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Curso de Multimeios Didáticos
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MÓDULO 1: A PSICOLOGIA COMO CIÊNCIA
Olá aluno (a)!!!
Neste primeiro módulo, você estudará sobre a Psicologia como área do conhecimento que busca compreender a
integração das estruturas físicas, psíquicas e emocionais do ser humano e sua relação direta com o comportamento. Os
objetivos propostos para este estudo são:
a. Apresentar o desenvolvimento do pensamento humano e sua relação com a formação da Psicologia como
ciência.
b. Refletir sobre o papel e a importância da Psicologia para a compreensão do ser humano.
c. Conhecer os principais teóricos da Psicologia e suas respectivas teorias.
d. Descrever como a Psicologia chegou ao Brasil e de que forma ela contribui para a educação.
Com estes objetivos a serem alcançados, você primeiramente fará um breve estudo sobre a história da formação
da Psicologia como área do conhecimento humano. Em segundo lugar, você estudará a Psicologia como ciência que
possui um objeto específico de estudo, teorias e métodos particulares para a compreensão do ser humano. Em seguida,
seus estudos o levarão a conhecer os principais pesquisadores da Psicologia e suas respectivas teorias. Por fim, você
saberá como a Psicologia chegou ao Brasil e como seus teóricos, conceitos e métodos contribuem para a educação ainda
hoje.
Sendo assim, veja que este módulo está dividido em quatro subtópicos:
1.1 INTRODUÇÃO
1.2 A Psicologia como ciência
1.3 Os teóricos e teorias da Psicologia
1.4 A presença da Psicologia na educação brasileira
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Esperamos que estes conteúdos possam conceder a você uma visão mais ampla sobre a influência dos fatores
psicológicos nos processos educativos.
Fique atento às várias oportunidades de aprendizagem, aprofundamento dos conteúdos, reflexões sobre os tópicos
desenvolvidos e oportunidades de avaliação do processo educativo. Os ícones abaixo sempre levarão vocês para novas
experiências no maravilhoso mundo do saber.
Bom estudo!!!
Prof. Dr. Israel Serique dos Santos
Hiperlinks de Texto
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1.1 INTRODUÇÃO
Olá aluno (a)!!
Penso que você algum dia já tenha dito algo como “Fulano puxou ao
pai... o temperamento dele é calmo” ou, em outra circunstância, tenha ouvido
a frase “Beltrana parece psicóloga, só vive analisando a gente!!!”.
Estas duas circunstâncias exemplares revelam que existem em nossa
cultura ideias com as quais ligamos à Psicologia. A partir do senso comum,
compreendemos que as pessoas têm temperamento, possuem uma
personalidade, são influenciadas em suas decisões por fatores emocionais,
que as experiências passadas, muitas vezes, interferem no dia a dia das
pessoas etc.
Quando você aconselha alguém a deixar a “poeira baixar” para poder resolver um problema com outrem, você está
usando os conceitos do senso comum em psicologia para mediar situações conflituosas. Quando alguém diz “tome
cuidado, ele é instável emocionalmente, trate a questão com delicadeza”, aquele que aconselha está apontando certas
características emocionais e comportamentais de um outro interlocutor. Quando alguém comenta que determinada
pessoa é “birrenta como uma criança”, mais uma vez o senso comum é acionado para a identificação predominante da
“birra” em determinada faixa etária, ou seja, a infância. Estes exemplos evidenciam o modo pelo qual nos relacionamos
com esta área do conhecimento humano e o quanto a psicologia faz parte de nosso cotidiano.
Senso comum é o conjunto de
conhecimentos que o ser humano adquire
como fruto de sua percepção, vivência e
experiência no mundo. Nele não há rigor
científico, apenas conclusão geral a
respeito de fatos humanos ou questões
ligadas à natureza.
Senso comum
https://www.youtube.com/watch?v=fnG-ubmIOIc
Ciência, senso comum e revoluções
científicas: ressonâncias e paradoxos
http://www.scielo.br/pdf/ci/v33n3/a04v33n3
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Além destes exemplos pitorescos, a Psicologia se faz presente em várias circunstâncias, em vários ambientes, nos
produtos comercializados e no modo como eles são apresentados nos comerciais, nos símbolos, nas estratégias de
marketing, nas produções literárias, na definição de perfis profissionais, nas entrevistas seletivas para emprego, nos
consultórios dos psicopedagogos etc.
https://i2.wp.com/www.janiltonpsicologo.com.br/wp-content/uploads/2015/08/diva.gif http://fdipublicidad.com.ec/wp-content/uploads/2014/02/neuromarketing-koka.jpg
Esta presença marcante da Psicologia em nossa sociedade é resultante de uma caminhada histórica realizada por
vários pensadores, os quais compreenderam que o ser humano era muito mais do que um organismo vivo formado por
um sistema unicamente biológico. Para esses pesquisadores e teóricos, o gênero humano possuía uma dimensão
marcada pelos sentimentos, percepções, apreensões, e modos de ser no mundo, os quais deveriam ser pesquisados e
problematizados para se melhor compreender o homem.
O registro deste novo olhar sobre o ser humano começa com a civilização grega e chega até nós como resultado de
intensas pesquisas e produção literária realizada durante séculos em busca de se entender a complexa realidade que é a
alma humana em sua multiforme expressão e interação com o mundo individual e social.
Senso comum
https://www.youtube.com/watch?v=fnG-ubmIOIc
Ciência, senso comum e revoluções
científicas: ressonâncias e paradoxos
http://www.scielo.br/pdf/ci/v33n3/a04v33n3
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1.2 A PSICOLOGIA COMO CIÊNCIA
Quando estudamos a questão do desenvolvimento da Psicologia como
ciência, percebemos que o mesmo só foi possível quando o ser humano
começou a refletir sobre si mesmo e sobre o mundo a partir de referenciais
não associados às narrativas mitológicas, do senso comum e da visão religiosa
que simplificava a origem e o funcionamento do mundo a partir da ideia de
que tudo era vontade dos deuses.
