SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 514
Baixar para ler offline
CB4D



             Ti

    ygfgfà*VH^5
i            -   •




                     Compilado e editado por
                       Michael D. Palmer
Panorama
 do pensamento
     Cristão
Compilado e editado por Michael
          D. Palmer




  Prefácio de Russel P. Spittler
REIS BOOK’S DIGITAL
Todos os direitos reservados. Copyright © 2000 para a língua portuguesa da
Casa Publicadora das Assembléias de Deus. Aprovado pelo Conselho de
Doutrina.

Título do original em inglês: Elements o f a Christian Worldview
Gospel Publishing House, Springfield, Missouri, USA
Primeira edição em inglês: 1998
Tradução: Luís Aron de Macedo

Preparação de originais: Jefferson Magno
Revisão: Alexandre Coelho e Kleber Cruz

Capa: Alexander Diniz
Projeto gráfico: Daniel Bonates
Editoração: Oséas Felício Maciel

CDD: Filosofia-201
ISBN: 85-263-0303-1

As citações bíblicas foram extraídas da versão Almeida Revista e Corrigida,
Edição de 1995, da Sociedade Bíblica do Brasil, salvo indicação em contrá­
rio.

Casa Publicadora das Assembléias de Deus
Caixa Postal 331
20001-970, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

Ia edição/2001
Dedicatória

              Para meus pais,
           Don eThelm a Palmer,
que foram bem-sucedidos em me transmitir
 a fé e sempre me incentivaram para que eu
 buscasse a verdade,e para meu filho de 18
       anos, Bradley Charley Palmer
que, na época de sua morte trágica ocorrida
       em 22 de novembro de 1997,
já sabia profundamente muitos dos conceitos
     centrais apresentados neste livro.
Sumário

Introdução / 7
Prefácio / 11
Agradecimentos / 13
Lista de Colaboradores / 15
1. Panorama do Pensamento Cristão / 1 7
        Michael D. Palmer
2. O Rapei da Bíblia na Formação do Pensamento Cristão / 79
        Edgar R. Lee
3. Vozes do Passado: Tentativas Históricas para Formar um
    Pensamento Cristão / 109
        Gregory J. Miller
4. O Cristão e a Ciência Natural / 149
        Lawrence T. McHargue
5. Uma Perspectiva Sobre a Natureza Humana / 181
        Billie Davis
6. Trabalho / 223
        Miroslav Volf
7. Entrando no "Descanso Divino": Rumo a uma Visão Cris­
   tã de Lazer / 247
         Charles W. Nienkirchen
8. A Ética de Ser: Caráter, Comunidade, Práxis / 293
         Cheryl Bridges Johns e Vardaman W. White
9. Música que Vem do Coração da Fé / 325
       Johnathan David Horton
10. O Lugar da Literatura no Pensamento Cristão/ 351
       Twíla Brown Edwards
11. Os Cristãos e a Cultura da Mídia de Entretenimento / 391
       Terrence R. Lindvall e J. Matthew Mellon
12. Política para Cristãos (e Outros Pecadores) / 427
        Dennis McNutt



Apêndice 1: Reflexões sobre os Significados da Verdade / 470
        Michael D. Palmer
Apêndice 2: Jean-Paul Sartre / 487
        Michael D. Palmer
Apêndice 3: Karl Marx / 489
        Michael D. Palmer
Apêndice 4: A Música e o Espaço de Execução / 493
ELEMENTOS DE UMA COSMOVISÃO CRISTÃ


                           Johnathan David Horton
                   Apêndice 5: A Música e o Estilo de Adoração / 497
                           Johnathan David Horton
                    Apêndice 6: C . K. Chesterton no Poder dos Contos
                      de Fada / 502
                           Twila Brown Edwards
                   Apêndice 7: C. S. Lewis / 504
                           Twila Brown Edwards
                   Apêndice 8: Thomas FJobbes e a Teoria de Contrato
                     de Ju stiça /506
                          Michael D. Palmer
                   Apêndice 9: John Locke e a Teoria dos Direitos
                     Naturais / 509
                           Michael D. Palmer
                   Apêndice 10: Os D ireitos/ 512
                           Michael D. Palmer
                   Apêndice 11: A Justiça / 516
                           Michael D. Palmer
Introdução
    Muitas palavras do vocabulário inglês (e também do portugu­
ês) vêm dos idiomas grego e latino. Palavras tão comuns quanto
agenda ou exit (saída) vêm diretamente do tempo dos autores clás­
sicos. Outras palavras, entretanto, entraram em nossa língua sem
serem percebidas, provenientes de alguma outra cultura. Khaki
(cáqui) é originária de um termo paquistanês. Bureau (agência,
repartição) é francês puro. Corridor (corredor), palio (pátio) e plaza
(praça) são termos espanhóis autênticos, e chocolate provém dire­
tamente do dialeto asteca.
     Cosmovisão, a palavra que define o ponto central deste livro,
alcança a língua portuguesa como se também fosse um emigrante
linguístico. O idioma alemão tem uma grande propensão para pa­
lavras compostas. Só para dar um exemplo extremo, eis um termo
alemão para tanque m ilitar: Schutzengrabenzerstõrungsautomobil.
Pelas mesmas leis do idioma, este é um sinónimo: der Panzer. A
palavra “ cosmovisão” junta lado a lado duas palavras equivalen­
tes em português como tradução lite ra l do termo alemão
Weltanschauung — termo com longa e nobre herança filosófica.
     Inventado por filósofos alemães, Weltanschauung descreve um
modo de ver o mundo. Alguém poderia supor que o mundo é uma
ilusão; que as coisas não são reais. Outros poderiam dizer, como
fazem os idealistas de todas os tempos, que existe mais coisas no
mundo do que se pode ver. Outros ainda poderiam concluir que o
mundo é inóspito e irremediável, levando ao desespero.
     Em vez de aportuguesar Weltanschauung para a palavra “ cos­
movisão” , os linguistas teriam feito um favor aos povos de fala
portuguesa sendo um pouco menos com plicados. Trad u zir
 Weltanschauung como “perspectiva” ou mesmo “ atitude” não te­
ria representado uma tradução longe do seu significado, a não ser
pelo fato de que o termo técnico alemão refere-se especificamente
 à atitude da pessoa para com o mundo.
     Que “mundo” ? A s vastas extensões do universo estrelado? O
pleno complemento das culturas humanas de nosso globo? Ou
 possivelmente o “mundo” que entra em nosso vocabulário medi­
 ante alguma pressão que alguém exerce de maneira incorreta e
 forçada sobre a Escritura? Ao usar essa palavra, a tradição filosó­
 fica alemã certamente tinha em mente o mundo material e o uni­
 verso invisível, o mundo visível e as galáxias que o nosso intelec­
 to é capaz de imaginar que existam. A noção que as pessoas têm
 da realidade constitui a cosmovisão delas.
     Até onde sei, não há palavra bíblica que possa equivaler à pa­
 lavra “ cosmovisão” . Porém encontramos nas páginas das Escritu­
 ras uma atitude normativa em relação ao mundo visível e in visí­
 vel. A li existe - ainda que os teólogos não façam muita conta dis­
 so - uma teologia do mundo.
     A cosmologia é qualificada como um termo que descreve como
PANORAMA DO PENSAMENTO CRISTÃO

                   as pessoas pensam a respeito do mundo. Os astrónomos e cientis­
                  tas usam o termo para definir uma ciência do universo distante.
                   Os teólogos usam o mesmo termo para reunir doutrinas bíblicas
                  relacionadas com a origem e o destino do mundo visível — cha­
                   mado em grego (inclusive o grego do Novo Testamento) de cos­
                   mo. (O termo “ cosmético” obteve sua qualidade de beleza prove­
                   niente da admiração grega da simetria deslumbrante dos céus.)
                       A outra palavra importante no Novo Testamento grego traduzida
                  por “mundo” vai numa direção diferente. Oikoumenê descreve a
                   soma total das culturas humanas. Considerando que esta palavra
                  primeiro definia uma casa de fam ília, é fácil entender como veio
                   significar sociedade organizada, levando, por um lado, à palavra
                   “economia” e, por outro, à palavra “ ecuménico” . Assim , as pala­
                  vras bíblicas usadas para descrever o mundo foram tomadas de
                  outros significados comuns. Mas neste livro só nos preocupare­
                  mos em falar sobre uma teologia do mundo.
                      Detectei no Novo Testamento um uso duplo da idéia de mundo
                  e como os cristãos deveriam vê-lo. Há uma visão joanina do mun­
                  do — um sistema organizado de oposição humana, demoníaca até,
                  e que peca contra Deus. Deste ponto de vista, segundo um grupo
                  de passagens do Evangelho de João, das Epístolas de João e do
                  Apocalipse, os verdadeiros crentes são aconselhados a “evitar o
                  mundo” — o que pode ser chamado de “este mundo mal” , um
                  setor da sociedade que acha-se em oposição à Igreja. Este é o
                  mundo a evitar, a afastar-se, e sua existência torna necessária a
                  nossa santidade (separação do mundo).
                      O outro elemento da idéia de mundo na Escritura é paulino. A
                  visão de Paulo do mundo é mais sanguínea do que a de João. Essa
                  diferença pode refletir as diferentes experiências de suas respecti­
                  vas vidas. Tradicionalmente, João foi considerado um pescador
                  rural; Paulo, como cidadão de Roma, um sofisticado e frequente
                  viajante. Há, portanto, contrastes distintos nas atitudes de João e
                  de Paulo em relação ao mundo. Nutridos pelas Escrituras judai­
                  cas, ambos vêem Deus como o Criador de tudo o que há. Ambos
                  encaram Deus como estando no controle de todos os aconteci­
                  mentos humanos. Ambos sabem que o sistema mundial presente é
                  passageiro, que logo passará. Ambos, junto com Pedro, esperam
                  um novo céu e uma nova terra.
                      Porém, a diferença entre os dois jaz na opinião sobre o que fazer
                  no campo da cultura humana neste tempo presente. João mal conse­
                  gue achar alguma coisa boa no atual mundo de pessoas e coisas. Por
                  outro lado, Paulo eleva sua retórica majestosa em louvor do controle
                  de Deus sobre todo empreendimento humano, o que ele vê como
                  reflexos manchados, mas autênticos, da imagem de Deus residente
                  em toda pessoa e, por conseguinte, em toda cultura humana.
                      Claro que tanto João quanto Paulo levam em conta o pecado
                  para fazerem a análise fundamentalmente correta da condição hu­
                  mana falha. Ambos olham para as metáforas da transformação di-
vina da biologia — novo nascimento, segundo nascimento, vinhas
e podas, vida etema e coisa parecida. Paulo, treinado como advo­
gado, prefere a linguagem judicial — culpa, julgamento, adoção,
justificação, absolvição.
      Os cristãos pensantes podem obter ajuda de Paulo e João. As
maquinações da humanidade caída realmente agrupam-se nos
bolsões da cultura humana — pornografia, leis injustas, trapaças
 sistemáticas nos negócios ou na educação, para nomear apenas
 algumas. Os cristãos de tradições arminianas, que ressaltam a li­
berdade humana, parecem inclinar-se às obscuras visões do mun­
 do como algo a evitar, um reino do qual se separar. Tais idéias
vagas foram teologizadas especialmente nos setores metodista,
 holiness e pentecostal da Igreja.
      Porém, noções igualmente bíblicas sobre a cultura humana
 emergem dos escritos do apóstolo Paulo e aparecem em partes da
Igreja afetada pela tradição reformada. Por exemplo, considere
 esta afirmação feita por Paulo num contexto de aconselhamento
 dado aos cristãos coríntios que se limitavam aos embaixadores
 favorecidos da verdade cristã: “ Tudo é vosso: seja Paulo, seja
 Apoio, seja Cefas, seja o mundo, seja a vida, seja a morte, seja o
 presente, seja o futuro, tudo é vosso, e vós, de Cristo, e Cristo, de
 Deus” (1 Coríntios 3.21-23).
      “Tudo é vosso” , a herança dos cristãos. Tudo da cultura huma­
 na: toda arte, toda música, todos os atos heróicos da abnegação,
 toda nobreza, toda compaixão. Nada foi omitido. Tudo pertence
 ao cristão. Os heróis da fé. O violinista mestre. Os fabricantes de
 filigrana de prata pura. O evangelista eloquente. Corrie ten Boom.
 Albert Einstein. Os bosques de tigre. Paulo, Apoio e Cefas: O Se­
 nhor não pretendeu que ninguém limitasse a receptividade a qual­
 quer uma das criaturas de Deus. Tudo é vosso: todas as pessoas,
 até todas as coisas.
      O editor dos capítulos deste livro, e os próprios autores, forne­
 cem aqui recursos repletos de reflexão para que por meio deles
 possa ser construída uma cosmovisão de amplitude que mescle
 Paulo e João. Estas palavras sábias ajudarão seguidores pensati­
 vos de Jesus a saber o que evitar no mundo, do que se afastar. Mas
 também serão de ajuda na avaliação de tudo o que é bom na cultu­
 ra humana, e na consideração das reflexões coletadas das mais
 altas criaturas do Senhor que, embora manchadas e sozinhas entre
 todos os seres viventes, encarnam a imagem de Deus.
      Recomendo este livro aos cristãos pensativos de todos os
 lugares, e especialmente aos adultos jovens que estão come­
 çando a aprender a considerar a imensidão e diversidade do
 mundo de Deus.
                      — Russel P. Slittler
                      Reitor e Professor do Novo Testamento
                      no Fuller Theological Seminary
Prefácio do Editor
    O prefácio é frequentemente a parte menos lida de um livro.
Espero que este seja uma exceção, porque o objetivo deste livro e
as preocupações filosóficas que o inspiraram estão explicadas aqui.
    Conforme o título dá a entender, este livro considera certos
componentes ou fatores — elementos, como os chamo — que cons­
tituem uma cosmovisão. E um livro escrito por estudiosos cristãos
destinado a cristãos que buscam respostas claras e sólidas às ques­
tões fundamentais que estão a confrontá-los nos inúmeros aspec­
tos da vida. Mais particularmente, foi escrito para todos os cris­
tãos que se sentem intensam ente confrontados por esses
questionamentos. Alguns capítulos alicerçam-se em algumas dis­
ciplinas académicas. Outros tratam de assuntos cotidianos da vida.
E outros, ainda, concentram-se em fenómenos culturais.
    Enquanto medito na distribuição dos capítulos e as ligações
entre eles, a palavra mais descritiva que me vem à mente é monta­
gem: quadros separados foram combinados para formar um qua­
dro composto. Embora os capítulos sejam unidos uns aos outros
de vários modos, cada um pode ser lido independentemente.
    Conseqiientemente, o leitor procurará em vão por um único e
contínuo argumento do princípio ao fim . Não se trata desse tipo
de livro. Não obstante, ele exibe periodicamente certo tema recor­
rente: a integração da fé, da aprendizagem e da vida. Integrar é
coordenar ou misturar informações, fatos e conclusões num todo
funcional e unificado. Integrar a fé, a aprendizagem e a vida signi­
fica desenvolver para nós mesmo um modo completamente cris­
tão de pensar e responder a assuntos e todos os tipos de situações
da vida. Significa desenvolver uma perspectiva distintamente cristã
em todos os assuntos da fé, todos os modos de investigação e to­
das as profundas questões que a vida levanta.
    A integração em sua expressão mais rica — pensar e agir de
modo completamente cristão — não é nem facilmente alcançada,
nem alcançada de uma vez por todas. De fato, é melhor não pen­
sar nela como uma realização, absolutamente. E la é na verdade
mais um processo que continua ao longo da vida à medida que
refletimos no significado de nossa fé e intentamos permitir que
isso molde nossas respostas a novas idéias e experiências.
    Infelizmente, o que vemos com mais frequência que integração
é alguma forma de justaposição. Justapor duas coisas é pô-las uma
ao lado da outra. A interação entre elas pode ser real de certa ma­
neira, mas o âmbito da interação total está limitado, e as duas nun­
ca estão verdadeiramente unidas. O estudante de psicologia estará
tão-somente justapondo sua fé e seu curso universitário se não
pensar cuidadosamente sobre como suas convicções cristãs rela-
cionam-se com as teorias da personalidade que ele está estudando
em sala de aula. O jovem gerente empresarial está meramente jus­
tapondo sua fé e sua profissão, se ele não permite que as im plica­
PANORAMA DO PENSAMENTO CRISTÃO

               ções morais do seu sistema cristão de convicção influenciem sua
               política de administração.
                   Em geral, justapomos (ou colocamos lado a lado) nossa fé e
               nosso curso universitário, ou nossa fé e nossa profissão, ou nossa
               fé e qualquer outro aspecto de nossa vida.
                   Quando falamos da fé fazendo evidente diferença sobre como
               pensamos e nos expressamos, queremos dizer mais que simples­
               mente poder declarar nossas convicções clara e sucintamente. A
               doutrinação pode alcançar esses resultados. Mas integração e dou­
               trinação não são a mesma coisa. A doutrinação busca a aceitação
               inquestionável de respostas desenvolvidas por outra pessoa, nor­
               malmente uma figura de autoridade, enquanto que a integração
               requer que descubramos para nós mesmos, mesmo que alguém
               nos ajude no processo. A integração, mesmo quando d ifícil e do­
               lorosa, promove a fé madura.
                   Com estas distinções em mente, apresso-me em observar que
               este livro é uma tentativa deliberada de dirigir-se àqueles a quem a
               doutrinação não é uma resposta aceitável para as grandes (e d ifí­
               ceis) questões da vida. E um livro que explora idéias, conceitos e
               princípios, alguns dos quais controversos e todos resistentes a res­
               postas fáceis. Presume uma medida de maturidade por parte do
               leitor. Além disso, pressupõe e encoraja uma abordagem integra­
               da aos assuntos de que trata.
                   O primeiro capítulo apresenta os elementos básicos de qual­
               quer cosmovisão. São, segundo minha concepção: 1) ideologia,
               2) narrativa, 3) normas morais e estéticas, 4) rituais, 5) experiên­
               cia e 6) o elemento social. O restante dos capítulos lida, de uma
               maneira ou de outra, com aqueles seis elementos enquanto os ve­
               mos desenvolvidos numa cosmovisão cristã. Em cada caso, os
               autores dos capítulos se esforçaram por fornecer mais que infor­
               mação sobre suas respectivas disciplinas e campos de habilidade.
               Eles procuraram modelar o que significa pensar cristãmente —
               para verdadeiramente integrar a fé, a aprendizagem e a vida. É
               minha esperança que as palavras deles venham a servir de estímu­
               lo a muitos cristãos, para que vivenciem o significado de sua fé
               em cada aspecto de suas vidas.
                                   — Michael D. Palmer
                                   Professor de Filosofia
                                   Evangel University
Agradecimentos
    Os autores em geral isentam todas as pessoas que os ajudaram
da responsabilidade por quaisquer erros ou deficiências no texto.
Porém, mesmo que os erros e as deficiências sejam meus, o crédi­
to deles pertence a muitos amigos e colegas. Todos somos produ­
tos do que as outras pessoas nos ajudaram a ser. Com relação a
este livro, muitas pessoas ajudaram no processo — desde a for­
mação da idéia in icial até a criação do produto final — e desejo
reconhecer minha considerável dívida para com eles.
    A junta diretora editorial da Logion Press merece crédito pela
confiança depositada em mim para empreender este projeto, e pela
paciência e apoio no processo. David Bundrick, presidente da junta
quando este livro foi proposto pela primeira vez, trabalhou com
afinco para assegurar que o projeto tivesse um bom começo. Dayton
Kingsriter, que sucedeu Bundrick como presidente da junta dire­
tora editorial, dedicou muitas horas a este trabalho. Agradeço-lhe
pelo empenho como facilitador. Jean Lawson, editor administrati­
vo, e Glen Ellard , editor de publicações, foram de grande auxílio,
agradáveis e profissionais em todos os sentidos. Sou grato a Leta
Sapp pelo design do lay-out e texto. Kim Kelley fez excelente
trabalho coordenando o lay-out e design do livro. Desejo expres­
sar agradecimento especial ao Dr. Stanley Horton, editor geral,
pela atenção cuidadosa que deu aos vários desenhos de cada capítulo.
Além do mais, desejo agradecer-lhe pelo apoio moral e paciência que
me estendeu durante o desenvolvimento do livro. Acabei tendo pro­
fundo afeto por ele como pessoa e considerável respeito por sua habi­
lidade como editor. Trata-se de um homem em quem não há dolo —
um cavalheiro no mais verdadeiro sentido da palavra — e considero
um privilégio ter trabalhado com ele.
    Que prazer foi trabalhar com os autores colaboradores! Seus
escritos estimularam meu pensamento além de qualquer coisa que
eu tivesse imaginado no início.
    Localmente, a Evangel University tem sido um lugar maravi­
lhoso para eu amadurecer como estudioso desde que cheguei no
campus em 1985. Desde os primórdios deste projeto, o Dr. Glenn
H . Bemet Jr., Vice-presidente para Assuntos Académicos, deu
encorajamento para o projeto — e dinheiro! Ele tem sido o principal
responsável por eu haver recebido subsídio do Fundo para Projetos
dos Alunos/Faculdade da universidade que subscreveu as várias des­
pesas associadas com o desenvolvimento do livro.
    Muitos estudantes na Evangel University também contribuí­
ram para a qualidade global deste livro . Durante duas sessões de
verão (1996 e 1997), os estudantes de um curso de educação geral
intitulado Filosofia Cristã leram as primeiras versões de alguns
dos capítulos que aparecem aqui e fizeram comentários proveito­
sos. Estou satisfeito por terem levado a sério meu convite para
fazerem um comentário sobre todos os aspectos do manuscrito.
PANORAMA DO PENSAMENTO CRISTÃO

                     Estou em débito com vários colegas que leram e teceram co­
                 mentários sobre certos capítulos. Larry Dissmore, do Departamento
                 de Música, fez comentários sobre o capítulo de música. Turner
                 Collins, do Departamento de Ciência e Tecnologia, propôs nume­
                rosos comentários úteis no capítulo de ciência. Eu mesmo não
                poderia ter escrito meu principal capítulo sobre cosmovisão sem a
                 ajuda generosa de Tw ila Edwards (Estudos Bíb lico s) e James
                Edwards (Humanidades). Quando em certo ponto no desenvolvi­
                mento do capítulo cheguei a um impasse, eles dedicaram quase
                um fim de semana inteiro lendo o manuscrito e discutindo comigo
                numerosos assuntos organizacionais e substantivos.
                     Michael Buesking, do Departamento de Humanidades, produ­
                 ziu virtualmente todos os trabalhos de arte no texto. Os esbo­
                ços do seu lápis me são fonte contínua de satisfação e orgulho.
                 Sinto-me honrado por seus nomes aparecerem neste livro. Stan
                Maples, do Departamento de Humanidades, projetou a capa para
                 o livro. Agradeço a Stan por sua paciência em ouvir minhas idéi­
                 as para o design da capa e reconheço sua considerável habilidade
                 em transformar minhas idéias imprecisas em imagens que pren­
                dem a atenção.
                     Aos meus colegas do Departamento de Estudos Bíblicos e F i­
                losofia, que me incentivaram para que eu empreendesse este pro­
                jeto e que me proporcionaram ajuda ao longo dele, expresso meus
                agradecimentos. Gary Liddle, cujas funções pedagógicas habitu­
                ais encontram-se nos estudos bíblicos, mas que é na verdade um
                generalista ao estilo renascentista, é o herói não aclamado por trás
                deste livro. Ele crê nos conceitos, entende-os de certa maneira
                melhor do que eu e, portanto, suas palavras tiveram peso especial
                nas conjunturas cruciais ao longo do caminho. Ele ofereceu análi­
                se extensa sobre vários capítulos. Suas perguntas eram investiga­
                doras e seus comentários muito prestimosos.
                     M inha esposa, C onnie M arie , fo i e tem sido m inha
                incentivadora e minha companheira favorita— no desenvolvimen­
                to deste livro, como em tudo o mais, sine qua non.
                                      — M . D. P.
Lista de Colaboradores
    Billie Davis, Ed.D. (Administração & Sociologia, University of
Miami, Flórida), é Professor Emérito e ex-Cátedra do Departamento de
Ciências Behavioristas da Evangel University, em Springfield, Missouri.
    Twila Edwards, M.A. (Literatura Inglesa, Southwest M issouri
State U niversity), M A. (Literatura B íb lica, Assemblies of God
Theological Seminary), é Professora Associada de Estudos B íb li­
cos na Evangel University, em Springfield, M issouri.
    Johnathan David Horton, Ph.D. (M úsica, George Peabody
College for Teachers), é Professor de M úsica na Lee University,
em Cleveland, Tennessee.
    Cheryl Bridges Johns, Ph.D. (Educação C ristã, Southern
B ap tist Theo lo g ical Sem inary), é Professor A ssociado de
Discipulado e Formação Cristã no Church of God Theological
Seminary, em Cleveland, Tennessee.
    Edgar R. Lee, S.T.D. (Teologia, Em ory U niversity), é Vice-
presidente para Assuntos Académicos no Assem blies o f God
Theological Seminary, em Springfield, M issouri.
    Terrence Lindvall, M.Div. (Fu ller Theological Sem inary),
Ph.D. (Comunicação, University of Southern Califórnia), é Pro­
fessor de Cinema e Estudos de Comunicação na Regent University,
em Virginia Beach, Virgínia.
    Lawrence T. McHargue, Ph.D. (B io lo g ia, U niversity of
Califórnia, Irvine), é Professor de Biologia na Southern Califórnia
College, em Costa Mesa, Califórnia.
    Dennis McNutt, Ph.D. (Governo, Claremont Graduate School),
é Professor de História e Ciências Políticas na Southern Califórnia
College, em Costa Mesa, Califórnia.
    J. Matthew Melton, Ph.D. (Regent U niversity), é Cátedra de
Comunicação e Letras na Lee University, em Cleveland, Tennessee.
    Gregory J. Miller, Ph.D. (Estudos Religiosos — História do
Cristianismo, Boston University), é Professor Associado de H is­
tó ria E c le siá stic a no V a lle y Forge C h ristian C o lleg e, em
Phoenixville, Pensilvânia.
    C harles W. N ienkirchen, Ph.D. (H istó ria , W aterloo
U niversity), é Professor de História Cristã e Espiritualidade no
Rocky Mountain College em Calgary, Alberta, Canadá. Ele tam­
bém serve como Professor Adjunto em faculdades de graduação
de diversos seminários canadenses.
    Michael D. Palmer, Ph.D. (Filosofia, Marquette University), é
Professor de Filosofia e Cátedra do Departamento de Estudos B íb li­
cos e Filosofia na Evangel University, em Springfield, Missouri.
    Miroslav Volf, Th.D. (Teologia Sistemática, Eberhard-Karls
Universitát, Túbingen), é Professor em Teologia do Henry B .
Wright na Yale University, em New Haven, Connecticut.
    Vardaman W. White, candidato a Ph.D. (Teologia e Ética,
University of Iowa), vive e trabalha em Atlanta, Geórgia.
1
Panorama do
pensamento
  Cristão


  Michael D. Palmer
18   MICHAEL D. PALMER


                                       ão é frequente ler um livro que me surpreenda, muito me­

                               N       nos um que cause em mim uma impressão impactante. Mas
                                       fiquei surpreso e impressionado com o romance de Chiam
                              Potok, The Chosen (O Escolhido). No início do romance, Reuven,
                              o narrador, confessa: “Durante os primeiros quinze anos de nos­
                              sas vidas, Danny e eu morávamos a cinco quarteirões um do outro
                              e nenhum de nós sabia da existência do outro” .1Minha infância e
                              primeiros anos de adulto foram passados numa cidade de tama­
                              nho médio nas montanhas do Estado de Montana ocidental, Esta­
                              dos Unidos, onde eu conhecia todos os vizinhos de vários quartei­
                              rões em todas as direções. Assim , quando essa observação no li­
                              vro de Potok, minha imaginação foi instigada. Descobri, enquan­
                              to lia, que Reuven e Danny estavam impedidos de ser amigos,
                              porque seus amigos mais chegados, fam ília e especialmente seus
                              pais, tinham adotado cosmovisões competidoras. Observar a coli­
                              são destas cosmovisões impressionou minha imaginação e mar­
                              cou um ponto crucial em minha reflexão sobre as principais for­
                              ças da convicção e do sentimento que animam minha própria cos-
                              movisão cristã.

