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Janela de Luz - José da Silva de Jesus
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...................................................................3
2 A INGRATIDÃO CRÔNICA ............................................5
3 VIVER PARA SI OU VIVER PARA OS OUTROS .......9
4 RIQUEZA E JESUS ..........................................................14
5 APOSENTADORIA ..........................................................18
6 MATURIDADE .................................................................22
7 LIBERDADE TOTAL ......................................................26
8 A NECESSIDADE DO PERDÃO ....................................29
9 CARIDADE MATERIAL .................................................32
10 O FARDO LEVE DO CRISTIANISMO ..........................36
11 CARIDADE SILENCIOSA ...............................................40
12 O PIOR CHEFE ..................................................................44
13 VIVENDO NA FRONTEIRA ............................................48
14 TRABALHAR NO QUE GOSTA ......................................51
15 REINO DOS CÉUS .............................................................55
16 PRIVILÉGIOS ....................................................................59
17 AMAR OS INIMIGOS .......................................................64
18 ESTAR BEM DE VIDA .....................................................68
19 AS DIVISÕES DA HUMANIDADE .................................72
2
20 PARTICIPAÇÃO POLÍTICA ..........................................77
21 CONTAS A PAGAR ..........................................................82
22 A NECESSIDADE DAS GUERRAS ................................86
23 O HOMEM PODEROSO ..................................................92
24 FAZER A SUA PARTE .....................................................97
25 LEI MODERNA E LEI CRISTÃ ......................................101
26 REFORMA SOCIAL ..........................................................107
27 DIFICULDADES QUE FORTALECEM .........................112
28 O QUE VIRÁ DEPOIS? .....................................................116
29 INSACIEDADE ..................................................................120
30 VOTO DE RIQUEZA ........................................................124
REFERÊNCIAS............................................................................128
3
1 Introdução
A luz do evangelho de Jesus é simples e pura, uma luz tão pura e tão forte que
as vezes é até mesmo meio que difícil olhar diretamente para ela. Da mesma forma que
os animais acostumados à escuridão da noite ou que vivem dentro de cavernas, nós,
espíritos imperfeitos e ignorantes, sentimos muitas vezes uma certa dificuldade de
assimilar esta luz do evangelho.
Muitos ensinamentos de cristo ainda nos parecem meio que incompreensíveis ou
até mesmo ilógicos até os dias atuais, como também pareciam ser a dois mil anos atrás.
Por exemplo a passagem em que Jesus ensina: “Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o
que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me.” (1). Quem já
conseguiu seguir este conselho ao pé da letra? Quem seria capaz de fazer exatamente
como cristo nos ensinou? Ou então quando Jesus nos diz que ao invés de revidarmos uma
agressão devemos oferecer a outra face? Será que alguém faz isto? Alguém já viu esta
cena em algum lugar, uma pessoa sendo agredida em um lado da face e oferecendo o
outro lado? E quando Jesus avisa que quem tentar se salvar si mesmo se perderá; e
“qualquer que, por amor de mim, perder a sua vida, a salvará” (2), como será que devemos
proceder para nos perdermos por amor de Jesus e então sermos salvos?
À primeira vista estas lições podem parecem contrariar o senso comum e a razão,
estarão os ensinamentos de Jesus errados? Foram eles distorcidos pelos homens? Ou será
que fazem parte de um sistema ainda acima da nossa capacidade de compreensão?
A luz do evangelho de Jesus, assim como a luz do sol para uma criatura das
sombras, pode ao primeiro contato parecer agredir a visão, mas não existe outra opção
para aquele que deseja sair das trevas e viver na luz a não ser tentar assimilar esta luz e
se adaptar a ela.
Jesus nos ensinou que todas as leis estão contidas no mandamento: Amai a Deus
sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Um mandamento compacto e
simples que contém todos os outros mandamentos, mas ao mesmo tempo ele também nos
deixou dezenas de parábolas e exemplos de vida e de conduta que traduzem o significado
deste mandamento de amor a Deus e amor ao próximo. A literatura cristã ainda prossegue
esta missão de explicar e reexplicar, traduzir e retraduzir este ensinamento básico de amor
a Deus e ao próximo, Chico Xavier nos trouxe centenas de livros, todos eles com esta
4
mesma missão de explicar o ensinamento simples de Jesus, e isto tudo apenas pelas mãos
de um único médium dentre vários outros.
Todo ensinamento, mesmo que simples, se não puder ser facilmente
compreendido, pode se tornar inútil, é por este motivo o evangelho de Jesus está escrito
e reescrito em tantas obras diferentes, todas elas sempre com o mesmo conteúdo básico,
mas que variam em grau de complexidade desde o evangelho simples e puro contido no
novo testamento, às obras de caráter mais filosófico e também científico de Alan Kardec,
passando pelas obras trazidas por espíritos iluminados e outras ainda que nos trazem
ensinamentos contidos em exemplos mais simples e mais próximos do nosso do dia-a-
dia.
Neste último tipo de obra, obra simples e sem grandes ambições, é que se
enquadra este livro, um livro simples que funciona como uma janela para a luz do
evangelho que está lá fora, em local ainda inacessível para nós espíritos imperfeitos
acostumados à escuridão. Na verdade é uma janela meio suja, por não possuir o mesmo
rigor filosófico ou a “mão” direta dos espíritos elevados, livros simples e sem grandes
ambições como este deixam penetrar um pouco da luz do evangelho numa quantidade
moderada, uma janela meio suja que nos auxilia a abrirmos os nossos olhos de forma
gradual e pouco a pouco nos adaptarmos a esta luz forte e limpa que brilha lá fora.
5
2 A ingratidão crônica
Gratidão é o sentimento positivo e harmonizador pelo qual reconhecemos o bem
que outra pessoa nos proporcionou.
O que seria a ingratidão crônica? A partir da frase acima, pode-se concluir que a
ingratidão é a característica da pessoa que não possui o sentimento positivo de satisfação
e reconhecimento do bem que lhe foi proporcionado. De crônica chamaremos aqui aquela
que apesar de esforços feitos para que seja eliminada, permanece firme e forte e
(aparentemente) sem cura.
Você já viu uma destas pessoas que apesar de não terem uma vida nada sofrida
estão sempre reclamando de tudo à sua volta?
São pessoas que possuem uma qualidade razoável de vida, possuem uma saúde,
se não perfeita, pelo menos razoável, uma condição financeira razoável, e que não
passaram por grandes tragédias pessoais além daqueles percalços comuns a que todos os
seres humanos estão sujeitos.
Apesar disso, este tipo de pessoa está sempre a reclamar, mas não por um
sentimento de indignação pelas injustiças que sofrem as outras pessoas, o que poderia ser
compreendido dada a enorme carga de notícias negativas que nos bombardeiam
diariamente pelos noticiários, mas sim um sentimento de indignação geral mas restrito
apenas às situações que afetam a elas mesmas.
Ora, quem não se sente infeliz com algo lhe prejudique, isso é totalmente natural,
mas as pessoas de bom senso conseguem se desvencilhar de um pensamento negativo
rapidamente, principalmente porque numa sucessão natural de eventos da vida de
qualquer pessoa ocorrem coisas positivas e negativas todo o tempo; como por exemplo:
“passei com meu carro num buraco que se abriu no asfalto depois da chuva, ao virar a
próxima esquina descobri que aquela outra rua que tinha um asfalto velho cheio de
buracos foi recapeada”. A pessoa com ingratidão crônica irá ficar o resto da semana
comentando com seus colegas de trabalho sobre o possível prejuízo ao seu carro (que nem
chegou a se materializar) e da incompetência da administração pública, dizendo frases do
tipo: “isso é culpa da incompetência desse governo” ou “se fosse em tal lugar isto não
aconteceria” e se esquecerá de mencionar o fato da outra rua, que era toda esburacada,
agora estar “um tapete”.
6
Pessoas assim existem em todos os lugares, um dos assuntos mais comuns e que
mais desencadeia reclamações típicas deste comportamento é a situação política,
econômica, social, cultural etc. do Brasil; quantas vezes não ouvimos frases como: “só
no Brasil mesmo” ou “esse país é uma piada” ou ainda “por isso é que o Brasil não vai
pra frente”.
Estas pessoas reclamam da miséria, dos impostos, da corrupção, da saúde, da
educação etc. Mas vejamos, estão reclamando da miséria pelo sentimento de compaixão
pelos miseráveis e indignação pelas condições de pobreza das pessoas das classes mais
trabalhadoras e sofridas como os pedreiros, faxineiras, garis e trabalhadores rurais? A
resposta é não, estão na verdade reclamando do fato de miseráveis baterem à sua porta
pedindo ajuda todo o tempo, de cruzar com a visão desagradável de uma rua suja com
casas feias de um bairro pobre, com o risco de assalto ao ter que cruzar uma região cheia
de favelas ou moradores de rua etc. Reclamam sempre também dos impostos, estarão elas
indignadas com a carga tributária de 50% que oprime por exemplo uma família que possui
renda de um salário mínimo no Brasil? Não, estão indignadas mesmo é com a carga
tributária de 20% típica das famílias brasileiras que possuem renda acima de vinte salários
mínimos, nos quais elas por acaso se incluem. E a corrupção? Causa indignação poder
oferecer propina a um guarda, ou transferir a multa para um parente que não possui pontos
na carteira? Não, isso parece não ser problema, nem tampouco a corrupção que criou um
cargo bem remunerado a pessoa da sua família que possui bons contatos políticos; a
indignação é dirigida àquela corrupção que prejudica o ingrato crônico, como a corrupção
do fiscal tributário que “quebra um galho” para o lojista da concorrência, se fizesse o
mesmo para ele não estaria indignado, também não causa indignação a baixíssima
qualidade da educação oferecida às camadas mais pobres (pois ele pode pagar ensino
particular) nem o sistema corrompido de educação superior teoricamente público e
democrático que praticamente só oferece chances reais de ingresso àqueles que não
precisariam do estado para bancar seus estudos.
O típico ingrato crônico tem sempre muito a reclamar apesar de sua condição
social, econômica, de saúde etc. razoavelmente boa e comparativamente ótima; uma
analogia muito fácil pode ser feita com uma criança que possui muitos brinquedos e está
sempre reclamando de não possuir mais ainda ou então por não possuir um igual ao do
vizinho, que tem um único brinquedo e ainda por cima é quase idêntico ao seu. É
claramente uma questão de imaturidade, as pessoas ficam mais velhas mas em relação a
7
certos comportamentos não conseguem amadurecer, mudam o foco de seus desejos e
reclamações mas permanecem os comportamentos imaturos.
A esta altura muitos de nós já mentalizamos algumas pessoas que se enquadram neste
perfil, mas dificilmente conseguimos nos auto enquadrar nele, isto é natural, Gandhi
certa vez disse que apenas olhando nosso próprios defeitos com uma lente de aumento e
os defeitos dos outros com a lente invertida é que teremos uma noção aproximada da
realidade. Todos reclamamos daquela injustiça que nos afeta e, como criaturas
imperfeitas que somos, tendemos aceitar com mais facilidade as injustiças que nos
beneficiam, todos temos um pouco (ou muito) deste ingrato crônico, porque passamos
muito do nosso tempo mentalizando aquilo que nos prejudica e muito pouco
raciocinando sobre tudo o que nos foi concedido.
Como evitar então este comportamento? Como não se tornar uma pessoa
parecida um este tal ingrato crônico? Um passo essencial para se desvencilhar deste
comportamento é possuir fé em Deus. Mas por que? O que Deus tem a ver com isso? O
Motivo é que somente a pessoa que tem fé em Deus , ou seja, aquela que acredita que
existe uma força maior governando o universo e também a sua vida, pode começar a
perceber que existe algo a agradecer além do mero acaso por ter uma condição de vida
razoável ou até mesmo ótima se comparada a uma grande parcela da população que
enfrenta diariamente necessidades e privações e que não é menor do que 70% no mundo
todo, pois no mundo todo aqueles que não sofrem com a pobreza, problemas de saúde,
liberdade, falta de oportunidades etc. constituem um minoria.
Apenas a pessoa que não acredita que seus privilégios comparativos não são
fruto do acaso (como a criança que acha que possui muito mais brinquedos do que o
vizinho por mero acaso) e que não acredita que já tenha nascido mais merecedora de
privilégios e regalias (como a criança que acha que merece todos os brinquedos porque é
a criança mais bonita do mundo), somente a pessoa que acredita que uma força maior
comanda o universo e por algum motivo lhe concedeu e ainda lhe concede uma situação
física, econômica, social etc. mais favorecida, sem esquecer também das oportunidades
de trabalho e estudo que lhe proporcionaram ter tudo o que têm, somente esta pessoa pode
possuir a gratidão por tudo o que conquistou.
Somente a pessoa que possui esta noção de que por algum motivo, alguma força
maior lhe colocou numa situação que está longe de ser das piores e que lhe são oferecidas
oportunidades que não são oferecidas à maioria das outras pessoas, somente este
indivíduo está apto a enxergar com clareza suficiente para poder colocar na balança as
8
suas dificuldades e as suas facilidades, suas desvantagens e seus privilégios, e fazer a
medição correta de quantas pedras lhe são atiradas no caminho e quantas oportunidades
lhe são oferecidas, ou de quantos buracos existem no asfalto velho e quantas ruas
ganharam asfalto novo.
9
3 Viver para si ou viver para os outros
Existem duas maneiras básicas de se viver a vida: para si ou para os outros.
Algumas pessoas vivem quase que exclusivamente para si, outras vivem quase
que exclusivamente para os outros, mas a grande maioria de nós está mesmo perdida entre
estes dois opostos ou não sabe muito bem para o que vive e vive na verdade um conflito
eterno entre o que gostaria de viver e o que é obrigada a viver.
Mas o que seria exatamente viver para si ou para os outros?
Não é muito difícil examinar o comportamento de algumas pessoas e rotula-las
como pessoas que vivem só para si (egoístas) ou para os outros (altruístas), sendo que a
grande maioria de nós aceita facilmente o egoísmo como algo negativo e que temos de
evitar, pouquíssimas são as pessoas que aceitam ser chamadas de egoístas e se sentem
bem com esse rótulo.
Mas existe uma certa distância entre entender basicamente o que significa uma
e outra coisa, aprovando uma como o modelo ideal e rejeitando a outra, e adotar o
comportamento socialmente aceito como o correto, ou seja, o oposto do viver para si
(egoísmo) o altruísmo. Entender o egoísmo e visualiza-lo no comportamento alheio
costuma ser muito mais fácil do que evitar este comportamento em nós mesmos e então
praticar o oposto dele.
Este conflito entre o que eu sei e considero que deva ser o correto e o que meus
desejos e vontades me fazem buscar é a causa de inúmeras decepções na vida da maioria
das pessoas e também a causa de inúmeros conflitos sociais e familiares.
Vejamos alguns exemplos:
Para um pai de família, o que seria viver para si e viver para os outros.
Viver para os outros seria ocupar o papel esperado de um pai de família, aquele
que trabalha para prover o lar, não o lar como um ninho de descanso e prazer para ele
mesmo, mas o lar de sua família, tendo como principal objetivo obter conforto e
segurança para os outros integrantes da família, o pai de família que vive para os outros
se preocupa com o bem estar da sua esposa e filhos em primeiro lugar, a casa confortável
em lugar seguro como local de descanso e convívio para a educação e desenvolvimento
10
dos filhos e que proporciona por sua vez o necessário para que a esposa também
desempenhe seu papel com tranquilidade. O conforto, lazer e tranquilidade que ele obtém
neste mesmo lar é mera consequência do convívio sob o mesmo teto naquele lar que ele
construiu pensando nos outros em primeiro lugar.
Para um pai de família, viver para si é enxergar no lar um local de prazer conforto
e descanso para ele mesmo, o pai de família que vive para si coloca suas prioridades acima
das prioridades do restante da família, o conforto da família é consequente do conforto
que ele busca para si mesmo, e como geralmente ele costuma concentrar uma maior
parcela de poder nas decisões de compra de itens para o lar, este pai de família acaba
deixando de suprir algumas necessidades básicas do lar; mas a pior face do
comportamento do pai de família que vive para si é que sendo o lar um território de
convívio e aprendizado coletivo em que surgem conflitos naturais, este pai de família
começa a criar meios de fuga deste ambiente, o futebol com amigos e o bar estão entre os
pretextos mais comuns que o pai de família do tipo que vive para si encontra para
conseguir manter distância dos conflitos familiares que não se resolvem sozinhos sem a
sua participação e, pelo contrário, vão se acumulando e se transformando em grandes
problemas e grandes falhas na educação dos filhos. O pai de família que vive para si na
verdade tenta fugir do papel de pai de família, tentando manter de alguma forma os
prazeres que tinha antes de assumir este compromisso, está sempre procurando os amigos
dos tempos de solteiro, as bebedeiras dos tempos de solteiro, a falta de compromisso e de
horários que tinha no tempo de solteiro etc. Resumindo, o pai de família que vive para si
não é um bom pai de família.
E no mundo do trabalho, o que seria viver para si e para os outros? Vamos tomar
como exemplo a mais nobre das profissões, o médico. O médico que vive para os outros
coloca seus interesses em segundo plano, as ambições naturais de construir uma carreira
e ser retribuído e reconhecido adequadamente são para ele muito menos importantes do
que as imensas oportunidades de ajudar, curar e salvar vidas; seu dia-a-dia é cada vez
mais e mais dominado pelo intuito de corresponder às expectativas das dezenas de pessoas
que depositam nele a esperança de uma cura; o agradecimento sincero e emocionado das
pessoas que ele ajuda e que muitas vezes não tem a menor condição de proporcionar para
ele qualquer retribuição financeira é para este profissional algo muito mais valioso dos
que a multiplicação da sua renda.
11
Já o médico que vive para si fez, como todos os outros, o juramento de salvar
vidas, mas o seu estilo de vida acaba ofuscando este grande compromisso. Assisti a algum
tempo atrás o filme do Bezerra de Menezes e nele o personagem principal afirma em certo
ponto que: aquele médico que faz exigências e cobra valores altos ou só atende as pessoas
que tem condição de pagar não é médico, mas negociante de medicina; atualmente vemos
multiplicar cada vez mais e mais o número destes negociantes de medicina, profissionais
que com o intuito de multiplicar sua renda assumem diversos cargos com cargas de
trabalho que se cumpridas integralmente passariam de 24 horas diárias, o resultado é que
ele não cumpre e nem poderia cumprir suas cargas horárias, o que acaba refletindo na
ausência destes profissionais justamente nos locais e situações onde sua presença é mais
necessária, e a população mais carente que depende do sistema público de saúde é quem
paga por este comportamento do nobre trabalhador que exerce a nobre profissão mas que
decidiu viver para si.
E quanto à vida pública e os grandes compromissos sociais? O que seria para um
político viver para si ou viver para os outros?
É muito fácil imaginar como seria um político que vive para os outros, é
simplesmente o político que cumpre, ou pelo menos tenta cumprir, aquelas maravilhosas
promessas que vemos sempre no horário político da televisão. A verdade é que no mundo
real é quase que impossível encontrar um político, de qualquer linha ideológica e em
qualquer parte do mundo, que saiba o que significa viver e viva para os outros; é inerente
à própria luta pelo poder político a corrupção moral dos cidadãos que deveriam
representar o interesse da maioria e principalmente os mais necessitados, sendo quase que
uma regra geral que políticos em todos os tempos sempre representaram os interessem
das minorias poderosas, seja em uma democracia em que o financiamento das campanhas
é feita pelos grandes grupos privados ou em uma ditadura em que a figura pública do
político serve aos interesses das minorias privilegiadas que sustentam as estruturas de
poder autoritárias. O político que vive para si é aquele que ignora o conteúdo de seus
próprios discursos e vende seu cargo em troca dos títulos e bajulações do poder e dos
privilégios e rendas que obtém de diversas formas como sobras de campanhas, caixa dois,
cargos a familiares, investimentos de empresários que jorram em empresas privadas que
ele mantém paralelamente à função pública e muitas outras formas de enriquecimento
que quase sempre possuem uma fachada de legalidade. O político que vive para si, assim
12
como o pai de família e o médico que vivem para si, desempenha muito mal a sua função,
é um mau político.
Vamos dar uma “olhada” agora em figuras que, ao contrário das anteriores,
exercem atividades nada respeitáveis.
Um criminoso vivendo para si está em seu habitat natural, seja sozinho um em
grupo o criminoso tem como regra de vida viver para si, não tem respeito pela propriedade
e vida alheias, para obter pequenas vantagens pessoais causa desde prejuízos até grandes
tragédias nas vidas das pessoas que cruzam o seu caminho; se age em bandos não confia
em nenhum de seus comparsas e eles também sabiamente não confiam nele, o criminoso
que vive para si é um grande criminoso e respeitado entre seus pares, exerce bem sua
função.
E quanto ao terrorista? Como poderia um terrorista não viver para si? Somente
munido de um sentimento egocêntrico e um total descaso pelas outras pessoas uma pessoa
pode achar que atacar pessoas inocentes e desarmadas, entre elas mulheres, idosos e
crianças, é uma boa ideia, seja qual for a causa e qual a ideologia o terrorista só pode estar
pensando em si mesmo, na futura glória e poder que pode obter, quem sabe, de revoluções
sangrentas iniciadas por ataques covardes, um terrorista que vive para si está apto a agir
como terrorista, se vivesse minimamente para os outros não teria coragem de praticar
nenhum de seus atos.
Por último vamos ver o ditador. O ditador impõe sua vontade de forma
autoritária, se obedecesse à vontade popular poderia se sujeitar tranquilamente ao sistema
democrático, mas, pelo contrário, sua condição de ditador é necessária para que imponha
a sua vontade particular e também a vontade do pequeno grupo que o apoia contra a
vontade da maioria; isto por si só já nos mostra que o ditador não vive para os outros,
vive para si; viver para os outros significaria abdicar do poder quando as massas não
acatassem voluntariamente as suas ideias e decisões, vivendo para si pode tranquilamente
ignorar o apelo popular e usar a força para se manter no poder quando necessário. O
ditador que vive para si é com certeza um grande ditador.
Vimos que tanto na vida privada dentro da família, como no mundo do trabalho
e também na vida pública, a pessoa que vive para si ao mesmo tempo que causa grandes
decepções e sofrimento para todos à sua volta, também gera para si decepções e tristezas
13
equivalentes. Alguém tem dúvida de que o pai de família que vive no bar e tem uma
família desestruturada é muito infeliz se comparado ao pai de família que troca o seu lazer
egoísta pelo lazer em família? Será que o médico que possui uma renda altíssima e que
acumula riqueza ao mesmo tempo em que gera sofrimento, tristeza e rancor das pessoas
que agonizam por causa de sua ausência, é mais feliz do que o outro médico que mesmo
numa jornada única de 8 horas diárias ainda recebe uma retribuição bastante razoável e
leva uma vida confortável ao mesmo tempo em que cumpre suas obrigações e está sempre
presente, acumulando gratidão e reconhecimento dos seus pacientes? Será que o político
que se vende aos interesses dos poderosos e conquista grande prestígio mentindo e
enganando a população é mais feliz do que o outro político que não aceitou se vender e,
em consequência, não conseguiu se eleger, mas que possui ideais nobres e sinceros,
acredita no que diz e é realmente respeitado e admirado por pessoas bem informadas que
veem nele um modelo a ser seguido, enquanto que o primeiro conquista votos dos
ignorantes (de todas as camadas sociais) que vedem o voto por uma dentadura ou por um
favor no alto escalão?
