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     RELIGIÃO, TRANSFORMAÇÕES
     CULTURAIS E GLOBALIZAÇÃO

  IV CONGRESSO INTERNACIONAL EM CIÊNCIAS DA
            RELIGIÃO – PUC-GOIÁS



                               Realização
           PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS
             Programa stricto sensu em Ciências da Religião


                             Apoio
CAPES – PAULINAS – PAULUS – VOZES – OIKOS – SINODAL – METODISTA


                                   Parceria
       Universitá di Sociologia di Padova - Dipartimento di Sociologia
         International Society for the Sociology of Religion (ISSR)




                       IRENE DIAS DE OLIVEIRA
                        IVONI RICHTER REIMER
                      SANDRA DUARTE DE SOUZA
                               (ORGS.)
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Anais do IV Congresso Internacional em Ciências da Religião
       Programa em Ciências da Religião – PUC-GO




                  GRUPOS TEMÁTICOS

                              E

                        RESUMOS




               EDIÇÃO DIGITAL – EBOOK

                        PAULINAS




                    ISSN 2177 – 3963

                     Periodicidade: anual
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    IV CONGRESSO INTERNACIONAL EM CIÊNCIAS DA
                     RELIGIÃO

 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM
             CIÊNCIAS DA RELIGIÃO

     PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS




                                 TEMA

RELIGIÃO, TRANSFORMAÇÕES CULTURAIS E
             GLOBALIZAÇÃO




LOCAL: Pontifícia Universidade Católica de Goiás
27 a 29 de setembro de 2010
Goiânia, Goiás, Brasil
4




COMISSÃO ORGANIZADORA
PRESIDENTE: Dra. Irene Dias de Oliveira


MEMBROS

Dra. Ivoni Richter Reimer
Dr. José Carlos Avelino da Silva
Dra. Maria Eliane Rosa de Souza
Mndo. Adelman Soares Asevedo
Dranda. Cristhyan Martins Castro Milazzo
Mnda.Cilma Laurinda Freitas e Silva
Mnda.Cristina Galdino de Alencar
Dranda.Danielle Ventura Bandeira de Lima
Drando. Eleno Marques de Araújo
Dranda. Hulda Silva Cedro da Costa
Mndo. Iran Lima Aragão
Mndo. Israel Serique dos Santos
Mnda. Luzia Ireny e Silva
Dranda. Maria Cristina BonettI
Mndo. Oli Santos da Costa
Mnda. Sandra Célia de Oliveira
Mndo. Sérgio Batista de Oliveira
Ms. Uene José Gomes
Drando. Welthon Rodrigues Cunha



SECRETÁRIA EXECUTIVA: Geyza Pereira


COMITÉ TÉCNICO CIENTÍFICO
DR. AFONSO MARIA LIGÓRIO SOARES (SOTER)
DR. CARLOS RIBEIRO CALDAS FILHO (UPM)
DR. CRISTIAN PARKER (UNIVERSIDAD DE SANTIAGO DE CHILE)
DR. ENZO PACE (UNIVERSITÁ DI PADOVA)
DR. GILBRAZ DE SOUZA ARAGÃO (UNICAP)
DR. GERALDO DE MORI (FAJE)
DR. JUNG MO SUNG (UMESP)
DR. SILAS GUERRIERO (PUC-SP)
DR. MÁRIO SANCHES (PUC-PR)
DR. NEY DE SOUZA (PUC-SP)
DR. WILHELM WACHHOLZ (EST)
DR. VALMOR DA SILVA (PUC-GO)
5
6



                                            ÍNDICE



APRESENTAÇÃO --------------------------------------------------------------------------


           GRUPOS TEMÁTICOS – GTs: COMUNICAÇÕES CIENTÍFICAS


GT 1 - IMPACTOS DAS TRANSFORMAÇÕES CULTURAIS E DA
GLOBALIZAÇÃO NA (INTER)RELAÇÃO ENTRE RELIGIÃO E SAÚDE

COORD.: Drª Carolina Teles Lemos

GT 2 - RELIGIÃO, VIOLÊNCIA, ETNICIDADE E GLOBALIZAÇÃO

COORD.: Drª Irene Dias de Oliveira


GT 3: PROTESTANTISMO E GLOBALIZAÇÃO

COORD.: Dr. Eduardo Gusmão de Quadros


GT 4: SANTIDADE, PROFECIA E SABEDORIA

COORD.: Dr. Valmor da Silva


GT 5: TRANSE E RELIGIOSIDADE PÓS-MODERNA

COORD.: Drando. Welthon Rodrigues Cunha


GT 6: RELIGIÃO E MODERNIDADE

COORD.: Dra. Sandra Duarte de Souza


GT 7: RELIGIÃO, FILOSOFIA E GLOBALIZAÇÃO

COORD.: Dra. Maria Eliane Rosa de Souza


GT 8:. O SAGRADO FEMININO E A GLOBALIZAÇÃO

COORD.: Dr. José Carlos Avelino da Silva e Dranda. Maria Cristina Bonetti
7



GT 9: RESISTÊNCIA, ASSIMILAÇÃO E ACOMODAÇÃO NA CONSTRUÇÃO DE
IDENTIDADE NOS INÍCIOS DA IGREJA

COORD.: Dra. Ivoni Richter Reimer

GT 10: DEMANDAS HISTÓRICO-SOCIAIS E CUIDADO ECOLÓGICO NA
TRADIÇÃO BÍBLICA

COORD.: Dr. Haroldo Reimer

GT 11: TRADIÇÃO HEBRAICA: HISTÓRIA, EMERGÊNCIAS E ACOMODAÇÕES
CULTURAIS

COORD.: Dr. Haroldo Reimer e Drando. Claude Detienne


GT 12: SOFIA COMO BUSCA DAS TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS EM CORINTO

COORD.: Dr. Joel Antônio Ferreira

GT 13: RECUPERAÇÃO DA DIMENSÃO CRÍTICA DA FÉ DIANTE DOS
DESAFIOS DA GLOBALIZAÇÃO

COORD.: Dr. Élio Estanislau Gasda


GT 14: JUVENTUDE E RELIGIÃO NA (PÓS) MODERNIDADE

COORD.: Dr. Flávio Munhoz Sofiati


GT 15: CELEBRAÇÕES FESTIVAS: A VALORIZAÇÃO DA RELIGIOSIDADE
POPULAR NO BRASIL

COORD.: Drando. João Guilherme da Trindade Curado e Dranda. Tereza Caroline
Lobo


GT  16:  RELIGIOSIDADE           SERTANEJA:    CULTURA      IDENTIDADE        E
GLOBALIZAÇÃO

COORD.: Ângela Cristina Borges
8



RESUMOS



        RELIGIÃO, TRANSFORMAÇÕES CULTURAIS E GLOBALIZAÇÃO


      O Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências da Religião da
Pontifícia Universidade Católica de Goiás, após uma década de atividades voltadas
para a pesquisa e a produção científica sobre o fenômeno religioso e a formação de
pesquisadores (as), realizou, de 27 a 30 de setembro de 2010, o seu IV Congresso
Internacional em Ciências da Religião, visando discutir o tema “Religião,
transformações culturais e globalização”.
      Desde suas primeiras edições, esses eventos contaram com o apoio da
própria instituição (PUC Goiás), de editoras e livrarias (Paulus, Paulinas, Vozes) e de
outras instituições locais. A partir do formato de Congresso Internacional, a CAPES
vem prestando significativo apoio, o que tornou possível dar continuidade aos
eventos referidos, dando assim maior visibilidade e credibilidade às pesquisas
desenvolvidas no Centro-Oeste Brasileiro, em âmbito nacional e internacional.
Parcerias também foram estabelecidas com a SOTER Nacional e, nesse ano, com o
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu da Universidade Metodista de São Paulo
e da Universidade de Bologna e a Associazione Internazionale di Sociologia della
Religione (seção italiana).
      O IV Congresso Internacional em Ciências da Religião contou com a
participação de pesquisadores e instituições renomadas em nível nacional e
internacional. Todos eles pesquisam e se debruçam sobre o tema “Religião,
transformações culturais e globalização” o que possibilita maior consolidação do
Programa e o amadurecimento de seus docentes e alunos envolvidos em
pesquisas interdisciplinares. Além do mais contribuem para o fortalecimento de laços
de internacionalização do Programa e parcerias entre docentes pesquisadores (as),
fatores extremamente importantes para a pesquisa no Centro-Oeste.
      Os Anais dos Congressos são publicados regularmente e nesse ano
contamos com o apoio da REVISTA ON-LINE CIBERTEOLOGIA para publicarmos
em sua seção de ANAIS todos os resumos e as melhores comunicações científicas
aprovadas e apresentadas. Em breve será também publicado o livro contendo as
9



grandes conferências apresentadas por pesquisadores e pesquisadoras nacionais e
internacionais que estiveram presentes em nosso Congresso.
      Nesse número de CIBERTEOLOGIA, apresentaremos os resultados da
pesquisa de teólogos(as) e cientistas da religião que apresentaram suas
comunicações distribuídas pelos vários Grupos de Trabalho multidisciplinares que,
apesar de terem a religião como tema central, tentaram discutir   os impactos das
transformações culturais e da globalização sobre ela.
      Portanto, é com imensa alegria que socializamos algumas das comunicações
e todos os resumos de trabalhos aprovados e apresentados por nossos (as)
estudantes e pesquisadores(as) presentes no IV CONGRESSO INTERNACIONAL
EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO e que se debruçam sobre a religião e seus desafios
em uma sociedade em constante transformação cultural.


Profa. Dra. Irene Dias de Oliveira
Presidente e Coordenadora do
IV CONGRESSO INTERNACIONAL EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO DA
PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS
10




 GRUPOS TEMÁTICOS – GTs




COMUNICAÇÕES CIENTÍFICAS
11




GT 1: IMPACTOS DAS TRANSFORMAÇÕES
CULTURAIS E DA GLOBALIZAÇÃO NA
(INTER)RELAÇÃO ENTRE RELIGIÃO E
SAÚDE
                                              Coordenação: Dra. Carolina Teles Lemos



Resumo: Se a reflexividade da vida social moderna consiste no fato de que as
práticas sociais são constantemente examinadas e revisadas à luz de novas
informações sobre estas próprias práticas, alterando constitutivamente seu caráter
(Giddens), também a tradicional (inter)relação entre religião e saúde passa por
essas revisões. Os impactos dessa reflexividade incidem tanto sobre a religião, que
reconfigura seu olhar em relação à saúde, quanto sobre a área da saúde
(pesquisadores da área, profissionais, pessoas acometidas de doenças graves ou
não), que revisa suas concepções e buscas religiosas. Tendo presente essa
conjuntura, o GT visa ser um espaço de debate sobre os impactos das
transformações culturais e da globalização na (inter)relação entre religião e saúde.
Palavras-chave: religião, saúde, transformações culturais.
12




          A INTERFERÊNCIA DA BENZEDURA NO PROCESSO TERAPÊUTICO
                                               Filipe Gomes Gadeia Brito1
                                                                        Sandra Célia C. G. S. S. Oliveira2

    RESUMO

    O presente trabalho tem por objetivo conhecer de que forma as benzedeiras contribuem para o tratamento
    terapêutico e a possível cura, assim como o ritual utilizado e como ele é transmitido. Para tal, foi realizado uma
    pesquisa quanti/qualitativa, com informações coletadas a partir de entrevista semi-estruturada. Percebe-se que
    existe a interferência da benzedura no processo terapêutico e vale salientar que a mesma não exclui o
    tratamento médico, visto que existem determinados males onde os benzimentos não podem intervir. A prática
    de benzimentos alcançou ao longo dos tempos lugar de grande importância, pois os que recorrem às
    benzedeiras sejam movidos por uma fé no ritual, palavras e objetos utilizados, tentam encontrar ali a cura de
    enfermidades.




A constante busca pelo estado de saúde faz com que muitos indivíduos busquem
métodos e formas alternativas para o alcance do bem-estar físico, psíquico e social,
sendo a benzedura uma dessa formas que alcançou grande difusão ao longo dos
tempos.
                                      A benzeção realiza um dos momentos mais importantes da me-dicina
                                      [sic] popular. Nela, os artifícios e estratégias do saber popular,
                                      criados e recriados pela cultura popular rural, com os conhecimentos
                                      sobre plantas, banhos, receitas, chás, sim-patias [sic], massagens,
                                      escalda-pés, suadouros, garrafadas, medicamentos caseiros e às
                                      vezes até mesmo industrializados, se corporificam nas concepções
                                      terapêuticas da benzedeira [...]. (LEMOS, 2008, p. 71-72)


O presente estudo tem como objetivo conhecer de que forma as benzedeiras
contribuem para o tratamento terapêutico e a possível cura, assim como o ritual
utilizado e como ele é transmitido e para isso teve como campos de estudo as
cidades de Brumado, Guanambi, Macaúbas e Urandi, no estado da Bahia.

A IMPORTÂNCIA DA CULTURA POPULAR NO CONTEXTO DA SAÚDE

Desde os primórdios da humanidade, a busca pelo estado de saúde motivou o
homem a procurar meios e formas que lhe garantissem um estado de equilíbrio.


1
 Graduando em Enfermagem pela Universidade do Estado da Bahia – lippe_ggb@hotmail.com
2
 Mestranda em Ciências da religião da PUC - GO e Professora auxiliar da Universidade do Estado da
Bahia. Departamento de Educação, Campus XII, Guanambi : sandraccgs@hotmail.com
13



Segundo Parker (1995), nos mais diversos lugares os indivíduos buscam amuletos,
talismãs, bênçãos, e cumprem ritos, com a finalidade de evitar os males, geralmente
relacionados à saúde.
O ato da benzedura é uma          forma cultural muito procurada por pessoas de
diferentes etnias, gêneros, classes sociais, idades e religiões, a fim de obterem um
estado saudável. Este ato cultural, segundo Cavalcante & Chagas (200-), teve seu
início no período colonial brasileiro, bem como outras práticas médicas.
Segundo Ximenes (2000, p. 273), cultura é um conjunto de costumes, atitudes,
comportamentos, crenças, instituições, produções artísticas e intelectuais que
caracterizam um povo. Dessa forma, a cultura popular é algo de grande importância
para a formação da identidade de um povo e Gorzoni (2005, p. 69) ainda acrescenta
que os benzimentos são realizados por diversas culturas, de diferentes formas
possíveis e contam com o auxílio dos elementos da natureza e da religião, e todos
têm o mesmo objetivo: curar, abençoar e proteger as pessoas de forças negativas
do universo.
A INFLUÊNCIA DA RELIGIÃO E FÉ NO PROCESSO DE CURA
O homem sempre procurou o auxílio de uma força maior que o ajudasse a superar
os desafios encontrados no decorrer de sua vida, isso pode ser evidenciado nas
tentativas de superação das doenças, sendo estas sinônimo de caos e desordem,
além de ser considerada um castigo divino. Neste sentido a religião se encontra
numa concepção de intermediária entre os homens e deus(es), para assim obterem
a almejada graça, como a cura da doença. Para Priori (2007apud Cavalcante &
Chagas, 2000, p.4)
                           A enfermidade era vista por muitos pregadores e padres, e também
                           por médicos da época, como um remédio salutar para os
                           desregramentos do espírito. Nessa perspectiva, a doença nada mais
                           era do que o justo castigo por infrações e infidelidades perpetradas
                           pelos seres humanos.


Mesmo nos dias atuais, com o intenso desenvolvimento tecnológico e o grande
avanço na área da medicina, percebe-se que uma considerável parcela da
população ainda vê na religião uma forma de alcançarem a solução para os seus
problemas. A relação entre saúde e religião pode ser demonstrada de diversas
formas, como os ritos de imposição das mãos, benzeduras, exorcismos,
curandeirismo, xamanismo, pajelança, entre outros, cada um com sua crença, mas
todos convergem a um mesmo ponto: a cura das enfermidades.
14



No contexto de religião e saúde, a fé desempenha um papel crucial, pois acredita-se
que a partir dela é que os indivíduos têm a esperança de alcançar o benefício
esperado. Afirma Santo Agostinho que a fé se baseia na crença e na aceitação do
que não é manifesto à razão, sendo seu objeto próprio os mistérios.
Sendo assim, podemos perceber a forte relação entre o tripé religião, fé e cura, pois
a religião não pode ser entendida como uma razão pura, mas sim por meio da fé, e é
esta fé que impulsiona o homem a crer nos mais diversos métodos que tenham por
objetivo alcançar a cura.


A PRÁTICA DE BENZIMENTOS NO PROCESSO TERAPÊUTICO


Parece contraditório nos dias atuais, que apesar de tantos avanços na área médica
e de pesquisas no campo da saúde existirem ainda as práticas de benzedura.
Comenta Cavalcante & Chagas (2000, p. 3)

                            Diante dos avanços do saber médico-científico[...] deveria supor que
                            práticas mágicas de intervenção no corpo estariam superadas,
                            restando a elas o espaço da literatura ou praticadas em comunidades
                            tradicionais. No entanto, isso não é o que a realidade mostra.


O ato da benzedura, uma prática cultural que atravessou os séculos e está presente
no cotidiano de muitas pessoas, consiste de um ritual em que se utilizam símbolos,
palavras e gestos, e tem por finalidade o restabelecimento da saúde. As
benzedeiras, também chamadas de rezadeiras, realizam o ritual de cura, motivadas
pela fé. Com relação a benzeção, afirma Aguiar (200-, p. 50):


                            As práticas de cura das mulheres benzedeiras não são um saber
                            especializado no mesmo sentido do saber dos médicos [...] a prática
                            das benzedeiras faz parte de uma vivência que é social, religiosa,
                            econômica e moral ao mesmo tempo. O exercício da benzedura
                            envolve todos os aspectos da vida da comunidade. As benzedeiras
                            são pessoas conhecidas das famílias da comunidade, donas de
                            casa, mães e avós, vizinhas, que, para retribuir o dom recebido de
                            Deus, rezam e curam.


Percebe-se que existe a interferência da benzedura no processo terapêutico e vale
salientar que a mesma não exclui o tratamento médico, visto que existem
determinados males onde os benzimentos não podem intervir. Neste caso, segundo
15



relatos das benzedeiras, as mesmas aconselham os clientes a procurarem o
médico.
A cura das enfermidades, obtidas por meio dos benzimentos, é a responsável pelo
reconhecimento do ofício das benzedeiras.


ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS


Trata-se de uma pesquisa quanti/qualitativa, com informações coletadas por meio de
entrevista semi-estruturada, realizada com quatro benzedeiras e quarenta
entrevistados que recorreram às práticas de benzimentos, distribuídos nas cidades
de Brumado, Guanambi, Macaúbas e Urandi, no estado da Bahia.
Levando-se em consideração como as benzedeiras adquiriram o dom do
benzimento e de como ele pode ser transmitido, nota-se que 100% das
entrevistadas adquiriram atráves de herança familiar, podendo ser transmitido a
qualquer pessoa que tenha interesse em aprender. Com relação às enfermidades
em que se recorrem aos benzimentos, mau-olhado e quebranto são as mais
comuns. De acordo com as benzedeiras entrevistadas, as pessoas recorrem aos
benzimentos porque se sentem bem com a oração que elas praticam. E as mesmas
afirmam que há uma relação da cura com a fé.
Quanto ao dia e horário em que realiza-se os rituais verificou-se algumas diferenças
existentes. Dona Maria não reza aos domingos e nos outros dias só até às 9 hs da
noite. Dona Joana reza aos domingos só em caso de urgência e nos outros dias
reza normalmente, mas não às 18 hs e às 24 horas. Dona Norma e Ana rezam
qualquer dia e horário, não havendo restrições. Com relação ao ritual utilizado, Dona
Norma antigamente fazia uso dos ramos e após ser integrante da Renovação
Carismática Católica (RCC) passou a adotar a imposição das mãos, citando
passagem do Evangelho (Mc. 16), oração única e válida para todos os tipos de
enfermidades. As outras utilizam ramos no seu ritual, fazendo o sinal da cruz. Dona
Maria usa fitas, cartelinhas que contém as orações e cordão de São Francisco para
pessoas muito neuróticas. Dona Joana usa também faca de ponta, algodão e galho
seco. Dona Ana para realizar o ritual precisa de três ramos. Segundo Gorzoni (2005)
os benzimentos auxiliam na superação de situações de caos, como no caso de
patologias e grande parte das benzedeiras utilizam ervas, utensílios domésticos e
rezas no seu ritual.
16



O último aspecto abordado diz respeito ao público que recorre às práticas de
benzedura. Verificou-se que 75% das entrevistadas (Brumado, Guanambi e
Macaúbas) atendem todos os públicos de todas as classes sociais. Entretanto, a
entrevistada de Urandi atende apenas crianças, não importando a classe social
pertencente.
Na entrevista realizada com as dez pessoas de cada cidade que já recorreram aos
benzimentos,    verificou-se   que   a   média   de   idade   era   46   anos   e   são
predominantemente católicos. Tratando-se de gênero, a maior parte são mulheres,
representando um total de 72,5%. Com relação à obtenção de cura por parte dos
benzimentos, foi constatado que 37 pessoas afirmaram ter alcançado. No quesito de
enfermidades mais comuns, notou-se que a predominância era mau-olhado, vermes,
dor de estômago, alcoolismo e quebranto. Foi questionado também à quem as
pessoas atribuem a cura e notou-se que a maioria atribui a fé do cliente, a Deus e a
fé da benzedeira. Vale salientar que os nomes citados são todos fictícios.


CONSIDERAÇÕES FINAIS


Diante das entrevistas e levantamento bibliográfico realizado, pode-se constatar que
realmente as práticas de benzimento contribuem de forma positiva no processo
terapêutico, isto, pois a maioria dos entrevistados relataram ter alcançado a cura por
meio do ritual e também foi possível detectar que há uma forte relação da cura com
a fé, seja por parte da benzedeira ou por parte do cliente.
Vale salientar que por meio dos dados coletados nos questionários feitos com as
benzedeiras, existem alguns malefícios onde os benzimentos não podem intervir,
neste caso aconselha-se o acompanhamento médico para a realização do devido
tratamento da patologia.