                                               Dois Meninos, Dois Mundos
                                  Reuven Malter e Danny Saunders eram meninos judeus que
                              cresceram nos anos de 1940, em um bairro densamente povoado
                              do Brooklyn. Até os anos da adolescência, não sabiam nada um
                              do outro porque pertenciam a seitas diferentes, ou da mesma ra­
                              mificação do judaísmo, com marcantes diferenças na cosmovisão.
                              A fam ília e amigos de Danny eram judeus hassídicos, profunda­
                              mente conservadores com origens na Rússia. Em sua vida cotidi-
                              ana, comunicavam-se em iídiche e observavam certas práticas cul­
                              turais que inequivocamente os identificavam como hassidim.
                                  Por exemplo, os homens usavam chapéus pretos e casacos pre­
                              tos longos, e cultivavam barbas fartas e cachos de cabelo pegados
                              aos lados do rosto; os meninos usavam cachos de cabelo pegados




    O hassidismo é um movimento judaico         incentiva a expressão religiosa jo vial por
 fundado na Polónia no século X V III por       meio da música e da dança, e ensina que a
 um homem chamado B aal Shem Tov. O             pureza de coração é mais agradável a Deus
 nome “ hassid ism o” d eriva da p alavra       do que a aprendizagem . Em 1781, os
 hassidim , que significa “ os piedosos” . O    talm udistas declararam herético o
 movimento hassídico surgiu como reação         hassidism o. Não obstante, o movimento
 às perseguições e ao formalismo académi­       continuou crescendo e hoje é uma presen­
 co do judaísmo rabínico. Desde seu início,     ça forte e vital na vida judaica.
PANORAMA DO PENSAMENTO CRISTÃO                         19
aos lados do rosto e tinham franjas no lado de fora de suas calças
compridas. A fam ília e amigos de Reuven, ao contrário, pratica­
vam uma ortodoxia judaica menos conservadora. Em sua vida
cotidiana comunicavam-se principalmente em inglês, usavam rou-




        O iídiche é um idioma do alto alemão escri­   Antes do aniquilamento de 6 milhões dejudeus
   to em caracteres hebraicos que se desenvolveu      pelos nazistas durante a década de 1940, o iídiche
   durante a Idade Média. A palavra “iídiche” é a     era a língua de mais de 11 milhões de pessoas.
   forma abreviada de iídiche daytsh, que signifi­    Embora não seja uma língua nacional, hoje o
   ca literalmente “judeu-alemão” . Os linguistas     iídiche é falado no mundo inteiro por mais de 4
   classificam o idioma como membro do grupo          milhões de judeus, especialmente nos Estados
   germânico ocidental, da subfamília germânica       Unidos, Israel, Argentina, Canadá, França, Mé­
   pertencente à família indo-européia de idiomas.    xico, Rússia, Ucrânia e Roménia.



pa americana comum e não tinham barba ou cachos de cabelo ao
lado do rosto. Enquanto tanto os Maiter e os Saunders ansiavam
pelo retorno dos judeus à sua pátria, suas ideologias ditavam ca­
minhos muito diferentes para que isso acontecesse. O pai de Danny,
o rabino Saunders, como outros na comunidade hassídica, asseve­
rava que os judeus só poderiam voltar à sua pátria depois da che­
gada do seu tão esperado Messias.
    O pai de Reuven, por outro lado, juntava-se ao sionismo, um
movimento ideológico que lutava para estabelecer o Estado de
Israel. Além de diferirem sobre assuntos políticos importantes, os
Saunders e os Maiter divergiam nas atividades cotidianas, como o




                                                  *7oná
       Torá quer dizer “ ensinos” ou “ apren­         amplo para re­
   dizagem” . Os judeus usam a palavra de             ferir-se a todos
   duas maneiras relacionadas, mas distin­            os ensinos do
   tas. Prim eiro, Torá é o nome hebraico para        ju d a ísm o , in ­
   o Pentateuco, os cinco primeiros livros da         c lu s iv e toda a
   B íb lia. A Torá, ou Le i Escrita, que os ju ­     escritura hebrai­
   deus ortodoxos acreditam que foi revela­           ca, o Talmude e
   da diretam ente por Deus a M oisés no              qualquer outra
   monte S in a i, estabelecia certas le is da        in te rp re t a ç ã o
   moral e comportamento físico . Segundo,            rab ín ica g eral­
   o nome Torá é usado num sentido mais               mente aceitada.
20      MICHAEL D. PALMER

                                   entretenimento. Danny e Reuven nunca teriam se encontrado em
                                   um teatro, porque a cosmovisão do rabino Saunders proibia assis­
                                   tir film es.
                                        Tanto o ramo hassídico de Danny quanto o ramo ortodoxo de
                                   Reuven acreditavam em Deus e ressaltavam a importância da Torá.
                                   Não obstante, os hassidim viam o povo de Reuven com suspeita.
                                   Eles os chamavam de apikorsim, termo de zombaria usado para
                                   referir-se aos judeus que abandonavam as práticas culturais tradi­
                                   cionais e negavam certas doutrinas básicas da fé judaica, como a
                                   existência de Deus, sua revelação e a ressurreição dos mortos.
                                   Também dizia respeito aos judeus que liam a Torá em hebraico e
                                   não em Iídiche, um pecado imperdoável aos olhos dos hassidim,
                                   porque o hebraico era a língua santa. Usá-la em discurso comum
                                   de sala de aula era considerado uma profanação do nome de Deus.
                                        Claro que o povo de Reuven não negava a existência de Deus.
                                   Porém, sua educação diferia de maneira notável da educação das
                                   crianças hassídicas. Enquanto a cosmovisão hassídica restringia a
                                   educação principalmente aos assuntos religiosos aprovados, a cos­
                                   movisão ortodoxa acrescentava à religião tais estudos como ciên­
                                   cia moderna e psicologia, tópicos profundamente suspeitos para o
                                   rabino Saunders.
                                        No princípio da década de 1940, com o país completamente
                                   comprometido com os esforços da guerra, alguns professores de
                                   inglês nas escolas paroquiais judaicas (yeshiva) sentiram a neces­
                                   sidade de fazer uma declaração ao “mundo gentio” . Eles queriam
                                   mostrar que os estudantes yeshiva, conhecidos por seu estilo de


                                               *7atwtude
        A palavra Ta/mude quer dizer literalmente    nhamento (escrito em aramaico) é chamado
    “ aprendizagem” ou “ instrução” . No judaísmo,   Gemara. A Gemara desenvolveu-se das inter­
    é o nome de uma obra composta de duas par­       pretações da Mishná feitas por estudiosos ju ­
    tes: A Lei Oral judaica e os comentários         deus (fariseus de c. 200 a.C. a c. 500 d .C .),
    rabínicos de acompanhamento. O texto da Lei      cujos argumentos excessivamente minuciosos
    Oral (escrito em hebraico) é chamado Mishná;     tornaram a obra fonte valiosa de informação
í   o texto dos comentários rabínicos de acompa-     suplementar e comentário.



                                    vida repleto de estudos, eram fisicamente capazes como qualquer
                                   outro. Para fazerem isso, organizaram as escolas de bairro numa
                                   liga de softball, forma modificada de beisebol jogado com bola
                                   mais macia e maior. Como era de se esperar, os rabinos que ensi­
                                   navam nas yeshivas encararam o beisebol com ceticismo. Para
                                   eles, era um nocivo desperdício de tempo. Eles temiam seu forte
                                    apelo, temiam que seduziria os jovens a abandonar sua identidade
                                   judaica, temiam que faria com que os jovens quisessem assim ilar
                                    as idéias e cultura americanas. Mas os jovens resolveram adotar o
PANORAMA DO PENSAMENTO CRISTÃO

jogo e enfrentar o preconceito de serem americanos. Para eles,
 uma vitória no beisebol entre as ligas “representou somente um
 valor menos significativo do que uma nota alta no Talmude” . O
 sucesso no beisebol permitiu-lhes considerar-se a si mesmos par­
ticipantes plenos na vida da nação: “Foi uma inquestionável mar­
 ca do americanismo, e ser considerado um americano leal tinha se
 tomado cada vez mais importante para nós durante esses últimos
 dias da guerra” .2
    Danny e Reuven encontraram-se pela primeira vez durante uma
 competição de beisebol entre suas duas escolas. Durante o jogo, o
 olho de Reuven ficou seriamente ferido, quando foi atingido por
 uma bola batida por Danny. A interação dos rapazes, inclusive sua
 consequente amizade depois do acidente, fornece base concreta
 para considerar o que significa manter uma cosmovisão. Também
 proporciona modelo proveitoso para refletir cuidadosamente e com
 precisão nas principais linhas de uma cosmovisão cristã. Na ver­
 dade, a história destes rapazes judeus merece consideração, por
 causa das importantes questões que evoca, pois são as mesmas
 que os cristãos enfrentam hoje: perguntas sobre Deus, sobre nós
 mesmos, sobre nossa comunidade, sobre o que podemos esperar,
 sobre o que temos de fazer.
     Nas páginas que se seguem, exploraremos o que significa ter
 uma cosmovisão em geral, e em particular o que significa ter uma
 cosmovisão cristã. Quando tivermos terminado, disporemos de
 (como Danny e Reuven) uma avaliação profunda das questões e
 um melhor entendimento de como nossa cosmovisão pode perma­
 necer unida.

               O que É uma Cosmovisão?
    Como definição in icial de nosso tópico, podemos dizer que
uma cosmovisão é um conjunto de crenças que a pessoa mantém.
Contudo, nem todo conjunto de crenças forma uma cosmovisão.
Alguns desses conjuntos são meramente coleções fortuitas ou sor­
timentos estranhos de crenças. Ao olhar os livros numa estante em
meu gabinete de estudos, identifico um chamado Triviata. Seu
subtítulo descreve-o como Um Compêndio de Informações Inú­
teis. Um amigo me deu o livro como uma brincadeira. As declara­
ções desconexas dos fatos que ele contém seguramente não cons­
tituem uma cosmovisão. As convicções numa cosmovisão perma­
necem unidas, de certo modo coesas. Em vez de ser uma lista de
idéias desconexas (um compêndio de informações inúteis, por as­
sim dizer), estas crenças ajustam-se umas às outras de modo uni­
ficado e formam um todo. Neste ponto, ninguém poderia encon­
trar contraste mais forte do que entre a Triviata e o Talmude.
    Na tradição judaica, o Talmude representa um esforço ao lon­
go dos séculos feito por muitos comentaristas rabínicos para che­
gar a uma interpretação unificada da L e i Oral judaica. Mesmo
22   MICHAEL D. PALMER

                         quando os rabinos diferem em suas interpretações da Le i Oral,
                         eles continuam se empenhando na busca de uma interpretação
                         unificada que não contenha nenhuma contradição.
                             No mínimo, uma cosmovisão é um conjunto de crenças que
                          são consistentes entre si e que formam um ponto de vista unifica­
                         do. Mas até esta descrição não é adequada. Por exemplo, um con­
                         junto de crenças sobre geometria, outro sobre o equilíbrio do or­
                         çamento nacional e outro sobre a navegação numa grande rede de
                         computadores como a Internet podem exibir consistência e unida­
                         de de perspectiva, mas nenhum destes conjuntos de crenças cons­
                         titui uma cosmovisão. Isto é assim por pelo menos duas razões.
                             Prim eiro, embora consistentes e unificados em seu ponto de
                         vista, são bastante estreitos em seu enfoque e lidam principalmen­
                         te com assuntos técnicos. Ao contrário, as crenças centrais de uma
                         cosmovisão abordam interesses centrais ao significado da vida hu­
                                               mana. Segundo, as crenças sobre geometria, a
                                               dívida interna ou a Internet têm poucas cone­
                                               xões diretas para as outras coisas em que acre­
  Uma cosmovisão é um conjunto de
                                               ditamos ou fazemos. O geômetra não tem de
  crenças e práticas que moldam o              aplicar seu conhecimento para construir casas;
envolvimento da pessoa nos assuntos            uma teoria sobre o equilíbrio orçamentário na­
      mais importantes da vida.                cional pode muito bem nunca ver a luz do dia
                                               além da porta do economista que a desenvol­
                                               veu; saber como navegar na Internet não diz
                                               nada sobre que tipo de informação a pessoa
                         deve procurar ou compartilhar.
                             Ao contrário, as crenças centrais de uma cosmovisão têm im­
                         plicações importantes para muitas outras crenças e práticas na vida
                         diária. Na comunidade hassídica de Danny, por exemplo, crer em
                         Deus afetou profundamente todas as outras crenças e práticas. Se­
                         melhantemente, porque acreditavam que a Torá era a lei de Deus,
                         os hassidim também acreditavam que deveriam reunir-se regular­
                         mente na sinagoga para oração e estudo. Além disso, expressaram
                         sua fé e lealdade comunitária por meio de seus rituais (ritos de
                         passagem, como o bar mitzvah para os meninos), as roupas (cha­
                         péus pretos e casacos pretos longos), aparência externa (barbas
                         fartas e cachos de cabelo pegados aos lados do rosto) e práticas
                         tradicionais (matrimónios arranjados pelos pais). Em resumo, as
                         crenças centrais de uma cosmovisão não são estreitas em seu foco,
                         mas tocam quase todas as outras crenças e práticas daqueles que
                         mantêm-se fiéis à cosmovisão.
                             As questões enfrentadas por pessoas como Danny e Reuven na
                         tradição judaica e por pessoas pensativas na tradição cristã são
                         realmente questões sobre nossas crenças e práticas mais básicas.
                         Quer estejamos cientes disso ou não, nossas crenças centrais e
                         práticas formam um ponto de vista ou perspectiva que é distinta­
                         mente nosso. Esta perspectiva distintiva constitui nossa cosmovi­
                         são-, nossas várias crenças centrais e práticas são os elementos dessa
PANORAMA DO PENSAMENTO CRISTÃO            23
cosmovisão. Uma cosmovisão é um conjunto de crenças e práti­
cas que moldam a abordagem da pessoa aos assuntos mais impor­
tantes da vida. Por meio de nossa cosmovisão, determinamos pri­
oridades, explicamos nossa relação com Deus e com os seres hu­
manos, avaliamos o significado dos acontecimentos e ju stifica­
mos nossas ações.
    Nossa cosmovisão também influencia as práticas mais comuns
da vida cotidiana, inclusive os tipos de coisas que lemos e vemos,
os tipos de entretenimento e atividades de lazer que buscamos,
nossa abordagem ao trabalho e muito mais.

             Quem Tem uma Cosmovisão?
     Qualquer pessoa capaz de considerar esse assunto tem uma
cosmovisão. O modo como falamos e agimos dá evidência que
temos uma cosmovisão. Isto mostra que mantemos certas crenças,
que adotamos determinado conjunto de prioridades, que certas
histórias nos impressionam como particularmente eficazes e pro­
váveis de mexer conosco, e que certas práticas e situações sociais
têm importância especial para nós.
     Claro que não é verdade que todas as pessoas que têm uma
cosmovisão a possuem precisamente da mesma maneira. A cos­
movisão de algumas pessoas só existe no sentido de que herdaram
um conjunto de crenças e práticas de sua fam ília e comunidade
imediata. Elas não entendem suas crenças e não alcançam o signi­
ficado maior de suas ações. Acreditam e agem __________________
de forma não crítica e ingénua em vez de um
modo auto-reflexivo. Na grande maioria das                Quem tem uma cosmovisão?
vezes explicarão por que acreditam ou fazem
                                                         Todas as pessoas capazes de
algo, referindo-se às tradições da fam ília, aos
padrões da igreja ou à afiliação partidária po­             considerar esse assunto.
lítica. Em resumo, elas só têm uma cosmovi­
são no sentido de que outra pessoa a impôs
nelas, e não porque elas refletiram cuidadosamente sobre as ques­
tões importantes e escolheram sua cosmovisão.
     Não é incomum para os indivíduos que tão-somente herdaram
sua cosmovisão presumirem que as crenças e práticas de todo o
mundo são semelhantes às suas. Não desafiados por qualquer ou­
tro ponto de vista, eles podem tornar-se apáticos com relação ao
seu próprio ponto de vista. Em meados dos da década de 60, numa
canção intitulada “Nowhere Man” (O Homem de Nenhum Lu ­
gar), os Beatles capturaram o sentido da vida para aquele que cres­
ceu indiferente à sua cosmovisão.3 De acordo com a letra da can­
ção, o homem de nenhum lugar ocupa um lugar na terra de ne­
nhum lugar fazendo planos sem sentido para ninguém. Ao que
tudo indica, ele não faz a mínima idéia para onde vai. Talvez no
ponto mais comovente da canção, ouvimos que o homem de ne­
nhum lugar “não tem um ponto de vista” . A frase levanta pergunta
24    MICHAEL D. PALMER

                         constrangedora: É possível não ter nenhum ponto de vista? Prova­
                         velmente não. E mais provável é que o verdadeiro problema do
                         homem de nenhum lugar não seja que ele não tenha literalmente
                         nenhum ponto de vista. Seu caso é pior. Ele é indiferente ao único
                         ponto de vista que lhe é fam iliar. Portanto, ele pode muito bem
                         não ter um porque não tem nenhuma idéia para onde está indo
                                               na vida.
                                                   A descoberta de que nem todo o mundo
     "Somos os capitães de nosso               segue os padrões de crença e prática similares
                                               às suas próprias pode surgir como um desper­
 destino e os mestres de nossa alma
                                               tar abrupto. Quando isso ocorre, dois tipos de
  em nossa capacidade de decidir               reação são comuns. Algumas pessoas reagem
   acerca da vida que levamos".                defensivamente. Elas se retiram para trás dos
                  — Vincent E. Rush            dogmas memorizados e dos clichés familiares
                                               e geralmente adotam a posição de que não têm
                                               nada a aprender de estranhos. (Em The Chosen,
                                               os hassidim — particularmente os adolescen­
                         tes jovens — adotaram esta postura em relação aos judeus não-
                         hassídicos.) Outras pessoas reagem com embaraço.
                             Ao compararem suas crenças ou práticas com as dos outros, as
                         suas podem parecer sem importância, triviais ou ingénuas. Elas
                         podem tentar menosprezá-las ou mesmo escondê-las quando
                         interagem com estranhos. (Uma das questões que Danny enfren­
                         tou quando foi para a universidade foi se deveria cortar seus ca­
                         chos de cabelos e usar roupas que não o identificassem como ju ­
                         deu hassídico.) Defesa e embaraço frequentemente são sinais de
                         imaturidade. Indicam que o indivíduo em questão não está com­
                         pletamente confortável com sua própria cosmovisão.
                             Estamos falando sobre o modo como as pessoas obtêm sua
                         cosmovisão. Alguns indivíduos, já dissemos, meramente herdam
                         sua cosmovisão. Aqueles que obtêm sua cosmovisão apenas por
                         este meio limitado podem muito bem tornar-se apáticos ou indife­
                         rentes a ela. Ou, se inesperadamente encontram alguém que tenha
                         uma cosmovisão diferente, podem reagir defensivamente ou com
                         embaraço. Por outro lado, uma cosmovisão pode ser obtida por
                         escolha. Escolher, no sentido pretendido aqui, não significa sim­
                         plesmente que a pessoa escolhe uma cosmovisão dentre várias
                         opções disponíveis — como se fosse uma criança que escolhe um
                         cachorrinho numa loja de animais domésticos.
                             Escolher também não significa que a pessoa rejeita a cosmovisão
                         herdada. Escolher diz respeito a um processo deliberativo que é qua­
                         se mais um estilo do que uma ação. Prontidão, consciência, auto-
                         reflexão, estar presente nas alternativas — tudo isso significa o que se
                         pretende dizer por escolha. Escolher significa que a pessoa não é
                         lançada ao sabor do vento como os despojos que o mar da vida traz à
                         praia. Como certo autor ressaltou: “Podemos não ser os capitães de
                         nosso destino e os mestres de nossa alma, com capacidade total para
                         controlar o ambiente que nos cerca, mas somos os capitães de nosso
PANORAMA DO PENSAMENTO CRISTÃO                   25

destino e os mestres de nossa alma em nossa capacidade de decidir
acerca da vida que levamos...”4Em suma, o indivíduo que escolhe é o
oposto do homem de nenhum lugar dos Beatles.
    Toda pessoa capaz de refletir sobre as questões da cosmovisão
já tem uma cosmovisão? A pergunta crítica é: Como afinal de contas
se obtém essa cosmovisão. Obtê-la como herança da fam ília e da
comunidade imediata pode ser uma boa forma de começar. Na
verdade, esse é o modo como todo o mundo obtém uma cosmovi­
são. Mas em certo sentido importante, uma cosmovisão herdada
ainda não é inteiramente da pessoa. Tê-la inteiramente como sua
— vivenciá-la com convicção e acreditar nela com entendimento
— requer que o indivíduo a escolha. Aquele que escolhe uma cos­
movisão tomando-a uma questão de escolha deliberada e reflexi­
va não ficará apático ou indiferente a ela. Nem é provável que tal
indivíduo se porte defensivamente ou fique envergonhado com ela.
Finalm ente, aquele que escolhe uma cosmovisão está melhor
posicionado para avaliar as deficiências de sua própria cosmovi­
são e para aprender de outras cosmovisões.


