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                             Paraná, março/abril de 2010




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                                             respectivos autores.
SUMÁRIO

ACADEMIAS                                                                        XXIII Jogos Florais de Ribeirão Preto .................... 98
Academia de Letras de Rondônia..............81                                   XI Jogos Florais Estudantis de Ribeirão Preto ........... 98
ANÁLISE DE OBRAS                                                                 ENTREVISTA
Mario de Andrade                                                                 Alberto Paco (Maringá/PR)
Contos Novos .............................................
                                                                                 O Escritor em Xeque................................................. 89
BIOGRAFIAS                                                                       ESTANTE DE LIVROS
Anayde Beiriz............................................................93      ALUÍSIO AZEVEDO
Antonio Augusto de Assis...........................................54            O cortiço .................................................... 106
Antonio Brás Constante..............................................4            ÁLVARES DE AZEVEDO
Antonio Roberto de Paula ..........................................15            Noite na taverna ....................................... 106
                                                                                 ALVARO CARDOSO GOMES
Aparecido Raimundo de Souza...................................52                 Fase terminal ............................................ 108
Branca Tirollo...........................................................80      ANTONIO CALLADO
Caio Porfírio Carneiro ...............................................58         A expedição Montaigne ............................. 107
Clarice Lispector........................................................70                       GUIMARÃES
                                                                                 BERNARDO GUIMARÃES
                                                                                 A escrava Isaura ....................................... 108
Dinair Leite ...............................................................81   O seminarista............................................ 109
Franklin Ras Lopes....................................................51         CAMILO CASTELO BRANCO
Helena Kolody...........................................................43       Amor de perdição ...................................... 107
José Carlos Capinan ...................................................28        EDUARDO BUENO
                                                                                 A viagem do descobrimento ...................... 107
Luiz Otávio................................................................36    Capitães do Brasil – A saga dos primeiros
Mario de Andrade......................................................21         colonizadores ............................................. 107
Nilto Maciel...............................................................13    Náufragos , traficantes e degredados ....... 107
Oswald de Andrade....................................................6           O descobrimento das Índias...................... 107
                                                                                 ELIAS JOSÉ
Pedro Ornellas ..........................................................79      Um pássaro em pânico.............................. 109
Pedro Silva ...............................................................18    ELISABETH LOIBL
Tatiana Belinky ........................................................29       O mistério do índio voador........................ 110
Tchelo D’ Barros........................................................57       O segredo do ídolo de barro....................... 110
                                                                                 GUILHERME DE OLIVEIRA FIGUEIREDO
Vicência Jaguaribe ....................................................3         Tratado geral dos chatos........................... 108
CONCURSOS COM INSCRIÇÕES ABERTAS                                                 HERNÂNI DONATO
XX Concurso de Trovas de Pindamonhangaba ...........94                           Brasil 5 séculos ......................................... 108
VI Concurso de Trovas da UBT-Maranguape/2010 ......94                            IVAN ÂNGELO
                                                                                 A face horrível ........................................... 106
Jogos Florais UBT Seccional Mérida – Venezuela.......95                          JOÃO GUIMARÃES ROSA
                                                                                 JOÃO
Jogos Florais de Cambuci/RJ – 2010 ........95                                    Grande sertão: veredas ............................. 109
Concurso Internacional de Literatura Para 2010. .......95                        Primeiras estórias ..................................... 109
Concursos da UBT São Paulo - 2010 (100 Anos do                                   Sagarana ................................................... 109
Nascimento de Noel Rosa) ...................................96                   JORGE AMADO
                                                                                 A descoberta da América pelos turcos ...... 105
IX Concurso de Trovas de Caicó -2010..................... 97                     A morte e a morte de Quincas Berro D’Água............... 105
IV Jogos Florais de Balneário Camboriú / SC ...........97                        ABC de Castro Alves................................. 105
V Jogos Florais de Cantagalo / RJ ............ 97                                Dona Flor e seus dois maridos .................. 105
Xl Jogos Florais de Niterói .................................97                  O sumiço da santa..................................... 106
Concurso de Trovas de Taubaté ................97                                 Os pastores da noite.................................. 105
XXX Concurso Estadual/Nacional e I Concurso Interno de Trovas                    São Jorge dos Ilhéus ................................. 106
da Academia de Trovas do Rio Grande do Norte................. 97                 Tenda dos milagres ................................... 106
                                                                                 Terras do sem fim ..................................... 106
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                                                 respectivos autores.
Tieta do agreste .........................................106           De como Malasartes passa adiante a carneirada ......... 12
Tocaia grande: a face obscura ...................106                    O Saci ........................................................ 98
JORGE CALDEIRA
Mauá, empresário do Império ...................107
                                                                        HAIKAIS
JOSÉ DE ALENCAR                                                         Helena Kolody
Iracema: a lenda do Ceará.........................104                   Último........................................................ 42
Lucíola .......................................................104      Aplauso...................................................... 42
O garatuja: crônica dos tempos coloniais..104                           Alegria ....................................................... 42
O guarani...................................................104         Flecha de Sol ............................................. 42
O sertanejo.................................................105         Ipês Floridos.............................................. 42
Senhora......................................................105        Qual? ......................................................... 42
Til...............................................................105   Poesia Mínima........................................... 42
JOSUÉ GUIMARÃES                                                         Manhã ....................................................... 42
Camilo Mortágua.......................................109               Arco-Íris..................................................... 42
Os tambores silenciosos.............................109                 Jornada ..................................................... 42
LÚCIA MACHADO ALMEIDA                                                   Ressonâncias ............................................. 43
As viagens de Marco Pólo ..........................105                  Noite .......................................................... 43
            GARCIA-
LUIZ A. GARCIA-ROZA                                                     Repuxo Iluminado..................................... 43
O silêncio da chuva....................................108              Depois........................................................ 43
MANOEL ANTÔNIO DE ALMEIDA                                               Alquimia.................................................... 43
Memórias de um Sargento de Milícias......105                            Manhã ....................................................... 43
MARIA DEZONE PACHECO FERNANDES                                          No Mundo da Lua ..................................... 43
Sinhá moça ................................................108          Sem Poesia ................................................ 43
MARIA JOSÉ DUPRÉ                                                        Noturno ..................................................... 43
Éramos seis................................................108          Felicidade .................................................. 43
MÁRIO DE ANDRADE                                                        Dom ........................................................... 43
Macunaíma: o herói sem nenhum caráter 106                               NOSSO PORTUGUÊS DE CADA DIA
NILO ALGE                                                               Expressões Redundantes .......................... 49
Mergulho no fim ........................................105             NOTÍCIAS
ORÍGENES LESSA
A pedra no sapato do herói........................109                   Academia de Letras do Brasil/ Estado do Paraná
O feijão e o sonho.......................................109            Imortais ..................................................... 111
Rua do sol ..................................................109        Tatiana Belinky toma posse na Academia
Tio Pedro....................................................109                      Letras..................................... 110
                                                                        Paulista de Letras
PAULO LINS                                                              O ESCRITOR COM A PALAVRA
Cidade de Deus .........................................109             Anayde Beiriz
PAULO MENDES CAMPOS                                                     Carta de Amor........................................... 92
Cartas do meu moinho ..............................107                  Antonio Brás Constante
PEDRO BLOCH                                                             O Homem, o Carteiro e o Cachorro .......... 3
Cara nova ou beleza pura..........................106                   Aparecido Raimundo de Souza
RUBEM FONSECA                                                           O Homem Só ............................................. 51
O doente Molière .......................................108             Artur de Azevedo
RUY CASTRO                                                              A Filosofia do Mendes ............................... 88
Bilac vê estrelas.........................................108           Branca Tirollo
VERA FERREIRA/ ANTONIO AMAURY                                           Não Brinque com o Fogo ........................... 79
De Virgolino a Lampião.............................108                  Caio Porfírio Carneiro
ZÉLIA GATTAI                                                            Vingança.................................................... 57
Anarquistas graças a Deus........................108                    Clarice Lispector
Jardim de inverno .....................................108              Ruído de Passos......................................... 70
FOLCLORE                                                                Franklin RAS Lopes
Aventuras de Pedro Malasartes (3)                                       O Inesperado Aprendizado nas Curvas
Uma das de Pedro Malasartes ....................................11      Femininas do Preconceito ......................... 50
                                                                        Machado de Assis
De como Malasartes fingiu que se Matava....................12           A Cartomante............................................ 38
Nilto Maciel                                                        Pronominais .............................................. 5
Hiroito........................................................12   Vício na Fala ............................................. 5
Pedro Silva                                                         Balada do Esplanada ................................ 5
Uma Viagem na Época dos Descobrimentos ..............16             Escapulário ............................................... 5
Tatiana Belinky                                                     Ocaso ......................................................... 6
O Diabo e o Granjeiro ................................29            Brasil ......................................................... 6
Tchelo D’ Barros                                                    Relicário .................................................... 6
“M” E “H” no 609 ......................................
                        ......................................
                                                         ......54   Senhor Feudal........................................... 6
Vicência Jaguaribe                                                  Paulo Vieira Pinheiro
Mãe, ela parece um gatinho! .....................2                  A régua que mede...................................... 68
                                                                    Adverso...................................................... 68
POESIAS                                                             Amores à letra d'alma............................... 68
Alberto Paco (   (Maringá/PR)                                       Chuvisco .................................................... 69
Fruto do Carnaval .....................................86           Cintilar (Estudo 080608-1) ....................... 67
Antonio Augusto de Assis (Maringá/PR)                               De pé me deito........................................... 69
Carnaval ....................................................53     Desabafo.................................................... 69
Luolhar ......................................................53    Esperanças (Exercício 21042008-3) .......... 67
Terceira infância........................................53         Já ............................................................... 66
Aurora bela ................................................54      Momentos de insensatez ........................... 66
Por um beijo...............................................54       Tanto tempo que nem sei.......................... 66
Antonio Cândido da Silva (            (Porto Velho/RO)              Tempos de Inocência ................................. 69
Bar do Zizi .................................................85
Antonio Manuel Abreu Sardenberg (                    (São
                                                                    Universo das Palavras (Exercício 21042008-1)............ 66
                                                                    Veneta ....................................................... 66
Fidélis/RJ)
                                                                    Xadrez ....................................................... 66
Namorar em Sonhos ..................................85
                                                                    Ramsés Ramos (      (Teresina/PI)
Antonio Roberto de Paula (Maringá/PR)
O Silêncio de Maringá ...............................13             Sete Pecados do Amor ............................... 86
Cabrito na Horta ......................................14           Samuel Castiel Jr. (      (Porto Velho/ RO)
                                                                    Flor Tropical.............................................. 87
Emir Simionato Sabião (Ubiratã/PR)
                                                                    Tatiana Belinki (    (São Paulo/ SP)
Procura .....................................................2
                                                                    O Grande Cão-Curso................................. 86
Desejo.........................................................2
                                                                    Os "Limerick" ........................................... 87
José Carlos Capinan (Esplanada/BA)
Mudando de Conversa ...............................24               SOPA DE LETRAS
Algumas Fantasias ...................................24             A Origem da Escrita ................................. 58
Madrugadas de Narciso.............................25                TROVAS
Outras Confissões......................................25
                                                                    Alberto Paco (PR)
Didática......................................................25
                                                                    Quadro Trovadoresco ................................ 89
Poesia Pura................................................25
                                                                    Dinair Leite
O Rebanho e o Homem ..............................26
                                                                    Trovas........................................................ 80
Ponteio .......................................................26
                                                                    João Paulo Ouverney (SP)
Clarice........................................................26
                                                                    Quadro Trovadoresco ................................ 104
Papel Machê ..............................................27
                                                                    Luiz Otávio
Machado de Assis (       (Rio de Janeiro/RJ)
                                                                    100 Trovas................................................. 31
A Mosca Azul .............................................84
                                                                    Pedro Ornellas
Maria Eliana Palma (         (Maringá/PR)
                                                                    A Lágrima na Trova.................................. 77
Albatroz .....................................................87
                                                                    Wilma Mello Cavalheiro (RS)
Olga Agulhon (     (Maringá/PR)
                                                                    Quadro Trovadoresco ................................ 50
Ridícula......................................................84
Oswald de Andrade (São Paulo/SP)                                    INDICAÇÃO DE SITES DE LITERATURA ........... 112
Relógio .......................................................4
Erro de Português......................................4            FONTES .................................................... 113
                                                                           ....................................................
Canto de Regresso à Pátria .......................5
Revista Literária
                                              “O Voo da Gralha Azul”
                                                                 março/abril
                                                 n0. 3 – Paraná, março/abril 2010

 Idealização, seleção e edição: José
               Feldman

 Contatos, sugestões, colaborações:
   pavilhaoliterario@gmail.com
http://singrandohorizontes.blogsp
ot.com




Que a humanidade possa aprender com a nossa Gralha-azul e entender que o
equilíbrio e o respeito ecológico entre fauna e flora é fundamental para a existência
do Homem na face da Terra!!!


                                         Prezado Leitor



Esta revista não tem a pretensão e nunca poderá ser considerada como substituição aos livros, jornais,
colunas, etc. que circulam virtualmente ou não, mas sim como mola propulsora de incentivo ao
cidadão para buscar novos conhecimentos, ou relembrar aqueles perdidos na névoa do passado.

Por que o Voo da Gralha Azul? A poetisa norte-americana Emily Dickinson, que viveu no século XIX, diz
“Não há melhor fragata do que um livro para nos levar a terras distantes”. No caso da revista, esta
fragata é a Gralha Azul, que assim como semeia o pinheiro, ela alça voo e semeia no coração de cada
um que alcançar, o pinhão da cultura, em todas as suas manifestações.

Ao leitor, novos conhecimentos.
Ao escritor ou aspirante a tal, sejam poetas, trovadores, romancistas, dramaturgos, compositores, etc.,
um caminho de conhecimento e inspiração.

                     Obrigado por me permitir dividir consigo estes breves momentos,
                                                                          José Feldman
2



                                 Emir Simionato Sabião
                                        (Poesias)

PROCURA
                                                  DESEJO
Procurei tudo e não encontrei
Tentei tudo e não consegui                        No fundo dos olhos de alguém
Falei tudo e não ouvi                             mergulhei e me perdi
Olhei pra tudo e nada vi                          Nos lábios de alguém me entreguei
Andei muito, mas não saí                          e mesmo assim eu resisti
Toquei em tudo, mas não senti                     No corpo de alguém eu me esquentei
Perguntei muito e não respondi                    e nunca mais esqueci
Então não sei                                     Porém não sei o que fazer
porque ainda estou aqui!                          se nada disso está aqui!



                                  Vicência Jaguaribe
                                 (Mãe, ela parece um
                                       gatinho!)
                                       gatinho!)

        Nega do cabelo duro, / qual é o pente     segurava o barrigão inchado. Às vezes, soltava
que te penteia, / qual é o pente que te penteia   um gemido. A menina olhava-a e sentia que
/ qual é o pente que te penteia, ó nega...        algo estava errado – aliás, sentia isso há algum
       A menina ouvia a voz de uma das tias       tempo, já. Primeiro aquela barriga que todo dia
brincando com ela e com a irmã. Depois de         crescia um pouco, até ficar daquele tamanho,
adulta, sempre que ouvia o samba de Ary           ameaçando explodir. O que ela tinha naquela
Barroso, Rubens Soares e David Nasser,            barriga? Ninguém lhe dizia nada, e ela sentia
lembrava-se daquele dia. Mas, principalmente,     vergonha de perguntar. Há algum tempo, vira a
lembrava-se da tia. Aquela música havia           mãe vomitando e perguntara-lhe se ela comera
aderido à figura da tia como a areia adere ao     alguma coisa estragada. A mãe confirmou.
corpo molhado.                                            A coisa que ela tinha mais medo no
       Ela e a irmã estavam na casa da avó,       mundo era de perder a mãe. Quando ouvia
porque a mãe fora buscar o irmão delas, que       dizer que morrera uma mãe, ela passava o dia
nasceria naquele dia. Quando ela chegasse,        seguindo a sua. E era preciso que a mãe a
mandaria buscá-las. Foi isso o que lhes           pusesse no colo, conversasse com ela,
disseram. Ela só tinha cinco anos quando o        explicasse que não ia morrer, porque não
irmão nasceu, mas se lembra perfeitamente do      estava doente, para que ela voltasse ao normal.
que aconteceu. A irmã, com três anos, não                 Enquanto a irmã ria brincando com a
atinava para a situação nem guardou nenhum        tia, ela ficou sentada no chão, de frente para o
recordação.                                       corredor, observando o movimento, para tentar
       Mas ela, a mais velha, pressentia          entender alguma coisa. De vez em quando,
alguma coisa anormal no ar. Não sabia o que       entrava um tio ou uma tia com cara de
era. Mas que havia, havia. De manhã bem           preocupação. A avó estava todo o tempo
cedo, a mãe acordou-as, ajudou-as a escovar       ajoelhada em frente ao santuário, rezando para
os dentes; preparou-lhes o café e mandou a        os santos dela. Mais tarde, perto do almoço,
empregada levá-las para a casa da avó             uma das tias chegou chorando, entrou no
paterna. Mas a menina observara que ela não       quarto e disse alguma coisa à mãe. A menina
estava bem. De vez em quando, curvava-se e        apurou os ouvidos, mas só ouviu uma palavra:

 Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.3 – Paraná, março/abril de 2010.
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hemorragia, que ela não sabia o que era. Mas      no carro, depois de despedir-se de seu pai, e o
viu quando a avó começou a chorar. A tia que      carro partir. O pai não entrou em casa, veio
havia chegado chamou a irmã que brincava          para a casa da mãe. Ao vê-la sentada na
com as meninas, cochichou alguma coisa. E a       calçada, botou-a no braço. Ele estava com a
irmã ficou com cara de enterro.                   cara alegre:
        A menina não sabia precisar, mas intuía           - Seu irmão chegou, e sua mãe agora
que algo grave acontecia com a mãe. O pai         está bem. Daqui a pouco você pode ir vê-la.
havia, poucas horas atrás, entrado na casa da             A menina começou a chorar, como se
mãe, dizendo que mandara buscar um médico         alguém houvesse apertado um botão liberador
na cidade vizinha. Logo depois, alguém lhe        de lágrimas.
dissera que não precisava mais, já estava tudo            - Mas por que essa menina está
bem. O pai, no entanto, não mandara o carro       chorando? – Perguntou à irmã, que se
voltar.                                           aproximava.
        Então, se o pai mandara chamar um                 Os adultos pensavam o que das
médico era porque alguém estava doente. E só      crianças? Que eram burras, insensíveis? E
podia ser a mãe dela, raciocinou a menina.        quanto mais tomava consciência de que nem
Teve vontade de chorar, mas se controlou.         passara pela cabeça do pai que ela podia estar
Olhou para a irmã, que continuava rindo e         sofrendo, mais chorava. Só se calou quando a
cantando. O pai foi para casa, e a menina ficou   tia, mesmo sem o consentimento do irmão,
mais preocupada ainda. Mas ninguém ali se         levou-a a ver a mãe.
importava com a sua tristeza. Parecia até que             A mãe abraçou-a e jurou que estava
ninguém a via.                                    bem. Mas percebeu que a sua menina não era
        Foi à cozinha, tentar escutar alguma      tão ingênua como se pensava. Teve certeza de
coisa das empregadas. Ela sabia – de ouvir        que percebera que a mãe quase se fora. E
dizer –     que empregada sabe de tudo e          mandou que ela fosse ver o irmão no berço.
conversa tudo na frente das crianças. Mas,                A menina ficou de ponta de pé e olhou o
daquela vez, nada. A tia aproximou-se e falou     irmão, que lhe pareceu um embrulho branco. E
em almoço. A menina, que normalmente quase        o primeiro sentimento que experimentou por
não comia, disse não estar com fome. Mas foi      ele foi raiva. Se não fosse ele, a mãe não tinha
obrigada a engolir alguns bocados, à força, a     ficado doente. Mas, de repente, ele mexeu-se e
tia fazendo bolinhos na mão. E aí ela se          abriu os olhos – uns grandes e belos olhos
lembrou dos perus que a mãe engordava para        azuis. Foi nesse momento que ela se
o Natal. Era exatamente assim que ela dava        descontraiu e, sorrindo, disse para a mãe:
comida aos bichos. Deus a livrasse de ser peru!           - Mãe, ele parece um gatinho!
Ave Maria!
        Quando a tia achou que ela havia
comido – à força – o suficiente, ou cansou de
tentar, liberou-a, e ela foi para a calçada.
Sentou-se à sombra do fícus benjamim, virada                  Vicência Jaguaribe
para o lado de sua casa, que ficava umas nove     Vicência Maria Freitas Jaguaribe, natural de
casas à frente. Viu, parado em frente à casa, o   Jaguaruana-Ce. Professora de Literatura e Estilística
carro que fora buscar o doutor. Mais ou menos     da Universidade Estadual do Ceará. Mestra em
uma hora depois – e durante esse tempo ela        Literatura pela UFC. Trabalhos publicados nas áreas
ficou na quentura da calçada, sem ninguém se      de Literatura, Estilística e Lingüística do Texto.
incomodar –, viu um homem de branco entrar
                                       Antonio Brás
                                        Constante
                                (O Homem, o Carteiro
                                    e o Cachorro)

