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Nefrolitíase
Orson W Moe Khashayar Sakhaee Naim M Maalouf
Disponível em http://www.medicinanet.com.br/,acessado em 29/08/2013
Última revisão: 25/06/2013
Nefrolitíase – Orson W. Moe, Khashayar Sakhaee, Naim M. Maalouf
	
  
Orson	
  W.	
  Moe,	
  MD
Professor,	
  Department	
  of	
  Internal	
  Medicine,	
  Charles	
  and	
  Jane	
  Pak	
  Center	
  for	
  Mineral	
  
Metabolism	
  and	
  Clinical	
  Research,	
  University	
  of	
  Texas	
  Southwestern	
  Medical	
  Center,	
  
Dallas,	
  TX
	
  
Khashayar	
  Sakhaee,	
  MD
Professor,	
  Department	
  of	
  Internal	
  Medicine,	
  Charles	
  and	
  Jane	
  Pak	
  Center	
  for	
  Mineral	
  
Metabolism	
  and	
  Clinical	
  Research,	
  University	
  of	
  Texas	
  Southwestern	
  Medical	
  Center,	
  
Dallas,	
  TX
	
  
Naim	
  M.	
  Maalouf,	
  MD
Assistant	
  Professor,	
  Department	
  of	
  Internal	
  Medicine,	
  Charles	
  and	
  Jane	
  Pak	
  Center	
  
of	
   Mineral	
   Metabolism	
   and	
   Clinical	
   Research,	
   University	
   for	
   Texas	
   Southwestern	
  
Medical	
  Center,	
  Dallas,	
  TX
	
  
	
  
Artigo	
   original:	
  Moe	
   OW,	
   Sakhaee	
   K,	
   Maalouf	
   NM.	
  Nephrolithiasis.	
   ACP	
   Medicine.	
  
2010;1-­‐12.
[The	
  original	
  English	
  language	
  work	
  has	
  been	
  published	
  by	
  DECKER	
  INTELLECTUAL	
  
PROPERTIES	
  INC.	
  Hamilton,	
  Ontario,	
  Canada.	
  Copyright	
  ©	
  2011	
  Decker	
  Intellectual	
  
Properties	
  Inc.	
  All	
  Rights	
  Reserved.]
Tradução:	
  Soraya	
  Imon	
  de	
  Oliveira
Revisão	
  técnica:	
  Dr.	
  Euclides	
  Furtado	
  de	
  Albuquerque	
  Cavalcanti
	
  
	
  
Definição da doença
O termo nefrolitíase, frequentemente empregado como sinônimo de urolitíase,
refere-se à formação de cálculos sólidos constituídos de proteína e materiais cristalinos,
junto ao lúmen do trato urinário, fixos ao uroepitélio. Existe um número desconhecido e
provavelmente amplo de indivíduos com nefrolitíase subclínica, que não apresentam
sinais nem sintomas. A nefrolitíase tem afligido os seres humanos desde os primeiros
registros históricos e tem sido observada em uma ampla gama de animais. O rim de um
mamífero terrestre enfrenta um desafio formidável ao ser incumbido da tarefa de excretar
uma enorme quantidade de solutos altamente insolúveis contidos em um volume bastante
pequeno. Numerosos mecanismos de defesa contribuem para evitar que os cristais se
formem e fiquem aderidos ao uroepitélio. Contudo, a fisiologia é imperfeita, e a falha no
desempenho desta tarefa resulta na nefrolitíase. Esta condição, vale lembrar, não constitui
um “diagnóstico” verdadeiro, uma vez que os cálculos renais podem se formar devido a
uma ampla gama de doenças subjacentes. Conceitualmente, o diagnóstico de nefrolitíase
por si só é um diagnóstico tanto quanto o são febre ou edema. É dever do clínico
procurar e descobrir a patofisiologia subjacente, bem como a causa da formação dos
cálculos renais.
Epidemiologia
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  A	
   nefrolitíase	
   constitui	
   um	
   problema	
   de	
   saúde	
   global	
   que	
   permeia	
   todas	
   as	
  
regiões	
   geográficas	
   e	
   classes	
   econômicas.	
   As	
   estimativas	
   atuais	
   apontam	
   uma	
  
incidência	
   anual	
   de	
   1%,	
   prevalência	
   de	
   3	
   a	
   5%	
   e	
   um	
   risco	
   vitalício	
   de	
   25%.1
	
  A	
  
incidência	
   da	
   urolitíase	
   tem	
   aumentado	
   com	
   o	
   passar	
   do	
   tempo.2
	
  A	
   nefrolitíase	
   é	
  
recorrente	
   na	
   maioria	
   dos	
   casos	
   e	
   este	
   aspecto,	
   na	
   maioria	
   dos	
   indivíduos,	
  
transforma-­‐a	
  em	
  uma	
  aflição	
  que	
  persiste	
  por	
  toda	
  a	
  vida.3
	
  Trata-­‐se	
  de	
  uma	
  condição	
  
mais	
  comum	
  entre	
  os	
  homens	
  do	
  que	
  entre	
  as	
  mulheres	
  durante	
  a	
  maior	
  parte	
  da	
  
fase	
  adulta,	
  exceto	
  na	
  6ª	
  década	
  da	
  vida,	
  quando	
  sua	
  incidência	
  é	
  nivelada.4
	
  Existem	
  
variações	
   geográficas	
   em	
   termos	
   de	
   prevalência	
   dos	
   cálculos,	
   tendo	
   sido	
  
identificados	
   “cinturões	
   de	
   cálculos”	
   regionais	
   que	
   foram	
   atribuídos	
   a	
   fatores	
  
genéticos	
  e	
  ambientais	
  (p.	
  ex.,	
  clima	
  quente	
  [perda	
  de	
  líquidos]	
  e	
  exposição	
  ao	
  Sol	
  
[vitamina	
  D]).	
  A	
  prevalência	
  entre	
  hispânicos	
  e	
  asiáticos	
  é	
  intermediária	
  entre	
  aquela	
  
observada	
  nas	
  populações	
  de	
  brancos	
  e	
  afrodescendentes.4
	
  O	
  risco	
  de	
  nefrolitíase	
  é	
  
mais	
   alto	
   em	
   indivíduos	
   obesos.2,5
	
  Um	
   índice	
   de	
   massa	
   corporal	
   ou	
   uma	
  
circunferência	
  de	
  cintura	
  maiores	
  e	
  um	
  ganho	
  de	
  peso	
  da	
  ordem	
  de	
  15,9	
  kg	
  desde	
  o	
  
início	
  da	
  fase	
  adulta	
  são	
  fatores	
  que	
  estão	
  associados	
  a	
  maior	
  risco	
  de	
  formação	
  de	
  
cálculos.5
	
  A	
   distribuição	
   dos	
   tipos	
   de	
   cálculos	
   no	
   mundo	
   ocidental	
   difere	
   de	
   um	
  
estudo	
  para	
  outro,	
  mas	
  pode	
  ser	
  representada	
  pelas	
  seguintes	
  estimativas:	
  oxalato	
  
de	
  cálcio,	
  65%;	
  fosfato	
  de	
  cálcio,	
  15%;	
  ácido	
  úrico,	
  10%;	
  cistina,	
  2%;	
  e	
  estruvita,	
  5%.6,7
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  O	
   Urological	
   Diseases	
   in	
   America	
   Project	
   calculou	
   para	
   o	
   ano	
   de	
   2000,	
   nos	
  
Estados	
   Unidos,	
   uma	
   estimativa	
   de	
   gasto	
   conservadora	
   anual	
   com	
   casos	
   de	
  
nefrolitíase	
   da	
   ordem	
   de	
   alguns	
   bilhões	
   de	
   dólares.	
   Esta	
   estimativa	
   demonstra	
   a	
  
carga	
  nos	
  	
  indivíduos	
  em	
  idade	
  produtiva	
  e	
  na	
  sociedade	
  em	
  geral.	
  As	
  estratégias	
  de	
  
tratamento	
   que	
   empregam	
   testes	
   simples	
   e	
   terapias	
   farmacológicas	
   econômicas	
  
mostraram-­‐se	
   eficazes	
   e	
   custo-­‐efetivas.8
Um	
   estudo	
   retrospectivo	
   de	
   pacientes	
  
seguidos	
  durante	
  20	
  anos	
  demonstrou	
  a	
  eficácia	
  sustentada	
  da	
  terapia	
  médica	
  na	
  
promoção	
  de	
  melhora	
  dos	
  parâmetros	
  bioquímicos	
  e	
  eventos	
  clínicos.9
	
  
Etiologia e genética
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  Conforme	
   já	
   mencionado,	
   a	
   nefrolitíase	
   pode	
   surgir	
   a	
   partir	
   de	
   uma	
   ampla	
  
variedade	
   de	
   etiologias	
   subjacentes.	
   Definitivamente,	
   não	
   é	
   do	
   melhor	
   interesse	
  
para	
  o	
  paciente	
  quando	
  o	
  clínico	
  trata	
  a	
  nefrolitíase	
  como	
  um	
  diagnóstico	
  final,	
  sem	
  
investigar	
  de	
  forma	
  mais	
  aprofundada	
  a	
  etiologia	
  subjacente.	
  A	
  natureza	
  recorrente	
  
dos	
  cálculos	
  renais	
  e	
  o	
  fato	
  de	
  haver	
  numerosas	
  etiologias	
  subjacentes	
  tratáveis	
  e	
  
potencialmente	
   prejudiciais	
   exigem	
   um	
   grau	
   mínimo	
   de	
   avaliação	
   de	
   todos	
   os	
  
pacientes	
   formadores	
   de	
   cálculos.	
   A	
  Tabela	
   1	
  apresenta	
   uma	
   lista	
   de	
   etiologias,	
   e	
  
mais	
  detalhes	
  são	
  fornecidos	
  na	
  seção	
  sobre	
  diagnóstico,	
  adiante.	
  O	
  baixo	
  volume	
  de	
  
urina	
   atribuído	
   à	
   baixa	
   ingesta	
   de	
   líquidos	
   ou	
   às	
   perdas	
   cutâneas	
   e/ou	
   intestinais	
  
constitui	
  um	
  fator	
  de	
  risco	
  universal.10
	
  Uma	
  elevada	
  ingesta	
  proteica	
  impõe	
  um	
  risco	
  
3	
   vezes	
   maior	
   de	
   desenvolvimento	
   de	
   hipercalciúria,	
   hipocitratúria	
   e	
  
hiperuricosúria.11
	
  Uma	
  elevada	
  ingesta	
  de	
  sal	
  invariavelmente	
  aumenta	
  a	
  excreção	
  de	
  
cálcio12
	
  e	
  tem	
  o	
  potencial	
  de	
  diminuir	
  a	
  concentração	
  de	
  citrato	
  na	
  urina.	
  Uma	
  ampla	
  
variedade	
   de	
   doenças	
   metabólicas	
   sistêmicas	
   aumenta	
   o	
   risco	
   de	
   formação	
   de	
  
cálculos	
  [Tabela	
   1].	
   O	
   hiperparatireoidismo	
   e	
   algumas	
   doenças	
   granulomatosas,	
  
como	
   a	
   sarcoidose,	
   acarretam	
   elevação	
   da	
   excreção	
   urinária	
   de	
   cálcio.13
	
  A	
   gota,	
   o	
  
diabetes	
   de	
   tipo	
   2	
   e	
   a	
   síndrome	
   metabólica	
   estão	
   associados	
   a	
   um	
   risco	
   geral	
  
aumentado	
   de	
   formação	
   de	
   cálculos,	
   contudo	
   foi	
   comprovada	
   a	
   relação	
   destes	
  
fatores	
  com	
  cálculos	
  de	
  ácido	
  úrico.14,15
	
  Uma	
  variedade	
  de	
  doenças	
  intestinais	
  pode	
  
acarretar	
   a	
   formação	
   de	
   cálculos	
   renais	
   via	
   mecanismos	
   que	
   se	
   sobrepõem	
   a	
  
algumas	
  condições	
  já	
  discutidas:	
  perda	
  de	
  sódio	
  e	
  líquidos	
  (baixo	
  volume	
  de	
  urina),	
  
perda	
   de	
   potássio	
   e	
   álcali	
   (hipocitratúria)	
   e	
   formação	
   de	
   complexos	
   de	
   cálcio	
   e	
  
gordura	
   com	
   consequente	
   aumento	
   da	
   absorção	
   intestinal	
   de	
   oxalato.	
   Quando	
   a	
  
investigação	
  de	
  etiologias	
  conhecidas	
  é	
  infrutífera,	
  recorre-­‐se	
  aos	
  termos	
  descritivos	
  
(p.	
   ex.,	
   “hipercalciúria	
   idiopática”)	
   sobretudo	
   para	
   fins	
   de	
   comunicação.	
   A	
  
hipercalciúria	
   idiopática	
   consiste	
   em	
   uma	
   coleção	
   heterogênea	
   de	
   anormalidades,	
  
que	
   inclui	
   a	
   hiperabsorção	
   intestinal	
   de	
   cálcio,	
   reabsorção	
   óssea	
   aumentada	
   e	
  
vazamento	
   de	
   cálcio	
   urinário.16
	
  Há	
   também	
   pacientes	
   que	
   apresentam	
   excreção	
  
aumentada	
   de	
   oxalato,	
   mas	
   sem	
   causas	
   intestinais	
   ou	
   metabólicas	
   identificáveis.	
  
Conforme	
   é	
   detalhado	
   a	
   seguir	
   [ver	
   História],	
   os	
   fármacos	
   podem	
   alterar	
   a	
  
composição	
  bioquímica	
  da	
  urina	
  e	
  aumentar	
  o	
  risco	
  de	
  formação	
  de	
  cálculos	
  ou,	
  em	
  
alguns	
   casos	
   inusitados,	
   os	
   próprios	
   fármacos	
   podem	
   se	
   precipitar	
   na	
   urina	
   e	
  
produzir	
  um	
  nefrólito	
  de	
  fármaco.
	
  
Tabela	
  1.	
  Etiologia	
  da	
  nefrolitíase
Condição
Tipo	
  de	
  cálculo*
Oxalat
o	
  de	
  
cálcio
Fosfat
o	
  de	
  
cálcio
Ácid
o	
  
úrico
Estruvit
a
Cistin
a
Fármaco
s
Ambiental/dietética 	
   	
   	
   	
   	
   	
  
Volume	
  de	
  urina	
  
reduzido + + + + + +
Dieta	
  rica	
  em	
  proteína + 	
   + 	
   	
   	
  
Dieta	
  rica	
  em	
  sal + 	
   	
   	
   	
   	
  
Metabólica 	
   	
   	
   	
   	
   	
  
Hiperparatireoidismo	
  
primário + + 	
   	
   	
   	
  
Doenças	
  
granulomatosas + 	
   	
   	
   	
   	
  
Acidose	
  metabólica + 	
   + 	
   	
   	
  
Síndrome	
  
metabólica/gota/diabet
es	
  de	
  tipo	
  2 + 	
   + 	
   	
   	
  
Condições	
  
hiperuricosúricas + 	
   + 	
   	
   	
  
Doenças	
  intestinais + 	
   	
   	
   	
   	
  
Condições	
  de	
  diarreia	
  
crônica + 	
   + 	
   	
   	
  
Má	
  absorção	
  de	
  
gorduras + 	
   	
   	
   	
   	
  
Pós-­‐cirurgia	
  bariátrica + 	
   + 	
   	
   	
  
Idiopática 	
   	
   	
   	
   	
   	
  
Hipercalciúria + + 	
   	
   	
   	
  
Hiperoxalúria + 	
   	
   	
   	
   	
  
Síndromes	
  congênitas 	
   	
   	
   	
   	
   	
  
Acidose	
  tubular	
  renal 	
   + 	
   	
   	
   	
  
Cistinúria 	
   	
   	
   	
   + 	
  
Hiperoxalúria	
  primária + 	
   	
   	
   	
   	
  
Infecção	
  do	
  trato	
  urinário 	
   	
   	
   + 	
   	
  
Medicações 	
   	
   	
   	
   	
   	
  
Fármacos	
  que	
  alteram	
  a	
  
bioquímica	
  urinária + + + 	
   	
   +
Fármacos	
  insolúveis 	
   	
   	
   	
   	
   	
  
*Os	
  tipos	
  de	
  cálculo	
  raros	
  foram	
  omitidos.
	
  
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  Em	
   muitas	
   doenças	
   mendelianas	
   monogênicas	
   incomuns,	
   os	
   cálculos	
   renais	
  
integram	
  as	
  manifestações	
  da	
  condição.17,18
	
  Ainda	
  que	
  seja	
  pouco	
  comum,	
  os	
  clínicos	
  
devem	
  saber	
  da	
  existência	
  destas	
  condições,	
  as	
  quais	
  estão	
  resumidas	
  na	
  Tabela	
  2.	
  
Os	
   tipos	
   mais	
   comuns	
   de	
   cálculos	
   renais	
   encontrados	
   na	
   prática	
   são	
   mais	
  
provavelmente	
  traços	
  complexos	
  poligênicos	
  associado	
  a	
  componentes	
  ambientais.	
  
Este	
  último	
  tipo	
  é	
  discutido	
  nesta	
  seção.	
  O	
  agrupamento	
  familiar	
  da	
  nefrolitíase	
  foi	
  
observado	
   já	
   no	
   início	
   do	
   século	
   XIX.19
	
  A	
   evidência	
   de	
   um	
   componente	
   genético	
  
determinante	
   de	
   cálculos	
   renais	
   é	
   bem	
   aceita,	
   embora	
   a	
   maioria	
   dos	
   dados	
   se	
  
baseiem	
  na	
  demonstração	
  de	
  relações	
  de	
  correlação,	
  em	
  vez	
  de	
  relações	
  causativas.	
  
Os	
  estudos	
  epidemiológicos	
  que	
  empregam	
  modelos	
  estatísticos	
  foram	
  realizados	
  no	
  
contexto	
  de	
  estudos	
  sobre	
  agregação	
  familiar	
  e	
  gêmeos.	
  Também	
  foram	
  realizadas	
  
tentativas	
  de	
  se	
  estabelecer	
  uma	
  associação	
  de	
  genótipo-­‐fenótipo	
  ou	
  uma	
  ligação	
  
com	
   genes	
   candidatos	
   específicos.	
   Além	
   disso,	
   foram	
   conduzidos	
   estudos	
   de	
  
associação	
   genômica	
   ampla.	
   Um	
   breve	
   resumo	
   de	
   diversos	
   estudos	
   populacionais	
  
indica	
  que	
  cerca	
  de	
  40%	
  dos	
  pacientes	
  formadores	
  de	
  cálculo	
  apresentam	
  história	
  
familiar	
  positiva,	
  com	
  um	
  risco	
  relativo	
  aproximado	
  de	
  4	
  vezes	
  para	
  um	
  familiar	
  e	
  
uma	
  contribuição	
  genética	
  geral	
  para	
  o	
  risco	
  de	
  formação	
  de	
  cálculos	
  em	
  torno	
  de	
  
50%.	
  Em	
  um	
  estudo	
  envolvendo	
  a	
  análise	
  de	
  2.000	
  gêmeos	
  monozigóticos	
  e	
  1.400	
  
gêmeos	
  dizigóticos,	
  observou-­‐se	
  uma	
  taxa	
  de	
  concordância	
  de	
  32%	
  entre	
  os	
  gêmeos	
  
monozigóticos	
  e	
  de	
  17%	
  entre	
  os	
  gêmeos	
  dizigóticos.20
	
  No	
  caso	
  dos	
  pares	
  de	
  gêmeos	
  
discordantes,	
   parte	
   do	
   efeito	
   poupador	
   presente	
   no	
   irmão	
   não	
   afetado	
   pode	
   ser	
  
potencialmente	
  atribuída	
  a	
  fatores	
  ambientais.
	
  
Tabela	
  2.	
  Causas	
  monogênicas	
  de	
  nefrolitíase*
Doença
Gene e
herança Proteína
Outras características
além dos cálculos
dATR
ATP6V1B1
(AR)
Subunidade B1 da
H+
ATPase de tipo V Surdez
ATP6V0A4
(AR)
Subunidade a4 da
H+
ATPase de tipo V Audição normal
SLC4A1
(AR)
Trocador de ânion (AE)
1
Ovalocitose, anemia
hemolítica
SLC4A1
(AD)
Trocador de ânion (AE)
1
Sem defeitos
eritrocitários
Doença de Dent
CLCN5
(LX) Canal de cloreto CLC-5 Síndrome de Fanconi
Síndrome
oculocerebral de
Lowe
OCRL1
(LX)
Fosfatidilinositol-4,5-
bisfosfato 5 fosfatase
Síndrome de Fanconi,
raquitismo, catarata,
retardo mental
Síndrome de Bartter
NKCC2
(AR)
Cotransportador de sódio
e cloreto de potássio
(NKCC)
Clássica (manifestação
menos severa na
infância) ou pré-natal
(hidrâmnio, perda de
sal)
KCNJ1
(AR)
Canal de potássio
medular externo renal
(ROMK)
Síndrome de Bartter
clássica ou pré-natal
CLCNKb
(AR)
Canal de cloreto, CLC-
Kb
Habitualmente, clássica
(mais branda); pode se
manifestar sem
nefrocalcinose
BSND
(AR)
Barttin, subunidade de
CLC-Kb Associada à surdez
CASR
(AD)
Receptor cálcio-sensível
(mutação ativadora)
Hipocalcemia; também
conhecida como
hipocalcemia
autossômica dominante
Raquitismo
hipofosfatêmico
hereditário
SLC34A3
(AD/R)
Cotransportador	
  de	
  fosfato	
  de	
  
sódio	
  do	
  tipo	
  2C	
  (NaPi-­‐2c)
Hiperfosfatúria,
raquistimo,
hipervitaminose D
Hipoparatireoidismo
isolado familiar
CASR(AD)
Receptor cálcio-sensível
(mutação ativadora) Hipocalcemia
PTH (AR
ou AD) PTH
Hipocalcemia,
hiperfosfatemia
GCMB
Células da glia sem fator
de transcrição B
Hipocalcemia,
hiperfosfatemia
Hipomagnesemia
familiar com
hipercalciúria e
nefrocalcinose
PCLN1
(AR) Paracelina 1
Hipomagnesemia,
hiperuricemia, poliúria,
anormalidades oculares
Cistinúria
SLC3A2
(AR)
Transportador de
aminoácido rBAT
Cistinúria
SLC7A9
(AR)
Transportador de
aminoácido b0,+
AT
Hiperoxalúria
primária
AGXT(AR)
Alanina/glioxilato
aminotransferase
Hiperoxalúria,
nefrocalcinose, oxalose
sistêmica
GRHPR
(AR)
Glioxilato redutase/
hidroxipiruvato redutase
Síndrome de Lesch-
Nyhan, síndrome
deKelley-Seegmiller HPRT (LX)
Hipoxantina-guanina
fosforribosiltransferase
Hiperuricosúria, gota,
síndrome neurológica
Hipouricemia renal
SLC22A12
(AR)
Transportador de ácido
úrico URAT1 Hipouricemia
SLC2A9
(AR)
Transportador de ácido
úrico GLUT9
Nefrolitíase e lesão
renal aguda do exercício
AD = autossômico dominante; AR = autossômico recessivo; dATR = acidose tubular
renal distal; LX = ligado ao X; PTH = paratormônio.
*Foram	
   omitidas	
   numerosas	
   doenças	
   monogênicas	
   raras	
   distintas	
   que	
   estão	
  
associadas	
   à	
   disfunção	
   tubular	
   proximal	
   e	
   à	
   suscetibilidade	
   à	
   nefrolitíase	
  
hipercalciúrica.	
   Alguns	
   exemplos	
   de	
   doenças	
   (gene	
   e	
   proteína	
   entre	
   parênteses)	
  
incluem	
   a	
   tirosemia	
   de	
   tipo	
   1	
   (FAH,	
   fumarilacetoacetato	
   hidrolase),	
   doença	
   do	
  
armazenamento	
   de	
   glicogênio	
   de	
   tipo	
   1a	
   (G6PC,	
   glicose-­‐6-­‐fosfatase),	
   doença	
   de	
  
Wilson	
   (ATP7B,	
  ATPase	
   translocadora	
   de	
   cobre	
   de	
   tipo	
   P),	
   síndrome	
   de	
   Liddle	
  
(SCNN1B/G,	
  subunidades	
  do	
  canal	
  de	
  sódio	
  epitelial)	
  e	
  pseudo-­‐	
  hipoaldosteronismo	
  
de	
  tipo	
  2	
  (WNK4,	
  serina-­‐treonina	
  quinase	
  sem	
  lisina).
	