           ‘ eâ&uçâa de ‘r¥oCme& de uma,
           D
       Nas últimas décadas, os cristãos têm en­         3. É um processo exploratório, sondan­
   frentado tremendos desafios intelectuais em      do a relação de uma área após a outra para a
   várias frentes. E o menor deles certamente       perspectiva unificada.
   não é o de enunciar uma cosmovisão que sir­          4. É pluralista no sen­
   va para as doutrinas centrais da fé do cristi­   tido de que a mesma pers­
   anismo e ao mesmo tempo funcione adequa­         pectiva básica pode ser
   damente como resposta aos desenvolvimen­         enunciada de maneiras um
   tos contemporâneos da ciência empírica, da       tanto diferentes.
   teoria moral, das artes e da filosofia. Um dos       5. Tem resultados de
   líderes em enfrentar este desafio desde a se­    ação , pois o que pensamos
   gunda metade do século X X tem sido o filó ­     e o que avaliamos guiam
   sofo Arthur Holmes. No trecho apresentado        o que faremos.”
   a seguir, Holmes oferece um resumo dos               Este trecho é um
   principais critérios de uma estmtura intelec­    excerto de The Making of
   tual que pode de maneira justa ser chamada       a C hristian Mind, A
   de cosmovisão.                                   Christian World View & the Academ ic
       “ Uma cosmovisão global apresentará as       Enterprise (A Estrutura de uma Mente C ris­
   seguintes características:                       tã, Uma Cosmovisão Cristã e o Empreen­
       1. Tem uma meta globalizada, buscando        dimento A cad ém ico). Downers G rove,
   ver cada área da vida e do pensamento de         Illin o is: InterV arsily Press, 1985, p. 17.
   uma forma integrada.                             Outras obras notáveis de Holmes são AI.I
       2. E uma abordagem sob um determina­         Truth is G od’s Truth (Toda Verdade é a
   do aspecto, versando as coisas de um ponto       Verdade de D eus) e C ontours o f a
   de vista previamente adotado que agora pro­      Christian Worldwide (Contornos de uma
   porciona uma estrutura integrada.                Cosmovisão C ristã).
Elementos de Uma Cosmovisão
    Uma cosmovisão bem desenvolvida fornece tipicamente um
amplo quadro das preocupações essenciais da vida. Portanto, uma
cosmovisão bem desenvolvida evidencia em geral certos compo­
nentes ou elementos essenciais. Na ciência como a química, um
elemento é uma substância fundamental que consiste em átomos
de um só tipo. Usamos a palavra elemento deste modo quando
falamos de elementos químicos, como o hidrogénio ou o hélio da
tabela periódica. Na matemática um elemento é um membro bási­
co de uma questão matemática ou lógica. Na fé cristã, usamos a
palavra elementos (plural) para nos referirmos ao pão e ao vinho
associados com a memória da última ceia de Cristo.
    Entretanto, dentro do contexto de falar sobre cosmovisão, um
elemento é mais como um aspecto definível de como os seres hu­
manos explicam e praticam o que acreditam. Uma cosmovisão
bem desenvolvida mostra caracteristicamente pelo menos seis ele­
mentos distintos.5 Podem ser descritos sucintamente da seguinte
forma:
    1. Ideologia. O elemento ideológico de uma cosmovisão con­
siste em crenças centrais. Estas crenças normalmente são expres­
sadas de uma maneira formal e precisa, como nas proposições fi­
losóficas, declarações de credo, fórmulas autorizadas ou doutri­
nas. A ideologia de uma cosmovisão também é geralmente ex­
pressada de um modo sistemático, significando que algum esfor­
ço é feito para assegurar que as declarações chaves sejam consis­
tentes entre si. Em The Chosen, o rabino Saunders ensinou a Danny
as ideologias do hassidismo mediante estudo intensivo do Talmude.
    2. Narrativa. O elemento narrativo de uma cosmovisão reconta
certos eventos significativos da história daqueles que mantêm a
cosmovisão. Em alguns casos, as narrativas também tratam de
eventos futuros. As narrativas podem ser sobre muitas coisas, por
exemplo, uma pessoa famosa, a fundação de um povo ou nação, o
começo do mundo ou a interação de alguém com Deus ou com
práticas religiosas. Com frequência, os narradores expressam es­
ses eventos em escritos sagrados, mitos, contos históricos, históri­
as, lendas ou até na letra de um hino.
    As vezes, os artistas também representam temas narrativos em
pinturas ou outras formas de arte. Se a ideologia expressa crenças
centrais em linguagem precisa e formal, as narrativas expressam
crenças centrais pelo exemplo, imagem, símbolo ou metáfora. As
histórias bíblicas de Abraão, Isaque e Jacó são centrais para a cos­
movisão hassídica.
    3. Normas. Uma norma é um padrão de algum tipo. Quando se
trata de uma cosmovisão, dois dos mais importantes tipos de nor­
mas são as normas morais ou éticas e as normas estéticas. As nor­
mas estéticas proporcionam base para a tomada de decisão sobre
o que é bonito, agradável ou sublime.6 A s normas morais estabe­
PANORAMA DO PENSAMENTO CRISTÃO              27
lecem exigências para a conduta correta, estipulam nossas res-
ponsabilidades e geralmente nos explicam que tipo de pessoa de­
vemos ser. Em The Chosen, o lugar das normas morais no judaís­
mo emerge vigorosamente em certo ponto, quando Danny visita
Reuven no hospital logo depois de ferir-lhe o olho. Com raiva de
Danny, Reuven a princípio recusa-se a falar, mas depois explode:
“Vá para inferno e leve junto esse seu grupo esnobe de hassidim ” .
Quando o senhor Malter fica sabendo da atitude indelicada de
Reuven, diz: “Você fez uma coisa tola, Reuven. Lembre-se do que
diz o Talmude. Se alguém vem se desculpar por tê-lo ferido, você
tem de ouvi-lo e perdoá-lo” .7
    Estes três elementos de uma cosmovisão — ideologia, narrati­
va e normas — formam um complicado padrão de crenças. Con­
tudo, este padrão não existe meramente na teoria. Ele se torna
vital e dinâmico no contexto da experiência e da prática. No juda­
ísmo ortodoxo, por exemplo, as crenças acerca de Deus (ideolo­
gia) não são meros conceitos sobre alguma deidade neutra e dis­
tante considerada como o Mestre do Universo.8E le é um ser que é
ativamente adorado. Os hassidim retratados em The Chosen oram
a Ele nas sinagogas do bairro e falam sobre Ele nas casas, ruas e
lojas. Sua influência é sentida em todas as facetas de suas vidas,
porque eles acreditam que são seu povo escolhido. A história (nar­
rativa) que eles recontam sobre os atos de Deus na história do
povo deles é célebre e representada de novo em certos rituais, como
aqueles associados com a Páscoa e o Hanuká. As narrativas cen­
trais juntamente com os rituais tradicionais evo­
cam intensas experiências para o crente.
    4. Ritual. Um ritual é um ato cerimonial                Estes três elementos de uma
executado periodicamente em ocasiões espe­
                                                    cosmovisão — ideologia, narrativa e
ciais. E projetado a representar novamente ou
recordar um acontecimento especial. Um ritu­         normas — formam um complicado
al pode ser sombrio ou festivo, formal ou in­                    padrão de crenças.
formal. Em todo caso, os rituais proporcionam
uma ocasião para se refletir no significado das
crenças centrais do indivíduo e evocam uma resposta afetiva a
essas crenças. Ambas as funções são tencionadas a integrar os pa­
drões de crença no trama da vida interior e no caráter da pessoa.
Por exemplo, observar a Páscoa envolve celebrar e, de certo modo,
reviver a libertação dos hebreus da escravidão egípcia descrita no
Livro de Êxodo.
    5. Experiência. Quando falamos do elemento experiencial de
uma cosmovisão, queremos dizer o modo como alguém se dá con­
ta vivamente das verdades expressadas nas crenças centrais. As
crenças já não parecem abstratas e distantes. Ao invés disso, tor­
nam-se imediatamente presentes. Os hassidim são famosos por
nutrir experiências altamente místicas e pessoais.
    6. Elemento Social. As crenças centrais de qualquer cosmovi­
são evaporarão como a névoa ao sol da manhã, se não estiverem
embutidas numa situação social. Isto é assim porque a situação
social fornece as estruturas organizacionais e outros meios que
permitem que as crenças sejam perpetuadas de uma geração para
outra. Uma das características mais notáveis de The Chosen é o
modo como Potok fornece insight na vida comunitária hassídica.
Cada seita hassídica tinha seu próprio rabino, sua própria sinago­
ga e yeshiva, seus próprios costumes, suas próprias lealdades fer­
renhas. Em um comentário bastante expressivo sobre a vida na
comunidade, Reuven diz: “Em um sábado ou manhã festiva, os
membros de cada seita podiam ser vistos caminhando para as suas
respectivas sinagogas, vestidos com seus trajes particulares, ansi­
osos para orar com seu rabino particular e esquecer o tumulto da
semana...” 9
    Comentamos anteriormente que uma cosmovisão é um con­
junto de crenças e práticas que moldam a abordagem de uma pes­
 soa para as mais importantes (e muitas outras) questões da vida.
Todo mundo, dissemos, tem uma cosmovisão. Também fizemos
uma descrição breve de seis elementos mais importantes de uma
cosmovisão. A seguir, examinaremos estes seis elementos com mais
detalhes em preparação à descrição de uma cosmovisão cristã.

                     O Elemento Ideológico
     A s cosmovisões geralmente surgem da experiência e das nar­
rativas que exemplificam e desenvolvem-se nessa experiência. Mas
as experiências variam de uma pessoa para outra, e as narrativas
por sua própria natureza prestam-se a múltiplas interpretações. Por
 estes motivos as cosmovisões comumente desenvolvem um con­
junto de declarações autorizadas que constituem seu elemento ide­
 ológico. Estas declarações formam uma estrutura central, ou sis­
tema, para explicar a realidade. Já nos referimos a elas como cren­
 ças centrais. Por exemplo, o judaísmo ortodoxo expressa diversas
 crenças centrais, entre elas: Há um só Deus, Deus criou o mundo,
 Deus está ativamente envolvido na história. Estas crenças essenci­
 ais são parte do elemento ideológico do judaísmo ortodoxo. Estas
 doutrinas (e outras importantes) explicam a natureza de Deus e
 sua relação com o resto da criação, inclusive os seres humanos.

   F u n ç õ e s G e r a is   da   I d e o l o g ia
    O elemento ideológico de uma cosmovisão exerce diversas
funções. Uma dessas função é trazer ordem e coerência à vasta
série de dados proporcionados na experiência. Superficialmente,
as coisas que vivenciamos parecem não ter nenhuma relação uma
com outra. Além disso, as experiências de uma pessoa afiguram-
se não ter conexão com as de outra pessoa, especialmente se a
outra pessoa mora em outro país ou se viveu no passado. Mas a
ideologia pode fornecer um senso de ligação entre eventos apa­
rentemente discrepantes e entre pessoas separadas geograficamente
PANORAMA DO PENSAMENTO CRISTÃO              29
e pelo tempo. Este ponto é vividamente notório na ideologia do
judaísmo. Durante o tempo em que Moisés estava procurando as­
 segurar a libertação dos hebreus, as pragas que sobrevieram aos
egípcios não eram catástrofes simplesmente fortuitas e isoladas.
Faziam parte de um destino maior: A obra de Deus nos eventos
históricos. O judaísmo também nutriu sempre um forte senso de
identidade do seu povo. Os judeus não são
meros indivíduos isolados, mas membros de
um povo histórico. Os Livros da Le i os lem­
                                                            As cosmovisões comumente
bram desta conexão histórica com seus ante­
passados. No Livro de Deuteronômio, quando               desenvolvem um conjunto de
Moisés está a ponto de pronunciar os manda­               declarações autorizadas que
 mentos de Deus, ele diz: “ O SEN H O R, nosso       constituem seu elemento ideológico.
Deus, fez conosco concerto, em Horebe [mon­
 te Sinai]. Não foi com nossos pais que fez o
 SEN H O R este concerto, senão conosco, todos os que hoje aqui
 estamos vivos” (Deuteronômio 5.2,3). Os indivíduos a quem estas
 palavras foram ditas não estavam presentes quando o concerto foi
 feito em Horebe. Não obstante, o concerto é válido para eles em
 cada detalhe tanto quanto o era para seus antepassados, porque
 eles são parte de um povo escolhido por Deus desde tempos
 imemoriais. Em resumo, uma função da ideologia é trazer ordem
 e coerência à experiência.
     Uma segunda função é fornecer base para avaliar os valores,
 os insights e as declarações de conhecimento dos outros. Tem ha­
 vido poucas épocas na história humana em que os partidários de
 qualquer determinada cosmovisão viveram uma geração inteira,
 ou mesmo várias gerações, sem encontrar pessoas cuja cosmovi­
 são diferia radicalmente da deles. Mesmo os mais isolados povos
 ocasionalmente interagiam com estranhos. No ponto do fato his­
 tórico, a maioria dos povos interagia com estranhos de maneira
 frequente e diversa, desde o comércio à guerra e à troca cultural.
     Sempre que ocorre interação entre uma pessoa e outra, a per­
 gunta surge naturalmente: Como iremos avaliar e dar sentido àquilo
 que estas pessoas (os estranhos) dizem e fazem? A ideologia da
 cosmovisão do indivíduo fornece uma estrutura de referência para
 responder à pergunta.
     Quando Daniel e outros membros jovens da nobreza judaica
 foram levados cativos para a Babilónia no século V II a.C ., eles
 mantiveram sua identidade, enfrentaram e venceram a cosmovi­
 são de seus captores, em parte porque estavam bem fundamentos
 em sua própria cosmovisão. Eles julgaram o que era bom e mau,
 certo e errado, proibido e permitido. Mas sem uma compreensão
 clara das crenças centrais de seus captores, eles facilmente pode­
 riam ter sido assimilados pela vida e cultura babilónicas.
     Uma terceira função do elemento ideológico é definir a comu­
 nidade. Em outras palavras, a ideologia ajuda a separar as pessoas
 íntimas dos estranhos, aqueles que pertencem ao grupo daqueles
30   MICHAEL D. PALMER

                                que não pertencem ao grupo. Em cada cosmovisão, as crenças
                                tipicamente aceitas por aqueles que mantêm-se fiéis à determina­
                                da cosmovisão formam uma estrutura, um esqueleto, que dá for­
                                ma ao mundo como percebidas pelos membros da comunidade.
                                Enquanto normalmente há alguma abertura em como interpretar e
                                aplicar as crenças centrais, qualquer um que estira demasiadamente
                                os lim ites arrisca ser separado da comunidade. Grandes diferen­
                                ças nas crenças centrais não podem em geral ser toleradas indefi­
                                nidamente.
                                    Considere, por exemplo, que os cristãos da Igreja prim itiva
                                eram judeus. Uma profunda divisão ideológica aconteceu quase
                                que imediatamente dentro do judaísmo, porque os seguidores de
                                Jesus declararam que Ele era divino e igual a Deus — uma noção
                                ideológica inaceitável para os judeus ortodoxos.
                                   C o n t e ú d o I d e o l ó g ic o G e r a l
                                    As cosmovisões que de outra forma diferem uma da outra em
                                seu conteúdo específico — mesmo aquelas que são radicalmente
                                opostas uma a outra — mostram uma semelhança interessante no
                                modo como desenvolvem seu conteúdo ideológico em geral. Em
                                outras palavras, as cosmovisões tendem a falar sobre tópicos se­
                                melhantes. Por exemplo, as cosmovisões naturalistas (como o
                                existencialismo ateísta marxista) e as cosmovisões teístas (como
                                o judaísmo ou o cristianismo) divergem em muitos pontos impor­
                                tantes. Elas são tão diferentes em alguns pontos que entram em
                                conflito uma com a outra, às vezes até se contradizem. Não
                                obstante, falam sobre tópicos similares. Por exemplo, ambas ex­
                                pressam visões ideológicas sobre o que existe e ambas fazem as-
                                severações sobre a natureza humana. Vamos examinar estes tópi­
                                cos mais de perto.




            ~j       O alem ão K a rl M arx          apelava aos direitos naturais para justificar
                 (1818-1883) fo i o filósofo         a reforma social. M arx invocou o que acre­
                 social e revolucionário que         ditou ser as leis da história que inevitavel­
                 viveu e escreveu na plenitu­        mente levariam ao triunfo da classe operá­
                 de da Revolução Industrial          ria. M arx foi exilado da Europa depois das
                 do século X IX . E le e             revoluções de 1848. Em sua monumental
                 Friedrich Engels são conside­       obra O Capital (3 volumes, 1867-1894), a
                 rados os fundadores do mo­          qual foi escrita quando ele morava em Lon­
                 derno socialismo e do comu­         dres, M arx apresentou uma crítica cortante
                 nismo. Com Engels, ele es­          à teoria económica capitalista e desenvolveu
                 creveu o Manifesto Comunis­         uma teoria económica própria.
 ta (1848) e outras obras que quebraram a tra­           Para mais informações sobre M arx, veja o
 dição de teoristas como John Locke, que             Apêndice 3, “K arl M arx” , no fim deste livro.
PANORAMA DO PENSAMENTO CRISTÃO


   T e o r ia   de   F undo   sobre o que   E x is t e
    A s declarações ideológicas gerais sobre o que existe constitu­
em o que podemos chamar de teoria de fundo sobre a natureza do
universo. Uma teoria de fundo aborda pelo menos três tópicos: o
cosmo, Deus e a história.1  0
    O Cosmo. A expressão cosmo foi usada pela primeira vez pe­
los gregos antigos para referir-se a algo formoso e sistematica­
mente organizado — como as linhas numa tapeçaria. O oposto de
cosmo era o caos ou a desordem. Desde então, os gregos usaram o
termo para descrever o arranjo ordenado e harmonioso das estre­
las e dos planetas como apareciam no céu à noite. Hoje, o signifi­
cado do termo foi ampliado para incluir não só a harmonia dos
corpos celestiais, mas o universo em geral — literalmente, tudo o
que existe.
    Inclui as coisas que prontamente vemos como também as coi­
sas difíceis de se ver, por exemplo, os elétrons. Também inclui
coisas que não podemos ver de jeito nenhum, mas que podemos
apenas pensar nelas, como números, conceitos, leis da natureza.
Apesar destas mudanças em seu uso nos tempos modernos, o ter­
mo cosmo ainda levanta questões que os gregos antigos pondera­
vam. Se os corpos celestiais no céu à noite estão distribuídos de
um modo ordenado e harmonioso, o que explica essa ordem e har­
monia? Alguém ou algo os organizou de acordo com algum plano,
ou sua aparência é só produto do acaso?
    Uma cosmovisão naturalista é aquela que nega que qualquer
evento ou objeto tenha algum significado sobrenatural. As moder­
nas cosmovisões naturalistas asseveram que leis científicas ou
princípios são adequados para explicar todos os fenómenos, tais
como o arranjo dos corpos celestiais e o movimento dos elétrons.
Uma cosmovisão teísta, por contraste, é aquela que adota a idéia
de que poderes sobrenaturais desempenham um papel no desdo­
bramento dos eventos. Portanto, as cosmovisões teístas de hoje
rejeitam a reivindicação de que as leis científicas em si podem
explicar o mundo e a nossa experiência dele. O marxismo e o
existencialismo ateísta são exemplos de cosmovisões naturalistas.
O judaísmo, o islamismo, o hinduísmo e o cristianismo são exem­
plos de cosmovisões teístas.
    Deus. É bastante óbvio que nem todas as cosmovisões reco­
nhecem a existência de Deus. Entretanto, todas as principais cos­
movisões afirmam, ou pelo menos implicam, uma posição relati­
va à existência dEle. O judaísmo, o islamismo e o cristianismo
como cosmovisões teístas têm muito a dizer em suas declarações
ideológicas, doutrinárias, sobre a existência de Deus, seus atribu­
tos, suas atividades. Como era de se esperar, o marxismo, como
cosmovisão naturalista, tem menos a dizer sobre Deus. Não
obstante, não ficou calado no assunto nem é neutro. O próprio
M arx negava a existência de Deus. De fato, ele é famoso por ter
declarado que a religião é “ o ópio do povo” , querendo com isso
32   MICHAEL D. PALMER

                                afirmar que a vida de fé é enganosa e ilusória: Não oferece espe­
                                rança alguma para resolver os problemas existenciais, e só é bem-
                                sucedida em encobri-los temporariamente.
                                    A História. Toda importante teoria de fundo do universo tam­
                                bém afirma ou im plica algo sobre a história em sua ideologia. As
                                cosmovisões teístas enfatizam a obra de Deus no fluxo da histó­
                                ria. Elas destacam o modo como Deus usa as pessoas e os aconte­
                                cimentos, em momentos e em locais específicos, para cumprir seus
                                propósitos supremos, que são infinitos.
                                    Por exemplo, o hassidismo, tanto na realidade quanto descrito
                                no romance de Potok, identifica um homem chamado Baal Shem
                                Tov como alguém especialmente chamado por Deus em cerca de
                                1750 para viver uma vida piedosa e ensinar os outros a viver pia­
                                mente. (Hassidim quer dizer “ os piedosos” .)
                                    O judaísmo em geral também tem um forte senso da interven­
                                ção de Deus na história: Deus criou o universo e os seres humanos
                                (Génesis 1— 2), deu uma promessa histórica a Abraão (“ Por pai
                                da multidão de nações te tenho posto” [Génesis 17.5]) e até usou
                                os inimigos dos hebreus (por exemplo, Faraó e Ciro) para cumprir
                                seus propósitos. Uma cosmovisão cristã diverge de qualquer cos­
                                movisão judaica em um aspecto crucial: Jesus, ao mesmo tempo
                                divino e humano, é a figura central no relato do tratamento de
                                Deus para com a humanidade.
                                    As cosmovisões naturalistas afirmam uma visão cegamente
                                mecânica da história. A história é o produto dos seres humanos
                                interagindo entre si e com as forças naturais impessoais. Entretan­
                                to, os naturalistas estão divididos no que tange a se a história exi­
                                be padrões — quer sejam de progresso ou de regresso. O filósofo
                                francês Jean-Paul Sartre rejeitou qualquer noção da ordem natural
                                “participante” , ou que ela seja responsável por qualquer coisa como



                                       eanr
                        O francês Jean-Paul       causa do seu envolvimento com as forças da
                    Sartre (1905-1980) foi fi­    resistência francesa e em parte por causa do
                    lósofo, dramaturgo e no-      seu brilho filosófico, depois da guerra Sartre
                    velista. A partir de 1936,    emergiu como figura dominante no m ovi­
                    publicou estudos filosó­      mento existencialista francês. (3 próprio
                    ficos e romances, sendo       Sartre era ateu. Durante os anos imediatos
                    os mais notáveis A Náu­       depois da guerra, ele escreveu vários roman­
                    sea (1938) e O Muro           ces e peças teatrais que lhe deram fama mun­
                    (1939). Durante a Segun­      dial.
                    da Guerra M undial, ele           Para informações adicionais, veja Apên­
 completou sua obra filosófica mais impor­        dice 2, “ Jean-Paul Sartre” , no final deste
 tante, O Ser e o Nada (1943). Em parte por
PANORAMA DO PENSAMENTO CRISTÃO

o progresso histórico. Para ele, a natureza não tem nenhum propó­
sito último, nenhuma intenção, nenhuma direção — simplesmen­
te existe.
    Por outro lado, K a rl M arx, que certamente rejeitava qualquer
noção de propósito divino ou plano para a história, declarou que a
natureza mostra padrões de progresso. Os seres humanos são par­
te da natureza; portanto, também mostram padrões de progresso
em sua história.

