumento de moradores de rua, de peri-
      uma raridade.                                  ferias, e nos holofotes da violência, da mar-
                                                     ginalidade, da desnutrição, da subnutrição
          Pochmann (2006) mostra o aumento do        e dos mais diversos conflitos e doenças so-
      desemprego: “[...] Em 2002, por exemplo, o     ciais. Por outro lado, estão aqueles inseri-
      país registrou a quarta posição no ranking     dos precariamente no mercado de trabalho
      mundial do desemprego” (p. 60). Aponta         e expostos às condições insalubres, insegu-
      também que o número de ocupações cria-         ras e de risco para as saúdes física e mental.
      das, inferiores às extintas e ainda mar-       São estes últimos os enfoques deste estudo,
      cadas pelo processo de reestruturação e
                                                     uma vez que, a rigor, as condições de traba-
      flexibilização do setor produtivo, não ga-
                                                     lho podem ser retratadas na história das in-
      rantem os direitos trabalhistas previstos,
                                                     capacidades permanentes ou temporárias e
      pois “[...] nos anos 1990, a cada dez empre-
                                                     pela miséria social provocada e reafirma-
      gos criados, somente quatro foram assala-
                                                     da por este processo. Assim, lança-se mão
      riados” (p. 61).
                                                     da descrição e da análise de três situações
         O desemprego, a reestruturação e a fle-     que, além do acidente de trabalho em si,
      xibilização da produção são particularida-     representam a relação das condições do
      des em constante relação com os aciden-        trabalho com a saúde.


      Metodologia

          Busca-se, com o relato das situações a     seus reflexos para a saúde, materializa-
      seguir, identificar a origem da manifesta-     das, neste estudo, por meio de entrevistas
      ção dos agravos à saúde humana relacio-        abertas sem roteiro prévio, mas com refe-
      nados ao trabalho. Distancia-se da causa       rencial temático definido. A escolha das
      natural da doença ou dos agentes causado-      situações privilegiou os possíveis efeitos
      res. Da mesma forma, não se trata de apre-     das condições adversas de trabalho, nem
      sentar dados estatísticos, mas discutir as     sempre transparentes, como uma questão
      condições de trabalho que interferem na        de saúde pública.
      saúde dos(as) trabalhadores(as) e o papel
                                                         Desse modo, uma das situações apre-
      do SUS neste processo.
                                                     sentadas refere-se à questão do acidente
         O método utilizado foi a observação da      de trabalho propriamente dito, ocorrido
      realidade empírica de três situações que       em 26/06/1996, explicitado pela história do
      versam sobre as condições de trabalho e        trabalhador rural, Aparício da Silva (nome



126                     Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, 32 (115): 121-134, 2007
fictício), em acompanhamento social no          deficiência física provocada pelo trabalho e
CRST de Franca-SP, que se prontificou a         também pela conseqüente exclusão deste.
ser sujeito desta reflexão a partir do Con-
                                                    Aparício refere que no dia do aciden-
sentimento Livre e Esclarecido.
                                                te trabalhou durante o período noturno
    Na continuidade da reflexão, enfoca-        “arando” terra e parou por volta das 4 ho-
se o trabalho informal realizado em um          ras da manhã. Ao guardar o maquinário
depósito de catadores de lixo, situado em       (trator), foi abordado pelo empregador que
Brasília-DF, em condições de possíveis          lhe pediu para moer o “trato” do gado, uma
agravos à saúde. Este foi escolhido, exa-       vez que o funcionário responsável por essa
tamente, por representar a flexibilidade        função havia faltado. Segundo ele, tentou
do mercado de trabalho acompanhada da           argumentar que estava cansado, mas dian-
precarização das condições em que é rea-        te da insistência, assumiu a função. Lem-
lizado e seus possíveis reflexos, ainda no      bra que o tempo estava chuvoso e o chão
anonimato, para a saúde.                        escorregadio, estava sozinho manuseando
                                                a máquina de moer “trato” para o gado
    Assim, a escolha da segunda situação se     quando escorregou e teve a sua perna pu-
deu, justamente, por representar a comple-      xada pela máquina:
xidade das mudanças no mundo do traba-
lho em um momento de avançada discus-                 Não sei direito o que aconteceu, mas gra-
                                                      ças a Deus que a máquina travou. Eu ten-
são sobre a relação entre trabalho e saúde
                                                      tei não dormir, porque estava sozinho,
ocorrida na III CNST, em novembro de                  fui socorrido por um colega por volta das
2005. Nesse período, realizou-se visita ao            8 horas e isso aconteceu a pouco mais das
local, depósito de lixo coletado por catado-          4 horas, então não sei como não morri.
res, e entrevistou-se uma das famílias que            (Aparício)
concordou em fazer parte desta reflexão.
                                                    O trabalhador foi socorrido e levado
   Reforça-se que a preocupação com o           pelo Serviço de Resgate à Santa Casa de
aumento da informalidade, do trabalho           Franca. Lá recebeu todos os cuidados e
autônomo, “por conta”, e as possíveis re-       orientação quanto à Comunicação de Aci-
percussões para a saúde presente e fu-          dente de Trabalho (CAT). Mas, ao solicitar
tura dos(as) trabalhadores(as) norteou a        a CAT ao empregador, foi convencido de
escolha da situação do trabalhador que,         que não era necessário, pois eles (empre-
junto com a sua família, residia no local       gadores) lhe dariam tudo o que precisasse.
em que se depositava lixo recolhido para        Na época residia com a sua mulher e os três
posterior seleção do que poderia ser co-        filhos em casa de propriedade da fazenda
mercializado por eles.                          onde era funcionário: “Achei por bem se-
                                                guir a orientação do patrão e não mexi mais
    Na seqüência, aborda-se outro aspecto       com isso, com a CAT” (Aparício).
degradante, que é o trabalho infantil como
uma forma de violência social. A escolha            Aparício foi periciado inúmeras vezes
desta questão se deu por observar que, ape-     no Instituto Nacional de Seguro Social
sar da avançada legislação brasileira, o tra-   (INSS) e, segundo ele, sempre relatou o
balho infantil ainda faz parte das particu-     motivo da perda da perna. Após ter conse-
laridades do mercado de trabalho nacional,      guido, em 1998, a perna mecânica via SUS
controlado no setor industrial, mas real no     (Programa de Órtese e Prótese do Núcleo
mercado informal, conforme observado em         de Gestão Assistencial - NGA), deixou de
festividades em locais públicos no muni-        receber do INSS um salário mínimo inte-
cípio de Franca e também em praias da re-       gral e passou a receber apenas uma parte,
gião norte do Estado de São Paulo durante       equivalente, atualmente, a R$119,00 (cen-
o segundo semestre de 2006.                     to e dezenove reais) por mês, uma vez que,
                                                na visão do seguro social, ele teria con-
Apresentação dos casos                          dição de trabalhar.
Situação 1: A invisibilidade social dos             Contudo, para o empregador, ele não
acidentes de trabalho                           servia mais para trabalhar em nenhuma
                                                função. Após um tempo do ocorrido, foi
    Aparício trabalhava numa importante
                                                dispensado. Os empregadores venderam
fazenda de criação de gado em um muni-
                                                a fazenda e se mudaram para a região de
cípio próximo a Franca-SP. O mesmo per-
                                                Mato Grosso do Sul.
deu a perna esquerda durante o exercício
do seu trabalho, aos 25 anos de idade. O            O fato é que, mesmo sendo jovem, a
trabalhador enfrenta a situação dolorosa da     deficiência física associada à falta de edu-



Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, 32 (115): 121-134, 2007                       127
cação formal limitou as possibilidades de       ou outros materiais recicláveis, enquanto
      inserção no mercado de trabalho:                seus pais permanecem no local – um ter-
           Ficou muito difícil porque fui criado na
                                                      reno baldio – onde depositam o material
           roça e é só isso que sei fazer. Eu andei   arrecadado para posterior seleção.
           arranjando alguns serviços, mas logo não
                                                          Trata-se de um trabalho degradante
           me pegavam mais, alegavam que era pe-
           rigoso e que eu poderia me machucar de     realizado no meio do lixo. O que foi des-
           novo. (Aparício)                           cartado por outrem é aproveitado por eles
                                                      por uma questão de sobrevivência. Obser-
          O desemprego, a falta de moradia, a         va-se que Dona Cleuza, enquanto sepa rava
      deficiência física (desencadeada pelo aci-      o lixo, amamentava a filha mais nova, de
      dente de trabalho) levaram Aparício a en-       2 anos, que estava completamente nua. A
      frentar sérias dificuldades econômicas e        outra filha, de 5 anos, tentava saborear
      sociais que, dentre outros, favoreceram a       os farelos de resto de um pacote de salga-
      dissolução familiar. Sua esposa mudou-se        dinhos encontrado no lixo. Outros dois
      para Franca, com seus três filhos, em busca     filhos com idades ente 6 e 7 anos perma-
      de emprego e melhores condições de vida.        neciam ao lado do pai observando a lida.
      Aparício passou a residir de favor com o
      pai, que é idoso.                                   Não há uma separação entre a casa e o
                                                      ambiente de trabalho. Ergueram barracos
      Situação 2: A informalidade e a invisibi-
                                                      de plástico para permanecerem junto ao
      lidade social dos possíveis acidentes de
                                                      “lixo” e evitarem roubos ou destruição do
      trabalho
                                                      material arrecadado:
          A informalidade entrelaça as pessoas
                                                           Às vezes, alguém pode destruir por ba-
      no mundo do trabalho sem muitas condi-
                                                           gunça mesmo ou roubo, mas os homens
      ções de questionamentos e mudanças do
                                                           (do governo) destroem para a gente ir em-
      que está posto e pode conferir aos seus
                                                           bora daqui, mas não podemos ir porque
      trabalhadores extrema vulnerabilidade de
                                                           não teria como sobreviver. (Manoel)
      saúde e de vida.
                                                          Ao se considerar que há uma relação
          A análise da situação da família de Dona
                                                      intrínseca entre trabalho, meio ambiente
      Cleuza e Seu Manoel (nomes fictícios) traz
      à tona a precariedade das condições de tra-     e saúde, talvez este seja o retrato da degra-
      balho e também de vida das várias famílias      dação socioecológica. O ambiente estava
      brasileiras que sobrevivem do lixo.             carregado pelo mau cheiro dos restos de
                                                      comida e sujeiras próprias do lixo que
          Um breve sumário da sua história            atraía uma nuvem de mosquitos, infes-
      mostra um lado do trabalho totalmente           tando o local. A casa improvisada (barra-
      inseguro do ponto de vista de possíveis         co de plástico) não oferecia proteção nem
      contaminação, ferimentos, adoecimentos,         conforto aos seus habitantes. Do lado de
      da saúde mental no trabalho e, ainda, do        fora, um pequeno fogão, também impro-
      trabalho infantil.                              visado, feito com tijolos, trazia as panelas
         O casal está em Brasília há 15 anos.         postas com restos de alimentos sujeitos à
      Oriundos da Bahia, vieram em busca de           deterioração devido ao armazenamento e
      melhores condições de vida, mas, devido à       à conservação inadequados, misturando-
      ausência de documentos, de escolaridade,        se ao lixo. O ser humano encontra-se aí,
      de profissão e de condições financeiras,        no seu ambiente de trabalho, vulnerável
      não conseguiram emprego ou outro modo           a possibilidades de contaminação e aqui-
      de sobrevivência. A família não conta           sição de doenças e acidentes. Contudo, a
      com nenhuma documentação, inclusive             relação com o trabalho permanece na in-
      dos filhos; por esse motivo, segundo eles,      visibilidade social.
      não estão cadastrados em nenhum pro-               Outra questão observada nessa situa-
      grama social federal, como bolsas escola,       ção é o trabalho infantil e a falta de pro-
      família ou alimentação. Sobrevivem com          teção do trabalho do adolescente. Há um
      os filhos juntando e separando lixo (or-
                                                      processo cultural instalado pela própria
      gânico, contaminado etc.) para a seleção
                                                      convivência diária das crianças com esse
      de materiais (papel, plástico etc.) a serem
                                                      modo de trabalho que representa, entre
      comercializados.
                                                      outros, elementos configuradores para o
          O filho mais velho, 15 anos, percorre       trabalho infantil e para a naturalização
      as ruas de Brasília empurrando um “carri-       da cultura do trabalho independente-
      nho de mão” da família, em busca de papel       mente das condições em que é exercido.



128                     Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, 32 (115): 121-134, 2007
Situação 3: Trabalho infantil                   ampliada pelo fato de serem realizadas, ge-
                                                ralmente, no período noturno.
    Apesar de contar com uma legislação
que proíbe o trabalho infantil e que protege        A violência a que crianças e adoles-
o trabalho do adolescente, é comum en-          centes inseridos precocemente no merca-
contrar crianças “ajudando” no orçamento        do de trabalho estão sujeitos raramente é
familiar, como o caso do filho de 15 anos       revelada nas estatísticas oficiais, pois di-
de Dona Cleuza e Seu Manoel. A questão          ficilmente essas atividades se configuram
do trabalho infantil deve ser analisada a       como trabalho. Estão forjadas na “ajuda”.
partir de um contexto mais amplo que in-        A sociedade “ajuda” a criança e o adoles-
clua a questão da cultura, da política e das    cente pobres oferecendo-lhes um trabalho
condições socioeconômicas.                      e esses, por sua vez, “ajudam” no orçamen-
                                                to familiar, trabalham oito horas diárias,
    Evidencia-se, neste estudo, o trabalho      às vezes mais, e recebem um salário de
de crianças que exercem funções como a          “ajuda”, inferior ao do adulto que exerça a
de “guardador de carros” (para designar a       mesma função. Outra questão é que, dian-
função de olhar, “vigiar” enquanto o dono       te da situação de base socioeconômica e
se ausenta, situação comum nos estacio-         de insuficiência das políticas públicas, o
namentos públicos), “vendedor ambulan-          trabalho adquire um caráter disciplinador
te” (designação para a venda de produtos        para crianças e adolescentes pobres (BRA-
como água, latinhas de cerveja, balas, cho-     SIL, 2005). E, ainda, há de considerar que
colates etc., situação comum no trânsito e      muitas doenças relacionadas ao trabalho
em festividades) e catador de produtos re-      só irão se manifestar na vida adulta, dis-
cicláveis (papel, latinhas de alumínio e ou-    tanciando-se da relação com o trabalho,
tros). As crianças nas condições de traba-      além de se configurar como forma de in-
lho referidas, quando questionadas sobre a      justiça social banalizada cotidianamente.
atividade, mudaram de assunto e de lugar,           As diferenças entre a infância no co-
despistando o nosso olhar, com exceção do       letivo e as infâncias podem ser particula-
menino de 6 anos “guardador de carros”.         rizadas em situações que envolvam o tra-
                                                balho infantil, como abordado por Moreira
    A fala do menino de 6 anos de idade,
                                                e Vasconcelos (2003), que desconstroem a
“guardador de carro”, quando pergunta-
                                                imagem idílica da criança – inocência, vi-
do sobre a atividade, respondeu: “Estou         vida em um mundo onírico, quimérico. A
trabalhando para ajudar minha avó”. De-         infância, no sentido coletivo, é um direito
monstra uma imagem de preocupações              de todos, independentemente das circuns-
travestidas na responsabilidade de manu-        tâncias socioeconômico-culturais; con-
tenção da vida, ocorrendo a “adultotização      tudo, as espacialidades e os cotidianos em
da infância”, como abordado por Silva           que as crianças estão submersas definem o
(2002, p. 151).                                 tipo de infância que estas podem ter, indi-
    Trata-se de funções marcadas pela           vidualizando-as.
absoluta falta de proteção, segurança ou           Verifica-se que essas crianças estão
fiscalização, que expõem essas crianças a       imersas em condições inseguras para o seu
todo tipo de adversidades e de violência        desenvolvimento biopsicossociocultural.


