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Amantes, amantes, negócios à parte


                                          I
Depois de todo o conflito ocorrido com Max, Amélia e Vitor seguem para o
Jalapão para a tão esperada lua-de-mel e se hospedam em um hotel 5 estrelas
que Vitor fez questão de pesquisar antes de reservar, tendo a certeza que seria
à altura de Amélia.
Os dois, após aproveitarem os pontos turísticos no segundo dia, retornam ao
hotel, cansados mas felizes, sorrindo e conversando em voz alta pelos
corredores, refazendo o dia maravilhoso que tiveram nas dunas:
- Ah meu amor, nem acredito ainda que isso tudo tá acontecendo! – Vitor
segura a cintura de Amélia no corredor do quarto e ela segura o rosto dele com
as mãos sorrindo:
- Pois é! Parece um sonho. – Ela olha os lábios de Vitor que a beija no mesmo
momento.
- Agora vamos tomar um banho... juntos! Tô cheio de areia! – Ele abre a porta
do quarto sorrindo, a conduzindo para dentro ainda com as mãos em sua
cintura e com um olhar travesso.
- Você não tem jeito mesmo, hein?
- Claro que não. Você acha que eu vou abrir mão de passar todos os segundos
possíveis do teu lado? Hein? – Nisso, ele a puxa com mais força, fechando a
porta com os pés e a beija intensamente.
Ainda envolvida pelo beijo, ela tenta se desprender de Vitor e diz:
- Espera! – Ela olha em sua volta e só percebe naquele momento que o quarto
estava todo enfeitado com flores e duas taças de champagne se encontravam
em cima da mesinha central.
- O que é tudo isso, Vitor? Meu Deus!
- Por que o espanto? Eu ainda não te disse que você entrou numa roubada?
Ela sorri, ainda nos braços dele, e questiona:
- Como assim?
- Eu vou te surpreender pro resto da vida... Quer dizer... – Ele a segura com
uma das mãos pela nuca – Isso se você me quiser pelo resto da vida, né?
- Você ainda tem dúvidas disso?
Ele a olha com desejo e sorri, a beijando rapidamente e diz em seguida:
- Mas então, vamos aproveitar essa decoração que eu fiz e depois a gente vai
direto praquele banheiro... – ele fala olhando Amélia de cima abaixo. E ela sorri
mordendo os lábios, sem graça.
- Aqui, meu amor. Pega sua taça... Quero brindar esse momento, esse começo
de vida, o nosso amor.
- Te amo. – Ela acaricia o rosto de Vitor levemente com uma das mãos e os
dois brindam, sorrindo.
- Sabe que eu acho que não vou querer terminar esse champagne?! – Vitor
pisca para Amélia e tira a taça de sua mão.
- Não? – Ela sorri e deixa Vitor a levar pela cintura até o banheiro.
Vitor abre o zíper do vestido de Amélia devagar e beija sua nuca. Ela fecha os
olhos e segura as costas de Vitor com força, tirando sua camisa que cai no
chão. Ele liga o chuveiro ainda a abraçando e a leva com cuidado para debaixo
da água, e os dois finalmente se amam.
Depois do banho, eles se deitam e se abraçam em silêncio na cama. Ela fica
encostada no peitoral de Vitor, ainda quente pelo banho, vestida com uma
camisa dele.
Vitor beija os cabelos ainda molhados de Amélia, com os olhos fechados,
sentindo o perfume dela após o banho e diz:
- Como eu te amo! Queria ficar uma eternidade assim, abraçadinho com você,
sem te largar nunca mais.
Ela sorri, abre os olhos e alcança o rosto de Vitor, acariciando-o:
- Eu também... te amo! Muito!
Os dois se beijam devagar, Vitor vai tirando a camisa de Amélia, puxando os
cabelos dela suavemente, intensificando cada vez mais o beijo. E os dois se
amam novamente.


                                        II
Mais tarde, Amélia se arruma depois do almoço no quarto e Vitor diz:
- Amor, coloca um biquíni.
- Agora?
- Nesse segundo. Vamos pra uma cachoeira que me recomendaram aqui no
hotel. Tô louco pra repetir a dose! Olha que você me deve muitas.
Amélia sorri, se aproxima de Vitor ainda vestida com sua camisola e o beija
sorrindo:
- Você e esses banhos de cachoeira. Desse jeito você vai enjoar.
- Enjoar? Com você junto? Nunca!! Vem aqui, vem. – Vitor puxa o corpo de
Amélia contra o seu e a beija mais forte.

Já prontos para o dia na cachoeira, eles descem do carro e vão direto pro local.
Vitor animado, tira fotos da paisagem e logo depois larga tudo no carro, tira a
bolsa das mãos de Amélia e a puxa pelo braço:
- Vem!
Amélia sorrindo diz, ainda eufórica pela corrida que dão até a cachoeira:
- Calma!
Vitor tira a camisa e depois a bermuda, puxa Amélia contra seu corpo e a beija,
tirando ao mesmo tempo o vestido dela, a deixando somente de biquíni, e a
conduz devagar até a queda de água da cachoeira.
Depois, ele a olha fixamente, segura o rosto dela com suas mãos debaixo da
água e diz:
- Você tá linda! A mulher mais linda desse mundo.
Amélia sorri e olha para os lábios de Vitor, o beijando apaixonadamente.
Os dois passam a tarde toda na cachoeira, esperam abraçados e sentados
numa pedra, o sol secarem seus corpos, e depois seguem para um pequeno
restaurante turístico perto da estrada de terra, para depois retornarem ao hotel.
No restaurante, um cantor toca ao vivo para os turistas e todos resolvem
dançar. Vitor aproveita, levanta da mesa e estende sua mão chamando Amélia
para dançar. A música que toca é: “Só tinha de ser com você” de Tom Jobim.
Amélia sorri um pouco sem graça e aceita o pedido, segurando a mão de Vitor
e seguindo para o centro do salão, onde já se encontravam outras pessoas.
Vitor segura firme a cintura de Amélia, prende uma das mãos dela contra seu
peito e leva a outra na cintura dele, abraçando-a ao dançar. Ela deixa Vitor a
conduzir e fecha seus olhos, encostando seu rosto no dele e esquecendo que
existiam outras pessoas ao redor. Os dois dançam por um bom tempo até a
música terminar e se beijam em seguida, voltando para a mesa e sentando um
de frente para o outro.
Vitor segura a mão de Amélia na mesa e diz:
- Eu já disse que te amo hoje? Tô muito chato?
- Já! Mas pode repetir... – Ela sorri para ele e toca seu rosto suavemente –
Pode ser chato assim sempre!
Vitor beija a mão de Amélia que está em seu rosto e sorri, encantado.


                                         III
Uma semana se passa, Vitor e Amélia retornam para Girassol após saberem
da morte de Max. Os dois preparam os papéis da Estância juntamente com
Fred e Manu e entregam para Solano, devolvendo os direitos pelas terras a ele
e ao seu filho Beni. Nesse mesmo dia, após um almoço na fazenda, Amélia
anuncia a todos que ela e Vitor estão apenas de passagem:
- Pois é, filha, foi bom a gente ter conversado sobre a fazenda, saber que você
tem interesse em seguir com os negócios do seu pai. Porque o Fred eu sei que
não quer, não é, filho?
- Não mesmo. Estou muito bem com a operadora e ajudando a Jana com o
armazém.
Vitor chega na sala e senta no braço do sofá ao lado de Amélia.
- E então, meu amor? Resolveu tudo?
- Sim, já decidimos. Podemos ir tranquilos!
- Olha lá hein, cara! Juruanã não é tão perto assim, não vou poder ficar de olho
em vocês.
- Que é isso, Fred, confia em mim. Pretendo ser um padrasto bonzinho. Vou te
convidar sempre pra uma cervejinha.
Todos começam a rir e Amélia os interrompe:
- Bom, nem desfiz muito minhas malas, porque na verdade tudo está pronto lá
em Juruanã, já compramos um imóvel com a venda daquele que tínhamos e o
outro do Vítor.
- Sério, mãe? Que ótimo. Quero ajudar a decorar.
- Ih! Ah lá! Não vou poder palpitar em nada!
- Não mesmo, Vitor Villar! – Manu se levanta e Amélia também. – Isso é coisa
pra mulher – Ela abraça a mãe, animada.
Vitor levanta os braços sorrindo, acuado.

Ao final do dia, Vitor e Amélia seguem para o carro com as malas, ao lado de
Manuela, Fred, Rudy e Janaína. Amélia beija os filhos e os dois seguem para
Juruanã.
Chegando no apartamento, Amélia abre a porta e tem uma surpresa:
- Meu Deus! O apartamento está todo montado? Como assim?
- Pois é né... - Vitor olha para o chão sem conter o riso.
- Vitor!
- Bom, a ideia foi minha, já a decoração... claro que foi da Manu.
- Ai, não acredito! Ela já sabia de tudo e disfarçou tão bem!
- É! Sua filha é mestre! Mas... E aí? – Vitor chega mais perto de Amélia,
segurando suas mãos – Gostou?
Amélia sorri para ele e o beija várias vezes, dizendo:
- Amei, amei, amei...
- Calma, calma. – Vitor diz segurando as mãos de Amélia. – Ainda não acabou.
- Não? – Ela sorri ainda mais.
- Não... – Vitor tira do bolso uma caixa de veludo preta e entrega para Amélia.
- Você pensou que eu ia esquecer da coisa mais importante?
- Vitor...
- Abre!
Amélia abre a caixa e encontra duas alianças de ouro.
- Meu Deus.
- E então? Você aceita o pedido desse pobre rapaz, de ser a esposa dele, na
alegria e na tristeza, na saúde e na doença, pro resto da vida?
Ela não contém a felicidade e o abraça. E segurando na nuca dele, diz:
- Claro que sim!
Os dois se beijam e Amélia deixa a caixinha na mesa, ainda beijando Vitor.
Eles seguem até o sofá, se esbarrando nas mesas e móveis. Ele desabotoa a
blusa de Amélia e beija seu pescoço intensamente, ao mesmo tempo que tira
sua própria camisa. Ainda eufóricos, Vitor segura o rosto de Amélia e diz:
- Amanhã já. Amanhã você já vai ser minha mulher oficialmente.
- Amanhã?
- Isso mesmo, senhora Maria Amélia Villar. Já marquei no cartório, seus filhos
já sabem, e convidei nossos amigos mais próximos. Fiz mal?
Amélia se levanta, arrumando sua blusa.
- Nossa, não... é que foi tudo tão rápido.
- Desculpa, meu amor. É que você me conhece, eu fico louco pra fazer essas
surpresas pra você, nem penso...
Amélia não deixa Vitor terminar de falar e o interrompe, cerrando seus lábios:
- Não diz mais nada. Eu não falei que não gostei... pelo contrário! Tá tudo
perfeito. É o que mais quero...
- Sério?
Amélia não diz nada, apenas o beija com paixão, e os dois terminam o que
haviam começado, no mesmo sofá.


                                       IV
No dia seguinte, estão todos reunidos no cartório. Vitor espera Amélia ansioso,
vestido com um terno cinza escuro, camisa azul clara e uma gravata azul em
tom mais escuro. Cabelos despojados mas arrumados com um pouco de gel.
Amélia já está a caminho com Manuela, que foi até o apartamento para ajudá-
la a se arrumar.
- Calma, Vitor. Já já elas chegam. – Diz Fred, batendo nas costas do
“padrasto”.
Vitor não consegue parar de andar de um lado para o outro quando escuta
Janaína dizer:
- Pronto! Chegaram!
- Ai, meu deus! – Vitor diz, nervoso, ao olhar a porta de madeira se abrir. Ao
ver Amélia entrando, com um vestido longuete nude, colado ao corpo e com
detalhes suaves bordados a mão, seus olhos brilham e ficam ainda mais
verdes. Amélia estava deslumbrante causando sorrisos nos que estavam
presentes: Manuela, Rudy, Janaína e Fred como padrinhos, Terê, Neca,
Glorinha, Pimpinela, Nancy, Bruno, Pérola, Cirso, as “Jóias”, Lurdinha, Solano,
Estela, Mariquita, Aspásia, Genão, entre outros, como convidados.
Seus cabelos estavam presos para trás, com presilhas delicadas de acrílico e
pedras discretas de diamante, brincos de ouro pequenos e uma corrente dupla
também de ouro, com dois pingentes iguais aos brincos.
Ela entra e logo segura as mãos de Vitor e os dois se beijam rapidamente. O
juiz pergunta se pode começar e os dois acenam com a cabeça que sim. Vitor
coloca a aliança em Amélia e diz sussurrando:
- Te amo... minha vida.
Ela sorri e murmura, colocando a aliança em Vitor e olhando em seus olhos
fixamente:
- Eu também.
Os dois assinam o livro juntamente com as testemunhas e se beijam
novamente.

Logo depois, em um salão ao lado eles recebem os convidados e brindam o
casamento com um pequeno bolo.
- E então, o que vocês pensam em fazer agora aqui em Juruanã? Não vão
mais voltar pra Girassol? – pergunta Terê, já com saudade dos amigos.
- Bom, Terê, conversamos bastante e decidimos ficar mais por aqui, pra seguir
de perto os negócios do Vitor com o frigorífico e eu continuo com as minhas
jóias na Rurbana. Vamos montar um escritório aqui, mais administrativo e no
Jalapão vai ficar a sede, com a produção em si.
- Que ótimo, Amélia. Fico feliz por vocês. Mas que pena que não vamos mais
nos ver com tanta freqüência.
- Mas vamos estar em Girassol quase sempre, Terê. Afinal, minhas melhores
artesãs estão lá!
- É verdade! E vocês que não passem lá na estalagem pra verem essa velha
amiga, hein? Vou ficar chateada!
- Imagina, Terê, nunca faria isso. Faço questão de passar sempre por lá!
As duas se abraçam e sorriem.
Nesse instante, Vitor chega, abraça Amélia e os três começam a conversar
animados.
O tempo passa e todos se despedem. Amélia e Vitor chegam no apartamento:
- E então, senhorita? Como está se sentindo agora, casada de novo?
Amélia segura Vitor pelo terno e diz:
- De novo não. É a primeira vez que me caso, e é a primeira vez que me sinto
tão feliz e realizada.
Vitor não se segura ao ouvir Amélia, a olha com paixão e a beija, passando
suas mãos por todo seu corpo, enquanto ela segura seus ombros deixando que
ele desabotoe seu vestido suavemente. Os dois vão andando até o quarto e
Vitor a encosta contra a porta retirando todo seu vestido e beijando sua nuca.
Ela fecha os olhos, depois o ajuda a tirar o terno e os dois se deitam na cama.
De repente, o telefone toca.
- Ah não... - Vitor reclama. – Quem será, agora?
- Atende. Pode ser importante.
Vitor contra sua vontade atende o telefone, que toca insistentemente.
- Alô. Isso! Sou eu. Sei, sei...
Depois de falar algum tempo, Vitor desliga e Amélia pergunta, curiosa:
- Quem era?
- Nossa, espera, ainda tô sem entender...
- O que foi, Vitor? – Amélia senta ao lado de Vitor, um pouco assustada.
- Era um cara dizendo que conseguiu meu telefone com o Rudy, da Manuela.
Ele mora no Rio de Janeiro e já tinha ouvido falar muito da Rurbana e parece
que já trabalha há muito tempo com esse mercado. Enfim... Ele queria marcar
um encontro com a gente pra discutir sobre uma possível parceria.
- Sério? Nossa, mas isso seria perfeito. Se ele é de confiança...
- Sim, a gente deveria falar com o Rudy antes.
- É, vou ligar pra Manu. Imagina só? Você poderia continuar com seus
negócios no frigorífico e eu teria alguém pra me ajudar com os negócios da
Rurbana, pra não tirar seu foco.
- Meu amor... Você sabe que isso não vai me atrapalhar, já te falei mil vezes
que eu amo ficar do teu lado, te ajudando com a Rurbana.
- Eu sei. – Amélia acaricia o rosto dele. – Mas eu sei também que você sente
uma necessidade enorme de retomar os negócios do seu pai, e entendo isso.
Vou ligar pra Manu!
Ela sorri e tenta se levantar, mas Vitor não a deixa:
- Não, nada disso! Agora a gente vai terminar aquela outra coisa pendente. –
Vitor a puxa contra ele e a beija, e os dois esquecem do mundo lá fora, se
amando.

Mais tarde Amélia liga para Manuela e confirma sobre o amigo de Rudy:
- Meu amor, a Manuela disse que já conversou com o Rudy sobre esse amigo,
e ia me ligar pra contar, só não queria estragar a nossa lua-de-mel! – Amélia
diz sorrindo.
- É! Mas não adiantou muito não, o cara mesmo se prontificou, né? – Os dois
começam a rir.
- Então, o nome dele é Paulo Borges, amigo muito próximo e de confiança do
Rudy e quer ser nosso sócio. E aí?
- Hum, não sei. Vamos conversar com ele pessoalmente, né? Quem sabe.
- E você pensou naquilo que te falei, do frigorífico?
Vitor se levanta da cama e vai até a cadeira da penteadeira onde Amélia
estava arrumando seu cabelo, de costas para ele. Ele coloca suas mãos no
ombro dela e diz:
- Bom, a gente pode ver isso com calma. Temos tempo. – Amélia segura as
mãos dele e vira seu rosto, alcançando os lábios de Vitor que já descia para
encontrar os dela.
- E então? Você vai ligar pro Paulo?
- Sim, agora mesmo.
Vitor liga para o amigo de Rudy e eles combinam de se encontrarem em um
restaurante conhecido de Juruanã no dia seguinte.


                                       V
No outro dia Amélia e Vitor se arrumam para o almoço. Eles chegam no
restaurante e logo um homem moreno , alto e vestido com uma camisa social e
jeans, se aproxima ( ator: Daniel Boaventura)
- Boa tarde! Vocês são Amélia e Vitor, não é?
- Isso! E você é o Paulo? – Diz Vitor.
- Correto!
- Prazer.– Vitor aperta a mão de Paulo. - Como sabia que éramos nós?
- Ah, foi fácil. Vocês dois não saem das capas de revista!
- Que exagero! – Amélia diz sorrindo, cumprimentando Paulo com um aperto
de mão também.
- Bom, vamos nos sentar? Separei aquela mesa para nós.
- Claro.
Os três sentam e logo começam a conversar sobre a possível sociedade.
Depois de muita conversa, Vitor e Amélia percebem que Paulo é de bastante
confiança e tem um conhecimento e portfólio abrangente na área comercial.
Eles marcam uma viagem para o Jalapão, no intuito de mostrarem para ele a
sede da Rurbana e de como o trabalho é feito.
- Perfeito! Então está combinado. Viajamos na semana que vem? – Diz Paulo,
animado.
- Isso. Vamos ver de perto a matéria-prima, depois vamos pra Girassol
conhecer o trabalho das artesãs. – Vitor fala, se despedindo com outro aperto
de mão.
- Muito obrigado pela confiança. Podem ter certeza que esse tempo de
experiência vou absorver o máximo possível e mostrar trabalho! – Paulo se
despede de Vitor e dá um beijo no rosto de Amélia.
- Até mais! – Amélia se despede também.

Amélia e Vitor seguem de carro para o escritório que estava sendo reformado,
próximo ao frigorífico, no qual Amélia iria administrar a Rurbana. Os dois
entram no local para checar o andamento da obra:
- Olha só! Já tá quase tudo pronto! – Diz Vitor animado olhando o local a sua
volta.
- Sim! Jurava que ia demorar mais... Acho que só falta a parte elétrica, não é?
- É, e isso é super rápido... – Vitor vai se aproximando de Amélia e a pega pela
cintura com um sorriso no rosto – Quem diria hein! Nós dois aqui, com um
escritório praticamente pronto da Rurbana...E a Dona Amélia Villar: uma
empresária! – Ele toca o queixo de Amélia com carinho e depois a beija
suavemente.
- Pois é. E além de empresária eu sou uma recém-esposa muito feliz! – Ela
beija Vitor novamente, várias vezes seguidas. – E o que você achou do Paulo?
- Ah, a primeira impressão foi boa, né? Mas acho melhor conversarmos mais
um pouco com a Manu e o Rudy, e acho que essa viagem pro Jalapão e nossa
ida pra Girassol vai ser bom pra ver a adaptação dele, o interesse pelo
negócio.
- É, também acho... Vamos ver. – Vitor fica olhando fixamente Amélia falar e
sorri.
- Que foi? – Amélia pergunta sorrindo e sem graça.
- Nada! Você que fica linda a cada dia que passa... Fico impressionado com
isso!
- Bobo! – Amélia sorri e os dois se beijam intensamente, até que Vitor se
desprende com dificuldade, dizendo:
- Que tal a gente subir pra ver como andam as instalações lá em cima?
- Vamos lá...
Os dois sobem de mãos dadas e chegam em um terraço onde é possível
enxergar toda a cidade de Juruanã do alto.
- Que vista maravilhosa! – Diz Amélia, incrédula.
- É! Um dos motivos no qual eu escolhi esse lugar... Aqui já planejamos de
construir uma pequena área, pra justamente dar espaço pra essa vista. O Fred
já veio aqui ontem antes do nosso casamento, deu uma olhada por cima, umas
dicas pro nosso arquiteto.
- Sério?! Esse meu filho não existe!

Amélia e Vitor continuam conversando sentados em uma lona esticada no
terraço do prédio. Eles se abraçam e namoram a tarde toda, até que se dão
conta de que o sol já estava se pondo:
- Amor, já está ficando tarde. Vamos? – Amélia acaricia o rosto de Vitor, que
estava deitado em seu colo.
- Ah não. Mas tá tão bom aqui. – Vitor fala em um tom insatisfeito, com jeito de
menino.
Amélia não resiste e continua em silêncio, acariciando suavemente os cabelos
de Vitor. De repente, Vitor se levanta e puxa a nuca de Amélia, fazendo com o
que o rosto dela ficasse colado ao seu. Os dois apenas fecham os olhos e
ficam ensaiando um beijo, sentindo a pele um do outro e o perfume de cada
um. Vitor não resiste e a beija com paixão, deitando o corpo dela no chão e
perfazendo-o por completo com suas mãos, até alcançar o laço que prendia o
vestido de Amélia no pescoço, desfazendo-o delicadamente. Amélia, em
contrapartida, vai subindo a camisa de Vitor e a retira com dificuldade. Ainda
eufóricos, mesmo sem nenhuma necessidade de pressa naquele dia, eles se
amam no terraço do prédio com urgência e com todo o amor que parecia não
se esgotar nunca – sob o olhar do sol que ainda não havia se posto.


                                        VI
Alguns dias se passam e Amélia está no quarto arrumando sua mala e a de
Vitor para a viagem até o Jalapão, juntamente com Paulo. O escritório já estava
pronto e Fred iria ao local para rever as instalações enquanto os dois
estivessem fora.
- E então? Tudo pronto? – Vitor abraça Amélia e lhe dá um beijo no rosto,
depois a solta e termina de abotoar sua camisa.
- Quase! Sua mala já está pronta, a minha ainda não.
Vitor começa a rir enquanto calça o tênis:
- Essas mulheres, viu...
- Pronto, terminei. Você acha que vamos ficar muito tempo por lá?
- Não acho necessário, mas depende do Paulo. E também tô morrendo de
saudade da nossa lua-de-mel no Jalapão. A gente podia repetir, hein... - Vitor
se aproxima de Amélia e a olha de cima abaixo, enroscando seus dedos nos
dela.
- Hum. Nós vamos à trabalho. – Ela sorri e deixa que Vitor a beije.
Os dois vão até a sala e nesse instante o interfone toca. Amélia diz:
- Ué, quem será a essa hora?
- Não sei. Vamos ver... - Vitor atende o interfone e pede para a pessoa subir.
- Quem é?
Sem que Vitor tenha tempo para responder, logo já batem na porta e ele abre
correndo. Amélia olha para a porta incrédula e diz:
- Lurdinha!
- Oi, oi, dona Amélia, seu Vitor! Que saudade!
Lurdinha logo dá um abraço em Vitor, animada, e ele sorri se divertindo com a
espontaneidade dela.
- Ai gente! Tô tão feliz de tá aqui. Mas que apartamentão, hein, dona Amélia!
Nem deve tá sentindo falta lá da fazenda.
- Mas Lurdinha, espera! O que você tá fazendo aqui, mulher?
- É, Amélia. Eu não disse nada, porque queria fazer surpresa. – Vitor diz
sorrindo. – Mas eu achei que seria bom a Lurdinha cuidar do nosso
apartamento. Tanto agora com a nossa viagem, quanto pro resto dos dias.
Afinal, a Manuela nem pára na fazenda, tem tantos empregados por lá, e a
gente aqui, sem ninguém.
- Meu Deus. Eu... – Amélia não consegue terminar de falar pois Lurdinha a
interrompe, quase aos prantos:
- Ai, dona Amélia. A senhora não gostou da ideia, não?
Amélia fica séria e quieta por um instante e de repente abre um enorme sorriso:
- Lurdinha, não chora! Vem aqui. – Amélia a abraça e todos começam a rir. – É
claro que eu amei a ideia. Eu tava morrendo de saudade do seu cafezinho!
- Ai, dona Amélia, que coisa boa. Eu também tô tão feliz de ficar aqui com a
senhora, com o seu Vitor, numa chiqueza só, né. Vou ser empregada da cidade
grande, a Aspásia vai morrer de inveja!
- Ai, Lurdinha, só você mesmo! – Amélia sorri enquanto abraça Vitor.
Vitor e Amélia deixam o apartamento aos cuidados de Lurdinha e seguem para
o hotel de Paulo, de onde pegarão um vôo para o Jalapão.

Chegando no Jalapão, eles vão direto para o hotel, se arrumam e seguem para
a sede da Rurbana. Lá, algumas artesãs locais contratadas por eles, trabalham
com a matéria-prima e aprimoram as joias que são feitas pelas artesãs de
Girassol.
- E então, Paulo? Gostando? – Amélia pergunta.
- Demais, Amélia. Estou achando isso tudo incrível. E os seus desenhos são
geniais.
Amélia sorri e agradece Paulo, e os três seguem observando o trabalho
artesanal.

Paulo fica dois dias no Jalapão e segue para Juruanã:
- Foi muito bom ter essa experiência aqui com vocês. Estou realmente muito
interessado nessa parceria. Espero que dê tudo certo.
- Deu pra perceber sua motivação. Ficamos muito felizes com isso, e temos
ótimas recomendações suas. Tem tudo pra dar certo! – Diz Vitor, apertando a
mão de Paulo e se despedindo.
- Até logo, Amélia. – Paulo beija o rosto de Amélia e entra no carro.
Nisso, Vitor olha para Amélia sorrindo e diz:
- Bom, acho que sobramos só nós dois aqui. E mais aquela cachoeira ali atrás
– Vitor mostra a cachoeira para Amélia com os olhos.
- Vitor! – Amélia o repreende.
- Engraçado que eu não me canso dessa cachoeira. Vamos pro hotel trocar de
roupa?
- Você não tem jeito mesmo, não é? Pensei que depois de casado você ia
sossegar!
Vitor começa a rir e puxa o corpo de Amélia contra o dele:
- Jura que você pensou isso? – Ele a beija no rosto várias vezes. – Tá
enganada, madame. Depois de casado eu fiquei ainda pior! – Vitor a puxa com
mais força, a encosta no carro segurando firme em sua cintura, olha nos seus
olhos e a beija intensamente.
Depois de passarem o dia na cachoeira, os dois retornam ao hotel e
descansam, logo depois seguem para Juruanã.