     O cachorro é o melhor amigo do               primeiramente vamos tentar explicar para essa
homem, com exceção do carteiro. Mas               juventude que só conhece internet o que é um

 Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.3 – Paraná, março/abril de 2010.
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carteiro. O carteiro seria uma espécie de          irrita e maltrata seu cão, que em contrapartida
provedor de e-mails biológico. Quando ele          morde o carteiro em sinal de represália.
entrega as correspondências a pé, isto                      Uma forma de contemporizar o
equivaleria a uma conexão discada e lenta. Se      problema de donos de cães que deixam os
ele estiver de moto poderia ser considerado        animais soltos ou mal trancados (facilitando
como uma conexão ADSL (banda larga), e o           ataques aos carteiros) seria fazer esses donos
SEDEX é a internet empresarial, rápida,            passarem um dia na função de carteiros
eficiente e muito mais cara.                       auxiliares, entregando cartas somente em
        O carteiro poderia entendido (na ótica     residências com grandes e ferozes cães. Um
dos cães) como uma espécie de válvula de           bom castigo, já que eles sentiriam na pele (que
escape para o cachorro, que muitas vezes sofre     é o primeiro lugar que sente a mordida dos
de forma obediente a crueldade de seu dono, e      cachorros) o problema enfrentado todos os dias
por não poder pagar um psicólogo canino,           pelos entregadores de cartas.
resolve descontar suas frustrações no carteiro,
                                                           Enfim, no mato sem cachorro em que
visto que ele, na teoria, é a imagem e
                                                   vivemos, onde quem não tem cão caça como
semelhança do seu dono. Ou seja, a profissão
                                                   um gato, nós estamos rumando para um
de carteiro acaba sendo um negócio bom pra
                                                   mundo sem cartas, ou carteiros, ou mesmo
cachorro, literalmente falando.
                                                   cachorros. E neste futuro, quando percebermos
        Talvez o cachorro entenda que o carteiro
                                                   que a idéia de que tínhamos as cartas na mesa,
é como algum tipo de ave de mau agouro, algo
                                                   era falsa, e que fizemos uma grande cachorrada
parecido com um corvo, como descrito pelo
                                                   com nosso fiel e amigável planeta, não haverá
escritor Edgar Alan Poe. O cão já deve ter
                                                   mais como reescrever a história, e a cartada
percebido que muitos dos papéis deixados pelos
                                                   final   de     nossa   existência  já    estará
carteiros têm símbolos que quando unidos
                                                   derradeiramente selada.
formam a frase: “C-O-N-T-A-S-A-P-A-G-A-R”, e
que cada vez que seu dono lê essas mensagens
escritas fica aborrecido, irritado, chegando
algumas vezes a amassar o papel. E o que o
dono do cachorro geralmente faz depois? Chuta
seu      pobre     companheiro     de    patas,
                                                           Antonio Brás Constante
provavelmente por achá-lo culpado pelo carteiro    Antonio Brás Constante, natural de Porto Alegre.
                                                   Residente em Canoas/RS. Bacharel em computação,
ter conseguido       entregar aquela infeliz
                                                   bancário e cronista de coração, escreve com
mensagem para ele.                                 naturalidade, descontraída e espontaneamente,
        Este é um dos ciclos da vida, o carteiro   sobre suas idéias, seus pontos-de-vista, sobre o
trás as contas para o dono da residência que se    panorama que se descortina diferente a cada
                                                   instante, a nossa frente: a vida. Membro da ACE
                                                   (Associação Canoense de Escritores).



                                  Oswald de Andrade
                                      (Poesias)

                                                                        Oswald, pintura de Tarsila do
                                                                                  Amaral

                  RELÓGIO                                             As horas
                                                                     Vão e vêm
                 As coisas são                                       Não em vão
                 As coisas vêm
                 As coisas vão                                ERRO DE PORTUGUÊS
                   As coisas
                  Vão e vêm                                 Quando o português chegou
                  Não em vão                                Debaixo duma bruta chuva

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              Vestiu o índio                          Uma balada
    Que pena!Fosse uma manhã de sol                    Antes de ir
          O índio tinha despido                      Pro meu hotel.
              O português                              É que este
                                                        Coração
   CANTO DE REGRESSO À PÁTRIA                         Já se cansou
                                                       De viver só
       Minha terra tem palmares                       E quer então
          Onde gorjeia o mar                         Morar contigo
         Os passarinhos daqui                        No Esplanada.
       Não cantam como os de lá
                                                       Eu queria
       Minha terra tem mais rosas                        Poder
       E quase que mais amores                           Encher
       Minha terra tem mais ouro                       Este papel
       Minha terra tem mais terra                   De versos lindos
                                                     É tão distinto
        Ouro terra amor e rosas                      Ser menestrel
          Eu quero tudo de lá                          No futuro
     Não permita Deus que eu morra                    As gerações
         Sem que volte para lá                      Que passariam
                                                         Diriam
     Não permita Deus que eu morra                      É o hotel
      Sem que volte pra São Paulo                       É o hotel
         Sem que veja a Rua 15                       Do menestrel
       E o progresso de São Paulo
                                                    Pra me inspirar
           PRONOMINAIS                               Abro a janela
                                                    Como um jornal
           Dê-me um cigarro                            Vou fazer
             Diz a gramática                           A balada
        Do professor e do aluno                      Do Esplanada
           E do mulato sabido                        E ficar sendo
    Mas o bom negro e o bom branco                   O menestrel
           Da Nação Brasileira                       De meu hotel
          Dizem todos os dias
         Deixa disso camarada                      Mas não há, poesia
            Me dá um cigarro                           Num hotel
                                                     Mesmo sendo
           VÍCIO NA FALA                               'Splanada
                                                    Ou Grand-Hotel
      Para dizerem milho dizem mio
         Para melhor dizem mió                         Há poesia
               Para pior pió                            Na dor
          Para telha dizem teia                         Na flor
        Para telhado dizem teiado                     No beija-flor
         E vão fazendo telhados                       No elevador

       BALADA DO ESPLANADA                          ESCAPULÁRIO

            Ontem à noite                          No Pão de Açúcar
              Eu procurei                            De Cada Dia
            Ver se aprendia                         Dai-nos Senhor
          Como é que se fazia

Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.3 – Paraná, março/abril de 2010.
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                  A Poesia                                  À espera de visitas que não vêm
                 De Cada Dia                             (Primeiro caderno do aluno de poesia)

                   OCASO                             Em 11 de janeiro de 1890 nasce em São
                                                  Paulo José Oswald de Sousa Andrade, filho
         No anfiteatro de montanhas               único de José Oswald Nogueira de Andrade e
          Os profetas do Aleijadinho              Inês Henriqueta Inglês de Sousa Andrade.
         Monumentalizam a paisagem                   Inicia seus estudos, em 1900, na Escola
        As cúpulas brancas dos Passos             Modelo Caetano de Campos, ainda marcado
     E os cocares revirados das palmeiras         pelo fato de haver presenciado a mudança do
       São degraus da arte de meu país            século.
          Onde ninguém mais subiu                    Em 1901, vai para o Ginásio Nossa Senhora
                                                  do Carmo. Tem como colega Pedro Rodrigues
                   BRASIL                         de Almeida, o “João de Barros” do”Perfeito
                                                  Cozinheiro das Almas desse mundo...”.
       O Zé Pereira chegou de caravela               Em 1903, transfere-se para o Colégio São
   E perguntou pro guarani da mata virgem         Bento. Lá tem como colega o futuro poeta
                  - Sois cristão?                 modernista Guilherme de Almeida.
- Não. Sou bravo, sou forte, sou filho da Morte      Em 1905, com o São Paulo em ebulição —
        Teterê tetê Quizá Quizá Quecê!            surge o bonde elétrico, o rádio, a propaganda,
   Lá longe a onça resmungava Uu! ua! uu!         o cinema — participa da roda literária de
        O negro zonzo saído da fornalha           Indalécio Aguiar da qual faz parte o poeta
         Tomou a palavra e respondeu              Ricardo Gonçalves.
           - Sim pela graça de Deus                  Em 1908, conclui os estudos no Colégio São
    Canhem Babá Canhem Babá Cum Cum!              Bento com o diploma de Bacharel em
              E fizeram o Carnaval                Humanidades. De família abastada, Oswald, em
                                                  1909 inicia sua vida no jornalismo como redator
                RELICÁRIO                         e crítico teatral do “Diário Popular”, assinando a
                                                  coluna "Teatro e Salões". Ingressa na
               No baile da corte                  Faculdade de Direito.
         Foi o conde d’Eu quem disse                 Em 1910, monta um atelier com o pintor
              Pra Dona Benvinda                   Oswaldo Pinheiro, no Vale do Anhangabaú.
             Que farinha de Suruí                 Conhece o Rio de Janeiro, e fica hospedado na
                Pinga de Parati                   residência de seu tio, o escritor Inglês de
              Fumo de Baependi                    Souza. Passa o primeiro Natal longe da família
            É comê bebê pitá e caí                em Santos, numa hospedaria de carroceiros das
                                                  docas.
            SENHOR FEUDAL                            No ano seguinte, com a ajuda financeira de
                                                  sua mãe, funda “O Pirralho”, cujo primeiro
             Se Pedro Segundo                     número é lançado em 12 de agosto, tendo
                  Vier aqui                       como colaboradores Amadeu Amaral, Voltolino,
                Com história                      Alexandre Marcondes, Cornélio Pires e outros.
            Eu boto ele na cadeia                 Conhece o poeta Emílio de Meneses, de quem
                                                  se torna amigo. Lança a campanha civilista em
                                                  torno de Ruy Barbosa. Passa uma temporada
                                                  em Baependi, Minas, nas terras da família de
                                                  seu avô.
                                                     Em 1912, viaja à Europa. Visita vários países:
          Oswald de Andrade                       Itália, Alemanha, Bélgica, Inglaterra, França,
                                                  Espanha. Conhece durante a viagem a jovem
                   Senhor
                                                  dançarina Carmen Lydia, (Helena Carmen
           Que eu não fique nunca                 Hosbale) que Oswald batiza em Milão. Morre
            Como esse velho inglês                em São Paulo sua mãe, no dia 6 de setembro.
                  Aí do lado                      Retorna ao Brasil, trazendo a estudante
           Que dorme numa cadeira                 francesa Kamiá (Henriette Denise Boufflers).
Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.3 – Paraná, março/abril de 2010.
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Reassume sua atividade de redator de “O            primeiro grupo modernista com Mário de
Pirralho”, onde publica crônicas em português      Andrade, Guilherme de Almeida, Ribeiro Couto
macarrônico com o pseudônimo de Annibale           e Di Cavalcanti. De 1917 a 1922 escreve
Scipione.                                          regularmente no “Jornal do Comércio”.
    No ano seguinte, participa das reuniões da         Trabalha em “A Gazeta”, em 1918. Começa a
Vila Kirial e conhece o artista plástico Lasar     compor “O perfeito cozinheiro das almas desse
Segall. Escreve “A recusa”, drama em três atos.    mundo...”,      diário  coletivo   escrito   em
    Nasce o seu filho, José Oswald Antônio de      colaboração com Maria de Lourdes Castro
Andrade (Nonê), com Kamiá, em 1914. Torna-         Dolzani de Andrade (Miss Cyclone), Guilherme
se Bacharel em Ciências e Letras pelo Colégio      de Almeida, Monteiro Lobato, Leo Vaz, Pedro
São. Bento, onde foi aluno do abade Sentroul.      Rodrigues de Almeida, Inácio Pereira da Costa,
Cursa Filosofia no Mosteiro de São Bento.          Edmundo Amaral e outros. Fecha a revista “O
    Em 1915, participa do almoço em                Pirralho”.
homenagem a Olavo Bilac, promovido pelos               Bacharel em Direito, é escolhido orador da
estudantes da Faculdade de Direito. Torna-se       turma. Morre seu pai, em fevereiro. Casa-se, “in
membro da Sociedade Brasileira dos Homens de       extremis”, com Maria de Lourdes Castro Dolzani
Letras, fundada em São Paulo por Bilac. Chega      de Andrade (Miss Cyclone).
ao Brasil a dançarina Carmen Lydia, com quem           Publica no jornal dos estudantes da
mantém um barulhento namoro. Faz viagens           Faculdade de Direito, “XI de Agosto”, três
constantes de trem ao Rio a negócio ou para        capítulos de “Memórias Sentimentais de João
acompanhar Carmen Lydia.                           Miramar”.
    No ano seguinte, publica em “A Cigarra” o          No ano seguinte edita “Papel e Tinta”,
primeiro capítulo — e, depois, lança, com          assinando com Menotti del Picchia o editorial e
Guilherme de Almeida, as peças teatrais            escrevendo regularmente para o periódico.
“Theatre Brésilien — Mon Coeur Balance” e          Descobre o escultor Brecheret. Escreve em “A
“Leur Âme”, pela Typographie Asbahr. Faz a         Raposa” artigo elogiando Brecheret com texto
leitura das peças em vários salões literários de   ilustrado com fotos de trabalhos do artista.
São Paulo, na Sociedade Brasileira de Homens           1921 – Em julho, publica artigo sobre o
de Letras, no Rio de Janeiro e na redação “A       poeta Alphonsus de Guimarães, ressaltando a
Cigarra”. Publica trechos de “Memórias             forma de expressão, no seu entender,
Sentimentais de João Miramar” na “A Cigarra” e     precursora da linguagem modernista. (“Jornal
na “A Vida Moderna”. Sofre de artritismo. A        do Comércio” (SP), 07/1921). Faz a saudação a
atriz Suzanne Després recita no Municipal          Menotti del Picchia no banquete oferecido para
trechos de “Leur Âme”. Passa a colaborar           políticos e poetas no Trianon. Revela Mário de
regularmente em “A Vida Moderna”, que publica      Andrade poeta, em polêmico artigo "O meu
em 24 de maio, cenas de “Leur Âme”. Volta a        poeta futurista". Principia a colaboração do
estudar Direito, cujo curso havia interrompido     “Correio Paulistano” até 1924.
em 1912. Recebe o convite de Valente de                 Participa da caravana de jovens escritores
Andrade para fazer parte do “Jornal do             paulistas ao Rio de Janeiro, a fim de fazer
Comércio”, edição de São Paulo e em 1º de          propaganda do Modernismo. Torna-se o líder
novembro começa seu trabalho como redator.         dessa campanha preparatória para a Semana
Redator social de “O Jornal”.                      de Arte Moderna.
     Continua a viajar intermitentemente ao Rio.       Em 1922, participa da Semana de Arte
Naquela cidade freqüenta a roda literária de       Moderna no Teatro Municipal de São Paulo. Faz
Emílio de Meneses, João do Rio, Alberto de         conferência, em 18 de setembro, comemorativa
Oliveira, Eloi Pontes, Olegário Mariano, Luis      ao centenário da Bandeira Nacional. É um dos
Edmundo, Olavo Bilac, Oscar Lopes e outros.        participantes do grupo da revista “Klaxon”,
Passa temporada em Aparecida do Norte. Está        onde colabora. Integra o grupo dos cinco com
escrevendo o drama “O Filho do Sonho”.             Mário de Andrade, Anita Malfatti, Tarsila do
    Em 1917, conhece Mário de Andrade.             Amaral e Menotti del Picchia.
Defende a pintora Anita Malfatti das críticas          Publica “Os Condenados”, com capa de Anita
violentas feitas por Monteiro Lobato ("A           Malfatti, primeiro romance de “A trilogia do
exposição de Anita Malfatti", no “Jornal do        exílio”. Viaja a negócios ao Rio. Em dezembro
Comércio”, São Paulo, 11/01/1918). Participa do