Discussão

   Ao analisar as situações, evidencia-         Apenas a partir da Constituição de 1988,
se o sofrimento de trabalhadores que,           art. 7º, é equiparado ao trabalho urbano.
em decorrência do trabalho realizado em
                                                    Mas, apesar da Carta Constituinte, as
condição precária e sem qualquer tipo de
                                                diferenças de tratamento entre os trabalhos
proteção social ou legal, submetem-se a
                                                urbano e rural, nos planos teórico e prá-
condições insalubres e perigosas por uma
                                                tico, ainda persistem, como é o caso da edi-
questão de subsistência.
                                                ção das Normas Regulamentadoras Rurais
   Quanto à primeira situação, importa          (NRR), específicas para a área rural. Mas
enfatizar que, historicamente, o trabalho       salienta-se que as Normas Regulamentado-
rural foi garantido no patamar dos direitos     ras (NR) e as legislações complementares
sociais, trabalhistas e previdenciários de      contemplam esta categoria profissional,
modo retardatário em relação ao urbano.         como defende Araújo (2005).



Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, 32 (115): 121-134, 2007                    129
Muitas das exigências contidas nas NR           do trabalhador, contava com dispositivo
      também estão presentes nas NRR, como                de fácil acesso para a interrupção do seu
      é o caso dos Serviços Especializados em             funcionamento e também apresentava pro-
      Prevenção de Acidentes do Trabalho Ru-              teção mecânica no ponto de operação, per-
      ral – SEPATR. Conforme o artigo 2º da               mitindo apenas a introdução do produto
      NRR-2, toda propriedade com 100 (cem) ou            a ser moído; estava dentro dos prazos de
      mais trabalhadores é obrigada a organizar           manutenção preventiva?
      e manter em funcionamento o SEPATR,
                                                             As questões sobre a disposição da má-
      que, diferentemente da NR-4, não tem uma
                                                          quina no espaço físico, a proteção das in-
      classificação de grau de risco.
                                                          tempéries, a organização do posto de traba-
           A explicação é que esta é uma norma es-        lho e a área de estocagem da cana ou outro
           pecífica para a atividade rural; logo, todos   produto usado no feitio do alimento “trato”
           os graus de riscos são estimados como          para o gado também devem ser ressaltadas,
           iguais. (ARAUJO, 2005, p. 1352)
                                                          bem como as condições de instalação e do
          Outra exigência da NRR a ser explici-           ambiente (“chão escorregadio”).
      tada é a necessidade de formação e manu-
                                                              Questões relacionadas à organização do
      tenção da Comissão Interna de Prevenção
                                                          trabalho, como a devida capacitação do tra-
      de Acidentes do Trabalho Rural (CIPATR)
                                                          balhador para desempenho da função, tam-
      pelo empregador que mantenha a média de
                                                          bém devem ser consideradas. Além disso,
      20 ou mais funcionários, conforme previs-
                                                          o fato de ter saído de um posto de traba-
      to na NRR-3, artigo 3º (ARAUJO, 2005).
                                                          lho diferente do assumido sem o uso de
          Contudo, tanto a CIPATR quanto a SE-            Equipamento de Proteção Individual (EPI),
      PATR não são comuns no plano prático e              como botas de PVC de solado antiderra-
      um dos fatores que pode estar associado             pante e protetores auditivos para operar o
      é a falta de fiscalização na área rural, bem        trator (usado para arar terra) e a máquina
      como a ausência de dados estatísticos fi-           (para moer o “trato” do gado), também é
      dedignos quanto aos acidentes de trabalho           um fator contribuinte.
      dessa área.
                                                             A discussão do acidente de trabalho
          Apesar de existirem instrumentos le-            no âmbito rural precisa ser alvo de estu-
      gais referentes à proteção da saúde dos(as)         dos e ações sistemáticas devido ao grande
      trabalhadores(as) rurais, muitos fatores in-        número de acontecimentos, conforme le-
      terferem na falta de aplicação, como, por           vantamento feito na região de Franca por
      exemplo, a distância geográfica e/ou física         meio do Relatório de Atendimento aos Aci-
      dos órgãos públicos responsáveis pela sua           dentes de Trabalho – RAAT (LOURENÇO &
      efetivação. O elevado número de trabalha-           BERTANI, 2006). Ressalta-se que, em julho
      dores safristas e temporários, por sua vez,         de 2006, acidente semelhante ocorreu no
      diminui a capacidade de organização do(a)           município de Buritizal, circunvizinho a
      trabalhador(a) rural agravada pela baixa            Franca-SP, deixando deficiente um jovem
      escolaridade e também pela falta de infor-          de 21 anos.
      mação dos seus direitos.
                                                              Verifica-se que a falta de articulação
          Verifica-se que Aparício realizava tra-         dos serviços públicos, especialmente aque-
      balho noturno, no âmbito agrícola, e, ao            les relacionados aos Ministérios do Traba-
      término da sua jornada, recebeu uma nova            lho, da Saúde e da Previdência, contribui
      tarefa e não usufruiu o direito ao descanso         para que essas condições se mantenham
      preconizado na Legislação como garante o            na invisibilidade social. As precárias con-
      artigo 66 da Consolidação das Leis do Tra-          dições de trabalho ficam mascaradas e
      balho (BRASIL, 1943), o que pode ter se             forjadas na insuficiência institucional do
      constituído em um dos fatores preponde-             Estado frente à questão, especialmente na
      rantes para a ocorrência.                           fragmentação das ações que, na situação
                                                          analisada, consistem apenas na concessão
          Trata-se de uma situação muito com-
                                                          de benefícios compensatórios insuficien-
      plexa, inclusive porque as condições de
                                                          tes, como o previdenciário, uma vez que
      trabalho atualmente são outras, o que im-
                                                          o trabalhador era contribuinte, e de saúde,
      pede uma análise mais aprofundada. Mas
                                                          por meio de tratamento e reconstituição
      questionam-se fatores que poderiam ter
                                                          do membro, no caso, a perna.
      evitado o acidente ou não, por exemplo,
      a máquina dispunha de sistema de segu-                  O tipo de acidente de trabalho sofrido
      rança adequado para o desligamento au-              por Aparício é um tipo “clássico” e que
      tomático; no caso de mudança de posição             traz à mostra a perda do membro inferior



130                      Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, 32 (115): 121-134, 2007
(perna) e, em decorrência desta, a ruptura            Verificou-se nas situações que a infân-
familiar, a exclusão do mercado de traba-         cia e a adolescência, tão importantes para
lho e a supressão de perspectivas de vida.        a formação social e emocional da vida hu-
Mas, além desse tipo de acidente de traba-        mana, são vividas por muitos sem usufru-
lho, há também a violência presente nos           to dos direitos e privilégios próprios dessa
impactos das mudanças do mundo do tra-            faixa etária. A obrigação de “ajudar” no
balho, sobretudo na precarização das con-         orçamento familiar deixa a escola para um
dições de trabalho, que a nosso ver afeta         período posterior e talvez inatingível, bem
a saúde dos(as) trabalhadores(as) de modo         como o lazer e as brincadeiras. A sua mar-
oculto e silencioso.                              ca é a exploração, que, reforçada pela desi-
                                                  gualdade social, adquire um caráter de algo
    Ao se refletir sobre a situação de uma        “natural”, pois, após conversar e observar o
família que sobrevive da atividade de ca-         trabalho das crianças por horas, num local
tar lixo para posterior seleção e venda de        movimentado, ninguém questionou ou de-
materiais recicláveis, pretende-se eviden-        nunciou a presença delas e o seu trabalho.
ciar os riscos biopsicossociais inerentes à
situação e sensibilizar sobre a importân-             O trabalho projeta o ser humano para
cia de pesquisas e ações intersetoriais e         perspectivas profissionais, sociais e para
interdisciplinares nesta área, como já des-       a realização pessoal, mas quando há a
tacado pela Organização Internacional do          inserção precoce, além dessas perspecti-
Trabalho (OIT, 2006).                             vas ficarem tolhidas, pode ocorrer o que
                                                  Martins (1993) chamou de supressão da
    Nesse tipo de trabalho, os riscos po-         infância. O trabalho infanto-juvenil tor-
dem ser muitos. A OIT (2006), ao discutir         nou-se um fenômeno social da pobreza e
o trabalho de crianças e adolescentes em          geralmente ocorre em condições insalu-
lixão, aponta que se trata de uma ativida-        bres e danosas para o desenvolvimento
de insalubre, perigosa e penosa, o que se         biopsicossociocultural de crianças e ado-
aplica à situação apresentada, pois, além         lescentes, como já abordado por Garbin,
da atividade de coleta do lixo, a família,        Santos e Carmo (2004).
inclusive crianças, residia no local, em
meio ao lixo, propensos a:                            Asmus et al. (2005) discutem que mui-
                                                  tas atividades, apesar de seguras para os
     [...] possibilidades acentuadas de aciden-   adultos, não o são para as pessoas em cres-
     tes, intoxicações alimentares e químicas     cimento que têm maiores chances de de-
     por metal pesado; infecções respiratórias,
                                                  senvolver doenças ocupacionais, tanto de
     cutâneas, digestivas; desidratações, ane-
     mias por má nutrição, fadigas por esforço
                                                  forma mais precoce quanto com maior gra-
     intenso e exposição a altas temperaturas     vidade. Chamam a atenção para o fato de
     do ambiente. (OIT, 2006, p. 69)              que o dano pode não ser evidente até um
                                                  estágio bastante posterior da vida (ATSDR,
    O fórum “Lixo e Cidadania” aponta             2001 apud ASMUS et al., 2005).
que, em 1998, quando houve intoxicação
alimentar de crianças devido à possível               As situações apresentadas a partir de
ingestão de carne humana proveniente de           observações do cotidiano revelam que o
lixo hospitalar, num lixão em Olinda-PE,          trabalho infantil ainda persiste revestido
iniciou-se o esforço de várias instituições       de uma nova roupagem: a informalidade.
na busca de resolver a questão, constituin-       Os dados da Pesquisa Nacional por Amos-
do inclusive o “Fórum Nacional Lixo e Ci-         tragem de Domicílios (PNAD), referentes
dadania” (FÓRUM, 2006).                           ao período de 1992 a 2002, mostram que o
                                                  número de trabalhadores infantis reduziu
    Outros riscos, como a contaminação do         de 4,1 milhões em 1992 (12,1%) para 2,1
ambiente (solo, ar e água), devem ser con-        milhões em 2002 (6,5%), na faixa etária de
siderados, pois se observou que o local era       5 a 14 anos (BRASIL, 2004).
propício para diversos vetores causadores
de enfermidades, como ratos, moscas, ba-              Reconhece-se a avançada legislação         3
                                                                                                   Redação dada pela Emenda Cons-
ratas, só para citar alguns.                      voltada à redução e à erradicação do tra-      titucional n. 20 de 15/12/1998.
                                                  balho infantil vigente em nosso país, como     4
                                                                                                  Capítulo IV – Da proteção do tra-
    Na terceira situação, evidenciou-se o         o Estatuto da Criança e Adolescente – ECA      balho do menor: Art.403 (redação
trabalho infantil inserido no mercado de          (BRASIL, 1990a), a Constituição Federal3       dada pela lei n. 10097/2000); Art.
trabalho, no modo da economia considera-          e a Consolidação das Leis Trabalhistas         404; Art. 405 (redação dada pela
do informal, que, diante da sua proibição         (CLT)4. Destaca-se que ao adolescente só é     Lei n. 10097/2000).
legal, assume também o caráter clandesti-         permitido trabalhar dos 14 aos 16 anos na
no, além da questão cultural da “ajuda”.          condição de aprendiz e deve ser respeitada



Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, 32 (115): 121-134, 2007                                                    131
a proibição em situações e condições inse-       algo natural e, como tal, oferecem poucas
      guras capazes de provocar acidentes.             perspectivas de mudanças.

          Contudo, as situações ilustradas mos-            O fato é que, diante das desigualdades
      tram que o trabalho infantil ainda persiste      sociais vinculadas ao desemprego e à exclu-
      e que também se verifica, no nosso coti-         são, acaba ocorrendo o que Dejours (2005)
      diano profissional, em relação à incidên-        denominou de “banalização da injustiça
                                                       social”. Há uma “aceitação” social do que
      cia de acidentes de trabalho com adoles-
                                                       está posto. Esta conivência se dá pela com-
      centes (LOURENÇO, 2006).
                                                       preensão da realidade como algo natural
          As condições de saúde podem ser con-         que, somado ao aspecto cultural do traba-
      sideradas como expressões da questão             lho infantil como elemento disciplinador
      social, representada, neste caso, pelo tra-      e preventivo da marginalidade, quando se
      balho sem nenhuma regulamentação e se-           trata dos mais pobres, constitui elementos
      gurança que expõe crianças à situação de         mantenedores desta (triste) realidade.
      riscos. Além dos riscos eminentes, consi-            Nobre (2003) pontua que o trabalho in-
      deram-se os riscos sociais, como a exclusão      fantil deve se tornar objeto da saúde coleti-
      social, marcada pelo distanciamento dos          va e sublinha algumas limitações do setor
      direitos sociais básicos: educação, saúde e      saúde frente a esta questão: evidencia a fal-
      habitação. Não se trata apenas de apontar        ta de reconhecimento do trabalho infantil
      situações, do ponto de vista da saúde, into-     como um problema de saúde pública; in-
      leráveis, capazes de causar danos físicos e      dica que o trabalho infantil é invisível para
                                                       as práticas de saúde, quando o reconhece,
      psíquicos, mas de situar no âmbito da ex-
                                                       situa-o no patamar de resolução para o pro-
      ploração do trabalho e das ordens social,
                                                       blema da miséria social.
      econômica e política vigente e, portanto,
      passíveis de transformação.                          Para que a relação entre saúde e trabalho
                                                       não caia na invisibilidade social, é necessá-
          Verifica-se que as precárias condições       rio reunir esforços para estudos e ações sis-
      de trabalho, ora apresentadas, fazem parte       temáticos que contemplem o mercado de
      da histórica desigualdade social brasileira      trabalho na sua totalidade e considerem os
      e, neste contexto, assumem um caráter de         trabalhos rural, informal e infantil.


      Conclusões e considerações finais

          Verifica-se que, apesar do avanço das            A saúde pública já presta o atendimen-
      políticas públicas, dos direitos sociais, tra-   to ao trabalhador vítima de doença ou de
      balhistas e políticos, das exigências para       acidente relacionado ao trabalho e conta
      a troca, especialmente, no âmbito inter-         com serviços especializados de vigilân-
      nacional, caracterizadas pelos Programas         cia sanitária e epidemiológica. Contudo,
      de Qualidade Total e pelas International         há necessidade de romper com as ações
      Standard Organization (ISO) nesse início         focais e fragmentadas na assistência à saú-
      de século (XXI), novas e velhas questões
                                                       de do(a) trabalhador(a) e avançar na cons-
      relativas à saúde e ao trabalho (MINAYO
                                                       trução de dados fidedignos para subsidiar
      GOMES & LACAZ, 2005) se põem no coti-
                                                       ações mais amplas.
      diano dos(as) trabalhadores(as).
                                                           Posto o desafio, o campo ampliado da
          Análises da realidade que busquem es-
      clarecer os efeitos das formas de trabalho       saúde do trabalhador no SUS constitui um
      associadas à informalidade, velhas ques-         novo paradigma de atenção à saúde, trans-
      tões como as condições de trabalho rural,        cende a abordagem individual curativa tra-
      a erradicação do trabalho infantil e, ainda,     dicional e propõe abordagens interdiscipli-
      a proteção do trabalho do adolescente, as-       nares, intersetoriais e de fortalecimento da
      sumem caráter de urgência em que pese a          sociedade rumo a mudanças eficazes para
      relação entre trabalho/saúde.                    a promoção da saúde de quem trabalha.