Estes três elementos (o mito, o senso comum e a visão religiosa) foram
durante muito tempo as lentes interpretativas do mundo. Através deles,
sociedades foram fundadas, estruturas sociais legitimadas, fenômenos físicos
explicados, a origem do homem ritualizada, técnicas e ferramentas elucidadas
sobre suas origens.
A respeito dos mitos como narrativas fundamentes da criação, Goulart
(2012) cita o exemplo da mitologia Tupi-Guarani, a qual descreve a criação
como obra de Iamandu (ou Nhanderu ou Tupã), o deus sol. Segundo a
narrativa, este deus criou todas as coisas com o auxílio da deusa Araci (lua), na
região de Aregua, Paraguai. Após a criação da natureza, este deus dedicou-se
na criação do homem e da mulher, os quais teriam sido formados a partir de
estátuas de argila, em uma cerimônia elaborada.
Quanto ao senso comum, são várias as referências ao sangue como
sinônimo de vida. Segundo o criado em muitas culturas, havia uma relação
direta entre o sangue e a continuidade da existência pessoal e até mesmo da
comunidade. O derramamento de sangue, nos sacrifícios, vinha acompanhado
Os mitos são narrativas fundantes criadas
pelas sociedades antigas com o objetivo de
dar uma explicação autoritária sobre os
fenômenos físicos (a chuva, o relâmpago, o
fogo), estruturas sociais (classes sociais,
liderança política), origem dos homens,
localização geográfica do clã etc.
Da mitologia à Filosofia
https://www.youtube.com/watch?v=QH1ByP5Ka6o
Muitos povos antigos tinham a prática
ritualista de oferecer sacrifícios humanos aos
deuses com o fim lhes aplacar a ira. O
derramamento do sangue de um membro da
sociedade era a garantia da continuidade da
vida social.
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pelo gradativo esvaecimento das forças e, por fim, da vida. Em muitas
culturas, esta percepção visual assegurava que, de fato, o sangue é vida.
Princípio relativamente verdadeiro quando analisamos a função do sangue
para o bom funcionamento do corpo humano.
Uma síntese da Teologia Cristã sobre a questão da origem do mundo e
do ser humano nós encontramos no famoso discurso de Paulo no Areópago
de Atenas, diante de estoicos e epicureus, registrado no texto de Atos 17, que
diz:
24 O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe, sendo ele Senhor do céu e da terra, não habita em
santuários feitos por mãos humanas. 25 Nem é servido por mãos humanas, como se de alguma coisa
precisasse; pois ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo mais; 26 de um só fez toda a raça
humana para habitar sobre toda a face da terra, havendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os
limites da sua habitação; 27 para buscarem a Deus se, porventura, tateando, o possam achar, bem que não
está longe de cada um de nós; 28 pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos, como alguns dos vossos
poetas têm dito: Porque dele também somos geração.
Analisando o transcurso histórico do desenvolvimento do pensamento humano sobre a natureza do homem e a
influência dos aspectos emocionais em suas ações cotidianas, podemos dizer que o ponto de referência do início deste
pensar foi a civilização grega. Foram os gregos os primeiros a tentar formular um corpo racional, formal e sistemático
sobre o que é o ser humano.
HIPERLINK DE TEXTO
Epicureus
http://www.saocamilo-sp.br/pdf/bioethikos/68/10a17.pdf
O epicurismo .....
HIPERLINK DE TEXTO
Estoicos
http://brasilescola.uol.com.br/filosofia/os-estoicos.htm
O epicurismo .....
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De origem grega, o termo psicologia é derivado de dois outros
vocábulos, a saber: psyché, que pode significar “vida”, “alma”, “pessoa”; e
logos, cujo alcance semântico está no sentido de “palavra”, “razão”,
“discurso”. A partir destes dados, podemos dizer que, etimologicamente, a
Psicologia é o estudo da alma; um discurso racional a respeito do ser humano
e a complexa relação entre as realidades subjetivas e suas influências em
nosso cotidiano.
Entre aqueles que pensaram o ser humano a partir de categorias
psicológicas podemos citar Sócrates, Platão e Aristóteles. Segundo Sócrates, o
homem deveria ser percebido como um ser que possuía diferenças
significativas em comparação com os animais irracionais.
Para este filósofo, entre as distinções existentes estava a questão da
razão. Esta razão, segundo Bock, Furtado e Teixeira,
[...] permitia ao homem sobrepor-se aos instintos, que seriam a
base da irracionalidade. Ao definir a razão como peculiaridade
do homem ou como a essência humana, Sócrates abre um
caminho que seria muito explorado pela Psicologia. As teorias da
consciência são, em certa forma, frutos dessa primeira
sistematização da Filosofia (2003, p. 33).
Neste contexto, a razão está associada à reflexão, individualidade,
pensamento e mundo interior. O homem, ser distinto da natureza, refletindo
sobre a realidade ao seu redor, decide seu destino a partir desta relação
Deusa psyché
https://pt.wikipedia.org/wiki/Psiqu%C3%AA#/media/File:Wolf_von_Hoyer,_Psych
e.jpg
Sócrates (469-300 a.C.): Filósofo que
considerava importante o debate de
questões a partir da análise da hipótese.
Caso ela não entrasse em contradição, ela
deveria ser aceita como verdade.
Sócrates
http://filosofiaemvideo.com.br/wp-content/uploads/2016/04/Socrates-philosophy-essay.jpg
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consigo mesmo e com o mundo real, marcado por fortes tensões e
condicionantes históricos.
O segundo filósofo a dar contribuições significativas às primeiras
reflexões em Psicologia foi Platão. Segundo este pensador, o ser humano era
constituído de duas realidades distintas: o corpo (soma) e a alma (psyqué). O
corpo seria material e mortal, a alma seria imaterial e imortal. Em seu
pensamento, o corpo apontaria para o conceito de “como” as coisas são, e a
alma explicaria, ou chegaria ao entendimento, do que as coisas realmente são
na essência.
