1) O documento discute a ecologia humana e como as comunidades urbanas tendem a assumir padrões espaciais definidos através de processos como seleção e segregação populacional;
2) As cidades modernas diferem das antigas pois crescem em torno de mercados e tendem a ser centros de regiões altamente especializadas, enquanto as antigas cresciam em torno de fortalezas para servir regiões relativamente autossuficientes;
3) A mobilidade social pode ser medida através de mudan
1. Universidade Federal de Lavras
A comunidade urbana como configuração
espacial e ordem moral
Robert E. Park
2. Professor Eugenius Warming, publicou um pequeno volume
intitulado Comunidade de Plantas.
Ele chamava a atenção para o fato de que diferentes espécies
de plantas tendem a formar grupos permanentes, que ele
chamou de “comunidades”.
As comunidades de plantas começam existir gradualmente,
passam por certas mudanças características e finalmente se
desintegram e são sucedidas por outras comunidades de
gêneros diversos.
3. E estas observações tornaram-se mais tarde o ponto de partida
para uma série de estudos que desde então tornaram-se
familiares sob o título de “ECOLOGIA”
A Ecologia Humana ,como os sociólogos gostariam de
empregar o termo, não se identifica com a Geografia, nem
mesmo com a Geografia Humana, porque não se trata do
homem, e sim da comunidade; não é a relação do homem com a
terra em que vive, o que mais nos preocupa, e sim as suas
relações com outros homens.
4. Dentro dos limites de cada “área natural”, a distribuição da
população tende a assumir padrões definidos e típicos.
Pois, cada grupo local apresenta um modo (conjunto) mais ou
menos definido das unidades individuais que o compõem.
Segundo Durkheim e seus discípulos a forma que esse
conjunto toma ou a posição de cada individuo na comunidade
com referência a cada um dos outros indivíduos são denominado
aspectos morfológicos da sociedade.
5. A Ecologia Humana, conforme concebem-na os sociólogos
procura ressaltar não tanto a geografia como o espaço.
Na sociedade, não só vivemos juntos, como ao mesmo tempo
vivemos separados, e as relações humanas podem sempre ser
computadas, com maior ou menor exatidão, em termos de
distância.
As comunidades locais podem ser comparadas com referência
às áreas que ocupam e com referência à relativa densidade da
distribuição de população dentro daquelas áreas.
6. As cidades, especialmente as grandes, onde maior
tem sido a seleção e segregação das populações,
demonstram certas características morfológicas que
não são encontradas em agregados menores de
população.
Um dos incidentes do tamanho é a diversidade.
Quando outras coisas são iguais, quanto maior for a
comunidade, tanto mais larga é a divisão de trabalho.
7. CRESCIMENTO DA
CIDADE
Envolve não só o Crescimento de novas
aumento de número, regiões que com isso
como todas as passam a ter aumento
mudanças e nos valores de
movimentos que são terrenos, multiplicação
associadas aos das ocupações.
indivíduos para
encontrar seu lugar na
complexidade da vida
urbana.
8. A comunidade, diferenciada dos indivíduos que a
compõem, tem duração de existência indefinida.
Sabemos que as comunidades começam a existir,
expandem-se e florescem por algum tempo, depois
declinam. Isto se dá tanto com as sociedades humanas
quanto com as comunidades de plantas.
9. Toda nova geração tem de aprender a acomodar-se a
uma ordem de coisas determinada e mantida
principalmente pelos mais velhos. Os indivíduos
crescem, incorporam-se à vida da comunidade e
finalmente retiram-se e desaparecem. Mas a
comunidade, com a ordem moral que encerra, continua
a viver.
10. Numa sociedade em que se operam grandes e rápidas
mudanças, maior é a necessidade da educação pública
que ordinariamente se obtém por meio da imprensa, das
discussões e das conversas. O nosso conhecimento e
político e o nosso senso comum , observações
baseadas no pessoal e na tradição, não acompanham
as verdadeiras mudanças que estão verificando na
nossa vida comum.
11. Um dos incidentes do crescimento da comunidade é a
seleção e a segregação da população, e a criação, de
um lado, dos grupos sociais naturais, e do outro, das
áreas sociais naturais.