132                      Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, 32 (115): 121-134, 2007
Referências
AMMANN, S. B. Cidadania e exclusão              Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/
social: o mundo desenvolvido em questão.        html/pt/legislacao/portarias.html. Acesso
Serviço Social & Sociedade, São Paulo, n.       em: 05 jan. 2007.
76, p. 118-142, 2003.
                                                        . Portaria nº. 1.679, de 20 de
ASMUS, C. I. R. F. et al. Atenção integral      setembro de 2002. Brasília, DF: Ministério
à saúde de adolescentes em situação de          da Saúde, 2002.
trabalho: lições aprendidas. Ciênc. saúde
                                                          . Plano Nacional de Prevenção
coletiva, Rio de Janeiro, v. 10, n. 4, p. 953
                                                e Erradicação do Trabalho Infantil e
-959, 2005.
                                                Proteção ao Trabalhador Adolescente.
ANTUNES, R. Adeus ao trabalho? Ensaio           Brasília: Ministério do Trabalho e
sobre as metamorfoses e a centralidade          Emprego, Secretaria de Inspeção do
do mundo do trabalho. 6. ed. São Paulo/         Trabalho, 2004.
Campinas: Cortez/Unicamp, 1999.
                                                          . Trabalho Infantil: diretrizes para
ARAUJO, G. M. (Org.). Normas                    a atenção integral à saúde de crianças
Regulamentadoras comentadas. Legislação         e adolescentes economicamente ativos.
de Segurança e Saúde no Trabalho.               Brasília: Ministério da Saúde, 2005.
rev., ampl. e atual. Rio de Janeiro:
Gerenciamento Verde, 2005. v. 1 e 2.            COHN, A.; KARSCH, U. S.; SATO, A.
                                                K. Acidentes de trabalho: uma forma de
BRASIL. Decreto-Lei n.º 5.452, de 1º de         violência. São Paulo: Brasiliense, 1985.
maio de 1943. Aprova a Consolidação das
Leis do Trabalho (CLT). Disponível em:          DEJOURS, C. A banalização da injustiça
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/          social. Rio de Janeiro: FVG, 2005.
decreto-lei/Del5452.htm. Acesso em: 02          DIAS, E. C. (Org.). Doenças relacionadas
jan. 2007.                                      ao trabalho: manual de procedimentos
         . Constituição da República            para os serviços de saúde. Brasília, DF:
Federativa do Brasil. Promulgada em 05          Ministério da Saúde, 2001. Série A.
de outubro de 1988. Brasília, DF: Senado,       Normas e manuais técnicos.
1988.                                           DIAS. E. C.; HOEFEL, M. da G. O
          . Estatuto da Criança e do            desafio de implantar as ações de saúde
Adolescente. Lei 8 069, de 13 de julho de       do trabalhador no SUS: a estratégia da
1990a. Dispõe sobre o Estatuto da Criança       RENAST. Ciênc. saúde coletiva, Rio de
e do Adolescente e dá outras providências.      Janeiro, v. 10, n. 4, p. 817-828, 2005.
Brasília, DF: Senado, 1990.                     ENGELS, F. A situação da classe
          . Lei Orgânica da Saúde – LOS         trabalhadora na Inglaterra. São Paulo:
(1990b). In: COSTA, L. C. (Org.). Cadernos      Global, 1985. (Coleção Bases, 47).
de Saúde do Trabalhador: Legislação.            FÓRUM NACIONAL LIXO E
Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2001.        CIDADANIA. Disponível em: http://www.
         . Lei n. 8.213. Dispõe sobre os        lixoecidadaniapr.org.br/forunII.htlm.
Planos de Benefícios da Previdência Social      Acesso em: 29 dez. 2006.
e dá outras providências. Ministério            GARBIN, A. de C.; SANTOS, S. A. do;
da Previdência Social, Brasília, DF., 24        CARMO, J. C. Caracterização da situação
de julho de 1991. DOU de 14/08/98.              estadual do trabalho de crianças e
(Atualizada até julho de 2005). Disponível      adolescentes no estado de São Paulo.
em: http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/          In: GARBIN, A. de C.; SANTOS, S. A.
Leis/L8213cons.htm. Acesso em: 5 jan.           do (Orgs.). O compromisso do SUS na
2007.                                           erradicação do trabalho de crianças e
         . Portaria Federal nº 1.339/GM         controle do trabalho de adolescentes. São
– MS – (1999). Brasília, DF.: Ministério        Paulo: Imprensa Oficial, CEREST/SP, 2004.
da Saúde, de 18 de novembro de 1999.            p. 13-44.




Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, 32 (115): 121-134, 2007                      133
LACAZ, F. A. C. Saúde do trabalhador: um       questões. Ciênc. saúde coletiva, Rio de
      estudo sobre as formações discursivas da       Janeiro, v. 10, n. 4, p 797-807, 2005.
      academia, dos serviços e do movimento
                                                     MOREIRA, E. M.; VASCONCELOS, K. E.
      sindical. 1996. Tese (Doutorado)
                                                     L. Infância, infâncias: o ser crianças em
      – Faculdade de Ciências Médicas,
                                                     espaços socialmente distintos. Serviço
      Universidade Estadual de Campinas,
                                                     Social & Sociedade, São Paulo, n. 76, p.
      Campinas, 1996.
                                                     165-180, 2003.
                . Saúde dos trabalhadores:
                                                     NOBRE, L. C. C. Trabalho de crianças
      cenários e desafios. Cad. Saúde Pública,
                                                     e adolescentes: os desafios da
      Rio de Janeiro, v. 13, supl. 2, p. 7-19,
                                                     intersetorialidade e o papel do Sistema
      1997. Disponível em: http://www.scielo.
                                                     Único de Saúde. Ciênc. saúde coletiva, Rio
      br/scielo.php?script=sci. Acesso em: 27
      jan. 2005.                                     de Janeiro, v. 8, n. 4, p. 963-971, 2003.

      LOURENÇO, E. A. S. Acidentes de                OIT. Organização Internacional do
      trabalho com adolescentes e a necessidade      Trabalho. Módulos de auto-aprendizagem
      do trabalho intersetorial. In: SEMINÁRIO       sobre saúde e segurança sobre o trabalho
      DE ERRADICAÇÃO DO TRABALHO                     infanto-juvenil. Brasília: Ministério da
      INFANTIL E PROTEÇÃO DO TRABALHO                Saúde, 2006. (Série F. Comunicação e
      DO ADOLESCENTE: uma proposta de                educação em saúde).
      ação intersetorial. Franca, 2006. (mimeo).     POCHMANN, M. Desempregados do
                . Saúde do trabalhador: de quem      Brasil. In: ANTUNES, R. (Org.). Riqueza
      é essa responsabilidade? Desafios para o       e miséria no Brasil. São Paulo: Boitempo,
      Sistema Único de Saúde. In: OLIVEIRA, C.       2006. p. 59-73.
      A. H; BERTANI, I. F. Interdisciplinaridade:    SILVA, M. L. de O. S. Adultotização da
      integração entre saberes e práticas. Franca:   infância: o cotidiano das crianças
      Unesp, 2006.                                   trabalhadoras no mercado Ver-o-Peso, em
      MARTINS, J. de S. (Coord.). O massacre         Belém do Pará. Serviço Social e Sociedade,
      dos inocentes: a criança sem infância no       São Paulo, n. 69, p. 151-172, 2002.
      Brasil. 2. ed. São Paulo: Hucitec, 1993.       VILELA, R. A. G. Desafios da vigilância
      MINAYO GOMEZ, C.; LACAZ, F. A. C.              e da prevenção de acidentes do trabalho.
      Saúde do trabalhador: novas e velhas           São Paulo: LTr, 2003.




134                     Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, 32 (115): 121-134, 2007

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Especialização em Saúde da Família UNA - SUS
Especialização em Saúde da Família UNA - SUSEspecialização em Saúde da Família UNA - SUS
Especialização em Saúde da Família UNA - SUSSebástian Freire
 
A política nacional de humanização e o serviço social elementos para o debat...
A política nacional de humanização e o serviço social  elementos para o debat...A política nacional de humanização e o serviço social  elementos para o debat...
A política nacional de humanização e o serviço social elementos para o debat...Amanda Olibert
 
A dimensão socioeducativa do trabalho do assistente social na área da saúde
A dimensão socioeducativa do trabalho do assistente social na área da saúdeA dimensão socioeducativa do trabalho do assistente social na área da saúde
A dimensão socioeducativa do trabalho do assistente social na área da saúdeRosane Domingues
 
Gestão dos processos de trabalho
Gestão dos processos de trabalhoGestão dos processos de trabalho
Gestão dos processos de trabalhoJuliana Sarieddine
 
Informe saude janeiro
Informe saude   janeiroInforme saude   janeiro
Informe saude janeironeepssuerj
 
Análise sobre a inserção do assistente social no programa saúde da familia
Análise sobre a inserção do assistente social no programa saúde da familiaAnálise sobre a inserção do assistente social no programa saúde da familia
Análise sobre a inserção do assistente social no programa saúde da familiaRosane Domingues
 
Paim j. desafio da saude coletiva
Paim j. desafio da saude coletivaPaim j. desafio da saude coletiva
Paim j. desafio da saude coletivaSocorro Carneiro
 
O PROCESSO DE TRABALHO NO SUS E A IMPORTÂNCIA 01 DAS AÇÕES DE PLANEJAMENTO EM...
O PROCESSO DE TRABALHO NO SUS E A IMPORTÂNCIA 01 DAS AÇÕES DE PLANEJAMENTO EM...O PROCESSO DE TRABALHO NO SUS E A IMPORTÂNCIA 01 DAS AÇÕES DE PLANEJAMENTO EM...
O PROCESSO DE TRABALHO NO SUS E A IMPORTÂNCIA 01 DAS AÇÕES DE PLANEJAMENTO EM...Aliny Lima
 
As transformações no mundo do trabalho
As transformações no mundo do trabalhoAs transformações no mundo do trabalho
As transformações no mundo do trabalholuciana couto
 
Texto 2 - ACONSELHAMENTO PSICOLOGICO
Texto 2 - ACONSELHAMENTO PSICOLOGICOTexto 2 - ACONSELHAMENTO PSICOLOGICO
Texto 2 - ACONSELHAMENTO PSICOLOGICOPsicologia_2015
 
COMO FAZER RELATÓRIOS
COMO FAZER RELATÓRIOSCOMO FAZER RELATÓRIOS
COMO FAZER RELATÓRIOSDaiane Daine
 
Aula 1 - Saúde e Sociedade
Aula 1 - Saúde e SociedadeAula 1 - Saúde e Sociedade
Aula 1 - Saúde e SociedadeGhiordanno Bruno
 
3 atencao primaria e promocao da saude
3   atencao primaria e promocao da saude3   atencao primaria e promocao da saude
3 atencao primaria e promocao da saudeparaiba1974
 
Especialização em Saúde da Família UNA - SUS
Especialização em Saúde da Família UNA - SUSEspecialização em Saúde da Família UNA - SUS
Especialização em Saúde da Família UNA - SUSSebástian Freire
 
Especialização em Saúde da Família UNA - SUS
Especialização em Saúde da Família UNA - SUSEspecialização em Saúde da Família UNA - SUS
Especialização em Saúde da Família UNA - SUSSebástian Freire
 

Mais procurados (18)

Especialização em Saúde da Família UNA - SUS
Especialização em Saúde da Família UNA - SUSEspecialização em Saúde da Família UNA - SUS
Especialização em Saúde da Família UNA - SUS
 
A política nacional de humanização e o serviço social elementos para o debat...
A política nacional de humanização e o serviço social  elementos para o debat...A política nacional de humanização e o serviço social  elementos para o debat...
A política nacional de humanização e o serviço social elementos para o debat...
 
A dimensão socioeducativa do trabalho do assistente social na área da saúde
A dimensão socioeducativa do trabalho do assistente social na área da saúdeA dimensão socioeducativa do trabalho do assistente social na área da saúde
A dimensão socioeducativa do trabalho do assistente social na área da saúde
 
Gestão dos processos de trabalho
Gestão dos processos de trabalhoGestão dos processos de trabalho
Gestão dos processos de trabalho
 
Informe saude janeiro
Informe saude   janeiroInforme saude   janeiro
Informe saude janeiro
 
Análise sobre a inserção do assistente social no programa saúde da familia
Análise sobre a inserção do assistente social no programa saúde da familiaAnálise sobre a inserção do assistente social no programa saúde da familia
Análise sobre a inserção do assistente social no programa saúde da familia
 
Livro 1
Livro 1Livro 1
Livro 1
 
Paim j. desafio da saude coletiva
Paim j. desafio da saude coletivaPaim j. desafio da saude coletiva
Paim j. desafio da saude coletiva
 
O PROCESSO DE TRABALHO NO SUS E A IMPORTÂNCIA 01 DAS AÇÕES DE PLANEJAMENTO EM...
O PROCESSO DE TRABALHO NO SUS E A IMPORTÂNCIA 01 DAS AÇÕES DE PLANEJAMENTO EM...O PROCESSO DE TRABALHO NO SUS E A IMPORTÂNCIA 01 DAS AÇÕES DE PLANEJAMENTO EM...
O PROCESSO DE TRABALHO NO SUS E A IMPORTÂNCIA 01 DAS AÇÕES DE PLANEJAMENTO EM...
 