Enquanto Sócrates apontou para a realidade da existência da razão no
ser humano, Platão concedeu a esta faculdade um lugar, ou seja, a cabeça,
onde residiria a alma (BOCK, FURTADO; TEIXEIRA, 2003, p. 33). Em seu
sistema de pensamento, Platão considerava que a relação entre a alma e o
corpo era mediada pela medula. A alma para Platão era o centro da
racionalidade e reflexão, a fonte dos sentimentos e desejos.
Já Aristóteles, discípulo de Platão, atribuiu à alma o atributo de
princípio vital nos seres. Segundo seu pensamento, a alma e o corpo deveriam
ser compreendidos como realidades distintas, porém, não dissociáveis. Nesta
nova configuração e compreensão do mundo e do ser humano,
[...] a psyché seria o princípio ativo da vida. Tudo aquilo que
cresce, se reproduz e se alimenta possui a sua psyché ou alma.
Desta forma, os vegetais, os animais e o homem teriam alma. Os
vegetais teriam a alma vegetativa, que se define pela função de
alimentação e reprodução. Os animais teriam essa alma e a alma
sensitiva, que tem a função de percepção e movimento. E o
Platão
https://static.todamateria.com.br/upload/55/b7/55b7dedaafb4a-platonismo-filosofia-de-platao.jpg
Platão (427-347 a.C.) dava importância ao
raciocínio como meio de se alcançar a
verdade. Pare este filósofo, o raciocínio
seria uma atividade mental dirigida pela
lógica e que poderia conduzir o ser humano
à percepção das realidades universais.
Aristóteles
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homem teria os dois níveis anteriores e a alma racional, que tem
a função pensante (BOCK, FURTADO; TEIXEIRA, 2003, p. 33).
Analisando estas primeiras reflexões sobre o homem, podemos dizer
que estes filósofos deram significativa contribuição para a nossa atual
compreensão sobre a natureza humana. De fato, o ser humano não é apenas
um sistema fisiológico, composto por leis químicas, orgânicas, físicas etc.; ele
não é um mero ser que dirige suas ações por puro instinto, como os animais
irracionais; nem vive indiferente ao mundo ao seu redor em uma existência
vegetativa. O homem é sentimento, reflexão, razão, decisão.
Procedentes da alma, são estas realidades que explicam o que é o ser
humano, são elas que apontam para as possíveis origens subjetivas de nossas
ações, omissões, valores, repulsas, rejeições, animosidades, empatia,
aceitação etc. São elas as fontes primárias das transformações individuais e
históricas que vivenciamos diariamente na sociedade.
A partir do século quarto, depois de Cristo, dois pensadores se
destacam no debate sobre a natureza humana e seus aspectos psicológicos:
Agostinho e Tomás de Aquino. Por pertencerem à igreja, estes homens
teorizaram a respeito da alma a partir de postulados filosóficos e teológicos.
Analisando o pensamento de Agostinho, podemos dizer que seus
escritos apresentam conceitos que se assemelham ao pensamento de Platão,
como por exemplo, a ideia da imortalidade da alma. Todavia, há em seus
escritos fortes elementos de cunho religioso. Sua antropologia era
essencialmente teológica e bíblica.
Aristóteles (384-322 a.C.) procurou
estabelecer uma interpretação sistemática
sobre a natureza. Sua intensão abriu
caminhos para o iluminismo e para a ciência
moderna.
Agostinho
http://2.bp.blogspot.com/-Hf86kakIWtc/Vc6hYGP9wEI/AAAAAAAABQk/rQCsWdNJL7U/s1600/Santo%2BAgostinho.jpg
Antropologia é a ciência que busca estudar
o homem como ser no mundo que produz
cultura, estruturas políticas, valores,
costumes etc. e que está em constante
mudança.
A antropologia agostiniana era teológica,
ou seja, dirigida por pressupostos da
Teologia, os quais relacionavam o homem
como criação divina.
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Embora se utilizar da filosofia grega para construir um discurso racional sobre a natureza humana, Agostinho
preocupava-se por conformar suas teorias ao sistema de fé da igreja. Para ele, a alma possuía o atributo de imortalidade,
um dom divino, uma característica que o próprio Deus Criador havia concedido aos homens naquela parte imaterial
constituinte do ser humano. Sendo assim, a alma seria a sede da razão, dos pensamentos, da volição, dos sentimentos e
elemento que ligaria o homem a Deus.
Com Tomás de Aquino, as reflexões sobre a natureza humana se
voltam para o pensamento de Aristóteles. Comprometido com a Teologia da
Igreja Católica, mas possuindo forte admiração e influência do pensamento
aristotélico, Aquino afirmou a diferença entre essência e existência. Segundo
o pensamento de Aristóteles, estes dois vocábulos serviam para explicar o ser
humano como sendo aquele que busca a perfeição através da existência
(BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2003, p. 35).
Através da pena de Tomás de Aquino estas expressões serviram para
dar significado teológico à existência humana. Para ele, Deus seria o elemento
unificador daquelas realidades e o alvo por excelência de toda a existência
humana.
Durante muito tempo, o pensamento de Agostinho e Tomás de Aquino foram lentes interpretativas sobre o ser
humano. Embora tivessem familiaridade com a filosofia grega estes homens eram primeiramente teólogos
comprometidos com o sistema de fé da igreja. Geralmente, eles utilizavam a filosofia como elemento instrumental e
argumentativo a respeito dos dogmas da igreja. Por isso, foi natural que durante muito tempo os estudos sobre os
aspectos psicológicos do ser humano não tivesse grande avanço. Neste período, muitas doenças mentais, transtornos de
personalidade e questões psicológicas eram tratados como sendo de origem espiritual (possessão, bruxaria, opressão).
