1. Um caso de codependência
marcado pelo amor e
violência.
Teresa Cristina Ferreira Lagôa
2. Ninguém nasce odiando outra pessoa pela
cor de sua pele, ou por sua origem, ou sua
religião. Para odiar, as pessoas precisam
aprender, e se elas aprendem a odiar, podem
ser ensinadas a amar, pois o amor chega
mais naturalmente ao coração humano do
que o seu oposto. A bondade humana é uma
chama que pode ser oculta, jamais extinta.
Nélson Mandela
3. Introdução
Todos os seres humanos fazem parte de um
determinado grupo de pessoas, o qual tem uma
organização estruturada e que é, ao mesmo tempo,
estruturante. Segundo Mathias (1995, p. 120), “apesar
das rupturas e modificações encontradas em sua
estrutura, a família continua a ser a principal rede de
sustentação para seus membros, propiciando a matriz
básica de identidade, pertencimento e significação”.
4. Objetivo
O objetivo deste trabalho é contribuir para a
identificação do processo de construção da violência no
contexto da familiar e refletir sobre o que contribui para
sua manutenção?
5. Justificativa
Considero que reconhecer e coibir a violência é um
grande desafio.
Como psicóloga, penso, também, que é minha tarefa
localizar, elucidar, compreender e levar o esclarecimento
aos envolvidos e, quem sabe, ajudá-los a mudar o rumo de
suas histórias.
Considero importante perceber a grandiosidade e a
importância em estudar-se e discutir o tema violência,
presente no núcleo familiar e na sociedade com muitas
manifestações.
Embora muitos profissionais se mobilizem para enfrentá-la,
o assunto continua sendo instigante
6. O que me fez pensar em violência?
Falo da violência “invisível” para os envolvidos, dos atos
de violência que podem ser entendidos como não
intencionais, fazendo parte do processo de Educação,
presentes nas convenções e pressões sociais, nas
ameaças, nas situações em que são vividos os
sentimentos de medo, culpa, impotência, fracasso e
vergonha.
Durante o atendimento, uma descrição feita pela paciente
chamou-me muita atenção:
7. B.(nossa paciente) – Eu precisava sair e ia levar V. ( a filha
mais nova) comigo. Eu estava com pressa e V. começou a
me enrolar, não terminava de se vestir.
Ai ela disse que não queria ir comigo, preferia ficar com pai.
Bati nela. Ela chorou muito, pediu desculpa e disse que iria
comigo. Eu disse que não queria mais que ela fosse. Assim
ela aprende.
Ela perguntou que hora você volta e eu respondi não sei se
volto.
8. Frases repetidas com freqüência
durante os atendimentos:
- Eu falo pra eles tomarem cuidado pra não me deixar
nervosa, eles sabem o que acontece... .
- Eu fico com muita raiva.
- Eu aviso: é bom eles não me fazerem perder o controle.
- O pai estava dormindo na sala.
- Ele não sabe cuidar nem dele mesmo...
9. Bases Teóricas
MARIA CRISTINA RAVAZZOLA
En un grupo social doméstico que manifesta uma relación
cotidiana y significativa, supostamente, de amor y
protección existe “violência familiar” cuando uma persona,
fisicamente más débil que outra, és víctima de abusos
físicos o psíquico por parte de outra. A los actos mismos se
suman las condiciones en que se producen, que son de tal
naturaleza que se resulta difícil implementar recursos de
control social capaces de regular e impedir esas prácticas,
las que, por lo tanto, tiende a repetirse.
Histórias infames: los maltratos em las relaciones – ed. Paidós 2005
10. SUZANA LEVY (1)
• violência física implica em violência contra o corpo como:
A
bater, machucar e dependendo da intensidade pode causar
a morte.
• Apesar da violência sexual ser considerada um abuso
físico, a intenção do agressor em relação à vítima é
caracterizada como sexual. Maus tratos, privação ou
negligência são caracterizados por falta de condições para a
sobrevivência, falta de cuidados físicos e emocionais
podendo chegar até a morte.
• violência psíquica é definida na literatura como ameaça,
A
agressões verbais, desqualificação do outro e indiretamente
pode causar a morte.
(1)Cansados de Guerra. Um Estudo Clínico sobre a Co-Autoria na Violência Familiar
Mestrado- Psicologia Clínica- PUC. SP, 2005.
11. MARY SUSAN MILLER
O que é abuso não físico.
“Eu não faço nada direito”
“Se ao menos eu pudesse visitar os meus pais”
“Nunca tenho nenhum centavo”
Como ocorre a violência não física
“ Sempre foi assim”
“Eu nem sabia o que era”
Reações a violência não física
“Apenas outra briga doméstica”
“Voltem para casa e comportem-se”
Feridas Invisíveis – ed. Summus 1999
12. CLOÉ MADANES
O dilema humanos
“Todos os problemas trazidos na terapia podem ser
pensados como originários do dilema entre o amor e a
violência.
• ma dimensão envolve pessoas lutando para controlar e
U
ter o poder sobre sua vida e sobre a vida dos outros.
• segunda dimensão envolve as dificuldades resultantes
A
do desejo de ser amado.
• terceira dimensão envolve o desejo de amar e protege o
A
outro.
• quarta dimensão envolve o assunto entre os membros
A
da família sobre se arrepender e esquecer.”
Sexo amor e violência – Ed. Psy – 1997
13. CONSIDERAÇÕES FINAIS
• ntendo que B. trouxe, para sua vida, a mesma estrutura autoritária de
E
sua mãe, em cujas mãos detinha as responsabilidades coletivas e
individuais e, com isso, vinha o poder de decidir e direcionar a vida do
marido e dos filhos o que a levou a abusar do poder hierárquico com as
crianças e usar de diferentes tipos de violência com todos da família.
• Ambas precisam ter o controle total sobre os filhos, impedindo que
façam escolhas próprias. Acreditam que se eles seguirem suas regras
estarão livres de erros e/ou perigos. Insensíveis aos sentimentos e/ou
desejos dos filhos, elas apresentam súbitos acessos de raiva,
ameaças de abandono, punições severas demais para pequenos
incidentes.
• u vejo alguns destes comportamentos como práticas violentas,
E
enquanto que para elas “tudo” faz parte da forma e da responsabilidade
de educar. “Como se os fins justificassem os meios”, parece-me que elas
estão repetindo um padrão de comportamento, que acreditam ser um
bom modelo educacional.
14. Reunindo os membros da família
Um bom começo é ajudá-los refletir sobre qual é o
sentimento que predomina nesta família e o que cada um
está fazendo em nome do amor.
Acredito que, juntos, possam construir diferentes formas de
amar.
Reconheço que eles têm que ter tempo e desejo de enfrentar
os desafios necessários.
A mudança pode começar pelo diálogo e pelo acolhimento do
desejo de como cada um dos membros desta família gostaria
de ser amado, o que cada um espera do outro e o que o
outro pode oferecer, abrindo um espaço para o novo.
15. Ao pensar sobre a possibilidade do
casamento cada um deveria fazer a seguinte pergunta:
Você crê que seria capaz de conversar com prazer com
esta pessoa até a sua velhice?
Tudo mais no casamento é transitório, mas
as relações que desafiam o tempo são aquelas
construídas sobre a arte de conversar.
Nietzsche