    Relato da Natureza Humana
    Além de fornecer uma teoria de fundo do universo, as cosmo­
visões oferecem um relato geral do que significa ser humano. Este
relato trata de certos temas importantes da teoria de fundo. Por
exemplo, se a teoria de fundo rejeita (ou é silenciosa sobre) a no­
ção de que o universo tem um propósito e um destino último, en­
tão o relato associado da natureza humana também rejeitará (ou
estará silencioso sobre) se a pessoa individual tem um propósito
ou um destino último.
    Semelhantemente, se a teoria de fundo diz que o universo tem
um propósito e um destino último, então o relato associado da
natureza humana expressará a mesma visão sobre a pessoa in divi­
dual. Sartre, um existencialista ateísta, retrata o universo como
totalmente destituído de propósito e destino último. A natureza
não existe para os seres humanos. Na verdade, a natureza não
existe para qualquer coisa. Simplesmente existe — sem plano,
propósito, intenção, esperança ou destino.1 (Certo personagem em
                                            1
um dos romances de Sartre, percebendo este ponto enquanto pon­
dera junto às raízes de um castanheiro gigante, sente repugnância
pelo pensamento e vom ita.)1 Consistente com esta visão do uni­
                              2
verso, Sartre afirma que os seres humanos, no início da vida, tam­
bém carecem de qualquer propósito essencial ou destino. Nem
Deus nem a natureza dão significado à vida. Se a vida algum dia
vier a ter um propósito ou significado, acontecerá apenas porque a
pessoa escolhe tomá-la significativa.
    Por contraste, o judaísmo e o cristianismo asseveram que Deus
criou o universo, que E le está atuando no universo para pôr em
execução seus propósitos, e que o universo tem um destino último
de acordo com o seu plano. E a humanidade se ajusta no propósito
último de Deus para o universo? Sim , com certeza! O livro de
Génesis, sagrado tanto para o judaísmo quanto para o cristianis­
mo, declara que fomos feitos à imagem de Deus. Potok, referin­
do-se ao fundador do hassidismo, diz: “ Ele os ensinou que o pro­
pósito do homem é tornar a vida santa — cada aspecto da vida:
comer, beber, orar, dormir” .13
    Obviamente que uma cosmovisão que descreve o indivíduo
como tendo um propósito e um destino último também expressará
um conjunto de ideais para cada pessoa. Esses ideais podem ser
traços de caráter interior. Por exemplo, o apóstolo Paulo, falando
34   MICHAEL D. PALMER

                         no século I d .C ., descreve a tarefa de cada pessoa como a de confor­
                         mar-se à imagem de Cristo. E le estabelece certos ideais de caráter
                         em referência a Jesus. Cada pessoa tem de esforçar-se para encarnar
                         os ideais de caráter modelados por Jesus, inclusive a integridade
                         pessoal, a humildade, a mansidão, a paciência, o amor e a compai­
                         xão. Os ideais também podem ser expressos como situações soci­
                         ais. Os antigos profetas judeus, por exemplo, exaltavam a justiça
                         como um ideal social. Para eles, a sociedade justa seria aquela em
                         que o pobre e o fraco seriam adequadamente cuidados.
                             Se as cosmovisões propositadas parecem naturalmente expres­
                         sar ideais para seus partidários, as cosmovisões naturalistas tam­
                         bém oferecem ideais? A resposta parece ser um qualificado sim.
                         Como observamos anteriormente, M arx negou a existência de
                         Deus. Portanto, ele não deixou lugar em sua cosmovisão para um
                         conceito de propósito divino para os seres humanos. Neste sentido, a
                         humanidade não tem nenhum destino e nenhum ideal a alcançar.
                             Porém M arx reivindicou descobrir padrões de progresso na
                         história humana: E le raciocinou que os seres humanos progredi­
                         ram do antigo barbarismo através dos estágios da escravidão e do
                         feudalismo para as formas capitalistas da sociedade e da econo­
                         mia. O estágio fin al, acreditava ele, era aquele no qual os traba­
                         lhadores viriam a controlar a indústria e outros meios de produ­
                         ção. O controle destas forças económicas lhes perm itiria mudar as
                         instituições sociais e políticas para melhor e, assim, ocasionar as
                         melhores relações possíveis (quer dizer, o ideal) entre todos os
                         seres humanos. Em suma, embora a cosmovisão de M arx certa­
                         mente não seja propositada, parece identificar certos ideais e de­
                         fender o empenho por eles.
                             Albert Camus, como Jean-Paul Sartre, rejeitou não apenas a
                         noção de propósito como se evidencia na cosmovisão teísta, mas
                         também qualquer coisa como os padrões de progresso descritos
                         por M arx. Para ele, a realidade é absurda — totalmente destituída
                         de significado, propósito ou plano. Isto significa que, para Camus,
                         as escolhas humanas são no final das contas arbitrárias. Coisas e
                         eventos são o que lhes fazemos ser, e realmente não há razão para
                         fazê-las de um jeito em vez do outro. Isto significa que Camus
                         não reconheceu nenhum ideal? A resposta é: De fato, ele reconhe­
                         ceu ideais.
                             Em sua mais famosa publicação ideológica, O Mito de Sísifo,
                         Camus adapta aos seus próprios propósitos filosóficos o antigo
                         mito grego de S ísifo .1 De acordo com o mito, certo dia, Sísifo, rei
                                                  4
                         de Corinto, incorreu na ira inexorável de Zeus. No Hades, o
                         submundo, Zeus castigou Sísifo forçando-o a rodar uma pedra para
                         cima e repetir este ciclo para sempre. Para Camus, Sísifo é “o
                         operário fútil do submundo” . Sua atividade é totalmente sem sen­
                         tido, completamente destituída de propósito. Deve Sísifo — deve
                         aqueles cujas vidas refletem a vida de Sísifo — desesperar-se?
                         Camus acha que não. A alegria é uma opção: “A pessoa tem de
PANORAMA DO PENSAMENTO CRISTÃO                  35
imaginar Sísifo fe liz” .1 Mas como? E onde está o ideal nesta re­
                          5
presentação da condição humana?
    A alegria é possível porque o significado de destino é no fim
uma questão de ser resolvida pelos seres humanos. Segundo
Camus, Zeus pode ditar nosso destino, mas somente nós podemos
determinar o que esse destino sig nificará para nós e se nos
desgraçará. “ Sísifo” , diz Camus, “ ensina a mais alta fidelidade
que nega os deuses e levanta pedras.” 1 O ideal de Camus — sua
                                        6
figura heróica — é alguém que logo reconhece que o universo é
implacavelmente frio e indiferente para com os interesses huma­
nos, mas que, não obstante, resolve alcançar um tipo de “ vitória
absurda” ao determinar para si que suas experiências tenham sig­
nificado.
    Os ideais estabelecem que tipo de pessoa devemos ser e
exemplificam o que vale a pena alcançar. Os ideais representam a
realidade e a condição humana como elas devem ser, e não como
são. A implicação é que as coisas podem ser melhores do que são.
Assim , quando uma cosmovisão inclui um conjunto de ideais, tam­
bém costumeiramente oferece uma explicação sobre porquê as
pessoas não alcançam esses ideais.
    Nas cosmovisões judaica e cristã os seres humanos vivem
idealmente em comunidades fraternais entre si e em harmonia com
o seu Criador. Estas relações ideais existiram no princípio, numa
situação como o jardim . Elas foram quebradas pelo fato de terem
as escolhas humanas rejeitado os propósitos de Deus. Numa cos­
movisão existencialista com a de Sartre ou Camus, os seres huma­
nos vivem idealmente vidas autênticas, executando projetos que



             tóent &uuu&
       O francês Albert Camus (1913-1960) foi      po, afirmam sua humani­
   romancista e homem de letras. Nascido em        dade ao se rebelarem con­
   Algiers, Argélia, grande parte de sua vida      tra essa mesma situação (a
   intelectual foi dedicada a explorar sua con­    volta humanística distinta­
   vicção de que a condição humana é absurda.      mente de Camus). Os tra­
   Este fato, juntamente com sua associação        balhos mais notáveis de Camus são os ro­
   com o filósofo francês Jean-Paul Sartre, le­    mances O Estrangeiro (1942), A Peste (1947)
   varam muitos a identificá-lo como membro        e A Queda ( 1956), e seus ensaios O Mito de
   do movimento existencialista, embora sua        Sísifo (1942) c O Rebelde ( 1951). Em 1957,
   marca particular de humanismo o distinguisse    Camus foi premiado com o prémio Nobel
   daquele movimento. Os personagens de suas       de literatura. Morreu num acidente de auto­
   peças e romances são obviamente apresentados    móvel em 1960. Na época de sua morte, ele
   como reconhecedores do absurdo e da falta       estava trabalhando num romance autobiográ­
   de sentido da situação deles (um tema           fico, postumamente publicado em 1995 sob
   existencialista proeminente); ao mesmo tem­     o título O Primeiro Homem.
36   MICHAEL D. PALMER

                        eles escolheram livremente. Eles ficam aquém do ideal, porque
                        recusam a aceitar o fardo de sua própria liberdade e porque fa­
                        lham em assumir a plena responsabilidade pelo vasto alcance das
                        escolhas implicadas por aquela liberdade.
                            Na cosmovisão marxista, os seres humanos existem idealmente
                        em harmonia (e não em competição) entre si, trabalham em tare­
                        fas que satisfazem (e não humilham) e desfrutam o fruto do seu
                        trabalho (em vez de vê-lo tomado por outros e usado contra eles).
                        O ideal foge ao entendimento deles, por causa de certos arranjos
                                             económicos capitalistas subjacentes, e por cau­
                                             sa das estruturas sociais e políticas que refor­
   Em geral, cada cosmovisão não             çam a economia capitalista. Em geral, cada
   só enuncia certos ideais, mas             cosmovisão não só enuncia certos ideais, mas
                                             também explica por que os seres humanos não
 também explica por que os seres             os alcançam.
    humanos não os alcançam.                    Ordinariamente, quando uma cosmovisão
                                             enuncia um conjunto de ideais e então explica
                                            como os seres humanos e suas instituições so­
                        ciais ficam aquém dos ideais, também oferece alguma solução. Se
                        os ideais (ou algo parecido com eles) outrora existiram , então a
                        cosmovisão explicará como recuperar o que estava perdido.
                            Por exemplo, o judaísmo identifica um tempo sob o governo
                        dos reis D avi e Salomão quando Israel era uma nação unificada.
                        Se esse tempo não era bastante ideal, com certeza representava
                        um ponto político e social culm inante para os judeus. O ideal foi
                        perdido quando os exércitos estrangeiros repetidamente invadi­
                        ram a pátria deles. O ideal só pode ser recuperado quando os ju ­
                        deus se preparam espiritualmente e Deus intervém na história para
                        prover o M essias.
                            Claro que para algumas cosmovisões, os principais ideais na
                        verdade nunca existiram . Só existem no futuro, no horizonte do
                        tempo. Neste caso, a cosmovisão explicará como alcançá-los. O
                        marxismo é justamente tal cosmovisão. Os marxistas acreditam
                        que nunca houve um tempo na história humana em que a maioria
                        dos seres humanos de algum modo não sentiu falta de comunida­
                        de, não sofreu as indignidades do trabalho forçado, não perdeu o
                        controle sobre suas ferramentas e os produtos do seu trabalho.
                        Mas com o capitalismo desenfreado na plenitude da Revolução
                        Industrial na Europa e nos Estados Unidos no século X IX , estas
                        condições pioraram. As mulheres trabalhavam em miseráveis es­
                        tabelecimentos escravizantes e morriam prematuramente. Os ho­
                        mens competiam entre si por empregos de baixos salários. Mes­
                        mo as crianças trabalhavam horas dolorosamente longas em con­
                        dições imundas. Para M arx, a causa e a solução eram económicas.
                        O capitalismo desenfreado, em vez dos arranjos sociais ou políti­
                        cos, era responsável pela prevalecente miséria e alienação. Uma
                        vida melhor — na verdade, a vida ideal — só pode ser alcançada
                        no futuro à medida que as condições económicas são mudadas.
PANORAMA DO PENSAMENTO CRISTÃO

    Resumo
    Nesta seção, discutimos o elemento ideológico de uma cosmo­
visão. Prim eiro, citamos três funções gerais da ideologia: 1) trazer
ordem e consistência aos dados proporcionados pela experiência,
2) fornecer base para avaliar os valores, os insights e as declara­
ções de conhecimento dos outros e 3) definir a comunidade. Estas
funções da ideologia não pertencem a uma cosmovisão específi­
ca. Antes, são funções comuns de qualquer cosmovisão. Em
seguida, fornecemos um esboço do conteúdo ideológico geral de
uma cosmovisão. Aqui comentamos mais uma vez que embora as
cosmovisões possam ser diferentes em seu conteúdo específico,
elas falam sobre tópicos semelhantes. Por exemplo, eles forne­
cem uma teoria de fundo sobre o que existe. Três tópicos cen­
trais da teoria de fundo são o cosmo, Deus e a história. A s cos­
movisões também fornecem um relato geral da natureza huma­
na. Este relato explicará se a vida humana tem ou não propósi­
to, que ideais valem a pena alcançar, em que aspecto os seres
humanos ficam aquém dos ideais e como os ideais podem ser
alcançados.
    O conteúdo ideológico de uma cosmovisão é ordinariamente
expresso em proposições filosóficas, declarações de credo, fór­
mulas autorizadas ou doutrinas. Em geral também é expresso de
modo sistemático, significando que algum esforço é feito para
assegurar que as declarações chaves sejam consistentes entre si. A
natureza preposicional formal da ideologia a distingue de outro
elemento importante de uma cosm ovisão, a narrativa, que
comumente tem uma qualidade semelhante à história.

                   O Elemento Narrativo
    Ressaltamos anteriormente que o elemento narrativo de uma
cosmovisão reconta certos eventos passados ou futuros, tendo a
ver com aqueles que mantém a cosmovisão. Porém, as narrativas
da cosmovisão não são simples registros de acontecimentos coin­
cidentes ou resumos de eventos interessantes, mas fortuitos. São
histórias que contam algo especial sobre a cosmovisão ou sobre as
pessoas que a mantêm. Podem ser sobre uma pessoa famosa, a
fundação de um povo ou nação, o começo ou fim do mundo, a
interação de alguém com Deus ou deuses, ou algum outro evento
integralmente ligado à cosmovisão.
    As narrativas são uma característica bem reconhecida das cos­
movisões religiosas. Todas as principais religiões do mundo estão
repletas delas. O elemento narrativo do cristianismo, por exem­
plo, enfoca a criação do mundo; o primeiro homem e a primeira
mulher afastando-se de Deus; os subsequentes concertos entre Deus
e a humanidade; o nascimento, morte e ressurreição de Cristo; a
formação da Igreja, e a promessa de que Cristo voltará à terra para
orquestrar os eventos finais da história. Mas as narrativas não são
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad
Panorama do pensamento cristão  michael  d  palmer - cpad

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

A igreja de pergamo
A igreja de pergamoA igreja de pergamo
A igreja de pergamoElias Farias
 
Lição 3 Colossences, I e II Tessalonicenses, I e II Timóteo, Tito, Filemon
Lição 3 Colossences, I e II Tessalonicenses, I e II Timóteo, Tito, FilemonLição 3 Colossences, I e II Tessalonicenses, I e II Timóteo, Tito, Filemon
Lição 3 Colossences, I e II Tessalonicenses, I e II Timóteo, Tito, FilemonRODRIGO FERREIRA
 
Física 1º ano prof. pedro ivo - (lançamento horizontal )
Física 1º ano   prof. pedro ivo - (lançamento horizontal )Física 1º ano   prof. pedro ivo - (lançamento horizontal )
Física 1º ano prof. pedro ivo - (lançamento horizontal )Pedro Ivo Andrade Sousa
 
Aula 3 - Terceiro Período - A Igreja Imperial
Aula 3 -  Terceiro Período - A Igreja ImperialAula 3 -  Terceiro Período - A Igreja Imperial
Aula 3 - Terceiro Período - A Igreja ImperialAdriano Pascoa
 
2 Coríntios capítulo 12 - As glórias no sofrimento cristão
2 Coríntios capítulo 12 - As glórias no sofrimento cristão2 Coríntios capítulo 12 - As glórias no sofrimento cristão
2 Coríntios capítulo 12 - As glórias no sofrimento cristãoMárcio Pereira
 
CRISTOLOGIA_ DOUTRINA DE CRISTO.pdf
CRISTOLOGIA_ DOUTRINA DE CRISTO.pdfCRISTOLOGIA_ DOUTRINA DE CRISTO.pdf
CRISTOLOGIA_ DOUTRINA DE CRISTO.pdfTiago Silva
 
Movimento Pentecostal - Seitas e Heresias
Movimento Pentecostal - Seitas e HeresiasMovimento Pentecostal - Seitas e Heresias
Movimento Pentecostal - Seitas e HeresiasLuan Almeida
 
Lição 3 - O céu - o Destino do Cristão.pptx
Lição 3 - O céu - o Destino do Cristão.pptxLição 3 - O céu - o Destino do Cristão.pptx
Lição 3 - O céu - o Destino do Cristão.pptxCelso Napoleon
 
Breve histórico da eletrostática
Breve histórico da eletrostáticaBreve histórico da eletrostática
Breve histórico da eletrostáticaMatheus Lincoln
 
Exercícios extras_processos de eletrização e lei de coulomb
Exercícios extras_processos de eletrização e lei de coulombExercícios extras_processos de eletrização e lei de coulomb
Exercícios extras_processos de eletrização e lei de coulombO mundo da FÍSICA
 
Adventistas do Sétimo Dia - Seitas e Heresias
Adventistas do Sétimo Dia - Seitas e HeresiasAdventistas do Sétimo Dia - Seitas e Heresias
Adventistas do Sétimo Dia - Seitas e HeresiasLuan Almeida
 
Eletromagnetismo - Indução Eletromagnética
Eletromagnetismo - Indução EletromagnéticaEletromagnetismo - Indução Eletromagnética
Eletromagnetismo - Indução EletromagnéticaFelipe Menegotto
 
Processos de eletrização e Lei de Coulomb
Processos de eletrização e Lei de CoulombProcessos de eletrização e Lei de Coulomb
Processos de eletrização e Lei de CoulombO mundo da FÍSICA
 
Aula 1 - Apologética e suas Metodologias
Aula 1 - Apologética e suas MetodologiasAula 1 - Apologética e suas Metodologias
Aula 1 - Apologética e suas MetodologiasGustavo Zimmermann
 

Mais procurados (20)

A igreja de pergamo
A igreja de pergamoA igreja de pergamo
A igreja de pergamo
 
Lição 3 Colossences, I e II Tessalonicenses, I e II Timóteo, Tito, Filemon
Lição 3 Colossences, I e II Tessalonicenses, I e II Timóteo, Tito, FilemonLição 3 Colossences, I e II Tessalonicenses, I e II Timóteo, Tito, Filemon
Lição 3 Colossences, I e II Tessalonicenses, I e II Timóteo, Tito, Filemon
 
Física 1º ano prof. pedro ivo - (lançamento horizontal )
Física 1º ano   prof. pedro ivo - (lançamento horizontal )Física 1º ano   prof. pedro ivo - (lançamento horizontal )
Física 1º ano prof. pedro ivo - (lançamento horizontal )
 
Aula 3 - Terceiro Período - A Igreja Imperial
Aula 3 -  Terceiro Período - A Igreja ImperialAula 3 -  Terceiro Período - A Igreja Imperial
Aula 3 - Terceiro Período - A Igreja Imperial
 
2 Coríntios capítulo 12 - As glórias no sofrimento cristão
2 Coríntios capítulo 12 - As glórias no sofrimento cristão2 Coríntios capítulo 12 - As glórias no sofrimento cristão
2 Coríntios capítulo 12 - As glórias no sofrimento cristão
 
CRISTOLOGIA_ DOUTRINA DE CRISTO.pdf
CRISTOLOGIA_ DOUTRINA DE CRISTO.pdfCRISTOLOGIA_ DOUTRINA DE CRISTO.pdf
CRISTOLOGIA_ DOUTRINA DE CRISTO.pdf
 
Movimento Pentecostal - Seitas e Heresias
Movimento Pentecostal - Seitas e HeresiasMovimento Pentecostal - Seitas e Heresias
Movimento Pentecostal - Seitas e Heresias
 
#########Mortalidade da alma celso brasil
#########Mortalidade da alma   celso brasil#########Mortalidade da alma   celso brasil
#########Mortalidade da alma celso brasil
 
Lição 3 - O céu - o Destino do Cristão.pptx
Lição 3 - O céu - o Destino do Cristão.pptxLição 3 - O céu - o Destino do Cristão.pptx
Lição 3 - O céu - o Destino do Cristão.pptx
 
Breve histórico da eletrostática
Breve histórico da eletrostáticaBreve histórico da eletrostática
Breve histórico da eletrostática
 
Exercícios extras_processos de eletrização e lei de coulomb
Exercícios extras_processos de eletrização e lei de coulombExercícios extras_processos de eletrização e lei de coulomb
Exercícios extras_processos de eletrização e lei de coulomb
 
Alfabeto hebraico
Alfabeto hebraicoAlfabeto hebraico
Alfabeto hebraico
 
Campo elétrico
Campo elétricoCampo elétrico
Campo elétrico
 
Adventistas do Sétimo Dia - Seitas e Heresias
Adventistas do Sétimo Dia - Seitas e HeresiasAdventistas do Sétimo Dia - Seitas e Heresias
Adventistas do Sétimo Dia - Seitas e Heresias
 
2 coríntios (moody)
2 coríntios (moody)2 coríntios (moody)
2 coríntios (moody)
 
Yahu x Yeho
Yahu  x  YehoYahu  x  Yeho
Yahu x Yeho
 
Eletromagnetismo - Indução Eletromagnética
Eletromagnetismo - Indução EletromagnéticaEletromagnetismo - Indução Eletromagnética
Eletromagnetismo - Indução Eletromagnética
 
Símbolos da Nova Era
Símbolos da Nova EraSímbolos da Nova Era
Símbolos da Nova Era
 
Processos de eletrização e Lei de Coulomb
Processos de eletrização e Lei de CoulombProcessos de eletrização e Lei de Coulomb
Processos de eletrização e Lei de Coulomb
 
Aula 1 - Apologética e suas Metodologias
Aula 1 - Apologética e suas MetodologiasAula 1 - Apologética e suas Metodologias
Aula 1 - Apologética e suas Metodologias
 

Destaque

Vida e atos dos apóstolos (cairbar schutel)
Vida e atos dos apóstolos (cairbar schutel)Vida e atos dos apóstolos (cairbar schutel)
Vida e atos dos apóstolos (cairbar schutel)Helio Cruz
 
Arqueologia do velho testamento merril f. unger
Arqueologia do velho testamento   merril f. ungerArqueologia do velho testamento   merril f. unger
Arqueologia do velho testamento merril f. ungerRogerioGravito85
 
Verdades essenciais da fe crista 1 caderno - r[1]. c. sproul
Verdades essenciais da fe crista   1 caderno - r[1]. c. sproulVerdades essenciais da fe crista   1 caderno - r[1]. c. sproul
Verdades essenciais da fe crista 1 caderno - r[1]. c. sproulAlexandre N. Pereira
 
Evangélico stanley m horton - apocalipse - as coisas que brevemente devem a...
Evangélico   stanley m horton - apocalipse - as coisas que brevemente devem a...Evangélico   stanley m horton - apocalipse - as coisas que brevemente devem a...
Evangélico stanley m horton - apocalipse - as coisas que brevemente devem a...manoel ramos de oliveira
 
Evangélico orlando boyer - 150 estudos e mensagens de orlando boyer cpad
Evangélico   orlando boyer - 150 estudos e mensagens de orlando boyer cpadEvangélico   orlando boyer - 150 estudos e mensagens de orlando boyer cpad
Evangélico orlando boyer - 150 estudos e mensagens de orlando boyer cpadmanoel ramos de oliveira
 
Evangélico clarence e macartey - grandes sermões do mundo cpad
Evangélico   clarence e macartey - grandes sermões do mundo cpadEvangélico   clarence e macartey - grandes sermões do mundo cpad
Evangélico clarence e macartey - grandes sermões do mundo cpadmanoel ramos de oliveira
 
Evangélico abraão de almeida - o sábado a lei e a graça cpad
Evangélico   abraão de almeida - o sábado a lei e a graça cpadEvangélico   abraão de almeida - o sábado a lei e a graça cpad
Evangélico abraão de almeida - o sábado a lei e a graça cpadmanoel ramos de oliveira
 
Evangélico josé apolônio da silva - grandes perguntas pentecostais cpad
Evangélico   josé apolônio da silva - grandes perguntas pentecostais cpadEvangélico   josé apolônio da silva - grandes perguntas pentecostais cpad
Evangélico josé apolônio da silva - grandes perguntas pentecostais cpadmanoel ramos de oliveira
 
John bright história de israel
John bright   história de israelJohn bright   história de israel
John bright história de israelAlexandre Mattos
 
A familia cristã e os ataques do inimigo
A familia cristã e os ataques do inimigoA familia cristã e os ataques do inimigo
A familia cristã e os ataques do inimigojose filho
 
Evangélico eurico bergstén - teologia sistemática vol 4 cpad
Evangélico   eurico bergstén - teologia sistemática vol 4 cpadEvangélico   eurico bergstén - teologia sistemática vol 4 cpad
Evangélico eurico bergstén - teologia sistemática vol 4 cpadmanoel ramos de oliveira
 
Myer pearlman joao o evangelho do filho de deus
Myer pearlman joao o evangelho do filho de deusMyer pearlman joao o evangelho do filho de deus
Myer pearlman joao o evangelho do filho de deusagds2
 
Biblia em hebraico transliterada em Portuguêsr 2a edicao
Biblia em hebraico transliterada em Portuguêsr 2a edicaoBiblia em hebraico transliterada em Portuguêsr 2a edicao
Biblia em hebraico transliterada em Portuguêsr 2a edicaoJosé Silva
 
EBD - A importância da Escola Bíblica Dominical
EBD - A importância da Escola Bíblica DominicalEBD - A importância da Escola Bíblica Dominical
EBD - A importância da Escola Bíblica DominicalFelipe Mamud
 
O Professor Da Ebd, Seu Papel E Desafios
O Professor Da Ebd, Seu Papel E DesafiosO Professor Da Ebd, Seu Papel E Desafios
O Professor Da Ebd, Seu Papel E DesafiosSilas Duarte Jr
 
Arqueologia BíBlica Ilustrado
Arqueologia BíBlica IlustradoArqueologia BíBlica Ilustrado
Arqueologia BíBlica IlustradoJNR
 
Evangélico anísio batista dantas - como preparar sermões cpad
Evangélico   anísio batista dantas - como preparar sermões cpadEvangélico   anísio batista dantas - como preparar sermões cpad
Evangélico anísio batista dantas - como preparar sermões cpadmanoel ramos de oliveira
 
Lição 11 A Organização de uma Igreja Local 13 de Setembro de 2015 LIÇÕES BÍBL...
Lição 11 A Organização de uma Igreja Local 13 de Setembro de 2015 LIÇÕES BÍBL...Lição 11 A Organização de uma Igreja Local 13 de Setembro de 2015 LIÇÕES BÍBL...
Lição 11 A Organização de uma Igreja Local 13 de Setembro de 2015 LIÇÕES BÍBL...Dangelo Nascimento
 

Destaque (20)

Arqueologia biblica
Arqueologia biblicaArqueologia biblica
Arqueologia biblica
 
Vida e atos dos apóstolos (cairbar schutel)
Vida e atos dos apóstolos (cairbar schutel)Vida e atos dos apóstolos (cairbar schutel)
Vida e atos dos apóstolos (cairbar schutel)
 
Arqueologia do velho testamento merril f. unger
Arqueologia do velho testamento   merril f. ungerArqueologia do velho testamento   merril f. unger
Arqueologia do velho testamento merril f. unger
 
Verdades essenciais da fe crista 1 caderno - r[1]. c. sproul
Verdades essenciais da fe crista   1 caderno - r[1]. c. sproulVerdades essenciais da fe crista   1 caderno - r[1]. c. sproul
Verdades essenciais da fe crista 1 caderno - r[1]. c. sproul
 
Evangélico stanley m horton - apocalipse - as coisas que brevemente devem a...
Evangélico   stanley m horton - apocalipse - as coisas que brevemente devem a...Evangélico   stanley m horton - apocalipse - as coisas que brevemente devem a...
Evangélico stanley m horton - apocalipse - as coisas que brevemente devem a...
 