Tomás de Aquino
http://cultura.culturamix.com/blog/wp-content/gallery/sao-tomas/Botticelli-Santo-Tomas1.jpg
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Relampejos de mudanças deste sistema de coisas começaram a
acontecer especialmente a partir do final do século XIV, temos aí o início da
Renascença. Neste período o mundo estava passando por transformações
culturais, econômicas, políticas sociais e religiosas. A estrutura econômica e
social estruturada no feudalismo começa a ser questionada, e o capitalismo
começa a se desenvolver; a hegemonia papal começa a ser paulatinamente
questionada e ocorrem mudanças conceituais e práticas na igreja.
Como elemento fomentador desta nova conjuntura histórica, os
estudos na literatura do pensamento greco-romano deu grande força ao
ideário de se pensar no mundo e ver o ser humano para além das lentes
teológicas da Igreja católica de então. Esta nova postura diante da busca pelo
conhecimento revolucionou todas as esferas do fazer e existir do homem
renascentista. Para este, a igreja não detinha a verdade absoluta, existiam
outras formas de perceber, conceituar e conhecer o mundo em todos os seus
aspectos e manifestações.
A partir deste postulado, Nicolau Copérnico (1543) afirmou que o
planeta terra não era o centro do universo; Galileu Galilei (1610) fez estudos
sobre a queda dos corpos (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2003, p. 36); o
interesse pelo estudo da literatura clássica e a restauração de muitas obras
antigas fez com que os pesquisadores renascentistas criassem métodos de
análise crítica nos livros antigos etc.
Nesta conjuntura histórica, um fator que deu força às mudanças
emergentes foi a criação da imprensa, em 1455, pelo alemão Johannes
Gutemberg. A partir desta nova tecnologia, as obras clássicas puderam ser
reproduzidas em muitas unidades. E na medida em chegavam nas mãos dos
Feudalismo foi um sistema de organização
social e política presente na Idade Média, no
qual os donos de terras ofereciam proteção
e trabalho aos colonos em troca da produção
destes em suas terras. Os donos dos feudos
ficavam com parte do que era produzido.
http://3.bp.blogspot.com/-
Bw1EmZU6dpk/UdVXNDTTk8I/AAAAAAAAVTg/iAzSOllkLng/s800/feudo.jpg
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leitores ávidos pelos antigos escritos da literatura clássica, isto exercia
influência no modo de cada um ver o mundo a partir de tais leituras.
Além disto, a revolução da imprensa também se fez presente na medida em que os pensadores renascentistas
começaram a escrever suas próprias obras e expor seus próprios conceitos a respeito dos mais variados assuntos
relevantes à época. Isto fez com que a Teologia da Igreja Católica fosse paulatinamente questionada e rejeitada por
muitos.
Um exemplo que explicita esta situação foi a Reforma Protestante do
século XVI. Seus líderes (Lutero e Calvino) eram homens cultos, conhecedores
da literatura clássica, humanistas e possuíam pensamentos diferentes da
Igreja Católica a respeito das indulgências e da Bíblia. Estes reformadores
traduziram a Bíblia do latim para a língua do povo, produziram obras
teológicas e comentários bíblicos e os fizeram chegar ao povo comum através
da imprensa. De fato, a nova configuração religiosa, política e econômica do
século XVI em diante foi fomentada pelo Renascimento e consolidada pela
criação da imprensa.
Neste mesmo período, René descartes (1596-1659) apresenta o seu
pensamento sobre os elementos constituintes do ser humano. Segundo sua
teoria, haveria uma separação entre a mente (alma, espírito) e o corpo.
Aquela seria a parte pensante do ser humano e este apenas uma substância
material. Esta distinção aparentemente simples abriu portas para o
desenvolvimento da Medicina e da Psicologia. Segundo Bock, Furtado e
Teixeira,
Esse dualismo mente-corpo torna possível o estudo do corpo
humano morto, o que era impensável nos séculos anteriores (o
corpo era considerado sagrado pela igreja, por ser a desse da
Indulgências e da Bíblia: os protestantes
rejeitavam a ideia de que era possível
comprar o perdão de pecados através do
pagamento de indulgências; e tinham
apenas a Bíblia como perfeita revelação de
Deus aos homens.
http://www.ultracurioso.com.br/wp-content/uploads/2015/06/thumb-120651-autopsia-resized.jpg
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alma), e dessa forma possibilita o avanço da Anatomia e da
Fisiologia, que iria contribuir em muito para o progresso da
própria Psicologia (2003, p. 36).
Sendo assim, através desta breve descrição histórica do desenvolvimento do pensamento humano podemos
concluir que a Psicologia é uma ciência que encontrou espaço no mundo acadêmico na medida em que o ser humano foi
gradativamente refletindo sobre as motivações internas de suas ações, hábitos, sentimentos e emoções.
O reconhecimento da importância da mente para o comportamento humano gradativamente oportunizou
pesquisas e teorizações sobre as origens de nossas ações a dos processos de como aprendemos. Associada com outras
áreas do saber, a Psicologia tem aprofundado seu conhecimento sobre a natureza humana, sobre os processos cognitivos
de aprendizagem e sobre aqueles elementos que podem facilitar ou trazer obstáculos ao processo ensino-aprendizagem.
No subtópico à frente, estudaremos sobre os primeiros estudiosos que deram à Psicologia o status de ciência,
realizaram as primeiras experiências e desenvolveram as primeiras teorias psicológicas sobre o ser humano.
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Senso comum é o conjunto de conhecimentos que o ser humano adquire como fruto de sua percepção, vivência e experiência no mundo. Nele não há rigor científico, apenas
conclusão geral a respeito de fatos humanos ou questões ligadas à natureza.
A Psicologia se faz presente em várias circunstâncias, em vários ambientes, nos produtos comercializados e no modo como eles são apresentados nos comerciais, nos símbolos, nas
estratégias de marketing, nas produções literárias, na definição de perfis profissionais, nas entrevistas seletivas para emprego, nos consultórios dos psicopedagogos etc.