  
Patofisiologia
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  É	
  bem	
  reconhecido	
  que	
  a	
  nefrolitíase	
  é	
  uma	
  doença	
  sistêmica.21
	
  Mesmo	
  quando	
  
o	
   paciente	
   apresenta	
   envolvimento	
   aparente	
   apenas	
   do	
   trato	
   urinário,	
   existem	
  
múltiplas	
   anormalidades	
   subclínicas	
   subjacentes	
   à	
   síndrome.	
   Este	
   conceito	
   é	
  
importante	
  por	
  vários	
  motivos.	
  Do	
  ponto	
  de	
  vista	
  de	
  um	
  clínico,	
  é	
  importante	
  estar	
  a	
  
par	
   da	
   natureza	
   multiórgãos	
   para	
   que	
   seja	
   possível	
   estabelecer	
   um	
   diagnóstico	
  
correto	
   e	
   prescrever	
   as	
   devidas	
   medidas	
   terapêuticas.	
   Os	
   formadores	
   de	
   cálculo	
  
renal	
   apresentam	
   menor	
   densidade	
   óssea	
   e	
   risco	
   aumentado	
   de	
   fraturas.22
	
  A	
  
hiperoxalúria	
   pode	
   ser	
   útil	
   como	
   sentinela	
   da	
   patologia	
   intestinal.	
   A	
   formação	
   de	
  
cálculos	
  de	
  ácido	
  úrico	
  pode	
  ser	
  precursora	
  de	
  um	
  diabetes	
  de	
  tipo	
  2	
  subjacente.	
  Em	
  
termos	
  de	
  patofisiologia,	
  a	
  natureza	
  sistêmica	
  da	
  doença	
  representa	
  a	
  chave	
  para	
  a	
  
descoberta	
  da	
  raiz	
  das	
  anormalidades	
  bioquímicas	
  urinárias	
  e	
  para	
  o	
  planejamento	
  
de	
  uma	
  terapia	
  específica.
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  É	
  possível	
  considerar	
  a	
  patofisiologia	
  em	
  3	
  categorias	
  conceituais	
  amplas.	
  Para	
  
haver	
   formação	
   de	
   cálculos,	
   são	
   necessários	
   (1)	
   uma	
   concentração	
   excessiva	
   de	
  
soluto(s)	
  com	
  excesso	
  de	
  solubilidade	
  na	
  urina;	
  (2)	
  desequilíbrio	
  de	
  modificadores	
  
(promotores	
   e	
   inibidores)	
   de	
   cristalização	
   na	
   urina;	
   e	
   (3)	
   anormalidades	
   epiteliais	
  
que	
   permitam	
   a	
   fixação	
   e	
   subsequente	
   desenvolvimento	
   destes	
   cristais	
   em	
  
nefrólitos	
  [Figura	
  1].	
  Estes	
  fatores	
  atuam	
  em	
  conjunto	
  e	
  eventualmente	
  resultam	
  na	
  
formação	
  de	
  um	
  cálculo	
  renal.
	
  
Clique na imagem para ampliar
Figura	
  1.	
  Patofisiologia	
  da	
  formação	
  de	
  cálculos	
  exemplificada	
  por	
  um	
  cálculo	
  de	
  
oxalato	
   de	
   cálcio	
   comum.	
   (1)	
   A	
   concentração	
   de	
   soluto(s)	
   excede	
   o	
   produto	
   de	
  
solubilidade	
  e	
  acarreta	
  a	
  formação	
  da	
  fase	
  sólida.	
  (2)	
  Desequilíbrio	
  entre	
  inibidores	
  
e	
  promotores	
  da	
  cristalização,	
  aglomeração	
  e	
  crescimento.	
  (3)	
  Lesões	
  epiteliais	
  que	
  
permitem	
  a	
  fixação	
  dos	
  cristais	
  e	
  sua	
  transformação	
  subsequente	
  em	
  cálculos.
	
  
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  A	
  concentração	
  excessiva	
  de	
  solutos	
  modestamente	
  solúveis	
  na	
  urina	
  pode	
  ser	
  
causada	
   por	
   uma	
   gama	
   bastante	
   ampla	
   de	
   anormalidades	
   sistêmicas.	
   Uma	
  
explicação	
  detalhada	
  sobre	
  este	
  aspecto	
  foge	
  ao	
  escopo	
  deste	
  capítulo.	
  Todavia,	
  as	
  
anormalidades	
  associadas	
  a	
  cada	
  um	
  dos	
  solutos	
  listados	
  na	
  Figura	
  1	
  podem	
  resultar	
  
de	
   múltiplos	
   mecanismos	
   e	
   frequentemente	
   ocorrem	
   combinadas	
   em	
   um	
   dado	
  
paciente.	
  Mais	
  uma	
  vez,	
  isto	
  destaca	
  a	
  importância	
  da	
  realização	
  de	
  pelo	
  menos	
  1	
  
tipo	
  de	
  avaliação	
  da	
  patofisiologia	
  subjacente	
  da	
  nefrolitíase	
  na	
  prática	
  clínica.	
  Como	
  
os	
  solutos	
  que	
  contribuem	
  diretamente	
  para	
  a	
  formação	
  de	
  cálculos	
  estão	
  sempre	
  
presentes	
  em	
  concentrações	
  superiores	
  a	
  suas	
  próprias	
  solubilidades,	
  até	
  mesmo	
  na	
  
urina	
   normal,	
   estes	
   solutos	
   permanecem	
   em	
   solução	
   somente	
   por	
   meio	
   da	
   ação	
  
protetora	
   dos	
   inibidores	
   de	
   cristalização,	
   aglomeração	
   e	
   crescimento.23
	
  A	
   lista	
   de	
  
inibidores	
  putativos	
  é	
  longa,	
  e	
  muitos	
  ainda	
  são	
  pouco	
  conhecidos.24
	
  O	
  inibidor	
  de	
  
cálculos	
  mais	
  bem	
  estudado	
  é	
  o	
  citrato.	
  O	
  citrato	
  quela	
  o	
  cálcio	
  com	
  alta	
  afinidade	
  
em	
  um	
  complexo	
  solúvel,	
  prevenindo	
  a	
  ligação	
  do	
  cálcio	
  ao	
  oxalato	
  e	
  fosfato	
  para	
  
formação	
  de	
  complexos	
  insolúveis.25,26
	
  Além	
  disso,	
  o	
  citrato	
  inibe	
  a	
  aglomeração	
  e	
  o	
  
desenvolvimento	
  dos	
  cristais.25,26
	
  O	
  distúrbio	
  envolvendo	
  este	
  inibidor	
  (hipocitratúria)	
  
constitui	
  uma	
  das	
  principais	
  causas	
  identificáveis	
  e	
  tratáveis	
  da	
  nefrolitíase.	
  Embora	
  
a	
   cristalúria	
   seja	
   comumente	
   observada	
   em	
   indivíduos	
   normais,	
   estes	
   cristais	
   não	
  
aderem	
  ao	
  uroepitélio	
  nem	
  se	
  transformam	
  em	
  nefrólito.	
  Os	
  fatores	
  epiteliais	
  que	
  
permitem	
  a	
  formação	
  de	
  cálculos	
  são	
  conhecidos	
  apenas	
  para	
  os	
  cálculos	
  de	
  oxalato	
  
de	
  cálcio	
  comuns.	
  As	
  informações	
  existentes	
  sobre	
  os	
  outros	
  tipos	
  de	
  cálculos	
  são	
  
bastante	
  limitadas.	
  O	
  evento	
  primário	
  parece	
  ser	
  a	
  deposição	
  de	
  fosfato	
  de	
  cálcio	
  no	
  
interstício	
   medular	
   renal,	
   que	
   eventualmente	
   sofre	
   disseminação,	
   erosão	
   e	
   se	
  
projeta	
  para	
  dentro	
  do	
  lúmen	
  do	
  ducto	
  coletor,	
  junto	
  às	
  papilas,	
  atuando	
  como	
  uma	
  
placa	
   que	
   serve	
   de	
   âncora	
   e	
   plataforma	
   de	
   adesão	
   para	
   aglomeração	
   e	
  
crescimento	
  [Figura	
  1].27
	
  Por	
  fim,	
  a	
  prevenção	
  bem-­‐sucedida	
  da	
  formação	
  de	
  cálculos	
  
está	
  apoiada	
  na	
  compreensão	
  da	
  patofisiologia	
  da	
  formação	
  destas	
  placas.
	
  
Diagnóstico
Apresentação clínica
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  Os	
  cálculos	
  renais	
  podem	
  ser	
  assintomáticos	
  e	
  apresentar-­‐se	
  como	
  um	
  achado	
  
incidental.	
  A	
  lombalgia	
  e	
  a	
  dor	
  no	
  flanco	
  constituem	
  as	
  manifestações	
  clínicas	
  mais	
  
comuns	
   de	
   cálculos	
   renais.	
   Estas	
   manifestações	
   surgem	
   com	
   o	
   deslocamento	
   do	
  
cálculo	
   renal	
   no	
   ureter.	
   A	
   dor	
   resulta	
   do	
   aumento	
   da	
   pressão	
   intraluminal	
   e	
   da	
  
estimulação	
   das	
   terminações	
   nervosas	
   na	
   mucosa	
   do	
   ureter.	
   Originando-­‐se	
   nas	
  
costas	
  ou	
  no	
  flanco	
  e	
  irradiando	
  para	
  a	
  virilha,	
  esta	
  dor	
  geralmente	
  é	
  intensa	
  e	
  do	
  
tipo	
  cólica.	
  A	
  localização	
  do	
  cálculo	
  no	
  ureter	
  determina	
  o	
  sítio	
  da	
  dor.	
  Os	
  cálculos	
  
localizados	
  na	
  porção	
  superior	
  do	
  ureter	
  podem	
  gerar	
  dor	
  testicular,	
  enquanto	
  os	
  
cálculos	
  localizados	
  na	
  porção	
  média	
  do	
  ureter	
  podem	
  mimetizar	
  uma	
  apendicite	
  de	
  
lado	
   direito	
   ou	
   uma	
   diverticulite	
   no	
   lado	
   esquerdo.	
   A	
   cólica	
   renal	
   pode	
   estar	
  
associada	
  a	
  náuseas	
  e	
  vômitos,	
  pois	
  o	
  trato	
  gastrintestinal	
  compartilha	
  a	
  inervação	
  
com	
   o	
   sistema	
   geniturinário.	
   A	
   aproximação	
   do	
   cálculo	
   renal	
   da	
   bexiga	
   urinária	
  
frequentemente	
   é	
   acompanhada	
   da	
   manifestação	
   de	
   sintomas,	
   como	
   frequência	
  
urinária,	
  disúria	
  e	
  incontinência	
  urinária.	
  Nestes	
  casos,	
  a	
  condição	
  pode	
  mimetizar	
  
ou	
   coexistir	
   com	
   uma	
   infecção	
   do	
   trato	
   urinário.	
   Entretanto,	
   estas	
   manifestações	
  
podem	
   ser	
   observadas	
   em	
   distúrbios	
   do	
   trato	
   urinário	
   diferentes	
   da	
   doença	
   do	
  
cálculo	
   renal,	
   como	
   na	
   pielonefrite	
   ou	
   na	
   obstrução	
   ureteral	
   extrínseca,	
   em	
  
decorrência	
   de	
   várias	
   anormalidades,	
   incluindo	
   as	
   lesões	
   ginecológicas,	
  
retroperitoneais	
  e	
  vasculares.	
  Os	
  cálculos	
  renais	
  também	
  podem	
  ser	
  acompanhados	
  
por	
  uma	
  hematúria	
  grosseira	
  e	
  pela	
  eliminação	
  de	
  coágulo	
  sanguíneo.28
	
  
História
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  A	
   obtenção	
   de	
   uma	
   história	
   conduzida	
   de	
   forma	
   detalhada	
   exerce	
   papel	
  
importante	
   no	
   diagnóstico	
   e	
   tratamento	
   dos	
   cálculos	
   renais.	
   Uma	
   história	
  
abrangente	
  deve	
  considerar	
  as	
  etiologias	
  [Tabela	
   1]	
  e	
  identificar	
  as	
  anormalidades	
  
sistêmicas,	
   como	
   a	
   presença	
   de	
   doença	
   intestinal,	
   distúrbios	
   da	
   homeostasia	
   do	
  
cálcio	
   (incluindo	
   o	
   hiperparatireoidismo	
   primário)	
   e	
   condições	
   associadas	
   à	
  
superprodução	
   extrarrenal	
   de	
   1,25-­‐di-­‐hidroxivitamina	
   D	
   (como	
   as	
   doenças	
  
granulomatosas).	
   Outras	
   condições	
   incluem	
   a	
   artrite	
   gotosa,	
   diabetes	
   de	
   tipo	
   2,	
  
infecções	
   recorrentes	
   no	
   trato	
   urinário	
   e	
   distúrbios	
   neurológicos	
   que	
   requerem	
  
cateterismo	
   vesical	
   de	
   demora	
   ou	
   intermitente,	
   instrumentações	
   urológicas	
  
repetidas,	
  vários	
  tratamentos	
  farmacológicos	
  e	
  cirurgia	
  bariátrica.
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  Alguns	
  fatores	
  ambientais	
  importantes	
  que	
  influenciam	
  o	
  desenvolvimento	
  de	
  
cálculos	
  renais	
  são	
  o	
  clima	
  e	
  a	
  frequência	
  e	
  intensidade	
  dos	
  exercícios.	
  Foi	
  sugerido	
  
que	
  os	
  cálculos	
  renais	
  são	
  mais	
  prevalentes	
  no	
  sul	
  dos	
  Estados	
  Unidos	
  (devido	
  às	
  
temperaturas	
   mais	
   altas),	
   durante	
   os	
   verões	
   mais	
   prolongados,	
   em	
   grupos	
   de	
  
militares	
   que	
   treinam	
   em	
   ambientes	
   de	
   alta	
   temperatura,	
   em	
   trabalhadores	
  
submetidos	
  a	
  exposição	
  diária	
  a	
  condições	
  quentes	
  e	
  em	
  indivíduos	
  que	
  se	
  engajam	
  
na	
  prática	
  de	
  exercícios	
  físicos	
  durante	
  os	
  meses	
  de	
  verão.29,30
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  A	
  dieta	
  também	
  exerce	
  papel	
  importante	
  como	
  fator	
  de	
  risco	
  para	
  a	
  formação	
  
de	
   cálculos	
   renais.	
   Constatou-­‐se	
   que	
   o	
   consumo	
   de	
   grandes	
   quantidades	
   de	
   sal	
   e	
  
proteína	
  aumenta	
  bastante	
  a	
  formação	
  de	
  cálculos	
  renais.31,32
	
  Isto	
  resulta	
  do	
  efeito	
  
calciúrico	
   destes	
   fatores.	
   Além	
   disso,	
   o	
   consumo	
   elevado	
   de	
   proteínas	
   pode	
  
aumentar	
   o	
   risco	
   de	
   formação	
   de	
   cálculos	
   de	
   oxalato	
   de	
   cálcio	
   por	
   aumentar	
   as	
  
cargas	
   dietéticas	
   de	
   ácido	
   e	
   purina,	
   com	
   consequente	
   diminuição	
   do	
   pH	
   e	
   do	
  
conteúdo	
  de	
  citrato	
  da	
  urina	
  e	
  aumento	
  da	
  concentração	
  urinária	
  de	
  ácido	
  úrico.
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  Apesar	
   de	
   o	
   papel	
   da	
   ingesta	
   aumentada	
   de	
   cálcio	
   não	
   ter	
   sido	
   diretamente	
  
explorado	
   em	
   pacientes	
   formadores	
   de	
   cálculos	
   renais,	
   estudos	
   epidemiológicos	
  
sugeriram	
  a	
  existência	
  de	
  uma	
  associação	
  entre	
  menor	
  risco	
  de	
  formação	
  de	
  cálculos	
  
renais	
   e	
   maior	
   ingesta	
   de	
   cálcio	
   da	
   dieta.33-­‐35
	
  Ao	
   contrário	
   do	
   cálcio	
   da	
   dieta,	
   o	
  
aumento	
  da	
  suplementação	
  de	
  cálcio	
  e	
  vitamina	
  D	
  foi	
  associado	
  ao	
  risco	
  aumentado	
  
de	
  nefrolitíase.36
	
  Entretanto,	
  o	
  mecanismo	
  patofisiológico	
  por	
  trás	
  da	
  ação	
  protetora	
  
do	
  cálcio	
  aumentado	
  da	
  dieta	
  ainda	
  não	
  foi	
  totalmente	
  elucidado.	
  Foi	
  proposto	
  que	
  
este	
  mecanismo	
  pode	
  envolver	
  a	
  complexação	
  do	
  oxalato	
  luminal	
  intestinal	
  e,	
  desta	
  
forma,	
  diminuir	
  a	
  excreção	
  urinária	
  de	
  oxalato.
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  Também	
  foi	
  demonstrado	
  que	
  vários	
  fármacos	
  vendidos	
  sem	
  prescrição	
  médica	
  
e/ou	
  suplementos	
  dietéticos	
  aumentam	
  o	
  risco	
  de	
  formação	
  de	
  cálculos	
  renais.37
	
  Este	
  
risco	
   aumentado	
   é	
   atribuído	
   a	
   uma	
   alteração	
   metabólica	
   que	
   afeta	
   os	
   fatores	
   de	
  
risco	
  de	
  formação	
  de	
  cálculos	
  renais	
  ou	
  resulta	
  da	
  cristalização	
  do	
  fármaco	
  na	
  urina	
  
atribuível	
   a	
   uma	
   baixa	
   solubilidade.	
   No	
   primeiro	
   grupo,	
   estão	
   incluídos	
   os	
  
suplementos	
   de	
   cálcio	
   e	
   vitamina	
   D,	
   os	
   inibidores	
   de	
   anidrase	
   carbônica	
  
(acetazolamida,	
  topiramato	
  e	
  zonisamida),	
  laxantes,	
  probenecida,	
  ácido	
  ascórbico	
  e	
  
tratamento	
  com	
  álcali	
  em	
  excesso.	
  A	
  outra	
  classe	
  inclui	
  o	
  triamtereno,	
  inibidores	
  de	
  
protease	
   (indinavir,	
   atazanavir	
   e	
   nelfinavir),	
   guaifenesina,	
   efedrina,	
   antiácidos	
  
(trissilicato	
  de	
  magnésio)	
  e	
  antimicrobianos	
  (sulfonamidas	
  e	
  quinolonas).
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  Os	
   fatores	
   genéticos	
   exercem	
   impacto	
   sobre	
   o	
   risco	
   de	
   nefrolitíase,	
   atuando	
  
como	
  um	
  traço	
  complexo	
  poligenético.	
  Além	
  disso,	
  há	
  doenças	
  monogênicas	
  raras	
  e	
  
distintas	
  que	
  se	
  manifestam	
  como	
  cálculos	
  renais	
  [Tabela	
  2].	
  A	
  ocorrência	
  familiar	
  
de	
   nefrolitíase	
   hipercalciúrica	
   entre	
   indivíduos	
   do	
   sexo	
   masculino	
   associada	
   a	
  
comprometimento	
   renal	
   e	
   proteinúria	
   de	
   baixo	
   peso	
   molecular	
   pode	
   estar	
  
relacionada	
   a	
   um	
   distúrbio	
   ligado	
   ao	
   X	
   recessivo,	
   encontrado	
   em	
   pacientes	
   com	
  
doença	
   de	
   Dent.38
	
  A	
   ocorrência	
   familiar	
   de	
   cálculos	
   renais	
   e	
   nefrocalcinose	
   em	
  
indivíduos	
  do	
  sexo	
  masculino	
  com	
  glaucoma	
  ou	
  catarata	
  em	
  fase	
  inicial	
  é	
  sugestiva	
  
da	
   síndrome	
   de	
   Lowe.39
	
  Uma	
   herança	
   recessiva	
   autossômica	
   foi	
   observada	
   em	
  
pacientes	
   com	
   hiperoxalúria	
   primária,40
	
  sendo	
   que	
   tanto	
   os	
   traços	
   autossômicos	
  
recessivos	
   como	
   os	
   traços	
   autossômicos	
   dominantes	
   com	
   penetrância	
   incompleta	
  
foram	
   encontrados	
   em	
   pacientes	
   com	
   cistinúria.41
	
  Além	
   disso,	
   tanto	
   a	
   herança	
  
autossômica	
  dominante	
  como	
  a	
  herança	
  autossômica	
  recessiva	
  foram	
  descritas	
  em	
  
pacientes	
  com	
  acidose	
  tubular	
  renal	
  distal	
  (dATR).42
	
  
Exame físico
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  No	
   contexto	
   de	
   uma	
   condição	
   aguda,	
   os	
   achados	
   do	
   exame	
   físico	
   incluem	
   a	
  
sensibilidade	
   junto	
   ao	
   ângulo	
   costovertebral,	
   hipertensão	
   e	
   taquicardia,	
   que	
   são	
  
mais	
   provavelmente	
   atribuíveis	
   a	
   uma	
   dor	
   severa	
   e	
   persistente.	
   A	
   febre	
   é	
   pouco	
  
frequente	
  e,	
  quando	
  detectada,	
  implica	
  na	
  necessidade	
  de	
  exclusão	
  da	
  hipótese	
  de	
  
infecção	
   no	
   trato	
   urinário.	
   Ocasionalmente,	
   o	
   paciente	
   pode	
   apresentar	
   espasmo	
  
muscular	
   na	
   região	
   inferior	
   das	
   costas.	
   No	
   contexto	
   da	
   doença	
   crônica,	
   o	
   exame	
  
físico	
   pode	
   fornecer	
   achados	
   que	
   refletem	
   doenças	
   subjacentes	
   predisponentes	
   à	
  
formação	
  de	
  cálculos	
  renais.
	