REFERÊNCIAS

AGUIAR, Gilberto Orácio de. Mulheres negras da montanha: as benzedeiras de Rio
de Contas, Bahia, na recuperação da saúde. Ciberteologia - Revista de Teologia e
Cultura. [S.l.]. Ano III, n. 21, p. 48-51, [200-].

CAVALCANTE, Joel Martins; CHAGAS, Waldeci Ferreira. As mulheres
benzedeiras: entre o sagrado, a saúde e a política. p.1-11, [2000].
GORZONI, Priscila. Mulheres de fé. Raízes, [S.l.], p.69-76, dez. 2005.
17



LEMOS, Carolina Teles. Religião e Saúde: (re)significando as dores na vida
cotidiana. Rio de Janeiro: Descubra, 2008.
PARKER, Cristián. Religião popular e modernização capitalista: outra lógica na
América Latina. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.
XIMENES, Sérgio. Minidicionário da língua portuguesa. 2.ed. São Paulo:
Ediouro, 2000. 980 p.
18




        PRINCÍPIOS E PRÁTICAS DE SAÚDE NO MOVIMENTO ADVENTISTA:
                        A RELAÇÃO ENTRE SAÚDE E RELIGIÃO


                                      Francisco Luiz Gomes de Carvalho (PUC-SP)3
                                               Nailton Santos de Matos (UNINOVE)4


RESUMO


Este trabalho visa discutir os princípios e as práticas de saúde dentro do movimento
adventista na segunda metade do século XIX. Neste período, os hábitos alimentares
dos norte-americanos já não propiciavam melhores condições físicas. Os princípios
fundamentais de saúde abraçados pelos adventistas vem de sua percepção da
estreita relação entre saúde física e saúde espiritual. Tais princípios estão
alicerçados nos trabalhos dos reformadores, médicos e fisiologistas do século XIX.
Segundo White (1997: 346 ), ―tudo que nos diminui a força física enfraquece a mente
e a torna menos capaz de discernir entre o bem e o mal. Ficamos menos aptos para
escolher o bem, e temos menos força de vontade para fazer aquilo que sabemos ser
justo‖. Compreender as práticas de saúde dentro do movimento adventista é
entender o modo como este movimento vê o homem e sua relação com seu Criador.

Palavras-chave: adventismo, saúde, religião, princípios, reflexividade



Movimento Adventista no século XIX e seus desdobramentos no século XX


         O movimento adventista tem nos Estados Unidos da América o seu berço de
nascimento, em um período histórico em que o ambiente político foi marcado pelo
fenômeno social com as relações raciais, polarizações sociais, questões escravistas,
mas também de grande efervescência religiosa. Gaustad (1975) ao descrever o
ambiente religioso afirma que ―revivalistas e milenialistas, comunitários e utopistas,
espiritualistas e prognosticadores, celibatários e polígamos, perfecionistas e
transcendentalistas‖ compunham o cenário que anteriormente era dominado pelas
organizações religiosas convencionais.
         Este movimento lança as suas bases ideológicas a partir do fracasso da
utopia pregada por Guilherme Miller e vivida no desapontamento de 1844. É a partir

3
    fluizg@yahoo.com.br
4
    nailtonmatos@yahoo.com.br
19



desse momento que há a sistematização de crenças e a organização institucional,
passando a se denominar Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD). Ao descrever as
crenças particulares da IASD Derosche (2000) lista cinco crenças sucintamente, e
dentre elas destaca: a prática de reforma sanitária e alimentar, como elemento da
santificação pessoal.
        Nascida no século XIX a IASD continua a propagar suas bases ideológicas
fundadas na compreensão de inspiração e inerrância da Bíblia como livro sagrado e
no reconhecimento da função orientadora da profetisa Ellen G. White. Ao sugerir
razões para o avanço ideológico e institucional desse movimento, Numbers (1987)
atribui dentre outras, o desenvolvimento do interesse adicional pela educação,
regime alimentar, cuidado médico, liberdade religiosa e observância rigorosa do
descanso.
        Apesar de uma orientação fortemente fundada na crença dos eventos
escatológicos e iminente resgate inédito dos crentes, o movimento adventista
mantém investimentos consistentes em meios de solidificação de suas ideologias,
bem como na propagação universal de sua mensagem, fazendo-se valer de
instituições educacionais, hospitais e clínicas, fábricas de alimentos, bem como
editoras e publicações. Segundo dados,5 ao redor do mundo são 7.597 instituições
de ensino, 600 estabelecimentos (clinicas, hospitais, sanatórios) de saúde, 23
indústrias de alimentos, 61 editoras e 435 periódicos.


A concepção de saúde nos EUA na segunda metade do século XIX


        O nascimento da medicina perpassa momentos de práticas de magia na
antiqüíssima Babilônia, lições de Hipócrates na Grécia, medicina árabe na Idade
Média até à elaboração cientifica. Difícil é a tarefa de estabelecer fronteiras nas
atitudes face às doenças, por um lado marcadas pela busca constante da pesquisa
cientifica no saber médico, e por outro a crença inveterada na eficácia da magia
(orações ou ervas) e nos mágicos (bruxas, milagreiros, curandeiros).




5
    Para ver na íntegra acesse: <http://www.adventistarchives.org/docs/ASR/ASR2008.pdf>
Acesso em 05.09.2010
20



      As noções, pressupostos, concepções acerca de saúde possuem estrita
relação com o estágio do conhecimento e a idéia de ciência que lhe são
contemporâneas, o que demonstra que a medicina é por natureza histórica e muitas
vezes misturada à religiosidade, ingenuidade, charlatanismo e iluminismo da época.
(LE GOFF, 1991)
      Nos Estados Unidos na primeira metade do século XIX, a medicina
caminhava a passos curtos e enfrentava desafios cada vez maiores. Estatísticas de
algumas cidades enumeravam uma ampla relação de causa mortis ―desde extensa
variedade de febres (tifóide, tipo, ´febre pútrida´) e doenças comuns da época
(cólera e sarampo).‖ (LAND, 1987). A expectativa de vida média em 1840 era de
22,6 anos e a causa mais comum de óbito era a tísica pulmonar (tuberculose). Para
especialistas da época, a saúde era um estado intermediário de agitação, e a tarefa
do médico consistia em ajustar o nível dessa agitação. O tratamento das doenças
seguia um modelo constituído principalmente em sangria, purgação e polifármacos
(REID, 1982).   Na declaração do Dr. Oliver Wendell Holmes em 1860 sobre a
medicina aplicada na época entende-se a gravidade do caso, pois afirma que:



                [...]se toda a ―matéria médica‖ empregada atualmente pudesse ser lançada no
                fundo do mar, seria bem melhor para a humanidade, embora bem pior para os
                peixes. (NUMBERS, 1976)



      A segunda metade do século XIX foi inundada de inovações e idéias
centradas no ser humano que superaram a ordem racional e clássica do século
precedente, o que inspirou reformas em diversas áreas institucionais, dentre elas a
saúde. A medicina heróica e seus resultados dão lugar ao que podia ser feito com
bom senso. Trata-se da multiplicação de manuais de saúde destinados àqueles que
não tinham como recorrer ao médico (LAPLANTINE, 1991). Estudiosos tais como
Horace Mann, James C. Jackson, Russel T. Trall, Larkin B. Coles, Dio Lewis, Joel
Shew, Sylvester Graham, William A. Alcott, dentre outros exaltavam aspectos do
viver saudável, mas em sua maioria os livros eram técnicos, volumosos, caros e
cheios de verbosidade.
      Partindo de uma compreensão em que a pessoa é uma unidade indivisível de
corpo, mente e espírito, e que os componentes interativos e integrativos do corpo,
mente e espírito exigiam a saúde de cada componente para que todos pudessem
21



funcionar eficientemente, o movimento adventista estabeleceu as bases no
desenvolvimento de sua Filosofia de saúde com o senso teológico de totalidade.
Esta filosofia de saúde fornece os conceitos pelos quais os aderentes desse
movimento têm ordenado sua vida pessoal. Tal filosofia também levanta a
possibilidade de a própria natureza conter virtudes curativas inerentes, como
Hipócrates muito antes havia crido.


A concepção de ser humano e seus desdobramentos no movimento adventista


      A noção de dualismo em relação ao ser humano está presente em quase
todas as religiões cristãs. A crença na existência de entidades desencarnadas
(almas, espíritos, fantasmas, demônios, divindades, etc) é central em praticamente
todas as religiões contemporâneas. Entretanto, vale ressaltar que a noção de
materialidade da mente humana não é estranha ao judaísmo e aos antigos cristãos.
      Segundo Locke (1690, Bk. IV, Cap 3, S. 6):



                 Todos os grandes objetivos da moralidade e da religião estão suficientemente a
                 salvo, sem provas filosóficas da imaterialidade da alma; uma vez que é evidente
                 que nosso criador... pode e irá nos restaurar para a mesma sensibilidade em um
                 outro mundo.



      Além disso, Priestly (1977, apud Brown, 1962, p. 271), o erudito teólogo e
químico, escreveu que o materialismo "dá muita importância à doutrina da
ressurreição dos mortos‖.
      Para este mesmo autor, "o que denominamos mente, ou princípio da
percepção e do pensamento, não é uma substância diferente do corpo, mas o
resultado da organização corpórea" (p. 265). Em conseqüência, o mental cessa com
a morte, que é a decomposição; mas "tudo que é decomposto pode ser recomposto
pelo Ser que o compôs pela primeira vez" (p. 272).
      A concepção cartesiana de corpo foi retardatária no seio do cristianismo.
Deve-se ao filósofo Plotino e ao filósofo judeu Filo esta concepção de dualismo
psicofísico que não encontra sustentação nas Escrituras para os que o tem como
livro sagrado e crêem em sua mensagem como Revelação.
  O movimento adventista é defensor desta percepção materialista do corpo. Para o movimento, os
  sujeitos são unos. É o corpo que nos coloca no mundo. A síntese de nossos engajamentos nesse
22



  mundo é feita por esse corpo. Ele é a escritura viva do Ser, espaço significante, possibilidade de
  nossa instituição no mundo, do nosso habitar no espaço e no tempo.
  Esta concepção de unidade corpo/mente dá ao movimento uma dimensão integral do ser humano.
  O que afeta o corpo afeta a mente. O corpo é o veículo de ação do Ser no mundo e do ser com o
  transcendente.
  Seguindo o principio bíblico de que o corpo é o templo do Espírito Santo, os adventistas vêem
  nisto uma prerrogativa para o cuidado com o corpo. Ao longo da história do movimento,
  desenvolveram uma verdadeira busca pela compreensão integral do ser humano sabendo que
  aquilo que afeta o corpo também interfere em sua relação com o sagrado.
  Nesta perspectiva filosófica bíblica o corpo é a morada do Espírito. Ele é o canal através do qual o
  ser humano entre em contato com Deus, nesta compreensão o transcendente supremo. O corpo é
  o veículo de ação do Ser no mundo, e ter um corpo significa estar em um meio definido com o
  compromisso decorrente dessa implicação, pois com ele o homem habita o mundo e através dele
  o divino toca o mundo. A restauração da imagem do Criador não é apenas na esfera espiritual
  uma vez que estas esferas são indissociáveis. Portanto, não é possível ver nenhuma delas de
  forma isolada.



Considerações finais


      O movimento adventista desde o seu surgimento no século XIX tem se
dedicado em oferecer uma concepção de religiosidade baseada na compreensão do
ser humano como uma unidade integral, indivisível e indissociável de mente e corpo.
Tal concepção é corroborada pelo discurso do psiquiatra George F. Solomon,
(cunhou o termo ―psicoimunologia‖, depois expandido para ―psiconeuroimonologia‖
por Robert Ader) quando afirmou que ― mente e corpo não podem ser separadas...o
bem-estar físico e mental acham-se intrinsecamente entrelaçados‖
      As obras produzidas pelo movimento ao longo deste período visam orientar
seus adeptos a preservarem seu corpo/mente saudável. São obras sobre regime
alimentar, cuidados com o corpo, uso dos recursos naturais para promoção da
saúde e criação de indústrias de alimentos naturais. Vale ressaltar que o estilo de
vida defendido pelo movimento não tem nenhuma implicação determinista para
salvação. A mudança de hábitos alimentares implica melhoria na qualidade de vida
para uma religião que entende que enquanto o homem aguarda a manifestação do
dia do Senhor pode e deve viver com qualidade agora.
23




REFERÊNCIAS



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AARP Bulletim, 1993.

DEROSCHE, Henri. Dicionário de Messianismos e Milenialismos. São Bernado do
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Editora, 1991.

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Indiana University Press, 1987.

REID, George W. A Sound of Trumpets. Washington, D.C: RHPA, 1982.

WHITE,Ellen G. Parábolas de Jesus .Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1997.
24




    ASSOCIAÇÃO ENTRE PRÁTICA RELIGIOSA E DE ATIVIDADE FÍSICA EM
                 UNIVERSITÁRIOS GUANAMBIENSES

                                                   Deyvis Nascimento Rodrigues6
                                                      Aleone de Oliveira Martins7
                                               Ricardo Franklin de Freitas Mussi 8
                                Sandra Célia Coelho Gomes da Silva S de Oliveira9

INTRODUÇÃO

         Independente do período histórico e grupo social as práticas religiosas
parecem desempenhar importante papel nas relações humanas, costumando
―desempenhar papel central na experiência humana, influenciando nossa forma de
perceber os ambientes deste mundo em que vivemos e de reagir a eles‖ (GIDDENS,
2005, p.426). Podendo ser considerada importante fator nas experiências do
homem, fazendo-se necessário estudar as práticas religiosas associadas as mais
variadas atividades humanas, verificando o grau de sua interferência no cotidiano do
homem.
         A religião influencia o modo como o homem percebe o mundo, interferindo
nas relações do indivíduo com os seus semelhantes. Neste sentido Malinowski,
1988 apud Lemos (2008, p.13) expõe a sua influência na compreensão do indivíduo
quanto a si e sua identidade, segundo valores e crenças da natureza humana e
destino. Além disso, Lemos (2008, p.12) acrescenta que ―a religião é indispensável
para a sociedade por ser ela que mantém os indivíduos em relação uns com os
outros‖. Uma vez que

                      A religião consegue manter a vida em sociedade porque além dela oferecer
                      a possibilidade de que os indivíduos vivam muito bem e por muitos anos,
                      quando a concretização dessa oferta se torna impossível, a religião abre
                      ainda a possibilidade de que essa promessa se realize em um tempo, no
                      tempo futuro. (LEMOS, ano, p.16)

          Ao se pensar em indivíduos longevos e vivendo bem, deve-se pensar
prioritariamente em uma vida saudável. Terrin (1998) apud Lemos (2008, p.53)
mostra que saúde e salvação originaram-se do termo svastha e partilharam mesmo
significado, bem-estar e plenitude, por um longo período. Sendo a saúde o estado
de bem-estar e salvação, ainda é possível estabelecer a relação existente entre a
doença e a interferência de espíritos maus, possessão demoníaca e o pecado.
          Romano (1998) apud Lemos (2008, p.62) defende que ―a doença é uma
quebra de equilíbrio biopsicossocial do indivíduo e obrigatoriamente remete o
paciente à revisão de valores, ações e desencadeia mecanismos de resgate da


6
  Graduando em licenciatura plena em Educação Física – UNEB, Pesquisador LEPEAF e GAMA;
rodriguesdeyvis@yahoo.com.br
7
  Graduanda em licenciatura plena em Educação Física – UNEB;
8
  Orientador: Professor da UNEB–Campus IV; Mestrando em Saúde Coletiva – UEFS; Pesquisador
LEPEAF e GAMA;
9
  Professora da UNEB–Campus XII; Mestranda em Ciências da religião – PUC/GO;
25



condição humana e de suas relações‖. Quanto à relação saúde e religiosidade
Guimarães e Avezum (2007, p.93) dizem que:

                      a influência da religiosidade/espiritualidade tem demonstrado potencial
                      impacto sobre saúde física, definindo-se como possível fator de prevenção
                      ao desenvolvimento de doenças, na população sadia, e eventual redução
                      de óbito ou impacto de diversas doenças.

         Ainda, deve ser compreendida a idéia de que a saúde é dinâmica, variando
dentro de um continuum com pólos positivo (capacidade de apreciar a vida e resistir
aos desafios cotidianos) e negativo (relacionado às morbidades e mortalidade
prematura). (NAHAS, 2006)
         Sendo a religião construtora de entendimentos relacionados à saúde e o
bem-estar, surge a necessidade do desenvolvimento de estudos relacionando-a com
os principais fatores de promoção de saúde, inclusive quanto a pratica de atividade
física regular, uma vez que a esta vem sendo ―associada ao bem-estar, á saúde e a
qualidade de vida das pessoas em todas as faixas etárias‖ (BARROS & NAHAS,
2003, p.10).
         Caspersen, Powell & Christenson (1985) apud Pitanga (2000) definem
atividade física como qualquer movimento corporal, advindo da musculatura
esquelética, com gasto energético. Barbanti (2003, p.53) acrescenta que esta seria
representada pelo esporte, aptidão física, recreação, brincadeira, jogo e exercício.
         Na prevenção das doenças Gonçalves e Basso (2005, p.33) dizem que ela
―é compreendida como prática relevante para beneficio à saúde‖. Desta maneira, o
presente trabalho teve por objetivo identificar as relações entre o nível de Atividades
Físicas Habituais (NAFH) e prática religiosa em universitários da área da saúde das
universidades presenciais com campus em Guanambi/BA.



PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
         O trabalho possui característica descritiva (THOMAS, NELSON e
SILVERMAN, 2007, p. 29-30) Além de correlacional, neste caso representado pelo
acometimento e inter-relações da Religião e do NAFH. Finalmente apresenta
características quantitativas e qualitativas por pontuar, mensurar e avaliar variáveis
de estudo (MINAYO, 2007).
         A coleta de dados foi precedida pela instrução das questões fundamentais
do estudo, entrega e assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido.
Seguindo-se as orientações da norma regulamentadora CNS 196/96.
         O instrumento foi composto por questionário com itens sobre informações
sócio-demográficas, prática religiosa e Questionário de Atividades Físicas Habituais
(Pate apud Nahas, 2006: 46).
         Sendo importante salientar que o NAFH foi classificado em
―Insuficientemente Ativos‖ (escore inferior/igual a 11 pontos) e ―Ativos‖ (superior/igual
a 12 pontos).
         Os dados foram tabulados e analisados descritivamente e por freqüência no
SPSS 11.5 for Windows, seguida de análise correlacional em tabela cruzada entre
Religião e NAFH.

RESULTADOS
26



         Amostra foi composta por 41 avaliados, com idade de 20,85+3,4 anos,
estudantes do 1º bloco dos cursos de saúde das faculdades presenciais de
Guanambi/BA, sendo 63,4%(26) mulheres e 36,6%(15) homens, 82,9%(34)
solteiros, 12,2%(5) casados e 4,9%(2) com outra situação, 48,78%(20) católicos,
36,58%(15) evangélicos, 2,44% (1) espírita e 12,20%(5) de outra religião,
51,22%(21) insuficientemente ativos e 48,78%(20) ativos.
- Associação entre prática religiosa e Nível de
      Tabela 1 – Relação entre Religião e Nível de Atividade Física

                                                  Nível de Atividade Física
                                                  Insuficientemente Ativo
                                                  Ativo

Religião                      Católico            30% (6)                 70% (14)
                             Evangélico           86,6% (13)              13,4% (2)
                               Outra              33,4% (2)               66,6% (4)
DISCUSSÕES
         Observando-se os dados presentes na Tabela 1 nota-se há uma influencia
diferenciada entre a prática religiosa e o nível de atividade física, uma vez que70%
dos ditos católicos são considerados fisicamente ativos, no entanto 86,6% dos que
se dizem evangélicos são classificados como insuficientemente ativos, em contra
partida, os de outras religiões não houve um contingente amostral para expressar a
correlação entre as variáveis. Desta forma, nota-se que o grupo dos que se dizem
católicos é aderente a programas de atividade física, no entanto esta aderência é
comprometida no grupo dos evangélicos.
         Barbanti (1994) apud Tahara, Schwartz e Silva (2003, p.8) define aderência
como, ―a participação mantida constante em programas de exercícios, considerados
nas formas individual ou coletiva, previamente estruturados ou não‖.
         O processo de aderência não acontece por acaso, Pollock (1988) citado por
Gonçalves e Compane (2005, p.19) relata que os principais fatores que podem
afetar a aderência a programas de atividade física são:

                     Atitude em relação à atividade física; personalidade; tipos de programas de
                     exercício (freqüência, duração, intensidade e o modo da atividade); peso e
                     composição corporal; problemas médicos (lesões, nível de aptidão,
                     supervisão do grupo); estabilidade; influência do cônjuge; idade; sexo;
                     estado socioeconômico; custo e método de pagamento e fatores
                     relacionados com o tempo.

         Além destes fatores, Guarnieri (1997) mencionado por Tahara, Schwartz e
Silva (2003, p.8) descreve que os principais fatores que levam a população adulta a
aderir a programas de atividade física regular são: ―benefícios para a saúde, sentir-
se bem, controlar o peso, melhorar a aparência e reduzir o estresse‖.
         No que diz respeito aos benefícios da atividade física Carvalho et. al. (1996
p. 79) descreve que ―a saúde e a qualidade de vida do homem podem ser
preservadas e aprimoradas pela prática regular de atividade física‖ Sendo assim os
católicos estão mais propensos a atingir os benefícios a saúde, propostos pela
prática regular de atividade física do que os evangélicos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
27



        Conclui-se que a prática religiosa é um importante fator no que diz respeito à
manutenção de níveis saudáveis de atividades físicas, uma vez que, como sugerem
os resultados deste trabalho, a religião interfere na adesão a programas de atividade
física. No que diz respeito aos benefícios destes programas, nota-se que os
evangélicos se encontram em situação de risco, pois, como refere Carvalho et. al.
(1996 p. 79) ―o sedentarismo é condição indesejável e representa risco para a
saúde‘.