Evangélico orlando boyer - 150 estudos e mensagens de orlando boyer cpad
Evangélico   orlando boyer - 150 estudos e mensagens de orlando boyer cpadEvangélico   orlando boyer - 150 estudos e mensagens de orlando boyer cpad
Evangélico orlando boyer - 150 estudos e mensagens de orlando boyer cpad
 
Evangélico clarence e macartey - grandes sermões do mundo cpad
Evangélico   clarence e macartey - grandes sermões do mundo cpadEvangélico   clarence e macartey - grandes sermões do mundo cpad
Evangélico clarence e macartey - grandes sermões do mundo cpad
 
Evangélico abraão de almeida - o sábado a lei e a graça cpad
Evangélico   abraão de almeida - o sábado a lei e a graça cpadEvangélico   abraão de almeida - o sábado a lei e a graça cpad
Evangélico abraão de almeida - o sábado a lei e a graça cpad
 
Evangélico josé apolônio da silva - grandes perguntas pentecostais cpad
Evangélico   josé apolônio da silva - grandes perguntas pentecostais cpadEvangélico   josé apolônio da silva - grandes perguntas pentecostais cpad
Evangélico josé apolônio da silva - grandes perguntas pentecostais cpad
 
John bright história de israel
John bright   história de israelJohn bright   história de israel
John bright história de israel
 
A familia cristã e os ataques do inimigo
A familia cristã e os ataques do inimigoA familia cristã e os ataques do inimigo
A familia cristã e os ataques do inimigo
 
Evangélico eurico bergstén - teologia sistemática vol 4 cpad
Evangélico   eurico bergstén - teologia sistemática vol 4 cpadEvangélico   eurico bergstén - teologia sistemática vol 4 cpad
Evangélico eurico bergstén - teologia sistemática vol 4 cpad
 
Myer pearlman joao o evangelho do filho de deus
Myer pearlman joao o evangelho do filho de deusMyer pearlman joao o evangelho do filho de deus
Myer pearlman joao o evangelho do filho de deus
 
Biblia em hebraico transliterada em Portuguêsr 2a edicao
Biblia em hebraico transliterada em Portuguêsr 2a edicaoBiblia em hebraico transliterada em Portuguêsr 2a edicao
Biblia em hebraico transliterada em Portuguêsr 2a edicao
 
EBD - A importância da Escola Bíblica Dominical
EBD - A importância da Escola Bíblica DominicalEBD - A importância da Escola Bíblica Dominical
EBD - A importância da Escola Bíblica Dominical
 
ARQUEOLOGIA BÍBLICA
ARQUEOLOGIA BÍBLICAARQUEOLOGIA BÍBLICA
ARQUEOLOGIA BÍBLICA
 
O Professor Da Ebd, Seu Papel E Desafios
O Professor Da Ebd, Seu Papel E DesafiosO Professor Da Ebd, Seu Papel E Desafios
O Professor Da Ebd, Seu Papel E Desafios
 
Arqueologia BíBlica Ilustrado
Arqueologia BíBlica IlustradoArqueologia BíBlica Ilustrado
Arqueologia BíBlica Ilustrado
 
Evangélico anísio batista dantas - como preparar sermões cpad
Evangélico   anísio batista dantas - como preparar sermões cpadEvangélico   anísio batista dantas - como preparar sermões cpad
Evangélico anísio batista dantas - como preparar sermões cpad
 
Lição 11 A Organização de uma Igreja Local 13 de Setembro de 2015 LIÇÕES BÍBL...
Lição 11 A Organização de uma Igreja Local 13 de Setembro de 2015 LIÇÕES BÍBL...Lição 11 A Organização de uma Igreja Local 13 de Setembro de 2015 LIÇÕES BÍBL...
Lição 11 A Organização de uma Igreja Local 13 de Setembro de 2015 LIÇÕES BÍBL...
 

Semelhante a Panorama do pensamento cristão michael d palmer - cpad

Vozes do cosmo marcelo barros
Vozes do cosmo   marcelo barrosVozes do cosmo   marcelo barros
Vozes do cosmo marcelo barrosgilbraz
 
Artigo Romanos e Teologia de Paulo - N.T. Wright
Artigo   Romanos e Teologia de Paulo - N.T. WrightArtigo   Romanos e Teologia de Paulo - N.T. Wright
Artigo Romanos e Teologia de Paulo - N.T. WrightDouglas Martins
 
Artigo romanos teologia de paulo - n.t. wright
Artigo   romanos teologia de paulo - n.t. wrightArtigo   romanos teologia de paulo - n.t. wright
Artigo romanos teologia de paulo - n.t. wrightDouglas Martins
 
Caminho da Luz: A Manifestação de Deus na História
Caminho da Luz: A Manifestação de Deus na HistóriaCaminho da Luz: A Manifestação de Deus na História
Caminho da Luz: A Manifestação de Deus na HistóriaLeialdo Pulz
 
“ESCATOLOGIA: BREVE TRATADO TEOLÓGICO - PASTORAL” Fr. Clodovis M. Boff, OSM
“ESCATOLOGIA: BREVE TRATADO TEOLÓGICO - PASTORAL” Fr. Clodovis M. Boff, OSM“ESCATOLOGIA: BREVE TRATADO TEOLÓGICO - PASTORAL” Fr. Clodovis M. Boff, OSM
“ESCATOLOGIA: BREVE TRATADO TEOLÓGICO - PASTORAL” Fr. Clodovis M. Boff, OSMBernadetecebs .
 
Dualismo ocidental e seus desafios (Nancy Pearcey)
Dualismo ocidental e seus desafios (Nancy Pearcey)Dualismo ocidental e seus desafios (Nancy Pearcey)
Dualismo ocidental e seus desafios (Nancy Pearcey)Jean Francesco
 
Filosofia: pós socráticos, cristianismo e idade Média
Filosofia: pós socráticos, cristianismo e idade MédiaFilosofia: pós socráticos, cristianismo e idade Média
Filosofia: pós socráticos, cristianismo e idade MédiaLuci Bonini
 
Wright romanos teologia_paulo
Wright romanos teologia_pauloWright romanos teologia_paulo
Wright romanos teologia_pauloGivaldo de Lima
 
Visao espirita da_biblia
Visao espirita da_bibliaVisao espirita da_biblia
Visao espirita da_bibliacaodeguerra
 
Apocalipse - Por Rodrigo Silva
Apocalipse - Por Rodrigo SilvaApocalipse - Por Rodrigo Silva
Apocalipse - Por Rodrigo SilvaApocalipse Facil
 
Apostila escatologia - pe. luiz eustáquio dos santos nogueira
Apostila   escatologia - pe. luiz eustáquio dos santos nogueiraApostila   escatologia - pe. luiz eustáquio dos santos nogueira
Apostila escatologia - pe. luiz eustáquio dos santos nogueiraAntonio Gazato
 
Huberto Rohden - Catecismo da Filosofia
Huberto Rohden - Catecismo da FilosofiaHuberto Rohden - Catecismo da Filosofia
Huberto Rohden - Catecismo da Filosofiauniversalismo-7
 
Huberto rohden catecismo da filosofia
Huberto rohden   catecismo da filosofiaHuberto rohden   catecismo da filosofia
Huberto rohden catecismo da filosofiaUniversalismo Cultura
 
Beier revelação e inspiração
Beier   revelação e inspiraçãoBeier   revelação e inspiração
Beier revelação e inspiraçãoJael Eneas Araujo
 

Semelhante a Panorama do pensamento cristão michael d palmer - cpad (20)

Cosmovisão cristã bentes
Cosmovisão cristã bentesCosmovisão cristã bentes
Cosmovisão cristã bentes
 
Vozes do cosmo marcelo barros
Vozes do cosmo   marcelo barrosVozes do cosmo   marcelo barros
Vozes do cosmo marcelo barros
 
Artigo Romanos e Teologia de Paulo - N.T. Wright
Artigo   Romanos e Teologia de Paulo - N.T. WrightArtigo   Romanos e Teologia de Paulo - N.T. Wright
Artigo Romanos e Teologia de Paulo - N.T. Wright
 
Artigo romanos teologia de paulo - n.t. wright
Artigo   romanos teologia de paulo - n.t. wrightArtigo   romanos teologia de paulo - n.t. wright
Artigo romanos teologia de paulo - n.t. wright
 
Caminho da Luz: A Manifestação de Deus na História
Caminho da Luz: A Manifestação de Deus na HistóriaCaminho da Luz: A Manifestação de Deus na História
Caminho da Luz: A Manifestação de Deus na História
 
“ESCATOLOGIA: BREVE TRATADO TEOLÓGICO - PASTORAL” Fr. Clodovis M. Boff, OSM
“ESCATOLOGIA: BREVE TRATADO TEOLÓGICO - PASTORAL” Fr. Clodovis M. Boff, OSM“ESCATOLOGIA: BREVE TRATADO TEOLÓGICO - PASTORAL” Fr. Clodovis M. Boff, OSM
“ESCATOLOGIA: BREVE TRATADO TEOLÓGICO - PASTORAL” Fr. Clodovis M. Boff, OSM
 
Dualismo ocidental e seus desafios (Nancy Pearcey)
Dualismo ocidental e seus desafios (Nancy Pearcey)Dualismo ocidental e seus desafios (Nancy Pearcey)
Dualismo ocidental e seus desafios (Nancy Pearcey)
 
Monografia milênio
Monografia milênioMonografia milênio
Monografia milênio
 
Filosofia medieval
Filosofia medievalFilosofia medieval
Filosofia medieval
 
Filosofia: pós socráticos, cristianismo e idade Média
Filosofia: pós socráticos, cristianismo e idade MédiaFilosofia: pós socráticos, cristianismo e idade Média
Filosofia: pós socráticos, cristianismo e idade Média
 
Heresiologia
HeresiologiaHeresiologia
Heresiologia
 
Wright romanos teologia_paulo
Wright romanos teologia_pauloWright romanos teologia_paulo
Wright romanos teologia_paulo
 
Visao espirita da_biblia
Visao espirita da_bibliaVisao espirita da_biblia
Visao espirita da_biblia
 
Apocalipse - Por Rodrigo Silva
Apocalipse - Por Rodrigo SilvaApocalipse - Por Rodrigo Silva
Apocalipse - Por Rodrigo Silva
 
Apostila escatologia - pe. luiz eustáquio dos santos nogueira
Apostila   escatologia - pe. luiz eustáquio dos santos nogueiraApostila   escatologia - pe. luiz eustáquio dos santos nogueira
Apostila escatologia - pe. luiz eustáquio dos santos nogueira
 
Teste Historia
Teste HistoriaTeste Historia
Teste Historia
 
Preteristas posmilenistas gentry
Preteristas posmilenistas gentryPreteristas posmilenistas gentry
Preteristas posmilenistas gentry
 
Huberto Rohden - Catecismo da Filosofia
Huberto Rohden - Catecismo da FilosofiaHuberto Rohden - Catecismo da Filosofia
Huberto Rohden - Catecismo da Filosofia
 
Huberto rohden catecismo da filosofia
Huberto rohden   catecismo da filosofiaHuberto rohden   catecismo da filosofia
Huberto rohden catecismo da filosofia
 
Beier revelação e inspiração
Beier   revelação e inspiraçãoBeier   revelação e inspiração
Beier revelação e inspiração
 

Último

William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdfWilliam J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdfAdrianaCunha84
 
Programa de Intervenção com Habilidades Motoras
Programa de Intervenção com Habilidades MotorasPrograma de Intervenção com Habilidades Motoras
Programa de Intervenção com Habilidades MotorasCassio Meira Jr.
 
O Universo Cuckold - Compartilhando a Esposas Com Amigo.pdf
O Universo Cuckold - Compartilhando a Esposas Com Amigo.pdfO Universo Cuckold - Compartilhando a Esposas Com Amigo.pdf
O Universo Cuckold - Compartilhando a Esposas Com Amigo.pdfPastor Robson Colaço
 
Bingo da potenciação e radiciação de números inteiros
Bingo da potenciação e radiciação de números inteirosBingo da potenciação e radiciação de números inteiros
Bingo da potenciação e radiciação de números inteirosAntnyoAllysson
 
geografia 7 ano - relevo, altitude, topos do mundo
geografia 7 ano - relevo, altitude, topos do mundogeografia 7 ano - relevo, altitude, topos do mundo
geografia 7 ano - relevo, altitude, topos do mundonialb
 
PPT _ Módulo 3_Direito Comercial_2023_2024.pdf
PPT _ Módulo 3_Direito Comercial_2023_2024.pdfPPT _ Módulo 3_Direito Comercial_2023_2024.pdf
PPT _ Módulo 3_Direito Comercial_2023_2024.pdfAnaGonalves804156
 
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024Sandra Pratas
 
A galinha ruiva sequencia didatica 3 ano
A  galinha ruiva sequencia didatica 3 anoA  galinha ruiva sequencia didatica 3 ano
A galinha ruiva sequencia didatica 3 anoandrealeitetorres
 
A Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das MãesA Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das MãesMary Alvarenga
 
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptxATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptxOsnilReis1
 
Apostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptx
Apostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptxApostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptx
Apostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptxIsabelaRafael2
 
A experiência amorosa e a reflexão sobre o Amor.pptx
A experiência amorosa e a reflexão sobre o Amor.pptxA experiência amorosa e a reflexão sobre o Amor.pptx
A experiência amorosa e a reflexão sobre o Amor.pptxfabiolalopesmartins1
 
Gerenciando a Aprendizagem Organizacional
Gerenciando a Aprendizagem OrganizacionalGerenciando a Aprendizagem Organizacional
Gerenciando a Aprendizagem OrganizacionalJacqueline Cerqueira
 
Aula 13 8º Ano Cap.04 Revolução Francesa.pptx
Aula 13 8º Ano Cap.04 Revolução Francesa.pptxAula 13 8º Ano Cap.04 Revolução Francesa.pptx
Aula 13 8º Ano Cap.04 Revolução Francesa.pptxBiancaNogueira42
 
Currículo escolar na perspectiva da educação inclusiva.pdf
Currículo escolar na perspectiva da educação inclusiva.pdfCurrículo escolar na perspectiva da educação inclusiva.pdf
Currículo escolar na perspectiva da educação inclusiva.pdfIedaGoethe
 
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicasCenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicasRosalina Simão Nunes
 
Intolerância religiosa. Trata-se de uma apresentação sobre o respeito a diver...
Intolerância religiosa. Trata-se de uma apresentação sobre o respeito a diver...Intolerância religiosa. Trata-se de uma apresentação sobre o respeito a diver...
Intolerância religiosa. Trata-se de uma apresentação sobre o respeito a diver...LizanSantos1
 
trabalho wanda rocha ditadura
trabalho wanda rocha ditaduratrabalho wanda rocha ditadura
trabalho wanda rocha ditaduraAdryan Luiz
 
Slides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptx
Slides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptxSlides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptx
Slides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 

Último (20)

William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdfWilliam J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
 
Programa de Intervenção com Habilidades Motoras
Programa de Intervenção com Habilidades MotorasPrograma de Intervenção com Habilidades Motoras
Programa de Intervenção com Habilidades Motoras
 
O Universo Cuckold - Compartilhando a Esposas Com Amigo.pdf
O Universo Cuckold - Compartilhando a Esposas Com Amigo.pdfO Universo Cuckold - Compartilhando a Esposas Com Amigo.pdf
O Universo Cuckold - Compartilhando a Esposas Com Amigo.pdf
 
Bingo da potenciação e radiciação de números inteiros
Bingo da potenciação e radiciação de números inteirosBingo da potenciação e radiciação de números inteiros
Bingo da potenciação e radiciação de números inteiros
 
XI OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA -
XI OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA      -XI OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA      -
XI OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA -
 
geografia 7 ano - relevo, altitude, topos do mundo
geografia 7 ano - relevo, altitude, topos do mundogeografia 7 ano - relevo, altitude, topos do mundo
geografia 7 ano - relevo, altitude, topos do mundo
 
PPT _ Módulo 3_Direito Comercial_2023_2024.pdf
PPT _ Módulo 3_Direito Comercial_2023_2024.pdfPPT _ Módulo 3_Direito Comercial_2023_2024.pdf
PPT _ Módulo 3_Direito Comercial_2023_2024.pdf
 
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
 
A galinha ruiva sequencia didatica 3 ano
A  galinha ruiva sequencia didatica 3 anoA  galinha ruiva sequencia didatica 3 ano
A galinha ruiva sequencia didatica 3 ano
 
A Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das MãesA Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
 
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptxATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
 
Apostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptx
Apostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptxApostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptx
Apostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptx
 
A experiência amorosa e a reflexão sobre o Amor.pptx
A experiência amorosa e a reflexão sobre o Amor.pptxA experiência amorosa e a reflexão sobre o Amor.pptx
A experiência amorosa e a reflexão sobre o Amor.pptx
 
Gerenciando a Aprendizagem Organizacional
Gerenciando a Aprendizagem OrganizacionalGerenciando a Aprendizagem Organizacional
Gerenciando a Aprendizagem Organizacional
 
Aula 13 8º Ano Cap.04 Revolução Francesa.pptx
Aula 13 8º Ano Cap.04 Revolução Francesa.pptxAula 13 8º Ano Cap.04 Revolução Francesa.pptx
Aula 13 8º Ano Cap.04 Revolução Francesa.pptx
 
Currículo escolar na perspectiva da educação inclusiva.pdf
Currículo escolar na perspectiva da educação inclusiva.pdfCurrículo escolar na perspectiva da educação inclusiva.pdf
Currículo escolar na perspectiva da educação inclusiva.pdf
 
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicasCenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
 
Intolerância religiosa. Trata-se de uma apresentação sobre o respeito a diver...
Intolerância religiosa. Trata-se de uma apresentação sobre o respeito a diver...Intolerância religiosa. Trata-se de uma apresentação sobre o respeito a diver...
Intolerância religiosa. Trata-se de uma apresentação sobre o respeito a diver...
 
trabalho wanda rocha ditadura
trabalho wanda rocha ditaduratrabalho wanda rocha ditadura
trabalho wanda rocha ditadura
 
Slides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptx
Slides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptxSlides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptx
Slides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptx
 