  
Achados laboratoriais
Bioquímica sérica
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  A	
   avaliação	
   laboratorial	
   de	
   todos	
   os	
   pacientes	
   formadores	
   de	
   cálculos	
   renais	
  
requer	
   a	
   determinação	
   de	
   todos	
   os	
   componentes	
   bioquímicos	
   do	
   soro	
   em	
   jejum	
  
(eletrólitos	
  [incluindo	
  cálcio	
  e	
  fósforo],	
  função	
  renal	
  e	
  ácido	
  úrico)	
  e	
  dos	
  níveis	
  de	
  
paratormônio	
   (PTH).	
   A	
   medida	
   das	
   concentrações	
   séricas	
   de	
   calcitriol	
   é	
   o	
   exame	
  
ideal	
  e	
  pode	
  ser	
  considerada	
  para	
  situações	
  específicas	
  ou	
  para	
  fins	
  de	
  pesquisa.	
  O	
  
achado	
  de	
  níveis	
  séricos	
  baixos	
  de	
  potássio	
  e	
  CO2	
  é	
  sugestivo	
  de	
  uma	
  acidose	
  sem	
  
aumento	
  do	
  anion	
  gap	
  que,	
  por	
  sua	
  vez,	
  é	
  indicativa	
  da	
  presença	
  de	
  dATR	
  ou	
  de	
  uma	
  
condição	
   de	
   diarreia	
   crônica.	
   A	
   hiperuricemia	
   é	
   sugestiva	
   do	
   diagnóstico	
   de	
  
nefrolitíase	
  por	
  ácido	
  úrico.	
  Uma	
  concentração	
  sérica	
  de	
  cálcio	
  total	
  elevada	
  e	
  baixos	
  
níveis	
   de	
   fósforo	
   no	
   soro	
   associados	
   a	
   uma	
   alta	
   concentração	
   de	
   PTH	
   indicam	
   o	
  
diagnóstico	
  de	
  hiperparatireoidismo	
  primário.	
  O	
  achado	
  de	
  baixos	
  níveis	
  séricos	
  de	
  
fósforo	
  associados	
  a	
  níveis	
  séricos	
  de	
  PTH	
  normais	
  são	
  sugestivos	
  da	
  ocorrência	
  de	
  
vazamento	
   de	
   fósforo	
   renal.	
   Nesta	
   última	
   condição,	
   o	
   paciente	
   pode	
   desenvolver	
  
hipercalciúria	
   em	
   decorrência	
   da	
   elevada	
   concentração	
   sérica	
   de	
   calcitriol,	
   como	
  
resultado	
  da	
  hipofosfatemia,	
  com	
  consequente	
  aumento	
  da	
  absorção	
  intestinal	
  de	
  
cálcio.
	
  
Análise dos cálculos
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  A	
   análise	
   dos	
   cálculos	
   é	
   valiosa	
   quando	
   estes	
   são	
   recuperados.	
   O	
   achado	
  
cristalográfico	
   de	
   um	
   cálculo	
   ajuda	
   a	
   identificar	
   a	
   ocorrência	
   de	
   cálculos	
   que	
   são	
  
encontrados	
  com	
  pouca	
  frequência,	
  como	
  os	
  cálculos	
  de	
  cistina	
  e	
  aqueles	
  induzidos	
  
por	
  infecção,	
  o	
  quepode	
  mudar	
  o	
  planejamento	
  do	
  tratamento.	
  A	
  análise	
  de	
  cálculos	
  
também	
  é	
  útil	
  para	
  estabelecer	
  o	
  diagnóstico	
  de	
  cálculos	
  de	
  ácido	
  úrico	
  e	
  de	
  cálculos	
  
extremamente	
  raros,	
  como	
  os	
  cálculos	
  de	
  2,8-­‐hidroxiadenina	
  ou	
  aqueles	
  induzidos	
  
por	
  fármacos	
  (p.	
  ex.,	
  cálculos	
  de	
  triamtereno,	
  inibidor	
  de	
  protease,	
  antimicrobianos	
  
e	
   efedrina).	
   A	
   presença	
   de	
   cálculos	
   de	
   urato	
   de	
   amônio	
   indica	
   o	
   uso	
   abusivo	
   de	
  
laxantes	
   e	
   é	
   observada	
   com	
   mais	
   frequência	
   em	
   pacientes	
   infectados	
   pelo	
  
HIV/aidéticos,43
	
  como	
  resultado	
  de	
  uma	
  diarreia	
  prolongada.
	
  
Urinálise
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  O	
  teste	
  urina	
  com	
  fita	
  reagente	
  é	
  útil.	
  A	
  piúria	
  é	
  sugestiva	
  de	
  uma	
  infecção	
  no	
  
trato	
  urinário	
  que	
  pode	
  ser	
  adicionalmente	
  comprovada	
  com	
  uma	
  cultura	
  de	
  urina	
  
positiva.	
  O	
  teste	
  de	
  urina	
  com	
  fita	
  reagente	
  também	
  ajuda	
  a	
  encontrar	
  cristais	
  de	
  
anéis	
  de	
  benzeno,	
  que	
  são	
  indicativos	
  de	
  cistinúria.	
  Entretanto,	
  os	
  cristais	
  de	
  oxalato	
  
de	
   cálcio,	
   fosfato	
   de	
   cálcio	
   e	
   ácido	
   úrico	
   são	
   inespecíficos	
   e	
   também	
   podem	
   ser	
  
encontrados	
  na	
  urina	
  de	
  indivíduos	
  normais.
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  Todos	
  os	
  pacientes	
  –	
  independentemente	
  do	
  grau	
  de	
  severidade	
  da	
  doença	
  do	
  
cálculo	
  renal	
  –	
  devem	
  passar	
  por	
  uma	
  avaliação	
  metabólica.	
  Contudo,	
  foi	
  sugerido	
  
que	
   uma	
   avaliação	
   metabólica	
   simplificada	
   deve	
   ser	
   considerada	
   em	
   casos	
   de	
  
pacientes	
  formadores	
  de	
  cálculo	
  renal	
  único,	
  enquanto	
  uma	
  avaliação	
  extensiva	
  é	
  
necessária	
   em	
   casos	
   de	
   formadores	
   recorrentes	
   de	
   cálculo	
   renal	
   e	
   indivíduos	
   que	
  
apresentam	
  alto	
  risco	
  de	
  formação	
  recorrente	
  de	
  cálculos,	
  como	
  os	
  pacientes	
  com	
  
hiperparatireoidismo,	
  dATR,	
  diarreia	
  crônica	
  ou	
  cálculos	
  de	
  ácido	
  úrico,	
  bem	
  como	
  
os	
  indivíduos	
  obesos	
  e	
  populações	
  pediátricas	
  com	
  cálculos	
  renais	
  [Tabela	
  3].
	
  
Tabela	
  3.	
  Exames	
  diagnósticos	
  para	
  pacientes	
  com	
  nefrolitíase
Tipo	
  de	
  avaliação Exames	
  diagnósticos
Avaliação metabólica simplificada
Bioquímica do sangue em jejum
Concentrações séricas de Na, K, Cl, CO2,
uréia, Cr, Ca, fósforo, ácido úrico, PTH
Perfil urinário de 24 horas sob dieta
aleatória
Volume	
  da	
  urina	
  de	
  24	
  horas,	
  pH,	
  Cr,	
  Na,	
  K,	
  
Ca,	
  Mg,	
  amônio,	
  Cl,	
  oxalato,	
  citrato,	
  ácido	
  
úrico,	
  fósforo
Avaliação	
  metabólica	
  extensiva
Bioquímica do sangue em jejum
Concentrações séricas de Na, K, Cl, CO2,
uréia, Cr, Ca, fósforo, ácido úrico, PTH
Perfil urinário de 24 horas sob dieta
aleatória
Volume da urina de 24 horas, pH, Cr, Na, K,
Ca, Mg, amônio, Cl, oxalato, citrato, ácido
úrico, fósforo
Perfil urinário de 24 horas sob dieta
restrita
Volume	
  da	
  urina	
  de	
  24	
  horas,	
  pH,	
  Cr,	
  Na,	
  K,	
  Ca,	
  Mg,	
  
amônio,	
  Cl,	
  oxalato,	
  citrato,	
  ácido	
  úrico,	
  fósforo
Outros
Densidade	
  mineral	
  óssea,	
  proporção	
  Ca-­‐Cr	
  
na	
  urina	
  de	
  2	
  horas	
  pós-­‐jejum,	
  proporção	
  
Ca-­‐Cr	
  na	
  urina	
  de	
  4	
  horas	
  após	
  uma	
  carga	
  
oral	
  de	
  1	
  g	
  de	
  cálcio
PTH	
  =	
  paratormônio.
	
  
Avaliação metabólica simplificada
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  Além	
  dos	
  exames	
  sorológicos,	
  uma	
  avaliação	
  simples	
  inclui	
  a	
  obtenção	
  de	
  um	
  
perfil	
   urinário	
   de	
   24	
   horas	
   aleatório	
   único	
   composto	
   por	
   volume	
   total,	
   pH,	
  
creatinina,	
  cálcio,	
  oxalato,	
  citrato,	
  sulfato,	
  ácido	
  úrico,	
  cloreto	
  e	
  amônio	
  [Tabela	
  4].	
  
Entretanto,	
   falta	
   consenso	
   quanto	
   ao	
   número	
   de	
   coletas	
   de	
   urina	
   de	
   24	
   horas	
  
aleatórias	
   necessárias	
   para	
   determinar	
   o	
   risco	
   de	
   formação	
   de	
   cálculo	
   renal.44-­‐
46
	
  Contudo,	
  como	
  estas	
  são	
  coletas	
  ambulatoriais	
  sob	
  uma	
  dieta	
  ao	
  acaso,	
  os	
  médicos	
  
da	
  prática	
  devem	
  considerar	
  a	
  ingesta	
  dietética	
  do	
  paciente	
  (p.	
  ex.,	
  sal	
  e	
  proteína).	
  
Está	
  comprovado,	
  por	
  exemplo,	
  que	
  o	
  consumo	
  elevado	
  de	
  sal	
  aumenta	
  a	
  excreção	
  
de	
  cálcio	
  na	
  urina.31
	
  Nestas	
  circunstâncias,	
  deve	
  ser	
  adotado	
  um	
  fator	
  de	
  correção	
  de	
  
40	
  mg/dia	
  de	
  cálcio	
  para	
  cada	
  incremento	
  de	
  100	
  mEq	
  de	
  uma	
  concentração	
  urinária	
  
de	
  sódio	
  acima	
  do	
  valor	
  desejado	
  de	
  100	
  mEq/dia.
	
  
Tabela	
  4.	
  Interpretação	
  dos	
  perfis	
  bioquímicos	
  urinários
Parâmetro
Valores	
  diários	
  
esperados Interpretação
Volume	
  
total =	
  2,5	
  L
Diminui	
  com	
  a	
  pouca	
  ingesta	
  de	
  líquidos,	
  sudorese	
  e	
  
diarreia
pH 5,8	
  a	
  6,2
pH	
  <	
  5,5:	
  aumenta	
  o	
  risco	
  de	
  precipitação	
  de	
  ácido	
  
úrico	
  comumente	
  observado	
  em	
  pacientes	
  com	
  
cálculos	
  de	
  ácido	
  úrico;	
  indivíduos	
  com	
  doença	
  
intestinal	
  e	
  diarreia;	
  e	
  pacientes	
  submetidos	
  à	
  cirurgia	
  
de	
  desvio	
  intestinal
pH	
  >	
  6,7:	
  aumenta	
  o	
  risco	
  de	
  precipitação	
  de	
  fosfato	
  
de	
  cálcio	
  observado	
  em	
  pacientes	
  com	
  dATR,	
  
principalmente	
  hiperparatireoidismo,	
  tratamento	
  
excessivo	
  com	
  álcali,	
  repetidas	
  litotripsias	
  por	
  ondas	
  
de	
  choque
pH	
  >	
  7	
  a	
  7,5:	
  indica	
  a	
  existência	
  de	
  infecção	
  no	
  trato	
  
urinário,	
  resultante	
  de	
  bactérias	
  produtoras	
  de	
  urease
Creatinina
15 a 25 mg/kg
de peso
corporal
Padroniza	
  a	
  adequação	
  da	
  coleta	
  (se	
  for	
  baixa	
  indica	
  
que	
  não	
  foi	
  coletada	
  em	
  todas	
  as	
  24	
  horas).	
  15	
  a	
  20	
  
mg/kg	
  de	
  peso	
  corporal	
  para	
  o	
  sexo	
  feminino	
  e	
  20	
  a	
  
25	
  mg/kg	
  de	
  peso	
  corporal	
  para	
  o	
  sexo	
  masculino
Sódio 100	
  mEq
Reflete	
  a	
  ingesta	
  dietética	
  de	
  sódio	
  na	
  ausência	
  de	
  
sudorese	
  excessiva	
  e/ou	
  diarreia;	
  pode	
  causar	
  
hipercalciúria	
  secundária
Potássio 40	
  a	
  60	
  mEq
Reflete	
  a	
  ingesta	
  dietética	
  de	
  potássio	
  na	
  ausência	
  de	
  
diarreia;	
  marcador	
  da	
  ingesta	
  dietética	
  de	
  álcali
Cálcio =	
  250	
  a	
  300	
  mg
Fator	
  de	
  risco	
  direto	
  e	
  soluto	
  precipitador	
  para	
  
cálculos	
  de	
  cálcio;	
  possibilidade	
  de	
  diferenças	
  entre	
  
indivíduos	
  de	
  sexos	
  diferentes	
  (valores	
  maiores	
  na	
  
população	
  masculina)
Magnésio =	
  80	
  mg
Uma	
  baixa	
  concentração	
  de	
  magnésio	
  na	
  urina	
  reflete	
  
uma	
  baixa	
  ingesta	
  de	
  magnésio,	
  má	
  absorção	
  
intestinal	
  (doença	
  do	
  intestino	
  delgado)	
  e	
  período	
  
pós-­‐cirurgia	
  bariátrica;	
  seu	
  papel	
  como	
  inibidor	
  é	
  
controverso
Oxalato =	
  45	
  mg
Fator	
  de	
  risco	
  direto	
  e	
  soluto	
  precipitador	
  para	
  
cálculos	
  de	
  oxalato	
  de	
  cálcio;	
  encontrado	
  na	
  má	
  
absorção	
  intestinal	
  de	
  gorduras	
  e,	
  às	
  vezes,	
  após	
  a	
  
cirurgia	
  bariátrica;	
  valores	
  acima	
  de	
  100	
  mg/dia	
  
levantam	
  a	
  suspeita	
  de	
  hiperoxalúria	
  primária
Fósforo =	
  1.100	
  mg
Indicativo	
  da	
  ingesta	
  dietética	
  e	
  da	
  absorção	
  de	
  
fósforo;	
  uma	
  taxa	
  de	
  excreção	
  elevada	
  pode	
  
aumentar	
  o	
  risco	
  de	
  formação	
  de	
  cálculos	
  de	
  fosfato	
  
de	
  cálcio;	
  as	
  condições	
  em	
  que	
  há	
  vazamento	
  de	
  
fosfato	
  renal	
  também	
  podem	
  levar	
  ao	
  
desenvolvimento	
  de	
  hipercalciúria	
  secundária
Ácido	
  
úrico 600	
  a	
  800	
  mg
Pode	
  contribuir	
  para	
  a	
  formação	
  de	
  cálculos	
  de	
  ácido	
  
úrico,	
  quando	
  o	
  pH	
  é	
  baixo;	
  também	
  pode	
  aumentar	
  
o	
  risco	
  de	
  formação	
  de	
  cálculos	
  de	
  oxalato	
  de	
  cálcio;	
  é	
  
observado	
  em	
  casos	
  de	
  permissividade	
  excessiva	
  de	
  
alimentos	
  ricos	
  em	
  purina;	
  valores	
  >	
  1.000	
  mg	
  podem	
  
indicar	
  a	
  existência	
  de	
  deficiências	
  enzimáticas	
  raras
Sulfato =	
  25	
  a	
  30	
  mmol
O	
  sulfato	
  é	
  um	
  marcador	
  do	
  conteúdo	
  ácido	
  da	
  dieta;	
  
a	
  ingesta	
  dietética	
  de	
  ácidos	
  é	
  importante	
  para	
  
orientar	
  a	
  interpretação	
  do	
  pH	
  urinário,	
  citrato	
  e	
  
excreção	
  de	
  amônio
Citrato =	
  320	
  mg
Principal	
  inibidor	
  da	
  formação	
  de	
  cálculos	
  de	
  cálcio;	
  a	
  
hipocitratúria	
  é	
  observada	
  nas	
  condições	
  em	
  que	
  há	
  
acidose	
  intracelular,	
  como	
  na	
  acidose	
  metabólica,	
  
dATR,	
  diarreia	
  crônica,	
  ingesta	
  proteica	
  excessiva,	
  
prática	
  frequente	
  de	
  exercícios	
  físicos	
  extenuantes,	
  
deficiência	
  de	
  potássio,	
  uso	
  de	
  inibidores	
  de	
  anidrase	
  
carbônica	
  e,	
  em	
  raros	
  casos,	
  inibidores	
  de	
  ECA
Amônia 30	
  a	
  40	
  mEq
A	
  amônia	
  é	
  um	
  dos	
  principais	
  tampões	
  e	
  transporta	
  
prótons	
  sob	
  a	
  forma	
  de	
  amônio;	
  sua	
  excreção	
  
habitualmente	
  corresponde	
  à	
  carga	
  dietética	
  de	
  
ácidos	
  (marcada	
  pelo	
  sulfato	
  urinário);	
  uma	
  elevada	
  
proporção	
  amônio-­‐sulfato	
  aponta	
  uma	
  carga	
  de	
  
ácidos	
  não	
  dietética,	
  como	
  a	
  perda	
  de	
  álcali	
  GI	
  ou	
  
elevada	
  produção	
  endógena	
  de	
  ácidos
Cloreto 100	
  mEq
Habitualmente,	
  corresponde	
  à	
  ingesta	
  e	
  excreção	
  de	
  
sódio;	
  a	
  perda	
  renal	
  de	
  bicarbonato	
  de	
  sódio	
  pode	
  
acarretar	
  discrepâncias	
  entre	
  as	
  concentrações	
  de	
  
sódio	
  e	
  cloreto	
  na	
  urina
Cistina =	
  30	
  a	
  60	
  mg Solubilidade	
  urinária	
  limitada	
  em	
  250	
  mg/L
dATR = acidose tubular renal distal; ECA = enzima conversora de angiotensina; GI =
gastrintestinal.
Estes	
  limites	
  estão	
  expressos	
  em	
  média	
  ±	
  2	
  desvios	
  padrões	
  (para	
  cálcio,	
  oxalato,	
  ácido	
  úrico,	
  pH,	
  sódio,	
  sulfato	
  e	
  
fósforo)	
  ou	
  em	
  média	
  –2	
  desvios	
  padrões	
  (para	
  citrato,	
  pH	
  e	
  magnésio)	
  em	
  relação	
  ao	
  normal.31
	
  
Avaliação metabólica extensiva
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  Além	
   da	
   coleta	
   de	
   urina	
   de	
   24	
   horas	
   aleatória	
   para	
   análise	
   bioquímica,	
  
conforme	
   descrito	
   anteriormente,	
   uma	
   avaliação	
   extensiva	
   também	
   consiste	
   na	
  
obtenção	
  de	
  uma	
  amostra	
  de	
  urina	
  de	
  24	
  horas	
  após	
  um	
  período	
  de	
  1	
  semana	
  sob	
  
uma	
   dieta	
   orientada	
   que	
   forneça	
   cerca	
   de	
   400	
   mg/dia	
   de	
   cálcio,	
   100	
   mEq/dia	
   de	
  
sódio	
  e	
  restrição	
  de	
  alimentos	
  ricos	
  em	
  oxalato.47
	
  Existem	
  3	
  exames	
  adicionais	
  que	
  
podem	
   ser	
   realizados	
   ao	
   final	
   da	
   coleta	
   de	
   urina	
   de	
   24	
   horas	
   restrita:	
   proporção	
  
cálcio-­‐creatinina	
   de	
   jejum	
   na	
   urina	
   de	
   2	
   horas;	
   excreção	
   de	
   fósforo	
   fracionada	
  
urinária;	
  e	
  proporção	
  cálcio-­‐creatinina	
  na	
  urina	
  de	
  4	
  horas	
  após	
  uma	
  carga	
  oral	
  de	
  1	
  
g	
  de	
  cálcio.	
  Entretanto,	
  estes	
  são	
  testes	
  opcionais	
  que	
  podem	
  ser	
  úteis	
  apenas	
  como	
  
ferramenta	
   de	
   pesquisa	
   ou	
   em	
   clínicas	
   especializadas	
   em	
   cálculos.	
   Devido	
   à	
   alta	
  
prevalência	
   de	
   fraturas	
   ósseas	
   em	
   formadores	
   de	
   cálculos	
   de	
   cálcio,	
   a	
   análise	
   de	
  
densidade	
  mineral	
  óssea	
  via	
  absorciometria	
  por	
  raios	
  X	
  de	
  dupla	
  energia	
  é	
  realizada	
  
em	
   algumas	
   clínicas	
   especializadas.	
   A	
   interpretação	
   destes	
   perfis	
   bioquímicos	
  
urinários	
  é	
  ilustrada	
  na	
  Tabela	
  4.
	
  
Supersaturação urinária
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  A	
   utilidade	
   clínica	
   da	
   medida	
   de	
   supersaturação	
   urinária	
   não	
   obteve	
   ampla	
  
aceitação.	
  Entretanto,	
  as	
  razões	
  de	
  supersaturação	
  urinária	
  têm	
  sido	
  relatadas	
  como	
  
parte	
   do	
   exame	
   de	
   bioquímica	
   urinária	
   por	
   alguns	
   laboratórios	
   comerciais.	
   Um	
  
estudo	
   realizado	
   em	
   um	
   centro	
   especializado	
   em	
   cálculos	
   renais	
   demonstrou	
   a	
  
diminuição	
  da	
  supersaturação	
  de	
  oxalato	
  de	
  cálcio	
  acompanhada	
  da	
  diminuição	
  do	
  
número	
  de	
  cálculos	
  renais	
  formados.48
	
  Em	
  um	
  método	
  –	
  a	
  razão	
  de	
  supersaturação	
  
relativa	
  (RSR)	
  –	
  a	
  supersaturação	
  urinária	
  é	
  definida	
  como	
  sendo	
  a	
  razão	
  do	
  produto	
  
da	
   atividade	
   calculado	
   para	
   determinada	
   amostra	
   de	
   urina	
   pelo	
   produto	
   da	
  
respectiva	
   solubilidade	
   termodinâmica.49
	
  Neste	
   caso,	
   valores	
   maiores	
   do	
   que	
   1	
  
indicam	
  supersaturação	
  e	
  valores	
  menores	
  do	
  que	
  1	
  apontam	
  subsaturação.	
  Outro	
  
método	
  descrito	
  –	
  a	
  supersaturação	
  relativa	
  (SR)	
  urinária	
  –	
  é	
  calculado	
  como	
  razão	
  
do	
   produto	
   de	
   atividade	
   (ou	
   concentração	
   de	
   ácido	
   úrico	
   não	
   dissociado)	
   em	
  
determinada	
   amostra	
   de	
   urina	
   em	
   particular	
   pela	
   média	
   do	
   produto	
   de	
   atividade	
  
correspondente	
   (ou	
   ácido	
   úrico	
   não	
   dissolvido)	
   de	
   indivíduos	
   normais.	
   O	
   limite	
  
superior	
  normal	
  para	
  SR	
  de	
  oxalato	
  de	
  cálcio,	
  brushita,	
  urato	
  monossódico	
  e	
  ácido	
  
úrico	
  é	
  definido	
  como	
  sendo	
  igual	
  a	
  2.50
	
  
Exames de imagem
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  Além	
  da	
  história	
  clínica	
  e	
  da	
  avaliação	
  laboratorial,	
  os	
  pacientes	
  com	
  suspeita	
  
de	
  terem	
  cálculos	
  renais	
  devem	
  ser	
  submetidos	
  a	
  exames	
  de	
  imagem,	
  que	
  podem	
  
incluir	
  exame	
  de	
  radiografia	
  abdominal	
  para	
  visualização	
  dos	
  rins,	
  ureteres	
  e	
  bexiga	
  
(RUB),	
   exame	
   de	
   ultrassonografia,	
   tomografia	
   computadorizada	
   sem	
   contraste	
  
(TCSC),	
  pielografia	
  endovenosa	
  (PIV)	
  e	
  ressonância	
  magnética	
  (RM).
	
