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                             Paraná, maio/junho de 2010




Esta revista é gratuita, sendo proibido qualquer tipo de comercialização de seus artigos sem autorização dos
                                             respectivos autores.
Revista Literária
                                               “O Voo da Gralha Azul”
                                                   n0. 4 – Paraná, maio/junho 2010

    Idealização, seleção e edição:
            José Feldman

 Contatos, sugestões, colaborações:
   pavilhaoliterario@gmail.com
http://singrandohorizontes.blogsp
ot.com




Que a humanidade possa aprender com a nossa Gralha-azul e entender que o
equilíbrio e o respeito ecológico entre fauna e flora é fundamental para a existência
do Homem na face da Terra!!!


                                          Prezado
                                          Prezado Leitor


    Esta revista não tem a pretensão e nunca poderá ser considerada como substituição aos livros,
jornais, colunas, etc. que circulam virtualmente ou não, mas sim como mola propulsora de incentivo ao
cidadão para buscar novos conhecimentos, ou relembrar aqueles perdidos na névoa do passado.
   Por que o Voo da Gralha Azul? A poetisa norte-americana Emily Dickinson, que viveu no século XIX,
diz “Não há melhor fragata do que um livro para nos levar a terras distantes”. No caso da revista, esta
fragata é a Gralha Azul, que assim como semeia o pinheiro, ela alça voo e semeia no coração de cada
um que alcançar, o pinhão da cultura, em todas as suas manifestações.
   Ao leitor, novos conhecimentos.
Ao escritor ou aspirante a tal, sejam poetas, trovadores, romancistas, dramaturgos, compositores, etc.,
um caminho de conhecimento e inspiração.
                   Obrigado por me permitir dividir consigo estes breves momentos,
                                                                               José Feldman



  Esta revista é gratuita, sendo proibido qualquer tipo de comercialização de seus artigos sem autorização dos
                                               respectivos autores.
SUMÁRIO

ACADEMIAS                                                                       Victor Hugo ............................................................. 131
Academia Caetiteense de Letras                                                  CONCURSOS COM INSCRIÇÕES ABERTAS
Caetité: Terra das Letras ..........................91                          Jogos Florais Casa do Sargento do Brasil - UBT Mage.. 164
Escritores de Caetité .................................94
                                                                                IV Concurso de Trovas "João Chaves" ....................... 165
ANÁLISE DE OBRAS
                                                                                IX Jogos Florais do Rio de Janeiro – 2010................. 165
João Guimarães Rosa
         ..................................................
                                         ..................33
Sagarana .................................................. 33                  XXX Concurso Estadual/Nacional e I Concurso Interno de
Sarapalha ..................................................34                  Trovas da Academia de Trovas do Rio Grande do Norte
O Burrinho Pedrês.....................................35                        Natal/2010............................................................... 165
A Hora e a Vez de Augusto Matraga.........37
                                                                                V Concurso Literário Cidade de Maringá..................... 165
Conversa de Bois .......................................40
José Saramago                                                                   7o. Concurso Nacional de Poesia “Pérola da Lagoa” .... 166
Memorial do Convento ..............................108                          5o. Festival de Contos e Poesias de Santa Lúcia/SP ..... 167
BIOGRAFIAS                                                                      3o. Concurso Cidade de Gravatal de Literatura (Conto e
Adriana Falcão ..........................................................15     Poesia)..................................................................... 167
Ângela Varela ...........................................................73     21o. Concurso de Contos Paulo Leminski .................... 168
Antonio Augusto de Assis...........................................95           XVII Prêmio Cidade de Conselheiro Lafayete............... 169
Antônio Brasileiro ....................................................13       Concurso Nacional de Contos Newton Sampaio ........... 171
Artur da Távola.........................................................89      Concurso Nacional de Poesia Helena Kolody............... 173
Carlos Nogueira Fino .................................................72        ENTREVISTA
Carlos Seabra ............................................................31    Dalila Teles Veras
Cláudio Willer ..........................................................127    A Escritora em Xeque ............................................... 114
Dalila Teles Veras......................................................73      ESTANTE DE LIVROS
Dimas de Carvalho ....................................................30        Nora Roberts
Dorothy Jansson Moretti ............................................141         Luzes do Norte .......................................... 149
                                                                                A Dama Negra........................................... 150
Edgar Allan Poe ........................................................62
                                                                                Tesouros Escondidos ................................. 150
Eliane Potiguara........................................................143     A Villa........................................................ 150
Glauber Rocha ..........................................................27      Trilogia das Chaves
Irene Lucília .............................................................71   A Chave da Luz......................................... 151
                                                                                A Chave do Saber...................................... 151
José António Gonçalves ............................................70
                                                                                A Chave da Coragem ................................ 151
José Carlos Ryoki de Alpoim Inue...............................49
                                                                                FOLCLORE
José de Sainz-Trueva.................................................72                  Espanhol
                                                                                Folclore Espanhol
José Ouverney...........................................................106     O Anão e o Gigante ................................... 66
Leon Eliachar ...........................................................136    Folclore Indígena
Maria Aurora Carvalho Homem ..................................73                As Amazonas (Icamíabas)......................... 146
                                                                                As Icamíabas e Orellana – A Lenda ......... 147
Miriam Mermelstein ..................................................88         O Ódio das Amazonas ............................... 148
Natália Bonito ...........................................................65    O Mítico Jurupari e As Amazonas............ 148
Neida Rocha..............................................................52     Buscas Arqueológicas................................ 149
Nora Roberts ............................................................151    Folclore do Japão
                                                                                Origens de Maneki-Neko .......................... 78
O. Henry ..................................................................25
                                                                                O Gato Assombrado de Nabeshima .......... 79
Patativa do Assaré ....................................................43       João Cirino Gomes
Plínio Marcos ...........................................................121    Floresta Encantada................................... 16
Roberto Protti...........................................................10
   Esta revista é gratuita, sendo proibido qualquer tipo de comercialização de seus artigos sem autorização dos
                                                respectivos autores.
HAICAIS                                                                       A Carteira ................................................. 75
                                                                              O. Henry
Carlos Seabra
                                                                              Memórias de um Cachorro Amarelo......... 22
Crianças.....................................................30
Temporal....................................................30                Plínio Marcos
                                                                              O Pranto e o Canto pelos Anjos Caídos .... 117
Boteco.........................................................30
Cometa.......................................................30               Roberto Protti
                                                                              O Nome...................................................... 9
Granizo ......................................................30
Cabelo ........................................................30             Sandra M. Júlio
                                                                              Amanhecer dos Sonhos ............................. 65
Caruma ......................................................30
Nevada.......................................................30               Vicência Jaguaribe
                                                                              Motus Continuus....................................... 57
Jornal.........................................................31
Vassoura ....................................................31               POESIAS
Telefone......................................................31              Alba Krishna Topan Feldman
Serenata.....................................................31               Terra.......................................................... 102
Furinho ......................................................31              Ângela Varela
Mordomo ....................................................31                A Fala Das Coisas ..................................... 73
Estrela .......................................................31             Corpo Mineral ........................................... 73
Criado ........................................................31             Antonio Brasileiro
Queda.........................................................31              Anotações Do Imemoriado ........................ 10
Sombra.......................................................31               O Sim & Outros Achaques ........................ 10
Corrida.......................................................31              Nuança ...................................................... 11
Sapato ........................................................31             Cálice......................................................... 11
Sabor..........................................................31             Soneto Do Amor Profano........................... 11
NOTÍCIAS                                                                      Cem Anos .................................................. 11
                                                                              Concerto p/ Flauta de Canudo de Mamão ... 11
Escritor Brasileiro recordista no Guiness com mais de mil                     A Noite Das Nove Luas............................. 11
livros publicados.......................................................153   Arte Poética............................................... 12
E-Book indígena divulga trabalho de 11 escritores em                          Tudo Que Somos ....................................... 12
defesa de suas tradições ............................................154      Contemplação Da Nuvem ......................... 12
                                                                              A Espuma Das Coisas ............................... 12
Falecimento do escritor maringaense Emílio Germani, dia 2                     Mnemósine Revisitada.............................. 12
de junho, aos 92 anos de idade ..................................155          O Estiolar Das Coisas ............................... 13
O ESCRITOR COM A PALAVRA                                                      O Ofício...................................................... 13
Adriana Falcão                                                                Quadra ...................................................... 13
O doido da garrafa.......................................... 14               Carlos de Oliveira
Antonio Augusto de Assis                                                      Amazônia................................................... 98
A Enchente ................................................84                 Carlos Nogueira Fino
Antonio Roberto de Paula                                                      “a ambigüidade não é a que insinua” ....... 72
Campeonatos da Vida................................45                         Dalila Teles Veras
Aparecido Raimundo de Souza                                                   Vida Murada ............................................. 81
Conversa de Cavalos .................................144                      Elemento Em Fúria .................................. 81
Artur da Tavola                                                               Paisagem ................................................... 81
Conversando com Deus .............................88                          Forasteiros Registros Nordestinos............ 81
Dimas Carvalho                                                                Performance .............................................. 82
O Manuscrito .............................................28                  Paisagem Marítima................................... 82
Edgar Allan Poe                                                               Falsos Haicais ........................................... 82
A Máscara da Morte Escarlate..................58                              Subúrbio .................................................... 82
José Carlos Ryoki de Alpoim Inue                                              10 De Junho .............................................. 82
O Sebo ........................................................48             A Fotografar Vidas.................................... 82
Laé de Souza                                                                  Viuvez Sem Espera ................................... 83
E Se o Mundo Acabasse? ...........................107                         Sol Sem Aço............................................... 83
Leon Eliachar                                                                 Meu Pai – Retrato Falado......................... 83
Conheça-se a Si Mesmo .............................134                        Eliana Palma
Machado de Assis                                                              Hábeas – Pinho ......................................... 96
Eliane Potiguara                                                     Cachecol. ................................................... 54
Oração pela Libertação dos Povos Indígenas .. 99                     Viver Solitário ........................................... 55
Glauber Rocha - Poemas Eskolhidos                                    Bala Achada. ............................................. 55
Kapital Song ..............................................26        Entre O Nascente E O Poente ................. 55
Querido Tom ..............................................26         O Caminho De Cada Um. ......................... 55
Desejo.........................................................27    "Internet Da Natureza"............................. 56
Irene Lucília                                                        Sons Da Noite............................................ 56
Sete Partidas .............................................71        Reencontro De Almas................................ 56
Jeanette Monteiro de Cnop                                            Nicodema
                                                                     Nicodema Alves
Dualidades.................................................100       Caetité ....................................................... 101
Joacir Zen Ranieri                                                   Patativa do Assaré
Sete Quedas ...............................................101       Saudade..................................................... 41
José
José António Gonçalves                                               Aos Poetas Clássicos ................................. 41
Pôr-Do-Sol..................................................71       Pedro Du Bois
          Sainz-
José de Sainz-Trueva                                                 Humano..................................................... 98
“De um só golpe” ........................................72          Silviah Carvalho
“Mais secreto é o dia”.................................72            Hábeas Cor – Liberte Coração.................. 97
José Viale Moutinho:                                                 Victor Hugo
Antimemória Com Funchal .......................69                    Ontem A Noite .......................................... 128
Machado de Assis                                                     Homem & Mulher ..................................... 128
A Palmeira.................................................7         A Fonte ...................................................... 129
Ela..............................................................7   O Sepulcro E A Rosa ................................. 129
Teu Canto ..................................................8        Aparição .................................................... 129
Um Anjo.....................................................8        As Contemplações ..................................... 130
Minha Musa...............................................8           Os Cantos Do Crepúsculo ......................... 130
Cognac!.......................................................9      " O Amor " ................................................. 130
Maria Aurora Carvalho Homem                                          Palavras Sobre A Duna............................. 130
Um Jeito De Dizer Solidão ........................73                 Mãe E Filho............................................... 131
             Sá-
Mário de Sá-Carneiro                                                 SOPA DE LETRAS
Quase ....................................................... 99
        .......................................................
                                         .......................99
                                                                     Claúdio Willer
Mário Quintana
                                                                     Brasil e Portugal: nossa língua, nossas
A Vida... .....................................................99
                                                                     literaturas ................................................. 122
Natália Bonito
                                                                     Dalila Teles Veras
Inspiração ..................................................63
                                                                     Poesia Madeirense .................................... 68
Apaixonantes Sensações............................64
                                                                     Eliane Potiguara
Ingrata Submissão ....................................64
                                                                     Literatura Indígena: Instrumento de
Estrofes Solitárias .....................................64
                                                                     Conscientização......................................... 142
Não Engano Meu Coração .........................65
                                                                     Miriam Mermelstein
Fugaz Eternidade De Viver.......................65
                                                                     Sobre o Gosto da Leitura na Escola.......... 85
Neida Rocha
                                                                     Noções Básicas de Conservação de Livros e
Porque Escrevo ..........................................50
                                                                     Documentos
Meditação...................................................51
                                                                     Introdução: a ordem dos fatores altera o
Espelho ......................................................51
                                                                     produto ...................................................... 156
Escrever .....................................................51
                                                                     Conservação Preventiva ........................... 157
Apenas...Viver ...........................................51
                                                                     Fatores Internos de Degradação............... 157
Gestos E Olhares .......................................51
                                                                     Fatores Externos de Degradação.............. 157
Páscoa ........................................................52
                                                                     Umidade e Temperatura........................... 157
Angel. .........................................................52
                                                                     Luz............................................................. 158
Mãezinha. ..................................................52
                                                                     Poluição atmosférica ................................. 158
Meu Pai......................................................52
                                                                     Insetos, Roedores e Fungos....................... 159
Meus Medos. ..............................................53
                                                                     A Ação do Homem como Fonte de Degradação
Uma Mulher De Muitos Homens. .............53
                                                                     do Acervo ................................................... 159
Teu Chamado.............................................54
                                                                     Higienização de Acervo ............................. 161
Viagem Astral............................................54
                                                                     Higienização de Documentos .................... 162
Porque Sou Poeta.......................................54
Higienização do Assoalho ..........................162               Trovas Infantis.......................................... 141
Melhoria Ambiental: Área de Guarda do                                Aquarela de Trovas .................................. 16
                                                                                 Trovas..................................
                                                                                           ................................
Acervo ........................................................162   Izo Goldman
Melhoria das Condições Ambientais .........162                       Trovas de Quem Ama a Trova .................. 47
Desastres em Bibliotecas: Inundação e                                José Ouverney
Incêndio .....................................................163    Palestra em Trovas: A Sogra .................... 104
Montagem de Exposições: Recomendações                                Vânia Maria Souza Ennes
Técnicas .....................................................163    Paraná em Trovas ..................................... 17
Conclusão...................................................164      INDICAÇÃO DE SITES DE LITERATURA
TEATRO DE ONTEM E DE SEMPRE                                          Projetos de Leitura (Laé de Souza)............................. 176
A Casa de Chá do Luar de Agosto.............102                      Simultaneidades (Andréa Motta)................................ 176
A Morte do Caixeiro Viajante....................103
                                                                     Falando de Trova (José Ouverney)............................. 176
TROVAS
                                                                     Projeto Releituras (Arnaldo Nogueira Jr.) .................. 177
Antonio Augusto de Assis
Trovas ........................................................94    Domínio Público....................................................... 177
Dorothy Jansson Moretti
Trovas ........................................................140
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                                             Machado
                                             de Assis
                                              Poemas
        A PALMEIRA                                   Adeus, palmeira! ao cantor
A FRANCISCO GONÇALVES BRAGA                         Guarda o segredo de amor;
                                                    Sim, cala os segredos meus!
   Como é linda e verdejante                          Não reveles o meu canto,
     Esta palmeira gigante                          Esconde em ti o meu pranto
  Que se eleva sobre o monte!                       Adeus, ó palmeira!... adeus!
  Como seus galhos frondosos
    S’elevam tão majestosos                               RJ, 6 jan. 1855
  Quase a tocar no horizonte!

   Ó palmeira, eu te saúdo,                                     ELA
   Ó tronco valente e mudo,
    Da natureza expressão!                          Nunca vi, — não sei se existe
     Aqui te venho ofertar                             Uma deidade tão bela,
    Triste canto, que soltar                       Que tenha uns olhos brilhantes
    Vai meu triste coração.                           Como são os olhos dela!
                                                            F. G. BRAGA
  Sim, bem triste, que pendida
   Tenho a fronte amortecida,                       Seus olhos que brilham tanto,
     Do pesar acabrunhada!                         Que prendem tão doce encanto,
    Sofro os rigores da sorte,                      Que prendem um casto amor
   Das desgraças a mais forte                          Onde com rara beleza,
     Nesta vida amargurada!                            Se esmerou a natureza
                                                    Com meiguice e com primor.
     Como tu amas a terra
     Que tua raiz encerra,                             Suas faces purpurinas
    Com profunda discrição;                           De rubras cores divinas
   Também amei da donzela                            De mago brilho e condão;
   Sua imagem meiga e bela,                          Meigas faces que harmonia
    Que alentava o coração.                           Inspira em doce poesia
                                                      Ao meu terno coração!
    Como ao brilho purpurino
     Do crepúsculo matutino                          Sua boca meiga e breve,
     Da manhã o doce albor;                           Onde um sorriso de leve
   Também amei com loucura                            Com doçura se desliza,
      Ess’alma toda ternura                           Ornando purpúrea cor,
   Dei-lhe todo o meu amor!                           Celestes lábios de amor
                                                    Que com neve se harmoniza.
   Amei!... mas negra traição
       Perverteu o coração                             Com sua boca mimosa
  Dessa imagem da candura!                              Solta voz harmoniosa
       Sofri então dor cruel,                        Que inspira ardente paixão,
     Sorvi da desgraça o fel,                          Dos lábios de Querubim
    Sorvi tragos d’amargura!                        Eu quisera ouvir um — sim —
  ........................................              Pr’a alívio do coração!


  Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.4 – Paraná, maio/junho de 2010.
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                                                         29 jun. 1855
      Vem, ó anjo de candura,
       Fazer a dita, a ventura                            UM ANJO
      De minh’alma, sem vigor;
    Donzela, vem dar-lhe alento,                 À MEMÓRIA DE MINHA IRMÃ
     Faz-lhe gozar teu portento,
   “Dá-lhe um suspiro de amor!”                   Se deixou da vida o porto
                                                  Teve outra vida nos céus.
           TEU CANTO                                    A. E. ZALUAR

        A UMA ITALIANA                             Foste a rosa desfolhada
É sempre nos teus cantos sonorosos                  Na urna da eternidade,
     Que eu bebo inspiração.                       Pr’a sorrir mais animada,
                                                  Mais bela, mais perfumada
     DO AUTOR [“Meu Anjo”.]                       Lá na etérea imensidade.