Panorama do pensamento cristão michael d palmer - cpad

  • 1. CB4D Ti ygfgfà*VH^5 i - • Compilado e editado por Michael D. Palmer
  • 2. Panorama do pensamento Cristão Compilado e editado por Michael D. Palmer Prefácio de Russel P. Spittler
  • 4. Todos os direitos reservados. Copyright © 2000 para a língua portuguesa da Casa Publicadora das Assembléias de Deus. Aprovado pelo Conselho de Doutrina. Título do original em inglês: Elements o f a Christian Worldview Gospel Publishing House, Springfield, Missouri, USA Primeira edição em inglês: 1998 Tradução: Luís Aron de Macedo Preparação de originais: Jefferson Magno Revisão: Alexandre Coelho e Kleber Cruz Capa: Alexander Diniz Projeto gráfico: Daniel Bonates Editoração: Oséas Felício Maciel CDD: Filosofia-201 ISBN: 85-263-0303-1 As citações bíblicas foram extraídas da versão Almeida Revista e Corrigida, Edição de 1995, da Sociedade Bíblica do Brasil, salvo indicação em contrá­ rio. Casa Publicadora das Assembléias de Deus Caixa Postal 331 20001-970, Rio de Janeiro, RJ, Brasil Ia edição/2001
  • 5. Dedicatória Para meus pais, Don eThelm a Palmer, que foram bem-sucedidos em me transmitir a fé e sempre me incentivaram para que eu buscasse a verdade,e para meu filho de 18 anos, Bradley Charley Palmer que, na época de sua morte trágica ocorrida em 22 de novembro de 1997, já sabia profundamente muitos dos conceitos centrais apresentados neste livro.
  • 6. Sumário Introdução / 7 Prefácio / 11 Agradecimentos / 13 Lista de Colaboradores / 15 1. Panorama do Pensamento Cristão / 1 7 Michael D. Palmer 2. O Rapei da Bíblia na Formação do Pensamento Cristão / 79 Edgar R. Lee 3. Vozes do Passado: Tentativas Históricas para Formar um Pensamento Cristão / 109 Gregory J. Miller 4. O Cristão e a Ciência Natural / 149 Lawrence T. McHargue 5. Uma Perspectiva Sobre a Natureza Humana / 181 Billie Davis 6. Trabalho / 223 Miroslav Volf 7. Entrando no "Descanso Divino": Rumo a uma Visão Cris­ tã de Lazer / 247 Charles W. Nienkirchen 8. A Ética de Ser: Caráter, Comunidade, Práxis / 293 Cheryl Bridges Johns e Vardaman W. White 9. Música que Vem do Coração da Fé / 325 Johnathan David Horton 10. O Lugar da Literatura no Pensamento Cristão/ 351 Twíla Brown Edwards 11. Os Cristãos e a Cultura da Mídia de Entretenimento / 391 Terrence R. Lindvall e J. Matthew Mellon 12. Política para Cristãos (e Outros Pecadores) / 427 Dennis McNutt Apêndice 1: Reflexões sobre os Significados da Verdade / 470 Michael D. Palmer Apêndice 2: Jean-Paul Sartre / 487 Michael D. Palmer Apêndice 3: Karl Marx / 489 Michael D. Palmer Apêndice 4: A Música e o Espaço de Execução / 493
  • 7. ELEMENTOS DE UMA COSMOVISÃO CRISTÃ Johnathan David Horton Apêndice 5: A Música e o Estilo de Adoração / 497 Johnathan David Horton Apêndice 6: C . K. Chesterton no Poder dos Contos de Fada / 502 Twila Brown Edwards Apêndice 7: C. S. Lewis / 504 Twila Brown Edwards Apêndice 8: Thomas FJobbes e a Teoria de Contrato de Ju stiça /506 Michael D. Palmer Apêndice 9: John Locke e a Teoria dos Direitos Naturais / 509 Michael D. Palmer Apêndice 10: Os D ireitos/ 512 Michael D. Palmer Apêndice 11: A Justiça / 516 Michael D. Palmer
  • 8. Introdução Muitas palavras do vocabulário inglês (e também do portugu­ ês) vêm dos idiomas grego e latino. Palavras tão comuns quanto agenda ou exit (saída) vêm diretamente do tempo dos autores clás­ sicos. Outras palavras, entretanto, entraram em nossa língua sem serem percebidas, provenientes de alguma outra cultura. Khaki (cáqui) é originária de um termo paquistanês. Bureau (agência, repartição) é francês puro. Corridor (corredor), palio (pátio) e plaza (praça) são termos espanhóis autênticos, e chocolate provém dire­ tamente do dialeto asteca. Cosmovisão, a palavra que define o ponto central deste livro, alcança a língua portuguesa como se também fosse um emigrante linguístico. O idioma alemão tem uma grande propensão para pa­ lavras compostas. Só para dar um exemplo extremo, eis um termo alemão para tanque m ilitar: Schutzengrabenzerstõrungsautomobil. Pelas mesmas leis do idioma, este é um sinónimo: der Panzer. A palavra “ cosmovisão” junta lado a lado duas palavras equivalen­ tes em português como tradução lite ra l do termo alemão Weltanschauung — termo com longa e nobre herança filosófica. Inventado por filósofos alemães, Weltanschauung descreve um modo de ver o mundo. Alguém poderia supor que o mundo é uma ilusão; que as coisas não são reais. Outros poderiam dizer, como fazem os idealistas de todas os tempos, que existe mais coisas no mundo do que se pode ver. Outros ainda poderiam concluir que o mundo é inóspito e irremediável, levando ao desespero. Em vez de aportuguesar Weltanschauung para a palavra “ cos­ movisão” , os linguistas teriam feito um favor aos povos de fala portuguesa sendo um pouco menos com plicados. Trad u zir Weltanschauung como “perspectiva” ou mesmo “ atitude” não te­ ria representado uma tradução longe do seu significado, a não ser pelo fato de que o termo técnico alemão refere-se especificamente à atitude da pessoa para com o mundo. Que “mundo” ? A s vastas extensões do universo estrelado? O pleno complemento das culturas humanas de nosso globo? Ou possivelmente o “mundo” que entra em nosso vocabulário medi­ ante alguma pressão que alguém exerce de maneira incorreta e forçada sobre a Escritura? Ao usar essa palavra, a tradição filosó­ fica alemã certamente tinha em mente o mundo material e o uni­ verso invisível, o mundo visível e as galáxias que o nosso intelec­ to é capaz de imaginar que existam. A noção que as pessoas têm da realidade constitui a cosmovisão delas. Até onde sei, não há palavra bíblica que possa equivaler à pa­ lavra “ cosmovisão” . Porém encontramos nas páginas das Escritu­ ras uma atitude normativa em relação ao mundo visível e in visí­ vel. A li existe - ainda que os teólogos não façam muita conta dis­ so - uma teologia do mundo. A cosmologia é qualificada como um termo que descreve como
  • 9. PANORAMA DO PENSAMENTO CRISTÃO as pessoas pensam a respeito do mundo. Os astrónomos e cientis­ tas usam o termo para definir uma ciência do universo distante. Os teólogos usam o mesmo termo para reunir doutrinas bíblicas relacionadas com a origem e o destino do mundo visível — cha­ mado em grego (inclusive o grego do Novo Testamento) de cos­ mo. (O termo “ cosmético” obteve sua qualidade de beleza prove­ niente da admiração grega da simetria deslumbrante dos céus.) A outra palavra importante no Novo Testamento grego traduzida por “mundo” vai numa direção diferente. Oikoumenê descreve a soma total das culturas humanas. Considerando que esta palavra primeiro definia uma casa de fam ília, é fácil entender como veio significar sociedade organizada, levando, por um lado, à palavra “economia” e, por outro, à palavra “ ecuménico” . Assim , as pala­ vras bíblicas usadas para descrever o mundo foram tomadas de outros significados comuns. Mas neste livro só nos preocupare­ mos em falar sobre uma teologia do mundo. Detectei no Novo Testamento um uso duplo da idéia de mundo e como os cristãos deveriam vê-lo. Há uma visão joanina do mun­ do — um sistema organizado de oposição humana, demoníaca até, e que peca contra Deus. Deste ponto de vista, segundo um grupo de passagens do Evangelho de João, das Epístolas de João e do Apocalipse, os verdadeiros crentes são aconselhados a “evitar o mundo” — o que pode ser chamado de “este mundo mal” , um setor da sociedade que acha-se em oposição à Igreja. Este é o mundo a evitar, a afastar-se, e sua existência torna necessária a nossa santidade (separação do mundo). O outro elemento da idéia de mundo na Escritura é paulino. A visão de Paulo do mundo é mais sanguínea do que a de João. Essa diferença pode refletir as diferentes experiências de suas respecti­ vas vidas. Tradicionalmente, João foi considerado um pescador rural; Paulo, como cidadão de Roma, um sofisticado e frequente viajante. Há, portanto, contrastes distintos nas atitudes de João e de Paulo em relação ao mundo. Nutridos pelas Escrituras judai­ cas, ambos vêem Deus como o Criador de tudo o que há. Ambos encaram Deus como estando no controle de todos os aconteci­ mentos humanos. Ambos sabem que o sistema mundial presente é passageiro, que logo passará. Ambos, junto com Pedro, esperam um novo céu e uma nova terra. Porém, a diferença entre os dois jaz na opinião sobre o que fazer no campo da cultura humana neste tempo presente. João mal conse­ gue achar alguma coisa boa no atual mundo de pessoas e coisas. Por outro lado, Paulo eleva sua retórica majestosa em louvor do controle de Deus sobre todo empreendimento humano, o que ele vê como reflexos manchados, mas autênticos, da imagem de Deus residente em toda pessoa e, por conseguinte, em toda cultura humana. Claro que tanto João quanto Paulo levam em conta o pecado para fazerem a análise fundamentalmente correta da condição hu­ mana falha. Ambos olham para as metáforas da transformação di-
  • 10. vina da biologia — novo nascimento, segundo nascimento, vinhas e podas, vida etema e coisa parecida. Paulo, treinado como advo­ gado, prefere a linguagem judicial — culpa, julgamento, adoção, justificação, absolvição. Os cristãos pensantes podem obter ajuda de Paulo e João. As maquinações da humanidade caída realmente agrupam-se nos bolsões da cultura humana — pornografia, leis injustas, trapaças sistemáticas nos negócios ou na educação, para nomear apenas algumas. Os cristãos de tradições arminianas, que ressaltam a li­ berdade humana, parecem inclinar-se às obscuras visões do mun­ do como algo a evitar, um reino do qual se separar. Tais idéias vagas foram teologizadas especialmente nos setores metodista, holiness e pentecostal da Igreja. Porém, noções igualmente bíblicas sobre a cultura humana emergem dos escritos do apóstolo Paulo e aparecem em partes da Igreja afetada pela tradição reformada. Por exemplo, considere esta afirmação feita por Paulo num contexto de aconselhamento dado aos cristãos coríntios que se limitavam aos embaixadores favorecidos da verdade cristã: “ Tudo é vosso: seja Paulo, seja Apoio, seja Cefas, seja o mundo, seja a vida, seja a morte, seja o presente, seja o futuro, tudo é vosso, e vós, de Cristo, e Cristo, de Deus” (1 Coríntios 3.21-23). “Tudo é vosso” , a herança dos cristãos. Tudo da cultura huma­ na: toda arte, toda música, todos os atos heróicos da abnegação, toda nobreza, toda compaixão. Nada foi omitido. Tudo pertence ao cristão. Os heróis da fé. O violinista mestre. Os fabricantes de filigrana de prata pura. O evangelista eloquente. Corrie ten Boom. Albert Einstein. Os bosques de tigre. Paulo, Apoio e Cefas: O Se­ nhor não pretendeu que ninguém limitasse a receptividade a qual­ quer uma das criaturas de Deus. Tudo é vosso: todas as pessoas, até todas as coisas. O editor dos capítulos deste livro, e os próprios autores, forne­ cem aqui recursos repletos de reflexão para que por meio deles possa ser construída uma cosmovisão de amplitude que mescle Paulo e João. Estas palavras sábias ajudarão seguidores pensati­ vos de Jesus a saber o que evitar no mundo, do que se afastar. Mas também serão de ajuda na avaliação de tudo o que é bom na cultu­ ra humana, e na consideração das reflexões coletadas das mais altas criaturas do Senhor que, embora manchadas e sozinhas entre todos os seres viventes, encarnam a imagem de Deus. Recomendo este livro aos cristãos pensativos de todos os lugares, e especialmente aos adultos jovens que estão come­ çando a aprender a considerar a imensidão e diversidade do mundo de Deus. — Russel P. Slittler Reitor e Professor do Novo Testamento no Fuller Theological Seminary
  • 11. Prefácio do Editor O prefácio é frequentemente a parte menos lida de um livro. Espero que este seja uma exceção, porque o objetivo deste livro e as preocupações filosóficas que o inspiraram estão explicadas aqui. Conforme o título dá a entender, este livro considera certos componentes ou fatores — elementos, como os chamo — que cons­ tituem uma cosmovisão. E um livro escrito por estudiosos cristãos destinado a cristãos que buscam respostas claras e sólidas às ques­ tões fundamentais que estão a confrontá-los nos inúmeros aspec­ tos da vida. Mais particularmente, foi escrito para todos os cris­ tãos que se sentem intensam ente confrontados por esses questionamentos. Alguns capítulos alicerçam-se em algumas dis­ ciplinas académicas. Outros tratam de assuntos cotidianos da vida. E outros, ainda, concentram-se em fenómenos culturais. Enquanto medito na distribuição dos capítulos e as ligações entre eles, a palavra mais descritiva que me vem à mente é monta­ gem: quadros separados foram combinados para formar um qua­ dro composto. Embora os capítulos sejam unidos uns aos outros de vários modos, cada um pode ser lido independentemente. Conseqiientemente, o leitor procurará em vão por um único e contínuo argumento do princípio ao fim . Não se trata desse tipo de livro. Não obstante, ele exibe periodicamente certo tema recor­ rente: a integração da fé, da aprendizagem e da vida. Integrar é coordenar ou misturar informações, fatos e conclusões num todo funcional e unificado. Integrar a fé, a aprendizagem e a vida signi­ fica desenvolver para nós mesmo um modo completamente cris­ tão de pensar e responder a assuntos e todos os tipos de situações da vida. Significa desenvolver uma perspectiva distintamente cristã em todos os assuntos da fé, todos os modos de investigação e to­ das as profundas questões que a vida levanta. A integração em sua expressão mais rica — pensar e agir de modo completamente cristão — não é nem facilmente alcançada, nem alcançada de uma vez por todas. De fato, é melhor não pen­ sar nela como uma realização, absolutamente. E la é na verdade mais um processo que continua ao longo da vida à medida que refletimos no significado de nossa fé e intentamos permitir que isso molde nossas respostas a novas idéias e experiências. Infelizmente, o que vemos com mais frequência que integração é alguma forma de justaposição. Justapor duas coisas é pô-las uma ao lado da outra. A interação entre elas pode ser real de certa ma­ neira, mas o âmbito da interação total está limitado, e as duas nun­ ca estão verdadeiramente unidas. O estudante de psicologia estará tão-somente justapondo sua fé e seu curso universitário se não pensar cuidadosamente sobre como suas convicções cristãs rela- cionam-se com as teorias da personalidade que ele está estudando em sala de aula. O jovem gerente empresarial está meramente jus­ tapondo sua fé e sua profissão, se ele não permite que as im plica­
  • 12. PANORAMA DO PENSAMENTO CRISTÃO ções morais do seu sistema cristão de convicção influenciem sua política de administração. Em geral, justapomos (ou colocamos lado a lado) nossa fé e nosso curso universitário, ou nossa fé e nossa profissão, ou nossa fé e qualquer outro aspecto de nossa vida. Quando falamos da fé fazendo evidente diferença sobre como pensamos e nos expressamos, queremos dizer mais que simples­ mente poder declarar nossas convicções clara e sucintamente. A doutrinação pode alcançar esses resultados. Mas integração e dou­ trinação não são a mesma coisa. A doutrinação busca a aceitação inquestionável de respostas desenvolvidas por outra pessoa, nor­ malmente uma figura de autoridade, enquanto que a integração requer que descubramos para nós mesmos, mesmo que alguém nos ajude no processo. A integração, mesmo quando d ifícil e do­ lorosa, promove a fé madura. Com estas distinções em mente, apresso-me em observar que este livro é uma tentativa deliberada de dirigir-se àqueles a quem a doutrinação não é uma resposta aceitável para as grandes (e d ifí­ ceis) questões da vida. E um livro que explora idéias, conceitos e princípios, alguns dos quais controversos e todos resistentes a res­ postas fáceis. Presume uma medida de maturidade por parte do leitor. Além disso, pressupõe e encoraja uma abordagem integra­ da aos assuntos de que trata. O primeiro capítulo apresenta os elementos básicos de qual­ quer cosmovisão. São, segundo minha concepção: 1) ideologia, 2) narrativa, 3) normas morais e estéticas, 4) rituais, 5) experiên­ cia e 6) o elemento social. O restante dos capítulos lida, de uma maneira ou de outra, com aqueles seis elementos enquanto os ve­ mos desenvolvidos numa cosmovisão cristã. Em cada caso, os autores dos capítulos se esforçaram por fornecer mais que infor­ mação sobre suas respectivas disciplinas e campos de habilidade. Eles procuraram modelar o que significa pensar cristãmente — para verdadeiramente integrar a fé, a aprendizagem e a vida. É minha esperança que as palavras deles venham a servir de estímu­ lo a muitos cristãos, para que vivenciem o significado de sua fé em cada aspecto de suas vidas. — Michael D. Palmer Professor de Filosofia Evangel University
  • 13. Agradecimentos Os autores em geral isentam todas as pessoas que os ajudaram da responsabilidade por quaisquer erros ou deficiências no texto. Porém, mesmo que os erros e as deficiências sejam meus, o crédi­ to deles pertence a muitos amigos e colegas. Todos somos produ­ tos do que as outras pessoas nos ajudaram a ser. Com relação a este livro, muitas pessoas ajudaram no processo — desde a for­ mação da idéia in icial até a criação do produto final — e desejo reconhecer minha considerável dívida para com eles. A junta diretora editorial da Logion Press merece crédito pela confiança depositada em mim para empreender este projeto, e pela paciência e apoio no processo. David Bundrick, presidente da junta quando este livro foi proposto pela primeira vez, trabalhou com afinco para assegurar que o projeto tivesse um bom começo. Dayton Kingsriter, que sucedeu Bundrick como presidente da junta dire­ tora editorial, dedicou muitas horas a este trabalho. Agradeço-lhe pelo empenho como facilitador. Jean Lawson, editor administrati­ vo, e Glen Ellard , editor de publicações, foram de grande auxílio, agradáveis e profissionais em todos os sentidos. Sou grato a Leta Sapp pelo design do lay-out e texto. Kim Kelley fez excelente trabalho coordenando o lay-out e design do livro. Desejo expres­ sar agradecimento especial ao Dr. Stanley Horton, editor geral, pela atenção cuidadosa que deu aos vários desenhos de cada capítulo. Além do mais, desejo agradecer-lhe pelo apoio moral e paciência que me estendeu durante o desenvolvimento do livro. Acabei tendo pro­ fundo afeto por ele como pessoa e considerável respeito por sua habi­ lidade como editor. Trata-se de um homem em quem não há dolo — um cavalheiro no mais verdadeiro sentido da palavra — e considero um privilégio ter trabalhado com ele. Que prazer foi trabalhar com os autores colaboradores! Seus escritos estimularam meu pensamento além de qualquer coisa que eu tivesse imaginado no início. Localmente, a Evangel University tem sido um lugar maravi­ lhoso para eu amadurecer como estudioso desde que cheguei no campus em 1985. Desde os primórdios deste projeto, o Dr. Glenn H . Bemet Jr., Vice-presidente para Assuntos Académicos, deu encorajamento para o projeto — e dinheiro! Ele tem sido o principal responsável por eu haver recebido subsídio do Fundo para Projetos dos Alunos/Faculdade da universidade que subscreveu as várias des­ pesas associadas com o desenvolvimento do livro. Muitos estudantes na Evangel University também contribuí­ ram para a qualidade global deste livro . Durante duas sessões de verão (1996 e 1997), os estudantes de um curso de educação geral intitulado Filosofia Cristã leram as primeiras versões de alguns dos capítulos que aparecem aqui e fizeram comentários proveito­ sos. Estou satisfeito por terem levado a sério meu convite para fazerem um comentário sobre todos os aspectos do manuscrito.
  • 14. PANORAMA DO PENSAMENTO CRISTÃO Estou em débito com vários colegas que leram e teceram co­ mentários sobre certos capítulos. Larry Dissmore, do Departamento de Música, fez comentários sobre o capítulo de música. Turner Collins, do Departamento de Ciência e Tecnologia, propôs nume­ rosos comentários úteis no capítulo de ciência. Eu mesmo não poderia ter escrito meu principal capítulo sobre cosmovisão sem a ajuda generosa de Tw ila Edwards (Estudos Bíb lico s) e James Edwards (Humanidades). Quando em certo ponto no desenvolvi­ mento do capítulo cheguei a um impasse, eles dedicaram quase um fim de semana inteiro lendo o manuscrito e discutindo comigo numerosos assuntos organizacionais e substantivos. Michael Buesking, do Departamento de Humanidades, produ­ ziu virtualmente todos os trabalhos de arte no texto. Os esbo­ ços do seu lápis me são fonte contínua de satisfação e orgulho. Sinto-me honrado por seus nomes aparecerem neste livro. Stan Maples, do Departamento de Humanidades, projetou a capa para o livro. Agradeço a Stan por sua paciência em ouvir minhas idéi­ as para o design da capa e reconheço sua considerável habilidade em transformar minhas idéias imprecisas em imagens que pren­ dem a atenção. Aos meus colegas do Departamento de Estudos Bíblicos e F i­ losofia, que me incentivaram para que eu empreendesse este pro­ jeto e que me proporcionaram ajuda ao longo dele, expresso meus agradecimentos. Gary Liddle, cujas funções pedagógicas habitu­ ais encontram-se nos estudos bíblicos, mas que é na verdade um generalista ao estilo renascentista, é o herói não aclamado por trás deste livro. Ele crê nos conceitos, entende-os de certa maneira melhor do que eu e, portanto, suas palavras tiveram peso especial nas conjunturas cruciais ao longo do caminho. Ele ofereceu análi­ se extensa sobre vários capítulos. Suas perguntas eram investiga­ doras e seus comentários muito prestimosos. M inha esposa, C onnie M arie , fo i e tem sido m inha incentivadora e minha companheira favorita— no desenvolvimen­ to deste livro, como em tudo o mais, sine qua non. — M . D. P.
  • 15. Lista de Colaboradores Billie Davis, Ed.D. (Administração & Sociologia, University of Miami, Flórida), é Professor Emérito e ex-Cátedra do Departamento de Ciências Behavioristas da Evangel University, em Springfield, Missouri. Twila Edwards, M.A. (Literatura Inglesa, Southwest M issouri State U niversity), M A. (Literatura B íb lica, Assemblies of God Theological Seminary), é Professora Associada de Estudos B íb li­ cos na Evangel University, em Springfield, M issouri. Johnathan David Horton, Ph.D. (M úsica, George Peabody College for Teachers), é Professor de M úsica na Lee University, em Cleveland, Tennessee. Cheryl Bridges Johns, Ph.D. (Educação C ristã, Southern B ap tist Theo lo g ical Sem inary), é Professor A ssociado de Discipulado e Formação Cristã no Church of God Theological Seminary, em Cleveland, Tennessee. Edgar R. Lee, S.T.D. (Teologia, Em ory U niversity), é Vice- presidente para Assuntos Académicos no Assem blies o f God Theological Seminary, em Springfield, M issouri. Terrence Lindvall, M.Div. (Fu ller Theological Sem inary), Ph.D. (Comunicação, University of Southern Califórnia), é Pro­ fessor de Cinema e Estudos de Comunicação na Regent University, em Virginia Beach, Virgínia. Lawrence T. McHargue, Ph.D. (B io lo g ia, U niversity of Califórnia, Irvine), é Professor de Biologia na Southern Califórnia College, em Costa Mesa, Califórnia. Dennis McNutt, Ph.D. (Governo, Claremont Graduate School), é Professor de História e Ciências Políticas na Southern Califórnia College, em Costa Mesa, Califórnia. J. Matthew Melton, Ph.D. (Regent U niversity), é Cátedra de Comunicação e Letras na Lee University, em Cleveland, Tennessee. Gregory J. Miller, Ph.D. (Estudos Religiosos — História do Cristianismo, Boston University), é Professor Associado de H is­ tó ria E c le siá stic a no V a lle y Forge C h ristian C o lleg e, em Phoenixville, Pensilvânia. C harles W. N ienkirchen, Ph.D. (H istó ria , W aterloo U niversity), é Professor de História Cristã e Espiritualidade no Rocky Mountain College em Calgary, Alberta, Canadá. Ele tam­ bém serve como Professor Adjunto em faculdades de graduação de diversos seminários canadenses. Michael D. Palmer, Ph.D. (Filosofia, Marquette University), é Professor de Filosofia e Cátedra do Departamento de Estudos B íb li­ cos e Filosofia na Evangel University, em Springfield, Missouri. Miroslav Volf, Th.D. (Teologia Sistemática, Eberhard-Karls Universitát, Túbingen), é Professor em Teologia do Henry B . Wright na Yale University, em New Haven, Connecticut. Vardaman W. White, candidato a Ph.D. (Teologia e Ética, University of Iowa), vive e trabalha em Atlanta, Geórgia.
  • 16. 1 Panorama do pensamento Cristão Michael D. Palmer
  • 17. 18 MICHAEL D. PALMER ão é frequente ler um livro que me surpreenda, muito me­ N nos um que cause em mim uma impressão impactante. Mas fiquei surpreso e impressionado com o romance de Chiam Potok, The Chosen (O Escolhido). No início do romance, Reuven, o narrador, confessa: “Durante os primeiros quinze anos de nos­ sas vidas, Danny e eu morávamos a cinco quarteirões um do outro e nenhum de nós sabia da existência do outro” .1Minha infância e primeiros anos de adulto foram passados numa cidade de tama­ nho médio nas montanhas do Estado de Montana ocidental, Esta­ dos Unidos, onde eu conhecia todos os vizinhos de vários quartei­ rões em todas as direções. Assim , quando essa observação no li­ vro de Potok, minha imaginação foi instigada. Descobri, enquan­ to lia, que Reuven e Danny estavam impedidos de ser amigos, porque seus amigos mais chegados, fam ília e especialmente seus pais, tinham adotado cosmovisões competidoras. Observar a coli­ são destas cosmovisões impressionou minha imaginação e mar­ cou um ponto crucial em minha reflexão sobre as principais for­ ças da convicção e do sentimento que animam minha própria cos- movisão cristã. Dois Meninos, Dois Mundos Reuven Malter e Danny Saunders eram meninos judeus que cresceram nos anos de 1940, em um bairro densamente povoado do Brooklyn. Até os anos da adolescência, não sabiam nada um do outro porque pertenciam a seitas diferentes, ou da mesma ra­ mificação do judaísmo, com marcantes diferenças na cosmovisão. A fam ília e amigos de Danny eram judeus hassídicos, profunda­ mente conservadores com origens na Rússia. Em sua vida cotidi- ana, comunicavam-se em iídiche e observavam certas práticas cul­ turais que inequivocamente os identificavam como hassidim. Por exemplo, os homens usavam chapéus pretos e casacos pre­ tos longos, e cultivavam barbas fartas e cachos de cabelo pegados aos lados do rosto; os meninos usavam cachos de cabelo pegados O hassidismo é um movimento judaico incentiva a expressão religiosa jo vial por fundado na Polónia no século X V III por meio da música e da dança, e ensina que a um homem chamado B aal Shem Tov. O pureza de coração é mais agradável a Deus nome “ hassid ism o” d eriva da p alavra do que a aprendizagem . Em 1781, os hassidim , que significa “ os piedosos” . O talm udistas declararam herético o movimento hassídico surgiu como reação hassidism o. Não obstante, o movimento às perseguições e ao formalismo académi­ continuou crescendo e hoje é uma presen­ co do judaísmo rabínico. Desde seu início, ça forte e vital na vida judaica.