  
Radiografia dos rins, ureteres e bexiga (RUB)
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  A	
   radiografia	
   simples	
   apresenta	
   sensibilidade	
   (45	
   a	
   58%)	
   e	
   especificidade	
  
limitadas	
   (60	
   a	
   77%)	
   para	
   o	
   diagnóstico	
   de	
   cálculos	
   renais.28
	
  Os	
   pacientes	
   que	
  
eliminam	
   os	
   cálculos	
   renais	
   espontaneamente	
   podem	
   ser	
   seguidos	
   via	
   exame	
   de	
  
radiografia	
  de	
  RUB.
	
  
Ultrassonografia
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  A	
   ultrassonografia	
   é	
   uma	
   técnica	
   confiável,	
   não	
   invasiva	
   e	
   rápida	
   que,	
   mais	
  
significativamente,	
  exclui	
  a	
  radiação	
  ionizante	
  e	
  o	
  uso	
  de	
  material	
  de	
  contraste.	
  Por	
  
isso,	
   pode	
   ser	
   usada	
   com	
   segurança	
   como	
   método	
   de	
   avaliação	
   para	
   crianças,	
  
gestantes	
  com	
  suspeita	
  de	
  nefrolitíase	
  e	
  pacientes	
  com	
  comprometimento	
  da	
  função	
  
renal.51
	
  Uma	
  de	
  suas	
  limitações	
  pode	
  ser	
  a	
  perda	
  de	
  20	
  a	
  30%	
  dos	
  casos	
  de	
  obstrução	
  
do	
   trato	
   urinário	
   aguda	
   causada	
   pela	
   presença	
   de	
   um	
   cálculo	
   no	
   ureter.	
   A	
  
ultrassonografia	
   também	
   pode	
   fornecer	
   um	
   diagnóstico	
   falsamente	
   positivo	
   de	
  
obstrução	
  em	
  casos	
  de	
  pacientes	
  com	
  pielonefrite,	
  refluxo	
  vesicoureteral	
  e	
  dilatação	
  
residual	
  subsequente	
  ao	
  alívio	
  da	
  obstrução.
	
  
Tomografia computadorizada (TC)
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  Todos	
  os	
  cálculos	
  renais,	
  seja	
  qual	
  for	
  a	
  composição	
  (com	
  exceção	
  dos	
  cálculos	
  
de	
   indinavir),	
   podem	
   ser	
   visualizados	
   por	
   TCSC.	
   Esta	
   é	
   uma	
   técnica	
   rápida	
   que	
  
dispensa	
  o	
  uso	
  de	
  material	
  de	
  contraste	
  endovenoso	
  e,	
  assim,	
  diminui	
  a	
  incidência	
  
de	
   complicações	
   por	
   reação	
   alérgica.	
   A	
   TCSC	
   consegue	
   detectar	
   cálculos	
   bastante	
  
pequenos	
  (de	
  até	
  1	
  mm).	
  Sua	
  sensibilidade	
  é	
  de	
  94	
  a	
  100%,	
  e	
  a	
  especificidade	
  é	
  da	
  
ordem	
  de	
  92	
  a	
  99%.51,52
	
  A	
  desvantagem	
  desta	
  técnica	
  reside	
  na	
  exposição	
  à	
  radiação	
  e	
  
na	
   impossibilidade	
   de	
   viabilizar	
   uma	
   avaliação	
   funcional	
   do	
   rim	
   ou	
   o	
   grau	
   de	
  
obstrução.	
   Além	
   disso,	
   outra	
   preocupação	
   é	
   o	
   custo	
   elevado,	
   em	
   comparação	
   à	
  
ultrassonografia	
  renal	
  e	
  à	
  PIV.	
  Nos	
  últimos	
  anos,	
  as	
  técnicas	
  mais	
  modernas	
  foram	
  
adaptadas	
  para	
  proporcionar	
  uma	
  menor	
  exposição	
  à	
  radiação.53
	
  
Pielografia endovenosa (PIV)
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  Tradicionalmente,	
   a	
   PIV	
   era	
   usada	
   como	
   abordagem	
   de	
   imagem	
   de	
   1ª	
   linha	
  
para	
   diagnosticar	
   a	
   nefrolitíase.	
   Seu	
   uso	
   diminuiu	
   com	
   a	
   introdução	
   dos	
  
procedimentos	
  menos	
  invasivos.	
  A	
  PIV	
  continua	
  sendo	
  empregada	
  após	
  a	
  TCSC	
  em	
  
certos	
  casos,	
  para	
  guiar	
  os	
  procedimentos	
  cirúrgicos	
  endoureterais	
  ou	
  percutâneos.	
  
Esta	
  técnica	
  também	
  pode	
  ser	
  usada	
  em	
  casos	
  de	
  pacientes	
  diabéticos	
  com	
  cólica	
  
renal	
  que	
  mimetiza	
  os	
  cálculos	
  renais	
  porém	
  decorrente	
  de	
  necrose	
  papilar.28
	
  
Ressonância magnética (RM)
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  A	
  RM	
  atualmente	
  está	
  sendo	
  explorada	
  como	
  alternativa	
  à	
  TCSC	
  ou	
  à	
  PIV	
  no	
  
diagnóstico	
  da	
  nefrolitíase	
  e	
  da	
  obstrução	
  do	
  trato	
  urinário.	
  Quando	
  comparada	
  às	
  
outras	
  técnicas,	
  a	
  RM	
  proporciona	
  a	
  vantagem	
  de	
  não	
  transmitir	
  radiação	
  ionizante.	
  
Como	
   resultado,	
   esta	
   é	
   uma	
   técnica	
   particularmente	
   útil	
   em	
   casos	
   que	
   envolvam	
  
gestantes,	
   crianças	
   e	
   adolescentes.54
	
  Foi	
   relatado	
   que	
   uma	
   técnica	
   relacionada	
   –	
   a	
  
urografia	
  de	
  ressonância	
  magnética	
  –	
  constitui	
  uma	
  ferramenta	
  importante	
  para	
  o	
  
diagnóstico	
   da	
   obstrução	
   do	
   trato	
   urinário,	
   especificamente	
   em	
   gestantes.55
	
  As	
  
desvantagens	
  da	
  RM	
  são	
  o	
  alto	
  custo	
  e	
  a	
  disponibilidade	
  limitada.
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  De	
   uma	
   forma	
   geral,	
   os	
   pacientes	
   com	
   história	
   comprovada	
   de	
   cólica	
   renal	
  
prévia	
  resultante	
  de	
  doença	
  por	
  cálculo	
  podem	
  ser	
  inicialmente	
  avaliados	
  por	
  exame	
  
de	
  radiografia	
  de	
  RUB	
  ou	
  ultrassonografia.	
  O	
  uso	
  de	
  TCSC	
  deve	
  ser	
  limitado	
  em	
  casos	
  
de	
   pacientes	
   sem	
   diagnóstico	
   prévio	
   e	
   de	
   pacientes	
   com	
   manifestações	
   clínicas	
  
atípicas.	
   A	
   ultrassonografia	
   é	
   considerada	
   o	
   método	
   de	
   escolha	
   para	
   pacientes	
  
gestantes	
  e	
  crianças	
  com	
  doença	
  por	
  cálculo	
  renal.	
  A	
  PIV	
  deve	
  ser	
  considerada	
  após	
  
a	
   realização	
   da	
   TCSC,	
   caso	
   nenhum	
   cálculo	
   tenha	
   sido	
   detectado,	
   ou	
   durante	
   o	
  
planejamento	
  de	
  uma	
  avaliação	
  endoscópica	
  ou	
  intervenção	
  aberta	
  com	
  o	
  intuito	
  de	
  
auxiliar	
  o	
  urologista	
  no	
  mapeamento	
  do	
  trato	
  urinário.	
  Nas	
  áreas	
  em	
  que	
  a	
  TCSC	
  está	
  
indisponível,	
   os	
   exames	
   de	
   avaliação	
   inicial	
   podem	
   ser	
   a	
   radiografia	
   de	
   RUB	
   e	
   a	
  
ultrassonografia,	
  considerando	
  o	
  uso	
  de	
  PIV	
  somente	
  para	
  os	
  casos	
  em	
  que	
  estas	
  
técnicas	
   falhem	
   em	
   diagnosticar	
   os	
   cálculos	
   renais.	
   No	
   seguimento	
   de	
   pacientes,	
  
devido	
  ao	
  alto	
  risco	
  de	
  radiação	
  cumulativa,	
  é	
  recomendável	
  optar	
  pela	
  radiografia	
  
de	
   RUB	
   e	
   ultrassonografia	
   até	
   que	
   uma	
   TCSC	
   mais	
   moderna	
   e	
   de	
   baixo	
   nível	
   de	
  
radiação	
  seja	
  disseminada.
 
Tratamento
Eliminação ativa do cálculo
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  O	
   tamanho	
   e	
   a	
   localização	
   do	
   cálculo	
   junto	
   ao	
   trato	
   urinário	
   constituem	
   os	
  
principais	
   determinantes	
   da	
   probabilidade	
   de	
   eliminação	
   espontânea.	
   Os	
   cálculos	
  
menores	
  (<	
  4	
  mm)	
  e	
  mais	
  distalmente	
  localizados	
  no	
  ureter	
  tendem	
  a	
  ser	
  eliminados	
  
de	
   modo	
   espontâneo	
   em	
   um	
   período	
   de	
   48	
   horas	
   após	
   o	
   aparecimento	
   de	
   um	
  
episódio	
   agudo	
   de	
   cólica	
   renal.56
Durante	
   este	
   período,	
   é	
   comum	
   os	
   pacientes	
  
necessitarem	
   de	
   tratamento	
   de	
   suporte	
   ambulatorial,	
   incluindo	
   medicações	
   para	
  
alívio	
   da	
   dor	
   (fármacos	
   anti-­‐inflamatórios	
   não	
   hormonais	
   e	
   opiáceos),57
	
  hidratação	
  
forçada	
   e,	
   ocasionalmente,	
   antieméticos.	
   O	
   uso	
   de	
   medicações	
   auxiliares	
   (p.	
   ex.,	
  
bloqueadores	
  de	
  canais	
  de	
  cálcio,	
  alfabloqueadores	
  e/ou	
  glicocorticoides)	
  facilita	
  a	
  
eliminação	
  ureteral	
  de	
  cálculos	
  com	
  tamanho	
  inferior	
  a	
  10	
  mm,	
  diminuindo	
  o	
  tempo	
  
de	
  eliminação	
  dos	
  cálculos	
  e	
  a	
  quantidade	
  necessária	
  de	
  analgésicos.58
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  As	
  indicações	
  para	
  internação	
  do	
  paciente	
  incluem	
  a	
  infecção,	
  obstrução,	
  dor	
  
severa	
  ou	
  vômito	
  intratável.	
  Até	
  20%	
  dos	
  pacientes	
  com	
  cálculo	
  renal	
  necessitam	
  de	
  
alguma	
  forma	
  de	
  intervenção	
  para	
  eliminarem	
  o	
  cálculo.	
  A	
  nefrostomia	
  emergencial	
  
alivia	
  a	
  obstrução	
  e	
  pode	
  ser	
  seguida	
  de	
  uma	
  litotripsia	
  extracorpórea	
  por	
  ondas	
  de	
  
choque	
   (LEOC),	
   litotripsia	
   percutânea,	
   ureteroscopia	
   com	
   litotripsia	
   a	
   laser	
   e/ou	
  
remoção	
   do	
   cálculo	
   em	
   cesta	
   retrógrada,	
   além	
   da	
   remoção	
   cirúrgica	
   aberta	
   do	
  
cálculo,	
  que	
  é	
  realizada	
  apenas	
  em	
  casos	
  raros.59
	
  
Tratamento urológico: nefrolitíase crônica e recorrente
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  A	
  meta	
  do	
  tratamento	
  a	
  longo	
  prazo	
  dos	
  pacientes	
  com	
  nefrolitíase	
  recorrente	
  
consiste	
  em	
  diminuir	
  a	
  carga	
  atual	
  de	
  cálculos	
  e	
  prevenir	
  não	
  só	
  a	
  formação	
  de	
  novos	
  
cálculos	
  como	
  o	
  crescimento	
  daqueles	
  já	
  formados.	
  Para	
  tanto,	
  é	
  possível	
  reduzir	
  a	
  
concentração	
   dos	
   componentes	
   formadores	
   de	
   cálculo	
   presentes	
   na	
   urina,	
  
manipulando	
   o	
   milieu	
   iônico	
   urinário	
   para	
   favorecer	
   a	
   solubilização	
   destes	
  
constituintes	
  geradores	
  de	
  cálculo	
  e	
  corrigindo	
  quaisquer	
  anormalidades	
  mecânicas	
  
ou	
  estruturais	
  que	
  estejam	
  associadas	
  à	
  estase	
  junto	
  ao	
  trato	
  urinário.
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  Embora	
  a	
  prevenção	
  deva	
  ser	
  sempre	
  o	
  foco	
  principal	
  da	
  terapia,	
  a	
  remoção	
  do	
  
cálculo	
  exerce	
  papel	
  importante	
  na	
  avaliação	
  inicial.	
  A	
  modalidade	
  apropriada	
  para	
  
um	
   determinado	
   caso	
   depende	
   primariamente	
   do	
   tamanho,	
   localização	
   e	
   tipo	
   do	
  
cálculo.	
   A	
   LEOC	
   e	
   a	
   ureteroscopia	
   constituem	
   as	
   2	
   modalidades	
   terapêuticas	
  
primárias	
  a	
  serem	
  adotadas	
  diante	
  da	
  necessidade	
  de	
  remoção	
  do	
  cálculo.	
  Nestes	
  
casos,	
  a	
  ureteroscopia	
  anterógrada	
  percutânea	
  e	
  a	
  ureterolitotomia	
  cirúrgica	
  aberta	
  
e	
  laparoscópica	
  constituem	
  as	
  modalidades	
  de	
  tratamento	
  secundárias.59
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  LEOC	
  emprega	
  ondas	
  de	
  choque	
  de	
  alta	
  energia	
  produzidas	
  por	
  uma	
  descarga	
  
elétrica	
  dirigida	
  diretamente	
  para	
  o	
  cálculo,	
  com	
  auxílio	
  de	
  fluoroscopia	
  biplanar.	
  A	
  
resultante	
   liberação	
   de	
   energia	
   sobre	
   a	
   superfície	
   do	
   cálculo	
   fragmenta	
   este	
   em	
  
pequenos	
  pedaços	
  que	
  podem	
  ser	
  facilmente	
  eliminados.	
  A	
  ureteroscopia	
  envolve	
  o	
  
exame	
   do	
   trato	
   urinário	
   superior	
   por	
   meio	
   de	
   um	
   endoscópio,	
   que	
   é	
   passado	
  
diretamente	
  através	
  da	
  uretra.	
  Os	
  cálculos	
  visualizados	
  são	
  removidos	
  diretamente	
  
ou	
  fragmentados	
  por	
  litotripsia	
  a	
  laser.	
  Em	
  comparação	
  com	
  a	
  LEOC,	
  a	
  ureteroscopia	
  
parece	
  estar	
  associada	
  a	
  resultados	
  melhores	
  (taxas	
  livres	
  de	
  cálculo)	
  para	
  cálculos	
  
ureterais	
  maiores	
  (>	
  10	
  mm)	
  e	
  mais	
  distais,	
  apesar	
  da	
  inexistência	
  de	
  estudos	
  clínicos	
  
randomizados	
  que	
  tenham	
  comparado	
  estes	
  2	
  tratamentos.59
 
Tratamento clínico: nefrolitíase recorrente crônica
Cálculos contendo cálcio
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  A	
   estratégia	
   terapêutica	
   inicial	
   adotada	
   para	
   pacientes	
   com	
   litíse	
   renal	
  
recorrente	
   consiste	
   em	
   tratar	
   o	
   distúrbio	
   subjacente.	
   As	
   terapias	
   específicas	
   são	
  
evidentemente	
   indicadas	
   para	
   certas	
   condições	
   implicadas	
   na	
   patogênese	
   dos	
  
cálculos	
   contendo	
   cálcio.	
   Exemplificando,	
   os	
   pacientes	
   com	
   hiperparatireoidismo	
  
primário	
  requerem	
  cirurgia	
  da	
  paratireoide,	
  enquanto	
  aqueles	
  com	
  dATR	
  necessitam	
  
de	
   terapia	
   com	
   álcali,	
   e	
   aqueles	
   com	
   sarcoidose	
   requerem	
   terapia	
   à	
   base	
   de	
  
glicocorticoides	
  ou	
  outra	
  terapia	
  específica.
	
  
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  Dieta.	
  As	
  evidências	
  atuais	
  sustentam	
  o	
  ponto	
  de	
  vista	
  de	
  que	
  a	
  redução	
  das	
  
concentrações	
  urinárias	
  prevalentes	
  dos	
  constituintes	
  potencialmente	
  insolúveis	
  dos	
  
cálculos	
  renais	
  por	
  meio	
  do	
  aumento	
  da	
  ingesta	
  de	
  líquidos	
  e	
  modificação	
  da	
  dieta	
  
são	
   ações	
   efetivas	
   na	
   prevenção	
   da	
   formação	
   de	
   cálculos	
   contendo	
   cálcio.	
   Um	
  
estudo	
  controlado	
  prospectivo,	
  com	
  duração	
  de	
  5	
  anos,	
  sobre	
  a	
  ingesta	
  de	
  água	
  em	
  
pacientes	
   que	
   apresentavam	
   o	
   1º	
   cálculo	
   contendo	
   cálcio,	
   demonstrou	
   que	
   o	
  
aumento	
  do	
  volume	
  de	
  urina	
  para	
  cerca	
  de	
  2,5	
  L/dia	
  com	
  consequente	
  redução	
  da	
  
saturação	
  relativa	
  da	
  urina	
  em	
  relação	
  ao	
  oxalato	
  de	
  cálcio	
  diminuiu	
  a	
  recorrência	
  de	
  
cálculos	
  para	
  10%,	
  em	
  comparação	
  à	
  taxa	
  de	
  25%	
  observada	
  em	
  indivíduos	
  que	
  não	
  
aumentaram	
   a	
   ingesta	
   de	
   água.60
	
  Na	
   prática	
   clínica,	
   os	
   incrementos	
   do	
   volume	
   de	
  
urina	
  alcançados	
  por	
  meio	
  do	
  aconselhamento	
  dos	
  formadores	
  de	
  cálculo	
  costumam	
  
ser	
   modestos.61
	
  O	
   tipo	
   de	
   líquido	
   consumido	
   é	
   importante,	
   pois	
   o	
   suco	
   de	
   laranja	
  
diminui	
   a	
   supersaturação	
   de	
   oxalato	
   de	
   cálcio	
   urinário,62
	
  enquanto	
   o	
   suco	
   de	
  
grapefruit	
  pode	
  aumentar	
  o	
  risco	
  de	
  nefrolitíase.63
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  Os	
  benefícios	
  da	
  terapia	
  dietética	
  para	
  os	
  pacientes	
  com	
  formação	
  de	
  cálculos	
  
recorrente	
  ainda	
  não	
  passaram	
  por	
  testes	
  rigorosos	
  em	
  estudos	
  controlados.	
  Uma	
  
ingesta	
   dietética	
   de	
   800	
   a	
   1.200	
   mg/dia	
   de	
   cálcio	
   foi	
   associada	
   a	
   uma	
   menor	
  
formação	
   de	
   cálculos,	
   em	
   comparação	
   à	
   menor	
   ingesta	
   de	
   cálcio.33
	
  Contudo,	
   os	
  
suplementos	
  de	
  cálcio	
  elevam	
  o	
  risco	
  de	
  nefrolitíase,36
	
  sobretudo	
  quando	
  tomados	
  à	
  
parte	
  das	
  refeições.34
	
  A	
  restrição	
  dos	
  precursores	
  dietéticos	
  de	
  oxalato	
  (p.	
  ex.,	
  nozes,	
  
chocolate,	
   vegetais	
   verdes,	
   vegetais	
   folhosos)	
   é	
   sensível	
   em	
   pacientes	
   com	
  
hiperoxalúria,	
   embora	
   nenhum	
   estudo	
   randomizado	
   tenha	
   sido	
   conduzido	
   sobre	
  
esta	
  medida.	
  Doses	
  altas	
  de	
  vitamina	
  C64
	
  e	
  a	
  restrição	
  do	
  cálcio	
  também	
  devem	
  ser	
  
evitadas	
  por	
  pacientes	
  hiperoxalúricos.	
  Como	
  a	
  ingesta	
  de	
  altas	
  concentrações	
  de	
  
sódio	
   e	
   proteína	
   da	
   dieta	
   aumenta	
   a	
   excreção	
   de	
   cálcio	
   na	
   urina,	
   a	
   restrição	
   da	
  
ingesta	
   de	
   sódio	
   (para	
   <	
   100	
   mEq/dia)	
   e	
   proteínas	
   (<	
   1	
   g/kg/dia)	
   deve	
   ser	
  
recomendada,	
   ainda	
   que	
   a	
   aderência	
   a	
   este	
   tipo	
   de	
   dieta	
   possa	
   se	
   difícil.	
   Em	
   um	
  
estudo	
   randomizado	
   sobre	
   pacientes	
   com	
   cálculos	
   contendo	
   cálcio	
   recidivantes,	
   a	
  
ingesta	
  restrita	
  de	
  proteína	
  animal	
  e	
  sal	
  combinada	
  a	
  uma	
  ingesta	
  normal	
  de	
  cálcio	
  
(1.200	
  mg/dia)	
  diminuiu	
  a	
  recorrência	
  dos	
  cálculos	
  ao	
  longo	
  de	
  5	
  anos	
  e	
  de	
  forma	
  
mais	
  efetiva	
  do	
  que	
  a	
  dieta	
  pobre	
  em	
  cálcio.32
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  As	
   coletas	
   programadas	
   de	
   urina	
   para	
   determinação	
   do	
   volume,	
   creatinina,	
  
ureia,	
   sulfato,	
   oxalato,	
   cálcio	
   e	
   sódio	
   são	
   úteis	
   para	
   o	
   monitoramento	
   da	
  
complacência.	
  Muitos	
  pacientes	
  podem	
  ser	
  beneficiados	
  pela	
  modificação	
  da	
  dieta	
  
e,	
  com	
  isso,	
  evitar	
  a	
  adesão	
  ao	
  uso	
  vitalício	
  de	
  medicações	
  para	
  prevenir	
  a	
  formação	
  
recorrente	
   de	
   cálculos.	
   Entretanto,	
   se	
   os	
   pacientes	
   continuarem	
   apresentando	
  
hipercalciúria	
  persistente	
  mesmo	
  com	
  a	
  modificação	
  da	
  dieta	
  ou	
  se	
  estes	
  pacientes	
  
continuarem	
   apresentando	
   formação	
   de	
   cálculos,	
   então	
   a	
   terapia	
   farmacológica	
  
deve	
  ser	
  considerada.	
  Este	
  conceito	
  é	
  sustentado	
  por	
  uma	
  metanálise.65
	
  
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  Hipercalciúria.	
  Os	
   diuréticos	
   tiazídicos,	
   mais	
   frequentemente	
   a	
  
hidroclorotiazida,	
   bem	
   como	
   os	
   fármacos	
   de	
   ação	
   mais	
   prolongada	
   (p.	
   ex.,	
  
clortalidona	
  e	
  o	
  diurético	
  indapamida,	
  que	
  é	
  similar	
  aos	
  tiazídicos)	
  podem	
  ser	
  usados	
  
para	
  diminuir	
  a	
  excreção	
  urinária	
  de	
  cálcio.	
  A	
  terapia	
  com	
  hidroclorotiazida	
  mostrou-­‐
se	
   altamente	
   efetiva	
   na	
   redução	
   da	
   formação	
   de	
   novos	
   cálculos	
   em	
   2	
   estudos	
  
clínicos	
   controlados	
   randomizados.66,67
	
  O	
   uso	
   dos	
   diuréticos	
   tiazídicos	
   diminui	
   a	
  
incidência	
  da	
  nefrolitíase	
  por	
  cálcio	
  recorrente	
  em	
  cerca	
  de	
  80%.68
	