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embarca para a Europa. Começa sua amizade              Publica, em 1927, “A Estrela de Absinto”,
com Tarsila do Amaral.                              segundo romance de “A trilogia do exílio”, pela
    No ano seguinte, ganha na justiça a custódia    Editora Hélios com capa de Brecheret.
do seu filho Nonê. Faz viagem a Portugal e             Publica “Primeiro Caderno de Poesia do
Espanha, com passagem pelo Senegal,                 Aluno Oswald de Andrade”, ilustrado pelo autor,
acompanhado de Tarsila. Matricula seu filho no      com capa de Tarsila. Começa no “Jornal do
Licée Jaccard em Lausanne, Suiça. Reside em         Comércio” a coluna "Feira das Quintas".
Paris até agosto, no atelier de Tarsila.               Disputa o prêmio romance, patrocinado pela
    Conhece o poeta Blaise Cendrars.                Academia Brasileira de Letras, com “A Estrela
     Em Paris, de volta ao Brasil, é homenageado    de Absinto”, que obteve menção honrosa.
com um banquete pela Sociedade Amis des             Publica trechos de “Serafim Ponte Grande” na
Lettres Françaises, sendo saudado pela              revista “Verde”.
presidente do grupo Mme.Rachilde.                      Em 1928, publica o “Manifesto Antropófago”
    Em 1924, no dia 18 de março publica no          na “Revista de Antropofagia”, que ajuda a
“Correio da Manhã” o “Manifesto da Poesia Pau       fundar, com os amigos Raul Bopp e Antônio de
Brasil”. Toma parte na excursão ao carnaval do      Alcântara Machado.
Rio de Janeiro e à Minas com outros intelectuais       É expulso do Congresso de Lavradores,
brasileiros e do poeta Blaise Cendrars, chamada     realizado no Cinema República (SP) por propor
de “Caravana Modernista”. Em Minas Gerais,          um acordo com o trabalhador do campo.
recebidos por Aníbal Machado, Pedro Nava e          Separa-se de Tarsila do Amaral. Rompe com
Carlos Drummond de Andrade, excursionam             Mário de Andrade e Paulo Prado.
pelas      cidades    históricas.   No   “Correio      No dia 1º de abril de 1930 casa-se com
Paulistano”, publica o artigo “Blaise Cendrars —    Patrícia Galvão (Pagú) numa cerimônia pouco
Um mestre da sensibilidade contemporânea".          convencional. O acontecimento foi simbólico,
Participa do V Ciclo de Conferência da Vila         realizado no Cemitério da Consolação, em São
Kyrial falando sobre "os ambientes intelectuais     Paulo. Mais tarde, se retrataram na igreja.
da França". Publica “Memórias Sentimentais de          Escreve "A casa e a língua", em defesa da
João Miramar”, com capa de Tarsila. Faz uma         arquitetura de Warchavchik. Nasce seu filho
leitura do “Serafim Ponte Grande”, em casa de       Rudá Poronominare Galvão de Andrade com a
Paulo Prado para uma platéia de amigos              escritora Pagú. É preso pela polícia do Rio de
modernistas.                                        Janeiro, por ameaçar o antigo amigo, poeta
      Viaja à Europa. Monta com Tarsila um novo     Olegário Mariano.
apartamento em Paris, conservando este                 Em 1931, escreve “O mundo político”.
endereço até 1929.                                     Começa a escrever ensaios políticos,
     Publica em Paris pela editora Au Sans Pareil   geralmente sobre a situação e os problemas do
o livro de poemas “Pau Brasil”.                     operário. Funda com Queiroz Lima e Pagú “O
     Retorna ao Brasil. Candidata-se à Academia     Homem do Povo”. Publica o “Manifesto Ordem e
Brasileira de Letras. Oficializa o noivado com      Progresso”. Engaja-se no Partido Comunista.
Tarsila do Amaral.                                     No ano seguinte, redige o prefácio definitivo
    Recebido com outros brasileiros em              de “Serafim Ponte Grande”.
audiência pelo papa, a fim de tentarem a               Em 1933, publica “Serafim Ponte Grande”.
anulação do casamento de Tarsila.                   Patrocina a publicação de “Parque Industrial”,
    Casa-se com Tarsila do Amaral, em 30 de         romance de Pagú.
outubro, em cerimônia paraninfada pelo                 No ano seguinte, deixa Pagú e une-se à
Presidente Washington Luis.                         pianista Pilar Ferrer. Publica “A Escada
    Publica na “Revista do Brasil” o prefácio de    Vermelha”, terceiro romance de “A trilogia do
“Serafim Ponte Grande”, primeira versão,            exílio”, e “O Homem e o Cavalo”, com capa de
"Objeto e fim da presente obra".                    seu filho, Oswald de Andrade Filho. No dia 24
    Divulga em “Terra Roxa e Outras Terras” a       de dezembro, assina contrato ante-nupcial em
"Carta Oceânica", prefácio ao livro “Pathé Baby”    regime de separação de bens com Julieta
de Antônio de Alcântara Machado e um trecho         Bárbara Guerrini.
do “Serafim Ponte Grande”.                             Em 1935, compra uma serraria.
                                                       Escreve sátira política para “A Platéia”. Faz
                                                    parte     do   movimento      artístico   cultural

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“Quarteirão”. Fichado na polícia civil do          apresentada à cadeira de literatura brasileira da
Ministério da Justiça, como subversivo.            Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da
    No ano seguinte, publica na revista “XI de     Universidade de São Paulo, na qual o
agosto”, "Página de Natal" do Marco Zero.          biografado     é livre-docente.em         Literatura
Conclui o poema “O Santeiro do Mangue”, 1ª         Brasileira. Nasce sua filha Antonieta Marília.
versão, dedicado criticamente a Jorge de Lima e       Reúne no volume “Ponta de Lança” artigos
Murilo Mendes.                                     esparsos. Publica "A sátira na poesia brasileira",
    Em dezembro casa-se com a escritora Julieta    conferência pronunciada na Biblioteca Pública
Bárbara Guerrini, tendo como padrinho o            Municipal de São Paulo.
jornalista Casper Líbero, o pintor Portinari e        Publica “Poesias Reunidas - Oswald de
uma irmã da noiva, Clotilde. Passa a residir no    Andrade”, editora. Gazeta e “Marco Zero: II —
Rio de Janeiro.                                    Chão”, pela José Olympio.
    Escreve “O país da sobremesa”, em 1937. É         Inicia a organização da Ala Progressista
feita uma tentativa de encenação da peça “O        Brasileira, programa de conciliação nacional.
Rei da Vela” pela Companhia de Álvaro                 Lança um manifesto ao "Povo de São Paulo,
Moreyra. Atua na Frente Negra Brasileira.          Trabalhadores de São Paulo. Homens livres de
Escreve na revista “Problemas” (São Paulo).        São Paulo". Escreve o "Canto do Pracinha só".
Publica “A Morta” e “O Rei da Vela”. No Rio de     Rompe com o Partido Comunista do Brasil e
Janeiro, a edição de “Serafim Ponte Grande” é      Luis Carlos Prestes, seu secretário geral.
dada como esgotada.                                   Publica na “Gazeta de Limeira”, conferência
    Em 1938, publica o trecho "A vocação" da       pronunciada em Piracicaba intitulada "A lição da
série “Marco Zero: IV”, “A presença do Mar”.       inconfidência"
Está ligado ao Sindicato de Jornalista de São         Em 1946, publica “O Escaravelho de Ouro”
Paulo, matrícula nº. 179. Redige “Análise de       (poesia). Assina contrato com o governo de São
dois tipos de ficção”.                             Paulo para a realização da obra "O que fizemos
    1939, Oswald ingressa no Pen Club do Brasil.   em 25 anos", espécie de levantamento da vida
Publica no jornal “Meio Dia” as colunas "Banho     nacional, em todos os setores da atividade
de Sol" e "De literatura". É o representante do    técnica e social à literária e artística.
jornal “Meio Dia” em São Paulo. Escreve para o        Apresenta o escritor norte-americano Samuel
“Jornal da Manhã” (SP) uma série de                Putnam, em visita ao Brasil, na Escola de
reportagens sobre personalidades importantes       Sociologia e Política (São Paulo). Participa em
da vida política, econômica e social de São        Limeira (SP) do Congresso de Escritores.
Paulo.                                                Candidata-se a delegado regional da
    Escreve “O lar do operário”. Candidata-se à    Associação Brasileira de Escritores e perde a
Academia Brasileira de Letras pela segunda vez,    eleição. Envia bilhete-aberto ao Presidente da
enviando uma carta aberta aos imortais, em         Seção Estadual, escritor Sérgio Buarque de
1940.                                              Holanda, protestando e desligando-se da
    Em 1941, monta um escritório de imóveis na     Associação, em 1947.
rua Marconi, com Nonê, o filho mais velho.            Em 1948, pronuncia em Bauru a conferência
    1942, publica “Cântico dos Cânticos para       "O sentido do interior". Nasce seu filho Paulo
Flauta e Violão”, dedicado à sua futura mulher,    Marcos.
Maria Antonieta d’Alkmin. Lança, em 2ª edição         Publica na revista Anhembi o texto "O
pela Globo, “Os Condenados”, com capa de           modernismo", em 1949. Profere conferência no
Koetz.                                             Centro de Debates Casper Líbero: "Civilização e
    Publica “Marco Zero: I A revolução             dinheiro", e no Museu de Arte de São Paulo,
melancólica”, pela José Olympio, capa de Santa     “Novas dimensões da poesia". Realiza excursão
Rosa. Começa a publicar no “Diário de S.Paulo”     a Iguape, com Albert Camus, para assistir às
a coluna "Feira das Sextas". Casa-se com Maria     tradicionais festas do Divino. É encarregado de
Antonieta d'Alkmin, em 1943.                       apresentar e saudar o escritor francês de
    Em 1944, inicia a série “Telefonema”,          passagem por São Paulo para fazer
publicada no “Correio da Manhã”, até 1954.         conferências. Escreve a coluna "3 linhas e 4
    No ano seguinte escreve "O sentido da          verdades" na “Folha de S.Paulo”, até 1950.
nacionalidade no Caramuru e no Uruguai".           Profere nova conferência na Faculdade de
Publica "A Arcádia e a inconfidência", tese        Direito em homenagem a Rui Barbosa.

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    Em 1950, escreve “O antropófago”. É             Andrade;     é    lançado    o   filme    “Cem
homenageado com um banquete, no Automóvel           Oswaldinianos”, de Adilson Ruiz e instalado
Clube, pela passagem do 60º aniversário,            painel na estação República do Metrô paulista”.
saudado por Sérgio Milliet. Participa de
concurso para provimento da Cadeira de              OBRAS
Filosofia da Faculdade de Filosofia, Ciências e     Humor:
Letras da Universidade de São Paulo, ocasião        - Revista “O Pirralho” — crônicas em português
em que defende a tese "A crise da filosofia         macarrônico sob o pseudônimo de Annibale
messiânica", sem êxito. Candidata-se a              Scipione (1912 — 1917)
deputado federal pelo PRT, com o seguinte           Poesia:
slogan: “Pão – Teto – Roupa – Saúde –               - Pau-Brasil (1925)
Instrução”.      Pronuncia      as      seguintes   - Primeiro caderno do aluno de poesia Oswald
conferências: "A arte moderna e a arte              de Andrade (1927)
soviética", "Velhos e novos livros atuais".         - Cântico dos cânticos para flauta e violão
Redige "Um aspecto antropofágico da cultura         (1945)
brasileira — o homem cordial" para o 1º             - O escaravelho de ouro (1946)
Congresso Brasileiro de Filosofia. Apresenta a      Romance:
versão definitiva de “O Santeiro do Mangue”.        - A trilogia do exílio: I — Os condenados, II —A
    Escreve,    em     1952,     “Introdução    à   estrela de absinto, III — A escada vermelha
antropofagia”. Profere discurso de saudação em      (1922-1934)
homenagem a Josué de Castro, representante          - Memórias sentimentais de João Miramar
da ONU, por iniciativa da Secretaria Municipal      (1924)
de Cultura de São Paulo. Escreve o artigo "Dois     - Serafim Ponte Grande (1933)
emancipados: Júlio Ribeiro e Inglês de Souza".      - Marco Zero: I - A revolução melancólica, II —
    É membro da Comissão Julgadora do Salão         Chão (1943).
Letras e Artes Carmen Dolores, em 1953.             - Memórias: Um homem sem profissão (1954)
Saudou o escritor José Lins do Rego, pelo           Teatro:
prêmio recebido em torno do romance                 - A recusa (1913)
“Cangaceiros”, patrocinado pelo Salão de Letras     - Théâtre Brésilien — Mon coeur balance e Leur
e Artes Carmen Dolores Barbosa. Começa a            Âme (1916) (com Guilherme de Almeida)
publicar a série “A Marcha das Utopias” no          - O homem e o cavalo (1934)
jornal “O Estado de S.Paulo”. Tenta em vão          - A morta (1937);
vender sua coleção de quadros.                      - O rei da vela (1937).
    Em 1954, escreve o ensaio “Do órfico e mais     - O rei floquinhos (1953)
cogitações" e "O primitivo e a antropofagia”.       Manifestos:
Envia comunicação, por intermédio de Di             - Manifesto da Poesia Pau-Brasil (1924)
Cavalcanti, para o Encontro de Intelectuais, no     - Manifesto Antropófago (1928)
Rio de Janeiro. Publica o primeiro volume das       - Manifesto Ordem e Progresso (1931)
“Memórias — Um homem sem profissão”, com            - Teses, artigos e conferências publicadas:
capa de seu filho, Oswaldo Jr., pela José           - O meu poeta futurista (1921)
Olympio. Graças à interferência de Vicente Rao,     - A Arcádia e a Inconfidência (1945)
foi indicado para ministrar um curso de cultura     - A sátira na poesia brasileira (1945)
brasileira em Genebra. Retorna como sócio à         Versões e adaptações:
Associação Brasileira de Escritores (A.B.D.E.).     - Filme “O homem do Pau-Brasil”, de Joaquim
    Falece em São Paulo, em 22 de outubro de        Pedro de Andrade, baseado na vida de Oswald
1954, na sua residência da rua Marquês de           de Andrade (1980)
Caravelas, 214. É sepultado no jazigo da            - Filme “Oswaldinianas”. Formado por cinco
família, no cemitério da Consolação, em São         episódios, dirigidos por Julio Bressane, Lucia
Paulo (SP).                                         Murat, Roberto Moreira, Inácio Zatz, Ricardo
    É    homenageado      postumamente       pelo   Dias e Rogério Sganzerla (1992)
Congresso Internacional de Escritores, em           Publicações póstumas:
1954. Em 1990, no centenário de seu                 - A utopia antropofágica – Globo
nascimento, a “Oficina Cultural Três Rios” passa    - Ponta de lança – Globo
a se chamar “Oficina Cultural Oswald de             - O rei da vela – Globo

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- Pau Brasil – Obras completas – Globo              - O perfeito cozinheiro das almas desse mundo
- O santeiro do mangue e outros poemas –            – Globo
Globo                                               - Os condenados – A trilogia do exílio – Globo
- Obras completas – Um homem sem profissão          - Primeiro caderno do aluno de poesia Oswald
– Memórias e confissões sob as ordens de            de Andrade – Globo
mamãe – Globo                                       - Os dentes do dragão – Globo
- Telefonema – Globo                                - Mon coeur balance – Le Âme - Globo
- Dicionário de bolso – Globo


                                      Aventuras de
                                    Pedro Malasartes

UMA DAS DE PEDRO MALASARTES                                Tarde da noite, Pedro foi ao lugar onde
                                                    estavam os perus, e matou-os a todos,
        Um dia, Pedro Malasartes foi ter com o      labreando de sangue as ovelhas. O homem,
rei e lhe pediu três botijas de azeite,             indo-os buscar, achou-os mortos, e voltou
prometendo-lhe levar em troca três mulatas          muito aflito, dizendo: "Pedro, não sabe, as
moças e bonitas. O rei aceitou o negócio. Pedro     ovelhas mataram os seus perus". Ouvindo isto,
saiu e foi ter à casa de uma velha, ali pela        Malasartes fez um grande espalhafato, gritando
noitinha; pediu-lhe um rancho, e que lhe            que o homem tinha morto os perus do rei e
botasse as botijas no poleiro das galinhas. A       recebeu seis ovelhas pelos perus. Largou-se,
velha concordou com tudo. Alta noite, Pedro         indo dormir na casa de um homem que tinha
Malasartes levantou-se, foi de pontinha de pé       um curral de bois. Aí ele fez as mesmas
ao poleiro, quebrou as botijas, derramou o          artimanhas, até pegar seis bois pelas seis
azeite, lambuzando as galinhas. De manhã            ovelhas.
muito cedo Malasartes acordou a velha, e                   Mais adiante, ele encontrou uns
pediu-lhe as botijas de azeite. A velha foi         vendilhões de ouro e trocou os bois por ouro.
buscá-las, e, achando-as quebradas, disse:          Mais adiante encontrou uns homens que iam
        "Pedro, as galinhas quebraram as            carregando uma rede com um defunto. Pedro
botijas e derramaram o azeite".                     perguntou quem era, disseram-lhe que era uma
        – Não quero saber disso, -disse Pedro; -    moça. Ele pediu para ir enterrá-la e eles deram.
quero para aqui meu azeite, senão quero três               Logo que os homens se ausentaram, ele
galinhas.                                           tirou a moça da rede, encheu-a de bastante
        A velha ficou com medo, deu-lhe as três     ouro e de enfeites, e foi ter com ela nas costas
galinhas. Malasartes partiu e foi à noite à casa    à casa de um homem rico que havia ali perto.
de outra velha; pediu rancho e que agasalhasse      Pediu rancho, disse às filhas do tal homem que
aquelas três galinhas entre os perus. A velha,      aquela era a filha do rei que estava doente, e
como tola, consentiu. Alta noite, Pedro se          ele andava passeando com ela, e pediu que a
levantou, foi ao quintal, matou as três galinhas,   fossem deitar.
besuntando de sangue os perus. No dia                      Foram levar a moça para uma
seguinte, bem cedo, acordou a velha, pedindo        camarinha, indo Malasartes com ela, dizendo
as suas galinhas, porque queria seguir viagem.      que só com ele ela se acomodava. Deitou a
A velha foi buscá-las e encontrou o destroço.       moça defunta na cama e retirou-se, dizendo às
Voltou aflita, contando a Malasartes.               donas da casa: "Ela custa muito a dormir, ainda
        Ele fez um grande barulho até levar seis    chora como se fosse uma criança; quando
perus em troca das galinhas. Na noite seguinte,     chorar, metam-lhe a correia."
foi ter à casa de um homem que tinha um                    Alta noite, Pedro foi e se escondeu
chiqueiro de ovelhas, e pediu-lhe para passar a     debaixo da cama onde estava a moça e pôs-se
noite em sua casa e que lhe agasalhasse             a chorar como menino. As moças da casa,
aqueles perus lá no chiqueiro das ovelhas,          supondo ser a filha do rei, deram-lhe muito até
porque bicho com bicho se acomodavam bem.           ela se calar, que foi quando Pedro se calou.
O homem assim fez.                                  Depois ele escapuliu e foi para o seu quarto.

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        De manhã ele pediu a moça, que queria      Quando o perseguidor chegou à toda, e
ir-se embora. Foram ver a filha do rei, e nada     perguntou à lavadeira se tinha visto passar um
de a poderem acordar. Afinal conheceram que        homem      tocando     uma     carneirada,  ela
ela estava morta, e vieram dar parte a             respondeu, quase sem poder falar, que Pedro
Malasartes. Ele pôs as mãos na cabeça dizendo:     Malasartes havia feito o que ficou dito.
"Estou perdido; vou para a forca; me mataram              E, porque Pedro já estava longe com o
a filha do rei!…"                                  rebanho, o homem voltou soltando um milhão
        Os donos da casa ficaram muito aflitos,    de pragas.
e começaram a oferecer cousas pela moça, e
Pedro sem querer aceitar nada, até que ele         DE COMO MALASARTES PASSA ADIANTE
mesmo exigiu três mulatas das mais moças e         A CARNEIRADA
bonitas. O homem rico as deu, e Pedro disse
que dava uma desculpa ao rei sobre a morte de             Já muito longe, encontrou um porqueiro
sua filha, e lhe dava de presente as três          que vinha tocando também. Pedro Malasartes
mulatas, para o rei não se agastar muito.          que já previa que o fazendeiro havia de vir no
        Malasartes largou-se e foi logo para o     seu rasto, propôs troca dos carneiros, (que
palácio, onde entregou o rei as três mulatas       valiam menos, pelos porcos, que valiam mais).
com este dito: "Eu não disse a vossa majestade            Fecharam o negócio, tendo o porqueiro
que lhe dava três mulatas pelas três botijas de    feito uma volta em dinheiro.
azeite? Aí estão elas". O rei ficou muito                 Malasartes seguiu com a porcada e o
admirado.                                          outro com os carneiros, em direção oposta.
                                                          O porqueiro foi pousar em casa do dono
DE COMO MALASARTES FINGIU QUE                      dos carneiros. Ao ver o seu rebanho, o homem
SE MATAVA                                          avançou para o porqueiro, e exigiu entrega do
                                                   que era seu. O porqueiro quis resistir, mas
        Vendo que a vitima vinha em sua            vendo que o homem estava armado até os
perseguição, deu tudo quanto tinha e, ao           dentes e tinha muitos capangas, não teve outro
aproximar-se de um riacho, encontrou uma           remédio senão fazer a restituição, ficando no
mulher a lavar roupa. Estava perdido, porque a     prejuízo, e tocou pra trás a ver se encontrava o
lavadeira daria ao perseguidor a sua direção.      Malasartes que já estava longe, tendo tomado
        Mais que depressa tocou a carneirada a     por um atalho que foi dar numa fazenda. E, vai
atravessar o riacho, e tomando um dos              então, vendeu a porcada por um precinho
carneiros, tirou-lhe as tripas e meteu-as          barato, mas com a condição de o comprador
debaixo da camisa. Quando a manada passou,         deixar que ele cortasse a ponta do rabo de
ele arrancou da faca, fingiu que abriu o ventre    cada porco.
e deixou cair na água as tripas do carneiro, que          Fecharam o negócio e Pedro Malasartes
ali levou ocultas.                                 meteu no embornal os rabinhos dos porcos e
        A lavadeira deu um grito, caiu             bateu o pé na estrada.
desmaiada ao presenciar tal cena e Malasartes
desapareceu.