O livre arbítrio nos permite viver como bem quisermos, mas a análise da
realidade nos mostra como é enganosa e infeliz a estrada daquele que escolheu viver para
si. De forma que só existe uma opção real para a busca de uma vida melhor e mais feliz,
viver para os outros. Contrária ao nosso instinto animal de sobrevivência, a opção de viver
para os outros, alimentar aos outros, dar conforto aos outros, lutar pelos outros, acatar à
vontade dos outros, trabalhar pelos outros, sofrer pelos outros, é paradoxalmente o único
caminho para uma vida feliz, mas essa é uma conclusão a que só o homem realmente
racional consegue chegar.
14
4 Riqueza e Jesus
Jesus veio à terra com uma missão?
Acreditamos que sim.
Para o desempenho desta missão acreditamos também que ele tenha vindo no
momento em que escolheu, no local em que escolheu e também nas condições em que ele
mesmo escolheu.
Sabemos que Jesus era pobre, não um pobre miserável ou mendigo, mas pobre
no sentido de estar distante da riqueza, de ter de trabalhar para merecer o próprio sustento,
e assim ele fez durante toda a sua vida até o momento em que iniciou suas andanças
ensinando o evangelho.
Mas porque ele teria escolhido esta posição humilde? Porque escolher nascer
entre os trabalhadores simplórios em vez das posições de destaque?
Vamos então dar uma olhada em alguns de seus ensinamentos e algumas de suas
palavras e exemplos para, quem sabe, encontrar neles a chave desta sua escolha.
Vamos imaginar por exemplo como seria o encontro de Jesus com Zaqueu,
aquele publicano (coletor de impostos) rico e corrupto como a maioria em seu tempo.
Diante do encontro com Jesus, emocionado ele espontaneamente disse que iria doar
metade de tudo o que possuía aos pobres, e às pessoas que ele tivesse fraudado devolveria
o valor quadruplicado. Jesus então diz que a salvação veio àquela casa (casa de Zaqueu).
Como seria um Jesus rico diante desta cena à vista dos olhares da multidão?
Ficaria ele quieto e não diria nada sobre suas próprias riquezas? Não iriam achar que ele
era um hipócrita por abençoar um homem que abre mão de metade de seus bens em
benefício dos pobres ao mesmo tempo em que não diz uma palavra sobre seus próprios
bens? A única solução lógica seria ele, naquele mesmo momento, também afirmar que
abriria mão de igual porção de seus bens, e ainda assim para apenas se igualar em bondade
a um publicano conhecido por todos como grande pecador, e lá se vão metade dos bens
do nosso “Jesus rico”.
Em outra oportunidade, está Jesus no templo pregando próximo do local onde
eram feitas doações quando ele avista então uma pobre viúva que deixa duas moedas que
15
não valiam quase nada, diferentemente dos muitos ricos que depositavam ali grandes
quantias com a intenção de se exibir; Jesus então diz que naquele dia a viúva havia feito
a maior doação, porque teria doado o que realmente lhe fazia falta, ao contrário dos outros
que doaram o que lhes sobrava.
O nosso fictício “Jesus rico” cairia novamente em contradição, pois como sendo
rico não cometeria o mesmo erro dos outros ricos que estavam ali depositando quantias
expressivas, mas que não chegavam a lhes fazer falta? A única solução seria doar também
uma quantidade tão expressiva que lhe fizesse falta real, ao ponto de que só poderia lhe
restar de toda a sua fortuna o suficiente para o básico, nada mais de luxos, supérfluos e
objetos de ostentação; e lá se vai mais uma vez a fortuna do “Jesus rico”.
Mais difícil ainda seria conciliar o ensinamento de Jesus quando ele disse “meu
reino não é deste mundo” (3), se o seu reino não é deste mundo e ele não persegue as
riquezas e o poder deste mundo, o que estaria fazendo Jesus na posse de grande fortuna?
Também ensinou Jesus que na luta pela conquista de poder e riqueza o homem
obtém muitas vezes o que procura, mas neste caminho acaba deixando naturalmente de
lado os valores morais de solidariedade e amor ao próximo, cometendo muitas vezes
pequenos e grandes crimes que o fazem a chegar à conclusão “que aproveitaria ao homem
ganhar todo o mundo e perder a sua alma?” (4), como se livraria o nosso “Jesus rico”
desta contradição? Seria ele o único a poder conquistar o mundo, conquistar e também
manter, defendendo as suas riquezas com a violência naturalmente necessária, e ainda
assim manter a sua alma? Soaria mais uma vez como hipocrisia, destas que vemos tantas
vezes nos discursos de inúmeros falsos profetas.
Imagine ainda a ocasião da crucificação; preso injustamente pelos poderosos do
seu tempo que o viam como uma ameaça ao seu poder, não porque Jesus buscava o poder,
mas porque seus ensinamentos contrariavam as leis dos hipócritas, Jesus não dá gritos
desesperados nem instiga a população a livra-lo de seus perseguidores, nem promete
vingança ou faz ameaças como agiria um homem rico e poderoso, possuidor de muitos
guardas e escravos sempre prontos a defende-lo; e se mesmo sendo rico e poderoso não
se utilizasse destes recursos estaria como que renegando o seu poder e os seus
subordinados, abandonando a posição de homem poderoso e adotando neste momento a
conduta de homem humilde.
16
Difícil seria também explicar o seu conselho ao jovem rico, ao qual disse para vender
todos os bens, doar tudo aos pobres e depois o seguir; o jovem romano precisaria doar
seus bens enquanto o “Jesus rico” não precisaria fazer o mesmo?
O comportamento do mestre é sempre uniforme em sua jornada e não
conseguimos encontrar contradições. Quem entende este comportamento de Jesus diante
da humildade e do poder consegue facilmente entender por que ele disse aos seus
discípulos que aquele que quisesse ser o maior perante Deus deveria ser o último entre os
homens e o servidor de todos.
A lógica de suas lições e exemplos combina perfeitamente com o seu
ensinamento maior: Amai a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo,
quem ama a Deus e também ao próximo como a si mesmo não irá buscar posição de
destaque sobre o próximo, não irá procurar os títulos o status e o poder que o coloque
acima do próximo, não irá buscar o conforto que o próximo (ou a maioria dos próximos)
não possui, não buscará luxos e supérfluos, porque a própria noção de luxo e supérfluo é
de algo que tem mais utilidade como item de exibicionismo e exagero do que de utilidade
e necessidade.
Se um dia ocupar uma posição de destaque ou comando, a pessoa que ama a
Deus sobre tudo e ao próximo como a si mesmo se sentirá desconfortável com a posição
de destaque sobre os seus próximos, que nada mais são do que os outros filhos de Deus,
e buscará nesta posição sempre ofuscar qualquer sinal de sua superioridade ou poder e
tentará ao máximo possível agir com humildade para que, mesmo estando no comando,
os seus próximos sintam que ele é um servidor de todos.
Estamos todos sempre procurando andar com Jesus, estar com Jesus, seguir
Jesus e frequentemente nos esquecemos de que Jesus não procurou a riqueza, não
procurou o poder, não procurou o conforto e o luxo, Jesus não exibia itens de valor, não
andava de carruagem, não se gabava de possuir qualquer coisa, não se isolava do convívio
dos humildes e ainda dizia que para estarem com ele os poderosos é que deveriam
aprender a trilhar o caminho dos humildes. Se nós com tanta frequência nos vemos
andando por estes caminhos por onde Jesus não andou, como podemos querer ver ele no
nosso caminho?
Disse ele ainda “é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que
entrar um rico no reino de Deus” (5) será que estão todos os ricos condenados ao inferno?
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Será que não há salvação possível para aqueles que estão no poder? Acreditamos no amor
de Deus e por isso acreditamos que a salvação é sempre possível e não pode existir
condenação prévia ou eterna para nenhuma alma, aliás como poderia ser justo Deus se
fizesse nascer uma pessoa numa posição de destaque e com isso já estivesse condenando-
a a estar longe do reino dos céus?
Temos sempre de lembrar que a vida é uma escola e a posição que cada um
ocupa nesta vida é exatamente a posição que Deus, movido apenas pelo amor, escolheu
para que pudéssemos ter o melhor aproveitamento. Seja a riqueza ou a pobreza, tudo o
que se passa diariamente em nossas vidas não é nada mais do que um teste, seja um teste
de resignação e fé para o pobre ou o teste, muito mais difícil, de humildade para o rico.
Na escola da vida a matéria humildade é a que mais reprova a nós, alunos descuidados, e
sem a aprovação nesta matéria o diploma que estamos buscando é impossível.
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5 Aposentadoria
Quando irei me aposentar?
Esta é uma pergunta que todos nós fazemos mais cedo ou mais tarde. É
praticamente uma regra geral de nossa sociedade que o homem não só pode, como deve
em certo momento de sua vida deixar o lado produtivo da sociedade e se dedicar ao
descanso.
Mas vamos antes aproveitar para analisar outras ideias e conceitos amplamente
aceitos nessa nossa mesma sociedade.
Por exemplo, o trabalho. É um direito universal do homem, um dos valores mais
sagrados de nossa sociedade, as ideias ligadas ao trabalho trazem quase sempre um
conotação positiva, enquanto a abstenção voluntária do trabalho traz ao mesmo tempo,
quase sempre, uma conotação negativa. A vagabundagem não é vista por nenhuma
sociedade e em nenhuma época como algo louvável, sendo inclusive sinônimo de
criminalidade.
Outra ideia amplamente aceita é o conceito de céu ou inferno. Seja nas
concepções mais antigas e infantis ou nas doutrinas e filosofias mais racionais, o conceito
de céu e inferno se traduz na ideia de que as más ações trarão más consequências para o
seu autor da mesma forma como, de modo contrário, as boas ações serão recompensadas.
Estes são conceitos que aprendemos desde criança, raros são os pais que não
ensinam os seus filhos a praticar boas ações e evitar as más para que sejam recompensados
de acordo, assim como raros são também os pais que não ensinam desde cedo aos seus
filhos os valores inerentes ao estudo e o trabalho.
Baseando-se nestas concepções amplamente aceitas é fácil se chegar à conclusão
de que o céu (seja qual for o conceito que cada um possui a respeito de céu) é um lugar
habitado por pessoas boas, ao contrário do inferno que seria reservado aos maus; dentro
desta mesma lógica podemos concluir que sendo o trabalho um valor nobre e admirável,
o céu estaria provavelmente sendo habitado por muitas pessoas trabalhadoras e o inferno
seria o local muito mais propício a encontrar as pessoas que não possuem a qualidade
nobre de trabalhadores, o inferno estaria assim cheio de vagabundos.
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A ideia tradicional de céu que a igreja possui é de um lugar de descanso e paz,
num ócio eterno, estariam ali os eleitos num infinito deleite sem a necessidade de esforço
algum, num eterno descanso, vazio e improdutivo. A contradição fica ai bem evidente,
como poderiam se sentir em paz e felizes as pessoas que naturalmente de dedicaram ao
trabalho durante toda a vida? Não aquelas que foram forçadas a trabalhar contra a
vontade, mas sim aquelas que por iniciativa própria se dedicaram sempre a atividades
produtivas, os verdadeiros trabalhadores de boa vontade.
O céu, dentro da lógica do valor moral do trabalho e do conceito de recompensa
pelas más e boas ações, seria um lugar habitado por trabalhadores dedicados e ativos.
Estas pessoas, sendo trabalhadoras e ativas, naturalmente não conseguiriam obter paz de
espírito e felicidade alguma se não fossem oferecidas a elas oportunidades sempre novas
de trabalho, colocando-se em atividades produtivas e benéficas à coletividade, ou será
que ao adentrar no céu os eleitos mudariam automaticamente sua personalidade, adotando
o comportamento dos vagabundos?
Então o céu que buscamos para o momento em que não mais precisaremos sofrer
os desgastes e sofrimentos da vida na terra é obviamente um local de muito trabalho, onde
o descanso é o mínimo possível e o trabalho é eterno, pois um lugar cheio de pessoas que
não fazem nada e se sentem bem assim não poderia ser o céu.
Mas ao mesmo tempo que buscamos o céu no nosso futuro, passamos boa parte
de nossa vida sonhando com a aposentadoria; muitos de nós aguardamos a cada semana
que um número de um sorteio de loteria nos livre do trabalho para o resto de nossas vidas,
muitos outros aguardam que o sucesso em uma empreitada empresarial ou um
investimento financeiro com grandes retornos os livrem do trabalho até o final de suas
vidas, quando então ao entrarem no tão desejado céu, e ai está a grande contradição,
passaremos a eternidade trabalhando sem descanso.
Porque afinal a vagabundagem eterna só pode ser o destino daqueles que não
merecem o céu, vagabundos, preguiçosos e ociosos devem haver aos montes no inferno,
mas não é para lá que queremos ir não é mesmo?
Tendo em mente como é a vida no nosso tão desejado destino, e desejando o
mais breve possível ingressar neste “reino dos céus” faz sentido se preocupar tanto com
a aposentadoria? Será que uns dez ou vinte anos de descanso no final da vida fazem tanta
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diferença assim se o nosso destino é a eternidade trabalhando pelo bem ao lado de Jesus?
Não dez, cem ou mil anos, mas sim a eternidade, sempre trabalhando cada vez mais, cada
vez mais ativo e produtivo, cada vez mais motivado.
Jesus respondeu aos judeus que o questionavam porque estaria ele efetuando
curas num sábado dizendo: “Meu pai trabalha até agora, e eu trabalho também” (6). O
descaso é uma necessidade natural do corpo humano, e o sábado foi criado como dia
reservado ao descanso para aquele povo que, escravizado, não possuía qualquer
oportunidade de descanso, meditação, convívio em família e prática religiosa etc.; nós
muito diferentemente de outros povos em épocas antigas, possuímos nossos sábados e
domingos, nossos feriados e férias anuais.
A aposentadoria é um instituto criado como meio segurança social, para que
indivíduos em idade avançada (idade esta que varia conforme as épocas e avanços da
ciência) não sejam obrigados a trabalhar para terem seu sustento quando o corpo já não é
mais capaz de desenvolver qualquer atividade produtiva, ou seja, a aposentadoria por
tempo de trabalho ou por idade avançada pressupõe uma invalidez do corpo após tantos
anos de trabalho ou certa idade, da mesma forma que um trabalhador acidentado na flor
da idade também tem direito a aposentadoria por esta invalidez, mas inexistindo a
invalidez a aposentadoria não se justifica.
Como é impossível para uma lei ou um sistema de previdência prever todas as
situações da vida real, são criadas regras gerais que servem para todos mas que não são
de forma alguma perfeitas; para se prevenir que pessoas incapacitadas pelo trabalho
desgastante ou pela senilidade sejam obrigadas a continuar trabalhando, o benefício da
aposentadoria é concedido a todos que atinjam certa idade ou certo tempo de contribuição
e é assim, inevitavelmente, concedido a muitas pessoas que não estão de forma alguma
incapacitadas ou inválidas.
Como uma regra geral genérica da lei nunca será capaz de regular todas as
situações da vida real, a única regra geral capaz de efetivamente conceder aposentadoria
a todos os incapazes e não conceder a nenhum trabalhador capaz, seja de qual idade for,
é a regra do amor ao próximo.
A regra ou lei do amor ao próximo, pode motivar o trabalhador que já atingiu os
requisitos mínimos da lei para obter a aposentadoria, a continuar a trabalhar, por puro
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amor ao trabalho sempre útil ao próximo. O aplicador desta lei será sempre o próprio
indivíduo beneficiário da aposentadoria que deve decidir quando parar de trabalhar,
quando suas forças realmente o impedem de continuar trabalhando e ser útil à sociedade,
seja no emprego formal ou no trabalho voluntário não remunerado, sendo que este último
pode obrigar o indivíduo a ter que obter o benefício governamental para tornar possível
o exercício da atividade voluntária necessariamente mais nobre e mais exigente.
Porque deixar de trabalhar para viver uma vida de descanso e deleite, ao mesmo
tempo em que tenho consciência de que meu corpo não me obriga a isso, de que ainda
posso ser produtivo e útil e na verdade minhas habilidades intelectuais acumuladas, ao
contrário do corpo envelhecido, me possibilitam ser mais produtivo do que quando jovem
e inexperiente?
A aposentadoria voluntária para se dedicar ao descanso improdutivo e o ócio,
em idade ainda produtiva e em condições físicas razoáveis, começa a não fazer muito
sentido na cabeça da pessoa que realmente tem o tal amor ao próximo, essa regra essencial
do evangelho de Jesus, e ai ele se pergunta: Quando irei me aposentar? Se Deus quiser,
nunca.
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6 Maturidade
Quanta coisa mudou desde quando eu era jovem.
Quando eu era mais jovem achava que o aborto era uma coisa normal, que
qualquer pessoa que tivesse uma gravidez indesejada poderia fazer uso desse recurso
indiscriminadamente, e que não seria problema nenhum; eu não tinha consciência de que
a lei proíbe prevendo penas severas e quando soube da proibição na lei, não fazia muita
ideia do por que desta proibição.
Hoje eu sei que, independente do debate político sobre direitos da mulher e
direito à vida e da influência da igreja católica sobre a nossa legislação, o aborto é um
crime; não apenas no sentido de ser proibido pela lei, mas, principalmente, por ser um
crime contra a vontade de Deus e as leis de Deus. Não significa que Deus não gostando
de ser contrariado tenha um espírito vingativo, e por isso devemos temer contrariar suas
determinações. Mas, muito pelo contrário, o aborto contraria a vontade de Deus
expressada unicamente pelo seu amor, o amor de Deus que permitiu que uma vida fosse
gerada, no melhor momento possível; não aquele momento e situação que nós julgamos
ser o melhor, mas o momento ideal para que nós, criaturas imperfeitas, enfrentemos os
desafios e lições que só a experiência de cuidar de um outro ser humano podem trazer.
Da mesma maneira que uma professora sabe qual lição difícil deve ser apresentada ao seu
aluno em cada momento do seu aprendizado, a professora, assim como Deus, apresenta a
lição dura e difícil com a melhor das intenções, no momento e situação que ela julga
oportuno.
Quando eu era mais jovem também adorava carros, conhecia todos os modelos,
todas as especificações, todos os detalhes que não fazem a menor diferença do dia-a-dia,
ao mesmo tempo em que sonhava em ter uma Monza (daquele modelo mais antigo)
prateado com vidros escuros, rebaixado e pneus largos. A aparência do carro afinal era
mais importante que tudo, mais do que o conforto a estabilidade, economia, potência etc.
Hoje enxergo os carros de forma totalmente diferente, não são para mim mais do
que um meio de transporte, ante a decisão entre comprar um zero quilometro ou um semi-
novo, hoje penso apenas nos custos e benefícios e entre esses benefícios não estão de
forma alguma a aparecia do carro ou o que os colegas, familiares e vizinhos vão achar do
meu carro, aliás, colocando tudo na ponta do lápis acabei decidindo ficar com os
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velhinhos, e não me importo nem um pouco (ou pelo menos acho que não me importo)
com o fato de a maioria das outras pessoas terem carros bem mais novos que o meu.
Quando mais jovem também tinha outra visão sobre a honestidade.
Eu não era desonesto (graças a Deus), mas os motivos que me faziam ser
honesto, ou me abster da desonestidade, eram totalmente diferentes. A razão pela qual eu
não praticava pequenos crimes como por exemplo levar um doce ou outra coisa de
pequeno valor da prateleira de uma loja enfiando no bolso para não pagar, ou roubar o
caixa de uma loja em que trabalhasse, ou ainda aplicar golpes ou trapaças causando
prejuízo a pessoas desatentas, era o medo de ser pego, o medo da humilhação pública e
com o passar dos anos foi também ficando mais forte o medo da certeza da justiça divina.
Hoje, muito diferentemente, o pensamento que primeiro me vem à mente ao me
deparar com uma situação ou “oportunidade” em que poderia ser desonesto e obter algum
tipo de vantagem é o medo de prejudicar aos outros e não o medo da lei. A lei tenta
delimitar os direitos e deveres de cada um para impedir que uma pessoa seja prejudicada
injustamente pela atitude de outra, e tendo em mente que tudo o que a lei proíbe tem, em
teoria, um prejudicado do outro lado, hoje minha primeira reação ao me deparar com
alguma proibição é tentar imaginar quem seria o prejudicado pela minha atitude desonesta
e, baseando-me neste pensamento, evito praticar qualquer atitude desonesta, não apenas
aquelas consideradas desonestas segundo a lei, mas qualquer atitude em geral que eu
perceba ser capaz de prejudicar outras pessoas.
Quando era mais jovem o trabalho era uma obrigação, um fardo, um incomodo
a que era obrigado a me sujeitar para poder obter as coisas que desejasse; trabalhar o
mínimo e descansar o máximo era a norma e se fosse possível tentaria sempre conseguir
o trabalho que fosse menos cansativo ou o trabalho no qual pudesse passar a maior parte
das horas em distrações alheias ao trabalho.
Hoje também enxergo o trabalho de outra maneira, o trabalho cansativo continua
me cansando, a sexta feira ou o sábado continuam sendo dias esperados, a hora de ir para
casa ainda me anima, mas, muito diferentemente, hoje vejo no trabalho além de uma
obrigação também uma benção; a oportunidade de trabalhar, de ser útil em qualquer tipo
de atividade não pode nunca ser desvalorizada. Hoje penso sempre em fazer o máximo
possível dentro das obrigações que possuo no trabalho; se o trabalho acaba, vou procurar
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mais; se sinto sono eu cansaço e moleza, vou rapidamente procurar o cafezinho; sinto
vergonha de enrolar, fazer corpo mole, fingir que estou me esforçando muito quando na
verdade não estou e procuro pensar nas pessoas que não possuem as oportunidades que
eu tenho, o salário garantido no fim do mês que eu tenho e como elas se sentiriam ao me
ver fazendo pouco caso dos privilégios que possuo.
Pra terminar vou lembrar também que quando era mais jovem a ideia de ser
muito rico ou de ganhar muito dinheiro sem esforço ou merecimento algum parecia muito
boa. Pensava em todas as futilidades e coisas inúteis que poderia comprar, na vida boa e
sem trabalho que poderia levar e naquelas maluquices que só quem tem muito dinheiro,
como os milionários excêntricos, pode fazer.
Hoje isso também mudou. Hoje vejo o dinheiro muito mais com uma maneira
de suprir necessidades do que como uma ferramenta para satisfazer extravagâncias; vejo
todas as tolices que as pessoas que tem muito dinheiro fazem e não sinto inveja delas e
tenho consciência de que quem leva uma vida com uma renda mediana se livra de muitos
problemas como intrigas, disputas familiares, inveja, falsidade, além do constante estado
de paranoia em que vivem os mais ricos devido à criminalidade.
Ai eu penso: Quanta coisa mudou em pouco mais de vinte anos!
E essa mudança não é fruto somente da evolução normal no pensamento de um
jovem ou adolescente para o pensamento de um adulto, com a aquisição de um pouco de
experiência e cultura. Sei disto porque vejo muitas pessoas, que pensavam como eu, ainda
presas às mesmas ideias após todo este tempo; e vejo também outras que deste a juventude
já não possuíam estas ideias infelizes, estavam desde quando jovens um passo já à minha
frente. Ao mesmo tempo vejo pessoas mais velhas e até idosas que seguem estes preceitos
egoístas que não trazem felicidade para ninguém.
