As análises sobre resultados esportivos costumam se restringir à quantidade de medalhas conquistadas, não contemplando os diversos focos que poderiam permitir conclusões mais completas, diagnósticos mais precisos e, consequentemente, planos e projetos mais assertivos.
Como forma de demonstrar a necessidade de análises mais abrangentes, apresentaremos a seguir um estudo sobre o desempenho da natação brasileira nos Jogos de 2016, comparando-o com o de Londres 2012 e com a performance do time norte-americano nesses dois períodos, a qual serve como uma espécie de benchmarking.
Ressaltamos que para efeito desse estudo só foram consideradas as 26 provas individuais – 13 por gênero – visto que o critério de qualificação para os revezamentos se dá em função da classificação da equipe no campeonato mundial anterior, mais os quatro melhores tempos no período, enquanto que para as provas individuais há a necessidade de se atingir índices, sobre os quais falaremos adiante.
2. 2
As análises sobre resultados esportivos costumam se restringir à
quantidade de medalhas conquistadas, não contemplando os diversos
focos que poderiam permitir conclusões mais completas, diagnósticos
mais precisos e, consequentemente, planos e projetos mais assertivos.
Como forma de demonstrar a necessidade de análises mais
abrangentes, apresentaremos a seguir um estudo sobre o desempenho
da natação brasileira nos Jogos de 2016, comparando-o com o de
Londres 2012 e com a performance do time norte-americano nesses
dois períodos, a qual serve como uma espécie de benchmarking.
Ressaltamos que para efeito desse estudo só foram consideradas as 26
provas individuais – 13 por gênero – visto que o critério de qualificação
para os revezamentos se dá em função da classificação da equipe no
campeonato mundial anterior, mais os quatro melhores tempos no
período, enquanto que para as provas individuais há a necessidade de
se atingir índices, sobre os quais falaremos adiante.
INTRODUÇÃO
Produzido e editado por Jambo Sport Business
Idel Halfen
Luiz Ratto
Francisco Machado
SETEMBRO 2016 www.jambosb.com.br
4. A classificação para as provas individuais dos Jogos Olímpicos tem
como condicionante a obtenção de um índice, que vem a ser igual
ao tempo do 16º classificado nessa prova nos Jogos anteriores. É o
chamado índice A.
Cada país pode levar no máximo dois nadadores com índice A por
prova. Caso nenhum nadador do país consiga esse índice para uma
dada prova, é facultado ao país inscrever um – apenas um –
nadador que tenha obtido o índice B, que equivale ao A acrescido
de 3,5%.
Pelo elevado nível técnico dos EUA, não faz sentido analisá-los sob
esse critério, já que sempre levam dois nadadores por prova, aliás, o
número de nadadores que atingem o índice é sempre superior a
dois, o que faz com que os dois melhores fiquem com as vagas.
Já no Brasil, dificilmente mais de 2 nadadores conseguem o índice.
Mas vamos aos números.
ÍNDICES
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5. Em 2012, o time feminino do Brasil conseguiu quatro
índices A e três B, o que deixou o país apto a participar de
sete provas individuais. Essas vagas foram obtidas por
apenas quatro atletas.
Em 2016, obtivemos onze índices A e dois B, permitindo ao
país competir em nove provas individuais, tendo a equipe
aumentada para sete nadadoras.
O time americano, como dito anteriormente, participou de
todas as provas com duas nadadoras em cada uma das duas
edições analisadas. Em Londres foram dezoito atletas para
nadar essas provas e no Rio foram dezessete.
No masculino, o comportamento dos EUA foi o mesmo nos
dois Jogos, sendo que a quantidade de atletas também foi a
mesma em ambos: dezoito.
O Brasil obteve 18 índices A em 2012 e, com uma equipe
constituída por doze nadadores, pode estar representado
em dez das treze provas individuais masculinas do
programa. Em 2016, sob esse prisma, o desempenho foi
melhor, pois alcançou 22 índices, tendo na equipe dezenove
nadadores e representação em todas as provas.