As transformações no mundo do trabalho
As transformações no mundo do trabalhoAs transformações no mundo do trabalho
As transformações no mundo do trabalho
 
Texto 2 - ACONSELHAMENTO PSICOLOGICO
Texto 2 - ACONSELHAMENTO PSICOLOGICOTexto 2 - ACONSELHAMENTO PSICOLOGICO
Texto 2 - ACONSELHAMENTO PSICOLOGICO
 
COMO FAZER RELATÓRIOS
COMO FAZER RELATÓRIOSCOMO FAZER RELATÓRIOS
COMO FAZER RELATÓRIOS
 
Aula 1 - Saúde e Sociedade
Aula 1 - Saúde e SociedadeAula 1 - Saúde e Sociedade
Aula 1 - Saúde e Sociedade
 
3 atencao primaria e promocao da saude
3   atencao primaria e promocao da saude3   atencao primaria e promocao da saude
3 atencao primaria e promocao da saude
 
Saúde.mc
Saúde.mcSaúde.mc
Saúde.mc
 
Aula Introdutória de Saúde Coletiva
Aula Introdutória de Saúde ColetivaAula Introdutória de Saúde Coletiva
Aula Introdutória de Saúde Coletiva
 
Especialização em Saúde da Família UNA - SUS
Especialização em Saúde da Família UNA - SUSEspecialização em Saúde da Família UNA - SUS
Especialização em Saúde da Família UNA - SUS
 
Especialização em Saúde da Família UNA - SUS
Especialização em Saúde da Família UNA - SUSEspecialização em Saúde da Família UNA - SUS
Especialização em Saúde da Família UNA - SUS
 

Destaque

Olivarez nancy tutorial_editar_blog
Olivarez nancy tutorial_editar_blogOlivarez nancy tutorial_editar_blog
Olivarez nancy tutorial_editar_blogyessiciriaco1995
 
Christian Bale
Christian BaleChristian Bale
Christian Balerafo1517
 
La informática y los multimedia: su utilización en Infantil y Primaria
La informática y los multimedia: su utilización en Infantil y PrimariaLa informática y los multimedia: su utilización en Infantil y Primaria
La informática y los multimedia: su utilización en Infantil y Primariaglorialicante
 
La informática y los multimedia: su utilización en Infantil y Primaria
La informática y los multimedia: su utilización en Infantil y PrimariaLa informática y los multimedia: su utilización en Infantil y Primaria
La informática y los multimedia: su utilización en Infantil y Primariaglorialicante
 
Direcciones de la luz.
Direcciones de la luz.Direcciones de la luz.
Direcciones de la luz.AMANDA7058
 
Sistema endocrino
Sistema endocrino Sistema endocrino
Sistema endocrino diosimar22
 
Mi entorno personal de aprendizaje
Mi entorno personal de aprendizaje Mi entorno personal de aprendizaje
Mi entorno personal de aprendizaje Editthh Selaya
 
Tarefa4 eva veigaaira
Tarefa4 eva veigaairaTarefa4 eva veigaaira
Tarefa4 eva veigaaira33302690
 
Presentación1
Presentación1Presentación1
Presentación1eric346
 
Musicaelectronica 140328151708-phpapp02
Musicaelectronica 140328151708-phpapp02Musicaelectronica 140328151708-phpapp02
Musicaelectronica 140328151708-phpapp02Jordi Moncasi
 
Actividad 1 clase 10_Módulo 4
Actividad 1 clase 10_Módulo 4Actividad 1 clase 10_Módulo 4
Actividad 1 clase 10_Módulo 4Mairvelgzz_atp
 
Universidad nacional de chimborazo
Universidad nacional de chimborazoUniversidad nacional de chimborazo
Universidad nacional de chimborazoGabyCandoM
 

Destaque (20)

Olivarez nancy tutorial_editar_blog
Olivarez nancy tutorial_editar_blogOlivarez nancy tutorial_editar_blog
Olivarez nancy tutorial_editar_blog
 
Propuesta
PropuestaPropuesta
Propuesta
 
Christian Bale
Christian BaleChristian Bale
Christian Bale
 
La informática y los multimedia: su utilización en Infantil y Primaria
La informática y los multimedia: su utilización en Infantil y PrimariaLa informática y los multimedia: su utilización en Infantil y Primaria
La informática y los multimedia: su utilización en Infantil y Primaria
 
Pinakoteka riga ru
Pinakoteka riga  ruPinakoteka riga  ru
Pinakoteka riga ru
 
La informática y los multimedia: su utilización en Infantil y Primaria
La informática y los multimedia: su utilización en Infantil y PrimariaLa informática y los multimedia: su utilización en Infantil y Primaria
La informática y los multimedia: su utilización en Infantil y Primaria
 
Fundacao estatal-fortalecimento-capacidade-acao
Fundacao estatal-fortalecimento-capacidade-acaoFundacao estatal-fortalecimento-capacidade-acao
Fundacao estatal-fortalecimento-capacidade-acao
 
Direcciones de la luz.
Direcciones de la luz.Direcciones de la luz.
Direcciones de la luz.
 
Búsquedas avanzadas caso 1
Búsquedas avanzadas caso 1Búsquedas avanzadas caso 1
Búsquedas avanzadas caso 1
 
Sistema endocrino
Sistema endocrino Sistema endocrino
Sistema endocrino
 
Mi entorno personal de aprendizaje
Mi entorno personal de aprendizaje Mi entorno personal de aprendizaje
Mi entorno personal de aprendizaje
 
Tarefa4 eva veigaaira
Tarefa4 eva veigaairaTarefa4 eva veigaaira
Tarefa4 eva veigaaira
 
Asesoría para el uso de las tic actividad 1
Asesoría para el uso de las tic actividad 1Asesoría para el uso de las tic actividad 1
Asesoría para el uso de las tic actividad 1
 
Presentación1
Presentación1Presentación1
Presentación1
 
Musicaelectronica 140328151708-phpapp02
Musicaelectronica 140328151708-phpapp02Musicaelectronica 140328151708-phpapp02
Musicaelectronica 140328151708-phpapp02
 
2001 06 06 (1)
2001 06 06 (1)2001 06 06 (1)
2001 06 06 (1)
 
Actividad 1 clase 10_Módulo 4
Actividad 1 clase 10_Módulo 4Actividad 1 clase 10_Módulo 4
Actividad 1 clase 10_Módulo 4
 
Mentefacto
MentefactoMentefacto
Mentefacto
 
Universidad nacional de chimborazo
Universidad nacional de chimborazoUniversidad nacional de chimborazo
Universidad nacional de chimborazo
 
Amor
AmorAmor
Amor
 

Semelhante a Rbso 115 saúde do trabalhador no sus

Raquel dantas ms_politica_nac_saude_traba_trab_pnstt
Raquel dantas ms_politica_nac_saude_traba_trab_pnsttRaquel dantas ms_politica_nac_saude_traba_trab_pnstt
Raquel dantas ms_politica_nac_saude_traba_trab_pnsttJoselma Pinheiro
 
caderno de saúde do trabalhador Ministério
caderno de saúde do trabalhador Ministériocaderno de saúde do trabalhador Ministério
caderno de saúde do trabalhador MinistérioLucciana Silva
 
Terapia Ocupacional no SUS
Terapia Ocupacional no SUSTerapia Ocupacional no SUS
Terapia Ocupacional no SUSLUIZ PASCOAL
 
Assistencia a saude do trabalhador no contexto da saude do adulto
Assistencia a saude do trabalhador no contexto da saude do adultoAssistencia a saude do trabalhador no contexto da saude do adulto
Assistencia a saude do trabalhador no contexto da saude do adultoAlessandra Floriano Amaro
 
Programa de Formação em Saúde do Trabalhador
Programa de Formação em Saúde do TrabalhadorPrograma de Formação em Saúde do Trabalhador
Programa de Formação em Saúde do TrabalhadorArte Despertar
 
Trabalho em equipe_na_atencao_primaria-web
Trabalho em equipe_na_atencao_primaria-webTrabalho em equipe_na_atencao_primaria-web
Trabalho em equipe_na_atencao_primaria-webMarcella Vasconcelos
 
A Humanização e a Gestão em Saúde: os desafios da Enfermagem
A Humanização e a Gestão em Saúde: os desafios da EnfermagemA Humanização e a Gestão em Saúde: os desafios da Enfermagem
A Humanização e a Gestão em Saúde: os desafios da EnfermagemDaniel Tavares
 
A Humanização e a Gestão em Saúde: os desafios da Enfermagem
A Humanização e a Gestão em Saúde: os desafios da EnfermagemA Humanização e a Gestão em Saúde: os desafios da Enfermagem
A Humanização e a Gestão em Saúde: os desafios da EnfermagemDaniel Tavares
 

Semelhante a Rbso 115 saúde do trabalhador no sus (20)

Pnst
PnstPnst
Pnst
 
Informação para Gestão
Informação para Gestão Informação para Gestão
Informação para Gestão
 
Rbso 122 poder de agir ACS
Rbso 122 poder de agir ACSRbso 122 poder de agir ACS
Rbso 122 poder de agir ACS
 
Pnh
PnhPnh
Pnh
 
Apresentação política minas gerais1 roque
Apresentação política  minas gerais1   roqueApresentação política  minas gerais1   roque
Apresentação política minas gerais1 roque
 
Saúde do trabalhador
Saúde do trabalhadorSaúde do trabalhador
Saúde do trabalhador
 
Raquel dantas ms_politica_nac_saude_traba_trab_pnstt
Raquel dantas ms_politica_nac_saude_traba_trab_pnsttRaquel dantas ms_politica_nac_saude_traba_trab_pnstt
Raquel dantas ms_politica_nac_saude_traba_trab_pnstt
 
Meu
MeuMeu
Meu
 
caderno de saúde do trabalhador Ministério
caderno de saúde do trabalhador Ministériocaderno de saúde do trabalhador Ministério
caderno de saúde do trabalhador Ministério
 
Determinantes sociais da saúde
Determinantes sociais da saúdeDeterminantes sociais da saúde
Determinantes sociais da saúde
 
Terapia Ocupacional no SUS
Terapia Ocupacional no SUSTerapia Ocupacional no SUS
Terapia Ocupacional no SUS
 
Assistencia a saude do trabalhador no contexto da saude do adulto
Assistencia a saude do trabalhador no contexto da saude do adultoAssistencia a saude do trabalhador no contexto da saude do adulto
Assistencia a saude do trabalhador no contexto da saude do adulto
 
Programa de Formação em Saúde do Trabalhador
Programa de Formação em Saúde do TrabalhadorPrograma de Formação em Saúde do Trabalhador
Programa de Formação em Saúde do Trabalhador
 
A inserção da educação física na saúde
A inserção da educação física na saúdeA inserção da educação física na saúde
A inserção da educação física na saúde
 
Artigo renemendes
Artigo renemendesArtigo renemendes
Artigo renemendes
 
Texto 3 determinantes sociais
Texto 3   determinantes sociaisTexto 3   determinantes sociais
Texto 3 determinantes sociais
 
Trabalho em equipe_na_atencao_primaria-web
Trabalho em equipe_na_atencao_primaria-webTrabalho em equipe_na_atencao_primaria-web
Trabalho em equipe_na_atencao_primaria-web
 
273 1914-1-pb
273 1914-1-pb273 1914-1-pb
273 1914-1-pb
 
A Humanização e a Gestão em Saúde: os desafios da Enfermagem
A Humanização e a Gestão em Saúde: os desafios da EnfermagemA Humanização e a Gestão em Saúde: os desafios da Enfermagem
A Humanização e a Gestão em Saúde: os desafios da Enfermagem
 
A Humanização e a Gestão em Saúde: os desafios da Enfermagem
A Humanização e a Gestão em Saúde: os desafios da EnfermagemA Humanização e a Gestão em Saúde: os desafios da Enfermagem
A Humanização e a Gestão em Saúde: os desafios da Enfermagem
 

Mais de jorge luiz dos santos de souza

EDUCAÇÃO, AÇÕES AFIRMATIVAS E OS DIREITOS HUMANOS
EDUCAÇÃO, AÇÕES AFIRMATIVAS E OS DIREITOS HUMANOS EDUCAÇÃO, AÇÕES AFIRMATIVAS E OS DIREITOS HUMANOS
EDUCAÇÃO, AÇÕES AFIRMATIVAS E OS DIREITOS HUMANOS jorge luiz dos santos de souza
 
Relato de Experiência: Apresentação de Palestra no Curso de Introdução à Vida...
Relato de Experiência: Apresentação de Palestra no Curso de Introdução à Vida...Relato de Experiência: Apresentação de Palestra no Curso de Introdução à Vida...
Relato de Experiência: Apresentação de Palestra no Curso de Introdução à Vida...jorge luiz dos santos de souza
 
MÉDICOS DÁ ARTE: BLOG COMO FERRAMENTA DE DIVULGAÇÃO E PROMOTOR DOS PROCESSOS ...
MÉDICOS DÁ ARTE: BLOG COMO FERRAMENTA DE DIVULGAÇÃO E PROMOTOR DOS PROCESSOS ...MÉDICOS DÁ ARTE: BLOG COMO FERRAMENTA DE DIVULGAÇÃO E PROMOTOR DOS PROCESSOS ...
MÉDICOS DÁ ARTE: BLOG COMO FERRAMENTA DE DIVULGAÇÃO E PROMOTOR DOS PROCESSOS ...jorge luiz dos santos de souza
 
REIKI NO CAMPUS: UMA EXPERIENCIA COM TERAPIAS COMPLEMENTARES NO CURSO DE MEDI...
REIKI NO CAMPUS: UMA EXPERIENCIA COM TERAPIAS COMPLEMENTARES NO CURSO DE MEDI...REIKI NO CAMPUS: UMA EXPERIENCIA COM TERAPIAS COMPLEMENTARES NO CURSO DE MEDI...
REIKI NO CAMPUS: UMA EXPERIENCIA COM TERAPIAS COMPLEMENTARES NO CURSO DE MEDI...jorge luiz dos santos de souza
 
PROJETO ATITUDES QUE SALVAM VIDAS NA VISÃO DE SEUS INTEGRANTES: RELATOS BASEA...
PROJETO ATITUDES QUE SALVAM VIDAS NA VISÃO DE SEUS INTEGRANTES: RELATOS BASEA...PROJETO ATITUDES QUE SALVAM VIDAS NA VISÃO DE SEUS INTEGRANTES: RELATOS BASEA...
PROJETO ATITUDES QUE SALVAM VIDAS NA VISÃO DE SEUS INTEGRANTES: RELATOS BASEA...jorge luiz dos santos de souza
 
INTRODUÇÃO À VIDA ACADÊMICA: APRESENTANDO A UNIVERSIDADE E SUAS POSSIBILIDADE...
INTRODUÇÃO À VIDA ACADÊMICA: APRESENTANDO A UNIVERSIDADE E SUAS POSSIBILIDADE...INTRODUÇÃO À VIDA ACADÊMICA: APRESENTANDO A UNIVERSIDADE E SUAS POSSIBILIDADE...
INTRODUÇÃO À VIDA ACADÊMICA: APRESENTANDO A UNIVERSIDADE E SUAS POSSIBILIDADE...jorge luiz dos santos de souza
 
EDUCAÇÃO E OS DIREITOS HUMANOS NA UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL
EDUCAÇÃO E OS DIREITOS HUMANOS NA UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SULEDUCAÇÃO E OS DIREITOS HUMANOS NA UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL
EDUCAÇÃO E OS DIREITOS HUMANOS NA UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SULjorge luiz dos santos de souza
 
COMUNIDADES QUILOMBOLAS DO RIO GRANDE DO SUL: HISTÓRIA, CULTURA, SABERES E PR...
COMUNIDADES QUILOMBOLAS DO RIO GRANDE DO SUL: HISTÓRIA, CULTURA, SABERES E PR...COMUNIDADES QUILOMBOLAS DO RIO GRANDE DO SUL: HISTÓRIA, CULTURA, SABERES E PR...
COMUNIDADES QUILOMBOLAS DO RIO GRANDE DO SUL: HISTÓRIA, CULTURA, SABERES E PR...jorge luiz dos santos de souza
 
Bem estar e qualidade de vida para profissionais da saúde
Bem estar e qualidade de vida para profissionais da saúdeBem estar e qualidade de vida para profissionais da saúde
Bem estar e qualidade de vida para profissionais da saúdejorge luiz dos santos de souza
 

Mais de jorge luiz dos santos de souza (20)

Comunicação Não Violenta e Escuta Qualificada
Comunicação Não Violenta e Escuta QualificadaComunicação Não Violenta e Escuta Qualificada
Comunicação Não Violenta e Escuta Qualificada
 
NAAF Campus Vacaria
NAAF Campus VacariaNAAF Campus Vacaria
NAAF Campus Vacaria
 
Projeto Escuta!
Projeto Escuta!Projeto Escuta!
Projeto Escuta!
 
Princípios da Administração Pública
Princípios da Administração PúblicaPrincípios da Administração Pública
Princípios da Administração Pública
 
Comunicação Não Violenta
Comunicação Não ViolentaComunicação Não Violenta
Comunicação Não Violenta
 
Outubro rosa e novembro azul 2018
Outubro rosa e novembro azul 2018Outubro rosa e novembro azul 2018
Outubro rosa e novembro azul 2018
 
Cuidado de Si & Saúde Neurofisiológica
Cuidado de Si & Saúde NeurofisiológicaCuidado de Si & Saúde Neurofisiológica
Cuidado de Si & Saúde Neurofisiológica
 
EDUCAÇÃO, AÇÕES AFIRMATIVAS E OS DIREITOS HUMANOS
EDUCAÇÃO, AÇÕES AFIRMATIVAS E OS DIREITOS HUMANOS EDUCAÇÃO, AÇÕES AFIRMATIVAS E OS DIREITOS HUMANOS
EDUCAÇÃO, AÇÕES AFIRMATIVAS E OS DIREITOS HUMANOS
 
Relato de Experiência: Apresentação de Palestra no Curso de Introdução à Vida...
Relato de Experiência: Apresentação de Palestra no Curso de Introdução à Vida...Relato de Experiência: Apresentação de Palestra no Curso de Introdução à Vida...
Relato de Experiência: Apresentação de Palestra no Curso de Introdução à Vida...
 