Acredito eu que estas mudanças de pensamento, a que todos estamos sujeitos, se
devem à evolução moral do espírito. Independente da nossa idade contada em anos nesta
vida, nosso espírito pode ser mais velho ou mais jovem, ou, melhor dizendo, mais ou
menos esclarecido, mais ou menos apegado às ideias egoístas e imaturas. Esta seria a
explicação para o comportamento sadio e inteligente de algumas pessoas jovens e o
comportamento imaturo e ignorante de algumas pessoas mais velhas.
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E enxergando a vida e esta evolução moral constante com o conhecimento da
imortalidade do espírito eu penso: Como será que eu serei daqui mais vinte anos? Será
que manterei ainda as mesmas ideias que tenho hoje? Minha esperança, e quase certeza,
é de que não. E muito provável é mesmo que daqui vinte anos eu veja o meu “eu” de hoje
como um sujeito ignorante de muitas coisas, com muitas ideias e conceitos por melhorar;
assim eu quero, assim eu espero, porque esta é a lei natural da evolução do homem.
Vamos por final imaginar como estaremos não daqui a vinte, mas daqui duzentos
anos, ou ainda dois mil anos; uma boa ideia pode ser obtida ao se acompanhar a evolução
moral de um espírito como o de Emmanuel, uma comparação simples entre o orgulhoso
e ignorante patrício romano do livro Há Dois Mil Anos (7) e o mentor espiritual iluminado
de Chico Xavier. Imaginem mais ainda, imaginem dois milhões de anos, quanta coisa por
aprender, quantas ideias das que temos hoje serão substituídas em nossa mente por outras
muito mais sábias e cristãs.
É por isso que temos sempre que ser humildes, o máximo que pudermos e sempre
considerarmos a grande possibilidade de estarmos completamente enganados e assim nos
prepararmos para adotar novos pensamentos, nos desvencilhando de velhas ideias e
preconceitos. Também devemos sempre estar dispostos a estudar e tentar aprender algo
novo a respeito do evangelho de Jesus que traduz a lei de Deus e assim desta forma, quem
sabe, estarmos prontos para abandonar o mais rápido possível aquele velho “eu”, aquele
“eu” meio ignorante, egoísta e orgulhoso, o “eu” de hoje.
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7 Liberdade total
Como é bom ser livre, poder fazer o que quiser, na hora que quiser e do jeito que
quiser, não ter os seus desejos reprimidos por ninguém nem por nenhuma imposição da
lei.
Será que existe no mundo alguém assim? Alguém livre desse jeito?
Muitas pessoas sonham em ter uma grande soma de dinheiro para poder desfrutar
desta liberdade, mas a verdade é que nem mesmo as pessoas mais ricas do mundo e nem
os ditadores e reis mais poderosos tiveram algum dia esta liberdade.
Algumas destas pessoas muito ricas acharam que o dinheiro compraria tudo,
inclusive a liberdade para fazerem o que quisessem, mas a realidade é que na nossa
sociedade todos estão sob o império da lei. Alguns destes acham que com o dinheiro
podem comprar a justiça e a opinião pública, mas a realidade é que, se tentam fazer isso,
fazem sempre com medo de serem descobertos e nunca podem falar publicamente sobre
o que fizeram sob pena de despertarem a revolta geral e a efetiva punição pela lei, de
modo que, por exemplo, nem mesmo o filho do homem mais rico do Brasil pode dirigir
seu carro em alta velocidade de forma imprudente e após causar um acidente ficar impune.
Mas e quanto aos grandes ditadores e reis, terão eles a liberdade para fazerem o
que quiserem?
De jeito nenhum, muito pelo contrário, estas figuras públicas vivem sempre
cercadas de apoiadores que sustentam a sua figura e a sua permanência no poder é sempre
decorrente da concordância de um círculo próximo de pessoas que se beneficiam do
sistema ditatorial ou absolutista, ao mesmo tempo em que contam com a apatia da
população que sofre com as políticas adotadas por estes governantes que beneficiam as
elites e eliminam as liberdades individuais. Mas basta uma decisão arbitrária que vá além
de um certo limite ou um prejuízo causado a um de seus apoiadores e o ditador já estará
em perigo, tendo que enfrentar uma traição na calada da noite ou uma turba furiosa nas
ruas.
Vemos que o dinheiro e o poder em quaisquer quantidades não são capazes de
trazer a liberdade plena.
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Quem poderá usufruir então da liberdade total? Da liberdade de fazer tudo o que
deseja do jeito que bem entender?
Conhecendo as leis de Deus através do de Jesus e do espiritismo, logo
percebemos que a liberdade é sempre proporcional ao grau de evolução da alma. Será que
então os espíritos evoluídos possuem a liberdade para fazerem o que quiserem? A resposta
é sim, na medida da sua evolução. Será que então que possuindo esta liberdade eles se
comportam como se comportaria aqui na terra um homem com liberdade total, não se
sujeitando à vontade de ninguém e estando livre para desfrutar de prazeres infinitos ou
descanso eterno? Com certeza não, pois este comportamento seria contrário à sua
condição de alma evoluída.
Vamos imaginar então como seria um espírito evoluído encarnado na terra e que
devido ao seu estado evoluído possuísse imensa liberdade.
Como ele se comportaria diante do trabalho?
No trabalho, um espírito evoluído encarnado na terra, se comportaria como um
excelente trabalhador, dedicado, honesto, cumpridor de compromissos e incansável. Tudo
isso ele faria motivado exclusivamente pelo amor ao próximo, pois em qualquer que seja
o ramo de trabalho o homem sempre cria algo útil para o seu semelhante e o espírito
trabalhador é também um espírito caridoso, na medida em que se abstém do ócio e da
preguiça e não apenas se preocupa em aparentar estar trabalhando, mas realmente
trabalha, mesmo que nunca reconhecido.
Seria este espírito evoluído que estamos imaginando, um espírito livre em
relação ao seu trabalho?
Com certeza, pois se sua única intenção é ajudar ao próximo ele não precisa se
preocupar com o reconhecimento das outras pessoas, com o trabalho menos penoso e
mais confortável, com as intrigas em busca de promoção. Dentro do seu objetivo único
que é ajudar ao próximo ele é totalmente livre, ninguém se incomoda com a sua
dedicação, a sua falta de apego a bajulações e sua predisposição a fazer o que outros não
querem, ele é amplamente livre em seu trabalho.
E com relação ao direitos e deveres dos cidadãos? Teria este espírito evoluído
liberdade na terra?
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Uma regra fundamental do direito no mundo é que o direito de um termina onde
começa o direito do próximo. Mas sendo este espírito que estamos imaginando, um
espírito evoluído que somente deseja o bem ao próximo, ele não é restringido pelos
direitos do próximo, não está limitado por esta regra e possui ele então a liberdade total.
Mas como assim não está limitado pelo direito do próximo?
Vamos a um exemplo: este espírito evoluído não está limitado pelo direito à vida
do próximo, porque ele respeita o direito à vida dos seus irmãos por amor a eles e não por
uma regra repressiva contida na lei; e o mesmo acontece em relação ao direito à
propriedade e quaisquer outros direitos individuais que limitam os homens comuns na
medida em que sua vontade esbarra no direito alheio. Este espírito evoluído que estamos
imaginando é totalmente livre em relação a estes direitos e não vê diante dele limitação
alguma, sua vontade nunca é contrariada ao se defrontar com o direito alheio, pois, ele
respeita estes limites naturalmente por amor aos seus semelhantes, sem que nem mesmo
se dê conta de que age de acordo com a lei.
Como podemos ver a liberdade total existe sim; existem por ai muitos espíritos
realmente livres e alguns deles estão até mesmo aqui dentre nós encarnados. Estes
espíritos fazem o que querem, quando querem e do jeito que querem e o motivo de tal
liberdade é por que só fazem o bem.
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8 A necessidade do perdão
Jesus ensinou a oração na qual pedimos a Deus: “Perdoa as nossas dívidas, assim
como perdoamos aos nossos devedores” (8).
Perdoar e ser perdoado são duas necessidades básicas e todo ser humano que
viva neste planeta e o motivo é porque erramos muito, cometemos erros e prejudicamos
ao próximo o tempo todo.
A maioria de nós tem consciência de que somos todos, sem exceção, seres
imperfeitos; os ditados populares demonstram bem isto com frases como: “ninguém é
perfeito” e “errar é humano” e a também a popular recomendação de Jesus: “Aquele que
nunca errou, que atire a primeira pedra”. Estas frases usadas no cotidiano nos lembram
de que todos possuímos defeitos, mas elas não são suficientes para esclarecer exatamente
o quanto somos imperfeitos, quantos defeitos possuímos e o quanto erramos. A nossa
consciência egoísta nos leva muitas vezes à conclusão de que “eu” sou um ser com muitas
qualidades e poucos defeitos, afinal os defeitos dos outros estão sempre me incomodando
ao mesmo tempo em que não me sinto muito incomodado pelos meus próprios defeitos
“se é que possuo algum” pensa o “eu” egoísta.
Por este motivo, esta tendência natural de enxergarmos com mais facilidade os
defeitos do próximo, é que Jesus deixou claro em sua doutrina que somente devemos
pedir a Deus ou somente é justo pedir a Deus, o perdão na mesma medida em que temos
perdoado, talvez para nos lembrar de que não somos melhores do que a média e se
possuímos muitas qualidades de que nos lembramos sempre, possuímos também, quase
sempre, defeitos em quantidade equivalente. Portanto pedir perdão na medida em que
temos perdoado serve como um lembrete de que erramos muito, estamos sempre errando
e incomodamos ao próximo com os nossos defeitos na mesma proporção em que os
próximos nos incomodam constantemente com seus defeitos.
Para esclarecer melhor o porquê de termos de perdoar sempre, constantemente e
sem parar ou “setenta vezes sete” (9) vamos imaginar algumas situações:
Imagine que você está em um ambiente tranquilo e calmo, num local onde não
circulam muitas pessoas, como uma mesinha num canto calmo de uma biblioteca, e de
repente alguém que passava pelo local (que é bem espaçoso) descuidadamente pisa no
seu pé; você não irá é claro se levantar na mesma hora e começar uma briga com troca de
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socos (ou tapas) e irá provavelmente dizer: “não foi nada” imediatamente após a pessoa
te dizer: “me desculpe”, mesmo achando que a pessoa foi muito descuidada e que você
provavelmente jamais cometeria um erro tão grosseiro. Mas podemos concluir que a
maioria de nós, pessoas normais, se sentirá um pouco indignada com o “pisão” e ficará
tentando imaginar como uma pessoa pode ser desleixada a esse ponto de não prestar
atenção por onde anda e pisar no seu pé (que estava até meio escondido), se perguntará
porque aquela pessoa fez aquilo e pensará talvez até se aquilo não foi de propósito.
Muito diferente é a situação e a sua reação quando você está em um ambiente
bastante agitado e cheio de pessoas, como numa festa por exemplo, e uma pessoa pisa no
seu pé da mesma maneira que aquele descuidado da biblioteca; a reação imediata é de
dizer “não foi nada” ou até mesmo olhar para a pessoa e dizer “me desculpe” mesmo
sendo ela quem tenha pisado em você. Esta reação, bem diferente, é natural porque no
ambiente da festa agitada é bastante comum que as pessoas esbarrem ou pisem no pé uma
das outras, é um descuido e um acidente igual àquele da biblioteca, mas ninguém ficará
cogitando se foi ou não proposital porque é um fato bastante comum; muito provável
também é que eu mesmo daqui a alguns minutos esbarre ou pise no pé de alguém por
descuido no meio do ambiente tumultuado.
Estas duas situações e reações contrastantes, servem para tentar ajudar a
esclarecer o porquê de relutamos tanto em perdoar, porque guardamos tantos rancores e
magoas e achamos que o erro dos outros é indesculpável e até mesmo fruto de perseguição
pessoal. O motivo é simples, é porque nós não temos a noção real do quanto erramos, nós
achamos sempre que somos aquela pessoa sentada no cantinho da biblioteca, quando na
verdade estamos é no meio de uma festa agitada, errando sempre e sendo afetado sempre
pelos erros alheios.
Nós agimos assim nas mais variadas situações do cotidiano. Por exemplo um
empregado meio relapso raramente tem a noção real de quanto o seu comportamento irrita
seu patrão, sua preguiça frequentemente flagrada pelo patrão, seu descaso com as
situações importantes, tiram constantemente o sono do seu patrão, principalmente quando
esse patrão não pode demiti-lo e substituí-lo facilmente por outro. Por outro lado um
patrão meio “pão duro”, raramente tem a noção real de quanto esse seu comportamento
desagrada o funcionário, assim como o patrão que não fornece condições adequadas de
trabalho ou faz exigências muito difíceis de serem cumpridas.
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Mais comum ainda são as situações desagradáveis que criamos com o
comportamento quase automático e irracional das fofocas, reclamações e comentários
negativos a respeito das pessoas que não estão presentes. É fácil constatar o quanto nos
sentimos indignados ao saber que determinada pessoa fez um comentário desfavorável a
nosso respeito, mesmo quando, analisando bem os fatos, vemos que ela na verdade tinha
razão; porém raramente pensamos nisso quando no meio de uma conversa qualquer
soltamos nossas apreciações negativas a respeito dos outros, parece mesmo que o que sai
da minha boca não faz mal a ninguém pois, pelo menos para mim, o que eu falo é a mais
pura verdade, e ninguém deveria ser afetado negativamente pela verdade, e me esqueço
de como eu mesmo reajo nestas mesmas situações.
Se fizermos um esforço mental e nos retirarmos da situação para olharmos para
nós mesmos pelo ponto de vista de uma terceira pessoa, percebemos como é ilógico e
irracional este nosso comportamento, esta relutância em perdoar e consequentemente a
facilidade com que guardamos rancores. É irracional porque como seres ainda imperfeitos
e em evolução, nós erramos o tempo todo e deveríamos estar sempre aptos a fornecer o
perdão imediato e incondicional, como uma política de boas maneiras, pois, quem erra
muito deve estar sempre disposto a perdoar muito; como quando estamos na festa e
alguém pisa em nosso pé. Mas nos comportamos como aquela pessoa que está na
biblioteca e fica indignada com a “pisada”; o comportamento desta pessoa que está na
festa agitada e se demonstra indignado como se estivesse na biblioteca calma, não faz o
menor sentido; também não faz sentido não perdoarmos o tempo todo (setenta vezes sete)
os erros dos outros, porque eu deveria imaginar que mesmo sem saber devo estar pisando
no calo de muita gente.
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9 Caridade material
Sabemos que “fora da caridade não há salvação” (10), portanto para nós cristãos
a caridade não é uma opção, é uma necessidade.
Mas quanta caridade devo praticar?
O máximo possível é claro, pois, deixar de praticar a caridade quando ainda
possível consiste sem dúvida em egoísmo, mas reconhecemos é claro que todos nós, seres
impuros e em evolução na terra, possuímos um pouco de vontade de praticar a caridade
em nossos corações e também um pouco desse egoísmo.
E qual tipo de caridade devemos praticar?
Com certeza todos os tipos de caridade possível, dentro da capacidade de cada
indivíduo. A caridade da paciência; do perdão; da tolerância; do bom animo ou das
simples palavras de incentivo e também a caridade material quando surge a oportunidade.
E todos nós, seres em evolução, contendo defeitos e qualidades, temos o costume
de praticar atos egoístas e também atos de caridade, seja para com as pessoas próximas
ou seja para pessoas totalmente estranhas. Mas independentemente de quanta caridade de
todos os outros tipos praticamos, nós muitas vezes adotamos um comportamento estranho
no que diz respeito à caridade material, comportamento este que está ilustrado neste
trecho de O Evangelho Segundo o Espiritismo:
Muita gente deplora não poder fazer todo o bem que desejara, por falta
de recursos suficientes, e, se desejam possuir riquezas, é, dizem, para
lhes dar boa aplicação. É sem dúvida louvável a intenção e pode até
nalguns ser sincera. Dar-se-á, contudo, seja completamente
desinteressada em todos? Não haverá quem, desejando fazer bem aos
outros, muito estimaria poder começar por fazê-lo a si próprio,
por proporcionar a si mesmo alguns gozos mais, por usufruir de um
pouco do supérfluo que lhe falta, pronto a dar aos pobres o resto? (11)
Pois é assim mesmo que muitos de nós pensamos agimos; somos praticantes da
caridade em suas mais diversas formas, e podemos aprender a praticar cada uma delas
cada dia mais e melhor sem problemas. Mas a caridade material é especialmente
complicada porque possui esta armadilha, pois, para poder praticar a caridade material
33
mais e melhor, eu ao mesmo tempo preciso me cercar dos tais bens materiais necessários
e estes mesmos bens materiais são também, ao mesmo tempo, os ingredientes necessários
para que eu me transforme em um grande egoísta.
Como exemplo, se me torno um empresário bem sucedido, passo a possuir em
minhas mãos as ferramentas para praticar a caridade material em grande escala, ao mesmo
tempo em que passo também a possuir as ferramentas para proporcionar a mim mesmo
um grande conforto material, bem acima da média das outras pessoas. Posso agora
comprar um carro muito confortável, posso começar a fazer viagens turísticas acessíveis
apenas a poucas pessoas, posso construir uma grande casa com mais cômodos do que
uma família média necessita para viver, ou seja, passo a ter acesso a um pouco do a
maioria das pessoas já consideraria como exagero, um pouco de luxo e um pouco de
supérfluo que são as características de um materialista e egoísta.
Devemos sempre lembrar de que o homem possui o seu livre arbítrio e é livre
para gastar aquilo que obtém de seu trabalho digno e honesto da maneira que bem
entender, seja de forma totalmente egoística ou, pelo contrário, como um grande benfeitor
da comunidade, que abre mão de luxos e supérfluos e até mesmo do seu próprio conforto
em benefício de seus semelhantes. Esta é uma lei de Deus, esta liberdade do livre arbítrio,
e qualquer sistema de governo que tente mudar esta lei natural irá certamente fracassar,
pois os únicos sistemas econômicos e sociais que são possíveis, de acordo com cada
época, serão sempre aqueles que se adaptam ao grau de evolução moral do homem de sua
respectiva época. Por mais evidentes que possam ser as falhas destes sistemas políticos e
econômicos injustos, eles não são nada mais do que um reflexo do grau de atraso moral
do homem egoísta.
Mas vamos imaginar agora que o nosso empresário de sucesso (aquele que
possuiu os recursos necessários para as grandes obras de caridade ou para aquisição de
grande quantidade de bens materiais supérfluos) decida contrariar a lógica
predominantemente egoísta da nossa sociedade e se tornar um grande promotor de obras
de caridade. Quanto ele pode gastar consigo mesmo e sua família e quanto deve destinar
a obras de caridade? Até que ponto seus gastos podem ser considerados necessários e a
partir de que ponto começa o supérfluo?
Como dito anteriormente, qualquer tipo de sistema neste sentido está fadado ao
fracasso, nunca devemos tentar criar regras que funcionem como imposição de
34
solidariedade, mas sim tentar inspirar nos outros a benevolência e o desapego, para que
eles mesmos decidam por si próprios, agir em prol do seu semelhante, pois a imposição
é contrária à lei do livre arbítrio e tira também ao mesmo tempo o mérito pessoal daquele
que resolve agir por livre e espontânea vontade. Desta forma a única formula
recomendável é a do bom senso, o bom senso num espírito dotado de humildade e amor
ao próximo é a ferramenta suficiente para que ele saiba o que são necessidades básicas e
o que é exagero e supérfluo; e este espírito bem intencionado pode chegar facilmente à
conclusão de que é olhando para os seus semelhantes que ele irá descobrir o que é o
necessário, irá descobrir onde termina a necessidade e começa o supérfluo; e quando digo
seus semelhantes é claro não estaremos nos restringindo aos semelhantes de seu meio
social restrito, como outros empresários e pessoas bem sucedidas financeiramente por
exemplo, mas à sociedade em geral, no aspecto mais amplo, quanto maior o grupo em
que se possa obter uma comparação melhor é claro.
Este empresário bem sucedido e ao mesmo tempo com boa vontade e coragem
suficientes para contrariar a lógica do egoísmo, irá em certo momento adquirir um bem
material que fará o seu bom senso lhe dizer que este bem não é algo comum, pelo
contrário, é algo a que devido ao custo elevado apenas uma pequena parcela da população
tem acesso, ao mesmo tempo em que irá perceber que poderia viver sem aquele bem
material; concluirá então que este bem material pode ser considerado um luxo ou um
supérfluo. Neste momento esta pessoa se perguntará: É para isto que me tornei um
empresário de sucesso? E se a resposta for sim, isto será uma evidencia do seu egoísmo
predominante, mas é claro que dotado de seu livre arbítrio ele será livre para prosseguir
no caminho que escolheu e colher os frutos do egoísmo.
Da mesma maneira, irá em certo momento gastar grande quantia em uma obra
de caridade, e neste momento fará a mesma pergunta: É para isto que me tornei um
empresário de sucesso? E caso a resposta seja sim, isto será uma evidência do seu
desapego e da sua elevação moral a mais um degrau da escada da ascensão para a luz e é
claro que dotado de seu livre arbítrio ele será livre para prosseguir no caminho que
escolheu e colher os frutos da prática do amor ao próximo.
Porque este empresário que estamos imaginando conhece os ensinamentos de
Jesus e ele se lembra antes de cada decisão que toma, de posse do seu livre arbítrio, que
o mestre certa vez disse: "Mas ai de vós, ricos! porque já tendes a vossa consolação" (12);
este homem de bom coração luta para se livrar do senso comum, da lógica egoísta e não
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se importa nem mesmo com a ridicularização pela sociedade quando decide praticar a
caridade do desapego e resolve ajuntar tesouros de amor ao próximo ou “tesouros no céu”
como disse também Jesus:
Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem os
consomem, e onde os ladrões penetram e roubam; mas ajuntai para vós
tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem os consomem, e onde
os ladrões não penetram nem roubam; porque onde está o teu tesouro,
aí estará também o teu coração. (13)
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10 O fardo leve do cristianismo
Os espíritas acreditam, como também os seguidores de muitas outras religiões,
que a felicidade do homem é alcançada na medida em que ele atinge a sua evolução moral.
Quanto mais moralmente evoluído o espírito, mais feliz ele se tornará, podendo alcançar
o “reino dos céus”.
Mas do que se trata esta evolução moral? A evolução moral nada mais é do que
a capacidade do espírito de praticar a lei de Deus, que é a lei do amor ao próximo, ou seja,
amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, sendo que a melhor
maneira de demonstrar amor a Deus é amando os seus filhos, nossos irmãos.
Muitas religiões impõem como pré-requisito ao encontro com Deus ou à
evolução moral, rituais muitas vezes desgastantes e um tanto incompreensíveis e outras
vezes ainda dolorosos e até mesmo seriamente prejudiciais à saúde. São incontáveis os
rituais mais variados que foram criados pelo homem (e não por Deus) desde os tempos
mais remotos até os dias modernos.
Nos tempos mais antigos, em que se acreditava que Deus tinha interesses e
sentimentos como dos humanos, eram comuns os sacrifícios e oferendas, pois, o homem
primitivo acreditava que um Deus (ou deuses) vingativo poderia se acalmar com o
sacrifício de uma virgem e poupar um povo inteiro; ou então acreditava que Deus poderia
ficar contente com a oferenda de alimentos ou itens de valor em altares, da mesma
maneira em que se ofereceria a um conquistador estrangeiro poderoso e ganancioso com
poder para invadir e aniquilar uma cidade.