REFERÊNCIAS
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2003
BARROS, M.V. G. de & NAHAS, M.V. Medidas da Atividade Física: teoria e
aplicação em diversos grupos populacionais. Londrina: Midiograf, 2003.
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Esporte: atividade física e saúde. Rev Bras Med Esport. v.2, n.4, 1996.
GONÇALVES, A.; e BASSO, A. C. Atividade Física. In: GONZÁLEZ, F.J. &
FENSTERSEIFER, P.E. Dicionário Crítico de educação Física. Ijuí: Unijuí, 2005.
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FENSTERSEIFER, P.E. Dicionário Crítico de educação Física. Ijuí: Unijuí, 2005.
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ed. Porto Alegre: Artmed, 2005
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Psiq. Clín. v.34, n.1, p.88-94, 2007.
GIDDENS, Anthony. Sociologia/ Anthony Gidenns; tradução Sandra Regina Netz. 4
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MADUREIRA, A.S.; FONSECA, S.A. & MAIA, M. de F. M. Estilo de Vida e Atividade
Física Habitual de Professores de Educação Física. Revista Brasileira de
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MINAYO, M. C. de S. O Desafio do Conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde.
10ª ed. São Paulo: Hucitec, 2007.
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PITANGA, F. J. G. Testes, medidas e avaliação em Educação Física e esportes.
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TAHARA, A. K.; SCHWARTZ G. M.; SILVA K. A. Aderência e manutenção da prática
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THOMAS, J. R.; NELSON, J. K.; SILVERMAN, S. J. Métodos de pesquisa em
atividade física. Tradução Denise Regina de Sales, Márcia dos santos Dornelles. 5
ed, Porto Alegre: Artmed, 2007.
28
29




GT 2 - RELIGIÃO, VIOLÊNCIA, ETNICIDADE
E GLOBALIZAÇÃO

                                               Coordenação: Drª Irene Dias de Oliveira



Resumo: Esta mesa pretende analisar a relação entre religião, violência e
etnicidade no âmbito da sociedade globalizada, multicultural e plurirreligiosa. A
violência tem tido um aumento considerável na sociedade atual e exige reflexão
mais acurada e atenta. De outro lado a relação entre violência, religião e etnicidade
tem dado origem a polêmicas generalizadas e por vezes superficiais impedindo um
olhar mais atento e acurado para as dimensões históricas, culturais e sociais em
relação a determinados grupos étnicos. Esta mesa pretende portanto acolher
propostas que debatam e questionem a relação religião, violência e etnicidade na
sociedade atual.
Palavras-chave: religião, etnicidade e violência.
30




 AFRICANIDADE, RESISTÊNCIA CULTURAL E RELIGIOSIDADE: LEITURAS DA
      NÃO DISCIPLINARIZAÇÃO DO CORPO NA CAPOEIRA EM BELÉM.

                                                               Leila do Socorro Araújo Melo10


Resumo
        A Capoeira, manifestação da cultura afro-brasileira constitui campo
privilegiado de estudos na atualidade, porém a existência da capoeira, espécie de
jogo/luta/dança, parece remontar o Brasil colonial, mais precisamente ao contexto de
luta dos negros contra o sistema de escravidão, sendo o corpo o principal referencial
dessa resistência física e simbólica, haja vista que, nessa estrutura de extrema
dominação, ocorre o esforço de imposição de novos valores, como a língua
portuguesa, a religião católica, os costumes em geral, principalmente aos negros
escravos, parcela importante da população, que ao longo de seu desenvolvimento
cria estratégias de luta e formas de organização que se passam desde o conflito
aberto contra os senhores, bem como pela negociação11.


         1. Capoeira e Perseguição
             Tida como ―coisa de negro‖, assim como outras manifestações (o samba, o
     batuque, os afoxés) ligadas a uma tradição negro-africana no Brasil, a capoeira,
     ao longo do século XIX e início do século XX, emerge como uma prática
     associada ao universo da vagabundagem e da marginalidade, sendo duramente
     perseguida e inclusive enquadrada como crime no código penal brasileiro de
     1890, permanecendo nessa situação até a década de 30 deste século, quando é
     elevada a categoria de esporte pelo Estado Novo de Getúlio Vargas (SOARES,
     1994)

             Ao longo de sua trajetória, a prática da capoeira comportou vários
     significados. Se, no início da fase republicana, a criminalização refletia a leitura

10
   Mestre em Antropologia Social e docente do curso de Ciências da Religião da Universidade do
Estado do Pará ( leilamelo1@yahoo.com.br)
11
    Sobre o caráter de resistência negra no Brasil, uma recente produção historiográfica vem
chamando atenção para as estratégias cotidianas desenvolvidas por homens e mulheres para a
conquista da liberdade. A barganha e a negociação constituem os principais mecanismos de luta,
sendo que as imagens construídas de Zumbi (reforçando a rebelião) e ―Pai João‖ (representando a
submissão) representam dois extremos de um processo pautado sobretudo por uma zona
intermediária, na qual as formas de negociação ganham maior peso. Cf. Reis e Silva (1989),
Chalhoub (1990).
31



     que determinados seguimentos faziam a respeito da capoeiragem, como era
     definido o delito, na época imperial, momentos de tolerância e repressão se
     alternavam demonstrando o jogo de interesses do período.

             Marcos Bretas nos fornece um quadro a respeito da presença de capoeiras
     no Rio imperial e sua participação no enlace da ordem e desordem política do
     contexto.

                                   As maltas- bandos de capoeiras – tomam parte nos grandes
                                   eventos urbanos: desfilam sempre à frente das bandas de
                                   música e procissões, exibindo sua destreza e provocando
                                   tumultos {...}. Pouco a pouco eles são incorporados à
                                   atividade política, produzindo segurança ou insegurança,
                                   dependendo de quem seja o dono do comício ou da eleição.
                                   Exército das ruas, os capoeiras incorporam-se também –
                                   através das práticas do favor – às fileiras das forças
                                   regulares, tornando-se além de exímios navalhistas, agentes
                                   de polícia, a celebrar a identidade entre a ordem e a
                                   desordem (BRETAS, 1989, p. 57).



             Inserido na conjuntura política do período, o capoeira do contexto pós-
     escravista contraria, muitas vezes, a alcunha de ―vagabundo‖ e ―vadio‖, corrente
     no momento, integrando-se ao universo profissional do final do século XIX.
     Através da análise dos registros da Casa de Detenção do Rio de Janeiro, durante
     a dura repressão iniciada no alvorecer da República, Bretas chama a atenção
     para o perfil profissional dos indivíduos presos por capoeiragem. Havia uma
     diversidade de atividades que incluía “artesões, vendedores ambulantes,
     empregados nos transportes e serviços urbanos, cozinheiros, pedreiros,
     cocheiros, vendedores de bala, pescadores, etc”12, o que parece reproduzir a
     mistura que o ambiente urbano ocasionou entre os ex-escravos e o conjunto dos
     homens livres e pobres.

             Um outro momento de valorização dos capoeiras durante o Império se
     percebe na participação desses homens na Guerra do Paraguai. Atraídos pelas
     promessas de alforria, muitos cativos aumentaram os contigentes do exército
     brasileiro que, após o término do conflito, teve o seu prestígio consideravelmente
     elevado.

             Por outro lado, a presença em massa de elementos das camadas
     populares na guerra ocasionou o ressurgimento do temor, por parte das elites,
12
     BRETAS, op. cit. Pág.58.
32



     com esses seguimentos formados por ex-escravos, criminosos, desordeiros, que
     agora exibiam pelas ruas uniformes, medalhas e o título de ―heróis da pátria‖. O
     confronto se tornava inevitável, demonstrando o inconformismo com os papéis
     anteriores que esses sujeitos ocupavam na ordem social urbana (SOARES,
     2004).

              Enfim, a guerra representou uma expectativa de prestígio social e
     reconhecimento, desses soldados negros13, o que dificilmente ocorreria sem o
     conflito, e colocou em cena esses personagens de grande importância no jogo
     político da época imperial.

              Sobre a capoeira desenvolvida em Belém, Salles (1994) demonstra através
     de documentos jornalísticos e literários sobre o tema a forte presença de
     capoeiras em eventos religiosos e festas populares, demonstrando, talvez, uma
     forma particularizada de organização.

              Seguindo    as    pistas    deixadas       por    Salles,    Leal    (1997)     utilizando
     documentações distintas (obras literárias, processos-crimes, jornais, legislação,
     etc), relaciona a capoeira a outras manifestações populares na cidade de Belém
     (o carnaval, o futebol). O autor procura discutir como o discurso letrado do século
     XIX caracteriza esses personagens, atento para os locais de suas aparições e
     também para os mecanismos institucionalizados que irão agir na repressão dessa
     atividade.

                  Atualmente entre um conjunto de significados e práticas a capoeira
pode ser lida como uma linguagem cultural, que expressa a articulação de
experiências individuais e coletivas, no qual o corpo é o guardião dessa historicidade
de resistência e luta imprescindível para o conhecimento de nossas raízes.
              Nesse processo de formação identitária o aprender a ser capoeira envolve
     pontos inovadores para o campo da educação, pois sua base não se encontra em
     um modelo de conhecimento fechado, modular, e sim na elaboração do
     conhecimento pelo auto-conhecimento. Os componentes reafirmadores do educar



13
   A guarda negra formada por esses soldados, surge, como uma milícia anti-republicana, cujo símbolo era a
princesa Isabel, transformando-se em uma força de expressiva atuação na vida política da corte, cf. GOMES,
Flávio dos Santos. No meio das águas turvas: racismo e cidadania no alvorecer da República: a Guarda negra
na corte: 1888-1889. Rio de Janeiro: Estudos Afro-Asiáticos, (21) 75-96, dez. 1991, SOARES, Op. Cit. Areias
(1983).
33



  envolvem valores como identidade, confiança, companheirismo, respeito e
  lealdade, sintetizados na complexa noção de fundamentos.

        No entanto, a ambigüidade (Reis, 1997) marca o desenvolvimento da
  capoeira contemporânea. Seus vários aspectos (jogo, luta, dança) alternam-se de
  acordo com as concepções particularizadas de seus atores. Barbieri (1993, p. 54)
  demonstra o caráter ambíguo ao apresentar a capoeira como um continuum que
  tem como pólos o sentido da destruição e o sentido da cooperação. Esses pólos
  apresentam-se de modo alternado dependendo do tipo de diálogo travado e
  objetivo delimitado no desenrolar do jogo, ou seja, sua feição é dada pela
  intencionalidade e pelos preceitos que norteiam os integrantes da roda de
  capoeira, do grupo.

        Nesse sentido, a capoeira pode ser um mecanismo educacional pautado
  nos princípios da corporeidade (ludicidade, auto-percepção, liberdade e
  participação), afirmando a roda enquanto espaço de expressividade humana, de
  encontro, de troca, de reflexão sobre os valores éticos da sociedade mais geral,
  da “grande roda”; por outro lado, a capoeira pensada como mecanismo de
  eficiência física, privilegiando a competividade não crítica, que conduz ao reforço
  de valores reafirmadores da luta e, muitas vezes, geradores de conflito.

        As posturas diferenciadas diante do real expressam, portanto, os aspectos
  contraditórios desse jogo e as elaborações construídas sobre a prática. As
  escolhas seguidas por seus praticantes refletem as posturas assumidas diante da
  historicidade contraditória desse jogo.


REFERÊNCIAS


BRETAS, Marcos Luiz. Navalhas e Capoeiras: Uma outra queda. Rio de Janeiro:
Ciência Hoje, (59) 56-64, Nov. 1989.

LEAL, Luiz Augusto Pinheiro. Amolando as gambias: significados e prática da
Capoeira em Belém (1840 1853). Belém: Departamento de História/UFPa, mimeo.
Monografia de graduação em História, 1997.

MELO, Leila do Socorro Araújo. Nas trilhas da ginga: Tradição e Fundamento
construindo a prática educativa da capoeira em Belém.Belém, Laboratório de
Antropologia/UFPA, mimeo. Dissertação de Mestrado em Antropologia Social, 2000.
34



SALLES, Vicente. A defesa pessoal do negro: a capoeira no Pará. Brasília: Micro-
edição autor, 1994.

SOARES, Carlos Eugênio Líbano. A Negregada Instituição. Rio de Janeiro: Coleção
Biblioteca Carioca, 1994.




                   SOCIEDADE, POLÍTICA E MEIO AMBIENTE

                                              ROBERTO FERNANDES DE MELO



Resumo

O presente artigo, fazendo uso da pesquisa bibliográfica, faz uma análise das
relações entre sociedade e natureza, mostrando que as injustiças e violências nas
relações humanas e sociais promovem também a exploração do meio ambiente.
Desta forma as consciências políticas e ambientais caminham juntas. Ecologia e
cidadania são inseparáveis quando se pretende estabelecer um equilíbrio
socioambiental, assim os movimentos ambientais são apresentados como modelos
na busca de mudanças paradigmáticas das relações sociedade e meio ambiente.

Abstract

This article, using the literature search, analyzes the relationships between society
and nature, showing that the injustices of human and social relations also promote
the exploitation of the environment. Thus the political and environmental awareness
go together. Ecology and citizenship are inseparable when envisaging a socio-
environmental balance, and environmental movements are presented as models in
the search for a paradigm shift in relations society and environment.

Palavras Chaves: Políticas, violência, problemas socioambientais, consumismo e
movimentos ambientais.



Sociedade e natureza



As relações entre sociedade e natureza, até o século XIX, em sua compreensão
tradicional, analisava o homem e a natureza como pólos excludentes, tendo como
referência a compreensão da natureza como objeto e fonte ilimitada de recursos
para a utilização do homem. Assim afirmam Bernardes e Ferreira (2005):
35



                     A compreensão tradicional das relações entre a sociedade e a natureza
                     desenvolvidas até o século XIX, vinculadas ao processo de produção
                     capitalista, considerava o homem e a natureza como pólos excludentes,
                     tendo subjacente a concepção de uma natureza objeto, fonte ilimitada de
                     recursos à disposição do homem (p. 17).




Essa visão tradicional reflete as fases da evolução terrestre e da história humana e,
sobretudo, a fase da chamada sociedade industrial que é a mais reduzida de todas
as fases históricas anteriores. Segundo De Masi (2000):

                     Nesta longa trajetória da evolução terrestre e da história humana, a fase
                     que, segundo convencionamos, corresponde à sociedade industrial – da
                     metade do século XVIII à metade do século XX – é muito mais reduzida do
                     que todas as fases históricas anteriores, caracterizadas sucessivamente
                     pela caça, pelo pastoreio, pelo trabalho agrícola, pela grande transformação
                     mercantil (p. 12).




Existem três fenômenos que emergem da sociedade industrial , segundo de Masi
                                                                         1




(2000, p. 18 -20). O primeiro refere-se a uma convergência progressiva entre os
países industriais, que independe do regime político, como foi o caso de EUA e
URSS. O segundo consiste no crescimento das classes médias (no nível da
sociedade) e da tecno-estrutura (no nível de empresa). O terceiro, refere-se à
difusão do consumo de massa e da sociedade de massa que, segundo o mesmo
autor, é uma das mais significativas da transição da sociedade industrial para a pós
industrial. É justamente sobre as relações violentas entre sociedade de consumo e
natureza que focamos nossos estudos.

Segundo a leitura e interpretação que os autores Bernardes e Ferreira (2005) fazem
sobre as idéias de Marx em relação à sociedade e natureza, essas relações
acontecem como formas de determinada sociedade se organizar para ter acesso e
utilizar os recursos naturais existentes. Vale citar que ―na abordagem de Marx, as
relações sociedade/natureza são enfocadas em termos das formas como
determinada sociedade se organiza para o acesso e o uso dos recursos naturais‖
(p.19).

Desta forma, fica evidente que a relação com a natureza sempre acompanha as
relações sociais . Quando existem injustiças , abusos, violência e exploração nas
                2                                 3
36



relações sociais, também essas mesmas injustiças, abusos violência e exploração
aparecem nas relações com a natureza. A sociedade de consumo necessita da
produção de excedentes, esses excedentes são produzidos por meio de uma maior
exploração da natureza.

Produzir em excesso é uma condição necessária para a intensificação das relações
comerciais, desenvolvimento do capital e geração do lucro. Isso implica uma nova
forma de relacionamento com a natureza. Assim, vale apontar:

                     Sob o processo de acumulação, o capitalismo deve expandir-se
                     continuamente para sobreviver enquanto modo de produção, ocorrendo a
                     apropriação da natureza e sua transformação em meios de produção em
                     escala mundial. Com a produção da natureza nessa escala, a relação com a
                     natureza passa a ser, antes de mais nada, uma relação de valor de troca: é
                     a partir da etiqueta de preço que se coloca, na mercadoria é que se
                     determina, o destino da natureza, passando a relação com a natureza a ser
                     determinada pela lógica do valor de troca (BERNARDES e FERREIRA,
                     2005, p. 21).




O aumento do consumo e da produtividade são marcas da sociedade capitalista, tais
marcas incentivam o desperdício e com isso geram um ciclo de mais produção e
maior intensificação do consumo, e conseqüentemente, maior destruição da
natureza.

                     Como membros de uma sociedade de consumidores, na atual fase do
                     capitalismo, vivemos num mundo em que a economia se caracteriza pelo
                     desperdício, onde todas as coisas devem ser devoradas e abandonadas tão
                     rapidamente como surgem...(BERNARDES e FERREIRA, 2005, p. 21).




Podemos falar de uma crise fundamental provocada justamente pelo consumismo
exagerado. Esse tipo de comportamento se difundiu ou foi imposto praticamente ao
mundo inteiro, caracterizando e formando um tipo de civilização.

                     Qual é o primeiro sinal visível que caracteriza esse tipo de civilização? É
                     que ela produz sempre pobreza e miséria de um lado e riqueza e
                     acumulação do outro. Esse fenômeno se nota em nível mundial. Há poucos
                     países ricos e muitos países pobres. Nota-se principalmente no âmbito das
                     nações: poucos estratos beneficiados com grande abundância de bens de
                     vida (comida, meios de saúde, de moradia, de formação, de lazer) e
                     grandes maiorias carentes do que é essencial e decente para a vida.
                     Mesmo nos países chamados industrializados do hemisfério norte notamos
                     bolsões de pobreza (terceiromundialização no Primeiro Mundo) como
37



                    existem também setores opulentos no Terceiro Mundo (uma
                    primeiromundialização do Terceiro Mundo), no meio da miséria
                    generalizada (BOFF, 2005, p. 20).




Dessa forma, o espaço é modelado conforme os interesses (capitalistas)
econômicos e sociais de um determinado modelo vigente , estas relações não
                                                                    4




acontecem no mundo abstrato, mas no espaço concreto, conforme afirma de
maneira contundente Bernardes e Ferreira (2005).

                    As relações sociais e econômicas não se realizam num distanciado circuito
                    abstrato, mas, ao contrário estão solidamente inseridas numa materialidade
                    espacial. Portanto, é pelas vias espaciais que o modo de produção veicula
                    seus valores de troca e de uso, drenando os lucros obtidos neste processo
                    e funcionando como um instrumento de concentração de renda (p. 23).




A política econômica vigente gera exclusão, pobreza e exploração – do homem em
                                                         5




relação à natureza e do homem em relação ao próprio homem – sendo urgente a
escolha e aplicação de novas práticas políticas. Sobre a exclusão promovida pelo
mercado, afirma L.Boff:

                    Este tipo de mercado excludente cria níveis de pobreza mundial jamais
                    vistos. É injusto e impiedoso ver que 20%da humanidade detenham 84%
                    dos meios de vida (em 1970 eram 70%), e os 20% mais pobres tenham que
                    contentar-se com apenas 1,4% (em 1960 eram 2,3%) dos recursos. É
                    injusto e cruel manter mais de um bilhão de pessoas em extrema pobreza e
                    tolerar que 14 milhões de crianças morram antes de completar cinco dias de
                    existência (p. 8).




Essa política de exploração é uma ameaça constante ao sistema Terra. O grito dos
explorados é o grito também da Terra. As relações do homem com o homem, e do
homem com a natureza (sociedade e natureza) precisam ser direcionados por
políticas que valorizem a solidariedade e tenha compromisso com a preservação do
meio ambiente. Sobre o drama da exploração da Terra, afirma Boff (2000):

                    A este drama é preciso acrescentar a ameaça que pesa sobre o sistema
                    Terra. A aceleração do processo industrial faz com que a cada dia
                    desapareçam 10 espécies de seres vivos e 50 espécies de vegetais. O
                    equilíbrio físico–químico da Terra, construído sutilmente durante milhões e
                    milhões de anos, pode romper-se devido à irresponsabilidade humana. A
                    mesma lógica que explora as classes oprime as nações periféricas e
                    submete a Terra à pilhagem. Não são somente os pobres que gritam, grita
38



                      também a Terra sob o esgotamento sistemático de seus recursos não
                      renováveis e sob a contaminação do ar, do solo e da água...(p. 9).




Política e práticas socioambientais

Quando falamos em equilíbrio entre as relações da sociedade com a natureza é
importante afirmar a necessidade de políticas que verdadeiramente possam
contribuir para práticas efetivas de preservação. Primeiramente é necessária uma
definição do que seja política. Dallari (1999) define política como:




                      Os gregos davam o nome de polis à cidade, isto é ao lugar onde as pessoas
                      viviam juntas. E Aristóteles diz que o homem é um animal político, porque
                      nenhum ser humano vive sozinho e todos precisam da companhia de
                      outros. A própria natureza dos seres humanos é que exige que ninguém
                      viva sozinho. Assim sendo, ―política‖ se refere à vida na polis, ou seja, à
                      vida em comum, às regras de organização dessa vida, aos objetivos da
                      comunidade e às decisões sobre todos esses pontos (p.8).