A presença marcante da Psicologia em nossa sociedade é resultante de uma caminhada histórica realizada por vários pensadores, os quais compreenderam que o ser humano era
muito mais do que um organismo vivo formado por um sistema unicamente biológico. Para esses pesquisadores e teóricos, o gênero humano possuía uma dimensão marcada pelos
sentimentos, percepções, apreensões, e modos de ser no mundo, os quais deveriam ser pesquisados e problematizados para se melhor compreender o homem.
O desenvolvimento da Psicologia como ciência só foi possível quando o ser humano começou a refletir sobre si mesmo e sobre o mundo a partir de referenciais não associados às
narrativas mitológicas, do senso comum e da visão religiosa que simplificava a origem e o funcionamento do mundo a partir da ideia de que tudo era vontade dos deuses.
Os mitos são narrativas fundantes criadas pelas sociedades antigas com o objetivo de dar uma explicação autoritativa sobre os fenômenos físicos (a chuva, o relâmpago, o fogo),
estruturas sociais (classes sociais, liderança política), origem dos homens, localização geográfica do clã etc.
Foram os gregos os primeiros a tentarem dar um corpo racional, formal e sistemático sobre o que é o ser humano.
De origem grega, o termo psicologia é derivado de dois outros vocábulos, a saber: psyché, que pode significar “vida”, “alma”, “pessoa”; e logos, cujo alcance semântico está no
sentido de “palavra”, “razão”, “discurso”. A partir destes dados, podemos dizer que, etimologicamente, a Psicologia é o estudo da alma; um discurso racional a respeito do ser humano e a
complexa relação entre as realidades subjetivas e suas influências em nosso cotidiano.
Segundo Sócrates, o homem deveria ser percebido como um ser que possuía diferenças significativas em comparação com os animais irracionais. Para este filósofo, entre as
distinções existentes estava a questão da razão.
Segundo Platão, o ser humano era constituído de duas realidades distintas: o corpo (soma) e a alma (psyqué). O corpo seria material e mortal, a alma seria imaterial e imortal. Em
seu pensamento, o corpo apontaria para o conceito de “como” as coisas são, e a alma explicaria, ou chegaria ao entendimento, do que as coisas realmente são na essência. A alma para
Platão era o centro da racionalidade e reflexão, a fonte dos sentimentos e desejos.
Para Aristóteles, a psyché seria o princípio ativo da vida. Tudo aquilo que cresce, se reproduz e se alimenta possui a sua psyché ou alma. Dessa forma, os vegetais, os animais e o
homem teriam alma. Os vegetais teriam a alma vegetativa, que se define pela função de alimentação e reprodução. Os animais teriam essa alma e a alma sensitiva, que tem a função de
percepção e movimento. E o homem teria os dois níveis anteriores e a alma racional, que tem a função pensante.
Agostinho preocupava-se por conformar suas teorias ao sistema de fé da igreja. Para ele, a alma possuía o atributo de imortalidade, um dom divino, uma característica que o
próprio Deus Criador havia concedido aos homens naquela parte imaterial constituinte do ser humano. Sendo assim, a alma seria a sede da razão, dos pensamentos, da volição, dos
sentimentos e elemento que ligaria o homem a Deus.
A revolução da imprensa também se fez presente na medida em que os pensadores renascentistas começaram a escrever suas próprias obras e expor seus próprios conceitos a
respeito dos mais variados assuntos relevantes à época. Isto fez com que a Teologia da Igreja Católica fosse paulatinamente questionada e rejeitada por muitos.
René descartes (1596-1659) apresentou o seu pensamento sobre os elementos constituintes do ser humano. Segundo sua teoria, haveria uma separação entre a mente (alma,
espírito) e o corpo. Aquela seria a parte pensante do ser humano e este apenas uma substância material. Esta distinção aparentemente simples abriu portas para o desenvolvimento da
Medicina e da Psicologia.
Psicologia é uma ciência que encontrou espaço no mundo acadêmico na medida em que o ser humano foi gradativamente refletindo sobre as motivações internas de suas ações,
hábitos, sentimentos e emoções. O reconhecimento da importância da mente para o comportamento humano gradativamente oportunizou pesquisas e teorizações sobre as origens de
nossas ações a dos processos de como aprendemos. Associada com outras áreas do saber, a Psicologia tem aprofundado seu conhecimento sobre a natureza humana, sobre os processos
cognitivos de aprendizagem e sobre aqueles elementos que podem facilitar ou trazer obstáculos ao processo ensino-aprendizagem
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1.3 OS TEÓRICOS E TEORIAS DA PSICOLOGIA
1.3.1 Wilhem Wundt e a Psicologia Experimental
Wilhem Wundt (1832-1920) foi um médico, filósofo e psicólogo
alemão, considerado um dos fundadores da Psicologia experimental moderna.
Entre as contribuições que o fazem merecedor desse reconhecimento
histórico, está a criação do primeiro laboratório de Psicologia no Instituto
Experimental de Psicologia da Universidade de Leipzig, na Alemanha, em
1879.
Para ele e seus seguidores (nomeadamente Edward Tichener, 1867-
1927), as operações mentais eram a organização de sensações elementares
relacionadas à estrutura do sistema nervoso (PILETTI; ROSSATO, 2012). No seu
laboratório, em Leipzig, procurou conhecer a forma como se relacionam e
associam os elementos da consciência. Nestes estudos, temos a concepção
associacionista dos comportamentos.
Ele trabalhou com o chamado método introspectivo [observação
interna], mas de modo controlado. Isto implicava que observadores treinados
deveriam, no laboratório, descrever as suas próprias experiências, resultantes
de uma situação experimental definida, em que uma equipe de psicólogos
analisaria os dados com objetividade.
