O documento discute o objeto de estudo da geografia, que é amplamente debatido na comunidade científica. Apresenta diferentes perspectivas como o estudo da superfície terrestre, da paisagem ou das inter-relações entre sociedade e natureza. Também descreve pressupostos históricos e princípios que contribuíram para a consolidação da geografia como ciência nos séculos XVIII e XIX.
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Objeto da Geografia e seus pressupostos históricos
1. Geografia Prof. Ivanilson Lima
O Objeto de Estudo da Geografia
Significado de Etimologia
GEO = Terra; GRAFIA = Estudo/descrição
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A questão que introduz este volume – o que é Geografia? – aparentemente é bastante simples, porém
refere-se a um campo do conhecimento científico, onde reina enorme polêmica. Apesar da antiguidade
do uso do rótulo Geografia, que foi mesmo incorporado ao vocabulário cotidiano (qualquer pessoa
poderia dar uma explicação do seu significado), em termos científicos há uma intensa controvérsia
sobre a matéria tratada por esta disciplina. Isto se manifesta na indefinição do objeto desta ciência, ou
melhor, nas múltiplas definições que lhe são atribuídas. (MORAES, pág. 4)
Estudo da superfície terrestre?
A superfície terrestre é o palco de estudo de diversas ciências, então não pode ser
definido como objeto de uma única ciência. Apoiado nos ideais de KANT que afirma que “...esta
concepção origina-se das formulações de Kant. Para este autor, haveria duas classes de ciências,
as especulativas, apoiadas na razão, e as empíricas, apoiadas na observação e nas sensações. “
(MORAES, pág. 4). Nessa definição a Geografia se torna uma ciência meramente descritiva.
Estudo da paisagem?
A análise da Geografia se basearia nos aspectos visíveis do real. Temos duas variantes
desse pensamento: em uma, teríamos a descrição e enumeração dos elementos percebidos; na
outra temos então, iniciaria com essa enumeração e a partir desta fazer a explicação do que foi
percebido, identificando o funcionamento dessa paisagem, trazendo então elementos da
Ecologia para as explicações geográficas. Uma variação sutil dessa perspectiva é a que busca se
a individualidade das diferentes paisagens.
2. Estudo das inter-relações entre a sociedade e natureza?
O foco dessa linha de pensamento se concentra nas explicações sobre o relacionamento
entre esses dois aspectos da realidade, estaria então no contato com as Ciências da Natureza e
as Ciências Humanas. Porém, devemos levar em consideração nessa perspectiva três visões
distintas sobre esse objeto de estudo.
i. Influências da natureza sobre o desenvolvimento da humanidade;
O homem como elemento passivo na atuação sobre a realidade, dessa forma, a ação
humana é sempre sob efeito das causas naturais. Cabe ao homem apenas se adaptar as
condições impostas pelo meio.
ii. Ações do homem na transformação da realidade;
O homem como elemento ativo sobre a realidade, tendo no estudo, a formo como o
homem transforma a natureza para atender suas necessidades. Temos um foco na
explicação dos fenômenos humanos.
iii. Relações de influência homem x natureza.
O estudo buscaria compreender o estabelecimento, a manutenção e a ruptura do
equilíbrio entre o homem e a natureza. (MORAES, pág. 6).
Pressupostos da Geografia
Ao início do século XIX, a malha dos pressupostos históricos da sistematização da Geografia já estava
suficientemente tecida. A Terra estava toda conhecida. A Europa articulava um espaço de relações
econômicas mundializado, o desenvolvimento do comércio punha em contato os lugares mais
distantes. O colonizador europeu detinha informações dos pontos mais variados da superfície terrestre.