Amélia e Vitor chegam no outro dia bem cedo:
- Oi Lurdinha! Chegamos... Tudo bem por aqui?
- Ô dona Amélia, seu Vitor! Tá tudo bem por aqui. O Fred acabou de sair.
- Sério? Ai queria tanto ver meu filho... Tô com uma saudade enorme. – Diz
Amélia sorrindo.
- Calma meu amor, vamos amanhã mesmo pra Girassol e você mata sua
saudade!
- Ai é mesmo? Cês vão pra Girassol? Posso ir junto só pra contar as novidade
aqui da cidade pra Aspásia?
Vitor começa a rir:
- Ai, Lurdinha, pode sim. A gente te leva. Mas com uma condição.
- Qual?
- Pára de me chamar de seu Vitor, por favor.
Lurdinha começa a rir sem graça:
- Ah tá. É a força do hábito, sabe.
Amélia e Vitor riem e vão para o quarto.
- Ai, deu pra cansar, hein. Tô exausta.
- Eu também. Mas foi bom... Acho que essa sociedade com o Paulo vai pra
frente né?
- É... Tomara! E você? Vai ainda hoje no frigorífico?
- Sim, só o tempo de tomar um banho.
Amélia acaricia o rosto de Vitor:
- Espera mais um tempo e descansa, meu amor. A viagem foi cansativa.
Vitor beija as mãos de Amélia com os olhos fechados:
- Hum, só se você ficar aqui do meu lado na cama, descansando comigo! –
Vitor diz de um jeito travesso, fixando o olhar em Amélia.
- Sei!
Vitor sorri e a beija com carinho nos lábios:
- Por que você não vem tomar esse banho comigo?
- Não senhor, vai você antes. Vou arrumando a nossa outra mala pra Girassol!
- Ahn... - Vitor faz uma cara de insatisfação e vai até o banheiro, falando com a
voz em tom mais alto:
- Preciso ligar depois pro Paulo combinando um horário amanhã pra irmos
juntos.
- Certo. Vou também avisar a Manu pra preparar os quartos na fazenda.
- Ok. – Vitor abre o chuveiro e Amélia segue arrumando as malas.

Depois do banho Vitor aparece no quarto secando o cabelo com uma toalha e
outra enrolada na cintura.
- Meu amor. Você devia ter pedido pra Lurdinha arrumar essas coisas.
- Já terminei. São poucas coisas pra mudar na mala.
- Hum. Mas você tá cansada. Vai tomar seu banho que eu te espero aqui
sentadinho tá?
Amélia sorri e beija Vitor rapidamente, mas ele a puxa de volta, segura sua
nuca com fervor e a beija por um bom tempo, deixando-a sem fôlego:
- Você é impossível, hein! Desse jeito não vou conseguir fazer nada.
- Ah, meu Deus, não resisto. Fica cada dia mais difícil resistir a você!
Vitor a olha de cima abaixo segurando seu rosto com as duas mãos, até que
ela se desprende, beija as mãos dele e segue até o banheiro dizendo:
- Te amo!
Vitor diz o mesmo piscando para ela.

Ao terminar o banho, Amélia sai do banheiro vestida com um roupão de seda
rosa claro e os cabelos molhados. Vitor, vestido apenas com uma bermuda, se
aproxima de Amélia:
- Adoro quando você sai do banho!
Ela sorri e retribui os carinhos de Vitor quando o telefone do quarto toca.
- Ah não, já tô ficando com trauma desse telefone. – Vitor reclama.
- Atende! – Amélia diz, se divertindo.
- Alô! Opa, oi, Paulo. E aí? Claro, podemos marcar lá sim. Te pego amanhã
então, às 8 da manhã. Tchau, tchau.
Vitor desliga:
- Era o Paulo combinando o local pra encontrarmos.
- Hum. Tudo certo então pra amanhã?
- Sim, vamos pra Girassol matar as saudades do pessoal!
- Não vejo a hora!
Vitor se aproxima da porta e a tranca, vai até Amélia, desfaz o laço de seu
roupão que cai no chão, e os dois se beijam apaixonadamente e se amam até
a hora de Vitor ir para o frigorífico.


                                          VII
Ao chegar do frigorífico, Vitor encontra Amélia conversando com Lurdinha e
fazendo seus desenhos no sofá da sala:
- Oi família! – Diz Vitor sorrindo e se aproximando para dar um beijo em
Amélia.
- Oi, meu amor! Pensei que você ia demorar mais por lá.
- Ah é? Já tá querendo se ver livre de mim, é?
- Ai, seu Vitor... Quer dizer, Vitor! Não fala assim não. A dona Amélia não parou
de falar em você, na beleza que foi a lua-de-mel lá no Jalapão.
- Então tudo bem. Tá perdoada. – Vitor senta no braço do sofá e beija Amélia
novamente. Depois pega um dos desenhos:
- Olha só esses desenhos, cada dia mais caprichado, hein!
- Sério? Gostou?
- Sou suspeito pra falar. Mas pra mim você é a designer mais talentosa desse
mundo.
Amélia sorri e acaricia o braço de Vitor.
- Eu tô indo fazer o jantar então – avisa a empregada.
- Vai lá Lurdinha, tô morrendo de fome! – Diz Vitor sorrindo.
- Vitor, a dona Amélia me passou um cardápio só com o seu gosto, sabia?
- Jura? Assim eu vou ficar mal acostumado. Eu tinha certeza que ia ser um
bom negócio te trazer pra cá, Lurdinha!
Todos começam a rir e Lurdinha vai para a cozinha preparar o jantar do casal.
- Tava com uma saudade dessa Lurdinha! – Diz Amélia sorrindo.
- Pois é, eu também! Uma figura.

À noite após o jantar, Lurdinha vai para o quarto de empregados e deixa Vitor e
Amélia a sós. Os dois tomam vinho juntos na sala ao som de “Tonight” –
Amélia encosta-se no peitoral de Vitor que acaricia os cabelos dela enquanto
toma seu vinho:
- Sabia que você tá linda hoje?
- Hum. São seus olhos. – Ela sorri.
Vitor enrosca seus dedos nos cabelos de Amélia, a admirando, e ela diz:
- Acho melhor a gente ir dormir, senão esse vinho não vai deixar a gente
levantar amanhã!
- Mas já? Espera só mais um pouco... Vem cá.
Vitor se levanta, tira a taça de vinho das mãos de Amélia e a puxa para o
centro da sala:
- Dança comigo!
Amélia sorri e deixa Vitor a conduzir. Ele a prende em seus braços, balançando
seu corpo junto ao dela.
Seguindo o ritmo da música ele sussurra no ouvido de Amélia e beija seu
pescoço:
- Eu te amo tanto... Sou louco por você.
Os dois continuam dançando abraçados e Amélia apenas fecha seus olhos
sentindo a respiração de Vitor em sua nuca.
Vitor se desprende de Amélia e a puxa pela mão, desliga o som e a leva até o
quarto...

Já é de manhã e o casal está na mesa posta por Lurdinha, tomando o café da
manhã:
- Hum, o Paulo me ligou quando você estava no banho. Falei que já estávamos
indo pro hotel. – Diz Vitor, tomando o seu café rapidamente.
- Calma, meu amor. Come direito. Ainda tem tempo.
- Eu sei, é que fiquei de ligar também pra Fátima. Preciso passar umas
coordenadas pra ela antes de viajarmos.
- Tudo bem. Mas toma seu café antes. – Amélia toca a mão de Vitor sobre a
mesa.
- Te amo, sabia?
Vitor levanta rapidamente e vai até a cadeira de Amélia, a beija no rosto e
segue para a sala com o celular nas mãos.
- Ah, mas que amor! - Diz Lurdinha encantada.
Amélia começa a sorrir.

Depois de um tempo, Vitor consegue falar com Fátima e termina de se arrumar.
Amélia e Lurdinha fecham o apartamento e os três seguem até o hotel de
Paulo.
Chegando no hotel, Paulo já estava na porta esperando pelo casal:
- Olá! Bom dia.
- Bom dia! Vou te ajudar com a mala. – diz Vitor o cumprimentando.
Vitor coloca a bagagem no porta-malas e os dois entram no carro. Paulo senta
no banco da frente junto com Vitor, olha para trás e cumprimenta Amélia e
Lurdinha.
A viagem é curta e Vitor pára o carro em frente ao armazém. Paulo fica
admirado com Girassol:
- Mas que cidade ótima. Aconchegante.
Vitor concorda:
- Pois é. Tudo isso foi construído com a ajuda de cada um que mora nessa
cidade, e claro, com a iniciativa do Solano. Você vai conhecê-lo.
- Ótimo!

Ao chegarem, são recepcionados por Janaína, Fred e Terê. Amélia abraça
todos, matando as saudades.
Depois de beberem um suco no armazém e de apresentarem Paulo já como o
novo sócio da Rurbana, eles seguem para a fazenda.

- Mãe! Que saudade! – Manuela abraça a mãe assim que ela chega na
fazenda.
- Oi, filha! Eu também tava morrendo de saudades de você! Deixa eu te ver... –
Amélia segura as mãos de Manu e a olha com brilho nos olhos.
- A senhora tá cada dia mais linda hein, dona Amélia. Será que é o amor?
Vitor as interrompe:
- Pode ter certeza que sim, Manu!
- Ah, que fofo! – Diz Manu sorrindo.
- Bom, esquecemos de fazer as apresentações. Esse é o Paulo, nosso mais
novo sócio na Rurbana. – Vitor apresenta Paulo a Manu.
- Ah, você que é o famoso Paulo? O Rudy fala muito em você. Prazer.
- Espero que fale bem! Prazer. – Paulo sorri e aperta a mão de Manu.
- Sim, tenho certeza que minha mãe e o Vitor fizeram muito bem em aceitar
essa parceria.
- Fico grato pela confiança. Estou adorando fazer parte desse negócio. Sua
mãe tem um talento e uma delicadeza pras jóias que nunca havia visto antes, e
o tino pros negócios o Vitor tem de sobra. Só temos a ganhar!
Todos sorriem animados até que Lurdinha os interrompe:
- Gente, enquanto cês conversavam eu já preparei um cafezinho.
- Nossa, que eficiência, Lurdinha. Nem bem me falou oi e já foi pra cozinha! –
Diz Manu, se divertindo.
- Claro! Tava sentindo falta da minha cozinha aqui na fazenda!
- Que é isso, Lurdinha, agora sua cozinha é outra. Lá em Juruanã. – Vitor a
repreende.
- Eu sei, Vitor! Agora eu tenho duas cozinhas e um monte de patrão. Até meu
salário aumentou!
Todos se divertem com Lurdinha enquanto tomam o café. Nesse instante, Rudy
chega na fazenda e cumprimenta todos, principalmente Paulo que é um grande
amigo de infância:
- E aí cara? Quanto tempo. Fiquei muito feliz dessa parceria ter dado certo.
- Eu também, meu amigo! Tô adorando tudo isso aqui, e tenho que te
agradecer muito pela oportunidade.
- Imagina! E eu tenho certeza que o Vitor e a Amélia vão colocar você nos
eixos e aproveitar bem esse teu talento pros negócios.
- Colocar nos eixos? – Pergunta Manuela, curiosa.
- É, esse cara aqui é muito responsável profissionalmente, mas precisa ser
fisgado por alguém pra sossegar essa vida social.
- Que isso. Pára de inventar. – Diz Paulo, sorrindo junto com Rudy e os
demais.


                                      VIII
Mais tarde todos jantam juntos na fazenda e depois tomam um vinho na sala.
Amélia está sentada no sofá ao lado de Vitor com uma das suas mãos sobre a
perna dele, enquanto ele a envolve com os braços.
Ela então coloca a taça na mesa e diz:
- Bom, acho que já vou indo. Estou exausta.
Vitor a beija no rosto:
- Também vou indo com você.

Quando os dois se levantam, todos levantam também e seguem para os
quartos.
Amélia e Vitor tomam um banho e vão para a cama. Vitor começa a ler um livro
com seus óculos de grau e Amélia lembra que esqueceu de pegar um copo de
água na cozinha:
- Vou na cozinha, meu amor, já volto.
- Tá. Volta logo! – Vitor a olha fixamente, a puxa pelo braço quando ela se
levanta e a beija. Amélia retribui e sai do quarto olhando para ele, sorrindo.
- Linda! – Ele diz, antes de Amélia sair.

Todos já estavam dormindo e a luz da cozinha estava apagada, quando de
repente Amélia se choca com alguém ao tentar acender a luz. A outra pessoa a
segura pelo braço com o susto, e acende a luz:
- Amélia!
- Meu Deus, que susto... Paulo?! – Amélia pergunta, ainda confusa com o susto
que levou.
- Me desculpa, eu não tinha te visto. – Paulo começa a atropelar as palavras,
sem graça, e continua segurando o braço de Amélia.
- Tudo bem. – Amélia olha para seu braço e Paulo logo a solta, sem ter
reparado que a estava segurando por tanto tempo.
- Desculpa, me desculpa... - Paulo começa a rir e Amélia também.
- É... eu vim pegar um copo de água. – Diz Amélia, ajeitando a manga de seu
roupão.
- Eu também. – Paulo a olha encantado, mas logo tenta disfarçar.
Amélia pega o copo e logo sobe para o quarto, se despedindo de Paulo:
- Boa noite, então...
- Boa noite, Amélia. E me desculpa mais uma vez.
- Imagina...

Paulo fica sozinho na cozinha e sorri, sem controlar seus pensamentos em
Amélia naquela noite. Mas logo se auto-reprime, dizendo em voz alta:
- Pára com isso, Paulo. Pelo amor de Deus.
Dois dias se passam e Vitor tem que retornar para Juruanã por conta do
frigorífico. Amélia diz que vai junto, mas Vitor não concorda:
- Meu amor, acho interessante você ficar com o Paulo por aqui. Pelo menos até
o final da semana... pra ele entender melhor o trabalho das artesãs, se
familiarizar.
- Tudo bem. – Amélia diz, um pouco desanimada.
- Eu vou morrer de saudade de você. – Vitor acaricia o rosto de Amélia. – Se
quiser eu fico aqui e...
- Não, de jeito algum. Você precisa resolver os problemas do frigorífico, não
vou te prender.
- Prender? Pára com isso, hein. Você é minha mulher, esqueceu?
Os dois começam a rir e Vitor a beija segurando sua nuca com força:
- Te amo tanto. Se eu pudesse viveria só de amor. Te amando pra sempre.
- Eu também te amo.
Os dois se beijam novamente quando de repente Paulo aparece e os
interrompe:
- Vitor eu... Opa. Desculpa.
Vitor e Amélia se afastam, assustados:
- Imagina. Entra aí Paulo... É que você sabe né, com uma mulher linda dessas
por perto todo dia, ninguém resiste.
Paulo sorri sem graça e Amélia abraça Vitor dizendo:
- Bobo!
- É, então... eu vim saber quanto tempo vamos ficar por aqui. Quando o
escritório vai inaugurar... – Paulo não consegue tirar os olhos de Amélia,
tentando sempre disfarçar seu interesse.
- Pois é, estávamos conversando justamente sobre isso antes de você nos
flagrar! – Vitor sorri e continua:
– Eu vou ter que voltar pro frigorífico mais cedo, mas acho interessante você e
a Amélia ficarem por aqui até o final da semana. Sexta-feira as artesãs já
terminam uma boa parte das jóias, e a gente tem que levar pro Jalapão.
- Perfeito! – Paulo se anima com a idéia de ficar mais tempo em Girassol.
- Fechado então. Vou arrumar minhas coisas. – Diz Vitor, saindo do escritório.
- Eu te ajudo. – Amélia e Vitor sobem para o quarto e se despedem de Paulo:
- Até logo. – Paulo se despede e segue Amélia com os olhos, sem que Vitor
perceba, quando de repente:
- Seu Paulo!!!
- Ah, que susto, Lurdinha!
- Ô, o senhor me desculpa. Não queria te assustar não... Cê quer um
cafezinho? – Diz Lurdinha tentando flertar com Paulo.
- Obrigado, Lurdinha, agora não.- Paulo sorri e também sobe para o seu
quarto.
Chegando no quarto, Paulo pensa consigo mesmo:
- Droga. Eu não podia tá interessado nessa mulher... – Ele faz uma pausa e
diz: - E que mulher...
Nesse instante batem na porta:
- Já vai. Oi, Vitor.
- E aí cara? Desculpa incomodar, é que já estou indo pra Juruanã. Venho
buscar vocês na outra semana.
- Ótimo. Combinado então.
Os dois apertam as mãos e Vitor, que já estava saindo, retorna:
- Ah, mais uma coisa. Cuida bem da Amélia, hein. – Ele começa a rir e toca o
ombro de Paulo.
- Tá certo. – Paulo sorri sem graça.
- Até mais.
Paulo coloca a mão na cabeça, preocupado consigo mesmo, e diz:
- Se controla, cara. Se controla.


                                        IX
Já é sexta-feira e todos se reúnem na sala depois do almoço:
- Bom, onde vamos hoje? – Pergunta Paulo para Amélia, Manu e Rudy.
- Hum, eu e o Rudy marcamos uma fugidinha pra um banho de rio! – Manu e
Rudy se abraçam sorrindo.
Amélia sorri também e diz:
- Então eu acho que vamos ter que trabalhar sozinhos, Paulo.
- Tudo bem... - Paulo diz com um leve sorriso no rosto quando Rudy o
interrompe:
- Trabalho é o nome do Paulo!
- Menos...
Todos começam a rir e se dividem. Amélia sai conversando com Paulo:
- Vamos passar na casa da Pérola, as artesãs estão reunidas por lá.
- Ok! Posso ir dirigindo?
- Tudo bem.
Chegando na casa de Pérola, Paulo e Amélia conversam no sofá analisando
alguns papéis de exportação. Ele não consegue tirar os olhos de Amélia,
porém ela não percebe nenhum sinal das investidas...
Pérola está conversando com as artesãs quando repara em Paulo e faz uma
feição preocupada. Mas evita comentar com Amélia, temendo ser apenas
impressão.
No meio da conversa Amélia interrompe Paulo:
- Ai, desculpa, Paulo. Preciso ligar pro Vitor. Tô morrendo de saudades. – Ela
sorri.
- Tudo bem. Vai lá. – Paulo diz com um sorriso forçado no rosto.

- Alô, meu amor? Tudo bem?
Em Juruanã, Vitor responde:
- Mais ou menos, tô sentindo tanto sua falta. Que idéia a minha ter te deixado
tanto tempo longe.
- Eu também estou morrendo de saudades, meu amor. Mas hoje ainda eu
estou aí, umas 17 horas.
- Como assim? Eu vou até aí buscar vocês.
- Pensei que você tivesse que ficar no frigorífico.
- Não, não. A Fátima vai cuidar de tudo. Você acha que vou deixar você voltar
sozinha?
- Posso pedir pra Manu nos levar.
- Nada disso. Eu vou... Me esperem aí.
- Tudo bem, te espero ansiosa!
- Te amo.
- Te amo também – Amélia diz sorrindo com os olhos brilhando.
- Ah, espera, não desliga. – Vitor quase grita ao telefone.
- O quê?
- Nada, queria só ouvir mais um pouco sua voz!
- Bobo você!
Os dois começam a rir e Vitor diz, animado:
- Olha só, quando a gente chegar em Juruanã e ficarmos sozinhos eu quero...
- Vitor!
- O que foi?
- Depois a gente conversa sobre isso.
Vitor começa a rir e os dois se despedem.

Paulo observa Amélia e comenta:
- Bonito o casamento de vocês.
- Ah, pois é. A gente passou por muita coisa até ficarmos bem.
- Sério? Bom, pelo menos valeu a pena, né.
- Com certeza. O Vitor é um anjo na minha vida... o homem da minha vida.
Paulo olha para baixo e sorri, disfarçando seu incômodo com as palavras de
Amélia.
- Bom, mas vou parar de falar, senão você fica enjoado. É que eu não canso de
falar nele, e enfim... - Amélia ri, sem graça.
- Imagina. Eu acho que sei como é...

Nesse momento, Pérola se aproxima dos dois mostrando as jóias já prontas:
- Dona Amélia, olha só. Terminamos uma boa parte pra senhora levar pro
Jalapão.
- Que ótimo, querida! Viu só, Paulo? Essas minhas artesãs são as melhores!
- É, estou vendo mesmo! Estão lindas essas peças. – Paulo pega uma das
peças nas mãos e a admira.
- Imagina, a senhora é que é talentosa demais. – Diz Pérola pegando nas mãos
de Amélia.
Paulo concorda:
- É, não canso de dizer que a Amélia é excepcional. Nunca tinha visto antes
uma facilidade em desenhar assim. É tudo tão perfeito!
- Ai, gente, pode parar. Assim eu fico sem graça.
Pérola sorri e fica cada vez mais desconfiada dos elogios de Paulo.

Amélia e Paulo se despedem de Pérola e das mulheres dos assentados e
seguem para a fazenda, conversando sobre a Rurbana no decorrer do trajeto.
Chegando lá, Vitor já os esperava na sala:
- Meu amor! – Amélia diz sorridente, vai correndo até ele e os dois se beijam.
- Nossa, que saudade que eu tava de você! – Vitor a olha como se a fosse
devorar com os olhos, sem se importar com os demais ao redor.
Manu começa a rir e os dois então se desprendem:
- Desculpa gente, não posso ficar um segundo longe dessa mulher, imagina
uma semana!
- Ah, que lindo! – Rudy brinca com Vitor.
- Bom, mas e aí? Como está tudo por aqui?
- Ótimo. Fiquei fascinado com tudo que vi. – Paulo se anima ao falar. – Já
pegamos as peças novas e agora é só levar pras artesãs do Jalapão.
Vitor abraça Amélia ao falar:
- Perfeito! Eu acabei de passar no escritório, dei uma arrumada por lá. Já
podemos inaugurar.
- Que bom, meu amor! Não vejo a hora de começar a trabalhar. – Amélia o
beija de leve nos lábios.
Paulo resolve subir para arrumar as malas:
- Bom, vou subir. Falta arrumar algumas coisas.
- Tudo bem. – Diz Vitor. – E você, meu amor? Tudo pronto?
- Sim, a Lurdinha já arrumou tudo.
- Ai, mãe, vou ficar com saudades de novo. – Manu abraça a mãe.
- Ô, minha filha! Você sabe o nosso endereço hein. Você me visitou tão poucas
vezes.
- Eu sei, eu sei. Mea culpa, dona Amélia. Prometo que eu e o Rudy vamos com
mais freqüência né?
- Claro! Aproveito e conheço o escritório. Tô curioso.
- Isso, apareçam por lá mesmo, hein? – Amélia retribui o abraço da filha que se
desprende dela e diz:
- Bom, vou lá fora esperar o Fred. Vamos Rudy?
- “Vambora”!
Nesse momento, Amélia e Vitor ficam sozinhos na sala. Vitor olha Amélia de
longe e vai se aproximando. Ele a observa apaixonadamente, como se
estivessem há muito tempo longe um do outro. Ela morde os lábios e sorri, até
que ele alcança as mãos de Amélia e as leva na sua cintura, a abraçando com
força e desejo.
Ele sente o perfume de Amélia com os olhos fechados, a beija devagar por
todos os pontos de seu pescoço, chegando até seus lábios. Os dois se beijam
com fervor, matando as saudades e o intenso desejo.


                                       X
Vitor, Amélia, Paulo e Lurdinha já estão prontos para voltar à Juruanã. Amélia
se despede dos filhos com um beijo:
- Vou morrer de saudades! Não sumam de mim, hein?
- Pode deixar, dona Amélia. A gente não vive sem você! – Fred a abraça com
carinho.
Os quatro entram no carro e partem.

Vitor deixa Paulo no hotel e os três seguem para o apartamento.
Chegando, Lurdinha vai para o quarto arrumar suas coisas e Vitor e Amélia vão
logo para a suíte do casal. Vitor coloca as malas rapidamente no chão, fecha a
porta e diz para Amélia:
- Finalmente! Não agüentava mais ficar perto de você sem poder te tocar. – Ele
se aproxima e segura o rosto de Amélia. – Sem te beijar...
Vitor olha para os lábios de Amélia, não resiste e a beija com paixão.
Ele vai tirando a blusa de Amélia com cuidado, descendo seus lábios até o
pescoço dela. Amélia fecha os olhos e deixa Vitor a conduzir até a cama. Os
dois se amam, cheios de saudade.

No dia seguinte, Vitor acompanha Amélia até o escritório. Chegando lá, Paulo
já os esperavam na porta.
- E aí, cara? Já chegou? – Pergunta Vitor, cumprimentando Paulo.
- Pois é. Tô ansioso pra começar logo. Bom dia, Amélia.
- Bom dia!
- Vamos entrar, então. – Vitor abre a porta e todos ficam maravilhados com a
decoração do local.
- Meu Deus! Vocês capricharam enquanto estávamos fora! Adorei tudo.
- Muito bacana! – Paulo concorda e fixa o olhar em Amélia.

Nesse momento, sem que Paulo percebesse, Vitor repara o olhar do sócio e
estranha. Mas logo é despertado por Amélia:
- Amor, e como está lá em cima? Quero ver como ficou aquela vista
maravilhosa do terraço.
- Ah claro. Vamos subir. – Vitor diz, ainda incomodado.
Os três passam a tarde conversando sobre os negócios da Rurbana e Vitor
acaba fazendo um esforço para esquecer o olhar fixo de Paulo em Amélia,
torcendo para ter sido apenas impressão ou ciúmes natural de recém-casado.

As semanas se passam e Vitor fica cada dia mais atarefado no frigorífico,
vendo Amélia somente de manhã e no final da tarde.
Amélia também está a mil por hora com os negócios da Rurbana, e a rede de
jóias cresce cada vez mais com a sociedade feita com Paulo. Ele consegue
abrir filiais e exportar um grande número de peças, tornando a empresa ainda
mais conhecida no mundo todo.
Vitor continua vendo de perto os negócios da empresa com Amélia, porém,
quando chegam em casa, ficam exaustos para comentar sobre trabalho.

