SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 15
EUGÉNIO DE ANDRADE
BIOGRAFIA EUGÉNIO DE ANDRADE  Pseudônimo de  José Fontinhas Rato. Poeta português nascido na freguesia de Póvoa de Atalaia (Fundão) em 19 de Janeiro de 1923.  Faleceu a 13 de Junho de 2005, no Porto, após uma doença neurológica prolongada.  “ Passamos pelas coisas sem as ver,  gastos, como animais envelhecidos:  se alguém chama por nós não respondemos,  se alguém nos pede amor não estremecemos,  como frutos de sombra sem sabor,  vamos caindo ao chão, apodrecidos.”
Madrigal Tu já tinhas um nome, e eu não sei se eras fonte ou brisa  ou mar ou flor. Nos meus versos chamar-te-ei amor...
FRENTE A FRENTE Nada podeis contra o amor, Contra a cor da folhagem, contra a carícia da espuma, contra a luz, nada podeis. Podeis dar-nos a morte, a mais vil, isso podeis - e é tão pouco!
As palavras São como um cristal, as palavras. Algumas, um punhal, um incêndio. Outras, orvalho apenas. Secretas vêm, cheias de memória. Inseguras navegam: barcos ou beijos, as águas estremecem. Desamparadas, inocentes, leves. Tecidas são de luz e são a noite. E mesmo pálidas verdes paraísos lembram ainda. Quem as escuta?  Quem as recolhe, assim, cruéis, desfeitas, nas suas conchas puras?
DEVIAS ESTAR AQUI Devias estar aqui rente aos meus lábios para dividir contigo esta amargura dos meus dias partidos um a um - Eu vi a terra limpa no teu rosto, Só no teu rosto e nunca em mais nenhum...
A arrancar a raiz ao mais diminuto dos rios. A inundar-te de facas, de saliva esperma lume. Estou a rodear de agulhas a boca mais vulnerável. A marcar sobre os teus flancos itinerários da espuma. Assim é o amor: mortal e navegável... O AMOR Estou a amar-te como o frio corta os lábios.
É urgente o amor. É urgente um barco no mar.   É urgente destruir certas palavras, ódio, solidão e crueldade, alguns lamentos, muitas espadas.  É urgente inventar alegria, multiplicar os beijos, as searas, é urgente descobrir rosas e rios e manhãs claras.   Cai o silêncio nos ombros e a luz impura, até doer. É urgente o amor,  é urgente Permanecer.  URGÊNCIA
Respiro o teu corpo:   sabe a lua-de-água ao amanhecer,   sabe a cal molhada,   sabe a luz mordida, sabe a brisa nua,   ao sangue dos rios, sabe a rosa louca, ao cair da noite  sabe a pedra amarga, sabe à minha boca...
Sem Ti E de súbito desaba o silêncio. É um silêncio sem ti, sem álamos, sem luas. Só nas minhas mãos ouço a música das tuas...
Que música escutas tão  atentamente? Que música escutas tão atentamente que não dás por mim? Que bosque, ou rio, ou mar? Ou é dentro de ti que tudo canta ainda? Queria falar contigo, dizer-te apenas que estou aqui, mas tenho medo, medo que toda a música cesse e tu não possas mais olhar as rosas.   Medo de quebrar o fio com que teces os dias sem memória. Com que palavras ou beijos  ou lágrimas se acordam os mortos sem os ferir, sem os trazer a esta espuma negra onde corpos e corpos se repetem, parcimoniosamente,  no meio de sombras?   Deixa-te estar assim, ó cheia de doçura, sentada, olhando as rosas, e tão alheia que nem dás por mim...
Sobre Flancos e Barcos Havia ainda outro jardim  o da minha vida  exíguo é certo mas o do meu olhar  são talvez dois pássaros que se amam  um sobre o outro ou dois cães de pé  é sempre a mesma inquietação este delírio branco ou o rumor  da chuva sobre flancos e barcos  o inverno vai chegar  sobre a palha ainda quente a mão  uma doçura de abelha muito jovem era o sopro distante das manhãs sobre o mar  e eu disse sentindo os seus passos nos pátios do coração  é o silêncio é por fim o silêncio  vai desabar...
ADEUS Já gastamos as palavras pela rua, meu amor, e o que nos ficou não chega para afastar o frio de quatro paredes. Gastamos tudo menos o silêncio. Gastamos os olhos com o sal das lágrimas, gastamos as mãos à força de as apertarmos, gastamos o relógio e as pedras das esquinas em esperas inúteis. Meto as mãos nas algibeiras  e não encontro nada. Antigamente  tínhamos tanto para dar um ao outro; era como se todas as coisas fossem minhas: quanto mais te dava mais tinha para te dar. Continua >
Mas isso era no tempo dos segredos, era no tempo em que o teu corpo era um aquário, era no tempo em que os meus olhos eram realmente peixes verdes. Hoje são apenas os meus olhos. É pouco, mas é verdade, uns olhos como todos os outros. Já gastamos as palavras. Quando agora digo: meu amor já se não passa absolutamente nada. E no entanto, antes das palavras gastas, tenho a certeza que todas as coisas estremeciam só de murmurar o teu nome no silêncio do meu coração. Não temos já nada para dar. Dentro de ti não há nada que me peça água. O passado é inútil como um trapo. E já te disse: as palavras estão gastas. Adeus...
Quase Nada O amor é uma ave a tremer nas mãos de uma criança. Serve-se de palavras por ignorar que as manhãs mais limpas não têm voz... Minha singela homenagem ao meu amado poeta de Portugal Pinturas: João Barcelos By Eliane/2007