MÉDICOS DÁ ARTE: BLOG COMO FERRAMENTA DE DIVULGAÇÃO E PROMOTOR DOS PROCESSOS ...
MÉDICOS DÁ ARTE: BLOG COMO FERRAMENTA DE DIVULGAÇÃO E PROMOTOR DOS PROCESSOS ...MÉDICOS DÁ ARTE: BLOG COMO FERRAMENTA DE DIVULGAÇÃO E PROMOTOR DOS PROCESSOS ...
MÉDICOS DÁ ARTE: BLOG COMO FERRAMENTA DE DIVULGAÇÃO E PROMOTOR DOS PROCESSOS ...
 
REIKI NO CAMPUS: UMA EXPERIENCIA COM TERAPIAS COMPLEMENTARES NO CURSO DE MEDI...
REIKI NO CAMPUS: UMA EXPERIENCIA COM TERAPIAS COMPLEMENTARES NO CURSO DE MEDI...REIKI NO CAMPUS: UMA EXPERIENCIA COM TERAPIAS COMPLEMENTARES NO CURSO DE MEDI...
REIKI NO CAMPUS: UMA EXPERIENCIA COM TERAPIAS COMPLEMENTARES NO CURSO DE MEDI...
 
PROJETO ATITUDES QUE SALVAM VIDAS NA VISÃO DE SEUS INTEGRANTES: RELATOS BASEA...
PROJETO ATITUDES QUE SALVAM VIDAS NA VISÃO DE SEUS INTEGRANTES: RELATOS BASEA...PROJETO ATITUDES QUE SALVAM VIDAS NA VISÃO DE SEUS INTEGRANTES: RELATOS BASEA...
PROJETO ATITUDES QUE SALVAM VIDAS NA VISÃO DE SEUS INTEGRANTES: RELATOS BASEA...
 
INTRODUÇÃO À VIDA ACADÊMICA: APRESENTANDO A UNIVERSIDADE E SUAS POSSIBILIDADE...
INTRODUÇÃO À VIDA ACADÊMICA: APRESENTANDO A UNIVERSIDADE E SUAS POSSIBILIDADE...INTRODUÇÃO À VIDA ACADÊMICA: APRESENTANDO A UNIVERSIDADE E SUAS POSSIBILIDADE...
INTRODUÇÃO À VIDA ACADÊMICA: APRESENTANDO A UNIVERSIDADE E SUAS POSSIBILIDADE...
 
EDUCAÇÃO E OS DIREITOS HUMANOS NA UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL
EDUCAÇÃO E OS DIREITOS HUMANOS NA UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SULEDUCAÇÃO E OS DIREITOS HUMANOS NA UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL
EDUCAÇÃO E OS DIREITOS HUMANOS NA UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL
 
COMUNIDADES QUILOMBOLAS DO RIO GRANDE DO SUL: HISTÓRIA, CULTURA, SABERES E PR...
COMUNIDADES QUILOMBOLAS DO RIO GRANDE DO SUL: HISTÓRIA, CULTURA, SABERES E PR...COMUNIDADES QUILOMBOLAS DO RIO GRANDE DO SUL: HISTÓRIA, CULTURA, SABERES E PR...
COMUNIDADES QUILOMBOLAS DO RIO GRANDE DO SUL: HISTÓRIA, CULTURA, SABERES E PR...
 
Bem estar e qualidade de vida para profissionais da saúde
Bem estar e qualidade de vida para profissionais da saúdeBem estar e qualidade de vida para profissionais da saúde
Bem estar e qualidade de vida para profissionais da saúde
 
Perímetros corporais trabalho cds-ufsc
Perímetros corporais trabalho cds-ufscPerímetros corporais trabalho cds-ufsc
Perímetros corporais trabalho cds-ufsc
 
Educação Física Especial
Educação Física EspecialEducação Física Especial
Educação Física Especial
 
O Nado golfinho
O Nado golfinhoO Nado golfinho
O Nado golfinho
 
Relatório de estágio profissionalizante ufsm 2003
Relatório de estágio profissionalizante ufsm 2003Relatório de estágio profissionalizante ufsm 2003
Relatório de estágio profissionalizante ufsm 2003
 