Já é noite e Vitor e Amélia estão no quarto. Amélia tira os sapatos assim que
chega do trabalho – depois de Vitor:
- E aí? Como andam as coisas na Rurbana?
- Tudo certo. Um pouco corrido... Alguns fornecedores atrasaram a entrega de
algumas peças, por isso demorei hoje.
- Hum. E o Paulo? Tá se saindo bem?
- Sim, cada dia melhor nas negociações.
- É, preciso conversar melhor com ele, acabei me distanciando.
- E o frigorífico?
- Tudo certo. Os mesmos problemas de sempre... contornáveis.
- Sei... Bom, vou tomar um banho. Me espera?
- Claro. Vem logo tá?! Ultimamente a gente anda esquecendo até de tomar
banho juntos. – Vitor sorri para Amélia que se aproxima dele e beija seus lábios
rapidamente.
- Outro dia a gente faz isso!
Vitor logo pára de sorrir assim que Amélia entra no banheiro, sentindo uma
distância que ele tanto temia nos últimos dias.

Quando Amélia volta do banho, Vitor desliga o laptop que estava em seu colo e
coloca na mesinha ao lado da cama. Ele espera Amélia passar o creme no
corpo como faz todas as noites e deitar ao seu lado. Nisso, ele se aproxima e a
beija devagar. O beijo vai se intensificando e Vitor vai tirando a camisola dela
ao mesmo tempo que ela prende seus dedos em suas costas, sem camisa.
Mas os dois são interrompidos com o telefone:
- Droga. Quem será? – Vitor reclama.
- Espera, vou atender... – Amélia se levanta e alcança o telefone ao lado da
cama.
- Alô? Oi... Paulo? Aconteceu alguma coisa?
Vitor sente o sangue subir mas faz de tudo para conter os ciúmes.
Depois de um tempo conversando, Amélia desliga o telefone e Vitor pergunta:
- O que aconteceu?
- Nada demais. O Paulo acabou esquecendo a senha pra desligar o
computador do escritório. Ele teve que ficar até mais tarde por lá.
- Ah tá. E você confia nele o bastante pra dar a chave, pra ele ficar lá até essa
hora?
- Ué. Você não confia?
- Não, não é isso. – Vitor engasga ao falar. – Sei lá, eu não ando tendo muito
contato com ele ultimamente.
- Não se preocupa, meu amor. O Paulo é bastante responsável e é amigo de
infância do Rudy. Ele não faria nada.
- É, eu sei, foi bobagem minha, esquece... Agora vem aqui, não pensa que eu
esqueci aonde a gente estava... – Vitor puxa o corpo de Amélia contra o dele e
a beija novamente, dizendo:
- Te amo tanto.
Ele termina de tirar a camisola de Amélia e os dois se amam a noite toda.


                                      XI
No dia seguinte, no café da manhã, Vitor faz um convite à Amélia:
- Amor, que tal se a gente sair hoje a noite pra jantar, naquele restaurante ao
lado do escritório? Faz tanto tempo que a gente não faz isso né?
- É verdade! É claro que eu topo! Que horas você estava pensando?
- Bom, acredito que até umas 20 horas eu estou lá.
- Combinado. 20 horas eu saio do escritório e vou direto pra lá.

Vitor deixa Amélia no trabalho e no mesmo instante Paulo chega também.
- E aí, Vitor, tudo bem?
- Tudo ótimo! Vim trazer a empresária pro trabalho.
- Sei! Bom dia, sócia.
- Bom dia, Paulo.
Vitor interrompe o cumprimento dos dois e diz:
- Faz tempo que eu não acompanho de perto os negócios da Rurbana.
Qualquer dia desses eu dou uma passada por aqui com calma.
- Faz isso sim, cara. Tá tudo indo muito bem. Acho que a Amélia comentou né,
o aumento das vendas, exportações.
- Sim, claro. Fico muito feliz com isso.
Paulo sorri e bate nas costas de Vitor que se despede de Amélia com um beijo:
- Até mais tarde, hein?
- Até! Te amo!
Amélia acompanha Vitor ir embora com os olhos brilhando até que Paulo lhe
diz:
- Vamos entrar? – Ele aponta a mão para que Amélia entre. Ela vai na frente e
Paulo toca seu ombro indo atrás dela. Vitor passa de carro e vê a cena.

A tarde passa rapidamente e Vitor já fica ansioso para o jantar com Amélia:
- Bom, Fátima, acho que já está tudo certo, né?
- Sim, Vitor! Fica despreocupado. Hoje você ficou o dia todo bastante agitado
né... – Fátima sorri.
- É, Fátima. Não vejo a hora de encontrar a Amélia, nunca senti isso por
ninguém, é impressionante!
- Nunca te vi assim mesmo! Que bom, eu acho vocês dois um casal
maravilhoso.
- Obrigado, Fátima. Agora já vou indo... encontrar...
Fátima o interrompe, animada:
- Vai logo, Vitor! Não faz sua mulher esperar!
Vitor pega a chave do carro, sua carteira e sai apressado do frigorífico
enquanto Fátima o observa sorridente.

Enquanto isso, Amélia está sob pressão de um fornecedor ao telefone, desliga
e logo se queixa com Paulo, que estava trabalhando no computador:
- Não agüento isso, Paulo. Falei mil vezes o local pras entregas, e mesmo
assim atrasaram.
- Calma, Amélia, vamos dar um jeito nisso. Você está muito cansada hoje.
Acho melhor te levar pra casa.
- Tudo bem, vou aceitar. Preciso mesmo de um banho, descansar...
- Isso. Só o tempo de desligar o computador e já vamos.
- Ok.
Amélia, muito estressada e preocupada com o atraso na entrega do capim-
dourado e outras matérias-primas para a confeccção das jóias, acaba se
esquecendo do encontro que havia marcado com Vitor.
- Vamos? Já fechei tudo. – Diz Paulo apontando a porta para Amélia.
- Sim, vamos.

Enquanto isso no restaurante ao lado, Vitor já está sentado na mesa esperando
Amélia. Como ainda não são 20 horas ele aguarda tomando um copo de vinho.
Nesse momento, Paulo já estaciona em frente o apartamento de Amélia e
desliga o carro. Amélia agradece, já saindo:
- Obrigada pela carona, Paulo, nos vemos amanhã. Boa noite.
Paulo tira o cinto de segurança e puxa levemente o braço de Amélia:
- Espera.
Amélia pára e olha para ele:
- Sim?
- Amélia, eu... Bom, eu queria dizer que estou muito feliz em fazer parte desse
projeto com vocês.
Amélia sorri com uma feição cansada, e responde educadamente Paulo:
- Eu também estou, Paulo. Só estou um pouco cansada... Acho que talvez eu
tenha exagerado na tentativa de sair tudo perfeito. E acabei me estressando e
até descontando em você algumas vezes. Me desculpa.
 - Imagina. Não fala assim... Estamos indo muito bem, e amanhã é outro dia.
Você vai estar melhor.
- Espero que sim!
Paulo sorri e depois fixa seu olhar nos lábios de Amélia. Ela, sem perceber,
sorri também e se despede já abrindo a porta:
- Até mais, Paulo. Boa noite.
- Boa noite. – Paulo responde desanimado.
Nesse momento o telefone de Paulo toca:
- Alô? Oi, Rudy, e aí?
Rudy responde:
- Tudo bem. Cara, precisava conversar sério com você, por isso te liguei.
- Pode falar.
- É o seguinte. A Pérola veio falar comigo esses dias e comentou que sentiu
um interesse seu pela Amélia. Isso é sério, cara?


                                       XII
- Que é isso? Como assim?
- Olha só, o negócio tá complicando, Paulo. Olha lá o que você tá fazendo. Eu
confiei em você. Você é um ótimo profissional e...
- Espera aí, Rudy, calma. Deixa eu falar. – Paulo se altera com os comentários
de Rudy. – Eu não sei como esse boato foi chegar até aí. Imagina se isso vai
parar nos ouvidos do Vitor...
- Pois é, por isso te liguei, pra saber melhor, pra te alertar. Parece que a
Lurdinha também comentou isso com a outra empregada aqui de Girassol e a
fofoca tá se espalhando.
- Meu Deus! Não acredito nisso... Rudy, eu vou ser sincero, algumas vezes eu
não consegui controlar meu interesse, mas nunca fiz nada. Isso não pode
chegar nos ouvidos da Amélia e nem do Vitor.
- Cara, eu confiei em você. Se segura, meu irmão. Presta atenção no que você
vai fazer. A Amélia não merece sofrer por bobagem, e nem o Vitor. Você não
sabe o que esses dois passaram pra ficarem juntos.
- Eu sei, eu sei. Não aconteceu nada.
- E nem vai acontecer! Tá maluco, cara? Você vai me jurar agora que vai
desfazer esse engano antes que isso tome uma proporção maior.
- Mas o que eu posso fazer?! – Diz Paulo, nervoso - Eu sempre soube que
nunca teria chances. E eu não faria nada contra o Vitor, nem faria a Amélia
sofrer. Seria uma burrice, sempre guardei isso pra mim.
- Pois é, agora você se vira Paulo. Numa boa, o melhor é você se distanciar da
Amélia, não ficar mais ao lado dela no escritório, porque pelo jeito você não tá
conseguindo guardar isso só pra você né? Tenta trabalhar em casa, sei lá...
- Não tem jeito, sem chances... Rudy, preciso desligar, estou no trânsito. Por
favor, tenta contornar isso aí em Girassol. Te mando notícias...
- Tudo bem. Mas se eu souber de alguma coisa pior, Paulo, eu vou ser o
primeiro a aceitar que você se desligue dessa sociedade – Rudy diz,
insatisfeito.
- Fica tranqüilo. Nada vai acontecer.
Paulo desliga, olha o apartamento de Amélia e segue nervoso para casa.

Em Girassol, somente Manu, Rudy, Pérola e Aspásia sabem do boato sobre
Paulo e Amélia e tentam segurá-lo para que não se espalhe. Rudy conversa
com Manu e garante que não aconteceu nada. Eles decidem não tocar no
assunto com Amélia ou Vitor por enquanto.

Já passava das 20 horas e 30 minutos e Vitor começa a ficar preocupado. Ele
tenta insistentemente ligar para o escritório e para o celular de Amélia, mas
ninguém atendia. Amélia havia deixado o celular desligado e com todo o stress
nem lembrou de ligá-lo.
Vitor então decide ligar para Paulo:
- Alô! Paulo? Até que enfim!
- O... Oi Vitor. – Paulo gagueja ao falar, temendo o motivo pelo qual Vitor
telefonava para ele.
- Cara, estou tentando falar com vocês no escritório faz um tempão. Aconteceu
alguma coisa aí com o telefone?
- Ué, não. Nós já saímos do escritório Vitor. Acabei de deixar a Amélia em
casa.
- Como assim?
- Faz uns 20 minutos que a deixei lá no apartamento.
- Não é possível... – Vitor se levanta nervoso e tenta enxergar a luz apagada do
escritório, logo à frente do restaurante – Acho que aconteceu um desencontro,
só isso. Boa noite, Paulo, até mais. – Vitor desliga e nem espera Paulo se
despedir.
- Eu hein. – Paulo diz, sem entender.
Vitor paga a conta do seu vinho e sai extremamente chateado com o que havia
acontecido, sem conseguir imaginar um motivo para que Amélia tenha
esquecido do encontro entre eles. Fica mais ainda perturbado quando não
consegue conter seus pensamentos, imaginando que Amélia poderia estar com
Paulo.

Ele segue nervoso dirigindo seu carro até o apartamento.
Chegando lá, Vitor acende a luz da sala e vai até a cozinha beber água. Ele
senta na banqueta e se apóia no muro com as mãos sobre a cabeça, sem
saber o que falar para Amélia ou com medo do que irá escutar.
Nesse instante Lurdinha aparece de pijama:
- Seu Vitor? Aconteceu alguma coisa, quer que eu faça algo, um café, um chá?
- Que susto, Lurdinha! – Vitor logo se levanta. – Não, obrigado, a Amélia já
chegou?
- Sim, já faz um tempinho. A Dona Amélia chegou bem nervosa e se trancou no
quarto. Acho que ela tá dormindo.
- Obrigado, Lurdinha. Pode ir se deitar, também já vou indo.
- Sim, senhor. Boa noite.
Vitor vai até o quarto, abre a porta devagar e encontra Amélia dormindo. Ele vai
até o banheiro e toma uma ducha fria. Voltando para o quarto, Vitor se deita ao
lado dela e a olha dormir com uma feição triste, sem saber o que pensar.
Nisso, ele vira para o lado e também dorme.


                                     XIII
No dia seguinte, Vitor acorda e não encontra Amélia ao seu lado, quando ele
se levanta encontra Amélia parada, com o rosto preocupado e muito nervosa,
olhando para ele sem dizer nada. Alguns segundos se passam e Amélia diz:
- Vitor! Me perdoa, ontem eu acabei me esquecendo... Eu estava tão cansada
que acabei pegando no sono e... me perdoa.
Ela coloca as mãos na boca aparentando um quase choro e se aproxima da
cama. Vitor logo se levanta e tenta não se comover com o desespero de
Amélia:
- Por que, Amélia? Por que a gente tá se afastando tanto?
- Meu amor! Me escuta... – Amélia toca o rosto de Vitor mas ele se esquiva e
caminha até a penteadeira, se apoiando na cadeira, de costas para ela:
- Não foi só por você ter esquecido do nosso jantar ontem. Mas foi isso e os
acontecimentos todos que foram se acumulando, Amélia. Você já parou pra
pensar em tudo que anda acontecendo?
- Eu sei, eu sei. É que ando tão nervosa, tão... sem controle de mim mesma... –
Amélia diz eufórica e chorando, segurando os braços de Vitor. – Por favor,
Vitor, me perdoa. Vitor a olha com amor e tristeza ao mesmo tempo. Tenta
resistir à vontade de tocá-la no rosto e de ampará-la, mas o nervosismo e o
ciúmes falam mais alto:
- Amélia... Eu não agüento mais! Não agüento mais essa nossa falta de
diálogo, a sua correria com a Rurbana, junto com... esse seu sócio.
- O que você quer dizer com isso?
- Exatamente o que eu disse.
- Não estou entendendo. O jeito com que você fala sobre o Paulo faz parecer...
- Olha, Amélia. Eu acho melhor a gente...
- O quê? Melhor a gente acabar com tudo, é isso?
- Você quem está dizendo... – Vitor fica o tempo todo de costas.
- Eu não acredito no que estou ouvindo... – Amélia olha para Vitor, incrédula, e
continua - Vitor, eu entendo que não existe justificativa pro meu esquecimento
de ontem, mas dizer que isso tudo é só culpa minha... – Amélia tira as mãos do
braço de Vitor e continua. – Essa correria e falta de diálogo foram de ambas as
partes, não se esqueça disso.
Amélia termina a conversa ali e se tranca no banheiro. Vitor chuta a cadeira:
- Droga, droga!

Amélia chora muito durante o banho, sem acreditar ainda na sua discussão
com Vitor e no seu esquecimento na noite anterior. Não sabia se se sentia
culpada ou injustiçada pelas desconfianças de Vitor.
Depois do banho ela sai do boxe e sente uma tontura, se apóia na parede e
logo depois sente náuseas:
- Meu Deus, o que é isso?
Ela logo imagina que deva ser a tensão causada pelo stress e pela briga com
Vitor, se senta e tenta fazer com que sua pressão volte ao normal.

Quando Amélia sai do quarto encontra Vitor na copa terminando o café da
manhã junto com Lurdinha, que o servia. Ela senta à mesa e os dois ficam
calados. Lurdinha faz uma cara desconfiada e vai para a cozinha.
- Eu já vou indo. Depois eu passo no escritório pra te buscar, pode ser? – Vitor
pergunta, sério.
- Tudo bem. – Amélia fica observando Vitor sair chateado.
Lurdinha aparece e pergunta:
- Dona Amélia, a senhora tá bem?
- Não, Lurdinha, tá tudo péssimo. Péssimo.
Amélia vai para o quarto, pega sua bolsa, a chave do seu carro e sai.

Vitor chega no frigorífico e mal consegue se concentrar:
- E aí, Vitor, como foi o jantar? – Pergunta Fátima.
Vitor respira fundo e diz:
- Não foi.
Ele sai da sala sem se explicar com Fátima, que fica sem entender.

Na Rurbana, Amélia chega e Paulo a cumprimenta, animado:
- Amélia! Bom dia! Você não acredita. Acabei de fechar negócio com uma
importadora de Portugal! Não te falei que hoje o dia ia ser bom?
- Hum. Que bom. – Amélia diz, tentando sorrir.
- O que aconteceu, Amélia? Você está bem?
- Ai, Paulo. Desculpa... Não vou conseguir me concentrar, mas eu precisava vir
pra cá, espairecer...
- O que foi? – Paulo se preocupa e se aproxima de Amélia, tocando em seu
braço.
Amélia começa a passar a mal e quase desmaia. Paulo a segura,
desesperado:
- Amélia, Amélia. O que foi? Você está bem? Senta aqui...
- Nada... Foi só um mal estar, já passou...
- Você está pálida. Vou te levar pro hospital.
- Não precisa, sério. Estou bem.
- Sério mesmo? Hein? – Paulo a segura na cadeira, a olhando com
preocupação e acaricia seu rosto.
Amélia se esquiva e levanta:
- Já estou bem. É que ontem... Eu tive uma briga horrível com o Vitor.
- Sério? O que houve? – Amélia fica um tempo calada e Paulo se corrige: -
Desculpa, se não quiser falar sobre isso...
- Não... É que, eu preciso desabafar, senão eu sinto que vou explodir..de
tristeza, de culpa...
Paulo a olha fixamente e a escuta com atenção:
- Eu... esqueci que ontem tinha marcado com ele um jantar, aqui no restaurante
ao lado e fui embora com você.
- Meu Deus... Por isso então que ele me ligou perguntando de você, nervoso.
- Sim. Eu juro Paulo que me esqueci totalmente mas nunca foi proposital.
- Claro que não. Você estava bastante cansada e estressada ontem, eu vi isso.
- Pois é, mas não justifica, não é?
- Mas ele vai compreender...
- Não, ele não vai.
- Calma, Amélia. Vocês dois se amam tanto, isso não pode afetar. – Paulo se
aproxima cada vez mais de Amélia. – Fica calma. Você não merece sofrer
assim, e eu... eu queria tanto...
Paulo não termina a frase, acaricia o rosto de Amélia e não resiste ao beija-la à
força, sem dar tempo para que ela evitasse. Nesse instante, durante uma
fração de segundos, Vitor aparece sem que ninguém o veja e os flagra, mas
atordoado ele sai correndo e não vê quando Amélia empurra Paulo com força e
lhe dá um tapa no rosto:
- O que você fez??? – Ela diz, assustada, se afastando de Paulo.
- Me desculpa, Amélia. Por favor, eu não queria que... – Paulo diz, sentindo a
dor do tapa em seu rosto ao tocá-lo.
- Sai de perto de mim. Você não podia... - Amélia começa a chorar e sai do
escritório.
Saindo da Rurbana, Amélia se depara com Vitor apoiando o braço na porta do
carro de cabeça baixa. Ela se aproxima, ainda nervosa:
- Vitor...
Vitor levanta a cabeça depois de um tempo, ainda atordoado, olha para Amélia
com os olhos vermelhos e diz:
- Por favor, Amélia, entra no carro. Vamos embora daqui.
Amélia não entende mas teme que Vitor tenha visto o que não devia. Ela entra
no carro em silêncio e ele faz o mesmo.


                                         XIV
Chegando no prédio, Vitor e Amélia sobem em silêncio no elevador, sem olhar
um para o outro. Vitor segura a porta e deixa Amélia sair antes, ele abre a porta
do apartamento e dá espaço para ela entrar.
Lurdinha aparece na sala sorridente:
- Ô, dona Amélia, que bom que a senhora chegou! Não tava sabendo o que
fazer pro almoço amanhã e... – Vitor a interrompe:
- Lurdinha, por favor, teria como você dar uma saidinha, ir na casa daquela sua
amiga do andar de baixo? Preciso conversar com a Amélia, a sós.
Lurdinha se assusta e percebe que o clima não está bom entre os patrões:
- Ah tá, tô indo, então... – Lurdinha sai, olhando para trás.
Vitor espera Lurdinha sair e tranca a porta. Ele olha para Amélia, que está
ainda em choque, sem saber o que Vitor irá falar.
- Tá sendo muito difícil falar alguma coisa nesse momento. Eu só quero que
você me diga a verdade, Amélia.
Amélia olha para ele e já imagina que ele possa ter visto Paulo a beijar a força:
- Verdade? Sobre...
- Pelo amor de Deus, Amélia. Não complica as coisas... Você sabe muito bem
do que eu estou falando...
- Vitor! Se você viu...
- Pronto! Aí está! Não é tão difícil assim dizer a verdade, não é? E também
Amélia, eu sempre disse que mentir não é seu forte.
- Por favor, Vitor, não fala assim. – Amélia se aproxima dele, tentando pegar
em seu braço, mas ele se esquiva com os olhos vermelhos e cheios de fúria.
- Amélia... Eu tô me segurando pra não dizer o que não quero. Eu não consigo
raciocinar, porque não entra na minha cabeça que você e o... – Nesse
momento ele se afasta de Amélia e coloca as mãos na cabeça, desarrumando
o cabelo, desnorteado. – Eu pensava que tudo entre a gente era verdadeiro,
que nada podia... – Ele fica em silêncio e chuta de leve a cadeira em sua
frente, dizendo:
- Mas que droga.
- Vitor, me escuta! Não é nada como você está imaginando, você tem que me
escutar...
- Chega, Amélia! Pára com isso. Não é só uma suposição agora, eu vi! Eu vi!
Você não entende o tanto que está doendo?
- Você não pode me julgar assim, sem antes saber o que realmente aconteceu.
– Amélia já não se sente mais culpada, e sim, injustiçada, sem poder se
explicar. De repente, ela sente também um mal estar e tem uma vertigem. Vitor
se assusta e a segura:
- O que aconteceu? Amélia, olha pra mim.
Amélia logo se desprende de Vitor e se recompõe:
- Não é nada, foi só um mal estar, já passou.
- Sério? Eu te levo pro hospital...
- Não precisa. – Amélia diz nervosa tirando o braço das mãos de Vitor. – Já
estou bem.
- Eu preciso tomar um ar, sair daqui. Vou pedir pra Lurdinha voltar e cuidar de
você. – Vitor sai, olhando para trás, oscilando entre ampará-la em seus braços
ou manter seu orgulho ferido. Por fim, ele escolhe a segunda opção, mesmo
que hesitante.
Amélia fica estática e não consegue emitir mais nenhuma palavra. Apenas olha
Vitor se afastar e entrar no quarto. Ela não segura seu desespero e tristeza e
cai em lágrimas.
Vitor tira algumas roupas do armário e as coloca de qualquer jeito dentro de
uma mala, não conseguindo evitar que algumas lágrimas saíssem de seus
olhos também.

Alguns minutos se passam e Vitor sai do quarto de cabeça baixa, sem olhar
onde Amélia estava, temendo não resistir e voltar atrás de sua decisão de ir
embora. Amélia levanta do sofá e o vê saindo. Ela então diz baixo, sem que
Vitor a escute:
- Vitor...
Ele sai e Amélia continua olhando para a porta, que já estava fechada:
- Não me deixa...

Vitor encontra Lurdinha e pede que ela cuide de Amélia enquanto ele estiver
fora, e a alerta sobre a vertigem que a esposa teve:
- Cuida bem dela, Lurdinha, por favor, fica de olho.
- Tudo bem, seu Vitor... Mas, mas... Por que essa mala? – Lurdinha se assusta
e fica sem entender o que está acontecendo.
- Não é nada, Lurdinha, só estamos dando um tempo um para o outro. Cuida
dela, hein? – Vitor sorri de lado e se despede de Lurdinha.

Chegando no apartamento, Lurdinha encontra Amélia aos prantos no sofá, ela
se aproxima da patroa e diz:
- Dona Amélia. A senhora tá bem? Tá se sentindo mal?
- Ai, Lurdinha! – Amélia não se segura e desaba nos braços de Lurdinha,
chorando.

Vitor chega em Girassol e vai direto para a estalagem:
- Boa noite, Terê! Tem um lugar pro seu antigo hóspede ainda?
- Vitor! Você por aqui? O que aconteceu? Essa mala...
- Pois é, Terê. É uma grande história que eu não vou conseguir te falar agora...
Só precisava urgente de um quarto.
- Sim, meu filho. Mas você não quer se sentar antes, beber alguma coisa? Seu
rosto está horrível.
Vitor sorri e diz:
- Ai, Terê. Esse rosto horrível não vai mudar com alguma bebida, com nada...
Infelizmente.
Terê fica preocupada e leva Vitor até o quarto.
- Obrigado, Terê.
- Meu filho. Depois tenta se abrir, me explicar o que aconteceu... Você e a
Amélia brigaram, não é?
- É...
- Tudo bem, não precisa dizer mais nada. Vou deixar você sozinho, quando
você quiser... estarei aqui.
- Obrigado, Terê. E ah... só uma coisa. Não comenta com ninguém que...
- Imagina, Vitor, não precisa nem pedir.
- Obrigado, de verdade.
Terê sai do quarto e diz sozinha:
- Ai, meu Deus, esses dois não merecem sofrer mais, não merecem.


                                     XV
Vitor coloca sua mala no chão e nem a desfaz, ele senta na cama e começa a
pensar sozinho:
- O que eu tô fazendo? Eu tenho que confiar na Amélia, tenho.
Ele deita na cama e fica a noite toda sem dormir, somente pensando e
sofrendo por Amélia.

Já é de manhã e Vitor, que não conseguiu dormir a noite toda, liga correndo
para Lurdinha:
- Casa da dona Amélia, bom dia!
- Lurdinha, sou eu, o Vitor.
- Ô, seu Vitor!
- Lurdinha, só quero saber como a Amélia está. Ela tá bem?
- Eu chamo ela e...
- Não, não! Lurdinha. Só me fala isso, não quero que a chame.
- Bom, a dona Amélia não tá muito boa não, seu Vitor. Ela tá numa tristeza de
dar dó.
- Ela passou mal de novo?
- Olha, que eu tenha visto não. Ela tá trancada no quarto e não quis comer
nadinha.
- Tenta fazer ela comer, Lurdinha. Ela pode estar fraca, por isso teve o
desmaio.
- Sim, eu vou ficar de olho, pode deixar.
- Ah, e não diz nada que eu liguei, tudo bem?
- Tá certo. – Lurdinha diz, insatisfeita.
Ao desligar, Lurdinha diz sozinha:
- Ai, minha nossa senhora, e eu que pensava que esses dois nunca que iam
brigar... Que tristeza, viu.

Enquanto isso, em Girassol, Manu recebe a ligação de Lurdinha, que está
preocupada com a patroa, e fica sabendo que Vitor saiu de casa.
Ela logo conversa com Rudy:
- Vou atrás do Paulo agora mesmo em Juruanã – Diz Rudy, nervoso. – Só
pode ter sido ele.
- Eu vou com você, meu amor. Mas antes preciso falar com o Vitor. Me espera?
- Claro.