  Uma	
  dose	
  diária	
  
total	
   de	
   50	
   a	
   100	
   mg	
   de	
   hidroclorotiazida	
   (administrada	
   2	
   vezes/dia)	
   diminui	
  
efetivamente	
   a	
   excreção	
   de	
   cálcio.	
   A	
   falha	
   desta	
   terapia	
   costuma	
   resultar	
   de	
   um	
  
aumento	
   marcante	
   da	
   ingesta	
   de	
   sódio	
   (que	
   promove	
   hipercalciúria)	
   ou	
   de	
  
hipocalemia.
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  O	
   impacto	
   dos	
   efeitos	
   colaterais	
   produzidos	
   pelos	
   tiazídicos,	
   como	
   a	
  
hiperlipidemia,	
   intolerância	
   à	
   glicose	
   e	
   hipocalemia	
   branda,	
   ainda	
   não	
   foi	
  
extensivamente	
  estudado	
  em	
  pacientes	
  com	
  nefrolitíase.	
  Contudo,	
  foi	
  demonstrado	
  
que	
   a	
   mineralização	
   óssea	
   provavelmente	
   aumenta	
   em	
   indivíduos	
   tratados	
   com	
  
tiazídicos	
   por	
   tempo	
   prolongado	
   e,	
   assim,	
   diminui	
   o	
   risco	
   de	
   osteoporose.69
	
  Os	
  
pacientes	
  com	
  distúrbios	
  subjacentes	
  envolvendo	
  o	
  metabolismo	
  do	
  cálcio	
  (p.	
  ex.,	
  
hiperparatireoidismo	
   primário	
   ou	
   distúrbios	
   granulomatosos)	
   ou	
   aqueles	
   sob	
  
tratamento	
   com	
   suplementos	
   de	
   vitamina	
   D	
   podem	
   apresentar	
   risco	
   de	
  
hipercalcemia	
  se	
  receberem	
  terapia	
  com	
  tiazídicos.
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  A	
  adição	
  de	
  amilorida	
  ao	
  tratamento	
  com	
  hidroclorotiazida	
  da	
  nefrolitíase	
  por	
  
cálcio	
  pode	
  ser	
  vantajosa,	
  porque	
  promove	
  uma	
  discreta	
  redução	
  adicional	
  do	
  cálcio	
  
urinário	
   e	
   pode	
   evitar	
   o	
   desenvolvimento	
   de	
   hipocalemia	
   severa.70
	
  O	
   citrato	
   de	
  
potássio	
  diminui	
  significativamente	
  a	
  excreção	
  urinária	
  de	
  cálcio,71
	
  reduzindo	
  o	
  risco	
  
de	
  formação	
  recorrente	
  de	
  cálculos	
  em	
  pacientes	
  formadores	
  de	
  cálculos	
  de	
  cálcio.72
	
  
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  Hipocitratúria.	
  Alguns	
  pacientes	
  com	
  cálculos	
  contendo	
  cálcio	
  apresentam	
  uma	
  
acentuada	
  hipocitratúria,	
  em	
  vez	
  de	
  hipercalciúria.	
  Esta	
  anormalidade	
  pode	
  resultar	
  
de	
   um	
   distúrbio	
   metabólico	
   ou	
   de	
   uma	
   carga	
   ácida	
   crônica,	
   ou	
   ainda	
   de	
   acidose	
  
metabólica.	
  A	
  suplementação	
  dietética	
  com	
  sal	
  contendo	
  citrato	
  a	
  uma	
  dosagem	
  de	
  
1	
  mEq/kg	
  de	
  peso	
  corporal	
  eleva	
  os	
  níveis	
  de	
  excreção	
  urinária	
  de	
  citrato.	
  Este	
  efeito	
  
resulta	
  principalmente	
  da	
  carga	
  álcali	
  produzida	
  pela	
  suplementação	
  de	
  citrato	
  e	
  não	
  
do	
  aparecimento	
  direto	
  na	
  urina	
  do	
  citrato	
  ingerido.	
  A	
  terapia	
  com	
  citrato	
  promove	
  
a	
   diminuição	
   efetiva	
   da	
   frequência	
   de	
   formação	
   de	
   novos	
   cálculos.73
	
  Uma	
   terapia	
  
equivalente	
   com	
   bicarbonato	
   de	
   sódio	
   pode	
   promover	
   o	
   mesmo	
   efeito	
  
hipocitratúrico,	
  mas	
  a	
  ingesta	
  aumentada	
  de	
  sódio	
  pode	
  produzir	
  efeitos	
  adversos	
  
sobre	
  a	
  resposta	
  à	
  terapia	
  ao	
  aumentar	
  a	
  excreção	
  urinária	
  de	
  cálcio.74
	
  
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  Hiperoxalúria.	
  Em	
   pacientes	
   com	
   hiperoxalúria	
   entérica,	
   os	
   suplementos	
   de	
  
cálcio	
  como	
  o	
  carbonato	
  de	
  cálcio	
  (500	
  mg	
  de	
  cálcio	
  elementar,	
  4	
  vezes/dia)	
  podem	
  
ligar-­‐se	
  ao	
  oxalato	
  intestinal	
  e	
  diminuir	
  sua	
  absorção.75
	
  A	
  piridoxina	
  (vitamina	
  B6)	
  atua	
  
como	
  cofator	
  no	
  metabolismo	
  do	
  oxalato,	
  e	
  a	
  deficiência	
  desta	
  vitamina	
  aumenta	
  a	
  
produção	
  de	
  oxalato	
  e	
  a	
  oxalúria.	
  Embora	
  uma	
  dosagem	
  de	
  vitamina	
  B6	
  da	
  ordem	
  de	
  
25	
   a	
   50	
   mg/dia	
   reduza	
   significativamente	
   a	
   excreção	
   urinária	
   de	
   oxalato	
   em	
   um	
  
subgrupo	
  de	
  pacientes	
  com	
  hiperoxalúria	
  primária	
  de	
  tipo	
  1,76	
  
seu	
  papel	
  em	
  outros	
  
contextos	
  ainda	
  não	
  foi	
  comprovado.	
  Oxalobacter	
  formigenes,	
  uma	
  bactéria	
  que	
  usa	
  
oxalato	
  como	
  fonte	
  de	
  energia	
  e	
  com	
  frequência	
  coloniza	
  o	
  intestino	
  humano,	
  está	
  
sendo	
  avaliada	
  como	
  probiótico	
  para	
  uso	
  no	
  tratamento	
  da	
  hiperoxalúria.
	
  
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  Hiperuricosúria.	
  O	
   alopurinol,	
   a	
   uma	
   dosagem	
   de	
   100	
   a	
   300	
   mg/dia,	
   é	
   o	
  
tratamento	
  preferido	
  para	
  redução	
  da	
  excreção	
  de	
  ácido	
  úrico	
  em	
  pacientes	
  com	
  
hiperuricosúria.	
  Foi	
  demonstrado	
  que	
  o	
  alopurinol	
  diminui	
  a	
  formação	
  recorrente	
  de	
  
cálculos	
  de	
  cálcio	
  em	
  pacientes	
  com	
  nefrolitíase	
  por	
  cálcio	
  hiperuricosúricos,	
  em	
  um	
  
estudo	
   controlado	
   randomizado.77
	
  Entre	
   os	
   efeitos	
   colaterais,	
   estão	
   as	
   erupções	
  
cutâneas	
   e	
   outras	
   reações	
   de	
   hipersensibilidade.	
   O	
   febuxostate	
   é	
   um	
   inibidor	
   de	
  
xantina	
  oxidase	
  aprovado	
  recentemente	
  para	
  uso,	
  o	
  qual	
  pode	
  ser	
  útil	
  em	
  promover	
  
a	
  diminuição	
  da	
  excreção	
  urinária	
  de	
  ácido	
  úrico	
  em	
  pacientes	
  incapazes	
  de	
  tolerar	
  o	
  
alopurinol.78
	
  
Cálculos de ácido úrico
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  Na	
  maioria	
  dos	
  pacientes	
  com	
  cálculos	
  de	
  ácido	
  úrico,	
  a	
  urina	
  excessivamente	
  
ácida	
   (pH	
   urinário	
   <	
   5,5)	
   constitui	
   a	
   principal	
   anormalidade	
   bioquímica.	
   Nestes	
  
pacientes,	
  a	
  terapia	
  com	
  álcali	
  para	
  manutenção	
  do	
  pH	
  de	
  urina	
  de	
  24	
  horas	
  entre	
  6	
  
e	
  6,5	
  não	
  só	
  é	
  efetiva	
  na	
  diminuição	
  da	
  formação	
  recorrente	
  de	
  cálculos79
	
  como	
  pode	
  
até	
  mesmo	
  dissolver	
  os	
  cálculos	
  já	
  formados.80
	
  Para	
  tanto,	
  administra-­‐se	
  citrato	
  de	
  
potássio	
  a	
  uma	
  dosagem	
  de	
  60	
  a	
  80	
  mEq/dia	
  dividida	
  em	
  2	
  a	
  3	
  doses.	
  Um	
  aspecto	
  
negativo	
  dos	
  sais	
  álcalis	
  de	
  sódio	
  reside	
  no	
  aumento	
  da	
  excreção	
  urinária	
  de	
  cálcio	
  e	
  
na	
  maior	
  propensão	
  à	
  formação	
  de	
  cálculos	
  de	
  cálcio,74
	
  sendo	
  necessário	
  monitorar	
  
os	
  níveis	
  séricos	
  de	
  potássio	
  em	
  pacientes	
  com	
  insuficiência	
  renal	
  que	
  fazem	
  uso	
  de	
  
citrato	
  de	
  potássio.	
  Em	
  pacientes	
  com	
  excreção	
  aumentada	
  de	
  ácido	
  úrico,	
  as	
  opções	
  
terapêuticas	
  incluem	
  a	
  restrição	
  de	
  purinas	
  na	
  dieta	
  e	
  a	
  administração	
  de	
  alopurinol.
	
  
Cálculos de estruvita
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  A	
   prevenção	
   da	
   formação	
   recorrente	
   de	
   cálculos	
   de	
   estruvita	
   é	
   uma	
   tarefa	
  
difícil	
  e	
  requer	
  a	
  esterilização	
  bem-­‐sucedida	
  da	
  urina.	
  Como	
  os	
  organismos	
  podem	
  
estar	
   presentes	
   nos	
   interstícios	
   do	
   material	
   oriundo	
   dos	
   cálculos,	
   é	
   necessário	
  
remover	
  totalmente	
  este	
  material	
  do	
  trato	
  urinário.	
  Uma	
  combinação	
  de	
  litotripsia	
  
percutânea	
   e	
   LEOC	
   pode	
   produzir	
   resultados	
   favoráveis.	
   Para	
   tanto,	
   pode	
   ser	
  
necessário	
   realizar	
   1	
   ou	
   mais	
   procedimentos	
   de	
   fragmentação	
   ureteroscópica	
   do	
  
cálculo	
  utilizando	
  uma	
  sonda	
  de	
  ultrassonografia	
  e,	
  após	
  2	
  a	
  3	
  dias,	
  realizar	
  a	
  LEOC	
  
para	
   quebrar	
   os	
   fragmentos	
   menores.	
   O	
   material	
   oriundo	
   do	
   cálculo	
   pode	
   ser	
  
removido	
   com	
   sucesso	
   pelo	
   uso	
   combinado	
   da	
   remoção	
   cirúrgica	
   do	
   cálculo	
   e	
  
irrigação	
   do	
   trato	
   urinário	
   com	
   uma	
   solução	
   de	
   ácidos	
   orgânicos	
   fortes,	
   como	
   a	
  
hemiacidrina	
   (um	
   composto	
   contendo	
   ácido	
   cítrico	
   a	
   10%).81
	
  Esta	
   abordagem,	
  
combinada	
   à	
   terapia	
   antimicrobiana	
   prolongada	
   (duração	
   de	
   até	
   4	
   semanas)	
  
organismo-­‐específica,	
  pode	
  resultar	
  na	
  cura	
  completa	
  dos	
  cálculos	
  de	
  estruvita	
  em	
  
cerca	
   de	
   70%	
   dos	
   pacientes	
   tratados,	
   se	
   todos	
   os	
   fragmentos	
   do	
   cálculo	
   forem	
  
removidos	
  durante	
  a	
  terapia	
  inicial.82
	
  A	
  TCSC	
  pode	
  ser	
  empregada	
  para	
  documentar	
  a	
  
remoção	
  de	
  todos	
  os	
  cálculos	
  e	
  para	
  fins	
  de	
  seguimento	
  futuro.	
  Nos	
  raros	
  casos	
  em	
  
que	
  os	
  procedimentos	
  urológicos	
  não	
  podem	
  ser	
  realizados,	
  o	
  uso	
  da	
  terapia	
  médica	
  
é	
  indicado	
  como	
  abordagem	
  de	
  2ª	
  linha.	
  O	
  ácido	
  aceto-­‐hidroxâmico	
  é	
  um	
  inibidor	
  de	
  
urease	
   bacteriana	
   oralmente	
   ativo.83
	
  Este	
   agente	
   é	
   efetivo	
   na	
   prevenção	
   do	
  
desenvolvimento	
   do	
   cálculo	
   até	
   mesmo	
   diante	
   da	
   persistência	
   de	
   fragmentos	
   do	
  
cálculo	
  e	
  da	
  infecção	
  bacteriana.	
  Contudo,	
  o	
  ácido	
  aceto-­‐hidroxâmico	
  produz	
  vários	
  
efeitos	
   colaterais	
   significativos,	
   incluindo	
   anemia	
   hemolítica,	
   cefaleia	
   intratável	
   e,	
  
possivelmente,	
  tromboflebite.84
	
  
Cálculos de cistina
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  O	
   tratamento	
   dos	
   cálculos	
   de	
   cistina	
   consiste	
   na	
   redução	
   da	
   concentração	
  
urinária	
  de	
  cistina	
  por	
  meio	
  da	
  hidratação,	
  aumento	
  da	
  solubilidade	
  da	
  cistina	
  via	
  
alcalinização	
  da	
  urina	
  e	
  diminuição	
  da	
  concentração	
  de	
  cistina	
  na	
  urina	
  com	
  o	
  uso	
  de	
  
penicilamina	
  ou	
  tiopronina.	
  A	
  terapia	
  ideal	
  não	
  só	
  diminui	
  o	
  risco	
  de	
  formação	
  de	
  
novos	
   cálculos	
   como	
   também	
   dissolve	
   aqueles	
   já	
   formados.85
	
  A	
   solubilidade	
   da	
  
cistina	
   na	
   urina	
   é	
   de	
   aproximadamente	
   300	
   mg/L	
   (1,25	
   mM).	
   Para	
   prevenir	
   a	
  
formação	
   ou	
   o	
   crescimento	
   de	
   cálculos	
   em	
   pacientes	
   que	
   ingerem	
   mais	
   de	
   1.000	
  
mg/dia	
  de	
  cistina	
  é	
  necessário	
  um	
  volume	
  de	
  urina	
  mínimo	
  de	
  4	
  L/dia,	
  distribuído	
  de	
  
maneira	
  uniforme	
  ao	
  longo	
  de	
  24	
  horas,	
  que	
  em	
  geral	
  acarreta	
  o	
  fracasso	
  da	
  terapia	
  
à	
   base	
   de	
   líquidos.	
  	
  Quando	
   combinada	
   a	
   uma	
   ingesta	
   adequada	
   de	
   líquidos,	
   a	
  
terapia	
  com	
  álcali	
  é	
  benéfica	
  porque	
  permite	
  duplicar	
  a	
  solubilidade	
  da	
  cistina	
  (para	
  
600	
  mg/L	
  de	
  urina)	
  no	
  pH	
  urinário	
  de	
  7,5	
  a	
  7,8	
  geralmente	
  alcançado	
  com	
  a	
  terapia	
  
álcali	
   (p.	
   ex.,	
   citrato	
   de	
   potássio)	
   ou	
   pelo	
   uso	
   ocasional	
   da	
   acetazolamida	
   como	
  
adjunto.87
	
  Um	
  potencial	
  efeito	
  colateral	
  deste	
  grau	
  de	
  alcalinização	
  consiste	
  na	
  maior	
  
propensão	
  à	
  formação	
  de	
  cálculos	
  de	
  fosfato	
  de	
  cálcio,	
  de	
  modo	
  que	
  pode	
  ser	
  mais	
  
seguro	
  estabelecer	
  como	
  meta	
  atingir	
  um	
  pH	
  igual	
  7.85
	
  Uma	
  diminuição	
  da	
  ingesta	
  
dietética	
  de	
  sódio	
  (50	
  mEq/dia)	
  pode	
  ser	
  útil	
  por	
  aumentar	
  a	
  reabsorção	
  renal	
  de	
  
cistina	
  e,	
  com	
  isso,	
  diminuir	
  a	
  carga	
  urinária.88
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  Alguns	
  pacientes	
  podem	
  necessitar	
  de	
  terapia	
  com	
  D-­‐penicilamina	
  (1	
  a	
  2	
  g/dia	
  
divididas	
   em	
   3	
   a	
   4	
   doses)	
   ou	
   tiopronina	
   (400	
   a	
   1.200	
   mg/dia	
   divididas	
   em	
   3	
   a	
   4	
  
doses).89
Estes	
  compostos	
  formam	
  dissulfitos	
  solúveis	
  mistos	
  com	
  a	
  cisteína	
  e,	
  desta	
  
forma,	
  evitam	
  a	
  formação	
  de	
  cálculos	
  de	
  cistina.	
  A	
  produção	
  de	
  cistina	
  também	
  pode	
  
cair.	
   Contudo,	
   a	
   penicilamina	
   é	
   suspendida	
   em	
   até	
   90%	
   dos	
   pacientes,	
   em	
  
decorrência	
   de	
   uma	
   reação	
   adversa.	
   Os	
   efeitos	
   colaterais	
   variam	
   de	
   insônia	
   e	
  
disgesia	
  à	
  alergia,	
  náusea,	
  vômitos,	
  febre,	
  erupções,	
  diarreia,	
  artralgias,	
  leucopenia,	
  
trombocitopenia,	
  proteinúria	
  e	
  síndromes	
  lupus	
  like.	
  Os	
  efeitos	
  adversos	
  graves	
  com	
  
necessidade	
  de	
  suspensão	
  da	
  terapia	
  são	
  aproximadamente	
  50%	
  menos	
  frequentes	
  
com	
  o	
  uso	
  de	
  tiopronina	
  do	
  que	
  com	
  o	
  uso	
  de	
  penicilamina.89
	
  Foi	
  demonstrado	
  que	
  o	
  
captopril,	
   um	
   composto	
   contendo	
   tiol	
   que	
   forma	
   complexos	
   captopril-­‐cisteína,	
  
aumenta	
  a	
  solubilidade	
  da	
  cistina	
  in	
  vitro.	
  Entretanto,	
  a	
  concentração	
  de	
  captopril	
  na	
  
urina	
  pode	
  ser	
  insuficiente	
  para	
  complexar	
  efetivamente	
  as	
  grandes	
  quantidades	
  de	
  
cisteína	
  presentes.90
	
  Os	
  estudos	
  clínicos	
  sobre	
  captopril	
  na	
  cistinúria	
  apresentaram	
  
resultados	
  variáveis.91-­‐93
	
  
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  Os	
  autores	
  não	
  possuem	
  relações	
  comerciais	
  com	
  os	
  fabricantes	
  de	
  produtos	
  
ou	
  prestadores	
  de	
  serviços	
  mencionados	
  neste	
  capítulo.
	