Pedro Demo (2006) também faz a sua definição sobre política da seguinte forma:




                      Não vou aqui reconstruir uma discussão complexa e longa (Demo, 2002),
                      mas indicar algumas pistas mais pertinentes à nossa discussão. Desde os
                      gregos fala-se de ―zoón politikón‖ (animal político), sugerindo essa
                      expressão que o ser humano não lida apenas com estruturas às quais se
                      curva de modo geral, mas também com dinâmicas históricas, nas quais
                      pode conquistar alguma margem de manobra, como regra através da
                      habilidade de aprender e conhecer. Damos a essas dinâmicas o nome de
                      ―politicidade‖, quase sempre em referência a Paulo Freire (1997), que por
                      primeiro falou de ―politicidade da educação‖, ao discutir o desafio da
                      autonomia (p. 8).




A natureza humana necessita da vida em sociedade, portanto, o homem é um ser
social por natureza e tudo o que ele tem e realiza é tido e realizado em sociedade.
Todos os seres humanos valem exatamente a mesma coisa, por natureza todos
nascem iguais e é a sociedade que estabelece as diferenças. Assim, as diferenças
de valor entre os seres humanos são artificiais, não naturais, é contra a natureza
permitir que uns nasçam ricos e socialmente bem situados enquanto outros nascem
39



miseráveis e condenados a uma vida de sacrifícios e inferioridade social (DALLARI,
1999, p. 13).

A consciência política - e da prática da cidadania – e ambiental estão diretamente
relacionadas, não existe uma separação ou ruptura entre elas. A problemática
socioambiental amplia a consciência de suas causas sociais, podendo promover
uma maior participação política e cidadã. Assim afirma Carvalho (2008):




                     Nessa perspectiva, a introdução da problemática socioambiental na esfera
                     pública não apenas denuncia os riscos ambientais, mas também amplia a
                     consciência de suas causas sociais. Essa consciência de riscos
                     compartilhados pode atuar como força agregadora, cooperando para a
                     formação de redes de ações solidárias (p. 169).

Desta forma, as consciências ambientais e sociais caminham juntas e mostram-se
indispensáveis à convivência e sobrevivência humana. Da mesma forma, continua
Carvalho falando sobre a consciência e ação socioambiental:




                     Tais ações, por sua vez, contrapõem-se aos mecanismos de desintegração
                     social e degradação ambiental relativos à apropriação dos bens ambientais
                     por parte dos interesses privados, contribuindo assim para a preservação
                     tanto do planeta quanto dos vínculos de solidariedade social, indispensáveis
                     à convivência humana (2008, p. 169).




As questões socioambientais contribuem para ampliar a noção de cidadania e justiça
social, principalmente quando enfatiza a dimensão ambiental das lutas sociais e
apóia as ações em favor da justiça no acesso aos bens ambientais e no uso desses
bens (CARVALHO, 2008, p. 170).




Os movimentos ambientais e as questões sociais
40



Algumas mudanças ocorridas no pensamento social e ambiental foram provocadas
pelos movimentos ecologistas. A humanidade conseguiu perceber que os recursos
naturais são finitos, que a sua própria existência corre risco, e que degradação
ambiental e injustiças sociais estão interligadas.




                      Um dos mais importantes movimentos sociais dos últimos anos,
                      promovendo significantes transformações no comportamento da sociedade
                      e na organização política e econômica, foi a chamada ―revolução
                      ambiental‖. Com raízes no final do século XIX, a questão ambiental emergiu
                      após a Segunda Guerra Mundial, promovendo importantes mudanças na
                      visão do mundo. Pela primeira vez a humanidade percebeu que os recursos
                      naturais são finitos e que seu uso incorreto pode representar o fim de sua
                      própria existência (BERNARDES E FERREIRA, 2005, p. 27).




L.Boff (2005) descreve a definição e a importância dos movimentos ambientais e               10




ecológicos. Assim diz:




                      Eles constatam que os tipos de sociedade e de desenvolvimento existentes
                      não conseguem produzir riqueza sem simultaneamente produzir
                      degradação ambiental. O que o sistema industrialista produz em demasia:
                      lixo, rejeitos tóxicos, escórias radioativas, contaminação atmosférica,
                      chuvas ácidas, diminuição da camada de ozônio, envenenamento da terra,
                      das águas e do ar; numa palavra, deterioração da qualidade geral da vida. A
                      fome da população, as doenças, a falta de habitação, de educação e lazer,
                      a ruptura dos laços familiares e sociais são agressões ecológicas contra o
                      ser mais complexo da CRIAÇÃO, o ser humano, especialmente o mais
                      indefeso, que é o pobre, o excluído (p. 24).




Essas preocupações acabam promovendo uma cultura ecológica, ou seja,
despertam a consciência coletiva da responsabilidade pela sobrevivência do planeta
em sua enorme biodiversidade e pelo futuro da espécie humana (BOFF, 2005, p.
24). No entanto, são enormes os desafios enfrentados pelos movimentos
ambientalistas e ainda existe uma longa estrada para ser percorrida. Quanto maior
forem as injustiças sociais maior será o desafio a enfrentar, assim afirma Jacobi
(2003):
41



                     O movimento ecológico enfrenta no Sul, maiores desafios que no Norte,
                     devido à explosiva combinação dos problemas de degradação ambiental e
                     injustiça social. Existe uma complexa tensão entre a justiça social e o
                     ecologismo (p.23).

Jacobi (2003) continua apontando algumas dificuldades também em relação a
―distância‖ entre os movimentos, por não perceberem sua essencial semelhança,
assim diz:




                     Os setores populares do Sul (movimento sindical, movimentos populares
                     urbanos e rurais) mantêm-se distantes do discurso ecologista, apesar que
                     alguns dos objetivos mais importantes destes movimentos são
                     profundamente ecologistas (luta por condições de trabalho, saneamento
                     básico, melhoria dos serviços de saúde pública, propriedade da terra para
                     quem a trabalha) (p.23)

A visão da vida humana que o movimento ecológico traz constitui-se um novo
paradigma. Esse caráter reestruturador cultural e político se transformam em meio
de surgimento de novos partidos políticos, partidos verdes ou ecopacifistas. Esses
partidos verdes são partidos de valores que não pretendem apenas governar ou
tomar revolucionariamente o poder, pretendem sim, agir como transformadores da
cultura política introduzindo valores pós materialistas (JACOB, 2003, p. 23).

Portanto, a transformação socioambiental exige uma consciência política e prática
da cidadania; exige também um compromisso global e regional na superação da
agressão à vida, seja ela humana ou não. É necessário mais que uma ―pura
consciência ecológica‖, é preciso uma profunda consciência política voltada para
práticas efetivas de preservação, justiça social busca da paz e da promoção
humana.




Referências




BERNARDES, Júlia Adão e FERREIRA, Francisco Pontes de Miranda. A Questão
Ambiental: Diferentes Abordagens. In: Cunha e Guerra (org). - 2ª- Ed. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.
42



BOFF, Leonardo. Ética da Vida. Rio de Janeiro: Sextante, 2005.

_____________. Princípios de Compaixão e Cuidado. Petrópolis, RJ: Vozes,
2000.

BOFF, Clodovis. Teoria do Método Teológico. - 2ª- Ed. Petrópolis, RJ: Vozes,
1998.

CARVALHO, Isabel Cristina de Moura. Educação Ambiental: a formação do
sujeito ecológico. – 4 ed.- São Paulo: Cortez, 2008.

DALLARI, Dalmo de Abreu. O Que é Participação Política. São Paulo: Brasiliense,
1999. (Coleção primeiros passos; 104).

DE MASI, Domenico. A Sociedade Pós Industrial. -3ª- Ed. São Paulo: Senac São
Paulo, 2000.

DEMO, Pedr. Charme da Exclusão Social. -2ª- Ed. Campinas, SP: Autores
Associados, 2002. (Coleção polêmicas de nosso tempo; 61).

__________. Pobreza Política – a pobreza mais intensa da pobreza brasileira.
Campinas, SP: Armazém do Ipê (Autores Associados), 2006.

JACOBI, Pedro. Movimento Ambientalista no Brasil. Representação social e
complexidade de articulações de práticas coletivas. In: Ribeiro, W. (org).
Publicado em Patrimônio Ambiental – EDUSP – 2003.

LIBÂNEO, J.B. Cristianismo, humanismo e democracia. In: Bento, Fábio Régio
(org). São Paulo: Paulus, 2005. (Temas da atualidade).

SOUZA, Herbert Souza de. Como se faz Análise de Conjuntura. -20ª- Ed.
Petrópolis, RJ: vozes, 1999.
43




           JOHN LOCKE E O PRENÚNCIO DA INDIVIDUALIDADE RELIGIOSA

                                                  AZIZE MARIA YARED DE MEDEIROS14


Resumo

Este trabalho apresenta uma reflexão sobre a Carta acerca da tolerância escrita no
ano de 1689 por John Locke (1632 – 1704). Nesse texto o filósofo inglês não só
argumenta a favor da tolerância entre as religiões, uma decorrência natural do
próprio Evangelho, como também demonstra o equívoco em que se constitui a
interferência do Estado em assunto tão evidentemente privado como é a religião. O
que chama a atenção é que, nessa busca pela tolerância, Locke permite entrever os
caminhos que a religião deverá buscar, com uma acentuada defesa da instituição de
um Estado laico. A argumentação lockeana sobre a tolerância religiosa e a
simultânea instauração de um Estado laico traz como consequência, na verdade e
de forma implícita, a defesa da individualidade religiosa como meio de impedir a
violência e instaurar o respeito pelas diferenças culturais e étnicas. Do mesmo
modo, é possível antever a consolidação da individualidade religiosa nos séculos
vindouros, o que se caracterizará, de modo bastante específico, na pós-
modernidade globalizada.

Palavras-chave: Tolerância. Estado laico. Individualidade religiosa.




Com muita freqüência, a mídia internacional fornece notícias estarrecedoras sobre

conflitos religiosos espalhados pelo planeta. Regularmente são divulgados dados

sobre centenas de mortes provocadas por homens-bomba de diferentes movimentos

muçulmanos; sikhs e hindus frequentemente entram em conflito na fronteira da Índia

com o Paquistão; católicos e protestantes permanecem com os ânimos acirrados na

velha Irlanda; vilarejos cristãos são destruídos e seus moradores massacrados por

grupos muçulmanos na África; budistas e muçulmanos se agridem constantemente

na Tailândia e Miyanmar; templos e monges budistas são destruídos pelos chineses




14
     Doutoranda em Ciências da Religião pela PUC GOIÀS (azizemedeiros21@yahoo.com.br)
44



no Tibet; e o humor entre turcos, árabes e cristãos na Europa e Estados Unidos

reflete momentos de tensão e provocação mútua. Tudo isso, em nome de Deus?


Essas questões resultantes do chamado fundamentalismo religioso e suas

manifestações no mundo contemporâneo exigem uma análise que transcende os

limites de uma simples compreensão dos aspectos que caracterizam o mundo

globalizado.


      As mudanças econômicas, políticas e culturais que se sucederam nas

sociedades contemporâneas demonstram o alcance do capitalismo em escala

mundial e a inevitabilidade das transformações ocorridas no planeta. São fronteiras

que se desfazem, novas nações que surgem, intenso intercâmbio de informações,

encontros, desencontros e confrontos de etnias e de diferentes grupos sociais. A

insegurança diante do outro, o medo do desconhecido e a constante sensação de

invasão e ameaça decorrente da novidade criam situações em que as respostas

tradicionais mais comumente aceitas não apresentam soluções. Atualmente essas

situações têm-se agravado de forma intensa, pelas condições climáticas adversas.


      Esse quadro nos fez refletir sobre o longo processo histórico que orientou as

relações entre religião e política e determinou a laicização do Estado. No entanto, a

persistência   de   confrontos    religiosos,   que   ocorrem     paralelamente    à

institucionalização, em diferentes Estados, de expressões como “God save the

Queen”, “God Bless America”, “In God we trust” ou até mesmo ―Deus é Brasileiro‖,

mostra- nos que a ligação entre religião e Estado está longe de ser resolvida ou

banida do universo da chamada modernidade globalizada. Tais pensamentos nos

conduziram a uma reflexão sobre o papel significativo da intolerância humana nos
45



acontecimentos contemporâneos e, consequentemente aos escritos do filósofo

empirista inglês John Locke.


       Em    sua    Carta   acerca   da   tolerância,   escrita   em   1689,    Locke,

reconhecidamente cristão, argumenta a favor da separação entre Estado e religião,

ao discorrer sobre os deveres dos magistrados e afirmar que ―não cabe nas funções

do magistrado punir com leis e reprimir com a espada tudo o que acredita ser um

pecado contra Deus‖ (1973, p. 24). Declara com firmeza que não compete ao

magistrado civil, portanto autoridade do Estado, o cuidado das almas, porque ―o

cuidado da alma de cada homem pertence a ele próprio, tem-se de deixar a ele

próprio‖ (1973, p. 18).


       O que provoca reflexão acerca das ideias de Locke não é tanto a sua defesa

de um estado laico, uma vez que o filósofo é considerado um dos precursores do

liberalismo e ferrenho opositor do absolutismo e do chamado ―poder divino‖ dos reis,

responsável direto pelas mais absurdas e tiranas atitudes. Importa-nos, sobretudo, o

fato de que o filósofo não só esclarece as funções do Estado e da religião, mas,

principalmente, apresenta alguns princípios para a preservação da tolerância.


       É importante lembrar que na época de Locke a Inglaterra estava lidando

constantemente com embates entre católicos e protestantes e uma permanente

perseguição aos judeus e maometanos. A estes, não era permitida a construção de

templos, devia-se prestar seus cultos apenas em casa.


       É preciso também acrescentar, a título de ilustração, que o aspecto religioso

era tão determinante naquele período da história inglesa que o próprio Locke,
46



apesar de seu liberalismo incipiente, não estendia a doutrina da tolerância aos

ateus.


                       [...] os que negam a existência de Deus não devem ser de modo algum
                       tolerados. As promessas, os pactos e os juramentos, que são os vínculos
                       da sociedade humana, para um ateu não podem ter segurança ou
                       santidade, pois a supressão de Deus, ainda que apenas em pensamento,
                       dissolve tudo. Além disso, uma pessoa que solapa e destrói por seu
                       ateísmo toda religião não pode, baseada na religião, reivindicar para si
                       mesma o privilégio de tolerância. (1973, p. 30).

         Locke, inicialmente, elucida o papel da verdadeira religião. Afirma que ela não

foi instituída para manutenção da pompa exterior, do domínio eclesiástico ou do

exercício da força, mas, diz ele, ―para regular a vida dos homens segundo a virtude

e a piedade‖ (1973, p. 9); e que não poderá jamais ser denominado cristão aquele

que não combate seus próprios vícios, orgulho e luxúria. O cristão deve buscar a

santidade da vida, pureza de conduta, benignidade e brandura do espírito. Para

Locke, ninguém pode forçar outra pessoa a se tornar cristã se não tiver realmente

optado pelo cristianismo em seu próprio coração; o verdadeiro Evangelho ensina a

agir não pela força, mas pelo amor.


         O filósofo esclarece que não cabe ao magistrado civil e a nenhum outro

homem o poder sobre as almas. ‖Porque não parece‖, diz ele, que ―Deus jamais

tenha delegado autoridade a um homem sobre outro para induzir outros homens a

aceitar sua religião‖ (1973, p. 11). Segundo Locke, o poder dos magistrados consiste

em coerção, e o das religiões, na persuasão interior do espírito.


         Em seus argumentos, afirma que a tolerância deveria ser uma decorrência

natural dos ensinamentos do Evangelho. E, em tais assuntos, o Estado não poderia

jamais se imiscuir, por se tratarem de temas alheios à sua área de atuação e,

certamente, privados. Enfatiza claramente o aspecto pacífico da religião cristã e
47



propõe que os magistrados busquem outras causas para os males existentes, em

vez de que simplesmente atribuí-los à religião. Afirma Locke:


                     Não é a diversidade de opiniões (o que não pode ser evitado), mas a recusa
                     de tolerância para com os que tem opinião diversa, o que se poderia admitir,
                     que deu origem à maioria das disputas e guerras que se tem manifestado
                     no mundo cristão por causa da religião. (LOCKE, 1973, p. 33).

Locke critica de forma contundente a avareza e o desejo de domínio das autoridades

religiosas, que incitam a comunidade contra os não ortodoxos e se aliam aos

magistrados, que, segundo o filósofo, em nome de sua própria ambição e em

oposição às Leis do Evangelho, despojam-nos de suas casas e os destroem.


O filósofo insiste em que os magistrados deveriam punir e suprimir aqueles que são

assassinos, ladrões, caluniadores, sediciosos, independentemente da igreja a que

pertençam, pois sua função é defender os direitos e bens civis da comunidade. E as

autoridades eclesiásticas, que se abstenham da violência, pilhagem e de todos os

modos de perseguição, pois o seu dever é praticar a caridade, a humanidade e a

tolerância.


Para Locke, os bens civis são a vida, a liberdade, a saúde física, a libertação da dor

e a posse de coisas externas, como terras, dinheiro, móveis etc. Cabe, portanto, ao

magistrado determinar leis uniformes que assegurem ao povo em geral e ao cidadão

em particular a posse justa e a preservação desses bens da vida.


O cuidado das almas cabe à Igreja, ―sociedade de membros que se unem

voluntariamente para esse fim‖ (LOCKE, 1973, p. 13). Uma Igreja, como diz Locke,

também tem suas leis, o que devem ater-se somente aos assuntos relacionados ao

culto público de Deus. Suas armas deveriam ser: exortações, admoestações e

conselhos; e, aos teimosos e obstinados, a pena máxima: a exclusão daquela
48



determinada igreja. A excomunhão não poderia jamais despojar o indivíduo de seus

bens civis ou de suas posses, que deveriam estar sob a proteção do magistrado,

pois se referem à vida do cidadão.


Segundo Locke, o que torna as pessoas indignadas, agressivas e violentas é a

opressão e a injustiça de que são vítimas em nome da religião. Em defesa da

necessidade de separação entre religião e Estado, o filósofo afirma: ―Falemos

francamente. O magistrado teme as outras igrejas e não a sua, porque favorece e

trata bem de sua igreja, sendo severo e cruel com as outras‖ (1973, p. 30).


Locke defende a ideia de que uma religião só é útil e verdadeira se a pessoa

acredita nela como verdadeira; de nada vale, portanto, a imposição de autoridades

que tentam obrigar os súditos a pertencerem a determinada igreja, com o pretexto

de salvar-lhes a alma. Para o filósofo, os indivíduos vão à igreja por sua livre

vontade, por acreditarem nela, não por serem forçados a isso. Deve-se, diz Locke,

―deixá-los à sua própria consciência. Libertemos, assim, todos os homens de se

dominarem mutuamente em assuntos religiosos‖ (1973, p. 20).


       Para concluir esta reflexão, observa-se que, ao longo de toda sua Carta

acerca da tolerância, Locke insiste em dois aspectos fundamentais. Primeiro: a

religião é um assunto privado e, como tal, deve ser respeitada a escolha individual,

sem nenhum tipo de interferência das autoridades civis ou eclesiásticas. Segundo: a

tolerância é a única forma de evitar violência e dominação de um grupo sobre outro;

é, portanto, um princípio essencial a ser ensinado por todas as igrejas e diferentes

religiões.
49



      O que adquire um caráter surpreendente na leitura da Carta acerca da

tolerância é a constatação de que esse tema, cujo resgate é tão absolutamente

necessário nos dias atuais, já tenha sido motivo de muitas especulações filosóficas e

sociais em épocas distantes, quando o pluralismo cultural era menor e bem menos

ameaçador. O apelo à tolerância como uma virtude a ser ensinada e cultivada

representa, no mundo contemporâneo, não apenas uma questão urgente a ser

colocada na pauta das grandes negociações internacionais, mas, talvez, a única

saída possível para a sobrevivência de muitos grupos humanos. Portanto,

individualidade religiosa e tolerância deveriam ocupar o mesmo espaço na estrutura

da consciência humana. Juntas e entrelaçadas – como o próprio sagrado.


REFERÊNCIA


LOCKE, J. Carta acerca da tolerância. Tradução de Anoar Aiex. São Paulo: Abril
Cultural, 1973. Coleção Os Pensadores – vol. XVIII
50




A ORDEM DO HOSPITAL NO NOROESTE DA PENÍNSULA IBÉRICA
DURANTE A IDADE MÉDIA

                                                                                     Dirceu Marchini Neto15
     Resumo:
     A Ordem Militar e Religiosa do Hospital esteve presente na Península Ibérica desde os primeiros anos do
     século XII e atuou de forma muito significativa na região da Galiza, ao longo dos caminhos de Santiago. No
     norte de Portugal desempenhou importante papel na organização do território, além da assistência aos
     peregrinos. A existência dos Hospitalários no noroeste ibérico teve como sustentáculo as doações e privilégios
     régios e pontifícios dos reis de Castela, Leão e Portugal e dos Sumos Pontífices.