Manu segue para a estalagem e vai até o quarto de Vitor:
- E aí, Vitor? Já fiquei sabendo mais ou menos o que houve. A Lurdinha ligou,
preocupada.
- Por quê? A Amélia está passando mal? O que aconteceu?
- Calma, Vitor. Pelo que eu saiba a única coisa que aconteceu foi que vocês
brigaram.
- Ah, Manu. Você não tem idéia do tanto que eu tô acabado.
- Mas o que foi que aconteceu, Vitor? Vocês estavam tão bem.
- É, não sei, não sei de mais nada. Já fazia um tempo que nós estávamos
distantes, por conta da correria no frigorífico e na Rurbana. E só pode ter sido
culpa minha ter deixado ela sozinha com aquele...
- Espera, é o Paulo?
- Você tá sabendo de alguma coisa, Manu? A Amélia falou com você?
- Não, Vitor. Minha mãe não disse absolutamente nada. Só estou querendo
entender essa confusão toda.
- Eu vi sua mãe beijando aquele cara, foi só isso que aconteceu... - Vitor
começa a andar de um lado para o outro e depois se apóia no encosto da
cadeira. - Droga! Eu não consigo imaginar essa cena, falar sobre isso...Não
entra na minha cabeça.
- Não é possível, Vitor. Minha mãe nunca faria isso.
- Pois é. Eu tô lutando contra as evidências todas. Mas eu já havia sentido um
jeito estranho do Paulo, não sei...
- Calma. Olha só, se tudo isso foi um mal entendido, a gente tem que desfazer.
- Eu sei, mas eu não tô conseguindo agora, Manu. Eu preciso ficar sozinho, por
favor...
- Tudo bem. Eu vou até Juruanã ver como minha mãe está.
- Tá certo, qualquer coisa me mantém informado tá?
- Pode deixar, se cuida aí.
Manu se despede de Vitor e segue para Juruanã, junto com Rudy.
Vitor coloca uma calça mais leve, uma camiseta e vai até o rio Araguaia a pé.
Ele senta na areia e coloca a cabeça entre suas pernas, depois diz
sussurrando e com os olhos marejados:
- Amélia, eu te amo tanto, tanto... – Vitor começa a lembrar dos tempos que
passou junto a ela, principalmente do último banho de cachoeira no Jalapão,
em que ele sentia todo o corpo de Amélia junto ao seu, molhado pela corrente
de água que caía levemente sobre ela, a deixando mais linda do que nunca...
sem ninguém por perto para julgá-los ou persegui-los. Sentiu uma enorme
saudade e uma dor imensa no peito, como se tivesse perdido um pedaço de si.

Chegando no apartamento, Lurdinha diz a Manu que Amélia está no quarto, ela
entra e encontra a mãe sentada na cama com os olhos vermelhos. Amélia se
levanta e abraça a filha, chorando.
Nesse instante, Rudy está em um bar com Paulo:
- Eu tô aqui torcendo pra que você me diga que essa briga do Vitor e a Amélia
não tem nada a ver com você.
Paulo fica quieto e isso já confirmava para Rudy que ele era o responsável pela
confusão.
- Não acredito nisso. Eu te avisei, Paulo...
- Cara, eu tentei, eu juro... Eu não queria causar tudo isso.
- Mas causou. Agora o escritório tá temporariamente fechado e os dois
separados. Você viu a merda que você fez?
- Eu sei disso, eu vou procurar o Vitor e explicar tudo.
- É o mínimo que você deve fazer. Eu te conheço, Paulo. Você nunca
conseguiu se controlar na vida pessoal.
- Eu nunca senti nada igual por outra mulher.
- Mas você vai ter que esquecer ela, de qualquer jeito.
- Eu sei disso. Ela ama o Vitor, ela nunca me deu nenhum sinal sequer de
esperança, e eu não posso deixar que os dois terminem por minha culpa.
- Isso mesmo. Pelo menos bom senso você tem.
- Claro que tenho. Eu também não sou esse monstro, pelo amor de Deus. Eu
também tô na pior com isso tudo.
- Você causou isso tudo.
- Eu não queria beijar ela a força, mas eu não resisti, ela estava tão frágil, tinha
brigado com o Vitor e eu...
- Não acredito que você fez isso... Por isso então que o Vitor saiu de casa.
- É, sei lá. A Amélia deve ter contado pra ele, porque foi no escritório...
- Meu Deus! Você é louco.
- Eu preciso explicar pro Vitor. Eu vou hoje ainda pra Girassol.
- Ótimo, conserta já essa merda toda que você fez. E a parceria com eles, pode
esquecer. – diz Rudy, cheio de raiva.
- Eu sei.

Enquanto isso, Manu e Amélia conversam sobre os acontecimentos:
- Ai, mãe. A senhora não teve culpa, pára com isso. Aquele safado do Paulo,
hein? Quem ia imaginar...
- Não, filha. Eu não podia ter deixado isso acontecer. Se ele me beijou foi
porque ele sentiu alguma abertura, não é? Mas eu juro, Manu, eu nunca
imaginei que ele pudesse estar interessado, nunca percebi e nunca permiti
nada. Pra mim sempre foi uma relação extremamente profissional.
- Eu sei mãe. Não precisa jurar. E o Vitor também sabe e confia na senhora. Só
que ele é homem, não quer passar por cima do orgulho.
- Você falou com ele? Como ele está?
- Falei sim. Ele tá péssimo, sofrendo muito com a distância. E não pára de
perguntar por você.
Amélia tenta se levantar e tem novamente uma tontura.
- Mãe? O que foi? – Manu a segura, preocupada.
- Nada, só uma tontura. Já passou.
Amélia sente náuseas e sai correndo para o banheiro. Manu a acompanha e a
ajuda.
- Mãe, o que é isso? Vou te levar agora mesmo pro hospital.


                                      XVI
Amélia e Manu vão para o hospital a contragosto de Amélia. Chegando lá, ela
faz alguns exames, sem que o médico lhe dê maiores detalhes do motivo do
mal estar. Ele apenas recomenda repouso e uma boa alimentação.
- Mãe, acho melhor a gente ir pra Girassol. Depois eu passo aqui pra buscar os
exames.
- Mas o Vitor está lá...
- E daí? Vocês precisam mesmo conversar.
- Filha, eu não tô aguentando essa situação. Eu não vou me conformar em
perder o Vitor... não vou.
- Mãe, me escuta, olha pra mim. Você e o Vitor se amam e nada vai mudar
isso.
Amélia segura as mãos de Manu e a olha com tristeza.
- Eu não me enganei quando vi que esse amor era verdadeiro e grande o
bastante pra agüentar qualquer tempestade , não é, dona Amélia?
Manu sorri para a mãe e ela retribui, ainda triste:
- É. Da minha parte você pode ter certeza que esse amor é tão grande que
chega a doer.
- E da parte do Vitor também, mãe. Tenho certeza.
As duas se abraçam e logo depois Manu liga para Rudy e ele vai até o hospital
para irem os três juntos até Girassol.

Nesse momento, Paulo já se encontra na estalagem, procurando por Vitor.
- Boa tarde, o Vitor está?
- Olá, Paulo. – Diz Terê, séria. – Vou avisar o Vitor que você está aqui.
- Obrigado.

Terê avisa que Vitor tem uma visita, e quando ele chega até a recepção da
estalagem, se depara com Paulo a sua espera:
- Paulo...
- Oi, Vitor. Acho que a gente precisa conversar.
Vitor lança um olhar raivoso para Paulo e indica com a mão a cadeira para
Paulo se sentar.
- O que você tem pra falar comigo? – diz Vitor, impaciente.
- Cara, olha só, a Amélia não teve culpa nenhuma no que aconteceu.
- E o que aconteceu? – Vitor pergunta, cinicamente.
- Na verdade não aconteceu nada, porque foi uma tentativa só minha... e
frustrada.
Vitor não diz nada, apenas escuta Paulo com atenção.
- Sua mulher nunca me deu abertura alguma, nem indício de que estava
percebendo alguma proximidade minha. Eu forcei a barra.
- Desgraçado. Por que você fez isso? Eu confiei em você, cara. – Vitor tenta se
segurar para não se levantar e dar um soco em Paulo, em público.
- Eu sei. Eu só queria isentar a Amélia e também o Rudy, de tudo isso que
aconteceu. A culpa foi só minha.
Vitor continua sem dizer nada, com os olhos cheios de raiva, e Paulo continua.
- Tá sendo difícil pra mim também. Eu tentei controlar o que eu sentia desde o
primeiro momento que eu vi a Amélia. Eu simplesmente me apaixonei...
Vitor não aguenta ouvir as palavras de Paulo, se levanta e por um impulso,
puxa Paulo pela camisa e lhe dá um soco:
- Nunca mais se aproxima dela, tá entendendo? Nunca mais.
Paulo se levanta do chão, com a boca machucada e diz:
- Tudo bem, cara. Você tem toda razão e todo motivo pra ter feito isso.
Todos que estavam na estalagem observam espantados e Terê tenta dispersar
a confusão:
- Vitor, vem comigo.
Vitor sai empurrado por Terê, ainda olhando Paulo com raiva.
Paulo vai embora com as mãos nos lábios, tentando amenizar a dor, sem olhar
para ninguém.

Já sem a movimentação por conta da briga, Manu, Rudy e Amélia chegam no
centro de Girassol. Paulo já havia ido embora.
- Mãe, vamos lá no armazém tomar alguma coisa. Você ainda está muito fraca
e pálida.
As duas seguem para o armazém de Janaína e Rudy vai até a estalagem.
- Oi, Terê, tudo bem?
- Oi, Rudy. Tudo bem e você?
- Bem... O Vitor tá por aí?
- Sim, mas...
- O que foi? Aconteceu alguma coisa?
- O Paulo veio até aqui e ...
- Eles brigaram?
- Sim.
- Sabia. Devia ter vindo junto... Desculpa Terê, posso subir pro quarto dele?
- Claro... Vai lá.


                                      XVII
Rudy bate na porta do quarto e Vitor pede para que ele entre:
- E aí, cara? Fiquei sabendo que o Paulo esteve aqui.
- Pois é. Mas se você não se importa, não queria falar sobre isso não.
- Tudo bem. Vim aqui só pra te pedir desculpa mesmo. Nem passou pela minha
cabeça que isso tudo poderia acontecer.
- Imagina, você não tem culpa de nada.
- Não, eu sempre conheci esse jeito do Paulo, ele nunca parou em
relacionamento algum, mas com mulher casada, foi a primeira vez... – Rudy
percebe que Vitor ainda está muito incomodado com a situação e pede
desculpas novamente. – Desculpa, Vitor. Eu imagino como você deve tá se
sentindo, não devia tá falando tudo isso.
- Tudo bem... Deixa pra lá.
- Bom, também vim aqui te avisar que acabei de deixar a Amélia e a Manu lá
no armazém da Janaína.
- O que? A Amélia tá aqui? – Vitor pergunta, efusivo.
- Sim. Caso você queira falar com ela... Achei válido te avisar logo...
- Obrigado. – Vitor diz tocando o ombro de Rudy, ainda eufórico e ansioso.
- Vou indo nessa, Vitor. Qualquer coisa que precisar... Ah, mais uma coisa, e o
escritório da Rurbana?
- Eu deixei aos cuidados do meu advogado e da Fátima. O pessoal continua
fazendo as entregas normalmente. Estou acompanhando, mesmo de longe.
- Legal. Pelo menos aquele maluco do Paulo não te deu prejuízo.
- Não, fica tranquilo, Rudy. Obrigado mesmo.
- Falow, cara. Me desculpa, até mais...E, procura tua mulher, hein?
Vitor sorri de leve e não pára de pensar em Amélia. Ele desce logo após Rudy,
e vai até a porta da estalagem.
Nisso, ele enxerga Amélia do outro lado da rua sentada com Manu, Fred e
Janaína na mesa do armazém. Ele fica parado, sem reação alguma, apenas
olhando para ela de longe.
De repente, Vitor é despertado por Terê:
- Vitor!
- O... Oi, Terê. – Ele apenas olha rapidamente para Terê e volta a olhar Amélia.
- Você não vai até lá? Falar com ela?
- Não sei, Terê... Ainda não consigo, mesmo querendo muito. Mesmo sendo o
que eu mais quero nessa vida... Pegar ela nos meus braços e não largá-la
nunca mais.
- Então não perca tempo, querido. Lute pelo seu amor. Vocês demoraram tanto
pra chegar numa felicidade plena, e vão deixar ela escapar assim?
Vitor apenas presta atenção nas palavras de Terê e continua a olhar Amélia,
sem dizer nada.

Um dia se passa e Amélia continua em Girassol junto com Manuela na fazenda
e Lurdinha também volta. Enquanto isso, Vitor ainda está na estalagem. Os
dois continuam sem coragem de tomar a iniciativa para conversarem.
Manuela entra no quarto da mãe e diz:
- Mãe, vou agora buscar seus exames em Juruanã. Me espera aqui, volto logo.
- Tudo bem, filha. Obrigada, viu? Não sei o que seria de mim sem você.
Amélia abraça a filha com ternura e ela segue para Juruanã.


                                      XVIII
Nesse dia, Girassol estava fazendo aniversário e era também o casamento
oficial de Solano e Estela. Manuela havia combinado de passar no sítio do
Padre Emílio para ajudar a arrumar as crianças junto com Dora, e também para
olhar um dos animais que estava doente.
Assim que Manu chega de Juruanã ela vai correndo para a fazenda se arrumar
para o casamento – que será de manhã - e para buscar Amélia.
Amélia já havia se arrumado. Escolhera um vestido simples, porém sofisticado.
Era de seda perolado com flores discretas, tendo uma abertura nas costas, na
qual destacava seu porte esguio e elegante
Manu entra no quarto já pronta e diz, sorridente:
- Mãe! A senhora tá linda!
- Obrigada, minha filha. Você também! – Amélia segura as mãos de Manu com
carinho.
- Bom, olha só, trouxe os seus exames. Vou levá-los pro sítio porque já
estamos atrasadas e aí damos uma olhada neles por lá, tudo bem?
- Claro. Vamos indo então.

As duas seguem para o sítio e enquanto isso Vitor está em seu quarto se
arrumando para a festa, desanimado. Ele fala consigo mesmo:
- Que vontade de não sair desse quarto...
Nesse instante batem à porta:
- Já vai! – Vitor grita.
- E aí, cara? Tá pronto?
- Oi, Fred. Tô sim. Já vou descer.
- Ei, melhora esse humor aí, padrasto. Vim te buscar pra gente se divertir.
- Que jeito? Me divertir sem sua mãe?
- Eu sei, imagino como você deve estar se sentindo. Mas se anima, aposto que
a dona Amélia vai estar nessa festa também. – Fred sorri, batendo nas costas
de Vitor.
Vitor tenta disfarçar seu entusiasmo sem sucesso, e sorri:
- Será mesmo que ela vai?
- A Manu já falou que foi até a fazenda buscar sua esposa pra festa. Então...
Se ajeita aí e vambora, cara! Até quando vai durar esse desentendimento?
- Tá certo, vambora!
- Assim que se diz!
Os dois saem juntos para a festa, conversando pelo caminho.

Enquanto isso no sítio, depois de ajudar as crianças a se vestirem, Manu senta
com Amélia no banco do jardim do sítio para abrirem juntas os exames
médicos:
- Hum, exame geral de sangue, tudo certo... Esse aqui também. – Amélia vai
passando as folhas e Manu a observa.
- Tudo certo, então?
- Espera aí... o que é isso? – Amélia diz, com o semblante apavorado.
- Que foi mãe, que cara é essa? Assim você me assusta.
- Meu Deus do céu! – Amélia coloca as mãos na boca, incrédula.
- Mãe! Pára com isso. Deixa eu ver o que tem nesse exame. – Manu pega os
papéis das mãos de Amélia, que não consegue emitir uma palavra sequer.
- Ah! Não acredito! – Manuela fica espantada e feliz ao mesmo tempo.
- Manu do céu... Eu tô... grávida?!
Manu e Amélia ficam se olhando por longos segundos e simplesmente se
abraçam em silêncio e prantos.
- Filha, não é possível. Será que isso tá certo?
- Dona Amélia, claro que tá certo. Esses enjôos e mal estar... todos os
sintomas de uma mulher grávida!
- Minha nossa senhora. Como assim? Eu nunca pensei que nessa altura... Eu
só me descuidei algumas poucas vezes porque nunca... Ai, nem consigo falar
disso com você... - Amélia sorri sem graça, ainda chorando.
- Ai, mãe! Pára com isso, agora já tá feito! – Manu começa a rir e abraça
Amélia novamente - Gente, o Vitor vai adorar essa notícia, vai ser papai!
Nesse momento, Tomé, que estava brincando por perto, escuta o que Manu diz
e sorri, voltando a brincar com as outras crianças.
Amélia pára de sorrir e fica repentinamente preocupada:
- O Vitor... O que será que ele vai achar disso? Tenho tanto medo que ele não
queira...
- Claro que não, que absurdo. Essa briga de vocês tá durando demais. Só falta
vocês se encontrarem pra isso tudo se resolver, e agora com essa notícia... O
Vitor vai se derreter!
- Ai meu Deus! – Amélia passa as mãos sobre a testa, ainda preocupada, e
sorri novamente sem acreditar que carregava consigo o filho do homem que
amava.
Mãe e filha se abraçam, felizes.

A festa já havia começado, todos estavam na igreja para a cerimônia de
casamento entre Solano e Estela. Os dois já estavam casados na tradição
indígena, porém, Estela aceitou se casar também na igreja, para a felicidade de
Solano.
Vitor estava sentado logo a frente com Fred e quando olha para trás se depara
com Amélia chegando junto com Manuela. Ele não disfarça seu encantamento
ao vê-la entrar deslumbrante na igreja, e se lembra com saudades de quando
se casaram no cartório de Juruanã. Ele sente um desejo imenso de ter Amélia
ao seu lado naquele instante.
Já Amélia senta do outro lado e também fixa seus olhos em Vitor por alguns
instantes, se sentindo ainda mais fragilizada com a notícia da gravidez.
Durante toda a cerimônia os dois trocam olhares e sentem seus corações
baterem mais forte.

A cerimônia termina e todos vão para a rua comemorar o aniversário de
Girassol, numa festa conjunta. Solano organizou uma banda e junto com ela
um desfile da tradição gaúcha, com cavalos e cavaleiros enfeitados com a cor
do girassol.
Muitas pessoas se reúnem no centro da pequena cidade, formando uma
aglomeração. Amélia se perde dos demais e tenta encontrar Manu, se
desviando dos vários braços que a empurravam no meio da multidão.
Vitor também estava se contorcendo entre as pessoas, tentando enxergar a
banda e o desfile, esticando seu pescoço com dificuldade.

De repente, ao olhar distraída para trás, Amélia se choca bruscamente com
outra pessoa. Ela olha rapidamente para frente e tenta pedir desculpas, mas
fica estática quando percebe os olhos verdes de Vitor a encarando:
- Amélia...
Vitor a segura no braço suavemente, cheio de desejo e paixão, olhando fundo
em seus olhos e depois em seus lábios... O momento dura pouco pois a
multidão aumenta e acaba rompendo o quase abraço do casal, que
instintivamente se aproximava cada vez mais.
Vitor fica desesperado tentando encontrar Amélia novamente, e ela faz o
mesmo.
Manuela encontra a mãe e a tira da multidão.
- Mãe! Vamos sair dessa bagunça... vem pra cá.
- Mas... – Amélia diz, sendo puxada por Manu , ainda procurando Vitor entre as
pessoas.

Vitor se perde totalmente de Amélia e dos demais, quando é atropelado por
Tomé, que corria sem olhar para frente.
- Ei, rapazinho, calma! – Vitor segura Tomé, que quase cai.
- Oi! Como seu filho vai chamar? – Tomé diz, assim que é ajudado por Vitor.
- Como? – Vitor pergunta sorrindo.
- Ué, seu filho. A Manu disse que você vai ser pai. Aí ele pode brincar com a
gente lá no sítio e eu posso ensinar ele a cuidar da minha galinha de estimação
também e...
- Ei ei ei, espera. Vem aqui... - Vitor leva Tomé até uma parte mais vazia, perto
do armazém.
- Me conta melhor essa história, Tomé. A Manuela disse isso pra você?
- Não, eu ouvi ela falar com a dona Amélia. Mas foi sem querer porque eu não
fico escutando as conversas dos adultos, eu juro.
- Eu sei, eu sei! Mas me diz mais uma coisa... A Amélia contou isso pra
Manuela?
- Hum, eu vi a Manu dizendo bem assim: “O Vitor vai adorar ser papai”, aí a
dona Amélia chorou. Acho que foi de alegria né?
Vitor não consegue acreditar no que Tomé diz, começa a sorrir
compulsivamente, tomado pelo nervosismo e emoção.
- Obrigado, Tomé, obrigado! – Vitor pega Tomé no colo e gira o menino no ar.
Depois o coloca no chão e sai correndo.


                                       XIX
Amélia e Manu estão na operadora, longe da multidão:
- Filha, se você quiser ficar mais um pouco, não tem problema...
- Não mãe, vou levar você pra casa. Só vou esperar o Rudy chegar, já avisei
ele que estávamos aqui.
- Tudo bem. Bom, na verdade eu não queria ir pra casa. Precisava pensar um
pouco, ficar sozinha.
- Aonde você pensou em ficar?
- Vou caminhar um pouco perto do rio, depois vou pra fazenda. Se quiser eu
vou indo a pé mesmo...
- Deixa disso, dona Amélia, claro que não. Te deixo por lá. Mas tem certeza
que não tem perigo ficar sozinha? A senhora sabe que agora tem que repousar
e...
Amélia acaricia o rosto de Manuela e diz:
- Eu sei, Manu. Não se preocupa que vou me cuidar.
- Olha lá, hein? Depois me liga que eu te busco.

Nesse instante, Rudy chega e os três vão embora da festa. No caminho até o
carro, Terê encontra os três:
- Mas vocês já vão?
- Sim, vou levar minha mãe embora e já volto pro final da festa.
- Amélia! Por que você não fica mais um pouco, querida?
- Ai, Terê. Sinceramente não estou com espírito pra festa. Preciso dar uma
espairecida., vou andar um pouco nas margens do rio, faz tempo que não faço
isso.
- Ótimo! Bom passeio, então.
- Obrigada! – Amélia abraça Terê e segue com Manu e Rudy para o rio
Araguaia.

Amélia desce do carro e diz:
- Obrigada pela carona, filha, tchau, Rudy! Até mais.
- Mãe, tem certeza? A senhora vai ficar bem?
- Claro que sim, Manu. Não se preocupa. Vão aproveitar a festa.
- Olha lá hein, juízo, dona Amélia. Qualquer coisa me liga, vou estar com o
celular sempre ligado.
- Tudo bem, podem ir tranqüilos.
- Tchau, Amélia, até mais. – Diz Rudy, já dando partida no carro.

Amélia vai até a margem do rio, sobe a barra do seu vestido ao sentar na areia,
envolvendo os joelhos com os braços. Ela lembra dos momentos com Vitor e
sente uma vontade imensa de estar junto dele naquele momento,
compartilhando a felicidade que sentira ao saber de sua gravidez.
Amélia olha pro rio e começa a chorar discretamente, lutando pra conter as
lágrimas.

Nesse momento, Vitor começa a procurar Amélia por todos os lugares durante
a festa.
- Ei, Nancy. Você viu a Amélia por aí?
- Não, nem cheguei a ver a Amélia hoje, só na igreja.
- Obrigado. – Ele toca o ombro de Nancy e sai correndo.
Já cansado, Vitor entra na estalagem e encontra Terê, Neca e Glorinha
conversando:
- Vitor! E aí? Curtindo a festa? – pergunta Neca.
- É... Na verdade eu tô um pouco distraído pra essa festa...Por um acaso vocês
viram a Amélia?
- Ah, a Amélia foi embora há um tempinho atrás.
- Não acredito... Vou agora mesmo pra fazenda.
- Não Vitor! Você não vai encontrá-la na fazenda. – Diz Terê.
- Não? Onde é que ela está?
Terê se aproxima de Vitor e toca em suas mãos. Ela fecha os olhos e sorri,
mudando sua feição como se estivesse tendo uma visão boa sobre o futuro do
rapaz.
- Acho melhor você correr agora pro rio Araguaia. Ele tem uma surpresa pra
você...
Vitor sorri, já imaginando do que se tratava as palavras de Terê.
Ele sai em disparado e ao chegar do lado de fora da estalagem, olha para os
lados no meio da multidão, tentando imaginar uma maneira mais rápida de
chegar até as margens do rio.
Ele então vê um cavalo branco parado logo em frente, e sem pensar, dá um
impulso e sobe no animal o mais rápido possível, cavalgando para finalmente
encontrar Amélia.

Neca, Terê e Glorinha presenciam o momento e olham sorrindo um para o
outro. Glorinha diz, encantada:
- Isso que é amor. Viu só, Neca? Por que você não faz essas coisas pra mim?
– Ela empurra Neca, fazendo uma cara de insatisfação.
- Ah, mas o que é isso? Eu não tenho vocação pra príncipe encantado, não. Eu
faço mais o estilo Don Juan de Marco Tenório!
Todos começam a rir e Terê finaliza:
- Ai! Esses dois merecem finalmente um recomeço feliz. Estava na hora!


                                      XX
Amélia ainda se encontra nas margens do rio, e sozinha ela diz para si mesma:
- Vitor... Eu preciso tanto de você.
- Eu também.
Amélia vira para trás assustada, pensando ter tido uma miragem ao ouvir a voz
de Vitor. Ela sobe seus olhos e o vê parado, a olhando fixamente e estendendo
sua mão para ela. Amélia se levanta com a ajuda de Vitor, ajeitando a barra de
seu vestido. Ele a puxa para mais perto fazendo com que as mãos dela -
entrelaçadas com as suas - tocassem de leve sua cintura.
Amélia sente a respiração ofegante de Vitor perto de seu rosto e retribui os
olhares de desejo que ele emite para ela, sem pudor.
- Vitor, eu... – Amélia tenta dizer, mas Vitor toca seus lábios suavemente, a
interrompendo:
- Me escuta Amélia, me escuta. – Ele diz olhando os lábios dela com paixão –
Como eu queria voltar a ter você assim, perto de mim. Sentir sua pele... tão
macia – Vitor toca o rosto de Amélia e ela fecha os olhos. – Sentir seu perfume,
sua respiração junto da minha.
Ela abre os olhos e apenas sente as palavras de Vitor, como se fossem o
remédio necessário pra toda sua dor de saudade.
- Meu Deus! Como você é linda. Que saudade que eu tava de você... Da sua
boca... – Vitor toca novamente os lábios de Amélia e chegando cada vez mais
perto, ele finalmente a pega com mais força nos braços e a beija
apaixonadamente por longos minutos.
Ele termina o beijo com vários outros nos lábios e no pescoço de Amélia e ela
sorri, se sentindo feliz novamente.