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1.3.2 Ivan Petrovitch Pavlov e a Teoria do Condicionamento Clássico
A teoria do condicionamento clássico ou reflexológico, de autoria de
Pavlov, é de natureza fisiológica e de conexão, pois trata de estímulo e
reação; sendo que o organismo é dotado de um aparato de respostas, a partir
dos estímulos naturais e incondicionados (EI) para que produza uma resposta
(R) (CAMPOS, 1989).
Condicionamento Clássico
https://www.youtube.com/watch?v=ThrSiJNVggw
HIPERLINK DE TEXTO
Reflexo Condicionado
http://www.cerebromente.org.br/n09/mente/pavlov.htm
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1.3.3 John Watson e o Behaviorismo
John Watson, Psicólogo americano, fundador da corrente behaviorista
dentro da Psicologia, nasceu em 1878. Watson estudou as descobertas feitas
por Ivan Pavlov na mesma época do seu doutoramento e desenvolveu
pesquisas semelhantes em biologia, fisiologia e comportamento de animais.
A partir de seus estudos sobre o comportamento da criança, Watson
concluiu que o comportamento humano era, sob muitos aspectos,
semelhante ao comportamento animal.
Com base nesta constatação e inspirado nas descobertas de Pavlov,
Watson criou dentro da Psicologia uma nova corrente, o Behaviorismo
(1912).
Watson considera que o objetivo da Psicologia é o estudo do
comportamento de um organismo em interação com o ambiente; sendo,
portanto, possível condicionar o comportamento do indivíduo a
comportamentos desejáveis, desde que o mesmo seja exposto a estímulos
adequados (CAMPOS, 1989).
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1.3.4 Max Wertheimer, Kurt Koffka, Wolfgang Kohler e o Gestaltismo
Max Wertheimer (fundador da escola), Kurt Koffka e Wolfgang Kohler defendiam que o todo é diferente da soma das
partes. Não são as apresentações delas por si mesmas, mas sim as suas relações que decidem o sentido de um
pensamento (PILETTI; ROSSATO, 2012).
A Psicologia da Gestalt pode ser também vista como a Psicologia da forma. Os gestaltistas estão preocupados em
compreender quais os processos psicológicos envolvidos numa ilusão de ótica quando o estímulo físico é percebido pelo
sujeito como uma forma diferente da que ele tem na realidade.
Kohler estudou o modo como os chimpanzés lidavam com situações problemáticas, tendo chegado à conclusão que
possuíam a capacidade de organizar os diversos elementos de uma situação num todo coerente, permitindo assim
encontrar a solução para o problema. As suas experiências com estes animais (que empilhavam caixotes para alcançar o
alimento) comprovaram que estes têm condições para resolver problemas relativamente complexos.
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1.3.4 Jean Piaget e o Construtivismo
Jean Piaget (1896-1980), fundador do construtivismo, define-o como a
teoria do desenvolvimento do conhecimento em resultado de uma interação
com o meio (PIAGET, 1979). Piaget procurou determinar os processos de
construção do conhecimento desde as suas formas mais elementares até aos
níveis superiores.
Para Piaget, o desenvolvimento do indivíduo é determinado pela
interação entre fatores internos (orgânicos, hereditários) e fatores externos
(meio). Nos primeiros meses de vida, o seu comportamento é determinado
por reflexos inatos, mas depois as respostas são cada vez mais complexas,
fruto de um processo de adaptação.
Este processo embora tenha algumas etapas comuns a todos os
indivíduos, não produz em todos os mesmos resultados. As mesmas coisas
não têm a mesma significação para todos. O comportamento é uma resposta
que varia em função da interação entre a personalidade do sujeito e a
situação.
A personalidade é formada através da interação com o meio. Neste processo, são decisivas as disposições biológicas
do sujeito, as diversas aprendizagens e as atividades sobre o meio. O comportamento é visto como a resposta de uma
dada personalidade numa situação concreta.
O construtivismo (ou psicologia genética) procura explicar o desenvolvimento cognitivo (inteligência) como um
processo contínuo de adaptação do organismo ao meio, marcado por várias fases (estágios): Cada uma delas representa
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um estágio de equilíbrio, cada vez mais estável, entre o organismo e o meio, onde ocorrem de determinados mecanismos
de interação, como a assimilação e a acomodação.
Todo o conhecimento começa por uma assimilação pelas estruturas e esquemas do sujeito dos dados que recebe do
exterior. Estas estruturas e esquemas são os meios que permitem o conhecimento. Esta assimilação implica por sua vez a
sua modificação. A acomodação consiste na modificação destas estruturas ou esquemas aos novos dados.
A inteligência surge, assim, como o conjunto das estruturas e esquemas que um organismo dispõe em cada fase do
seu desenvolvimento. A adaptação do organismo constitui a expressão do equilíbrio atingido entre a assimilação e a
adaptação.
1.3.5 Sigmund Freud e a Psicanálise
Fundador de uma nova corrente em Psicologia, a Psicanálise. Sigmund
Freud apresenta-nos a psicanálise tendo como principais instrumentos de
trabalho a hipnose, a interpretação de sonhos e a livre associação de palavras.
Freud considera que o objetivo da Psicologia é o estudo da motivação
humana, que em grande parte é inconsciente e deve ser estudada através dos
sonhos, símbolos ou associações livres (PILETTI; ROSSATO, 2012).
A personalidade, para Freud, é determinada principalmente por
processos e forças inconscientes moldadas nos primeiros anos de vida (6-8
anos).
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Para termos acesso ao inconsciente, ficamos limitados a processos
indiretos como a hipnose. Mas apesar de Freud utilizar a hipnose para ajudar
as pessoas a reviverem experiências traumáticas do passado, desenvolveu o
método de associação livre, onde os pacientes eram encorajados a dizer tudo
o que lhes viesse à mente, sendo também estimulados a relatar os seus
sonhos.
Pulsões ou instintos básicos:
Eros: instinto de vida / erótico, relativo ao bem-estar.
Thanatos: instinto de morte / agressividade.
Teoria da personalidade:
Modelo topográfico é dividido em consciente, pré-consciente e inconsciente.