           A Ordem do Hospital foi fundada na transição do século XI para o XII, como
um fenômeno ligado ao Movimento de Cruzada. As ordens militares eram
instituições religiosas da Igreja cristã latina e suas funções primordiais eram a
defesa e a expansão da Cristandade ocidental frente ao Islã e aos demais povos
infiéis, pagãos ou heréticos. Além destes objetivos, a Ordem de São João de
Jerusalém ou do Hospital cumpriu um programa assistencial, que lhe conferiu uma
forte originalidade. Logo após serem fundadas, algumas ordens militares – aqui se
inclui a Ordem dos Hospitalários – adquiriram forte poder social, político e
econômico.
           A Ordem de São João de Jerusalém, como também era conhecida a Ordem
do Hospital, nasceu em Jerusalém como uma ordem religiosa hospitalária, que
estava dedicada ao cuidado dos pobres, enfermos e peregrinos. No ano 1113,
obteve a aprovação do Papa, passando a ser dependente diretamente do Sumo
Pontífice, e ainda no século XII transformou-se em uma ordem militar devido às
urgentes necessidades defensivas das terras cristãs do Oriente Médio. Entretanto,
apesar de sua militarização, a Ordem nunca perdeu sua inicial característica
assistencial. Esta instituição religiosa se converteu em um dos grandes poderes
atuantes nos reinos e principados do Mediterrâneo oriental, contribuindo ativamente
na defesa frente aos muçulmanos. Em poucos anos, os Hospitalários se expandiram
por todo o Ocidente europeu, passando a ser uma ordem militar supranacional. Seu

15
  O autor é mestre em História Medieval e do Renascimento pela Universidade do Porto e membro do Grupo de
Investigação     “Estudos      Medievais     e    do     Renascimento”       do     CEPESE      (Portugal)
dirceu_marchini@yahoo.com.br - . Este artigo foi escrito para ser apresentado durante o IV Congresso
Internacional em Ciências da Religião, simpósio temático “Religião, Violência, Etnicidade e Globalização”
(PUC-GO, 2010).
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A simbologia das relações de poder em Corinto