As segregações de população se verificam, primeiro,
baseadas na língua e na cultura, e segundo, baseadas
na raça. Alguns exemplos são os guetos, os “bairros
chineses”, as “ Pequenas Sicílias”.
12. Dentro dessas colônias outros processos de seleção se
verificam, provocando a segregação baseada sobre os
interesses vocacionais, sobre a inteligência e sobre a
ambição pessoal. O resultado é que os mais sagazes,
os mais energéticos e os mais ambiciosos emergem de
suas colônias de imigrantes e se mudam para uma área
secundária de fixação.
O ponto chave é que, a mudança de ocupação, o êxito
ou o fracasso pessoal- em suma, as mudanças na
posição social e econômica tendem a registrar-se nas
mudanças de localização.
13. A seleção e a segregação sociais, que criam os grupos
naturais, determinam ao mesmo tempo as áreas
naturais da cidade.
14. A cidade moderna difere da antiga em um
ponto importante:
Cidade Antiga Cidade Moderna
Crescia em volta de uma Cresce em volta de um
fortaleza; mercado;
Era o centro de uma região Tende a ser o centro de
que relativamente se uma região altamente
bastava assim mesmo; especializada,com uma
As mercadorias eram para área correspondente de
consumo doméstico, comércio largamente
apenas da comunidade. extensa.
15. Nessas circunstâncias, as linhas gerais da cidade
moderna serão determinadas :
1. Pela geografia local
2. Pelas vias de transporte
A geografia local, modificada por estrada de ferro e outros
meios principais de transporte, ligando-se todos eles,
como se dá invariavelmente, às maiores indústrias,
fornece as configurações gerais da estrutura da
cidade.
16. A comunidade urbana típica é na verdade muito mais
complicada e existem variações características para
diferentes tipos e tamanhos de cidades.
O principal ponto, entretanto, é que em toda parte a
comunidade tende a assumir algum padrão, e esse
padrão invariavelmente vem a ser um conjunto de áreas
urbanas típicas, as quais podem todas ser
geograficamente localizadas e espacialmente definidas.
17. As áreas naturais são os habitats de grupos naturais.
Cada área urbana típica pode conter uma seleção
característica da população da comunidade em geral.
Nas cidades grandes, a divergência de maneiras, do
padrão de vida e da perspectiva geral da vida nas
diferentes áreas urbanas que às vezes surpreende.
Isto ressalta a importância da localização, da posição e
da mobilidade como índices para medir, descrever e ,
afinal, explicar os fenômenos sociais.
18. A mobilidade mede a mudança social e sua
desorganização, porque esta mudança quase sempre
compreende alguma mudança de posição no espaço,
mesmo aquela que chamamos de “progresso”.
Professor Burgess aponta várias formas de
desorganização social, a qual parecem estar
aproximadamente correlacionadas com mudanças na
vida da cidade as quais podem ser medidas em termos
de mobilidade.
19. A mobilidade é importante como conceito sociológico,
somente enquanto ela garante novos contatos sociais e
a distância física é importante para as relações sociais,
somente quando é possível interpretá-la em termos de
distância social.
Organismo social: é feito de unidades capazes de
locomoção.
O fato de que cada indivíduo é capaz de movimento no
espaço, assegura-lhe uma experiência que é particular e
peculiar.
20. A necessidade do saber surge da própria necessidade
de verificar e fundir essas experiências individuais
divergentes e reduzi-las a termos que as tornem
inteligíveis a todos nós.
A autoconsciência é apenas a nossa consciência
dessas diferenças individuais de experiência, juntamente
com um senso da sua incomunicabilidade.
Portanto, o espaço não é o único obstáculo à
comunicação e que as distancias sociais nem sempre
podem ser adequadamente medidas em termos
puramente físicos.
21. A sociedade em que vivemos vem a ser
invariavelmente uma ordem moral em que a posição do
indivíduo, bem como a concepção de si próprio é
determinada pelas atitudes de outros indivíduos e pelos
padrões que o grupo mantém.
Em tal sociedade, o indivíduo torna-se uma pessoa,
sendo esta simplesmente um indivíduo que tem em
alguma parte, um “status” social.
Os fatos sociais e psíquicos podem ser medidos apenas
até o ponto em que eles podem ser reduzidos ou
correlacionados com fatos espaciais.