                                       Nilto Maciel
                                          Hiroito)
                                         (Hiroito)

       Japonezinho     mirrado,    já   velho,     sorria. Os moleques o chamavam de “japa”. Ele
enrugado, banguela. Vigiava carros num             se zangava, cuspia farelos e pingos de caldo.
estacionamento. Em troca recebia minguadas                 Deitado no catre imundo, Hiroito
moedas. Quando a fome apertava, corria ao          recordava a Grande Guerra. Dores, mortes,
vendedor de pastéis. Esmigalhava com os dedos      destruição. E a fuga para o Brasil. Dormia,
a iguaria e enchia a boca de farelos de carne      cansado, e sonhava horrores. Milhões de pulgas
moída e trigo assado. Pedia caldo de cana e        a roê-lo vivo. Baratas e ratos fardados,
 Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.3 – Paraná, março/abril de 2010.
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enormes, violentos. Prendiam-no, arrastavam-         a vitória. O poderoso exército do Império do Sol
no, molestavam-no.                                   Nascente. Quando a guerra terminasse, o Japão
        Mal amanhecia, pulava do gramado e,          seria dono do mundo. E ele, Hirohito, o homem
tonto, buscava a aurora. Fechava os olhinhos         mais poderoso da Terra.
sujos e enfiava as mãos na água da bacia. A                  E expirou.
fome de novo. Imaginava pastéis macios.                                  ---------–
Esquecia os inimigos, a guerra, os insetos.
Corria para pegar o ônibus. Precisava chegar
cedo ao estacionamento. E disputar com os
moleques o direito de receber moedas dos
donos dos carros. Moedas e insultos. “Vai
trabalhar, vagabundo!”                                               Nilto Maciel
        Um dia lhe disseram que no Japão havia
                                                           Nasceu em Baturité, Ceará, em 1945.
muita riqueza. Indústrias e mais indústrias.
                                                           Obteve primeiro lugar em alguns
Como em nenhum outro país. O povo vivia farto
                                                     concursos literários nacionais e estaduais, com
e feliz. Nem parecia aquele povo destruído em
                                                     o livro de contos Tempos de Mula Preta; livro
45. Riu. Não acreditou naquilo. E, se fosse
                                                     de contos Punhalzinho Cravado de Ódio; A
verdade, mesmo assim preferia viver no Brasil,
                                                     Última Noite de Helena; Os Luzeiros do Mundo;
onde não havia guerra.
                                                     A Rosa Gótica; conto “Apontamentos Para Um
        Noutro dia houve tiroteio entre policias e
                                                     Ensaio”; “livro Pescoço de Girafa na Poeira;
ladrões de carro. O estacionamento virou
                                                     "Eça de Queiroz", livro Vasto Abismo.
campo de batalha. Tiros a torto e a direito.
                                                           Tem contos e poemas publicados em
Correria e gritaria. Um pandemônio. Assustado,
                                                     esperanto, espanhol, italiano e francês. O Cabra
o velho japonês correu. Talvez alcançasse a
                                                     que Virou Bode foi transposto para a tela
barraca dos pastéis. Quando aquilo acabasse,
                                                     (vídeo), pelo cineasta Clébio Ribeiro, em 1993.
mataria a fome. Porém, antes de alcançar
                                                           Alguns livros:
refúgio, uma bala se incrustou em seu peito.
                                                           Itinerário, Tempos de Mula Preta, A
Atirado ao chão, rolou para debaixo de um
                                                     Guerra da Donzela, Punhalzinho Cravado de
carro. Se sentia dor, não sabia. Na verdade,
                                                     Ódio, Os Guerreiros de Monte-Mor, O Cabra que
tudo parecia grandioso aos seus olhos semi-
                                                     Virou Bode, Navegador, Vasto Abismo,
abertos. Aviões devastavam céus. Tanques
                                                     Panorama do Conto Cearense, A Leste da
rolavam sobre os inimigos, que viravam pastéis.
                                                     Morte, etc.
As tropas japonesas invadiam Ásias e Américas.
E ele, Hirohito, imperador do Japão, comandava



                             Antonio Roberto de Paula
                                      Poesias)
                                     (Poesias)


         O SILÊNCIO DE MARINGÁ                                      Um motor ronca
                                                                  Rompendo uma reta
                   É na noite                                       Perdendo força
            Quando procuro o sono                                  Nos meus ouvidos
                Fecho os olhos
                  E tento ouvir                                    Chega uma música
             O silêncio de Maringá                                  Em baixo volume
             Um silêncio que dura                                    Sobe poderosa
                  A eternidade                                   E se perde na escuridão
             De poucos segundos
                                                                    Logo outros sons

 Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.3 – Paraná, março/abril de 2010.
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             Itinerantes de vozes                  Demarcava seu espaço sem pedir licença
                Passos e latidos
                Vêem e seguem                      Para Pedro Caveira era vencer ou morrer
              Sem dar boa-noite                    Dos homens ganhava o temor, o respeito
                                                    Das mulheres conseguia tirar o prazer
             A noite passa veloz                   Era na marra, na força, de qualquer jeito
        O dia começa na madrugada
            Acelerações e freios                      Entre as tantas moçoilas submissas
            Buzinas e máquinas                       Havia uma que ocupava seu coração
              É a cidade de pé                      Era a bela , doce e estonteante melissa
               Em movimento                         Morena brejeira exalando amor e paixão

              Houve um tempo                        Por ela é que Pedro Caveira se derretia
               Em que a cidade                     Um caso conhecido em toda comunidade
              Dormia mais cedo                     Quando ela chegava seu sorriso se abria
              Não vagava tanto                      Para ela, ele pedia só amor e fidelidade
            E acordava no horário
                                                    Na vida acontecem coisas inesperadas
              Tempo da poeira                      Por uma bronca sem grande repercussão
                Dos lampiões                         Caveira teve que tirar férias forçadas
            Das casas de madeira                     Fora de circulação, um ano de prisão
           E portões de balaústres
                                                     Um dia antes de se entregar à justiça
           A noite era de poucos                     Pediu ao bando a palavra em penhor
            Só dos profissionais                      Chorou abraçado à querida Melissa
          Hoje o dia ficou pequeno                     Que lhe fez juras de eterno amor
            A noite é a extensão
                                                      Chamou num canto o seu preferido
                  É na noite                          O humilde amigo Zequinha Terceiro
           Quando procuro o sono                       Lhe pediu em lágrimas, comovido
               Fecho os olhos                         Que cuidasse de todo o seu terreiro
                 E tento ouvir
            O silêncio de Maringá                    Zequinha levou à risca aquele pedido
            Um precioso silêncio                      Por sua conta incluiu a bela morena
              Um frágil silêncio                     Virou chefão do pedaço, cabra temido
              Que dura menos                         E botou as guampas no Pedro Caveira
          Que a pureza do instante
                                                    Passou o tempo, cumprida a sentença
                    A noite                          Caveira quis retornar ao antigo ninho
              Já não é mais noite                   Mas ninguém mais quis a sua presença
               É só o dia sem sol                     E até Melissa lhe negou os carinhos
            Entrando no outro dia
 (Antonio Roberto de Paula - Livro Maringânias -    Humilhado, pobre, com medo de morrer
2007 - Poesias comemorativas - Maringá 60 anos)     Pedro Caveira abandonou aquela cidade
                                                     Com ódio de Zequinha de endoidecer
CABRITO NA HORTA                                   Hoje perambula na estrada da infelicidade

  Patrono, manda-chuva, mandava brasa               O mundo sempre foi e será dos espertos
  Pedro Caveira era o tipo de fazer tremer         Zequinha agora é senhor, do alto escalão
   Nunca foi de levar desaforo para casa             O pai e o avô na vida não deram certo
  Não havia homem que podia lhe conter             Mas ele é o terceiro, o chefe, um campeão

    Na faca, na bala, no pau, na porrada               E finalizando essa incrível história
    Pedro Caveira se valia da truculência             Pra você não ser tomado de revolta
  A cada dia mais uma área era dominada
 Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.3 – Paraná, março/abril de 2010.
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    E pra que a tua vida não seja inglória        Regional     do     Bradesco-Maringá;      e   foi
   Não deixe o cabrito tomar conta da horta       proprietário do Bar do Toninho ( 1985 a 1990),
                      ---                         na avenida Dr. Alexandre Rasgulaeff, no Jardim
        Letra: Antonio Roberto de Paula           Alvorada, em Maringá.
        Melodia: Helington Lopes                          Desde a adolescência escreve poesias,
        História contada por Cláudio Viola        contos, crônicas e artigos, inclusive com
        A música "Cabrito na horta" , em versão   publicações desde a década de 1970, nos
reduzida, participou do Femucic, em 2005, com
                                                  jornais O Diário do Norte do Paraná , O Jornal
apresentação do grupo Receita do Samba
                                                  de Maringá e Jornal do Povo . Sua primeira
                                                  experiência efetiva no jornalismo ocorreu em
                                                  1975, no Colégio Estadual Dr. Gastão Vidigal,
                                                  com o jornal Skeletus , do CETA (Centro
                                                  Estudantil Tristão de Athaíde).
                                                          Publicado até 1977, o Skeletus tinha
      Antonio Roberto de Paula                    como editores, além de De Paula, seus amigos
        O jornalista Antonio Roberto de Paula,    Mário Sérgio Recco, José Miguel Grillo, Nivaldo
sócio-proprietário da TV Clipping Maringá,        Gôngora Verri, Edson Cemensati e Edson Luiz
nasceu na cidade paulista de Lupércio, em 17      Matias. Em 1981, foi colaborador do Vôo Livre ,
de junho de 1957. É o primogênito dos quatro      suplemento de O Diário publicado às sextas-
filhos de Alcebíades de Paula Neto e Rita         feiras, editado por Mário Sérgio Recco.
Andrade de Paula. A mudança para Maringá                  Seu primeiro emprego efetivo na
ocorreu em 1959. De Paula concluiu o curso        imprensa foi no Jornal do Povo, em 1991, como
primário em 1967, em Engenheiro Beltrão (PR),     colunista de futebol amador, passando depois
onde a família residiu até meados de 1972.        para a editoria de esportes e escrevendo a
        Em 1968 estudou no Seminário Verbo        coluna Visão de jogo. Neste mesmo ano atuou
Divino, em Ponta Grossa. De 1969 a 1976, fez o    como      comentarista     da     extinta    Rádio
ginásio e o científico, como eram chamados na     Metropolitana (Rádio Jornal).
época os ensinos fundamental e médio, nos                 Em 1992 e 1993 trabalhou como
seguintes estabelecimentos de ensino de           comentarista em transmissões de futebol
Maringá: Santo Inácio, Instituto de Educação,     amador pela RTV Maringá. Em 1993, deixou o
Gastão Vidigal e Paraná.                          Jornal do Povo e se transferiu para a sucursal
        Foi aprovado no vestibular do curso de    do Correio de Notícias, jornal curitibano que
Letras na UEM (Universidade Estadual de           encerrou as atividades na cidade no ano
Maringá) em 1981, mas desistiu do curso. Em       seguinte. Lá, foi colunista e editor de esportes.
2001, formou-se em Jornalismo pelo Cesumar                Ainda em 1993, deixou a RTV indo para
(Centro Universitário de Maringá). Em 2003, fez   a TV Maringá (Band) para ser editor, pauteiro e
o curso de pós-graduação Língua Portuguesa –      produtor do programa diário Esporte por
Teoria e Prática, pelo Instituto Paranaense de    Esporte , onde permaneceu até 1995.
Ensino e Univale (União das Escolas Superiores            Neste período, De Paula também foi
do Vale do Ivaí). Atualmente, cursa Mestrado      produtor e comentarista do programa Atalaia
em Letras na UEM.                                 Esportiva, da Rádio Atalaia de Maringá. De
        Sua monografia de conclusão do curso      1995 a 1997, trabalhou no O Diário exercendo
de graduação foi a apresentação do livro Os       as funções de editor de esportes, colunista do
homens da Folha do Norte do Paraná , jornal       DNP Esporte, repórter de matérias políticas e
maringaense fundado em 1962, pelo primeiro        locais, pauteiro e secretário de redação.
arcebispo de Maringá, dom Jaime Luiz Coelho,              De 1997 a 1998 foi repórter da Revista
e que teve suas atividades encerradas em          M-9. De 1997 a 1999 escreveu crônicas,
1979.                                             artigos, poesias e contos na coluna Linha
        Antes de atuar profissionalmente na       Expressa, no Jornal do Povo. Em 1998 e 1999
imprensa, De Paula foi escriturário na            atuou como editor-chefe do departamento de
Transparaná (1977), funcionário público           jornalismo da TV Cidade – Sistema NET. Em
municipal ( 1977 a 1979), tendo trabalhado na     2000, foi repórter, pauteiro e colunista do
extinta      Codemar        (Companhia       de   jornal Hoje Maringá.
Desenvolvimento de Maringá) e Secretaria de
Fazenda; bancário ( 1979 a 1985), no Centro

 Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.3 – Paraná, março/abril de 2010.
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         De Paula e o jornalista Cláudio Viola são   produtores do programa Beca TV , da TV
parceiros em composições em que incluem os           Clipping Maringá, com Guilherme Tadeu e Allan
hinos do Maringá Futebol Clube (1996), do            Oliveira, em 2004. Em 2003, publicou o livro Da
Grêmio Maringá (2000) e as músicas Maringá           minha janela, de crônicas, artigos, poemas,
Velho, gravada em 2003 pela cantora                  contos inéditos e já publicados.
maringaense Márcia Mara, e Cabrito na horta ,                Em 2004 lançou o livro A história política
classificada no Femucic (Festival de Música          de um cabo de José, de Maria e de todos os
Cidade Canção), gravada por Helington Lopes          Santos , em que narra a história do vereador
(que também foi um dos compositores) e o             maringaense Cabo Zé Maria e seus dez anos de
grupo Receita do Samba.                              mandato. Em 2005, dirigiu o videodocumetário
         Em 2002, abriu com a jornalista Simone      Crônica democrática de uma cidade brasileira ,
Labegalini a TV Clipping Maringá. No início de       sobre as Eleições 2004, numa produção da TV
2003, De Paula trabalhou como produtor,              Clipping Maringá, com roteiro de Guilherme
repórter e comentarista do programa Estação          Tadeu de Paula e fotografia e montagem de
Comunitária , da Rádio Comunitária São               Allan Oliveira.
Francisco FM, do Jardim Alvorada, retornando                 Foi nomeado assessor de imprensa da
no ano seguinte. Foi responsável juntamente          Câmara Municipal de Maringá em 1997, vindo a
com seu filho Guilherme Tadeu de Paula da            ocupar a chefia do setor no final de 1999, onde
sucursal em Maringá do jornal londrinense            permanece até hoje.
Paraná Shimbun, em 2003 e 2004, e um dos



                                         Pedro Silva
                                   (Uma Viagem na Época
                                    dos Descobrimentos)
Um sonho de criança                                          Mas o nosso Bartolomeu iria ser ainda
                                                     mais famoso. Porém, nesta altura, ainda o não
        - Bartolomeu! Bartolomeu! – grita uma        sabia.
donzela formosa, com pouco mais de trinta                    Ao jantar, o seu pai, conhecedor por ser
anos.                                                de poucos sorrisos e de poucas falas, dirigiu-se
        Por todo o lado procurava, mas o seu         ao filho:
filho não aparecia em sítio algum.                           - Bartolomeu, tua mãe contou-me que
        De repente, um franzino jovem surge.         passaste o dia junto ao riacho. É verdade?
Tinha um olhar simpático. O cabelo                           - Sim, pai, é verdade. Perdoe-me. – e o
despenteado. Mas a sua maneira de ser era            jovem baixou a cabeça, em tom triste.
delicada:                                                    - Sabes que a vida não é só brincadeira,
        - Desculpe, mãe. Estava a brincar no         não sabes?
riacho.                                                      - Eu sei, meu pai, mas…
        - Outra vez, Bartolomeu? Mas tu só te                - E olha que a nossa vida tem sido de
sentes bem junto à água?                             trabalho. Os sonhos são apenas para quando
        O jovem, envergonhado, encolhe os            dormimos. A realidade é bem diferente quando
ombros e responde:                                   estamos acordados. – afirmou o pai de
        - Por acaso… sim! – e corre a abraçar a      Bartolomeu Dias.
sua mãe.                                                     - Desculpe, pai. Mas isto não é um
        Estávamos em 1465 e Bartolomeu Dias,         sonho, eu serei mesmo navegador!
nascido em Mirandela, uma belíssima localidade               O pai não deixou de esboçar um
transmontana, dava os primeiros passos na sua        pequeno sorriso. O empenho do seu filho era
futura vida de navegador. Apesar de ter apenas       de louvar. Dentro do seu coração, o pai de
quinze anos, já o seu pai o incentivava a seguir     Bartolomeu desejava que este conseguisse ser
as pisadas de Dinis Dias, seu parente e também       o mais famoso dos navegadores portugueses.
famoso navegador.                                    Mas também sabia as dificuldades que o filho


 Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.3 – Paraná, março/abril de 2010.
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teria de enfrentar. “Porém, sonhar não custa”,              - O que quereis de mim? – perguntou D.
pensava de si para si.                              João II, o Príncipe Perfeito.
                                                            - Senhor, eu gostaria… - a voz parecia
Vivendo um sonho                                    não sair, dada a sua timidez. – Eu gostaria de
                                                    poder participar na próxima viagem a África.
         Pouco anos depois, Bartolomeu Dias                 O rei pensou um pouco e respondeu:
despediu-se dos pais e rumou a Sul. O destino               - Pois bem, embarcarás daqui a dois
era a capital de Portugal, Lisboa. Era lá que       dias, rumo a São Jorge da Mina, a nossa mais
todos os sonhos seriam possíveis de conquistar.     importante feitoria.
Até então, passara os seus dias numa pequena                E assim foi.
povoação do interior do país. Nunca vira o mar,             Cruzando mares pela primeira vez
mas sonhara com ele todos os dias de sua vida.      chegou em 1484 ao local estipulado pelo rei. Ali
         Deslocou-se para Lisboa. Ali estudaria     esteve algum tempo, aperfeiçoando os seus
matemática e astronomia na Universidade de          conhecimentos marítimos e aprendendo os
Lisboa. Mas, ainda antes de começar a estudar,      costumes locais.
a primeira atitude que teve ao chegar à capital
foi deslocar-se à zona de Belém. A razão?           A viagem de uma vida
Queria ver o local de onde as caravelas partiam
rumo ao desconhecido.                                       Tão rapidamente ganhou experiência
         “Que    local     magnífico!”,   pensava   que, dois anos depois, o rei João II confiou-lhe
Bartolomeu, olhando para tanta agitação. Eram       uma importante missão: descobrir o Preste
marinheiros que se despediam das suas               João das Índias. Desde há alguns anos que em
famílias. Eram vendedores que apregoavam os         Portugal se contava a história da existência de
seus produtos. E, por fim, eram crianças que        um rei muito rico que vivia na Etiópia. Esse rei,
choravam de saudades ao ver a chegada dos           ao contrário dos reis que o rodeavam, era
seus pais ou que brincavam indiferentes a tudo      cristão. Portanto, poderia ajudar D. João II na
o mais.                                             conquista de novos territórios na África e na
         Com tudo isto sonhara o jovem              Ásia.
Bartolomeu Dias quando, pouco tempo antes,          No entanto, este era o plano secreto.
partira de Mirandela rumo a Lisboa. Na viagem               Oficialmente, Bartolomeu Dias tinha
não parara de fazer perguntas a Dinis Dias, o       como missão investigar as costas do continente
seu parente que ganhara alguma fama ao              africano. Isto para se tentar perceber se seria
comando de caravelas. Queria saber tudo:            possível chegar à Índia por mar.
como se preparava uma expedição; quantos            Nessa altura, em 1486, ninguém acreditava que
marinheiros levava a embarcação; e, mais            fosse possível ultrapassar a zona conhecida por
importante, quando ele poderia participar. A        Cabo das Tormentas. Este nome havia sido
tudo respondia Dinis com a sua calma de             ganho pelo fato de o mar ser muito perigoso e
sempre. À última pergunta, respondeu-lhe: “na       de muitos barcos ali terem desaparecido.
altura certa, chegará o teu momento de                      Mas Bartolomeu Dias não tinha medo de
embarcar”.                                          nada. Se o rei lhe havia solicitado essa missão,
         Os estudos passaram a correr. Tudo         assim seria cumprida.
aprendia a um ritmo louco tal a ânsia de largar             Na verdade, o navegador, que
terra firme e aventurar-se no alto mar.             comandava duas caravelas, não chegou a
         Quanto os estudos terminaram, e            encontrar qualquer notícia do mítico rei das
auxiliado pelo seu familiar Dinis Dias, entrou na   Índias, o famoso Preste João. Porém, trazia
corte portuguesa. À sua frente estava D. João       relatos muito entusiasmantes para D. João II.
II. Assim que o viu, Bartolomeu ajoelhou-se.                Chegado à corte, Bartolomeu correu
Era o seu rei que ali se encontrava. Portanto,      para junto do seu rei e declarou:
mandava a educação que lhe fizesse uma                      - Senhor, é possível dobrar o Cabo das
vénia.                                              Tormentas. Eu sei!
         - Levantai-te. – afirmou o soberano.               - Mas como tal será possível,
         - Obrigado, senhor. É uma honra poder      Bartolomeu? – perguntou o monarca.
estar aqui na tua presença. – disse Bartolomeu.             - Acreditai em mim.



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3 revista literária voo da gralha azul numero 3 marco abril 2010 final