De repente, alguns turistas começam a chegar e os dois se desprendem. Vitor
leva Amélia pelo braço, dizendo:
- Vem comigo!
- Pra onde?
- Sobe aqui... - Vitor aponta o cavalo e segura Amélia pela cintura, a colocando
sentada de lado em cima do animal. – Se segura aí.
- Vitor, você é louco!
- Sou completamente alucinado por você! – Ele diz sorrindo e sobe no cavalo,
ficando na frente de Amélia.
- Segura firme em mim. – Vitor coloca as mãos de Amélia na cintura dele e os
dois cavalgam sem rumo.

Vitor anda pelo campo dos girassóis, e pára entre as flores. Ele pega Amélia
pela cintura e a ajuda a descer. Ela pára com as mãos sobre o peito de Vitor,
que ainda a segurava firme, e diz:
- Eu senti tanta falta de você.
- Eu também, meu amor. Eu também... - Vitor aproxima seu rosto no de Amélia
e os dois se tocam levemente. Ela sente a barba por fazer de Vitor se encostar
em sua pele e seu corpo treme.
- Vitor... Espera, me escuta.
Ele continua sentindo a pele de Amélia com todas as partes de seu rosto,
aproximando os lábios nos dela levemente, sem deixar que ela termine de
falar. Mas Amélia resiste e continua:
- Escuta, escuta... - Ela segura o rosto de Vitor – Me perdoa? Eu devia ter
percebido o que estava acontecendo desde o começo e...
- Ei, xiu... - Vitor pede que Amélia não fale mais nada e toca seus lábios. – Não
diz mais nada. Vamos esquecer tudo isso, tá? Eu é que tenho que pedir
desculpas por ter feito você sofrer, por ter sido orgulhoso...
- Não, não foi culpa sua. Fui eu quem fiz você sofrer.
- Amélia. Vamos esquecer? Hein? Eu juro que daqui pra frente eu só vou viver
pra você, só pra você... – Ele toca o rosto de Amélia com carinho.
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Amantes, amantes, negócios à parte