  • 1. 1 RELIGIÃO, TRANSFORMAÇÕES CULTURAIS E GLOBALIZAÇÃO IV CONGRESSO INTERNACIONAL EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO – PUC-GOIÁS Realização PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS Programa stricto sensu em Ciências da Religião Apoio CAPES – PAULINAS – PAULUS – VOZES – OIKOS – SINODAL – METODISTA Parceria Universitá di Sociologia di Padova - Dipartimento di Sociologia International Society for the Sociology of Religion (ISSR) IRENE DIAS DE OLIVEIRA IVONI RICHTER REIMER SANDRA DUARTE DE SOUZA (ORGS.)
  • 2. 2 Anais do IV Congresso Internacional em Ciências da Religião Programa em Ciências da Religião – PUC-GO GRUPOS TEMÁTICOS E RESUMOS EDIÇÃO DIGITAL – EBOOK PAULINAS ISSN 2177 – 3963 Periodicidade: anual
  • 3. 3 IV CONGRESSO INTERNACIONAL EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS TEMA RELIGIÃO, TRANSFORMAÇÕES CULTURAIS E GLOBALIZAÇÃO LOCAL: Pontifícia Universidade Católica de Goiás 27 a 29 de setembro de 2010 Goiânia, Goiás, Brasil
  • 4. 4 COMISSÃO ORGANIZADORA PRESIDENTE: Dra. Irene Dias de Oliveira MEMBROS Dra. Ivoni Richter Reimer Dr. José Carlos Avelino da Silva Dra. Maria Eliane Rosa de Souza Mndo. Adelman Soares Asevedo Dranda. Cristhyan Martins Castro Milazzo Mnda.Cilma Laurinda Freitas e Silva Mnda.Cristina Galdino de Alencar Dranda.Danielle Ventura Bandeira de Lima Drando. Eleno Marques de Araújo Dranda. Hulda Silva Cedro da Costa Mndo. Iran Lima Aragão Mndo. Israel Serique dos Santos Mnda. Luzia Ireny e Silva Dranda. Maria Cristina BonettI Mndo. Oli Santos da Costa Mnda. Sandra Célia de Oliveira Mndo. Sérgio Batista de Oliveira Ms. Uene José Gomes Drando. Welthon Rodrigues Cunha SECRETÁRIA EXECUTIVA: Geyza Pereira COMITÉ TÉCNICO CIENTÍFICO DR. AFONSO MARIA LIGÓRIO SOARES (SOTER) DR. CARLOS RIBEIRO CALDAS FILHO (UPM) DR. CRISTIAN PARKER (UNIVERSIDAD DE SANTIAGO DE CHILE) DR. ENZO PACE (UNIVERSITÁ DI PADOVA) DR. GILBRAZ DE SOUZA ARAGÃO (UNICAP) DR. GERALDO DE MORI (FAJE) DR. JUNG MO SUNG (UMESP) DR. SILAS GUERRIERO (PUC-SP) DR. MÁRIO SANCHES (PUC-PR) DR. NEY DE SOUZA (PUC-SP) DR. WILHELM WACHHOLZ (EST) DR. VALMOR DA SILVA (PUC-GO)
  • 5. 5
  • 6. 6 ÍNDICE APRESENTAÇÃO -------------------------------------------------------------------------- GRUPOS TEMÁTICOS – GTs: COMUNICAÇÕES CIENTÍFICAS GT 1 - IMPACTOS DAS TRANSFORMAÇÕES CULTURAIS E DA GLOBALIZAÇÃO NA (INTER)RELAÇÃO ENTRE RELIGIÃO E SAÚDE COORD.: Drª Carolina Teles Lemos GT 2 - RELIGIÃO, VIOLÊNCIA, ETNICIDADE E GLOBALIZAÇÃO COORD.: Drª Irene Dias de Oliveira GT 3: PROTESTANTISMO E GLOBALIZAÇÃO COORD.: Dr. Eduardo Gusmão de Quadros GT 4: SANTIDADE, PROFECIA E SABEDORIA COORD.: Dr. Valmor da Silva GT 5: TRANSE E RELIGIOSIDADE PÓS-MODERNA COORD.: Drando. Welthon Rodrigues Cunha GT 6: RELIGIÃO E MODERNIDADE COORD.: Dra. Sandra Duarte de Souza GT 7: RELIGIÃO, FILOSOFIA E GLOBALIZAÇÃO COORD.: Dra. Maria Eliane Rosa de Souza GT 8:. O SAGRADO FEMININO E A GLOBALIZAÇÃO COORD.: Dr. José Carlos Avelino da Silva e Dranda. Maria Cristina Bonetti
  • 7. 7 GT 9: RESISTÊNCIA, ASSIMILAÇÃO E ACOMODAÇÃO NA CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE NOS INÍCIOS DA IGREJA COORD.: Dra. Ivoni Richter Reimer GT 10: DEMANDAS HISTÓRICO-SOCIAIS E CUIDADO ECOLÓGICO NA TRADIÇÃO BÍBLICA COORD.: Dr. Haroldo Reimer GT 11: TRADIÇÃO HEBRAICA: HISTÓRIA, EMERGÊNCIAS E ACOMODAÇÕES CULTURAIS COORD.: Dr. Haroldo Reimer e Drando. Claude Detienne GT 12: SOFIA COMO BUSCA DAS TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS EM CORINTO COORD.: Dr. Joel Antônio Ferreira GT 13: RECUPERAÇÃO DA DIMENSÃO CRÍTICA DA FÉ DIANTE DOS DESAFIOS DA GLOBALIZAÇÃO COORD.: Dr. Élio Estanislau Gasda GT 14: JUVENTUDE E RELIGIÃO NA (PÓS) MODERNIDADE COORD.: Dr. Flávio Munhoz Sofiati GT 15: CELEBRAÇÕES FESTIVAS: A VALORIZAÇÃO DA RELIGIOSIDADE POPULAR NO BRASIL COORD.: Drando. João Guilherme da Trindade Curado e Dranda. Tereza Caroline Lobo GT 16: RELIGIOSIDADE SERTANEJA: CULTURA IDENTIDADE E GLOBALIZAÇÃO COORD.: Ângela Cristina Borges
  • 8. 8 RESUMOS RELIGIÃO, TRANSFORMAÇÕES CULTURAIS E GLOBALIZAÇÃO O Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências da Religião da Pontifícia Universidade Católica de Goiás, após uma década de atividades voltadas para a pesquisa e a produção científica sobre o fenômeno religioso e a formação de pesquisadores (as), realizou, de 27 a 30 de setembro de 2010, o seu IV Congresso Internacional em Ciências da Religião, visando discutir o tema “Religião, transformações culturais e globalização”. Desde suas primeiras edições, esses eventos contaram com o apoio da própria instituição (PUC Goiás), de editoras e livrarias (Paulus, Paulinas, Vozes) e de outras instituições locais. A partir do formato de Congresso Internacional, a CAPES vem prestando significativo apoio, o que tornou possível dar continuidade aos eventos referidos, dando assim maior visibilidade e credibilidade às pesquisas desenvolvidas no Centro-Oeste Brasileiro, em âmbito nacional e internacional. Parcerias também foram estabelecidas com a SOTER Nacional e, nesse ano, com o Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu da Universidade Metodista de São Paulo e da Universidade de Bologna e a Associazione Internazionale di Sociologia della Religione (seção italiana). O IV Congresso Internacional em Ciências da Religião contou com a participação de pesquisadores e instituições renomadas em nível nacional e internacional. Todos eles pesquisam e se debruçam sobre o tema “Religião, transformações culturais e globalização” o que possibilita maior consolidação do Programa e o amadurecimento de seus docentes e alunos envolvidos em pesquisas interdisciplinares. Além do mais contribuem para o fortalecimento de laços de internacionalização do Programa e parcerias entre docentes pesquisadores (as), fatores extremamente importantes para a pesquisa no Centro-Oeste. Os Anais dos Congressos são publicados regularmente e nesse ano contamos com o apoio da REVISTA ON-LINE CIBERTEOLOGIA para publicarmos em sua seção de ANAIS todos os resumos e as melhores comunicações científicas aprovadas e apresentadas. Em breve será também publicado o livro contendo as
  • 9. 9 grandes conferências apresentadas por pesquisadores e pesquisadoras nacionais e internacionais que estiveram presentes em nosso Congresso. Nesse número de CIBERTEOLOGIA, apresentaremos os resultados da pesquisa de teólogos(as) e cientistas da religião que apresentaram suas comunicações distribuídas pelos vários Grupos de Trabalho multidisciplinares que, apesar de terem a religião como tema central, tentaram discutir os impactos das transformações culturais e da globalização sobre ela. Portanto, é com imensa alegria que socializamos algumas das comunicações e todos os resumos de trabalhos aprovados e apresentados por nossos (as) estudantes e pesquisadores(as) presentes no IV CONGRESSO INTERNACIONAL EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO e que se debruçam sobre a religião e seus desafios em uma sociedade em constante transformação cultural. Profa. Dra. Irene Dias de Oliveira Presidente e Coordenadora do IV CONGRESSO INTERNACIONAL EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO DA PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS
  • 10. 10 GRUPOS TEMÁTICOS – GTs COMUNICAÇÕES CIENTÍFICAS
  • 11. 11 GT 1: IMPACTOS DAS TRANSFORMAÇÕES CULTURAIS E DA GLOBALIZAÇÃO NA (INTER)RELAÇÃO ENTRE RELIGIÃO E SAÚDE Coordenação: Dra. Carolina Teles Lemos Resumo: Se a reflexividade da vida social moderna consiste no fato de que as práticas sociais são constantemente examinadas e revisadas à luz de novas informações sobre estas próprias práticas, alterando constitutivamente seu caráter (Giddens), também a tradicional (inter)relação entre religião e saúde passa por essas revisões. Os impactos dessa reflexividade incidem tanto sobre a religião, que reconfigura seu olhar em relação à saúde, quanto sobre a área da saúde (pesquisadores da área, profissionais, pessoas acometidas de doenças graves ou não), que revisa suas concepções e buscas religiosas. Tendo presente essa conjuntura, o GT visa ser um espaço de debate sobre os impactos das transformações culturais e da globalização na (inter)relação entre religião e saúde. Palavras-chave: religião, saúde, transformações culturais.
  • 12. 12 A INTERFERÊNCIA DA BENZEDURA NO PROCESSO TERAPÊUTICO Filipe Gomes Gadeia Brito1 Sandra Célia C. G. S. S. Oliveira2 RESUMO O presente trabalho tem por objetivo conhecer de que forma as benzedeiras contribuem para o tratamento terapêutico e a possível cura, assim como o ritual utilizado e como ele é transmitido. Para tal, foi realizado uma pesquisa quanti/qualitativa, com informações coletadas a partir de entrevista semi-estruturada. Percebe-se que existe a interferência da benzedura no processo terapêutico e vale salientar que a mesma não exclui o tratamento médico, visto que existem determinados males onde os benzimentos não podem intervir. A prática de benzimentos alcançou ao longo dos tempos lugar de grande importância, pois os que recorrem às benzedeiras sejam movidos por uma fé no ritual, palavras e objetos utilizados, tentam encontrar ali a cura de enfermidades. A constante busca pelo estado de saúde faz com que muitos indivíduos busquem métodos e formas alternativas para o alcance do bem-estar físico, psíquico e social, sendo a benzedura uma dessa formas que alcançou grande difusão ao longo dos tempos. A benzeção realiza um dos momentos mais importantes da me-dicina [sic] popular. Nela, os artifícios e estratégias do saber popular, criados e recriados pela cultura popular rural, com os conhecimentos sobre plantas, banhos, receitas, chás, sim-patias [sic], massagens, escalda-pés, suadouros, garrafadas, medicamentos caseiros e às vezes até mesmo industrializados, se corporificam nas concepções terapêuticas da benzedeira [...]. (LEMOS, 2008, p. 71-72) O presente estudo tem como objetivo conhecer de que forma as benzedeiras contribuem para o tratamento terapêutico e a possível cura, assim como o ritual utilizado e como ele é transmitido e para isso teve como campos de estudo as cidades de Brumado, Guanambi, Macaúbas e Urandi, no estado da Bahia. A IMPORTÂNCIA DA CULTURA POPULAR NO CONTEXTO DA SAÚDE Desde os primórdios da humanidade, a busca pelo estado de saúde motivou o homem a procurar meios e formas que lhe garantissem um estado de equilíbrio. 1 Graduando em Enfermagem pela Universidade do Estado da Bahia – lippe_ggb@hotmail.com 2 Mestranda em Ciências da religião da PUC - GO e Professora auxiliar da Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Educação, Campus XII, Guanambi : sandraccgs@hotmail.com
  • 13. 13 Segundo Parker (1995), nos mais diversos lugares os indivíduos buscam amuletos, talismãs, bênçãos, e cumprem ritos, com a finalidade de evitar os males, geralmente relacionados à saúde. O ato da benzedura é uma forma cultural muito procurada por pessoas de diferentes etnias, gêneros, classes sociais, idades e religiões, a fim de obterem um estado saudável. Este ato cultural, segundo Cavalcante & Chagas (200-), teve seu início no período colonial brasileiro, bem como outras práticas médicas. Segundo Ximenes (2000, p. 273), cultura é um conjunto de costumes, atitudes, comportamentos, crenças, instituições, produções artísticas e intelectuais que caracterizam um povo. Dessa forma, a cultura popular é algo de grande importância para a formação da identidade de um povo e Gorzoni (2005, p. 69) ainda acrescenta que os benzimentos são realizados por diversas culturas, de diferentes formas possíveis e contam com o auxílio dos elementos da natureza e da religião, e todos têm o mesmo objetivo: curar, abençoar e proteger as pessoas de forças negativas do universo. A INFLUÊNCIA DA RELIGIÃO E FÉ NO PROCESSO DE CURA O homem sempre procurou o auxílio de uma força maior que o ajudasse a superar os desafios encontrados no decorrer de sua vida, isso pode ser evidenciado nas tentativas de superação das doenças, sendo estas sinônimo de caos e desordem, além de ser considerada um castigo divino. Neste sentido a religião se encontra numa concepção de intermediária entre os homens e deus(es), para assim obterem a almejada graça, como a cura da doença. Para Priori (2007apud Cavalcante & Chagas, 2000, p.4) A enfermidade era vista por muitos pregadores e padres, e também por médicos da época, como um remédio salutar para os desregramentos do espírito. Nessa perspectiva, a doença nada mais era do que o justo castigo por infrações e infidelidades perpetradas pelos seres humanos. Mesmo nos dias atuais, com o intenso desenvolvimento tecnológico e o grande avanço na área da medicina, percebe-se que uma considerável parcela da população ainda vê na religião uma forma de alcançarem a solução para os seus problemas. A relação entre saúde e religião pode ser demonstrada de diversas formas, como os ritos de imposição das mãos, benzeduras, exorcismos, curandeirismo, xamanismo, pajelança, entre outros, cada um com sua crença, mas todos convergem a um mesmo ponto: a cura das enfermidades.
  • 14. 14 No contexto de religião e saúde, a fé desempenha um papel crucial, pois acredita-se que a partir dela é que os indivíduos têm a esperança de alcançar o benefício esperado. Afirma Santo Agostinho que a fé se baseia na crença e na aceitação do que não é manifesto à razão, sendo seu objeto próprio os mistérios. Sendo assim, podemos perceber a forte relação entre o tripé religião, fé e cura, pois a religião não pode ser entendida como uma razão pura, mas sim por meio da fé, e é esta fé que impulsiona o homem a crer nos mais diversos métodos que tenham por objetivo alcançar a cura. A PRÁTICA DE BENZIMENTOS NO PROCESSO TERAPÊUTICO Parece contraditório nos dias atuais, que apesar de tantos avanços na área médica e de pesquisas no campo da saúde existirem ainda as práticas de benzedura. Comenta Cavalcante & Chagas (2000, p. 3) Diante dos avanços do saber médico-científico[...] deveria supor que práticas mágicas de intervenção no corpo estariam superadas, restando a elas o espaço da literatura ou praticadas em comunidades tradicionais. No entanto, isso não é o que a realidade mostra. O ato da benzedura, uma prática cultural que atravessou os séculos e está presente no cotidiano de muitas pessoas, consiste de um ritual em que se utilizam símbolos, palavras e gestos, e tem por finalidade o restabelecimento da saúde. As benzedeiras, também chamadas de rezadeiras, realizam o ritual de cura, motivadas pela fé. Com relação a benzeção, afirma Aguiar (200-, p. 50): As práticas de cura das mulheres benzedeiras não são um saber especializado no mesmo sentido do saber dos médicos [...] a prática das benzedeiras faz parte de uma vivência que é social, religiosa, econômica e moral ao mesmo tempo. O exercício da benzedura envolve todos os aspectos da vida da comunidade. As benzedeiras são pessoas conhecidas das famílias da comunidade, donas de casa, mães e avós, vizinhas, que, para retribuir o dom recebido de Deus, rezam e curam. Percebe-se que existe a interferência da benzedura no processo terapêutico e vale salientar que a mesma não exclui o tratamento médico, visto que existem determinados males onde os benzimentos não podem intervir. Neste caso, segundo
  • 15. 15 relatos das benzedeiras, as mesmas aconselham os clientes a procurarem o médico. A cura das enfermidades, obtidas por meio dos benzimentos, é a responsável pelo reconhecimento do ofício das benzedeiras. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS Trata-se de uma pesquisa quanti/qualitativa, com informações coletadas por meio de entrevista semi-estruturada, realizada com quatro benzedeiras e quarenta entrevistados que recorreram às práticas de benzimentos, distribuídos nas cidades de Brumado, Guanambi, Macaúbas e Urandi, no estado da Bahia. Levando-se em consideração como as benzedeiras adquiriram o dom do benzimento e de como ele pode ser transmitido, nota-se que 100% das entrevistadas adquiriram atráves de herança familiar, podendo ser transmitido a qualquer pessoa que tenha interesse em aprender. Com relação às enfermidades em que se recorrem aos benzimentos, mau-olhado e quebranto são as mais comuns. De acordo com as benzedeiras entrevistadas, as pessoas recorrem aos benzimentos porque se sentem bem com a oração que elas praticam. E as mesmas afirmam que há uma relação da cura com a fé. Quanto ao dia e horário em que realiza-se os rituais verificou-se algumas diferenças existentes. Dona Maria não reza aos domingos e nos outros dias só até às 9 hs da noite. Dona Joana reza aos domingos só em caso de urgência e nos outros dias reza normalmente, mas não às 18 hs e às 24 horas. Dona Norma e Ana rezam qualquer dia e horário, não havendo restrições. Com relação ao ritual utilizado, Dona Norma antigamente fazia uso dos ramos e após ser integrante da Renovação Carismática Católica (RCC) passou a adotar a imposição das mãos, citando passagem do Evangelho (Mc. 16), oração única e válida para todos os tipos de enfermidades. As outras utilizam ramos no seu ritual, fazendo o sinal da cruz. Dona Maria usa fitas, cartelinhas que contém as orações e cordão de São Francisco para pessoas muito neuróticas. Dona Joana usa também faca de ponta, algodão e galho seco. Dona Ana para realizar o ritual precisa de três ramos. Segundo Gorzoni (2005) os benzimentos auxiliam na superação de situações de caos, como no caso de patologias e grande parte das benzedeiras utilizam ervas, utensílios domésticos e rezas no seu ritual.
  • 16. 16 O último aspecto abordado diz respeito ao público que recorre às práticas de benzedura. Verificou-se que 75% das entrevistadas (Brumado, Guanambi e Macaúbas) atendem todos os públicos de todas as classes sociais. Entretanto, a entrevistada de Urandi atende apenas crianças, não importando a classe social pertencente. Na entrevista realizada com as dez pessoas de cada cidade que já recorreram aos benzimentos, verificou-se que a média de idade era 46 anos e são predominantemente católicos. Tratando-se de gênero, a maior parte são mulheres, representando um total de 72,5%. Com relação à obtenção de cura por parte dos benzimentos, foi constatado que 37 pessoas afirmaram ter alcançado. No quesito de enfermidades mais comuns, notou-se que a predominância era mau-olhado, vermes, dor de estômago, alcoolismo e quebranto. Foi questionado também à quem as pessoas atribuem a cura e notou-se que a maioria atribui a fé do cliente, a Deus e a fé da benzedeira. Vale salientar que os nomes citados são todos fictícios. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante das entrevistas e levantamento bibliográfico realizado, pode-se constatar que realmente as práticas de benzimento contribuem de forma positiva no processo terapêutico, isto, pois a maioria dos entrevistados relataram ter alcançado a cura por meio do ritual e também foi possível detectar que há uma forte relação da cura com a fé, seja por parte da benzedeira ou por parte do cliente. Vale salientar que por meio dos dados coletados nos questionários feitos com as benzedeiras, existem alguns malefícios onde os benzimentos não podem intervir, neste caso aconselha-se o acompanhamento médico para a realização do devido tratamento da patologia. REFERÊNCIAS AGUIAR, Gilberto Orácio de. Mulheres negras da montanha: as benzedeiras de Rio de Contas, Bahia, na recuperação da saúde. Ciberteologia - Revista de Teologia e Cultura. [S.l.]. Ano III, n. 21, p. 48-51, [200-]. CAVALCANTE, Joel Martins; CHAGAS, Waldeci Ferreira. As mulheres benzedeiras: entre o sagrado, a saúde e a política. p.1-11, [2000]. GORZONI, Priscila. Mulheres de fé. Raízes, [S.l.], p.69-76, dez. 2005.
  • 17. 17 LEMOS, Carolina Teles. Religião e Saúde: (re)significando as dores na vida cotidiana. Rio de Janeiro: Descubra, 2008. PARKER, Cristián. Religião popular e modernização capitalista: outra lógica na América Latina. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995. XIMENES, Sérgio. Minidicionário da língua portuguesa. 2.ed. São Paulo: Ediouro, 2000. 980 p.
  • 18. 18 PRINCÍPIOS E PRÁTICAS DE SAÚDE NO MOVIMENTO ADVENTISTA: A RELAÇÃO ENTRE SAÚDE E RELIGIÃO Francisco Luiz Gomes de Carvalho (PUC-SP)3 Nailton Santos de Matos (UNINOVE)4 RESUMO Este trabalho visa discutir os princípios e as práticas de saúde dentro do movimento adventista na segunda metade do século XIX. Neste período, os hábitos alimentares dos norte-americanos já não propiciavam melhores condições físicas. Os princípios fundamentais de saúde abraçados pelos adventistas vem de sua percepção da estreita relação entre saúde física e saúde espiritual. Tais princípios estão alicerçados nos trabalhos dos reformadores, médicos e fisiologistas do século XIX. Segundo White (1997: 346 ), ―tudo que nos diminui a força física enfraquece a mente e a torna menos capaz de discernir entre o bem e o mal. Ficamos menos aptos para escolher o bem, e temos menos força de vontade para fazer aquilo que sabemos ser justo‖. Compreender as práticas de saúde dentro do movimento adventista é entender o modo como este movimento vê o homem e sua relação com seu Criador. Palavras-chave: adventismo, saúde, religião, princípios, reflexividade Movimento Adventista no século XIX e seus desdobramentos no século XX O movimento adventista tem nos Estados Unidos da América o seu berço de nascimento, em um período histórico em que o ambiente político foi marcado pelo fenômeno social com as relações raciais, polarizações sociais, questões escravistas, mas também de grande efervescência religiosa. Gaustad (1975) ao descrever o ambiente religioso afirma que ―revivalistas e milenialistas, comunitários e utopistas, espiritualistas e prognosticadores, celibatários e polígamos, perfecionistas e transcendentalistas‖ compunham o cenário que anteriormente era dominado pelas organizações religiosas convencionais. Este movimento lança as suas bases ideológicas a partir do fracasso da utopia pregada por Guilherme Miller e vivida no desapontamento de 1844. É a partir 3 fluizg@yahoo.com.br 4 nailtonmatos@yahoo.com.br
  • 19. 19 desse momento que há a sistematização de crenças e a organização institucional, passando a se denominar Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD). Ao descrever as crenças particulares da IASD Derosche (2000) lista cinco crenças sucintamente, e dentre elas destaca: a prática de reforma sanitária e alimentar, como elemento da santificação pessoal. Nascida no século XIX a IASD continua a propagar suas bases ideológicas fundadas na compreensão de inspiração e inerrância da Bíblia como livro sagrado e no reconhecimento da função orientadora da profetisa Ellen G. White. Ao sugerir razões para o avanço ideológico e institucional desse movimento, Numbers (1987) atribui dentre outras, o desenvolvimento do interesse adicional pela educação, regime alimentar, cuidado médico, liberdade religiosa e observância rigorosa do descanso. Apesar de uma orientação fortemente fundada na crença dos eventos escatológicos e iminente resgate inédito dos crentes, o movimento adventista mantém investimentos consistentes em meios de solidificação de suas ideologias, bem como na propagação universal de sua mensagem, fazendo-se valer de instituições educacionais, hospitais e clínicas, fábricas de alimentos, bem como editoras e publicações. Segundo dados,5 ao redor do mundo são 7.597 instituições de ensino, 600 estabelecimentos (clinicas, hospitais, sanatórios) de saúde, 23 indústrias de alimentos, 61 editoras e 435 periódicos. A concepção de saúde nos EUA na segunda metade do século XIX O nascimento da medicina perpassa momentos de práticas de magia na antiqüíssima Babilônia, lições de Hipócrates na Grécia, medicina árabe na Idade Média até à elaboração cientifica. Difícil é a tarefa de estabelecer fronteiras nas atitudes face às doenças, por um lado marcadas pela busca constante da pesquisa cientifica no saber médico, e por outro a crença inveterada na eficácia da magia (orações ou ervas) e nos mágicos (bruxas, milagreiros, curandeiros). 5 Para ver na íntegra acesse: <http://www.adventistarchives.org/docs/ASR/ASR2008.pdf> Acesso em 05.09.2010
  • 20. 20 As noções, pressupostos, concepções acerca de saúde possuem estrita relação com o estágio do conhecimento e a idéia de ciência que lhe são contemporâneas, o que demonstra que a medicina é por natureza histórica e muitas vezes misturada à religiosidade, ingenuidade, charlatanismo e iluminismo da época. (LE GOFF, 1991) Nos Estados Unidos na primeira metade do século XIX, a medicina caminhava a passos curtos e enfrentava desafios cada vez maiores. Estatísticas de algumas cidades enumeravam uma ampla relação de causa mortis ―desde extensa variedade de febres (tifóide, tipo, ´febre pútrida´) e doenças comuns da época (cólera e sarampo).‖ (LAND, 1987). A expectativa de vida média em 1840 era de 22,6 anos e a causa mais comum de óbito era a tísica pulmonar (tuberculose). Para especialistas da época, a saúde era um estado intermediário de agitação, e a tarefa do médico consistia em ajustar o nível dessa agitação. O tratamento das doenças seguia um modelo constituído principalmente em sangria, purgação e polifármacos (REID, 1982). Na declaração do Dr. Oliver Wendell Holmes em 1860 sobre a medicina aplicada na época entende-se a gravidade do caso, pois afirma que: [...]se toda a ―matéria médica‖ empregada atualmente pudesse ser lançada no fundo do mar, seria bem melhor para a humanidade, embora bem pior para os peixes. (NUMBERS, 1976) A segunda metade do século XIX foi inundada de inovações e idéias centradas no ser humano que superaram a ordem racional e clássica do século precedente, o que inspirou reformas em diversas áreas institucionais, dentre elas a saúde. A medicina heróica e seus resultados dão lugar ao que podia ser feito com bom senso. Trata-se da multiplicação de manuais de saúde destinados àqueles que não tinham como recorrer ao médico (LAPLANTINE, 1991). Estudiosos tais como Horace Mann, James C. Jackson, Russel T. Trall, Larkin B. Coles, Dio Lewis, Joel Shew, Sylvester Graham, William A. Alcott, dentre outros exaltavam aspectos do viver saudável, mas em sua maioria os livros eram técnicos, volumosos, caros e cheios de verbosidade. Partindo de uma compreensão em que a pessoa é uma unidade indivisível de corpo, mente e espírito, e que os componentes interativos e integrativos do corpo, mente e espírito exigiam a saúde de cada componente para que todos pudessem
  • 21. 21 funcionar eficientemente, o movimento adventista estabeleceu as bases no desenvolvimento de sua Filosofia de saúde com o senso teológico de totalidade. Esta filosofia de saúde fornece os conceitos pelos quais os aderentes desse movimento têm ordenado sua vida pessoal. Tal filosofia também levanta a possibilidade de a própria natureza conter virtudes curativas inerentes, como Hipócrates muito antes havia crido. A concepção de ser humano e seus desdobramentos no movimento adventista A noção de dualismo em relação ao ser humano está presente em quase todas as religiões cristãs. A crença na existência de entidades desencarnadas (almas, espíritos, fantasmas, demônios, divindades, etc) é central em praticamente todas as religiões contemporâneas. Entretanto, vale ressaltar que a noção de materialidade da mente humana não é estranha ao judaísmo e aos antigos cristãos. Segundo Locke (1690, Bk. IV, Cap 3, S. 6): Todos os grandes objetivos da moralidade e da religião estão suficientemente a salvo, sem provas filosóficas da imaterialidade da alma; uma vez que é evidente que nosso criador... pode e irá nos restaurar para a mesma sensibilidade em um outro mundo. Além disso, Priestly (1977, apud Brown, 1962, p. 271), o erudito teólogo e químico, escreveu que o materialismo "dá muita importância à doutrina da ressurreição dos mortos‖. Para este mesmo autor, "o que denominamos mente, ou princípio da percepção e do pensamento, não é uma substância diferente do corpo, mas o resultado da organização corpórea" (p. 265). Em conseqüência, o mental cessa com a morte, que é a decomposição; mas "tudo que é decomposto pode ser recomposto pelo Ser que o compôs pela primeira vez" (p. 272). A concepção cartesiana de corpo foi retardatária no seio do cristianismo. Deve-se ao filósofo Plotino e ao filósofo judeu Filo esta concepção de dualismo psicofísico que não encontra sustentação nas Escrituras para os que o tem como livro sagrado e crêem em sua mensagem como Revelação. O movimento adventista é defensor desta percepção materialista do corpo. Para o movimento, os sujeitos são unos. É o corpo que nos coloca no mundo. A síntese de nossos engajamentos nesse