Já nos tempos mais modernos a evolução da inteligência e da moral do homem
fez com ele criasse também rituais, muitos deles sendo ainda absurdos e despropositados,
mas já contendo em sua maioria o pano de fundo da ideia de um Deus que condena os
maus hábitos e os comportamentos egoístas e depravados. Destas religiões mais modernas
surgem os rituais das rezas constantes ou repetitivas ou em horas marcadas, que podem
possuir como pano de fundo a ideia de que devemos cultivar o habito de agradecimento
e reconhecimento a Deus pelas boas obras e também o hábito de pedir a Deus auxílio para
superar as dificuldades e praticar boas obras. Também surgem os rituais de auto-flagelo
e outras punições dolorosas auto-impostas, estas práticas têm como pano de fundo a ideia
de que Deus é justo e que nós sofreremos as consequências de nossos erros. Também
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existem os jejuns e a castidade, que servem como maneira de controle da gula e do
impulso sexual descontrolado, mas que o homem acaba transformando em rituais e
dogmas, fazendo com que ele mesmo não consiga na maioria das vezes enxergar o
fundamento moral e a finalidade destas práticas.
Mas para os espíritas é diferente, no espiritismo não existem rituais sagrados e
mesmo a prece do pai nosso é praticada sempre com a memória exata do significado de
cada frase, evitando-se uma repetição de frases sem significado para quem ora; neste
aspecto o espiritismo é parecido com as ideias do fundador do Budismo, que, apesar de
ter fundado a religião que acabou por adotar inúmeras práticas rituais, já ensinava ele há
dois mil e quinhentos anos a desnecessidade da prática de rituais e da adoração de objetos
e imagens.
Neste sentido aparenta-se ser mais fácil a adoção do espiritismo por não possuir
rituais, nem torturas auto-impostas ou a obrigatoriedade de qualquer contribuição em
dinheiro ou também restrições de horas e locais para oração que atrapalhem a vida
cotidiana. Mas, como nas outras religiões, existe no espiritismo também a obrigatoriedade
de se seguir mandamentos de cunho moral, a vontade de Deus, como nas outras religiões,
também está presente na doutrina espírita e nos ensinamentos do cristo. Existindo um
único Deus, a sua vontade, que é a evolução do homem pela prática do amor ao próximo,
está também claramente exposta no espiritismo, como nas outras religiões, mas neste,
pela não existência de uma cortina de rituais atrás da qual pode se esconder uma alma
preguiçosa, existe menos espaço, menos oportunidades de desvio da verdadeira vontade
de Deus.
Um espírito trabalhador e fiel, adotando qualquer religião, terá oportunidades
suficientes para alcançar sua elevação e felicidade pela prática das leis de Deus, mas um
espírito preguiçoso e ainda em dúvida quanto à sua fé pode se apegar a rituais e dogmas
sem utilidade prática e que não o auxiliam na sua própria evolução. No espiritismo este
espírito não encontra espaço para este tipo de desvio de finalidade da religião e o resultado
é que não possuindo cortina atrás da qual se esconder o espiritismo acaba se tornando,
para este espírito preguiçoso, uma religião dura e difícil de seguir, ou, por outro lado,
pode acabar por torná-lo um grande hipócrita que prega o bem externamente e não se
importa realmente em praticá-lo.
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Mas, como dito, somente a alma preguiçosa e sem fé suficiente é que visualizara
grandes obstáculos para a adoção dos ensinamentos do espiritismo ou da prática do
cristianismo sincero em qualquer religião que seja, pois como disse Jesus “meu jugo é
suave, e o meu fardo e leve” (14), e é assim mesmo que será para todos nós quando
começarmos a praticar os ensinamentos de cristo de forma dedicada e sincera.
Por exemplo, vamos analisar a prática cristã do desapego material. Para o
espírito materialista, ainda apegado a seus bens e suas posses e que ainda orienta sua vida,
sua carreira e suas prioridades para a conquista de bens materiais, a prática do desapego
parece uma punição muito dura. Preferiria ele praticar o auto-flagelo com um açoite a ter
que se desapegar da sua obsessão por mais bens materiais supérfluos. Não sabe este
espírito como este fardo é leve; como o desapego é uma prática gratificante e
tranquilizadora. A pessoa que se desapega do materialismo ganha novos horizontes e
novas metas de vida, quase que automaticamente. A corrida enlouquecida pelo dinheiro,
pelos cargos mais bem remunerados, pelo sucesso comercial etc. transforma grande parte
da população em verdadeiros zumbis; o sujeito deixa de pensar racionalmente e passa a
raciocinar em função dos lucros e prejuízos possíveis; deixa de expandir seus horizontes
intelectuais e religiosos e gasta todo o tempo disponível para estudo em busca de fórmulas
mágicas de sucesso financeiro, ou na obtenção de títulos e diplomas que podem alavancar
sua carreira profissional. Este sujeito materialista não faz ideia de como é gratificante
empregar seu tempo livre ou seus recursos materiais em função da ajuda ao próximo, o
que para ele parece um fardo pesado é na verdade um serviço altamente gratificante, o
sentimento de bem estar sincero em quem pratica uma boa ação é quase que uma
recompensa automática, imediata.
E quanto à prática cristã da humildade, será ela um fardo pesado? Para o
orgulhoso talvez possa parecer que sim. Quantas pessoas, por exemplo, não gastam boa
parte de seu tempo lendo textos de conteúdo preconceituoso em que são criticados os
pobres, os nordestinos, os negros, as pessoas que recebem algum auxílio do governo, os
estrangeiros etc. e desperdiçam sua inteligência e sua capacidade multiplicando ideias
preconceituosas baseadas na ideia de inferioridade de certos grupos e superioridade de
outros, em que ele convenientemente se encaixa. A ideia de igualdade entre todos os
povos parece sim um fardo pesado para o orgulhoso, assim como a ideia de igualdade
moral, intelectual e de direitos e deveres entre indivíduos de classes sociais diferentes.
Para o humilde, para aquele que já aprendeu as vantagens da humildade sincera, este fardo
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é levíssimo; sua mente e seus ideais se abrem, ele começa a enxergar a beleza da
multiplicidade cultural, ao mesmo tempo em que se aproxima o suficiente para sentir de
perto a vida, as ideias e os corações bondosos e generosos de pessoas de grupos e classes
sociais com as quais ele costumava evitar o convívio. Tanto nesse como em qualquer
outro aspecto da vida em sociedade, a humildade é sempre um fardo leve e, na verdade,
gratificante em si mesma.
O mesmo se aplica a todos os mandamentos da vida cristã. A prática do perdão
é também gratificante e é mais um fardo leve, fácil de ser praticada por quem já aprendeu
as suas vantagens. O costume de se preocupar com os outros, expondo a si mesmo nas
mais diferentes situações evitando o costume comum do “isso não é problema meu” ou o
“vou fingir que nem vi” para evitar problemas e a exposição pessoal, não é nem um pouco
lucrativo quando comparado por exemplo ao costume da prática do “dar a cara a tapa”, o
costume de se expor para lutar pelos direitos dos semelhantes e dos menos favorecidos, o
fardo desta luta é leve e também gratificante. O que para uns parece um fardo pesado e
um sofrimento voluntario que poderia ser evitado, é, para quem põe em prática o
evangelho de Jesus, na verdade um fado leve e cheio de recompensas.
Todos aprendemos desde criança a lição do ditado popular de que “o crime não
compensa”, ou seja, fazer o mal aos outros para obter vantagens pessoais não compensa,
mas estranhamente poucos são aqueles que conseguem aprender e colocar em prática uma
outra lição simples e que se baseia na mesma lógica simples, a lição de que o amor ao
próximo compensa.
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11 Caridade silenciosa
Jesus nos ensinou a necessidade da humildade em todas as situações e em relação
à maneira como devemos praticar a caridade não foi diferente, dizendo: “não saiba a tua
mão esquerda o que faz a tua direita” (15).
Por que teria imposto Jesus esta regra? esta limitação? Porque ele nos conhece é
claro, sabe das fraquezas e tendências do homem e de como este é capaz de transformar
as atitudes mais belas em atos de egoísmo.
Existe na sociedade uma ideia geral de que não devemos ficar nos gabando
quando praticamos alguma boa ação ou algum ato de caridade e é justamente assim que
tentamos nos comportar quando nos vemos nestas situações, mas, infelizmente, não
demora muito e o nosso orgulho rapidamente consegue falar mais alto. Basta por exemplo
uma pessoa nos perguntar se contribuímos com alguma instituição ou se exercemos algum
serviço voluntário ou alguma atividade beneficente e rapidamente, como que tentando
deixar a impressão de que tinha a intenção de permanecer no silencio e na humildade, já
vamos logo soltando uma frase do tipo: “eu não gosto de ficar falando, mas eu ajudo tais
e tais pessoas...” parece até que a língua estava coçando esperando a primeira
oportunidade de se gabar, se gabar “com humildade” é claro.
E nessa trilha, de oportunidade em oportunidade, acabamos sempre fazendo
divulgação dos mínimos atos de caridade que praticamos. Acabamos por final nos
acostumando com este comportamento e logo estamos parecendo com aqueles políticos
que gastam dez vezes mais com a divulgação da obra pública do que com a própria obra.
Um exemplo disso são, os gastos enormes e a grande quantidade de tempo empreendidos
na organização de jantares beneficentes, em que os convidados acabam gastando mais
com um vestido luxuosíssimo, o cabeleireiro, a maquiagem, o smoking etc. do que com
a própria doação.
É muito comum que instituições de caridade, que deveriam investir 100% do seu
tempo e esforço em obras de caridade, gastem grande parte de seus recursos e do trabalho
de seus voluntários organizando eventos e jantares beneficentes. Os frequentadores destes
eventos, em sua grande maioria, estão sempre muito preocupados com as roupas
caríssimas, com os holofotes e com como aparecerão nas fotos para as colunas sociais,
poucos deles se preocupam alguma vez em visitar e ajudar ou até mesmo em fiscalizar o
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bom emprego dos valores arrecadados nestes eventos beneficentes, a grande maioria
mesmo está é preocupada com o evento em si e com as possibilidades de ascensão social
e política e quase que se esquecem totalmente dos beneficiários necessitados.
Percebemos que a caridade praticada sem total humildade pode aos poucos ir se
desvirtuando e se transformar em um circo de vaidades e orgulho que tiram todo o mérito
de quem a pratica, ao invés da alegria e satisfação sincera de quem exercita o desapego e
o amor ao próximo, estes desvios podem acabar aflorando mais ainda o orgulho, o
egoísmo e o materialismo da ostentação.
Mas a caridade mal praticada pode trazer consequências ainda piores a quem a
recebe.
É muito comum que ao ajudarmos uma pessoa diretamente com um auxílio
financeiro ou outro auxílio material, nos coloquemos numa posição de superioridade em
relação a quem recebe a ajuda, como um pai que entrega uma quantia ao filho a título de
mesada, e logo em seguida já emendamos os sermões de advertência e fazemos uma série
de exigências muitas vezes difíceis de serem cumpridas.
Por melhores que sejam as intenções, como por exemplo a de evitar que o auxílio
seja desperdiçado, ou evitar que a pessoa beneficiada se acomode e não aproveite as
oportunidades de desenvolvimento pessoal, esta atmosfera de exigências acaba criando
um clima de certo desconforto para ambos e a prática reiterada destas exigências e a
repetição deste desconforto muitas vezes acaba transformando um sentimento de gratidão
inicial em uma aversão pela situação e também pela pessoa que justamente tentava, com
boas intenções, auxiliar o seu próximo necessitado.
Uma consequência meio que natural é que o orgulho ferido da pessoa necessitada
de ajuda acaba impedindo que ela se sujeite a continuar recebendo o auxílio, e cria-se
então a embaraçosa situação em que o praticante daquela caridade sabe da real
necessidade de auxílio e sabe que a interrupção gerará uma falta real para a pessoa
auxiliada, mas diante da recusa desta é obrigada a concordar em não fornecer mais ajuda.
Outro problema na prática de auxílio financeiro ou outro auxílio material direto
a pessoas necessitadas é a própria desconfiança. É bastante natural que na nossa sociedade
“dinheiro-cêntrica” a prática da caridade desinteressada por parte de uma pessoa
diretamente a outra, ou outras, sem o intermédio de uma instituição de caridade, gere
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bastante desconfiança. Pode demorar mesmo um tempo ou pode ser que até que a barreira
da desconfiança nem mesmo consiga ser ultrapassada, pois os dizeres populares do tipo
“ninguém dá nada de graça” ou “quando a esmola é muita o santo desconfia” não são,
infelizmente, nada exagerados.
Vamos então colocar aqui algumas ideias básicas que podem talvez nos auxiliar
a colocar em prática o nosso desejo de auxiliar o próximo.
Uma boa ideia é nunca, em hipótese alguma, revelar ou divulgar que tem
praticado atos de caridade material ou os valores que foram “desapegados” a não ser com
pessoas do círculo familiar mais próximo, como as pessoas que participam do orçamento
familiar e que precisam necessariamente entender para onde estão sendo direcionados
estes recursos. Até mesmo na situação em que for questionado e contestado sobre o fato
de praticar ou não atos de caridade (pois é natural que adotemos um discurso pró caridade)
evitar divulgar o que tem feito ou tem deixado de fazer, advertindo a pessoa que estiver
lhe questionando de que não lhe faz bem sair divulgando as suas boas ações, a menos que
esta divulgação sirva apenas como forma de encorajamento para que outras também se
proponham a praticar a caridade e nunca como exibicionismo, o que é difícil de acontecer
na prática e é um desafio para nós mesmos discernir onde termina a nossa vontade de
encorajar boas obras e onde começa o nosso orgulho em exibir as boas obras.
Estes cuidados simples já servem para eliminar todo o exibicionismo e com isso
este sistema, estes costumes tão comuns dos jantares e grandes eventos sociais
beneficentes que geram trabalho extra àquelas pessoas dedicadas a causas nobres e que
na maioria das vezes ainda trabalham de forma voluntária. Sem falar ainda que todos os
recursos gastos com estes eventos, da organização das festas ao vestido de grife, podem
ser efetivamente transformados em recursos destinados à caridade.
A ajuda efetuada diretamente a pessoas necessitadas, como já mencionado, é um
obstáculo à nossa humildade e pode gerar aqueles problemas tanto para quem doa quanto
para quem recebe; então se você é uma pessoa normal, como eu também acho que sou, é
sempre preferível efetuar uma doação a uma instituição confiável, esta prática traz o
benefício do anonimato que é de grande importância para nós, pessoas normais, que tão
facilmente inflamos o nosso ego por quase nada. É claro que esta preferência não pode
nunca servir de obstáculo para que ajudemos uma pessoa próxima e necessitada de auxílio
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imediato, não faz sentido evitar este mal (o nosso ego inflado) se para isso acabemos
gerando um outro mal, que é a falta da ajuda urgente a uma pessoa próxima.
E é claro que se caso venhamos a oferecer a ajuda de forma direta, devemos
lembrar de evitar ao máximo aqueles comportamentos desagradáveis, não proferindo
sermões em tom de superioridade, sempre lembrando a quem recebe ajuda de que todos
somos todos irmãos e iguais perante Deus, Deus alias que é a fonte de toda riqueza e todas
as conquistas que o homem erroneamente julga possuir. Se necessário justificar os
motivos pelos quais pratica estes atos de caridade para evitar qualquer desconfiança,
deixando claro o seu entendimento de que não está fazendo mais do que a sua obrigação
como cristão que recebeu estes empréstimos de Deus.
Lembrando mais uma vez Jesus: “Guardai-vos de fazer a vossa esmola diante
dos homens, para serdes vistos por eles; aliás, não tereis galardão junto de vosso Pai, que
está nos céus” (16).
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12 O pior chefe
Sabemos que o trabalho é uma necessidade básica do homem, algo essencial para
sua evolução moral, conforme nos explica esta passagem de O Evangelho Segundo o
Espiritismo:
Se Deus houvesse isentado do trabalho do corpo o homem, seus
membros se teriam atrofiado; se o houvesse isentado do trabalho da
inteligência, seu espírito teria permanecido na infância, no estado de
instinto animal. Por isso é que lhe fez do trabalho uma necessidade, e
disse: Procura e achará; trabalha e produziras (17).
O trabalho nos proporciona a nossa evolução intelectual, ao mesmo tempo em
que nos permite prestar auxílio aos nossos semelhantes, pois todo trabalho possui a sua
utilidade dentro da sociedade. Além destes dois aspectos o trabalho ainda possui uma
outra utilidade para a nossa evolução moral que é a oportunidade de melhorarmos a nossa
disciplina, pois na organização do trabalho sempre está presente de uma forma ou de outra
a figura do organizador/comandante do trabalho ou simplesmente chefe.
Existem vários tipos de chefe e mesmo quando não temos formalmente um chefe
existem pessoas ou situações que passam a comandar o nosso comportamento da mesma
maneira que um chefe.
Mesmo quando se trabalha por conta própria, no que se costuma chamar de “ser
seu próprio chefe” a realidade costuma ser outra, pois, no nosso mundo altamente
competitivo e no sistema econômico em que as grandes empresas e os grandes capitais
possuem uma larga vantagem sobre os empreendimentos pequenos, ser “seu próprio
chefe” significa estar em uma corrida constante contra a concorrência e em busca de uma
renda melhor. Dessa forma, quando não se possui uma renda assalariada fixa o nosso
chefe se transforma nas contas a pagar do fim do mês e este é um chefe implacável, que
não dá descanso. E mesmo quando possui uma renda razoável, muitas vezes o trabalhador
por conta própria sofre ainda com a pressão de pessoas próximas da família que
frequentemente cobram que ele mude de ramo e consiga um emprego com renda fixa e
garantida. Estes chefes também são bem incômodos e não te deixam ter a tranquilidade
que se imagina de uma atividade teoricamente livre de horários e de pressão.
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Quando trabalhando em um emprego assalariado o trabalhador passa a ter um
daqueles chefes clássicos. Pode ser o próprio patrão que acompanha de perto o andamento
do trabalho ou um encarregado especialmente designado para esta função de “capataz”.
Neste tipo de trabalho o funcionário tende a sempre mostrar serviço quando na presença
destes chefes e, ao mesmo tempo, relaxar quando na ausência deles. O que acaba
acontecendo é uma espécie de acordo implícito entre os subordinados que mantém um
padrão mínimo de qualidade nos momentos em que não são vigiados e, ao mesmo tempo,
um padrão apenas aparente de esforço e dedicação nos momentos em que estão sob
supervisão mais direta. Ao entrar neste esquema o funcionário é induzido a se transformar
em uma espécie de estelionatário, que tenta sempre parecer o que não é e tirar vantagem
desta situação fazendo o mínimo possível desde que isto não lhe cause problemas.
Ainda neste ambiente de emprego subordinado a um patrão existe outro tipo de
chefe, o famoso “puxa-saco”. Aquele funcionário que mesmo não participando
diretamente dos lucros da empresa está sempre defendendo o interesse dos patrões como
se fosse um chefe ou o próprio patrão, este “puxa-saco” se transforma frequentemente em
um “dedo-duro”, e ai é que mora o perigo para o funcionário acostumado ao esforço
mínimo. O “dedo-duro” delata o mau comportamento dos outros funcionários e quando
estes percebem a situação começam a se comportar na frente deste “puxa-saco” e “dedo-
duro” da mesma maneira que se comportariam na frente do chefe, é como possuir vários
chefes em um mesmo ambiente. Para a grande maioria dos funcionários assalariados que
querem entrar no sistema do esforço mínimo, o “puxa-saco” e o “dedo-duro” são chefes
difíceis de engolir, porque estão sempre ali no mesmo ambiente de trabalho,
desempenhando muitas vezes a mesma tarefa no curso normal do dia de trabalho e que
não podem ser facilmente enganados.
Existe também é claro o outro lado da moeda, que é quando o funcionário é fiel
cumpridor das suas obrigações e mesmo assim é cobrado constantemente como se fosse
um preguiçoso. Ai surge outro tipo terrível de chefe, o chefe explorador que se aproveita
de uma situação de necessidade dos seus funcionários e vai sobrecarregando cada vez
mais e mais seus subordinados sob constantes ameaças veladas de demissão, criando
situações típicas onde se verifica o assédio moral.
Mas existe ainda um outro ambiente de trabalho onde os chefes por mais
autoritários ou até mesmo perseguidores que possam ser, se vêem muitas vezes de mãos
atadas sem poder fazer muito para corrigir aqueles funcionários mais desleixados e
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preguiçosos. É o ambiente do serviço público onde existe estabilidade de emprego. É
claro que a estabilidade não é absoluta e existem processos de avaliação e processos
disciplinares próprios, mas estes processos são trabalhosos e provocam um certo desgaste
para os superiores, como a realidade brasileira é de que no serviço público das diferentes
esferas os ocupantes de cargos de chefia sejam em sua maioria indicados de confiança e
quase sempre por motivos também políticos, estes superiores tendem a evitar conflitos
com a intenção de manterem uma esfera de aparências no setor em que chefiam e evitarem
ao mesmo tempo o desgaste com superiores, também políticos, que preferem sempre a
omissão à ação.
Este ambiente no serviço público cria vantagens tanto para os bons como maus
funcionários, pois o chefe opressor não consegue ameaçar os bons funcionários que não
tem nada a temer ao mesmo tempo em que o chefe que com razão tenta cobrar melhor
desempenho dos maus funcionários acaba não conseguindo muita coisa dentro desta
atmosfera. O resultado é que no serviço público assim como no setor privado temos uma
maioria aproximada de 2/3 de funcionários não dedicados e 1/3 de funcionários
dedicados. Devemos lembrar que a estabilidade no emprego é essencial na administração
pública pois evita que a massa de servidores públicos fique à mercê de interesses políticos
ou sofra pressões e ameaças para permitir que políticos e empresários corruptos desviem
dinheiro público. No final das contas, a estabilidade que privilegia preguiçosos e protege
os dedicados não faz com que no serviço público tenhamos mais os menos funcionários
dedicados, no final os bons continuam bons e os maus continuam maus seja no público
ou no privado.
É neste ambiente em que é mais comum que surja então o pior tipo de chefe, o
perseguidor implacável e incansável que não dá um segundo sequer de sossego ao
trabalhador, este chefe é a consciência.
Na verdade o homem trabalhador, de espírito de boa vontade, poderá trazer em
si este “pior dos chefes” em qualquer tipo de atividade, seja por conta própria, como
assalariado na iniciativa privada ou no serviço público com estabilidade. Trabalhando por
conta própria, mesmo que já possuindo uma boa renda ele pensará: “Hoje eu só trabalhei
quatro horas e já ganhei meu “pão nosso de cada dia”, mas a maioria dos trabalhadores
trabalha oito horas, então, vou trabalhar mais um pouco”. Trabalhando na iniciativa
privada ele pensará: “O patrão foi viajar e ninguém vai me incomodar se eu passar o resto
da tarde enrolando, mas vou trabalhar a tarde toda, mesmo que me chamem de puxa-saco,
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porque eu ganho pra isso e não vou ficar aqui à-toa”. Já no serviço público ele pensará:
“Se eu trabalhar ou não, no final não vai me acontecer nada, mas vou trabalhar porque o
povo não me paga pra ficar enrolando”.