        Tu és tão sublime                         Rasgaste o manto da vida,
     Qual rosa entre as flores                      E anjo subiste ao céu
            De odores                             Como a flor enlanguecida
             Suaves;                               Que o vento pô-la caída
       Teu canto é sonoro                         E pouco a pouco morreu!
     Que excede ao encanto
            Do canto                               Tu’alma foi um perfume
            Das aves.                               Erguido ao sólio divino;
                                                   Levada ao celeste cume
       Eu sinto nest’alma,                        C’os Anjos oraste ao Nume
      Num meigo transporte,                       Nas harmonias dum hino.
            Meu forte
             Dulçor;                              Alheia ao mundo devasso,
       Se soltas teu canto                        Passaste a vida sorrindo;
      Que o peito me abala,                     Derribou-te, ó ave, um braço,
            Que fala                             Mas abrindo asas no espaço
            De amor.                              Ao céu voaste, anjo lindo.

        Se soltas as vozes                         Esse invólucro mundano
       Que podem à calma,                          Trocaste por outro véu;
            Minh’alma                              Deste negro pego insano
             Volver;                              Não sofreste o menor dano
       Minh’alma se enleva                         Que tu’alma era do Céu.
       Num gozo expansivo
             De vivo                               Foste a rosa desfolhada
             Prazer.                                Na urna da eternidade
                                                   Pr’a sorrir mais animada
        Donzela, esta vida                        Mais bela, mais perfumada
       Se eu tanto pudera,                        Lá na etérea imensidade.
             Quisera                                     RJ, out. 1855
             Te dar;
     Se um beijo eu pudesse                             MINHA MUSA
        Ardente e fugace
             Na face                      A Musa, que inspira meus tímidos cantos,
             Pousar.                        É doce e risonha, se amor lhe sorri;
                                            É grave e saudosa, se brotam-lhe os


   Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.4 – Paraná, maio/junho de 2010.
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               prantos.                      A Musa que inspira meus versos de amor!
   Saudades carpindo, que sinto por ti.                  RJ, 22 fev. 1856

  A Musa, que inspira-me os versos                            COGNAC!...
               nascidos
De mágoas que sinto no peito a pungir,       Vem, meu Cognac, meu licor d’amores!...
Sufoca-me os tristes e longos gemidos,         É longo o sono teu dentro do frasco;
Que as dores que oculto me fazem trair.         Do teu ardor a inspiração brotando
                                                      O cérebro incendeia!...
  A Musa, que inspira-me os cantos de          Da vida a insipidez gostoso adoças;
                  prece,                     Mais val um trago teu que mil grandezas;
 Que nascem-me d’alma, que envio ao            Suave distração — da vida esmalte,
                 Senhor.                            Quem há que te não ame?
  Desperta-me a crença, que às vezes           Tomado com o café em fresca tarde
                ‘dormece                      Derramas tanto ardor pelas entranhas,
Ao último arranco de esp’ranças de amor.       Que o já provecto renascer-lhe sente
                                                        Da mocidade o fogo!
 A Musa, que o ramo das glórias enlaça,       Cognac! — inspirador de ledos sonhos,
 Da terra gigante — meu berço infantil,         Excitante licor — de amor ardente!
 De afetos um nome na idéia me traça,           Uma tua garrafa e o Dom Quixote,
  Que o eco no peito repete: — Brasil!                 É passatempo amável!
                                               Que poeta que sou com teu auxílio!
A Musa, que inspira meus cantos é livre,       Somente um trago teu m’inspira um
  Detesta os preceitos da vil opressão,                         verso;
O ardor, a coragem do herói lá do Tibre,        O copo cheio o mais sonoro canto;
 Na lira engrandece, dizendo: — Catão!               Todo o frasco um poema!
                                                          -------------------
   O aroma de esperança, que n’alma          Fonte:
                recende,                     LEAL, Cláudio Murilo (org.). Toda poesia de Machado
    É ela que aspira, no cálix da flor;      de Assis. RJ: Record, 2008.
 É ela que o estro na fronte me acende,

                                Roberto Protti
                                  (O Nome)


A cena se passou numa fila do INSS para      – Mas eu tenho, infelizmente!
recebimento do auxílio-doença, igual a       – E como é que você se arranja com um
muitas que se vêem por este Brasil afora.    nome desses?
– Nome?                                      – E o que é que eu posso fazer? Matar o
– Colosflónio Único da Silva.                meu pai? Ele já está morto há muito
– Cavalheiro, não estou aqui para            tempo! Foi ele quem botou esse nome em
brincadeira! O nome certo? – falou, já       mim, e eu, recém-nascido não podia
meio bravo, o atendente do outro lado do     protestar! Meu pai quis que seu filho
guichê.                                      tivesse um nome inédito no Brasil! E me
– Colosflónio Único da Silva.                arranjou esse que só me dá encrenca. Já
                                             fui até parar na delegacia por ter
E o gajo já foi metendo quase nas fuças      esbofeteado uma moça que fez chacota
do funcionário sua carteira de identidade,   do meu nome. Já apanhei e bati por
para comprovar o seu nome verdadeiro.        causa do nome. Não passa um só dia em
– Mas, isso é nome que alguém tenha?         que não tenha de explicar essa maldita


      Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.4 – Paraná, maio/junho de 2010.
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herança que meu pai me deixou. Mas
também é tanta praga que eu rogo para
ele, que até o seu esqueleto deve dançar
no caixão!
                                                    Roberto Protti, nasceu na cidade
Logo atrás do infortunado, um homem          de São Paulo, em agosto de 1923. Nos
“gordo às pampas” ria e falava:              seus oitenta anos, guarda muitas
– Isso não é nada! Podia ser pior!           recordações preciosas: da infância no
                                             bairro tumultuado e alegre, dos tempos
Mas foi logo fulminado com o olhar de        de Grupo escolar e Ginásio e de sua
“poucos amigos” do proprietário do nome      atividade como executivo de vendas, que
e até a “autoridade” do guichê se            o ajudou a aguçar seu senso de
pronunciou:                                  observação. As reflexões que o
– Cavalheiro, o assunto não lhe diz          acompanharam nessa longa caminhada
respeito. Cale-se!                           e o hábito de ler bons livros
                                             despertaram seu interesse em escrever.
Depois do atendimento ao único dono de       Por duas vezes, participou do Concurso
tal nome no Brasil, que por sinal tinha de   "Talentos da Maturidade", promovido
voltar, pois, como sempre, faltava um        pelo Banco Real. Foi convidado a
documento para satisfazer o Instituto, lá    participar de todas as edições seguintes
se foi ele embora todo chateado.             do concurso, mas declinou do convite
                                             por estar empenhado na composição da
Murmurou entredentes o funcionário:          presente obra. O embrulho inédito é seu
“Cada nome que me aparece neste              primeiro livro. "Inédito", portanto, na
guichê!”                                     autoria e não só no conteúdo.
– O próximo. Nome?
– Paquiderme Junqueira.                      Fonte:
                                             PROTTI, Roberto. O embrulho inédito. Osasco, SP:
                                             Novo Século, 2004. ps.75




                            Antonio Brasileiro
                                       Poemas


   ANOTAÇÕES DO IMEMORIADO                        onde os homens se congregam:

       A consciência, fiapo de quê,                ninguém jamais sabe ao certo
            no mar da alma?                        onde o sim das grandes aves,

 (E o ter que contar os meus segredos,              singramos por mares mansos
         que eu mesmo guardei                       que julgáramos esquecidos —
               e esqueci.)
                                                    mas eis que a vida se perde
    O SIM & OUTROS ACHAQUES                         por falta de outros desígnios.

          A vida inteira anulada                     Ou não se perde: é só isto.
      por falta de outros desígnios,

       eis que voltamos ao parque


      Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.4 – Paraná, maio/junho de 2010.
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               NUANÇA                              buscando-me a fisionomia —
                                                       mas já passei, agora
     Meus caminhos, meus mapas,                        sou apenas poesia.
           meus caminhos.
                                                     Vejo rostos que me amam
         Tudo está em ordem                         tentando saber quem fui —
           em minha vida.                            sou um retrato, miragem
                                                         que o tempo dilui.
           Como se faltasse
            alguma coisa.                         Vejo braços que me acenam
                                                chamando-me insistentemente —
               CÁLICE                            para que, se a folha que passa
                                                     passa tão de repente?
        A vida não tem roteiros,
       só velas que nos acenam               CONCERTO P/ FLAUTA DE CANUDO
                do mar.                               DE MAMÃO

             Escuta, amiga,                          Vou cativar um beija-flor.
          o desfiar das horas:                           E sairemos por aí:
           elas te dirão é tua                        ele faz poesias, eu voo.
              é tua a vida.
                                                   A NOITE DAS NOVE LUAS
        Toma-a (como se toma
          um cálice de rosas)               Deixai-me com meus lírios e minhas luas.
               na mão.                              Andar é sempre a mesma
                                                               luz
   SONETO DO AMOR PROFANO                                   à frente.

 Não me consinta o amor tanta alegria,            Vou explodir com os planetas
pois, por não merecê-la, me constrange            vou seguir a rota das galáxias
   o peito (já uma dor, não longe, me                        ai amor
  sussurra que este amor sem agonias               estou prestes a me dissolver
 não há de consentir em tanta graça),                         no ar.
   eis que, perdidamente, já pressinto
— e quanto, e quanto — que em amor,              Mas deixai-me com meus lírios
                 perdidos                                 e interlúdios
 todos os lances, não há como obtê-lo       nestes mares nunca mares calmos mares.
de outro modo que não por sacrifícios /
  e eis que este, pois, gratuita dádiva,            Deixai-me com meus lírios
  me chega às mãos de um modo tão                           e sonetos.
                 profano,                       Vou explodir de luz um dia desses,
   que quase certo estou de que, se o                amiga, um dias desses.
                  tenho,                            Deixai-me com meus lírios
   já não o tenho por justo e dadivoso                      e sonetos.
mas por amor que é fruto só de engano.
                                                      Hás de me encontrar
  E não me engana um amor quando                         insone e louco
             enganoso.                         no meio dos trigais da inconsciência,
                                                         ai, declamando
              CEM ANOS                              os versos que Van Gogh
                                                          não escreveu.
      Vejo mãos que me folheiam


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        ARTE POÉTICA                      a vida é a contemplação daquela nuvem.
                                                         E o mundo
Meus versos são da pura essência           uma forma de passar, que inventamos
   dos poemas inessenciais.                  para não ver que o mundo não é o
                                                           mundo,
    Nada dizem de verídico                             mas uma nuvem
   não querem nada explicar.                              passando.

 Não narram o clamor dos peitos                   E uma nuvem passando
  não encaram a dor do mundo.            ensina-nos mais coisas que cem pássaros
                                             mil livros um milhão de homens.
     Se por vezes falam alto
     é por puro gozo, júbilo.             A vida é a contemplação daquela nuvem.
                                                         E o mundo
   humor que brota de dentro               uma forma de passar, que inventamos
   como se movem os astros.                  para não ver que o mundo não é o
                                                          mundo,
   Eles, meus versos, são pura                        mas uma nuvem.
    floração de irresponsáveis                           Passando.

  flores nascidas nos mangues,                    (Cantar de amiga, 1996)
  por nascer — mas multicores,
                                                 A ESPUMA DAS COISAS
lindas, não importa que os homens
  as conheçam ou não conheçam.               A grande ilusão do insustentável.
                                                 O lama e os não-desejos.
     (A Pura Mentira, 1982)              A imensidão de um cosmos de brinquedo.
                                                O estrelejar do hoje versus
      TUDO QUE SOMOS                                 o princípio. Ou o
                                                         precipício.
        Tudo que somos,
        pouco sabemos.                      Sossega, peito meu, és só a espuma
                                            das coisas vãs gozadas uma a uma.
        Um poço imenso,
        cheio de sonhos.                       MNEMÓSINE REVISITADA

       Quando choramos,                    A memória do homem, coisa simples.
       não nos perdemos.                   Esquece-se de que somos esquecidos
                                                   e cheios de saudades.
       Viver é um sonho,                  Saudades do que fomos e o que somos,
       Não esqueçamos.                     já esquecido em socavões de tardes.
                                            Como se hojes fossem inacabáveis
       Viver é a sombra,                   e não viessem cobri-los outros sonos.
     o assombro, o apenas.
                                             Ingratidão, memória, é teu nome.
       Tão frágeis somos!
       Frágeis e imensos.                    Tudo que somos vai virar saudade
                                              (não importa o peso, a pluma, a
 CONTEMPLAÇÃO DA NUVEM                                  asperidade)
                                              de tudo que não fomos — e, eis,
         p/ Luis Alberto                                 esplende.




  Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.4 – Paraná, maio/junho de 2010.
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      O ESTIOLAR DAS COISAS                  multifacetada, seu raio de ação inclui,
                                             além da literatura e das artes plásticas,
       Os sonos estão parados                um sólido estudo de filosofia. Com vinte
      no portal do amplo oceano.             e duas obras publicadas (poesia, ensaio,
                                             conto, romance, teatro), divide o resto
      Eis meus touros minotauros             do tempo entre o amor pelos livros e a
        envoltos em vis novelos.             música, a prática do tênis e o cultivo do
                                             ócio.
          E a lágrima perdida                       Brasileiro nasceu em 1944, em
        no amplíssimo deserto?               Rui Barbosa, no sertão baiano, onde
                                             viveu até 1955, quando se transferiu
               O OFÍCIO                      para Salvador. Desde 1972 vive em
                                             Feira de Santana. Tem uma fazenda de
          No fim dos tempos,                 gado no Acre. É doutor em Letras pela
   vou estar numa casinha de palha,          Universidade Federal de Minas Gerais
         uns livros, um lápis,               [1999]. Dedicado praticante de tênis.
      papel almaço, a alma pura              Faz ginástica e longas caminhadas
    e uns rabiscos pra ninguém ler,          diárias. “Se eu não me cuidar, quem vai
                   só                        cuidar de mim?” Seu cultivo do ócio
             me confessar.                   inclui música, leituras filosóficas, do tao
                                             e do zen, e conversas com os amigos.
 Ao deus dentro de mim, primeiramente.       Ensina Teoria da Literatura na
     E a quem não interessar possa.          graduação em Letras da Universidade
                                             Estadual de Feira de Santana. Mas não
               QUADRA                        faz desse ensino a exposição do que é
                                             chato, porque tem os olhos e os ouvidos
         Se alguém me espera?                abertos para o que diz Goethe no
              Quem dera.                     Fausto: “Toda teoria é cinzenta, caro
                                             amigo. Só a verdadeira árvore da vida é
            Se o bonde veio?                 verde”.
               Mas cheio.                           Quarenta e um anos de poesia —
                                             com incursões na ficção e no ensaio — e
           Se ganhei na vida?                43 de pintura. Dos 22 livros que
                Feridas.                     publicou, considera como os mais
                                             importantes: Caronte [romance, 1995],
           Não vai dar? Deixa                Antologia poética [1996], A história do
                 estar.                      gato [conto, 1997], Da inutilidade da
                                             poesia [2002] e Poemas reunidos [2005].
                                                    Segundo Brasileiro "A rigor, a
                                             poesia nunca esteve “em alta”. Alguns
                                             nomes conseguem se tornar mais
                                             conhecidos, pouquíssimos ultrapassam
       Pintor e poeta baiano: é assim        sua própria geração. Mas quantas
que Antônio Brasileiro gosta de se           pessoas mesmo, dessas que você vê
definir. Mas não são essas poucas            todos os dias trafegando por aí, sequer
palavras que melhor o definem. Figura        ouviram falar de Drummond, nosso
referencial entre os nomes surgidos a        maior poeta? E se ouviram, quantos
partir doa anos 60, Antonio Brasileiro,      dentre seus mil poemas conhecem?
reconhecido nacionalmente pela sua           Dois? Três? Isso é conhecer um poeta?
produção poética, estreou na ficção com      Não é só a poesia que resiste à
o romance Caronte é também figura de         mercantilização; há outros saberes."
destaque como agitador cultural. Mente



      Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.4 – Paraná, maio/junho de 2010.
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        “Dir-se-ia que a voz do poeta,       dançarinos entediados, somos grãos de
filtrada pelo sentimento do eu lírico,       areia na ampulheta, sozinhos, frente à
amplia-se à medida em que encontra           eternidade das coisas tão perenes,
ressonância no sentimento do mundo.          quando a vida é apenas um susto...”
(...) A inquietação de estar no mundo        (Myriam Fraga)
permeia esta poesia. Uma poesia                     Convidado oficial da I Bienal
metafísica, no sentido mesmo de              Internacional de Poesia de Brasília,
perplexidade frente ao mistério da           participa da antologia POEMÁRIO da I
existência, da inutilidade de todas as       BIP.
coisas diante do tempo que passa,
inexorável, em seu eterno fluir. A ironia    Fontes:
como que a mascarar a angústia de            http://www.antoniomiranda.com.br/
saber que o canto é tão inútil e tão         http://blogs.abril.com.br/lenidavid
necessário e que nesta festa de              http://www.litbr.com/entrevistas-antoniobrasileiro.htm