  
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Nefrolitiase

  • 1. Nefrolitíase Orson W Moe Khashayar Sakhaee Naim M Maalouf Disponível em http://www.medicinanet.com.br/,acessado em 29/08/2013 Última revisão: 25/06/2013 Nefrolitíase – Orson W. Moe, Khashayar Sakhaee, Naim M. Maalouf   Orson  W.  Moe,  MD Professor,  Department  of  Internal  Medicine,  Charles  and  Jane  Pak  Center  for  Mineral   Metabolism  and  Clinical  Research,  University  of  Texas  Southwestern  Medical  Center,   Dallas,  TX   Khashayar  Sakhaee,  MD Professor,  Department  of  Internal  Medicine,  Charles  and  Jane  Pak  Center  for  Mineral   Metabolism  and  Clinical  Research,  University  of  Texas  Southwestern  Medical  Center,   Dallas,  TX   Naim  M.  Maalouf,  MD Assistant  Professor,  Department  of  Internal  Medicine,  Charles  and  Jane  Pak  Center   of   Mineral   Metabolism   and   Clinical   Research,   University   for   Texas   Southwestern   Medical  Center,  Dallas,  TX     Artigo   original:  Moe   OW,   Sakhaee   K,   Maalouf   NM.  Nephrolithiasis.   ACP   Medicine.   2010;1-­‐12. [The  original  English  language  work  has  been  published  by  DECKER  INTELLECTUAL   PROPERTIES  INC.  Hamilton,  Ontario,  Canada.  Copyright  ©  2011  Decker  Intellectual   Properties  Inc.  All  Rights  Reserved.] Tradução:  Soraya  Imon  de  Oliveira Revisão  técnica:  Dr.  Euclides  Furtado  de  Albuquerque  Cavalcanti     Definição da doença O termo nefrolitíase, frequentemente empregado como sinônimo de urolitíase, refere-se à formação de cálculos sólidos constituídos de proteína e materiais cristalinos, junto ao lúmen do trato urinário, fixos ao uroepitélio. Existe um número desconhecido e provavelmente amplo de indivíduos com nefrolitíase subclínica, que não apresentam sinais nem sintomas. A nefrolitíase tem afligido os seres humanos desde os primeiros registros históricos e tem sido observada em uma ampla gama de animais. O rim de um mamífero terrestre enfrenta um desafio formidável ao ser incumbido da tarefa de excretar uma enorme quantidade de solutos altamente insolúveis contidos em um volume bastante pequeno. Numerosos mecanismos de defesa contribuem para evitar que os cristais se formem e fiquem aderidos ao uroepitélio. Contudo, a fisiologia é imperfeita, e a falha no desempenho desta tarefa resulta na nefrolitíase. Esta condição, vale lembrar, não constitui um “diagnóstico” verdadeiro, uma vez que os cálculos renais podem se formar devido a uma ampla gama de doenças subjacentes. Conceitualmente, o diagnóstico de nefrolitíase por si só é um diagnóstico tanto quanto o são febre ou edema. É dever do clínico
  • 2. procurar e descobrir a patofisiologia subjacente, bem como a causa da formação dos cálculos renais. Epidemiologia                  A   nefrolitíase   constitui   um   problema   de   saúde   global   que   permeia   todas   as   regiões   geográficas   e   classes   econômicas.   As   estimativas   atuais   apontam   uma   incidência   anual   de   1%,   prevalência   de   3   a   5%   e   um   risco   vitalício   de   25%.1  A   incidência   da   urolitíase   tem   aumentado   com   o   passar   do   tempo.2  A   nefrolitíase   é   recorrente   na   maioria   dos   casos   e   este   aspecto,   na   maioria   dos   indivíduos,   transforma-­‐a  em  uma  aflição  que  persiste  por  toda  a  vida.3  Trata-­‐se  de  uma  condição   mais  comum  entre  os  homens  do  que  entre  as  mulheres  durante  a  maior  parte  da   fase  adulta,  exceto  na  6ª  década  da  vida,  quando  sua  incidência  é  nivelada.4  Existem   variações   geográficas   em   termos   de   prevalência   dos   cálculos,   tendo   sido   identificados   “cinturões   de   cálculos”   regionais   que   foram   atribuídos   a   fatores   genéticos  e  ambientais  (p.  ex.,  clima  quente  [perda  de  líquidos]  e  exposição  ao  Sol   [vitamina  D]).  A  prevalência  entre  hispânicos  e  asiáticos  é  intermediária  entre  aquela   observada  nas  populações  de  brancos  e  afrodescendentes.4  O  risco  de  nefrolitíase  é   mais   alto   em   indivíduos   obesos.2,5  Um   índice   de   massa   corporal   ou   uma   circunferência  de  cintura  maiores  e  um  ganho  de  peso  da  ordem  de  15,9  kg  desde  o   início  da  fase  adulta  são  fatores  que  estão  associados  a  maior  risco  de  formação  de   cálculos.5  A   distribuição   dos   tipos   de   cálculos   no   mundo   ocidental   difere   de   um   estudo  para  outro,  mas  pode  ser  representada  pelas  seguintes  estimativas:  oxalato   de  cálcio,  65%;  fosfato  de  cálcio,  15%;  ácido  úrico,  10%;  cistina,  2%;  e  estruvita,  5%.6,7                  O   Urological   Diseases   in   America   Project   calculou   para   o   ano   de   2000,   nos   Estados   Unidos,   uma   estimativa   de   gasto   conservadora   anual   com   casos   de   nefrolitíase   da   ordem   de   alguns   bilhões   de   dólares.   Esta   estimativa   demonstra   a   carga  nos    indivíduos  em  idade  produtiva  e  na  sociedade  em  geral.  As  estratégias  de   tratamento   que   empregam   testes   simples   e   terapias   farmacológicas   econômicas   mostraram-­‐se   eficazes   e   custo-­‐efetivas.8 Um   estudo   retrospectivo   de   pacientes   seguidos  durante  20  anos  demonstrou  a  eficácia  sustentada  da  terapia  médica  na   promoção  de  melhora  dos  parâmetros  bioquímicos  e  eventos  clínicos.9   Etiologia e genética                  Conforme   já   mencionado,   a   nefrolitíase   pode   surgir   a   partir   de   uma   ampla   variedade   de   etiologias   subjacentes.   Definitivamente,   não   é   do   melhor   interesse   para  o  paciente  quando  o  clínico  trata  a  nefrolitíase  como  um  diagnóstico  final,  sem   investigar  de  forma  mais  aprofundada  a  etiologia  subjacente.  A  natureza  recorrente   dos  cálculos  renais  e  o  fato  de  haver  numerosas  etiologias  subjacentes  tratáveis  e   potencialmente   prejudiciais   exigem   um   grau   mínimo   de   avaliação   de   todos   os   pacientes   formadores   de   cálculos.   A  Tabela   1  apresenta   uma   lista   de   etiologias,   e   mais  detalhes  são  fornecidos  na  seção  sobre  diagnóstico,  adiante.  O  baixo  volume  de   urina   atribuído   à   baixa   ingesta   de   líquidos   ou   às   perdas   cutâneas   e/ou   intestinais   constitui  um  fator  de  risco  universal.10  Uma  elevada  ingesta  proteica  impõe  um  risco   3   vezes   maior   de   desenvolvimento   de   hipercalciúria,   hipocitratúria   e   hiperuricosúria.11  Uma  elevada  ingesta  de  sal  invariavelmente  aumenta  a  excreção  de   cálcio12  e  tem  o  potencial  de  diminuir  a  concentração  de  citrato  na  urina.  Uma  ampla   variedade   de   doenças   metabólicas   sistêmicas   aumenta   o   risco   de   formação   de  
  • 3. cálculos  [Tabela   1].   O   hiperparatireoidismo   e   algumas   doenças   granulomatosas,   como   a   sarcoidose,   acarretam   elevação   da   excreção   urinária   de   cálcio.13  A   gota,   o   diabetes   de   tipo   2   e   a   síndrome   metabólica   estão   associados   a   um   risco   geral   aumentado   de   formação   de   cálculos,   contudo   foi   comprovada   a   relação   destes   fatores  com  cálculos  de  ácido  úrico.14,15  Uma  variedade  de  doenças  intestinais  pode   acarretar   a   formação   de   cálculos   renais   via   mecanismos   que   se   sobrepõem   a   algumas  condições  já  discutidas:  perda  de  sódio  e  líquidos  (baixo  volume  de  urina),   perda   de   potássio   e   álcali   (hipocitratúria)   e   formação   de   complexos   de   cálcio   e   gordura   com   consequente   aumento   da   absorção   intestinal   de   oxalato.   Quando   a   investigação  de  etiologias  conhecidas  é  infrutífera,  recorre-­‐se  aos  termos  descritivos   (p.   ex.,   “hipercalciúria   idiopática”)   sobretudo   para   fins   de   comunicação.   A   hipercalciúria   idiopática   consiste   em   uma   coleção   heterogênea   de   anormalidades,   que   inclui   a   hiperabsorção   intestinal   de   cálcio,   reabsorção   óssea   aumentada   e   vazamento   de   cálcio   urinário.16  Há   também   pacientes   que   apresentam   excreção   aumentada   de   oxalato,   mas   sem   causas   intestinais   ou   metabólicas   identificáveis.   Conforme   é   detalhado   a   seguir   [ver   História],   os   fármacos   podem   alterar   a   composição  bioquímica  da  urina  e  aumentar  o  risco  de  formação  de  cálculos  ou,  em   alguns   casos   inusitados,   os   próprios   fármacos   podem   se   precipitar   na   urina   e   produzir  um  nefrólito  de  fármaco.   Tabela  1.  Etiologia  da  nefrolitíase Condição Tipo  de  cálculo* Oxalat o  de   cálcio Fosfat o  de   cálcio Ácid o   úrico Estruvit a Cistin a Fármaco s Ambiental/dietética             Volume  de  urina   reduzido + + + + + + Dieta  rica  em  proteína +   +       Dieta  rica  em  sal +           Metabólica             Hiperparatireoidismo   primário + +         Doenças   granulomatosas +           Acidose  metabólica +   +       Síndrome   metabólica/gota/diabet es  de  tipo  2 +   +       Condições   hiperuricosúricas +   +       Doenças  intestinais +           Condições  de  diarreia   crônica +   +       Má  absorção  de   gorduras +          
  • 4. Pós-­‐cirurgia  bariátrica +   +       Idiopática             Hipercalciúria + +         Hiperoxalúria +           Síndromes  congênitas             Acidose  tubular  renal   +         Cistinúria         +   Hiperoxalúria  primária +           Infecção  do  trato  urinário       +     Medicações             Fármacos  que  alteram  a   bioquímica  urinária + + +     + Fármacos  insolúveis             *Os  tipos  de  cálculo  raros  foram  omitidos.                    Em   muitas   doenças   mendelianas   monogênicas   incomuns,   os   cálculos   renais   integram  as  manifestações  da  condição.17,18  Ainda  que  seja  pouco  comum,  os  clínicos   devem  saber  da  existência  destas  condições,  as  quais  estão  resumidas  na  Tabela  2.   Os   tipos   mais   comuns   de   cálculos   renais   encontrados   na   prática   são   mais   provavelmente  traços  complexos  poligênicos  associado  a  componentes  ambientais.   Este  último  tipo  é  discutido  nesta  seção.  O  agrupamento  familiar  da  nefrolitíase  foi   observado   já   no   início   do   século   XIX.19  A   evidência   de   um   componente   genético   determinante   de   cálculos   renais   é   bem   aceita,   embora   a   maioria   dos   dados   se   baseiem  na  demonstração  de  relações  de  correlação,  em  vez  de  relações  causativas.   Os  estudos  epidemiológicos  que  empregam  modelos  estatísticos  foram  realizados  no   contexto  de  estudos  sobre  agregação  familiar  e  gêmeos.  Também  foram  realizadas   tentativas  de  se  estabelecer  uma  associação  de  genótipo-­‐fenótipo  ou  uma  ligação   com   genes   candidatos   específicos.   Além   disso,   foram   conduzidos   estudos   de   associação   genômica   ampla.   Um   breve   resumo   de   diversos   estudos   populacionais   indica  que  cerca  de  40%  dos  pacientes  formadores  de  cálculo  apresentam  história   familiar  positiva,  com  um  risco  relativo  aproximado  de  4  vezes  para  um  familiar  e   uma  contribuição  genética  geral  para  o  risco  de  formação  de  cálculos  em  torno  de   50%.  Em  um  estudo  envolvendo  a  análise  de  2.000  gêmeos  monozigóticos  e  1.400   gêmeos  dizigóticos,  observou-­‐se  uma  taxa  de  concordância  de  32%  entre  os  gêmeos   monozigóticos  e  de  17%  entre  os  gêmeos  dizigóticos.20  No  caso  dos  pares  de  gêmeos   discordantes,   parte   do   efeito   poupador   presente   no   irmão   não   afetado   pode   ser   potencialmente  atribuída  a  fatores  ambientais.   Tabela  2.  Causas  monogênicas  de  nefrolitíase* Doença Gene e herança Proteína Outras características além dos cálculos dATR ATP6V1B1 (AR) Subunidade B1 da H+ ATPase de tipo V Surdez ATP6V0A4 (AR) Subunidade a4 da H+ ATPase de tipo V Audição normal
  • 5. SLC4A1 (AR) Trocador de ânion (AE) 1 Ovalocitose, anemia hemolítica SLC4A1 (AD) Trocador de ânion (AE) 1 Sem defeitos eritrocitários Doença de Dent CLCN5 (LX) Canal de cloreto CLC-5 Síndrome de Fanconi Síndrome oculocerebral de Lowe OCRL1 (LX) Fosfatidilinositol-4,5- bisfosfato 5 fosfatase Síndrome de Fanconi, raquitismo, catarata, retardo mental Síndrome de Bartter NKCC2 (AR) Cotransportador de sódio e cloreto de potássio (NKCC) Clássica (manifestação menos severa na infância) ou pré-natal (hidrâmnio, perda de sal) KCNJ1 (AR) Canal de potássio medular externo renal (ROMK) Síndrome de Bartter clássica ou pré-natal CLCNKb (AR) Canal de cloreto, CLC- Kb Habitualmente, clássica (mais branda); pode se manifestar sem nefrocalcinose BSND (AR) Barttin, subunidade de CLC-Kb Associada à surdez CASR (AD) Receptor cálcio-sensível (mutação ativadora) Hipocalcemia; também conhecida como hipocalcemia autossômica dominante Raquitismo hipofosfatêmico hereditário SLC34A3 (AD/R) Cotransportador  de  fosfato  de   sódio  do  tipo  2C  (NaPi-­‐2c) Hiperfosfatúria, raquistimo, hipervitaminose D Hipoparatireoidismo isolado familiar CASR(AD) Receptor cálcio-sensível (mutação ativadora) Hipocalcemia PTH (AR ou AD) PTH Hipocalcemia, hiperfosfatemia GCMB Células da glia sem fator de transcrição B Hipocalcemia, hiperfosfatemia Hipomagnesemia familiar com hipercalciúria e nefrocalcinose PCLN1 (AR) Paracelina 1 Hipomagnesemia, hiperuricemia, poliúria, anormalidades oculares Cistinúria SLC3A2 (AR) Transportador de aminoácido rBAT Cistinúria SLC7A9 (AR) Transportador de aminoácido b0,+ AT
  • 6. Hiperoxalúria primária AGXT(AR) Alanina/glioxilato aminotransferase Hiperoxalúria, nefrocalcinose, oxalose sistêmica GRHPR (AR) Glioxilato redutase/ hidroxipiruvato redutase Síndrome de Lesch- Nyhan, síndrome deKelley-Seegmiller HPRT (LX) Hipoxantina-guanina fosforribosiltransferase Hiperuricosúria, gota, síndrome neurológica Hipouricemia renal SLC22A12 (AR) Transportador de ácido úrico URAT1 Hipouricemia SLC2A9 (AR) Transportador de ácido úrico GLUT9 Nefrolitíase e lesão renal aguda do exercício AD = autossômico dominante; AR = autossômico recessivo; dATR = acidose tubular renal distal; LX = ligado ao X; PTH = paratormônio. *Foram   omitidas   numerosas   doenças   monogênicas   raras   distintas   que   estão   associadas   à   disfunção   tubular   proximal   e   à   suscetibilidade   à   nefrolitíase   hipercalciúrica.   Alguns   exemplos   de   doenças   (gene   e   proteína   entre   parênteses)   incluem   a   tirosemia   de   tipo   1   (FAH,   fumarilacetoacetato   hidrolase),   doença   do   armazenamento   de   glicogênio   de   tipo   1a   (G6PC,   glicose-­‐6-­‐fosfatase),   doença   de   Wilson   (ATP7B,  ATPase   translocadora   de   cobre   de   tipo   P),   síndrome   de   Liddle   (SCNN1B/G,  subunidades  do  canal  de  sódio  epitelial)  e  pseudo-­‐  hipoaldosteronismo   de  tipo  2  (WNK4,  serina-­‐treonina  quinase  sem  lisina).   Patofisiologia                  É  bem  reconhecido  que  a  nefrolitíase  é  uma  doença  sistêmica.21  Mesmo  quando   o   paciente   apresenta   envolvimento   aparente   apenas   do   trato   urinário,   existem   múltiplas   anormalidades   subclínicas   subjacentes   à   síndrome.   Este   conceito   é   importante  por  vários  motivos.  Do  ponto  de  vista  de  um  clínico,  é  importante  estar  a   par   da   natureza   multiórgãos   para   que   seja   possível   estabelecer   um   diagnóstico   correto   e   prescrever   as   devidas   medidas   terapêuticas.   Os   formadores   de   cálculo   renal   apresentam   menor   densidade   óssea   e   risco   aumentado   de   fraturas.22  A   hiperoxalúria   pode   ser   útil   como   sentinela   da   patologia   intestinal.   A   formação   de   cálculos  de  ácido  úrico  pode  ser  precursora  de  um  diabetes  de  tipo  2  subjacente.  Em   termos  de  patofisiologia,  a  natureza  sistêmica  da  doença  representa  a  chave  para  a   descoberta  da  raiz  das  anormalidades  bioquímicas  urinárias  e  para  o  planejamento   de  uma  terapia  específica.                  É  possível  considerar  a  patofisiologia  em  3  categorias  conceituais  amplas.  Para   haver   formação   de   cálculos,   são   necessários   (1)   uma   concentração   excessiva   de   soluto(s)  com  excesso  de  solubilidade  na  urina;  (2)  desequilíbrio  de  modificadores   (promotores   e   inibidores)   de   cristalização   na   urina;   e   (3)   anormalidades   epiteliais   que   permitam   a   fixação   e   subsequente   desenvolvimento   destes   cristais   em   nefrólitos  [Figura  1].  Estes  fatores  atuam  em  conjunto  e  eventualmente  resultam  na   formação  de  um  cálculo  renal.  
  • 7. Clique na imagem para ampliar Figura  1.  Patofisiologia  da  formação  de  cálculos  exemplificada  por  um  cálculo  de   oxalato   de   cálcio   comum.   (1)   A   concentração   de   soluto(s)   excede   o   produto   de   solubilidade  e  acarreta  a  formação  da  fase  sólida.  (2)  Desequilíbrio  entre  inibidores   e  promotores  da  cristalização,  aglomeração  e  crescimento.  (3)  Lesões  epiteliais  que   permitem  a  fixação  dos  cristais  e  sua  transformação  subsequente  em  cálculos.                    A  concentração  excessiva  de  solutos  modestamente  solúveis  na  urina  pode  ser   causada   por   uma   gama   bastante   ampla   de   anormalidades   sistêmicas.   Uma   explicação  detalhada  sobre  este  aspecto  foge  ao  escopo  deste  capítulo.  Todavia,  as   anormalidades  associadas  a  cada  um  dos  solutos  listados  na  Figura  1  podem  resultar   de   múltiplos   mecanismos   e   frequentemente   ocorrem   combinadas   em   um   dado   paciente.  Mais  uma  vez,  isto  destaca  a  importância  da  realização  de  pelo  menos  1   tipo  de  avaliação  da  patofisiologia  subjacente  da  nefrolitíase  na  prática  clínica.  Como   os  solutos  que  contribuem  diretamente  para  a  formação  de  cálculos  estão  sempre   presentes  em  concentrações  superiores  a  suas  próprias  solubilidades,  até  mesmo  na   urina   normal,   estes   solutos   permanecem   em   solução   somente   por   meio   da   ação  
  • 8. protetora   dos   inibidores   de   cristalização,   aglomeração   e   crescimento.23  A   lista   de   inibidores  putativos  é  longa,  e  muitos  ainda  são  pouco  conhecidos.24  O  inibidor  de   cálculos  mais  bem  estudado  é  o  citrato.  O  citrato  quela  o  cálcio  com  alta  afinidade   em  um  complexo  solúvel,  prevenindo  a  ligação  do  cálcio  ao  oxalato  e  fosfato  para   formação  de  complexos  insolúveis.25,26  Além  disso,  o  citrato  inibe  a  aglomeração  e  o   desenvolvimento  dos  cristais.25,26  O  distúrbio  envolvendo  este  inibidor  (hipocitratúria)   constitui  uma  das  principais  causas  identificáveis  e  tratáveis  da  nefrolitíase.  Embora   a   cristalúria   seja   comumente   observada   em   indivíduos   normais,   estes   cristais   não   aderem  ao  uroepitélio  nem  se  transformam  em  nefrólito.  Os  fatores  epiteliais  que   permitem  a  formação  de  cálculos  são  conhecidos  apenas  para  os  cálculos  de  oxalato   de  cálcio  comuns.  As  informações  existentes  sobre  os  outros  tipos  de  cálculos  são   bastante  limitadas.  O  evento  primário  parece  ser  a  deposição  de  fosfato  de  cálcio  no   interstício   medular   renal,   que   eventualmente   sofre   disseminação,   erosão   e   se   projeta  para  dentro  do  lúmen  do  ducto  coletor,  junto  às  papilas,  atuando  como  uma   placa   que   serve   de   âncora   e   plataforma   de   adesão   para   aglomeração   e   crescimento  [Figura  1].27  Por  fim,  a  prevenção  bem-­‐sucedida  da  formação  de  cálculos   está  apoiada  na  compreensão  da  patofisiologia  da  formação  destas  placas.   Diagnóstico Apresentação clínica                  Os  cálculos  renais  podem  ser  assintomáticos  e  apresentar-­‐se  como  um  achado   incidental.  A  lombalgia  e  a  dor  no  flanco  constituem  as  manifestações  clínicas  mais   comuns   de   cálculos   renais.   Estas   manifestações   surgem   com   o   deslocamento   do   cálculo   renal   no   ureter.   A   dor   resulta   do   aumento   da   pressão   intraluminal   e   da   estimulação   das   terminações   nervosas   na   mucosa   do   ureter.   Originando-­‐se   nas   costas  ou  no  flanco  e  irradiando  para  a  virilha,  esta  dor  geralmente  é  intensa  e  do   tipo  cólica.  A  localização  do  cálculo  no  ureter  determina  o  sítio  da  dor.  Os  cálculos   localizados  na  porção  superior  do  ureter  podem  gerar  dor  testicular,  enquanto  os   cálculos  localizados  na  porção  média  do  ureter  podem  mimetizar  uma  apendicite  de   lado   direito   ou   uma   diverticulite   no   lado   esquerdo.   A   cólica   renal   pode   estar   associada  a  náuseas  e  vômitos,  pois  o  trato  gastrintestinal  compartilha  a  inervação   com   o   sistema   geniturinário.   A   aproximação   do   cálculo   renal   da   bexiga   urinária   frequentemente   é   acompanhada   da   manifestação   de   sintomas,   como   frequência   urinária,  disúria  e  incontinência  urinária.  Nestes  casos,  a  condição  pode  mimetizar   ou   coexistir   com   uma   infecção   do   trato   urinário.   Entretanto,   estas   manifestações   podem   ser   observadas   em   distúrbios   do   trato   urinário   diferentes   da   doença   do   cálculo   renal,   como   na   pielonefrite   ou   na   obstrução   ureteral   extrínseca,   em   decorrência   de   várias   anormalidades,   incluindo   as   lesões   ginecológicas,   retroperitoneais  e  vasculares.  Os  cálculos  renais  também  podem  ser  acompanhados   por  uma  hematúria  grosseira  e  pela  eliminação  de  coágulo  sanguíneo.28   História                  A   obtenção   de   uma   história   conduzida   de   forma   detalhada   exerce   papel   importante   no   diagnóstico   e   tratamento   dos   cálculos   renais.   Uma   história   abrangente  deve  considerar  as  etiologias  [Tabela   1]  e  identificar  as  anormalidades   sistêmicas,   como   a   presença   de   doença   intestinal,   distúrbios   da   homeostasia   do   cálcio   (incluindo   o   hiperparatireoidismo   primário)   e   condições   associadas   à  