  • 22. 22 mundo é feita por esse corpo. Ele é a escritura viva do Ser, espaço significante, possibilidade de nossa instituição no mundo, do nosso habitar no espaço e no tempo. Esta concepção de unidade corpo/mente dá ao movimento uma dimensão integral do ser humano. O que afeta o corpo afeta a mente. O corpo é o veículo de ação do Ser no mundo e do ser com o transcendente. Seguindo o principio bíblico de que o corpo é o templo do Espírito Santo, os adventistas vêem nisto uma prerrogativa para o cuidado com o corpo. Ao longo da história do movimento, desenvolveram uma verdadeira busca pela compreensão integral do ser humano sabendo que aquilo que afeta o corpo também interfere em sua relação com o sagrado. Nesta perspectiva filosófica bíblica o corpo é a morada do Espírito. Ele é o canal através do qual o ser humano entre em contato com Deus, nesta compreensão o transcendente supremo. O corpo é o veículo de ação do Ser no mundo, e ter um corpo significa estar em um meio definido com o compromisso decorrente dessa implicação, pois com ele o homem habita o mundo e através dele o divino toca o mundo. A restauração da imagem do Criador não é apenas na esfera espiritual uma vez que estas esferas são indissociáveis. Portanto, não é possível ver nenhuma delas de forma isolada. Considerações finais O movimento adventista desde o seu surgimento no século XIX tem se dedicado em oferecer uma concepção de religiosidade baseada na compreensão do ser humano como uma unidade integral, indivisível e indissociável de mente e corpo. Tal concepção é corroborada pelo discurso do psiquiatra George F. Solomon, (cunhou o termo ―psicoimunologia‖, depois expandido para ―psiconeuroimonologia‖ por Robert Ader) quando afirmou que ― mente e corpo não podem ser separadas...o bem-estar físico e mental acham-se intrinsecamente entrelaçados‖ As obras produzidas pelo movimento ao longo deste período visam orientar seus adeptos a preservarem seu corpo/mente saudável. São obras sobre regime alimentar, cuidados com o corpo, uso dos recursos naturais para promoção da saúde e criação de indústrias de alimentos naturais. Vale ressaltar que o estilo de vida defendido pelo movimento não tem nenhuma implicação determinista para salvação. A mudança de hábitos alimentares implica melhoria na qualidade de vida para uma religião que entende que enquanto o homem aguarda a manifestação do dia do Senhor pode e deve viver com qualidade agora.
  • 23. 23 REFERÊNCIAS BAKER, Beth. Scientists finding more evidence of link between mind and health. AARP Bulletim, 1993. DEROSCHE, Henri. Dicionário de Messianismos e Milenialismos. São Bernado do Campo: UMESP, 2000. DOUGLAS, Herbert E. Mensageira do Senhor. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2001. GAUSTAD, Edwin, ed. The Rise of Adventism. New York: Harper & Row, 1975. LAND, Gary. The World of Ellen G. White. Washington, DC: RHPA, 1987. LAPLANTINE, François. Antropologia da Doença. São Paulo: Livraria Martins Fontes Editora, 1991. LE GOFF, Jacques. As Doenças tem História. Lisboa: TERRAMAR, 1991. NUMBERS, Ronald L. Prophetess of Health. New York: Harper & Row, 1976. Edição revisada. Knoxville, TN: The University of Tennesse Press, 1992. NUMBERS, Ronald L e Jonathan M. Butler, eds. The Disappointed. Bloomington, IN: Indiana University Press, 1987. REID, George W. A Sound of Trumpets. Washington, D.C: RHPA, 1982. WHITE,Ellen G. Parábolas de Jesus .Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1997.
  • 24. 24 ASSOCIAÇÃO ENTRE PRÁTICA RELIGIOSA E DE ATIVIDADE FÍSICA EM UNIVERSITÁRIOS GUANAMBIENSES Deyvis Nascimento Rodrigues6 Aleone de Oliveira Martins7 Ricardo Franklin de Freitas Mussi 8 Sandra Célia Coelho Gomes da Silva S de Oliveira9 INTRODUÇÃO Independente do período histórico e grupo social as práticas religiosas parecem desempenhar importante papel nas relações humanas, costumando ―desempenhar papel central na experiência humana, influenciando nossa forma de perceber os ambientes deste mundo em que vivemos e de reagir a eles‖ (GIDDENS, 2005, p.426). Podendo ser considerada importante fator nas experiências do homem, fazendo-se necessário estudar as práticas religiosas associadas as mais variadas atividades humanas, verificando o grau de sua interferência no cotidiano do homem. A religião influencia o modo como o homem percebe o mundo, interferindo nas relações do indivíduo com os seus semelhantes. Neste sentido Malinowski, 1988 apud Lemos (2008, p.13) expõe a sua influência na compreensão do indivíduo quanto a si e sua identidade, segundo valores e crenças da natureza humana e destino. Além disso, Lemos (2008, p.12) acrescenta que ―a religião é indispensável para a sociedade por ser ela que mantém os indivíduos em relação uns com os outros‖. Uma vez que A religião consegue manter a vida em sociedade porque além dela oferecer a possibilidade de que os indivíduos vivam muito bem e por muitos anos, quando a concretização dessa oferta se torna impossível, a religião abre ainda a possibilidade de que essa promessa se realize em um tempo, no tempo futuro. (LEMOS, ano, p.16) Ao se pensar em indivíduos longevos e vivendo bem, deve-se pensar prioritariamente em uma vida saudável. Terrin (1998) apud Lemos (2008, p.53) mostra que saúde e salvação originaram-se do termo svastha e partilharam mesmo significado, bem-estar e plenitude, por um longo período. Sendo a saúde o estado de bem-estar e salvação, ainda é possível estabelecer a relação existente entre a doença e a interferência de espíritos maus, possessão demoníaca e o pecado. Romano (1998) apud Lemos (2008, p.62) defende que ―a doença é uma quebra de equilíbrio biopsicossocial do indivíduo e obrigatoriamente remete o paciente à revisão de valores, ações e desencadeia mecanismos de resgate da 6 Graduando em licenciatura plena em Educação Física – UNEB, Pesquisador LEPEAF e GAMA; rodriguesdeyvis@yahoo.com.br 7 Graduanda em licenciatura plena em Educação Física – UNEB; 8 Orientador: Professor da UNEB–Campus IV; Mestrando em Saúde Coletiva – UEFS; Pesquisador LEPEAF e GAMA; 9 Professora da UNEB–Campus XII; Mestranda em Ciências da religião – PUC/GO;
  • 25. 25 condição humana e de suas relações‖. Quanto à relação saúde e religiosidade Guimarães e Avezum (2007, p.93) dizem que: a influência da religiosidade/espiritualidade tem demonstrado potencial impacto sobre saúde física, definindo-se como possível fator de prevenção ao desenvolvimento de doenças, na população sadia, e eventual redução de óbito ou impacto de diversas doenças. Ainda, deve ser compreendida a idéia de que a saúde é dinâmica, variando dentro de um continuum com pólos positivo (capacidade de apreciar a vida e resistir aos desafios cotidianos) e negativo (relacionado às morbidades e mortalidade prematura). (NAHAS, 2006) Sendo a religião construtora de entendimentos relacionados à saúde e o bem-estar, surge a necessidade do desenvolvimento de estudos relacionando-a com os principais fatores de promoção de saúde, inclusive quanto a pratica de atividade física regular, uma vez que a esta vem sendo ―associada ao bem-estar, á saúde e a qualidade de vida das pessoas em todas as faixas etárias‖ (BARROS & NAHAS, 2003, p.10). Caspersen, Powell & Christenson (1985) apud Pitanga (2000) definem atividade física como qualquer movimento corporal, advindo da musculatura esquelética, com gasto energético. Barbanti (2003, p.53) acrescenta que esta seria representada pelo esporte, aptidão física, recreação, brincadeira, jogo e exercício. Na prevenção das doenças Gonçalves e Basso (2005, p.33) dizem que ela ―é compreendida como prática relevante para beneficio à saúde‖. Desta maneira, o presente trabalho teve por objetivo identificar as relações entre o nível de Atividades Físicas Habituais (NAFH) e prática religiosa em universitários da área da saúde das universidades presenciais com campus em Guanambi/BA. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS O trabalho possui característica descritiva (THOMAS, NELSON e SILVERMAN, 2007, p. 29-30) Além de correlacional, neste caso representado pelo acometimento e inter-relações da Religião e do NAFH. Finalmente apresenta características quantitativas e qualitativas por pontuar, mensurar e avaliar variáveis de estudo (MINAYO, 2007). A coleta de dados foi precedida pela instrução das questões fundamentais do estudo, entrega e assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido. Seguindo-se as orientações da norma regulamentadora CNS 196/96. O instrumento foi composto por questionário com itens sobre informações sócio-demográficas, prática religiosa e Questionário de Atividades Físicas Habituais (Pate apud Nahas, 2006: 46). Sendo importante salientar que o NAFH foi classificado em ―Insuficientemente Ativos‖ (escore inferior/igual a 11 pontos) e ―Ativos‖ (superior/igual a 12 pontos). Os dados foram tabulados e analisados descritivamente e por freqüência no SPSS 11.5 for Windows, seguida de análise correlacional em tabela cruzada entre Religião e NAFH. RESULTADOS
  • 26. 26 Amostra foi composta por 41 avaliados, com idade de 20,85+3,4 anos, estudantes do 1º bloco dos cursos de saúde das faculdades presenciais de Guanambi/BA, sendo 63,4%(26) mulheres e 36,6%(15) homens, 82,9%(34) solteiros, 12,2%(5) casados e 4,9%(2) com outra situação, 48,78%(20) católicos, 36,58%(15) evangélicos, 2,44% (1) espírita e 12,20%(5) de outra religião, 51,22%(21) insuficientemente ativos e 48,78%(20) ativos. - Associação entre prática religiosa e Nível de Tabela 1 – Relação entre Religião e Nível de Atividade Física Nível de Atividade Física Insuficientemente Ativo Ativo Religião Católico 30% (6) 70% (14) Evangélico 86,6% (13) 13,4% (2) Outra 33,4% (2) 66,6% (4) DISCUSSÕES Observando-se os dados presentes na Tabela 1 nota-se há uma influencia diferenciada entre a prática religiosa e o nível de atividade física, uma vez que70% dos ditos católicos são considerados fisicamente ativos, no entanto 86,6% dos que se dizem evangélicos são classificados como insuficientemente ativos, em contra partida, os de outras religiões não houve um contingente amostral para expressar a correlação entre as variáveis. Desta forma, nota-se que o grupo dos que se dizem católicos é aderente a programas de atividade física, no entanto esta aderência é comprometida no grupo dos evangélicos. Barbanti (1994) apud Tahara, Schwartz e Silva (2003, p.8) define aderência como, ―a participação mantida constante em programas de exercícios, considerados nas formas individual ou coletiva, previamente estruturados ou não‖. O processo de aderência não acontece por acaso, Pollock (1988) citado por Gonçalves e Compane (2005, p.19) relata que os principais fatores que podem afetar a aderência a programas de atividade física são: Atitude em relação à atividade física; personalidade; tipos de programas de exercício (freqüência, duração, intensidade e o modo da atividade); peso e composição corporal; problemas médicos (lesões, nível de aptidão, supervisão do grupo); estabilidade; influência do cônjuge; idade; sexo; estado socioeconômico; custo e método de pagamento e fatores relacionados com o tempo. Além destes fatores, Guarnieri (1997) mencionado por Tahara, Schwartz e Silva (2003, p.8) descreve que os principais fatores que levam a população adulta a aderir a programas de atividade física regular são: ―benefícios para a saúde, sentir- se bem, controlar o peso, melhorar a aparência e reduzir o estresse‖. No que diz respeito aos benefícios da atividade física Carvalho et. al. (1996 p. 79) descreve que ―a saúde e a qualidade de vida do homem podem ser preservadas e aprimoradas pela prática regular de atividade física‖ Sendo assim os católicos estão mais propensos a atingir os benefícios a saúde, propostos pela prática regular de atividade física do que os evangélicos. CONSIDERAÇÕES FINAIS
  • 27. 27 Conclui-se que a prática religiosa é um importante fator no que diz respeito à manutenção de níveis saudáveis de atividades físicas, uma vez que, como sugerem os resultados deste trabalho, a religião interfere na adesão a programas de atividade física. No que diz respeito aos benefícios destes programas, nota-se que os evangélicos se encontram em situação de risco, pois, como refere Carvalho et. al. (1996 p. 79) ―o sedentarismo é condição indesejável e representa risco para a saúde‘. REFERÊNCIAS BARBANTI, V.J. Dicionário de Educação Física e Esporte. 2ª Ed. Barueri: Manole, 2003 BARROS, M.V. G. de & NAHAS, M.V. Medidas da Atividade Física: teoria e aplicação em diversos grupos populacionais. Londrina: Midiograf, 2003. CARVALHO, T. de; et al. Posição oficial da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte: atividade física e saúde. Rev Bras Med Esport. v.2, n.4, 1996. GONÇALVES, A.; e BASSO, A. C. Atividade Física. In: GONZÁLEZ, F.J. & FENSTERSEIFER, P.E. Dicionário Crítico de educação Física. Ijuí: Unijuí, 2005. GONÇALVES, A.; e COMPANE, R. Z. Aderência. In: GONZÁLEZ, F.J. & FENSTERSEIFER, P.E. Dicionário Crítico de educação Física. Ijuí: Unijuí, 2005. GIDDENS, Anthony. Sociologia/ Anthony Gidenns; tradução Sandra Regina Netz. 4 ed. Porto Alegre: Artmed, 2005 GUIMARÃES, H. P.; AVEZUM, A O impacto da espiritualidade na saúde física. Rev. Psiq. Clín. v.34, n.1, p.88-94, 2007. GIDDENS, Anthony. Sociologia/ Anthony Gidenns; tradução Sandra Regina Netz. 4 ed. Porto Alegre: Artmed, 2005 MADUREIRA, A.S.; FONSECA, S.A. & MAIA, M. de F. M. Estilo de Vida e Atividade Física Habitual de Professores de Educação Física. Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano. V.5, n.1, p.54-62, 2003. MINAYO, M. C. de S. O Desafio do Conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 10ª ed. São Paulo: Hucitec, 2007. NAHAS, M. V. Atividade Física, Saúde e Qualidade de Vida: conceitos e sugestões para um estilo de vida ativo. 4 ed. rev. e atual. Londrina: Midiograf, 2006. PITANGA, F. J. G. Testes, medidas e avaliação em Educação Física e esportes. Francisco José Gondim Pitanga. Salvador, 2000. TAHARA, A. K.; SCHWARTZ G. M.; SILVA K. A. Aderência e manutenção da prática de exercícios em academias Revista bras. Ci. e Mov. v.11 n.4 p. 7-12, 2003. THOMAS, J. R.; NELSON, J. K.; SILVERMAN, S. J. Métodos de pesquisa em atividade física. Tradução Denise Regina de Sales, Márcia dos santos Dornelles. 5 ed, Porto Alegre: Artmed, 2007.
  • 28. 28
  • 29. 29 GT 2 - RELIGIÃO, VIOLÊNCIA, ETNICIDADE E GLOBALIZAÇÃO Coordenação: Drª Irene Dias de Oliveira Resumo: Esta mesa pretende analisar a relação entre religião, violência e etnicidade no âmbito da sociedade globalizada, multicultural e plurirreligiosa. A violência tem tido um aumento considerável na sociedade atual e exige reflexão mais acurada e atenta. De outro lado a relação entre violência, religião e etnicidade tem dado origem a polêmicas generalizadas e por vezes superficiais impedindo um olhar mais atento e acurado para as dimensões históricas, culturais e sociais em relação a determinados grupos étnicos. Esta mesa pretende portanto acolher propostas que debatam e questionem a relação religião, violência e etnicidade na sociedade atual. Palavras-chave: religião, etnicidade e violência.
  • 30. 30 AFRICANIDADE, RESISTÊNCIA CULTURAL E RELIGIOSIDADE: LEITURAS DA NÃO DISCIPLINARIZAÇÃO DO CORPO NA CAPOEIRA EM BELÉM. Leila do Socorro Araújo Melo10 Resumo A Capoeira, manifestação da cultura afro-brasileira constitui campo privilegiado de estudos na atualidade, porém a existência da capoeira, espécie de jogo/luta/dança, parece remontar o Brasil colonial, mais precisamente ao contexto de luta dos negros contra o sistema de escravidão, sendo o corpo o principal referencial dessa resistência física e simbólica, haja vista que, nessa estrutura de extrema dominação, ocorre o esforço de imposição de novos valores, como a língua portuguesa, a religião católica, os costumes em geral, principalmente aos negros escravos, parcela importante da população, que ao longo de seu desenvolvimento cria estratégias de luta e formas de organização que se passam desde o conflito aberto contra os senhores, bem como pela negociação11. 1. Capoeira e Perseguição Tida como ―coisa de negro‖, assim como outras manifestações (o samba, o batuque, os afoxés) ligadas a uma tradição negro-africana no Brasil, a capoeira, ao longo do século XIX e início do século XX, emerge como uma prática associada ao universo da vagabundagem e da marginalidade, sendo duramente perseguida e inclusive enquadrada como crime no código penal brasileiro de 1890, permanecendo nessa situação até a década de 30 deste século, quando é elevada a categoria de esporte pelo Estado Novo de Getúlio Vargas (SOARES, 1994) Ao longo de sua trajetória, a prática da capoeira comportou vários significados. Se, no início da fase republicana, a criminalização refletia a leitura 10 Mestre em Antropologia Social e docente do curso de Ciências da Religião da Universidade do Estado do Pará ( leilamelo1@yahoo.com.br) 11 Sobre o caráter de resistência negra no Brasil, uma recente produção historiográfica vem chamando atenção para as estratégias cotidianas desenvolvidas por homens e mulheres para a conquista da liberdade. A barganha e a negociação constituem os principais mecanismos de luta, sendo que as imagens construídas de Zumbi (reforçando a rebelião) e ―Pai João‖ (representando a submissão) representam dois extremos de um processo pautado sobretudo por uma zona intermediária, na qual as formas de negociação ganham maior peso. Cf. Reis e Silva (1989), Chalhoub (1990).
  • 31. 31 que determinados seguimentos faziam a respeito da capoeiragem, como era definido o delito, na época imperial, momentos de tolerância e repressão se alternavam demonstrando o jogo de interesses do período. Marcos Bretas nos fornece um quadro a respeito da presença de capoeiras no Rio imperial e sua participação no enlace da ordem e desordem política do contexto. As maltas- bandos de capoeiras – tomam parte nos grandes eventos urbanos: desfilam sempre à frente das bandas de música e procissões, exibindo sua destreza e provocando tumultos {...}. Pouco a pouco eles são incorporados à atividade política, produzindo segurança ou insegurança, dependendo de quem seja o dono do comício ou da eleição. Exército das ruas, os capoeiras incorporam-se também – através das práticas do favor – às fileiras das forças regulares, tornando-se além de exímios navalhistas, agentes de polícia, a celebrar a identidade entre a ordem e a desordem (BRETAS, 1989, p. 57). Inserido na conjuntura política do período, o capoeira do contexto pós- escravista contraria, muitas vezes, a alcunha de ―vagabundo‖ e ―vadio‖, corrente no momento, integrando-se ao universo profissional do final do século XIX. Através da análise dos registros da Casa de Detenção do Rio de Janeiro, durante a dura repressão iniciada no alvorecer da República, Bretas chama a atenção para o perfil profissional dos indivíduos presos por capoeiragem. Havia uma diversidade de atividades que incluía “artesões, vendedores ambulantes, empregados nos transportes e serviços urbanos, cozinheiros, pedreiros, cocheiros, vendedores de bala, pescadores, etc”12, o que parece reproduzir a mistura que o ambiente urbano ocasionou entre os ex-escravos e o conjunto dos homens livres e pobres. Um outro momento de valorização dos capoeiras durante o Império se percebe na participação desses homens na Guerra do Paraguai. Atraídos pelas promessas de alforria, muitos cativos aumentaram os contigentes do exército brasileiro que, após o término do conflito, teve o seu prestígio consideravelmente elevado. Por outro lado, a presença em massa de elementos das camadas populares na guerra ocasionou o ressurgimento do temor, por parte das elites, 12 BRETAS, op. cit. Pág.58.
  • 32. 32 com esses seguimentos formados por ex-escravos, criminosos, desordeiros, que agora exibiam pelas ruas uniformes, medalhas e o título de ―heróis da pátria‖. O confronto se tornava inevitável, demonstrando o inconformismo com os papéis anteriores que esses sujeitos ocupavam na ordem social urbana (SOARES, 2004). Enfim, a guerra representou uma expectativa de prestígio social e reconhecimento, desses soldados negros13, o que dificilmente ocorreria sem o conflito, e colocou em cena esses personagens de grande importância no jogo político da época imperial. Sobre a capoeira desenvolvida em Belém, Salles (1994) demonstra através de documentos jornalísticos e literários sobre o tema a forte presença de capoeiras em eventos religiosos e festas populares, demonstrando, talvez, uma forma particularizada de organização. Seguindo as pistas deixadas por Salles, Leal (1997) utilizando documentações distintas (obras literárias, processos-crimes, jornais, legislação, etc), relaciona a capoeira a outras manifestações populares na cidade de Belém (o carnaval, o futebol). O autor procura discutir como o discurso letrado do século XIX caracteriza esses personagens, atento para os locais de suas aparições e também para os mecanismos institucionalizados que irão agir na repressão dessa atividade. Atualmente entre um conjunto de significados e práticas a capoeira pode ser lida como uma linguagem cultural, que expressa a articulação de experiências individuais e coletivas, no qual o corpo é o guardião dessa historicidade de resistência e luta imprescindível para o conhecimento de nossas raízes. Nesse processo de formação identitária o aprender a ser capoeira envolve pontos inovadores para o campo da educação, pois sua base não se encontra em um modelo de conhecimento fechado, modular, e sim na elaboração do conhecimento pelo auto-conhecimento. Os componentes reafirmadores do educar 13 A guarda negra formada por esses soldados, surge, como uma milícia anti-republicana, cujo símbolo era a princesa Isabel, transformando-se em uma força de expressiva atuação na vida política da corte, cf. GOMES, Flávio dos Santos. No meio das águas turvas: racismo e cidadania no alvorecer da República: a Guarda negra na corte: 1888-1889. Rio de Janeiro: Estudos Afro-Asiáticos, (21) 75-96, dez. 1991, SOARES, Op. Cit. Areias (1983).
  • 33. 33 envolvem valores como identidade, confiança, companheirismo, respeito e lealdade, sintetizados na complexa noção de fundamentos. No entanto, a ambigüidade (Reis, 1997) marca o desenvolvimento da capoeira contemporânea. Seus vários aspectos (jogo, luta, dança) alternam-se de acordo com as concepções particularizadas de seus atores. Barbieri (1993, p. 54) demonstra o caráter ambíguo ao apresentar a capoeira como um continuum que tem como pólos o sentido da destruição e o sentido da cooperação. Esses pólos apresentam-se de modo alternado dependendo do tipo de diálogo travado e objetivo delimitado no desenrolar do jogo, ou seja, sua feição é dada pela intencionalidade e pelos preceitos que norteiam os integrantes da roda de capoeira, do grupo. Nesse sentido, a capoeira pode ser um mecanismo educacional pautado nos princípios da corporeidade (ludicidade, auto-percepção, liberdade e participação), afirmando a roda enquanto espaço de expressividade humana, de encontro, de troca, de reflexão sobre os valores éticos da sociedade mais geral, da “grande roda”; por outro lado, a capoeira pensada como mecanismo de eficiência física, privilegiando a competividade não crítica, que conduz ao reforço de valores reafirmadores da luta e, muitas vezes, geradores de conflito. As posturas diferenciadas diante do real expressam, portanto, os aspectos contraditórios desse jogo e as elaborações construídas sobre a prática. As escolhas seguidas por seus praticantes refletem as posturas assumidas diante da historicidade contraditória desse jogo. REFERÊNCIAS BRETAS, Marcos Luiz. Navalhas e Capoeiras: Uma outra queda. Rio de Janeiro: Ciência Hoje, (59) 56-64, Nov. 1989. LEAL, Luiz Augusto Pinheiro. Amolando as gambias: significados e prática da Capoeira em Belém (1840 1853). Belém: Departamento de História/UFPa, mimeo. Monografia de graduação em História, 1997. MELO, Leila do Socorro Araújo. Nas trilhas da ginga: Tradição e Fundamento construindo a prática educativa da capoeira em Belém.Belém, Laboratório de Antropologia/UFPA, mimeo. Dissertação de Mestrado em Antropologia Social, 2000.
  • 34. 34 SALLES, Vicente. A defesa pessoal do negro: a capoeira no Pará. Brasília: Micro- edição autor, 1994. SOARES, Carlos Eugênio Líbano. A Negregada Instituição. Rio de Janeiro: Coleção Biblioteca Carioca, 1994. SOCIEDADE, POLÍTICA E MEIO AMBIENTE ROBERTO FERNANDES DE MELO Resumo O presente artigo, fazendo uso da pesquisa bibliográfica, faz uma análise das relações entre sociedade e natureza, mostrando que as injustiças e violências nas relações humanas e sociais promovem também a exploração do meio ambiente. Desta forma as consciências políticas e ambientais caminham juntas. Ecologia e cidadania são inseparáveis quando se pretende estabelecer um equilíbrio socioambiental, assim os movimentos ambientais são apresentados como modelos na busca de mudanças paradigmáticas das relações sociedade e meio ambiente. Abstract This article, using the literature search, analyzes the relationships between society and nature, showing that the injustices of human and social relations also promote the exploitation of the environment. Thus the political and environmental awareness go together. Ecology and citizenship are inseparable when envisaging a socio- environmental balance, and environmental movements are presented as models in the search for a paradigm shift in relations society and environment. Palavras Chaves: Políticas, violência, problemas socioambientais, consumismo e movimentos ambientais. Sociedade e natureza As relações entre sociedade e natureza, até o século XIX, em sua compreensão tradicional, analisava o homem e a natureza como pólos excludentes, tendo como referência a compreensão da natureza como objeto e fonte ilimitada de recursos para a utilização do homem. Assim afirmam Bernardes e Ferreira (2005):
  • 35. 35 A compreensão tradicional das relações entre a sociedade e a natureza desenvolvidas até o século XIX, vinculadas ao processo de produção capitalista, considerava o homem e a natureza como pólos excludentes, tendo subjacente a concepção de uma natureza objeto, fonte ilimitada de recursos à disposição do homem (p. 17). Essa visão tradicional reflete as fases da evolução terrestre e da história humana e, sobretudo, a fase da chamada sociedade industrial que é a mais reduzida de todas as fases históricas anteriores. Segundo De Masi (2000): Nesta longa trajetória da evolução terrestre e da história humana, a fase que, segundo convencionamos, corresponde à sociedade industrial – da metade do século XVIII à metade do século XX – é muito mais reduzida do que todas as fases históricas anteriores, caracterizadas sucessivamente pela caça, pelo pastoreio, pelo trabalho agrícola, pela grande transformação mercantil (p. 12). Existem três fenômenos que emergem da sociedade industrial , segundo de Masi 1 (2000, p. 18 -20). O primeiro refere-se a uma convergência progressiva entre os países industriais, que independe do regime político, como foi o caso de EUA e URSS. O segundo consiste no crescimento das classes médias (no nível da sociedade) e da tecno-estrutura (no nível de empresa). O terceiro, refere-se à difusão do consumo de massa e da sociedade de massa que, segundo o mesmo autor, é uma das mais significativas da transição da sociedade industrial para a pós industrial. É justamente sobre as relações violentas entre sociedade de consumo e natureza que focamos nossos estudos. Segundo a leitura e interpretação que os autores Bernardes e Ferreira (2005) fazem sobre as idéias de Marx em relação à sociedade e natureza, essas relações acontecem como formas de determinada sociedade se organizar para ter acesso e utilizar os recursos naturais existentes. Vale citar que ―na abordagem de Marx, as relações sociedade/natureza são enfocadas em termos das formas como determinada sociedade se organiza para o acesso e o uso dos recursos naturais‖ (p.19). Desta forma, fica evidente que a relação com a natureza sempre acompanha as relações sociais . Quando existem injustiças , abusos, violência e exploração nas 2 3