Esta é a voz da consciência, o pior de todos os chefes, quem possui esta
consciência sabe como ela é implacável, incansável e não deixa o bom trabalhador parado
um único segundo. Muito pior do que as contas a pagar, as críticas familiares, os patrões,
capatazes e “puxa-sacos” a consciência do homem de bem não descansa nunca, mesmo
quando o salário no fim do mês já está garantido, quando as contas estão em ordem,
quando o chefe não está olhando ela está sempre lá.
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Alan Kardec explica que quando
encarregado de uma tarefa, o espírita age:
[...] como quereria que seus subordinados procedessem para com ele,
caso fosse chefe. Por isso mesmo, mais escrupuloso se mostra no
cumprimento de suas obrigações, pois compreende que toda
negligência no trabalho que lhe está determinado redunda em prejuízo
para aquele que o remunera e a quem deve seu tempo e seus esforços.
Numa palavra: solicita-o o sentimento do dever, oriundo da sua fé, e a
certeza de que todo afastamento do caminho reto implica em uma dívida
que cedo ou tarde terá de pagar (18).
Janela de Luz - José da Silva de Jesus
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  • 2. 1 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...................................................................3 2 A INGRATIDÃO CRÔNICA ............................................5 3 VIVER PARA SI OU VIVER PARA OS OUTROS .......9 4 RIQUEZA E JESUS ..........................................................14 5 APOSENTADORIA ..........................................................18 6 MATURIDADE .................................................................22 7 LIBERDADE TOTAL ......................................................26 8 A NECESSIDADE DO PERDÃO ....................................29 9 CARIDADE MATERIAL .................................................32 10 O FARDO LEVE DO CRISTIANISMO ..........................36 11 CARIDADE SILENCIOSA ...............................................40 12 O PIOR CHEFE ..................................................................44 13 VIVENDO NA FRONTEIRA ............................................48 14 TRABALHAR NO QUE GOSTA ......................................51 15 REINO DOS CÉUS .............................................................55 16 PRIVILÉGIOS ....................................................................59 17 AMAR OS INIMIGOS .......................................................64 18 ESTAR BEM DE VIDA .....................................................68 19 AS DIVISÕES DA HUMANIDADE .................................72
  • 3. 2 20 PARTICIPAÇÃO POLÍTICA ..........................................77 21 CONTAS A PAGAR ..........................................................82 22 A NECESSIDADE DAS GUERRAS ................................86 23 O HOMEM PODEROSO ..................................................92 24 FAZER A SUA PARTE .....................................................97 25 LEI MODERNA E LEI CRISTÃ ......................................101 26 REFORMA SOCIAL ..........................................................107 27 DIFICULDADES QUE FORTALECEM .........................112 28 O QUE VIRÁ DEPOIS? .....................................................116 29 INSACIEDADE ..................................................................120 30 VOTO DE RIQUEZA ........................................................124 REFERÊNCIAS............................................................................128
  • 4. 3 1 Introdução A luz do evangelho de Jesus é simples e pura, uma luz tão pura e tão forte que as vezes é até mesmo meio que difícil olhar diretamente para ela. Da mesma forma que os animais acostumados à escuridão da noite ou que vivem dentro de cavernas, nós, espíritos imperfeitos e ignorantes, sentimos muitas vezes uma certa dificuldade de assimilar esta luz do evangelho. Muitos ensinamentos de cristo ainda nos parecem meio que incompreensíveis ou até mesmo ilógicos até os dias atuais, como também pareciam ser a dois mil anos atrás. Por exemplo a passagem em que Jesus ensina: “Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me.” (1). Quem já conseguiu seguir este conselho ao pé da letra? Quem seria capaz de fazer exatamente como cristo nos ensinou? Ou então quando Jesus nos diz que ao invés de revidarmos uma agressão devemos oferecer a outra face? Será que alguém faz isto? Alguém já viu esta cena em algum lugar, uma pessoa sendo agredida em um lado da face e oferecendo o outro lado? E quando Jesus avisa que quem tentar se salvar si mesmo se perderá; e “qualquer que, por amor de mim, perder a sua vida, a salvará” (2), como será que devemos proceder para nos perdermos por amor de Jesus e então sermos salvos? À primeira vista estas lições podem parecem contrariar o senso comum e a razão, estarão os ensinamentos de Jesus errados? Foram eles distorcidos pelos homens? Ou será que fazem parte de um sistema ainda acima da nossa capacidade de compreensão? A luz do evangelho de Jesus, assim como a luz do sol para uma criatura das sombras, pode ao primeiro contato parecer agredir a visão, mas não existe outra opção para aquele que deseja sair das trevas e viver na luz a não ser tentar assimilar esta luz e se adaptar a ela. Jesus nos ensinou que todas as leis estão contidas no mandamento: Amai a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Um mandamento compacto e simples que contém todos os outros mandamentos, mas ao mesmo tempo ele também nos deixou dezenas de parábolas e exemplos de vida e de conduta que traduzem o significado deste mandamento de amor a Deus e amor ao próximo. A literatura cristã ainda prossegue esta missão de explicar e reexplicar, traduzir e retraduzir este ensinamento básico de amor a Deus e ao próximo, Chico Xavier nos trouxe centenas de livros, todos eles com esta
  • 5. 4 mesma missão de explicar o ensinamento simples de Jesus, e isto tudo apenas pelas mãos de um único médium dentre vários outros. Todo ensinamento, mesmo que simples, se não puder ser facilmente compreendido, pode se tornar inútil, é por este motivo o evangelho de Jesus está escrito e reescrito em tantas obras diferentes, todas elas sempre com o mesmo conteúdo básico, mas que variam em grau de complexidade desde o evangelho simples e puro contido no novo testamento, às obras de caráter mais filosófico e também científico de Alan Kardec, passando pelas obras trazidas por espíritos iluminados e outras ainda que nos trazem ensinamentos contidos em exemplos mais simples e mais próximos do nosso do dia-a- dia. Neste último tipo de obra, obra simples e sem grandes ambições, é que se enquadra este livro, um livro simples que funciona como uma janela para a luz do evangelho que está lá fora, em local ainda inacessível para nós espíritos imperfeitos acostumados à escuridão. Na verdade é uma janela meio suja, por não possuir o mesmo rigor filosófico ou a “mão” direta dos espíritos elevados, livros simples e sem grandes ambições como este deixam penetrar um pouco da luz do evangelho numa quantidade moderada, uma janela meio suja que nos auxilia a abrirmos os nossos olhos de forma gradual e pouco a pouco nos adaptarmos a esta luz forte e limpa que brilha lá fora.
  • 6. 5 2 A ingratidão crônica Gratidão é o sentimento positivo e harmonizador pelo qual reconhecemos o bem que outra pessoa nos proporcionou. O que seria a ingratidão crônica? A partir da frase acima, pode-se concluir que a ingratidão é a característica da pessoa que não possui o sentimento positivo de satisfação e reconhecimento do bem que lhe foi proporcionado. De crônica chamaremos aqui aquela que apesar de esforços feitos para que seja eliminada, permanece firme e forte e (aparentemente) sem cura. Você já viu uma destas pessoas que apesar de não terem uma vida nada sofrida estão sempre reclamando de tudo à sua volta? São pessoas que possuem uma qualidade razoável de vida, possuem uma saúde, se não perfeita, pelo menos razoável, uma condição financeira razoável, e que não passaram por grandes tragédias pessoais além daqueles percalços comuns a que todos os seres humanos estão sujeitos. Apesar disso, este tipo de pessoa está sempre a reclamar, mas não por um sentimento de indignação pelas injustiças que sofrem as outras pessoas, o que poderia ser compreendido dada a enorme carga de notícias negativas que nos bombardeiam diariamente pelos noticiários, mas sim um sentimento de indignação geral mas restrito apenas às situações que afetam a elas mesmas. Ora, quem não se sente infeliz com algo lhe prejudique, isso é totalmente natural, mas as pessoas de bom senso conseguem se desvencilhar de um pensamento negativo rapidamente, principalmente porque numa sucessão natural de eventos da vida de qualquer pessoa ocorrem coisas positivas e negativas todo o tempo; como por exemplo: “passei com meu carro num buraco que se abriu no asfalto depois da chuva, ao virar a próxima esquina descobri que aquela outra rua que tinha um asfalto velho cheio de buracos foi recapeada”. A pessoa com ingratidão crônica irá ficar o resto da semana comentando com seus colegas de trabalho sobre o possível prejuízo ao seu carro (que nem chegou a se materializar) e da incompetência da administração pública, dizendo frases do tipo: “isso é culpa da incompetência desse governo” ou “se fosse em tal lugar isto não aconteceria” e se esquecerá de mencionar o fato da outra rua, que era toda esburacada, agora estar “um tapete”.
  • 7. 6 Pessoas assim existem em todos os lugares, um dos assuntos mais comuns e que mais desencadeia reclamações típicas deste comportamento é a situação política, econômica, social, cultural etc. do Brasil; quantas vezes não ouvimos frases como: “só no Brasil mesmo” ou “esse país é uma piada” ou ainda “por isso é que o Brasil não vai pra frente”. Estas pessoas reclamam da miséria, dos impostos, da corrupção, da saúde, da educação etc. Mas vejamos, estão reclamando da miséria pelo sentimento de compaixão pelos miseráveis e indignação pelas condições de pobreza das pessoas das classes mais trabalhadoras e sofridas como os pedreiros, faxineiras, garis e trabalhadores rurais? A resposta é não, estão na verdade reclamando do fato de miseráveis baterem à sua porta pedindo ajuda todo o tempo, de cruzar com a visão desagradável de uma rua suja com casas feias de um bairro pobre, com o risco de assalto ao ter que cruzar uma região cheia de favelas ou moradores de rua etc. Reclamam sempre também dos impostos, estarão elas indignadas com a carga tributária de 50% que oprime por exemplo uma família que possui renda de um salário mínimo no Brasil? Não, estão indignadas mesmo é com a carga tributária de 20% típica das famílias brasileiras que possuem renda acima de vinte salários mínimos, nos quais elas por acaso se incluem. E a corrupção? Causa indignação poder oferecer propina a um guarda, ou transferir a multa para um parente que não possui pontos na carteira? Não, isso parece não ser problema, nem tampouco a corrupção que criou um cargo bem remunerado a pessoa da sua família que possui bons contatos políticos; a indignação é dirigida àquela corrupção que prejudica o ingrato crônico, como a corrupção do fiscal tributário que “quebra um galho” para o lojista da concorrência, se fizesse o mesmo para ele não estaria indignado, também não causa indignação a baixíssima qualidade da educação oferecida às camadas mais pobres (pois ele pode pagar ensino particular) nem o sistema corrompido de educação superior teoricamente público e democrático que praticamente só oferece chances reais de ingresso àqueles que não precisariam do estado para bancar seus estudos. O típico ingrato crônico tem sempre muito a reclamar apesar de sua condição social, econômica, de saúde etc. razoavelmente boa e comparativamente ótima; uma analogia muito fácil pode ser feita com uma criança que possui muitos brinquedos e está sempre reclamando de não possuir mais ainda ou então por não possuir um igual ao do vizinho, que tem um único brinquedo e ainda por cima é quase idêntico ao seu. É claramente uma questão de imaturidade, as pessoas ficam mais velhas mas em relação a
  • 8. 7 certos comportamentos não conseguem amadurecer, mudam o foco de seus desejos e reclamações mas permanecem os comportamentos imaturos. A esta altura muitos de nós já mentalizamos algumas pessoas que se enquadram neste perfil, mas dificilmente conseguimos nos auto enquadrar nele, isto é natural, Gandhi certa vez disse que apenas olhando nosso próprios defeitos com uma lente de aumento e os defeitos dos outros com a lente invertida é que teremos uma noção aproximada da realidade. Todos reclamamos daquela injustiça que nos afeta e, como criaturas imperfeitas que somos, tendemos aceitar com mais facilidade as injustiças que nos beneficiam, todos temos um pouco (ou muito) deste ingrato crônico, porque passamos muito do nosso tempo mentalizando aquilo que nos prejudica e muito pouco raciocinando sobre tudo o que nos foi concedido. Como evitar então este comportamento? Como não se tornar uma pessoa parecida um este tal ingrato crônico? Um passo essencial para se desvencilhar deste comportamento é possuir fé em Deus. Mas por que? O que Deus tem a ver com isso? O Motivo é que somente a pessoa que tem fé em Deus , ou seja, aquela que acredita que existe uma força maior governando o universo e também a sua vida, pode começar a perceber que existe algo a agradecer além do mero acaso por ter uma condição de vida razoável ou até mesmo ótima se comparada a uma grande parcela da população que enfrenta diariamente necessidades e privações e que não é menor do que 70% no mundo todo, pois no mundo todo aqueles que não sofrem com a pobreza, problemas de saúde, liberdade, falta de oportunidades etc. constituem um minoria. Apenas a pessoa que não acredita que seus privilégios comparativos não são fruto do acaso (como a criança que acha que possui muito mais brinquedos do que o vizinho por mero acaso) e que não acredita que já tenha nascido mais merecedora de privilégios e regalias (como a criança que acha que merece todos os brinquedos porque é a criança mais bonita do mundo), somente a pessoa que acredita que uma força maior comanda o universo e por algum motivo lhe concedeu e ainda lhe concede uma situação física, econômica, social etc. mais favorecida, sem esquecer também das oportunidades de trabalho e estudo que lhe proporcionaram ter tudo o que têm, somente esta pessoa pode possuir a gratidão por tudo o que conquistou. Somente a pessoa que possui esta noção de que por algum motivo, alguma força maior lhe colocou numa situação que está longe de ser das piores e que lhe são oferecidas oportunidades que não são oferecidas à maioria das outras pessoas, somente este indivíduo está apto a enxergar com clareza suficiente para poder colocar na balança as
  • 9. 8 suas dificuldades e as suas facilidades, suas desvantagens e seus privilégios, e fazer a medição correta de quantas pedras lhe são atiradas no caminho e quantas oportunidades lhe são oferecidas, ou de quantos buracos existem no asfalto velho e quantas ruas ganharam asfalto novo.
  • 10. 9 3 Viver para si ou viver para os outros Existem duas maneiras básicas de se viver a vida: para si ou para os outros. Algumas pessoas vivem quase que exclusivamente para si, outras vivem quase que exclusivamente para os outros, mas a grande maioria de nós está mesmo perdida entre estes dois opostos ou não sabe muito bem para o que vive e vive na verdade um conflito eterno entre o que gostaria de viver e o que é obrigada a viver. Mas o que seria exatamente viver para si ou para os outros? Não é muito difícil examinar o comportamento de algumas pessoas e rotula-las como pessoas que vivem só para si (egoístas) ou para os outros (altruístas), sendo que a grande maioria de nós aceita facilmente o egoísmo como algo negativo e que temos de evitar, pouquíssimas são as pessoas que aceitam ser chamadas de egoístas e se sentem bem com esse rótulo. Mas existe uma certa distância entre entender basicamente o que significa uma e outra coisa, aprovando uma como o modelo ideal e rejeitando a outra, e adotar o comportamento socialmente aceito como o correto, ou seja, o oposto do viver para si (egoísmo) o altruísmo. Entender o egoísmo e visualiza-lo no comportamento alheio costuma ser muito mais fácil do que evitar este comportamento em nós mesmos e então praticar o oposto dele. Este conflito entre o que eu sei e considero que deva ser o correto e o que meus desejos e vontades me fazem buscar é a causa de inúmeras decepções na vida da maioria das pessoas e também a causa de inúmeros conflitos sociais e familiares. Vejamos alguns exemplos: Para um pai de família, o que seria viver para si e viver para os outros. Viver para os outros seria ocupar o papel esperado de um pai de família, aquele que trabalha para prover o lar, não o lar como um ninho de descanso e prazer para ele mesmo, mas o lar de sua família, tendo como principal objetivo obter conforto e segurança para os outros integrantes da família, o pai de família que vive para os outros se preocupa com o bem estar da sua esposa e filhos em primeiro lugar, a casa confortável em lugar seguro como local de descanso e convívio para a educação e desenvolvimento
  • 11. 10 dos filhos e que proporciona por sua vez o necessário para que a esposa também desempenhe seu papel com tranquilidade. O conforto, lazer e tranquilidade que ele obtém neste mesmo lar é mera consequência do convívio sob o mesmo teto naquele lar que ele construiu pensando nos outros em primeiro lugar. Para um pai de família, viver para si é enxergar no lar um local de prazer conforto e descanso para ele mesmo, o pai de família que vive para si coloca suas prioridades acima das prioridades do restante da família, o conforto da família é consequente do conforto que ele busca para si mesmo, e como geralmente ele costuma concentrar uma maior parcela de poder nas decisões de compra de itens para o lar, este pai de família acaba deixando de suprir algumas necessidades básicas do lar; mas a pior face do comportamento do pai de família que vive para si é que sendo o lar um território de convívio e aprendizado coletivo em que surgem conflitos naturais, este pai de família começa a criar meios de fuga deste ambiente, o futebol com amigos e o bar estão entre os pretextos mais comuns que o pai de família do tipo que vive para si encontra para conseguir manter distância dos conflitos familiares que não se resolvem sozinhos sem a sua participação e, pelo contrário, vão se acumulando e se transformando em grandes problemas e grandes falhas na educação dos filhos. O pai de família que vive para si na verdade tenta fugir do papel de pai de família, tentando manter de alguma forma os prazeres que tinha antes de assumir este compromisso, está sempre procurando os amigos dos tempos de solteiro, as bebedeiras dos tempos de solteiro, a falta de compromisso e de horários que tinha no tempo de solteiro etc. Resumindo, o pai de família que vive para si não é um bom pai de família. E no mundo do trabalho, o que seria viver para si e para os outros? Vamos tomar como exemplo a mais nobre das profissões, o médico. O médico que vive para os outros coloca seus interesses em segundo plano, as ambições naturais de construir uma carreira e ser retribuído e reconhecido adequadamente são para ele muito menos importantes do que as imensas oportunidades de ajudar, curar e salvar vidas; seu dia-a-dia é cada vez mais e mais dominado pelo intuito de corresponder às expectativas das dezenas de pessoas que depositam nele a esperança de uma cura; o agradecimento sincero e emocionado das pessoas que ele ajuda e que muitas vezes não tem a menor condição de proporcionar para ele qualquer retribuição financeira é para este profissional algo muito mais valioso dos que a multiplicação da sua renda.
  • 12. 11 Já o médico que vive para si fez, como todos os outros, o juramento de salvar vidas, mas o seu estilo de vida acaba ofuscando este grande compromisso. Assisti a algum tempo atrás o filme do Bezerra de Menezes e nele o personagem principal afirma em certo ponto que: aquele médico que faz exigências e cobra valores altos ou só atende as pessoas que tem condição de pagar não é médico, mas negociante de medicina; atualmente vemos multiplicar cada vez mais e mais o número destes negociantes de medicina, profissionais que com o intuito de multiplicar sua renda assumem diversos cargos com cargas de trabalho que se cumpridas integralmente passariam de 24 horas diárias, o resultado é que ele não cumpre e nem poderia cumprir suas cargas horárias, o que acaba refletindo na ausência destes profissionais justamente nos locais e situações onde sua presença é mais necessária, e a população mais carente que depende do sistema público de saúde é quem paga por este comportamento do nobre trabalhador que exerce a nobre profissão mas que decidiu viver para si. E quanto à vida pública e os grandes compromissos sociais? O que seria para um político viver para si ou viver para os outros? É muito fácil imaginar como seria um político que vive para os outros, é simplesmente o político que cumpre, ou pelo menos tenta cumprir, aquelas maravilhosas promessas que vemos sempre no horário político da televisão. A verdade é que no mundo real é quase que impossível encontrar um político, de qualquer linha ideológica e em qualquer parte do mundo, que saiba o que significa viver e viva para os outros; é inerente à própria luta pelo poder político a corrupção moral dos cidadãos que deveriam representar o interesse da maioria e principalmente os mais necessitados, sendo quase que uma regra geral que políticos em todos os tempos sempre representaram os interessem das minorias poderosas, seja em uma democracia em que o financiamento das campanhas é feita pelos grandes grupos privados ou em uma ditadura em que a figura pública do político serve aos interesses das minorias privilegiadas que sustentam as estruturas de poder autoritárias. O político que vive para si é aquele que ignora o conteúdo de seus próprios discursos e vende seu cargo em troca dos títulos e bajulações do poder e dos privilégios e rendas que obtém de diversas formas como sobras de campanhas, caixa dois, cargos a familiares, investimentos de empresários que jorram em empresas privadas que ele mantém paralelamente à função pública e muitas outras formas de enriquecimento que quase sempre possuem uma fachada de legalidade. O político que vive para si, assim
  • 13. 12 como o pai de família e o médico que vivem para si, desempenha muito mal a sua função, é um mau político. Vamos dar uma “olhada” agora em figuras que, ao contrário das anteriores, exercem atividades nada respeitáveis. Um criminoso vivendo para si está em seu habitat natural, seja sozinho um em grupo o criminoso tem como regra de vida viver para si, não tem respeito pela propriedade e vida alheias, para obter pequenas vantagens pessoais causa desde prejuízos até grandes tragédias nas vidas das pessoas que cruzam o seu caminho; se age em bandos não confia em nenhum de seus comparsas e eles também sabiamente não confiam nele, o criminoso que vive para si é um grande criminoso e respeitado entre seus pares, exerce bem sua função. E quanto ao terrorista? Como poderia um terrorista não viver para si? Somente munido de um sentimento egocêntrico e um total descaso pelas outras pessoas uma pessoa pode achar que atacar pessoas inocentes e desarmadas, entre elas mulheres, idosos e crianças, é uma boa ideia, seja qual for a causa e qual a ideologia o terrorista só pode estar pensando em si mesmo, na futura glória e poder que pode obter, quem sabe, de revoluções sangrentas iniciadas por ataques covardes, um terrorista que vive para si está apto a agir como terrorista, se vivesse minimamente para os outros não teria coragem de praticar nenhum de seus atos. Por último vamos ver o ditador. O ditador impõe sua vontade de forma autoritária, se obedecesse à vontade popular poderia se sujeitar tranquilamente ao sistema democrático, mas, pelo contrário, sua condição de ditador é necessária para que imponha a sua vontade particular e também a vontade do pequeno grupo que o apoia contra a vontade da maioria; isto por si só já nos mostra que o ditador não vive para os outros, vive para si; viver para os outros significaria abdicar do poder quando as massas não acatassem voluntariamente as suas ideias e decisões, vivendo para si pode tranquilamente ignorar o apelo popular e usar a força para se manter no poder quando necessário. O ditador que vive para si é com certeza um grande ditador. Vimos que tanto na vida privada dentro da família, como no mundo do trabalho e também na vida pública, a pessoa que vive para si ao mesmo tempo que causa grandes decepções e sofrimento para todos à sua volta, também gera para si decepções e tristezas
  • 14. 13 equivalentes. Alguém tem dúvida de que o pai de família que vive no bar e tem uma família desestruturada é muito infeliz se comparado ao pai de família que troca o seu lazer egoísta pelo lazer em família? Será que o médico que possui uma renda altíssima e que acumula riqueza ao mesmo tempo em que gera sofrimento, tristeza e rancor das pessoas que agonizam por causa de sua ausência, é mais feliz do que o outro médico que mesmo numa jornada única de 8 horas diárias ainda recebe uma retribuição bastante razoável e leva uma vida confortável ao mesmo tempo em que cumpre suas obrigações e está sempre presente, acumulando gratidão e reconhecimento dos seus pacientes? Será que o político que se vende aos interesses dos poderosos e conquista grande prestígio mentindo e enganando a população é mais feliz do que o outro político que não aceitou se vender e, em consequência, não conseguiu se eleger, mas que possui ideais nobres e sinceros, acredita no que diz e é realmente respeitado e admirado por pessoas bem informadas que veem nele um modelo a ser seguido, enquanto que o primeiro conquista votos dos ignorantes (de todas as camadas sociais) que vedem o voto por uma dentadura ou por um favor no alto escalão? O livre arbítrio nos permite viver como bem quisermos, mas a análise da realidade nos mostra como é enganosa e infeliz a estrada daquele que escolheu viver para si. De forma que só existe uma opção real para a busca de uma vida melhor e mais feliz, viver para os outros. Contrária ao nosso instinto animal de sobrevivência, a opção de viver para os outros, alimentar aos outros, dar conforto aos outros, lutar pelos outros, acatar à vontade dos outros, trabalhar pelos outros, sofrer pelos outros, é paradoxalmente o único caminho para uma vida feliz, mas essa é uma conclusão a que só o homem realmente racional consegue chegar.