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Biblioteca Global - Ponte entre Culturas
Biblioteca Global - Ponte entre CulturasBiblioteca Global - Ponte entre Culturas
Biblioteca Global - Ponte entre CulturasBesaf Biblioteca
 
Poemas de Maria do Carmo Marino Schneider
Poemas de Maria do Carmo Marino SchneiderPoemas de Maria do Carmo Marino Schneider
Poemas de Maria do Carmo Marino SchneiderRenata Bomfim
 
Se Você Me Esquecer
Se Você Me EsquecerSe Você Me Esquecer
Se Você Me Esquecermiriam catao
 
Livrinho Jogando e escrevendo poemas
Livrinho Jogando e escrevendo poemasLivrinho Jogando e escrevendo poemas
Livrinho Jogando e escrevendo poemasAline França Russo
 
Poesias mostra cultural
Poesias mostra culturalPoesias mostra cultural
Poesias mostra culturalBarbara Coelho
 
Mil sóis por Carmen Ligia, em http://aprendizdepoetaenavida.blogspot.com
Mil sóis   por Carmen Ligia, em http://aprendizdepoetaenavida.blogspot.comMil sóis   por Carmen Ligia, em http://aprendizdepoetaenavida.blogspot.com
Mil sóis por Carmen Ligia, em http://aprendizdepoetaenavida.blogspot.comCarmen Ligia
 
Rosa lobat - ana branco e marta
Rosa lobat - ana branco e martaRosa lobat - ana branco e marta
Rosa lobat - ana branco e marta101d1
 
Caderno de poesia 9º ano - Metas Português
Caderno de poesia 9º ano - Metas PortuguêsCaderno de poesia 9º ano - Metas Português
Caderno de poesia 9º ano - Metas Portuguêsbibliotecacampo
 
Jsnome27olharsobresetúbal
Jsnome27olharsobresetúbalJsnome27olharsobresetúbal
Jsnome27olharsobresetúbalesbocage
 

Mais procurados (20)