Rbso 115 saúde do trabalhador no sus

  • 1. Saúde do trabalhador no SUS: desafios e perspecti- Edvânia Ângela de Souza Lourenço1 vas frente à precarização do trabalho Íris Fenner Bertani2 Workers’ health at the Public Unified Health System – challenges and perspectives facing precarious work 1 Doutoranda em Serviço Social Resumo da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Assistente Social do Refletir sobre o campo saúde do(a) trabalhador(a) é o objetivo deste estudo. Centro de Referência em Saúde do Busca-se sublinhar o significado das condições de trabalho para o ser huma- Trabalhador (CRST) de Franca- SP. Docente do curso de Serviço no do ponto de vista da saúde. A premissa não é quantificar, mas inferir que Social do Instituto Municipal de as condições de trabalho podem gerar danos à saúde, mas nem sempre apre- Ensino Superior-SP. Membro do sentam de imediato a sua relação com o trabalho. São discutidas, a partir da QUAVISSS. Franca-SP. abordagem qualitativa, três situações, as quais contemplam os trabalhos rural, 2 Professora Adjunta da Graduação informal e infantil e, como resultado, verifica-se a contradição da categoria e da Pós-Graduação em Serviço trabalho, que, se por um lado é sinônimo de sociabilidade, por outro, contradi- Social da Universidade Estadual toriamente, constitui-se em mecanismo de exclusão social na medida em que é Paulista (Unesp) e Coordenadora realizado sem o reconhecimento dos direitos sociais e trabalhistas. Verifica-se do QUAVISSS. Franca-SP. a expansão de formas de trabalho sem regulamentação, tais como o domiciliar e o familiar e os realizados em locais como a rua e o lixo. Encerra-se a reflexão com destaque ao papel do Sistema Único de Saúde (SUS) na “assistência inte- gral” à saúde dos(as) trabalhadores(as) e ao desafio de atuar na perspectiva de prevenção e promoção da saúde do trabalhador de modo integrado e articula- do aos demais órgãos públicos que atuam nesta área. Palavras-chave: saúde do trabalhador, acidentes de trabalho, doenças do tra- balho, saúde pública e políticas públicas. Abstract The objective of this study is to ponder on occupational health, searching for the meaning of work to workers’ health. The premise is not to quantify, but to infer that the work conditions can generate damages to health, although this relationship is not always immediately apparent. Three situations that contemplate rural and informal work, as well as child labor are discussed, using a qualitative approach. As a result, the contradiction of work is verified. It could be a synonym for sociability, but on the other hand, it is a mechanism for social exclusion, when conducted without the recognition of the workers’ social and labor rights. The expansion of jobs without regulation have been observed such as the ones conducted at home or within families, or on the streets and at the waste landfills. The article ends by discussing the role of the Public Unified Health System (SUS) in the “integral assistance” to workers’ health and the challenge of acting with a preventive perspective and towards occupational health promotion, in a joint effort with other public organization in this field. Keywords: occupational health, work accidents, occupational diseases, public health and public policy. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, 32 (115): 121-134, 2007 121
  • 2. Introdução O SUS e o campo saúde do trabalhador proteção do meio ambiente, nele compre- endido o trabalho”. As ações de saúde do trabalhador têm as suas raízes no processo histórico das lu- Na década de 1990, diversas portarias tas sociais deflagradas no Brasil a partir da e leis foram criadas com o objetivo de ga- década de 1970, mas ações inusitadas co- rantir os princípios básicos e a efetivação meçaram a ganhar corpo apenas na década do SUS. No decorrer dos últimos 15 anos, de 1980 nos governos municipais de ênfase apesar dos limites marcados pelo cliente- política democrática. lismo, populismo e paternalismo presen- tes na administração pública, o SUS tem Pode-se perceber uma relação entre a conseguido solidificar as bases para o di- redemocratização do Estado brasileiro no reito à saúde com ênfase na gestão demo- decorrer dos anos de 1980 e a mudança crática e participativa. de postura política no enfrentamento dos eventos agressivos à saúde no trabalho. Os protagonistas sociais e políticos Segundo Vilela (2003), nessa época foram envolvidos na II Conferência Nacional de constituídas as primeiras ações de saúde Saúde do Trabalhador (II CNST) debateram do trabalhador no âmbito do SUS por meio e reafirmaram a responsabilidade do SUS dos Programas de Saúde do Trabalhador frente aos acidentes de trabalho. O relató- (PST) em vários municípios. rio final do II CNST garantiu “[...] à unifica- ção no SUS de todas as ações de saúde do Segundo Lacaz (1996), a década de trabalhador” (LACAZ, 1997). É reconheci- 1980 representa um marco histórico para da também pela continuidade das discus- a saúde do trabalhador, pois este passa a sões técnicas e políticas na constituição do ser reconhecido como sujeito possuidor de campo saúde do trabalhador e, portanto, saber e não mero consumidor de serviços para a observância da responsabilidade da de saúde. O campo Saúde do Trabalhador, política de saúde pública nos processos segundo o autor, tem como pressuposto de produção. Dias e Hoefel (2005, p. 820), a participação dos(as) trabalhadores(as) apontam que esta conferência também foi no processo de avaliação e controle dos marcada pela “[...] acirrada disputa quanto acidentes de trabalho e não se restringe à aos espaços de atuação entre os Ministérios concepção de riscos profissionais e agentes do Trabalho e da Saúde”. causadores (físicos, biológicos, químicos, mecânicos e ergonômicos), mas reconhece No final de 1990, em cumprimento a outras determinações para os sofrimentos Lei Orgânica da Saúde (BRASIL, 1990b), físico e mental, relacionando-as com o que delega ao SUS a revisão periódica da processo produtivo. listagem oficial de doenças originadas no processo de trabalho, foi editada a nova Em seu estudo, Lacaz (1996) enfatiza Lista de Doenças Relacionadas ao Traba- ainda o papel substancial da Constituição lho (BRASIL, 1999). Ressalta-se que, ao Federal de 1988, precedida pela VIII Con- estabelecer a relação entre doenças e tra- ferência Nacional de Saúde, em 1986, e na balho num conceito mais amplo e prever continuidade pela 1ª Conferência Nacional a sua revisão anualmente com vistas à de Saúde do Trabalhador (I CNST), na as- inclusão de novas doenças, propiciou um sistência universal ao trabalhador acompa- avanço para novas práticas e políticas no nhada da prevenção e da intervenção nos campo saúde do trabalhador. ambientes de trabalho. Outro aspecto positivo possibilitado A Carta Constituinte (BRASIL, 1988) pela edição da Lista de Doenças Relacio- estabelece parâmetros legais para a cons- nadas ao Trabalho é o fato de ter sido ado- tituição do campo saúde do trabalhador no tada também Sistema Único de Saúde (SUS). Seu artigo 200 estabelece a ampliação do atendimento pelo Ministério da Previdência e Assistên- do SUS para além da intervenção no corpo cia Social, regulamentando o conceito de ou suas partes; evolui para a intervenção Doença Profissional e de Doença Adqui- rida pelas condições em que o trabalho é nas causas e, inclusive, nos ambientes realizado [...]. (DIAS, 2001, p. 20) de trabalho, como verificado no inciso II “executar as ações de vigilância sanitária e Desse modo, a doença relacionada ao epidemiológica, bem como as de saúde do trabalho para fins de benefícios pode ser trabalhador” e no inciso VIII “colaborar na equiparada ao acidente de trabalho (BRA- 122 Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, 32 (115): 121-134, 2007
  • 3. SIL, 1991). Assim, a legislação utiliza a uma questão de saúde coletiva, fruto das expressão acidentes de trabalho para se condições e da organização do trabalho. referir também às doenças relacionadas ao Lacaz (1996, p. 54) indica que no cam- trabalho. Contudo, optou-se por utilizar o termo agravos à saúde por considerá-lo po saúde do trabalhador: mais abrangente. [...] o coletivo de trabalhadores é percebi- do como produtor e não mais consumidor A participação política de trabalha- de condutas, prescrições/orientações, me- dores e demais atores sociais é responsável dicamentos etc. pelas definições dos elementos de incen- tivo, tanto econômicos como ideológicos, Portanto as ações devem ser sociali- do Ministério da Saúde (MS) para implan- zadas e integradas a quem mais interessa tação concreta dessa área do conhecimento melhorar as condições de saúde: os pró- e de intervenção, a qual passa a ter condi- prios trabalhadores. ções concretas de ser efetivada a partir da Neste aspecto, os CRST têm envolvido publicação da Portaria 1679/2002 (BRASIL, a sociedade com a discussão da questão 2002), que normatiza a “habilitação” e o convênio entre os municípios, o Estado e o saúde/trabalho. A habilitação do CRST MS para a implantação dos Centros de Re- exige a formação de um Conselho Gestor ferência em Saúde do Trabalhador (CRST) e, neste, as entidades representativas da em âmbito regional. classe trabalhadora e patronal, dentre ou- tras, são convidadas a pensar-agir sobre A incorporação da saúde do traba- as questões locais referentes à saúde do(a) lhador pelo SUS reconhece, nos ambientes trabalhador(a). e processos de trabalho, as condições para os eventos agressivos à saúde “de quem Além da participação dos(as) traba- trabalha” na perspectiva epidemiológi- lhadores(as), Lacaz (1996) aponta a abor- ca. Não se restringe a atender o lesionado dagem multi e interdisiciplinar presente individualmente, mas busca quantificar no campo saúde do trabalhador. A análise o número de pessoas expostas à insegu- e o enfrentamento cotidianos da complexi- rança e qualificar essas condições para dade dos processos de trabalho para a saú- posteriores mudanças. de passam a contar com novas categorias profissionais, o que representa um avanço, Saúde do trabalhador: por quê? à medida que se distancia do diagnóstico/ Não há uma resposta única para de- ação restrito à engenharia e à medicina. fender a emergência e a solidificação do campo saúde do trabalhador no SUS, mas Assim, a Rede Nacional de Atenção In- a legitimidade desta proposta se constitui tegral à Saúde do Trabalhador (RENAST), por meio de vários pressupostos, como, por meio dos CRST, tem implantado uma por exemplo, que os serviços de saúde já nova lógica de trabalho nos vários muni- prestam atendimentos aos agravos, sen- cípios brasileiros baseada na construção do necessário buscar as suas causas e ne- de ações intersetoriais entre os serviços de las intervir, ou seja, transcender as ações saúde, como a rede básica e as vigilâncias curativas para as de prevenção, promoção epidemiológica, ambiental e sanitária, e e vigilância em saúde do trabalhador. Ou- prevê ações coordenadas com os órgãos de tros fatores relacionam-se à abrangência atuação nos ambientes de trabalho (Posto territorial do SUS e ao número de equipes de Atendimento ao Trabalhador (PAT), De- profissionais capazes de desenvolver ações legacia Regional do Trabalho (DRT), Fun- voltadas à saúde do trabalhador. Inúmeras dação Jorge Duprat Figueiredo de Seguran- outras questões poderiam ser elencadas, ça e Medicina do Trabalho (Fundacentro), mas frisa-se, além dessas, a questão da Ministério Público (MP), Instituto Nacional democracia e da epidemiologia, as quais de Previdência Social (INSS) e outros). têm materializado avanços para as ações de saúde. Então, defende-se a inclusão, no A atualização permanente de conheci- contexto do SUS, das ações relativas aos mentos da equipe técnica dos CRST tam- agravos à saúde de quem trabalha por acre- bém faz parte da diretriz da política na- ditar-se que favorece a redução do vácuo cional de saúde do trabalhador, bem como entre o indivíduo que sofre o acidente de a participação dos(as) trabalhadores(as), trabalho e as condições em que é realiza- considerada essencial para o diagnóstico do, ou seja, deixa de ser uma “suscetibili- dos riscos e, concomitantemente, para in- dade” individual para ser situado como tervenção e mudança. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, 32 (115): 121-134, 2007 123
  • 4. Dias e Hoefel (2005) expõem que é saúde dos(as) trabalhadores(as). Os autores também proposta da RENAST coletivizar reforçam o avanço que representa a insti- a questão dos acidentes e adoecimentos tucionalização das ações de saúde do tra- relacionados ao trabalho por meio do re- balhador no âmbito do SUS, mas criticam gistro desses eventos no sistema de infor- a falta de êxito relativa à proposta inicial mação, o que possibilita a identificação quanto à articulação com a rede básica e dos fatores de risco e a orientação das o suporte técnico e especializado oferecido ações de vigilância. pelos CRST no projeto original do Progra- ma de Saúde do Trabalhador (PST). Contudo, na prática, há uma enorme contradição entre ações assistenciais aos(às) Às dificuldades culturais, ideológicas e trabalhadores(as) que sofreram acidentes políticas no estabelecimento de ações efi- de trabalho e a nova proposta da RENAST. cazes no campo da saúde do trabalhador Isto é, a discussão sobre a responsabilidade somam-se as mudanças do mundo do tra- do SUS na intervenção sobre os processos balho e a opção do Estado pelo projeto neo- de trabalho, debatida na II CNST (1994) e liberal de governo. ampliada na III CNST (2005), ainda não A precariedade das condições de tra- foi esgotada, especialmente no que tange à balho manifestada na violação dos di- inspeção, o que não pode ser tratado como reitos trabalhistas, na insegurança do algo desprezível na efetivação do campo posto e do ambiente de trabalho, no au- saúde do trabalhador. mento do ritmo da produção e das exigên- O que se verifica nos dois anos de fun- cias (pressão) interfere na saúde dos(as) cionamento do CRST de Franca-SP, ao se trabalhadores(as) e também no modo de considerar a realidade regional, é o início agir, pensar, sentir e fazer ou, nas pala- da práxis no campo saúde do traba lhador. vras de Antunes (1999, p. 15), na “subjeti- Há um esforço para construir dados fide- vidade da classe trabalhadora”. dignos sobre os acidentes e as doenças re- Antunes (1999) mostra que houve uma lacionadas ao trabalho e, a partir destes, processualidade contraditória, ou seja, a estabelecer as ações. Porém, ainda ocorre mudança radical na organização do sistema uma dificuldade de entendimento sobre de produção, marcada pela reestruturação “de quem é a responsabilidade de fisca- produtiva, pela terceirização e pela flexibi- lizar, inspecionar, conter e prevenir os lização, resultou, por um lado, na redução acidentes de trabalho, o que resulta em do operariado industrial e fabril e, por ou- visível omissão de ação” (LOURENÇO & tro lado, na subproletarização do trabalho BERTANI, 2006, p. 50). expressado nas formas de trabalho parcial, Apesar do campo saúde do trabalhador precário, temporário, informal, entre tantas ter sido construído com a participação de modalidades existentes. vários atores sociais e políticos e de ter Tudo isso corrobora a inflexão do movi- sido reconhecido no plano legal, não foram mento sindical e a pulverização da classe efetivadas novas práticas para além da as- trabalhadora que, no início do século XXI, sistência médica, salvo algumas ações inu- trava esforços para manter o emprego e gera sitadas, mas ainda focais. um retrocesso histórico ao se distanciar da Refletir sobre a saúde do trabalhador melhoria das condições de trabalho. no SUS significa sublinhar uma área de Desse modo, o fenômeno dos acidentes conhecimento em construção e que se pro- de trabalho passa a representar uma nova põe a compreender as manifestações das demanda à medida que não se restringe condições de trabalho para a saúde não ao setor formal de caráter industrial, mas apenas na esfera dos acidentes de trabalho atinge o informal, com forte predomi- no âmbito industrial, mas também a sua re- nância do setor de serviços. Os desempre- percussão, do ponto de vista da saúde, no gados, os aposentados e, ainda, crianças campo da agricultura e dos serviços (MI- e adolescentes trabalhadores constituem NAYO-GOMES & LACAZ, 2005). “novos” problemas de saúde. Este fenôme- Trata-se de um modelo, como aborda no está imbricado com uma contraditória e Lacaz (1996), em construção, mas que, se- complexa estrutura presente nas diferentes gundo Minayo-Gomes e Lacaz (2005), ao formas de produção e perpassa a economia longo de vinte anos, desde as primeiras familiar, a formal, as empresas arcaicas e experiências, apresentou um impacto de até as mais modernas. Portanto, é neces- pouca visibilidade frente à complexidade sária uma ação coordenada que busque as do modo de produção e seus efeitos para a causas e que nelas interfiram. 124 Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, 32 (115): 121-134, 2007
  • 5. A forma fenomênica de apresenta- efetivar o campo saúde do trabalhador com ção dos agravos relacionados ao trabalho atendimentos centrados apenas no caráter não trazem à tona, de imediato, as con- das esferas biológica e individual. Há de se dições concretas a que a maioria dos(as) considerar o processo de trabalho e as re- trabalhadores(as) está inserida. Assim, a lações por ele estabelecidas no tocante às terminologia “saúde do trabalhador” está incapacidades permanentes e temporárias. envolta pela compreensão mais ampla da realidade, considerada aqui como um todo O olhar epidemiológico deve ser co- que tem uma estrutura construída com locado em prática e o SUS, pela sua ca- partes que se relacionam entre si, dinâmi- pilaridade, pode avançar na questão da ca e mutável. O olhar para a realidade está saúde/trabalho. O sistema de informação sujeito a várias interferências. Assim, a ne- pode dar visibilidade teórica e empírica às gação da aparência inicial e as mediações reais condições de trabalho e, assim, re- tornam-se importantes no processo de in- verter a cultura de que o trabalho é bom vestigação e ação. independentemente das condições em que é realizado. Apreender as condições de trabalho de modo interdisciplinar e coletivo para Ao indagar sobre o campo saúde do reconstruí-las racionalmente é um desa- trabalhador como área de intervenção do fio dialético, materialmente necessário SUS, pretendeu-se evidenciar o papel dos para qualificar a questão dos acidentes serviços de saúde não apenas na assis- de trabalho, caracterizando-os como ele- tência ao problema de saúde apresentado mentos constitutivos da lógica reproduti- pelo(a) trabalhador(a), mas, sobretudo, na va do sistema capitalista e jamais como intervenção das causas a partir dos princí- uma questão individual ou como “fatali- pios do SUS: universalidade, integralida- dade do destino”. de, descentralização e participação. Para Minayo-Gomez e Lacaz (2005), o Acidentes de trabalho: uma forma de ex- uso da expressão “saúde do trabalhador” clusão social está norteado pela compreensão mais am- pla da realidade que – na acepção marxista Consideram-se os acidentes de trabalho – tem como núcleo básico o “processo de como um modo de exclusão social. Salien- trabalho”. Explicitam o alto poder explica- ta-se que o uso do termo “exclusão social” tivo do processo de trabalho na gênese dos não é usado para designar a pobreza e a de- agravos à saúde: sigualdade, mas cunha-se à linha adotada por Ammann (2003), a qual não se preocu- [...] A análise dos processos de trabalho pa em estabelecer uma conceituação fecha- é uma ação teórico-prática potente, pois da da exclusão social e faz uso de estudos permite identificar as transformações ne- cessárias a serem introduzidas nos locais atuais acerca da temática para justificar e ambientes para a melhoria das condi- que tal expressão sugere um estado de pri- ções de trabalho e saúde. (Minayo-Gomes vação, mas não recupera, historicamente, & Lacaz, 2005, p. 799) os processos que a engendram. Assim, Am- Minayo-Gomez e Lacaz (2005) acrescen- mann (2003) discute algumas linhas que tam que a análise da saúde do trabalhador demarcam o tema e adota a postura mar- nas dimensões do “processo de trabalho” xista de centralidade ontológica do traba- requer um tratamento interdisciplinar que lho, na qual sublinha o papel fundante do dê conta de abranger as relações de produ- trabalho na afirmação do ser social e sua ção e a subjetividade dos vários atores so- determinação nos processos históricos que ciais nelas envolvidos. Isso ajuda a romper geram ou não a exclusão social. as análises positivistas e simplificadas de A aproximação dos acidentes de tra- causa e efeito hegemônicas na medicina do balho como uma forma de exclusão social trabalho e na saúde ocupacional. se dá à medida que estes favorecem a rup- Os avanços, contidos na Constituição tura e a desagregação social, como apon- Federal de 1988 e nas legislações subse- tam Cohn, Karsch e Sato (1985) no estudo qüentes, que garantem a saúde e a segu- sobre os acidentes de trabalho como uma rança no trabalho, chocaram-se com as forma de violência. Os autores expõem que mudanças do mundo do trabalho, amplia- as incapacidades permanentes direcionam das a partir da década de 1990, que reper- o trabalhador rumo à miséria, “ao estatu- cutiram, entre outras coisas, em agravos to de inválido e, portanto, de força de tra- à saúde humana. Portanto, não é possível balho sucateada no mercado” (p. 12). Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, 32 (115): 121-134, 2007 125