  • 9. superprodução   extrarrenal   de   1,25-­‐di-­‐hidroxivitamina   D   (como   as   doenças   granulomatosas).   Outras   condições   incluem   a   artrite   gotosa,   diabetes   de   tipo   2,   infecções   recorrentes   no   trato   urinário   e   distúrbios   neurológicos   que   requerem   cateterismo   vesical   de   demora   ou   intermitente,   instrumentações   urológicas   repetidas,  vários  tratamentos  farmacológicos  e  cirurgia  bariátrica.                  Alguns  fatores  ambientais  importantes  que  influenciam  o  desenvolvimento  de   cálculos  renais  são  o  clima  e  a  frequência  e  intensidade  dos  exercícios.  Foi  sugerido   que  os  cálculos  renais  são  mais  prevalentes  no  sul  dos  Estados  Unidos  (devido  às   temperaturas   mais   altas),   durante   os   verões   mais   prolongados,   em   grupos   de   militares   que   treinam   em   ambientes   de   alta   temperatura,   em   trabalhadores   submetidos  a  exposição  diária  a  condições  quentes  e  em  indivíduos  que  se  engajam   na  prática  de  exercícios  físicos  durante  os  meses  de  verão.29,30                  A  dieta  também  exerce  papel  importante  como  fator  de  risco  para  a  formação   de   cálculos   renais.   Constatou-­‐se   que   o   consumo   de   grandes   quantidades   de   sal   e   proteína  aumenta  bastante  a  formação  de  cálculos  renais.31,32  Isto  resulta  do  efeito   calciúrico   destes   fatores.   Além   disso,   o   consumo   elevado   de   proteínas   pode   aumentar   o   risco   de   formação   de   cálculos   de   oxalato   de   cálcio   por   aumentar   as   cargas   dietéticas   de   ácido   e   purina,   com   consequente   diminuição   do   pH   e   do   conteúdo  de  citrato  da  urina  e  aumento  da  concentração  urinária  de  ácido  úrico.                  Apesar   de   o   papel   da   ingesta   aumentada   de   cálcio   não   ter   sido   diretamente   explorado   em   pacientes   formadores   de   cálculos   renais,   estudos   epidemiológicos   sugeriram  a  existência  de  uma  associação  entre  menor  risco  de  formação  de  cálculos   renais   e   maior   ingesta   de   cálcio   da   dieta.33-­‐35  Ao   contrário   do   cálcio   da   dieta,   o   aumento  da  suplementação  de  cálcio  e  vitamina  D  foi  associado  ao  risco  aumentado   de  nefrolitíase.36  Entretanto,  o  mecanismo  patofisiológico  por  trás  da  ação  protetora   do  cálcio  aumentado  da  dieta  ainda  não  foi  totalmente  elucidado.  Foi  proposto  que   este  mecanismo  pode  envolver  a  complexação  do  oxalato  luminal  intestinal  e,  desta   forma,  diminuir  a  excreção  urinária  de  oxalato.                  Também  foi  demonstrado  que  vários  fármacos  vendidos  sem  prescrição  médica   e/ou  suplementos  dietéticos  aumentam  o  risco  de  formação  de  cálculos  renais.37  Este   risco   aumentado   é   atribuído   a   uma   alteração   metabólica   que   afeta   os   fatores   de   risco  de  formação  de  cálculos  renais  ou  resulta  da  cristalização  do  fármaco  na  urina   atribuível   a   uma   baixa   solubilidade.   No   primeiro   grupo,   estão   incluídos   os   suplementos   de   cálcio   e   vitamina   D,   os   inibidores   de   anidrase   carbônica   (acetazolamida,  topiramato  e  zonisamida),  laxantes,  probenecida,  ácido  ascórbico  e   tratamento  com  álcali  em  excesso.  A  outra  classe  inclui  o  triamtereno,  inibidores  de   protease   (indinavir,   atazanavir   e   nelfinavir),   guaifenesina,   efedrina,   antiácidos   (trissilicato  de  magnésio)  e  antimicrobianos  (sulfonamidas  e  quinolonas).                  Os   fatores   genéticos   exercem   impacto   sobre   o   risco   de   nefrolitíase,   atuando   como  um  traço  complexo  poligenético.  Além  disso,  há  doenças  monogênicas  raras  e   distintas  que  se  manifestam  como  cálculos  renais  [Tabela  2].  A  ocorrência  familiar   de   nefrolitíase   hipercalciúrica   entre   indivíduos   do   sexo   masculino   associada   a   comprometimento   renal   e   proteinúria   de   baixo   peso   molecular   pode   estar   relacionada   a   um   distúrbio   ligado   ao   X   recessivo,   encontrado   em   pacientes   com   doença   de   Dent.38  A   ocorrência   familiar   de   cálculos   renais   e   nefrocalcinose   em   indivíduos  do  sexo  masculino  com  glaucoma  ou  catarata  em  fase  inicial  é  sugestiva   da   síndrome   de   Lowe.39  Uma   herança   recessiva   autossômica   foi   observada   em  
  • 10. pacientes   com   hiperoxalúria   primária,40  sendo   que   tanto   os   traços   autossômicos   recessivos   como   os   traços   autossômicos   dominantes   com   penetrância   incompleta   foram   encontrados   em   pacientes   com   cistinúria.41  Além   disso,   tanto   a   herança   autossômica  dominante  como  a  herança  autossômica  recessiva  foram  descritas  em   pacientes  com  acidose  tubular  renal  distal  (dATR).42   Exame físico                  No   contexto   de   uma   condição   aguda,   os   achados   do   exame   físico   incluem   a   sensibilidade   junto   ao   ângulo   costovertebral,   hipertensão   e   taquicardia,   que   são   mais   provavelmente   atribuíveis   a   uma   dor   severa   e   persistente.   A   febre   é   pouco   frequente  e,  quando  detectada,  implica  na  necessidade  de  exclusão  da  hipótese  de   infecção   no   trato   urinário.   Ocasionalmente,   o   paciente   pode   apresentar   espasmo   muscular   na   região   inferior   das   costas.   No   contexto   da   doença   crônica,   o   exame   físico   pode   fornecer   achados   que   refletem   doenças   subjacentes   predisponentes   à   formação  de  cálculos  renais.   Achados laboratoriais Bioquímica sérica                  A   avaliação   laboratorial   de   todos   os   pacientes   formadores   de   cálculos   renais   requer   a   determinação   de   todos   os   componentes   bioquímicos   do   soro   em   jejum   (eletrólitos  [incluindo  cálcio  e  fósforo],  função  renal  e  ácido  úrico)  e  dos  níveis  de   paratormônio   (PTH).   A   medida   das   concentrações   séricas   de   calcitriol   é   o   exame   ideal  e  pode  ser  considerada  para  situações  específicas  ou  para  fins  de  pesquisa.  O   achado  de  níveis  séricos  baixos  de  potássio  e  CO2  é  sugestivo  de  uma  acidose  sem   aumento  do  anion  gap  que,  por  sua  vez,  é  indicativa  da  presença  de  dATR  ou  de  uma   condição   de   diarreia   crônica.   A   hiperuricemia   é   sugestiva   do   diagnóstico   de   nefrolitíase  por  ácido  úrico.  Uma  concentração  sérica  de  cálcio  total  elevada  e  baixos   níveis   de   fósforo   no   soro   associados   a   uma   alta   concentração   de   PTH   indicam   o   diagnóstico  de  hiperparatireoidismo  primário.  O  achado  de  baixos  níveis  séricos  de   fósforo  associados  a  níveis  séricos  de  PTH  normais  são  sugestivos  da  ocorrência  de   vazamento   de   fósforo   renal.   Nesta   última   condição,   o   paciente   pode   desenvolver   hipercalciúria   em   decorrência   da   elevada   concentração   sérica   de   calcitriol,   como   resultado  da  hipofosfatemia,  com  consequente  aumento  da  absorção  intestinal  de   cálcio.   Análise dos cálculos                  A   análise   dos   cálculos   é   valiosa   quando   estes   são   recuperados.   O   achado   cristalográfico   de   um   cálculo   ajuda   a   identificar   a   ocorrência   de   cálculos   que   são   encontrados  com  pouca  frequência,  como  os  cálculos  de  cistina  e  aqueles  induzidos   por  infecção,  o  quepode  mudar  o  planejamento  do  tratamento.  A  análise  de  cálculos   também  é  útil  para  estabelecer  o  diagnóstico  de  cálculos  de  ácido  úrico  e  de  cálculos   extremamente  raros,  como  os  cálculos  de  2,8-­‐hidroxiadenina  ou  aqueles  induzidos   por  fármacos  (p.  ex.,  cálculos  de  triamtereno,  inibidor  de  protease,  antimicrobianos   e   efedrina).   A   presença   de   cálculos   de   urato   de   amônio   indica   o   uso   abusivo   de   laxantes   e   é   observada   com   mais   frequência   em   pacientes   infectados   pelo   HIV/aidéticos,43  como  resultado  de  uma  diarreia  prolongada.  
  • 11. Urinálise                  O  teste  urina  com  fita  reagente  é  útil.  A  piúria  é  sugestiva  de  uma  infecção  no   trato  urinário  que  pode  ser  adicionalmente  comprovada  com  uma  cultura  de  urina   positiva.  O  teste  de  urina  com  fita  reagente  também  ajuda  a  encontrar  cristais  de   anéis  de  benzeno,  que  são  indicativos  de  cistinúria.  Entretanto,  os  cristais  de  oxalato   de   cálcio,   fosfato   de   cálcio   e   ácido   úrico   são   inespecíficos   e   também   podem   ser   encontrados  na  urina  de  indivíduos  normais.                  Todos  os  pacientes  –  independentemente  do  grau  de  severidade  da  doença  do   cálculo  renal  –  devem  passar  por  uma  avaliação  metabólica.  Contudo,  foi  sugerido   que   uma   avaliação   metabólica   simplificada   deve   ser   considerada   em   casos   de   pacientes  formadores  de  cálculo  renal  único,  enquanto  uma  avaliação  extensiva  é   necessária   em   casos   de   formadores   recorrentes   de   cálculo   renal   e   indivíduos   que   apresentam  alto  risco  de  formação  recorrente  de  cálculos,  como  os  pacientes  com   hiperparatireoidismo,  dATR,  diarreia  crônica  ou  cálculos  de  ácido  úrico,  bem  como   os  indivíduos  obesos  e  populações  pediátricas  com  cálculos  renais  [Tabela  3].   Tabela  3.  Exames  diagnósticos  para  pacientes  com  nefrolitíase Tipo  de  avaliação Exames  diagnósticos Avaliação metabólica simplificada Bioquímica do sangue em jejum Concentrações séricas de Na, K, Cl, CO2, uréia, Cr, Ca, fósforo, ácido úrico, PTH Perfil urinário de 24 horas sob dieta aleatória Volume  da  urina  de  24  horas,  pH,  Cr,  Na,  K,   Ca,  Mg,  amônio,  Cl,  oxalato,  citrato,  ácido   úrico,  fósforo Avaliação  metabólica  extensiva Bioquímica do sangue em jejum Concentrações séricas de Na, K, Cl, CO2, uréia, Cr, Ca, fósforo, ácido úrico, PTH Perfil urinário de 24 horas sob dieta aleatória Volume da urina de 24 horas, pH, Cr, Na, K, Ca, Mg, amônio, Cl, oxalato, citrato, ácido úrico, fósforo Perfil urinário de 24 horas sob dieta restrita Volume  da  urina  de  24  horas,  pH,  Cr,  Na,  K,  Ca,  Mg,   amônio,  Cl,  oxalato,  citrato,  ácido  úrico,  fósforo Outros Densidade  mineral  óssea,  proporção  Ca-­‐Cr   na  urina  de  2  horas  pós-­‐jejum,  proporção   Ca-­‐Cr  na  urina  de  4  horas  após  uma  carga   oral  de  1  g  de  cálcio PTH  =  paratormônio.   Avaliação metabólica simplificada                  Além  dos  exames  sorológicos,  uma  avaliação  simples  inclui  a  obtenção  de  um   perfil   urinário   de   24   horas   aleatório   único   composto   por   volume   total,   pH,   creatinina,  cálcio,  oxalato,  citrato,  sulfato,  ácido  úrico,  cloreto  e  amônio  [Tabela  4].   Entretanto,   falta   consenso   quanto   ao   número   de   coletas   de   urina   de   24   horas   aleatórias   necessárias   para   determinar   o   risco   de   formação   de   cálculo   renal.44-­‐ 46  Contudo,  como  estas  são  coletas  ambulatoriais  sob  uma  dieta  ao  acaso,  os  médicos   da  prática  devem  considerar  a  ingesta  dietética  do  paciente  (p.  ex.,  sal  e  proteína).   Está  comprovado,  por  exemplo,  que  o  consumo  elevado  de  sal  aumenta  a  excreção  
  • 12. de  cálcio  na  urina.31  Nestas  circunstâncias,  deve  ser  adotado  um  fator  de  correção  de   40  mg/dia  de  cálcio  para  cada  incremento  de  100  mEq  de  uma  concentração  urinária   de  sódio  acima  do  valor  desejado  de  100  mEq/dia.   Tabela  4.  Interpretação  dos  perfis  bioquímicos  urinários Parâmetro Valores  diários   esperados Interpretação Volume   total =  2,5  L Diminui  com  a  pouca  ingesta  de  líquidos,  sudorese  e   diarreia pH 5,8  a  6,2 pH  <  5,5:  aumenta  o  risco  de  precipitação  de  ácido   úrico  comumente  observado  em  pacientes  com   cálculos  de  ácido  úrico;  indivíduos  com  doença   intestinal  e  diarreia;  e  pacientes  submetidos  à  cirurgia   de  desvio  intestinal pH  >  6,7:  aumenta  o  risco  de  precipitação  de  fosfato   de  cálcio  observado  em  pacientes  com  dATR,   principalmente  hiperparatireoidismo,  tratamento   excessivo  com  álcali,  repetidas  litotripsias  por  ondas   de  choque pH  >  7  a  7,5:  indica  a  existência  de  infecção  no  trato   urinário,  resultante  de  bactérias  produtoras  de  urease Creatinina 15 a 25 mg/kg de peso corporal Padroniza  a  adequação  da  coleta  (se  for  baixa  indica   que  não  foi  coletada  em  todas  as  24  horas).  15  a  20   mg/kg  de  peso  corporal  para  o  sexo  feminino  e  20  a   25  mg/kg  de  peso  corporal  para  o  sexo  masculino Sódio 100  mEq Reflete  a  ingesta  dietética  de  sódio  na  ausência  de   sudorese  excessiva  e/ou  diarreia;  pode  causar   hipercalciúria  secundária Potássio 40  a  60  mEq Reflete  a  ingesta  dietética  de  potássio  na  ausência  de   diarreia;  marcador  da  ingesta  dietética  de  álcali Cálcio =  250  a  300  mg Fator  de  risco  direto  e  soluto  precipitador  para   cálculos  de  cálcio;  possibilidade  de  diferenças  entre   indivíduos  de  sexos  diferentes  (valores  maiores  na   população  masculina) Magnésio =  80  mg Uma  baixa  concentração  de  magnésio  na  urina  reflete   uma  baixa  ingesta  de  magnésio,  má  absorção   intestinal  (doença  do  intestino  delgado)  e  período   pós-­‐cirurgia  bariátrica;  seu  papel  como  inibidor  é   controverso Oxalato =  45  mg Fator  de  risco  direto  e  soluto  precipitador  para   cálculos  de  oxalato  de  cálcio;  encontrado  na  má   absorção  intestinal  de  gorduras  e,  às  vezes,  após  a   cirurgia  bariátrica;  valores  acima  de  100  mg/dia   levantam  a  suspeita  de  hiperoxalúria  primária Fósforo =  1.100  mg Indicativo  da  ingesta  dietética  e  da  absorção  de   fósforo;  uma  taxa  de  excreção  elevada  pode  
  • 13. aumentar  o  risco  de  formação  de  cálculos  de  fosfato   de  cálcio;  as  condições  em  que  há  vazamento  de   fosfato  renal  também  podem  levar  ao   desenvolvimento  de  hipercalciúria  secundária Ácido   úrico 600  a  800  mg Pode  contribuir  para  a  formação  de  cálculos  de  ácido   úrico,  quando  o  pH  é  baixo;  também  pode  aumentar   o  risco  de  formação  de  cálculos  de  oxalato  de  cálcio;  é   observado  em  casos  de  permissividade  excessiva  de   alimentos  ricos  em  purina;  valores  >  1.000  mg  podem   indicar  a  existência  de  deficiências  enzimáticas  raras Sulfato =  25  a  30  mmol O  sulfato  é  um  marcador  do  conteúdo  ácido  da  dieta;   a  ingesta  dietética  de  ácidos  é  importante  para   orientar  a  interpretação  do  pH  urinário,  citrato  e   excreção  de  amônio Citrato =  320  mg Principal  inibidor  da  formação  de  cálculos  de  cálcio;  a   hipocitratúria  é  observada  nas  condições  em  que  há   acidose  intracelular,  como  na  acidose  metabólica,   dATR,  diarreia  crônica,  ingesta  proteica  excessiva,   prática  frequente  de  exercícios  físicos  extenuantes,   deficiência  de  potássio,  uso  de  inibidores  de  anidrase   carbônica  e,  em  raros  casos,  inibidores  de  ECA Amônia 30  a  40  mEq A  amônia  é  um  dos  principais  tampões  e  transporta   prótons  sob  a  forma  de  amônio;  sua  excreção   habitualmente  corresponde  à  carga  dietética  de   ácidos  (marcada  pelo  sulfato  urinário);  uma  elevada   proporção  amônio-­‐sulfato  aponta  uma  carga  de   ácidos  não  dietética,  como  a  perda  de  álcali  GI  ou   elevada  produção  endógena  de  ácidos Cloreto 100  mEq Habitualmente,  corresponde  à  ingesta  e  excreção  de   sódio;  a  perda  renal  de  bicarbonato  de  sódio  pode   acarretar  discrepâncias  entre  as  concentrações  de   sódio  e  cloreto  na  urina Cistina =  30  a  60  mg Solubilidade  urinária  limitada  em  250  mg/L dATR = acidose tubular renal distal; ECA = enzima conversora de angiotensina; GI = gastrintestinal. Estes  limites  estão  expressos  em  média  ±  2  desvios  padrões  (para  cálcio,  oxalato,  ácido  úrico,  pH,  sódio,  sulfato  e   fósforo)  ou  em  média  –2  desvios  padrões  (para  citrato,  pH  e  magnésio)  em  relação  ao  normal.31   Avaliação metabólica extensiva                  Além   da   coleta   de   urina   de   24   horas   aleatória   para   análise   bioquímica,   conforme   descrito   anteriormente,   uma   avaliação   extensiva   também   consiste   na   obtenção  de  uma  amostra  de  urina  de  24  horas  após  um  período  de  1  semana  sob   uma   dieta   orientada   que   forneça   cerca   de   400   mg/dia   de   cálcio,   100   mEq/dia   de   sódio  e  restrição  de  alimentos  ricos  em  oxalato.47  Existem  3  exames  adicionais  que   podem   ser   realizados   ao   final   da   coleta   de   urina   de   24   horas   restrita:   proporção   cálcio-­‐creatinina   de   jejum   na   urina   de   2   horas;   excreção   de   fósforo   fracionada   urinária;  e  proporção  cálcio-­‐creatinina  na  urina  de  4  horas  após  uma  carga  oral  de  1  
  • 14. g  de  cálcio.  Entretanto,  estes  são  testes  opcionais  que  podem  ser  úteis  apenas  como   ferramenta   de   pesquisa   ou   em   clínicas   especializadas   em   cálculos.   Devido   à   alta   prevalência   de   fraturas   ósseas   em   formadores   de   cálculos   de   cálcio,   a   análise   de   densidade  mineral  óssea  via  absorciometria  por  raios  X  de  dupla  energia  é  realizada   em   algumas   clínicas   especializadas.   A   interpretação   destes   perfis   bioquímicos   urinários  é  ilustrada  na  Tabela  4.   Supersaturação urinária                  A   utilidade   clínica   da   medida   de   supersaturação   urinária   não   obteve   ampla   aceitação.  Entretanto,  as  razões  de  supersaturação  urinária  têm  sido  relatadas  como   parte   do   exame   de   bioquímica   urinária   por   alguns   laboratórios   comerciais.   Um   estudo   realizado   em   um   centro   especializado   em   cálculos   renais   demonstrou   a   diminuição  da  supersaturação  de  oxalato  de  cálcio  acompanhada  da  diminuição  do   número  de  cálculos  renais  formados.48  Em  um  método  –  a  razão  de  supersaturação   relativa  (RSR)  –  a  supersaturação  urinária  é  definida  como  sendo  a  razão  do  produto   da   atividade   calculado   para   determinada   amostra   de   urina   pelo   produto   da   respectiva   solubilidade   termodinâmica.49  Neste   caso,   valores   maiores   do   que   1   indicam  supersaturação  e  valores  menores  do  que  1  apontam  subsaturação.  Outro   método  descrito  –  a  supersaturação  relativa  (SR)  urinária  –  é  calculado  como  razão   do   produto   de   atividade   (ou   concentração   de   ácido   úrico   não   dissociado)   em   determinada   amostra   de   urina   em   particular   pela   média   do   produto   de   atividade   correspondente   (ou   ácido   úrico   não   dissolvido)   de   indivíduos   normais.   O   limite   superior  normal  para  SR  de  oxalato  de  cálcio,  brushita,  urato  monossódico  e  ácido   úrico  é  definido  como  sendo  igual  a  2.50   Exames de imagem                  Além  da  história  clínica  e  da  avaliação  laboratorial,  os  pacientes  com  suspeita   de  terem  cálculos  renais  devem  ser  submetidos  a  exames  de  imagem,  que  podem   incluir  exame  de  radiografia  abdominal  para  visualização  dos  rins,  ureteres  e  bexiga   (RUB),   exame   de   ultrassonografia,   tomografia   computadorizada   sem   contraste   (TCSC),  pielografia  endovenosa  (PIV)  e  ressonância  magnética  (RM).   Radiografia dos rins, ureteres e bexiga (RUB)                  A   radiografia   simples   apresenta   sensibilidade   (45   a   58%)   e   especificidade   limitadas   (60   a   77%)   para   o   diagnóstico   de   cálculos   renais.28  Os   pacientes   que   eliminam   os   cálculos   renais   espontaneamente   podem   ser   seguidos   via   exame   de   radiografia  de  RUB.   Ultrassonografia                  A   ultrassonografia   é   uma   técnica   confiável,   não   invasiva   e   rápida   que,   mais   significativamente,  exclui  a  radiação  ionizante  e  o  uso  de  material  de  contraste.  Por   isso,   pode   ser   usada   com   segurança   como   método   de   avaliação   para   crianças,   gestantes  com  suspeita  de  nefrolitíase  e  pacientes  com  comprometimento  da  função   renal.51  Uma  de  suas  limitações  pode  ser  a  perda  de  20  a  30%  dos  casos  de  obstrução   do   trato   urinário   aguda   causada   pela   presença   de   um   cálculo   no   ureter.   A   ultrassonografia   também   pode   fornecer   um   diagnóstico   falsamente   positivo   de  