Natércia Freire
Natércia FreireNatércia Freire
Natércia Freire
 
Eugénio de Andrade
Eugénio de AndradeEugénio de Andrade
Eugénio de Andrade
 
Biblioteca Global - Ponte entre Culturas
Biblioteca Global - Ponte entre CulturasBiblioteca Global - Ponte entre Culturas
Biblioteca Global - Ponte entre Culturas
 
Poemas de Maria do Carmo Marino Schneider
Poemas de Maria do Carmo Marino SchneiderPoemas de Maria do Carmo Marino Schneider
Poemas de Maria do Carmo Marino Schneider
 
eugenio de andrare
eugenio de andrareeugenio de andrare
eugenio de andrare
 
Poesias 7
Poesias 7Poesias 7
Poesias 7
 
Se Você Me Esquecer
Se Você Me EsquecerSe Você Me Esquecer
Se Você Me Esquecer
 
Livrinho Jogando e escrevendo poemas
Livrinho Jogando e escrevendo poemasLivrinho Jogando e escrevendo poemas
Livrinho Jogando e escrevendo poemas
 
Poesias mostra cultural
Poesias mostra culturalPoesias mostra cultural
Poesias mostra cultural
 
Mil sóis por Carmen Ligia, em http://aprendizdepoetaenavida.blogspot.com
Mil sóis   por Carmen Ligia, em http://aprendizdepoetaenavida.blogspot.comMil sóis   por Carmen Ligia, em http://aprendizdepoetaenavida.blogspot.com
Mil sóis por Carmen Ligia, em http://aprendizdepoetaenavida.blogspot.com
 
O riode vinicius
O riode viniciusO riode vinicius
O riode vinicius
 
Derramando Petalas
Derramando PetalasDerramando Petalas
Derramando Petalas
 
Derramando Petalas
Derramando PetalasDerramando Petalas
Derramando Petalas
 
\"Não posso adiar o amor\"
\"Não posso adiar o amor\"\"Não posso adiar o amor\"
\"Não posso adiar o amor\"
 
Rosa lobat - ana branco e marta
Rosa lobat - ana branco e martaRosa lobat - ana branco e marta
Rosa lobat - ana branco e marta
 
Caderno de poesia 9º ano - Metas Português
Caderno de poesia 9º ano - Metas PortuguêsCaderno de poesia 9º ano - Metas Português
Caderno de poesia 9º ano - Metas Português
 
Aler+poesia
Aler+poesiaAler+poesia
Aler+poesia
 
Jose Regio
Jose RegioJose Regio
Jose Regio
 
Jsnome27olharsobresetúbal
Jsnome27olharsobresetúbalJsnome27olharsobresetúbal
Jsnome27olharsobresetúbal
 
Bossa Nova - Apresentação de Slides
Bossa Nova - Apresentação de SlidesBossa Nova - Apresentação de Slides
Bossa Nova - Apresentação de Slides
 

Destaque

Los mandamientos a través de la historia.
Los mandamientos a través de la historia.Los mandamientos a través de la historia.
Los mandamientos a través de la historia.El Evangelio Olvidado
 
Centre pompidou málaga
Centre pompidou málagaCentre pompidou málaga
Centre pompidou málagafrmoliere
 
Planificação semana de 16 a 20 de abril
Planificação semana de  16 a 20 de abrilPlanificação semana de  16 a 20 de abril
Planificação semana de 16 a 20 de abrilFlora Queirós
 
Guillaume canet
Guillaume canetGuillaume canet
Guillaume canetfrmoliere
 
Campo belo lrf - protocolo entrega - 30-04-2012
Campo belo   lrf - protocolo entrega - 30-04-2012Campo belo   lrf - protocolo entrega - 30-04-2012
Campo belo lrf - protocolo entrega - 30-04-2012Marcelo Santos
 
Plano de actividades 2011
Plano de actividades 2011Plano de actividades 2011
Plano de actividades 2011cppombalinho
 