  • 6. Exclusão social se dá não apenas pelo tes de trabalho. As precárias condições desemprego ou pelos baixos salários, mas de trabalho acompanhadas de perto pela no sentido da inacessibilidade aos direitos ameaça do desemprego geram instabili- sociais. Um tipo de exclusão foi denunciado dade, insegurança e risco social e de aci- por Engels (1985) como “exército indus- dentes que, imbricadas com o aumento da trial de reserva”, referente ao desemprego pobreza e da desigualdade social, agravam provocado sobretudo pela substituição do a exclusão social. homem pelas máquinas no final do sécu- lo XIX. O autor mostra que o desemprego Assim, a saúde do trabalhador deve se no início da Revolução Industrial tornou-se aproximar das condições de trabalho não funcional ao sistema capitalista e nocivo apenas do mercado formal, mas, sobretudo, para aqueles que estavam inseridos no dos autônomos, das produções indepen- mercado de trabalho, pois as pessoas de- dentes, familiares ou de cooperativas. Nas sempregadas se viam obrigadas a aceitarem palavras de Minayo-Gomes e Lacaz (2005, qualquer trabalho por um valor ínfimo. p. 806): “faz-se urgente conhecer, diferen- ciar e atender o setor informal e o mundo A exclusão social da atualidade expõe difuso e desprotegido dos desempregados”. pessoas como “desprezíveis” do ponto de vista da concorrência do mercado de tra- Dejours (2005), no estudo sobre a ba- balho, vive-se a “era tecnológica” e suas nalização da injustiça social, aponta que mudanças são tantas que se torna difícil pode haver uma dualidade do sofrimento acompanhá-las. Assim, aqueles que não pelo trabalho. Por um lado, há os que so- têm acesso, mesmo que minimamente, à frem os efeitos da exclusão do mercado de educação e à cultura, também não encon- trabalho, que refletem na degradação das tram chances para concorrer no competi- condições de vida, expressa, entre outros, tivo mercado, em que trabalho (formal) é no aumento de moradores de rua, de peri- uma raridade. ferias, e nos holofotes da violência, da mar- ginalidade, da desnutrição, da subnutrição Pochmann (2006) mostra o aumento do e dos mais diversos conflitos e doenças so- desemprego: “[...] Em 2002, por exemplo, o ciais. Por outro lado, estão aqueles inseri- país registrou a quarta posição no ranking dos precariamente no mercado de trabalho mundial do desemprego” (p. 60). Aponta e expostos às condições insalubres, insegu- também que o número de ocupações cria- ras e de risco para as saúdes física e mental. das, inferiores às extintas e ainda mar- São estes últimos os enfoques deste estudo, cadas pelo processo de reestruturação e uma vez que, a rigor, as condições de traba- flexibilização do setor produtivo, não ga- lho podem ser retratadas na história das in- rantem os direitos trabalhistas previstos, capacidades permanentes ou temporárias e pois “[...] nos anos 1990, a cada dez empre- pela miséria social provocada e reafirma- gos criados, somente quatro foram assala- da por este processo. Assim, lança-se mão riados” (p. 61). da descrição e da análise de três situações O desemprego, a reestruturação e a fle- que, além do acidente de trabalho em si, xibilização da produção são particularida- representam a relação das condições do des em constante relação com os aciden- trabalho com a saúde. Metodologia Busca-se, com o relato das situações a seus reflexos para a saúde, materializa- seguir, identificar a origem da manifesta- das, neste estudo, por meio de entrevistas ção dos agravos à saúde humana relacio- abertas sem roteiro prévio, mas com refe- nados ao trabalho. Distancia-se da causa rencial temático definido. A escolha das natural da doença ou dos agentes causado- situações privilegiou os possíveis efeitos res. Da mesma forma, não se trata de apre- das condições adversas de trabalho, nem sentar dados estatísticos, mas discutir as sempre transparentes, como uma questão condições de trabalho que interferem na de saúde pública. saúde dos(as) trabalhadores(as) e o papel Desse modo, uma das situações apre- do SUS neste processo. sentadas refere-se à questão do acidente O método utilizado foi a observação da de trabalho propriamente dito, ocorrido realidade empírica de três situações que em 26/06/1996, explicitado pela história do versam sobre as condições de trabalho e trabalhador rural, Aparício da Silva (nome 126 Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, 32 (115): 121-134, 2007
  • 7. fictício), em acompanhamento social no deficiência física provocada pelo trabalho e CRST de Franca-SP, que se prontificou a também pela conseqüente exclusão deste. ser sujeito desta reflexão a partir do Con- Aparício refere que no dia do aciden- sentimento Livre e Esclarecido. te trabalhou durante o período noturno Na continuidade da reflexão, enfoca- “arando” terra e parou por volta das 4 ho- se o trabalho informal realizado em um ras da manhã. Ao guardar o maquinário depósito de catadores de lixo, situado em (trator), foi abordado pelo empregador que Brasília-DF, em condições de possíveis lhe pediu para moer o “trato” do gado, uma agravos à saúde. Este foi escolhido, exa- vez que o funcionário responsável por essa tamente, por representar a flexibilidade função havia faltado. Segundo ele, tentou do mercado de trabalho acompanhada da argumentar que estava cansado, mas dian- precarização das condições em que é rea- te da insistência, assumiu a função. Lem- lizado e seus possíveis reflexos, ainda no bra que o tempo estava chuvoso e o chão anonimato, para a saúde. escorregadio, estava sozinho manuseando a máquina de moer “trato” para o gado Assim, a escolha da segunda situação se quando escorregou e teve a sua perna pu- deu, justamente, por representar a comple- xada pela máquina: xidade das mudanças no mundo do traba- lho em um momento de avançada discus- Não sei direito o que aconteceu, mas gra- ças a Deus que a máquina travou. Eu ten- são sobre a relação entre trabalho e saúde tei não dormir, porque estava sozinho, ocorrida na III CNST, em novembro de fui socorrido por um colega por volta das 2005. Nesse período, realizou-se visita ao 8 horas e isso aconteceu a pouco mais das local, depósito de lixo coletado por catado- 4 horas, então não sei como não morri. res, e entrevistou-se uma das famílias que (Aparício) concordou em fazer parte desta reflexão. O trabalhador foi socorrido e levado Reforça-se que a preocupação com o pelo Serviço de Resgate à Santa Casa de aumento da informalidade, do trabalho Franca. Lá recebeu todos os cuidados e autônomo, “por conta”, e as possíveis re- orientação quanto à Comunicação de Aci- percussões para a saúde presente e fu- dente de Trabalho (CAT). Mas, ao solicitar tura dos(as) trabalhadores(as) norteou a a CAT ao empregador, foi convencido de escolha da situação do trabalhador que, que não era necessário, pois eles (empre- junto com a sua família, residia no local gadores) lhe dariam tudo o que precisasse. em que se depositava lixo recolhido para Na época residia com a sua mulher e os três posterior seleção do que poderia ser co- filhos em casa de propriedade da fazenda mercializado por eles. onde era funcionário: “Achei por bem se- guir a orientação do patrão e não mexi mais Na seqüência, aborda-se outro aspecto com isso, com a CAT” (Aparício). degradante, que é o trabalho infantil como uma forma de violência social. A escolha Aparício foi periciado inúmeras vezes desta questão se deu por observar que, ape- no Instituto Nacional de Seguro Social sar da avançada legislação brasileira, o tra- (INSS) e, segundo ele, sempre relatou o balho infantil ainda faz parte das particu- motivo da perda da perna. Após ter conse- laridades do mercado de trabalho nacional, guido, em 1998, a perna mecânica via SUS controlado no setor industrial, mas real no (Programa de Órtese e Prótese do Núcleo mercado informal, conforme observado em de Gestão Assistencial - NGA), deixou de festividades em locais públicos no muni- receber do INSS um salário mínimo inte- cípio de Franca e também em praias da re- gral e passou a receber apenas uma parte, gião norte do Estado de São Paulo durante equivalente, atualmente, a R$119,00 (cen- o segundo semestre de 2006. to e dezenove reais) por mês, uma vez que, na visão do seguro social, ele teria con- Apresentação dos casos dição de trabalhar. Situação 1: A invisibilidade social dos Contudo, para o empregador, ele não acidentes de trabalho servia mais para trabalhar em nenhuma função. Após um tempo do ocorrido, foi Aparício trabalhava numa importante dispensado. Os empregadores venderam fazenda de criação de gado em um muni- a fazenda e se mudaram para a região de cípio próximo a Franca-SP. O mesmo per- Mato Grosso do Sul. deu a perna esquerda durante o exercício do seu trabalho, aos 25 anos de idade. O O fato é que, mesmo sendo jovem, a trabalhador enfrenta a situação dolorosa da deficiência física associada à falta de edu- Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, 32 (115): 121-134, 2007 127
  • 8. cação formal limitou as possibilidades de ou outros materiais recicláveis, enquanto inserção no mercado de trabalho: seus pais permanecem no local – um ter- Ficou muito difícil porque fui criado na reno baldio – onde depositam o material roça e é só isso que sei fazer. Eu andei arrecadado para posterior seleção. arranjando alguns serviços, mas logo não Trata-se de um trabalho degradante me pegavam mais, alegavam que era pe- rigoso e que eu poderia me machucar de realizado no meio do lixo. O que foi des- novo. (Aparício) cartado por outrem é aproveitado por eles por uma questão de sobrevivência. Obser- O desemprego, a falta de moradia, a va-se que Dona Cleuza, enquanto sepa rava deficiência física (desencadeada pelo aci- o lixo, amamentava a filha mais nova, de dente de trabalho) levaram Aparício a en- 2 anos, que estava completamente nua. A frentar sérias dificuldades econômicas e outra filha, de 5 anos, tentava saborear sociais que, dentre outros, favoreceram a os farelos de resto de um pacote de salga- dissolução familiar. Sua esposa mudou-se dinhos encontrado no lixo. Outros dois para Franca, com seus três filhos, em busca filhos com idades ente 6 e 7 anos perma- de emprego e melhores condições de vida. neciam ao lado do pai observando a lida. Aparício passou a residir de favor com o pai, que é idoso. Não há uma separação entre a casa e o ambiente de trabalho. Ergueram barracos Situação 2: A informalidade e a invisibi- de plástico para permanecerem junto ao lidade social dos possíveis acidentes de “lixo” e evitarem roubos ou destruição do trabalho material arrecadado: A informalidade entrelaça as pessoas Às vezes, alguém pode destruir por ba- no mundo do trabalho sem muitas condi- gunça mesmo ou roubo, mas os homens ções de questionamentos e mudanças do (do governo) destroem para a gente ir em- que está posto e pode conferir aos seus bora daqui, mas não podemos ir porque trabalhadores extrema vulnerabilidade de não teria como sobreviver. (Manoel) saúde e de vida. Ao se considerar que há uma relação A análise da situação da família de Dona intrínseca entre trabalho, meio ambiente Cleuza e Seu Manoel (nomes fictícios) traz à tona a precariedade das condições de tra- e saúde, talvez este seja o retrato da degra- balho e também de vida das várias famílias dação socioecológica. O ambiente estava brasileiras que sobrevivem do lixo. carregado pelo mau cheiro dos restos de comida e sujeiras próprias do lixo que Um breve sumário da sua história atraía uma nuvem de mosquitos, infes- mostra um lado do trabalho totalmente tando o local. A casa improvisada (barra- inseguro do ponto de vista de possíveis co de plástico) não oferecia proteção nem contaminação, ferimentos, adoecimentos, conforto aos seus habitantes. Do lado de da saúde mental no trabalho e, ainda, do fora, um pequeno fogão, também impro- trabalho infantil. visado, feito com tijolos, trazia as panelas O casal está em Brasília há 15 anos. postas com restos de alimentos sujeitos à Oriundos da Bahia, vieram em busca de deterioração devido ao armazenamento e melhores condições de vida, mas, devido à à conservação inadequados, misturando- ausência de documentos, de escolaridade, se ao lixo. O ser humano encontra-se aí, de profissão e de condições financeiras, no seu ambiente de trabalho, vulnerável não conseguiram emprego ou outro modo a possibilidades de contaminação e aqui- de sobrevivência. A família não conta sição de doenças e acidentes. Contudo, a com nenhuma documentação, inclusive relação com o trabalho permanece na in- dos filhos; por esse motivo, segundo eles, visibilidade social. não estão cadastrados em nenhum pro- Outra questão observada nessa situa- grama social federal, como bolsas escola, ção é o trabalho infantil e a falta de pro- família ou alimentação. Sobrevivem com teção do trabalho do adolescente. Há um os filhos juntando e separando lixo (or- processo cultural instalado pela própria gânico, contaminado etc.) para a seleção convivência diária das crianças com esse de materiais (papel, plástico etc.) a serem modo de trabalho que representa, entre comercializados. outros, elementos configuradores para o O filho mais velho, 15 anos, percorre trabalho infantil e para a naturalização as ruas de Brasília empurrando um “carri- da cultura do trabalho independente- nho de mão” da família, em busca de papel mente das condições em que é exercido. 128 Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, 32 (115): 121-134, 2007
  • 9. Situação 3: Trabalho infantil ampliada pelo fato de serem realizadas, ge- ralmente, no período noturno. Apesar de contar com uma legislação que proíbe o trabalho infantil e que protege A violência a que crianças e adoles- o trabalho do adolescente, é comum en- centes inseridos precocemente no merca- contrar crianças “ajudando” no orçamento do de trabalho estão sujeitos raramente é familiar, como o caso do filho de 15 anos revelada nas estatísticas oficiais, pois di- de Dona Cleuza e Seu Manoel. A questão ficilmente essas atividades se configuram do trabalho infantil deve ser analisada a como trabalho. Estão forjadas na “ajuda”. partir de um contexto mais amplo que in- A sociedade “ajuda” a criança e o adoles- clua a questão da cultura, da política e das cente pobres oferecendo-lhes um trabalho condições socioeconômicas. e esses, por sua vez, “ajudam” no orçamen- to familiar, trabalham oito horas diárias, Evidencia-se, neste estudo, o trabalho às vezes mais, e recebem um salário de de crianças que exercem funções como a “ajuda”, inferior ao do adulto que exerça a de “guardador de carros” (para designar a mesma função. Outra questão é que, dian- função de olhar, “vigiar” enquanto o dono te da situação de base socioeconômica e se ausenta, situação comum nos estacio- de insuficiência das políticas públicas, o namentos públicos), “vendedor ambulan- trabalho adquire um caráter disciplinador te” (designação para a venda de produtos para crianças e adolescentes pobres (BRA- como água, latinhas de cerveja, balas, cho- SIL, 2005). E, ainda, há de considerar que colates etc., situação comum no trânsito e muitas doenças relacionadas ao trabalho em festividades) e catador de produtos re- só irão se manifestar na vida adulta, dis- cicláveis (papel, latinhas de alumínio e ou- tanciando-se da relação com o trabalho, tros). As crianças nas condições de traba- além de se configurar como forma de in- lho referidas, quando questionadas sobre a justiça social banalizada cotidianamente. atividade, mudaram de assunto e de lugar, As diferenças entre a infância no co- despistando o nosso olhar, com exceção do letivo e as infâncias podem ser particula- menino de 6 anos “guardador de carros”. rizadas em situações que envolvam o tra- balho infantil, como abordado por Moreira A fala do menino de 6 anos de idade, e Vasconcelos (2003), que desconstroem a “guardador de carro”, quando pergunta- imagem idílica da criança – inocência, vi- do sobre a atividade, respondeu: “Estou vida em um mundo onírico, quimérico. A trabalhando para ajudar minha avó”. De- infância, no sentido coletivo, é um direito monstra uma imagem de preocupações de todos, independentemente das circuns- travestidas na responsabilidade de manu- tâncias socioeconômico-culturais; con- tenção da vida, ocorrendo a “adultotização tudo, as espacialidades e os cotidianos em da infância”, como abordado por Silva que as crianças estão submersas definem o (2002, p. 151). tipo de infância que estas podem ter, indi- Trata-se de funções marcadas pela vidualizando-as. absoluta falta de proteção, segurança ou Verifica-se que essas crianças estão fiscalização, que expõem essas crianças a imersas em condições inseguras para o seu todo tipo de adversidades e de violência desenvolvimento biopsicossociocultural. Discussão Ao analisar as situações, evidencia- Apenas a partir da Constituição de 1988, se o sofrimento de trabalhadores que, art. 7º, é equiparado ao trabalho urbano. em decorrência do trabalho realizado em Mas, apesar da Carta Constituinte, as condição precária e sem qualquer tipo de diferenças de tratamento entre os trabalhos proteção social ou legal, submetem-se a urbano e rural, nos planos teórico e prá- condições insalubres e perigosas por uma tico, ainda persistem, como é o caso da edi- questão de subsistência. ção das Normas Regulamentadoras Rurais Quanto à primeira situação, importa (NRR), específicas para a área rural. Mas enfatizar que, historicamente, o trabalho salienta-se que as Normas Regulamentado- rural foi garantido no patamar dos direitos ras (NR) e as legislações complementares sociais, trabalhistas e previdenciários de contemplam esta categoria profissional, modo retardatário em relação ao urbano. como defende Araújo (2005). Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, 32 (115): 121-134, 2007 129