  • 1. Amantes, amantes, negócios à parte I Depois de todo o conflito ocorrido com Max, Amélia e Vitor seguem para o Jalapão para a tão esperada lua-de-mel e se hospedam em um hotel 5 estrelas que Vitor fez questão de pesquisar antes de reservar, tendo a certeza que seria à altura de Amélia. Os dois, após aproveitarem os pontos turísticos no segundo dia, retornam ao hotel, cansados mas felizes, sorrindo e conversando em voz alta pelos corredores, refazendo o dia maravilhoso que tiveram nas dunas: - Ah meu amor, nem acredito ainda que isso tudo tá acontecendo! – Vitor segura a cintura de Amélia no corredor do quarto e ela segura o rosto dele com as mãos sorrindo: - Pois é! Parece um sonho. – Ela olha os lábios de Vitor que a beija no mesmo momento. - Agora vamos tomar um banho... juntos! Tô cheio de areia! – Ele abre a porta do quarto sorrindo, a conduzindo para dentro ainda com as mãos em sua cintura e com um olhar travesso. - Você não tem jeito mesmo, hein? - Claro que não. Você acha que eu vou abrir mão de passar todos os segundos possíveis do teu lado? Hein? – Nisso, ele a puxa com mais força, fechando a porta com os pés e a beija intensamente. Ainda envolvida pelo beijo, ela tenta se desprender de Vitor e diz: - Espera! – Ela olha em sua volta e só percebe naquele momento que o quarto estava todo enfeitado com flores e duas taças de champagne se encontravam em cima da mesinha central. - O que é tudo isso, Vitor? Meu Deus! - Por que o espanto? Eu ainda não te disse que você entrou numa roubada? Ela sorri, ainda nos braços dele, e questiona: - Como assim? - Eu vou te surpreender pro resto da vida... Quer dizer... – Ele a segura com uma das mãos pela nuca – Isso se você me quiser pelo resto da vida, né? - Você ainda tem dúvidas disso? Ele a olha com desejo e sorri, a beijando rapidamente e diz em seguida: - Mas então, vamos aproveitar essa decoração que eu fiz e depois a gente vai direto praquele banheiro... – ele fala olhando Amélia de cima abaixo. E ela sorri mordendo os lábios, sem graça. - Aqui, meu amor. Pega sua taça... Quero brindar esse momento, esse começo de vida, o nosso amor. - Te amo. – Ela acaricia o rosto de Vitor levemente com uma das mãos e os dois brindam, sorrindo. - Sabe que eu acho que não vou querer terminar esse champagne?! – Vitor pisca para Amélia e tira a taça de sua mão. - Não? – Ela sorri e deixa Vitor a levar pela cintura até o banheiro. Vitor abre o zíper do vestido de Amélia devagar e beija sua nuca. Ela fecha os olhos e segura as costas de Vitor com força, tirando sua camisa que cai no chão. Ele liga o chuveiro ainda a abraçando e a leva com cuidado para debaixo da água, e os dois finalmente se amam.
  • 2. Depois do banho, eles se deitam e se abraçam em silêncio na cama. Ela fica encostada no peitoral de Vitor, ainda quente pelo banho, vestida com uma camisa dele. Vitor beija os cabelos ainda molhados de Amélia, com os olhos fechados, sentindo o perfume dela após o banho e diz: - Como eu te amo! Queria ficar uma eternidade assim, abraçadinho com você, sem te largar nunca mais. Ela sorri, abre os olhos e alcança o rosto de Vitor, acariciando-o: - Eu também... te amo! Muito! Os dois se beijam devagar, Vitor vai tirando a camisa de Amélia, puxando os cabelos dela suavemente, intensificando cada vez mais o beijo. E os dois se amam novamente. II Mais tarde, Amélia se arruma depois do almoço no quarto e Vitor diz: - Amor, coloca um biquíni. - Agora? - Nesse segundo. Vamos pra uma cachoeira que me recomendaram aqui no hotel. Tô louco pra repetir a dose! Olha que você me deve muitas. Amélia sorri, se aproxima de Vitor ainda vestida com sua camisola e o beija sorrindo: - Você e esses banhos de cachoeira. Desse jeito você vai enjoar. - Enjoar? Com você junto? Nunca!! Vem aqui, vem. – Vitor puxa o corpo de Amélia contra o seu e a beija mais forte. Já prontos para o dia na cachoeira, eles descem do carro e vão direto pro local. Vitor animado, tira fotos da paisagem e logo depois larga tudo no carro, tira a bolsa das mãos de Amélia e a puxa pelo braço: - Vem! Amélia sorrindo diz, ainda eufórica pela corrida que dão até a cachoeira: - Calma! Vitor tira a camisa e depois a bermuda, puxa Amélia contra seu corpo e a beija, tirando ao mesmo tempo o vestido dela, a deixando somente de biquíni, e a conduz devagar até a queda de água da cachoeira. Depois, ele a olha fixamente, segura o rosto dela com suas mãos debaixo da água e diz: - Você tá linda! A mulher mais linda desse mundo. Amélia sorri e olha para os lábios de Vitor, o beijando apaixonadamente. Os dois passam a tarde toda na cachoeira, esperam abraçados e sentados numa pedra, o sol secarem seus corpos, e depois seguem para um pequeno restaurante turístico perto da estrada de terra, para depois retornarem ao hotel. No restaurante, um cantor toca ao vivo para os turistas e todos resolvem dançar. Vitor aproveita, levanta da mesa e estende sua mão chamando Amélia para dançar. A música que toca é: “Só tinha de ser com você” de Tom Jobim. Amélia sorri um pouco sem graça e aceita o pedido, segurando a mão de Vitor e seguindo para o centro do salão, onde já se encontravam outras pessoas. Vitor segura firme a cintura de Amélia, prende uma das mãos dela contra seu peito e leva a outra na cintura dele, abraçando-a ao dançar. Ela deixa Vitor a conduzir e fecha seus olhos, encostando seu rosto no dele e esquecendo que
  • 3. existiam outras pessoas ao redor. Os dois dançam por um bom tempo até a música terminar e se beijam em seguida, voltando para a mesa e sentando um de frente para o outro. Vitor segura a mão de Amélia na mesa e diz: - Eu já disse que te amo hoje? Tô muito chato? - Já! Mas pode repetir... – Ela sorri para ele e toca seu rosto suavemente – Pode ser chato assim sempre! Vitor beija a mão de Amélia que está em seu rosto e sorri, encantado. III Uma semana se passa, Vitor e Amélia retornam para Girassol após saberem da morte de Max. Os dois preparam os papéis da Estância juntamente com Fred e Manu e entregam para Solano, devolvendo os direitos pelas terras a ele e ao seu filho Beni. Nesse mesmo dia, após um almoço na fazenda, Amélia anuncia a todos que ela e Vitor estão apenas de passagem: - Pois é, filha, foi bom a gente ter conversado sobre a fazenda, saber que você tem interesse em seguir com os negócios do seu pai. Porque o Fred eu sei que não quer, não é, filho? - Não mesmo. Estou muito bem com a operadora e ajudando a Jana com o armazém. Vitor chega na sala e senta no braço do sofá ao lado de Amélia. - E então, meu amor? Resolveu tudo? - Sim, já decidimos. Podemos ir tranquilos! - Olha lá hein, cara! Juruanã não é tão perto assim, não vou poder ficar de olho em vocês. - Que é isso, Fred, confia em mim. Pretendo ser um padrasto bonzinho. Vou te convidar sempre pra uma cervejinha. Todos começam a rir e Amélia os interrompe: - Bom, nem desfiz muito minhas malas, porque na verdade tudo está pronto lá em Juruanã, já compramos um imóvel com a venda daquele que tínhamos e o outro do Vítor. - Sério, mãe? Que ótimo. Quero ajudar a decorar. - Ih! Ah lá! Não vou poder palpitar em nada! - Não mesmo, Vitor Villar! – Manu se levanta e Amélia também. – Isso é coisa pra mulher – Ela abraça a mãe, animada. Vitor levanta os braços sorrindo, acuado. Ao final do dia, Vitor e Amélia seguem para o carro com as malas, ao lado de Manuela, Fred, Rudy e Janaína. Amélia beija os filhos e os dois seguem para Juruanã. Chegando no apartamento, Amélia abre a porta e tem uma surpresa: - Meu Deus! O apartamento está todo montado? Como assim? - Pois é né... - Vitor olha para o chão sem conter o riso. - Vitor! - Bom, a ideia foi minha, já a decoração... claro que foi da Manu. - Ai, não acredito! Ela já sabia de tudo e disfarçou tão bem! - É! Sua filha é mestre! Mas... E aí? – Vitor chega mais perto de Amélia, segurando suas mãos – Gostou? Amélia sorri para ele e o beija várias vezes, dizendo:
  • 4. - Amei, amei, amei... - Calma, calma. – Vitor diz segurando as mãos de Amélia. – Ainda não acabou. - Não? – Ela sorri ainda mais. - Não... – Vitor tira do bolso uma caixa de veludo preta e entrega para Amélia. - Você pensou que eu ia esquecer da coisa mais importante? - Vitor... - Abre! Amélia abre a caixa e encontra duas alianças de ouro. - Meu Deus. - E então? Você aceita o pedido desse pobre rapaz, de ser a esposa dele, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, pro resto da vida? Ela não contém a felicidade e o abraça. E segurando na nuca dele, diz: - Claro que sim! Os dois se beijam e Amélia deixa a caixinha na mesa, ainda beijando Vitor. Eles seguem até o sofá, se esbarrando nas mesas e móveis. Ele desabotoa a blusa de Amélia e beija seu pescoço intensamente, ao mesmo tempo que tira sua própria camisa. Ainda eufóricos, Vitor segura o rosto de Amélia e diz: - Amanhã já. Amanhã você já vai ser minha mulher oficialmente. - Amanhã? - Isso mesmo, senhora Maria Amélia Villar. Já marquei no cartório, seus filhos já sabem, e convidei nossos amigos mais próximos. Fiz mal? Amélia se levanta, arrumando sua blusa. - Nossa, não... é que foi tudo tão rápido. - Desculpa, meu amor. É que você me conhece, eu fico louco pra fazer essas surpresas pra você, nem penso... Amélia não deixa Vitor terminar de falar e o interrompe, cerrando seus lábios: - Não diz mais nada. Eu não falei que não gostei... pelo contrário! Tá tudo perfeito. É o que mais quero... - Sério? Amélia não diz nada, apenas o beija com paixão, e os dois terminam o que haviam começado, no mesmo sofá. IV No dia seguinte, estão todos reunidos no cartório. Vitor espera Amélia ansioso, vestido com um terno cinza escuro, camisa azul clara e uma gravata azul em tom mais escuro. Cabelos despojados mas arrumados com um pouco de gel. Amélia já está a caminho com Manuela, que foi até o apartamento para ajudá- la a se arrumar. - Calma, Vitor. Já já elas chegam. – Diz Fred, batendo nas costas do “padrasto”. Vitor não consegue parar de andar de um lado para o outro quando escuta Janaína dizer: - Pronto! Chegaram! - Ai, meu deus! – Vitor diz, nervoso, ao olhar a porta de madeira se abrir. Ao ver Amélia entrando, com um vestido longuete nude, colado ao corpo e com detalhes suaves bordados a mão, seus olhos brilham e ficam ainda mais verdes. Amélia estava deslumbrante causando sorrisos nos que estavam presentes: Manuela, Rudy, Janaína e Fred como padrinhos, Terê, Neca,
  • 5. Glorinha, Pimpinela, Nancy, Bruno, Pérola, Cirso, as “Jóias”, Lurdinha, Solano, Estela, Mariquita, Aspásia, Genão, entre outros, como convidados. Seus cabelos estavam presos para trás, com presilhas delicadas de acrílico e pedras discretas de diamante, brincos de ouro pequenos e uma corrente dupla também de ouro, com dois pingentes iguais aos brincos. Ela entra e logo segura as mãos de Vitor e os dois se beijam rapidamente. O juiz pergunta se pode começar e os dois acenam com a cabeça que sim. Vitor coloca a aliança em Amélia e diz sussurrando: - Te amo... minha vida. Ela sorri e murmura, colocando a aliança em Vitor e olhando em seus olhos fixamente: - Eu também. Os dois assinam o livro juntamente com as testemunhas e se beijam novamente. Logo depois, em um salão ao lado eles recebem os convidados e brindam o casamento com um pequeno bolo. - E então, o que vocês pensam em fazer agora aqui em Juruanã? Não vão mais voltar pra Girassol? – pergunta Terê, já com saudade dos amigos. - Bom, Terê, conversamos bastante e decidimos ficar mais por aqui, pra seguir de perto os negócios do Vitor com o frigorífico e eu continuo com as minhas jóias na Rurbana. Vamos montar um escritório aqui, mais administrativo e no Jalapão vai ficar a sede, com a produção em si. - Que ótimo, Amélia. Fico feliz por vocês. Mas que pena que não vamos mais nos ver com tanta freqüência. - Mas vamos estar em Girassol quase sempre, Terê. Afinal, minhas melhores artesãs estão lá! - É verdade! E vocês que não passem lá na estalagem pra verem essa velha amiga, hein? Vou ficar chateada! - Imagina, Terê, nunca faria isso. Faço questão de passar sempre por lá! As duas se abraçam e sorriem. Nesse instante, Vitor chega, abraça Amélia e os três começam a conversar animados. O tempo passa e todos se despedem. Amélia e Vitor chegam no apartamento: - E então, senhorita? Como está se sentindo agora, casada de novo? Amélia segura Vitor pelo terno e diz: - De novo não. É a primeira vez que me caso, e é a primeira vez que me sinto tão feliz e realizada. Vitor não se segura ao ouvir Amélia, a olha com paixão e a beija, passando suas mãos por todo seu corpo, enquanto ela segura seus ombros deixando que ele desabotoe seu vestido suavemente. Os dois vão andando até o quarto e Vitor a encosta contra a porta retirando todo seu vestido e beijando sua nuca. Ela fecha os olhos, depois o ajuda a tirar o terno e os dois se deitam na cama. De repente, o telefone toca. - Ah não... - Vitor reclama. – Quem será, agora? - Atende. Pode ser importante. Vitor contra sua vontade atende o telefone, que toca insistentemente. - Alô. Isso! Sou eu. Sei, sei... Depois de falar algum tempo, Vitor desliga e Amélia pergunta, curiosa: - Quem era?
  • 6. - Nossa, espera, ainda tô sem entender... - O que foi, Vitor? – Amélia senta ao lado de Vitor, um pouco assustada. - Era um cara dizendo que conseguiu meu telefone com o Rudy, da Manuela. Ele mora no Rio de Janeiro e já tinha ouvido falar muito da Rurbana e parece que já trabalha há muito tempo com esse mercado. Enfim... Ele queria marcar um encontro com a gente pra discutir sobre uma possível parceria. - Sério? Nossa, mas isso seria perfeito. Se ele é de confiança... - Sim, a gente deveria falar com o Rudy antes. - É, vou ligar pra Manu. Imagina só? Você poderia continuar com seus negócios no frigorífico e eu teria alguém pra me ajudar com os negócios da Rurbana, pra não tirar seu foco. - Meu amor... Você sabe que isso não vai me atrapalhar, já te falei mil vezes que eu amo ficar do teu lado, te ajudando com a Rurbana. - Eu sei. – Amélia acaricia o rosto dele. – Mas eu sei também que você sente uma necessidade enorme de retomar os negócios do seu pai, e entendo isso. Vou ligar pra Manu! Ela sorri e tenta se levantar, mas Vitor não a deixa: - Não, nada disso! Agora a gente vai terminar aquela outra coisa pendente. – Vitor a puxa contra ele e a beija, e os dois esquecem do mundo lá fora, se amando. Mais tarde Amélia liga para Manuela e confirma sobre o amigo de Rudy: - Meu amor, a Manuela disse que já conversou com o Rudy sobre esse amigo, e ia me ligar pra contar, só não queria estragar a nossa lua-de-mel! – Amélia diz sorrindo. - É! Mas não adiantou muito não, o cara mesmo se prontificou, né? – Os dois começam a rir. - Então, o nome dele é Paulo Borges, amigo muito próximo e de confiança do Rudy e quer ser nosso sócio. E aí? - Hum, não sei. Vamos conversar com ele pessoalmente, né? Quem sabe. - E você pensou naquilo que te falei, do frigorífico? Vitor se levanta da cama e vai até a cadeira da penteadeira onde Amélia estava arrumando seu cabelo, de costas para ele. Ele coloca suas mãos no ombro dela e diz: - Bom, a gente pode ver isso com calma. Temos tempo. – Amélia segura as mãos dele e vira seu rosto, alcançando os lábios de Vitor que já descia para encontrar os dela. - E então? Você vai ligar pro Paulo? - Sim, agora mesmo. Vitor liga para o amigo de Rudy e eles combinam de se encontrarem em um restaurante conhecido de Juruanã no dia seguinte. V No outro dia Amélia e Vitor se arrumam para o almoço. Eles chegam no restaurante e logo um homem moreno , alto e vestido com uma camisa social e jeans, se aproxima ( ator: Daniel Boaventura) - Boa tarde! Vocês são Amélia e Vitor, não é? - Isso! E você é o Paulo? – Diz Vitor. - Correto!
  • 7. - Prazer.– Vitor aperta a mão de Paulo. - Como sabia que éramos nós? - Ah, foi fácil. Vocês dois não saem das capas de revista! - Que exagero! – Amélia diz sorrindo, cumprimentando Paulo com um aperto de mão também. - Bom, vamos nos sentar? Separei aquela mesa para nós. - Claro. Os três sentam e logo começam a conversar sobre a possível sociedade. Depois de muita conversa, Vitor e Amélia percebem que Paulo é de bastante confiança e tem um conhecimento e portfólio abrangente na área comercial. Eles marcam uma viagem para o Jalapão, no intuito de mostrarem para ele a sede da Rurbana e de como o trabalho é feito. - Perfeito! Então está combinado. Viajamos na semana que vem? – Diz Paulo, animado. - Isso. Vamos ver de perto a matéria-prima, depois vamos pra Girassol conhecer o trabalho das artesãs. – Vitor fala, se despedindo com outro aperto de mão. - Muito obrigado pela confiança. Podem ter certeza que esse tempo de experiência vou absorver o máximo possível e mostrar trabalho! – Paulo se despede de Vitor e dá um beijo no rosto de Amélia. - Até mais! – Amélia se despede também. Amélia e Vitor seguem de carro para o escritório que estava sendo reformado, próximo ao frigorífico, no qual Amélia iria administrar a Rurbana. Os dois entram no local para checar o andamento da obra: - Olha só! Já tá quase tudo pronto! – Diz Vitor animado olhando o local a sua volta. - Sim! Jurava que ia demorar mais... Acho que só falta a parte elétrica, não é? - É, e isso é super rápido... – Vitor vai se aproximando de Amélia e a pega pela cintura com um sorriso no rosto – Quem diria hein! Nós dois aqui, com um escritório praticamente pronto da Rurbana...E a Dona Amélia Villar: uma empresária! – Ele toca o queixo de Amélia com carinho e depois a beija suavemente. - Pois é. E além de empresária eu sou uma recém-esposa muito feliz! – Ela beija Vitor novamente, várias vezes seguidas. – E o que você achou do Paulo? - Ah, a primeira impressão foi boa, né? Mas acho melhor conversarmos mais um pouco com a Manu e o Rudy, e acho que essa viagem pro Jalapão e nossa ida pra Girassol vai ser bom pra ver a adaptação dele, o interesse pelo negócio. - É, também acho... Vamos ver. – Vitor fica olhando fixamente Amélia falar e sorri. - Que foi? – Amélia pergunta sorrindo e sem graça. - Nada! Você que fica linda a cada dia que passa... Fico impressionado com isso! - Bobo! – Amélia sorri e os dois se beijam intensamente, até que Vitor se desprende com dificuldade, dizendo: - Que tal a gente subir pra ver como andam as instalações lá em cima? - Vamos lá... Os dois sobem de mãos dadas e chegam em um terraço onde é possível enxergar toda a cidade de Juruanã do alto. - Que vista maravilhosa! – Diz Amélia, incrédula.
  • 8. - É! Um dos motivos no qual eu escolhi esse lugar... Aqui já planejamos de construir uma pequena área, pra justamente dar espaço pra essa vista. O Fred já veio aqui ontem antes do nosso casamento, deu uma olhada por cima, umas dicas pro nosso arquiteto. - Sério?! Esse meu filho não existe! Amélia e Vitor continuam conversando sentados em uma lona esticada no terraço do prédio. Eles se abraçam e namoram a tarde toda, até que se dão conta de que o sol já estava se pondo: - Amor, já está ficando tarde. Vamos? – Amélia acaricia o rosto de Vitor, que estava deitado em seu colo. - Ah não. Mas tá tão bom aqui. – Vitor fala em um tom insatisfeito, com jeito de menino. Amélia não resiste e continua em silêncio, acariciando suavemente os cabelos de Vitor. De repente, Vitor se levanta e puxa a nuca de Amélia, fazendo com o que o rosto dela ficasse colado ao seu. Os dois apenas fecham os olhos e ficam ensaiando um beijo, sentindo a pele um do outro e o perfume de cada um. Vitor não resiste e a beija com paixão, deitando o corpo dela no chão e perfazendo-o por completo com suas mãos, até alcançar o laço que prendia o vestido de Amélia no pescoço, desfazendo-o delicadamente. Amélia, em contrapartida, vai subindo a camisa de Vitor e a retira com dificuldade. Ainda eufóricos, mesmo sem nenhuma necessidade de pressa naquele dia, eles se amam no terraço do prédio com urgência e com todo o amor que parecia não se esgotar nunca – sob o olhar do sol que ainda não havia se posto. VI Alguns dias se passam e Amélia está no quarto arrumando sua mala e a de Vitor para a viagem até o Jalapão, juntamente com Paulo. O escritório já estava pronto e Fred iria ao local para rever as instalações enquanto os dois estivessem fora. - E então? Tudo pronto? – Vitor abraça Amélia e lhe dá um beijo no rosto, depois a solta e termina de abotoar sua camisa. - Quase! Sua mala já está pronta, a minha ainda não. Vitor começa a rir enquanto calça o tênis: - Essas mulheres, viu... - Pronto, terminei. Você acha que vamos ficar muito tempo por lá? - Não acho necessário, mas depende do Paulo. E também tô morrendo de saudade da nossa lua-de-mel no Jalapão. A gente podia repetir, hein... - Vitor se aproxima de Amélia e a olha de cima abaixo, enroscando seus dedos nos dela. - Hum. Nós vamos à trabalho. – Ela sorri e deixa que Vitor a beije. Os dois vão até a sala e nesse instante o interfone toca. Amélia diz: - Ué, quem será a essa hora? - Não sei. Vamos ver... - Vitor atende o interfone e pede para a pessoa subir. - Quem é? Sem que Vitor tenha tempo para responder, logo já batem na porta e ele abre correndo. Amélia olha para a porta incrédula e diz: - Lurdinha! - Oi, oi, dona Amélia, seu Vitor! Que saudade!
  • 9. Lurdinha logo dá um abraço em Vitor, animada, e ele sorri se divertindo com a espontaneidade dela. - Ai gente! Tô tão feliz de tá aqui. Mas que apartamentão, hein, dona Amélia! Nem deve tá sentindo falta lá da fazenda. - Mas Lurdinha, espera! O que você tá fazendo aqui, mulher? - É, Amélia. Eu não disse nada, porque queria fazer surpresa. – Vitor diz sorrindo. – Mas eu achei que seria bom a Lurdinha cuidar do nosso apartamento. Tanto agora com a nossa viagem, quanto pro resto dos dias. Afinal, a Manuela nem pára na fazenda, tem tantos empregados por lá, e a gente aqui, sem ninguém. - Meu Deus. Eu... – Amélia não consegue terminar de falar pois Lurdinha a interrompe, quase aos prantos: - Ai, dona Amélia. A senhora não gostou da ideia, não? Amélia fica séria e quieta por um instante e de repente abre um enorme sorriso: - Lurdinha, não chora! Vem aqui. – Amélia a abraça e todos começam a rir. – É claro que eu amei a ideia. Eu tava morrendo de saudade do seu cafezinho! - Ai, dona Amélia, que coisa boa. Eu também tô tão feliz de ficar aqui com a senhora, com o seu Vitor, numa chiqueza só, né. Vou ser empregada da cidade grande, a Aspásia vai morrer de inveja! - Ai, Lurdinha, só você mesmo! – Amélia sorri enquanto abraça Vitor. Vitor e Amélia deixam o apartamento aos cuidados de Lurdinha e seguem para o hotel de Paulo, de onde pegarão um vôo para o Jalapão. Chegando no Jalapão, eles vão direto para o hotel, se arrumam e seguem para a sede da Rurbana. Lá, algumas artesãs locais contratadas por eles, trabalham com a matéria-prima e aprimoram as joias que são feitas pelas artesãs de Girassol. - E então, Paulo? Gostando? – Amélia pergunta. - Demais, Amélia. Estou achando isso tudo incrível. E os seus desenhos são geniais. Amélia sorri e agradece Paulo, e os três seguem observando o trabalho artesanal. Paulo fica dois dias no Jalapão e segue para Juruanã: - Foi muito bom ter essa experiência aqui com vocês. Estou realmente muito interessado nessa parceria. Espero que dê tudo certo. - Deu pra perceber sua motivação. Ficamos muito felizes com isso, e temos ótimas recomendações suas. Tem tudo pra dar certo! – Diz Vitor, apertando a mão de Paulo e se despedindo. - Até logo, Amélia. – Paulo beija o rosto de Amélia e entra no carro. Nisso, Vitor olha para Amélia sorrindo e diz: - Bom, acho que sobramos só nós dois aqui. E mais aquela cachoeira ali atrás – Vitor mostra a cachoeira para Amélia com os olhos. - Vitor! – Amélia o repreende. - Engraçado que eu não me canso dessa cachoeira. Vamos pro hotel trocar de roupa? - Você não tem jeito mesmo, não é? Pensei que depois de casado você ia sossegar! Vitor começa a rir e puxa o corpo de Amélia contra o dele:
  • 10. - Jura que você pensou isso? – Ele a beija no rosto várias vezes. – Tá enganada, madame. Depois de casado eu fiquei ainda pior! – Vitor a puxa com mais força, a encosta no carro segurando firme em sua cintura, olha nos seus olhos e a beija intensamente. Depois de passarem o dia na cachoeira, os dois retornam ao hotel e descansam, logo depois seguem para Juruanã. Amélia e Vitor chegam no outro dia bem cedo: - Oi Lurdinha! Chegamos... Tudo bem por aqui? - Ô dona Amélia, seu Vitor! Tá tudo bem por aqui. O Fred acabou de sair. - Sério? Ai queria tanto ver meu filho... Tô com uma saudade enorme. – Diz Amélia sorrindo. - Calma meu amor, vamos amanhã mesmo pra Girassol e você mata sua saudade! - Ai é mesmo? Cês vão pra Girassol? Posso ir junto só pra contar as novidade aqui da cidade pra Aspásia? Vitor começa a rir: - Ai, Lurdinha, pode sim. A gente te leva. Mas com uma condição. - Qual? - Pára de me chamar de seu Vitor, por favor. Lurdinha começa a rir sem graça: - Ah tá. É a força do hábito, sabe. Amélia e Vitor riem e vão para o quarto. - Ai, deu pra cansar, hein. Tô exausta. - Eu também. Mas foi bom... Acho que essa sociedade com o Paulo vai pra frente né? - É... Tomara! E você? Vai ainda hoje no frigorífico? - Sim, só o tempo de tomar um banho. Amélia acaricia o rosto de Vitor: - Espera mais um tempo e descansa, meu amor. A viagem foi cansativa. Vitor beija as mãos de Amélia com os olhos fechados: - Hum, só se você ficar aqui do meu lado na cama, descansando comigo! – Vitor diz de um jeito travesso, fixando o olhar em Amélia. - Sei! Vitor sorri e a beija com carinho nos lábios: - Por que você não vem tomar esse banho comigo? - Não senhor, vai você antes. Vou arrumando a nossa outra mala pra Girassol! - Ahn... - Vitor faz uma cara de insatisfação e vai até o banheiro, falando com a voz em tom mais alto: - Preciso ligar depois pro Paulo combinando um horário amanhã pra irmos juntos. - Certo. Vou também avisar a Manu pra preparar os quartos na fazenda. - Ok. – Vitor abre o chuveiro e Amélia segue arrumando as malas. Depois do banho Vitor aparece no quarto secando o cabelo com uma toalha e outra enrolada na cintura. - Meu amor. Você devia ter pedido pra Lurdinha arrumar essas coisas. - Já terminei. São poucas coisas pra mudar na mala. - Hum. Mas você tá cansada. Vai tomar seu banho que eu te espero aqui sentadinho tá?
  • 11. Amélia sorri e beija Vitor rapidamente, mas ele a puxa de volta, segura sua nuca com fervor e a beija por um bom tempo, deixando-a sem fôlego: - Você é impossível, hein! Desse jeito não vou conseguir fazer nada. - Ah, meu Deus, não resisto. Fica cada dia mais difícil resistir a você! Vitor a olha de cima abaixo segurando seu rosto com as duas mãos, até que ela se desprende, beija as mãos dele e segue até o banheiro dizendo: - Te amo! Vitor diz o mesmo piscando para ela. Ao terminar o banho, Amélia sai do banheiro vestida com um roupão de seda rosa claro e os cabelos molhados. Vitor, vestido apenas com uma bermuda, se aproxima de Amélia: - Adoro quando você sai do banho! Ela sorri e retribui os carinhos de Vitor quando o telefone do quarto toca. - Ah não, já tô ficando com trauma desse telefone. – Vitor reclama. - Atende! – Amélia diz, se divertindo. - Alô! Opa, oi, Paulo. E aí? Claro, podemos marcar lá sim. Te pego amanhã então, às 8 da manhã. Tchau, tchau. Vitor desliga: - Era o Paulo combinando o local pra encontrarmos. - Hum. Tudo certo então pra amanhã? - Sim, vamos pra Girassol matar as saudades do pessoal! - Não vejo a hora! Vitor se aproxima da porta e a tranca, vai até Amélia, desfaz o laço de seu roupão que cai no chão, e os dois se beijam apaixonadamente e se amam até a hora de Vitor ir para o frigorífico. VII Ao chegar do frigorífico, Vitor encontra Amélia conversando com Lurdinha e fazendo seus desenhos no sofá da sala: - Oi família! – Diz Vitor sorrindo e se aproximando para dar um beijo em Amélia. - Oi, meu amor! Pensei que você ia demorar mais por lá. - Ah é? Já tá querendo se ver livre de mim, é? - Ai, seu Vitor... Quer dizer, Vitor! Não fala assim não. A dona Amélia não parou de falar em você, na beleza que foi a lua-de-mel lá no Jalapão. - Então tudo bem. Tá perdoada. – Vitor senta no braço do sofá e beija Amélia novamente. Depois pega um dos desenhos: - Olha só esses desenhos, cada dia mais caprichado, hein! - Sério? Gostou? - Sou suspeito pra falar. Mas pra mim você é a designer mais talentosa desse mundo. Amélia sorri e acaricia o braço de Vitor. - Eu tô indo fazer o jantar então – avisa a empregada. - Vai lá Lurdinha, tô morrendo de fome! – Diz Vitor sorrindo. - Vitor, a dona Amélia me passou um cardápio só com o seu gosto, sabia? - Jura? Assim eu vou ficar mal acostumado. Eu tinha certeza que ia ser um bom negócio te trazer pra cá, Lurdinha! Todos começam a rir e Lurdinha vai para a cozinha preparar o jantar do casal.
  • 12. - Tava com uma saudade dessa Lurdinha! – Diz Amélia sorrindo. - Pois é, eu também! Uma figura. À noite após o jantar, Lurdinha vai para o quarto de empregados e deixa Vitor e Amélia a sós. Os dois tomam vinho juntos na sala ao som de “Tonight” – Amélia encosta-se no peitoral de Vitor que acaricia os cabelos dela enquanto toma seu vinho: - Sabia que você tá linda hoje? - Hum. São seus olhos. – Ela sorri. Vitor enrosca seus dedos nos cabelos de Amélia, a admirando, e ela diz: - Acho melhor a gente ir dormir, senão esse vinho não vai deixar a gente levantar amanhã! - Mas já? Espera só mais um pouco... Vem cá. Vitor se levanta, tira a taça de vinho das mãos de Amélia e a puxa para o centro da sala: - Dança comigo! Amélia sorri e deixa Vitor a conduzir. Ele a prende em seus braços, balançando seu corpo junto ao dela. Seguindo o ritmo da música ele sussurra no ouvido de Amélia e beija seu pescoço: - Eu te amo tanto... Sou louco por você. Os dois continuam dançando abraçados e Amélia apenas fecha seus olhos sentindo a respiração de Vitor em sua nuca. Vitor se desprende de Amélia e a puxa pela mão, desliga o som e a leva até o quarto... Já é de manhã e o casal está na mesa posta por Lurdinha, tomando o café da manhã: - Hum, o Paulo me ligou quando você estava no banho. Falei que já estávamos indo pro hotel. – Diz Vitor, tomando o seu café rapidamente. - Calma, meu amor. Come direito. Ainda tem tempo. - Eu sei, é que fiquei de ligar também pra Fátima. Preciso passar umas coordenadas pra ela antes de viajarmos. - Tudo bem. Mas toma seu café antes. – Amélia toca a mão de Vitor sobre a mesa. - Te amo, sabia? Vitor levanta rapidamente e vai até a cadeira de Amélia, a beija no rosto e segue para a sala com o celular nas mãos. - Ah, mas que amor! - Diz Lurdinha encantada. Amélia começa a sorrir. Depois de um tempo, Vitor consegue falar com Fátima e termina de se arrumar. Amélia e Lurdinha fecham o apartamento e os três seguem até o hotel de Paulo. Chegando no hotel, Paulo já estava na porta esperando pelo casal: - Olá! Bom dia. - Bom dia! Vou te ajudar com a mala. – diz Vitor o cumprimentando. Vitor coloca a bagagem no porta-malas e os dois entram no carro. Paulo senta no banco da frente junto com Vitor, olha para trás e cumprimenta Amélia e Lurdinha.