  • 15. 14 4 Riqueza e Jesus Jesus veio à terra com uma missão? Acreditamos que sim. Para o desempenho desta missão acreditamos também que ele tenha vindo no momento em que escolheu, no local em que escolheu e também nas condições em que ele mesmo escolheu. Sabemos que Jesus era pobre, não um pobre miserável ou mendigo, mas pobre no sentido de estar distante da riqueza, de ter de trabalhar para merecer o próprio sustento, e assim ele fez durante toda a sua vida até o momento em que iniciou suas andanças ensinando o evangelho. Mas porque ele teria escolhido esta posição humilde? Porque escolher nascer entre os trabalhadores simplórios em vez das posições de destaque? Vamos então dar uma olhada em alguns de seus ensinamentos e algumas de suas palavras e exemplos para, quem sabe, encontrar neles a chave desta sua escolha. Vamos imaginar por exemplo como seria o encontro de Jesus com Zaqueu, aquele publicano (coletor de impostos) rico e corrupto como a maioria em seu tempo. Diante do encontro com Jesus, emocionado ele espontaneamente disse que iria doar metade de tudo o que possuía aos pobres, e às pessoas que ele tivesse fraudado devolveria o valor quadruplicado. Jesus então diz que a salvação veio àquela casa (casa de Zaqueu). Como seria um Jesus rico diante desta cena à vista dos olhares da multidão? Ficaria ele quieto e não diria nada sobre suas próprias riquezas? Não iriam achar que ele era um hipócrita por abençoar um homem que abre mão de metade de seus bens em benefício dos pobres ao mesmo tempo em que não diz uma palavra sobre seus próprios bens? A única solução lógica seria ele, naquele mesmo momento, também afirmar que abriria mão de igual porção de seus bens, e ainda assim para apenas se igualar em bondade a um publicano conhecido por todos como grande pecador, e lá se vão metade dos bens do nosso “Jesus rico”. Em outra oportunidade, está Jesus no templo pregando próximo do local onde eram feitas doações quando ele avista então uma pobre viúva que deixa duas moedas que
  • 16. 15 não valiam quase nada, diferentemente dos muitos ricos que depositavam ali grandes quantias com a intenção de se exibir; Jesus então diz que naquele dia a viúva havia feito a maior doação, porque teria doado o que realmente lhe fazia falta, ao contrário dos outros que doaram o que lhes sobrava. O nosso fictício “Jesus rico” cairia novamente em contradição, pois como sendo rico não cometeria o mesmo erro dos outros ricos que estavam ali depositando quantias expressivas, mas que não chegavam a lhes fazer falta? A única solução seria doar também uma quantidade tão expressiva que lhe fizesse falta real, ao ponto de que só poderia lhe restar de toda a sua fortuna o suficiente para o básico, nada mais de luxos, supérfluos e objetos de ostentação; e lá se vai mais uma vez a fortuna do “Jesus rico”. Mais difícil ainda seria conciliar o ensinamento de Jesus quando ele disse “meu reino não é deste mundo” (3), se o seu reino não é deste mundo e ele não persegue as riquezas e o poder deste mundo, o que estaria fazendo Jesus na posse de grande fortuna? Também ensinou Jesus que na luta pela conquista de poder e riqueza o homem obtém muitas vezes o que procura, mas neste caminho acaba deixando naturalmente de lado os valores morais de solidariedade e amor ao próximo, cometendo muitas vezes pequenos e grandes crimes que o fazem a chegar à conclusão “que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma?” (4), como se livraria o nosso “Jesus rico” desta contradição? Seria ele o único a poder conquistar o mundo, conquistar e também manter, defendendo as suas riquezas com a violência naturalmente necessária, e ainda assim manter a sua alma? Soaria mais uma vez como hipocrisia, destas que vemos tantas vezes nos discursos de inúmeros falsos profetas. Imagine ainda a ocasião da crucificação; preso injustamente pelos poderosos do seu tempo que o viam como uma ameaça ao seu poder, não porque Jesus buscava o poder, mas porque seus ensinamentos contrariavam as leis dos hipócritas, Jesus não dá gritos desesperados nem instiga a população a livra-lo de seus perseguidores, nem promete vingança ou faz ameaças como agiria um homem rico e poderoso, possuidor de muitos guardas e escravos sempre prontos a defende-lo; e se mesmo sendo rico e poderoso não se utilizasse destes recursos estaria como que renegando o seu poder e os seus subordinados, abandonando a posição de homem poderoso e adotando neste momento a conduta de homem humilde.
  • 17. 16 Difícil seria também explicar o seu conselho ao jovem rico, ao qual disse para vender todos os bens, doar tudo aos pobres e depois o seguir; o jovem romano precisaria doar seus bens enquanto o “Jesus rico” não precisaria fazer o mesmo? O comportamento do mestre é sempre uniforme em sua jornada e não conseguimos encontrar contradições. Quem entende este comportamento de Jesus diante da humildade e do poder consegue facilmente entender por que ele disse aos seus discípulos que aquele que quisesse ser o maior perante Deus deveria ser o último entre os homens e o servidor de todos. A lógica de suas lições e exemplos combina perfeitamente com o seu ensinamento maior: Amai a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, quem ama a Deus e também ao próximo como a si mesmo não irá buscar posição de destaque sobre o próximo, não irá procurar os títulos o status e o poder que o coloque acima do próximo, não irá buscar o conforto que o próximo (ou a maioria dos próximos) não possui, não buscará luxos e supérfluos, porque a própria noção de luxo e supérfluo é de algo que tem mais utilidade como item de exibicionismo e exagero do que de utilidade e necessidade. Se um dia ocupar uma posição de destaque ou comando, a pessoa que ama a Deus sobre tudo e ao próximo como a si mesmo se sentirá desconfortável com a posição de destaque sobre os seus próximos, que nada mais são do que os outros filhos de Deus, e buscará nesta posição sempre ofuscar qualquer sinal de sua superioridade ou poder e tentará ao máximo possível agir com humildade para que, mesmo estando no comando, os seus próximos sintam que ele é um servidor de todos. Estamos todos sempre procurando andar com Jesus, estar com Jesus, seguir Jesus e frequentemente nos esquecemos de que Jesus não procurou a riqueza, não procurou o poder, não procurou o conforto e o luxo, Jesus não exibia itens de valor, não andava de carruagem, não se gabava de possuir qualquer coisa, não se isolava do convívio dos humildes e ainda dizia que para estarem com ele os poderosos é que deveriam aprender a trilhar o caminho dos humildes. Se nós com tanta frequência nos vemos andando por estes caminhos por onde Jesus não andou, como podemos querer ver ele no nosso caminho? Disse ele ainda “é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus” (5) será que estão todos os ricos condenados ao inferno?
  • 18. 17 Será que não há salvação possível para aqueles que estão no poder? Acreditamos no amor de Deus e por isso acreditamos que a salvação é sempre possível e não pode existir condenação prévia ou eterna para nenhuma alma, aliás como poderia ser justo Deus se fizesse nascer uma pessoa numa posição de destaque e com isso já estivesse condenando- a a estar longe do reino dos céus? Temos sempre de lembrar que a vida é uma escola e a posição que cada um ocupa nesta vida é exatamente a posição que Deus, movido apenas pelo amor, escolheu para que pudéssemos ter o melhor aproveitamento. Seja a riqueza ou a pobreza, tudo o que se passa diariamente em nossas vidas não é nada mais do que um teste, seja um teste de resignação e fé para o pobre ou o teste, muito mais difícil, de humildade para o rico. Na escola da vida a matéria humildade é a que mais reprova a nós, alunos descuidados, e sem a aprovação nesta matéria o diploma que estamos buscando é impossível.
  • 19. 18 5 Aposentadoria Quando irei me aposentar? Esta é uma pergunta que todos nós fazemos mais cedo ou mais tarde. É praticamente uma regra geral de nossa sociedade que o homem não só pode, como deve em certo momento de sua vida deixar o lado produtivo da sociedade e se dedicar ao descanso. Mas vamos antes aproveitar para analisar outras ideias e conceitos amplamente aceitos nessa nossa mesma sociedade. Por exemplo, o trabalho. É um direito universal do homem, um dos valores mais sagrados de nossa sociedade, as ideias ligadas ao trabalho trazem quase sempre um conotação positiva, enquanto a abstenção voluntária do trabalho traz ao mesmo tempo, quase sempre, uma conotação negativa. A vagabundagem não é vista por nenhuma sociedade e em nenhuma época como algo louvável, sendo inclusive sinônimo de criminalidade. Outra ideia amplamente aceita é o conceito de céu ou inferno. Seja nas concepções mais antigas e infantis ou nas doutrinas e filosofias mais racionais, o conceito de céu e inferno se traduz na ideia de que as más ações trarão más consequências para o seu autor da mesma forma como, de modo contrário, as boas ações serão recompensadas. Estes são conceitos que aprendemos desde criança, raros são os pais que não ensinam os seus filhos a praticar boas ações e evitar as más para que sejam recompensados de acordo, assim como raros são também os pais que não ensinam desde cedo aos seus filhos os valores inerentes ao estudo e o trabalho. Baseando-se nestas concepções amplamente aceitas é fácil se chegar à conclusão de que o céu (seja qual for o conceito que cada um possui a respeito de céu) é um lugar habitado por pessoas boas, ao contrário do inferno que seria reservado aos maus; dentro desta mesma lógica podemos concluir que sendo o trabalho um valor nobre e admirável, o céu estaria provavelmente sendo habitado por muitas pessoas trabalhadoras e o inferno seria o local muito mais propício a encontrar as pessoas que não possuem a qualidade nobre de trabalhadores, o inferno estaria assim cheio de vagabundos.
  • 20. 19 A ideia tradicional de céu que a igreja possui é de um lugar de descanso e paz, num ócio eterno, estariam ali os eleitos num infinito deleite sem a necessidade de esforço algum, num eterno descanso, vazio e improdutivo. A contradição fica ai bem evidente, como poderiam se sentir em paz e felizes as pessoas que naturalmente de dedicaram ao trabalho durante toda a vida? Não aquelas que foram forçadas a trabalhar contra a vontade, mas sim aquelas que por iniciativa própria se dedicaram sempre a atividades produtivas, os verdadeiros trabalhadores de boa vontade. O céu, dentro da lógica do valor moral do trabalho e do conceito de recompensa pelas más e boas ações, seria um lugar habitado por trabalhadores dedicados e ativos. Estas pessoas, sendo trabalhadoras e ativas, naturalmente não conseguiriam obter paz de espírito e felicidade alguma se não fossem oferecidas a elas oportunidades sempre novas de trabalho, colocando-se em atividades produtivas e benéficas à coletividade, ou será que ao adentrar no céu os eleitos mudariam automaticamente sua personalidade, adotando o comportamento dos vagabundos? Então o céu que buscamos para o momento em que não mais precisaremos sofrer os desgastes e sofrimentos da vida na terra é obviamente um local de muito trabalho, onde o descanso é o mínimo possível e o trabalho é eterno, pois um lugar cheio de pessoas que não fazem nada e se sentem bem assim não poderia ser o céu. Mas ao mesmo tempo que buscamos o céu no nosso futuro, passamos boa parte de nossa vida sonhando com a aposentadoria; muitos de nós aguardamos a cada semana que um número de um sorteio de loteria nos livre do trabalho para o resto de nossas vidas, muitos outros aguardam que o sucesso em uma empreitada empresarial ou um investimento financeiro com grandes retornos os livrem do trabalho até o final de suas vidas, quando então ao entrarem no tão desejado céu, e ai está a grande contradição, passaremos a eternidade trabalhando sem descanso. Porque afinal a vagabundagem eterna só pode ser o destino daqueles que não merecem o céu, vagabundos, preguiçosos e ociosos devem haver aos montes no inferno, mas não é para lá que queremos ir não é mesmo? Tendo em mente como é a vida no nosso tão desejado destino, e desejando o mais breve possível ingressar neste “reino dos céus” faz sentido se preocupar tanto com a aposentadoria? Será que uns dez ou vinte anos de descanso no final da vida fazem tanta
  • 21. 20 diferença assim se o nosso destino é a eternidade trabalhando pelo bem ao lado de Jesus? Não dez, cem ou mil anos, mas sim a eternidade, sempre trabalhando cada vez mais, cada vez mais ativo e produtivo, cada vez mais motivado. Jesus respondeu aos judeus que o questionavam porque estaria ele efetuando curas num sábado dizendo: “Meu pai trabalha até agora, e eu trabalho também” (6). O descaso é uma necessidade natural do corpo humano, e o sábado foi criado como dia reservado ao descanso para aquele povo que, escravizado, não possuía qualquer oportunidade de descanso, meditação, convívio em família e prática religiosa etc.; nós muito diferentemente de outros povos em épocas antigas, possuímos nossos sábados e domingos, nossos feriados e férias anuais. A aposentadoria é um instituto criado como meio segurança social, para que indivíduos em idade avançada (idade esta que varia conforme as épocas e avanços da ciência) não sejam obrigados a trabalhar para terem seu sustento quando o corpo já não é mais capaz de desenvolver qualquer atividade produtiva, ou seja, a aposentadoria por tempo de trabalho ou por idade avançada pressupõe uma invalidez do corpo após tantos anos de trabalho ou certa idade, da mesma forma que um trabalhador acidentado na flor da idade também tem direito a aposentadoria por esta invalidez, mas inexistindo a invalidez a aposentadoria não se justifica. Como é impossível para uma lei ou um sistema de previdência prever todas as situações da vida real, são criadas regras gerais que servem para todos mas que não são de forma alguma perfeitas; para se prevenir que pessoas incapacitadas pelo trabalho desgastante ou pela senilidade sejam obrigadas a continuar trabalhando, o benefício da aposentadoria é concedido a todos que atinjam certa idade ou certo tempo de contribuição e é assim, inevitavelmente, concedido a muitas pessoas que não estão de forma alguma incapacitadas ou inválidas. Como uma regra geral genérica da lei nunca será capaz de regular todas as situações da vida real, a única regra geral capaz de efetivamente conceder aposentadoria a todos os incapazes e não conceder a nenhum trabalhador capaz, seja de qual idade for, é a regra do amor ao próximo. A regra ou lei do amor ao próximo, pode motivar o trabalhador que já atingiu os requisitos mínimos da lei para obter a aposentadoria, a continuar a trabalhar, por puro
  • 22. 21 amor ao trabalho sempre útil ao próximo. O aplicador desta lei será sempre o próprio indivíduo beneficiário da aposentadoria que deve decidir quando parar de trabalhar, quando suas forças realmente o impedem de continuar trabalhando e ser útil à sociedade, seja no emprego formal ou no trabalho voluntário não remunerado, sendo que este último pode obrigar o indivíduo a ter que obter o benefício governamental para tornar possível o exercício da atividade voluntária necessariamente mais nobre e mais exigente. Porque deixar de trabalhar para viver uma vida de descanso e deleite, ao mesmo tempo em que tenho consciência de que meu corpo não me obriga a isso, de que ainda posso ser produtivo e útil e na verdade minhas habilidades intelectuais acumuladas, ao contrário do corpo envelhecido, me possibilitam ser mais produtivo do que quando jovem e inexperiente? A aposentadoria voluntária para se dedicar ao descanso improdutivo e o ócio, em idade ainda produtiva e em condições físicas razoáveis, começa a não fazer muito sentido na cabeça da pessoa que realmente tem o tal amor ao próximo, essa regra essencial do evangelho de Jesus, e ai ele se pergunta: Quando irei me aposentar? Se Deus quiser, nunca.
  • 23. 22 6 Maturidade Quanta coisa mudou desde quando eu era jovem. Quando eu era mais jovem achava que o aborto era uma coisa normal, que qualquer pessoa que tivesse uma gravidez indesejada poderia fazer uso desse recurso indiscriminadamente, e que não seria problema nenhum; eu não tinha consciência de que a lei proíbe prevendo penas severas e quando soube da proibição na lei, não fazia muita ideia do por que desta proibição. Hoje eu sei que, independente do debate político sobre direitos da mulher e direito à vida e da influência da igreja católica sobre a nossa legislação, o aborto é um crime; não apenas no sentido de ser proibido pela lei, mas, principalmente, por ser um crime contra a vontade de Deus e as leis de Deus. Não significa que Deus não gostando de ser contrariado tenha um espírito vingativo, e por isso devemos temer contrariar suas determinações. Mas, muito pelo contrário, o aborto contraria a vontade de Deus expressada unicamente pelo seu amor, o amor de Deus que permitiu que uma vida fosse gerada, no melhor momento possível; não aquele momento e situação que nós julgamos ser o melhor, mas o momento ideal para que nós, criaturas imperfeitas, enfrentemos os desafios e lições que só a experiência de cuidar de um outro ser humano podem trazer. Da mesma maneira que uma professora sabe qual lição difícil deve ser apresentada ao seu aluno em cada momento do seu aprendizado, a professora, assim como Deus, apresenta a lição dura e difícil com a melhor das intenções, no momento e situação que ela julga oportuno. Quando eu era mais jovem também adorava carros, conhecia todos os modelos, todas as especificações, todos os detalhes que não fazem a menor diferença do dia-a-dia, ao mesmo tempo em que sonhava em ter uma Monza (daquele modelo mais antigo) prateado com vidros escuros, rebaixado e pneus largos. A aparência do carro afinal era mais importante que tudo, mais do que o conforto a estabilidade, economia, potência etc. Hoje enxergo os carros de forma totalmente diferente, não são para mim mais do que um meio de transporte, ante a decisão entre comprar um zero quilometro ou um semi- novo, hoje penso apenas nos custos e benefícios e entre esses benefícios não estão de forma alguma a aparecia do carro ou o que os colegas, familiares e vizinhos vão achar do meu carro, aliás, colocando tudo na ponta do lápis acabei decidindo ficar com os
  • 24. 23 velhinhos, e não me importo nem um pouco (ou pelo menos acho que não me importo) com o fato de a maioria das outras pessoas terem carros bem mais novos que o meu. Quando mais jovem também tinha outra visão sobre a honestidade. Eu não era desonesto (graças a Deus), mas os motivos que me faziam ser honesto, ou me abster da desonestidade, eram totalmente diferentes. A razão pela qual eu não praticava pequenos crimes como por exemplo levar um doce ou outra coisa de pequeno valor da prateleira de uma loja enfiando no bolso para não pagar, ou roubar o caixa de uma loja em que trabalhasse, ou ainda aplicar golpes ou trapaças causando prejuízo a pessoas desatentas, era o medo de ser pego, o medo da humilhação pública e com o passar dos anos foi também ficando mais forte o medo da certeza da justiça divina. Hoje, muito diferentemente, o pensamento que primeiro me vem à mente ao me deparar com uma situação ou “oportunidade” em que poderia ser desonesto e obter algum tipo de vantagem é o medo de prejudicar aos outros e não o medo da lei. A lei tenta delimitar os direitos e deveres de cada um para impedir que uma pessoa seja prejudicada injustamente pela atitude de outra, e tendo em mente que tudo o que a lei proíbe tem, em teoria, um prejudicado do outro lado, hoje minha primeira reação ao me deparar com alguma proibição é tentar imaginar quem seria o prejudicado pela minha atitude desonesta e, baseando-me neste pensamento, evito praticar qualquer atitude desonesta, não apenas aquelas consideradas desonestas segundo a lei, mas qualquer atitude em geral que eu perceba ser capaz de prejudicar outras pessoas. Quando era mais jovem o trabalho era uma obrigação, um fardo, um incomodo a que era obrigado a me sujeitar para poder obter as coisas que desejasse; trabalhar o mínimo e descansar o máximo era a norma e se fosse possível tentaria sempre conseguir o trabalho que fosse menos cansativo ou o trabalho no qual pudesse passar a maior parte das horas em distrações alheias ao trabalho. Hoje também enxergo o trabalho de outra maneira, o trabalho cansativo continua me cansando, a sexta feira ou o sábado continuam sendo dias esperados, a hora de ir para casa ainda me anima, mas, muito diferentemente, hoje vejo no trabalho além de uma obrigação também uma benção; a oportunidade de trabalhar, de ser útil em qualquer tipo de atividade não pode nunca ser desvalorizada. Hoje penso sempre em fazer o máximo possível dentro das obrigações que possuo no trabalho; se o trabalho acaba, vou procurar
  • 25. 24 mais; se sinto sono eu cansaço e moleza, vou rapidamente procurar o cafezinho; sinto vergonha de enrolar, fazer corpo mole, fingir que estou me esforçando muito quando na verdade não estou e procuro pensar nas pessoas que não possuem as oportunidades que eu tenho, o salário garantido no fim do mês que eu tenho e como elas se sentiriam ao me ver fazendo pouco caso dos privilégios que possuo. Pra terminar vou lembrar também que quando era mais jovem a ideia de ser muito rico ou de ganhar muito dinheiro sem esforço ou merecimento algum parecia muito boa. Pensava em todas as futilidades e coisas inúteis que poderia comprar, na vida boa e sem trabalho que poderia levar e naquelas maluquices que só quem tem muito dinheiro, como os milionários excêntricos, pode fazer. Hoje isso também mudou. Hoje vejo o dinheiro muito mais com uma maneira de suprir necessidades do que como uma ferramenta para satisfazer extravagâncias; vejo todas as tolices que as pessoas que tem muito dinheiro fazem e não sinto inveja delas e tenho consciência de que quem leva uma vida com uma renda mediana se livra de muitos problemas como intrigas, disputas familiares, inveja, falsidade, além do constante estado de paranoia em que vivem os mais ricos devido à criminalidade. Ai eu penso: Quanta coisa mudou em pouco mais de vinte anos! E essa mudança não é fruto somente da evolução normal no pensamento de um jovem ou adolescente para o pensamento de um adulto, com a aquisição de um pouco de experiência e cultura. Sei disto porque vejo muitas pessoas, que pensavam como eu, ainda presas às mesmas ideias após todo este tempo; e vejo também outras que deste a juventude já não possuíam estas ideias infelizes, estavam desde quando jovens um passo já à minha frente. Ao mesmo tempo vejo pessoas mais velhas e até idosas que seguem estes preceitos egoístas que não trazem felicidade para ninguém. Acredito eu que estas mudanças de pensamento, a que todos estamos sujeitos, se devem à evolução moral do espírito. Independente da nossa idade contada em anos nesta vida, nosso espírito pode ser mais velho ou mais jovem, ou, melhor dizendo, mais ou menos esclarecido, mais ou menos apegado às ideias egoístas e imaturas. Esta seria a explicação para o comportamento sadio e inteligente de algumas pessoas jovens e o comportamento imaturo e ignorante de algumas pessoas mais velhas.