  • 10. Muitas das exigências contidas nas NR do trabalhador, contava com dispositivo também estão presentes nas NRR, como de fácil acesso para a interrupção do seu é o caso dos Serviços Especializados em funcionamento e também apresentava pro- Prevenção de Acidentes do Trabalho Ru- teção mecânica no ponto de operação, per- ral – SEPATR. Conforme o artigo 2º da mitindo apenas a introdução do produto NRR-2, toda propriedade com 100 (cem) ou a ser moído; estava dentro dos prazos de mais trabalhadores é obrigada a organizar manutenção preventiva? e manter em funcionamento o SEPATR, As questões sobre a disposição da má- que, diferentemente da NR-4, não tem uma quina no espaço físico, a proteção das in- classificação de grau de risco. tempéries, a organização do posto de traba- A explicação é que esta é uma norma es- lho e a área de estocagem da cana ou outro pecífica para a atividade rural; logo, todos produto usado no feitio do alimento “trato” os graus de riscos são estimados como para o gado também devem ser ressaltadas, iguais. (ARAUJO, 2005, p. 1352) bem como as condições de instalação e do Outra exigência da NRR a ser explici- ambiente (“chão escorregadio”). tada é a necessidade de formação e manu- Questões relacionadas à organização do tenção da Comissão Interna de Prevenção trabalho, como a devida capacitação do tra- de Acidentes do Trabalho Rural (CIPATR) balhador para desempenho da função, tam- pelo empregador que mantenha a média de bém devem ser consideradas. Além disso, 20 ou mais funcionários, conforme previs- o fato de ter saído de um posto de traba- to na NRR-3, artigo 3º (ARAUJO, 2005). lho diferente do assumido sem o uso de Contudo, tanto a CIPATR quanto a SE- Equipamento de Proteção Individual (EPI), PATR não são comuns no plano prático e como botas de PVC de solado antiderra- um dos fatores que pode estar associado pante e protetores auditivos para operar o é a falta de fiscalização na área rural, bem trator (usado para arar terra) e a máquina como a ausência de dados estatísticos fi- (para moer o “trato” do gado), também é dedignos quanto aos acidentes de trabalho um fator contribuinte. dessa área. A discussão do acidente de trabalho Apesar de existirem instrumentos le- no âmbito rural precisa ser alvo de estu- gais referentes à proteção da saúde dos(as) dos e ações sistemáticas devido ao grande trabalhadores(as) rurais, muitos fatores in- número de acontecimentos, conforme le- terferem na falta de aplicação, como, por vantamento feito na região de Franca por exemplo, a distância geográfica e/ou física meio do Relatório de Atendimento aos Aci- dos órgãos públicos responsáveis pela sua dentes de Trabalho – RAAT (LOURENÇO & efetivação. O elevado número de trabalha- BERTANI, 2006). Ressalta-se que, em julho dores safristas e temporários, por sua vez, de 2006, acidente semelhante ocorreu no diminui a capacidade de organização do(a) município de Buritizal, circunvizinho a trabalhador(a) rural agravada pela baixa Franca-SP, deixando deficiente um jovem escolaridade e também pela falta de infor- de 21 anos. mação dos seus direitos. Verifica-se que a falta de articulação Verifica-se que Aparício realizava tra- dos serviços públicos, especialmente aque- balho noturno, no âmbito agrícola, e, ao les relacionados aos Ministérios do Traba- término da sua jornada, recebeu uma nova lho, da Saúde e da Previdência, contribui tarefa e não usufruiu o direito ao descanso para que essas condições se mantenham preconizado na Legislação como garante o na invisibilidade social. As precárias con- artigo 66 da Consolidação das Leis do Tra- dições de trabalho ficam mascaradas e balho (BRASIL, 1943), o que pode ter se forjadas na insuficiência institucional do constituído em um dos fatores preponde- Estado frente à questão, especialmente na rantes para a ocorrência. fragmentação das ações que, na situação analisada, consistem apenas na concessão Trata-se de uma situação muito com- de benefícios compensatórios insuficien- plexa, inclusive porque as condições de tes, como o previdenciário, uma vez que trabalho atualmente são outras, o que im- o trabalhador era contribuinte, e de saúde, pede uma análise mais aprofundada. Mas por meio de tratamento e reconstituição questionam-se fatores que poderiam ter do membro, no caso, a perna. evitado o acidente ou não, por exemplo, a máquina dispunha de sistema de segu- O tipo de acidente de trabalho sofrido rança adequado para o desligamento au- por Aparício é um tipo “clássico” e que tomático; no caso de mudança de posição traz à mostra a perda do membro inferior 130 Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, 32 (115): 121-134, 2007
  • 11. (perna) e, em decorrência desta, a ruptura Verificou-se nas situações que a infân- familiar, a exclusão do mercado de traba- cia e a adolescência, tão importantes para lho e a supressão de perspectivas de vida. a formação social e emocional da vida hu- Mas, além desse tipo de acidente de traba- mana, são vividas por muitos sem usufru- lho, há também a violência presente nos to dos direitos e privilégios próprios dessa impactos das mudanças do mundo do tra- faixa etária. A obrigação de “ajudar” no balho, sobretudo na precarização das con- orçamento familiar deixa a escola para um dições de trabalho, que a nosso ver afeta período posterior e talvez inatingível, bem a saúde dos(as) trabalhadores(as) de modo como o lazer e as brincadeiras. A sua mar- oculto e silencioso. ca é a exploração, que, reforçada pela desi- gualdade social, adquire um caráter de algo Ao se refletir sobre a situação de uma “natural”, pois, após conversar e observar o família que sobrevive da atividade de ca- trabalho das crianças por horas, num local tar lixo para posterior seleção e venda de movimentado, ninguém questionou ou de- materiais recicláveis, pretende-se eviden- nunciou a presença delas e o seu trabalho. ciar os riscos biopsicossociais inerentes à situação e sensibilizar sobre a importân- O trabalho projeta o ser humano para cia de pesquisas e ações intersetoriais e perspectivas profissionais, sociais e para interdisciplinares nesta área, como já des- a realização pessoal, mas quando há a tacado pela Organização Internacional do inserção precoce, além dessas perspecti- Trabalho (OIT, 2006). vas ficarem tolhidas, pode ocorrer o que Martins (1993) chamou de supressão da Nesse tipo de trabalho, os riscos po- infância. O trabalho infanto-juvenil tor- dem ser muitos. A OIT (2006), ao discutir nou-se um fenômeno social da pobreza e o trabalho de crianças e adolescentes em geralmente ocorre em condições insalu- lixão, aponta que se trata de uma ativida- bres e danosas para o desenvolvimento de insalubre, perigosa e penosa, o que se biopsicossociocultural de crianças e ado- aplica à situação apresentada, pois, além lescentes, como já abordado por Garbin, da atividade de coleta do lixo, a família, Santos e Carmo (2004). inclusive crianças, residia no local, em meio ao lixo, propensos a: Asmus et al. (2005) discutem que mui- tas atividades, apesar de seguras para os [...] possibilidades acentuadas de aciden- adultos, não o são para as pessoas em cres- tes, intoxicações alimentares e químicas cimento que têm maiores chances de de- por metal pesado; infecções respiratórias, senvolver doenças ocupacionais, tanto de cutâneas, digestivas; desidratações, ane- mias por má nutrição, fadigas por esforço forma mais precoce quanto com maior gra- intenso e exposição a altas temperaturas vidade. Chamam a atenção para o fato de do ambiente. (OIT, 2006, p. 69) que o dano pode não ser evidente até um estágio bastante posterior da vida (ATSDR, O fórum “Lixo e Cidadania” aponta 2001 apud ASMUS et al., 2005). que, em 1998, quando houve intoxicação alimentar de crianças devido à possível As situações apresentadas a partir de ingestão de carne humana proveniente de observações do cotidiano revelam que o lixo hospitalar, num lixão em Olinda-PE, trabalho infantil ainda persiste revestido iniciou-se o esforço de várias instituições de uma nova roupagem: a informalidade. na busca de resolver a questão, constituin- Os dados da Pesquisa Nacional por Amos- do inclusive o “Fórum Nacional Lixo e Ci- tragem de Domicílios (PNAD), referentes dadania” (FÓRUM, 2006). ao período de 1992 a 2002, mostram que o número de trabalhadores infantis reduziu Outros riscos, como a contaminação do de 4,1 milhões em 1992 (12,1%) para 2,1 ambiente (solo, ar e água), devem ser con- milhões em 2002 (6,5%), na faixa etária de siderados, pois se observou que o local era 5 a 14 anos (BRASIL, 2004). propício para diversos vetores causadores de enfermidades, como ratos, moscas, ba- Reconhece-se a avançada legislação 3 Redação dada pela Emenda Cons- ratas, só para citar alguns. voltada à redução e à erradicação do tra- titucional n. 20 de 15/12/1998. balho infantil vigente em nosso país, como 4 Capítulo IV – Da proteção do tra- Na terceira situação, evidenciou-se o o Estatuto da Criança e Adolescente – ECA balho do menor: Art.403 (redação trabalho infantil inserido no mercado de (BRASIL, 1990a), a Constituição Federal3 dada pela lei n. 10097/2000); Art. trabalho, no modo da economia considera- e a Consolidação das Leis Trabalhistas 404; Art. 405 (redação dada pela do informal, que, diante da sua proibição (CLT)4. Destaca-se que ao adolescente só é Lei n. 10097/2000). legal, assume também o caráter clandesti- permitido trabalhar dos 14 aos 16 anos na no, além da questão cultural da “ajuda”. condição de aprendiz e deve ser respeitada Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, 32 (115): 121-134, 2007 131
  • 12. a proibição em situações e condições inse- algo natural e, como tal, oferecem poucas guras capazes de provocar acidentes. perspectivas de mudanças. Contudo, as situações ilustradas mos- O fato é que, diante das desigualdades tram que o trabalho infantil ainda persiste sociais vinculadas ao desemprego e à exclu- e que também se verifica, no nosso coti- são, acaba ocorrendo o que Dejours (2005) diano profissional, em relação à incidên- denominou de “banalização da injustiça social”. Há uma “aceitação” social do que cia de acidentes de trabalho com adoles- está posto. Esta conivência se dá pela com- centes (LOURENÇO, 2006). preensão da realidade como algo natural As condições de saúde podem ser con- que, somado ao aspecto cultural do traba- sideradas como expressões da questão lho infantil como elemento disciplinador social, representada, neste caso, pelo tra- e preventivo da marginalidade, quando se balho sem nenhuma regulamentação e se- trata dos mais pobres, constitui elementos gurança que expõe crianças à situação de mantenedores desta (triste) realidade. riscos. Além dos riscos eminentes, consi- Nobre (2003) pontua que o trabalho in- deram-se os riscos sociais, como a exclusão fantil deve se tornar objeto da saúde coleti- social, marcada pelo distanciamento dos va e sublinha algumas limitações do setor direitos sociais básicos: educação, saúde e saúde frente a esta questão: evidencia a fal- habitação. Não se trata apenas de apontar ta de reconhecimento do trabalho infantil situações, do ponto de vista da saúde, into- como um problema de saúde pública; in- leráveis, capazes de causar danos físicos e dica que o trabalho infantil é invisível para as práticas de saúde, quando o reconhece, psíquicos, mas de situar no âmbito da ex- situa-o no patamar de resolução para o pro- ploração do trabalho e das ordens social, blema da miséria social. econômica e política vigente e, portanto, passíveis de transformação. Para que a relação entre saúde e trabalho não caia na invisibilidade social, é necessá- Verifica-se que as precárias condições rio reunir esforços para estudos e ações sis- de trabalho, ora apresentadas, fazem parte temáticos que contemplem o mercado de da histórica desigualdade social brasileira trabalho na sua totalidade e considerem os e, neste contexto, assumem um caráter de trabalhos rural, informal e infantil. Conclusões e considerações finais Verifica-se que, apesar do avanço das A saúde pública já presta o atendimen- políticas públicas, dos direitos sociais, tra- to ao trabalhador vítima de doença ou de balhistas e políticos, das exigências para acidente relacionado ao trabalho e conta a troca, especialmente, no âmbito inter- com serviços especializados de vigilân- nacional, caracterizadas pelos Programas cia sanitária e epidemiológica. Contudo, de Qualidade Total e pelas International há necessidade de romper com as ações Standard Organization (ISO) nesse início focais e fragmentadas na assistência à saú- de século (XXI), novas e velhas questões de do(a) trabalhador(a) e avançar na cons- relativas à saúde e ao trabalho (MINAYO trução de dados fidedignos para subsidiar GOMES & LACAZ, 2005) se põem no coti- ações mais amplas. diano dos(as) trabalhadores(as). Posto o desafio, o campo ampliado da Análises da realidade que busquem es- clarecer os efeitos das formas de trabalho saúde do trabalhador no SUS constitui um associadas à informalidade, velhas ques- novo paradigma de atenção à saúde, trans- tões como as condições de trabalho rural, cende a abordagem individual curativa tra- a erradicação do trabalho infantil e, ainda, dicional e propõe abordagens interdiscipli- a proteção do trabalho do adolescente, as- nares, intersetoriais e de fortalecimento da sumem caráter de urgência em que pese a sociedade rumo a mudanças eficazes para relação entre trabalho/saúde. a promoção da saúde de quem trabalha. 132 Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, 32 (115): 121-134, 2007
  • 13. Referências AMMANN, S. B. Cidadania e exclusão Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/ social: o mundo desenvolvido em questão. html/pt/legislacao/portarias.html. Acesso Serviço Social & Sociedade, São Paulo, n. em: 05 jan. 2007. 76, p. 118-142, 2003. . Portaria nº. 1.679, de 20 de ASMUS, C. I. R. F. et al. Atenção integral setembro de 2002. Brasília, DF: Ministério à saúde de adolescentes em situação de da Saúde, 2002. trabalho: lições aprendidas. Ciênc. saúde . Plano Nacional de Prevenção coletiva, Rio de Janeiro, v. 10, n. 4, p. 953 e Erradicação do Trabalho Infantil e -959, 2005. Proteção ao Trabalhador Adolescente. ANTUNES, R. Adeus ao trabalho? Ensaio Brasília: Ministério do Trabalho e sobre as metamorfoses e a centralidade Emprego, Secretaria de Inspeção do do mundo do trabalho. 6. ed. São Paulo/ Trabalho, 2004. Campinas: Cortez/Unicamp, 1999. . Trabalho Infantil: diretrizes para ARAUJO, G. M. (Org.). Normas a atenção integral à saúde de crianças Regulamentadoras comentadas. Legislação e adolescentes economicamente ativos. de Segurança e Saúde no Trabalho. Brasília: Ministério da Saúde, 2005. rev., ampl. e atual. Rio de Janeiro: Gerenciamento Verde, 2005. v. 1 e 2. COHN, A.; KARSCH, U. S.; SATO, A. K. Acidentes de trabalho: uma forma de BRASIL. Decreto-Lei n.º 5.452, de 1º de violência. São Paulo: Brasiliense, 1985. maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Disponível em: DEJOURS, C. A banalização da injustiça https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ social. Rio de Janeiro: FVG, 2005. decreto-lei/Del5452.htm. Acesso em: 02 DIAS, E. C. (Org.). Doenças relacionadas jan. 2007. ao trabalho: manual de procedimentos . Constituição da República para os serviços de saúde. Brasília, DF: Federativa do Brasil. Promulgada em 05 Ministério da Saúde, 2001. Série A. de outubro de 1988. Brasília, DF: Senado, Normas e manuais técnicos. 1988. DIAS. E. C.; HOEFEL, M. da G. O . Estatuto da Criança e do desafio de implantar as ações de saúde Adolescente. Lei 8 069, de 13 de julho de do trabalhador no SUS: a estratégia da 1990a. Dispõe sobre o Estatuto da Criança RENAST. Ciênc. saúde coletiva, Rio de e do Adolescente e dá outras providências. Janeiro, v. 10, n. 4, p. 817-828, 2005. Brasília, DF: Senado, 1990. ENGELS, F. A situação da classe . Lei Orgânica da Saúde – LOS trabalhadora na Inglaterra. São Paulo: (1990b). In: COSTA, L. C. (Org.). Cadernos Global, 1985. (Coleção Bases, 47). de Saúde do Trabalhador: Legislação. FÓRUM NACIONAL LIXO E Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2001. CIDADANIA. Disponível em: http://www. . Lei n. 8.213. Dispõe sobre os lixoecidadaniapr.org.br/forunII.htlm. Planos de Benefícios da Previdência Social Acesso em: 29 dez. 2006. e dá outras providências. Ministério GARBIN, A. de C.; SANTOS, S. A. do; da Previdência Social, Brasília, DF., 24 CARMO, J. C. Caracterização da situação de julho de 1991. DOU de 14/08/98. estadual do trabalho de crianças e (Atualizada até julho de 2005). Disponível adolescentes no estado de São Paulo. em: http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/ In: GARBIN, A. de C.; SANTOS, S. A. Leis/L8213cons.htm. Acesso em: 5 jan. do (Orgs.). O compromisso do SUS na 2007. erradicação do trabalho de crianças e . Portaria Federal nº 1.339/GM controle do trabalho de adolescentes. São – MS – (1999). Brasília, DF.: Ministério Paulo: Imprensa Oficial, CEREST/SP, 2004. da Saúde, de 18 de novembro de 1999. p. 13-44. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, 32 (115): 121-134, 2007 133
  • 14. LACAZ, F. A. C. Saúde do trabalhador: um questões. Ciênc. saúde coletiva, Rio de estudo sobre as formações discursivas da Janeiro, v. 10, n. 4, p 797-807, 2005. academia, dos serviços e do movimento MOREIRA, E. M.; VASCONCELOS, K. E. sindical. 1996. Tese (Doutorado) L. Infância, infâncias: o ser crianças em – Faculdade de Ciências Médicas, espaços socialmente distintos. Serviço Universidade Estadual de Campinas, Social & Sociedade, São Paulo, n. 76, p. Campinas, 1996. 165-180, 2003. . Saúde dos trabalhadores: NOBRE, L. C. C. Trabalho de crianças cenários e desafios. Cad. Saúde Pública, e adolescentes: os desafios da Rio de Janeiro, v. 13, supl. 2, p. 7-19, intersetorialidade e o papel do Sistema 1997. Disponível em: http://www.scielo. Único de Saúde. Ciênc. saúde coletiva, Rio br/scielo.php?script=sci. Acesso em: 27 jan. 2005. de Janeiro, v. 8, n. 4, p. 963-971, 2003. LOURENÇO, E. A. S. Acidentes de OIT. Organização Internacional do trabalho com adolescentes e a necessidade Trabalho. Módulos de auto-aprendizagem do trabalho intersetorial. In: SEMINÁRIO sobre saúde e segurança sobre o trabalho DE ERRADICAÇÃO DO TRABALHO infanto-juvenil. Brasília: Ministério da INFANTIL E PROTEÇÃO DO TRABALHO Saúde, 2006. (Série F. Comunicação e DO ADOLESCENTE: uma proposta de educação em saúde). ação intersetorial. Franca, 2006. (mimeo). POCHMANN, M. Desempregados do . Saúde do trabalhador: de quem Brasil. In: ANTUNES, R. (Org.). Riqueza é essa responsabilidade? Desafios para o e miséria no Brasil. São Paulo: Boitempo, Sistema Único de Saúde. In: OLIVEIRA, C. 2006. p. 59-73. A. H; BERTANI, I. F. Interdisciplinaridade: SILVA, M. L. de O. S. Adultotização da integração entre saberes e práticas. Franca: infância: o cotidiano das crianças Unesp, 2006. trabalhadoras no mercado Ver-o-Peso, em MARTINS, J. de S. (Coord.). O massacre Belém do Pará. Serviço Social e Sociedade, dos inocentes: a criança sem infância no São Paulo, n. 69, p. 151-172, 2002. Brasil. 2. ed. São Paulo: Hucitec, 1993. VILELA, R. A. G. Desafios da vigilância MINAYO GOMEZ, C.; LACAZ, F. A. C. e da prevenção de acidentes do trabalho. Saúde do trabalhador: novas e velhas São Paulo: LTr, 2003. 134 Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, 32 (115): 121-134, 2007