  • 18. PANORAMA DO PENSAMENTO CRISTÃO 19 aos lados do rosto e tinham franjas no lado de fora de suas calças compridas. A fam ília e amigos de Reuven, ao contrário, pratica­ vam uma ortodoxia judaica menos conservadora. Em sua vida cotidiana comunicavam-se principalmente em inglês, usavam rou- O iídiche é um idioma do alto alemão escri­ Antes do aniquilamento de 6 milhões dejudeus to em caracteres hebraicos que se desenvolveu pelos nazistas durante a década de 1940, o iídiche durante a Idade Média. A palavra “iídiche” é a era a língua de mais de 11 milhões de pessoas. forma abreviada de iídiche daytsh, que signifi­ Embora não seja uma língua nacional, hoje o ca literalmente “judeu-alemão” . Os linguistas iídiche é falado no mundo inteiro por mais de 4 classificam o idioma como membro do grupo milhões de judeus, especialmente nos Estados germânico ocidental, da subfamília germânica Unidos, Israel, Argentina, Canadá, França, Mé­ pertencente à família indo-européia de idiomas. xico, Rússia, Ucrânia e Roménia. pa americana comum e não tinham barba ou cachos de cabelo ao lado do rosto. Enquanto tanto os Maiter e os Saunders ansiavam pelo retorno dos judeus à sua pátria, suas ideologias ditavam ca­ minhos muito diferentes para que isso acontecesse. O pai de Danny, o rabino Saunders, como outros na comunidade hassídica, asseve­ rava que os judeus só poderiam voltar à sua pátria depois da che­ gada do seu tão esperado Messias. O pai de Reuven, por outro lado, juntava-se ao sionismo, um movimento ideológico que lutava para estabelecer o Estado de Israel. Além de diferirem sobre assuntos políticos importantes, os Saunders e os Maiter divergiam nas atividades cotidianas, como o *7oná Torá quer dizer “ ensinos” ou “ apren­ amplo para re­ dizagem” . Os judeus usam a palavra de ferir-se a todos duas maneiras relacionadas, mas distin­ os ensinos do tas. Prim eiro, Torá é o nome hebraico para ju d a ísm o , in ­ o Pentateuco, os cinco primeiros livros da c lu s iv e toda a B íb lia. A Torá, ou Le i Escrita, que os ju ­ escritura hebrai­ deus ortodoxos acreditam que foi revela­ ca, o Talmude e da diretam ente por Deus a M oisés no qualquer outra monte S in a i, estabelecia certas le is da in te rp re t a ç ã o moral e comportamento físico . Segundo, rab ín ica g eral­ o nome Torá é usado num sentido mais mente aceitada.
  • 19. 20 MICHAEL D. PALMER entretenimento. Danny e Reuven nunca teriam se encontrado em um teatro, porque a cosmovisão do rabino Saunders proibia assis­ tir film es. Tanto o ramo hassídico de Danny quanto o ramo ortodoxo de Reuven acreditavam em Deus e ressaltavam a importância da Torá. Não obstante, os hassidim viam o povo de Reuven com suspeita. Eles os chamavam de apikorsim, termo de zombaria usado para referir-se aos judeus que abandonavam as práticas culturais tradi­ cionais e negavam certas doutrinas básicas da fé judaica, como a existência de Deus, sua revelação e a ressurreição dos mortos. Também dizia respeito aos judeus que liam a Torá em hebraico e não em Iídiche, um pecado imperdoável aos olhos dos hassidim, porque o hebraico era a língua santa. Usá-la em discurso comum de sala de aula era considerado uma profanação do nome de Deus. Claro que o povo de Reuven não negava a existência de Deus. Porém, sua educação diferia de maneira notável da educação das crianças hassídicas. Enquanto a cosmovisão hassídica restringia a educação principalmente aos assuntos religiosos aprovados, a cos­ movisão ortodoxa acrescentava à religião tais estudos como ciên­ cia moderna e psicologia, tópicos profundamente suspeitos para o rabino Saunders. No princípio da década de 1940, com o país completamente comprometido com os esforços da guerra, alguns professores de inglês nas escolas paroquiais judaicas (yeshiva) sentiram a neces­ sidade de fazer uma declaração ao “mundo gentio” . Eles queriam mostrar que os estudantes yeshiva, conhecidos por seu estilo de *7atwtude A palavra Ta/mude quer dizer literalmente nhamento (escrito em aramaico) é chamado “ aprendizagem” ou “ instrução” . No judaísmo, Gemara. A Gemara desenvolveu-se das inter­ é o nome de uma obra composta de duas par­ pretações da Mishná feitas por estudiosos ju ­ tes: A Lei Oral judaica e os comentários deus (fariseus de c. 200 a.C. a c. 500 d .C .), rabínicos de acompanhamento. O texto da Lei cujos argumentos excessivamente minuciosos Oral (escrito em hebraico) é chamado Mishná; tornaram a obra fonte valiosa de informação í o texto dos comentários rabínicos de acompa- suplementar e comentário. vida repleto de estudos, eram fisicamente capazes como qualquer outro. Para fazerem isso, organizaram as escolas de bairro numa liga de softball, forma modificada de beisebol jogado com bola mais macia e maior. Como era de se esperar, os rabinos que ensi­ navam nas yeshivas encararam o beisebol com ceticismo. Para eles, era um nocivo desperdício de tempo. Eles temiam seu forte apelo, temiam que seduziria os jovens a abandonar sua identidade judaica, temiam que faria com que os jovens quisessem assim ilar as idéias e cultura americanas. Mas os jovens resolveram adotar o
  • 20. PANORAMA DO PENSAMENTO CRISTÃO jogo e enfrentar o preconceito de serem americanos. Para eles, uma vitória no beisebol entre as ligas “representou somente um valor menos significativo do que uma nota alta no Talmude” . O sucesso no beisebol permitiu-lhes considerar-se a si mesmos par­ ticipantes plenos na vida da nação: “Foi uma inquestionável mar­ ca do americanismo, e ser considerado um americano leal tinha se tomado cada vez mais importante para nós durante esses últimos dias da guerra” .2 Danny e Reuven encontraram-se pela primeira vez durante uma competição de beisebol entre suas duas escolas. Durante o jogo, o olho de Reuven ficou seriamente ferido, quando foi atingido por uma bola batida por Danny. A interação dos rapazes, inclusive sua consequente amizade depois do acidente, fornece base concreta para considerar o que significa manter uma cosmovisão. Também proporciona modelo proveitoso para refletir cuidadosamente e com precisão nas principais linhas de uma cosmovisão cristã. Na ver­ dade, a história destes rapazes judeus merece consideração, por causa das importantes questões que evoca, pois são as mesmas que os cristãos enfrentam hoje: perguntas sobre Deus, sobre nós mesmos, sobre nossa comunidade, sobre o que podemos esperar, sobre o que temos de fazer. Nas páginas que se seguem, exploraremos o que significa ter uma cosmovisão em geral, e em particular o que significa ter uma cosmovisão cristã. Quando tivermos terminado, disporemos de (como Danny e Reuven) uma avaliação profunda das questões e um melhor entendimento de como nossa cosmovisão pode perma­ necer unida. O que É uma Cosmovisão? Como definição in icial de nosso tópico, podemos dizer que uma cosmovisão é um conjunto de crenças que a pessoa mantém. Contudo, nem todo conjunto de crenças forma uma cosmovisão. Alguns desses conjuntos são meramente coleções fortuitas ou sor­ timentos estranhos de crenças. Ao olhar os livros numa estante em meu gabinete de estudos, identifico um chamado Triviata. Seu subtítulo descreve-o como Um Compêndio de Informações Inú­ teis. Um amigo me deu o livro como uma brincadeira. As declara­ ções desconexas dos fatos que ele contém seguramente não cons­ tituem uma cosmovisão. As convicções numa cosmovisão perma­ necem unidas, de certo modo coesas. Em vez de ser uma lista de idéias desconexas (um compêndio de informações inúteis, por as­ sim dizer), estas crenças ajustam-se umas às outras de modo uni­ ficado e formam um todo. Neste ponto, ninguém poderia encon­ trar contraste mais forte do que entre a Triviata e o Talmude. Na tradição judaica, o Talmude representa um esforço ao lon­ go dos séculos feito por muitos comentaristas rabínicos para che­ gar a uma interpretação unificada da L e i Oral judaica. Mesmo
  • 21. 22 MICHAEL D. PALMER quando os rabinos diferem em suas interpretações da Le i Oral, eles continuam se empenhando na busca de uma interpretação unificada que não contenha nenhuma contradição. No mínimo, uma cosmovisão é um conjunto de crenças que são consistentes entre si e que formam um ponto de vista unifica­ do. Mas até esta descrição não é adequada. Por exemplo, um con­ junto de crenças sobre geometria, outro sobre o equilíbrio do or­ çamento nacional e outro sobre a navegação numa grande rede de computadores como a Internet podem exibir consistência e unida­ de de perspectiva, mas nenhum destes conjuntos de crenças cons­ titui uma cosmovisão. Isto é assim por pelo menos duas razões. Prim eiro, embora consistentes e unificados em seu ponto de vista, são bastante estreitos em seu enfoque e lidam principalmen­ te com assuntos técnicos. Ao contrário, as crenças centrais de uma cosmovisão abordam interesses centrais ao significado da vida hu­ mana. Segundo, as crenças sobre geometria, a dívida interna ou a Internet têm poucas cone­ xões diretas para as outras coisas em que acre­ Uma cosmovisão é um conjunto de ditamos ou fazemos. O geômetra não tem de crenças e práticas que moldam o aplicar seu conhecimento para construir casas; envolvimento da pessoa nos assuntos uma teoria sobre o equilíbrio orçamentário na­ mais importantes da vida. cional pode muito bem nunca ver a luz do dia além da porta do economista que a desenvol­ veu; saber como navegar na Internet não diz nada sobre que tipo de informação a pessoa deve procurar ou compartilhar. Ao contrário, as crenças centrais de uma cosmovisão têm im­ plicações importantes para muitas outras crenças e práticas na vida diária. Na comunidade hassídica de Danny, por exemplo, crer em Deus afetou profundamente todas as outras crenças e práticas. Se­ melhantemente, porque acreditavam que a Torá era a lei de Deus, os hassidim também acreditavam que deveriam reunir-se regular­ mente na sinagoga para oração e estudo. Além disso, expressaram sua fé e lealdade comunitária por meio de seus rituais (ritos de passagem, como o bar mitzvah para os meninos), as roupas (cha­ péus pretos e casacos pretos longos), aparência externa (barbas fartas e cachos de cabelo pegados aos lados do rosto) e práticas tradicionais (matrimónios arranjados pelos pais). Em resumo, as crenças centrais de uma cosmovisão não são estreitas em seu foco, mas tocam quase todas as outras crenças e práticas daqueles que mantêm-se fiéis à cosmovisão. As questões enfrentadas por pessoas como Danny e Reuven na tradição judaica e por pessoas pensativas na tradição cristã são realmente questões sobre nossas crenças e práticas mais básicas. Quer estejamos cientes disso ou não, nossas crenças centrais e práticas formam um ponto de vista ou perspectiva que é distinta­ mente nosso. Esta perspectiva distintiva constitui nossa cosmovi­ são-, nossas várias crenças centrais e práticas são os elementos dessa
  • 22. PANORAMA DO PENSAMENTO CRISTÃO 23 cosmovisão. Uma cosmovisão é um conjunto de crenças e práti­ cas que moldam a abordagem da pessoa aos assuntos mais impor­ tantes da vida. Por meio de nossa cosmovisão, determinamos pri­ oridades, explicamos nossa relação com Deus e com os seres hu­ manos, avaliamos o significado dos acontecimentos e ju stifica­ mos nossas ações. Nossa cosmovisão também influencia as práticas mais comuns da vida cotidiana, inclusive os tipos de coisas que lemos e vemos, os tipos de entretenimento e atividades de lazer que buscamos, nossa abordagem ao trabalho e muito mais. Quem Tem uma Cosmovisão? Qualquer pessoa capaz de considerar esse assunto tem uma cosmovisão. O modo como falamos e agimos dá evidência que temos uma cosmovisão. Isto mostra que mantemos certas crenças, que adotamos determinado conjunto de prioridades, que certas histórias nos impressionam como particularmente eficazes e pro­ váveis de mexer conosco, e que certas práticas e situações sociais têm importância especial para nós. Claro que não é verdade que todas as pessoas que têm uma cosmovisão a possuem precisamente da mesma maneira. A cos­ movisão de algumas pessoas só existe no sentido de que herdaram um conjunto de crenças e práticas de sua fam ília e comunidade imediata. Elas não entendem suas crenças e não alcançam o signi­ ficado maior de suas ações. Acreditam e agem __________________ de forma não crítica e ingénua em vez de um modo auto-reflexivo. Na grande maioria das Quem tem uma cosmovisão? vezes explicarão por que acreditam ou fazem Todas as pessoas capazes de algo, referindo-se às tradições da fam ília, aos padrões da igreja ou à afiliação partidária po­ considerar esse assunto. lítica. Em resumo, elas só têm uma cosmovi­ são no sentido de que outra pessoa a impôs nelas, e não porque elas refletiram cuidadosamente sobre as ques­ tões importantes e escolheram sua cosmovisão. Não é incomum para os indivíduos que tão-somente herdaram sua cosmovisão presumirem que as crenças e práticas de todo o mundo são semelhantes às suas. Não desafiados por qualquer ou­ tro ponto de vista, eles podem tornar-se apáticos com relação ao seu próprio ponto de vista. Em meados dos da década de 60, numa canção intitulada “Nowhere Man” (O Homem de Nenhum Lu ­ gar), os Beatles capturaram o sentido da vida para aquele que cres­ ceu indiferente à sua cosmovisão.3 De acordo com a letra da can­ ção, o homem de nenhum lugar ocupa um lugar na terra de ne­ nhum lugar fazendo planos sem sentido para ninguém. Ao que tudo indica, ele não faz a mínima idéia para onde vai. Talvez no ponto mais comovente da canção, ouvimos que o homem de ne­ nhum lugar “não tem um ponto de vista” . A frase levanta pergunta
  • 23. 24 MICHAEL D. PALMER constrangedora: É possível não ter nenhum ponto de vista? Prova­ velmente não. E mais provável é que o verdadeiro problema do homem de nenhum lugar não seja que ele não tenha literalmente nenhum ponto de vista. Seu caso é pior. Ele é indiferente ao único ponto de vista que lhe é fam iliar. Portanto, ele pode muito bem não ter um porque não tem nenhuma idéia para onde está indo na vida. A descoberta de que nem todo o mundo "Somos os capitães de nosso segue os padrões de crença e prática similares às suas próprias pode surgir como um desper­ destino e os mestres de nossa alma tar abrupto. Quando isso ocorre, dois tipos de em nossa capacidade de decidir reação são comuns. Algumas pessoas reagem acerca da vida que levamos". defensivamente. Elas se retiram para trás dos — Vincent E. Rush dogmas memorizados e dos clichés familiares e geralmente adotam a posição de que não têm nada a aprender de estranhos. (Em The Chosen, os hassidim — particularmente os adolescen­ tes jovens — adotaram esta postura em relação aos judeus não- hassídicos.) Outras pessoas reagem com embaraço. Ao compararem suas crenças ou práticas com as dos outros, as suas podem parecer sem importância, triviais ou ingénuas. Elas podem tentar menosprezá-las ou mesmo escondê-las quando interagem com estranhos. (Uma das questões que Danny enfren­ tou quando foi para a universidade foi se deveria cortar seus ca­ chos de cabelos e usar roupas que não o identificassem como ju ­ deu hassídico.) Defesa e embaraço frequentemente são sinais de imaturidade. Indicam que o indivíduo em questão não está com­ pletamente confortável com sua própria cosmovisão. Estamos falando sobre o modo como as pessoas obtêm sua cosmovisão. Alguns indivíduos, já dissemos, meramente herdam sua cosmovisão. Aqueles que obtêm sua cosmovisão apenas por este meio limitado podem muito bem tornar-se apáticos ou indife­ rentes a ela. Ou, se inesperadamente encontram alguém que tenha uma cosmovisão diferente, podem reagir defensivamente ou com embaraço. Por outro lado, uma cosmovisão pode ser obtida por escolha. Escolher, no sentido pretendido aqui, não significa sim­ plesmente que a pessoa escolhe uma cosmovisão dentre várias opções disponíveis — como se fosse uma criança que escolhe um cachorrinho numa loja de animais domésticos. Escolher também não significa que a pessoa rejeita a cosmovisão herdada. Escolher diz respeito a um processo deliberativo que é qua­ se mais um estilo do que uma ação. Prontidão, consciência, auto- reflexão, estar presente nas alternativas — tudo isso significa o que se pretende dizer por escolha. Escolher significa que a pessoa não é lançada ao sabor do vento como os despojos que o mar da vida traz à praia. Como certo autor ressaltou: “Podemos não ser os capitães de nosso destino e os mestres de nossa alma, com capacidade total para controlar o ambiente que nos cerca, mas somos os capitães de nosso
  • 24. PANORAMA DO PENSAMENTO CRISTÃO 25 destino e os mestres de nossa alma em nossa capacidade de decidir acerca da vida que levamos...”4Em suma, o indivíduo que escolhe é o oposto do homem de nenhum lugar dos Beatles. Toda pessoa capaz de refletir sobre as questões da cosmovisão já tem uma cosmovisão? A pergunta crítica é: Como afinal de contas se obtém essa cosmovisão. Obtê-la como herança da fam ília e da comunidade imediata pode ser uma boa forma de começar. Na verdade, esse é o modo como todo o mundo obtém uma cosmovi­ são. Mas em certo sentido importante, uma cosmovisão herdada ainda não é inteiramente da pessoa. Tê-la inteiramente como sua — vivenciá-la com convicção e acreditar nela com entendimento — requer que o indivíduo a escolha. Aquele que escolhe uma cos­ movisão tomando-a uma questão de escolha deliberada e reflexi­ va não ficará apático ou indiferente a ela. Nem é provável que tal indivíduo se porte defensivamente ou fique envergonhado com ela. Finalm ente, aquele que escolhe uma cosmovisão está melhor posicionado para avaliar as deficiências de sua própria cosmovi­ são e para aprender de outras cosmovisões. ‘ eâ&uçâa de ‘r¥oCme& de uma, D Nas últimas décadas, os cristãos têm en­ 3. É um processo exploratório, sondan­ frentado tremendos desafios intelectuais em do a relação de uma área após a outra para a várias frentes. E o menor deles certamente perspectiva unificada. não é o de enunciar uma cosmovisão que sir­ 4. É pluralista no sen­ va para as doutrinas centrais da fé do cristi­ tido de que a mesma pers­ anismo e ao mesmo tempo funcione adequa­ pectiva básica pode ser damente como resposta aos desenvolvimen­ enunciada de maneiras um tos contemporâneos da ciência empírica, da tanto diferentes. teoria moral, das artes e da filosofia. Um dos 5. Tem resultados de líderes em enfrentar este desafio desde a se­ ação , pois o que pensamos gunda metade do século X X tem sido o filó ­ e o que avaliamos guiam sofo Arthur Holmes. No trecho apresentado o que faremos.” a seguir, Holmes oferece um resumo dos Este trecho é um principais critérios de uma estmtura intelec­ excerto de The Making of tual que pode de maneira justa ser chamada a C hristian Mind, A de cosmovisão. Christian World View & the Academ ic “ Uma cosmovisão global apresentará as Enterprise (A Estrutura de uma Mente C ris­ seguintes características: tã, Uma Cosmovisão Cristã e o Empreen­ 1. Tem uma meta globalizada, buscando dimento A cad ém ico). Downers G rove, ver cada área da vida e do pensamento de Illin o is: InterV arsily Press, 1985, p. 17. uma forma integrada. Outras obras notáveis de Holmes são AI.I 2. E uma abordagem sob um determina­ Truth is G od’s Truth (Toda Verdade é a do aspecto, versando as coisas de um ponto Verdade de D eus) e C ontours o f a de vista previamente adotado que agora pro­ Christian Worldwide (Contornos de uma porciona uma estrutura integrada. Cosmovisão C ristã).
  • 25. Elementos de Uma Cosmovisão Uma cosmovisão bem desenvolvida fornece tipicamente um amplo quadro das preocupações essenciais da vida. Portanto, uma cosmovisão bem desenvolvida evidencia em geral certos compo­ nentes ou elementos essenciais. Na ciência como a química, um elemento é uma substância fundamental que consiste em átomos de um só tipo. Usamos a palavra elemento deste modo quando falamos de elementos químicos, como o hidrogénio ou o hélio da tabela periódica. Na matemática um elemento é um membro bási­ co de uma questão matemática ou lógica. Na fé cristã, usamos a palavra elementos (plural) para nos referirmos ao pão e ao vinho associados com a memória da última ceia de Cristo. Entretanto, dentro do contexto de falar sobre cosmovisão, um elemento é mais como um aspecto definível de como os seres hu­ manos explicam e praticam o que acreditam. Uma cosmovisão bem desenvolvida mostra caracteristicamente pelo menos seis ele­ mentos distintos.5 Podem ser descritos sucintamente da seguinte forma: 1. Ideologia. O elemento ideológico de uma cosmovisão con­ siste em crenças centrais. Estas crenças normalmente são expres­ sadas de uma maneira formal e precisa, como nas proposições fi­ losóficas, declarações de credo, fórmulas autorizadas ou doutri­ nas. A ideologia de uma cosmovisão também é geralmente ex­ pressada de um modo sistemático, significando que algum esfor­ ço é feito para assegurar que as declarações chaves sejam consis­ tentes entre si. Em The Chosen, o rabino Saunders ensinou a Danny as ideologias do hassidismo mediante estudo intensivo do Talmude. 2. Narrativa. O elemento narrativo de uma cosmovisão reconta certos eventos significativos da história daqueles que mantêm a cosmovisão. Em alguns casos, as narrativas também tratam de eventos futuros. As narrativas podem ser sobre muitas coisas, por exemplo, uma pessoa famosa, a fundação de um povo ou nação, o começo do mundo ou a interação de alguém com Deus ou com práticas religiosas. Com frequência, os narradores expressam es­ ses eventos em escritos sagrados, mitos, contos históricos, históri­ as, lendas ou até na letra de um hino. As vezes, os artistas também representam temas narrativos em pinturas ou outras formas de arte. Se a ideologia expressa crenças centrais em linguagem precisa e formal, as narrativas expressam crenças centrais pelo exemplo, imagem, símbolo ou metáfora. As histórias bíblicas de Abraão, Isaque e Jacó são centrais para a cos­ movisão hassídica. 3. Normas. Uma norma é um padrão de algum tipo. Quando se trata de uma cosmovisão, dois dos mais importantes tipos de nor­ mas são as normas morais ou éticas e as normas estéticas. As nor­ mas estéticas proporcionam base para a tomada de decisão sobre o que é bonito, agradável ou sublime.6 A s normas morais estabe­
  • 26. PANORAMA DO PENSAMENTO CRISTÃO 27 lecem exigências para a conduta correta, estipulam nossas res- ponsabilidades e geralmente nos explicam que tipo de pessoa de­ vemos ser. Em The Chosen, o lugar das normas morais no judaís­ mo emerge vigorosamente em certo ponto, quando Danny visita Reuven no hospital logo depois de ferir-lhe o olho. Com raiva de Danny, Reuven a princípio recusa-se a falar, mas depois explode: “Vá para inferno e leve junto esse seu grupo esnobe de hassidim ” . Quando o senhor Malter fica sabendo da atitude indelicada de Reuven, diz: “Você fez uma coisa tola, Reuven. Lembre-se do que diz o Talmude. Se alguém vem se desculpar por tê-lo ferido, você tem de ouvi-lo e perdoá-lo” .7 Estes três elementos de uma cosmovisão — ideologia, narrati­ va e normas — formam um complicado padrão de crenças. Con­ tudo, este padrão não existe meramente na teoria. Ele se torna vital e dinâmico no contexto da experiência e da prática. No juda­ ísmo ortodoxo, por exemplo, as crenças acerca de Deus (ideolo­ gia) não são meros conceitos sobre alguma deidade neutra e dis­ tante considerada como o Mestre do Universo.8E le é um ser que é ativamente adorado. Os hassidim retratados em The Chosen oram a Ele nas sinagogas do bairro e falam sobre Ele nas casas, ruas e lojas. Sua influência é sentida em todas as facetas de suas vidas, porque eles acreditam que são seu povo escolhido. A história (nar­ rativa) que eles recontam sobre os atos de Deus na história do povo deles é célebre e representada de novo em certos rituais, como aqueles associados com a Páscoa e o Hanuká. As narrativas cen­ trais juntamente com os rituais tradicionais evo­ cam intensas experiências para o crente. 4. Ritual. Um ritual é um ato cerimonial Estes três elementos de uma executado periodicamente em ocasiões espe­ cosmovisão — ideologia, narrativa e ciais. E projetado a representar novamente ou recordar um acontecimento especial. Um ritu­ normas — formam um complicado al pode ser sombrio ou festivo, formal ou in­ padrão de crenças. formal. Em todo caso, os rituais proporcionam uma ocasião para se refletir no significado das crenças centrais do indivíduo e evocam uma resposta afetiva a essas crenças. Ambas as funções são tencionadas a integrar os pa­ drões de crença no trama da vida interior e no caráter da pessoa. Por exemplo, observar a Páscoa envolve celebrar e, de certo modo, reviver a libertação dos hebreus da escravidão egípcia descrita no Livro de Êxodo. 5. Experiência. Quando falamos do elemento experiencial de uma cosmovisão, queremos dizer o modo como alguém se dá con­ ta vivamente das verdades expressadas nas crenças centrais. As crenças já não parecem abstratas e distantes. Ao invés disso, tor­ nam-se imediatamente presentes. Os hassidim são famosos por nutrir experiências altamente místicas e pessoais. 6. Elemento Social. As crenças centrais de qualquer cosmovi­ são evaporarão como a névoa ao sol da manhã, se não estiverem