  • 26. 25 E enxergando a vida e esta evolução moral constante com o conhecimento da imortalidade do espírito eu penso: Como será que eu serei daqui mais vinte anos? Será que manterei ainda as mesmas ideias que tenho hoje? Minha esperança, e quase certeza, é de que não. E muito provável é mesmo que daqui vinte anos eu veja o meu “eu” de hoje como um sujeito ignorante de muitas coisas, com muitas ideias e conceitos por melhorar; assim eu quero, assim eu espero, porque esta é a lei natural da evolução do homem. Vamos por final imaginar como estaremos não daqui a vinte, mas daqui duzentos anos, ou ainda dois mil anos; uma boa ideia pode ser obtida ao se acompanhar a evolução moral de um espírito como o de Emmanuel, uma comparação simples entre o orgulhoso e ignorante patrício romano do livro Há Dois Mil Anos (7) e o mentor espiritual iluminado de Chico Xavier. Imaginem mais ainda, imaginem dois milhões de anos, quanta coisa por aprender, quantas ideias das que temos hoje serão substituídas em nossa mente por outras muito mais sábias e cristãs. É por isso que temos sempre que ser humildes, o máximo que pudermos e sempre considerarmos a grande possibilidade de estarmos completamente enganados e assim nos prepararmos para adotar novos pensamentos, nos desvencilhando de velhas ideias e preconceitos. Também devemos sempre estar dispostos a estudar e tentar aprender algo novo a respeito do evangelho de Jesus que traduz a lei de Deus e assim desta forma, quem sabe, estarmos prontos para abandonar o mais rápido possível aquele velho “eu”, aquele “eu” meio ignorante, egoísta e orgulhoso, o “eu” de hoje.
  • 27. 26 7 Liberdade total Como é bom ser livre, poder fazer o que quiser, na hora que quiser e do jeito que quiser, não ter os seus desejos reprimidos por ninguém nem por nenhuma imposição da lei. Será que existe no mundo alguém assim? Alguém livre desse jeito? Muitas pessoas sonham em ter uma grande soma de dinheiro para poder desfrutar desta liberdade, mas a verdade é que nem mesmo as pessoas mais ricas do mundo e nem os ditadores e reis mais poderosos tiveram algum dia esta liberdade. Algumas destas pessoas muito ricas acharam que o dinheiro compraria tudo, inclusive a liberdade para fazerem o que quisessem, mas a realidade é que na nossa sociedade todos estão sob o império da lei. Alguns destes acham que com o dinheiro podem comprar a justiça e a opinião pública, mas a realidade é que, se tentam fazer isso, fazem sempre com medo de serem descobertos e nunca podem falar publicamente sobre o que fizeram sob pena de despertarem a revolta geral e a efetiva punição pela lei, de modo que, por exemplo, nem mesmo o filho do homem mais rico do Brasil pode dirigir seu carro em alta velocidade de forma imprudente e após causar um acidente ficar impune. Mas e quanto aos grandes ditadores e reis, terão eles a liberdade para fazerem o que quiserem? De jeito nenhum, muito pelo contrário, estas figuras públicas vivem sempre cercadas de apoiadores que sustentam a sua figura e a sua permanência no poder é sempre decorrente da concordância de um círculo próximo de pessoas que se beneficiam do sistema ditatorial ou absolutista, ao mesmo tempo em que contam com a apatia da população que sofre com as políticas adotadas por estes governantes que beneficiam as elites e eliminam as liberdades individuais. Mas basta uma decisão arbitrária que vá além de um certo limite ou um prejuízo causado a um de seus apoiadores e o ditador já estará em perigo, tendo que enfrentar uma traição na calada da noite ou uma turba furiosa nas ruas. Vemos que o dinheiro e o poder em quaisquer quantidades não são capazes de trazer a liberdade plena.
  • 28. 27 Quem poderá usufruir então da liberdade total? Da liberdade de fazer tudo o que deseja do jeito que bem entender? Conhecendo as leis de Deus através do de Jesus e do espiritismo, logo percebemos que a liberdade é sempre proporcional ao grau de evolução da alma. Será que então os espíritos evoluídos possuem a liberdade para fazerem o que quiserem? A resposta é sim, na medida da sua evolução. Será que então que possuindo esta liberdade eles se comportam como se comportaria aqui na terra um homem com liberdade total, não se sujeitando à vontade de ninguém e estando livre para desfrutar de prazeres infinitos ou descanso eterno? Com certeza não, pois este comportamento seria contrário à sua condição de alma evoluída. Vamos imaginar então como seria um espírito evoluído encarnado na terra e que devido ao seu estado evoluído possuísse imensa liberdade. Como ele se comportaria diante do trabalho? No trabalho, um espírito evoluído encarnado na terra, se comportaria como um excelente trabalhador, dedicado, honesto, cumpridor de compromissos e incansável. Tudo isso ele faria motivado exclusivamente pelo amor ao próximo, pois em qualquer que seja o ramo de trabalho o homem sempre cria algo útil para o seu semelhante e o espírito trabalhador é também um espírito caridoso, na medida em que se abstém do ócio e da preguiça e não apenas se preocupa em aparentar estar trabalhando, mas realmente trabalha, mesmo que nunca reconhecido. Seria este espírito evoluído que estamos imaginando, um espírito livre em relação ao seu trabalho? Com certeza, pois se sua única intenção é ajudar ao próximo ele não precisa se preocupar com o reconhecimento das outras pessoas, com o trabalho menos penoso e mais confortável, com as intrigas em busca de promoção. Dentro do seu objetivo único que é ajudar ao próximo ele é totalmente livre, ninguém se incomoda com a sua dedicação, a sua falta de apego a bajulações e sua predisposição a fazer o que outros não querem, ele é amplamente livre em seu trabalho. E com relação ao direitos e deveres dos cidadãos? Teria este espírito evoluído liberdade na terra?
  • 29. 28 Uma regra fundamental do direito no mundo é que o direito de um termina onde começa o direito do próximo. Mas sendo este espírito que estamos imaginando, um espírito evoluído que somente deseja o bem ao próximo, ele não é restringido pelos direitos do próximo, não está limitado por esta regra e possui ele então a liberdade total. Mas como assim não está limitado pelo direito do próximo? Vamos a um exemplo: este espírito evoluído não está limitado pelo direito à vida do próximo, porque ele respeita o direito à vida dos seus irmãos por amor a eles e não por uma regra repressiva contida na lei; e o mesmo acontece em relação ao direito à propriedade e quaisquer outros direitos individuais que limitam os homens comuns na medida em que sua vontade esbarra no direito alheio. Este espírito evoluído que estamos imaginando é totalmente livre em relação a estes direitos e não vê diante dele limitação alguma, sua vontade nunca é contrariada ao se defrontar com o direito alheio, pois, ele respeita estes limites naturalmente por amor aos seus semelhantes, sem que nem mesmo se dê conta de que age de acordo com a lei. Como podemos ver a liberdade total existe sim; existem por ai muitos espíritos realmente livres e alguns deles estão até mesmo aqui dentre nós encarnados. Estes espíritos fazem o que querem, quando querem e do jeito que querem e o motivo de tal liberdade é por que só fazem o bem.
  • 30. 29 8 A necessidade do perdão Jesus ensinou a oração na qual pedimos a Deus: “Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores” (8). Perdoar e ser perdoado são duas necessidades básicas e todo ser humano que viva neste planeta e o motivo é porque erramos muito, cometemos erros e prejudicamos ao próximo o tempo todo. A maioria de nós tem consciência de que somos todos, sem exceção, seres imperfeitos; os ditados populares demonstram bem isto com frases como: “ninguém é perfeito” e “errar é humano” e a também a popular recomendação de Jesus: “Aquele que nunca errou, que atire a primeira pedra”. Estas frases usadas no cotidiano nos lembram de que todos possuímos defeitos, mas elas não são suficientes para esclarecer exatamente o quanto somos imperfeitos, quantos defeitos possuímos e o quanto erramos. A nossa consciência egoísta nos leva muitas vezes à conclusão de que “eu” sou um ser com muitas qualidades e poucos defeitos, afinal os defeitos dos outros estão sempre me incomodando ao mesmo tempo em que não me sinto muito incomodado pelos meus próprios defeitos “se é que possuo algum” pensa o “eu” egoísta. Por este motivo, esta tendência natural de enxergarmos com mais facilidade os defeitos do próximo, é que Jesus deixou claro em sua doutrina que somente devemos pedir a Deus ou somente é justo pedir a Deus, o perdão na mesma medida em que temos perdoado, talvez para nos lembrar de que não somos melhores do que a média e se possuímos muitas qualidades de que nos lembramos sempre, possuímos também, quase sempre, defeitos em quantidade equivalente. Portanto pedir perdão na medida em que temos perdoado serve como um lembrete de que erramos muito, estamos sempre errando e incomodamos ao próximo com os nossos defeitos na mesma proporção em que os próximos nos incomodam constantemente com seus defeitos. Para esclarecer melhor o porquê de termos de perdoar sempre, constantemente e sem parar ou “setenta vezes sete” (9) vamos imaginar algumas situações: Imagine que você está em um ambiente tranquilo e calmo, num local onde não circulam muitas pessoas, como uma mesinha num canto calmo de uma biblioteca, e de repente alguém que passava pelo local (que é bem espaçoso) descuidadamente pisa no seu pé; você não irá é claro se levantar na mesma hora e começar uma briga com troca de
  • 31. 30 socos (ou tapas) e irá provavelmente dizer: “não foi nada” imediatamente após a pessoa te dizer: “me desculpe”, mesmo achando que a pessoa foi muito descuidada e que você provavelmente jamais cometeria um erro tão grosseiro. Mas podemos concluir que a maioria de nós, pessoas normais, se sentirá um pouco indignada com o “pisão” e ficará tentando imaginar como uma pessoa pode ser desleixada a esse ponto de não prestar atenção por onde anda e pisar no seu pé (que estava até meio escondido), se perguntará porque aquela pessoa fez aquilo e pensará talvez até se aquilo não foi de propósito. Muito diferente é a situação e a sua reação quando você está em um ambiente bastante agitado e cheio de pessoas, como numa festa por exemplo, e uma pessoa pisa no seu pé da mesma maneira que aquele descuidado da biblioteca; a reação imediata é de dizer “não foi nada” ou até mesmo olhar para a pessoa e dizer “me desculpe” mesmo sendo ela quem tenha pisado em você. Esta reação, bem diferente, é natural porque no ambiente da festa agitada é bastante comum que as pessoas esbarrem ou pisem no pé uma das outras, é um descuido e um acidente igual àquele da biblioteca, mas ninguém ficará cogitando se foi ou não proposital porque é um fato bastante comum; muito provável também é que eu mesmo daqui a alguns minutos esbarre ou pise no pé de alguém por descuido no meio do ambiente tumultuado. Estas duas situações e reações contrastantes, servem para tentar ajudar a esclarecer o porquê de relutamos tanto em perdoar, porque guardamos tantos rancores e magoas e achamos que o erro dos outros é indesculpável e até mesmo fruto de perseguição pessoal. O motivo é simples, é porque nós não temos a noção real do quanto erramos, nós achamos sempre que somos aquela pessoa sentada no cantinho da biblioteca, quando na verdade estamos é no meio de uma festa agitada, errando sempre e sendo afetado sempre pelos erros alheios. Nós agimos assim nas mais variadas situações do cotidiano. Por exemplo um empregado meio relapso raramente tem a noção real de quanto o seu comportamento irrita seu patrão, sua preguiça frequentemente flagrada pelo patrão, seu descaso com as situações importantes, tiram constantemente o sono do seu patrão, principalmente quando esse patrão não pode demiti-lo e substituí-lo facilmente por outro. Por outro lado um patrão meio “pão duro”, raramente tem a noção real de quanto esse seu comportamento desagrada o funcionário, assim como o patrão que não fornece condições adequadas de trabalho ou faz exigências muito difíceis de serem cumpridas.
  • 32. 31 Mais comum ainda são as situações desagradáveis que criamos com o comportamento quase automático e irracional das fofocas, reclamações e comentários negativos a respeito das pessoas que não estão presentes. É fácil constatar o quanto nos sentimos indignados ao saber que determinada pessoa fez um comentário desfavorável a nosso respeito, mesmo quando, analisando bem os fatos, vemos que ela na verdade tinha razão; porém raramente pensamos nisso quando no meio de uma conversa qualquer soltamos nossas apreciações negativas a respeito dos outros, parece mesmo que o que sai da minha boca não faz mal a ninguém pois, pelo menos para mim, o que eu falo é a mais pura verdade, e ninguém deveria ser afetado negativamente pela verdade, e me esqueço de como eu mesmo reajo nestas mesmas situações. Se fizermos um esforço mental e nos retirarmos da situação para olharmos para nós mesmos pelo ponto de vista de uma terceira pessoa, percebemos como é ilógico e irracional este nosso comportamento, esta relutância em perdoar e consequentemente a facilidade com que guardamos rancores. É irracional porque como seres ainda imperfeitos e em evolução, nós erramos o tempo todo e deveríamos estar sempre aptos a fornecer o perdão imediato e incondicional, como uma política de boas maneiras, pois, quem erra muito deve estar sempre disposto a perdoar muito; como quando estamos na festa e alguém pisa em nosso pé. Mas nos comportamos como aquela pessoa que está na biblioteca e fica indignada com a “pisada”; o comportamento desta pessoa que está na festa agitada e se demonstra indignado como se estivesse na biblioteca calma, não faz o menor sentido; também não faz sentido não perdoarmos o tempo todo (setenta vezes sete) os erros dos outros, porque eu deveria imaginar que mesmo sem saber devo estar pisando no calo de muita gente.
  • 33. 32 9 Caridade material Sabemos que “fora da caridade não há salvação” (10), portanto para nós cristãos a caridade não é uma opção, é uma necessidade. Mas quanta caridade devo praticar? O máximo possível é claro, pois, deixar de praticar a caridade quando ainda possível consiste sem dúvida em egoísmo, mas reconhecemos é claro que todos nós, seres impuros e em evolução na terra, possuímos um pouco de vontade de praticar a caridade em nossos corações e também um pouco desse egoísmo. E qual tipo de caridade devemos praticar? Com certeza todos os tipos de caridade possível, dentro da capacidade de cada indivíduo. A caridade da paciência; do perdão; da tolerância; do bom animo ou das simples palavras de incentivo e também a caridade material quando surge a oportunidade. E todos nós, seres em evolução, contendo defeitos e qualidades, temos o costume de praticar atos egoístas e também atos de caridade, seja para com as pessoas próximas ou seja para pessoas totalmente estranhas. Mas independentemente de quanta caridade de todos os outros tipos praticamos, nós muitas vezes adotamos um comportamento estranho no que diz respeito à caridade material, comportamento este que está ilustrado neste trecho de O Evangelho Segundo o Espiritismo: Muita gente deplora não poder fazer todo o bem que desejara, por falta de recursos suficientes, e, se desejam possuir riquezas, é, dizem, para lhes dar boa aplicação. É sem dúvida louvável a intenção e pode até nalguns ser sincera. Dar-se-á, contudo, seja completamente desinteressada em todos? Não haverá quem, desejando fazer bem aos outros, muito estimaria poder começar por fazê-lo a si próprio, por proporcionar a si mesmo alguns gozos mais, por usufruir de um pouco do supérfluo que lhe falta, pronto a dar aos pobres o resto? (11) Pois é assim mesmo que muitos de nós pensamos agimos; somos praticantes da caridade em suas mais diversas formas, e podemos aprender a praticar cada uma delas cada dia mais e melhor sem problemas. Mas a caridade material é especialmente complicada porque possui esta armadilha, pois, para poder praticar a caridade material
  • 34. 33 mais e melhor, eu ao mesmo tempo preciso me cercar dos tais bens materiais necessários e estes mesmos bens materiais são também, ao mesmo tempo, os ingredientes necessários para que eu me transforme em um grande egoísta. Como exemplo, se me torno um empresário bem sucedido, passo a possuir em minhas mãos as ferramentas para praticar a caridade material em grande escala, ao mesmo tempo em que passo também a possuir as ferramentas para proporcionar a mim mesmo um grande conforto material, bem acima da média das outras pessoas. Posso agora comprar um carro muito confortável, posso começar a fazer viagens turísticas acessíveis apenas a poucas pessoas, posso construir uma grande casa com mais cômodos do que uma família média necessita para viver, ou seja, passo a ter acesso a um pouco do a maioria das pessoas já consideraria como exagero, um pouco de luxo e um pouco de supérfluo que são as características de um materialista e egoísta. Devemos sempre lembrar de que o homem possui o seu livre arbítrio e é livre para gastar aquilo que obtém de seu trabalho digno e honesto da maneira que bem entender, seja de forma totalmente egoística ou, pelo contrário, como um grande benfeitor da comunidade, que abre mão de luxos e supérfluos e até mesmo do seu próprio conforto em benefício de seus semelhantes. Esta é uma lei de Deus, esta liberdade do livre arbítrio, e qualquer sistema de governo que tente mudar esta lei natural irá certamente fracassar, pois os únicos sistemas econômicos e sociais que são possíveis, de acordo com cada época, serão sempre aqueles que se adaptam ao grau de evolução moral do homem de sua respectiva época. Por mais evidentes que possam ser as falhas destes sistemas políticos e econômicos injustos, eles não são nada mais do que um reflexo do grau de atraso moral do homem egoísta. Mas vamos imaginar agora que o nosso empresário de sucesso (aquele que possuiu os recursos necessários para as grandes obras de caridade ou para aquisição de grande quantidade de bens materiais supérfluos) decida contrariar a lógica predominantemente egoísta da nossa sociedade e se tornar um grande promotor de obras de caridade. Quanto ele pode gastar consigo mesmo e sua família e quanto deve destinar a obras de caridade? Até que ponto seus gastos podem ser considerados necessários e a partir de que ponto começa o supérfluo? Como dito anteriormente, qualquer tipo de sistema neste sentido está fadado ao fracasso, nunca devemos tentar criar regras que funcionem como imposição de
  • 35. 34 solidariedade, mas sim tentar inspirar nos outros a benevolência e o desapego, para que eles mesmos decidam por si próprios, agir em prol do seu semelhante, pois a imposição é contrária à lei do livre arbítrio e tira também ao mesmo tempo o mérito pessoal daquele que resolve agir por livre e espontânea vontade. Desta forma a única formula recomendável é a do bom senso, o bom senso num espírito dotado de humildade e amor ao próximo é a ferramenta suficiente para que ele saiba o que são necessidades básicas e o que é exagero e supérfluo; e este espírito bem intencionado pode chegar facilmente à conclusão de que é olhando para os seus semelhantes que ele irá descobrir o que é o necessário, irá descobrir onde termina a necessidade e começa o supérfluo; e quando digo seus semelhantes é claro não estaremos nos restringindo aos semelhantes de seu meio social restrito, como outros empresários e pessoas bem sucedidas financeiramente por exemplo, mas à sociedade em geral, no aspecto mais amplo, quanto maior o grupo em que se possa obter uma comparação melhor é claro. Este empresário bem sucedido e ao mesmo tempo com boa vontade e coragem suficientes para contrariar a lógica do egoísmo, irá em certo momento adquirir um bem material que fará o seu bom senso lhe dizer que este bem não é algo comum, pelo contrário, é algo a que devido ao custo elevado apenas uma pequena parcela da população tem acesso, ao mesmo tempo em que irá perceber que poderia viver sem aquele bem material; concluirá então que este bem material pode ser considerado um luxo ou um supérfluo. Neste momento esta pessoa se perguntará: É para isto que me tornei um empresário de sucesso? E se a resposta for sim, isto será uma evidencia do seu egoísmo predominante, mas é claro que dotado de seu livre arbítrio ele será livre para prosseguir no caminho que escolheu e colher os frutos do egoísmo. Da mesma maneira, irá em certo momento gastar grande quantia em uma obra de caridade, e neste momento fará a mesma pergunta: É para isto que me tornei um empresário de sucesso? E caso a resposta seja sim, isto será uma evidência do seu desapego e da sua elevação moral a mais um degrau da escada da ascensão para a luz e é claro que dotado de seu livre arbítrio ele será livre para prosseguir no caminho que escolheu e colher os frutos da prática do amor ao próximo. Porque este empresário que estamos imaginando conhece os ensinamentos de Jesus e ele se lembra antes de cada decisão que toma, de posse do seu livre arbítrio, que o mestre certa vez disse: "Mas ai de vós, ricos! porque já tendes a vossa consolação" (12); este homem de bom coração luta para se livrar do senso comum, da lógica egoísta e não
  • 36. 35 se importa nem mesmo com a ridicularização pela sociedade quando decide praticar a caridade do desapego e resolve ajuntar tesouros de amor ao próximo ou “tesouros no céu” como disse também Jesus: Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem os consomem, e onde os ladrões penetram e roubam; mas ajuntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem os consomem, e onde os ladrões não penetram nem roubam; porque onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração. (13)
  • 37. 36 10 O fardo leve do cristianismo Os espíritas acreditam, como também os seguidores de muitas outras religiões, que a felicidade do homem é alcançada na medida em que ele atinge a sua evolução moral. Quanto mais moralmente evoluído o espírito, mais feliz ele se tornará, podendo alcançar o “reino dos céus”. Mas do que se trata esta evolução moral? A evolução moral nada mais é do que a capacidade do espírito de praticar a lei de Deus, que é a lei do amor ao próximo, ou seja, amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, sendo que a melhor maneira de demonstrar amor a Deus é amando os seus filhos, nossos irmãos. Muitas religiões impõem como pré-requisito ao encontro com Deus ou à evolução moral, rituais muitas vezes desgastantes e um tanto incompreensíveis e outras vezes ainda dolorosos e até mesmo seriamente prejudiciais à saúde. São incontáveis os rituais mais variados que foram criados pelo homem (e não por Deus) desde os tempos mais remotos até os dias modernos. Nos tempos mais antigos, em que se acreditava que Deus tinha interesses e sentimentos como dos humanos, eram comuns os sacrifícios e oferendas, pois, o homem primitivo acreditava que um Deus (ou deuses) vingativo poderia se acalmar com o sacrifício de uma virgem e poupar um povo inteiro; ou então acreditava que Deus poderia ficar contente com a oferenda de alimentos ou itens de valor em altares, da mesma maneira em que se ofereceria a um conquistador estrangeiro poderoso e ganancioso com poder para invadir e aniquilar uma cidade. Já nos tempos mais modernos a evolução da inteligência e da moral do homem fez com ele criasse também rituais, muitos deles sendo ainda absurdos e despropositados, mas já contendo em sua maioria o pano de fundo da ideia de um Deus que condena os maus hábitos e os comportamentos egoístas e depravados. Destas religiões mais modernas surgem os rituais das rezas constantes ou repetitivas ou em horas marcadas, que podem possuir como pano de fundo a ideia de que devemos cultivar o habito de agradecimento e reconhecimento a Deus pelas boas obras e também o hábito de pedir a Deus auxílio para superar as dificuldades e praticar boas obras. Também surgem os rituais de auto-flagelo e outras punições dolorosas auto-impostas, estas práticas têm como pano de fundo a ideia de que Deus é justo e que nós sofreremos as consequências de nossos erros. Também
  • 38. 37 existem os jejuns e a castidade, que servem como maneira de controle da gula e do impulso sexual descontrolado, mas que o homem acaba transformando em rituais e dogmas, fazendo com que ele mesmo não consiga na maioria das vezes enxergar o fundamento moral e a finalidade destas práticas. Mas para os espíritas é diferente, no espiritismo não existem rituais sagrados e mesmo a prece do pai nosso é praticada sempre com a memória exata do significado de cada frase, evitando-se uma repetição de frases sem significado para quem ora; neste aspecto o espiritismo é parecido com as ideias do fundador do Budismo, que, apesar de ter fundado a religião que acabou por adotar inúmeras práticas rituais, já ensinava ele há dois mil e quinhentos anos a desnecessidade da prática de rituais e da adoração de objetos e imagens. Neste sentido aparenta-se ser mais fácil a adoção do espiritismo por não possuir rituais, nem torturas auto-impostas ou a obrigatoriedade de qualquer contribuição em dinheiro ou também restrições de horas e locais para oração que atrapalhem a vida cotidiana. Mas, como nas outras religiões, existe no espiritismo também a obrigatoriedade de se seguir mandamentos de cunho moral, a vontade de Deus, como nas outras religiões, também está presente na doutrina espírita e nos ensinamentos do cristo. Existindo um único Deus, a sua vontade, que é a evolução do homem pela prática do amor ao próximo, está também claramente exposta no espiritismo, como nas outras religiões, mas neste, pela não existência de uma cortina de rituais atrás da qual pode se esconder uma alma preguiçosa, existe menos espaço, menos oportunidades de desvio da verdadeira vontade de Deus. Um espírito trabalhador e fiel, adotando qualquer religião, terá oportunidades suficientes para alcançar sua elevação e felicidade pela prática das leis de Deus, mas um espírito preguiçoso e ainda em dúvida quanto à sua fé pode se apegar a rituais e dogmas sem utilidade prática e que não o auxiliam na sua própria evolução. No espiritismo este espírito não encontra espaço para este tipo de desvio de finalidade da religião e o resultado é que não possuindo cortina atrás da qual se esconder o espiritismo acaba se tornando, para este espírito preguiçoso, uma religião dura e difícil de seguir, ou, por outro lado, pode acabar por torná-lo um grande hipócrita que prega o bem externamente e não se importa realmente em praticá-lo.