  • 13. A viagem é curta e Vitor pára o carro em frente ao armazém. Paulo fica admirado com Girassol: - Mas que cidade ótima. Aconchegante. Vitor concorda: - Pois é. Tudo isso foi construído com a ajuda de cada um que mora nessa cidade, e claro, com a iniciativa do Solano. Você vai conhecê-lo. - Ótimo! Ao chegarem, são recepcionados por Janaína, Fred e Terê. Amélia abraça todos, matando as saudades. Depois de beberem um suco no armazém e de apresentarem Paulo já como o novo sócio da Rurbana, eles seguem para a fazenda. - Mãe! Que saudade! – Manuela abraça a mãe assim que ela chega na fazenda. - Oi, filha! Eu também tava morrendo de saudades de você! Deixa eu te ver... – Amélia segura as mãos de Manu e a olha com brilho nos olhos. - A senhora tá cada dia mais linda hein, dona Amélia. Será que é o amor? Vitor as interrompe: - Pode ter certeza que sim, Manu! - Ah, que fofo! – Diz Manu sorrindo. - Bom, esquecemos de fazer as apresentações. Esse é o Paulo, nosso mais novo sócio na Rurbana. – Vitor apresenta Paulo a Manu. - Ah, você que é o famoso Paulo? O Rudy fala muito em você. Prazer. - Espero que fale bem! Prazer. – Paulo sorri e aperta a mão de Manu. - Sim, tenho certeza que minha mãe e o Vitor fizeram muito bem em aceitar essa parceria. - Fico grato pela confiança. Estou adorando fazer parte desse negócio. Sua mãe tem um talento e uma delicadeza pras jóias que nunca havia visto antes, e o tino pros negócios o Vitor tem de sobra. Só temos a ganhar! Todos sorriem animados até que Lurdinha os interrompe: - Gente, enquanto cês conversavam eu já preparei um cafezinho. - Nossa, que eficiência, Lurdinha. Nem bem me falou oi e já foi pra cozinha! – Diz Manu, se divertindo. - Claro! Tava sentindo falta da minha cozinha aqui na fazenda! - Que é isso, Lurdinha, agora sua cozinha é outra. Lá em Juruanã. – Vitor a repreende. - Eu sei, Vitor! Agora eu tenho duas cozinhas e um monte de patrão. Até meu salário aumentou! Todos se divertem com Lurdinha enquanto tomam o café. Nesse instante, Rudy chega na fazenda e cumprimenta todos, principalmente Paulo que é um grande amigo de infância: - E aí cara? Quanto tempo. Fiquei muito feliz dessa parceria ter dado certo. - Eu também, meu amigo! Tô adorando tudo isso aqui, e tenho que te agradecer muito pela oportunidade. - Imagina! E eu tenho certeza que o Vitor e a Amélia vão colocar você nos eixos e aproveitar bem esse teu talento pros negócios. - Colocar nos eixos? – Pergunta Manuela, curiosa.
  • 14. - É, esse cara aqui é muito responsável profissionalmente, mas precisa ser fisgado por alguém pra sossegar essa vida social. - Que isso. Pára de inventar. – Diz Paulo, sorrindo junto com Rudy e os demais. VIII Mais tarde todos jantam juntos na fazenda e depois tomam um vinho na sala. Amélia está sentada no sofá ao lado de Vitor com uma das suas mãos sobre a perna dele, enquanto ele a envolve com os braços. Ela então coloca a taça na mesa e diz: - Bom, acho que já vou indo. Estou exausta. Vitor a beija no rosto: - Também vou indo com você. Quando os dois se levantam, todos levantam também e seguem para os quartos. Amélia e Vitor tomam um banho e vão para a cama. Vitor começa a ler um livro com seus óculos de grau e Amélia lembra que esqueceu de pegar um copo de água na cozinha: - Vou na cozinha, meu amor, já volto. - Tá. Volta logo! – Vitor a olha fixamente, a puxa pelo braço quando ela se levanta e a beija. Amélia retribui e sai do quarto olhando para ele, sorrindo. - Linda! – Ele diz, antes de Amélia sair. Todos já estavam dormindo e a luz da cozinha estava apagada, quando de repente Amélia se choca com alguém ao tentar acender a luz. A outra pessoa a segura pelo braço com o susto, e acende a luz: - Amélia! - Meu Deus, que susto... Paulo?! – Amélia pergunta, ainda confusa com o susto que levou. - Me desculpa, eu não tinha te visto. – Paulo começa a atropelar as palavras, sem graça, e continua segurando o braço de Amélia. - Tudo bem. – Amélia olha para seu braço e Paulo logo a solta, sem ter reparado que a estava segurando por tanto tempo. - Desculpa, me desculpa... - Paulo começa a rir e Amélia também. - É... eu vim pegar um copo de água. – Diz Amélia, ajeitando a manga de seu roupão. - Eu também. – Paulo a olha encantado, mas logo tenta disfarçar. Amélia pega o copo e logo sobe para o quarto, se despedindo de Paulo: - Boa noite, então... - Boa noite, Amélia. E me desculpa mais uma vez. - Imagina... Paulo fica sozinho na cozinha e sorri, sem controlar seus pensamentos em Amélia naquela noite. Mas logo se auto-reprime, dizendo em voz alta: - Pára com isso, Paulo. Pelo amor de Deus.
  • 15. Dois dias se passam e Vitor tem que retornar para Juruanã por conta do frigorífico. Amélia diz que vai junto, mas Vitor não concorda: - Meu amor, acho interessante você ficar com o Paulo por aqui. Pelo menos até o final da semana... pra ele entender melhor o trabalho das artesãs, se familiarizar. - Tudo bem. – Amélia diz, um pouco desanimada. - Eu vou morrer de saudade de você. – Vitor acaricia o rosto de Amélia. – Se quiser eu fico aqui e... - Não, de jeito algum. Você precisa resolver os problemas do frigorífico, não vou te prender. - Prender? Pára com isso, hein. Você é minha mulher, esqueceu? Os dois começam a rir e Vitor a beija segurando sua nuca com força: - Te amo tanto. Se eu pudesse viveria só de amor. Te amando pra sempre. - Eu também te amo. Os dois se beijam novamente quando de repente Paulo aparece e os interrompe: - Vitor eu... Opa. Desculpa. Vitor e Amélia se afastam, assustados: - Imagina. Entra aí Paulo... É que você sabe né, com uma mulher linda dessas por perto todo dia, ninguém resiste. Paulo sorri sem graça e Amélia abraça Vitor dizendo: - Bobo! - É, então... eu vim saber quanto tempo vamos ficar por aqui. Quando o escritório vai inaugurar... – Paulo não consegue tirar os olhos de Amélia, tentando sempre disfarçar seu interesse. - Pois é, estávamos conversando justamente sobre isso antes de você nos flagrar! – Vitor sorri e continua: – Eu vou ter que voltar pro frigorífico mais cedo, mas acho interessante você e a Amélia ficarem por aqui até o final da semana. Sexta-feira as artesãs já terminam uma boa parte das jóias, e a gente tem que levar pro Jalapão. - Perfeito! – Paulo se anima com a idéia de ficar mais tempo em Girassol. - Fechado então. Vou arrumar minhas coisas. – Diz Vitor, saindo do escritório. - Eu te ajudo. – Amélia e Vitor sobem para o quarto e se despedem de Paulo: - Até logo. – Paulo se despede e segue Amélia com os olhos, sem que Vitor perceba, quando de repente: - Seu Paulo!!! - Ah, que susto, Lurdinha! - Ô, o senhor me desculpa. Não queria te assustar não... Cê quer um cafezinho? – Diz Lurdinha tentando flertar com Paulo. - Obrigado, Lurdinha, agora não.- Paulo sorri e também sobe para o seu quarto. Chegando no quarto, Paulo pensa consigo mesmo: - Droga. Eu não podia tá interessado nessa mulher... – Ele faz uma pausa e diz: - E que mulher... Nesse instante batem na porta: - Já vai. Oi, Vitor. - E aí cara? Desculpa incomodar, é que já estou indo pra Juruanã. Venho buscar vocês na outra semana. - Ótimo. Combinado então. Os dois apertam as mãos e Vitor, que já estava saindo, retorna:
  • 16. - Ah, mais uma coisa. Cuida bem da Amélia, hein. – Ele começa a rir e toca o ombro de Paulo. - Tá certo. – Paulo sorri sem graça. - Até mais. Paulo coloca a mão na cabeça, preocupado consigo mesmo, e diz: - Se controla, cara. Se controla. IX Já é sexta-feira e todos se reúnem na sala depois do almoço: - Bom, onde vamos hoje? – Pergunta Paulo para Amélia, Manu e Rudy. - Hum, eu e o Rudy marcamos uma fugidinha pra um banho de rio! – Manu e Rudy se abraçam sorrindo. Amélia sorri também e diz: - Então eu acho que vamos ter que trabalhar sozinhos, Paulo. - Tudo bem... - Paulo diz com um leve sorriso no rosto quando Rudy o interrompe: - Trabalho é o nome do Paulo! - Menos... Todos começam a rir e se dividem. Amélia sai conversando com Paulo: - Vamos passar na casa da Pérola, as artesãs estão reunidas por lá. - Ok! Posso ir dirigindo? - Tudo bem. Chegando na casa de Pérola, Paulo e Amélia conversam no sofá analisando alguns papéis de exportação. Ele não consegue tirar os olhos de Amélia, porém ela não percebe nenhum sinal das investidas... Pérola está conversando com as artesãs quando repara em Paulo e faz uma feição preocupada. Mas evita comentar com Amélia, temendo ser apenas impressão. No meio da conversa Amélia interrompe Paulo: - Ai, desculpa, Paulo. Preciso ligar pro Vitor. Tô morrendo de saudades. – Ela sorri. - Tudo bem. Vai lá. – Paulo diz com um sorriso forçado no rosto. - Alô, meu amor? Tudo bem? Em Juruanã, Vitor responde: - Mais ou menos, tô sentindo tanto sua falta. Que idéia a minha ter te deixado tanto tempo longe. - Eu também estou morrendo de saudades, meu amor. Mas hoje ainda eu estou aí, umas 17 horas. - Como assim? Eu vou até aí buscar vocês. - Pensei que você tivesse que ficar no frigorífico. - Não, não. A Fátima vai cuidar de tudo. Você acha que vou deixar você voltar sozinha? - Posso pedir pra Manu nos levar. - Nada disso. Eu vou... Me esperem aí. - Tudo bem, te espero ansiosa! - Te amo. - Te amo também – Amélia diz sorrindo com os olhos brilhando. - Ah, espera, não desliga. – Vitor quase grita ao telefone.
  • 17. - O quê? - Nada, queria só ouvir mais um pouco sua voz! - Bobo você! Os dois começam a rir e Vitor diz, animado: - Olha só, quando a gente chegar em Juruanã e ficarmos sozinhos eu quero... - Vitor! - O que foi? - Depois a gente conversa sobre isso. Vitor começa a rir e os dois se despedem. Paulo observa Amélia e comenta: - Bonito o casamento de vocês. - Ah, pois é. A gente passou por muita coisa até ficarmos bem. - Sério? Bom, pelo menos valeu a pena, né. - Com certeza. O Vitor é um anjo na minha vida... o homem da minha vida. Paulo olha para baixo e sorri, disfarçando seu incômodo com as palavras de Amélia. - Bom, mas vou parar de falar, senão você fica enjoado. É que eu não canso de falar nele, e enfim... - Amélia ri, sem graça. - Imagina. Eu acho que sei como é... Nesse momento, Pérola se aproxima dos dois mostrando as jóias já prontas: - Dona Amélia, olha só. Terminamos uma boa parte pra senhora levar pro Jalapão. - Que ótimo, querida! Viu só, Paulo? Essas minhas artesãs são as melhores! - É, estou vendo mesmo! Estão lindas essas peças. – Paulo pega uma das peças nas mãos e a admira. - Imagina, a senhora é que é talentosa demais. – Diz Pérola pegando nas mãos de Amélia. Paulo concorda: - É, não canso de dizer que a Amélia é excepcional. Nunca tinha visto antes uma facilidade em desenhar assim. É tudo tão perfeito! - Ai, gente, pode parar. Assim eu fico sem graça. Pérola sorri e fica cada vez mais desconfiada dos elogios de Paulo. Amélia e Paulo se despedem de Pérola e das mulheres dos assentados e seguem para a fazenda, conversando sobre a Rurbana no decorrer do trajeto. Chegando lá, Vitor já os esperava na sala: - Meu amor! – Amélia diz sorridente, vai correndo até ele e os dois se beijam. - Nossa, que saudade que eu tava de você! – Vitor a olha como se a fosse devorar com os olhos, sem se importar com os demais ao redor. Manu começa a rir e os dois então se desprendem: - Desculpa gente, não posso ficar um segundo longe dessa mulher, imagina uma semana! - Ah, que lindo! – Rudy brinca com Vitor. - Bom, mas e aí? Como está tudo por aqui? - Ótimo. Fiquei fascinado com tudo que vi. – Paulo se anima ao falar. – Já pegamos as peças novas e agora é só levar pras artesãs do Jalapão. Vitor abraça Amélia ao falar:
  • 18. - Perfeito! Eu acabei de passar no escritório, dei uma arrumada por lá. Já podemos inaugurar. - Que bom, meu amor! Não vejo a hora de começar a trabalhar. – Amélia o beija de leve nos lábios. Paulo resolve subir para arrumar as malas: - Bom, vou subir. Falta arrumar algumas coisas. - Tudo bem. – Diz Vitor. – E você, meu amor? Tudo pronto? - Sim, a Lurdinha já arrumou tudo. - Ai, mãe, vou ficar com saudades de novo. – Manu abraça a mãe. - Ô, minha filha! Você sabe o nosso endereço hein. Você me visitou tão poucas vezes. - Eu sei, eu sei. Mea culpa, dona Amélia. Prometo que eu e o Rudy vamos com mais freqüência né? - Claro! Aproveito e conheço o escritório. Tô curioso. - Isso, apareçam por lá mesmo, hein? – Amélia retribui o abraço da filha que se desprende dela e diz: - Bom, vou lá fora esperar o Fred. Vamos Rudy? - “Vambora”! Nesse momento, Amélia e Vitor ficam sozinhos na sala. Vitor olha Amélia de longe e vai se aproximando. Ele a observa apaixonadamente, como se estivessem há muito tempo longe um do outro. Ela morde os lábios e sorri, até que ele alcança as mãos de Amélia e as leva na sua cintura, a abraçando com força e desejo. Ele sente o perfume de Amélia com os olhos fechados, a beija devagar por todos os pontos de seu pescoço, chegando até seus lábios. Os dois se beijam com fervor, matando as saudades e o intenso desejo. X Vitor, Amélia, Paulo e Lurdinha já estão prontos para voltar à Juruanã. Amélia se despede dos filhos com um beijo: - Vou morrer de saudades! Não sumam de mim, hein? - Pode deixar, dona Amélia. A gente não vive sem você! – Fred a abraça com carinho. Os quatro entram no carro e partem. Vitor deixa Paulo no hotel e os três seguem para o apartamento. Chegando, Lurdinha vai para o quarto arrumar suas coisas e Vitor e Amélia vão logo para a suíte do casal. Vitor coloca as malas rapidamente no chão, fecha a porta e diz para Amélia: - Finalmente! Não agüentava mais ficar perto de você sem poder te tocar. – Ele se aproxima e segura o rosto de Amélia. – Sem te beijar... Vitor olha para os lábios de Amélia, não resiste e a beija com paixão. Ele vai tirando a blusa de Amélia com cuidado, descendo seus lábios até o pescoço dela. Amélia fecha os olhos e deixa Vitor a conduzir até a cama. Os dois se amam, cheios de saudade. No dia seguinte, Vitor acompanha Amélia até o escritório. Chegando lá, Paulo já os esperavam na porta. - E aí, cara? Já chegou? – Pergunta Vitor, cumprimentando Paulo.
  • 19. - Pois é. Tô ansioso pra começar logo. Bom dia, Amélia. - Bom dia! - Vamos entrar, então. – Vitor abre a porta e todos ficam maravilhados com a decoração do local. - Meu Deus! Vocês capricharam enquanto estávamos fora! Adorei tudo. - Muito bacana! – Paulo concorda e fixa o olhar em Amélia. Nesse momento, sem que Paulo percebesse, Vitor repara o olhar do sócio e estranha. Mas logo é despertado por Amélia: - Amor, e como está lá em cima? Quero ver como ficou aquela vista maravilhosa do terraço. - Ah claro. Vamos subir. – Vitor diz, ainda incomodado. Os três passam a tarde conversando sobre os negócios da Rurbana e Vitor acaba fazendo um esforço para esquecer o olhar fixo de Paulo em Amélia, torcendo para ter sido apenas impressão ou ciúmes natural de recém-casado. As semanas se passam e Vitor fica cada dia mais atarefado no frigorífico, vendo Amélia somente de manhã e no final da tarde. Amélia também está a mil por hora com os negócios da Rurbana, e a rede de jóias cresce cada vez mais com a sociedade feita com Paulo. Ele consegue abrir filiais e exportar um grande número de peças, tornando a empresa ainda mais conhecida no mundo todo. Vitor continua vendo de perto os negócios da empresa com Amélia, porém, quando chegam em casa, ficam exaustos para comentar sobre trabalho. Já é noite e Vitor e Amélia estão no quarto. Amélia tira os sapatos assim que chega do trabalho – depois de Vitor: - E aí? Como andam as coisas na Rurbana? - Tudo certo. Um pouco corrido... Alguns fornecedores atrasaram a entrega de algumas peças, por isso demorei hoje. - Hum. E o Paulo? Tá se saindo bem? - Sim, cada dia melhor nas negociações. - É, preciso conversar melhor com ele, acabei me distanciando. - E o frigorífico? - Tudo certo. Os mesmos problemas de sempre... contornáveis. - Sei... Bom, vou tomar um banho. Me espera? - Claro. Vem logo tá?! Ultimamente a gente anda esquecendo até de tomar banho juntos. – Vitor sorri para Amélia que se aproxima dele e beija seus lábios rapidamente. - Outro dia a gente faz isso! Vitor logo pára de sorrir assim que Amélia entra no banheiro, sentindo uma distância que ele tanto temia nos últimos dias. Quando Amélia volta do banho, Vitor desliga o laptop que estava em seu colo e coloca na mesinha ao lado da cama. Ele espera Amélia passar o creme no corpo como faz todas as noites e deitar ao seu lado. Nisso, ele se aproxima e a beija devagar. O beijo vai se intensificando e Vitor vai tirando a camisola dela ao mesmo tempo que ela prende seus dedos em suas costas, sem camisa. Mas os dois são interrompidos com o telefone: - Droga. Quem será? – Vitor reclama.
  • 20. - Espera, vou atender... – Amélia se levanta e alcança o telefone ao lado da cama. - Alô? Oi... Paulo? Aconteceu alguma coisa? Vitor sente o sangue subir mas faz de tudo para conter os ciúmes. Depois de um tempo conversando, Amélia desliga o telefone e Vitor pergunta: - O que aconteceu? - Nada demais. O Paulo acabou esquecendo a senha pra desligar o computador do escritório. Ele teve que ficar até mais tarde por lá. - Ah tá. E você confia nele o bastante pra dar a chave, pra ele ficar lá até essa hora? - Ué. Você não confia? - Não, não é isso. – Vitor engasga ao falar. – Sei lá, eu não ando tendo muito contato com ele ultimamente. - Não se preocupa, meu amor. O Paulo é bastante responsável e é amigo de infância do Rudy. Ele não faria nada. - É, eu sei, foi bobagem minha, esquece... Agora vem aqui, não pensa que eu esqueci aonde a gente estava... – Vitor puxa o corpo de Amélia contra o dele e a beija novamente, dizendo: - Te amo tanto. Ele termina de tirar a camisola de Amélia e os dois se amam a noite toda. XI No dia seguinte, no café da manhã, Vitor faz um convite à Amélia: - Amor, que tal se a gente sair hoje a noite pra jantar, naquele restaurante ao lado do escritório? Faz tanto tempo que a gente não faz isso né? - É verdade! É claro que eu topo! Que horas você estava pensando? - Bom, acredito que até umas 20 horas eu estou lá. - Combinado. 20 horas eu saio do escritório e vou direto pra lá. Vitor deixa Amélia no trabalho e no mesmo instante Paulo chega também. - E aí, Vitor, tudo bem? - Tudo ótimo! Vim trazer a empresária pro trabalho. - Sei! Bom dia, sócia. - Bom dia, Paulo. Vitor interrompe o cumprimento dos dois e diz: - Faz tempo que eu não acompanho de perto os negócios da Rurbana. Qualquer dia desses eu dou uma passada por aqui com calma. - Faz isso sim, cara. Tá tudo indo muito bem. Acho que a Amélia comentou né, o aumento das vendas, exportações. - Sim, claro. Fico muito feliz com isso. Paulo sorri e bate nas costas de Vitor que se despede de Amélia com um beijo: - Até mais tarde, hein? - Até! Te amo! Amélia acompanha Vitor ir embora com os olhos brilhando até que Paulo lhe diz: - Vamos entrar? – Ele aponta a mão para que Amélia entre. Ela vai na frente e Paulo toca seu ombro indo atrás dela. Vitor passa de carro e vê a cena. A tarde passa rapidamente e Vitor já fica ansioso para o jantar com Amélia:
  • 21. - Bom, Fátima, acho que já está tudo certo, né? - Sim, Vitor! Fica despreocupado. Hoje você ficou o dia todo bastante agitado né... – Fátima sorri. - É, Fátima. Não vejo a hora de encontrar a Amélia, nunca senti isso por ninguém, é impressionante! - Nunca te vi assim mesmo! Que bom, eu acho vocês dois um casal maravilhoso. - Obrigado, Fátima. Agora já vou indo... encontrar... Fátima o interrompe, animada: - Vai logo, Vitor! Não faz sua mulher esperar! Vitor pega a chave do carro, sua carteira e sai apressado do frigorífico enquanto Fátima o observa sorridente. Enquanto isso, Amélia está sob pressão de um fornecedor ao telefone, desliga e logo se queixa com Paulo, que estava trabalhando no computador: - Não agüento isso, Paulo. Falei mil vezes o local pras entregas, e mesmo assim atrasaram. - Calma, Amélia, vamos dar um jeito nisso. Você está muito cansada hoje. Acho melhor te levar pra casa. - Tudo bem, vou aceitar. Preciso mesmo de um banho, descansar... - Isso. Só o tempo de desligar o computador e já vamos. - Ok. Amélia, muito estressada e preocupada com o atraso na entrega do capim- dourado e outras matérias-primas para a confeccção das jóias, acaba se esquecendo do encontro que havia marcado com Vitor. - Vamos? Já fechei tudo. – Diz Paulo apontando a porta para Amélia. - Sim, vamos. Enquanto isso no restaurante ao lado, Vitor já está sentado na mesa esperando Amélia. Como ainda não são 20 horas ele aguarda tomando um copo de vinho. Nesse momento, Paulo já estaciona em frente o apartamento de Amélia e desliga o carro. Amélia agradece, já saindo: - Obrigada pela carona, Paulo, nos vemos amanhã. Boa noite. Paulo tira o cinto de segurança e puxa levemente o braço de Amélia: - Espera. Amélia pára e olha para ele: - Sim? - Amélia, eu... Bom, eu queria dizer que estou muito feliz em fazer parte desse projeto com vocês. Amélia sorri com uma feição cansada, e responde educadamente Paulo: - Eu também estou, Paulo. Só estou um pouco cansada... Acho que talvez eu tenha exagerado na tentativa de sair tudo perfeito. E acabei me estressando e até descontando em você algumas vezes. Me desculpa. - Imagina. Não fala assim... Estamos indo muito bem, e amanhã é outro dia. Você vai estar melhor. - Espero que sim! Paulo sorri e depois fixa seu olhar nos lábios de Amélia. Ela, sem perceber, sorri também e se despede já abrindo a porta: - Até mais, Paulo. Boa noite. - Boa noite. – Paulo responde desanimado.
  • 22. Nesse momento o telefone de Paulo toca: - Alô? Oi, Rudy, e aí? Rudy responde: - Tudo bem. Cara, precisava conversar sério com você, por isso te liguei. - Pode falar. - É o seguinte. A Pérola veio falar comigo esses dias e comentou que sentiu um interesse seu pela Amélia. Isso é sério, cara? XII - Que é isso? Como assim? - Olha só, o negócio tá complicando, Paulo. Olha lá o que você tá fazendo. Eu confiei em você. Você é um ótimo profissional e... - Espera aí, Rudy, calma. Deixa eu falar. – Paulo se altera com os comentários de Rudy. – Eu não sei como esse boato foi chegar até aí. Imagina se isso vai parar nos ouvidos do Vitor... - Pois é, por isso te liguei, pra saber melhor, pra te alertar. Parece que a Lurdinha também comentou isso com a outra empregada aqui de Girassol e a fofoca tá se espalhando. - Meu Deus! Não acredito nisso... Rudy, eu vou ser sincero, algumas vezes eu não consegui controlar meu interesse, mas nunca fiz nada. Isso não pode chegar nos ouvidos da Amélia e nem do Vitor. - Cara, eu confiei em você. Se segura, meu irmão. Presta atenção no que você vai fazer. A Amélia não merece sofrer por bobagem, e nem o Vitor. Você não sabe o que esses dois passaram pra ficarem juntos. - Eu sei, eu sei. Não aconteceu nada. - E nem vai acontecer! Tá maluco, cara? Você vai me jurar agora que vai desfazer esse engano antes que isso tome uma proporção maior. - Mas o que eu posso fazer?! – Diz Paulo, nervoso - Eu sempre soube que nunca teria chances. E eu não faria nada contra o Vitor, nem faria a Amélia sofrer. Seria uma burrice, sempre guardei isso pra mim. - Pois é, agora você se vira Paulo. Numa boa, o melhor é você se distanciar da Amélia, não ficar mais ao lado dela no escritório, porque pelo jeito você não tá conseguindo guardar isso só pra você né? Tenta trabalhar em casa, sei lá... - Não tem jeito, sem chances... Rudy, preciso desligar, estou no trânsito. Por favor, tenta contornar isso aí em Girassol. Te mando notícias... - Tudo bem. Mas se eu souber de alguma coisa pior, Paulo, eu vou ser o primeiro a aceitar que você se desligue dessa sociedade – Rudy diz, insatisfeito. - Fica tranqüilo. Nada vai acontecer. Paulo desliga, olha o apartamento de Amélia e segue nervoso para casa. Em Girassol, somente Manu, Rudy, Pérola e Aspásia sabem do boato sobre Paulo e Amélia e tentam segurá-lo para que não se espalhe. Rudy conversa com Manu e garante que não aconteceu nada. Eles decidem não tocar no assunto com Amélia ou Vitor por enquanto. Já passava das 20 horas e 30 minutos e Vitor começa a ficar preocupado. Ele tenta insistentemente ligar para o escritório e para o celular de Amélia, mas
  • 23. ninguém atendia. Amélia havia deixado o celular desligado e com todo o stress nem lembrou de ligá-lo. Vitor então decide ligar para Paulo: - Alô! Paulo? Até que enfim! - O... Oi Vitor. – Paulo gagueja ao falar, temendo o motivo pelo qual Vitor telefonava para ele. - Cara, estou tentando falar com vocês no escritório faz um tempão. Aconteceu alguma coisa aí com o telefone? - Ué, não. Nós já saímos do escritório Vitor. Acabei de deixar a Amélia em casa. - Como assim? - Faz uns 20 minutos que a deixei lá no apartamento. - Não é possível... – Vitor se levanta nervoso e tenta enxergar a luz apagada do escritório, logo à frente do restaurante – Acho que aconteceu um desencontro, só isso. Boa noite, Paulo, até mais. – Vitor desliga e nem espera Paulo se despedir. - Eu hein. – Paulo diz, sem entender. Vitor paga a conta do seu vinho e sai extremamente chateado com o que havia acontecido, sem conseguir imaginar um motivo para que Amélia tenha esquecido do encontro entre eles. Fica mais ainda perturbado quando não consegue conter seus pensamentos, imaginando que Amélia poderia estar com Paulo. Ele segue nervoso dirigindo seu carro até o apartamento. Chegando lá, Vitor acende a luz da sala e vai até a cozinha beber água. Ele senta na banqueta e se apóia no muro com as mãos sobre a cabeça, sem saber o que falar para Amélia ou com medo do que irá escutar. Nesse instante Lurdinha aparece de pijama: - Seu Vitor? Aconteceu alguma coisa, quer que eu faça algo, um café, um chá? - Que susto, Lurdinha! – Vitor logo se levanta. – Não, obrigado, a Amélia já chegou? - Sim, já faz um tempinho. A Dona Amélia chegou bem nervosa e se trancou no quarto. Acho que ela tá dormindo. - Obrigado, Lurdinha. Pode ir se deitar, também já vou indo. - Sim, senhor. Boa noite. Vitor vai até o quarto, abre a porta devagar e encontra Amélia dormindo. Ele vai até o banheiro e toma uma ducha fria. Voltando para o quarto, Vitor se deita ao lado dela e a olha dormir com uma feição triste, sem saber o que pensar. Nisso, ele vira para o lado e também dorme. XIII No dia seguinte, Vitor acorda e não encontra Amélia ao seu lado, quando ele se levanta encontra Amélia parada, com o rosto preocupado e muito nervosa, olhando para ele sem dizer nada. Alguns segundos se passam e Amélia diz: - Vitor! Me perdoa, ontem eu acabei me esquecendo... Eu estava tão cansada que acabei pegando no sono e... me perdoa. Ela coloca as mãos na boca aparentando um quase choro e se aproxima da cama. Vitor logo se levanta e tenta não se comover com o desespero de Amélia:
  • 24. - Por que, Amélia? Por que a gente tá se afastando tanto? - Meu amor! Me escuta... – Amélia toca o rosto de Vitor mas ele se esquiva e caminha até a penteadeira, se apoiando na cadeira, de costas para ela: - Não foi só por você ter esquecido do nosso jantar ontem. Mas foi isso e os acontecimentos todos que foram se acumulando, Amélia. Você já parou pra pensar em tudo que anda acontecendo? - Eu sei, eu sei. É que ando tão nervosa, tão... sem controle de mim mesma... – Amélia diz eufórica e chorando, segurando os braços de Vitor. – Por favor, Vitor, me perdoa. Vitor a olha com amor e tristeza ao mesmo tempo. Tenta resistir à vontade de tocá-la no rosto e de ampará-la, mas o nervosismo e o ciúmes falam mais alto: - Amélia... Eu não agüento mais! Não agüento mais essa nossa falta de diálogo, a sua correria com a Rurbana, junto com... esse seu sócio. - O que você quer dizer com isso? - Exatamente o que eu disse. - Não estou entendendo. O jeito com que você fala sobre o Paulo faz parecer... - Olha, Amélia. Eu acho melhor a gente... - O quê? Melhor a gente acabar com tudo, é isso? - Você quem está dizendo... – Vitor fica o tempo todo de costas. - Eu não acredito no que estou ouvindo... – Amélia olha para Vitor, incrédula, e continua - Vitor, eu entendo que não existe justificativa pro meu esquecimento de ontem, mas dizer que isso tudo é só culpa minha... – Amélia tira as mãos do braço de Vitor e continua. – Essa correria e falta de diálogo foram de ambas as partes, não se esqueça disso. Amélia termina a conversa ali e se tranca no banheiro. Vitor chuta a cadeira: - Droga, droga! Amélia chora muito durante o banho, sem acreditar ainda na sua discussão com Vitor e no seu esquecimento na noite anterior. Não sabia se se sentia culpada ou injustiçada pelas desconfianças de Vitor. Depois do banho ela sai do boxe e sente uma tontura, se apóia na parede e logo depois sente náuseas: - Meu Deus, o que é isso? Ela logo imagina que deva ser a tensão causada pelo stress e pela briga com Vitor, se senta e tenta fazer com que sua pressão volte ao normal. Quando Amélia sai do quarto encontra Vitor na copa terminando o café da manhã junto com Lurdinha, que o servia. Ela senta à mesa e os dois ficam calados. Lurdinha faz uma cara desconfiada e vai para a cozinha. - Eu já vou indo. Depois eu passo no escritório pra te buscar, pode ser? – Vitor pergunta, sério. - Tudo bem. – Amélia fica observando Vitor sair chateado. Lurdinha aparece e pergunta: - Dona Amélia, a senhora tá bem? - Não, Lurdinha, tá tudo péssimo. Péssimo. Amélia vai para o quarto, pega sua bolsa, a chave do seu carro e sai. Vitor chega no frigorífico e mal consegue se concentrar: - E aí, Vitor, como foi o jantar? – Pergunta Fátima. Vitor respira fundo e diz:
  • 25. - Não foi. Ele sai da sala sem se explicar com Fátima, que fica sem entender. Na Rurbana, Amélia chega e Paulo a cumprimenta, animado: - Amélia! Bom dia! Você não acredita. Acabei de fechar negócio com uma importadora de Portugal! Não te falei que hoje o dia ia ser bom? - Hum. Que bom. – Amélia diz, tentando sorrir. - O que aconteceu, Amélia? Você está bem? - Ai, Paulo. Desculpa... Não vou conseguir me concentrar, mas eu precisava vir pra cá, espairecer... - O que foi? – Paulo se preocupa e se aproxima de Amélia, tocando em seu braço. Amélia começa a passar a mal e quase desmaia. Paulo a segura, desesperado: - Amélia, Amélia. O que foi? Você está bem? Senta aqui... - Nada... Foi só um mal estar, já passou... - Você está pálida. Vou te levar pro hospital. - Não precisa, sério. Estou bem. - Sério mesmo? Hein? – Paulo a segura na cadeira, a olhando com preocupação e acaricia seu rosto. Amélia se esquiva e levanta: - Já estou bem. É que ontem... Eu tive uma briga horrível com o Vitor. - Sério? O que houve? – Amélia fica um tempo calada e Paulo se corrige: - Desculpa, se não quiser falar sobre isso... - Não... É que, eu preciso desabafar, senão eu sinto que vou explodir..de tristeza, de culpa... Paulo a olha fixamente e a escuta com atenção: - Eu... esqueci que ontem tinha marcado com ele um jantar, aqui no restaurante ao lado e fui embora com você. - Meu Deus... Por isso então que ele me ligou perguntando de você, nervoso. - Sim. Eu juro Paulo que me esqueci totalmente mas nunca foi proposital. - Claro que não. Você estava bastante cansada e estressada ontem, eu vi isso. - Pois é, mas não justifica, não é? - Mas ele vai compreender... - Não, ele não vai. - Calma, Amélia. Vocês dois se amam tanto, isso não pode afetar. – Paulo se aproxima cada vez mais de Amélia. – Fica calma. Você não merece sofrer assim, e eu... eu queria tanto... Paulo não termina a frase, acaricia o rosto de Amélia e não resiste ao beija-la à força, sem dar tempo para que ela evitasse. Nesse instante, durante uma fração de segundos, Vitor aparece sem que ninguém o veja e os flagra, mas atordoado ele sai correndo e não vê quando Amélia empurra Paulo com força e lhe dá um tapa no rosto: - O que você fez??? – Ela diz, assustada, se afastando de Paulo. - Me desculpa, Amélia. Por favor, eu não queria que... – Paulo diz, sentindo a dor do tapa em seu rosto ao tocá-lo. - Sai de perto de mim. Você não podia... - Amélia começa a chorar e sai do escritório.