  • 27. embutidas numa situação social. Isto é assim porque a situação social fornece as estruturas organizacionais e outros meios que permitem que as crenças sejam perpetuadas de uma geração para outra. Uma das características mais notáveis de The Chosen é o modo como Potok fornece insight na vida comunitária hassídica. Cada seita hassídica tinha seu próprio rabino, sua própria sinago­ ga e yeshiva, seus próprios costumes, suas próprias lealdades fer­ renhas. Em um comentário bastante expressivo sobre a vida na comunidade, Reuven diz: “Em um sábado ou manhã festiva, os membros de cada seita podiam ser vistos caminhando para as suas respectivas sinagogas, vestidos com seus trajes particulares, ansi­ osos para orar com seu rabino particular e esquecer o tumulto da semana...” 9 Comentamos anteriormente que uma cosmovisão é um con­ junto de crenças e práticas que moldam a abordagem de uma pes­ soa para as mais importantes (e muitas outras) questões da vida. Todo mundo, dissemos, tem uma cosmovisão. Também fizemos uma descrição breve de seis elementos mais importantes de uma cosmovisão. A seguir, examinaremos estes seis elementos com mais detalhes em preparação à descrição de uma cosmovisão cristã. O Elemento Ideológico A s cosmovisões geralmente surgem da experiência e das nar­ rativas que exemplificam e desenvolvem-se nessa experiência. Mas as experiências variam de uma pessoa para outra, e as narrativas por sua própria natureza prestam-se a múltiplas interpretações. Por estes motivos as cosmovisões comumente desenvolvem um con­ junto de declarações autorizadas que constituem seu elemento ide­ ológico. Estas declarações formam uma estrutura central, ou sis­ tema, para explicar a realidade. Já nos referimos a elas como cren­ ças centrais. Por exemplo, o judaísmo ortodoxo expressa diversas crenças centrais, entre elas: Há um só Deus, Deus criou o mundo, Deus está ativamente envolvido na história. Estas crenças essenci­ ais são parte do elemento ideológico do judaísmo ortodoxo. Estas doutrinas (e outras importantes) explicam a natureza de Deus e sua relação com o resto da criação, inclusive os seres humanos. F u n ç õ e s G e r a is da I d e o l o g ia O elemento ideológico de uma cosmovisão exerce diversas funções. Uma dessas função é trazer ordem e coerência à vasta série de dados proporcionados na experiência. Superficialmente, as coisas que vivenciamos parecem não ter nenhuma relação uma com outra. Além disso, as experiências de uma pessoa afiguram- se não ter conexão com as de outra pessoa, especialmente se a outra pessoa mora em outro país ou se viveu no passado. Mas a ideologia pode fornecer um senso de ligação entre eventos apa­ rentemente discrepantes e entre pessoas separadas geograficamente
  • 28. PANORAMA DO PENSAMENTO CRISTÃO 29 e pelo tempo. Este ponto é vividamente notório na ideologia do judaísmo. Durante o tempo em que Moisés estava procurando as­ segurar a libertação dos hebreus, as pragas que sobrevieram aos egípcios não eram catástrofes simplesmente fortuitas e isoladas. Faziam parte de um destino maior: A obra de Deus nos eventos históricos. O judaísmo também nutriu sempre um forte senso de identidade do seu povo. Os judeus não são meros indivíduos isolados, mas membros de um povo histórico. Os Livros da Le i os lem­ As cosmovisões comumente bram desta conexão histórica com seus ante­ passados. No Livro de Deuteronômio, quando desenvolvem um conjunto de Moisés está a ponto de pronunciar os manda­ declarações autorizadas que mentos de Deus, ele diz: “ O SEN H O R, nosso constituem seu elemento ideológico. Deus, fez conosco concerto, em Horebe [mon­ te Sinai]. Não foi com nossos pais que fez o SEN H O R este concerto, senão conosco, todos os que hoje aqui estamos vivos” (Deuteronômio 5.2,3). Os indivíduos a quem estas palavras foram ditas não estavam presentes quando o concerto foi feito em Horebe. Não obstante, o concerto é válido para eles em cada detalhe tanto quanto o era para seus antepassados, porque eles são parte de um povo escolhido por Deus desde tempos imemoriais. Em resumo, uma função da ideologia é trazer ordem e coerência à experiência. Uma segunda função é fornecer base para avaliar os valores, os insights e as declarações de conhecimento dos outros. Tem ha­ vido poucas épocas na história humana em que os partidários de qualquer determinada cosmovisão viveram uma geração inteira, ou mesmo várias gerações, sem encontrar pessoas cuja cosmovi­ são diferia radicalmente da deles. Mesmo os mais isolados povos ocasionalmente interagiam com estranhos. No ponto do fato his­ tórico, a maioria dos povos interagia com estranhos de maneira frequente e diversa, desde o comércio à guerra e à troca cultural. Sempre que ocorre interação entre uma pessoa e outra, a per­ gunta surge naturalmente: Como iremos avaliar e dar sentido àquilo que estas pessoas (os estranhos) dizem e fazem? A ideologia da cosmovisão do indivíduo fornece uma estrutura de referência para responder à pergunta. Quando Daniel e outros membros jovens da nobreza judaica foram levados cativos para a Babilónia no século V II a.C ., eles mantiveram sua identidade, enfrentaram e venceram a cosmovi­ são de seus captores, em parte porque estavam bem fundamentos em sua própria cosmovisão. Eles julgaram o que era bom e mau, certo e errado, proibido e permitido. Mas sem uma compreensão clara das crenças centrais de seus captores, eles facilmente pode­ riam ter sido assimilados pela vida e cultura babilónicas. Uma terceira função do elemento ideológico é definir a comu­ nidade. Em outras palavras, a ideologia ajuda a separar as pessoas íntimas dos estranhos, aqueles que pertencem ao grupo daqueles
  • 29. 30 MICHAEL D. PALMER que não pertencem ao grupo. Em cada cosmovisão, as crenças tipicamente aceitas por aqueles que mantêm-se fiéis à determina­ da cosmovisão formam uma estrutura, um esqueleto, que dá for­ ma ao mundo como percebidas pelos membros da comunidade. Enquanto normalmente há alguma abertura em como interpretar e aplicar as crenças centrais, qualquer um que estira demasiadamente os lim ites arrisca ser separado da comunidade. Grandes diferen­ ças nas crenças centrais não podem em geral ser toleradas indefi­ nidamente. Considere, por exemplo, que os cristãos da Igreja prim itiva eram judeus. Uma profunda divisão ideológica aconteceu quase que imediatamente dentro do judaísmo, porque os seguidores de Jesus declararam que Ele era divino e igual a Deus — uma noção ideológica inaceitável para os judeus ortodoxos. C o n t e ú d o I d e o l ó g ic o G e r a l As cosmovisões que de outra forma diferem uma da outra em seu conteúdo específico — mesmo aquelas que são radicalmente opostas uma a outra — mostram uma semelhança interessante no modo como desenvolvem seu conteúdo ideológico em geral. Em outras palavras, as cosmovisões tendem a falar sobre tópicos se­ melhantes. Por exemplo, as cosmovisões naturalistas (como o existencialismo ateísta marxista) e as cosmovisões teístas (como o judaísmo ou o cristianismo) divergem em muitos pontos impor­ tantes. Elas são tão diferentes em alguns pontos que entram em conflito uma com a outra, às vezes até se contradizem. Não obstante, falam sobre tópicos similares. Por exemplo, ambas ex­ pressam visões ideológicas sobre o que existe e ambas fazem as- severações sobre a natureza humana. Vamos examinar estes tópi­ cos mais de perto. ~j O alem ão K a rl M arx apelava aos direitos naturais para justificar (1818-1883) fo i o filósofo a reforma social. M arx invocou o que acre­ social e revolucionário que ditou ser as leis da história que inevitavel­ viveu e escreveu na plenitu­ mente levariam ao triunfo da classe operá­ de da Revolução Industrial ria. M arx foi exilado da Europa depois das do século X IX . E le e revoluções de 1848. Em sua monumental Friedrich Engels são conside­ obra O Capital (3 volumes, 1867-1894), a rados os fundadores do mo­ qual foi escrita quando ele morava em Lon­ derno socialismo e do comu­ dres, M arx apresentou uma crítica cortante nismo. Com Engels, ele es­ à teoria económica capitalista e desenvolveu creveu o Manifesto Comunis­ uma teoria económica própria. ta (1848) e outras obras que quebraram a tra­ Para mais informações sobre M arx, veja o dição de teoristas como John Locke, que Apêndice 3, “K arl M arx” , no fim deste livro.
  • 30. PANORAMA DO PENSAMENTO CRISTÃO T e o r ia de F undo sobre o que E x is t e A s declarações ideológicas gerais sobre o que existe constitu­ em o que podemos chamar de teoria de fundo sobre a natureza do universo. Uma teoria de fundo aborda pelo menos três tópicos: o cosmo, Deus e a história.1 0 O Cosmo. A expressão cosmo foi usada pela primeira vez pe­ los gregos antigos para referir-se a algo formoso e sistematica­ mente organizado — como as linhas numa tapeçaria. O oposto de cosmo era o caos ou a desordem. Desde então, os gregos usaram o termo para descrever o arranjo ordenado e harmonioso das estre­ las e dos planetas como apareciam no céu à noite. Hoje, o signifi­ cado do termo foi ampliado para incluir não só a harmonia dos corpos celestiais, mas o universo em geral — literalmente, tudo o que existe. Inclui as coisas que prontamente vemos como também as coi­ sas difíceis de se ver, por exemplo, os elétrons. Também inclui coisas que não podemos ver de jeito nenhum, mas que podemos apenas pensar nelas, como números, conceitos, leis da natureza. Apesar destas mudanças em seu uso nos tempos modernos, o ter­ mo cosmo ainda levanta questões que os gregos antigos pondera­ vam. Se os corpos celestiais no céu à noite estão distribuídos de um modo ordenado e harmonioso, o que explica essa ordem e har­ monia? Alguém ou algo os organizou de acordo com algum plano, ou sua aparência é só produto do acaso? Uma cosmovisão naturalista é aquela que nega que qualquer evento ou objeto tenha algum significado sobrenatural. As moder­ nas cosmovisões naturalistas asseveram que leis científicas ou princípios são adequados para explicar todos os fenómenos, tais como o arranjo dos corpos celestiais e o movimento dos elétrons. Uma cosmovisão teísta, por contraste, é aquela que adota a idéia de que poderes sobrenaturais desempenham um papel no desdo­ bramento dos eventos. Portanto, as cosmovisões teístas de hoje rejeitam a reivindicação de que as leis científicas em si podem explicar o mundo e a nossa experiência dele. O marxismo e o existencialismo ateísta são exemplos de cosmovisões naturalistas. O judaísmo, o islamismo, o hinduísmo e o cristianismo são exem­ plos de cosmovisões teístas. Deus. É bastante óbvio que nem todas as cosmovisões reco­ nhecem a existência de Deus. Entretanto, todas as principais cos­ movisões afirmam, ou pelo menos implicam, uma posição relati­ va à existência dEle. O judaísmo, o islamismo e o cristianismo como cosmovisões teístas têm muito a dizer em suas declarações ideológicas, doutrinárias, sobre a existência de Deus, seus atribu­ tos, suas atividades. Como era de se esperar, o marxismo, como cosmovisão naturalista, tem menos a dizer sobre Deus. Não obstante, não ficou calado no assunto nem é neutro. O próprio M arx negava a existência de Deus. De fato, ele é famoso por ter declarado que a religião é “ o ópio do povo” , querendo com isso
  • 31. 32 MICHAEL D. PALMER afirmar que a vida de fé é enganosa e ilusória: Não oferece espe­ rança alguma para resolver os problemas existenciais, e só é bem- sucedida em encobri-los temporariamente. A História. Toda importante teoria de fundo do universo tam­ bém afirma ou im plica algo sobre a história em sua ideologia. As cosmovisões teístas enfatizam a obra de Deus no fluxo da histó­ ria. Elas destacam o modo como Deus usa as pessoas e os aconte­ cimentos, em momentos e em locais específicos, para cumprir seus propósitos supremos, que são infinitos. Por exemplo, o hassidismo, tanto na realidade quanto descrito no romance de Potok, identifica um homem chamado Baal Shem Tov como alguém especialmente chamado por Deus em cerca de 1750 para viver uma vida piedosa e ensinar os outros a viver pia­ mente. (Hassidim quer dizer “ os piedosos” .) O judaísmo em geral também tem um forte senso da interven­ ção de Deus na história: Deus criou o universo e os seres humanos (Génesis 1— 2), deu uma promessa histórica a Abraão (“ Por pai da multidão de nações te tenho posto” [Génesis 17.5]) e até usou os inimigos dos hebreus (por exemplo, Faraó e Ciro) para cumprir seus propósitos. Uma cosmovisão cristã diverge de qualquer cos­ movisão judaica em um aspecto crucial: Jesus, ao mesmo tempo divino e humano, é a figura central no relato do tratamento de Deus para com a humanidade. As cosmovisões naturalistas afirmam uma visão cegamente mecânica da história. A história é o produto dos seres humanos interagindo entre si e com as forças naturais impessoais. Entretan­ to, os naturalistas estão divididos no que tange a se a história exi­ be padrões — quer sejam de progresso ou de regresso. O filósofo francês Jean-Paul Sartre rejeitou qualquer noção da ordem natural “participante” , ou que ela seja responsável por qualquer coisa como eanr O francês Jean-Paul causa do seu envolvimento com as forças da Sartre (1905-1980) foi fi­ resistência francesa e em parte por causa do lósofo, dramaturgo e no- seu brilho filosófico, depois da guerra Sartre velista. A partir de 1936, emergiu como figura dominante no m ovi­ publicou estudos filosó­ mento existencialista francês. (3 próprio ficos e romances, sendo Sartre era ateu. Durante os anos imediatos os mais notáveis A Náu­ depois da guerra, ele escreveu vários roman­ sea (1938) e O Muro ces e peças teatrais que lhe deram fama mun­ (1939). Durante a Segun­ dial. da Guerra M undial, ele Para informações adicionais, veja Apên­ completou sua obra filosófica mais impor­ dice 2, “ Jean-Paul Sartre” , no final deste tante, O Ser e o Nada (1943). Em parte por
  • 32. PANORAMA DO PENSAMENTO CRISTÃO o progresso histórico. Para ele, a natureza não tem nenhum propó­ sito último, nenhuma intenção, nenhuma direção — simplesmen­ te existe. Por outro lado, K a rl M arx, que certamente rejeitava qualquer noção de propósito divino ou plano para a história, declarou que a natureza mostra padrões de progresso. Os seres humanos são par­ te da natureza; portanto, também mostram padrões de progresso em sua história. Relato da Natureza Humana Além de fornecer uma teoria de fundo do universo, as cosmo­ visões oferecem um relato geral do que significa ser humano. Este relato trata de certos temas importantes da teoria de fundo. Por exemplo, se a teoria de fundo rejeita (ou é silenciosa sobre) a no­ ção de que o universo tem um propósito e um destino último, en­ tão o relato associado da natureza humana também rejeitará (ou estará silencioso sobre) se a pessoa individual tem um propósito ou um destino último. Semelhantemente, se a teoria de fundo diz que o universo tem um propósito e um destino último, então o relato associado da natureza humana expressará a mesma visão sobre a pessoa in divi­ dual. Sartre, um existencialista ateísta, retrata o universo como totalmente destituído de propósito e destino último. A natureza não existe para os seres humanos. Na verdade, a natureza não existe para qualquer coisa. Simplesmente existe — sem plano, propósito, intenção, esperança ou destino.1 (Certo personagem em 1 um dos romances de Sartre, percebendo este ponto enquanto pon­ dera junto às raízes de um castanheiro gigante, sente repugnância pelo pensamento e vom ita.)1 Consistente com esta visão do uni­ 2 verso, Sartre afirma que os seres humanos, no início da vida, tam­ bém carecem de qualquer propósito essencial ou destino. Nem Deus nem a natureza dão significado à vida. Se a vida algum dia vier a ter um propósito ou significado, acontecerá apenas porque a pessoa escolhe tomá-la significativa. Por contraste, o judaísmo e o cristianismo asseveram que Deus criou o universo, que E le está atuando no universo para pôr em execução seus propósitos, e que o universo tem um destino último de acordo com o seu plano. E a humanidade se ajusta no propósito último de Deus para o universo? Sim , com certeza! O livro de Génesis, sagrado tanto para o judaísmo quanto para o cristianis­ mo, declara que fomos feitos à imagem de Deus. Potok, referin­ do-se ao fundador do hassidismo, diz: “ Ele os ensinou que o pro­ pósito do homem é tornar a vida santa — cada aspecto da vida: comer, beber, orar, dormir” .13 Obviamente que uma cosmovisão que descreve o indivíduo como tendo um propósito e um destino último também expressará um conjunto de ideais para cada pessoa. Esses ideais podem ser traços de caráter interior. Por exemplo, o apóstolo Paulo, falando
  • 33. 34 MICHAEL D. PALMER no século I d .C ., descreve a tarefa de cada pessoa como a de confor­ mar-se à imagem de Cristo. E le estabelece certos ideais de caráter em referência a Jesus. Cada pessoa tem de esforçar-se para encarnar os ideais de caráter modelados por Jesus, inclusive a integridade pessoal, a humildade, a mansidão, a paciência, o amor e a compai­ xão. Os ideais também podem ser expressos como situações soci­ ais. Os antigos profetas judeus, por exemplo, exaltavam a justiça como um ideal social. Para eles, a sociedade justa seria aquela em que o pobre e o fraco seriam adequadamente cuidados. Se as cosmovisões propositadas parecem naturalmente expres­ sar ideais para seus partidários, as cosmovisões naturalistas tam­ bém oferecem ideais? A resposta parece ser um qualificado sim. Como observamos anteriormente, M arx negou a existência de Deus. Portanto, ele não deixou lugar em sua cosmovisão para um conceito de propósito divino para os seres humanos. Neste sentido, a humanidade não tem nenhum destino e nenhum ideal a alcançar. Porém M arx reivindicou descobrir padrões de progresso na história humana: E le raciocinou que os seres humanos progredi­ ram do antigo barbarismo através dos estágios da escravidão e do feudalismo para as formas capitalistas da sociedade e da econo­ mia. O estágio fin al, acreditava ele, era aquele no qual os traba­ lhadores viriam a controlar a indústria e outros meios de produ­ ção. O controle destas forças económicas lhes perm itiria mudar as instituições sociais e políticas para melhor e, assim, ocasionar as melhores relações possíveis (quer dizer, o ideal) entre todos os seres humanos. Em suma, embora a cosmovisão de M arx certa­ mente não seja propositada, parece identificar certos ideais e de­ fender o empenho por eles. Albert Camus, como Jean-Paul Sartre, rejeitou não apenas a noção de propósito como se evidencia na cosmovisão teísta, mas também qualquer coisa como os padrões de progresso descritos por M arx. Para ele, a realidade é absurda — totalmente destituída de significado, propósito ou plano. Isto significa que, para Camus, as escolhas humanas são no final das contas arbitrárias. Coisas e eventos são o que lhes fazemos ser, e realmente não há razão para fazê-las de um jeito em vez do outro. Isto significa que Camus não reconheceu nenhum ideal? A resposta é: De fato, ele reconhe­ ceu ideais. Em sua mais famosa publicação ideológica, O Mito de Sísifo, Camus adapta aos seus próprios propósitos filosóficos o antigo mito grego de S ísifo .1 De acordo com o mito, certo dia, Sísifo, rei 4 de Corinto, incorreu na ira inexorável de Zeus. No Hades, o submundo, Zeus castigou Sísifo forçando-o a rodar uma pedra para cima e repetir este ciclo para sempre. Para Camus, Sísifo é “o operário fútil do submundo” . Sua atividade é totalmente sem sen­ tido, completamente destituída de propósito. Deve Sísifo — deve aqueles cujas vidas refletem a vida de Sísifo — desesperar-se? Camus acha que não. A alegria é uma opção: “A pessoa tem de
  • 34. PANORAMA DO PENSAMENTO CRISTÃO 35 imaginar Sísifo fe liz” .1 Mas como? E onde está o ideal nesta re­ 5 presentação da condição humana? A alegria é possível porque o significado de destino é no fim uma questão de ser resolvida pelos seres humanos. Segundo Camus, Zeus pode ditar nosso destino, mas somente nós podemos determinar o que esse destino sig nificará para nós e se nos desgraçará. “ Sísifo” , diz Camus, “ ensina a mais alta fidelidade que nega os deuses e levanta pedras.” 1 O ideal de Camus — sua 6 figura heróica — é alguém que logo reconhece que o universo é implacavelmente frio e indiferente para com os interesses huma­ nos, mas que, não obstante, resolve alcançar um tipo de “ vitória absurda” ao determinar para si que suas experiências tenham sig­ nificado. Os ideais estabelecem que tipo de pessoa devemos ser e exemplificam o que vale a pena alcançar. Os ideais representam a realidade e a condição humana como elas devem ser, e não como são. A implicação é que as coisas podem ser melhores do que são. Assim , quando uma cosmovisão inclui um conjunto de ideais, tam­ bém costumeiramente oferece uma explicação sobre porquê as pessoas não alcançam esses ideais. Nas cosmovisões judaica e cristã os seres humanos vivem idealmente em comunidades fraternais entre si e em harmonia com o seu Criador. Estas relações ideais existiram no princípio, numa situação como o jardim . Elas foram quebradas pelo fato de terem as escolhas humanas rejeitado os propósitos de Deus. Numa cos­ movisão existencialista com a de Sartre ou Camus, os seres huma­ nos vivem idealmente vidas autênticas, executando projetos que tóent &uuu& O francês Albert Camus (1913-1960) foi po, afirmam sua humani­ romancista e homem de letras. Nascido em dade ao se rebelarem con­ Algiers, Argélia, grande parte de sua vida tra essa mesma situação (a intelectual foi dedicada a explorar sua con­ volta humanística distinta­ vicção de que a condição humana é absurda. mente de Camus). Os tra­ Este fato, juntamente com sua associação balhos mais notáveis de Camus são os ro­ com o filósofo francês Jean-Paul Sartre, le­ mances O Estrangeiro (1942), A Peste (1947) varam muitos a identificá-lo como membro e A Queda ( 1956), e seus ensaios O Mito de do movimento existencialista, embora sua Sísifo (1942) c O Rebelde ( 1951). Em 1957, marca particular de humanismo o distinguisse Camus foi premiado com o prémio Nobel daquele movimento. Os personagens de suas de literatura. Morreu num acidente de auto­ peças e romances são obviamente apresentados móvel em 1960. Na época de sua morte, ele como reconhecedores do absurdo e da falta estava trabalhando num romance autobiográ­ de sentido da situação deles (um tema fico, postumamente publicado em 1995 sob existencialista proeminente); ao mesmo tem­ o título O Primeiro Homem.
  • 35. 36 MICHAEL D. PALMER eles escolheram livremente. Eles ficam aquém do ideal, porque recusam a aceitar o fardo de sua própria liberdade e porque fa­ lham em assumir a plena responsabilidade pelo vasto alcance das escolhas implicadas por aquela liberdade. Na cosmovisão marxista, os seres humanos existem idealmente em harmonia (e não em competição) entre si, trabalham em tare­ fas que satisfazem (e não humilham) e desfrutam o fruto do seu trabalho (em vez de vê-lo tomado por outros e usado contra eles). O ideal foge ao entendimento deles, por causa de certos arranjos económicos capitalistas subjacentes, e por cau­ sa das estruturas sociais e políticas que refor­ Em geral, cada cosmovisão não çam a economia capitalista. Em geral, cada só enuncia certos ideais, mas cosmovisão não só enuncia certos ideais, mas também explica por que os seres humanos não também explica por que os seres os alcançam. humanos não os alcançam. Ordinariamente, quando uma cosmovisão enuncia um conjunto de ideais e então explica como os seres humanos e suas instituições so­ ciais ficam aquém dos ideais, também oferece alguma solução. Se os ideais (ou algo parecido com eles) outrora existiram , então a cosmovisão explicará como recuperar o que estava perdido. Por exemplo, o judaísmo identifica um tempo sob o governo dos reis D avi e Salomão quando Israel era uma nação unificada. Se esse tempo não era bastante ideal, com certeza representava um ponto político e social culm inante para os judeus. O ideal foi perdido quando os exércitos estrangeiros repetidamente invadi­ ram a pátria deles. O ideal só pode ser recuperado quando os ju ­ deus se preparam espiritualmente e Deus intervém na história para prover o M essias. Claro que para algumas cosmovisões, os principais ideais na verdade nunca existiram . Só existem no futuro, no horizonte do tempo. Neste caso, a cosmovisão explicará como alcançá-los. O marxismo é justamente tal cosmovisão. Os marxistas acreditam que nunca houve um tempo na história humana em que a maioria dos seres humanos de algum modo não sentiu falta de comunida­ de, não sofreu as indignidades do trabalho forçado, não perdeu o controle sobre suas ferramentas e os produtos do seu trabalho. Mas com o capitalismo desenfreado na plenitude da Revolução Industrial na Europa e nos Estados Unidos no século X IX , estas condições pioraram. As mulheres trabalhavam em miseráveis es­ tabelecimentos escravizantes e morriam prematuramente. Os ho­ mens competiam entre si por empregos de baixos salários. Mes­ mo as crianças trabalhavam horas dolorosamente longas em con­ dições imundas. Para M arx, a causa e a solução eram económicas. O capitalismo desenfreado, em vez dos arranjos sociais ou políti­ cos, era responsável pela prevalecente miséria e alienação. Uma vida melhor — na verdade, a vida ideal — só pode ser alcançada no futuro à medida que as condições económicas são mudadas.
  • 36. PANORAMA DO PENSAMENTO CRISTÃO Resumo Nesta seção, discutimos o elemento ideológico de uma cosmo­ visão. Prim eiro, citamos três funções gerais da ideologia: 1) trazer ordem e consistência aos dados proporcionados pela experiência, 2) fornecer base para avaliar os valores, os insights e as declara­ ções de conhecimento dos outros e 3) definir a comunidade. Estas funções da ideologia não pertencem a uma cosmovisão específi­ ca. Antes, são funções comuns de qualquer cosmovisão. Em seguida, fornecemos um esboço do conteúdo ideológico geral de uma cosmovisão. Aqui comentamos mais uma vez que embora as cosmovisões possam ser diferentes em seu conteúdo específico, elas falam sobre tópicos semelhantes. Por exemplo, eles forne­ cem uma teoria de fundo sobre o que existe. Três tópicos cen­ trais da teoria de fundo são o cosmo, Deus e a história. A s cos­ movisões também fornecem um relato geral da natureza huma­ na. Este relato explicará se a vida humana tem ou não propósi­ to, que ideais valem a pena alcançar, em que aspecto os seres humanos ficam aquém dos ideais e como os ideais podem ser alcançados. O conteúdo ideológico de uma cosmovisão é ordinariamente expresso em proposições filosóficas, declarações de credo, fór­ mulas autorizadas ou doutrinas. Em geral também é expresso de modo sistemático, significando que algum esforço é feito para assegurar que as declarações chaves sejam consistentes entre si. A natureza preposicional formal da ideologia a distingue de outro elemento importante de uma cosm ovisão, a narrativa, que comumente tem uma qualidade semelhante à história. O Elemento Narrativo Ressaltamos anteriormente que o elemento narrativo de uma cosmovisão reconta certos eventos passados ou futuros, tendo a ver com aqueles que mantém a cosmovisão. Porém, as narrativas da cosmovisão não são simples registros de acontecimentos coin­ cidentes ou resumos de eventos interessantes, mas fortuitos. São histórias que contam algo especial sobre a cosmovisão ou sobre as pessoas que a mantêm. Podem ser sobre uma pessoa famosa, a fundação de um povo ou nação, o começo ou fim do mundo, a interação de alguém com Deus ou deuses, ou algum outro evento integralmente ligado à cosmovisão. As narrativas são uma característica bem reconhecida das cos­ movisões religiosas. Todas as principais religiões do mundo estão repletas delas. O elemento narrativo do cristianismo, por exem­ plo, enfoca a criação do mundo; o primeiro homem e a primeira mulher afastando-se de Deus; os subsequentes concertos entre Deus e a humanidade; o nascimento, morte e ressurreição de Cristo; a formação da Igreja, e a promessa de que Cristo voltará à terra para orquestrar os eventos finais da história. Mas as narrativas não são