  • 36. 36 relações sociais, também essas mesmas injustiças, abusos violência e exploração aparecem nas relações com a natureza. A sociedade de consumo necessita da produção de excedentes, esses excedentes são produzidos por meio de uma maior exploração da natureza. Produzir em excesso é uma condição necessária para a intensificação das relações comerciais, desenvolvimento do capital e geração do lucro. Isso implica uma nova forma de relacionamento com a natureza. Assim, vale apontar: Sob o processo de acumulação, o capitalismo deve expandir-se continuamente para sobreviver enquanto modo de produção, ocorrendo a apropriação da natureza e sua transformação em meios de produção em escala mundial. Com a produção da natureza nessa escala, a relação com a natureza passa a ser, antes de mais nada, uma relação de valor de troca: é a partir da etiqueta de preço que se coloca, na mercadoria é que se determina, o destino da natureza, passando a relação com a natureza a ser determinada pela lógica do valor de troca (BERNARDES e FERREIRA, 2005, p. 21). O aumento do consumo e da produtividade são marcas da sociedade capitalista, tais marcas incentivam o desperdício e com isso geram um ciclo de mais produção e maior intensificação do consumo, e conseqüentemente, maior destruição da natureza. Como membros de uma sociedade de consumidores, na atual fase do capitalismo, vivemos num mundo em que a economia se caracteriza pelo desperdício, onde todas as coisas devem ser devoradas e abandonadas tão rapidamente como surgem...(BERNARDES e FERREIRA, 2005, p. 21). Podemos falar de uma crise fundamental provocada justamente pelo consumismo exagerado. Esse tipo de comportamento se difundiu ou foi imposto praticamente ao mundo inteiro, caracterizando e formando um tipo de civilização. Qual é o primeiro sinal visível que caracteriza esse tipo de civilização? É que ela produz sempre pobreza e miséria de um lado e riqueza e acumulação do outro. Esse fenômeno se nota em nível mundial. Há poucos países ricos e muitos países pobres. Nota-se principalmente no âmbito das nações: poucos estratos beneficiados com grande abundância de bens de vida (comida, meios de saúde, de moradia, de formação, de lazer) e grandes maiorias carentes do que é essencial e decente para a vida. Mesmo nos países chamados industrializados do hemisfério norte notamos bolsões de pobreza (terceiromundialização no Primeiro Mundo) como
  • 37. 37 existem também setores opulentos no Terceiro Mundo (uma primeiromundialização do Terceiro Mundo), no meio da miséria generalizada (BOFF, 2005, p. 20). Dessa forma, o espaço é modelado conforme os interesses (capitalistas) econômicos e sociais de um determinado modelo vigente , estas relações não 4 acontecem no mundo abstrato, mas no espaço concreto, conforme afirma de maneira contundente Bernardes e Ferreira (2005). As relações sociais e econômicas não se realizam num distanciado circuito abstrato, mas, ao contrário estão solidamente inseridas numa materialidade espacial. Portanto, é pelas vias espaciais que o modo de produção veicula seus valores de troca e de uso, drenando os lucros obtidos neste processo e funcionando como um instrumento de concentração de renda (p. 23). A política econômica vigente gera exclusão, pobreza e exploração – do homem em 5 relação à natureza e do homem em relação ao próprio homem – sendo urgente a escolha e aplicação de novas práticas políticas. Sobre a exclusão promovida pelo mercado, afirma L.Boff: Este tipo de mercado excludente cria níveis de pobreza mundial jamais vistos. É injusto e impiedoso ver que 20%da humanidade detenham 84% dos meios de vida (em 1970 eram 70%), e os 20% mais pobres tenham que contentar-se com apenas 1,4% (em 1960 eram 2,3%) dos recursos. É injusto e cruel manter mais de um bilhão de pessoas em extrema pobreza e tolerar que 14 milhões de crianças morram antes de completar cinco dias de existência (p. 8). Essa política de exploração é uma ameaça constante ao sistema Terra. O grito dos explorados é o grito também da Terra. As relações do homem com o homem, e do homem com a natureza (sociedade e natureza) precisam ser direcionados por políticas que valorizem a solidariedade e tenha compromisso com a preservação do meio ambiente. Sobre o drama da exploração da Terra, afirma Boff (2000): A este drama é preciso acrescentar a ameaça que pesa sobre o sistema Terra. A aceleração do processo industrial faz com que a cada dia desapareçam 10 espécies de seres vivos e 50 espécies de vegetais. O equilíbrio físico–químico da Terra, construído sutilmente durante milhões e milhões de anos, pode romper-se devido à irresponsabilidade humana. A mesma lógica que explora as classes oprime as nações periféricas e submete a Terra à pilhagem. Não são somente os pobres que gritam, grita
  • 38. 38 também a Terra sob o esgotamento sistemático de seus recursos não renováveis e sob a contaminação do ar, do solo e da água...(p. 9). Política e práticas socioambientais Quando falamos em equilíbrio entre as relações da sociedade com a natureza é importante afirmar a necessidade de políticas que verdadeiramente possam contribuir para práticas efetivas de preservação. Primeiramente é necessária uma definição do que seja política. Dallari (1999) define política como: Os gregos davam o nome de polis à cidade, isto é ao lugar onde as pessoas viviam juntas. E Aristóteles diz que o homem é um animal político, porque nenhum ser humano vive sozinho e todos precisam da companhia de outros. A própria natureza dos seres humanos é que exige que ninguém viva sozinho. Assim sendo, ―política‖ se refere à vida na polis, ou seja, à vida em comum, às regras de organização dessa vida, aos objetivos da comunidade e às decisões sobre todos esses pontos (p.8). Pedro Demo (2006) também faz a sua definição sobre política da seguinte forma: Não vou aqui reconstruir uma discussão complexa e longa (Demo, 2002), mas indicar algumas pistas mais pertinentes à nossa discussão. Desde os gregos fala-se de ―zoón politikón‖ (animal político), sugerindo essa expressão que o ser humano não lida apenas com estruturas às quais se curva de modo geral, mas também com dinâmicas históricas, nas quais pode conquistar alguma margem de manobra, como regra através da habilidade de aprender e conhecer. Damos a essas dinâmicas o nome de ―politicidade‖, quase sempre em referência a Paulo Freire (1997), que por primeiro falou de ―politicidade da educação‖, ao discutir o desafio da autonomia (p. 8). A natureza humana necessita da vida em sociedade, portanto, o homem é um ser social por natureza e tudo o que ele tem e realiza é tido e realizado em sociedade. Todos os seres humanos valem exatamente a mesma coisa, por natureza todos nascem iguais e é a sociedade que estabelece as diferenças. Assim, as diferenças de valor entre os seres humanos são artificiais, não naturais, é contra a natureza permitir que uns nasçam ricos e socialmente bem situados enquanto outros nascem
  • 39. 39 miseráveis e condenados a uma vida de sacrifícios e inferioridade social (DALLARI, 1999, p. 13). A consciência política - e da prática da cidadania – e ambiental estão diretamente relacionadas, não existe uma separação ou ruptura entre elas. A problemática socioambiental amplia a consciência de suas causas sociais, podendo promover uma maior participação política e cidadã. Assim afirma Carvalho (2008): Nessa perspectiva, a introdução da problemática socioambiental na esfera pública não apenas denuncia os riscos ambientais, mas também amplia a consciência de suas causas sociais. Essa consciência de riscos compartilhados pode atuar como força agregadora, cooperando para a formação de redes de ações solidárias (p. 169). Desta forma, as consciências ambientais e sociais caminham juntas e mostram-se indispensáveis à convivência e sobrevivência humana. Da mesma forma, continua Carvalho falando sobre a consciência e ação socioambiental: Tais ações, por sua vez, contrapõem-se aos mecanismos de desintegração social e degradação ambiental relativos à apropriação dos bens ambientais por parte dos interesses privados, contribuindo assim para a preservação tanto do planeta quanto dos vínculos de solidariedade social, indispensáveis à convivência humana (2008, p. 169). As questões socioambientais contribuem para ampliar a noção de cidadania e justiça social, principalmente quando enfatiza a dimensão ambiental das lutas sociais e apóia as ações em favor da justiça no acesso aos bens ambientais e no uso desses bens (CARVALHO, 2008, p. 170). Os movimentos ambientais e as questões sociais
  • 40. 40 Algumas mudanças ocorridas no pensamento social e ambiental foram provocadas pelos movimentos ecologistas. A humanidade conseguiu perceber que os recursos naturais são finitos, que a sua própria existência corre risco, e que degradação ambiental e injustiças sociais estão interligadas. Um dos mais importantes movimentos sociais dos últimos anos, promovendo significantes transformações no comportamento da sociedade e na organização política e econômica, foi a chamada ―revolução ambiental‖. Com raízes no final do século XIX, a questão ambiental emergiu após a Segunda Guerra Mundial, promovendo importantes mudanças na visão do mundo. Pela primeira vez a humanidade percebeu que os recursos naturais são finitos e que seu uso incorreto pode representar o fim de sua própria existência (BERNARDES E FERREIRA, 2005, p. 27). L.Boff (2005) descreve a definição e a importância dos movimentos ambientais e 10 ecológicos. Assim diz: Eles constatam que os tipos de sociedade e de desenvolvimento existentes não conseguem produzir riqueza sem simultaneamente produzir degradação ambiental. O que o sistema industrialista produz em demasia: lixo, rejeitos tóxicos, escórias radioativas, contaminação atmosférica, chuvas ácidas, diminuição da camada de ozônio, envenenamento da terra, das águas e do ar; numa palavra, deterioração da qualidade geral da vida. A fome da população, as doenças, a falta de habitação, de educação e lazer, a ruptura dos laços familiares e sociais são agressões ecológicas contra o ser mais complexo da CRIAÇÃO, o ser humano, especialmente o mais indefeso, que é o pobre, o excluído (p. 24). Essas preocupações acabam promovendo uma cultura ecológica, ou seja, despertam a consciência coletiva da responsabilidade pela sobrevivência do planeta em sua enorme biodiversidade e pelo futuro da espécie humana (BOFF, 2005, p. 24). No entanto, são enormes os desafios enfrentados pelos movimentos ambientalistas e ainda existe uma longa estrada para ser percorrida. Quanto maior forem as injustiças sociais maior será o desafio a enfrentar, assim afirma Jacobi (2003):
  • 41. 41 O movimento ecológico enfrenta no Sul, maiores desafios que no Norte, devido à explosiva combinação dos problemas de degradação ambiental e injustiça social. Existe uma complexa tensão entre a justiça social e o ecologismo (p.23). Jacobi (2003) continua apontando algumas dificuldades também em relação a ―distância‖ entre os movimentos, por não perceberem sua essencial semelhança, assim diz: Os setores populares do Sul (movimento sindical, movimentos populares urbanos e rurais) mantêm-se distantes do discurso ecologista, apesar que alguns dos objetivos mais importantes destes movimentos são profundamente ecologistas (luta por condições de trabalho, saneamento básico, melhoria dos serviços de saúde pública, propriedade da terra para quem a trabalha) (p.23) A visão da vida humana que o movimento ecológico traz constitui-se um novo paradigma. Esse caráter reestruturador cultural e político se transformam em meio de surgimento de novos partidos políticos, partidos verdes ou ecopacifistas. Esses partidos verdes são partidos de valores que não pretendem apenas governar ou tomar revolucionariamente o poder, pretendem sim, agir como transformadores da cultura política introduzindo valores pós materialistas (JACOB, 2003, p. 23). Portanto, a transformação socioambiental exige uma consciência política e prática da cidadania; exige também um compromisso global e regional na superação da agressão à vida, seja ela humana ou não. É necessário mais que uma ―pura consciência ecológica‖, é preciso uma profunda consciência política voltada para práticas efetivas de preservação, justiça social busca da paz e da promoção humana. Referências BERNARDES, Júlia Adão e FERREIRA, Francisco Pontes de Miranda. A Questão Ambiental: Diferentes Abordagens. In: Cunha e Guerra (org). - 2ª- Ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.
  • 42. 42 BOFF, Leonardo. Ética da Vida. Rio de Janeiro: Sextante, 2005. _____________. Princípios de Compaixão e Cuidado. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000. BOFF, Clodovis. Teoria do Método Teológico. - 2ª- Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998. CARVALHO, Isabel Cristina de Moura. Educação Ambiental: a formação do sujeito ecológico. – 4 ed.- São Paulo: Cortez, 2008. DALLARI, Dalmo de Abreu. O Que é Participação Política. São Paulo: Brasiliense, 1999. (Coleção primeiros passos; 104). DE MASI, Domenico. A Sociedade Pós Industrial. -3ª- Ed. São Paulo: Senac São Paulo, 2000. DEMO, Pedr. Charme da Exclusão Social. -2ª- Ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2002. (Coleção polêmicas de nosso tempo; 61). __________. Pobreza Política – a pobreza mais intensa da pobreza brasileira. Campinas, SP: Armazém do Ipê (Autores Associados), 2006. JACOBI, Pedro. Movimento Ambientalista no Brasil. Representação social e complexidade de articulações de práticas coletivas. In: Ribeiro, W. (org). Publicado em Patrimônio Ambiental – EDUSP – 2003. LIBÂNEO, J.B. Cristianismo, humanismo e democracia. In: Bento, Fábio Régio (org). São Paulo: Paulus, 2005. (Temas da atualidade). SOUZA, Herbert Souza de. Como se faz Análise de Conjuntura. -20ª- Ed. Petrópolis, RJ: vozes, 1999.
  • 43. 43 JOHN LOCKE E O PRENÚNCIO DA INDIVIDUALIDADE RELIGIOSA AZIZE MARIA YARED DE MEDEIROS14 Resumo Este trabalho apresenta uma reflexão sobre a Carta acerca da tolerância escrita no ano de 1689 por John Locke (1632 – 1704). Nesse texto o filósofo inglês não só argumenta a favor da tolerância entre as religiões, uma decorrência natural do próprio Evangelho, como também demonstra o equívoco em que se constitui a interferência do Estado em assunto tão evidentemente privado como é a religião. O que chama a atenção é que, nessa busca pela tolerância, Locke permite entrever os caminhos que a religião deverá buscar, com uma acentuada defesa da instituição de um Estado laico. A argumentação lockeana sobre a tolerância religiosa e a simultânea instauração de um Estado laico traz como consequência, na verdade e de forma implícita, a defesa da individualidade religiosa como meio de impedir a violência e instaurar o respeito pelas diferenças culturais e étnicas. Do mesmo modo, é possível antever a consolidação da individualidade religiosa nos séculos vindouros, o que se caracterizará, de modo bastante específico, na pós- modernidade globalizada. Palavras-chave: Tolerância. Estado laico. Individualidade religiosa. Com muita freqüência, a mídia internacional fornece notícias estarrecedoras sobre conflitos religiosos espalhados pelo planeta. Regularmente são divulgados dados sobre centenas de mortes provocadas por homens-bomba de diferentes movimentos muçulmanos; sikhs e hindus frequentemente entram em conflito na fronteira da Índia com o Paquistão; católicos e protestantes permanecem com os ânimos acirrados na velha Irlanda; vilarejos cristãos são destruídos e seus moradores massacrados por grupos muçulmanos na África; budistas e muçulmanos se agridem constantemente na Tailândia e Miyanmar; templos e monges budistas são destruídos pelos chineses 14 Doutoranda em Ciências da Religião pela PUC GOIÀS (azizemedeiros21@yahoo.com.br)
  • 44. 44 no Tibet; e o humor entre turcos, árabes e cristãos na Europa e Estados Unidos reflete momentos de tensão e provocação mútua. Tudo isso, em nome de Deus? Essas questões resultantes do chamado fundamentalismo religioso e suas manifestações no mundo contemporâneo exigem uma análise que transcende os limites de uma simples compreensão dos aspectos que caracterizam o mundo globalizado. As mudanças econômicas, políticas e culturais que se sucederam nas sociedades contemporâneas demonstram o alcance do capitalismo em escala mundial e a inevitabilidade das transformações ocorridas no planeta. São fronteiras que se desfazem, novas nações que surgem, intenso intercâmbio de informações, encontros, desencontros e confrontos de etnias e de diferentes grupos sociais. A insegurança diante do outro, o medo do desconhecido e a constante sensação de invasão e ameaça decorrente da novidade criam situações em que as respostas tradicionais mais comumente aceitas não apresentam soluções. Atualmente essas situações têm-se agravado de forma intensa, pelas condições climáticas adversas. Esse quadro nos fez refletir sobre o longo processo histórico que orientou as relações entre religião e política e determinou a laicização do Estado. No entanto, a persistência de confrontos religiosos, que ocorrem paralelamente à institucionalização, em diferentes Estados, de expressões como “God save the Queen”, “God Bless America”, “In God we trust” ou até mesmo ―Deus é Brasileiro‖, mostra- nos que a ligação entre religião e Estado está longe de ser resolvida ou banida do universo da chamada modernidade globalizada. Tais pensamentos nos conduziram a uma reflexão sobre o papel significativo da intolerância humana nos
  • 45. 45 acontecimentos contemporâneos e, consequentemente aos escritos do filósofo empirista inglês John Locke. Em sua Carta acerca da tolerância, escrita em 1689, Locke, reconhecidamente cristão, argumenta a favor da separação entre Estado e religião, ao discorrer sobre os deveres dos magistrados e afirmar que ―não cabe nas funções do magistrado punir com leis e reprimir com a espada tudo o que acredita ser um pecado contra Deus‖ (1973, p. 24). Declara com firmeza que não compete ao magistrado civil, portanto autoridade do Estado, o cuidado das almas, porque ―o cuidado da alma de cada homem pertence a ele próprio, tem-se de deixar a ele próprio‖ (1973, p. 18). O que provoca reflexão acerca das ideias de Locke não é tanto a sua defesa de um estado laico, uma vez que o filósofo é considerado um dos precursores do liberalismo e ferrenho opositor do absolutismo e do chamado ―poder divino‖ dos reis, responsável direto pelas mais absurdas e tiranas atitudes. Importa-nos, sobretudo, o fato de que o filósofo não só esclarece as funções do Estado e da religião, mas, principalmente, apresenta alguns princípios para a preservação da tolerância. É importante lembrar que na época de Locke a Inglaterra estava lidando constantemente com embates entre católicos e protestantes e uma permanente perseguição aos judeus e maometanos. A estes, não era permitida a construção de templos, devia-se prestar seus cultos apenas em casa. É preciso também acrescentar, a título de ilustração, que o aspecto religioso era tão determinante naquele período da história inglesa que o próprio Locke,
  • 46. 46 apesar de seu liberalismo incipiente, não estendia a doutrina da tolerância aos ateus. [...] os que negam a existência de Deus não devem ser de modo algum tolerados. As promessas, os pactos e os juramentos, que são os vínculos da sociedade humana, para um ateu não podem ter segurança ou santidade, pois a supressão de Deus, ainda que apenas em pensamento, dissolve tudo. Além disso, uma pessoa que solapa e destrói por seu ateísmo toda religião não pode, baseada na religião, reivindicar para si mesma o privilégio de tolerância. (1973, p. 30). Locke, inicialmente, elucida o papel da verdadeira religião. Afirma que ela não foi instituída para manutenção da pompa exterior, do domínio eclesiástico ou do exercício da força, mas, diz ele, ―para regular a vida dos homens segundo a virtude e a piedade‖ (1973, p. 9); e que não poderá jamais ser denominado cristão aquele que não combate seus próprios vícios, orgulho e luxúria. O cristão deve buscar a santidade da vida, pureza de conduta, benignidade e brandura do espírito. Para Locke, ninguém pode forçar outra pessoa a se tornar cristã se não tiver realmente optado pelo cristianismo em seu próprio coração; o verdadeiro Evangelho ensina a agir não pela força, mas pelo amor. O filósofo esclarece que não cabe ao magistrado civil e a nenhum outro homem o poder sobre as almas. ‖Porque não parece‖, diz ele, que ―Deus jamais tenha delegado autoridade a um homem sobre outro para induzir outros homens a aceitar sua religião‖ (1973, p. 11). Segundo Locke, o poder dos magistrados consiste em coerção, e o das religiões, na persuasão interior do espírito. Em seus argumentos, afirma que a tolerância deveria ser uma decorrência natural dos ensinamentos do Evangelho. E, em tais assuntos, o Estado não poderia jamais se imiscuir, por se tratarem de temas alheios à sua área de atuação e, certamente, privados. Enfatiza claramente o aspecto pacífico da religião cristã e
  • 47. 47 propõe que os magistrados busquem outras causas para os males existentes, em vez de que simplesmente atribuí-los à religião. Afirma Locke: Não é a diversidade de opiniões (o que não pode ser evitado), mas a recusa de tolerância para com os que tem opinião diversa, o que se poderia admitir, que deu origem à maioria das disputas e guerras que se tem manifestado no mundo cristão por causa da religião. (LOCKE, 1973, p. 33). Locke critica de forma contundente a avareza e o desejo de domínio das autoridades religiosas, que incitam a comunidade contra os não ortodoxos e se aliam aos magistrados, que, segundo o filósofo, em nome de sua própria ambição e em oposição às Leis do Evangelho, despojam-nos de suas casas e os destroem. O filósofo insiste em que os magistrados deveriam punir e suprimir aqueles que são assassinos, ladrões, caluniadores, sediciosos, independentemente da igreja a que pertençam, pois sua função é defender os direitos e bens civis da comunidade. E as autoridades eclesiásticas, que se abstenham da violência, pilhagem e de todos os modos de perseguição, pois o seu dever é praticar a caridade, a humanidade e a tolerância. Para Locke, os bens civis são a vida, a liberdade, a saúde física, a libertação da dor e a posse de coisas externas, como terras, dinheiro, móveis etc. Cabe, portanto, ao magistrado determinar leis uniformes que assegurem ao povo em geral e ao cidadão em particular a posse justa e a preservação desses bens da vida. O cuidado das almas cabe à Igreja, ―sociedade de membros que se unem voluntariamente para esse fim‖ (LOCKE, 1973, p. 13). Uma Igreja, como diz Locke, também tem suas leis, o que devem ater-se somente aos assuntos relacionados ao culto público de Deus. Suas armas deveriam ser: exortações, admoestações e conselhos; e, aos teimosos e obstinados, a pena máxima: a exclusão daquela
  • 48. 48 determinada igreja. A excomunhão não poderia jamais despojar o indivíduo de seus bens civis ou de suas posses, que deveriam estar sob a proteção do magistrado, pois se referem à vida do cidadão. Segundo Locke, o que torna as pessoas indignadas, agressivas e violentas é a opressão e a injustiça de que são vítimas em nome da religião. Em defesa da necessidade de separação entre religião e Estado, o filósofo afirma: ―Falemos francamente. O magistrado teme as outras igrejas e não a sua, porque favorece e trata bem de sua igreja, sendo severo e cruel com as outras‖ (1973, p. 30). Locke defende a ideia de que uma religião só é útil e verdadeira se a pessoa acredita nela como verdadeira; de nada vale, portanto, a imposição de autoridades que tentam obrigar os súditos a pertencerem a determinada igreja, com o pretexto de salvar-lhes a alma. Para o filósofo, os indivíduos vão à igreja por sua livre vontade, por acreditarem nela, não por serem forçados a isso. Deve-se, diz Locke, ―deixá-los à sua própria consciência. Libertemos, assim, todos os homens de se dominarem mutuamente em assuntos religiosos‖ (1973, p. 20). Para concluir esta reflexão, observa-se que, ao longo de toda sua Carta acerca da tolerância, Locke insiste em dois aspectos fundamentais. Primeiro: a religião é um assunto privado e, como tal, deve ser respeitada a escolha individual, sem nenhum tipo de interferência das autoridades civis ou eclesiásticas. Segundo: a tolerância é a única forma de evitar violência e dominação de um grupo sobre outro; é, portanto, um princípio essencial a ser ensinado por todas as igrejas e diferentes religiões.
  • 49. 49 O que adquire um caráter surpreendente na leitura da Carta acerca da tolerância é a constatação de que esse tema, cujo resgate é tão absolutamente necessário nos dias atuais, já tenha sido motivo de muitas especulações filosóficas e sociais em épocas distantes, quando o pluralismo cultural era menor e bem menos ameaçador. O apelo à tolerância como uma virtude a ser ensinada e cultivada representa, no mundo contemporâneo, não apenas uma questão urgente a ser colocada na pauta das grandes negociações internacionais, mas, talvez, a única saída possível para a sobrevivência de muitos grupos humanos. Portanto, individualidade religiosa e tolerância deveriam ocupar o mesmo espaço na estrutura da consciência humana. Juntas e entrelaçadas – como o próprio sagrado. REFERÊNCIA LOCKE, J. Carta acerca da tolerância. Tradução de Anoar Aiex. São Paulo: Abril Cultural, 1973. Coleção Os Pensadores – vol. XVIII
  • 50. 50 A ORDEM DO HOSPITAL NO NOROESTE DA PENÍNSULA IBÉRICA DURANTE A IDADE MÉDIA Dirceu Marchini Neto15 Resumo: A Ordem Militar e Religiosa do Hospital esteve presente na Península Ibérica desde os primeiros anos do século XII e atuou de forma muito significativa na região da Galiza, ao longo dos caminhos de Santiago. No norte de Portugal desempenhou importante papel na organização do território, além da assistência aos peregrinos. A existência dos Hospitalários no noroeste ibérico teve como sustentáculo as doações e privilégios régios e pontifícios dos reis de Castela, Leão e Portugal e dos Sumos Pontífices. A Ordem do Hospital foi fundada na transição do século XI para o XII, como um fenômeno ligado ao Movimento de Cruzada. As ordens militares eram instituições religiosas da Igreja cristã latina e suas funções primordiais eram a defesa e a expansão da Cristandade ocidental frente ao Islã e aos demais povos infiéis, pagãos ou heréticos. Além destes objetivos, a Ordem de São João de Jerusalém ou do Hospital cumpriu um programa assistencial, que lhe conferiu uma forte originalidade. Logo após serem fundadas, algumas ordens militares – aqui se inclui a Ordem dos Hospitalários – adquiriram forte poder social, político e econômico. A Ordem de São João de Jerusalém, como também era conhecida a Ordem do Hospital, nasceu em Jerusalém como uma ordem religiosa hospitalária, que estava dedicada ao cuidado dos pobres, enfermos e peregrinos. No ano 1113, obteve a aprovação do Papa, passando a ser dependente diretamente do Sumo Pontífice, e ainda no século XII transformou-se em uma ordem militar devido às urgentes necessidades defensivas das terras cristãs do Oriente Médio. Entretanto, apesar de sua militarização, a Ordem nunca perdeu sua inicial característica assistencial. Esta instituição religiosa se converteu em um dos grandes poderes atuantes nos reinos e principados do Mediterrâneo oriental, contribuindo ativamente na defesa frente aos muçulmanos. Em poucos anos, os Hospitalários se expandiram por todo o Ocidente europeu, passando a ser uma ordem militar supranacional. Seu 15 O autor é mestre em História Medieval e do Renascimento pela Universidade do Porto e membro do Grupo de Investigação “Estudos Medievais e do Renascimento” do CEPESE (Portugal) dirceu_marchini@yahoo.com.br - . Este artigo foi escrito para ser apresentado durante o IV Congresso Internacional em Ciências da Religião, simpósio temático “Religião, Violência, Etnicidade e Globalização” (PUC-GO, 2010).