                                Adriana Falcão
                               O doido da garrafa


        Ele não era mais doido do que as     da rua e do apressada. Geralmente ficava
outras pessoas do mundo, mas as outras       uma obra-prima.
pessoas do mundo insistiam em dizer que              Gostava muito de observar as
ele era doido.                               pessoas na rua, do cheiro de café, de
        Depois que se apaixonou por uma      cantar e de ouvir música. Não gostava
garrafa de plástico de se carregar na        muito do fato de ter pernas, mas acabou
bicicleta e passou a andar sempre com        se acostumando com elas. De cabelo ele
ela pendurada na cintura, virou o Doido      gostava.     Em      compensação,      tinha
da Garrafa.                                  verdadeiro horror a multidão, bermudão,
        O Doido da Garrafa fazia             tubarão, ladrão, camburão, bajulação,
passarinhos de papel como ninguém, mas       afetação, dança de salão, falta de
era especialista mesmo em construir          educação e à palavra bife.
barquinhos com palitos. Batizava cada                Escrevia cartas para ninguém,
barco com um nome de mulher e,               umas em prosa, outras em poesia, como
enquanto estava trabalhando nele, morria     mero exercício de estilo.
de amores pela dona imaginária do nome.              Tinha mania de dar entrevistas
Depois ia esquecendo uma por uma,            para o vento e já sabia a resposta de
todas elas, com exceção de Olívia, uma       qualquer pergunta que porventura
nau antiga que levou dezessete dias para     alguém pudesse lhe fazer um dia.
ser construída.                                      Ajudava o dicionário a explicar as
        Batucava muito bem e vivia           coisas inventando palavras necessárias,
inventando, de improviso, músicas            como dorinfinita.
especialmente compostas para toda e                  Adorava álgebra, mas tinha
qualquer finalidade, nos mais variados       particular antipatia por trigonometria, pois
gêneros. Uai aí aquela da mulher de blusa    não encontrava nenhum motivo para se
verde atravessando a rua apressada, e o      pegar pedaços de triângulos e fazer
Doido      da   Garrafa    imediatamente     contas tão difíceis com eles.
compunha um samba, uma valsa, um                     Conhecia mitologia a fundo.
rock, um rap, um blues, dependendo da                Tinha angústia matinal, uma
mulher de blusa verde, do atravessando,      depressão no meio da tarde que ele


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chamava de cinco horas, porque era a          suicidou e a mãe, um tempo depois,
hora que ela aparecia, e uma insônia          tomou uma dose fatal de comprimidos
crônica a quem chamava carinhosamente         para dormir.
de Proserpina.                                       Formada em Arquitetura, logo
        Sentia uma paixão azul dentro do      após formar-se voltou para o Rio de
peito, desde criança, sempre que olhava       Janeiro junto com João Falcão, seu
o mar e orgulhava-se muito disso.             marido, que se mudou para lá a fim de
        Acreditava no amor, mas tinha         fazer teatro. Lá começou a escrever os
vergonha da frase.                            diálogos, e os atores começaram a
        Às vezes falava sozinho, Preferia     gostar de seus diálogos e a usá-los nas
tristeza à agonia.                            peças. Nunca exerceu a profissão de
        Todas as noites, entre oito e dez e   arquiteta, pois logo descobriu sua
meia, era visto andando de um lado para       vocação para a literatura.
o outro da rua, método que tinha                     Seu primeiro livro, voltado para
inventado para acabar de vez com a            o    público    infantil,  "Mania     de
preocupação de fazer a volta de repente,      Explicação", teve duas indicações para o
quando achava que já tinha andado o           Prêmio Jabuti/2001 e recebeu o Prêmio
suficiente.    (Preferia    que    ninguém    Ofélia Fontes — "O Melhor para a
percebesse que ele não tinha para onde        Criança"/2001, da Fundação Nacional
ir.) Enquanto andava, repetia dentro da       do Livro Infantil e Juvenil. Em 2002,
cabeça incessantemente a palavra              publicou "Luna Clara & Apolo Onze",
ecumênico sem ter a menor idéia da            seu primeiro romance juvenil. Seu
razão pela qual fazia isso.                   romance "A Máquina" foi levado aos
        Durante o dia o Doido da Garrafa      palcos por João Falcão. Na televisão,
trabalhava numa multinacional, era            Adriana colaborou em vários episódios
sujeito bem visto, supervisor de              de "A Comédia da Vida Privada",
departamento, ganhava um bom salário e        "Brasil Legal" e "A grande família",
gratificações que entregava para a mulher     todos da Rede Globo. Adaptou, com
aplicar em fundos de investimento.            Guel Arraes, "O Auto da Compadecida",
        No fim do ano ia trocar de carro.     de Ariano Suassuna, para a TV,
        Era excelente chefe de família.       posteriormente levado ao cinema.
        Não era mais doido do que as                 Outros livros da escritora:
outras pessoas do mundo, mas sempre           “Pequeno dicionário de palavras ao
que ele passava as outras pessoas do          vento” (2003); “A tampa do céu” (2005)-
mundo pensavam, lá vai o Doido da             ilustrações de Ivan Zigg e, em conjunto
Garrafa, e assim se esqueciam das suas        com outros escritores,”Histórias dos
próprias garrafas um pouquinho.               tempos     de    escola:   Memória     e
                                              aprendizado”     (2002);   “Contos    de
                                              estimação” (2003); “A comédia dos
                                              anjos” (2004); “PS Beijei” (2004);
                                              “Contos de escola” (2005); “O Zodíaco –
                                              Doze signos, doze histórias” (2005);
                                              “Tarja preta” (2005); "Sonho de uma
                                              noite de verão" (2007) e "Sete histórias
Solidão é uma ilha com saudade de             para contar" (2008).
barco
(Adriana Falcão)                              Fontes:
                                              http://www.releituras.com.br/
      Roteirista e escritora brasileira.      http://pt.wikipedia.org/
Nasceu no Rio de Janeiro, e mudou-se          http://www.pensador.info/
para Recife aos 11 anos de idade. Teve        FALCÃO, Adriana. O doido da garrafa. SP: Ed. Planeta
uma história de vida trágica: o pai           do Brasil, 2003.




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                                    Aquarela
                                    de Trovas

    Num tempo em que tanta guerra                    O meu sonho é que na terra
      enche o mundo de terror,                        as guerras cheguem ao fim
      benditos os que na Terra,                        e todo o campo de guerra
      semeiam versos de Amor!                        se transforme num Jardim...
          (A.A de Assis - PR)                         (lzo Goldman - São Paulo)

         As trovas são diamantes                      A morte é como a partida,
       que certo ourives, um dia,                      pela porta da saudade...
       com suas mãos operantes,                        Que se fecha para a vida
        cravou no anel da poesia.                     e se abre pra eternidade...
         (Giselda Medeiros - CE)               (Emílio Leão de Mattos Sounis – Paraná)
        Tenho andado esquecido
           tão esquecido estou                          Haveria paz na terra,
        que esqueço se tenho ido                      não seria a vida inquieta,
        se estou vindo ou se vou                   de a criança em vez de guerra,
           (Silmar Bohrer - SC)                        brincasse de ser poeta
                                                      (Luiz Otávio 1916-1977)



                              João Cirino Gomes
                               Floresta Encantada


       Os moradores da floresta                     - Não sei, mas vamos ver -
encantada viviam em festa e fantasia.       respondeu Douradinho.
       Cascudinho e Douradinho eram                 Em seguida, viram a dona Anta, e
dois peixinhos, e moravam em um             suas duas filhas, Antônia e Antonieta que se
riacho que cortava a floresta.              aproximavam... Depois de saciarem a sede,
       Naquela tarde ensolarada os          elas se sentaram na relva e se puseram a
dois amiguinhos brincavam de pular.         conversar.
       Douradinho se dizia campeão de               Em dado momento, Antônia pediu: -
salto em altura. Como Cascudinho não        Mamãe; conta àquela estória do menino
queria ficar atrás, começou a disputa.      que era desobediente?
       A cada pulo olhavam pra fora da              - É mesmo mamãe! - Concordou sua
água, apostando quem enxergava mais         irmã Antonieta toda empolgada.
longe.                                              Depois de algumas insistências,
       Na volta diziam o que tinham         dona Anta começou: - Era uma vez um
visto.                                      garoto branquinho, que morava com sua
       Depois      de   vários    saltos,   mãe na floresta. A mulher era muito
Douradinho voltou com a novidade.           bondosa, mas seu filho se tornou um
       - Esta chegando alguém.              peralta. João de Barro é quem o diga. O
       - Quem será? - Perguntou             garoto vivia o perseguindo.
Cascudinho que era curioso.


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        Dona Sabiá também não tinha                ***
sossego, e já estava magra de tanto                - Mamãe agora conta àquela estória
fugir das pedradas do menino. Com sua              do bicho papão? - Pediu Antonieta.
perversidade o malvado tirava a paz de             - Vamos para casa, pois já esta
todos os moradores da floresta. Muitas     ficando tarde. Amanhã eu conto - concluiu
vezes o garoto tentou derrubar a           dona anta, e saiu, sendo seguida por suas
casinha, que João de barro construíra      filhas.
com sacrifício.                                    Os dois amiguinhos também se
        Sua maior magoa, era ver João      despediram.
de barro e Joaninha cantarem felizes da            E quando iam se afastando,
vida, sobre os galhos da paineira.         apareceu "Odoro", tio de Douradinho, que
        Certa tarde, depois de muito       chegava para fazer uma visita a sua irmã
matutar, o menino resolveu que             Dorotéia.
acabaria com aquela alegria. Escondido             - Ao avistar o sobrinho, Odoro
da mãe pegou um tição no fogão, e foi      perguntou: - Que você esta fazendo até
para a floresta.                           estas horas longe de casa menino?
        Todo empolgado juntou um                   - Tio eu e meu amigo Cascudinho
monte de folhas, e acendeu uma             estávamos ouvindo a dona Anta contar a
fogueira junto ao tronco da paineira,      estória de um menino muito levado, que se
onde morava João de barro.                 chama Saci Pererê. Ele era malvado, e não
        - Eles vão ver comigo - dizia o    obedecia a sua mãe, e talvez por isso tenha
perverso, esfregando a mão de              recebido um castigo.
contentamento.                                     - Quando eu era jovem, ouvi falar
        Deitou-se na relva, e ficou        deste menino - disse Odoro.
olhando para o alto, esperando o                   - O que você ouviu titio?
resultado da sua perversidade. Mas                 - Vamos pra casa, chegando lá eu
pegou no sono, e as chamas                 conto.
começaram a se alastrar.                           Então Douradinho abanou a cauda
        João de barro e Juaninha           mais rapidamente, e devido a sua grande
percebendo       o   perigo;   cantavam    curiosidade pediu: - O tio vai contando pelo
tentando desperta-lo, mas nada do          caminho! - Fique calmo guri, eu vou contar,
menino acordar.                            agora ande vamos!
        Quando as chamas lamberam                  Nem bem entraram por entre as
seu calcanhar, ele se levantou e pensou    pedras, onde morava Dorotéia, e o garoto
em fugir, porem já era tarde...            já estava ao lado do tio, pedindo ansioso: -
Desesperado tentou subir na arvore         Agora conta!
para se livrar das labaredas. Quando se            Diante    da    insistência,    Odoro
agarrou em um galho foi ao chão e          começou a narrativa.
quebrou a perna. Então aumentou seu                - Certa tarde eu nadava na maior
desespero; não conseguia se levantar,      tranqüilidade, quando notei dois pescadores
e começou a gritar.                        se aproximando em uma canoa.
        Tanto gritou que sua mãe veio              Ao invés de prestarem atenção no
ao seu socorro.                            que estavam fazendo, eles remavam
        Depois de enfrentar as chamas,     distraidamente,                   conversando
a bondosa senhora o pegou no colo, e       animadamente.
o levou para a casa.                               Eu aproveitei estas distrações, e tirei
        Mas o malvado tinha se             a isca do anzol deles por varias vezes. Mas
queimado, e estava pretinho como um        não querendo abusar da sorte, e já de
carvão.                                    barriga    cheia,   fiquei    ouvindo    suas
        Desde então, ganhou o apelido      conversas.
de Saci Perere.                                    O mais velho disse:




      Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.4 – Paraná, maio/junho de 2010.
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        - Este riacho me parece                   Chegando a sua casa debulhou o
encantado, em todo lugar que vou           milho e colocou na panela. Pegou seu
pescar, nunca perco uma fisgada,           cachimbo encheu de fumo, e o deixou sobre
quando puxo sai uma lasca de um            o fogão.
peixão, e aqui já puxei varias vezes;             Deitou-se na rede, e ficou ali com
perdi varias iscas e não peguei nada.      um olho fechado e o outro aberto, fingindo
        - Como assim encantado? -          que cochilava.
Perguntou o pescador mais novo, ao                Logo escutou um assobio. Em
contador de prosa, que usava um            poucos instantes um menino pretinho
chapelão de palha.                         chegou pulando numa perna só. Entrou
        - Rapaz, eu tenho um compadre      porta adentro e foi direto ao fogão. Encheu
chamado Bentinho, que cuida de uma         a mão de pipoca, e levou a boca. Lambeu
roça pra estas bandas, - disse o velho.    os beiços, e despejou o restante da pipoca
        Certa vez ele me contou, que       dentro da toca.
quando voltava do trabalho, resolveu              Depois pegou uma brasa colocou no
pegar umas espigas de milho.               cachimbo, deu uma baforada e saiu.
Chegando a casa debulhou o milho e                Já no terreiro, deu uma gargalhada
colocou numa panela. Em seguida            e sumiu.
encheu o cachimbo com um fumo que                 - Então é isso seu safado? - pensou
ele mesmo cultivava, e começou a           meu compadre.
meditar:                                          Eu estouro pipoca; você vem e
        - Depois de comer um punhado       come, fuma meu cachimbo, e ainda sai
de pipoca, dou uma tragada no meu          dando risada?
cachimbo e vou descansar.                         - Há, mas eu vou te dar uma lição;
        Com estes pensamentos, deitou-     vou sim, pode esperar seu danado!-Disse
se na rede e ficou balançando,             meu compadre; que estava bravo feito uma
esperando a pipoca estralar.               onça.
        E como estava cansado, meu                No dia seguinte, fez à mesma coisa,
compadre adormeceu.                        escolheu três rechonchudas espigas de
        Quando acordou, foi até o          milho, com belas cabeleiras ruivas, e foi
fogão, e notou que não havia nenhum        para casa.
grão de pipoca na panela. Então ele               Lá chegando, debulhou o milho e
ficou cismado.                             colocou na panela.
        Pegou seu cachimbo, e nele                Só que ao invés de por fumo no
também não tinha fumo.                     cachimbo, colocou pólvora. Deitou - se na
        - Eu não lembro de ter fumado,     rede, e ficou fingindo que cochilava...
- pensou ele.                                     Não demorou muito ouviu o assobio,
        Olhou para um canto, olhou         logo o pretinho entrou sorridente pulando
para o outro, coçou a cabeça, e            numa perna só. Foi para o fogão,
perguntou a si mesmo, - será que estou     experimentou um punhado de pipoca e
caducando? Não pode ser; também não        despejou novamente o restante dentro da
comi pipoca, e tenho certeza que eu        toca. Pegou o cachimbo, e quando o
trouxe milho. A maior prova disso são      ascendeu e deu uma tragada, a pólvora se
as palhas que estão aqui!                  incendiou e, bumm!
        Naquela noite meu compadre                Com a explosão, e a fumaceira, o
ficou matutando até tarde.                 Saci tomou um susto e caiu de costas.
        No dia seguinte foi para a roça,          Meu compadre deu um grito, e só
e trabalhou o dia todo pensativo.          viu o vulto que se engatinhou por baixo da
        À tarde quando saiu do             rede e fugiu.
trabalho, olhou para o milharal, e                Bentinho foi até a porta e gritou: -
pegou outras espigas.                      Viu seu safado, quem ri por ultimo ri
                                           melhor! Em seguida deu uma gargalhada e


      Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.4 – Paraná, maio/junho de 2010.
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retornou para dentro da casa ainda                   E o bicho papão desiludido, virou
enfumaçada.                                  uma fera.
        Quando já se deitava na rede,                Chamou o Bicho Preguiça de lerdo,
notou que na sua pressa, o Saci tinha        de irresponsável... E o Bicho Preguiça
esquecido a toca cheia de pipoca.            chateado com as ofensas respondeu:
        O dia seguinte amanheceu                     - Se você ficar me criticando, e me
fazendo muito frio, e Bentinho resolveu      apressando; eu não vou entregar droga de
dormir até mais tarde.                       convite nenhum.
        Assim que o sol começou a                    Então o Bicho Papão se afastou
surgir, escutou um choro.                    resmungando, mas não desistiu.
        Saiu para o quintal, e viu o saci            No dia seguinte, resolveu organizar
chorando.                                    uma nova festa.
        - Porque chora seu peralta? -                Desta vez, o macaco que era mais
Perguntou Bentinho.                          ágil, é quem iria entregar os convites.
        -É que eu estou com muito frio.              Só     tinha    um     inconveniente,
Por favor, seu moço me devolva minha         precisavam de um barco, pois a festança
toca. Sem ela eu não tenho magia.            seria em uma ilha.
        - Então você esta querendo a                 E os animais da floresta, sem
toca     de    volta,   para    continuar    desconfiar das intenções do Bicho Papão,
aprontando das suas em?                      começaram a trabalhar na construção do
        - Não seu moço, eu prometo           barco.
não fazer mais artes.                                No dia da festa, o Pavão apareceu
        - Se for assim eu devolvo.           todo empolgado com sua plumagem
        Depois de colocar a toca na          colorida.
cabeça, o Saci agradeceu e se foi. Daí               O Coelho e dona Coelha, davam
em diante ninguém mais ouviu falar           saltos de alegria.
nele!                                                Todos entraram no barco e seguiram
        ***                                  em direção a ilha.
        - Tio, amanhã a dona Anta vai                A festa estava animada.... A
contar uma estória do bicho papão,           bicharada dançava, pulava e batia palmas.
será que ele existe mesmo?                           O macaco batucava, a cigarra
        - Já faz muito tempo que não         chiava, a coruja cantava e tocava sanfona,
ouço falar nele! - Respondeu Odoro.          e o bode corria entre os convidados,
        - Há muito tempo atrás, o rei        fazendo a maior farra.
Leão autorizou o Bicho Papão comer                   E o Bicho Papão em um canto,
todas as crianças desobedientes.             Matutava:
        Com medo do Bicho Papão, as                  - Vou embebedar a todos... Assim
crianças se tornaram boas, e não             será mais fácil come-los!
desobedeciam mais seus pais.                         O Gambá foi o primeiro a ficar
        Desta forma aconteceu que o          bêbado, e queria brigar com o Tatu.
Bicho Papão ficou sem alimentação,                   Então Bicho Papão apartou a briga e
pois o rei tinha autorizado ele comer        disse:
somente as crianças teimosas.                        - Eu levarei o compadre ao riu para
        Com fome; Bicho Papão que era        se refrescar. Abraçou-se ao Gambá e se
cheio de astúcia, resolveu fazer uma         afastaram. - Este é o primeiro que vou
festa. Sua intenção era convidar todos       comer, - pensou ele.
os animais, e come-los um a um.                      Assim que chegaram ao rio, viu que
        O     Bicho     Preguiça     ficou   tanto ele quanto o Gambá estavam
incumbido de entregar os convites.           fedendo.
        Quando chegou o dia da festa,                Por mais que o esfregasse aquele
nenhum convite ainda tinha sido              mau cheiro persistia. Varias vezes tentou
entregue.                                    engolir o gambá, chegou até a tapar o


      Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.4 – Paraná, maio/junho de 2010.
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nariz, mas quando se aproximava com                  - Não diga! E como eu farei
a boca aberta, sentia o fedor, fazia         compadre? Eu não quero ser levado pelo
ânsia e se afastava.                         vento! - Disse o Bicho Papão temeroso.
        Depois de muito tempo dentro                 - Nós vamos nos amarrar nas
da água gelada, o bicho papão                arvores! - Informou o macaco.
começou a espirrar. - Atichim...                     - E o compadre pode me amarrar?-
Atichim... Revoltado, e com fome,            Perguntou o Bicho Papão.
abandonou o bêbado em um canto, e                    - Sim! Só que você será o ultimo! -
decidiu voltar para o baile.                 Falou o macaco, que era muito maroto.
        Antes, porem, resolveu soltar o              - Eu sendo o dono da festa, tenho o
barco na correnteza.                         direito de ser amarrado primeiro! -
        Enquanto desamarrava o barco         Questionou o Bicho Papão.
dizia: - Agora ninguém mais sai daqui.               - Então vamos consultar os
E quando eu sarar desta gripe, vou           convidados, - disse o macaco. - Se todos
comer todos, um após o outro.                estiverem de acordo, faremos a sua
        Mas o Pavão que estava de            vontade!
ressaca, foi beber água no rio. Ao ouvir             Só      tem      um      inconveniente,
o que o bicho papão dizia, voltou            precisamos de um cipó bem forte.
voando para a festa, e lá chegando                   -Pode deixar que eu pego o cipó! -
contou para bicharada o que tinha visto      Falou o bicho papão.
e ouvido.                                            Entrou na floresta, e logo retornou
        De     madrugada     a    coruja     com uma braçada de cipó.
começou a cantar um estranho refrão:                 Então os animais amarraram o Bicho
        - Coitado de quem não sabe?          Papão em um tronco, e lhe deram uma
        E a bicharada respondia: - Ainda     surra com vara de marmelo.
bem que estou sabendo!                               Depois jogaram o tronco na
        E o refrão continuava. - Coitado     correnteza.
de quem não sabe...! - Ainda bem que                 E o Bicho Papão se foi rio abaixo.
estou sabendo...                                     Se ainda existe não sei. Mas que
        - Atichim... Que musica é esta? -    existiu, existiu! Isso eu falo e afirmo! - Disse
Perguntou o Bicho Papão.                     Odoro.
        - Então o compadre não sabe? -
Vem vindo um temporal ai, e o vento          Fontes:
vai levar tudo pelos ares - respondeu o      Colaboração do autor.
macaco.                                      http://www.autores.com.br/




                              Vânia Maria Souza
                                    Ennes
                              (Paraná em Trovas)

artigo por José Feldman
        Em 19 de junho de 2010, em um          edição, ocasião esta que tive a honra de
jantar integrante das festividades dos         conhecer pessoalmente esta trovadora,
Jogos Florais de Curitiba, a presidente da     plagiando a definição do irmão trovador
União Brasileira dos Trovadores do             maringaense Assis, "encantadora".
Paraná, Vãnia Maria Souza Ennes realizou
uma noite de autógrafos, ao lançar o seu                Encantada olho os pinheiros,
livro Paraná em trovas, em sua 3a.                       Formosos! Iguais? não há.


      Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.4 – Paraná, maio/junho de 2010.
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      Dos poetas são os parceiros                   De saudades de você…
        que versam o Paraná.                 NEIDE ROCHA PORTUGAL (Bandeirantes)
        (VÃNIA M. S. ENNES)
                                                       Ao Paraná, imagino,
                                                    dentro da graça altaneira,
        Vânia Ennes, filha do Paraná,               o pinheiro é como o Hino
como uma regente que comanda a sua                 ou como a própria Bandeira.
orquestra, sob o movimento de sua               FERNANDO VASCONCELLOS (Ponta
batuta faz com que nos embriaguemos                          Grossa)
em instantes de pura emoção. Através
das trovas contidas no livro vivemos os
acordes dos noturnos de Chopin, a                   Mas, Vânia não pára por aí. Seu
Pastoral de Beethoven, a Cavalgada das       livro é uma Arca de Noé que carrega
Valquírias de Wagner, a Marcha Triunfal,     todos que estão em seu caminho,
da Aída, de Verdi. Sejam nas trovas, ou      Pernambuco, Minas Gerais, Rio de
mesmo em textos de sua lavratura,            Janeiro, São Paulo, etc. e mesmo outros
podemos sentir a beleza que há no            países como Estados Unidos, Portugal,
mundo que nos rodeia. Sempre otimista,       Panamá, México, e outros, famosos e
essas trovas são o nascer do sol em toda     nem tão famosos.
a sua magnitude, o cantar dos
passarinhos ao despontar da aurora, é o              Como já dizia a poetisa norte-
dia morno a nos aquecer o coração, é o       americana Emily Dickinson (1830-1886)
final da tarde quando muitos de nós após     “Não há melhor fragata que um livro para
um dia intenso de trabalho nos sentamos      nos levar a terras distantes”, e Vânia
na varanda a saborear um tererê ou           comanda esta fragata por este Brasil
chimarrão. É a noite, não a escuridão,       imenso levando os trovadores nesta
não a tristeza que muitos buscam nela,       viagem e trazendo até nós toda esta
mas uma noite onde ela descortina uma        paisagem      exuberante,     vencendo
lua brilhante envolvida por um véu de        fronteiras nacionais e internacionais,
estrelas.                                    carregando a bandeira desfraldada da
                                             Trova “por mares nunca dantes
       Quando sopra o vento sul,             navegados”.
        a trova viaja e vai fundo.
       Seu caminho é o céu azul…                     O livro possui em seu bojo cerca
        Espalha-se pelo mundo!               de 400 trovas. Trovadores do Paraná, de
          (VÂNIA M. S. ENNES)                outros Estados do Brasil, de outros Países
                                             e de trovadores já falecidos que
                                             imortalizam as suas trovas nesta obra.
        Paraná em trovas é um livro, onde    Nomes do quilate de, além da autora,
esta      fantástica  trovadora     reúne    Antonio Augusto de Assis, Amália Max,
trovadores paranaenses que deixam a sua      Dinair Leite, Gerson Cesar Souza, José
marca no livro da história de nossa          Westphalen Corrêa, Lairton Trovão de
literatura tão vasta. Por seu intermédio     Andrade, Fernando Pessoa, Carlos
mostra que neste estado verdejante, de       Drummond,       Mario Quintana,      José
terra vermelha, existe um povo que sabe      Ouverney, Glédis Tissot, entre tantos
cantar os seus momentos de emoção,           outros.
com todo sentimento que pode ser
contido em uma trovinha de quatro                    Como ela mesma diz “saber viver
versos setessilábica.                        é saber quebrar as durezas normais da
                                             existência, ao conseguir enxergá-las com
          Vem trovador, vem correndo,        os olhos da alma e da serenidade de
         ao meu Paraná, porque               espírito.” É assim que é Vânia, tranquila
       O Pinheiro está morrendo…             cativando com seu sorriso a todos que


      Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.4 – Paraná, maio/junho de 2010.
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estão em seu caminho. É a voz de nosso             LUPICÍNIO RODRIGUES – Porto
querido Paraná, é a voz do Brasil.                          Alegre/RS

---------------------------------                   Tudo muda, tudo passa,
A seguir algumas das trovas de seu livro            Neste mundo de ilusão:
                                                   Vai para o céu a fumaça,
     Que a amizade não se meça                       Fica na terra o carvão.
        por sorrisos e elogios,              GUILHERME DE ALMEIDA – Campinas/SP
    mas por ser, sem que se peça,
       o sol em dias sombrios.                           Diz uma lenda tingui
DOMINGOS FREIRE CARDOSO – Portugal                 que Tupã, Deus dos guerreiros,
                                                       enterrando a lança aqui
          O poeta é um fingidor.                    fez nascer muitos pinheiros…
        finge tão completamente                    HARLEY CLÓVIS STOCCHERO –
      que chega a fingir que é dor,                           Curitiba/PR
        a dor que deveras sente.
     FERNANDO PESSOA – Portugal                     Pescador, pensa, avalia…
                                                       e diga se ainda crê
          Linda musa brasileña                        na graça da pescaria,
        llena de amor y bondad                       se o peixe fosse você…
          eres princesa risueña                  HERIBALDO BARROSO – Acari/RN
           que me da felicidad.                              ___________
  JOSELITO FERNÁNDEZ TAPIA – Perú            Fonte:
                                             – ENNES, Vânia Maria Souza (organizadora). Paraná
      Este é o exemplo que damos             em Trovas: Seleção de Trovas. 3a. Edição revisada e
       aos jovens recém-casados:             ampliada. Curitiba: ABRALI, 2009.
      que é melhor se brigar juntos          – Comentário: José Feldman
        do que chorar separados!

                               O. Henry
                        Memórias de um Cachorro
                                Amarelo

        Não creio que a nenhum de vós        num canto sobre um velho vestido de
incomode ler o que diz um cão. Kipling e     cetim: o mesmo em que a dona derramou
muitos outros demonstraram que os            vinho do Porto, em banquete oferecido
animais podem expressar-se num inglês        por Senhora Longshoremen.
sofrível e, hoje em dia, não se imprime              Vim ao mundo como um
revista alguma que não publique a            cachorrinho amarelo. A data, local,
história de um animal; somente as            genealogia e peso me são desconhecidos.
revistas mensais de feição antiga            O que primeiro me recordo é que uma
continuam pintando os horrores de Bryan      velha me tinha metido numa cesta, e que
e Monte Pelado.                              estava em entendimentos de me vender a
        Entretanto, não deveis procurar      uma robusta dama da Broadway.
aqui literatura aborrecida, como a do                A   velha,    mamãe      Hubard,
urso, do tigre ou da serpente da selva       enaltecia-me, dizendo que eu era um fox-
antilhana. Pode-se esperar qualquer          terrier da Pomerânia - hambletoniano -
surpresa de um cachorro amarelo que          irlandês roxo - Conchinchina - Stoke -
passou a maior parte de sua vida num         Pogis.
sobrado barato de Nova Iorque, dormindo


      Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.4 – Paraná, maio/junho de 2010.
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        A dama gorducha esgravatou             casariam! Laura não fazia mais do que
entre amostras de moleton que levava em        comer bombons e tomar sorvetes de
sua bolsa até que encontrou uma nota de        amêndoa, falar com o orchateiro durante
cinco, e entregou-lha. Desde aquele            meia hora, ler um maço de cartas antigas,
momento fui o favorito mimado da dama          comer uns quantos picles, beber duas
gorducha. Diga-me, gentil leitor: alguma       garrafas de cerveja maltada e passar as
vez em tua vida, uma gorducha de 200           horas mortas olhando para o andar da
libras de peso, de hálito misto de queijo      frente através de um buraco feito na
Camembert e couro te levantou no ar e          cortina. Vinte minutos antes da hora em
bamboleou, enquanto esfregava teu              que o marido devia regressar do trabalho,
corpo com o nariz, dizendo ao mesmo            começava ela a pôr tudo em ordem,
tempo palavrinhas como: Amor! Encanto!         inclusive sua dentadura postiça, e tirava
Riqueza! etc.?                                 uma porção de roupa a fim de passá-la
        De cachorrinho amarelo de raça         em dez minutos.
fui crescendo até me converter num cão                 Eu, naquela casa, levava uma vida
amarelo vira-latas, parecendo descender        de cachorro. A maior parte do dia
do cruzamento de gato angorá com caixa         passava     deitado   no     meu    canto,
de limões. Porém, minha dona jamais            observando como a gorducha matava o
hesitou: sempre imaginou que os dois           tempo. Algumas vezes dormia, e sonhava
primitivos cães que Noé meteu na arca          que perseguia gatos até fazê-los
pertenciam a um ramo colateral de meus         desaparecer nos portões, e que rosnava a
antecessores. Fiz com que dois guardas         todas as velhas que usavam luvas negras
impedissem que minha proprietária me           com os dedos de fora: coisas próprias de
apresentasse no jardim do Madison              um cachorro. Depois, a dona me dava
Square para que eu concorresse ao              palmadinhas com melosa bajulação e me
prêmio dos podengos siberianos.                beijava no focinho. Porém, que podia eu
        Vou contar algo a respeito daquele     fazer? Um cachorro não pode comer
pavimento. A casa era como o são               pedra.
ordinariamente em NY: de mármore no                    Comecei a compadecer-me de
porão     e    seixos   nos      pavimentos    Hubby, o marido; pareciamo-nos tanto,
superiores. Ao nosso, era preciso trepar       que a gente o manifestava quando
ao invés de ascender. Minha dona o             saíamos juntos. Em amável companhia
alugou desmobiliado, e instalou nele uma       visitávamos as ruas que percorre o carro
antiga sala de estar estofada, de 1903,        de Morgan, e pisávamos as últimas neves
umas gravuras a óleo com gueixas numa          que dezembro deixava nas vielas
casa de chá, plantas artificiais e o marido.   habitadas pela gente pobre.
        Eis um bípede que me causava                   Uma noite, quando passeávamos
tristeza! Era um homem pequeno, de             assim, enquanto procurava adotar a
cabelos amarelados como os meus. Era           aparência de um são-bernardo premiado
um dominado, um boneco que enxugava            e meu amo tratava de parecer um
a louça e escutava a mulher falar mal da       homem incapaz de assassinar o primeiro
vizinha do segundo, de quem dizia que          organista que executou a marcha nupcial
usava capa de peles de esquilo mas que a       de Mendelssohn, levantei para ele a
roupa interior era barata e esfarrapada e      cabeça e disse-lhe, a meu modo:
tinha a ousadia de exibi-la, pendurando-a              - Por que tendes esse gesto de
a secar. E todas as noites, enquanto ela       amargura? Ela não vos beija. Não tendes
ceava, fazia com que o esposo me               que sentar-vos sobre seu regaço nem
levasse a passeio, amarrado à ponta de         escutar sua tagarelice, essa tagarelice
uma corda.                                     capaz de fazer que a letra duma opereta
        Se os homens soubessem como            pareça o livro de máximas de Epíteto.
passam o tempo as mulheres quando              Deveis agradecer por não seres um
estão sozinhas em casa, nunca se               cachorro. Dai o fora na melancolia.


      Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.4 – Paraná, maio/junho de 2010.
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         Aquela      infelicidade    conjugal           Num lugar tranqüilo de certa rua,
desceu até mim os olhos, quase com              soltei a corda de meu guardião em frente
inteligência canina em seu semblante.           a uma atraente e refinada taberna.
         - Que há, cachorrinho? Olha-me         Empurrei com a cabeça as portas,
como se fosses capaz de falar. Que é que        ladrando como um cão que avisa
há? Gatos?                                      urgentemente à família que a pequena
         E    claro     que      não    podia   Alice caiu ao arroio quando estava
compreender-me. Aos humanos é vedada            colhendo flores.
a linguagem dos animais. O único terreno                - Ou estou cego, disse meu amo,
comum de comunicações em que homens             fazendo um muxoxo - ou este bicho me
e cachorros estão de acordo é o da              está dizendo que tome um gole. Há
ficção.                                         quanto tempo não gasto as solas dos
         No andar em frente ao nosso            meus sapatos pisando o chão destes
morava uma dona que tinha um fox-               estabelecimentos! Se...
terrier com manchas negras e marrons. O                 Vi que era meu. Tomou assento a
marido daquela senhora punha-lhe a              uma mesa e serviram-lhe uísque quente.
corrente e levava-o a passear também            Ali esteve uma hora tomando goles.
todas as noites, mas sempre regressava a        Permaneci ao seu lado, batendo com a
casa satisfeito e assobiando. Um dia            cauda para que o empregado acudisse,
juntei meu focinho com o do fox-terrier         comendo uma rica merenda, jamais
malhado e pedi-lhe que fizesse um               igualada pelos condimentos caseiros que
esclarecimento.                                 mamãe       Hubbard      comprava   numa
         - Escuta - disse-lhe eu - já sabes     tendinha oito minutos antes de papai
que é coisa imprópria de verdadeiros            chegar em casa.
homens fazer o papel de ama-seca com                    Quando se esgotaram os produtos
um cachorro em público. Eu nunca vi um          da Escócia, exceto o pão de centeio, o
que, indo com o cachorro, não pareça            velho me desamarrou da perna da mesa
senão querer bater em quantos olham             e tirou-me dali como um pescador tira os
para ele. Porém teu amo volta a casa            salmões. Já fora da casa, arrancou-me a
todos os dias tão galhardo e bem posto          coleira e atirou-a a rua.
como um prestidigitador diletante que                   - Pobre cachorrinho! Já não te
fizesse o truque do ovo. Como faz isso?         beijará mais essa sem-vergonha! Vai-te,
Não me venhas dizer que lhe agrada.             cachorrinho! Corre, e sê feliz!
         - Ele - respondeu o fox-terrier -              Não quis abandoná-lo e comecei a
usa o Próprio Remédio da Natureza.              traquinar e pular em volta dele, contente
Quando saímos de casa é tímido como             como um luluzinho sobre um tapete.
um coelho. Mas depois de termos                         - Mas não vês, cabeça de bobo,
passado por umas oito tavernas, tanto se        imbecil, que não quero deixar-te? Não
lhe dá que o que leva na extremidade da         compreendes que ambos somos os
corrente seja um cachorro ou um peixe.          meninos perdidos no bosque e que tua
Já perdi duas polegadas de cauda entre          mulher é o tio cruel, que nos persegue, a
as      portas     de       vaivém     desses   ti, com o pano de cozinha e a mim, com a
estabelecimentos.                               pomada para matar pulgas e a fita
         Pus-me a meditar sobre o que me        encarnada para me enfeitar a cauda? Por
disse o fox-terrier.                            que não cortas de uma vez essas coisas
         Uma tarde, lá pelas seis horas,        pela raiz e seremos camaradas toda a
minha ama ordenou ao seu marido que             vida?
desse banho em seu Amante. Ocultei até                  Direis talvez que não me
agora meu nome, porém era assim que             compreenderia; talvez assim fosse. Mas
eu me chamava. Aquele nome era para             ficou pensativo um pouco, ereto, apesar
mim uma espécie de lata amarrada ao             dos goles que levava no corpo, e disse-
rabo do meu próprio respeito.                   me:


      Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.4 – Paraná, maio/junho de 2010.
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        - Cachorrinho, nesta vida ninguém     três anos e foi criado por uma tia.
vive mais de uma dúzia de vidas. Eu não       Começou a trabalhar como aprendiz de
quero voltar para casa, e se tu o quiseres,   boticário aos quinze anos e depois
apesar do muito que te aborrece minha         mudou-se para o Texas (1882) onde
mulher, mereces que a carrocinha te leve.     trabalhou em uma fazenda de gado.
        Eu não estava amarrado; mas                  Casou e empregou-se como caixa
continuei junto do meu amo, saltando,         num Banco de Austin, tentando ao
até a estação ferroviária. E os gatos que     mesmo     tempo    escrever    comédia.
achei no trajeto viram que tinham razão       Comprou um jornal, a revista de humor
para agradecer por terem sido dotados de      The Rolling Stone (1894), porém o
unhas afiadas.                                projeto fracassou e ele passou a
        Ao chegar à janelinha, meu amo        trabalhar como repórter, colunista e
disse a um desconhecido que estava            cartunista no Houston Post.
comendo bolo com passas de Corinto:                  Acusado de um desfalque no
        - Meu cachorro e eu vamos para        Banco (1896), fugiu sozinho para
as Montanhas Rochosas.                        Honduras, mas voltou a Austin
        Porém, o que mais me agradou foi      passados três anos, ao saber da doença
que o velho, puxando-me as orelhas até        terminal    da   esposa.    Viúvo,   foi
me fazer gritar, disse:                       condenado a cumprir três anos de prisão
        - Oh, cachorrinho vulgar, cabeça      numa penitenciária do Ohio, período em
de macaco, rabo de rato e cor de enxofre.     que escreveu contos sob vários
Qual é teu nome?                              pseudônimos até definir-s por O. Henry.
        Eu, pensando no nome Amante,                 Em liberdade mudou-se para
soltei um triste lamento.                     New York (1902), onde continuou
        - Vou chamar-te Pedro - disse meu     escrevendo praticamente um conto por
amo; e ao ouvir aquilo, ainda que tivesse     semana e militando na imprensa e,
cinco caudas, ter-me-iam parecido poucas      embora extremamente popular, viveu o
para agitá-las em ação de graças,             resto da vida recluso, para não ser
fazendo justiça ao acontecimento.             reconhecido como William Sydney
                                              Porter.
                                                     Faleceu alcoólico e na miséria,
                                              em New York, deixando várias
                                              coletâneas de contos, entre elas
                                              Cabbages and Kings (1904), The Four
                                              Million (1906), Heart of the West
                                              (1907), The Voice of the City (1908) e
O. Henry (1862 - 1910)                        The Gentle Grafter (1908).
        William Sydney Porter, contista
estadunidense nascido em Greensboro,                    Fontes:
Carolina do Norte, cuja produção de           http://www.brasilescola.com/biografia/william-
contos romantizados, muitas vezes com         sydney.htm
finais imprevistos que se tornaram sua        http://www.releituras.com/ohenry_menu.asp
marca registrada e o tornaram um dos          http://nomevenganconcuentos.blog.com (retrato)
autores mais populares do seu tempo.          http://www.gargantadaserpente.com/coral/contos/oh_ca
De família culta e abastada, sua mãe          chorro.shtml
morreu tuberculosa quando ele tinha




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4 revista o voo da gralha azul numero 4 maio junho 2010