Filtros y funciones del color - Sergio Vásquez
Filtros y funciones del color - Sergio VásquezFiltros y funciones del color - Sergio Vásquez
Filtros y funciones del color - Sergio VásquezUniminuto - SENA
 
Plano de actividades 2011
Plano de actividades 2011Plano de actividades 2011
Plano de actividades 2011cppombalinho
 
Semelhantes a jó
Semelhantes a jóSemelhantes a jó
Semelhantes a jóEid Marques
 
Campo belo lrf anexo 2 - 31-12-2013
Campo belo lrf   anexo 2 - 31-12-2013Campo belo lrf   anexo 2 - 31-12-2013
Campo belo lrf anexo 2 - 31-12-2013Marcelo Santos
 
à Descoberta da be ce tarouca
à Descoberta da be ce taroucaà Descoberta da be ce tarouca
à Descoberta da be ce taroucacmlf61
 
Sexy Polizei oder Piratenbraut Kostüme für den Karneval finden Sie auf Mode-L...
Sexy Polizei oder Piratenbraut Kostüme für den Karneval finden Sie auf Mode-L...Sexy Polizei oder Piratenbraut Kostüme für den Karneval finden Sie auf Mode-L...
Sexy Polizei oder Piratenbraut Kostüme für den Karneval finden Sie auf Mode-L...HighHeels-Boutique.com
 
Apresentação porto
Apresentação portoApresentação porto
Apresentação portoJosé Rosa
 

Destaque (20)

Los mandamientos a través de la historia.
Los mandamientos a través de la historia.Los mandamientos a través de la historia.
Los mandamientos a través de la historia.
 
Centre pompidou málaga
Centre pompidou málagaCentre pompidou málaga
Centre pompidou málaga
 
Planificação semana de 16 a 20 de abril
Planificação semana de  16 a 20 de abrilPlanificação semana de  16 a 20 de abril
Planificação semana de 16 a 20 de abril
 
El camino equivocado
El camino equivocadoEl camino equivocado
El camino equivocado
 
Guillaume canet
Guillaume canetGuillaume canet
Guillaume canet
 
Salmos e hinos 389
Salmos e hinos 389Salmos e hinos 389
Salmos e hinos 389
 
Convite ALA - "Contos de Amor e Desamor"
Convite ALA - "Contos de Amor e Desamor"Convite ALA - "Contos de Amor e Desamor"
Convite ALA - "Contos de Amor e Desamor"
 
Campo belo lrf - protocolo entrega - 30-04-2012
Campo belo   lrf - protocolo entrega - 30-04-2012Campo belo   lrf - protocolo entrega - 30-04-2012
Campo belo lrf - protocolo entrega - 30-04-2012
 
Plano de actividades 2011
Plano de actividades 2011Plano de actividades 2011
Plano de actividades 2011
 
Filtros y funciones del color - Sergio Vásquez
Filtros y funciones del color - Sergio VásquezFiltros y funciones del color - Sergio Vásquez
Filtros y funciones del color - Sergio Vásquez
 
Plano de actividades 2011
Plano de actividades 2011Plano de actividades 2011
Plano de actividades 2011
 
Atenção seq
Atenção  seqAtenção  seq
Atenção seq
 
Semelhantes a jó
Semelhantes a jóSemelhantes a jó
Semelhantes a jó
 
Campo belo lrf anexo 2 - 31-12-2013
Campo belo lrf   anexo 2 - 31-12-2013Campo belo lrf   anexo 2 - 31-12-2013
Campo belo lrf anexo 2 - 31-12-2013
 
Momentos...2
Momentos...2Momentos...2
Momentos...2
 
à Descoberta da be ce tarouca
à Descoberta da be ce taroucaà Descoberta da be ce tarouca
à Descoberta da be ce tarouca
 
Tiago Salgueiro
Tiago SalgueiroTiago Salgueiro
Tiago Salgueiro
 
Sexy Polizei oder Piratenbraut Kostüme für den Karneval finden Sie auf Mode-L...
Sexy Polizei oder Piratenbraut Kostüme für den Karneval finden Sie auf Mode-L...Sexy Polizei oder Piratenbraut Kostüme für den Karneval finden Sie auf Mode-L...
Sexy Polizei oder Piratenbraut Kostüme für den Karneval finden Sie auf Mode-L...
 