As representações do Globo estavam desenvolvidas e difundidas pelo uso cada vez maior dos mapas,
que se multiplicavam. A fé na razão humana, posta pela Filosofia, abria a possibilidade de uma
explicação racional para qualquer fenômeno da realidade. As bases da ciência moderna já estavam
assentadas. As ciências naturais haviam constituído um cabedal de conceitos e teorias, do qual a
Geografia lançaria mão, para formular seu método. E, principalmente, os temas geográficos estavam
legitimados como questões relevantes, sobre as quais cabia dirigir indagações científicas. (MORAES,
pág. 14)
Temos então um conjunto de situações historicamente construídas para a sistematização
da Geografia como ciência. Assim, temos os seguintes pressupostos históricos para que a ciência
geográfica iniciasse sua consolidação como ciência a partir do século XIX.
i. Conhecimento efetivo da extensão real do planeta;
ii. Existência de um repositório de informações sobre variados locais;
iii. Aprimoramento das técnicas geográficas;
iv. Movimento ideológico na transição do feudalismo para o capitalismo.
Todos esses pressupostos se desenvolvem à medida que o capitalismo avança enquanto
sistema econômico no cenário mundial, tornando-se o sistema dominante. Anterior a esses
pressupostos então podemos dizer que o conhecimento geográfico estava disperso, sem
nenhuma unidade que alinhasse a todos os que de certa forma produziam Geografia. Quadro
esse então que permaneceu inalterado até o final do século XVIII.
3. Um outro elemento que colabora para esse desenvolvimento e sistematização é a
propagação dos ideais iluministas. Esses pensadores políticos buscam então justificar as
mudanças sociais e estruturais de forma a justificar os novos ideais burgueses, classe emergente
dentro do cenário histórico com a derrocada do Feudalismo.
Dois pontos importantes dessas discussões, que entram em consonância com as
discussões geográficas são os conceitos trabalhados por Rousseau e Montesquieu.
O primeiro pensador, traz à tona a discussão sobre as formas de poder e a organização
do Estado e sua extensão ao discutir o conceito de democracia. Rousseau defende que só é
possível se ter democracia nos países de pequenas extensões, cabendo aos países de grandes
extensões um governo autocrático, no qual teremos o governo com controle absoluto de todas
as questões do Estado, sem intervenções a partir de diálogo com outros grupos.
O segundo pensador, em sua obra O Espírito das Leis introduz dentro das discussões sobre
Geografia a ação do meio sobre o caráter dos povos. Ele alinha de forma determinista, as
características de cada povo com o seu meio.
Nesse sentido, elabora teses profundamente deterministas, como a de que os povos que habitam
regiões montanhosas teriam uma índole pacífica (pois contariam com uma proteção natural do meio),
ao passo que os habitantes da planície seriam naturalmente guerreiros (em face da contínua
possibilidade de invasões propiciada pelo relevo plano). (MORAES, pág. 13).
Princípios da Geografia
Princípio da Extensão: Formulado pelo geógrafo alemão Friederich Ratzel, onde em seu
discurso o geógrafo deve localizar o fato geográfico, determinando a área de ocorrência,
utilizando os conhecimentos cartográficos.
Princípio da Analogia: Princípio segundo o qual, delimitada e observada a área deve o
geógrafo compará-la com outras áreas, buscando as semelhanças e diferenças, sendo defendida
pelo geógrafo alemão Karl Ritter e pelo francês Vidal de La Blache.
Princípio da Causalidade: Defendido pelo geógrafo alemão Alexander Von Humboldt,
onde se busca as causas e as consequências dos fatos observados.
Princípio da Conexão: Princípio segundo o qual os fatores físicos e humanos nunca atuam
isoladamente (Jean Brunhes-França).
Princípio da Atividade: A paisagem é dinâmica. (Brunhes)
Referências Bibliográficas
MORAES, A. C. R. Geografia: pequena história crítica. 20ª ed. Anna Blume. 2000.
FONTANAILLES, G. Princípios da Geografia. Disponível em:
< http://geografalando.blogspot.com.br/2012/03/assunto-principios-geograficos.html> no dia 28 de janeiro de 2016