ÍNDICES
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Feminino 2012 2016 2012 2016
Índices A 4 11 26 26
Índices B 3 2 0 0
Provas com representantes 7 9 13 13
Quantidade de nadadoras 4 7 18 17
Masculino 2012 2016 2012 2016
Índices A 18 22 26 26
Índices B 0 0 0 0
Provas com representantes 10 13 13 13
Quantidade de nadadores 12 19 18 18
Feminino + Masculino 2012 2016 2012 2016
Índices A 22 33 52 52
Índices B 3 2 0 0
Provas com representantes 17 22 26 26
Quantidade de nadadores 16 26 36 35
BRASIL EUA
7. BRASIL
Na equipe feminina de 2012, apenas 25% das nadadoras
eram calouras em provas individuais, percentual que
passou para 57,1% em 2016. Entre os homens, tínhamos
58,3% de calouros em Londres contra 57,9% no Rio.
Compilando os dois gêneros, os percentuais evoluem de
50% para 57,7%.
EUA
Em 2012, o time feminino era formado por 72,2% de
calouras, percentual que decresceu timidamente para
70,6% em 2016. Já o time masculino manteve o
percentual de 66,7% , fazendo com que no geral o
percentual de calouros ficasse bem similar 69,4% em
2012 e 68,6% em 2016.
Tais números denotam que o Brasil, apesar de estar
renovando sua equipe, ainda está bem longe do patamar
norte-americano.
RENOVAÇÃO
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Vale notar que a média de idade do time feminino
americano foi 21,5 anos em Londres e praticamente se
manteve no Rio ao atingir 22,1. Já o time brasileiro saiu
de 26,3 anos para 26, o que pode ser considerada uma
média alta para a natação feminina quando comparada
com os EUA.
Em relação ao masculino, a média dos EUA ficou em 25,7
em 2012 e 24,9 em 2016, sendo interessante notar que a
média masculina é mais alta do que a feminina. Já o
Brasil viu sua idade média aumentar de 25 anos para
26,2 anos, um dado que requer atenção.
% calouros 2012 2016 2012 2016
Feminino 25,0 57,1 72,2 70,6
Masculino 58,3 57,9 66,7 66,7
Feminino + Masculino 50,0 57,7 69,4 68,6
Média de idade 2012 2016 2012 2016
Feminino 26,3 26,0 21,5 22,1
Masculino 25,0 26,2 25,7 24,9
Feminino + Masculino 25,3 26,1 23,6 23,6
BRASIL EUA
9. As provas de natação nos Jogos Olímpicos são compostas de 3
etapas: eliminatórias, das quais saem os atletas com os 16
melhores tempos para as semifinais e dessas se classificam os
oito melhores para as finais. Vale observar que as provas com
distâncias iguais ou superiores a 400 metros não têm semifinais,
de forma que os detentores dos oito melhores tempos das
eliminatórias passam automaticamente para as finais.
Assim, para efeito de nosso estudo, temos finais em 13 provas
individuais e 10 semifinais. Como há um limite máximo de dois
nadadores por prova, o cenário mais positivo para uma equipe é
ter 26 participações em finais e 20 em semifinais.
Se compilarmos os dois gêneros, os limites máximos passam
para 52 e 40 respectivamente.
FINAIS E SEMIFINAIS
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10. No Rio 2016, o time feminino brasileiro participou de uma
final, fato que não aconteceu em 2012. O número de
semifinalistas também aumentou, passando de uma para cinco
classificações, considerando aqui também a finalista. Sem
dúvida, um progresso, principalmente em relação ao número
de semifinalistas.
O time masculino manteve o mesmo número de finais nas
duas edições – cinco – e aumentou o de semifinais de dez
para onze.
No lado dos EUA, o time feminino participou de uma final a
menos em 2016 comparado com 2012, porém participou de
todas as semifinais com a equipe completa – duas nadadoras
por prova.