Apresentação porto
Apresentação portoApresentação porto
Apresentação porto
 
Triduo
TriduoTriduo
Triduo
 

Semelhante a Eugénio de Andrade, poeta português

Eugenio andrade 1
Eugenio andrade 1Eugenio andrade 1
Eugenio andrade 1carlos2627
 
Um coração, um cúpido e um beijo por um poema de amor em português
Um coração, um cúpido e um beijo por um poema de amor em portuguêsUm coração, um cúpido e um beijo por um poema de amor em português
Um coração, um cúpido e um beijo por um poema de amor em portuguêsLeonor Costa
 
Caderno digital de Literatura
Caderno digital de LiteraturaCaderno digital de Literatura
Caderno digital de Literaturadavidaaduarte
 
Poemas Ilustrados
Poemas IlustradosPoemas Ilustrados
Poemas Ilustradosvales
 
Leituras
LeiturasLeituras
Leiturasguida04
 
Semana da Poesia em Miranda do Corvo
Semana da Poesia  em Miranda do CorvoSemana da Poesia  em Miranda do Corvo
Semana da Poesia em Miranda do Corvocriscouceiro
 
Pablo Neruda Vinte poemas de amor e uma cancao desesperada
Pablo Neruda Vinte poemas de amor e uma cancao desesperadaPablo Neruda Vinte poemas de amor e uma cancao desesperada
Pablo Neruda Vinte poemas de amor e uma cancao desesperadaCarlos Elson Cunha
 
Poemas so século xx
Poemas so século xxPoemas so século xx
Poemas so século xxtildocas
 
Poemas
PoemasPoemas
Poemasxyagox
 
Vinte poemas de amor e uma canção desesperada, Pablo Neruda
Vinte poemas de amor e uma canção desesperada, Pablo NerudaVinte poemas de amor e uma canção desesperada, Pablo Neruda
Vinte poemas de amor e uma canção desesperada, Pablo NerudaZanah
 
Calendário Mensal: Julho 2010
Calendário Mensal: Julho 2010Calendário Mensal: Julho 2010
Calendário Mensal: Julho 2010Gisele Santos
 
AS HISTÓRIAS QUE EU CONTEI PRA MIM MESMO
AS HISTÓRIAS QUE EU CONTEI PRA MIM MESMOAS HISTÓRIAS QUE EU CONTEI PRA MIM MESMO
AS HISTÓRIAS QUE EU CONTEI PRA MIM MESMOMauricioSantini
 

Semelhante a Eugénio de Andrade, poeta português (20)

Eugenio andrade 1
Eugenio andrade 1Eugenio andrade 1
Eugenio andrade 1
 
Eugenio andrade (1)
Eugenio andrade (1)Eugenio andrade (1)
Eugenio andrade (1)
 
Um coração, um cúpido e um beijo por um poema de amor em português
Um coração, um cúpido e um beijo por um poema de amor em portuguêsUm coração, um cúpido e um beijo por um poema de amor em português
Um coração, um cúpido e um beijo por um poema de amor em português
 
Caderno digital de Literatura
Caderno digital de LiteraturaCaderno digital de Literatura
Caderno digital de Literatura
 
Poemas Ilustrados
Poemas IlustradosPoemas Ilustrados
Poemas Ilustrados
 
Leituras
LeiturasLeituras
Leituras
 
Semana da Poesia em Miranda do Corvo
Semana da Poesia  em Miranda do CorvoSemana da Poesia  em Miranda do Corvo
Semana da Poesia em Miranda do Corvo
 
