O documento descreve a renovação da frente ribeirinha entre o Cais do Sodré e o Terreiro do Paço em Lisboa. O projeto melhorou a relação da cidade com o rio Tejo, criando uma zona de conforto urbano e turística. No entanto, ainda há melhorias a serem feitas, como limitar mais o tráfego de veículos e fornecer placas informativas sobre a história do local.
2. Devolver Lisboa ao Tejo
por João Aníbal Henriques
Aproveitando o ensejo da cerimónia de entrega das medalhas de mérito municipal, a
Câmara Municipal de Lisboa inaugurou a renovada frente ribeirinha entre o Cais do
Sodré e o Terreiro do Paço.
As obras, com orientação de um projecto assinado pelos arquitectos João Nunes e João
Gomes da Silva, deram forma a um projecto ambicioso e de extraordinário alcance que
muda de forma muito eficaz a relação sempre difícil de Lisboa com o Rio Tejo. Depois de
concluído, o projecto recria uma zona de grande conforto urbano, suportado por uma
linha de paisagem verdadeiramente extraordinária, que vem reforçar a face turística da
cidade, recebendo desde logo largos milhares de turistas que ali sentem e percebem a
excelência que configura este recanto único da capital.
Integrado no mesmo projecto, ficam também as obras de recuperação das Antigas Doca
Seca e Doca da Caldeirinha que, retomando a sua ligação com o edifício do Arsenal,
permitem perceber melhor como era a cidade durante o período áureo dos
Descobrimentos Marítimos.
Por decisão da câmara procedeu-se também à “semi-pedonalização” de todo o trajecto,
com condicionantes acrescidas à circulação automóvel que, pecando pelo “semi”, deveria
ter assumido de forma corajosa e definitiva o carácter exclusivo daquele espaço.
Actualmente, e com imensas excepções para os veículos oficiais, que por ali circulam
livremente condicionando o usufruto turístico a zona e comprometendo a qualidade
cénica o espaço, a Ribeira das Naus está interdita ao trânsito automóvel durante o
período das férias escolares e durante os fins-de-semana, sendo atravessado livremente
nos restantes períodos.
3. Devolver Lisboa ao Tejo
por João Aníbal Henriques
Não se percebe (nem pode aceitar-se), aliás, que no próprio Terreiro do Paço – espaço de excepção e cara efectiva da Cidade
de Lisboa – se mantenha um parque automóvel oficial que ali permanece estacionado! Havendo alternativas de
estacionamento, motoristas que podem deixar as figuras importantes que por ali “trabalham”, porque motivo se
compromete a face mas importante do turismo de Lisboa com uma fila de caros parados em frente ao tejo?
Inexplicável é também, provavelmente por ter sido adiada para depois da inauguração, a inexistência de placas informativas
ao longo do espaço que, explicando o que são as duas docas agora desenterradas e contextualizado a expressão de tempos
antigos que mudaram a cidade e o Mundo, permitissem aos visitantes (Lisboetas e turistas) a compreensão efectiva da
importância e o alcance da obra que ali foi concretizada. Actualmente, perguntando a quem passe uma explicação sobre o
que estão a ver, os milhares de turistas que circulam pela Ribeira das Naus dificilmente encontram quem lhes explique o que
estão a ver. E não é isso que queremos com o investimento brutal que ali foi feito!
Não ficando diminuída a importância desta obra e as consequências extraordinárias que tem no reforço da atractividade
turística da capital, o certo é que parece ter havido pressa na pompa e no foguetório da inauguração.
E como o espectáculo já acabou, importa agora não perder tempo e tratar rapidamente de todos os pequenos pormenores
que ficaram por fazer. Porque foram os Lisboetas – e os Portugueses em geral – quem pagou as obras em questão.