Já o time masculino teve 25 participações em finais e 19 em
semifinais no Rio. Em Londres foram 22 participações nas finais
e 20 nas semifinais.
FINAIS E SEMIFINAIS
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Feminino 2012 2016 2012 2016
Finais 0 1 22 21
Semifinais 1 5 19 20
Eliminatórias 6 12 26 26
DNS - não largou 1 1 0 0
Masculino 2012 2016 2012 2016
Finais 5 5 22 25
Semifinais 10 11 20 19
Eliminatórias 16 21 26 26
DNS - não largou 2 1 0 0
Total 2012 2016 2012 2016
Finais total 5 6 44 46
Semi total 11 16 39 39
Eliminatórias total 22 33 52 52
DNS total 3 2 0 0
BRASIL EUA
12. Aqui comparamos os tempos obtidos pelos nadadores
confrontando-os com os tempos que lhe renderam a
qualificação para o Jogos, no caso dos EUA, o “olympic trials”.
Em Londres 2012, nenhuma das meninas do Brasil melhorou
nos Jogos os tempos que lhes renderam a classificação. No Rio
2016, apenas 25% delas tiveram esse tipo de evolução. Entre os
rapazes, esse percentual ficou em 43,8% e 9,6%
respectivamente.
Percentuais que merecem ser investigados, já que o
desempenho nas provas para obtenção dos índices tem se
apresentado consideravelmente melhor.
O time feminino norte-americano, tanto em 2012 como em
2016, conseguiu melhorar o tempo em 65,4% das participações
individuais. A equipe masculina teve uma melhora em 61,5%
das competições em Londres, enquanto que no Rio esse
percentual caiu acentuadamente para 46,2%, o que nada afetou
a excelente performance do país nessa modalidade.
Considerando o somatório dos 2 gêneros, tivemos no time
brasileiro um percentual de evolução dos tempos de 31,8% e
15,2%, ao passo que no time dos EUA foram de 63,5% e 55,8%.
FINAIS E SEMIFINAIS
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14. Esse é o critério mais usado pelo público em geral e, de fato, é um
ótimo parâmetro de análise, apesar de por si só não se bastar.
O Brasil não conquistou nenhuma medalha de ouro nos dois
períodos analisados. Em 2012, a equipe masculina conquistou uma
de prata e uma de bronze, ao passo que em 2016, o país não subiu
ao pódio nem no masculino nem no feminino.
Nesse período, o time feminino dos EUA aumentou o número de
medalhas de ouro de seis para sete, de bronze de duas para três e
manteve a quantidade de prata também em três, totalizando treze
medalhas em 2016.
No masculino, foram cinco ouros no Rio, uma a menos do que em
Londres, manteve as quatro de prata e pulou de três para cinco
bronzes, tendo no total alcançado catorze medalhas.
Compilando os dois gêneros, o país manteve o mesmo número de
medalhas de ouro (12) e de prata (7) e aumentou em três as de
bronze, chegando a oito. Evidentemente, houve uma melhora em
relação aos Jogos anteriores, o que é ainda mais significativo pelo
fato de 2012 já ter sido excelente – sendo nas duas edições o país
com mais medalhas conquistadas da natação.
Sob esse parâmetro, o Brasil não apresentou evolução.
MEDALHAS
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16. Diante das informações apresentadas, sob o olhar meramente
quantitativo, se nota que houve um desenvolvimento da natação
do Brasil traduzida em termos de obtenção de índices e número
de finais e semifinais.
No entanto, é importante ficar atento aos tempos que são
obtidos nos Jogos, pois na maioria das vezes esses foram piores
do que os alcançados nas competições para atingimento dos
índices. Seria um problema de periodização?
Outro fator de preocupação é a baixa renovação e a média de
idade da equipe, principalmente quando as comparamos com os
EUA.
CONCLUSÕES
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