Poemas de vários autores
Poemas de vários autoresPoemas de vários autores
Poemas de vários autores
 
Pablo Neruda Vinte poemas de amor e uma cancao desesperada
Pablo Neruda Vinte poemas de amor e uma cancao desesperadaPablo Neruda Vinte poemas de amor e uma cancao desesperada
Pablo Neruda Vinte poemas de amor e uma cancao desesperada
 
Poemas so século xx
Poemas so século xxPoemas so século xx
Poemas so século xx
 
Poemas
PoemasPoemas
Poemas
 
Vinte poemas de amor e uma canção desesperada, Pablo Neruda
Vinte poemas de amor e uma canção desesperada, Pablo NerudaVinte poemas de amor e uma canção desesperada, Pablo Neruda
Vinte poemas de amor e uma canção desesperada, Pablo Neruda
 
Sessão leitura poética 2014
Sessão leitura poética 2014Sessão leitura poética 2014
Sessão leitura poética 2014
 
Eugénio de andrade
Eugénio de andradeEugénio de andrade
Eugénio de andrade
 
Calendário Mensal: Julho 2010
Calendário Mensal: Julho 2010Calendário Mensal: Julho 2010
Calendário Mensal: Julho 2010
 
Chuva de Poemas 1.pdf
Chuva de Poemas 1.pdfChuva de Poemas 1.pdf
Chuva de Poemas 1.pdf
 
Poemas de amor
Poemas de amorPoemas de amor
Poemas de amor
 
Uma lua de urano
Uma lua de uranoUma lua de urano
Uma lua de urano
 
AS HISTÓRIAS QUE EU CONTEI PRA MIM MESMO
AS HISTÓRIAS QUE EU CONTEI PRA MIM MESMOAS HISTÓRIAS QUE EU CONTEI PRA MIM MESMO
AS HISTÓRIAS QUE EU CONTEI PRA MIM MESMO
 
Poesia - aLer+ a Liberdade - Ficheiro B.pdf
Poesia - aLer+ a Liberdade - Ficheiro B.pdfPoesia - aLer+ a Liberdade - Ficheiro B.pdf
Poesia - aLer+ a Liberdade - Ficheiro B.pdf
 