  • 1. no 4 - Ano 0 Paraná, maio/junho de 2010 Esta revista é gratuita, sendo proibido qualquer tipo de comercialização de seus artigos sem autorização dos respectivos autores.
  • 2. Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” n0. 4 – Paraná, maio/junho 2010 Idealização, seleção e edição: José Feldman Contatos, sugestões, colaborações: pavilhaoliterario@gmail.com http://singrandohorizontes.blogsp ot.com Que a humanidade possa aprender com a nossa Gralha-azul e entender que o equilíbrio e o respeito ecológico entre fauna e flora é fundamental para a existência do Homem na face da Terra!!! Prezado Prezado Leitor Esta revista não tem a pretensão e nunca poderá ser considerada como substituição aos livros, jornais, colunas, etc. que circulam virtualmente ou não, mas sim como mola propulsora de incentivo ao cidadão para buscar novos conhecimentos, ou relembrar aqueles perdidos na névoa do passado. Por que o Voo da Gralha Azul? A poetisa norte-americana Emily Dickinson, que viveu no século XIX, diz “Não há melhor fragata do que um livro para nos levar a terras distantes”. No caso da revista, esta fragata é a Gralha Azul, que assim como semeia o pinheiro, ela alça voo e semeia no coração de cada um que alcançar, o pinhão da cultura, em todas as suas manifestações. Ao leitor, novos conhecimentos. Ao escritor ou aspirante a tal, sejam poetas, trovadores, romancistas, dramaturgos, compositores, etc., um caminho de conhecimento e inspiração. Obrigado por me permitir dividir consigo estes breves momentos, José Feldman Esta revista é gratuita, sendo proibido qualquer tipo de comercialização de seus artigos sem autorização dos respectivos autores.
  • 3. SUMÁRIO ACADEMIAS Victor Hugo ............................................................. 131 Academia Caetiteense de Letras CONCURSOS COM INSCRIÇÕES ABERTAS Caetité: Terra das Letras ..........................91 Jogos Florais Casa do Sargento do Brasil - UBT Mage.. 164 Escritores de Caetité .................................94 IV Concurso de Trovas "João Chaves" ....................... 165 ANÁLISE DE OBRAS IX Jogos Florais do Rio de Janeiro – 2010................. 165 João Guimarães Rosa .................................................. ..................33 Sagarana .................................................. 33 XXX Concurso Estadual/Nacional e I Concurso Interno de Sarapalha ..................................................34 Trovas da Academia de Trovas do Rio Grande do Norte O Burrinho Pedrês.....................................35 Natal/2010............................................................... 165 A Hora e a Vez de Augusto Matraga.........37 V Concurso Literário Cidade de Maringá..................... 165 Conversa de Bois .......................................40 José Saramago 7o. Concurso Nacional de Poesia “Pérola da Lagoa” .... 166 Memorial do Convento ..............................108 5o. Festival de Contos e Poesias de Santa Lúcia/SP ..... 167 BIOGRAFIAS 3o. Concurso Cidade de Gravatal de Literatura (Conto e Adriana Falcão ..........................................................15 Poesia)..................................................................... 167 Ângela Varela ...........................................................73 21o. Concurso de Contos Paulo Leminski .................... 168 Antonio Augusto de Assis...........................................95 XVII Prêmio Cidade de Conselheiro Lafayete............... 169 Antônio Brasileiro ....................................................13 Concurso Nacional de Contos Newton Sampaio ........... 171 Artur da Távola.........................................................89 Concurso Nacional de Poesia Helena Kolody............... 173 Carlos Nogueira Fino .................................................72 ENTREVISTA Carlos Seabra ............................................................31 Dalila Teles Veras Cláudio Willer ..........................................................127 A Escritora em Xeque ............................................... 114 Dalila Teles Veras......................................................73 ESTANTE DE LIVROS Dimas de Carvalho ....................................................30 Nora Roberts Dorothy Jansson Moretti ............................................141 Luzes do Norte .......................................... 149 A Dama Negra........................................... 150 Edgar Allan Poe ........................................................62 Tesouros Escondidos ................................. 150 Eliane Potiguara........................................................143 A Villa........................................................ 150 Glauber Rocha ..........................................................27 Trilogia das Chaves Irene Lucília .............................................................71 A Chave da Luz......................................... 151 A Chave do Saber...................................... 151 José António Gonçalves ............................................70 A Chave da Coragem ................................ 151 José Carlos Ryoki de Alpoim Inue...............................49 FOLCLORE José de Sainz-Trueva.................................................72 Espanhol Folclore Espanhol José Ouverney...........................................................106 O Anão e o Gigante ................................... 66 Leon Eliachar ...........................................................136 Folclore Indígena Maria Aurora Carvalho Homem ..................................73 As Amazonas (Icamíabas)......................... 146 As Icamíabas e Orellana – A Lenda ......... 147 Miriam Mermelstein ..................................................88 O Ódio das Amazonas ............................... 148 Natália Bonito ...........................................................65 O Mítico Jurupari e As Amazonas............ 148 Neida Rocha..............................................................52 Buscas Arqueológicas................................ 149 Nora Roberts ............................................................151 Folclore do Japão Origens de Maneki-Neko .......................... 78 O. Henry ..................................................................25 O Gato Assombrado de Nabeshima .......... 79 Patativa do Assaré ....................................................43 João Cirino Gomes Plínio Marcos ...........................................................121 Floresta Encantada................................... 16 Roberto Protti...........................................................10 Esta revista é gratuita, sendo proibido qualquer tipo de comercialização de seus artigos sem autorização dos respectivos autores.
  • 4. HAICAIS A Carteira ................................................. 75 O. Henry Carlos Seabra Memórias de um Cachorro Amarelo......... 22 Crianças.....................................................30 Temporal....................................................30 Plínio Marcos O Pranto e o Canto pelos Anjos Caídos .... 117 Boteco.........................................................30 Cometa.......................................................30 Roberto Protti O Nome...................................................... 9 Granizo ......................................................30 Cabelo ........................................................30 Sandra M. Júlio Amanhecer dos Sonhos ............................. 65 Caruma ......................................................30 Nevada.......................................................30 Vicência Jaguaribe Motus Continuus....................................... 57 Jornal.........................................................31 Vassoura ....................................................31 POESIAS Telefone......................................................31 Alba Krishna Topan Feldman Serenata.....................................................31 Terra.......................................................... 102 Furinho ......................................................31 Ângela Varela Mordomo ....................................................31 A Fala Das Coisas ..................................... 73 Estrela .......................................................31 Corpo Mineral ........................................... 73 Criado ........................................................31 Antonio Brasileiro Queda.........................................................31 Anotações Do Imemoriado ........................ 10 Sombra.......................................................31 O Sim & Outros Achaques ........................ 10 Corrida.......................................................31 Nuança ...................................................... 11 Sapato ........................................................31 Cálice......................................................... 11 Sabor..........................................................31 Soneto Do Amor Profano........................... 11 NOTÍCIAS Cem Anos .................................................. 11 Concerto p/ Flauta de Canudo de Mamão ... 11 Escritor Brasileiro recordista no Guiness com mais de mil A Noite Das Nove Luas............................. 11 livros publicados.......................................................153 Arte Poética............................................... 12 E-Book indígena divulga trabalho de 11 escritores em Tudo Que Somos ....................................... 12 defesa de suas tradições ............................................154 Contemplação Da Nuvem ......................... 12 A Espuma Das Coisas ............................... 12 Falecimento do escritor maringaense Emílio Germani, dia 2 Mnemósine Revisitada.............................. 12 de junho, aos 92 anos de idade ..................................155 O Estiolar Das Coisas ............................... 13 O ESCRITOR COM A PALAVRA O Ofício...................................................... 13 Adriana Falcão Quadra ...................................................... 13 O doido da garrafa.......................................... 14 Carlos de Oliveira Antonio Augusto de Assis Amazônia................................................... 98 A Enchente ................................................84 Carlos Nogueira Fino Antonio Roberto de Paula “a ambigüidade não é a que insinua” ....... 72 Campeonatos da Vida................................45 Dalila Teles Veras Aparecido Raimundo de Souza Vida Murada ............................................. 81 Conversa de Cavalos .................................144 Elemento Em Fúria .................................. 81 Artur da Tavola Paisagem ................................................... 81 Conversando com Deus .............................88 Forasteiros Registros Nordestinos............ 81 Dimas Carvalho Performance .............................................. 82 O Manuscrito .............................................28 Paisagem Marítima................................... 82 Edgar Allan Poe Falsos Haicais ........................................... 82 A Máscara da Morte Escarlate..................58 Subúrbio .................................................... 82 José Carlos Ryoki de Alpoim Inue 10 De Junho .............................................. 82 O Sebo ........................................................48 A Fotografar Vidas.................................... 82 Laé de Souza Viuvez Sem Espera ................................... 83 E Se o Mundo Acabasse? ...........................107 Sol Sem Aço............................................... 83 Leon Eliachar Meu Pai – Retrato Falado......................... 83 Conheça-se a Si Mesmo .............................134 Eliana Palma Machado de Assis Hábeas – Pinho ......................................... 96
  • 5. Eliane Potiguara Cachecol. ................................................... 54 Oração pela Libertação dos Povos Indígenas .. 99 Viver Solitário ........................................... 55 Glauber Rocha - Poemas Eskolhidos Bala Achada. ............................................. 55 Kapital Song ..............................................26 Entre O Nascente E O Poente ................. 55 Querido Tom ..............................................26 O Caminho De Cada Um. ......................... 55 Desejo.........................................................27 "Internet Da Natureza"............................. 56 Irene Lucília Sons Da Noite............................................ 56 Sete Partidas .............................................71 Reencontro De Almas................................ 56 Jeanette Monteiro de Cnop Nicodema Nicodema Alves Dualidades.................................................100 Caetité ....................................................... 101 Joacir Zen Ranieri Patativa do Assaré Sete Quedas ...............................................101 Saudade..................................................... 41 José José António Gonçalves Aos Poetas Clássicos ................................. 41 Pôr-Do-Sol..................................................71 Pedro Du Bois Sainz- José de Sainz-Trueva Humano..................................................... 98 “De um só golpe” ........................................72 Silviah Carvalho “Mais secreto é o dia”.................................72 Hábeas Cor – Liberte Coração.................. 97 José Viale Moutinho: Victor Hugo Antimemória Com Funchal .......................69 Ontem A Noite .......................................... 128 Machado de Assis Homem & Mulher ..................................... 128 A Palmeira.................................................7 A Fonte ...................................................... 129 Ela..............................................................7 O Sepulcro E A Rosa ................................. 129 Teu Canto ..................................................8 Aparição .................................................... 129 Um Anjo.....................................................8 As Contemplações ..................................... 130 Minha Musa...............................................8 Os Cantos Do Crepúsculo ......................... 130 Cognac!.......................................................9 " O Amor " ................................................. 130 Maria Aurora Carvalho Homem Palavras Sobre A Duna............................. 130 Um Jeito De Dizer Solidão ........................73 Mãe E Filho............................................... 131 Sá- Mário de Sá-Carneiro SOPA DE LETRAS Quase ....................................................... 99 ....................................................... .......................99 Claúdio Willer Mário Quintana Brasil e Portugal: nossa língua, nossas A Vida... .....................................................99 literaturas ................................................. 122 Natália Bonito Dalila Teles Veras Inspiração ..................................................63 Poesia Madeirense .................................... 68 Apaixonantes Sensações............................64 Eliane Potiguara Ingrata Submissão ....................................64 Literatura Indígena: Instrumento de Estrofes Solitárias .....................................64 Conscientização......................................... 142 Não Engano Meu Coração .........................65 Miriam Mermelstein Fugaz Eternidade De Viver.......................65 Sobre o Gosto da Leitura na Escola.......... 85 Neida Rocha Noções Básicas de Conservação de Livros e Porque Escrevo ..........................................50 Documentos Meditação...................................................51 Introdução: a ordem dos fatores altera o Espelho ......................................................51 produto ...................................................... 156 Escrever .....................................................51 Conservação Preventiva ........................... 157 Apenas...Viver ...........................................51 Fatores Internos de Degradação............... 157 Gestos E Olhares .......................................51 Fatores Externos de Degradação.............. 157 Páscoa ........................................................52 Umidade e Temperatura........................... 157 Angel. .........................................................52 Luz............................................................. 158 Mãezinha. ..................................................52 Poluição atmosférica ................................. 158 Meu Pai......................................................52 Insetos, Roedores e Fungos....................... 159 Meus Medos. ..............................................53 A Ação do Homem como Fonte de Degradação Uma Mulher De Muitos Homens. .............53 do Acervo ................................................... 159 Teu Chamado.............................................54 Higienização de Acervo ............................. 161 Viagem Astral............................................54 Higienização de Documentos .................... 162 Porque Sou Poeta.......................................54
  • 6. Higienização do Assoalho ..........................162 Trovas Infantis.......................................... 141 Melhoria Ambiental: Área de Guarda do Aquarela de Trovas .................................. 16 Trovas.................................. ................................ Acervo ........................................................162 Izo Goldman Melhoria das Condições Ambientais .........162 Trovas de Quem Ama a Trova .................. 47 Desastres em Bibliotecas: Inundação e José Ouverney Incêndio .....................................................163 Palestra em Trovas: A Sogra .................... 104 Montagem de Exposições: Recomendações Vânia Maria Souza Ennes Técnicas .....................................................163 Paraná em Trovas ..................................... 17 Conclusão...................................................164 INDICAÇÃO DE SITES DE LITERATURA TEATRO DE ONTEM E DE SEMPRE Projetos de Leitura (Laé de Souza)............................. 176 A Casa de Chá do Luar de Agosto.............102 Simultaneidades (Andréa Motta)................................ 176 A Morte do Caixeiro Viajante....................103 Falando de Trova (José Ouverney)............................. 176 TROVAS Projeto Releituras (Arnaldo Nogueira Jr.) .................. 177 Antonio Augusto de Assis Trovas ........................................................94 Domínio Público....................................................... 177 Dorothy Jansson Moretti Trovas ........................................................140
  • 7. 7 Machado de Assis Poemas A PALMEIRA Adeus, palmeira! ao cantor A FRANCISCO GONÇALVES BRAGA Guarda o segredo de amor; Sim, cala os segredos meus! Como é linda e verdejante Não reveles o meu canto, Esta palmeira gigante Esconde em ti o meu pranto Que se eleva sobre o monte! Adeus, ó palmeira!... adeus! Como seus galhos frondosos S’elevam tão majestosos RJ, 6 jan. 1855 Quase a tocar no horizonte! Ó palmeira, eu te saúdo, ELA Ó tronco valente e mudo, Da natureza expressão! Nunca vi, — não sei se existe Aqui te venho ofertar Uma deidade tão bela, Triste canto, que soltar Que tenha uns olhos brilhantes Vai meu triste coração. Como são os olhos dela! F. G. BRAGA Sim, bem triste, que pendida Tenho a fronte amortecida, Seus olhos que brilham tanto, Do pesar acabrunhada! Que prendem tão doce encanto, Sofro os rigores da sorte, Que prendem um casto amor Das desgraças a mais forte Onde com rara beleza, Nesta vida amargurada! Se esmerou a natureza Com meiguice e com primor. Como tu amas a terra Que tua raiz encerra, Suas faces purpurinas Com profunda discrição; De rubras cores divinas Também amei da donzela De mago brilho e condão; Sua imagem meiga e bela, Meigas faces que harmonia Que alentava o coração. Inspira em doce poesia Ao meu terno coração! Como ao brilho purpurino Do crepúsculo matutino Sua boca meiga e breve, Da manhã o doce albor; Onde um sorriso de leve Também amei com loucura Com doçura se desliza, Ess’alma toda ternura Ornando purpúrea cor, Dei-lhe todo o meu amor! Celestes lábios de amor Que com neve se harmoniza. Amei!... mas negra traição Perverteu o coração Com sua boca mimosa Dessa imagem da candura! Solta voz harmoniosa Sofri então dor cruel, Que inspira ardente paixão, Sorvi da desgraça o fel, Dos lábios de Querubim Sorvi tragos d’amargura! Eu quisera ouvir um — sim — ........................................ Pr’a alívio do coração! Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.4 – Paraná, maio/junho de 2010.
  • 8. 8 29 jun. 1855 Vem, ó anjo de candura, Fazer a dita, a ventura UM ANJO De minh’alma, sem vigor; Donzela, vem dar-lhe alento, À MEMÓRIA DE MINHA IRMÃ Faz-lhe gozar teu portento, “Dá-lhe um suspiro de amor!” Se deixou da vida o porto Teve outra vida nos céus. TEU CANTO A. E. ZALUAR A UMA ITALIANA Foste a rosa desfolhada É sempre nos teus cantos sonorosos Na urna da eternidade, Que eu bebo inspiração. Pr’a sorrir mais animada, Mais bela, mais perfumada DO AUTOR [“Meu Anjo”.] Lá na etérea imensidade. Tu és tão sublime Rasgaste o manto da vida, Qual rosa entre as flores E anjo subiste ao céu De odores Como a flor enlanguecida Suaves; Que o vento pô-la caída Teu canto é sonoro E pouco a pouco morreu! Que excede ao encanto Do canto Tu’alma foi um perfume Das aves. Erguido ao sólio divino; Levada ao celeste cume Eu sinto nest’alma, C’os Anjos oraste ao Nume Num meigo transporte, Nas harmonias dum hino. Meu forte Dulçor; Alheia ao mundo devasso, Se soltas teu canto Passaste a vida sorrindo; Que o peito me abala, Derribou-te, ó ave, um braço, Que fala Mas abrindo asas no espaço De amor. Ao céu voaste, anjo lindo. Se soltas as vozes Esse invólucro mundano Que podem à calma, Trocaste por outro véu; Minh’alma Deste negro pego insano Volver; Não sofreste o menor dano Minh’alma se enleva Que tu’alma era do Céu. Num gozo expansivo De vivo Foste a rosa desfolhada Prazer. Na urna da eternidade Pr’a sorrir mais animada Donzela, esta vida Mais bela, mais perfumada Se eu tanto pudera, Lá na etérea imensidade. Quisera RJ, out. 1855 Te dar; Se um beijo eu pudesse MINHA MUSA Ardente e fugace Na face A Musa, que inspira meus tímidos cantos, Pousar. É doce e risonha, se amor lhe sorri; É grave e saudosa, se brotam-lhe os Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.4 – Paraná, maio/junho de 2010.