  • 1. no 3 - Ano 0 Paraná, março/abril de 2010 Esta revista é gratuita, sendo proibido qualquer tipo de comercialização de seus artigos sem autorização dos respectivos autores.
  • 2. SUMÁRIO ACADEMIAS XXIII Jogos Florais de Ribeirão Preto .................... 98 Academia de Letras de Rondônia..............81 XI Jogos Florais Estudantis de Ribeirão Preto ........... 98 ANÁLISE DE OBRAS ENTREVISTA Mario de Andrade Alberto Paco (Maringá/PR) Contos Novos ............................................. O Escritor em Xeque................................................. 89 BIOGRAFIAS ESTANTE DE LIVROS Anayde Beiriz............................................................93 ALUÍSIO AZEVEDO Antonio Augusto de Assis...........................................54 O cortiço .................................................... 106 Antonio Brás Constante..............................................4 ÁLVARES DE AZEVEDO Antonio Roberto de Paula ..........................................15 Noite na taverna ....................................... 106 ALVARO CARDOSO GOMES Aparecido Raimundo de Souza...................................52 Fase terminal ............................................ 108 Branca Tirollo...........................................................80 ANTONIO CALLADO Caio Porfírio Carneiro ...............................................58 A expedição Montaigne ............................. 107 Clarice Lispector........................................................70 GUIMARÃES BERNARDO GUIMARÃES A escrava Isaura ....................................... 108 Dinair Leite ...............................................................81 O seminarista............................................ 109 Franklin Ras Lopes....................................................51 CAMILO CASTELO BRANCO Helena Kolody...........................................................43 Amor de perdição ...................................... 107 José Carlos Capinan ...................................................28 EDUARDO BUENO A viagem do descobrimento ...................... 107 Luiz Otávio................................................................36 Capitães do Brasil – A saga dos primeiros Mario de Andrade......................................................21 colonizadores ............................................. 107 Nilto Maciel...............................................................13 Náufragos , traficantes e degredados ....... 107 Oswald de Andrade....................................................6 O descobrimento das Índias...................... 107 ELIAS JOSÉ Pedro Ornellas ..........................................................79 Um pássaro em pânico.............................. 109 Pedro Silva ...............................................................18 ELISABETH LOIBL Tatiana Belinky ........................................................29 O mistério do índio voador........................ 110 Tchelo D’ Barros........................................................57 O segredo do ídolo de barro....................... 110 GUILHERME DE OLIVEIRA FIGUEIREDO Vicência Jaguaribe ....................................................3 Tratado geral dos chatos........................... 108 CONCURSOS COM INSCRIÇÕES ABERTAS HERNÂNI DONATO XX Concurso de Trovas de Pindamonhangaba ...........94 Brasil 5 séculos ......................................... 108 VI Concurso de Trovas da UBT-Maranguape/2010 ......94 IVAN ÂNGELO A face horrível ........................................... 106 Jogos Florais UBT Seccional Mérida – Venezuela.......95 JOÃO GUIMARÃES ROSA JOÃO Jogos Florais de Cambuci/RJ – 2010 ........95 Grande sertão: veredas ............................. 109 Concurso Internacional de Literatura Para 2010. .......95 Primeiras estórias ..................................... 109 Concursos da UBT São Paulo - 2010 (100 Anos do Sagarana ................................................... 109 Nascimento de Noel Rosa) ...................................96 JORGE AMADO A descoberta da América pelos turcos ...... 105 IX Concurso de Trovas de Caicó -2010..................... 97 A morte e a morte de Quincas Berro D’Água............... 105 IV Jogos Florais de Balneário Camboriú / SC ...........97 ABC de Castro Alves................................. 105 V Jogos Florais de Cantagalo / RJ ............ 97 Dona Flor e seus dois maridos .................. 105 Xl Jogos Florais de Niterói .................................97 O sumiço da santa..................................... 106 Concurso de Trovas de Taubaté ................97 Os pastores da noite.................................. 105 XXX Concurso Estadual/Nacional e I Concurso Interno de Trovas São Jorge dos Ilhéus ................................. 106 da Academia de Trovas do Rio Grande do Norte................. 97 Tenda dos milagres ................................... 106 Terras do sem fim ..................................... 106 Esta revista é gratuita, sendo proibido qualquer tipo de comercialização de seus artigos sem autorização dos respectivos autores.
  • 3. Tieta do agreste .........................................106 De como Malasartes passa adiante a carneirada ......... 12 Tocaia grande: a face obscura ...................106 O Saci ........................................................ 98 JORGE CALDEIRA Mauá, empresário do Império ...................107 HAIKAIS JOSÉ DE ALENCAR Helena Kolody Iracema: a lenda do Ceará.........................104 Último........................................................ 42 Lucíola .......................................................104 Aplauso...................................................... 42 O garatuja: crônica dos tempos coloniais..104 Alegria ....................................................... 42 O guarani...................................................104 Flecha de Sol ............................................. 42 O sertanejo.................................................105 Ipês Floridos.............................................. 42 Senhora......................................................105 Qual? ......................................................... 42 Til...............................................................105 Poesia Mínima........................................... 42 JOSUÉ GUIMARÃES Manhã ....................................................... 42 Camilo Mortágua.......................................109 Arco-Íris..................................................... 42 Os tambores silenciosos.............................109 Jornada ..................................................... 42 LÚCIA MACHADO ALMEIDA Ressonâncias ............................................. 43 As viagens de Marco Pólo ..........................105 Noite .......................................................... 43 GARCIA- LUIZ A. GARCIA-ROZA Repuxo Iluminado..................................... 43 O silêncio da chuva....................................108 Depois........................................................ 43 MANOEL ANTÔNIO DE ALMEIDA Alquimia.................................................... 43 Memórias de um Sargento de Milícias......105 Manhã ....................................................... 43 MARIA DEZONE PACHECO FERNANDES No Mundo da Lua ..................................... 43 Sinhá moça ................................................108 Sem Poesia ................................................ 43 MARIA JOSÉ DUPRÉ Noturno ..................................................... 43 Éramos seis................................................108 Felicidade .................................................. 43 MÁRIO DE ANDRADE Dom ........................................................... 43 Macunaíma: o herói sem nenhum caráter 106 NOSSO PORTUGUÊS DE CADA DIA NILO ALGE Expressões Redundantes .......................... 49 Mergulho no fim ........................................105 NOTÍCIAS ORÍGENES LESSA A pedra no sapato do herói........................109 Academia de Letras do Brasil/ Estado do Paraná O feijão e o sonho.......................................109 Imortais ..................................................... 111 Rua do sol ..................................................109 Tatiana Belinky toma posse na Academia Tio Pedro....................................................109 Letras..................................... 110 Paulista de Letras PAULO LINS O ESCRITOR COM A PALAVRA Cidade de Deus .........................................109 Anayde Beiriz PAULO MENDES CAMPOS Carta de Amor........................................... 92 Cartas do meu moinho ..............................107 Antonio Brás Constante PEDRO BLOCH O Homem, o Carteiro e o Cachorro .......... 3 Cara nova ou beleza pura..........................106 Aparecido Raimundo de Souza RUBEM FONSECA O Homem Só ............................................. 51 O doente Molière .......................................108 Artur de Azevedo RUY CASTRO A Filosofia do Mendes ............................... 88 Bilac vê estrelas.........................................108 Branca Tirollo VERA FERREIRA/ ANTONIO AMAURY Não Brinque com o Fogo ........................... 79 De Virgolino a Lampião.............................108 Caio Porfírio Carneiro ZÉLIA GATTAI Vingança.................................................... 57 Anarquistas graças a Deus........................108 Clarice Lispector Jardim de inverno .....................................108 Ruído de Passos......................................... 70 FOLCLORE Franklin RAS Lopes Aventuras de Pedro Malasartes (3) O Inesperado Aprendizado nas Curvas Uma das de Pedro Malasartes ....................................11 Femininas do Preconceito ......................... 50 Machado de Assis De como Malasartes fingiu que se Matava....................12 A Cartomante............................................ 38
  • 4. Nilto Maciel Pronominais .............................................. 5 Hiroito........................................................12 Vício na Fala ............................................. 5 Pedro Silva Balada do Esplanada ................................ 5 Uma Viagem na Época dos Descobrimentos ..............16 Escapulário ............................................... 5 Tatiana Belinky Ocaso ......................................................... 6 O Diabo e o Granjeiro ................................29 Brasil ......................................................... 6 Tchelo D’ Barros Relicário .................................................... 6 “M” E “H” no 609 ...................................... ...................................... ......54 Senhor Feudal........................................... 6 Vicência Jaguaribe Paulo Vieira Pinheiro Mãe, ela parece um gatinho! .....................2 A régua que mede...................................... 68 Adverso...................................................... 68 POESIAS Amores à letra d'alma............................... 68 Alberto Paco ( (Maringá/PR) Chuvisco .................................................... 69 Fruto do Carnaval .....................................86 Cintilar (Estudo 080608-1) ....................... 67 Antonio Augusto de Assis (Maringá/PR) De pé me deito........................................... 69 Carnaval ....................................................53 Desabafo.................................................... 69 Luolhar ......................................................53 Esperanças (Exercício 21042008-3) .......... 67 Terceira infância........................................53 Já ............................................................... 66 Aurora bela ................................................54 Momentos de insensatez ........................... 66 Por um beijo...............................................54 Tanto tempo que nem sei.......................... 66 Antonio Cândido da Silva ( (Porto Velho/RO) Tempos de Inocência ................................. 69 Bar do Zizi .................................................85 Antonio Manuel Abreu Sardenberg ( (São Universo das Palavras (Exercício 21042008-1)............ 66 Veneta ....................................................... 66 Fidélis/RJ) Xadrez ....................................................... 66 Namorar em Sonhos ..................................85 Ramsés Ramos ( (Teresina/PI) Antonio Roberto de Paula (Maringá/PR) O Silêncio de Maringá ...............................13 Sete Pecados do Amor ............................... 86 Cabrito na Horta ......................................14 Samuel Castiel Jr. ( (Porto Velho/ RO) Flor Tropical.............................................. 87 Emir Simionato Sabião (Ubiratã/PR) Tatiana Belinki ( (São Paulo/ SP) Procura .....................................................2 O Grande Cão-Curso................................. 86 Desejo.........................................................2 Os "Limerick" ........................................... 87 José Carlos Capinan (Esplanada/BA) Mudando de Conversa ...............................24 SOPA DE LETRAS Algumas Fantasias ...................................24 A Origem da Escrita ................................. 58 Madrugadas de Narciso.............................25 TROVAS Outras Confissões......................................25 Alberto Paco (PR) Didática......................................................25 Quadro Trovadoresco ................................ 89 Poesia Pura................................................25 Dinair Leite O Rebanho e o Homem ..............................26 Trovas........................................................ 80 Ponteio .......................................................26 João Paulo Ouverney (SP) Clarice........................................................26 Quadro Trovadoresco ................................ 104 Papel Machê ..............................................27 Luiz Otávio Machado de Assis ( (Rio de Janeiro/RJ) 100 Trovas................................................. 31 A Mosca Azul .............................................84 Pedro Ornellas Maria Eliana Palma ( (Maringá/PR) A Lágrima na Trova.................................. 77 Albatroz .....................................................87 Wilma Mello Cavalheiro (RS) Olga Agulhon ( (Maringá/PR) Quadro Trovadoresco ................................ 50 Ridícula......................................................84 Oswald de Andrade (São Paulo/SP) INDICAÇÃO DE SITES DE LITERATURA ........... 112 Relógio .......................................................4 Erro de Português......................................4 FONTES .................................................... 113 .................................................... Canto de Regresso à Pátria .......................5
  • 5. Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” março/abril n0. 3 – Paraná, março/abril 2010 Idealização, seleção e edição: José Feldman Contatos, sugestões, colaborações: pavilhaoliterario@gmail.com http://singrandohorizontes.blogsp ot.com Que a humanidade possa aprender com a nossa Gralha-azul e entender que o equilíbrio e o respeito ecológico entre fauna e flora é fundamental para a existência do Homem na face da Terra!!! Prezado Leitor Esta revista não tem a pretensão e nunca poderá ser considerada como substituição aos livros, jornais, colunas, etc. que circulam virtualmente ou não, mas sim como mola propulsora de incentivo ao cidadão para buscar novos conhecimentos, ou relembrar aqueles perdidos na névoa do passado. Por que o Voo da Gralha Azul? A poetisa norte-americana Emily Dickinson, que viveu no século XIX, diz “Não há melhor fragata do que um livro para nos levar a terras distantes”. No caso da revista, esta fragata é a Gralha Azul, que assim como semeia o pinheiro, ela alça voo e semeia no coração de cada um que alcançar, o pinhão da cultura, em todas as suas manifestações. Ao leitor, novos conhecimentos. Ao escritor ou aspirante a tal, sejam poetas, trovadores, romancistas, dramaturgos, compositores, etc., um caminho de conhecimento e inspiração. Obrigado por me permitir dividir consigo estes breves momentos, José Feldman
  • 6. 2 Emir Simionato Sabião (Poesias) PROCURA DESEJO Procurei tudo e não encontrei Tentei tudo e não consegui No fundo dos olhos de alguém Falei tudo e não ouvi mergulhei e me perdi Olhei pra tudo e nada vi Nos lábios de alguém me entreguei Andei muito, mas não saí e mesmo assim eu resisti Toquei em tudo, mas não senti No corpo de alguém eu me esquentei Perguntei muito e não respondi e nunca mais esqueci Então não sei Porém não sei o que fazer porque ainda estou aqui! se nada disso está aqui! Vicência Jaguaribe (Mãe, ela parece um gatinho!) gatinho!) Nega do cabelo duro, / qual é o pente segurava o barrigão inchado. Às vezes, soltava que te penteia, / qual é o pente que te penteia um gemido. A menina olhava-a e sentia que / qual é o pente que te penteia, ó nega... algo estava errado – aliás, sentia isso há algum A menina ouvia a voz de uma das tias tempo, já. Primeiro aquela barriga que todo dia brincando com ela e com a irmã. Depois de crescia um pouco, até ficar daquele tamanho, adulta, sempre que ouvia o samba de Ary ameaçando explodir. O que ela tinha naquela Barroso, Rubens Soares e David Nasser, barriga? Ninguém lhe dizia nada, e ela sentia lembrava-se daquele dia. Mas, principalmente, vergonha de perguntar. Há algum tempo, vira a lembrava-se da tia. Aquela música havia mãe vomitando e perguntara-lhe se ela comera aderido à figura da tia como a areia adere ao alguma coisa estragada. A mãe confirmou. corpo molhado. A coisa que ela tinha mais medo no Ela e a irmã estavam na casa da avó, mundo era de perder a mãe. Quando ouvia porque a mãe fora buscar o irmão delas, que dizer que morrera uma mãe, ela passava o dia nasceria naquele dia. Quando ela chegasse, seguindo a sua. E era preciso que a mãe a mandaria buscá-las. Foi isso o que lhes pusesse no colo, conversasse com ela, disseram. Ela só tinha cinco anos quando o explicasse que não ia morrer, porque não irmão nasceu, mas se lembra perfeitamente do estava doente, para que ela voltasse ao normal. que aconteceu. A irmã, com três anos, não Enquanto a irmã ria brincando com a atinava para a situação nem guardou nenhum tia, ela ficou sentada no chão, de frente para o recordação. corredor, observando o movimento, para tentar Mas ela, a mais velha, pressentia entender alguma coisa. De vez em quando, alguma coisa anormal no ar. Não sabia o que entrava um tio ou uma tia com cara de era. Mas que havia, havia. De manhã bem preocupação. A avó estava todo o tempo cedo, a mãe acordou-as, ajudou-as a escovar ajoelhada em frente ao santuário, rezando para os dentes; preparou-lhes o café e mandou a os santos dela. Mais tarde, perto do almoço, empregada levá-las para a casa da avó uma das tias chegou chorando, entrou no paterna. Mas a menina observara que ela não quarto e disse alguma coisa à mãe. A menina estava bem. De vez em quando, curvava-se e apurou os ouvidos, mas só ouviu uma palavra: Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.3 – Paraná, março/abril de 2010.
  • 7. 3 hemorragia, que ela não sabia o que era. Mas no carro, depois de despedir-se de seu pai, e o viu quando a avó começou a chorar. A tia que carro partir. O pai não entrou em casa, veio havia chegado chamou a irmã que brincava para a casa da mãe. Ao vê-la sentada na com as meninas, cochichou alguma coisa. E a calçada, botou-a no braço. Ele estava com a irmã ficou com cara de enterro. cara alegre: A menina não sabia precisar, mas intuía - Seu irmão chegou, e sua mãe agora que algo grave acontecia com a mãe. O pai está bem. Daqui a pouco você pode ir vê-la. havia, poucas horas atrás, entrado na casa da A menina começou a chorar, como se mãe, dizendo que mandara buscar um médico alguém houvesse apertado um botão liberador na cidade vizinha. Logo depois, alguém lhe de lágrimas. dissera que não precisava mais, já estava tudo - Mas por que essa menina está bem. O pai, no entanto, não mandara o carro chorando? – Perguntou à irmã, que se voltar. aproximava. Então, se o pai mandara chamar um Os adultos pensavam o que das médico era porque alguém estava doente. E só crianças? Que eram burras, insensíveis? E podia ser a mãe dela, raciocinou a menina. quanto mais tomava consciência de que nem Teve vontade de chorar, mas se controlou. passara pela cabeça do pai que ela podia estar Olhou para a irmã, que continuava rindo e sofrendo, mais chorava. Só se calou quando a cantando. O pai foi para casa, e a menina ficou tia, mesmo sem o consentimento do irmão, mais preocupada ainda. Mas ninguém ali se levou-a a ver a mãe. importava com a sua tristeza. Parecia até que A mãe abraçou-a e jurou que estava ninguém a via. bem. Mas percebeu que a sua menina não era Foi à cozinha, tentar escutar alguma tão ingênua como se pensava. Teve certeza de coisa das empregadas. Ela sabia – de ouvir que percebera que a mãe quase se fora. E dizer – que empregada sabe de tudo e mandou que ela fosse ver o irmão no berço. conversa tudo na frente das crianças. Mas, A menina ficou de ponta de pé e olhou o daquela vez, nada. A tia aproximou-se e falou irmão, que lhe pareceu um embrulho branco. E em almoço. A menina, que normalmente quase o primeiro sentimento que experimentou por não comia, disse não estar com fome. Mas foi ele foi raiva. Se não fosse ele, a mãe não tinha obrigada a engolir alguns bocados, à força, a ficado doente. Mas, de repente, ele mexeu-se e tia fazendo bolinhos na mão. E aí ela se abriu os olhos – uns grandes e belos olhos lembrou dos perus que a mãe engordava para azuis. Foi nesse momento que ela se o Natal. Era exatamente assim que ela dava descontraiu e, sorrindo, disse para a mãe: comida aos bichos. Deus a livrasse de ser peru! - Mãe, ele parece um gatinho! Ave Maria! Quando a tia achou que ela havia comido – à força – o suficiente, ou cansou de tentar, liberou-a, e ela foi para a calçada. Sentou-se à sombra do fícus benjamim, virada Vicência Jaguaribe para o lado de sua casa, que ficava umas nove Vicência Maria Freitas Jaguaribe, natural de casas à frente. Viu, parado em frente à casa, o Jaguaruana-Ce. Professora de Literatura e Estilística carro que fora buscar o doutor. Mais ou menos da Universidade Estadual do Ceará. Mestra em uma hora depois – e durante esse tempo ela Literatura pela UFC. Trabalhos publicados nas áreas ficou na quentura da calçada, sem ninguém se de Literatura, Estilística e Lingüística do Texto. incomodar –, viu um homem de branco entrar Antonio Brás Constante (O Homem, o Carteiro e o Cachorro) O cachorro é o melhor amigo do primeiramente vamos tentar explicar para essa homem, com exceção do carteiro. Mas juventude que só conhece internet o que é um Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.3 – Paraná, março/abril de 2010.