Eugénio de Andrade, poeta português

  • 2. BIOGRAFIA EUGÉNIO DE ANDRADE Pseudônimo de José Fontinhas Rato. Poeta português nascido na freguesia de Póvoa de Atalaia (Fundão) em 19 de Janeiro de 1923. Faleceu a 13 de Junho de 2005, no Porto, após uma doença neurológica prolongada. “ Passamos pelas coisas sem as ver, gastos, como animais envelhecidos: se alguém chama por nós não respondemos, se alguém nos pede amor não estremecemos, como frutos de sombra sem sabor, vamos caindo ao chão, apodrecidos.”
  • 3. Madrigal Tu já tinhas um nome, e eu não sei se eras fonte ou brisa ou mar ou flor. Nos meus versos chamar-te-ei amor...
  • 4. FRENTE A FRENTE Nada podeis contra o amor, Contra a cor da folhagem, contra a carícia da espuma, contra a luz, nada podeis. Podeis dar-nos a morte, a mais vil, isso podeis - e é tão pouco!
  • 5. As palavras São como um cristal, as palavras. Algumas, um punhal, um incêndio. Outras, orvalho apenas. Secretas vêm, cheias de memória. Inseguras navegam: barcos ou beijos, as águas estremecem. Desamparadas, inocentes, leves. Tecidas são de luz e são a noite. E mesmo pálidas verdes paraísos lembram ainda. Quem as escuta? Quem as recolhe, assim, cruéis, desfeitas, nas suas conchas puras?
  • 6. DEVIAS ESTAR AQUI Devias estar aqui rente aos meus lábios para dividir contigo esta amargura dos meus dias partidos um a um - Eu vi a terra limpa no teu rosto, Só no teu rosto e nunca em mais nenhum...
  • 7. A arrancar a raiz ao mais diminuto dos rios. A inundar-te de facas, de saliva esperma lume. Estou a rodear de agulhas a boca mais vulnerável. A marcar sobre os teus flancos itinerários da espuma. Assim é o amor: mortal e navegável... O AMOR Estou a amar-te como o frio corta os lábios.
  • 8. É urgente o amor. É urgente um barco no mar. É urgente destruir certas palavras, ódio, solidão e crueldade, alguns lamentos, muitas espadas. É urgente inventar alegria, multiplicar os beijos, as searas, é urgente descobrir rosas e rios e manhãs claras. Cai o silêncio nos ombros e a luz impura, até doer. É urgente o amor, é urgente Permanecer. URGÊNCIA
  • 9. Respiro o teu corpo: sabe a lua-de-água ao amanhecer, sabe a cal molhada, sabe a luz mordida, sabe a brisa nua, ao sangue dos rios, sabe a rosa louca, ao cair da noite sabe a pedra amarga, sabe à minha boca...
  • 10. Sem Ti E de súbito desaba o silêncio. É um silêncio sem ti, sem álamos, sem luas. Só nas minhas mãos ouço a música das tuas...
  • 11. Que música escutas tão atentamente? Que música escutas tão atentamente que não dás por mim? Que bosque, ou rio, ou mar? Ou é dentro de ti que tudo canta ainda? Queria falar contigo, dizer-te apenas que estou aqui, mas tenho medo, medo que toda a música cesse e tu não possas mais olhar as rosas. Medo de quebrar o fio com que teces os dias sem memória. Com que palavras ou beijos ou lágrimas se acordam os mortos sem os ferir, sem os trazer a esta espuma negra onde corpos e corpos se repetem, parcimoniosamente, no meio de sombras? Deixa-te estar assim, ó cheia de doçura, sentada, olhando as rosas, e tão alheia que nem dás por mim...
  • 12. Sobre Flancos e Barcos Havia ainda outro jardim o da minha vida exíguo é certo mas o do meu olhar são talvez dois pássaros que se amam um sobre o outro ou dois cães de pé é sempre a mesma inquietação este delírio branco ou o rumor da chuva sobre flancos e barcos o inverno vai chegar sobre a palha ainda quente a mão uma doçura de abelha muito jovem era o sopro distante das manhãs sobre o mar e eu disse sentindo os seus passos nos pátios do coração é o silêncio é por fim o silêncio vai desabar...
  • 13. ADEUS Já gastamos as palavras pela rua, meu amor, e o que nos ficou não chega para afastar o frio de quatro paredes. Gastamos tudo menos o silêncio. Gastamos os olhos com o sal das lágrimas, gastamos as mãos à força de as apertarmos, gastamos o relógio e as pedras das esquinas em esperas inúteis. Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada. Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro; era como se todas as coisas fossem minhas: quanto mais te dava mais tinha para te dar. Continua >
  • 14. Mas isso era no tempo dos segredos, era no tempo em que o teu corpo era um aquário, era no tempo em que os meus olhos eram realmente peixes verdes. Hoje são apenas os meus olhos. É pouco, mas é verdade, uns olhos como todos os outros. Já gastamos as palavras. Quando agora digo: meu amor já se não passa absolutamente nada. E no entanto, antes das palavras gastas, tenho a certeza que todas as coisas estremeciam só de murmurar o teu nome no silêncio do meu coração. Não temos já nada para dar. Dentro de ti não há nada que me peça água. O passado é inútil como um trapo. E já te disse: as palavras estão gastas. Adeus...
  • 15. Quase Nada O amor é uma ave a tremer nas mãos de uma criança. Serve-se de palavras por ignorar que as manhãs mais limpas não têm voz... Minha singela homenagem ao meu amado poeta de Portugal Pinturas: João Barcelos By Eliane/2007