  • 15. obstrução  em  casos  de  pacientes  com  pielonefrite,  refluxo  vesicoureteral  e  dilatação   residual  subsequente  ao  alívio  da  obstrução.   Tomografia computadorizada (TC)                  Todos  os  cálculos  renais,  seja  qual  for  a  composição  (com  exceção  dos  cálculos   de   indinavir),   podem   ser   visualizados   por   TCSC.   Esta   é   uma   técnica   rápida   que   dispensa  o  uso  de  material  de  contraste  endovenoso  e,  assim,  diminui  a  incidência   de   complicações   por   reação   alérgica.   A   TCSC   consegue   detectar   cálculos   bastante   pequenos  (de  até  1  mm).  Sua  sensibilidade  é  de  94  a  100%,  e  a  especificidade  é  da   ordem  de  92  a  99%.51,52  A  desvantagem  desta  técnica  reside  na  exposição  à  radiação  e   na   impossibilidade   de   viabilizar   uma   avaliação   funcional   do   rim   ou   o   grau   de   obstrução.   Além   disso,   outra   preocupação   é   o   custo   elevado,   em   comparação   à   ultrassonografia  renal  e  à  PIV.  Nos  últimos  anos,  as  técnicas  mais  modernas  foram   adaptadas  para  proporcionar  uma  menor  exposição  à  radiação.53   Pielografia endovenosa (PIV)                  Tradicionalmente,   a   PIV   era   usada   como   abordagem   de   imagem   de   1ª   linha   para   diagnosticar   a   nefrolitíase.   Seu   uso   diminuiu   com   a   introdução   dos   procedimentos  menos  invasivos.  A  PIV  continua  sendo  empregada  após  a  TCSC  em   certos  casos,  para  guiar  os  procedimentos  cirúrgicos  endoureterais  ou  percutâneos.   Esta  técnica  também  pode  ser  usada  em  casos  de  pacientes  diabéticos  com  cólica   renal  que  mimetiza  os  cálculos  renais  porém  decorrente  de  necrose  papilar.28   Ressonância magnética (RM)                  A  RM  atualmente  está  sendo  explorada  como  alternativa  à  TCSC  ou  à  PIV  no   diagnóstico  da  nefrolitíase  e  da  obstrução  do  trato  urinário.  Quando  comparada  às   outras  técnicas,  a  RM  proporciona  a  vantagem  de  não  transmitir  radiação  ionizante.   Como   resultado,   esta   é   uma   técnica   particularmente   útil   em   casos   que   envolvam   gestantes,   crianças   e   adolescentes.54  Foi   relatado   que   uma   técnica   relacionada   –   a   urografia  de  ressonância  magnética  –  constitui  uma  ferramenta  importante  para  o   diagnóstico   da   obstrução   do   trato   urinário,   especificamente   em   gestantes.55  As   desvantagens  da  RM  são  o  alto  custo  e  a  disponibilidade  limitada.                  De   uma   forma   geral,   os   pacientes   com   história   comprovada   de   cólica   renal   prévia  resultante  de  doença  por  cálculo  podem  ser  inicialmente  avaliados  por  exame   de  radiografia  de  RUB  ou  ultrassonografia.  O  uso  de  TCSC  deve  ser  limitado  em  casos   de   pacientes   sem   diagnóstico   prévio   e   de   pacientes   com   manifestações   clínicas   atípicas.   A   ultrassonografia   é   considerada   o   método   de   escolha   para   pacientes   gestantes  e  crianças  com  doença  por  cálculo  renal.  A  PIV  deve  ser  considerada  após   a   realização   da   TCSC,   caso   nenhum   cálculo   tenha   sido   detectado,   ou   durante   o   planejamento  de  uma  avaliação  endoscópica  ou  intervenção  aberta  com  o  intuito  de   auxiliar  o  urologista  no  mapeamento  do  trato  urinário.  Nas  áreas  em  que  a  TCSC  está   indisponível,   os   exames   de   avaliação   inicial   podem   ser   a   radiografia   de   RUB   e   a   ultrassonografia,  considerando  o  uso  de  PIV  somente  para  os  casos  em  que  estas   técnicas   falhem   em   diagnosticar   os   cálculos   renais.   No   seguimento   de   pacientes,   devido  ao  alto  risco  de  radiação  cumulativa,  é  recomendável  optar  pela  radiografia   de   RUB   e   ultrassonografia   até   que   uma   TCSC   mais   moderna   e   de   baixo   nível   de   radiação  seja  disseminada.
  • 16.   Tratamento Eliminação ativa do cálculo                  O   tamanho   e   a   localização   do   cálculo   junto   ao   trato   urinário   constituem   os   principais   determinantes   da   probabilidade   de   eliminação   espontânea.   Os   cálculos   menores  (<  4  mm)  e  mais  distalmente  localizados  no  ureter  tendem  a  ser  eliminados   de   modo   espontâneo   em   um   período   de   48   horas   após   o   aparecimento   de   um   episódio   agudo   de   cólica   renal.56 Durante   este   período,   é   comum   os   pacientes   necessitarem   de   tratamento   de   suporte   ambulatorial,   incluindo   medicações   para   alívio   da   dor   (fármacos   anti-­‐inflamatórios   não   hormonais   e   opiáceos),57  hidratação   forçada   e,   ocasionalmente,   antieméticos.   O   uso   de   medicações   auxiliares   (p.   ex.,   bloqueadores  de  canais  de  cálcio,  alfabloqueadores  e/ou  glicocorticoides)  facilita  a   eliminação  ureteral  de  cálculos  com  tamanho  inferior  a  10  mm,  diminuindo  o  tempo   de  eliminação  dos  cálculos  e  a  quantidade  necessária  de  analgésicos.58                  As  indicações  para  internação  do  paciente  incluem  a  infecção,  obstrução,  dor   severa  ou  vômito  intratável.  Até  20%  dos  pacientes  com  cálculo  renal  necessitam  de   alguma  forma  de  intervenção  para  eliminarem  o  cálculo.  A  nefrostomia  emergencial   alivia  a  obstrução  e  pode  ser  seguida  de  uma  litotripsia  extracorpórea  por  ondas  de   choque   (LEOC),   litotripsia   percutânea,   ureteroscopia   com   litotripsia   a   laser   e/ou   remoção   do   cálculo   em   cesta   retrógrada,   além   da   remoção   cirúrgica   aberta   do   cálculo,  que  é  realizada  apenas  em  casos  raros.59   Tratamento urológico: nefrolitíase crônica e recorrente                  A  meta  do  tratamento  a  longo  prazo  dos  pacientes  com  nefrolitíase  recorrente   consiste  em  diminuir  a  carga  atual  de  cálculos  e  prevenir  não  só  a  formação  de  novos   cálculos  como  o  crescimento  daqueles  já  formados.  Para  tanto,  é  possível  reduzir  a   concentração   dos   componentes   formadores   de   cálculo   presentes   na   urina,   manipulando   o   milieu   iônico   urinário   para   favorecer   a   solubilização   destes   constituintes  geradores  de  cálculo  e  corrigindo  quaisquer  anormalidades  mecânicas   ou  estruturais  que  estejam  associadas  à  estase  junto  ao  trato  urinário.                  Embora  a  prevenção  deva  ser  sempre  o  foco  principal  da  terapia,  a  remoção  do   cálculo  exerce  papel  importante  na  avaliação  inicial.  A  modalidade  apropriada  para   um   determinado   caso   depende   primariamente   do   tamanho,   localização   e   tipo   do   cálculo.   A   LEOC   e   a   ureteroscopia   constituem   as   2   modalidades   terapêuticas   primárias  a  serem  adotadas  diante  da  necessidade  de  remoção  do  cálculo.  Nestes   casos,  a  ureteroscopia  anterógrada  percutânea  e  a  ureterolitotomia  cirúrgica  aberta   e  laparoscópica  constituem  as  modalidades  de  tratamento  secundárias.59                  LEOC  emprega  ondas  de  choque  de  alta  energia  produzidas  por  uma  descarga   elétrica  dirigida  diretamente  para  o  cálculo,  com  auxílio  de  fluoroscopia  biplanar.  A   resultante   liberação   de   energia   sobre   a   superfície   do   cálculo   fragmenta   este   em   pequenos  pedaços  que  podem  ser  facilmente  eliminados.  A  ureteroscopia  envolve  o   exame   do   trato   urinário   superior   por   meio   de   um   endoscópio,   que   é   passado   diretamente  através  da  uretra.  Os  cálculos  visualizados  são  removidos  diretamente   ou  fragmentados  por  litotripsia  a  laser.  Em  comparação  com  a  LEOC,  a  ureteroscopia   parece  estar  associada  a  resultados  melhores  (taxas  livres  de  cálculo)  para  cálculos   ureterais  maiores  (>  10  mm)  e  mais  distais,  apesar  da  inexistência  de  estudos  clínicos   randomizados  que  tenham  comparado  estes  2  tratamentos.59
  • 17.   Tratamento clínico: nefrolitíase recorrente crônica Cálculos contendo cálcio                  A   estratégia   terapêutica   inicial   adotada   para   pacientes   com   litíse   renal   recorrente   consiste   em   tratar   o   distúrbio   subjacente.   As   terapias   específicas   são   evidentemente   indicadas   para   certas   condições   implicadas   na   patogênese   dos   cálculos   contendo   cálcio.   Exemplificando,   os   pacientes   com   hiperparatireoidismo   primário  requerem  cirurgia  da  paratireoide,  enquanto  aqueles  com  dATR  necessitam   de   terapia   com   álcali,   e   aqueles   com   sarcoidose   requerem   terapia   à   base   de   glicocorticoides  ou  outra  terapia  específica.                    Dieta.  As  evidências  atuais  sustentam  o  ponto  de  vista  de  que  a  redução  das   concentrações  urinárias  prevalentes  dos  constituintes  potencialmente  insolúveis  dos   cálculos  renais  por  meio  do  aumento  da  ingesta  de  líquidos  e  modificação  da  dieta   são   ações   efetivas   na   prevenção   da   formação   de   cálculos   contendo   cálcio.   Um   estudo  controlado  prospectivo,  com  duração  de  5  anos,  sobre  a  ingesta  de  água  em   pacientes   que   apresentavam   o   1º   cálculo   contendo   cálcio,   demonstrou   que   o   aumento  do  volume  de  urina  para  cerca  de  2,5  L/dia  com  consequente  redução  da   saturação  relativa  da  urina  em  relação  ao  oxalato  de  cálcio  diminuiu  a  recorrência  de   cálculos  para  10%,  em  comparação  à  taxa  de  25%  observada  em  indivíduos  que  não   aumentaram   a   ingesta   de   água.60  Na   prática   clínica,   os   incrementos   do   volume   de   urina  alcançados  por  meio  do  aconselhamento  dos  formadores  de  cálculo  costumam   ser   modestos.61  O   tipo   de   líquido   consumido   é   importante,   pois   o   suco   de   laranja   diminui   a   supersaturação   de   oxalato   de   cálcio   urinário,62  enquanto   o   suco   de   grapefruit  pode  aumentar  o  risco  de  nefrolitíase.63                  Os  benefícios  da  terapia  dietética  para  os  pacientes  com  formação  de  cálculos   recorrente  ainda  não  passaram  por  testes  rigorosos  em  estudos  controlados.  Uma   ingesta   dietética   de   800   a   1.200   mg/dia   de   cálcio   foi   associada   a   uma   menor   formação   de   cálculos,   em   comparação   à   menor   ingesta   de   cálcio.33  Contudo,   os   suplementos  de  cálcio  elevam  o  risco  de  nefrolitíase,36  sobretudo  quando  tomados  à   parte  das  refeições.34  A  restrição  dos  precursores  dietéticos  de  oxalato  (p.  ex.,  nozes,   chocolate,   vegetais   verdes,   vegetais   folhosos)   é   sensível   em   pacientes   com   hiperoxalúria,   embora   nenhum   estudo   randomizado   tenha   sido   conduzido   sobre   esta  medida.  Doses  altas  de  vitamina  C64  e  a  restrição  do  cálcio  também  devem  ser   evitadas  por  pacientes  hiperoxalúricos.  Como  a  ingesta  de  altas  concentrações  de   sódio   e   proteína   da   dieta   aumenta   a   excreção   de   cálcio   na   urina,   a   restrição   da   ingesta   de   sódio   (para   <   100   mEq/dia)   e   proteínas   (<   1   g/kg/dia)   deve   ser   recomendada,   ainda   que   a   aderência   a   este   tipo   de   dieta   possa   se   difícil.   Em   um   estudo   randomizado   sobre   pacientes   com   cálculos   contendo   cálcio   recidivantes,   a   ingesta  restrita  de  proteína  animal  e  sal  combinada  a  uma  ingesta  normal  de  cálcio   (1.200  mg/dia)  diminuiu  a  recorrência  dos  cálculos  ao  longo  de  5  anos  e  de  forma   mais  efetiva  do  que  a  dieta  pobre  em  cálcio.32                  As   coletas   programadas   de   urina   para   determinação   do   volume,   creatinina,   ureia,   sulfato,   oxalato,   cálcio   e   sódio   são   úteis   para   o   monitoramento   da   complacência.  Muitos  pacientes  podem  ser  beneficiados  pela  modificação  da  dieta   e,  com  isso,  evitar  a  adesão  ao  uso  vitalício  de  medicações  para  prevenir  a  formação   recorrente   de   cálculos.   Entretanto,   se   os   pacientes   continuarem   apresentando  
  • 18. hipercalciúria  persistente  mesmo  com  a  modificação  da  dieta  ou  se  estes  pacientes   continuarem   apresentando   formação   de   cálculos,   então   a   terapia   farmacológica   deve  ser  considerada.  Este  conceito  é  sustentado  por  uma  metanálise.65                    Hipercalciúria.  Os   diuréticos   tiazídicos,   mais   frequentemente   a   hidroclorotiazida,   bem   como   os   fármacos   de   ação   mais   prolongada   (p.   ex.,   clortalidona  e  o  diurético  indapamida,  que  é  similar  aos  tiazídicos)  podem  ser  usados   para  diminuir  a  excreção  urinária  de  cálcio.  A  terapia  com  hidroclorotiazida  mostrou-­‐ se   altamente   efetiva   na   redução   da   formação   de   novos   cálculos   em   2   estudos   clínicos   controlados   randomizados.66,67  O   uso   dos   diuréticos   tiazídicos   diminui   a   incidência  da  nefrolitíase  por  cálcio  recorrente  em  cerca  de  80%.68  Uma  dose  diária   total   de   50   a   100   mg   de   hidroclorotiazida   (administrada   2   vezes/dia)   diminui   efetivamente   a   excreção   de   cálcio.   A   falha   desta   terapia   costuma   resultar   de   um   aumento   marcante   da   ingesta   de   sódio   (que   promove   hipercalciúria)   ou   de   hipocalemia.                  O   impacto   dos   efeitos   colaterais   produzidos   pelos   tiazídicos,   como   a   hiperlipidemia,   intolerância   à   glicose   e   hipocalemia   branda,   ainda   não   foi   extensivamente  estudado  em  pacientes  com  nefrolitíase.  Contudo,  foi  demonstrado   que   a   mineralização   óssea   provavelmente   aumenta   em   indivíduos   tratados   com   tiazídicos   por   tempo   prolongado   e,   assim,   diminui   o   risco   de   osteoporose.69  Os   pacientes  com  distúrbios  subjacentes  envolvendo  o  metabolismo  do  cálcio  (p.  ex.,   hiperparatireoidismo   primário   ou   distúrbios   granulomatosos)   ou   aqueles   sob   tratamento   com   suplementos   de   vitamina   D   podem   apresentar   risco   de   hipercalcemia  se  receberem  terapia  com  tiazídicos.                  A  adição  de  amilorida  ao  tratamento  com  hidroclorotiazida  da  nefrolitíase  por   cálcio  pode  ser  vantajosa,  porque  promove  uma  discreta  redução  adicional  do  cálcio   urinário   e   pode   evitar   o   desenvolvimento   de   hipocalemia   severa.70  O   citrato   de   potássio  diminui  significativamente  a  excreção  urinária  de  cálcio,71  reduzindo  o  risco   de  formação  recorrente  de  cálculos  em  pacientes  formadores  de  cálculos  de  cálcio.72                    Hipocitratúria.  Alguns  pacientes  com  cálculos  contendo  cálcio  apresentam  uma   acentuada  hipocitratúria,  em  vez  de  hipercalciúria.  Esta  anormalidade  pode  resultar   de   um   distúrbio   metabólico   ou   de   uma   carga   ácida   crônica,   ou   ainda   de   acidose   metabólica.  A  suplementação  dietética  com  sal  contendo  citrato  a  uma  dosagem  de   1  mEq/kg  de  peso  corporal  eleva  os  níveis  de  excreção  urinária  de  citrato.  Este  efeito   resulta  principalmente  da  carga  álcali  produzida  pela  suplementação  de  citrato  e  não   do  aparecimento  direto  na  urina  do  citrato  ingerido.  A  terapia  com  citrato  promove   a   diminuição   efetiva   da   frequência   de   formação   de   novos   cálculos.73  Uma   terapia   equivalente   com   bicarbonato   de   sódio   pode   promover   o   mesmo   efeito   hipocitratúrico,  mas  a  ingesta  aumentada  de  sódio  pode  produzir  efeitos  adversos   sobre  a  resposta  à  terapia  ao  aumentar  a  excreção  urinária  de  cálcio.74                    Hiperoxalúria.  Em   pacientes   com   hiperoxalúria   entérica,   os   suplementos   de   cálcio  como  o  carbonato  de  cálcio  (500  mg  de  cálcio  elementar,  4  vezes/dia)  podem   ligar-­‐se  ao  oxalato  intestinal  e  diminuir  sua  absorção.75  A  piridoxina  (vitamina  B6)  atua   como  cofator  no  metabolismo  do  oxalato,  e  a  deficiência  desta  vitamina  aumenta  a   produção  de  oxalato  e  a  oxalúria.  Embora  uma  dosagem  de  vitamina  B6  da  ordem  de  
  • 19. 25   a   50   mg/dia   reduza   significativamente   a   excreção   urinária   de   oxalato   em   um   subgrupo  de  pacientes  com  hiperoxalúria  primária  de  tipo  1,76   seu  papel  em  outros   contextos  ainda  não  foi  comprovado.  Oxalobacter  formigenes,  uma  bactéria  que  usa   oxalato  como  fonte  de  energia  e  com  frequência  coloniza  o  intestino  humano,  está   sendo  avaliada  como  probiótico  para  uso  no  tratamento  da  hiperoxalúria.                    Hiperuricosúria.  O   alopurinol,   a   uma   dosagem   de   100   a   300   mg/dia,   é   o   tratamento  preferido  para  redução  da  excreção  de  ácido  úrico  em  pacientes  com   hiperuricosúria.  Foi  demonstrado  que  o  alopurinol  diminui  a  formação  recorrente  de   cálculos  de  cálcio  em  pacientes  com  nefrolitíase  por  cálcio  hiperuricosúricos,  em  um   estudo   controlado   randomizado.77  Entre   os   efeitos   colaterais,   estão   as   erupções   cutâneas   e   outras   reações   de   hipersensibilidade.   O   febuxostate   é   um   inibidor   de   xantina  oxidase  aprovado  recentemente  para  uso,  o  qual  pode  ser  útil  em  promover   a  diminuição  da  excreção  urinária  de  ácido  úrico  em  pacientes  incapazes  de  tolerar  o   alopurinol.78   Cálculos de ácido úrico                  Na  maioria  dos  pacientes  com  cálculos  de  ácido  úrico,  a  urina  excessivamente   ácida   (pH   urinário   <   5,5)   constitui   a   principal   anormalidade   bioquímica.   Nestes   pacientes,  a  terapia  com  álcali  para  manutenção  do  pH  de  urina  de  24  horas  entre  6   e  6,5  não  só  é  efetiva  na  diminuição  da  formação  recorrente  de  cálculos79  como  pode   até  mesmo  dissolver  os  cálculos  já  formados.80  Para  tanto,  administra-­‐se  citrato  de   potássio  a  uma  dosagem  de  60  a  80  mEq/dia  dividida  em  2  a  3  doses.  Um  aspecto   negativo  dos  sais  álcalis  de  sódio  reside  no  aumento  da  excreção  urinária  de  cálcio  e   na  maior  propensão  à  formação  de  cálculos  de  cálcio,74  sendo  necessário  monitorar   os  níveis  séricos  de  potássio  em  pacientes  com  insuficiência  renal  que  fazem  uso  de   citrato  de  potássio.  Em  pacientes  com  excreção  aumentada  de  ácido  úrico,  as  opções   terapêuticas  incluem  a  restrição  de  purinas  na  dieta  e  a  administração  de  alopurinol.   Cálculos de estruvita                  A   prevenção   da   formação   recorrente   de   cálculos   de   estruvita   é   uma   tarefa   difícil  e  requer  a  esterilização  bem-­‐sucedida  da  urina.  Como  os  organismos  podem   estar   presentes   nos   interstícios   do   material   oriundo   dos   cálculos,   é   necessário   remover  totalmente  este  material  do  trato  urinário.  Uma  combinação  de  litotripsia   percutânea   e   LEOC   pode   produzir   resultados   favoráveis.   Para   tanto,   pode   ser   necessário   realizar   1   ou   mais   procedimentos   de   fragmentação   ureteroscópica   do   cálculo  utilizando  uma  sonda  de  ultrassonografia  e,  após  2  a  3  dias,  realizar  a  LEOC   para   quebrar   os   fragmentos   menores.   O   material   oriundo   do   cálculo   pode   ser   removido   com   sucesso   pelo   uso   combinado   da   remoção   cirúrgica   do   cálculo   e   irrigação   do   trato   urinário   com   uma   solução   de   ácidos   orgânicos   fortes,   como   a   hemiacidrina   (um   composto   contendo   ácido   cítrico   a   10%).81  Esta   abordagem,   combinada   à   terapia   antimicrobiana   prolongada   (duração   de   até   4   semanas)   organismo-­‐específica,  pode  resultar  na  cura  completa  dos  cálculos  de  estruvita  em   cerca   de   70%   dos   pacientes   tratados,   se   todos   os   fragmentos   do   cálculo   forem   removidos  durante  a  terapia  inicial.82  A  TCSC  pode  ser  empregada  para  documentar  a   remoção  de  todos  os  cálculos  e  para  fins  de  seguimento  futuro.  Nos  raros  casos  em   que  os  procedimentos  urológicos  não  podem  ser  realizados,  o  uso  da  terapia  médica  
  • 20. é  indicado  como  abordagem  de  2ª  linha.  O  ácido  aceto-­‐hidroxâmico  é  um  inibidor  de   urease   bacteriana   oralmente   ativo.83  Este   agente   é   efetivo   na   prevenção   do   desenvolvimento   do   cálculo   até   mesmo   diante   da   persistência   de   fragmentos   do   cálculo  e  da  infecção  bacteriana.  Contudo,  o  ácido  aceto-­‐hidroxâmico  produz  vários   efeitos   colaterais   significativos,   incluindo   anemia   hemolítica,   cefaleia   intratável   e,   possivelmente,  tromboflebite.84   Cálculos de cistina                  O   tratamento   dos   cálculos   de   cistina   consiste   na   redução   da   concentração   urinária  de  cistina  por  meio  da  hidratação,  aumento  da  solubilidade  da  cistina  via   alcalinização  da  urina  e  diminuição  da  concentração  de  cistina  na  urina  com  o  uso  de   penicilamina  ou  tiopronina.  A  terapia  ideal  não  só  diminui  o  risco  de  formação  de   novos   cálculos   como   também   dissolve   aqueles   já   formados.85  A   solubilidade   da   cistina   na   urina   é   de   aproximadamente   300   mg/L   (1,25   mM).   Para   prevenir   a   formação   ou   o   crescimento   de   cálculos   em   pacientes   que   ingerem   mais   de   1.000   mg/dia  de  cistina  é  necessário  um  volume  de  urina  mínimo  de  4  L/dia,  distribuído  de   maneira  uniforme  ao  longo  de  24  horas,  que  em  geral  acarreta  o  fracasso  da  terapia   à   base   de   líquidos.    Quando   combinada   a   uma   ingesta   adequada   de   líquidos,   a   terapia  com  álcali  é  benéfica  porque  permite  duplicar  a  solubilidade  da  cistina  (para   600  mg/L  de  urina)  no  pH  urinário  de  7,5  a  7,8  geralmente  alcançado  com  a  terapia   álcali   (p.   ex.,   citrato   de   potássio)   ou   pelo   uso   ocasional   da   acetazolamida   como   adjunto.87  Um  potencial  efeito  colateral  deste  grau  de  alcalinização  consiste  na  maior   propensão  à  formação  de  cálculos  de  fosfato  de  cálcio,  de  modo  que  pode  ser  mais   seguro  estabelecer  como  meta  atingir  um  pH  igual  7.85  Uma  diminuição  da  ingesta   dietética  de  sódio  (50  mEq/dia)  pode  ser  útil  por  aumentar  a  reabsorção  renal  de   cistina  e,  com  isso,  diminuir  a  carga  urinária.88                  Alguns  pacientes  podem  necessitar  de  terapia  com  D-­‐penicilamina  (1  a  2  g/dia   divididas   em   3   a   4   doses)   ou   tiopronina   (400   a   1.200   mg/dia   divididas   em   3   a   4   doses).89 Estes  compostos  formam  dissulfitos  solúveis  mistos  com  a  cisteína  e,  desta   forma,  evitam  a  formação  de  cálculos  de  cistina.  A  produção  de  cistina  também  pode   cair.   Contudo,   a   penicilamina   é   suspendida   em   até   90%   dos   pacientes,   em   decorrência   de   uma   reação   adversa.   Os   efeitos   colaterais   variam   de   insônia   e   disgesia  à  alergia,  náusea,  vômitos,  febre,  erupções,  diarreia,  artralgias,  leucopenia,   trombocitopenia,  proteinúria  e  síndromes  lupus  like.  Os  efeitos  adversos  graves  com   necessidade  de  suspensão  da  terapia  são  aproximadamente  50%  menos  frequentes   com  o  uso  de  tiopronina  do  que  com  o  uso  de  penicilamina.89  Foi  demonstrado  que  o   captopril,   um   composto   contendo   tiol   que   forma   complexos   captopril-­‐cisteína,   aumenta  a  solubilidade  da  cistina  in  vitro.  Entretanto,  a  concentração  de  captopril  na   urina  pode  ser  insuficiente  para  complexar  efetivamente  as  grandes  quantidades  de   cisteína  presentes.90  Os  estudos  clínicos  sobre  captopril  na  cistinúria  apresentaram   resultados  variáveis.91-­‐93                    Os  autores  não  possuem  relações  comerciais  com  os  fabricantes  de  produtos   ou  prestadores  de  serviços  mencionados  neste  capítulo.   Referências 1. Moe OW. Kidney stones: pathophysiology and medical management. Lancet 2006;367:333–44.
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