  • 8. 4 carteiro. O carteiro seria uma espécie de irrita e maltrata seu cão, que em contrapartida provedor de e-mails biológico. Quando ele morde o carteiro em sinal de represália. entrega as correspondências a pé, isto Uma forma de contemporizar o equivaleria a uma conexão discada e lenta. Se problema de donos de cães que deixam os ele estiver de moto poderia ser considerado animais soltos ou mal trancados (facilitando como uma conexão ADSL (banda larga), e o ataques aos carteiros) seria fazer esses donos SEDEX é a internet empresarial, rápida, passarem um dia na função de carteiros eficiente e muito mais cara. auxiliares, entregando cartas somente em O carteiro poderia entendido (na ótica residências com grandes e ferozes cães. Um dos cães) como uma espécie de válvula de bom castigo, já que eles sentiriam na pele (que escape para o cachorro, que muitas vezes sofre é o primeiro lugar que sente a mordida dos de forma obediente a crueldade de seu dono, e cachorros) o problema enfrentado todos os dias por não poder pagar um psicólogo canino, pelos entregadores de cartas. resolve descontar suas frustrações no carteiro, Enfim, no mato sem cachorro em que visto que ele, na teoria, é a imagem e vivemos, onde quem não tem cão caça como semelhança do seu dono. Ou seja, a profissão um gato, nós estamos rumando para um de carteiro acaba sendo um negócio bom pra mundo sem cartas, ou carteiros, ou mesmo cachorro, literalmente falando. cachorros. E neste futuro, quando percebermos Talvez o cachorro entenda que o carteiro que a idéia de que tínhamos as cartas na mesa, é como algum tipo de ave de mau agouro, algo era falsa, e que fizemos uma grande cachorrada parecido com um corvo, como descrito pelo com nosso fiel e amigável planeta, não haverá escritor Edgar Alan Poe. O cão já deve ter mais como reescrever a história, e a cartada percebido que muitos dos papéis deixados pelos final de nossa existência já estará carteiros têm símbolos que quando unidos derradeiramente selada. formam a frase: “C-O-N-T-A-S-A-P-A-G-A-R”, e que cada vez que seu dono lê essas mensagens escritas fica aborrecido, irritado, chegando algumas vezes a amassar o papel. E o que o dono do cachorro geralmente faz depois? Chuta seu pobre companheiro de patas, Antonio Brás Constante provavelmente por achá-lo culpado pelo carteiro Antonio Brás Constante, natural de Porto Alegre. Residente em Canoas/RS. Bacharel em computação, ter conseguido entregar aquela infeliz bancário e cronista de coração, escreve com mensagem para ele. naturalidade, descontraída e espontaneamente, Este é um dos ciclos da vida, o carteiro sobre suas idéias, seus pontos-de-vista, sobre o trás as contas para o dono da residência que se panorama que se descortina diferente a cada instante, a nossa frente: a vida. Membro da ACE (Associação Canoense de Escritores). Oswald de Andrade (Poesias) Oswald, pintura de Tarsila do Amaral RELÓGIO As horas Vão e vêm As coisas são Não em vão As coisas vêm As coisas vão ERRO DE PORTUGUÊS As coisas Vão e vêm Quando o português chegou Não em vão Debaixo duma bruta chuva Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.3 – Paraná, março/abril de 2010.
  • 9. 5 Vestiu o índio Uma balada Que pena!Fosse uma manhã de sol Antes de ir O índio tinha despido Pro meu hotel. O português É que este Coração CANTO DE REGRESSO À PÁTRIA Já se cansou De viver só Minha terra tem palmares E quer então Onde gorjeia o mar Morar contigo Os passarinhos daqui No Esplanada. Não cantam como os de lá Eu queria Minha terra tem mais rosas Poder E quase que mais amores Encher Minha terra tem mais ouro Este papel Minha terra tem mais terra De versos lindos É tão distinto Ouro terra amor e rosas Ser menestrel Eu quero tudo de lá No futuro Não permita Deus que eu morra As gerações Sem que volte para lá Que passariam Diriam Não permita Deus que eu morra É o hotel Sem que volte pra São Paulo É o hotel Sem que veja a Rua 15 Do menestrel E o progresso de São Paulo Pra me inspirar PRONOMINAIS Abro a janela Como um jornal Dê-me um cigarro Vou fazer Diz a gramática A balada Do professor e do aluno Do Esplanada E do mulato sabido E ficar sendo Mas o bom negro e o bom branco O menestrel Da Nação Brasileira De meu hotel Dizem todos os dias Deixa disso camarada Mas não há, poesia Me dá um cigarro Num hotel Mesmo sendo VÍCIO NA FALA 'Splanada Ou Grand-Hotel Para dizerem milho dizem mio Para melhor dizem mió Há poesia Para pior pió Na dor Para telha dizem teia Na flor Para telhado dizem teiado No beija-flor E vão fazendo telhados No elevador BALADA DO ESPLANADA ESCAPULÁRIO Ontem à noite No Pão de Açúcar Eu procurei De Cada Dia Ver se aprendia Dai-nos Senhor Como é que se fazia Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.3 – Paraná, março/abril de 2010.
  • 10. 6 A Poesia À espera de visitas que não vêm De Cada Dia (Primeiro caderno do aluno de poesia) OCASO Em 11 de janeiro de 1890 nasce em São Paulo José Oswald de Sousa Andrade, filho No anfiteatro de montanhas único de José Oswald Nogueira de Andrade e Os profetas do Aleijadinho Inês Henriqueta Inglês de Sousa Andrade. Monumentalizam a paisagem Inicia seus estudos, em 1900, na Escola As cúpulas brancas dos Passos Modelo Caetano de Campos, ainda marcado E os cocares revirados das palmeiras pelo fato de haver presenciado a mudança do São degraus da arte de meu país século. Onde ninguém mais subiu Em 1901, vai para o Ginásio Nossa Senhora do Carmo. Tem como colega Pedro Rodrigues BRASIL de Almeida, o “João de Barros” do”Perfeito Cozinheiro das Almas desse mundo...”. O Zé Pereira chegou de caravela Em 1903, transfere-se para o Colégio São E perguntou pro guarani da mata virgem Bento. Lá tem como colega o futuro poeta - Sois cristão? modernista Guilherme de Almeida. - Não. Sou bravo, sou forte, sou filho da Morte Em 1905, com o São Paulo em ebulição — Teterê tetê Quizá Quizá Quecê! surge o bonde elétrico, o rádio, a propaganda, Lá longe a onça resmungava Uu! ua! uu! o cinema — participa da roda literária de O negro zonzo saído da fornalha Indalécio Aguiar da qual faz parte o poeta Tomou a palavra e respondeu Ricardo Gonçalves. - Sim pela graça de Deus Em 1908, conclui os estudos no Colégio São Canhem Babá Canhem Babá Cum Cum! Bento com o diploma de Bacharel em E fizeram o Carnaval Humanidades. De família abastada, Oswald, em 1909 inicia sua vida no jornalismo como redator RELICÁRIO e crítico teatral do “Diário Popular”, assinando a coluna "Teatro e Salões". Ingressa na No baile da corte Faculdade de Direito. Foi o conde d’Eu quem disse Em 1910, monta um atelier com o pintor Pra Dona Benvinda Oswaldo Pinheiro, no Vale do Anhangabaú. Que farinha de Suruí Conhece o Rio de Janeiro, e fica hospedado na Pinga de Parati residência de seu tio, o escritor Inglês de Fumo de Baependi Souza. Passa o primeiro Natal longe da família É comê bebê pitá e caí em Santos, numa hospedaria de carroceiros das docas. SENHOR FEUDAL No ano seguinte, com a ajuda financeira de sua mãe, funda “O Pirralho”, cujo primeiro Se Pedro Segundo número é lançado em 12 de agosto, tendo Vier aqui como colaboradores Amadeu Amaral, Voltolino, Com história Alexandre Marcondes, Cornélio Pires e outros. Eu boto ele na cadeia Conhece o poeta Emílio de Meneses, de quem se torna amigo. Lança a campanha civilista em torno de Ruy Barbosa. Passa uma temporada em Baependi, Minas, nas terras da família de seu avô. Em 1912, viaja à Europa. Visita vários países: Oswald de Andrade Itália, Alemanha, Bélgica, Inglaterra, França, Espanha. Conhece durante a viagem a jovem Senhor dançarina Carmen Lydia, (Helena Carmen Que eu não fique nunca Hosbale) que Oswald batiza em Milão. Morre Como esse velho inglês em São Paulo sua mãe, no dia 6 de setembro. Aí do lado Retorna ao Brasil, trazendo a estudante Que dorme numa cadeira francesa Kamiá (Henriette Denise Boufflers). Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.3 – Paraná, março/abril de 2010.
  • 11. 7 Reassume sua atividade de redator de “O primeiro grupo modernista com Mário de Pirralho”, onde publica crônicas em português Andrade, Guilherme de Almeida, Ribeiro Couto macarrônico com o pseudônimo de Annibale e Di Cavalcanti. De 1917 a 1922 escreve Scipione. regularmente no “Jornal do Comércio”. No ano seguinte, participa das reuniões da Trabalha em “A Gazeta”, em 1918. Começa a Vila Kirial e conhece o artista plástico Lasar compor “O perfeito cozinheiro das almas desse Segall. Escreve “A recusa”, drama em três atos. mundo...”, diário coletivo escrito em Nasce o seu filho, José Oswald Antônio de colaboração com Maria de Lourdes Castro Andrade (Nonê), com Kamiá, em 1914. Torna- Dolzani de Andrade (Miss Cyclone), Guilherme se Bacharel em Ciências e Letras pelo Colégio de Almeida, Monteiro Lobato, Leo Vaz, Pedro São. Bento, onde foi aluno do abade Sentroul. Rodrigues de Almeida, Inácio Pereira da Costa, Cursa Filosofia no Mosteiro de São Bento. Edmundo Amaral e outros. Fecha a revista “O Em 1915, participa do almoço em Pirralho”. homenagem a Olavo Bilac, promovido pelos Bacharel em Direito, é escolhido orador da estudantes da Faculdade de Direito. Torna-se turma. Morre seu pai, em fevereiro. Casa-se, “in membro da Sociedade Brasileira dos Homens de extremis”, com Maria de Lourdes Castro Dolzani Letras, fundada em São Paulo por Bilac. Chega de Andrade (Miss Cyclone). ao Brasil a dançarina Carmen Lydia, com quem Publica no jornal dos estudantes da mantém um barulhento namoro. Faz viagens Faculdade de Direito, “XI de Agosto”, três constantes de trem ao Rio a negócio ou para capítulos de “Memórias Sentimentais de João acompanhar Carmen Lydia. Miramar”. No ano seguinte, publica em “A Cigarra” o No ano seguinte edita “Papel e Tinta”, primeiro capítulo — e, depois, lança, com assinando com Menotti del Picchia o editorial e Guilherme de Almeida, as peças teatrais escrevendo regularmente para o periódico. “Theatre Brésilien — Mon Coeur Balance” e Descobre o escultor Brecheret. Escreve em “A “Leur Âme”, pela Typographie Asbahr. Faz a Raposa” artigo elogiando Brecheret com texto leitura das peças em vários salões literários de ilustrado com fotos de trabalhos do artista. São Paulo, na Sociedade Brasileira de Homens 1921 – Em julho, publica artigo sobre o de Letras, no Rio de Janeiro e na redação “A poeta Alphonsus de Guimarães, ressaltando a Cigarra”. Publica trechos de “Memórias forma de expressão, no seu entender, Sentimentais de João Miramar” na “A Cigarra” e precursora da linguagem modernista. (“Jornal na “A Vida Moderna”. Sofre de artritismo. A do Comércio” (SP), 07/1921). Faz a saudação a atriz Suzanne Després recita no Municipal Menotti del Picchia no banquete oferecido para trechos de “Leur Âme”. Passa a colaborar políticos e poetas no Trianon. Revela Mário de regularmente em “A Vida Moderna”, que publica Andrade poeta, em polêmico artigo "O meu em 24 de maio, cenas de “Leur Âme”. Volta a poeta futurista". Principia a colaboração do estudar Direito, cujo curso havia interrompido “Correio Paulistano” até 1924. em 1912. Recebe o convite de Valente de Participa da caravana de jovens escritores Andrade para fazer parte do “Jornal do paulistas ao Rio de Janeiro, a fim de fazer Comércio”, edição de São Paulo e em 1º de propaganda do Modernismo. Torna-se o líder novembro começa seu trabalho como redator. dessa campanha preparatória para a Semana Redator social de “O Jornal”. de Arte Moderna. Continua a viajar intermitentemente ao Rio. Em 1922, participa da Semana de Arte Naquela cidade freqüenta a roda literária de Moderna no Teatro Municipal de São Paulo. Faz Emílio de Meneses, João do Rio, Alberto de conferência, em 18 de setembro, comemorativa Oliveira, Eloi Pontes, Olegário Mariano, Luis ao centenário da Bandeira Nacional. É um dos Edmundo, Olavo Bilac, Oscar Lopes e outros. participantes do grupo da revista “Klaxon”, Passa temporada em Aparecida do Norte. Está onde colabora. Integra o grupo dos cinco com escrevendo o drama “O Filho do Sonho”. Mário de Andrade, Anita Malfatti, Tarsila do Em 1917, conhece Mário de Andrade. Amaral e Menotti del Picchia. Defende a pintora Anita Malfatti das críticas Publica “Os Condenados”, com capa de Anita violentas feitas por Monteiro Lobato ("A Malfatti, primeiro romance de “A trilogia do exposição de Anita Malfatti", no “Jornal do exílio”. Viaja a negócios ao Rio. Em dezembro Comércio”, São Paulo, 11/01/1918). Participa do Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.3 – Paraná, março/abril de 2010.
  • 12. 8 embarca para a Europa. Começa sua amizade Publica, em 1927, “A Estrela de Absinto”, com Tarsila do Amaral. segundo romance de “A trilogia do exílio”, pela No ano seguinte, ganha na justiça a custódia Editora Hélios com capa de Brecheret. do seu filho Nonê. Faz viagem a Portugal e Publica “Primeiro Caderno de Poesia do Espanha, com passagem pelo Senegal, Aluno Oswald de Andrade”, ilustrado pelo autor, acompanhado de Tarsila. Matricula seu filho no com capa de Tarsila. Começa no “Jornal do Licée Jaccard em Lausanne, Suiça. Reside em Comércio” a coluna "Feira das Quintas". Paris até agosto, no atelier de Tarsila. Disputa o prêmio romance, patrocinado pela Conhece o poeta Blaise Cendrars. Academia Brasileira de Letras, com “A Estrela Em Paris, de volta ao Brasil, é homenageado de Absinto”, que obteve menção honrosa. com um banquete pela Sociedade Amis des Publica trechos de “Serafim Ponte Grande” na Lettres Françaises, sendo saudado pela revista “Verde”. presidente do grupo Mme.Rachilde. Em 1928, publica o “Manifesto Antropófago” Em 1924, no dia 18 de março publica no na “Revista de Antropofagia”, que ajuda a “Correio da Manhã” o “Manifesto da Poesia Pau fundar, com os amigos Raul Bopp e Antônio de Brasil”. Toma parte na excursão ao carnaval do Alcântara Machado. Rio de Janeiro e à Minas com outros intelectuais É expulso do Congresso de Lavradores, brasileiros e do poeta Blaise Cendrars, chamada realizado no Cinema República (SP) por propor de “Caravana Modernista”. Em Minas Gerais, um acordo com o trabalhador do campo. recebidos por Aníbal Machado, Pedro Nava e Separa-se de Tarsila do Amaral. Rompe com Carlos Drummond de Andrade, excursionam Mário de Andrade e Paulo Prado. pelas cidades históricas. No “Correio No dia 1º de abril de 1930 casa-se com Paulistano”, publica o artigo “Blaise Cendrars — Patrícia Galvão (Pagú) numa cerimônia pouco Um mestre da sensibilidade contemporânea". convencional. O acontecimento foi simbólico, Participa do V Ciclo de Conferência da Vila realizado no Cemitério da Consolação, em São Kyrial falando sobre "os ambientes intelectuais Paulo. Mais tarde, se retrataram na igreja. da França". Publica “Memórias Sentimentais de Escreve "A casa e a língua", em defesa da João Miramar”, com capa de Tarsila. Faz uma arquitetura de Warchavchik. Nasce seu filho leitura do “Serafim Ponte Grande”, em casa de Rudá Poronominare Galvão de Andrade com a Paulo Prado para uma platéia de amigos escritora Pagú. É preso pela polícia do Rio de modernistas. Janeiro, por ameaçar o antigo amigo, poeta Viaja à Europa. Monta com Tarsila um novo Olegário Mariano. apartamento em Paris, conservando este Em 1931, escreve “O mundo político”. endereço até 1929. Começa a escrever ensaios políticos, Publica em Paris pela editora Au Sans Pareil geralmente sobre a situação e os problemas do o livro de poemas “Pau Brasil”. operário. Funda com Queiroz Lima e Pagú “O Retorna ao Brasil. Candidata-se à Academia Homem do Povo”. Publica o “Manifesto Ordem e Brasileira de Letras. Oficializa o noivado com Progresso”. Engaja-se no Partido Comunista. Tarsila do Amaral. No ano seguinte, redige o prefácio definitivo Recebido com outros brasileiros em de “Serafim Ponte Grande”. audiência pelo papa, a fim de tentarem a Em 1933, publica “Serafim Ponte Grande”. anulação do casamento de Tarsila. Patrocina a publicação de “Parque Industrial”, Casa-se com Tarsila do Amaral, em 30 de romance de Pagú. outubro, em cerimônia paraninfada pelo No ano seguinte, deixa Pagú e une-se à Presidente Washington Luis. pianista Pilar Ferrer. Publica “A Escada Publica na “Revista do Brasil” o prefácio de Vermelha”, terceiro romance de “A trilogia do “Serafim Ponte Grande”, primeira versão, exílio”, e “O Homem e o Cavalo”, com capa de "Objeto e fim da presente obra". seu filho, Oswald de Andrade Filho. No dia 24 Divulga em “Terra Roxa e Outras Terras” a de dezembro, assina contrato ante-nupcial em "Carta Oceânica", prefácio ao livro “Pathé Baby” regime de separação de bens com Julieta de Antônio de Alcântara Machado e um trecho Bárbara Guerrini. do “Serafim Ponte Grande”. Em 1935, compra uma serraria. Escreve sátira política para “A Platéia”. Faz parte do movimento artístico cultural Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.3 – Paraná, março/abril de 2010.
  • 13. 9 “Quarteirão”. Fichado na polícia civil do apresentada à cadeira de literatura brasileira da Ministério da Justiça, como subversivo. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da No ano seguinte, publica na revista “XI de Universidade de São Paulo, na qual o agosto”, "Página de Natal" do Marco Zero. biografado é livre-docente.em Literatura Conclui o poema “O Santeiro do Mangue”, 1ª Brasileira. Nasce sua filha Antonieta Marília. versão, dedicado criticamente a Jorge de Lima e Reúne no volume “Ponta de Lança” artigos Murilo Mendes. esparsos. Publica "A sátira na poesia brasileira", Em dezembro casa-se com a escritora Julieta conferência pronunciada na Biblioteca Pública Bárbara Guerrini, tendo como padrinho o Municipal de São Paulo. jornalista Casper Líbero, o pintor Portinari e Publica “Poesias Reunidas - Oswald de uma irmã da noiva, Clotilde. Passa a residir no Andrade”, editora. Gazeta e “Marco Zero: II — Rio de Janeiro. Chão”, pela José Olympio. Escreve “O país da sobremesa”, em 1937. É Inicia a organização da Ala Progressista feita uma tentativa de encenação da peça “O Brasileira, programa de conciliação nacional. Rei da Vela” pela Companhia de Álvaro Lança um manifesto ao "Povo de São Paulo, Moreyra. Atua na Frente Negra Brasileira. Trabalhadores de São Paulo. Homens livres de Escreve na revista “Problemas” (São Paulo). São Paulo". Escreve o "Canto do Pracinha só". Publica “A Morta” e “O Rei da Vela”. No Rio de Rompe com o Partido Comunista do Brasil e Janeiro, a edição de “Serafim Ponte Grande” é Luis Carlos Prestes, seu secretário geral. dada como esgotada. Publica na “Gazeta de Limeira”, conferência Em 1938, publica o trecho "A vocação" da pronunciada em Piracicaba intitulada "A lição da série “Marco Zero: IV”, “A presença do Mar”. inconfidência" Está ligado ao Sindicato de Jornalista de São Em 1946, publica “O Escaravelho de Ouro” Paulo, matrícula nº. 179. Redige “Análise de (poesia). Assina contrato com o governo de São dois tipos de ficção”. Paulo para a realização da obra "O que fizemos 1939, Oswald ingressa no Pen Club do Brasil. em 25 anos", espécie de levantamento da vida Publica no jornal “Meio Dia” as colunas "Banho nacional, em todos os setores da atividade de Sol" e "De literatura". É o representante do técnica e social à literária e artística. jornal “Meio Dia” em São Paulo. Escreve para o Apresenta o escritor norte-americano Samuel “Jornal da Manhã” (SP) uma série de Putnam, em visita ao Brasil, na Escola de reportagens sobre personalidades importantes Sociologia e Política (São Paulo). Participa em da vida política, econômica e social de São Limeira (SP) do Congresso de Escritores. Paulo. Candidata-se a delegado regional da Escreve “O lar do operário”. Candidata-se à Associação Brasileira de Escritores e perde a Academia Brasileira de Letras pela segunda vez, eleição. Envia bilhete-aberto ao Presidente da enviando uma carta aberta aos imortais, em Seção Estadual, escritor Sérgio Buarque de 1940. Holanda, protestando e desligando-se da Em 1941, monta um escritório de imóveis na Associação, em 1947. rua Marconi, com Nonê, o filho mais velho. Em 1948, pronuncia em Bauru a conferência 1942, publica “Cântico dos Cânticos para "O sentido do interior". Nasce seu filho Paulo Flauta e Violão”, dedicado à sua futura mulher, Marcos. Maria Antonieta d’Alkmin. Lança, em 2ª edição Publica na revista Anhembi o texto "O pela Globo, “Os Condenados”, com capa de modernismo", em 1949. Profere conferência no Koetz. Centro de Debates Casper Líbero: "Civilização e Publica “Marco Zero: I A revolução dinheiro", e no Museu de Arte de São Paulo, melancólica”, pela José Olympio, capa de Santa “Novas dimensões da poesia". Realiza excursão Rosa. Começa a publicar no “Diário de S.Paulo” a Iguape, com Albert Camus, para assistir às a coluna "Feira das Sextas". Casa-se com Maria tradicionais festas do Divino. É encarregado de Antonieta d'Alkmin, em 1943. apresentar e saudar o escritor francês de Em 1944, inicia a série “Telefonema”, passagem por São Paulo para fazer publicada no “Correio da Manhã”, até 1954. conferências. Escreve a coluna "3 linhas e 4 No ano seguinte escreve "O sentido da verdades" na “Folha de S.Paulo”, até 1950. nacionalidade no Caramuru e no Uruguai". Profere nova conferência na Faculdade de Publica "A Arcádia e a inconfidência", tese Direito em homenagem a Rui Barbosa. Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.3 – Paraná, março/abril de 2010.
  • 14. 10 Em 1950, escreve “O antropófago”. É Andrade; é lançado o filme “Cem homenageado com um banquete, no Automóvel Oswaldinianos”, de Adilson Ruiz e instalado Clube, pela passagem do 60º aniversário, painel na estação República do Metrô paulista”. saudado por Sérgio Milliet. Participa de concurso para provimento da Cadeira de OBRAS Filosofia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Humor: Letras da Universidade de São Paulo, ocasião - Revista “O Pirralho” — crônicas em português em que defende a tese "A crise da filosofia macarrônico sob o pseudônimo de Annibale messiânica", sem êxito. Candidata-se a Scipione (1912 — 1917) deputado federal pelo PRT, com o seguinte Poesia: slogan: “Pão – Teto – Roupa – Saúde – - Pau-Brasil (1925) Instrução”. Pronuncia as seguintes - Primeiro caderno do aluno de poesia Oswald conferências: "A arte moderna e a arte de Andrade (1927) soviética", "Velhos e novos livros atuais". - Cântico dos cânticos para flauta e violão Redige "Um aspecto antropofágico da cultura (1945) brasileira — o homem cordial" para o 1º - O escaravelho de ouro (1946) Congresso Brasileiro de Filosofia. Apresenta a Romance: versão definitiva de “O Santeiro do Mangue”. - A trilogia do exílio: I — Os condenados, II —A Escreve, em 1952, “Introdução à estrela de absinto, III — A escada vermelha antropofagia”. Profere discurso de saudação em (1922-1934) homenagem a Josué de Castro, representante - Memórias sentimentais de João Miramar da ONU, por iniciativa da Secretaria Municipal (1924) de Cultura de São Paulo. Escreve o artigo "Dois - Serafim Ponte Grande (1933) emancipados: Júlio Ribeiro e Inglês de Souza". - Marco Zero: I - A revolução melancólica, II — É membro da Comissão Julgadora do Salão Chão (1943). Letras e Artes Carmen Dolores, em 1953. - Memórias: Um homem sem profissão (1954) Saudou o escritor José Lins do Rego, pelo Teatro: prêmio recebido em torno do romance - A recusa (1913) “Cangaceiros”, patrocinado pelo Salão de Letras - Théâtre Brésilien — Mon coeur balance e Leur e Artes Carmen Dolores Barbosa. Começa a Âme (1916) (com Guilherme de Almeida) publicar a série “A Marcha das Utopias” no - O homem e o cavalo (1934) jornal “O Estado de S.Paulo”. Tenta em vão - A morta (1937); vender sua coleção de quadros. - O rei da vela (1937). Em 1954, escreve o ensaio “Do órfico e mais - O rei floquinhos (1953) cogitações" e "O primitivo e a antropofagia”. Manifestos: Envia comunicação, por intermédio de Di - Manifesto da Poesia Pau-Brasil (1924) Cavalcanti, para o Encontro de Intelectuais, no - Manifesto Antropófago (1928) Rio de Janeiro. Publica o primeiro volume das - Manifesto Ordem e Progresso (1931) “Memórias — Um homem sem profissão”, com - Teses, artigos e conferências publicadas: capa de seu filho, Oswaldo Jr., pela José - O meu poeta futurista (1921) Olympio. Graças à interferência de Vicente Rao, - A Arcádia e a Inconfidência (1945) foi indicado para ministrar um curso de cultura - A sátira na poesia brasileira (1945) brasileira em Genebra. Retorna como sócio à Versões e adaptações: Associação Brasileira de Escritores (A.B.D.E.). - Filme “O homem do Pau-Brasil”, de Joaquim Falece em São Paulo, em 22 de outubro de Pedro de Andrade, baseado na vida de Oswald 1954, na sua residência da rua Marquês de de Andrade (1980) Caravelas, 214. É sepultado no jazigo da - Filme “Oswaldinianas”. Formado por cinco família, no cemitério da Consolação, em São episódios, dirigidos por Julio Bressane, Lucia Paulo (SP). Murat, Roberto Moreira, Inácio Zatz, Ricardo É homenageado postumamente pelo Dias e Rogério Sganzerla (1992) Congresso Internacional de Escritores, em Publicações póstumas: 1954. Em 1990, no centenário de seu - A utopia antropofágica – Globo nascimento, a “Oficina Cultural Três Rios” passa - Ponta de lança – Globo a se chamar “Oficina Cultural Oswald de - O rei da vela – Globo Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.3 – Paraná, março/abril de 2010.
