Este documento discute os desafios epistemológicos únicos das ciências humanas devido à proximidade entre o sujeito e o objeto de estudo. A investigação de seres humanos por outros seres humanos levanta questões sobre a subjetividade, a complexidade dos fenômenos humanos e a impossibilidade de experimentação pura. As ciências humanas buscam a compreensão em vez da explicação através de métodos intersubjetivos.
2. As ciências humanas têm
um problema,
epistemologicamente
decisivo, na sua raiz:
A proximidade / identidade
entre o objecto de estudo e
o sujeito que investiga.
O homem estuda o homem
3. "Sou humano, e nada do que é humano me é estranho“
Terêncio
4. Esta proximidade entre sujeito e objecto levanta uma série
de problemas que pode constituir um sério obstáculo à
investigação:
• Perigo de
contaminação dos
dados observacionais
com elementos
“subjectivos”, ou seja,
inerentes ao observador
e à forma como ele
reage emocionalmente
ao observado.
5. • Possibilidade de
adulteração dos dados
observacionais com
valorações decorrentes
de sistemas valorativos
inerentes à cultura do
observador.
7. • Perigo de alteração da
situação observada, quando
há uma interacção entre o
observador e o observado.
8. • Dificuldade (ou
impossibilidade, ética ou
funcional) de comprovar
experimentalmente as
hipóteses.
9. • Dinamicidade das situações
observacionais: a realidade
humana está em constante
transformação.
10. • Condicionamento dos
comportamentos
observados – as pessoas se
se souberem objecto de
investigação, podem alterar,
mesmo que
inconscientemente, os seus
comportamentos.
11. • A extrema complexidade
dos fenómenos humanos
(cada homem é, em si
mesmo, um universo
imenso), torna muito
difícil isolar variáveis que
permitam uma análise
estrutural desses
mesmos fenómenos, bem
como a formulação de
uma explicação (causal)
para a sua ocorrência.
13. Ou seja:
O observador e o observado
não são independentes:
partilham a mesma
natureza e são ambos
seres dotados duma
consciência intencional,
estando por isso em
constante interacção.
14. Ou seja:
O observador e o observado
são ambos sujeitos,
conscientes e agentes que
interagem numa mesma
situação, embora
assumam papéis
diferentes.
15. Assim,
A base das ciências naturais é a
explicação,
enquanto que, nas ciências humanas, é a
compreensão.
16. Explicar é estabelecer nexos causais entre os
fenómenos, é responder à questão “Porquê?” –
é indicar, para cada conjunto de fenómenos, a
causa que os produz e que, por isso, é a sua
razão de ser.
17. A generalização é, por esta razão, inerente à
explicação: uma vez descoberta a causa de um
fenómeno particular, ficamos a conhecer a
causa de todos os fenómenos do mesmo tipo
(do tipo a que pertence o fenómeno particular
cuja causa descobrimos).
18. Compreender é ser capaz de estabelecer nexos
significativos entre os fenómenos humanos
(que são sempre culturais) e entre estes e o
observador, sem anular a singularidade, mas
antes, procurando iluminá-la a partir dum
contexto que permita interpretá-la sem a
deturpar e sem a reduzir.
19. Procura-se assim encontrar formas de
enquadrar a singularidade num quadro
geral, sem que se perca de vista a riqueza
e a complexidade dos fenómenos
humanos.
20. Os actos humanos, sendo intencionais, não têm apenas um
«porquê?» , mas também, um «para quê?» (e, muitas vezes um
«para quem?» ), não podendo ser explicados, como se explicam
os fenómenos naturais…
21. Por isso,
As ciências humanas recorrem a uma ampla gama de métodos de
investigação e de intervenção…