O modelo estrutural é dividido em Id, Ego e Superego.
Freud encontra na mente uma divisão entre três dimensões:
1. Consciente (EGO) – raciocínio, operações lógicas.
2. Pré-consciente (SUPEREGO) – memórias, interiorização de proibições sociais, produzem angústias, ansiedades e castiga
o EGO quando aceita impulsos do ID.
3. Inconsciente (ID) - pulsões, desejos e medos recalcados. Não obedece à lógica nem à moral.
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Wilhem Wundt (1832-1920) foi um médico, filósofo e psicólogo alemão, considerado um dos fundadores da Psicologia experimental moderna. Ele criou o primeiro
laboratório de Psicologia no Instituto Experimental de Psicologia da Universidade de Leipzig, na Alemanha, em 1879.
Para Wundt, as operações mentais eram a organização de sensações elementares relacionadas à estrutura do sistema nervoso (PILETTI; ROSSATO, 2012). Ele trabalhou com
o chamado método introspectivo [observação interna], mas de modo controlado. Isto implicava que observadores treinados deveriam, no laboratório, descrever as suas próprias
experiências, resultantes de uma situação experimental definida, em que uma equipe de psicólogos analisaria os dados com objetividade.
A teoria do condicionamento clássico ou reflexológico, de autoria de Pavlov, é de natureza fisiológica e de conexão, pois trata de estímulo e reação; sendo que o organismo é
dotado de um aparato de respostas, a partir dos estímulos naturais e incondicionados (EI) para que produza uma resposta (R) (CAMPOS, 1989).
A partir de seus estudos sobre o comportamento da criança, Watson concluiu que o comportamento humano era, sob muitos aspectos, semelhante ao comportamento animal.
Com base nesta constatação e inspirado nas descobertas de Pavlov, Watson criou dentro da Psicologia uma nova corrente, o Behaviorismo (1912). Ele considera que o objetivo da
Psicologia é o estudo do comportamento de um organismo em interação com o ambiente; sendo, portanto, possível condicionar o comportamento do indivíduo a comportamentos
desejáveis, desde que o mesmo seja exposto a estímulos adequados (CAMPOS, 1989).
Max Wertheimer, Kurt Koffka e Wolfgang Kohler defendiam que o todo é diferente da soma das partes. Não são as apresentações delas por si mesmas, mas sim as suas relações
que decidem o sentido de um pensamento (PILETTI; ROSSATO, 2012).
Os gestaltistas estão preocupados em compreender quais os processos psicológicos envolvidos numa ilusão de ótica quando o estímulo físico é percebido pelo sujeito como uma
forma diferente da que ele tem na realidade.
Jean Piaget (1896-1980), fundador do construtivismo, define-o como a teoria do desenvolvimento do conhecimento em resultado de uma interação com o meio (PIAGET, 1979).
Para Piaget, o desenvolvimento do indivíduo é determinado pela interação entre fatores internos (orgânicos, hereditários) e fatores externos (meio). Nos primeiros meses de
vida, o seu comportamento é determinado por reflexos inatos, mas depois as respostas são cada vez mais complexas, fruto de um processo de adaptação.
Para Piaget, as mesmas coisas não têm a mesma significação para todos. O comportamento é uma resposta que varia em função da interação entre a personalidade do sujeito e
a situação.
O construtivismo (ou psicologia genética) procura explicar o desenvolvimento cognitivo (inteligência) como um processo contínuo de adaptação do organismo ao meio, marcado
por várias fases (estágios): Cada uma delas representa um estágio de equilíbrio, cada vez mais estável, entre o organismo e o meio, onde ocorrem de determinados mecanismos de
interação, como a assimilação e a acomodação.
A inteligência surge como o conjunto das estruturas e esquemas que um organismo dispõe em cada fase do seu desenvolvimento. A adaptação do organismo constitui a
expressão do equilíbrio atingido entre a assimilação e a adaptação.
Fundador de uma nova corrente em Psicologia, a Psicanálise. Sigmund Freud apresenta-nos a psicanálise tendo como principais instrumentos de trabalho a hipnose, a
interpretação de sonhos e a livre associação de palavras.
Apesar de Freud utilizar a hipnose para ajudar as pessoas a reviverem experiências traumáticas do passado, desenvolveu o método de associação livre, onde os pacientes eram
encorajados a dizer tudo o que lhes viesse à mente, sendo também estimulados a relatar os seus sonhos.
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1.4 A PRESENÇA DA PSICOLOGIA NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA
A história da Psicologia Escolar e Educacional no Brasil pode ser
identificada desde os tempos coloniais, quando preocupações com a
educação e a pedagogia traziam em seu bojo elaborações sobre o fenômeno
psicológico. Comprometidas com os interesses dos mais afortunados, estas
elaborações evidenciavam a realidade de dominação da colônia (MASSIMI,
1986; 1990).
Com a defesa da educação feminina, a qual exigiu certa reflexão em
questões psicológicas, temas importantes aos estudos da psicologia foram
desenvolvidos e se tornaram parte dos estudos em Psicologia no século XX.
O debate sobre a educação tomou vulto com a defesa da difusão da
escolaridade para a massa da população e uma maior sistematização das
ideias pedagógicas, com crescente influência dos princípios da Escola Nova.
Assim, as escolas normais passaram a ser o principal centro de
propagação das novas ideias, com vistas à formação dos novos professores,
encarregando-se do ensino, da produção de obras e do início da preocupação
com a produção de conhecimentos por meio dos então inaugurados
laboratórios de psicologia. Estes fatores deram as bases para as reformas
estaduais de ensino promovidas nos anos 1920 e foram por estas
potencializadas.
Foi nesse quadro que ocorreu, paulatinamente, a conquista de autonomia
da psicologia como área especifica de conhecimento no Brasil, deixando de
ser produzida no interior de outras áreas do saber, sendo reconhecida como
HIPERLINK DE TEXTO
Estudos históricos acerca da psicologia brasileira
http://books.scielo.org/id/c2248/pdf/freitas-9788599662830-06.pdf
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ciência autônoma e dando as condições para que, por essa via, penetrassem
os conhecimentos da psicologia que vinham sendo produzidos na Europa e
nos Estados Unidos.