  • 26. Saindo da Rurbana, Amélia se depara com Vitor apoiando o braço na porta do carro de cabeça baixa. Ela se aproxima, ainda nervosa: - Vitor... Vitor levanta a cabeça depois de um tempo, ainda atordoado, olha para Amélia com os olhos vermelhos e diz: - Por favor, Amélia, entra no carro. Vamos embora daqui. Amélia não entende mas teme que Vitor tenha visto o que não devia. Ela entra no carro em silêncio e ele faz o mesmo. XIV Chegando no prédio, Vitor e Amélia sobem em silêncio no elevador, sem olhar um para o outro. Vitor segura a porta e deixa Amélia sair antes, ele abre a porta do apartamento e dá espaço para ela entrar. Lurdinha aparece na sala sorridente: - Ô, dona Amélia, que bom que a senhora chegou! Não tava sabendo o que fazer pro almoço amanhã e... – Vitor a interrompe: - Lurdinha, por favor, teria como você dar uma saidinha, ir na casa daquela sua amiga do andar de baixo? Preciso conversar com a Amélia, a sós. Lurdinha se assusta e percebe que o clima não está bom entre os patrões: - Ah tá, tô indo, então... – Lurdinha sai, olhando para trás. Vitor espera Lurdinha sair e tranca a porta. Ele olha para Amélia, que está ainda em choque, sem saber o que Vitor irá falar. - Tá sendo muito difícil falar alguma coisa nesse momento. Eu só quero que você me diga a verdade, Amélia. Amélia olha para ele e já imagina que ele possa ter visto Paulo a beijar a força: - Verdade? Sobre... - Pelo amor de Deus, Amélia. Não complica as coisas... Você sabe muito bem do que eu estou falando... - Vitor! Se você viu... - Pronto! Aí está! Não é tão difícil assim dizer a verdade, não é? E também Amélia, eu sempre disse que mentir não é seu forte. - Por favor, Vitor, não fala assim. – Amélia se aproxima dele, tentando pegar em seu braço, mas ele se esquiva com os olhos vermelhos e cheios de fúria. - Amélia... Eu tô me segurando pra não dizer o que não quero. Eu não consigo raciocinar, porque não entra na minha cabeça que você e o... – Nesse momento ele se afasta de Amélia e coloca as mãos na cabeça, desarrumando o cabelo, desnorteado. – Eu pensava que tudo entre a gente era verdadeiro, que nada podia... – Ele fica em silêncio e chuta de leve a cadeira em sua frente, dizendo: - Mas que droga. - Vitor, me escuta! Não é nada como você está imaginando, você tem que me escutar... - Chega, Amélia! Pára com isso. Não é só uma suposição agora, eu vi! Eu vi! Você não entende o tanto que está doendo? - Você não pode me julgar assim, sem antes saber o que realmente aconteceu. – Amélia já não se sente mais culpada, e sim, injustiçada, sem poder se explicar. De repente, ela sente também um mal estar e tem uma vertigem. Vitor se assusta e a segura: - O que aconteceu? Amélia, olha pra mim.
  • 27. Amélia logo se desprende de Vitor e se recompõe: - Não é nada, foi só um mal estar, já passou. - Sério? Eu te levo pro hospital... - Não precisa. – Amélia diz nervosa tirando o braço das mãos de Vitor. – Já estou bem. - Eu preciso tomar um ar, sair daqui. Vou pedir pra Lurdinha voltar e cuidar de você. – Vitor sai, olhando para trás, oscilando entre ampará-la em seus braços ou manter seu orgulho ferido. Por fim, ele escolhe a segunda opção, mesmo que hesitante. Amélia fica estática e não consegue emitir mais nenhuma palavra. Apenas olha Vitor se afastar e entrar no quarto. Ela não segura seu desespero e tristeza e cai em lágrimas. Vitor tira algumas roupas do armário e as coloca de qualquer jeito dentro de uma mala, não conseguindo evitar que algumas lágrimas saíssem de seus olhos também. Alguns minutos se passam e Vitor sai do quarto de cabeça baixa, sem olhar onde Amélia estava, temendo não resistir e voltar atrás de sua decisão de ir embora. Amélia levanta do sofá e o vê saindo. Ela então diz baixo, sem que Vitor a escute: - Vitor... Ele sai e Amélia continua olhando para a porta, que já estava fechada: - Não me deixa... Vitor encontra Lurdinha e pede que ela cuide de Amélia enquanto ele estiver fora, e a alerta sobre a vertigem que a esposa teve: - Cuida bem dela, Lurdinha, por favor, fica de olho. - Tudo bem, seu Vitor... Mas, mas... Por que essa mala? – Lurdinha se assusta e fica sem entender o que está acontecendo. - Não é nada, Lurdinha, só estamos dando um tempo um para o outro. Cuida dela, hein? – Vitor sorri de lado e se despede de Lurdinha. Chegando no apartamento, Lurdinha encontra Amélia aos prantos no sofá, ela se aproxima da patroa e diz: - Dona Amélia. A senhora tá bem? Tá se sentindo mal? - Ai, Lurdinha! – Amélia não se segura e desaba nos braços de Lurdinha, chorando. Vitor chega em Girassol e vai direto para a estalagem: - Boa noite, Terê! Tem um lugar pro seu antigo hóspede ainda? - Vitor! Você por aqui? O que aconteceu? Essa mala... - Pois é, Terê. É uma grande história que eu não vou conseguir te falar agora... Só precisava urgente de um quarto. - Sim, meu filho. Mas você não quer se sentar antes, beber alguma coisa? Seu rosto está horrível. Vitor sorri e diz: - Ai, Terê. Esse rosto horrível não vai mudar com alguma bebida, com nada... Infelizmente. Terê fica preocupada e leva Vitor até o quarto. - Obrigado, Terê.
  • 28. - Meu filho. Depois tenta se abrir, me explicar o que aconteceu... Você e a Amélia brigaram, não é? - É... - Tudo bem, não precisa dizer mais nada. Vou deixar você sozinho, quando você quiser... estarei aqui. - Obrigado, Terê. E ah... só uma coisa. Não comenta com ninguém que... - Imagina, Vitor, não precisa nem pedir. - Obrigado, de verdade. Terê sai do quarto e diz sozinha: - Ai, meu Deus, esses dois não merecem sofrer mais, não merecem. XV Vitor coloca sua mala no chão e nem a desfaz, ele senta na cama e começa a pensar sozinho: - O que eu tô fazendo? Eu tenho que confiar na Amélia, tenho. Ele deita na cama e fica a noite toda sem dormir, somente pensando e sofrendo por Amélia. Já é de manhã e Vitor, que não conseguiu dormir a noite toda, liga correndo para Lurdinha: - Casa da dona Amélia, bom dia! - Lurdinha, sou eu, o Vitor. - Ô, seu Vitor! - Lurdinha, só quero saber como a Amélia está. Ela tá bem? - Eu chamo ela e... - Não, não! Lurdinha. Só me fala isso, não quero que a chame. - Bom, a dona Amélia não tá muito boa não, seu Vitor. Ela tá numa tristeza de dar dó. - Ela passou mal de novo? - Olha, que eu tenha visto não. Ela tá trancada no quarto e não quis comer nadinha. - Tenta fazer ela comer, Lurdinha. Ela pode estar fraca, por isso teve o desmaio. - Sim, eu vou ficar de olho, pode deixar. - Ah, e não diz nada que eu liguei, tudo bem? - Tá certo. – Lurdinha diz, insatisfeita. Ao desligar, Lurdinha diz sozinha: - Ai, minha nossa senhora, e eu que pensava que esses dois nunca que iam brigar... Que tristeza, viu. Enquanto isso, em Girassol, Manu recebe a ligação de Lurdinha, que está preocupada com a patroa, e fica sabendo que Vitor saiu de casa. Ela logo conversa com Rudy: - Vou atrás do Paulo agora mesmo em Juruanã – Diz Rudy, nervoso. – Só pode ter sido ele. - Eu vou com você, meu amor. Mas antes preciso falar com o Vitor. Me espera? - Claro. Manu segue para a estalagem e vai até o quarto de Vitor:
  • 29. - E aí, Vitor? Já fiquei sabendo mais ou menos o que houve. A Lurdinha ligou, preocupada. - Por quê? A Amélia está passando mal? O que aconteceu? - Calma, Vitor. Pelo que eu saiba a única coisa que aconteceu foi que vocês brigaram. - Ah, Manu. Você não tem idéia do tanto que eu tô acabado. - Mas o que foi que aconteceu, Vitor? Vocês estavam tão bem. - É, não sei, não sei de mais nada. Já fazia um tempo que nós estávamos distantes, por conta da correria no frigorífico e na Rurbana. E só pode ter sido culpa minha ter deixado ela sozinha com aquele... - Espera, é o Paulo? - Você tá sabendo de alguma coisa, Manu? A Amélia falou com você? - Não, Vitor. Minha mãe não disse absolutamente nada. Só estou querendo entender essa confusão toda. - Eu vi sua mãe beijando aquele cara, foi só isso que aconteceu... - Vitor começa a andar de um lado para o outro e depois se apóia no encosto da cadeira. - Droga! Eu não consigo imaginar essa cena, falar sobre isso...Não entra na minha cabeça. - Não é possível, Vitor. Minha mãe nunca faria isso. - Pois é. Eu tô lutando contra as evidências todas. Mas eu já havia sentido um jeito estranho do Paulo, não sei... - Calma. Olha só, se tudo isso foi um mal entendido, a gente tem que desfazer. - Eu sei, mas eu não tô conseguindo agora, Manu. Eu preciso ficar sozinho, por favor... - Tudo bem. Eu vou até Juruanã ver como minha mãe está. - Tá certo, qualquer coisa me mantém informado tá? - Pode deixar, se cuida aí. Manu se despede de Vitor e segue para Juruanã, junto com Rudy. Vitor coloca uma calça mais leve, uma camiseta e vai até o rio Araguaia a pé. Ele senta na areia e coloca a cabeça entre suas pernas, depois diz sussurrando e com os olhos marejados: - Amélia, eu te amo tanto, tanto... – Vitor começa a lembrar dos tempos que passou junto a ela, principalmente do último banho de cachoeira no Jalapão, em que ele sentia todo o corpo de Amélia junto ao seu, molhado pela corrente de água que caía levemente sobre ela, a deixando mais linda do que nunca... sem ninguém por perto para julgá-los ou persegui-los. Sentiu uma enorme saudade e uma dor imensa no peito, como se tivesse perdido um pedaço de si. Chegando no apartamento, Lurdinha diz a Manu que Amélia está no quarto, ela entra e encontra a mãe sentada na cama com os olhos vermelhos. Amélia se levanta e abraça a filha, chorando. Nesse instante, Rudy está em um bar com Paulo: - Eu tô aqui torcendo pra que você me diga que essa briga do Vitor e a Amélia não tem nada a ver com você. Paulo fica quieto e isso já confirmava para Rudy que ele era o responsável pela confusão. - Não acredito nisso. Eu te avisei, Paulo... - Cara, eu tentei, eu juro... Eu não queria causar tudo isso. - Mas causou. Agora o escritório tá temporariamente fechado e os dois separados. Você viu a merda que você fez?
  • 30. - Eu sei disso, eu vou procurar o Vitor e explicar tudo. - É o mínimo que você deve fazer. Eu te conheço, Paulo. Você nunca conseguiu se controlar na vida pessoal. - Eu nunca senti nada igual por outra mulher. - Mas você vai ter que esquecer ela, de qualquer jeito. - Eu sei disso. Ela ama o Vitor, ela nunca me deu nenhum sinal sequer de esperança, e eu não posso deixar que os dois terminem por minha culpa. - Isso mesmo. Pelo menos bom senso você tem. - Claro que tenho. Eu também não sou esse monstro, pelo amor de Deus. Eu também tô na pior com isso tudo. - Você causou isso tudo. - Eu não queria beijar ela a força, mas eu não resisti, ela estava tão frágil, tinha brigado com o Vitor e eu... - Não acredito que você fez isso... Por isso então que o Vitor saiu de casa. - É, sei lá. A Amélia deve ter contado pra ele, porque foi no escritório... - Meu Deus! Você é louco. - Eu preciso explicar pro Vitor. Eu vou hoje ainda pra Girassol. - Ótimo, conserta já essa merda toda que você fez. E a parceria com eles, pode esquecer. – diz Rudy, cheio de raiva. - Eu sei. Enquanto isso, Manu e Amélia conversam sobre os acontecimentos: - Ai, mãe. A senhora não teve culpa, pára com isso. Aquele safado do Paulo, hein? Quem ia imaginar... - Não, filha. Eu não podia ter deixado isso acontecer. Se ele me beijou foi porque ele sentiu alguma abertura, não é? Mas eu juro, Manu, eu nunca imaginei que ele pudesse estar interessado, nunca percebi e nunca permiti nada. Pra mim sempre foi uma relação extremamente profissional. - Eu sei mãe. Não precisa jurar. E o Vitor também sabe e confia na senhora. Só que ele é homem, não quer passar por cima do orgulho. - Você falou com ele? Como ele está? - Falei sim. Ele tá péssimo, sofrendo muito com a distância. E não pára de perguntar por você. Amélia tenta se levantar e tem novamente uma tontura. - Mãe? O que foi? – Manu a segura, preocupada. - Nada, só uma tontura. Já passou. Amélia sente náuseas e sai correndo para o banheiro. Manu a acompanha e a ajuda. - Mãe, o que é isso? Vou te levar agora mesmo pro hospital. XVI Amélia e Manu vão para o hospital a contragosto de Amélia. Chegando lá, ela faz alguns exames, sem que o médico lhe dê maiores detalhes do motivo do mal estar. Ele apenas recomenda repouso e uma boa alimentação. - Mãe, acho melhor a gente ir pra Girassol. Depois eu passo aqui pra buscar os exames. - Mas o Vitor está lá... - E daí? Vocês precisam mesmo conversar.
  • 31. - Filha, eu não tô aguentando essa situação. Eu não vou me conformar em perder o Vitor... não vou. - Mãe, me escuta, olha pra mim. Você e o Vitor se amam e nada vai mudar isso. Amélia segura as mãos de Manu e a olha com tristeza. - Eu não me enganei quando vi que esse amor era verdadeiro e grande o bastante pra agüentar qualquer tempestade , não é, dona Amélia? Manu sorri para a mãe e ela retribui, ainda triste: - É. Da minha parte você pode ter certeza que esse amor é tão grande que chega a doer. - E da parte do Vitor também, mãe. Tenho certeza. As duas se abraçam e logo depois Manu liga para Rudy e ele vai até o hospital para irem os três juntos até Girassol. Nesse momento, Paulo já se encontra na estalagem, procurando por Vitor. - Boa tarde, o Vitor está? - Olá, Paulo. – Diz Terê, séria. – Vou avisar o Vitor que você está aqui. - Obrigado. Terê avisa que Vitor tem uma visita, e quando ele chega até a recepção da estalagem, se depara com Paulo a sua espera: - Paulo... - Oi, Vitor. Acho que a gente precisa conversar. Vitor lança um olhar raivoso para Paulo e indica com a mão a cadeira para Paulo se sentar. - O que você tem pra falar comigo? – diz Vitor, impaciente. - Cara, olha só, a Amélia não teve culpa nenhuma no que aconteceu. - E o que aconteceu? – Vitor pergunta, cinicamente. - Na verdade não aconteceu nada, porque foi uma tentativa só minha... e frustrada. Vitor não diz nada, apenas escuta Paulo com atenção. - Sua mulher nunca me deu abertura alguma, nem indício de que estava percebendo alguma proximidade minha. Eu forcei a barra. - Desgraçado. Por que você fez isso? Eu confiei em você, cara. – Vitor tenta se segurar para não se levantar e dar um soco em Paulo, em público. - Eu sei. Eu só queria isentar a Amélia e também o Rudy, de tudo isso que aconteceu. A culpa foi só minha. Vitor continua sem dizer nada, com os olhos cheios de raiva, e Paulo continua. - Tá sendo difícil pra mim também. Eu tentei controlar o que eu sentia desde o primeiro momento que eu vi a Amélia. Eu simplesmente me apaixonei... Vitor não aguenta ouvir as palavras de Paulo, se levanta e por um impulso, puxa Paulo pela camisa e lhe dá um soco: - Nunca mais se aproxima dela, tá entendendo? Nunca mais. Paulo se levanta do chão, com a boca machucada e diz: - Tudo bem, cara. Você tem toda razão e todo motivo pra ter feito isso. Todos que estavam na estalagem observam espantados e Terê tenta dispersar a confusão: - Vitor, vem comigo. Vitor sai empurrado por Terê, ainda olhando Paulo com raiva.
  • 32. Paulo vai embora com as mãos nos lábios, tentando amenizar a dor, sem olhar para ninguém. Já sem a movimentação por conta da briga, Manu, Rudy e Amélia chegam no centro de Girassol. Paulo já havia ido embora. - Mãe, vamos lá no armazém tomar alguma coisa. Você ainda está muito fraca e pálida. As duas seguem para o armazém de Janaína e Rudy vai até a estalagem. - Oi, Terê, tudo bem? - Oi, Rudy. Tudo bem e você? - Bem... O Vitor tá por aí? - Sim, mas... - O que foi? Aconteceu alguma coisa? - O Paulo veio até aqui e ... - Eles brigaram? - Sim. - Sabia. Devia ter vindo junto... Desculpa Terê, posso subir pro quarto dele? - Claro... Vai lá. XVII Rudy bate na porta do quarto e Vitor pede para que ele entre: - E aí, cara? Fiquei sabendo que o Paulo esteve aqui. - Pois é. Mas se você não se importa, não queria falar sobre isso não. - Tudo bem. Vim aqui só pra te pedir desculpa mesmo. Nem passou pela minha cabeça que isso tudo poderia acontecer. - Imagina, você não tem culpa de nada. - Não, eu sempre conheci esse jeito do Paulo, ele nunca parou em relacionamento algum, mas com mulher casada, foi a primeira vez... – Rudy percebe que Vitor ainda está muito incomodado com a situação e pede desculpas novamente. – Desculpa, Vitor. Eu imagino como você deve tá se sentindo, não devia tá falando tudo isso. - Tudo bem... Deixa pra lá. - Bom, também vim aqui te avisar que acabei de deixar a Amélia e a Manu lá no armazém da Janaína. - O que? A Amélia tá aqui? – Vitor pergunta, efusivo. - Sim. Caso você queira falar com ela... Achei válido te avisar logo... - Obrigado. – Vitor diz tocando o ombro de Rudy, ainda eufórico e ansioso. - Vou indo nessa, Vitor. Qualquer coisa que precisar... Ah, mais uma coisa, e o escritório da Rurbana? - Eu deixei aos cuidados do meu advogado e da Fátima. O pessoal continua fazendo as entregas normalmente. Estou acompanhando, mesmo de longe. - Legal. Pelo menos aquele maluco do Paulo não te deu prejuízo. - Não, fica tranquilo, Rudy. Obrigado mesmo. - Falow, cara. Me desculpa, até mais...E, procura tua mulher, hein? Vitor sorri de leve e não pára de pensar em Amélia. Ele desce logo após Rudy, e vai até a porta da estalagem. Nisso, ele enxerga Amélia do outro lado da rua sentada com Manu, Fred e Janaína na mesa do armazém. Ele fica parado, sem reação alguma, apenas olhando para ela de longe.
  • 33. De repente, Vitor é despertado por Terê: - Vitor! - O... Oi, Terê. – Ele apenas olha rapidamente para Terê e volta a olhar Amélia. - Você não vai até lá? Falar com ela? - Não sei, Terê... Ainda não consigo, mesmo querendo muito. Mesmo sendo o que eu mais quero nessa vida... Pegar ela nos meus braços e não largá-la nunca mais. - Então não perca tempo, querido. Lute pelo seu amor. Vocês demoraram tanto pra chegar numa felicidade plena, e vão deixar ela escapar assim? Vitor apenas presta atenção nas palavras de Terê e continua a olhar Amélia, sem dizer nada. Um dia se passa e Amélia continua em Girassol junto com Manuela na fazenda e Lurdinha também volta. Enquanto isso, Vitor ainda está na estalagem. Os dois continuam sem coragem de tomar a iniciativa para conversarem. Manuela entra no quarto da mãe e diz: - Mãe, vou agora buscar seus exames em Juruanã. Me espera aqui, volto logo. - Tudo bem, filha. Obrigada, viu? Não sei o que seria de mim sem você. Amélia abraça a filha com ternura e ela segue para Juruanã. XVIII Nesse dia, Girassol estava fazendo aniversário e era também o casamento oficial de Solano e Estela. Manuela havia combinado de passar no sítio do Padre Emílio para ajudar a arrumar as crianças junto com Dora, e também para olhar um dos animais que estava doente. Assim que Manu chega de Juruanã ela vai correndo para a fazenda se arrumar para o casamento – que será de manhã - e para buscar Amélia. Amélia já havia se arrumado. Escolhera um vestido simples, porém sofisticado. Era de seda perolado com flores discretas, tendo uma abertura nas costas, na qual destacava seu porte esguio e elegante Manu entra no quarto já pronta e diz, sorridente: - Mãe! A senhora tá linda! - Obrigada, minha filha. Você também! – Amélia segura as mãos de Manu com carinho. - Bom, olha só, trouxe os seus exames. Vou levá-los pro sítio porque já estamos atrasadas e aí damos uma olhada neles por lá, tudo bem? - Claro. Vamos indo então. As duas seguem para o sítio e enquanto isso Vitor está em seu quarto se arrumando para a festa, desanimado. Ele fala consigo mesmo: - Que vontade de não sair desse quarto... Nesse instante batem à porta: - Já vai! – Vitor grita. - E aí, cara? Tá pronto? - Oi, Fred. Tô sim. Já vou descer. - Ei, melhora esse humor aí, padrasto. Vim te buscar pra gente se divertir. - Que jeito? Me divertir sem sua mãe?
  • 34. - Eu sei, imagino como você deve estar se sentindo. Mas se anima, aposto que a dona Amélia vai estar nessa festa também. – Fred sorri, batendo nas costas de Vitor. Vitor tenta disfarçar seu entusiasmo sem sucesso, e sorri: - Será mesmo que ela vai? - A Manu já falou que foi até a fazenda buscar sua esposa pra festa. Então... Se ajeita aí e vambora, cara! Até quando vai durar esse desentendimento? - Tá certo, vambora! - Assim que se diz! Os dois saem juntos para a festa, conversando pelo caminho. Enquanto isso no sítio, depois de ajudar as crianças a se vestirem, Manu senta com Amélia no banco do jardim do sítio para abrirem juntas os exames médicos: - Hum, exame geral de sangue, tudo certo... Esse aqui também. – Amélia vai passando as folhas e Manu a observa. - Tudo certo, então? - Espera aí... o que é isso? – Amélia diz, com o semblante apavorado. - Que foi mãe, que cara é essa? Assim você me assusta. - Meu Deus do céu! – Amélia coloca as mãos na boca, incrédula. - Mãe! Pára com isso. Deixa eu ver o que tem nesse exame. – Manu pega os papéis das mãos de Amélia, que não consegue emitir uma palavra sequer. - Ah! Não acredito! – Manuela fica espantada e feliz ao mesmo tempo. - Manu do céu... Eu tô... grávida?! Manu e Amélia ficam se olhando por longos segundos e simplesmente se abraçam em silêncio e prantos. - Filha, não é possível. Será que isso tá certo? - Dona Amélia, claro que tá certo. Esses enjôos e mal estar... todos os sintomas de uma mulher grávida! - Minha nossa senhora. Como assim? Eu nunca pensei que nessa altura... Eu só me descuidei algumas poucas vezes porque nunca... Ai, nem consigo falar disso com você... - Amélia sorri sem graça, ainda chorando. - Ai, mãe! Pára com isso, agora já tá feito! – Manu começa a rir e abraça Amélia novamente - Gente, o Vitor vai adorar essa notícia, vai ser papai! Nesse momento, Tomé, que estava brincando por perto, escuta o que Manu diz e sorri, voltando a brincar com as outras crianças. Amélia pára de sorrir e fica repentinamente preocupada: - O Vitor... O que será que ele vai achar disso? Tenho tanto medo que ele não queira... - Claro que não, que absurdo. Essa briga de vocês tá durando demais. Só falta vocês se encontrarem pra isso tudo se resolver, e agora com essa notícia... O Vitor vai se derreter! - Ai meu Deus! – Amélia passa as mãos sobre a testa, ainda preocupada, e sorri novamente sem acreditar que carregava consigo o filho do homem que amava. Mãe e filha se abraçam, felizes. A festa já havia começado, todos estavam na igreja para a cerimônia de casamento entre Solano e Estela. Os dois já estavam casados na tradição
  • 35. indígena, porém, Estela aceitou se casar também na igreja, para a felicidade de Solano. Vitor estava sentado logo a frente com Fred e quando olha para trás se depara com Amélia chegando junto com Manuela. Ele não disfarça seu encantamento ao vê-la entrar deslumbrante na igreja, e se lembra com saudades de quando se casaram no cartório de Juruanã. Ele sente um desejo imenso de ter Amélia ao seu lado naquele instante. Já Amélia senta do outro lado e também fixa seus olhos em Vitor por alguns instantes, se sentindo ainda mais fragilizada com a notícia da gravidez. Durante toda a cerimônia os dois trocam olhares e sentem seus corações baterem mais forte. A cerimônia termina e todos vão para a rua comemorar o aniversário de Girassol, numa festa conjunta. Solano organizou uma banda e junto com ela um desfile da tradição gaúcha, com cavalos e cavaleiros enfeitados com a cor do girassol. Muitas pessoas se reúnem no centro da pequena cidade, formando uma aglomeração. Amélia se perde dos demais e tenta encontrar Manu, se desviando dos vários braços que a empurravam no meio da multidão. Vitor também estava se contorcendo entre as pessoas, tentando enxergar a banda e o desfile, esticando seu pescoço com dificuldade. De repente, ao olhar distraída para trás, Amélia se choca bruscamente com outra pessoa. Ela olha rapidamente para frente e tenta pedir desculpas, mas fica estática quando percebe os olhos verdes de Vitor a encarando: - Amélia... Vitor a segura no braço suavemente, cheio de desejo e paixão, olhando fundo em seus olhos e depois em seus lábios... O momento dura pouco pois a multidão aumenta e acaba rompendo o quase abraço do casal, que instintivamente se aproximava cada vez mais. Vitor fica desesperado tentando encontrar Amélia novamente, e ela faz o mesmo. Manuela encontra a mãe e a tira da multidão. - Mãe! Vamos sair dessa bagunça... vem pra cá. - Mas... – Amélia diz, sendo puxada por Manu , ainda procurando Vitor entre as pessoas. Vitor se perde totalmente de Amélia e dos demais, quando é atropelado por Tomé, que corria sem olhar para frente. - Ei, rapazinho, calma! – Vitor segura Tomé, que quase cai. - Oi! Como seu filho vai chamar? – Tomé diz, assim que é ajudado por Vitor. - Como? – Vitor pergunta sorrindo. - Ué, seu filho. A Manu disse que você vai ser pai. Aí ele pode brincar com a gente lá no sítio e eu posso ensinar ele a cuidar da minha galinha de estimação também e... - Ei ei ei, espera. Vem aqui... - Vitor leva Tomé até uma parte mais vazia, perto do armazém. - Me conta melhor essa história, Tomé. A Manuela disse isso pra você? - Não, eu ouvi ela falar com a dona Amélia. Mas foi sem querer porque eu não fico escutando as conversas dos adultos, eu juro.
  • 36. - Eu sei, eu sei! Mas me diz mais uma coisa... A Amélia contou isso pra Manuela? - Hum, eu vi a Manu dizendo bem assim: “O Vitor vai adorar ser papai”, aí a dona Amélia chorou. Acho que foi de alegria né? Vitor não consegue acreditar no que Tomé diz, começa a sorrir compulsivamente, tomado pelo nervosismo e emoção. - Obrigado, Tomé, obrigado! – Vitor pega Tomé no colo e gira o menino no ar. Depois o coloca no chão e sai correndo. XIX Amélia e Manu estão na operadora, longe da multidão: - Filha, se você quiser ficar mais um pouco, não tem problema... - Não mãe, vou levar você pra casa. Só vou esperar o Rudy chegar, já avisei ele que estávamos aqui. - Tudo bem. Bom, na verdade eu não queria ir pra casa. Precisava pensar um pouco, ficar sozinha. - Aonde você pensou em ficar? - Vou caminhar um pouco perto do rio, depois vou pra fazenda. Se quiser eu vou indo a pé mesmo... - Deixa disso, dona Amélia, claro que não. Te deixo por lá. Mas tem certeza que não tem perigo ficar sozinha? A senhora sabe que agora tem que repousar e... Amélia acaricia o rosto de Manuela e diz: - Eu sei, Manu. Não se preocupa que vou me cuidar. - Olha lá, hein? Depois me liga que eu te busco. Nesse instante, Rudy chega e os três vão embora da festa. No caminho até o carro, Terê encontra os três: - Mas vocês já vão? - Sim, vou levar minha mãe embora e já volto pro final da festa. - Amélia! Por que você não fica mais um pouco, querida? - Ai, Terê. Sinceramente não estou com espírito pra festa. Preciso dar uma espairecida., vou andar um pouco nas margens do rio, faz tempo que não faço isso. - Ótimo! Bom passeio, então. - Obrigada! – Amélia abraça Terê e segue com Manu e Rudy para o rio Araguaia. Amélia desce do carro e diz: - Obrigada pela carona, filha, tchau, Rudy! Até mais. - Mãe, tem certeza? A senhora vai ficar bem? - Claro que sim, Manu. Não se preocupa. Vão aproveitar a festa. - Olha lá hein, juízo, dona Amélia. Qualquer coisa me liga, vou estar com o celular sempre ligado. - Tudo bem, podem ir tranqüilos. - Tchau, Amélia, até mais. – Diz Rudy, já dando partida no carro. Amélia vai até a margem do rio, sobe a barra do seu vestido ao sentar na areia, envolvendo os joelhos com os braços. Ela lembra dos momentos com Vitor e
  • 37. sente uma vontade imensa de estar junto dele naquele momento, compartilhando a felicidade que sentira ao saber de sua gravidez. Amélia olha pro rio e começa a chorar discretamente, lutando pra conter as lágrimas. Nesse momento, Vitor começa a procurar Amélia por todos os lugares durante a festa. - Ei, Nancy. Você viu a Amélia por aí? - Não, nem cheguei a ver a Amélia hoje, só na igreja. - Obrigado. – Ele toca o ombro de Nancy e sai correndo. Já cansado, Vitor entra na estalagem e encontra Terê, Neca e Glorinha conversando: - Vitor! E aí? Curtindo a festa? – pergunta Neca. - É... Na verdade eu tô um pouco distraído pra essa festa...Por um acaso vocês viram a Amélia? - Ah, a Amélia foi embora há um tempinho atrás. - Não acredito... Vou agora mesmo pra fazenda. - Não Vitor! Você não vai encontrá-la na fazenda. – Diz Terê. - Não? Onde é que ela está? Terê se aproxima de Vitor e toca em suas mãos. Ela fecha os olhos e sorri, mudando sua feição como se estivesse tendo uma visão boa sobre o futuro do rapaz. - Acho melhor você correr agora pro rio Araguaia. Ele tem uma surpresa pra você... Vitor sorri, já imaginando do que se tratava as palavras de Terê. Ele sai em disparado e ao chegar do lado de fora da estalagem, olha para os lados no meio da multidão, tentando imaginar uma maneira mais rápida de chegar até as margens do rio. Ele então vê um cavalo branco parado logo em frente, e sem pensar, dá um impulso e sobe no animal o mais rápido possível, cavalgando para finalmente encontrar Amélia. Neca, Terê e Glorinha presenciam o momento e olham sorrindo um para o outro. Glorinha diz, encantada: - Isso que é amor. Viu só, Neca? Por que você não faz essas coisas pra mim? – Ela empurra Neca, fazendo uma cara de insatisfação. - Ah, mas o que é isso? Eu não tenho vocação pra príncipe encantado, não. Eu faço mais o estilo Don Juan de Marco Tenório! Todos começam a rir e Terê finaliza: - Ai! Esses dois merecem finalmente um recomeço feliz. Estava na hora! XX Amélia ainda se encontra nas margens do rio, e sozinha ela diz para si mesma: - Vitor... Eu preciso tanto de você. - Eu também. Amélia vira para trás assustada, pensando ter tido uma miragem ao ouvir a voz de Vitor. Ela sobe seus olhos e o vê parado, a olhando fixamente e estendendo sua mão para ela. Amélia se levanta com a ajuda de Vitor, ajeitando a barra de
  • 38. seu vestido. Ele a puxa para mais perto fazendo com que as mãos dela - entrelaçadas com as suas - tocassem de leve sua cintura. Amélia sente a respiração ofegante de Vitor perto de seu rosto e retribui os olhares de desejo que ele emite para ela, sem pudor. - Vitor, eu... – Amélia tenta dizer, mas Vitor toca seus lábios suavemente, a interrompendo: - Me escuta Amélia, me escuta. – Ele diz olhando os lábios dela com paixão – Como eu queria voltar a ter você assim, perto de mim. Sentir sua pele... tão macia – Vitor toca o rosto de Amélia e ela fecha os olhos. – Sentir seu perfume, sua respiração junto da minha. Ela abre os olhos e apenas sente as palavras de Vitor, como se fossem o remédio necessário pra toda sua dor de saudade. - Meu Deus! Como você é linda. Que saudade que eu tava de você... Da sua boca... – Vitor toca novamente os lábios de Amélia e chegando cada vez mais perto, ele finalmente a pega com mais força nos braços e a beija apaixonadamente por longos minutos. Ele termina o beijo com vários outros nos lábios e no pescoço de Amélia e ela sorri, se sentindo feliz novamente. De repente, alguns turistas começam a chegar e os dois se desprendem. Vitor leva Amélia pelo braço, dizendo: - Vem comigo! - Pra onde? - Sobe aqui... - Vitor aponta o cavalo e segura Amélia pela cintura, a colocando sentada de lado em cima do animal. – Se segura aí. - Vitor, você é louco! - Sou completamente alucinado por você! – Ele diz sorrindo e sobe no cavalo, ficando na frente de Amélia. - Segura firme em mim. – Vitor coloca as mãos de Amélia na cintura dele e os dois cavalgam sem rumo. Vitor anda pelo campo dos girassóis, e pára entre as flores. Ele pega Amélia pela cintura e a ajuda a descer. Ela pára com as mãos sobre o peito de Vitor, que ainda a segurava firme, e diz: - Eu senti tanta falta de você. - Eu também, meu amor. Eu também... - Vitor aproxima seu rosto no de Amélia e os dois se tocam levemente. Ela sente a barba por fazer de Vitor se encostar em sua pele e seu corpo treme. - Vitor... Espera, me escuta. Ele continua sentindo a pele de Amélia com todas as partes de seu rosto, aproximando os lábios nos dela levemente, sem deixar que ela termine de falar. Mas Amélia resiste e continua: - Escuta, escuta... - Ela segura o rosto de Vitor – Me perdoa? Eu devia ter percebido o que estava acontecendo desde o começo e... - Ei, xiu... - Vitor pede que Amélia não fale mais nada e toca seus lábios. – Não diz mais nada. Vamos esquecer tudo isso, tá? Eu é que tenho que pedir desculpas por ter feito você sofrer, por ter sido orgulhoso... - Não, não foi culpa sua. Fui eu quem fiz você sofrer. - Amélia. Vamos esquecer? Hein? Eu juro que daqui pra frente eu só vou viver pra você, só pra você... – Ele toca o rosto de Amélia com carinho.