  • 9. 9 prantos. A Musa que inspira meus versos de amor! Saudades carpindo, que sinto por ti. RJ, 22 fev. 1856 A Musa, que inspira-me os versos COGNAC!... nascidos De mágoas que sinto no peito a pungir, Vem, meu Cognac, meu licor d’amores!... Sufoca-me os tristes e longos gemidos, É longo o sono teu dentro do frasco; Que as dores que oculto me fazem trair. Do teu ardor a inspiração brotando O cérebro incendeia!... A Musa, que inspira-me os cantos de Da vida a insipidez gostoso adoças; prece, Mais val um trago teu que mil grandezas; Que nascem-me d’alma, que envio ao Suave distração — da vida esmalte, Senhor. Quem há que te não ame? Desperta-me a crença, que às vezes Tomado com o café em fresca tarde ‘dormece Derramas tanto ardor pelas entranhas, Ao último arranco de esp’ranças de amor. Que o já provecto renascer-lhe sente Da mocidade o fogo! A Musa, que o ramo das glórias enlaça, Cognac! — inspirador de ledos sonhos, Da terra gigante — meu berço infantil, Excitante licor — de amor ardente! De afetos um nome na idéia me traça, Uma tua garrafa e o Dom Quixote, Que o eco no peito repete: — Brasil! É passatempo amável! Que poeta que sou com teu auxílio! A Musa, que inspira meus cantos é livre, Somente um trago teu m’inspira um Detesta os preceitos da vil opressão, verso; O ardor, a coragem do herói lá do Tibre, O copo cheio o mais sonoro canto; Na lira engrandece, dizendo: — Catão! Todo o frasco um poema! ------------------- O aroma de esperança, que n’alma Fonte: recende, LEAL, Cláudio Murilo (org.). Toda poesia de Machado É ela que aspira, no cálix da flor; de Assis. RJ: Record, 2008. É ela que o estro na fronte me acende, Roberto Protti (O Nome) A cena se passou numa fila do INSS para – Mas eu tenho, infelizmente! recebimento do auxílio-doença, igual a – E como é que você se arranja com um muitas que se vêem por este Brasil afora. nome desses? – Nome? – E o que é que eu posso fazer? Matar o – Colosflónio Único da Silva. meu pai? Ele já está morto há muito – Cavalheiro, não estou aqui para tempo! Foi ele quem botou esse nome em brincadeira! O nome certo? – falou, já mim, e eu, recém-nascido não podia meio bravo, o atendente do outro lado do protestar! Meu pai quis que seu filho guichê. tivesse um nome inédito no Brasil! E me – Colosflónio Único da Silva. arranjou esse que só me dá encrenca. Já fui até parar na delegacia por ter E o gajo já foi metendo quase nas fuças esbofeteado uma moça que fez chacota do funcionário sua carteira de identidade, do meu nome. Já apanhei e bati por para comprovar o seu nome verdadeiro. causa do nome. Não passa um só dia em – Mas, isso é nome que alguém tenha? que não tenha de explicar essa maldita Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.4 – Paraná, maio/junho de 2010.
  • 10. 10 herança que meu pai me deixou. Mas também é tanta praga que eu rogo para ele, que até o seu esqueleto deve dançar no caixão! Roberto Protti, nasceu na cidade Logo atrás do infortunado, um homem de São Paulo, em agosto de 1923. Nos “gordo às pampas” ria e falava: seus oitenta anos, guarda muitas – Isso não é nada! Podia ser pior! recordações preciosas: da infância no bairro tumultuado e alegre, dos tempos Mas foi logo fulminado com o olhar de de Grupo escolar e Ginásio e de sua “poucos amigos” do proprietário do nome atividade como executivo de vendas, que e até a “autoridade” do guichê se o ajudou a aguçar seu senso de pronunciou: observação. As reflexões que o – Cavalheiro, o assunto não lhe diz acompanharam nessa longa caminhada respeito. Cale-se! e o hábito de ler bons livros despertaram seu interesse em escrever. Depois do atendimento ao único dono de Por duas vezes, participou do Concurso tal nome no Brasil, que por sinal tinha de "Talentos da Maturidade", promovido voltar, pois, como sempre, faltava um pelo Banco Real. Foi convidado a documento para satisfazer o Instituto, lá participar de todas as edições seguintes se foi ele embora todo chateado. do concurso, mas declinou do convite por estar empenhado na composição da Murmurou entredentes o funcionário: presente obra. O embrulho inédito é seu “Cada nome que me aparece neste primeiro livro. "Inédito", portanto, na guichê!” autoria e não só no conteúdo. – O próximo. Nome? – Paquiderme Junqueira. Fonte: PROTTI, Roberto. O embrulho inédito. Osasco, SP: Novo Século, 2004. ps.75 Antonio Brasileiro Poemas ANOTAÇÕES DO IMEMORIADO onde os homens se congregam: A consciência, fiapo de quê, ninguém jamais sabe ao certo no mar da alma? onde o sim das grandes aves, (E o ter que contar os meus segredos, singramos por mares mansos que eu mesmo guardei que julgáramos esquecidos — e esqueci.) mas eis que a vida se perde O SIM & OUTROS ACHAQUES por falta de outros desígnios. A vida inteira anulada Ou não se perde: é só isto. por falta de outros desígnios, eis que voltamos ao parque Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.4 – Paraná, maio/junho de 2010.
  • 11. 11 NUANÇA buscando-me a fisionomia — mas já passei, agora Meus caminhos, meus mapas, sou apenas poesia. meus caminhos. Vejo rostos que me amam Tudo está em ordem tentando saber quem fui — em minha vida. sou um retrato, miragem que o tempo dilui. Como se faltasse alguma coisa. Vejo braços que me acenam chamando-me insistentemente — CÁLICE para que, se a folha que passa passa tão de repente? A vida não tem roteiros, só velas que nos acenam CONCERTO P/ FLAUTA DE CANUDO do mar. DE MAMÃO Escuta, amiga, Vou cativar um beija-flor. o desfiar das horas: E sairemos por aí: elas te dirão é tua ele faz poesias, eu voo. é tua a vida. A NOITE DAS NOVE LUAS Toma-a (como se toma um cálice de rosas) Deixai-me com meus lírios e minhas luas. na mão. Andar é sempre a mesma luz SONETO DO AMOR PROFANO à frente. Não me consinta o amor tanta alegria, Vou explodir com os planetas pois, por não merecê-la, me constrange vou seguir a rota das galáxias o peito (já uma dor, não longe, me ai amor sussurra que este amor sem agonias estou prestes a me dissolver não há de consentir em tanta graça), no ar. eis que, perdidamente, já pressinto — e quanto, e quanto — que em amor, Mas deixai-me com meus lírios perdidos e interlúdios todos os lances, não há como obtê-lo nestes mares nunca mares calmos mares. de outro modo que não por sacrifícios / e eis que este, pois, gratuita dádiva, Deixai-me com meus lírios me chega às mãos de um modo tão e sonetos. profano, Vou explodir de luz um dia desses, que quase certo estou de que, se o amiga, um dias desses. tenho, Deixai-me com meus lírios já não o tenho por justo e dadivoso e sonetos. mas por amor que é fruto só de engano. Hás de me encontrar E não me engana um amor quando insone e louco enganoso. no meio dos trigais da inconsciência, ai, declamando CEM ANOS os versos que Van Gogh não escreveu. Vejo mãos que me folheiam Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.4 – Paraná, maio/junho de 2010.
  • 12. 12 ARTE POÉTICA a vida é a contemplação daquela nuvem. E o mundo Meus versos são da pura essência uma forma de passar, que inventamos dos poemas inessenciais. para não ver que o mundo não é o mundo, Nada dizem de verídico mas uma nuvem não querem nada explicar. passando. Não narram o clamor dos peitos E uma nuvem passando não encaram a dor do mundo. ensina-nos mais coisas que cem pássaros mil livros um milhão de homens. Se por vezes falam alto é por puro gozo, júbilo. A vida é a contemplação daquela nuvem. E o mundo humor que brota de dentro uma forma de passar, que inventamos como se movem os astros. para não ver que o mundo não é o mundo, Eles, meus versos, são pura mas uma nuvem. floração de irresponsáveis Passando. flores nascidas nos mangues, (Cantar de amiga, 1996) por nascer — mas multicores, A ESPUMA DAS COISAS lindas, não importa que os homens as conheçam ou não conheçam. A grande ilusão do insustentável. O lama e os não-desejos. (A Pura Mentira, 1982) A imensidão de um cosmos de brinquedo. O estrelejar do hoje versus TUDO QUE SOMOS o princípio. Ou o precipício. Tudo que somos, pouco sabemos. Sossega, peito meu, és só a espuma das coisas vãs gozadas uma a uma. Um poço imenso, cheio de sonhos. MNEMÓSINE REVISITADA Quando choramos, A memória do homem, coisa simples. não nos perdemos. Esquece-se de que somos esquecidos e cheios de saudades. Viver é um sonho, Saudades do que fomos e o que somos, Não esqueçamos. já esquecido em socavões de tardes. Como se hojes fossem inacabáveis Viver é a sombra, e não viessem cobri-los outros sonos. o assombro, o apenas. Ingratidão, memória, é teu nome. Tão frágeis somos! Frágeis e imensos. Tudo que somos vai virar saudade (não importa o peso, a pluma, a CONTEMPLAÇÃO DA NUVEM asperidade) de tudo que não fomos — e, eis, p/ Luis Alberto esplende. Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.4 – Paraná, maio/junho de 2010.
  • 13. 13 O ESTIOLAR DAS COISAS multifacetada, seu raio de ação inclui, além da literatura e das artes plásticas, Os sonos estão parados um sólido estudo de filosofia. Com vinte no portal do amplo oceano. e duas obras publicadas (poesia, ensaio, conto, romance, teatro), divide o resto Eis meus touros minotauros do tempo entre o amor pelos livros e a envoltos em vis novelos. música, a prática do tênis e o cultivo do ócio. E a lágrima perdida Brasileiro nasceu em 1944, em no amplíssimo deserto? Rui Barbosa, no sertão baiano, onde viveu até 1955, quando se transferiu O OFÍCIO para Salvador. Desde 1972 vive em Feira de Santana. Tem uma fazenda de No fim dos tempos, gado no Acre. É doutor em Letras pela vou estar numa casinha de palha, Universidade Federal de Minas Gerais uns livros, um lápis, [1999]. Dedicado praticante de tênis. papel almaço, a alma pura Faz ginástica e longas caminhadas e uns rabiscos pra ninguém ler, diárias. “Se eu não me cuidar, quem vai só cuidar de mim?” Seu cultivo do ócio me confessar. inclui música, leituras filosóficas, do tao e do zen, e conversas com os amigos. Ao deus dentro de mim, primeiramente. Ensina Teoria da Literatura na E a quem não interessar possa. graduação em Letras da Universidade Estadual de Feira de Santana. Mas não QUADRA faz desse ensino a exposição do que é chato, porque tem os olhos e os ouvidos Se alguém me espera? abertos para o que diz Goethe no Quem dera. Fausto: “Toda teoria é cinzenta, caro amigo. Só a verdadeira árvore da vida é Se o bonde veio? verde”. Mas cheio. Quarenta e um anos de poesia — com incursões na ficção e no ensaio — e Se ganhei na vida? 43 de pintura. Dos 22 livros que Feridas. publicou, considera como os mais importantes: Caronte [romance, 1995], Não vai dar? Deixa Antologia poética [1996], A história do estar. gato [conto, 1997], Da inutilidade da poesia [2002] e Poemas reunidos [2005]. Segundo Brasileiro "A rigor, a poesia nunca esteve “em alta”. Alguns nomes conseguem se tornar mais conhecidos, pouquíssimos ultrapassam Pintor e poeta baiano: é assim sua própria geração. Mas quantas que Antônio Brasileiro gosta de se pessoas mesmo, dessas que você vê definir. Mas não são essas poucas todos os dias trafegando por aí, sequer palavras que melhor o definem. Figura ouviram falar de Drummond, nosso referencial entre os nomes surgidos a maior poeta? E se ouviram, quantos partir doa anos 60, Antonio Brasileiro, dentre seus mil poemas conhecem? reconhecido nacionalmente pela sua Dois? Três? Isso é conhecer um poeta? produção poética, estreou na ficção com Não é só a poesia que resiste à o romance Caronte é também figura de mercantilização; há outros saberes." destaque como agitador cultural. Mente Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.4 – Paraná, maio/junho de 2010.
  • 14. 14 “Dir-se-ia que a voz do poeta, dançarinos entediados, somos grãos de filtrada pelo sentimento do eu lírico, areia na ampulheta, sozinhos, frente à amplia-se à medida em que encontra eternidade das coisas tão perenes, ressonância no sentimento do mundo. quando a vida é apenas um susto...” (...) A inquietação de estar no mundo (Myriam Fraga) permeia esta poesia. Uma poesia Convidado oficial da I Bienal metafísica, no sentido mesmo de Internacional de Poesia de Brasília, perplexidade frente ao mistério da participa da antologia POEMÁRIO da I existência, da inutilidade de todas as BIP. coisas diante do tempo que passa, inexorável, em seu eterno fluir. A ironia Fontes: como que a mascarar a angústia de http://www.antoniomiranda.com.br/ saber que o canto é tão inútil e tão http://blogs.abril.com.br/lenidavid necessário e que nesta festa de http://www.litbr.com/entrevistas-antoniobrasileiro.htm Adriana Falcão O doido da garrafa Ele não era mais doido do que as da rua e do apressada. Geralmente ficava outras pessoas do mundo, mas as outras uma obra-prima. pessoas do mundo insistiam em dizer que Gostava muito de observar as ele era doido. pessoas na rua, do cheiro de café, de Depois que se apaixonou por uma cantar e de ouvir música. Não gostava garrafa de plástico de se carregar na muito do fato de ter pernas, mas acabou bicicleta e passou a andar sempre com se acostumando com elas. De cabelo ele ela pendurada na cintura, virou o Doido gostava. Em compensação, tinha da Garrafa. verdadeiro horror a multidão, bermudão, O Doido da Garrafa fazia tubarão, ladrão, camburão, bajulação, passarinhos de papel como ninguém, mas afetação, dança de salão, falta de era especialista mesmo em construir educação e à palavra bife. barquinhos com palitos. Batizava cada Escrevia cartas para ninguém, barco com um nome de mulher e, umas em prosa, outras em poesia, como enquanto estava trabalhando nele, morria mero exercício de estilo. de amores pela dona imaginária do nome. Tinha mania de dar entrevistas Depois ia esquecendo uma por uma, para o vento e já sabia a resposta de todas elas, com exceção de Olívia, uma qualquer pergunta que porventura nau antiga que levou dezessete dias para alguém pudesse lhe fazer um dia. ser construída. Ajudava o dicionário a explicar as Batucava muito bem e vivia coisas inventando palavras necessárias, inventando, de improviso, músicas como dorinfinita. especialmente compostas para toda e Adorava álgebra, mas tinha qualquer finalidade, nos mais variados particular antipatia por trigonometria, pois gêneros. Uai aí aquela da mulher de blusa não encontrava nenhum motivo para se verde atravessando a rua apressada, e o pegar pedaços de triângulos e fazer Doido da Garrafa imediatamente contas tão difíceis com eles. compunha um samba, uma valsa, um Conhecia mitologia a fundo. rock, um rap, um blues, dependendo da Tinha angústia matinal, uma mulher de blusa verde, do atravessando, depressão no meio da tarde que ele Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.4 – Paraná, maio/junho de 2010.
  • 15. 15 chamava de cinco horas, porque era a suicidou e a mãe, um tempo depois, hora que ela aparecia, e uma insônia tomou uma dose fatal de comprimidos crônica a quem chamava carinhosamente para dormir. de Proserpina. Formada em Arquitetura, logo Sentia uma paixão azul dentro do após formar-se voltou para o Rio de peito, desde criança, sempre que olhava Janeiro junto com João Falcão, seu o mar e orgulhava-se muito disso. marido, que se mudou para lá a fim de Acreditava no amor, mas tinha fazer teatro. Lá começou a escrever os vergonha da frase. diálogos, e os atores começaram a Às vezes falava sozinho, Preferia gostar de seus diálogos e a usá-los nas tristeza à agonia. peças. Nunca exerceu a profissão de Todas as noites, entre oito e dez e arquiteta, pois logo descobriu sua meia, era visto andando de um lado para vocação para a literatura. o outro da rua, método que tinha Seu primeiro livro, voltado para inventado para acabar de vez com a o público infantil, "Mania de preocupação de fazer a volta de repente, Explicação", teve duas indicações para o quando achava que já tinha andado o Prêmio Jabuti/2001 e recebeu o Prêmio suficiente. (Preferia que ninguém Ofélia Fontes — "O Melhor para a percebesse que ele não tinha para onde Criança"/2001, da Fundação Nacional ir.) Enquanto andava, repetia dentro da do Livro Infantil e Juvenil. Em 2002, cabeça incessantemente a palavra publicou "Luna Clara & Apolo Onze", ecumênico sem ter a menor idéia da seu primeiro romance juvenil. Seu razão pela qual fazia isso. romance "A Máquina" foi levado aos Durante o dia o Doido da Garrafa palcos por João Falcão. Na televisão, trabalhava numa multinacional, era Adriana colaborou em vários episódios sujeito bem visto, supervisor de de "A Comédia da Vida Privada", departamento, ganhava um bom salário e "Brasil Legal" e "A grande família", gratificações que entregava para a mulher todos da Rede Globo. Adaptou, com aplicar em fundos de investimento. Guel Arraes, "O Auto da Compadecida", No fim do ano ia trocar de carro. de Ariano Suassuna, para a TV, Era excelente chefe de família. posteriormente levado ao cinema. Não era mais doido do que as Outros livros da escritora: outras pessoas do mundo, mas sempre “Pequeno dicionário de palavras ao que ele passava as outras pessoas do vento” (2003); “A tampa do céu” (2005)- mundo pensavam, lá vai o Doido da ilustrações de Ivan Zigg e, em conjunto Garrafa, e assim se esqueciam das suas com outros escritores,”Histórias dos próprias garrafas um pouquinho. tempos de escola: Memória e aprendizado” (2002); “Contos de estimação” (2003); “A comédia dos anjos” (2004); “PS Beijei” (2004); “Contos de escola” (2005); “O Zodíaco – Doze signos, doze histórias” (2005); “Tarja preta” (2005); "Sonho de uma noite de verão" (2007) e "Sete histórias Solidão é uma ilha com saudade de para contar" (2008). barco (Adriana Falcão) Fontes: http://www.releituras.com.br/ Roteirista e escritora brasileira. http://pt.wikipedia.org/ Nasceu no Rio de Janeiro, e mudou-se http://www.pensador.info/ para Recife aos 11 anos de idade. Teve FALCÃO, Adriana. O doido da garrafa. SP: Ed. Planeta uma história de vida trágica: o pai do Brasil, 2003. Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.4 – Paraná, maio/junho de 2010.
  • 16. 16 Aquarela de Trovas Num tempo em que tanta guerra O meu sonho é que na terra enche o mundo de terror, as guerras cheguem ao fim benditos os que na Terra, e todo o campo de guerra semeiam versos de Amor! se transforme num Jardim... (A.A de Assis - PR) (lzo Goldman - São Paulo) As trovas são diamantes A morte é como a partida, que certo ourives, um dia, pela porta da saudade... com suas mãos operantes, Que se fecha para a vida cravou no anel da poesia. e se abre pra eternidade... (Giselda Medeiros - CE) (Emílio Leão de Mattos Sounis – Paraná) Tenho andado esquecido tão esquecido estou Haveria paz na terra, que esqueço se tenho ido não seria a vida inquieta, se estou vindo ou se vou de a criança em vez de guerra, (Silmar Bohrer - SC) brincasse de ser poeta (Luiz Otávio 1916-1977) João Cirino Gomes Floresta Encantada Os moradores da floresta - Não sei, mas vamos ver - encantada viviam em festa e fantasia. respondeu Douradinho. Cascudinho e Douradinho eram Em seguida, viram a dona Anta, e dois peixinhos, e moravam em um suas duas filhas, Antônia e Antonieta que se riacho que cortava a floresta. aproximavam... Depois de saciarem a sede, Naquela tarde ensolarada os elas se sentaram na relva e se puseram a dois amiguinhos brincavam de pular. conversar. Douradinho se dizia campeão de Em dado momento, Antônia pediu: - salto em altura. Como Cascudinho não Mamãe; conta àquela estória do menino queria ficar atrás, começou a disputa. que era desobediente? A cada pulo olhavam pra fora da - É mesmo mamãe! - Concordou sua água, apostando quem enxergava mais irmã Antonieta toda empolgada. longe. Depois de algumas insistências, Na volta diziam o que tinham dona Anta começou: - Era uma vez um visto. garoto branquinho, que morava com sua Depois de vários saltos, mãe na floresta. A mulher era muito Douradinho voltou com a novidade. bondosa, mas seu filho se tornou um - Esta chegando alguém. peralta. João de Barro é quem o diga. O - Quem será? - Perguntou garoto vivia o perseguindo. Cascudinho que era curioso. Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.4 – Paraná, maio/junho de 2010.
  • 17. 17 Dona Sabiá também não tinha *** sossego, e já estava magra de tanto - Mamãe agora conta àquela estória fugir das pedradas do menino. Com sua do bicho papão? - Pediu Antonieta. perversidade o malvado tirava a paz de - Vamos para casa, pois já esta todos os moradores da floresta. Muitas ficando tarde. Amanhã eu conto - concluiu vezes o garoto tentou derrubar a dona anta, e saiu, sendo seguida por suas casinha, que João de barro construíra filhas. com sacrifício. Os dois amiguinhos também se Sua maior magoa, era ver João despediram. de barro e Joaninha cantarem felizes da E quando iam se afastando, vida, sobre os galhos da paineira. apareceu "Odoro", tio de Douradinho, que Certa tarde, depois de muito chegava para fazer uma visita a sua irmã matutar, o menino resolveu que Dorotéia. acabaria com aquela alegria. Escondido - Ao avistar o sobrinho, Odoro da mãe pegou um tição no fogão, e foi perguntou: - Que você esta fazendo até para a floresta. estas horas longe de casa menino? Todo empolgado juntou um - Tio eu e meu amigo Cascudinho monte de folhas, e acendeu uma estávamos ouvindo a dona Anta contar a fogueira junto ao tronco da paineira, estória de um menino muito levado, que se onde morava João de barro. chama Saci Pererê. Ele era malvado, e não - Eles vão ver comigo - dizia o obedecia a sua mãe, e talvez por isso tenha perverso, esfregando a mão de recebido um castigo. contentamento. - Quando eu era jovem, ouvi falar Deitou-se na relva, e ficou deste menino - disse Odoro. olhando para o alto, esperando o - O que você ouviu titio? resultado da sua perversidade. Mas - Vamos pra casa, chegando lá eu pegou no sono, e as chamas conto. começaram a se alastrar. Então Douradinho abanou a cauda João de barro e Juaninha mais rapidamente, e devido a sua grande percebendo o perigo; cantavam curiosidade pediu: - O tio vai contando pelo tentando desperta-lo, mas nada do caminho! - Fique calmo guri, eu vou contar, menino acordar. agora ande vamos! Quando as chamas lamberam Nem bem entraram por entre as seu calcanhar, ele se levantou e pensou pedras, onde morava Dorotéia, e o garoto em fugir, porem já era tarde... já estava ao lado do tio, pedindo ansioso: - Desesperado tentou subir na arvore Agora conta! para se livrar das labaredas. Quando se Diante da insistência, Odoro agarrou em um galho foi ao chão e começou a narrativa. quebrou a perna. Então aumentou seu - Certa tarde eu nadava na maior desespero; não conseguia se levantar, tranqüilidade, quando notei dois pescadores e começou a gritar. se aproximando em uma canoa. Tanto gritou que sua mãe veio Ao invés de prestarem atenção no ao seu socorro. que estavam fazendo, eles remavam Depois de enfrentar as chamas, distraidamente, conversando a bondosa senhora o pegou no colo, e animadamente. o levou para a casa. Eu aproveitei estas distrações, e tirei Mas o malvado tinha se a isca do anzol deles por varias vezes. Mas queimado, e estava pretinho como um não querendo abusar da sorte, e já de carvão. barriga cheia, fiquei ouvindo suas Desde então, ganhou o apelido conversas. de Saci Perere. O mais velho disse: Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.4 – Paraná, maio/junho de 2010.