O período seguinte, a partir da década de 1930, caracteriza-se pela
consolidação da psicologia no Brasil e tem como base a estreita relação
estabelecida entre essa área e a educação. Os campos de atuação da
psicologia que se desenvolveram a partir dessa época, tornando-se campos
tradicionais da profissão, como a atuação clínica e a intervenção sobre a
organização do trabalho, tiveram suas raízes na educação, respectivamente
pela criação dos Serviços de Orientação Infantil, com a finalidade de atender
crianças com dificuldades escolares, e pela Orientação Profissional, dentre
outras ações educacionais, no campo do trabalho.
Ao mesmo tempo, o ensino formal de psicologia em cursos superiores
tinha estreita articulação com a educação, pois as disciplinas de psicologia
estavam vinculadas primordialmente aos cursos de filosofia e de pedagogia,
nestes últimos sob a denominação de psicologia educacional.
Muitos foram os trabalhos realizados pela psicologia no âmbito da
educação, dentre os quais: Serviço de Psicologia Aplicada do Instituto
Pedagógico da Diretoria de Ensino de São Paulo; Sociedade Pestalozzi de
Minas Gerais e, posteriormente, Sociedade Pestalozzi do Brasil; “Escola para
Anormais” em Recife; atividades realizadas no INEP, particularmente com a
utilização de testes psicológicos; a criação das Clínicas de Orientação Infantil;
a fundação do Instituto de Psicologia da PUCSP, oferecendo serviços de
medidas escolares, pedagogia terapêutica e orientação psicopedagógica; além
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das muitas instituições estritamente educacionais que desenvolviam
trabalhos relacionados à Psicologia.
Pode-se dizer que a educação continuou sendo a base para o
desenvolvimento da psicologia, assim como esta permaneceu como principal
fundamento para a educação, particularmente no âmbito pedagógico, como
sustentação teórica da Didática e da Metodologia de Ensino, bases para a
formação de professores.
Nesse contexto, começam a se diferenciar, ainda que de forma não
sistemática e formal, a psicologia educacional, como conjunto de saberes que
pretende explicar e subsidiar a prática pedagógica, sendo, portanto, de
domínio necessário para todos os educadores; e a psicologia escolar, como
campo de atuação de profissionais da Psicologia que atuariam no âmbito da
escola, desempenhando uma função específica, alicerçada na Psicologia e que
se caracterizou inicialmente por adotar o modelo clínico de intervenção.
Embora contradições possam ser apontadas, revelando produções teóricas e práticas afinadas com a construção de
uma escola comprometida com a aprendizagem e o desenvolvimento de seus alunos, particularmente aqueles oriundos
das camadas populares, o papel que a psicologia desempenhou na educação tornou-se objeto de crítica.
Apesar de todas as críticas feitas ao trabalho da Psicologia no campo educacional e sua relativa novidade enquanto
ciência, não se pode negar sua utilidade, eficiência e eficácia na construção de uma educação mais humanizada, levando a
um olhar educacional holístico e integral do indivíduo em desenvolvimento.
Podemos ver a importância que esta ciência tem para a educação quando lembramos que em todos os cursos de
licenciatura a Psicologia é componente curricular a ser estudado. Além disto, não são poucos os cursos de pós-graduação
lato sensu que oferecem formação em psicopedagogia e nos cursos stricto sensu (mestrado e doutorado) que possuem
linhas de pesquisa na mesma área.
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A história da Psicologia Escolar e Educacional no Brasil pode ser identificada desde os tempos coloniais, quando preocupações com a educação e a
pedagogia traziam em seu bojo elaborações sobre o fenômeno psicológico.
Com a defesa da educação feminina, a qual exigiu certa reflexão em questões psicológicas, temas importantes aos estudos da psicologia foram
desenvolvidos e se tornaram parte dos estudos em Psicologia no século XX.
As escolas normais foram centros de divulgação dos conceitos e teorias da psicologia.
Na década de 1920 paulatinamente a psicologia foi alcançando autonomia como área especifica de conhecimento no Brasil, deixando de ser
produzida no interior de outras áreas do saber, sendo reconhecida como ciência autônoma e dando as condições para que, por essa via, penetrassem os
conhecimentos da psicologia que vinham sendo produzidos na Europa e nos Estados Unidos.
A década de 1930 caracteriza-se pela consolidação da psicologia no Brasil e tem como base a estreita relação estabelecida entre essa área e a
educação. Os campos de atuação da psicologia: a atuação clínica e a intervenção sobre a organização do trabalho; criação dos Serviços de Orientação
Infantil, com a finalidade de atender crianças com dificuldades escolares; e a Orientação Profissional no campo do trabalho.
No Brasil, a educação foi uma das bases para o desenvolvimento da psicologia, assim como esta permaneceu como principal fundamento para a
educação, particularmente no âmbito pedagógico, como sustentação teórica da Didática e da Metodologia de Ensino, bases para a formação de
professores.
Psicologia educacional: conjunto de saberes que pretende explicar e subsidiar a prática pedagógica, sendo, portanto, de domínio necessário para
todos os educadores.
Psicologia escolar: campo de atuação de profissionais da psicologia que atuariam no âmbito da escola, desempenhando uma função específica,
alicerçada na psicologia e que se caracterizou inicialmente por adotar o modelo clínico de intervenção.
Podemos ver a importância que esta ciência tem para a educação quando lembramos que em todos os cursos de licenciatura a Psicologia é
componente curricular a ser estudado. Além disto, não são poucos os cursos de pós-graduação lato sensu que oferecem formação em psicopedagogia e
nos cursos stricto sensu (mestrado e doutorado) que possuem linhas de pesquisa na mesma área.