  • 15. 11 - Pau Brasil – Obras completas – Globo - O perfeito cozinheiro das almas desse mundo - O santeiro do mangue e outros poemas – – Globo Globo - Os condenados – A trilogia do exílio – Globo - Obras completas – Um homem sem profissão - Primeiro caderno do aluno de poesia Oswald – Memórias e confissões sob as ordens de de Andrade – Globo mamãe – Globo - Os dentes do dragão – Globo - Telefonema – Globo - Mon coeur balance – Le Âme - Globo - Dicionário de bolso – Globo Aventuras de Pedro Malasartes UMA DAS DE PEDRO MALASARTES Tarde da noite, Pedro foi ao lugar onde estavam os perus, e matou-os a todos, Um dia, Pedro Malasartes foi ter com o labreando de sangue as ovelhas. O homem, rei e lhe pediu três botijas de azeite, indo-os buscar, achou-os mortos, e voltou prometendo-lhe levar em troca três mulatas muito aflito, dizendo: "Pedro, não sabe, as moças e bonitas. O rei aceitou o negócio. Pedro ovelhas mataram os seus perus". Ouvindo isto, saiu e foi ter à casa de uma velha, ali pela Malasartes fez um grande espalhafato, gritando noitinha; pediu-lhe um rancho, e que lhe que o homem tinha morto os perus do rei e botasse as botijas no poleiro das galinhas. A recebeu seis ovelhas pelos perus. Largou-se, velha concordou com tudo. Alta noite, Pedro indo dormir na casa de um homem que tinha Malasartes levantou-se, foi de pontinha de pé um curral de bois. Aí ele fez as mesmas ao poleiro, quebrou as botijas, derramou o artimanhas, até pegar seis bois pelas seis azeite, lambuzando as galinhas. De manhã ovelhas. muito cedo Malasartes acordou a velha, e Mais adiante, ele encontrou uns pediu-lhe as botijas de azeite. A velha foi vendilhões de ouro e trocou os bois por ouro. buscá-las, e, achando-as quebradas, disse: Mais adiante encontrou uns homens que iam "Pedro, as galinhas quebraram as carregando uma rede com um defunto. Pedro botijas e derramaram o azeite". perguntou quem era, disseram-lhe que era uma – Não quero saber disso, -disse Pedro; - moça. Ele pediu para ir enterrá-la e eles deram. quero para aqui meu azeite, senão quero três Logo que os homens se ausentaram, ele galinhas. tirou a moça da rede, encheu-a de bastante A velha ficou com medo, deu-lhe as três ouro e de enfeites, e foi ter com ela nas costas galinhas. Malasartes partiu e foi à noite à casa à casa de um homem rico que havia ali perto. de outra velha; pediu rancho e que agasalhasse Pediu rancho, disse às filhas do tal homem que aquelas três galinhas entre os perus. A velha, aquela era a filha do rei que estava doente, e como tola, consentiu. Alta noite, Pedro se ele andava passeando com ela, e pediu que a levantou, foi ao quintal, matou as três galinhas, fossem deitar. besuntando de sangue os perus. No dia Foram levar a moça para uma seguinte, bem cedo, acordou a velha, pedindo camarinha, indo Malasartes com ela, dizendo as suas galinhas, porque queria seguir viagem. que só com ele ela se acomodava. Deitou a A velha foi buscá-las e encontrou o destroço. moça defunta na cama e retirou-se, dizendo às Voltou aflita, contando a Malasartes. donas da casa: "Ela custa muito a dormir, ainda Ele fez um grande barulho até levar seis chora como se fosse uma criança; quando perus em troca das galinhas. Na noite seguinte, chorar, metam-lhe a correia." foi ter à casa de um homem que tinha um Alta noite, Pedro foi e se escondeu chiqueiro de ovelhas, e pediu-lhe para passar a debaixo da cama onde estava a moça e pôs-se noite em sua casa e que lhe agasalhasse a chorar como menino. As moças da casa, aqueles perus lá no chiqueiro das ovelhas, supondo ser a filha do rei, deram-lhe muito até porque bicho com bicho se acomodavam bem. ela se calar, que foi quando Pedro se calou. O homem assim fez. Depois ele escapuliu e foi para o seu quarto. Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.3 – Paraná, março/abril de 2010.
  • 16. 12 De manhã ele pediu a moça, que queria Quando o perseguidor chegou à toda, e ir-se embora. Foram ver a filha do rei, e nada perguntou à lavadeira se tinha visto passar um de a poderem acordar. Afinal conheceram que homem tocando uma carneirada, ela ela estava morta, e vieram dar parte a respondeu, quase sem poder falar, que Pedro Malasartes. Ele pôs as mãos na cabeça dizendo: Malasartes havia feito o que ficou dito. "Estou perdido; vou para a forca; me mataram E, porque Pedro já estava longe com o a filha do rei!…" rebanho, o homem voltou soltando um milhão Os donos da casa ficaram muito aflitos, de pragas. e começaram a oferecer cousas pela moça, e Pedro sem querer aceitar nada, até que ele DE COMO MALASARTES PASSA ADIANTE mesmo exigiu três mulatas das mais moças e A CARNEIRADA bonitas. O homem rico as deu, e Pedro disse que dava uma desculpa ao rei sobre a morte de Já muito longe, encontrou um porqueiro sua filha, e lhe dava de presente as três que vinha tocando também. Pedro Malasartes mulatas, para o rei não se agastar muito. que já previa que o fazendeiro havia de vir no Malasartes largou-se e foi logo para o seu rasto, propôs troca dos carneiros, (que palácio, onde entregou o rei as três mulatas valiam menos, pelos porcos, que valiam mais). com este dito: "Eu não disse a vossa majestade Fecharam o negócio, tendo o porqueiro que lhe dava três mulatas pelas três botijas de feito uma volta em dinheiro. azeite? Aí estão elas". O rei ficou muito Malasartes seguiu com a porcada e o admirado. outro com os carneiros, em direção oposta. O porqueiro foi pousar em casa do dono DE COMO MALASARTES FINGIU QUE dos carneiros. Ao ver o seu rebanho, o homem SE MATAVA avançou para o porqueiro, e exigiu entrega do que era seu. O porqueiro quis resistir, mas Vendo que a vitima vinha em sua vendo que o homem estava armado até os perseguição, deu tudo quanto tinha e, ao dentes e tinha muitos capangas, não teve outro aproximar-se de um riacho, encontrou uma remédio senão fazer a restituição, ficando no mulher a lavar roupa. Estava perdido, porque a prejuízo, e tocou pra trás a ver se encontrava o lavadeira daria ao perseguidor a sua direção. Malasartes que já estava longe, tendo tomado Mais que depressa tocou a carneirada a por um atalho que foi dar numa fazenda. E, vai atravessar o riacho, e tomando um dos então, vendeu a porcada por um precinho carneiros, tirou-lhe as tripas e meteu-as barato, mas com a condição de o comprador debaixo da camisa. Quando a manada passou, deixar que ele cortasse a ponta do rabo de ele arrancou da faca, fingiu que abriu o ventre cada porco. e deixou cair na água as tripas do carneiro, que Fecharam o negócio e Pedro Malasartes ali levou ocultas. meteu no embornal os rabinhos dos porcos e A lavadeira deu um grito, caiu bateu o pé na estrada. desmaiada ao presenciar tal cena e Malasartes desapareceu. Nilto Maciel Hiroito) (Hiroito) Japonezinho mirrado, já velho, sorria. Os moleques o chamavam de “japa”. Ele enrugado, banguela. Vigiava carros num se zangava, cuspia farelos e pingos de caldo. estacionamento. Em troca recebia minguadas Deitado no catre imundo, Hiroito moedas. Quando a fome apertava, corria ao recordava a Grande Guerra. Dores, mortes, vendedor de pastéis. Esmigalhava com os dedos destruição. E a fuga para o Brasil. Dormia, a iguaria e enchia a boca de farelos de carne cansado, e sonhava horrores. Milhões de pulgas moída e trigo assado. Pedia caldo de cana e a roê-lo vivo. Baratas e ratos fardados, Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.3 – Paraná, março/abril de 2010.
  • 17. 13 enormes, violentos. Prendiam-no, arrastavam- a vitória. O poderoso exército do Império do Sol no, molestavam-no. Nascente. Quando a guerra terminasse, o Japão Mal amanhecia, pulava do gramado e, seria dono do mundo. E ele, Hirohito, o homem tonto, buscava a aurora. Fechava os olhinhos mais poderoso da Terra. sujos e enfiava as mãos na água da bacia. A E expirou. fome de novo. Imaginava pastéis macios. ---------– Esquecia os inimigos, a guerra, os insetos. Corria para pegar o ônibus. Precisava chegar cedo ao estacionamento. E disputar com os moleques o direito de receber moedas dos donos dos carros. Moedas e insultos. “Vai trabalhar, vagabundo!” Nilto Maciel Um dia lhe disseram que no Japão havia Nasceu em Baturité, Ceará, em 1945. muita riqueza. Indústrias e mais indústrias. Obteve primeiro lugar em alguns Como em nenhum outro país. O povo vivia farto concursos literários nacionais e estaduais, com e feliz. Nem parecia aquele povo destruído em o livro de contos Tempos de Mula Preta; livro 45. Riu. Não acreditou naquilo. E, se fosse de contos Punhalzinho Cravado de Ódio; A verdade, mesmo assim preferia viver no Brasil, Última Noite de Helena; Os Luzeiros do Mundo; onde não havia guerra. A Rosa Gótica; conto “Apontamentos Para Um Noutro dia houve tiroteio entre policias e Ensaio”; “livro Pescoço de Girafa na Poeira; ladrões de carro. O estacionamento virou "Eça de Queiroz", livro Vasto Abismo. campo de batalha. Tiros a torto e a direito. Tem contos e poemas publicados em Correria e gritaria. Um pandemônio. Assustado, esperanto, espanhol, italiano e francês. O Cabra o velho japonês correu. Talvez alcançasse a que Virou Bode foi transposto para a tela barraca dos pastéis. Quando aquilo acabasse, (vídeo), pelo cineasta Clébio Ribeiro, em 1993. mataria a fome. Porém, antes de alcançar Alguns livros: refúgio, uma bala se incrustou em seu peito. Itinerário, Tempos de Mula Preta, A Atirado ao chão, rolou para debaixo de um Guerra da Donzela, Punhalzinho Cravado de carro. Se sentia dor, não sabia. Na verdade, Ódio, Os Guerreiros de Monte-Mor, O Cabra que tudo parecia grandioso aos seus olhos semi- Virou Bode, Navegador, Vasto Abismo, abertos. Aviões devastavam céus. Tanques Panorama do Conto Cearense, A Leste da rolavam sobre os inimigos, que viravam pastéis. Morte, etc. As tropas japonesas invadiam Ásias e Américas. E ele, Hirohito, imperador do Japão, comandava Antonio Roberto de Paula Poesias) (Poesias) O SILÊNCIO DE MARINGÁ Um motor ronca Rompendo uma reta É na noite Perdendo força Quando procuro o sono Nos meus ouvidos Fecho os olhos E tento ouvir Chega uma música O silêncio de Maringá Em baixo volume Um silêncio que dura Sobe poderosa A eternidade E se perde na escuridão De poucos segundos Logo outros sons Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.3 – Paraná, março/abril de 2010.
  • 18. 14 Itinerantes de vozes Demarcava seu espaço sem pedir licença Passos e latidos Vêem e seguem Para Pedro Caveira era vencer ou morrer Sem dar boa-noite Dos homens ganhava o temor, o respeito Das mulheres conseguia tirar o prazer A noite passa veloz Era na marra, na força, de qualquer jeito O dia começa na madrugada Acelerações e freios Entre as tantas moçoilas submissas Buzinas e máquinas Havia uma que ocupava seu coração É a cidade de pé Era a bela , doce e estonteante melissa Em movimento Morena brejeira exalando amor e paixão Houve um tempo Por ela é que Pedro Caveira se derretia Em que a cidade Um caso conhecido em toda comunidade Dormia mais cedo Quando ela chegava seu sorriso se abria Não vagava tanto Para ela, ele pedia só amor e fidelidade E acordava no horário Na vida acontecem coisas inesperadas Tempo da poeira Por uma bronca sem grande repercussão Dos lampiões Caveira teve que tirar férias forçadas Das casas de madeira Fora de circulação, um ano de prisão E portões de balaústres Um dia antes de se entregar à justiça A noite era de poucos Pediu ao bando a palavra em penhor Só dos profissionais Chorou abraçado à querida Melissa Hoje o dia ficou pequeno Que lhe fez juras de eterno amor A noite é a extensão Chamou num canto o seu preferido É na noite O humilde amigo Zequinha Terceiro Quando procuro o sono Lhe pediu em lágrimas, comovido Fecho os olhos Que cuidasse de todo o seu terreiro E tento ouvir O silêncio de Maringá Zequinha levou à risca aquele pedido Um precioso silêncio Por sua conta incluiu a bela morena Um frágil silêncio Virou chefão do pedaço, cabra temido Que dura menos E botou as guampas no Pedro Caveira Que a pureza do instante Passou o tempo, cumprida a sentença A noite Caveira quis retornar ao antigo ninho Já não é mais noite Mas ninguém mais quis a sua presença É só o dia sem sol E até Melissa lhe negou os carinhos Entrando no outro dia (Antonio Roberto de Paula - Livro Maringânias - Humilhado, pobre, com medo de morrer 2007 - Poesias comemorativas - Maringá 60 anos) Pedro Caveira abandonou aquela cidade Com ódio de Zequinha de endoidecer CABRITO NA HORTA Hoje perambula na estrada da infelicidade Patrono, manda-chuva, mandava brasa O mundo sempre foi e será dos espertos Pedro Caveira era o tipo de fazer tremer Zequinha agora é senhor, do alto escalão Nunca foi de levar desaforo para casa O pai e o avô na vida não deram certo Não havia homem que podia lhe conter Mas ele é o terceiro, o chefe, um campeão Na faca, na bala, no pau, na porrada E finalizando essa incrível história Pedro Caveira se valia da truculência Pra você não ser tomado de revolta A cada dia mais uma área era dominada Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.3 – Paraná, março/abril de 2010.
  • 19. 15 E pra que a tua vida não seja inglória Regional do Bradesco-Maringá; e foi Não deixe o cabrito tomar conta da horta proprietário do Bar do Toninho ( 1985 a 1990), --- na avenida Dr. Alexandre Rasgulaeff, no Jardim Letra: Antonio Roberto de Paula Alvorada, em Maringá. Melodia: Helington Lopes Desde a adolescência escreve poesias, História contada por Cláudio Viola contos, crônicas e artigos, inclusive com A música "Cabrito na horta" , em versão publicações desde a década de 1970, nos reduzida, participou do Femucic, em 2005, com jornais O Diário do Norte do Paraná , O Jornal apresentação do grupo Receita do Samba de Maringá e Jornal do Povo . Sua primeira experiência efetiva no jornalismo ocorreu em 1975, no Colégio Estadual Dr. Gastão Vidigal, com o jornal Skeletus , do CETA (Centro Estudantil Tristão de Athaíde). Publicado até 1977, o Skeletus tinha Antonio Roberto de Paula como editores, além de De Paula, seus amigos O jornalista Antonio Roberto de Paula, Mário Sérgio Recco, José Miguel Grillo, Nivaldo sócio-proprietário da TV Clipping Maringá, Gôngora Verri, Edson Cemensati e Edson Luiz nasceu na cidade paulista de Lupércio, em 17 Matias. Em 1981, foi colaborador do Vôo Livre , de junho de 1957. É o primogênito dos quatro suplemento de O Diário publicado às sextas- filhos de Alcebíades de Paula Neto e Rita feiras, editado por Mário Sérgio Recco. Andrade de Paula. A mudança para Maringá Seu primeiro emprego efetivo na ocorreu em 1959. De Paula concluiu o curso imprensa foi no Jornal do Povo, em 1991, como primário em 1967, em Engenheiro Beltrão (PR), colunista de futebol amador, passando depois onde a família residiu até meados de 1972. para a editoria de esportes e escrevendo a Em 1968 estudou no Seminário Verbo coluna Visão de jogo. Neste mesmo ano atuou Divino, em Ponta Grossa. De 1969 a 1976, fez o como comentarista da extinta Rádio ginásio e o científico, como eram chamados na Metropolitana (Rádio Jornal). época os ensinos fundamental e médio, nos Em 1992 e 1993 trabalhou como seguintes estabelecimentos de ensino de comentarista em transmissões de futebol Maringá: Santo Inácio, Instituto de Educação, amador pela RTV Maringá. Em 1993, deixou o Gastão Vidigal e Paraná. Jornal do Povo e se transferiu para a sucursal Foi aprovado no vestibular do curso de do Correio de Notícias, jornal curitibano que Letras na UEM (Universidade Estadual de encerrou as atividades na cidade no ano Maringá) em 1981, mas desistiu do curso. Em seguinte. Lá, foi colunista e editor de esportes. 2001, formou-se em Jornalismo pelo Cesumar Ainda em 1993, deixou a RTV indo para (Centro Universitário de Maringá). Em 2003, fez a TV Maringá (Band) para ser editor, pauteiro e o curso de pós-graduação Língua Portuguesa – produtor do programa diário Esporte por Teoria e Prática, pelo Instituto Paranaense de Esporte , onde permaneceu até 1995. Ensino e Univale (União das Escolas Superiores Neste período, De Paula também foi do Vale do Ivaí). Atualmente, cursa Mestrado produtor e comentarista do programa Atalaia em Letras na UEM. Esportiva, da Rádio Atalaia de Maringá. De Sua monografia de conclusão do curso 1995 a 1997, trabalhou no O Diário exercendo de graduação foi a apresentação do livro Os as funções de editor de esportes, colunista do homens da Folha do Norte do Paraná , jornal DNP Esporte, repórter de matérias políticas e maringaense fundado em 1962, pelo primeiro locais, pauteiro e secretário de redação. arcebispo de Maringá, dom Jaime Luiz Coelho, De 1997 a 1998 foi repórter da Revista e que teve suas atividades encerradas em M-9. De 1997 a 1999 escreveu crônicas, 1979. artigos, poesias e contos na coluna Linha Antes de atuar profissionalmente na Expressa, no Jornal do Povo. Em 1998 e 1999 imprensa, De Paula foi escriturário na atuou como editor-chefe do departamento de Transparaná (1977), funcionário público jornalismo da TV Cidade – Sistema NET. Em municipal ( 1977 a 1979), tendo trabalhado na 2000, foi repórter, pauteiro e colunista do extinta Codemar (Companhia de jornal Hoje Maringá. Desenvolvimento de Maringá) e Secretaria de Fazenda; bancário ( 1979 a 1985), no Centro Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.3 – Paraná, março/abril de 2010.
  • 20. 16 De Paula e o jornalista Cláudio Viola são produtores do programa Beca TV , da TV parceiros em composições em que incluem os Clipping Maringá, com Guilherme Tadeu e Allan hinos do Maringá Futebol Clube (1996), do Oliveira, em 2004. Em 2003, publicou o livro Da Grêmio Maringá (2000) e as músicas Maringá minha janela, de crônicas, artigos, poemas, Velho, gravada em 2003 pela cantora contos inéditos e já publicados. maringaense Márcia Mara, e Cabrito na horta , Em 2004 lançou o livro A história política classificada no Femucic (Festival de Música de um cabo de José, de Maria e de todos os Cidade Canção), gravada por Helington Lopes Santos , em que narra a história do vereador (que também foi um dos compositores) e o maringaense Cabo Zé Maria e seus dez anos de grupo Receita do Samba. mandato. Em 2005, dirigiu o videodocumetário Em 2002, abriu com a jornalista Simone Crônica democrática de uma cidade brasileira , Labegalini a TV Clipping Maringá. No início de sobre as Eleições 2004, numa produção da TV 2003, De Paula trabalhou como produtor, Clipping Maringá, com roteiro de Guilherme repórter e comentarista do programa Estação Tadeu de Paula e fotografia e montagem de Comunitária , da Rádio Comunitária São Allan Oliveira. Francisco FM, do Jardim Alvorada, retornando Foi nomeado assessor de imprensa da no ano seguinte. Foi responsável juntamente Câmara Municipal de Maringá em 1997, vindo a com seu filho Guilherme Tadeu de Paula da ocupar a chefia do setor no final de 1999, onde sucursal em Maringá do jornal londrinense permanece até hoje. Paraná Shimbun, em 2003 e 2004, e um dos Pedro Silva (Uma Viagem na Época dos Descobrimentos) Um sonho de criança Mas o nosso Bartolomeu iria ser ainda mais famoso. Porém, nesta altura, ainda o não - Bartolomeu! Bartolomeu! – grita uma sabia. donzela formosa, com pouco mais de trinta Ao jantar, o seu pai, conhecedor por ser anos. de poucos sorrisos e de poucas falas, dirigiu-se Por todo o lado procurava, mas o seu ao filho: filho não aparecia em sítio algum. - Bartolomeu, tua mãe contou-me que De repente, um franzino jovem surge. passaste o dia junto ao riacho. É verdade? Tinha um olhar simpático. O cabelo - Sim, pai, é verdade. Perdoe-me. – e o despenteado. Mas a sua maneira de ser era jovem baixou a cabeça, em tom triste. delicada: - Sabes que a vida não é só brincadeira, - Desculpe, mãe. Estava a brincar no não sabes? riacho. - Eu sei, meu pai, mas… - Outra vez, Bartolomeu? Mas tu só te - E olha que a nossa vida tem sido de sentes bem junto à água? trabalho. Os sonhos são apenas para quando O jovem, envergonhado, encolhe os dormimos. A realidade é bem diferente quando ombros e responde: estamos acordados. – afirmou o pai de - Por acaso… sim! – e corre a abraçar a Bartolomeu Dias. sua mãe. - Desculpe, pai. Mas isto não é um Estávamos em 1465 e Bartolomeu Dias, sonho, eu serei mesmo navegador! nascido em Mirandela, uma belíssima localidade O pai não deixou de esboçar um transmontana, dava os primeiros passos na sua pequeno sorriso. O empenho do seu filho era futura vida de navegador. Apesar de ter apenas de louvar. Dentro do seu coração, o pai de quinze anos, já o seu pai o incentivava a seguir Bartolomeu desejava que este conseguisse ser as pisadas de Dinis Dias, seu parente e também o mais famoso dos navegadores portugueses. famoso navegador. Mas também sabia as dificuldades que o filho Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.3 – Paraná, março/abril de 2010.
  • 21. 17 teria de enfrentar. “Porém, sonhar não custa”, - O que quereis de mim? – perguntou D. pensava de si para si. João II, o Príncipe Perfeito. - Senhor, eu gostaria… - a voz parecia Vivendo um sonho não sair, dada a sua timidez. – Eu gostaria de poder participar na próxima viagem a África. Pouco anos depois, Bartolomeu Dias O rei pensou um pouco e respondeu: despediu-se dos pais e rumou a Sul. O destino - Pois bem, embarcarás daqui a dois era a capital de Portugal, Lisboa. Era lá que dias, rumo a São Jorge da Mina, a nossa mais todos os sonhos seriam possíveis de conquistar. importante feitoria. Até então, passara os seus dias numa pequena E assim foi. povoação do interior do país. Nunca vira o mar, Cruzando mares pela primeira vez mas sonhara com ele todos os dias de sua vida. chegou em 1484 ao local estipulado pelo rei. Ali Deslocou-se para Lisboa. Ali estudaria esteve algum tempo, aperfeiçoando os seus matemática e astronomia na Universidade de conhecimentos marítimos e aprendendo os Lisboa. Mas, ainda antes de começar a estudar, costumes locais. a primeira atitude que teve ao chegar à capital foi deslocar-se à zona de Belém. A razão? A viagem de uma vida Queria ver o local de onde as caravelas partiam rumo ao desconhecido. Tão rapidamente ganhou experiência “Que local magnífico!”, pensava que, dois anos depois, o rei João II confiou-lhe Bartolomeu, olhando para tanta agitação. Eram uma importante missão: descobrir o Preste marinheiros que se despediam das suas João das Índias. Desde há alguns anos que em famílias. Eram vendedores que apregoavam os Portugal se contava a história da existência de seus produtos. E, por fim, eram crianças que um rei muito rico que vivia na Etiópia. Esse rei, choravam de saudades ao ver a chegada dos ao contrário dos reis que o rodeavam, era seus pais ou que brincavam indiferentes a tudo cristão. Portanto, poderia ajudar D. João II na o mais. conquista de novos territórios na África e na Com tudo isto sonhara o jovem Ásia. Bartolomeu Dias quando, pouco tempo antes, No entanto, este era o plano secreto. partira de Mirandela rumo a Lisboa. Na viagem Oficialmente, Bartolomeu Dias tinha não parara de fazer perguntas a Dinis Dias, o como missão investigar as costas do continente seu parente que ganhara alguma fama ao africano. Isto para se tentar perceber se seria comando de caravelas. Queria saber tudo: possível chegar à Índia por mar. como se preparava uma expedição; quantos Nessa altura, em 1486, ninguém acreditava que marinheiros levava a embarcação; e, mais fosse possível ultrapassar a zona conhecida por importante, quando ele poderia participar. A Cabo das Tormentas. Este nome havia sido tudo respondia Dinis com a sua calma de ganho pelo fato de o mar ser muito perigoso e sempre. À última pergunta, respondeu-lhe: “na de muitos barcos ali terem desaparecido. altura certa, chegará o teu momento de Mas Bartolomeu Dias não tinha medo de embarcar”. nada. Se o rei lhe havia solicitado essa missão, Os estudos passaram a correr. Tudo assim seria cumprida. aprendia a um ritmo louco tal a ânsia de largar Na verdade, o navegador, que terra firme e aventurar-se no alto mar. comandava duas caravelas, não chegou a Quanto os estudos terminaram, e encontrar qualquer notícia do mítico rei das auxiliado pelo seu familiar Dinis Dias, entrou na Índias, o famoso Preste João. Porém, trazia corte portuguesa. À sua frente estava D. João relatos muito entusiasmantes para D. João II. II. Assim que o viu, Bartolomeu ajoelhou-se. Chegado à corte, Bartolomeu correu Era o seu rei que ali se encontrava. Portanto, para junto do seu rei e declarou: mandava a educação que lhe fizesse uma - Senhor, é possível dobrar o Cabo das vénia. Tormentas. Eu sei! - Levantai-te. – afirmou o soberano. - Mas como tal será possível, - Obrigado, senhor. É uma honra poder Bartolomeu? – perguntou o monarca. estar aqui na tua presença. – disse Bartolomeu. - Acreditai em mim. Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.3 – Paraná, março/abril de 2010.