  • 18. 18 - Este riacho me parece Chegando a sua casa debulhou o encantado, em todo lugar que vou milho e colocou na panela. Pegou seu pescar, nunca perco uma fisgada, cachimbo encheu de fumo, e o deixou sobre quando puxo sai uma lasca de um o fogão. peixão, e aqui já puxei varias vezes; Deitou-se na rede, e ficou ali com perdi varias iscas e não peguei nada. um olho fechado e o outro aberto, fingindo - Como assim encantado? - que cochilava. Perguntou o pescador mais novo, ao Logo escutou um assobio. Em contador de prosa, que usava um poucos instantes um menino pretinho chapelão de palha. chegou pulando numa perna só. Entrou - Rapaz, eu tenho um compadre porta adentro e foi direto ao fogão. Encheu chamado Bentinho, que cuida de uma a mão de pipoca, e levou a boca. Lambeu roça pra estas bandas, - disse o velho. os beiços, e despejou o restante da pipoca Certa vez ele me contou, que dentro da toca. quando voltava do trabalho, resolveu Depois pegou uma brasa colocou no pegar umas espigas de milho. cachimbo, deu uma baforada e saiu. Chegando a casa debulhou o milho e Já no terreiro, deu uma gargalhada colocou numa panela. Em seguida e sumiu. encheu o cachimbo com um fumo que - Então é isso seu safado? - pensou ele mesmo cultivava, e começou a meu compadre. meditar: Eu estouro pipoca; você vem e - Depois de comer um punhado come, fuma meu cachimbo, e ainda sai de pipoca, dou uma tragada no meu dando risada? cachimbo e vou descansar. - Há, mas eu vou te dar uma lição; Com estes pensamentos, deitou- vou sim, pode esperar seu danado!-Disse se na rede e ficou balançando, meu compadre; que estava bravo feito uma esperando a pipoca estralar. onça. E como estava cansado, meu No dia seguinte, fez à mesma coisa, compadre adormeceu. escolheu três rechonchudas espigas de Quando acordou, foi até o milho, com belas cabeleiras ruivas, e foi fogão, e notou que não havia nenhum para casa. grão de pipoca na panela. Então ele Lá chegando, debulhou o milho e ficou cismado. colocou na panela. Pegou seu cachimbo, e nele Só que ao invés de por fumo no também não tinha fumo. cachimbo, colocou pólvora. Deitou - se na - Eu não lembro de ter fumado, rede, e ficou fingindo que cochilava... - pensou ele. Não demorou muito ouviu o assobio, Olhou para um canto, olhou logo o pretinho entrou sorridente pulando para o outro, coçou a cabeça, e numa perna só. Foi para o fogão, perguntou a si mesmo, - será que estou experimentou um punhado de pipoca e caducando? Não pode ser; também não despejou novamente o restante dentro da comi pipoca, e tenho certeza que eu toca. Pegou o cachimbo, e quando o trouxe milho. A maior prova disso são ascendeu e deu uma tragada, a pólvora se as palhas que estão aqui! incendiou e, bumm! Naquela noite meu compadre Com a explosão, e a fumaceira, o ficou matutando até tarde. Saci tomou um susto e caiu de costas. No dia seguinte foi para a roça, Meu compadre deu um grito, e só e trabalhou o dia todo pensativo. viu o vulto que se engatinhou por baixo da À tarde quando saiu do rede e fugiu. trabalho, olhou para o milharal, e Bentinho foi até a porta e gritou: - pegou outras espigas. Viu seu safado, quem ri por ultimo ri melhor! Em seguida deu uma gargalhada e Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.4 – Paraná, maio/junho de 2010.
  • 19. 19 retornou para dentro da casa ainda E o bicho papão desiludido, virou enfumaçada. uma fera. Quando já se deitava na rede, Chamou o Bicho Preguiça de lerdo, notou que na sua pressa, o Saci tinha de irresponsável... E o Bicho Preguiça esquecido a toca cheia de pipoca. chateado com as ofensas respondeu: O dia seguinte amanheceu - Se você ficar me criticando, e me fazendo muito frio, e Bentinho resolveu apressando; eu não vou entregar droga de dormir até mais tarde. convite nenhum. Assim que o sol começou a Então o Bicho Papão se afastou surgir, escutou um choro. resmungando, mas não desistiu. Saiu para o quintal, e viu o saci No dia seguinte, resolveu organizar chorando. uma nova festa. - Porque chora seu peralta? - Desta vez, o macaco que era mais Perguntou Bentinho. ágil, é quem iria entregar os convites. -É que eu estou com muito frio. Só tinha um inconveniente, Por favor, seu moço me devolva minha precisavam de um barco, pois a festança toca. Sem ela eu não tenho magia. seria em uma ilha. - Então você esta querendo a E os animais da floresta, sem toca de volta, para continuar desconfiar das intenções do Bicho Papão, aprontando das suas em? começaram a trabalhar na construção do - Não seu moço, eu prometo barco. não fazer mais artes. No dia da festa, o Pavão apareceu - Se for assim eu devolvo. todo empolgado com sua plumagem Depois de colocar a toca na colorida. cabeça, o Saci agradeceu e se foi. Daí O Coelho e dona Coelha, davam em diante ninguém mais ouviu falar saltos de alegria. nele! Todos entraram no barco e seguiram *** em direção a ilha. - Tio, amanhã a dona Anta vai A festa estava animada.... A contar uma estória do bicho papão, bicharada dançava, pulava e batia palmas. será que ele existe mesmo? O macaco batucava, a cigarra - Já faz muito tempo que não chiava, a coruja cantava e tocava sanfona, ouço falar nele! - Respondeu Odoro. e o bode corria entre os convidados, - Há muito tempo atrás, o rei fazendo a maior farra. Leão autorizou o Bicho Papão comer E o Bicho Papão em um canto, todas as crianças desobedientes. Matutava: Com medo do Bicho Papão, as - Vou embebedar a todos... Assim crianças se tornaram boas, e não será mais fácil come-los! desobedeciam mais seus pais. O Gambá foi o primeiro a ficar Desta forma aconteceu que o bêbado, e queria brigar com o Tatu. Bicho Papão ficou sem alimentação, Então Bicho Papão apartou a briga e pois o rei tinha autorizado ele comer disse: somente as crianças teimosas. - Eu levarei o compadre ao riu para Com fome; Bicho Papão que era se refrescar. Abraçou-se ao Gambá e se cheio de astúcia, resolveu fazer uma afastaram. - Este é o primeiro que vou festa. Sua intenção era convidar todos comer, - pensou ele. os animais, e come-los um a um. Assim que chegaram ao rio, viu que O Bicho Preguiça ficou tanto ele quanto o Gambá estavam incumbido de entregar os convites. fedendo. Quando chegou o dia da festa, Por mais que o esfregasse aquele nenhum convite ainda tinha sido mau cheiro persistia. Varias vezes tentou entregue. engolir o gambá, chegou até a tapar o Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.4 – Paraná, maio/junho de 2010.
  • 20. 20 nariz, mas quando se aproximava com - Não diga! E como eu farei a boca aberta, sentia o fedor, fazia compadre? Eu não quero ser levado pelo ânsia e se afastava. vento! - Disse o Bicho Papão temeroso. Depois de muito tempo dentro - Nós vamos nos amarrar nas da água gelada, o bicho papão arvores! - Informou o macaco. começou a espirrar. - Atichim... - E o compadre pode me amarrar?- Atichim... Revoltado, e com fome, Perguntou o Bicho Papão. abandonou o bêbado em um canto, e - Sim! Só que você será o ultimo! - decidiu voltar para o baile. Falou o macaco, que era muito maroto. Antes, porem, resolveu soltar o - Eu sendo o dono da festa, tenho o barco na correnteza. direito de ser amarrado primeiro! - Enquanto desamarrava o barco Questionou o Bicho Papão. dizia: - Agora ninguém mais sai daqui. - Então vamos consultar os E quando eu sarar desta gripe, vou convidados, - disse o macaco. - Se todos comer todos, um após o outro. estiverem de acordo, faremos a sua Mas o Pavão que estava de vontade! ressaca, foi beber água no rio. Ao ouvir Só tem um inconveniente, o que o bicho papão dizia, voltou precisamos de um cipó bem forte. voando para a festa, e lá chegando -Pode deixar que eu pego o cipó! - contou para bicharada o que tinha visto Falou o bicho papão. e ouvido. Entrou na floresta, e logo retornou De madrugada a coruja com uma braçada de cipó. começou a cantar um estranho refrão: Então os animais amarraram o Bicho - Coitado de quem não sabe? Papão em um tronco, e lhe deram uma E a bicharada respondia: - Ainda surra com vara de marmelo. bem que estou sabendo! Depois jogaram o tronco na E o refrão continuava. - Coitado correnteza. de quem não sabe...! - Ainda bem que E o Bicho Papão se foi rio abaixo. estou sabendo... Se ainda existe não sei. Mas que - Atichim... Que musica é esta? - existiu, existiu! Isso eu falo e afirmo! - Disse Perguntou o Bicho Papão. Odoro. - Então o compadre não sabe? - Vem vindo um temporal ai, e o vento Fontes: vai levar tudo pelos ares - respondeu o Colaboração do autor. macaco. http://www.autores.com.br/ Vânia Maria Souza Ennes (Paraná em Trovas) artigo por José Feldman Em 19 de junho de 2010, em um edição, ocasião esta que tive a honra de jantar integrante das festividades dos conhecer pessoalmente esta trovadora, Jogos Florais de Curitiba, a presidente da plagiando a definição do irmão trovador União Brasileira dos Trovadores do maringaense Assis, "encantadora". Paraná, Vãnia Maria Souza Ennes realizou uma noite de autógrafos, ao lançar o seu Encantada olho os pinheiros, livro Paraná em trovas, em sua 3a. Formosos! Iguais? não há. Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.4 – Paraná, maio/junho de 2010.
  • 21. 21 Dos poetas são os parceiros De saudades de você… que versam o Paraná. NEIDE ROCHA PORTUGAL (Bandeirantes) (VÃNIA M. S. ENNES) Ao Paraná, imagino, dentro da graça altaneira, Vânia Ennes, filha do Paraná, o pinheiro é como o Hino como uma regente que comanda a sua ou como a própria Bandeira. orquestra, sob o movimento de sua FERNANDO VASCONCELLOS (Ponta batuta faz com que nos embriaguemos Grossa) em instantes de pura emoção. Através das trovas contidas no livro vivemos os acordes dos noturnos de Chopin, a Mas, Vânia não pára por aí. Seu Pastoral de Beethoven, a Cavalgada das livro é uma Arca de Noé que carrega Valquírias de Wagner, a Marcha Triunfal, todos que estão em seu caminho, da Aída, de Verdi. Sejam nas trovas, ou Pernambuco, Minas Gerais, Rio de mesmo em textos de sua lavratura, Janeiro, São Paulo, etc. e mesmo outros podemos sentir a beleza que há no países como Estados Unidos, Portugal, mundo que nos rodeia. Sempre otimista, Panamá, México, e outros, famosos e essas trovas são o nascer do sol em toda nem tão famosos. a sua magnitude, o cantar dos passarinhos ao despontar da aurora, é o Como já dizia a poetisa norte- dia morno a nos aquecer o coração, é o americana Emily Dickinson (1830-1886) final da tarde quando muitos de nós após “Não há melhor fragata que um livro para um dia intenso de trabalho nos sentamos nos levar a terras distantes”, e Vânia na varanda a saborear um tererê ou comanda esta fragata por este Brasil chimarrão. É a noite, não a escuridão, imenso levando os trovadores nesta não a tristeza que muitos buscam nela, viagem e trazendo até nós toda esta mas uma noite onde ela descortina uma paisagem exuberante, vencendo lua brilhante envolvida por um véu de fronteiras nacionais e internacionais, estrelas. carregando a bandeira desfraldada da Trova “por mares nunca dantes Quando sopra o vento sul, navegados”. a trova viaja e vai fundo. Seu caminho é o céu azul… O livro possui em seu bojo cerca Espalha-se pelo mundo! de 400 trovas. Trovadores do Paraná, de (VÂNIA M. S. ENNES) outros Estados do Brasil, de outros Países e de trovadores já falecidos que imortalizam as suas trovas nesta obra. Paraná em trovas é um livro, onde Nomes do quilate de, além da autora, esta fantástica trovadora reúne Antonio Augusto de Assis, Amália Max, trovadores paranaenses que deixam a sua Dinair Leite, Gerson Cesar Souza, José marca no livro da história de nossa Westphalen Corrêa, Lairton Trovão de literatura tão vasta. Por seu intermédio Andrade, Fernando Pessoa, Carlos mostra que neste estado verdejante, de Drummond, Mario Quintana, José terra vermelha, existe um povo que sabe Ouverney, Glédis Tissot, entre tantos cantar os seus momentos de emoção, outros. com todo sentimento que pode ser contido em uma trovinha de quatro Como ela mesma diz “saber viver versos setessilábica. é saber quebrar as durezas normais da existência, ao conseguir enxergá-las com Vem trovador, vem correndo, os olhos da alma e da serenidade de ao meu Paraná, porque espírito.” É assim que é Vânia, tranquila O Pinheiro está morrendo… cativando com seu sorriso a todos que Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.4 – Paraná, maio/junho de 2010.
  • 22. 22 estão em seu caminho. É a voz de nosso LUPICÍNIO RODRIGUES – Porto querido Paraná, é a voz do Brasil. Alegre/RS --------------------------------- Tudo muda, tudo passa, A seguir algumas das trovas de seu livro Neste mundo de ilusão: Vai para o céu a fumaça, Que a amizade não se meça Fica na terra o carvão. por sorrisos e elogios, GUILHERME DE ALMEIDA – Campinas/SP mas por ser, sem que se peça, o sol em dias sombrios. Diz uma lenda tingui DOMINGOS FREIRE CARDOSO – Portugal que Tupã, Deus dos guerreiros, enterrando a lança aqui O poeta é um fingidor. fez nascer muitos pinheiros… finge tão completamente HARLEY CLÓVIS STOCCHERO – que chega a fingir que é dor, Curitiba/PR a dor que deveras sente. FERNANDO PESSOA – Portugal Pescador, pensa, avalia… e diga se ainda crê Linda musa brasileña na graça da pescaria, llena de amor y bondad se o peixe fosse você… eres princesa risueña HERIBALDO BARROSO – Acari/RN que me da felicidad. ___________ JOSELITO FERNÁNDEZ TAPIA – Perú Fonte: – ENNES, Vânia Maria Souza (organizadora). Paraná Este é o exemplo que damos em Trovas: Seleção de Trovas. 3a. Edição revisada e aos jovens recém-casados: ampliada. Curitiba: ABRALI, 2009. que é melhor se brigar juntos – Comentário: José Feldman do que chorar separados! O. Henry Memórias de um Cachorro Amarelo Não creio que a nenhum de vós num canto sobre um velho vestido de incomode ler o que diz um cão. Kipling e cetim: o mesmo em que a dona derramou muitos outros demonstraram que os vinho do Porto, em banquete oferecido animais podem expressar-se num inglês por Senhora Longshoremen. sofrível e, hoje em dia, não se imprime Vim ao mundo como um revista alguma que não publique a cachorrinho amarelo. A data, local, história de um animal; somente as genealogia e peso me são desconhecidos. revistas mensais de feição antiga O que primeiro me recordo é que uma continuam pintando os horrores de Bryan velha me tinha metido numa cesta, e que e Monte Pelado. estava em entendimentos de me vender a Entretanto, não deveis procurar uma robusta dama da Broadway. aqui literatura aborrecida, como a do A velha, mamãe Hubard, urso, do tigre ou da serpente da selva enaltecia-me, dizendo que eu era um fox- antilhana. Pode-se esperar qualquer terrier da Pomerânia - hambletoniano - surpresa de um cachorro amarelo que irlandês roxo - Conchinchina - Stoke - passou a maior parte de sua vida num Pogis. sobrado barato de Nova Iorque, dormindo Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.4 – Paraná, maio/junho de 2010.
  • 23. 23 A dama gorducha esgravatou casariam! Laura não fazia mais do que entre amostras de moleton que levava em comer bombons e tomar sorvetes de sua bolsa até que encontrou uma nota de amêndoa, falar com o orchateiro durante cinco, e entregou-lha. Desde aquele meia hora, ler um maço de cartas antigas, momento fui o favorito mimado da dama comer uns quantos picles, beber duas gorducha. Diga-me, gentil leitor: alguma garrafas de cerveja maltada e passar as vez em tua vida, uma gorducha de 200 horas mortas olhando para o andar da libras de peso, de hálito misto de queijo frente através de um buraco feito na Camembert e couro te levantou no ar e cortina. Vinte minutos antes da hora em bamboleou, enquanto esfregava teu que o marido devia regressar do trabalho, corpo com o nariz, dizendo ao mesmo começava ela a pôr tudo em ordem, tempo palavrinhas como: Amor! Encanto! inclusive sua dentadura postiça, e tirava Riqueza! etc.? uma porção de roupa a fim de passá-la De cachorrinho amarelo de raça em dez minutos. fui crescendo até me converter num cão Eu, naquela casa, levava uma vida amarelo vira-latas, parecendo descender de cachorro. A maior parte do dia do cruzamento de gato angorá com caixa passava deitado no meu canto, de limões. Porém, minha dona jamais observando como a gorducha matava o hesitou: sempre imaginou que os dois tempo. Algumas vezes dormia, e sonhava primitivos cães que Noé meteu na arca que perseguia gatos até fazê-los pertenciam a um ramo colateral de meus desaparecer nos portões, e que rosnava a antecessores. Fiz com que dois guardas todas as velhas que usavam luvas negras impedissem que minha proprietária me com os dedos de fora: coisas próprias de apresentasse no jardim do Madison um cachorro. Depois, a dona me dava Square para que eu concorresse ao palmadinhas com melosa bajulação e me prêmio dos podengos siberianos. beijava no focinho. Porém, que podia eu Vou contar algo a respeito daquele fazer? Um cachorro não pode comer pavimento. A casa era como o são pedra. ordinariamente em NY: de mármore no Comecei a compadecer-me de porão e seixos nos pavimentos Hubby, o marido; pareciamo-nos tanto, superiores. Ao nosso, era preciso trepar que a gente o manifestava quando ao invés de ascender. Minha dona o saíamos juntos. Em amável companhia alugou desmobiliado, e instalou nele uma visitávamos as ruas que percorre o carro antiga sala de estar estofada, de 1903, de Morgan, e pisávamos as últimas neves umas gravuras a óleo com gueixas numa que dezembro deixava nas vielas casa de chá, plantas artificiais e o marido. habitadas pela gente pobre. Eis um bípede que me causava Uma noite, quando passeávamos tristeza! Era um homem pequeno, de assim, enquanto procurava adotar a cabelos amarelados como os meus. Era aparência de um são-bernardo premiado um dominado, um boneco que enxugava e meu amo tratava de parecer um a louça e escutava a mulher falar mal da homem incapaz de assassinar o primeiro vizinha do segundo, de quem dizia que organista que executou a marcha nupcial usava capa de peles de esquilo mas que a de Mendelssohn, levantei para ele a roupa interior era barata e esfarrapada e cabeça e disse-lhe, a meu modo: tinha a ousadia de exibi-la, pendurando-a - Por que tendes esse gesto de a secar. E todas as noites, enquanto ela amargura? Ela não vos beija. Não tendes ceava, fazia com que o esposo me que sentar-vos sobre seu regaço nem levasse a passeio, amarrado à ponta de escutar sua tagarelice, essa tagarelice uma corda. capaz de fazer que a letra duma opereta Se os homens soubessem como pareça o livro de máximas de Epíteto. passam o tempo as mulheres quando Deveis agradecer por não seres um estão sozinhas em casa, nunca se cachorro. Dai o fora na melancolia. Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.4 – Paraná, maio/junho de 2010.
  • 24. 24 Aquela infelicidade conjugal Num lugar tranqüilo de certa rua, desceu até mim os olhos, quase com soltei a corda de meu guardião em frente inteligência canina em seu semblante. a uma atraente e refinada taberna. - Que há, cachorrinho? Olha-me Empurrei com a cabeça as portas, como se fosses capaz de falar. Que é que ladrando como um cão que avisa há? Gatos? urgentemente à família que a pequena E claro que não podia Alice caiu ao arroio quando estava compreender-me. Aos humanos é vedada colhendo flores. a linguagem dos animais. O único terreno - Ou estou cego, disse meu amo, comum de comunicações em que homens fazendo um muxoxo - ou este bicho me e cachorros estão de acordo é o da está dizendo que tome um gole. Há ficção. quanto tempo não gasto as solas dos No andar em frente ao nosso meus sapatos pisando o chão destes morava uma dona que tinha um fox- estabelecimentos! Se... terrier com manchas negras e marrons. O Vi que era meu. Tomou assento a marido daquela senhora punha-lhe a uma mesa e serviram-lhe uísque quente. corrente e levava-o a passear também Ali esteve uma hora tomando goles. todas as noites, mas sempre regressava a Permaneci ao seu lado, batendo com a casa satisfeito e assobiando. Um dia cauda para que o empregado acudisse, juntei meu focinho com o do fox-terrier comendo uma rica merenda, jamais malhado e pedi-lhe que fizesse um igualada pelos condimentos caseiros que esclarecimento. mamãe Hubbard comprava numa - Escuta - disse-lhe eu - já sabes tendinha oito minutos antes de papai que é coisa imprópria de verdadeiros chegar em casa. homens fazer o papel de ama-seca com Quando se esgotaram os produtos um cachorro em público. Eu nunca vi um da Escócia, exceto o pão de centeio, o que, indo com o cachorro, não pareça velho me desamarrou da perna da mesa senão querer bater em quantos olham e tirou-me dali como um pescador tira os para ele. Porém teu amo volta a casa salmões. Já fora da casa, arrancou-me a todos os dias tão galhardo e bem posto coleira e atirou-a a rua. como um prestidigitador diletante que - Pobre cachorrinho! Já não te fizesse o truque do ovo. Como faz isso? beijará mais essa sem-vergonha! Vai-te, Não me venhas dizer que lhe agrada. cachorrinho! Corre, e sê feliz! - Ele - respondeu o fox-terrier - Não quis abandoná-lo e comecei a usa o Próprio Remédio da Natureza. traquinar e pular em volta dele, contente Quando saímos de casa é tímido como como um luluzinho sobre um tapete. um coelho. Mas depois de termos - Mas não vês, cabeça de bobo, passado por umas oito tavernas, tanto se imbecil, que não quero deixar-te? Não lhe dá que o que leva na extremidade da compreendes que ambos somos os corrente seja um cachorro ou um peixe. meninos perdidos no bosque e que tua Já perdi duas polegadas de cauda entre mulher é o tio cruel, que nos persegue, a as portas de vaivém desses ti, com o pano de cozinha e a mim, com a estabelecimentos. pomada para matar pulgas e a fita Pus-me a meditar sobre o que me encarnada para me enfeitar a cauda? Por disse o fox-terrier. que não cortas de uma vez essas coisas Uma tarde, lá pelas seis horas, pela raiz e seremos camaradas toda a minha ama ordenou ao seu marido que vida? desse banho em seu Amante. Ocultei até Direis talvez que não me agora meu nome, porém era assim que compreenderia; talvez assim fosse. Mas eu me chamava. Aquele nome era para ficou pensativo um pouco, ereto, apesar mim uma espécie de lata amarrada ao dos goles que levava no corpo, e disse- rabo do meu próprio respeito. me: Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.4 – Paraná, maio/junho de 2010.
  • 25. 25 - Cachorrinho, nesta vida ninguém três anos e foi criado por uma tia. vive mais de uma dúzia de vidas. Eu não Começou a trabalhar como aprendiz de quero voltar para casa, e se tu o quiseres, boticário aos quinze anos e depois apesar do muito que te aborrece minha mudou-se para o Texas (1882) onde mulher, mereces que a carrocinha te leve. trabalhou em uma fazenda de gado. Eu não estava amarrado; mas Casou e empregou-se como caixa continuei junto do meu amo, saltando, num Banco de Austin, tentando ao até a estação ferroviária. E os gatos que mesmo tempo escrever comédia. achei no trajeto viram que tinham razão Comprou um jornal, a revista de humor para agradecer por terem sido dotados de The Rolling Stone (1894), porém o unhas afiadas. projeto fracassou e ele passou a Ao chegar à janelinha, meu amo trabalhar como repórter, colunista e disse a um desconhecido que estava cartunista no Houston Post. comendo bolo com passas de Corinto: Acusado de um desfalque no - Meu cachorro e eu vamos para Banco (1896), fugiu sozinho para as Montanhas Rochosas. Honduras, mas voltou a Austin Porém, o que mais me agradou foi passados três anos, ao saber da doença que o velho, puxando-me as orelhas até terminal da esposa. Viúvo, foi me fazer gritar, disse: condenado a cumprir três anos de prisão - Oh, cachorrinho vulgar, cabeça numa penitenciária do Ohio, período em de macaco, rabo de rato e cor de enxofre. que escreveu contos sob vários Qual é teu nome? pseudônimos até definir-s por O. Henry. Eu, pensando no nome Amante, Em liberdade mudou-se para soltei um triste lamento. New York (1902), onde continuou - Vou chamar-te Pedro - disse meu escrevendo praticamente um conto por amo; e ao ouvir aquilo, ainda que tivesse semana e militando na imprensa e, cinco caudas, ter-me-iam parecido poucas embora extremamente popular, viveu o para agitá-las em ação de graças, resto da vida recluso, para não ser fazendo justiça ao acontecimento. reconhecido como William Sydney Porter. Faleceu alcoólico e na miséria, em New York, deixando várias coletâneas de contos, entre elas Cabbages and Kings (1904), The Four Million (1906), Heart of the West (1907), The Voice of the City (1908) e O. Henry (1862 - 1910) The Gentle Grafter (1908). William Sydney Porter, contista estadunidense nascido em Greensboro, Fontes: Carolina do Norte, cuja produção de http://www.brasilescola.com/biografia/william- contos romantizados, muitas vezes com sydney.htm finais imprevistos que se tornaram sua http://www.releituras.com/ohenry_menu.asp marca registrada e o tornaram um dos http://nomevenganconcuentos.blog.com (retrato) autores mais populares do seu tempo. http://www.gargantadaserpente.com/coral/contos/oh_ca De família culta e abastada, sua mãe chorro.shtml morreu tuberculosa quando ele tinha Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.4 – Paraná, maio/junho de 2010.