  • 39. 38 Mas, como dito, somente a alma preguiçosa e sem fé suficiente é que visualizara grandes obstáculos para a adoção dos ensinamentos do espiritismo ou da prática do cristianismo sincero em qualquer religião que seja, pois como disse Jesus “meu jugo é suave, e o meu fardo e leve” (14), e é assim mesmo que será para todos nós quando começarmos a praticar os ensinamentos de cristo de forma dedicada e sincera. Por exemplo, vamos analisar a prática cristã do desapego material. Para o espírito materialista, ainda apegado a seus bens e suas posses e que ainda orienta sua vida, sua carreira e suas prioridades para a conquista de bens materiais, a prática do desapego parece uma punição muito dura. Preferiria ele praticar o auto-flagelo com um açoite a ter que se desapegar da sua obsessão por mais bens materiais supérfluos. Não sabe este espírito como este fardo é leve; como o desapego é uma prática gratificante e tranquilizadora. A pessoa que se desapega do materialismo ganha novos horizontes e novas metas de vida, quase que automaticamente. A corrida enlouquecida pelo dinheiro, pelos cargos mais bem remunerados, pelo sucesso comercial etc. transforma grande parte da população em verdadeiros zumbis; o sujeito deixa de pensar racionalmente e passa a raciocinar em função dos lucros e prejuízos possíveis; deixa de expandir seus horizontes intelectuais e religiosos e gasta todo o tempo disponível para estudo em busca de fórmulas mágicas de sucesso financeiro, ou na obtenção de títulos e diplomas que podem alavancar sua carreira profissional. Este sujeito materialista não faz ideia de como é gratificante empregar seu tempo livre ou seus recursos materiais em função da ajuda ao próximo, o que para ele parece um fardo pesado é na verdade um serviço altamente gratificante, o sentimento de bem estar sincero em quem pratica uma boa ação é quase que uma recompensa automática, imediata. E quanto à prática cristã da humildade, será ela um fardo pesado? Para o orgulhoso talvez possa parecer que sim. Quantas pessoas, por exemplo, não gastam boa parte de seu tempo lendo textos de conteúdo preconceituoso em que são criticados os pobres, os nordestinos, os negros, as pessoas que recebem algum auxílio do governo, os estrangeiros etc. e desperdiçam sua inteligência e sua capacidade multiplicando ideias preconceituosas baseadas na ideia de inferioridade de certos grupos e superioridade de outros, em que ele convenientemente se encaixa. A ideia de igualdade entre todos os povos parece sim um fardo pesado para o orgulhoso, assim como a ideia de igualdade moral, intelectual e de direitos e deveres entre indivíduos de classes sociais diferentes. Para o humilde, para aquele que já aprendeu as vantagens da humildade sincera, este fardo
  • 40. 39 é levíssimo; sua mente e seus ideais se abrem, ele começa a enxergar a beleza da multiplicidade cultural, ao mesmo tempo em que se aproxima o suficiente para sentir de perto a vida, as ideias e os corações bondosos e generosos de pessoas de grupos e classes sociais com as quais ele costumava evitar o convívio. Tanto nesse como em qualquer outro aspecto da vida em sociedade, a humildade é sempre um fardo leve e, na verdade, gratificante em si mesma. O mesmo se aplica a todos os mandamentos da vida cristã. A prática do perdão é também gratificante e é mais um fardo leve, fácil de ser praticada por quem já aprendeu as suas vantagens. O costume de se preocupar com os outros, expondo a si mesmo nas mais diferentes situações evitando o costume comum do “isso não é problema meu” ou o “vou fingir que nem vi” para evitar problemas e a exposição pessoal, não é nem um pouco lucrativo quando comparado por exemplo ao costume da prática do “dar a cara a tapa”, o costume de se expor para lutar pelos direitos dos semelhantes e dos menos favorecidos, o fardo desta luta é leve e também gratificante. O que para uns parece um fardo pesado e um sofrimento voluntario que poderia ser evitado, é, para quem põe em prática o evangelho de Jesus, na verdade um fado leve e cheio de recompensas. Todos aprendemos desde criança a lição do ditado popular de que “o crime não compensa”, ou seja, fazer o mal aos outros para obter vantagens pessoais não compensa, mas estranhamente poucos são aqueles que conseguem aprender e colocar em prática uma outra lição simples e que se baseia na mesma lógica simples, a lição de que o amor ao próximo compensa.
  • 41. 40 11 Caridade silenciosa Jesus nos ensinou a necessidade da humildade em todas as situações e em relação à maneira como devemos praticar a caridade não foi diferente, dizendo: “não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita” (15). Por que teria imposto Jesus esta regra? esta limitação? Porque ele nos conhece é claro, sabe das fraquezas e tendências do homem e de como este é capaz de transformar as atitudes mais belas em atos de egoísmo. Existe na sociedade uma ideia geral de que não devemos ficar nos gabando quando praticamos alguma boa ação ou algum ato de caridade e é justamente assim que tentamos nos comportar quando nos vemos nestas situações, mas, infelizmente, não demora muito e o nosso orgulho rapidamente consegue falar mais alto. Basta por exemplo uma pessoa nos perguntar se contribuímos com alguma instituição ou se exercemos algum serviço voluntário ou alguma atividade beneficente e rapidamente, como que tentando deixar a impressão de que tinha a intenção de permanecer no silencio e na humildade, já vamos logo soltando uma frase do tipo: “eu não gosto de ficar falando, mas eu ajudo tais e tais pessoas...” parece até que a língua estava coçando esperando a primeira oportunidade de se gabar, se gabar “com humildade” é claro. E nessa trilha, de oportunidade em oportunidade, acabamos sempre fazendo divulgação dos mínimos atos de caridade que praticamos. Acabamos por final nos acostumando com este comportamento e logo estamos parecendo com aqueles políticos que gastam dez vezes mais com a divulgação da obra pública do que com a própria obra. Um exemplo disso são, os gastos enormes e a grande quantidade de tempo empreendidos na organização de jantares beneficentes, em que os convidados acabam gastando mais com um vestido luxuosíssimo, o cabeleireiro, a maquiagem, o smoking etc. do que com a própria doação. É muito comum que instituições de caridade, que deveriam investir 100% do seu tempo e esforço em obras de caridade, gastem grande parte de seus recursos e do trabalho de seus voluntários organizando eventos e jantares beneficentes. Os frequentadores destes eventos, em sua grande maioria, estão sempre muito preocupados com as roupas caríssimas, com os holofotes e com como aparecerão nas fotos para as colunas sociais, poucos deles se preocupam alguma vez em visitar e ajudar ou até mesmo em fiscalizar o
  • 42. 41 bom emprego dos valores arrecadados nestes eventos beneficentes, a grande maioria mesmo está é preocupada com o evento em si e com as possibilidades de ascensão social e política e quase que se esquecem totalmente dos beneficiários necessitados. Percebemos que a caridade praticada sem total humildade pode aos poucos ir se desvirtuando e se transformar em um circo de vaidades e orgulho que tiram todo o mérito de quem a pratica, ao invés da alegria e satisfação sincera de quem exercita o desapego e o amor ao próximo, estes desvios podem acabar aflorando mais ainda o orgulho, o egoísmo e o materialismo da ostentação. Mas a caridade mal praticada pode trazer consequências ainda piores a quem a recebe. É muito comum que ao ajudarmos uma pessoa diretamente com um auxílio financeiro ou outro auxílio material, nos coloquemos numa posição de superioridade em relação a quem recebe a ajuda, como um pai que entrega uma quantia ao filho a título de mesada, e logo em seguida já emendamos os sermões de advertência e fazemos uma série de exigências muitas vezes difíceis de serem cumpridas. Por melhores que sejam as intenções, como por exemplo a de evitar que o auxílio seja desperdiçado, ou evitar que a pessoa beneficiada se acomode e não aproveite as oportunidades de desenvolvimento pessoal, esta atmosfera de exigências acaba criando um clima de certo desconforto para ambos e a prática reiterada destas exigências e a repetição deste desconforto muitas vezes acaba transformando um sentimento de gratidão inicial em uma aversão pela situação e também pela pessoa que justamente tentava, com boas intenções, auxiliar o seu próximo necessitado. Uma consequência meio que natural é que o orgulho ferido da pessoa necessitada de ajuda acaba impedindo que ela se sujeite a continuar recebendo o auxílio, e cria-se então a embaraçosa situação em que o praticante daquela caridade sabe da real necessidade de auxílio e sabe que a interrupção gerará uma falta real para a pessoa auxiliada, mas diante da recusa desta é obrigada a concordar em não fornecer mais ajuda. Outro problema na prática de auxílio financeiro ou outro auxílio material direto a pessoas necessitadas é a própria desconfiança. É bastante natural que na nossa sociedade “dinheiro-cêntrica” a prática da caridade desinteressada por parte de uma pessoa diretamente a outra, ou outras, sem o intermédio de uma instituição de caridade, gere
  • 43. 42 bastante desconfiança. Pode demorar mesmo um tempo ou pode ser que até que a barreira da desconfiança nem mesmo consiga ser ultrapassada, pois os dizeres populares do tipo “ninguém dá nada de graça” ou “quando a esmola é muita o santo desconfia” não são, infelizmente, nada exagerados. Vamos então colocar aqui algumas ideias básicas que podem talvez nos auxiliar a colocar em prática o nosso desejo de auxiliar o próximo. Uma boa ideia é nunca, em hipótese alguma, revelar ou divulgar que tem praticado atos de caridade material ou os valores que foram “desapegados” a não ser com pessoas do círculo familiar mais próximo, como as pessoas que participam do orçamento familiar e que precisam necessariamente entender para onde estão sendo direcionados estes recursos. Até mesmo na situação em que for questionado e contestado sobre o fato de praticar ou não atos de caridade (pois é natural que adotemos um discurso pró caridade) evitar divulgar o que tem feito ou tem deixado de fazer, advertindo a pessoa que estiver lhe questionando de que não lhe faz bem sair divulgando as suas boas ações, a menos que esta divulgação sirva apenas como forma de encorajamento para que outras também se proponham a praticar a caridade e nunca como exibicionismo, o que é difícil de acontecer na prática e é um desafio para nós mesmos discernir onde termina a nossa vontade de encorajar boas obras e onde começa o nosso orgulho em exibir as boas obras. Estes cuidados simples já servem para eliminar todo o exibicionismo e com isso este sistema, estes costumes tão comuns dos jantares e grandes eventos sociais beneficentes que geram trabalho extra àquelas pessoas dedicadas a causas nobres e que na maioria das vezes ainda trabalham de forma voluntária. Sem falar ainda que todos os recursos gastos com estes eventos, da organização das festas ao vestido de grife, podem ser efetivamente transformados em recursos destinados à caridade. A ajuda efetuada diretamente a pessoas necessitadas, como já mencionado, é um obstáculo à nossa humildade e pode gerar aqueles problemas tanto para quem doa quanto para quem recebe; então se você é uma pessoa normal, como eu também acho que sou, é sempre preferível efetuar uma doação a uma instituição confiável, esta prática traz o benefício do anonimato que é de grande importância para nós, pessoas normais, que tão facilmente inflamos o nosso ego por quase nada. É claro que esta preferência não pode nunca servir de obstáculo para que ajudemos uma pessoa próxima e necessitada de auxílio
  • 44. 43 imediato, não faz sentido evitar este mal (o nosso ego inflado) se para isso acabemos gerando um outro mal, que é a falta da ajuda urgente a uma pessoa próxima. E é claro que se caso venhamos a oferecer a ajuda de forma direta, devemos lembrar de evitar ao máximo aqueles comportamentos desagradáveis, não proferindo sermões em tom de superioridade, sempre lembrando a quem recebe ajuda de que todos somos todos irmãos e iguais perante Deus, Deus alias que é a fonte de toda riqueza e todas as conquistas que o homem erroneamente julga possuir. Se necessário justificar os motivos pelos quais pratica estes atos de caridade para evitar qualquer desconfiança, deixando claro o seu entendimento de que não está fazendo mais do que a sua obrigação como cristão que recebeu estes empréstimos de Deus. Lembrando mais uma vez Jesus: “Guardai-vos de fazer a vossa esmola diante dos homens, para serdes vistos por eles; aliás, não tereis galardão junto de vosso Pai, que está nos céus” (16).
  • 45. 44 12 O pior chefe Sabemos que o trabalho é uma necessidade básica do homem, algo essencial para sua evolução moral, conforme nos explica esta passagem de O Evangelho Segundo o Espiritismo: Se Deus houvesse isentado do trabalho do corpo o homem, seus membros se teriam atrofiado; se o houvesse isentado do trabalho da inteligência, seu espírito teria permanecido na infância, no estado de instinto animal. Por isso é que lhe fez do trabalho uma necessidade, e disse: Procura e achará; trabalha e produziras (17). O trabalho nos proporciona a nossa evolução intelectual, ao mesmo tempo em que nos permite prestar auxílio aos nossos semelhantes, pois todo trabalho possui a sua utilidade dentro da sociedade. Além destes dois aspectos o trabalho ainda possui uma outra utilidade para a nossa evolução moral que é a oportunidade de melhorarmos a nossa disciplina, pois na organização do trabalho sempre está presente de uma forma ou de outra a figura do organizador/comandante do trabalho ou simplesmente chefe. Existem vários tipos de chefe e mesmo quando não temos formalmente um chefe existem pessoas ou situações que passam a comandar o nosso comportamento da mesma maneira que um chefe. Mesmo quando se trabalha por conta própria, no que se costuma chamar de “ser seu próprio chefe” a realidade costuma ser outra, pois, no nosso mundo altamente competitivo e no sistema econômico em que as grandes empresas e os grandes capitais possuem uma larga vantagem sobre os empreendimentos pequenos, ser “seu próprio chefe” significa estar em uma corrida constante contra a concorrência e em busca de uma renda melhor. Dessa forma, quando não se possui uma renda assalariada fixa o nosso chefe se transforma nas contas a pagar do fim do mês e este é um chefe implacável, que não dá descanso. E mesmo quando possui uma renda razoável, muitas vezes o trabalhador por conta própria sofre ainda com a pressão de pessoas próximas da família que frequentemente cobram que ele mude de ramo e consiga um emprego com renda fixa e garantida. Estes chefes também são bem incômodos e não te deixam ter a tranquilidade que se imagina de uma atividade teoricamente livre de horários e de pressão.
  • 46. 45 Quando trabalhando em um emprego assalariado o trabalhador passa a ter um daqueles chefes clássicos. Pode ser o próprio patrão que acompanha de perto o andamento do trabalho ou um encarregado especialmente designado para esta função de “capataz”. Neste tipo de trabalho o funcionário tende a sempre mostrar serviço quando na presença destes chefes e, ao mesmo tempo, relaxar quando na ausência deles. O que acaba acontecendo é uma espécie de acordo implícito entre os subordinados que mantém um padrão mínimo de qualidade nos momentos em que não são vigiados e, ao mesmo tempo, um padrão apenas aparente de esforço e dedicação nos momentos em que estão sob supervisão mais direta. Ao entrar neste esquema o funcionário é induzido a se transformar em uma espécie de estelionatário, que tenta sempre parecer o que não é e tirar vantagem desta situação fazendo o mínimo possível desde que isto não lhe cause problemas. Ainda neste ambiente de emprego subordinado a um patrão existe outro tipo de chefe, o famoso “puxa-saco”. Aquele funcionário que mesmo não participando diretamente dos lucros da empresa está sempre defendendo o interesse dos patrões como se fosse um chefe ou o próprio patrão, este “puxa-saco” se transforma frequentemente em um “dedo-duro”, e ai é que mora o perigo para o funcionário acostumado ao esforço mínimo. O “dedo-duro” delata o mau comportamento dos outros funcionários e quando estes percebem a situação começam a se comportar na frente deste “puxa-saco” e “dedo- duro” da mesma maneira que se comportariam na frente do chefe, é como possuir vários chefes em um mesmo ambiente. Para a grande maioria dos funcionários assalariados que querem entrar no sistema do esforço mínimo, o “puxa-saco” e o “dedo-duro” são chefes difíceis de engolir, porque estão sempre ali no mesmo ambiente de trabalho, desempenhando muitas vezes a mesma tarefa no curso normal do dia de trabalho e que não podem ser facilmente enganados. Existe também é claro o outro lado da moeda, que é quando o funcionário é fiel cumpridor das suas obrigações e mesmo assim é cobrado constantemente como se fosse um preguiçoso. Ai surge outro tipo terrível de chefe, o chefe explorador que se aproveita de uma situação de necessidade dos seus funcionários e vai sobrecarregando cada vez mais e mais seus subordinados sob constantes ameaças veladas de demissão, criando situações típicas onde se verifica o assédio moral. Mas existe ainda um outro ambiente de trabalho onde os chefes por mais autoritários ou até mesmo perseguidores que possam ser, se vêem muitas vezes de mãos atadas sem poder fazer muito para corrigir aqueles funcionários mais desleixados e
  • 47. 46 preguiçosos. É o ambiente do serviço público onde existe estabilidade de emprego. É claro que a estabilidade não é absoluta e existem processos de avaliação e processos disciplinares próprios, mas estes processos são trabalhosos e provocam um certo desgaste para os superiores, como a realidade brasileira é de que no serviço público das diferentes esferas os ocupantes de cargos de chefia sejam em sua maioria indicados de confiança e quase sempre por motivos também políticos, estes superiores tendem a evitar conflitos com a intenção de manterem uma esfera de aparências no setor em que chefiam e evitarem ao mesmo tempo o desgaste com superiores, também políticos, que preferem sempre a omissão à ação. Este ambiente no serviço público cria vantagens tanto para os bons como maus funcionários, pois o chefe opressor não consegue ameaçar os bons funcionários que não tem nada a temer ao mesmo tempo em que o chefe que com razão tenta cobrar melhor desempenho dos maus funcionários acaba não conseguindo muita coisa dentro desta atmosfera. O resultado é que no serviço público assim como no setor privado temos uma maioria aproximada de 2/3 de funcionários não dedicados e 1/3 de funcionários dedicados. Devemos lembrar que a estabilidade no emprego é essencial na administração pública pois evita que a massa de servidores públicos fique à mercê de interesses políticos ou sofra pressões e ameaças para permitir que políticos e empresários corruptos desviem dinheiro público. No final das contas, a estabilidade que privilegia preguiçosos e protege os dedicados não faz com que no serviço público tenhamos mais os menos funcionários dedicados, no final os bons continuam bons e os maus continuam maus seja no público ou no privado. É neste ambiente em que é mais comum que surja então o pior tipo de chefe, o perseguidor implacável e incansável que não dá um segundo sequer de sossego ao trabalhador, este chefe é a consciência. Na verdade o homem trabalhador, de espírito de boa vontade, poderá trazer em si este “pior dos chefes” em qualquer tipo de atividade, seja por conta própria, como assalariado na iniciativa privada ou no serviço público com estabilidade. Trabalhando por conta própria, mesmo que já possuindo uma boa renda ele pensará: “Hoje eu só trabalhei quatro horas e já ganhei meu “pão nosso de cada dia”, mas a maioria dos trabalhadores trabalha oito horas, então, vou trabalhar mais um pouco”. Trabalhando na iniciativa privada ele pensará: “O patrão foi viajar e ninguém vai me incomodar se eu passar o resto da tarde enrolando, mas vou trabalhar a tarde toda, mesmo que me chamem de puxa-saco,
  • 48. 47 porque eu ganho pra isso e não vou ficar aqui à-toa”. Já no serviço público ele pensará: “Se eu trabalhar ou não, no final não vai me acontecer nada, mas vou trabalhar porque o povo não me paga pra ficar enrolando”. Esta é a voz da consciência, o pior de todos os chefes, quem possui esta consciência sabe como ela é implacável, incansável e não deixa o bom trabalhador parado um único segundo. Muito pior do que as contas a pagar, as críticas familiares, os patrões, capatazes e “puxa-sacos” a consciência do homem de bem não descansa nunca, mesmo quando o salário no fim do mês já está garantido, quando as contas estão em ordem, quando o chefe não está olhando ela está sempre lá. Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Alan Kardec explica que quando encarregado de uma tarefa, o espírita age: [...] como quereria que seus subordinados procedessem para com ele, caso fosse chefe. Por isso mesmo, mais escrupuloso se mostra no cumprimento de suas obrigações, pois compreende que toda negligência no trabalho que lhe está determinado redunda em prejuízo para aquele que o remunera e a quem deve seu tempo e seus esforços. Numa palavra: solicita-o o sentimento do dever, oriundo da sua fé, e a certeza de que todo afastamento do caminho reto implica em uma dívida que cedo ou tarde terá de pagar (18).